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A Invenção do Cotidiano

Morar, Cozinhar

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MOMENTOS E LUGARES

A Invenção do Cotidiano – primeira edição em 1980; este artigo foi escrito por Luce Giard em 1994 – Certeau havia falecido em 1986 e dois pesquisadores do primeiro ciclo também – Marie Beaumont em agosto de 1984 e Marie-Pierre Dupuy em julho de 1992.

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Colocar em evidencia as maneiras de fazer e de elaborar uma primeira formalização teórica.

Recusava-se a se deixar aprisionar por um único modelo teórico; seu propósito era a experimentação controlada na ordem do pensável.

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Definir um método, encontrar modelos para aplicar, descrever, comparar e diferenciar atividades de natureza subterrânea, efêmeras, frágeis e circunstanciais, em suma procurar, tateando, elaborar “uma ciência da prática singular”.

Achava-se em jogo o desejo da virada do olhar analítico – tentativa de por em evidência a ordem do fatos e captar a inteligibilidade na ordem das teorias.

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Observação-participante: tematizar algo tão próximo dos pesquisadores, no meio de uma sociedade que era tão próxima

Afastamento controlado e controlável de nossos lugares e de nossas práticas, a fim de podermos espantar-nos com eles, interrogá-los e depois dar-lhes sentido e forma numa espécie de nova criação conceitual (referencial teórico – Freud e Wittgenstein)

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Alguns seguidores do grupo: Marc Augé, Anne-Marie Chartier, Jean Herbrad, Marc Guillaume ou Louis Quéré

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ANAIS DO COTIDIANO

O objetivo deste segundo volume é traçar as interligações de uma cotidianidade concreta, deixar que apareçam no espaço de uma memória.

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2ª PARTE: COZINHAR

Um exemplo de pesquisa

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RESUMO (p.211-12)

A pesquisa apresentada trata do papel das mulheres na preparação da comida no lar. Não que esta condição seja feminina por natureza, mas própria da situação social e cultural e da história das mentalidades na França, ao menos até os idos de 1980. Tal papel tipicamente feminino é tomado como fundamental pela pesquisadora porque os hábitos alimentares constituem um campo em que passado e presente se encontram e que, por suas ritualizações, demonstram tanto prazer, imaginação e memória quanto artes tidas como mais elevadas, tais como o tecer e o musicar.

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2- MEMORIAL (p.212-16)

Negação do ato típico feminino; Descoberta de sua importância; Tentativa de aprendizado teórico, em livros de

gastronomia. Rememoração dos gestos aprendidos na infância; Descoberta do prazer no ato de preparação; Exercício de dar voz aos saberes que, antes

negligenciados, hoje se tornam símbolos da história pessoal e, por conseqüência, tema de estudo para a história cultural.

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Não o prazer de comer bons pratos, mas aquele fruto da preparação (manipular a matéria-prima, organizar, combinar ingredientes, modificar ou inventar uma receita) parece próximo ao prazer da escrita, pois haveria parentesco íntimo entre a escrita dos gestos[1] – do corpo e do espírito – e a escrita das palavras que não se pretendem imortais. (...) Seguindo os passos das mulheres subtraídas da vida pública e da comunicação do saber, quis fazer uma escrita pobre, de escritor cujo próprio nome se apaga, uma escrita que visa sua própria perda.

[1] Definição do conceito de gestos: p.273.

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JUSTIFICATIVA (p.216-22 / p.228-33)

Por que comer? A nutrição e as doenças relacionadas à alimentação provam,

segundo a autora, como é essencial para a saúde estabelecer um regime alimentar adequado. Há, o entanto, que se levar em consideração que tradições culturais induzem escolhas alimentares e que o senso comum sobre o tema é capaz de fazer, por exemplo, um cientista renomado afirmar “segredos nutricionais” totalmente refutados pela ciência. Além disso, a alimentação não se apresenta ao homem in natura, mas sempre culturalizada pelo conceito do que é ou não tido em dada sociedade como comestível. Assim, a nutrição diz respeito tanto a uma necessidade quanto a uma escolha, incorporando – sobretudo na atualidade, num cenário globalizado de mobilidade social e geográfica e de exogamia – a sobrevivência e também a busca pelo prazer.

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METODOLOGIA (p.222-28)

Entrevistas[1] com parentas e amigas, pertencentes à pequena e média burguesia francesa, com idades e profissões distintas (mas não pertencentes ao setor industrial e às ciências exatas). Cerca de duas horas de conversas informais, sem formulação prévia de questionário.

Fontes de dados factuais e quantitativos sobre os hábitos de consumo dos franceses e sobre nutrição;

Fontes de dados teóricos e qualitativos: Marcel Mauss, Lévi-Strauss, Bourdieu.

OBS: Citação do filme “Jeanne Dielman”, da diretora belga Chantal Aikermen (1976) – data de lançamento prevista para o Brasil: julho/2010.

[1] No começo, as entrevistadas pareciam tímidas, com medo de não terem nada a dizer, mas ao longo das entrevistas, talvez pelo tom informal das conversas, passam a se utilizar de expressões de cumplicidade, como “você sabe...” e “não é?!”. Perante isto, a pesquisadora salienta que teria sido bastante proveitoso um segundo momento de entrevistas, passado um tempo, para a obtenção de informações complementares, novas nuances para a interpretação das falas.

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DESENVOLVIMENTO (p.234-297)

a) Formas generalísticas de estudo[1]:

-Por Strauss - ser ou não comestível; diferentes misturas de ingredientes; diferentes formas de preparo das receitas; boas maneiras à mesa; privações alimentares provisórias.

-Por Bourdieu - diferentes gostos e formas de apreciação.

[1] Homologia entre tempos/espaços e formas de agir.

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b) Forma particular de estudo:

Segundo a autora, comemos lembranças e boas representações de saúde, ambos hábitos formados, ao longo de nossas vidas, não apenas por nossa origem e nosso meio de vivência, mas por escolhas extremamente particulares e indetermináveis no que tange à sua gênese. Os próprios grupos sociais não vivem na imobilidade e seus gestos não são imutáveis; ao contrário, há um ciclo de vida e morte em torno das práticas cotidianas e nem só de sabido e repetido se dá um ofício.

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EX: uma criança que, na infância, ao se adoentar recebia como afago e cuidado de sua mãe um doce mingau de maizena, amarelinho e quente. Já adulto, este sujeito sequer se lembra desta passagem e em nada lhe apeteceria um mingau de maizena; mas ao ir ao shopping comprar uma malha de lã para o inverno, escolhe tons pastéis como o amarelinho. Ao se tornar uma senhora de idade, e sem saber explicar por que, alimenta o neto doente com o afago e o carinho de um doce mingau de maizena – e faz questão de raspar a panela!

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CONCLUSÃO (p.298-332)

Única transcrição literal de uma entrevista

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ENTREMEIOOS FANTASMAS DA CIDADE Um fantástico do “já do lado de fora”

Espaços antigos resistem a cidade modernista, cidade de massa, homogênea. Essas ilhas da cidade antiga produzem um efeito de exotismo a cidade.

“Citações heteróclitas, cicatrizes antigas, elas criam rugosidades sobre as utopias lisas da nova Paris”.

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Ao mesmo tempo a conservação dos espaços que trazem uma memória do que foi a cidade, gera uma mudança no mercado de consumo e valorização dos terrenos, fruto de uma política protecionista.

Patrimônio, sua estranheza é convertida em legitimidade – existem leis que preservam o patrimônio – que pronuncia sobre a destruição necessária de um passado que não volta mais e a preservação de bens selecionados de interesse nacional.

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Esse passado tem ares de imaginário.

O que torna a cidade habitável não é tanto sua transparência utilitária e tecnocrática, mas antes a opaca ambivalência de suas estranhezas.

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Uma população de objetos “lendários” O imaginário urbano, em primeiro lugar, são as

coisas que o soletram. São objetos, atores que por sua estranheza muda e

sua existência subtraída da atualidade, gera relatos e permite agir – autoriza por sua ambiguidade espaços de operações.

Os objetos do passado vão atravessando gerações e tecem toda uma rede de nossa vida cotidiana, compõem a história do homem – articula um espaço de operações.

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A legitimidade concedida aos patrimônios passam por uma restauração, são modernizados. As histórias que esses patrimônios carregam em si são da mesma forma reeducadas no presente. Há uma contradição que esses objetos carregam: eles devem ao mesmo tempo preservar e civilizar o antigo, tornar novo o que era velho.

Dessa forma se tornam lugares de transito entre o fantasma do passado e os imperativos do presente - são passagens sobre múltiplas fronteiras que separam as épocas, os grupos e as práticas.

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Uma política de autores: os habitantes A questão da desapropriação dos sujeitos de

seus lugares em nome da restauração do patrimônio faz desaparecer aquilo que subsiste como uma cultura local para dar lugar ao gosto tecnocrata – nesse sentido a arte popular só existe como uma curiosidade ou um objeto a ser observado.

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O patrimônio não se constitui apenas do objeto, mas da capacidade criadora e do estilo inventivo que a articula, à maneira da língua falada, à prática sutil e múltipla de um vasto conjunto de coisas manipuladas e personalizadas, reempregadas e poetisadas – o patrimônio são todas essas artes de fazer.

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Uma mística da cidade

Os gestos e os relatos: são dois pontos de atenção na nova estética urbana. Caracterizam-se como cadeias de operações feitas sobre e com o léxico, de dois modos distintos, um tático e o outro linguistico. Os gestos e os relatos manipulam e deslocam objetos, modificando-lhes as repartições e os empregos – são bricolagens (Lévi-Strauss).

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Os gestos são verdadeiros arquivos da cidade

Arquivos – o passado selecionado e reempregado em função de usos presentes. Refazem diariamente a paisagem urbana. Esculpem nele mil passados que talvez já são inomináveis e que menos ainda estruturam a experiência da cidade.

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Este é também o trabalho dos relatos urbanos. Criam com o vocabulário outra dimensão... tornam assim a cidade mais confiável, atribuindo-lhe uma profundidade ignorada a inventariar e abrindo-a a viagens. São chaves da cidade: elas dão acesso ao que ela é mítica.

A mídia também utiliza os relatos – pelas histórias dos bairros novos eles se tornam habitáveis. Habitar é narrativizar. Fomentar ou restaurar essa narrativa é também uma tarefa de restauração.

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ESPAÇOS PRIVADOS O território onde se repete as artes de fazer é

o espaço doméstico. Espaço próprio, que por definição não poderia ser de outrem. O visitante é o intruso, aquele que é convidado deve se manter em seu lugar.

O habitat confessa sem disfarce tudo sobre seu habitante.

Lugar do corpo, lugar da vida O jardim fechado povoado de sonhos

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Grupo responsável pelo trabalho: Gabriela Fiorin Rigotti Maria das Dores Soares Maziero Maria Lygia Cardoso Köpke Santos Sonia Midori Takamatsu

Maio/2010