A IMPORTÂNCIA DO CLUBE DE LEITURA CARUARU PARA A FORMAÇÃO
SOCIAL E CULTURAL DO INDIVÍDUO
Geam Karlo Gomes1
Emanuela Iarla Barbosa2
Negar a fruição da literatura é mutilar a
nossa humanidade.
Antonio Candido
Resumo
O Clube de Leitura Caruaru foi fundado em 2012 nas redes sociais. Aparentemente simples,
suas ações impulsionaram resultados que ultrapassam o mundo virtual, campo de abrangência
durante o ano de 2013. Nesse período, os jovens leitores se reuniram e decidiram fazer a
abertura oficial do Clube. Desde então, iniciada na rede social, o Clube conquista hoje
espaços físicos diversos com o propósito de reunir pessoas que amam a leitura; discutindo,
comentando e trocando informações sobre uma mesma obra literária, escolhida por todos.
Além de toda a riqueza dos encontros, o CLC possui outros projetos paralelos, que são
voltados tanto para o incentivo à leitura, quanto para ajudar outras pessoas. Assim, o Clube se
torna uma ótima oportunidade de conviver e de compartilhar interpretações e emoções por
meio da leitura. Partindo das potencialidades que o Clube dispõe, o presente trabalho propõe
suscitar algumas reflexões acerca de sua importância para a formação social e cultural do
indivíduo. Para isso, parte-se do relato das ações desenvolvidas pelo Clube desde sua
fundação, em sintonia com as suas significativas contribuições para seus integrantes. Nesse
sentido, os participantes são considerados como objeto de estudo e compõem o quadro de
discussão deste artigo. Esse estudo leva em consideração também compreensões que se
aproximem do modo de perceber a literatura como representação da própria experiência
humana (CALVINO, 2004) que existe através da capacidade de “fazer circular signos”
(FOUCAULT, 2001), possibilitando descobertas, transgressões do senso comum, e ainda,
oportunizando a garantia da autonomia e da liberdade.
Palavras-chave: Leitura, Literatura, Função cultural e social.
1 Doutorando e mestre em Literatura e Interculturalidade. Universidade Estadual da Paraíba. Rua Baraúnas, 351 -
Bairro Universitário - Campina Grande - PB. E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Psicologia. Centro Universitário do Vale do Ipojuca. Av. Adjair Casé, 800 - Bairro Indianópolis
Caruaru –PE. E-mail: [email protected]
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1. Situando o campo teórico e metodológico
Essa pesquisa surge da concepção de que a literatura exerce um papel contundente e
relevante na formação social e cultural do indivíduo. Para isso, partimos incialmente de
fundamentações de estudiosos sobre o papel formativo da literatura. Nessa pesquisa,
elencamos CALVINO (2004), CANDIDO (1995 e 2014), COSSON (2014), PAULINO
(2014), PERISSÉ (2014), TODOROV (2009), além de outros autores que se fizeram
pertinentes. Esses referenciais contribuíram para explicar a influência da experiência literária
na aprendizagem e no comportamento social dos sujeitos. Partimos então da abordagem da
relação texto literário/leitor, concatenando três categorias fundamentalmente responsáveis
para efetivação do processo de formação do indivíduo, como veremos adiante. Essa se
constitui como primeira etapa deste artigo.
A segunda e terceira partes agrupam uma pesquisa quantitativa e qualitativa realizada
no Clube de Leitura Caruaru – CLC. A segunda contém um breve histórico do Clube e reúne
uma pesquisa realizada pelos próprios integrantes, no total de 103 participantes, no intuito de
caracterizar o seu papel e os resultados alcançados. A terceira agrupa uma pesquisa mais
longa, contando com 50 integrantes do mesmo clube. Esse estudo foi realizado através de
questionários online, lançados nas redes sociais. Todas as questões visaram a perceber de que
forma o contato com o Clube e a experiência com o texto literário puderam afetar mudanças
de hábitos e comportamentos. Neste trabalho, a fim de identificar com nitidez as
potencialidades desse Clube na formação social e cultural, todos os resultados são
representados por meio de gráficos.
2. A natureza da leitura literária e a formação social e cultural do sujeito
Pensar o papel da literatura e sua real influência no desenvolvimento social, cultural e,
consequentemente, sobre o processo cognitivo do ser humano, requer refletir sobre a essência
de pelo menos três itens inerentes a essa relação: a natureza do texto literário, o deleitamento
a partir do texto literário e, por fim, o que podemos denominar de potencial formador da
literatura.
O primeiro, denominamos de natureza do texto literário, tendo em vista a necessidade
de diferenciar um texto da literatura de outros de domínios e especificidades diferentes. Graça
Paulino, esboçando Algumas especificidades da leitura literária, enfatiza, retomando as
contribuições de Magda Soares, que “ler” é um verbo transitivo, isto é, quando se lê,
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inevitavelmente o fazemos segundo um complemento: o objetivo, o tipo e gênero. A leitura de
um poema pressupõe objetivos distintos da leitura de uma notícia de jornal ou ainda de um
edital com vagas para um concurso. É inegável que o texto literário apresenta características
que lhe são próprias. De caráter ficcional, ele é um arcabouço de representação dos
sentimentos, experiências e vivências do homem em determinado tempo e lugar. Para
Todorov (2009), o escritor vive o mundo que representa através de seus personagens e das
cenas e imagens de sua criação literária. A literatura é uma profunda revelação da vida
humana, contagiando o homem porque nela se encontra as mais inusitadas ou as mais
familiares representações da vida.
Para Antonio Candido, a literatura é a “manifestação universal de todos os homens em
todos os tempos”. Assim, para esse autor, ela engloba criações diversas, do poético, do
ficcional ou dramático, presentes em todos os tipos de cultura e em todos os níveis da
sociedade (CANDIDO, 2014, p.23). Isso ocorre porque a literatura é capaz de ultrapassar o
comum, apontando o fantástico, o impossível, o bizarro; mas também mantém nexo com tudo
aquilo que é mais elementar na natureza humana, evidenciando o contraditório, o essencial, o
estimável, o desejável e o hostilizável.
É exatamente nessa nexologia que caracterizamos o segundo item dessa relação: o
deleitamento a partir do texto literário. Consonante Gabriel Perissé (2014), a literatura é uma
forma de aprendizado, e a forma com que discorre é sempre prazerosa. Sabemos com Kato
(1987) que a leitura envolve um processo consciente ou metacognitivo, próprio do leitor
maduro, que envolvem as atividades oriundas de um controle planejado para se atingir a
compreensão. Para essa autora, a interação varia conforme o gênero textual lido. Numa
compreensão sociointerativa, o texto, de qualquer natureza, não faz sentido sem a cooperação
do leitor. Assim, concordamos com Ingedore (2014), para quem a leitura é um processo
complexo de interação entre o sujeito e o texto com o propósito de produzir sentidos.
Entenda-se, de fato, “produzir” distintamente de “extrair”, já que o sentido não está pronto em
estado puro, mas é sempre atualizado graças aos conteúdos presentes no texto e toda forma de
mobilização do sujeito. Nesse processo, o indivíduo coloca em jogo um conjunto de saberes
de naturezas e destinos diversos.
Ainda é possível caracterizar que nesse processo, tanto o texto literário como o
indivíduo assumem condições de valências bem relevantes. Além do aprendizado, a leitura
literária permite a fruição. Como quer Perissé (2014), a leitura literária é um contato, uma
experiência. Com efeito, é descortinar um mundo produzido pelos autores, fazendo-nos
experimentar personagens como de carne e osso, com enredos cheios de imagens e ambientes
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criados de modo a facilmente nos situar, aproximar e arrebatar a toda dimensão simbólica do
imaginário do autor. Como diz Cândido (1995), a literatura nos envolve numa dimensão mais
humanitária e mais aberta à sociedade e ao próprio ser humano.
Ora, a literatura é a representação da própria experiência humana (CALVINO, 2004)
que existe através da capacidade de “fazer circular signos” (FOUCAULT, 2001) e, por essa
razão, tende a afetar, sensibilizar ou incutir na nossa capacidade de enxergar os problemas da
vida. Com efeito, é partir desse contato sujeito-texto literário que se pode favorecer aquilo que
chamamos de potencial formador da literatura.
Antes de diretamente mencionar como a literatura pode ser fortemente formativa,
cultural e socialmente, compartilhamos do pensamento de Cosson (2014) de que o nosso
corpo é um conjunto de vários outros corpos: físico, da linguagem, do sentimento, do
imaginário. Quanto mais estivermos abertos a desenvolver as mais variadas naturezas do
nosso corpo, mais condições teremos de desenvolvê-las. Já a literatura, é capaz de provocar.
Quanto mais experiência literária, mais madura e renovada podem ser a percepção estética do
leitor. Como defende Cândido (2014), essa experiência é potencialmente capaz de interferir
no conhecimento de mundo do indivíduo, isto é, o seu enriquecimento cultural, e pode
também afetar, consequentemente, o seu comportamento social.
Para os PCLP de PE (2012), com esse potencial formador, a literatura garante ao
indivíduo a autonomia e a liberdade. O exercício contínuo do ato de ler tanto proporciona a
descoberta do prazer da leitura e a formação cultural do leitor que busca, de forma madura,
selecionar, opinar, buscar aquilo que fazem parte de seu objeto de leitura, quanto promove a
formação crítica de sujeitos mais sensíveis e responsáveis, diante dos diversos problemas que
perpassam o mundo.
3 O Clube de Leitura Caruaru: histórico e avanços
No ano de 2012, um dos fundadores do Clube de Leitura Caruaru - CLC recebe uma
cartilha do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) com a sugestão de formar um clube de
leitura a ser realizado no colégio, bairro ou entre amigos. Como a paixão pela leitura já
existia, só ficou faltando encontrar mais pessoas para solidificar essa ideia. A solução foi
recorrer às redes sociais. No mesmo ano, ainda de forma tímida, o CLC foi criado através da
interatividade possibilitada mecanismos virtuais. Com o crescimento do grupo, surgiu a ideia
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de realizar atividades presenciais, as quais foram iniciadas a partir do ano de 2013, quando o
CLC passou a ocupar espaços físicos bimestralmente.
A princípio, o CLC foi criado com o propósito, puro e simples, de reunir pessoas que
amam e se interessam pela leitura e que desfrutam de alguma disponibilidade para se reunir e
discutir sobre obras de vários gêneros literários. Os encontros passaram a serem realizados a
cada dois meses, todos com um tema específico, com a finalidade de oportunizar a discussão,
comentários e troca de experiências. Tudo foi feito sempre de forma descontraída, tornando
tudo muito dinâmico e divertido a fim de atingir públicos de diversas faixas etárias. Isso
porque o objetivo que realmente importa é a leitura, de forma que todos possam se expressar e
vivenciar tudo o que a literatura pode proporcionar.
Além de toda a riqueza dos encontros, o CLC possui outros projetos paralelos, que são
voltados tanto para o incentivo à leitura, quanto para ajudar outras pessoas: excursões para as
bienais de livros, lançamento de livros de escritores regionais, leitura de histórias para
crianças, ações sociais, sessão de filmes e rodas de leitura que acontecem nas livrarias da
cidade.
Atualmente, o intuito do CLC é incentivar e propagar a leitura, de todas as formas e
tipos: através de encontros, divulgação de escritores da região, eventos culturais voltados às
mais amplas formas de literatura (música, cordel, poesia, textos…); leitura de histórias para
crianças (em hospitais e escolas), biblioteca itinerante (levada para grande parte dos eventos)
e ações sociais.
Para montar um encontro, o grupo do CLC inicia suas atividades na rede social, com a
votação do livro a ser escolhido para debate, através de enquete. Escolhido, os membros têm
em média dois meses para a leitura e, logo após, inicia-se todo o trabalho de divulgação e
preparação do encontro. Além disso, acontece a organização de todo o material digital
(banner de chamada), físico (marcadores para sorteio) e de decoração (que é adaptado ao
livro-tema do encontro). Tudo realizado com recurso doado por cada moderador.
Além disso, os encontros são realizados sempre em um domingo, a partir das quatorze
horas, para que o máximo de membros possa participar. Nele são realizadas várias atividades,
sempre iniciando com um “quebrar o gelo” para que todos os membros se soltem e sintam
mais à vontade. Depois da dinâmica inicial, começamos a discussão do livro-tema, onde todos
os moderadores3 e membros participam contando suas impressões a respeito da leitura, o que
se torna um momento de produtiva discussão.
3 Equipe responsável pela organização dos encontros. Pessoas que são membros e hoje participam mais
ativamente das atividades promovendo o Clube de Leitura Caruaru.
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Depois de concluído este primeiro momento, inicia-se a parte de “O que estou
lendo?”, em que todos podem se expressar e fazer recomendações de novas leituras. Logo em
seguida, começa o momento da dinâmica-tema, onde é realizada uma atividade relacionada à
temática do livro. Nessa parte, o CLC já realizou diversas dinâmicas conforme o livro-tema
de cada encontro: “arco e flecha” (Jogos Vorazes), “caça ao tesouro” (Peter Pan), “torneio
tributo” (Harry Potter) e tantas outras. Para finalizar, é realizado um QUIZ sobre o livro e/ou
sorteios de livros que são doados pelas livrarias da cidade.
Em todos os encontros, a Biblioteca Itinerante está presente, disponível para qualquer
membro que se interessar. O prazo de devolução do livro é de 2 meses. A biblioteca é sempre
mantida e renovada através de doações de livros dos moderadores, dos membros e da
população em geral.
Em uma pesquisa realizada pelo próprio CLC, com questionários aplicados por meio
da internet, buscou-se traçar um breve perfil dos participantes do clube. Os resultados foram
apresentados em gráficos, visando à identificação dos percentuais de uma coleta de 103
questionários. Nessa pesquisa, constatou-se que o clube tem alcançado abrangência
geográfica muito além do território municipal de Caruaru, embora seja nessa cidade onde o
público maior é concentrado. Com certeza, isso é possível graças às redes sociais.
Gráfico 1: Localização geográfica dos participantes.
No que diz respeito à faixa etária, a pesquisa também mostrou que o CLC tem atraído
o interesse de adolescentes, jovens e adultos, em média, na faixa etária entre 15 e 50 anos.
Como o CLC tem ganhado repercussão nas diversas mídias, foi possível também
constatar que parte dos integrantes conheceu o clube a partir da TV (1,9%). Mas a maior
parcela dos participantes conheceu o clube através de amigos ou do Facebook, como mostra o
gráfico 2:
Cidades dos entrevistados
Caruaru
Garanhuns
Recife
Outras
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Gráfico 2: O primeiro contato com CLC
As redes sociais e as demais mídias de comunicação exercem um grande papel para
que o Clube seja disseminado, pois muitas vezes o interesse é despertado inicialmente através
das divulgações online. Isso faz com que a curiosidade do público seja despertada, atraindo
novas pessoas para os encontros vindouros.
Ainda nessa pesquisa, foi possível detectar que, na opinião dos participantes, o CLC
tem proporcionado a oportunidade de ampliar o círculo de amizades e a aptidão para interagir
em grupo, o que representa um significativo índice de desenvolvimento social dos sujeitos.
Gráfico 3: A interação social no CLC
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No gráfico acima, percebe-se uma forte influência do CLC sobre os indivíduos. A
possibilidade de ampliação dos laços de amizade é um indicativo de que o Clube pode
contribuir para o desenvolvimento da afetividade e das práticas dos códigos de boa
convivência que podem se estender para outras esferas sociais, ou seja, esses laços podem ser
reverberados para a família, a escola/universidade e ao meio social como um todo.
Gráfico 4: O hábito da leitura
Por fim, o propósito final dessa pesquisa constatou um fato bastante positivo (vide
gráfico 4): o CLC tem alcançado resultados significativos na divulgação e propagação da
leitura e, consequentemente, na formação de leitores.
4 O CLC como ferramenta de formação do sujeito
A partir da constatação inicial de que o CLC haveria conseguido afetar os hábitos de
leitura dos integrantes e, consequentemente, contribuiu de alguma forma para desenvolver a
formação cultural e social dos indivíduos, sentiu-se a necessidade de caracterizar melhor o
perfil desses participantes. Para isso, buscou-se caracterizar o grau de sensibilidade, o senso
crítico e a responsabilidade dos sujeitos com os problemas que afetam a sociedade e o mundo.
Para isso, foi realizada uma pesquisa envolvendo 50 integrantes, dos quais, 40,9%
assumiram ter algum tipo de atividade profissional enquanto 61,4% ainda não estão no
mercado de trabalho. O público é composto por adolescentes em transição do Ensino Médio à
universidade e alguns ainda não têm decidido, com segurança, a profissão que desejam seguir.
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No que se refere ao grau de interesse desses indivíduos pelo Clube, 25,5% assumiram
que buscam conhecimento e aprendizagem. Já 34% relataram que o principal propósito deles
é conhecer pessoas e fazer amizades. Esses índices apontam que esses participantes veem no
Clube uma ferramenta capaz de contribuir com o enriquecimento cultural e com a valorização
das relações interpessoais. Sobre essa mesma questão, foi possível perceber que também há o
interesse em valorizar a arte literária e os escritores, assim como simplesmente a busca de um
passatempo, como mostra o gráfico 5. Mas isso não indica um ponto negativo, já que a
convivência entre os sujeitos é um meio de promoção da qualidade de vida social.
Gráfico 5: O CLC e seu grau de atratividade
Com expressiva percentagem, 85,1%, os entrevistados também declararam encontrar
no CLC frequentes momentos para o debate e o posicionamento crítico sobre as obras lidas.
(Vide gráfico 6). Isso acontece graças às dinâmicas desenvolvidas e a própria natureza do
texto literário. De acordo com os PCLP de PE, a literatura é capaz de garantir a autonomia e
liberdade graças ao seu poder de transgredir o senso comum. Ela proporciona um olhar
diferente para o mundo e para si mesmo, através da experiência do belo. (PCLP, 2012).
Quando os integrantes escolheram Carrie, a estranha, um conto de terror do escritor
norte-americano Stephen King, o encontro temático não só oportunizou momentos para
abordagem do enredo, do imaginário ficcional e das personagens, mas também sobre
problemas sociais, sobre a relação da personagem Carrie White e sua mãe, profundamente
religiosa, assim como a relação dessa garota com seus colegas de colégio.
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Gráfico 6: O CLC como ferramenta de debate e crítica literária
No tocante ao domínio hermenêutico das obras literárias, os indivíduos também
assumiram que encontram oportunidade para aprender a interpretar textos literários. Do total,
47,8% dizem que isso ocorre com frequência e 41,3% apontaram que isso sucede às vezes. Na
realidade, o CLC oportuniza esse enriquecimento cultural nos momentos de roda de leitura,
tanto sobre a literatura fantástica, como sobre os romances diversos e até mesmo sobre a
poesia.
Buscou-se também sondar se o Clube tem pautado discussões concernentes aos
problemas sobre a sociedade e o mundo. Do total, 83% afirmaram que isso ocorre com
frequência ou às vezes, como mostra o gráfico 7. Com efeito, isso é justificado graças às
dinâmicas dos encontros do Clube. Nele, além da leitura da obra e do CINE CLC, onde os
participantes podem assistir a um filme homônimo da obra, há outras atividades que estão
diretamente relacionadas às questões sociais. No encontro sobre o Ensaio sobre a Cegueira,
do escritor português José Saramago, por exemplo, foram discutidas questões diversas, tais
como, o cuidado social com o planeta, as relações interpessoais e as limitações da pessoa
portadora de deficiência. Tudo isso ocorre sempre nas “Rodas de conversa”.
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Gráfico 7: O CLC e o tratamento dos problemas da sociedade e do mundo
Um dos objetivos do CLC é formar leitores, e isso tem ocorrido graças à forma
dinamizadora e lúdica que o grupo encontra de despertar o prazer pelo ato de ler. O gráfico 8
indica que 78,7% têm encontrado prazer pela leitura graças as motivações do Clube. No
encontro sobre As vantagens de ser invisível, do escritor, roteirista e diretor de cinema norte-
americano, Stephen Chbosky, a atividade de “Caça ao tesouro: um brinde ao Charlie”, os
participantes puderam vivenciar e se contagiar com as cenas do livro, o que acabou
influenciando outros integrantes que ainda não havia tipo a oportunidade de ler essa obra.
Gráfico 8: A interferência do CLC no prazer de ler
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O CLC também tem assumido e incentiva o compromisso social e cultural. Como
indica o gráfico 9, cerca de 74,5% dos indivíduos defendem que isso ocorrem com frequência.
De fato, o Clube tem realizado campanhas todo o bimestre. A primeira delas foi uma doação
de roupas/agasalhos para o albergue da cidade de Caruaru. O segundo foi à doação de um kit
de higiene pessoal para o Programa ATITUDE4. O livro que inspira as ações sociais foi o
livro Extraórdinário, do escritor R.J. Palacio, pois através do manifesto a favor da gentileza
da personagem Auggie, ele ensina que a beleza é uma metamorfose, através da solidez nas
relações com o outro.
Gráfico 9: O compromisso social do CLC
Gráfico 10: Antigo senso de solidariedade dos participantes
4 Programa do Governo do Estado de Pernambuco coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos através da Gerência Geral de Políticas sobre
Drogas. O ATITUDE proporciona atendimento aos usuários de crack, álcool e outras drogas com atenção também direcionada aos familiares, oferecendo cuidados de
higiene, alimentação, descanso, atendimento psicossocial, além de outros, e com encaminhamentos direcionados para a rede SUS E SUAS e demais políticas setoriais.
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Gráfico 11: Atual senso de solidariedade dos participantes
O Clube, em todos os encontros, sensibiliza seus membros para as causas sociais,
através dos debates. Dessa forma, tenta-se trazer um olhar para o outro, para a sociedade,
diante das causas emergenciais. A indagação parte sempre de como os membros podem
contribuir. Ao longo dos encontros, percebe-se cada vez mais que os membros se solidarizam
de forma crítica diante das causas sociais e isso é constatado na pesquisa realizada, conforme
demonstram os gráficos 10 e 11. Eles indicam que houve um notório crescimento no senso de
responsabilidade dos participantes do CLC com as questões emergentes da sociedade. Assim
admitem os entrevistados. Essa transformação de postura diante da realidade é oriunda do
poder formador que advém da experiência literária. Um potencial formativo que é capaz de
afetar significativamente o comportamento dos indivíduos.
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Gráfico 12: Antiga sensibilidade literária dos participantes.
A maioria dos membros, desde o ingresso no CLC, (Vide Gráfico 12) aparenta
reconhecer razoavelmente esse valor estético, estando carente de um caráter indagador
genuíno. Essa questão foi desenvolvida ao longo dos encontros, fazendo com que os
participantes desenvolvessem esse senso crítico e valorativo, referente à arte literária.
Gráfico 13: Atual sensibilidade literária dos participantes.
No tocante ao gráfico 13, percebe-se que os membros se sensibilizaram com o valor
estético da arte literária. Isso sucedeu com bastante ênfase no encontro sobre o Auto da
Compadecida, do escritor Ariano Suassuna. Nesse encontro houve uma dramatização de um
trecho da peça e um debate sobre o seu valor estético. De forma muito produtiva, essas
dinâmicas do encontro contribuíram para gerar um encantamento sobre a obra e a valorização
da beleza dessa arte literária.
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Considerações finais
É evidente que o Clube de Leitura Caruaru contribui significativamente no incentivo à
leitura. Ele é um dispositivo capaz de despertar no leitor contemporâneo a sua capacidade de
relação, através das redes sociais. Isso nos revela que a metodologia de ensino/incentivo
tradicional à leitura precisa ser revista. A leitura não pode ser efetuada de forma mecânica e
sim por prazer. O objetivo do Clube se assume na condição de contribuir para que o leitor seja
um produtor de cultura e sensibilidade crítica com a sociedade. As redes sociais são
ferramentas que, se bem utilizadas, podem favorecer o desenvolvimento de um bom leitor,
aberto à criticidade e não apenas mero receptor de informações. Para isso, o Clube também
realiza os encontros presenciais, para tornar esse leitor um diferencial diante da sociedade,
descortinando sua leitura para o mundo. Essa experiência nos mostra que, quanto mais lemos,
mais paixão literária adquirimos, e quanto mais essa leitura é praticada, mais a experiência
literária pode proporcionar o desenvolvimento da autonomia e da liberdade do sujeito.
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CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: LIMA, Aldo de. O direito à literatura.
Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2014.
______. O direito à literatura. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2014.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática,
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KOCH, Ingedore Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2014.
PARÂMETROS CURRICULARS DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ENISNO
FUNDAMENTAL E MÉDIO. Parâmetros para a Educação Básica do Estado de
Pernambuco. Secretaria de Estado da Educação de Pernambuco. Recife: Caed/UFJF.
SEE/UNDIME/PE, 2012.
16
PAULINO, Graça. Algumas especificidades da leitura literária. In: PAIVA, Aparecida. (org)
et al. Leituras literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica Editora,
2014.
PERISSÉ, Gabriel. Literatura e educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL,
2009.