Departamento de Educação
Doutoramento em Ciências da Educação, na
especialidade de Desenvolvimento Curricular
A Organização do Trabalho na Pedagogia Diferenciada
ao nível do 1.º Ciclo do Ensino Básico:
um estudo comparativo entre os modelos pedagógicos
High/Scope e do Movimento da Escola Moderna
Mário Henrique de Jesus Gomes
Lisboa, abril de 2013
ii
Doutoramento em Ciências da Educação
A Organização do Trabalho na Pedagogia Diferenciada
ao nível do 1.º Ciclo do Ensino Básico:
um estudo comparativo entre os modelos pedagógicos
High/Scope e do Movimento da Escola Moderna
Mário Henrique de Jesus Gomes
Tese apresentada para obtenção de Grau de Doutor em
Ciências da Educação, na especialidade de Desenvolvimento Curricular
Orientadora: Prof.ª Doutora Maria Manuela Malheiro Ferreira
Coorientadora: Prof.ª Doutora Lídia Grave-Resendes
Lisboa, abril de 2013
iv
Resumo
Portugal subscreveu o programa da U.E. «Quadro Estratégico de Cooperação
Europeia em matéria de Educação e Formação» (EF2020), que estabeleceu objetivos para
os sistemas educativos europeus, no horizonte de 2020. Neste quadro, o Ministério da
Educação português publicou o intermédio Programa Educação 2015, que tem como
principal objetivo “elevar as competências básicas dos alunos portugueses” (Ministério
da Educação [ME], 2010). Portugal tem, desde 2001, um cenário legislativo que
preconiza a gestão flexível do currículo, tendo definido, nesse ano, o Currículo Nacional
do Ensino Básico, com a identificação das competências básicas para cada área curricular.
Neste contexto político, é fundamental que as escolas e os professores interiorizem que,
na peugada do sucesso escolar que se espera atingir, o currículo “é a concretização que
cada professor cumpre com os seus alunos” (Freitas, 1998, p. 25) e não apenas um
normativo distante. É urgente que as escolas sejam “eficazes para todos” (Ainscow, 1991,
2005), conseguindo promover o desenvolvimento das competências de todos os alunos,
apesar da diversidade. Todos os alunos são diferentes nas relações com o saber, nos
interesses e nas estratégias e ritmos de aprendizagem. A via para se perseguirem estes
objetivos é pela Pedagogia Diferenciada, entendendo-a como o “romper com a pedagogia
magistral – a mesma lição e os mesmos exercícios para todos ao mesmo tempo – mas é
sobretudo uma maneira de pôr em funcionamento uma organização de trabalho que
integre dispositivos didáticos, de forma a colocar cada aluno perante a situação mais
favorável” (Perrenoud, 1997, cit. in Peixoto, 2008, p. 16) à aprendizagem.
Em Portugal, são conhecidos e implementados, por um grupo alargado de
docentes, em diversas escolas, modelos de Pedagogia Diferenciada: o modelo High/Scope
e o modelo do Movimento da Escola Moderna. A história destes modelos nasce por volta
dos anos sessenta e setenta do século XX: o primeiro nos Estados Unidos da América,
2
com a influência das teorias de Piaget; e o segundo, em Portugal, sob a influência das
propostas pedagógicas de Freinet. O modelo High/Scope tem como central a
«aprendizagem ativa», enquanto o modelo do Movimento da Escola Moderna (M.E.M.)
se centra mais na «aprendizagem cooperativa».
Ambos os modelos preconizam um tempo diário dedicado ao estudo de forma
autónoma, sendo no High/Scope conhecido esse tempo como a rotina do «planear-fazer-
rever» (ou Trabalho individual) e no modelo do M.E.M. mais conhecido como «Tempo
de Estudo Autónomo». As diferenças terminológicas destacam as diferenças de
perspetiva.
Estudámos duas turmas do 1.º ciclo, cada uma implementando um dos modelos.
Focámo-nos essencialmente no Tempo de Estudo Autónomo por ser, por excelência, o
momento da diferenciação pedagógica, uma rica oportunidade de desenvolvimento de
competências de acordo com o perfil individual.
Ambos os modelos estão na senda da Pedagogia Diferenciada e são um excelente
contributo para o caminho de qualidade que pretendemos trilhar, para que “as
desigualdades diante da escola se atenuem e, simultaneamente, para que o nível de ensino
se eleve” (Perrenoud, 2000a, p 19).
Palavras-chave: Pedagogia Diferenciada; Igualdade de oportunidades; Sucesso
Escolar; Gestão Flexível do Currículo; Modelos Pedagógicos; Escola para Todos.
3
Abstract
Portugal signed the EU program "Strategic framework for European cooperation
in education and training" (ET 2020), with objetives for European education systems. In
this context, the Portuguese Ministry of Education published the Education Program
2015, with the main objetive "to raise the basic skills of Portuguese students" (Ministério
da Educação [ME], 2010).
Portugal has, since 2001, a law for flexible management of the curriculum, and
has established the National Curriculum, with the identification of basic skills for each
curriculum area, in each cycle of basic education.
In this political context, it is essential that schools and teachers to understand that,
in the way to expected school success, the curriculum "is the realization that each teacher
meets with students" (Freitas, 1998, p. 25). It is urgent that schools are "Effective for All"
(Ainscow, 1991, 2005), thus promoting the development of skills of all students, in the
face of the diversity. All students are different relations with knowledge, interests and
strategies of learning.
The way to these goals is with the differential pedagogy, understanding it as the
“break with the masterful pedagogy - the same lesson and the same exercises for all at the
same time - but is mainly a way to put in place an organization that integrates, in order to
place each student in the situation most favorable” (Perrenoud, 1997, cit. in Peixoto, 1998,
p. 16) in the learning.
In Portugal, it is implemented by a large group of teachers in different schools,
models of Differential pedagogy: High/Scope model and the Modern School Movement’s
4
model. The history of these models is born around the sixties and seventies of the
twentieth centuries: the first in the United States of America, under the Piaget’s influence;
and the second in Portugal, under the Freinet’s influence.
The model High/Scope is centered in "active learning", while the model of the
Modern School Movement (M.E.M.) is focused on "cooperative learning".
Both models advocate a daily time to study autonomous, and the High/Scope
known this time as the routine of the «plan-do-review» (or individual work) and the model
of M.E.M. known as “self-study time”. Terminological differences highlight the
differences in perspective.
We studied two groups of primary school level, each implementing one of the
models. We focused primarily on self-study time to be the time of adaptive education, a
rich opportunity to develop skills according to the individual profile.
Both models are in the way of differential pedagogy and can be an excellent
contribution to the way of quality we want to walk, so that "inequalities before the school
mitigate and, simultaneously, so the level of education rises" (Perrenoud, 2000a, p 19).
Key-words: Differential Pedagogy; Equal opportunities; Academic Success;
Curriculum Flexibility; Pedagogical Model; School For All.
Ao Henrique, à Anabela,
aos meus pais,
à minha irmã
e aos meus sobrinhos.
6
7
Agradecimentos
Manifesto o mais sincero agradecimento, pela colaboração direta ou indireta na
conceção desta tese, às seguintes pessoas:
ao meu filho, Henrique Gomes, pelo brilho com que ilumina os meus regressos
a casa, apesar do tempo que, pelo trabalho e pelo estudo, lhe retiro;
à Anabela Pinto que esteve ao meu lado nos momentos de insegurança, não
deixando que as dúvidas, receios e dificuldades se sobrepusessem aos meus
objetivos;
aos meus pais, que me incutiram a aspiração de chegar sempre mais além, que
me demonstraram que sonhar é possível e que me ensinaram que o estudo é
uma forma de oração;
à minha irmã, Luzia Gomes, e aos meus sobrinhos, Margarida e António, por
me devolverem sempre o afeto que tenho por eles;
ao Gonçalo Bernardino, um Amigo em quem encontro sempre as palavras
certas e o olhar sereno, a disponibilidade e o ombro amigo, iluminados por uma
superior sensibilidade;
às minhas orientadoras que, seguindo cada uma das fases, com rigor e
competência, me transmitiram confiança ao longo deste percurso, iluminando,
com a sua sabedoria e experiência, os caminhos mais eficientes;
às professoras e alunos que me deixaram estar nas suas salas de aula,
acompanhando o seu trabalho com as suas turmas.
8
9
Índice geral
Resumo ................................................................................................................. 1
Abstract ................................................................................................................. 3
Agradecimentos ..................................................................................................... 7
Índice geral ............................................................................................................ 9
Índice de Quadros ....................................................................................... 13
Índice de Figuras ......................................................................................... 15
Introdução ........................................................................................................... 19
Definição de termos ............................................................................................. 28
Parte I
Enquadramento teórico
A Gestão Flexível do Currículo ................................................................................. 33
1. A Evolução do Conceito de Currículo ........................................................... 36
2. Gestão Curricular ......................................................................................... 44
3. A Gestão Curricular na Escola Atual ............................................................ 47
Pedagogia Diferenciada ............................................................................................ 86
1. Origem ........................................................................................................ 88
2. Conceito ...................................................................................................... 98
3. Objetivos ................................................................................................... 104
4. Dispositivos de diferenciação ..................................................................... 108
5. As primeiras experiências de Pedagogia Diferenciada ................................. 111
6. Fundamentação teórica da Pedagogia Diferenciada ..................................... 114
10
7. A Pedagogia Diferenciada enquanto Direito da Criança .............................. 117
8. Implementação da Pedagogia Diferenciada ................................................. 135
9. A Aprendizagem como ato social ............................................................... 138
O Trabalho Autónomo ............................................................................................ 141
1. Autonomia, tempo e envolvimento ............................................................. 144
2. Objetivos do trabalho autónomo ................................................................. 152
3. Metodologia de implementação do trabalho autónomo ................................ 153
4. A autoavaliação e coavaliação formativas ................................................... 154
5. Trabalho Autónomo e Aprendizagem Autorregulada ................................... 154
Parte II
Metodologia
Metodologia ........................................................................................................... 181
1. Problemática Geral e Questões de Investigação ........................................... 184
2. Opções metodológicas ............................................................................... 192
3. Técnica de Análise Dos Dados: Análise de Conteúdo. ................................. 232
Parte III
Recolha, análise e interpretação de dados
Modelos de Pedagogia Diferenciada........................................................................ 237
1. O Modelo High/Scope ................................................................................ 239
2. Modelo do Movimento da Escola Moderna ................................................. 290
3. Semelhanças e divergências entre os modelos do High/Scope e do MEM ..... 324
Análise e interpretação de dados ............................................................................. 338
O caso A ....................................................................................................... 340
11
A turma com o Modelo High/Scope ........................................................... 340
O caso B ....................................................................................................... 409
A turma com o Modelo do Movimento da Escola Moderna ........................ 409
Semelhanças e diferenças entre os casos ......................................................... 495
Conclusão .............................................................................................................. 530
Bibliografia ............................................................................................................ 546
13
Índice de Quadros
Quadro 1 – Dinâmicas de gestão do currículo em sistemas centralizados e descentralizados...... 41
Quadro 2 – Documentos Orientadores do Processo de Reflexão Participada.............................. 55
Quadro 3 – Vertentes de desenvolvimento do Projeto................................................................ 61
Quadro 4 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma A ............... 206
Quadro 5 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma B ................ 208
Quadro 6 - Exemplar de grelha de observação, não preenchida ............................................... 217
Quadro 7 - Exemplar de parte da Matriz de registo dos dados do PIT, preenchida ................... 219
Quadro 8 - Exemplar de grelha de observação – Planificação (TEA/TI) .................................. 221
Quadro 9 - Exemplar de grelha de observação – Execução (TEA/TI) ...................................... 222
Quadro 10 - Exemplar de grelha de observação – Avaliação (TEA/TI).................................... 223
Quadro 11 – Categorias, Instrumentos e Dados recolhidos ...................................................... 227
Quadro 12 – Organização Geral do Modelo do MEM ............................................................. 306
Quadro 13 – Semelhanças e diferenças: Piaget, Vygotsky, Autonomia e Heteronomia ............ 326
Quadro 14 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma A.............. 342
Quadro 15 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma B .............. 411
14
15
Índice de Figuras
Quadro 1 – Dinâmicas de gestão do currículo em sistemas centralizados e descentralizados...... 41
Quadro 2 – Documentos Orientadores do Processo de Reflexão Participada.............................. 55
Quadro 3 – Vertentes de desenvolvimento do Projeto................................................................ 61
Quadro 4 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma A ............... 206
Quadro 5 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma B ................ 208
Quadro 6 - Exemplar de grelha de observação, não preenchida ............................................... 217
Quadro 7 - Exemplar de parte da Matriz de registo dos dados do PIT, preenchida ................... 219
Quadro 8 - Exemplar de grelha de observação – Planificação (TEA/TI) .................................. 221
Quadro 9 - Exemplar de grelha de observação – Execução (TEA/TI) ...................................... 222
Quadro 10 - Exemplar de grelha de observação – Avaliação (TEA/TI).................................... 223
Quadro 11 – Categorias, Instrumentos e Dados recolhidos ...................................................... 227
Imagem 1 – Diagrama “Roda da Aprendizagem”. ................................................................... 258
Imagem 2 – Diagrama “Ciclo da Aprendizagem” .................................................................... 263
Quadro 12 – Organização Geral do Modelo do MEM ............................................................. 306
Quadro 13 – Semelhanças e diferenças: Piaget, Vygotsky, Autonomia e Heteronomia ............ 326
Quadro 14 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma A.............. 342
Imagem 3 – Áreas de Expressões e de Matemática .................................................................. 354
Imagem 4 – Planta da sala de aula da turma A......................................................................... 355
Imagem 5 – Área “Livros e Leituras” ...................................................................................... 356
Imagem 6 – Instrumentos de Pilotagem (Registo semanal de distribuição dos alunos pelas
diferentes áreas, durante o tempo de Trabalho Individual) ................................. 357
Imagem 7 – Espaços para materiais individuais ....................................................................... 359
Imagem 8 – Grelha de registo de avaliação de atitudes e comportamentos............................... 366
Imagem 9 – Agenda semanal .................................................................................................. 372
Imagem 10 – Esquema de organização dos lugares dos alunos na Assembleia ......................... 379
Quadro 15 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma B .............. 411
16
Imagem 11 – Áreas da Leitura e Canto do Computador........................................................... 434
Imagem 12 - Ficheiros ............................................................................................................ 435
Imagem 13 – Planta da sala de aula da turma B ....................................................................... 436
Imagem 14 – Sala de aula da turma B ..................................................................................... 436
Imagem 15 – Trabalhos produzidos no âmbito dos Projetos .................................................... 437
Imagem 16 – Placard da Matemática, com sínteses coletivas ................................................... 438
Imagem 17 – Instrumentos de Pilotagem (Organização Cooperada) ........................................ 440
Imagem 18 – Planos Individuais de Trabalho .......................................................................... 441
Imagem 19 – Exemplo de Agenda Semanal da Turma B ......................................................... 447
Imagem 20 – Parte inicial do PIT ............................................................................................ 449
Imagem 21 – PIT semanais, afixados na sala de aula ............................................................... 449
Imagem 22 – Instrumentos de pilotagem ................................................................................. 450
Imagem 23 - Registo da avaliação dos conteúdos programáticos ............................................. 451
Imagem 24 – Exemplo de Agenda Semanal da Turma B ......................................................... 455
“Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais”.
António Gedeão (“Teatro do Mundo”, 1958)
18
19
Introdução
Portugal tem um sistema educativo conotado com princípios humanistas de
compromisso com a intencionalidade de garantia de uma escolaridade para toda a
população, de tendência gratuita.
Durante os últimos 50 anos, Portugal acompanhou as preocupações internacionais
com a Educação para todos, tendo subscrito um conjunto de documentos internacionais e
legislado no sentido da sua concretização.
Em 1960, Portugal subscreve a Convenção sobre a luta contra a discriminação do
domínio do ensino, onde o princípio de não-descriminação implica o direito à diferença.
Com a publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986 (Lei n.º
46/1986), reforçam-se os princípios relacionados com o direito à diferença, “mercê do
respeito pelas personalidades e pelos projetos individuais da existência, bem como da
consideração e valorização dos diferentes saberes e culturas” (art.º 3.º).
Em 1990, é assinada a Declaração Mundial sobre a Educação Para Todos,
conhecida como Acordo de Jomtien, onde o nosso país também se compromete com uma
Educação Básica “proporcionada a todas as crianças” (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO], 1998, p. 4), acentuando-se a
necessidade de uma estratégia de ensino centrada na criança. Em Portugal, desenvolve-
se o Programa de Educação Para Todos (PEPT, 1990). Passados dez anos, o Fórum
Mundial da Educação, avaliando as metas do Acordo de Jomtien, lança seis novos
desafios, onde podemos ler que é necessário “garantir que em 2015 todas as crianças (…)
20
tenham acesso a educação de boa qualidade” (UNESCO, 2000, p. 9) e “garantir que o
ensino dos jovens e adultos seja adaptado às suas necessidades de formação” (idem).
A Declaração de Salamanca, de 1994, proclama que “cada criança tem o direito
fundamental à educação e deve ter a oportunidade de conseguir e manter um nível
aceitável de aprendizagem” (UNESCO, 1994, p. 1).
Em 1995, através do Livro Branco da Comissão Europeia sobre a Educação e
Formação e do Relatório da UNESCO sobre educação para o século XXI - “Educação,
um tesouro a descobrir” (Delors, 1996), reafirmou-se a importância da educação escolar,
num contexto de uma sociedade da informação e comunicação.
Também em 1995, a organização Inclusion International reafirma que as
diferenças dos resultados académicos das escolas estão sistematicamente relacionados
com as características dos processos educativos, que podem ser modificados pela equipa
de professores para se adequar às características dos alunos.
A UNESCO publica, já em 2005, um relatório que reafirma, mais uma vez, a
urgência de “assegurar acesso e qualidade de educação para todos os alunos” (UNESCO,
2005, p. 4).
A década 2004-2015 foi decretada, pela Assembleia-geral das Nações Unidas,
como subordinada à Educação para o Desenvolvimento Sustentável, visando “fomentar
as transformações necessárias para atingir uma sociedade mais sustentável e justa para
todos” (UNESCO, 2006, p. 8).
O sistema educativo português vê publicado, em 2001, o Currículo Nacional do
Ensino Básico, com a definição das competências essenciais que se espera desenvolver
21
através da educação escolar. Portugal legislou no sentido de uma maior autonomia das
escolas, em matéria curricular, com a abertura do sistema à gestão flexível do currículo.
A investigação em Pedagogia Diferenciada (Gomes, 2001, 2011a; 2011b; Grave-
Resendes, 1989, 2002, 2004; Pinto, 2008; Pinto e Gomes, 2013; Santana, 2000a, 2000b;
entre outros), entendida como a adequação da escola aos alunos, potenciando os seus
interesses, necessidades, ritmos e estilos de aprendizagem, esteve em crescente nas
últimas décadas e ganhou um novo sentido, neste quadro legislativo mais aberto. O
professor e as escolas passaram de executores do currículo a gestores curriculares (Duarte,
2004; Perrenoud, 1999; Roldão, 1998, 1999a), o que lhes dá uma renovada
responsabilidade na adequação aos alunos.
Nas escolas portuguesas, têm-se afirmado algumas propostas de intervenção,
designadamente através de modelos estruturados de intervenção na organização do
trabalho com os alunos, como disso são exemplo os modelos pedagógicos High/Scope e
do Movimento da Escola Moderna.
O modelo High/Scope, nascido nos Estados Unidos da América, nos anos sessenta
do século XX, afirma-se com a sua expressão “aprendizagem ativa” (Brickman & Taylor,
1996; Epstein, 2003) e com a defesa de um tempo diário na rotina da turma para o
«planear-fazer-rever» (idem). Na linha de Piaget, este modelo defende a promoção de
atividades de aceleração (experiências-chave) que ajudem as crianças a progredir ao
estádio seguinte de desenvolvimento. O momento de excelência da diferenciação, na
rotina diária proposta pelo modelo, é o tempo do «planear-fazer-rever», também
conhecido, entre nós, como o tempo de «Trabalho Individual».
22
Por sua vez, o modelo do Movimento da Escola Moderna, desenvolvido em
Portugal, desde os anos sessenta, inspirando-se nos movimentos dos seguidores das
propostas de Freinet, assenta na aprendizagem cooperativa e apresenta como momento
de excelência para a Pedagogia Diferenciada o «Tempo de Estudo Autónomo».
Ambos os modelos defendem a existência de momentos diários de trabalho
diferenciado, de acordo com os interesses, necessidades, ritmos e estilos de aprendizagem
dos alunos. O High/Scope tem uma visão mais individualista e coloca uma tónica no papel
do professor enquanto promotor das atividades junto dos alunos. O modelo do
Movimento da Escola Moderna afirma-se mais pela gestão cooperativa de tudo o que diz
respeito à vida da turma, com a participação ativa do aluno.
Objetivo do estudo
Interessados na busca de propostas de concretização da Escola para Todos,
pretendemos rever a investigação no âmbito do Desenvolvimento Curricular e refletir
acerca do contributo que os modelos considerados de Pedagogia Diferenciada podem
trazer para a melhoria das práticas profissionais dos docentes.
Entendendo o Desenvolvimento Curricular como “um processo gradual e
contínuo, envolvendo observação, reflexão e ajustamento das orientações e das práticas”
(DEB, 2001, pp. 5-6), é fundamental que os professores se tornem profissionais reflexivos
(Schon, 1983, 1987; Zeichner, 1993).
Acreditando que a Pedagogia Diferenciada pode ser o caminho para que “as
desigualdades diante da escola se atenuem e, simultaneamente, para que o nível de ensino
se eleve” (Perrenoud, 2000a, p 19), quisemos aprofundar os contributos dos modelos
23
High/Scope e do Movimento da Escola Moderna, designadamente no que diz respeito à
organização das atividades, com destaque para os momentos de Estudo
Individual/Autónomo, momentos diários por excelência possibilitadores de
Diferenciação.
Pergunta de partida
Neste sentido, a pergunta de partida para este estudo é “como pode a organização
das atividades, em sala de aula, de acordo com a abordagem dos modelos High/Scope e
do Movimento da Escola Moderna, contribuir para a implementação da Pedagogia
Diferenciada e, desta forma, dar resposta à diversidade dos alunos?”.
As questões de investigação são as aseguintes:
- Como se processa a organização do trabalho segundo os modelos pedagógicos
High/Scope e do Movimento da Escola Moderna?
- Como é implementado o Trabalho Autónomo/Individual, de acordo com estes
modelos pedagógicos?
- Qual é o papel do aluno no Trabalho Autónomo/Individual?
- Qual é o papel do professor no Trabalho Autónomo/Individual dos alunos?
- Quais as semelhanças e diferenças entre as propostas dos dois modelos
pedagógicos?
- Qual a contribuição de cada um destes modelos para uma Pedagogia
Diferenciada?
24
- De que forma podem contribuir para uma escolaridade de sucesso?
Relevância
No contexto do compromisso que Portugal assumiu com o programa da União
Europeia «Quadro Estratégico de Cooperação Europeia em matéria de Educação e
Formação» (EF2020), que estabeleceu objetivos para os sistemas educativos europeus,
no horizonte de 2020, é importante voltar a dar destaque à Pedagogia Diferenciada como
via de promoção do sucesso de todos.
O Ministério da Educação português publicou, em 2010, o Programa Educação
2015, que tem como principal objetivo “elevar as competências básicas dos alunos
portugueses” (ME, 2010). Sendo os modelos High/Scope e o do Movimento da Escola
Moderna dos mais disseminados em Portugal, será relevante estudar de que forma as suas
propostas poderão contribuir para a implementação da Pedagogia Diferenciada.
E se, de acordo com a investigação no âmbito do Desenvolvimento Curricular, é
fundamental refletir e repensar a organização das atividades em sala de aula (Roldão,
1999b), então é de valorizar a análise das propostas destes modelos, enriquecidos com 50
anos de partilha entre os docentes que se envolveram e refletiram nestas questões.
Pretendemos compreender, em suma, de que forma as opções de organização das
atividades com os nossos alunos, designadamente o desenvolvimento de momentos de
trabalho individual/autónomo, de acordo com a abordagem destes modelos, podem ser
uma mais-valia na prossecução dos nossos objetivos de implementação da Pedagogia
Diferenciada.
25
Motivação
Motivou-nos poder, com este trabalho, adquirir e desenvolver competências para
um melhor desempenho docente, enquanto profissionais. Acreditamos que o estudo das
propostas destes modelos pode dotar-nos de ferramentas para uma mais profunda reflexão
acerca desta temática da Pedagogia Diferenciada e, em simultâneo, permitir uma melhor
ação educativa, ao nível da escola e das turmas.
Também quisemos dar o nosso contributo para o debate em volta das temáticas do
Desenvolvimento Curricular, da Pedagogia Diferenciada e dos modelos a ela associados.
Impulsionou-nos o desejo de procurar pistas para uma mais eficaz atuação na
construção da Escola para Todos, que conseguisse uma eficaz adequação à
heterogeneidade dos alunos, respeitando as diferenças interindividuais.
Metodologia
Considerando que nos motivou a procura de respostas para questões do tipo
«como?», optámos por uma metodologia qualitativa, com participação não ativa na sala
de aula.
Assim, propusemo-nos realizar dois estudos de caso em simultâneo, com duas
turmas de 1.º ciclo do Ensino Básico, em que se implementassem as propostas dos
modelos de Pedagogia Diferenciada: High/Scope e do Movimento da Escola Moderna.
Para realizar os estudos de caso, procedemos a entrevistas, observação não
participada e a análise documental.
26
Estrutura do trabalho
A parte I – Enquadramento teórico - inicia-se com um capítulo subordinado à
Gestão Flexível do Currículo, regulamentada em Portugal em 2001. Para uma melhor
compreensão da temática, iniciamos com uma breve apresentação da evolução do
conceito de «currículo», que se segue com uma clarificação da expressão «gestão
curricular», uma vez que se defende que o professor e a escola passam a ser gestores e
não executores do currículo (Duarte, 2004; Perrenoud, 1999; Roldão, 1998, 1999a).
Fazemos uma reflexão acerca da gestão curricular na escola atual, contextualizando a
evolução de um sistema centralizado, passando pela regulamentação da gestão flexível
até à publicação das Metas de Aprendizagem.
No segundo capítulo, debruçamo-nos sobre a Pedagogia Diferenciada, abordando
a origem da expressão e apresentando algumas das definições deste conceito. Refletimos,
de seguida, sobre os objetivos que lhe estão subjacentes, abordamos os dispositivos de
diferenciação e refletimos sobre algumas experiências pedagógicas. Avançamos para a
fundamentação teórica da Pedagogia Diferenciada e para a sua defesa enquanto Direito
da Criança, seguindo a questão da sua implementação e terminando com a abordagem à
aprendizagem como ato social.
O capítulo que se segue aborda o Trabalho Autónomo, o momento potencial de
Diferenciação Pedagógica. As questões relacionadas com o Trabalho Autónomo serão
abordadas refletindo sobre a autonomia, o tempo e o envolvimento, a que se segue uma
abordagem aos seus objetivos. A metodologia de implementação e a sua avaliação surgem
como antecedentes à apresentação da temática da Aprendizagem Autorregulada que o
Trabalho Autónomo pode potenciar.
27
Segue-se o capítulo de apresentação da Metodologia, que constitui a parte II, onde
justificamos as nossas opções de investigação, apresentamos a pergunta de partida e as
questões de investigação e explicamos todo o procedimento de investigação.
A parte III inicia-se com um capítulo sobre os modelos High/Scope e do
Movimento da Escola Moderna. Apresentando-os, desde a sua história, aos seus
objetivos, passando pelas suas propostas concretas de intervenção. Termina com a
apresentação das diferenças e semelhanças entre os modelos.
O último capítulo versa sobre a recolha, análise e interpretação de dados,
decorrentes do nosso estudo com duas turmas do 1.º ciclo do Ensino Básico nas quais
cada modelo é implementado. Apresentamos, em suma, os modelos em ação e
refletiremos acerca das suas potencialidades na peugada da construção de uma escola para
todos.
28
Definição de termos/conceitos
Áreas curriculares não disciplinares: podem fazer parte integrante do currículo,
mas não são “disciplinas” no sentido em que não partem de um programa previamente
definido ou conjunto de temas, conhecimentos e métodos específicos. Além disso, têm
uma natureza transversal e integradora: atravessam todas as áreas curriculares e integram
os saberes diversos.
Currículo escolar: é o conjunto de aprendizagens que, por se considerarem
socialmente necessárias num dado tempo e contexto, cabe à escola garantir e organizar
(Roldão, 1999a).
Desenvolvimento curricular: "prática, dinâmica e complexa, processada em
diversos momentos, de modo a formar um conjunto estruturado, com quatro componentes
fundamentais: justificação teórica, elaboração/planificação, operacionalização e
avaliação" (Pacheco, 2001).
Pedagogia Diferenciada: é o processo pelo qual os professores enfrentam a
necessidade de fazerem progredir no currículo cada criança, em situação de grupo, através
da seleção apropriada de métodos de ensino e de estratégias de aprendizagem e de estudo
(Visser, 1993); é a implementação de um conjunto de estratégias onde as aprendizagens
são explícitas e diversificadas para que os alunos aprendam segundo os seus próprios
itinerários de apropriação do saber e do saber-fazer (Przesmucki, 1991); é a identificação
e a resposta a um leque diverso de capacidades de uma turma, de forma que os alunos,
numa determinada aula não necessitem de estudar as mesmas coisas ao mesmo ritmo e
sempre da mesma forma (Simpson, 1989).
29
Trabalho autónomo: consiste em fazer participar o aluno na construção da sua
própria aprendizagem, deixando-lhe a liberdade de se organizar no desenvolvimento da(s)
na(s) tarefa(s) escolar(es). A sua ação desenvolver-se-á sobre os conteúdos e sobre os
processos (Pinto, 2008).
PARTE I
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
A Gestão Flexível do Currículo
"Os passos não conduzem,
apenas, a uma meta;
cada passo
é já em si uma meta."
(Émile-Auguste Chartier )
34
35
Apresentação
Sob a pressão interna e externa para a melhoria da qualidade do sistema educativo,
é necessário um reforço da autonomia das escolas (Formosinho, Joaquim & Fernandes,
2010), do papel profissional dos docentes (Duarte, 2004; Perrenoud, 1999; Roldão, 1998,
1999a), da gestão flexível dos currículos (Roldão, 1998) e da Pedagogia Diferenciada
(Gomes, 2001, 2011a, 2011b; Pinto, 2008).
Os decisores políticos assumem-no, com alguma regularidade, nos preâmbulos
dos diplomas legais que vão sendo publicados; os investigadores têm-no reforçado
sistematicamente (Gomes, 2001, 2011a; 2011b; Grave-Resendes, 1989, 2002, 2004;
Pinto, 2008; Pinto e Gomes, 2013; Santana, 2000a, 2000b; entre outros); e é commumente
aceite que a qualidade do sistema educativo se prende com o direito de todos a mais e
melhor educação.
Da mesma forma que as sociedades evoluem, as suas prioridades e necessidades
de formação também se alteram e é fundamental refletir sobre essas implicações na
Escola. Para uma eficiente articulação entre as orientações que emanam dos decisores
políticos e dos teóricos e a prática, é importante analisar, fundamentar e operacionalizar
os conceitos essenciais relacionados com o campo curricular (currículo, gestão curricular
e profissionalidade). É o currículo que traduz o que, em cada momento, a sociedade espera
da escola (Roldão, 1999b; Zabalza, 1997).
Estes conceitos essenciais fazem da teoria curricular um campo em reflexão
permanente, na medida em que “procura descrever, explicar e compreender os fenómenos
curriculares, servindo de programa para a orientação de atividades resultantes da prática,
com vista à melhoria” (Pacheco, 2001, p.31). Aliás, Reid (1979) insiste na necessidade
36
de que se aceite como “premissa que o objeto da abordagem dos estudos curriculares e
da teorização curricular tem por finalidade a melhoria da prática” (p. 188).
Por estas razões, “um estudo que tem por objeto o desenvolvimento curricular
impõe a clarificação do conceito de currículo” (Gaspar & Roldão, 2007, p. 17). Nestes
sentido, iniciaremos pela clarificação e problematização destes conceitos.
1. A Evolução do Conceito de Currículo
1.1. Conceito de currículo.
São diversas as definições do conceito de currículo, com variações relativas ao
seu conteúdo, construção e desenvolvimento (Apple, 1997; Pacheco, 2001; Ribeiro,
1996). O lexema currículo, proveniente do latim currere, significa caminho, jornada,
trajetória, percurso a seguir e encerra, por isso, duas ideias principais: uma de sequência
ordenada, outra de noção de totalidade de estudos (Pacheco, 2001; Gaspar & Roldão,
2007).
A diversidade de definições do termo “currículo” depende das perspetivas que se
adotam (Ribeiro, 1996) e também “dos pressupostos ideológicos, políticos, doutrinais,
científicos… de cada um” (Santos, 2007, p. 67). Gaspar e Roldão (2007, pp. 22-28)
apresentam 15 definições dos mais conceituados autores, fazendo comparações das
tendências acentuadas pelas definições.
Na perspetiva em que se sublinha a relação da escola com a sociedade, podemos
dizer que o “currículo escolar é o conjunto de aprendizagens que, por se considerarem
socialmente necessárias num dado tempo e contexto, cabe à escola garantir e organizar”
(Roldão, 1999b, p. 24), ou seja, o currículo “traduz o que, em cada momento cultural e
37
social, é definido como o conjunto de conhecimentos, habilidades, valores e experiências
comuns desejados por todo um povo” (Zabalza, 1997, p. 13). É “uma construção
permanente de práticas, com um significado marcadamente cultural e social, e um
instrumento obrigatório para a análise e melhoria das decisões educativas” (Pacheco,
2001, p. 19). O currículo será, assim, o conjunto das aprendizagens de vários âmbitos,
interpretadas como necessárias para todos os cidadãos. Porém, uma vez que as sociedades
evoluem, as necessidades de aprendizagens a promover nos seus cidadãos também se vão
alterando (Roldão, 2001). Acresce que, nas sociedades escolarizadas, continua a ser
esperado que estas aprendizagens devam ser garantidas e organizadas pela escola
(Roldão, 1999b, 2001; Zabalza, 1997; Pacheco, 2001).
Até à revisão curricular que culminou com a publicação do Currículo Nacional
em 2001, havia programas nacionais, assentes num princípio de funcionamento uniforme
da escola e do sistema. Porém, como temos vindo a afirmar, o currículo deve plasmar as
necessidades sociais de educação e, como a sociedade está em constante mudança,
também o currículo deve estar em permanente atualização e ser flexível, sendo necessário
abandonar conceções curriculares estáticas.
Dando resposta às necessidades sociais a que se espera que a escola
corresponda, o currículo é o conjunto dos pressupostos de partida, das metas que
se deseja alcançar e dos passos que se dão para as alcançar; é o conjunto dos
conhecimentos, habilidades, atitudes, etc. que são considerados importantes para
serem trabalhados na escola, ano após ano. E, supostamente, é a razão de cada
uma dessas opções (Zabalza, 1997, p. 12).
Nos documentos orientadores da última reforma curricular portuguesa
(implementada com o Decreto-lei n.º 6/2001, de 18 de janeiro) o currículo é definido
38
como o “conjunto de aprendizagens que os alunos realizam, ao modo como estão
organizadas, ao lugar que ocupam, e ao papel que desempenham no percurso escolar ao
longo do ensino básico” (DEB, 2001, p. 5). Na linha do que tem sido dito por Roldão
(2001) e Zabalza (1997), o currículo não é a lista de disciplinas ou o plano de estudos,
nem a lista de conteúdos e métodos a desenvolver nas aulas.
Passando a conceber-se baseado no princípio da concretização flexível,
requerendo nos diversos níveis (ministério, agrupamentos, turmas) adaptação à realidade
(Gomes, 2011b; Pinto, 2008; Pinto e Gomes, 2013), o Currículo Nacional passou, em
2001, a incluir as principais competências a desenvolver e os tipos de experiências
educativas que devem ser proporcionadas a todos, assim como a definição de quais são
as áreas e componentes curriculares nos diversos ciclos (Formosinho, 1991).
Atualmente, a própria noção de currículo integra a procura de respostas adequadas
às diversas necessidades e características de cada aluno, grupo de alunos, escola ou região
(DEB, 2001), preconizando, nesse sentido, a elaboração de Projetos Curriculares de
Escola/Agrupamento e de Turma, operacionalizando estes diferentes níveis de adequação
e tomada de decisão.
Em suma, o currículo nacional “traduz os mínimos comuns a toda a sociedade,
constituindo a «estrutura comum de uma cultura» e as previsões gerais relativamente às
necessidades de formação e de desenvolvimento cultural e técnico dessa mesma
sociedade” (Zabalza, 1997, p. 13). O objetivo principal de um currículo nacional é
construir o sentido de uma comunidade, incrementando um sentido dos valores comuns
pela via do desenvolvimento de experiências adequadas e comuns a todos (Reynolds &
Skilbeck, 1976).
39
Para Pacheco (2001), o termo currículo só começou a fazer parte do vocabulário
escolar quando a escolarização se organizou em função de interesses culturais, sociais,
económicos e políticos, no seguimento da pressão que a sociedade industrial exerceu
sobre a escola. Mas, o conceito é anterior à existência da própria palavra. “Se existe
currículo desde que há aprendizagem a realizar, ou seja, desde que há conhecimento a
transmitir – funções que se identificam com os primórdios da Humanidade (ou das
civilizações) – o currículo terá o início coincidente com o do ser humano” (Gaspar, 2007,
p. 19).
Podemos dizer, então, que o currículo é
todo o conjunto de ações desenvolvidas pela escola no sentido de «oportunidades
para a aprendizagem» (…): o conjunto de experiências programadas pela escola
e o próprio processo seguido para as programar, (…) o conjunto de experiências
vividas pelo aluno no contexto escolar (Zabalza, 1997, p. 26).
É incongruente conceber o currículo de uma forma estática, definida, nos seus
conteúdos, organização e modelos de trabalho, a partir de um único padrão, centralmente
criado pelos “arquitetos da estrutura do ensino” (Zabalza, 1997, p. 12).
É necessário deixar de lado a ideia de “currículo pronto-a-vestir de tamanho
único” (Formosinho, 1991) e é urgente passar a concebê-lo como um “projeto integrado
a construir nas escolas” (Alonso, Ferreira, Rodrigues & Mendes, 1994, p. 10).
Estudos internacionais que incidem na avaliação das aprendizagens dos alunos
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), International
Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA) e Comissão Europeia)
40
alertam para os problemas de exclusão social que a não escolarização provoca nas
sociedades atuais.
Depois da massificação do acesso à escola (em meados do século XX), é
necessário “massificar o sucesso”, garantir a todos uma qualidade educativa satisfatória,
não podendo mais confinar-se a escola ao papel de assegurar uma socialização de base e
uma instrução elementar para a maioria, com aprendizagem de melhor nível apenas
reservada a alguns (Pacheco, 2001).
Para que a escola possa promover o sucesso generalizado, é necessário que as
escolas e os professores rentabilizem a flexibilidade curricular, dentro das balizas
definidas pelo Currículo Nacional (Gomes, 2001, 2011a).
No Quadro 1 procura sistematizar-se as diferenças ao nível do conceito de
currículo, de organização de escola e de profissionalidade docente, em sistemas
educativos centralizados e em sistemas educativos centrados na escola.
41
Quadro 1 – Dinâmicas de gestão do currículo em sistemas centralizados e descentralizados
Sistema Educativo Centralizado Sistema Educativo Centrado nas Escola
Currículo
Definido apenas a nível nacional. Uniforme. Constituído essencialmente por conteúdos / tópicos. Avaliação por referência ao normativo programático único.
Binómio curricular: currículo nacional (core curriculum) + currículo de cada escola (projeto curricular, integrando e ampliando, de forma própria, o currículo nacional). Alargamento do currículo a um maior número e tipos de aprendizagens. Avaliação por referência a: a) avaliações nacionais externas; b) avaliação pela e na escola, face aos seus objetivos.
Escola
Estrutura de funcionamento administrativo-burocrática. Organização hierárquica. Campos de iniciativa e decisão limitados. Prestação de contas perante a administração central.
Estrutura de funcionamento autónoma (em graus variáveis). Organização funcional (em modalidades várias). Campos de iniciativa e decisão próprios. Prestação de contas perante a comunidade e administração.
Professores
Atividade regulada pelos conteúdos curriculares estabelecidos. Campos de iniciativa e decisão limitados ao desenvolvimento e metodologia das aulas. Prática predominantemente individual.
Atividade regulada pelos objetivos e metas curriculares da escola. Campos de iniciativa e decisão próprios – gestão curricular, no plano individual e coletivo. Práticas colaborativas entre pares.
(Fonte: Adaptação de Gaspar e Roldão, 2007, p. 142)
A noção de competência adotada pelo Currículo Nacional publicado em 2001 é
ampla, integrando conhecimentos, capacidades e atitudes. Para Perrenoud (1995; 2001),
a competência está relacionada com o processo de mobilizar ou ativar recursos –
conhecimentos, capacidades, estratégias – em diversos tipos de situações e especialmente
em situações problemáticas.
Com a publicação do Despacho n.º 17169/2011, cessou a vigência do Currículo
Nacional, não existindo, entretanto, um documento substituto. Neste diploma, cessa
também a organização do Currículo Nacional em competências a desenvolver.
42
Hoje, é comum aceitar-se, contudo, que
toda a educação é cibernética e não um logaritmo fixo de ações numa sequência
rígida. Esta circunstância não dispensa, antes exige, amplos conhecimentos para
poder desenvolver adequadamente essa acomodação necessária do processo aos
condicionamentos que vão surgindo ao longo do percurso (Zabalza, 1997, p. 9).
Espera-se, portanto, que o professor, nas funções que desempenha nos órgãos de
gestão intermédia, nos concelhos de turma e na sua atividade docente direta com cada
turma, tome um conjunto de decisões entre as nacionais e a adaptação às características
dos alunos.
Scurati (1992) inclui esta dimensão profissional na sua definição de currículo, ao
entender este como “um projeto educativo e didático realizado em situação escolar através
de comportamentos de tipo profissional especialista, conhecedor da educação, da escola
e do próprio desenvolvimento curricular” (p. 85).
Esta visão exige que os professores se tornem “profissionais reflexivos” (Schon,
1983, 1987; Zeichner, 1993), questionando-se e analisando permanentemente a sua
prática, para se consciencializarem dela e serem capazes de a melhorar, adequar e alterar
tendo em conta as necessidades do contexto em que estão inseridos. Dito de outro modo,
“estamos a reportar-nos a profissionais como agentes de mudança, capazes de refletir de
uma forma crítica sobre a sua prática pedagógica, de a adequar à diversidade de contextos
e às características dos alunos e não a meros consumidores de programas impostos
externamente” (Ramos & Costa, 2004, p. 80).
Esta ideia de “professor como profissional reflexivo”, popularizada por Schon
(1983), aparece relacionada com a de “professor como investigador”, defendida por
Stenhouse (1987).
43
Esta perspetiva remete-nos para um professor capaz de questionar, de forma
crítica e sistemática, a sua prática, tomando decisões fulcrais para a melhoria do processo
de ensino e aprendizagem, sempre com uma atitude investigativa. É um profissional capaz
de diagnosticar problemas, refletir sobre eles e investigar na procura de soluções,
tornando-se um “agente ativo no desenvolvimento curricular” (Gimeno Sacristán, 1988).
Ramos e Costa (2004), ao refletirem sobre o decreto-lei n.º 241/2001, que define
o perfil específico do desempenho profissional do educador de infância e do professor do
1º ciclo do ensino básico, sublinham que neste normativo é valorizada:
- uma conceção de professor como profissional da educação com a função
específica de ensinar, pelo que recorre ao saber próprio da profissão e que, ainda
que enquadrado em orientações de política educativa, tem o poder de decidir e
gerir o currículo, baseados em atitudes de investigação e reflexão partilhada da
prática educativa;
- uma conceção de currículo como construção social, que requer processos de
decisão (a diferentes níveis), de negociação (com os vários intervenientes do
processo educativo) e de intervenção (na escola e no seu contexto) (p.86).
Na linha de pensamento de Stenhouse (1987), o currículo é entendido não como
um produto ou um resultado acabado mas como um processo a ser desenvolvido e
interpretado pelos professores de diferentes modos e em contextos diversificados.
Assume-se, assim, a atitude crítica do professor, que procura estabelecer uma relação
entre a teoria e a prática, aplicando-a em função das características dos alunos e do
contexto, tal como preconiza a teoria prática, proposta por Kemmis (1988).
44
2. Gestão Curricular
2.1. O conceito de gestão curricular.
A gestão curricular é, como se tem vindo a delinear a partir da reflexão acerca do
próprio conceito de currículo, inerente à prática docente, havendo diversos níveis de
decisão.
Mas afinal de que falamos quando falamos de Gestão Curricular? A própria
conceção de Gestão Curricular está também em evolução, não se esgotando nas tarefas
de planificação e programação dos conteúdos. “A noção tradicional de desenvolvimento
curricular precisa, portanto, de ser questionada” (DEB, 2001, p. 5).
Se quando existia um currículo uniforme e rígido a cumprir, a maioria das decisões
curriculares se passavam distantes da escola e dos professores, ao nível central, quase
limitando a gestão curricular dos professores à distribuição dos conteúdos pelos períodos
escolares e à planificação das suas aulas quotidianas (Roldão, 1999a, 1999b; DEB, 2001),
hoje a situação é bem diferente.
As decisões de gestão ao nível central permanecerão, mesmo em sistemas com
tendência para a descentralização (decisões globais e a nível nacional). “Mas, uma larga
maioria das decisões virá a entrar cada vez mais no campo específico da gestão curricular
de cada escola e dos seus docentes” (Roldão, 1999b, p. 25), dando-se maior visibilidade
ao processo e ao conceito de gestão curricular e maior responsabilidade aos gestores
locais do currículo. “Numa visão mais abrangente e aberta, o desenvolvimento curricular
é sobretudo um processo gradual e contínuo, envolvendo observação, reflexão e
ajustamento das orientações e das práticas pedagógicas” (DEB, 2001, pp. 5-6).
45
Gerir é analisar, decidir, concretizar a decisão, avaliar o desenvolvimento e os
resultados que decorrem da decisão, prosseguir, reorientar ou abandonar a decisão tomada
(Zabalza, 1992, 1997).
O entendimento do que é a gestão curricular depende do alcance do conceito de
currículo que está em jogo. É a partir daí que se clarifica quem são os protagonistas da
conceção, implementação e gestão curricular aos diversos níveis e domínios do sistema
educativo (Correia, 2000).
A evolução do conceito de gestão curricular implica que o princípio estruturante
seja a gestão estratégica e não tanto a gestão planificada (Zabalza, 1997). Enquanto na
planificação tudo é ordenado de forma racional, traçando os objetivos e o modo de
alcançá-los, definindo os meios ideais, pode não evitar os inúmeros obstáculos que
impedirão a sua concretização. Na perspetiva estratégica, sabe-se que a realidade reage
às iniciativas. Diria Crozier (1995) que “o planificador só vê o plano e o estratega baseia-
se na observação do terreno” (p. 19).
2.2. Níveis de gestão curricular.
Entre as decisões curriculares ao nível central e a adequação à turma, há níveis de
decisão diversos, comummente apresentados como “níveis de decisão” (Roldão, 1999a,
1999b, 2001), a saber: central, institucional, grupal ou individual; administrativo, pessoal,
interpessoal.
Abrantes (2001) considera apenas dois níveis de decisão curricular: nível
macrocurricular (conjunto de “orientações estabelecidas pelas autoridades educativas”) e
46
um nível microcurricular (“associado ao modo como o professor orienta e organiza
efetivamente o processo de ensino-aprendizagem e a tarefas que propõe aos seus alunos”)
(p. 42).
47
3. A Gestão Curricular na Escola Atual
3.1. O Projeto de Reflexão Participada Sobre os Currículos do E. B.
O desenvolvimento das sociedades democráticas implica políticas da educação
que promovam a valorização das pessoas e a redução das desigualdades sociais. “O acesso
à educação, o sucesso e a qualidade das aprendizagens nos primeiros anos de escola são
condição de desenvolvimento cultural, social e económico das sociedades
contemporâneas” (DEB, 1998b, p. 4). Assumindo que Portugal acumulou grandes atrasos
no domínio educativo, o governo liderado por António Guterres enuncia, no “Pacto
Educativo Para o Futuro” (ME, 1996) e no “Documento Orientador das Políticas
Educativas para o Ensino Básico” (DEB, 1998b) como grande prioridade a educação e a
formação: “Hoje não é possível assegurar a democratização do acesso à educação sem,
ao mesmo tempo, construir a qualidade das aprendizagens” (DEB, 1998b, p. 1-2).
Da sua qualidade depende em parte significativa a sustentabilidade do
desenvolvimento do País. A melhoria do nosso sistema de formação não é uma
condição suficiente, mas é uma condição indispensável e altamente favorável
para o nosso desenvolvimento social (…) A educação é uma questão pública e
uma ambição nacional. (…) É um assunto de todos e a finalidade essencial do
processo educativo é o desenvolvimento e a formação global de todos, em
condições de igualdade de oportunidades, no respeito pela diferença e autonomia
de cada um (ME, 1996, pp. 7-9).
Na síntese das grandes orientações para a Educação Básica considera-se a
necessidade de
enriquecer e consolidar a estrutura curricular do ensino básico, consagrando um
currículo nuclear e articulado entre os três ciclos e conferindo espaço de
autonomia pedagógica às escolas, criando condições para a realização de uma
escolaridade básica de sucesso para todos os alunos (DEB, 1998b, p. 2).
48
Para tal, são indicados como objetivos “educar, integrar e formar para a cidadania”
(DEB, 1998b, p. 3). Simples de enunciar e difíceis de concretizar, clarificam que “não
basta aprender, é necessário compreender e saber usar o que se aprende” (idem).
Entre os maiores problemas diagnosticados podemos destacar a
deficiente articulação entre os três ciclos que compõem a escolaridade básica,
nomeadamente quanto à organização pedagógica, aos currículos e à formação
de professores (…); a demasiada uniformização da ação pedagógica e
empobrecimento dos conteúdos e metodologias dominantes” (…); a
“centralização da gestão educativa, comprometendo a construção da autonomia
das escolas (DEB, 1998b, p. 5-6).
Neste sentido, as orientações para o ensino básico implicam
consolidar e estabilizar um currículo nacional comum, promovendo e apoiando
a gestão flexível (…); promover a qualidade educativa, através de um decidido
reforço do trabalho no âmbito do desenvolvimento curricular e das práticas
pedagógicas, com reforço das metodologias ativas de ensino e de formação dos
professores, procurando, por esta via, assegurar melhores aprendizagens a todos
(…); avaliar e desenvolver as experiências de adaptação curricular, quer as que
visam primordialmente prevenir a exclusão e o abandono, quer as que, para além
deste objetivo, pretendem estabelecer um interface eficaz com o mundo do
trabalho, quer, ainda, as que visam assegurar uma educação intercultural (DEB,
1998b, p. 7-8).
O Ministério da Educação, através da Secretaria de Estado da Educação e
Inovação e do Departamento da Educação Básica, inicia no ano letivo 1996/97 um
conjunto de iniciativas de reflexão sobre os desafios curriculares com que as escolas e os
professores se defrontam no quotidiano. O Projeto de “Reflexão Participada sobre os
Currículos do Ensino Básico” surge inserido no quadro das políticas curriculares, com o
objetivo de “melhorar a qualidade e a eficácia da resposta educativa deste nível do sistema
face às necessidades e direitos dos indivíduos e aos problemas da sociedade em geral,
49
confrontada com mudanças sensíveis e com desafios novos” (DEB, 1997, p. 9). Tem,
portanto, um propósito de “contribuir para a construção de uma escola mais humana e
inteligente, tendo em vista a formação e o desenvolvimento integral de todos os seus
alunos e a promoção de aprendizagens realmente significativas” (DEB, 2001, p. 3).
O lançamento do projeto foi precedido de um conjunto de reuniões preparatórias
com a Secretaria de Estado da Inovação e Educação e o Departamento da Educação
Básica, entre abril e setembro de 1996. Nessa fase, foi feita a análise de alguns trabalhos
prévios de identificação de pontos críticos na Educação Básica.
Para o efeito, foram solicitadas análises e diagnósticos globais sobre esses pontos
críticos a diversas personalidades da comunidade científica e educacional.
Os principais problemas identificados são os que resultam da diversidade
sociocultural dos públicos e da necessidade de contextualizar e gerir a educação e o
currículo em termos da sua adequação aos alunos: “evidente dificuldade em promover o
cumprimento de uma escolaridade de nove anos bem-sucedida” (DEB, 2001, p. 3).
Pretendeu-se, com este projeto de reflexão, lançar um debate sobre o currículo da
Educação Básica, sobre as suas finalidades e a sua gestão, no sentido de melhorar a
eficácia e adequação das práticas educativas.
Este projeto enquadra-se num contexto mais amplo de políticas educativas em
curso no sistema português que visam objetivos convergentes, nomeadamente no que se
refere a (DEB, 2001, p. 3):
- criação de territórios educativos que possibilitem a melhor adequação aos
contextos em que atuam as escolas, a cooperação entre atores sociais locais e a
rentabilização dos recursos;
50
- reforço da autonomia das escolas e aprofundamento da sua relação com os
restantes parceiros sociais;
- lançamento de novas políticas de gestão das escolas em todos os níveis e ciclos;
- lançamento de iniciativas de vária ordem, e envolvendo parcerias diversas, para
apoio a alunos da escolaridade básica em situação de abandono ou insucesso;
- lançamento, através também de um processo amplo de debate e reflexão
participada, de orientações curriculares para a educação pré-escolar e reforço
deste subsistema do sistema educativo global;
- projeto de revisão curricular participada no Ensino Secundário com objetivos
idênticos de envolvimento e participação ativa das escolas, dos professores e de
outros interlocutores significativos.
Em suma, persegue-se uma melhoria geral da oferta do sistema educativo no seu
todo e da sua operacionalização no terreno.
Influências teóricas e políticas curriculares internacionais.
A reflexão proposta insere-se no quadro teórico das conceções curriculares da
atualidade, sob influência do que se vem estudando e implementando neste campo a nível
de outros países europeus.
A Reforma Curricular que decorreu da Lei de Bases do Sistema Educativo de
1986, orientada pelo Decreto-Lei 286/89 (acompanhado pelo Despacho Normativo n.º
98-A/921, de 20 de junho, alterado pelo Despacho Normativo n.º 664-A/94, de 13 de
setembro), cuja generalização se concluiu em 1996, à semelhança do que aconteceu em
1 Introduz a avaliação de aferição.
51
muitos países ocidentais nas décadas de 80-90, veio a demonstrar-se pouco eficaz na
produção de mudanças que respondam à diversidade de situações atualmente no terreno
(Pinto, 2008). Esta reforma estava centrada nos programas, sem assegurar a coerência do
currículo nos três ciclos, nem a desejável articulação com o ensino secundário e sem
salvaguardar modos consistentes de avaliação; excessiva extensão dos programas não
correspondendo a reais aprendizagens; demasiada carga letiva semanal dos alunos”
(DEB, 1998a, p. 16). Tinha-se tratado de uma reforma assente numa “perspetiva
tecnicista, compartimentada e voluntarista que a informou e que estava sustentada numa
visão determinista de mudança e numa lógica de separação entre conceção e execução”
(Alonso, Peralta & Alaiz, 2001, p. 13).
A investigação e os diversos documentos orientadores da política educativa
internacional (Applebee (1996); Bruner (1996); OCDE (1996); entre outros) salientam
que os processos geradores de mudança de práticas e que assegurem maior eficácia
educativa face às realidades socioculturais cada vez mais complexas da atualidade exigem
o desenvolvimento de estratégias e projetos de desenvolvimento curricular
contextualizados, geridos pelas escolas e pelos docentes envolvidos em cada contexto.
A diversidade de situações sociais e culturais dos alunos, a rápida evolução dos
conhecimentos e da informação, o acesso fácil à informação e, simultaneamente, o
insuficiente domínio de saberes instrumentais para a selecionar e interpretar exigem
decisões e práticas curriculares colaborativas dos docentes nas escolas, adaptadas à
realidade.
52
Os esforços atuais de inovação no campo curricular centram-se essencialmente
(DEB, 1997):
– na articulação das aprendizagens que se pretendem promover com as
finalidades curriculares visadas;
– na consideração dos diferentes públicos a que se destinam as aprendizagens
propostas;
– nos modos de tornar efetivas as aprendizagens para todos esses públicos
mediante um adequado processo de tomada de decisões, assumido pelas escolas
e docentes, relativamente ao que pretendem garantir aos seus alunos.
Novo protagonismo para os conceitos curriculares.
O Projeto de reflexão veio dar “um protagonismo reforçado à utilização corrente,
nas reflexões e práticas escolares, do conceito de currículo, desenvolvida essencialmente
na última década” (Correia2, 2000, p.65).
Com este projeto de reflexão, é reforçada a centralidade do currículo, como
organizador dos discursos e práticas educativas escolares.
Desde a Reforma Curricular, desencadeada com o Decreto-Lei n.º 286/89, de 29
de agosto, decorrente da aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86,
de 14 de outubro), tornou-se vulgar a utilização da nomenclatura curricular, na legislação
e nos documentos produzidos pelo Ministério da Educação, assim como na literatura
produzida pelas Ciências da Educação (Ribeiro, 1996).
2 Coordenador do Grupo de Trabalho constituído do DEB e membro do Conselho de Acompanhamento
53
Contudo, apesar de uma possível ambiguidade na sua utilização, os termos
curriculares assumem especial importância desde o Projeto de Reflexão Participada Sobre
os Currículos, a partir de 1996.
Associados à emergência desta centralidade do currículo na representação da
escola estão o processo de construção da autonomia pedagógica e administrativa das
escolas, o estabelecimento da escola como contexto de produção formal e de gestão do
currículo, do conselho de turma, do diretor de turma e, por último, do professor como
gestor curricular e, ainda, a perspetiva do currículo como corpo de aprendizagens
conducente ao desenvolvimento no aluno de um quadro de competências que o habilitam
à saída do ensino básico para se assumir como cidadão, ingressar na vida profissional,
prosseguir estudos e desenvolver-se pessoal e socialmente, numa perspetiva de
aprendizagem ao longo da vida (Correia, 2000).
Documentos orientadores.
Com o lançamento deste projeto, houve ampla discussão, através da realização de
debates, conferências e colóquios, promovidos por diversas entidades, a par de sessões de
trabalho com as escolas. Também foi pedida a colaboração de especialistas das áreas da
Teoria Curricular, que publicaram artigos e desenvolveram ações de formação.
A fim de apoiar a reflexão, foi produzido um conjunto de documentos. Um
primeiro que apresenta uma larga caracterização do sistema educativo português, a sua
cultura pedagógica e história recente, no seguimento de tendências internacionais. O
segundo documento apresenta as competências que se espera que o aluno tenha
54
desenvolvido ao longo da escolaridade básica. O terceiro propõe as aprendizagens
nucleares, por blocos no 1.º ciclo e por disciplinas nos 2.º e 3.º ciclos. Em 1997, foi
produzido um quarto documento com o objetivo de apoiar a reflexão ao nível escolar e o
desenvolvimento de iniciativas de gestão curricular.
55
Quadro 2 – Documentos Orientadores do Processo de Reflexão Participada
Doc. Título Autor(es) Objetivo(s)
1 “Gestão Curricular - Linhas
Orientadoras” M.ª do Céu Roldão
- reflexão sobre a situação
curricular atual
- síntese das orientações
teóricas e políticas
2 “Perfil de competências”
Ministério da Educação:
Departamento de Educação
Básica
- definição do perfil de
competências de saída do
Ensino Básico
3
“Proposta de trabalho para a
discussão das aprendizagens
nucleares”
Ministério da Educação:
Departamento de Educação
Básica
- reflexão acerca do que
deverá ser comum a alunos e
escolas quando estas forem
autónomas na gestão
curricular
4
“Guião de apoio para a
elaboração de propostas de
organização e gestão
curricular flexível nas
escolas”
Ministério da Educação:
Departamento de Educação
Básica
- apoio na organização e
planeamento de projetos e
procedimentos de gestão
curricular diferenciada
O primeiro documento, da autoria da Prof.ª Maria do Céu Roldão, é um texto de
reflexão sobre a situação curricular do momento, em Portugal e noutros sistemas
educativos, e de síntese das orientações teóricas e políticas predominantes na atualidade.
56
Visa proporcionar o debate sobre o quadro referencial a que se reporta a reflexão
curricular proposta aos professores e que, no essencial, situa o debate sobre duas vertentes
(Roldão, 1996):
- a flexibilização do currículo nas escolas e por decisão sua, face a cada contexto
(que pensam os professores desta autonomia a assumir, de se tornarem decisores
sobre o currículo da escola? Que vantagens? Que inconvenientes? Que
diferenças face à situação presente?)
- a necessidade de garantir sempre um núcleo de aprendizagens curriculares
comuns a todos os alunos (quais deverão ser as aprendizagens/aquisições comuns
a garantir a todos os alunos, qualquer que seja a gestão curricular e o projeto
autónomo que cada escola queira assumir? Porquê? Como articular
aprendizagens nucleares e flexibilização do currículo em cada contexto?)
Com este documento é apresentado como essencial (Correia, 2000, pp. 66-67):
1. aumentar o grau de participação efetiva dos professores e das escolas nas
decisões relativas à gestão dos currículos e sua implementação;
2. definir um perfil operacional de competências de saída do Ensino Básico, que
oriente com clareza os resultados que a escola deverá garantir a todos os alunos;
3. definir, em relação com o perfil de competências, um conjunto de
aprendizagens nucleares, por área e disciplina, comuns a todos os alunos que
concluam cada ciclo do Ensino Básico e indispensáveis à entrada no ciclo
seguinte;
4. remeter para os professores e escolas as decisões relativas à gestão dos
currículos de modo a que, integrando obrigatoriamente as
aprendizagens/aquisições nucleares, organizem autonomamente a globalidade
das aprendizagens propostas nos programas (ou outras que permitam alcançar
os mesmos objetivos) no sentido de promover a desejável adequação às diferentes
situações dos alunos e contextos das escolas.
57
O segundo documento – “Perfil de competências” – tem em vista a necessidade
de uma definição clara do perfil de competências de saída. Este perfil viria a constituir o
regulador último do que a escola básica deve garantir a todos os cidadãos. Este
documento-proposta baseou-se no perfil desejável à saída do ensino básico, nos objetivos
da Lei de Bases para o ensino básico e no teor do Decreto-Lei n.º 286/89, tentando
operacionalizá-los numa formulação mais simples e sintética. Não se considerando uma
proposta acabada, destina-se a colher sugestões, melhoramentos, críticas, modos de
formulação mais claros, etc.
O documento 2 é uma peça-chave para discussão dos documentos seguintes (3A,
3B e 3C) sobre quais deverão ser as aprendizagens/aquisições nucleares comuns para cada
ciclo, área e disciplina, qualquer que seja a gestão e o projeto curricular de cada escola,
que só fazem sentido no quadro de um perfil das competências que se pretendem garantir
no ensino básico. As competências de um perfil desta natureza são necessariamente
transversais a todas as áreas.
O documento 3, intitulado “Proposta de trabalho para discussão das
aprendizagens/aquisições nucleares”, propõe a reflexão acerca do que deverá ser comum
a todos os alunos e escolas, na gestão autónoma dos currículos, numa lógica de
diferenciação e contextualização curricular.
Pretende-se pensar e definir que aprendizagens comuns, dentro dos programas
atuais, é necessário garantir no final de cada ciclo, e em cada área ou disciplina, no sentido
de concretizar para todos, o perfil de competências que viria a ser enunciado.
58
As propostas relativas ao 1.º ciclo constituem o Documento 3A, as relativas ao 2.º
ciclo o Documento 3B, e as referentes ao 3.º ciclo o Documento 3C.
As propostas elaboradas basearam-se nos programas em vigor, na altura. Os
mesmos continuam a constituir o corpo curricular sobre o qual incidirão as decisões de
gestão curricular das escolas e professores. No sentido de clarificar esta linha do projeto,
juntaram-se aos documentos-proposta de aprendizagens/aquisições nucleares os objetivos
constantes dos textos programáticos em vigor.
O Documento 4 pretende ser de apoio ao trabalho de reflexão e formação que os
docentes queiram desenvolver nas escolas, no sentido de se organizarem para planear
projetos e procedimentos de gestão curricular diferenciada e mais adequada aos seus
contextos e problemas específicos.
Assim, esta proposta integra um texto global sobre as principais questões da
gestão curricular, hipóteses de organização curricular face a situações e cenários
hipotéticos e possibilidades de cenários diversos de intervenção dos órgãos de gestão da
escola para base de discussão ou criação de outros materiais de finalidade idêntica,
concebidos na escola. Também inclui alguns textos de apoio, extraídos de bibliografia
atual sobre a temática da gestão curricular, acompanhados de questões para apoio à
reflexão do leitor, à sua discussão nas escolas e a eventuais situações de auto e
heteroformação. Tais questões não são mais do que pistas, entre muitas outras possíveis,
para organizar o trabalho e o debate sobre os textos.
59
O conjunto destes quatro documentos-proposta é um suporte para a reflexão
participada. Foram concebidos essencialmente para as escolas e para os professores,
como intervenientes centrais do processo curricular.
Foram enviados também a diversos atores educativos, institucionais e da
sociedade civil, designadamente associações de pais, instituições de ensino superior,
centros de formação, associações profissionais e científicas, associações do mundo
empresarial, sindicatos, etc.
Foram ainda submetidos a discussão junto dos diversos departamentos
ministeriais, nomeadamente a Inspeção-geral de Educação, o Instituto de Inovação
Educacional, o Departamento do Ensino Secundário e, no próprio DEB, os responsáveis
pelo lançamento das Orientações Curriculares para a educação pré-escolar.
Para as escolas e professores, cada documento, à exceção do documento 4, foi
acompanhado de um guião de análise, para apoio à discussão, a fim de possibilitar o
registo e posterior estudo das reflexões produzidas.
Com o lançamento do projeto, assume-se que as reformas educativas de tipo top-
down, isto é, impostas pelo Ministério, não resultam. A mudança tem que situar-se ao
nível da escola. É introduzido o conceito alargado de currículo como categoria
organizadora dos discursos e das práticas educativas escolares, tanto dos professores
como do próprio ministério, passando pelas escolas. Foi realçada a necessidade de
articulação entre o currículo organizado ao nível de escolar e o currículo definido
centralmente (Gomes, 2001).
60
Em paralelo com esta centralidade da questão curricular, surge também a
necessidade de dar continuidade ao processo de desenvolvimento da autonomia
pedagógica e administrativa das escolas, tidos como contextos de produção formal e
gestão do currículo. A escola é a “arena de processos de tomada de decisão curricular”
(Correia, 2000 p. 67).
É necessária uma redefinição da relação da administração central com as escolas,
passando estas a gerir o currículo e não apenas a executar os programas.
Em 1998, o Ministério sintetizou, no «Documento Orientador das Políticas Para
o Ensino Básico» (DEB, 1998b), os aspetos que a organização curricular deveria
considerar de modo a garantir uma efetiva congruência no percurso da escolaridade
básica, num processo de clarificação das aprendizagens essenciais para cada ciclo.
61
Quadro 3 – Vertentes de desenvolvimento do Projeto
Reflexão dos docentes nas
escolas
Divulgação e debate
Investigação Formação Intervenção de outros atores
1996/
1997
Análise reflexiva dos
documentos-proposta
Registo de propostas
alternativas ou
complementares
Propostas de escolas
para 97/98
- Projetos de gestão
flexível
contextualizada
Sessões de
divulgação de
conclusões do
debate nas
escolas
Organização de
Seminários,
Fóruns,
Jornadas,
Comunicações,
Seminários,
etc.
Artigos e
dossiers
temáticos de
revistas
produzidos
sobre o tema da
reflexão
curricular
Solicitação de
estudos a
especialistas e a
associações
científicas e
profissionais
Desenvolvimento
de estudos a partir
dos dados
recolhidos
Solicitação de
envolvimento de
instituições de
formação e centros
de associações de
escolas
Reuniões/Sessões
de informação com
as instituições de
formação e centros,
da área de cada
DRE, no
lançamento do
projeto
Pareceres
solicitados a
Associações de
Pais, Sindicatos,
Federações, CAP,
CIP, etc.
Pareceres e
iniciativas de:
- IIE
- Ensino
Particular
- Universidades e
ESEs
- Centros de
Formação
DRES e CAES –
apoio direto ao
processo
1997/
1998
Dinamização dos
órgãos das escolas
para concretizar
projetos curriculares
contemplando o caso
específico de cada
escola
Iniciativas de
fóruns e
colóquios já
programados
Acompanhamento e
estudo de projetos
de gestão curricular
desenvolvidos em
escolas, por sua
iniciativa
A programar pelas
instituições
interessadas
Prossecução e
aprofundamento
do debate e
reflexão
realizados –
propostas
(fonte: DEB, 1997, p. 18)
62
3.2. Projetos-piloto de Gestão Flexível do Currículo.
A Gestão Flexível do Currículo foi lançada através do Despacho SEEI 4848/97
(2ª série), de 30 de julho, posteriormente atualizado pelo Despacho SEEI 9590/99 (2ª
série), de 14 de maio, desafiando as escolas a poderem experimentar os seus próprios
caminhos na gestão curricular, inscrita no regime de autonomia das escolas (Decreto-lei
n.º 115-A/98 e Despacho n.º 9590/99, de 29 de abril).
O Despacho SEEI 4848/97 (2ª série), de 30 de julho, revela que, no seguimento
do Projeto de Reflexão Participada Sobre os Currículos, se reconhece uma capacidade
coletiva de identificação sistemática dos problemas com que as escolas se defrontam, nos
domínios da gestão do currículo, e o desejo de construção de mudanças efetivas.
Para apoiar as escolas na construção da sua autonomia, “é necessário criar
condições para a realização de uma gestão flexível do currículo nacional, em função dos
contextos em que se encontram inseridas” (Despacho n.º 4848/97 – Preâmbulo).
Para tal, viriam a ser celebrados protocolos entre o Departamento da Educação
Básica e os estabelecimentos de ensino, após parecer das respetivas Direções Regionais
de Educação, para o desenvolvimento de projetos de gestão flexível dos currículos. Os
projetos iniciam-se no ano letivo 1997/1998 e devem, por regra, prosseguir no ano letivo
seguinte. A iniciativa parte dos estabelecimentos de ensino, que enviam os projetos à
respetiva Direção Regional que, após apreciação, os remetem ao Departamento de
Educação Básica. Neste projeto, cada estabelecimento faz uma listagem dos principais
problemas detetados, designadamente ao nível das aprendizagens, e identifica as
potencialidades do projeto para a construção de soluções de superação (Despacho n.º
4848/97).
63
O desenvolvimento destes projetos é objeto de uma permanente avaliação, nos
moldes definidos entre as partes, de forma a salvaguardar os direitos dos alunos na
indispensável qualidade educativa.
Estiveram envolvidos, nesta primeira fase, 43 estabelecimentos de ensino: 10
escolas no ano letivo 1997/98 e 33 escolas em 1998/99 (DEB, 2001, p. 4).
Findo o âmbito do Despacho n.º 4848/97, é publicado o Despacho n.º 9590/99, de
29 de abril, que estabelece as linhas orientadoras para o desenvolvimento de projetos de
gestão flexível do currículo a partir do ano letivo 1999/2000.
Logo no preâmbulo, é enunciado o objetivo deste projeto:
visa promover uma mudança gradual nas práticas de gestão curricular nas
escolas do ensino básico, com vista a melhorar a eficácia da resposta educativa
aos problemas surgidos da diversidade dos contextos escolares, fazer face à falta
de domínio de competências elementares por parte de muitos alunos à saída da
escolaridade obrigatória e, sobretudo, assegurar que todos os alunos aprendam
mais e de modo mais significativo (Despacho n.º 9590/99).
Assim, à semelhança do prescrito no despacho anterior, foi determinado que os
estabelecimentos que pretendam desenvolver projetos de gestão flexível do currículo, a
partir do ano letivo 1999-2000, deverão tomar a iniciativa, reformulando o projeto
anterior (se já tinham participado) ou concebendo um projeto, de acordo com as
orientações constantes do anexo ao despacho.
No anexo, pode ler-se que “por gestão flexível do currículo entende-se a
possibilidade de cada escola organizar e gerir autonomamente o processo de
ensino/aprendizagem, tomando como referência os saberes e as competências nucleares
a desenvolver pelos alunos no final de cada ciclo e no final da escolaridade básica,
64
adequando-se às necessidades diferenciadas de cada contexto escolar e podendo
contemplar a introdução no currículo de componentes locais e regionais” (Despacho n.º
9590/99, anexo, ponto 1).
No mesmo anexo, é feita uma atualização às intenções deste projeto, indicando
que se pretende promover:
a) uma mudança gradual na organização, orientação e gestão das escolas do
ensino básico, visando a construção de uma escola mais humana, criativa e
inteligente, com vista ao desenvolvimento integral dos alunos;
b) a criação de condições para que os alunos realizem mais e melhores
aprendizagens, numa perspetiva de desenvolvimento de competências à saída do
ensino básico;
c) o desenvolvimento profissional dos docentes e da sua capacidade de tomada
de decisões em áreas chave do currículo, adotando sempre que possível estruturas
de trabalho colegial entre professores;
d) uma maior implicação da comunidade educativa no desenvolvimento conjunto
de projetos educativos e culturais que visem uma maior qualidade e permanência
das aprendizagens (Despacho n.º 9590/99, anexo, ponto 2).
Nos 2.º e 3.º ciclos, o desenho curricular inclui as áreas curriculares não
disciplinares de “Estudo Acompanhado” (2h/semana), “Projeto Interdisciplinar”
(2h/semana) e “Educação Para a Cidadania” (1h/semana) (Despacho n.º 9590/99, anexo,
ponto 4).
No ano letivo 1999/2000 aderiram 93 escolas e 184 no ano letivo 2000/2001
(DEB, 2001, p. 4).
65
Estas escolas foram construindo processos de gestão curricular no quadro de uma
flexibilidade que procura encontrar respostas adequadas aos alunos e contextos concretos
com que os professores trabalham diariamente.
66
3.3. Generalização da Gestão Flexível do Currículo.
No culminar de um processo iniciado em 1996-1997, com o Projeto de Reflexão
Participada Sobre os Currículos do Ensino Básico, foi publicado o Decreto-Lei n.º 6/2001,
de 18 de janeiro. Este Decreto-Lei
estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão curricular do
ensino básico, bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de
desenvolvimento do currículo nacional, entendido como o conjunto das
aprendizagens e competências, integrando os conhecimentos, as capacidades, as
atitudes e os valores, a desenvolver pelos alunos ao longo do ensino básico, de
acordo com objetivos consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo
(Decreto-Lei n.º 6/2001, preâmbulo).
De todo o processo foi emergindo a necessidade de ultrapassar
uma visão de currículo como um conjunto de normas a cumprir de modo
supostamente uniforme em todas as salas de aula e de ser apoiado, no contexto
da crescente autonomia das escolas, o desenvolvimento de novas práticas de
gestão curricular (Decreto-lei n.º 6/2001, preâmbulo).
O diploma define os princípios orientadores a que deve obedecer a organização
do currículo e realça a avaliação como elemento regulador do ensino e da aprendizagem.
São ainda criadas três áreas curriculares não disciplinares – “Estudo Acompanhado”,
“Área de Projeto” e “Formação Cívica”.
No artigo 2.º deste Decreto-Lei surge a definição de Currículo Nacional como “o
conjunto de aprendizagens e competências a desenvolver pelos alunos ao longo do ensino
básico” (art.º 2.º ponto 1).
67
As estratégias de desenvolvimento do Currículo Nacional visando adequá-lo ao
contexto de cada escola, são objeto de um projeto curricular de escola, concebido,
aprovado e avaliado pelos respetivos órgãos de gestão e administração (art.º 2.º ponto 3).
As estratégias de concretização e desenvolvimento do Currículo Nacional e do
Projeto Curricular de Escola, visando adequá-los ao contexto de cada turma, são objeto
de um projeto curricular de turma, concebido, aprovado e avaliado pelo professor titular
de turma, em articulação com o conselho de docentes, ou pelo conselho de turma,
consoante os ciclos (art.º 2.º ponto 4).
Como princípios orientadores da organização e gestão do currículo, são
apresentados os seguintes (art.º 3.º):
a) coerência e sequencialidade entre os três ciclos do ensino básico;
b) integração do currículo e da avaliação, assegurando que esta constitua o
elemento regulador do ensino e da aprendizagem;
c) existência de áreas curriculares disciplinares e não disciplinares;
d) integração, com caráter transversal, da educação para a cidadania;
e) valorização das aprendizagem experimentais;
f) racionalização da carga horária letiva semanal dos alunos;
g) reconhecimento da autonomia da escola no sentido da definição de um
projeto de desenvolvimento do currículo adequado ao seu contexto e
integrado no seu projeto educativo;
h) valorização da diversidade de metodologias e estratégias de ensino e de
atividades de aprendizagem;
i) diversidade de ofertas educativas, tomando em consideração as
necessidades dos alunos, por forma a assegurar que todos possam
68
desenvolver as competências essenciais e estruturantes definidas para
cada um dos ciclos e concluir a escolaridade obrigatória.
Para apoiar o processo de implementação da Gestão Flexível do Currículo
preconizada pelo Decreto-Lei n.º 6/2001, o Departamento de Educação Básica e o
Instituto de Inovação Educacional, em colaboração, elaboraram materiais de apoio em
vários domínios, nomeadamente no da Educação para a Cidadania, incluindo indicações
de recursos anotados sobre diversos temas, os quais foram apresentados a partir de junho
de 2001.
É importante sublinhar que esta reorganização não constitui a “generalização” de
um projeto. Sem dúvida, alguns pontos inspiraram-se em soluções que diversas escolas,
assumindo uma maior responsabilidade e autonomia, vêm mostrando ser viáveis. No
entanto, não se deve confundir o quadro legal que se estabelece para todo o país com os
processos de gestão flexível do currículo a desenvolver por cada escola no âmbito do seu
projeto educativo (DEB, 2001, p. 4).
A gestão flexível do currículo não é algo que se decrete para vigorar, mas antes
um processo que se constrói de forma gradual e apoiada. Passa por “entender o currículo
prescrito ao nível nacional como uma proposta que tem de ganhar sentido nos processos
de ação e de interação que ocorrem nas escolas” (Leite, 2001, p. 4).
Novas Áreas Curriculares.
No seguimento das experiências de gestão flexível do currículo, com o Decreto-
Lei n.º 6/2001, são criadas novas áreas curriculares não disciplinares,
69
como tentativa de responder a uma das deficiências crónicas do nosso sistema
educativo: planos de estudos baseados quase exclusivamente em sequências de
aulas, sobretudo a partir do momento (aos 10 anos de idade) em que os alunos
passam a ter um grande número de professores e disciplinas separadas (Abrantes,
n.d., pp. 9-10).
As funções da escola básica não podem traduzir-se na mera adição de disciplinas,
devendo centrar-se no objetivo de assegurar a formação integral dos alunos (…)
a escola precisa de se assumir como um espaço privilegiado de educação para a
cidadania e de integrar e articular, na sua oferta curricular, experiências de
aprendizagem diversificadas, nomeadamente mais espaço de efetivo
envolvimento dos alunos e atividades de apoio ao estudo (Abrantes, 2001, p. 36).
A designação “áreas curriculares não disciplinares” procura realçar que, apesar de
fazerem parte integrante no currículo obrigatório, não são “disciplinas” no sentido em que
não partem de um programa previamente definido ou conjunto de temas, conhecimentos
e métodos específicos. Além disso, têm uma natureza transversal e integradora:
atravessam todas as áreas curriculares e integram os saberes diversos.
No próprio Decreto-Lei n.º 6/2001 pode ser lido que estas áreas “devem ser
desenvolvidas em articulação entre si e com as áreas disciplinares (…) e constar
explicitamente do projeto curricular de turma” (Decreto-Lei n.º 6/2001, anexo, 2.º ciclo,
alínea c).
Assim, são integradas na matriz curricular três áreas curriculares, com os
seguintes objetivos (Decreto-Lei n.º 6/2001, art.º 5.º):
70
- A Área de Projeto visa envolver os alunos na “conceção, realização e avaliação
de projetos, através da articulação de saberes de diversas áreas curriculares, em
torno de problemas ou temas de pesquisa ou de intervenção, de acordo com
necessidade e de interesses dos alunos”;
- O Estudo Acompanhado visa a “aquisição de competências que permitam a
apropriação pelos alunos de métodos de estudo e de trabalho e proporcionem o
desenvolvimento de atitudes e de capacidade que favoreçam uma cada vez maior
autonomia na realização das aprendizagens”;
- A Formação Cívica visa o “desenvolvimento da consciência cívica dos alunos,
como elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis,
críticos, ativos e intervenientes, com recurso, nomeadamente, ao intercâmbio de
experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e coletiva, na
vida da turma, da escola e da comunidade”.
Críticas e fragilidades da revisão curricular.
O Relatório “A unidade da Educação Básica em análise” (DEB, 1998a), que faz
uma apreciação dos pontos críticos resultantes do processo de Revisão Participada do
Currículo; o livro Gestão curricular – Fundamentos e práticas (Roldão, 1999b), que se
preocupa com os aspetos organizacionais e com o desenvolvimento profissional dos
professores; e o Documento orientador das políticas para o ensino básico – educação,
integração, cidadania (ME, 1998), continuaram a evidenciar a necessidade de se proceder
a mudanças efetivas. De facto, “há no texto do quadro legal respostas que podem ser lidas
como uma tração, ou seja, como uma forma de trazer para uma coexistência forçada,
peças afastadas e divergentes, sem disfarçar as costuras dessa junção” (Aido, 2001, p.
39).
71
No que se refere aos professores, o referido Documento Orientador das Políticas
para o Ensino Básico – Educação, Integração, Cidadania (DEB, 1998b), apresenta as
seguintes ideias no capítulo 6: “As escolas de qualidade exigem liderança, competência
pedagógica e condições para o pleno e efetivo exercício das responsabilidades
profissionais com a participação de outros parceiros”. E, mais à frente, no ponto “6.1. Os
professores, enquanto profissionais qualificados e força motriz da inovação pedagógica e
da mudança social, são solicitados a desempenhar tarefas que reclamam a renovação
periódica das respetivas competências sem esquecer a necessária formação cultural”.
Alonso, Peralta e Alaiz (2001), meses depois da implementação do desenho
curricular proposto pelo Decreto-Lei nº 6/2001, questionam os seguintes aspetos:
a) introduz-se a Formação Pessoal e Social, abrangendo apenas áreas curriculares
não disciplinares. Qual a sua relação com a Formação Cívica?
b) o artigo 11.º possibilita a diversificação de ofertas curriculares, dando às escolas
uma margem mais alargada de flexibilização curricular, deixando em aberto o futuro dos
currículos alternativos ou propostas profissionalizantes, ou seja, qual é o limite para a
flexibilização?
c) as T.I.C. são secundarizadas (surgem em nota de rodapé) apesar de
consideradas como transdisciplinares;
d) apesar do tempo letivo de 90 minutos ser coerente com um currículo organizado
por competências, tem havido muitas resistências;
e) a organização das disciplinas em áreas disciplinares parece, por vezes, muito
artificial.
72
No que concerne à integração curricular, questionam qual a diferença entre áreas
disciplinares e áreas não disciplinares, considerando que poderiam ser apelidadas de
“áreas integradoras”.
Com esta reorganização curricular, dizem correr-se o risco de reduzir a Gestão
Flexível do Currículo às denominadas novas áreas, sem mudar o essencial, que é tornar
as aprendizagens mais significativas e funcionais, mais integradas e possibilitadoras do
desenvolvimento global do aluno enquanto pessoa e cidadão, em todos os momentos da
vida da escola (idem, p. 56).
Quanto à questão das competências, os mesmos autores (Alonso et al., 2001) que
consideram ser a espinha dorsal do currículo perspetivado por esta reorganização
curricular, enquadradas num paradigma holístico, integrador e construtivista, não são
muito claras no documento Currículo nacional: Competências Essenciais (DEB, 2001).
Mais grave, consideram ser a rutura com a pedagogia por objetivos, tão rotineira nas
escolas e pedida até há pouco tempo pelo próprio Ministério (definição de objetivos
mínimos). Salientam ainda a ausência total de referência aos conteúdos como componente
curricular relevante.
No que se refere ao projeto curricular, há a salientar as potencialidades do Projeto
Curricular de Escola e de Turma como eixos de mudança, se não se burocratizarem (numa
lógica de “caixas dentro de caixas”).
A especificidade do currículo do 1.º ciclo do Ensino Básico, que faz com que em
muitos aspetos não se reveja neste modelo, é outro dos aspetos referidos nos documentos
enunciados.
73
Salientam-se, também, as disfuncionalidades entre o decreto sobre a organização
e gestão das escolas (Decreto-Lei n.º 115-A/98) e a gestão flexível do currículo
regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 6/2001 que colocam obstáculos organizacionais à
gestão flexível dos currículos: a distribuição do serviço docente pelos professores, a
sobrelotação de algumas escolas, o número elevado de alunos por turma, a falta de espaços
específicos para realizar determinadas atividades requeridas pelo projeto, a falta de espaços
para os professores reunirem, a elaboração dos horários, a excessiva mobilidade docente, a
organização do horário para as reuniões dos conselhos de turma, as lideranças do projeto, a
comunicação com os pais, etc. (Alonso et al., 2001).
Aliada a isto, está a necessidade da criação de uma cultura de avaliação nas escolas
que possa ser um indicador de qualidade da inovação num sistema social de prestação de
contas e a necessidade de melhorar os processos de inovação pelo envolvimento dos
atores e de promover o desenvolvimento profissional através dos processos formativos
inerentes às atividades avaliativas (Pinto, 2008). Aqui, a formação inicial e a formação
contínua assumem relevância, possibilitando a passagem de uma conceção tecnicista e
academicista do desenvolvimento profissional, em que o professor individual se coloca como
recetor de formação, para uma conceção cultural e construtivista em que, numa perspetiva
colaborativa, os professores desenham o seu processo de desenvolvimento como resposta aos
problemas e desafios que a mudança das práticas lhes vai colocando (Alonso et al., 2001).
Na síntese final que fazem do projeto, consideram que a filosofia que lhe subjaz e
as opções fundamentais são positivas por vários motivos:
74
a) o facto de o currículo finalmente se ter constituído objeto de questionamento,
de discussão e de reflexão crítica, única maneira de ir ao âmago da substância
da educação escolar para a poder melhorar;
b) o ter colocado os alunos (cada aluno na sua diversidade) e a aprendizagem no
coração do currículo e da ação pedagógica;
c) o ter atribuído aos professores um papel central na mediação do currículo
conferindo-lhes uma autonomia partilhada na sua gestão flexível e integrada;
d) o ter-se assumido a mudança como um processo lento, complexo, progressivo
e participado, sustentado num modelo ecológico e político de inovação, que
requer um acompanhamento e uma avaliação continuadas;
e) a opção por uma visão sistémica e articulada da inovação que contempla em
interação as dimensões curriculares com as organizativas e as formativas; e
f) o ter ousado passar da proposta de soluções monolíticas e maximalistas para
a aceitação de cenários alternativos e soluções diversas e apropriadas às
características dos diferentes contextos (idem, p. 69).
As reações dos professores à implementação da reorganização curricular têm sido
variadas, há os que veem neste modelo de organização do currículo o reconhecimento e
a legitimidade das práticas que vêm desenvolvendo, há outros que consideram estar na
presença de um modelo curricular cujos processos e instrumentos, para a sua
concretização, são impossíveis de operacionalizar e há, mesmo, os que consideram que
esta reorganização curricular não traz nada de novo às escolas e aos professores (Leite &
Fernandes, 2002, pp. 41-42).
De facto, parece-nos que a dificuldade da experiência de gestão flexível e a
dificuldade da generalização da reorganização curricular legislada pelo Decreto-Lei n.º
6/2001 prende-se com o grau de resolução dos conflitos, dilemas e incertezas de projetos
75
pensados para um mundo pós-moderno, levados a cabo numa escola ainda demasiado
moderna em particular nos aspetos organizacionais (Maia, 2001).
Será necessário aumentar a consciência da necessidade de uma emancipação
profissional ao nível da formação inicial e, posteriormente, ao nível da sua formação
contínua, com saberes sólidos quer didáticos, quer disciplinares, quer criativos, e de uma
ação educativa, de autorregulação, de comunicação, de negociação e da assunção de uma
postura crítica face aos contextos (Maia, 2003, p. 43).
3.4. Programa Educação 2015.
Portugal optou por participar ativamente no programa da União Europeia Quadro
Estratégico de Cooperação Europeia em matéria de Educação e Formação (EF2020). Este
programa define os objetivos comuns para os sistemas de educação e formação europeus
no horizonte de 2020. Neste quadro, o Ministério da Educação publicou, em 2010, o
Programa Educação 2015, que tem como principais objetivos: elevar as competências
básicas dos alunos portugueses, assegurar o cumprimento da escolaridade obrigatória de
12 anos e reforçar o papel das Escolas (ME, 2010).
Neste sentido,
o Programa Educação 2015, a lançar a partir do ano letivo 2010/2011, pretende
aprofundar o envolvimento das escolas e das comunidades educativas na
concretização dos compromissos nacionais e internacionais em matéria de
política educativa (ME, 2010, p. 2).
No documento de apresentação deste programa, são constatadas as “duas (…)
áreas nucleares da política educativa [que] merecem intervenção estratégica: os níveis de
76
competências básicas dos jovens e a saída precoce do sistema de ensino e formação” (ME,
2010, p. 5). No que diz respeito aos níveis globais de competências básicas, é reconhecido
que não têm ainda evidenciado uma melhoria consistente de resultados, “apesar dos
esforços realizados por via de reformas curriculares associadas à Língua Portuguesa,
Matemática e Ciências, do reforço da formação contínua de professores nestas áreas, do
apoio às escolas em projetos no âmbito da matemática e do Plano Nacional de Leitura”
(idem).
Portugal comprometeu-se a assegurar, até 2020, “a melhoria nos níveis de
competências básicas, mensuráveis pelos resultados obtidos pelos jovens de 15 anos nas
provas de literacia, matemática e ciências do PISA” (ME, 2010, p. 6); e dos Domínios
“Competências básicas em leitura, matemática e ciências” da EF2020 e “Competências
básicas dos alunos” das Metas Educativas 2021 (idem).
O Ministério da Educação assume adotar, a partir de 2010, uma metodologia a
desenvolver através da adoção de indicadores e metas nacionais para as duas áreas
nucleares, da melhoria de competências básicas em Língua Portuguesa e Matemática, da
redução da desistência escolar, do envolvimento dos agrupamentos e das famílias, das
organizações da comunidade e das autarquias e da monitorização e avaliação do
programa, nos vários níveis de execução: nacional, concelhio, de cada agrupamento e de
cada escola (ME, 2010).
3.5. Metas de Aprendizagem.
No âmbito da Organização de Estados Iberoamericanos para a Educação, Ciência
e Cultura, da qual Portugal faz parte, o Ministério da Educação publicou, em 2010, as
77
Metas de Aprendizagem para a Educação Pré-Escolar e para cada ciclo e área curricular
do Ensino Básico e do Ensino Secundário, explicitando “com clareza os resultados da
aprendizagem que os alunos devem demonstrar no final de um percurso curricular”
(Direção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular [DGIDC] (ME), 2010). No
sítio do “projeto Metas de Aprendizagem”, pode ler-se que este projeto se insere
na Estratégia Global de Desenvolvimento do Currículo Nacional que visa
assegurar uma educação de qualidade e melhores resultados escolares nos
diferentes níveis educativos. Concretiza-se no estabelecimento de parâmetros
que definem de forma precisa e escalonada as metas de aprendizagem para cada
ciclo, o seu desenvolvimento e progressão por ano de escolaridade, para cada
área de conteúdo, disciplina e área disciplinar. Corresponde a resultados da
investigação nacional e internacional sobre padrões de eficácia no
desenvolvimento curricular, que recomendam este tipo de abordagem (DGIDC
(ME), 2010).
As Metas de Aprendizagem devem ser entendidas como instrumentos de apoio à
gestão do currículo e não como documentos normativos de natureza programática.
No 1.º Ciclo do Ensino Básico, pretende-se que as “Metas de Aprendizagem”
sejam um contributo para a gestão do currículo, destacando a necessidade de a escola se
adequar à nova realidade de a maioria das crianças que integram o 1.º Ciclo já terem
frequentado a Educação Pré-Escolar. Realça-se que “as características do
desenvolvimento e da forma de apreensão do real, nesta faixa etária, justificam uma
organização do ensino e da aprendizagem que mobilize de forma integrada esses
conhecimentos” (DGIDC (ME), 2010). Neste sentido, no 1.º Ciclo deve continuar a
rentabilizar-se a monodocência a favor de uma maior articulação entre as áreas
curriculares.
78
A organização e gestão curricular integrada que este Ciclo de escolaridade
requer não implica, pois, a diluição dos conhecimentos disciplinares específicos,
mas a sua mobilização de forma inter-relacionada face a uma dada situação ou
problema, através da conceção estratégica de sequências de aprendizagem
dotadas de intencionalidade pedagógica” (DGIDC (ME), 2010).
Foram definidas metas para as áreas curriculares de Estudo do Meio, Expressão
Físico-Motora, Expressões Artísticas, Língua Portuguesa, Matemática, Tecnologias de
Informação e Comunicação (DGIDC (ME), 2010).
Em 2011, no seguimento de mudança de governo, defendendo “a promoção do
sucesso escolar, a redução da dispersão curricular nos 2.º e 3.º ciclos, o reforço da
aprendizagem em disciplinas estruturantes, como a Língua Portuguesa e a Matemática”
(Decreto-lei n.º 94/2011, de 3 de agosto), e sem envolver os atores do sistema educativo,
é publicado o diploma que vem alterar o desenho curricular do Ensino Básico. É extinta
a área curricular não disciplinar de Área de Projeto e os 45 minutos de opção de escola
no 2.º ciclo do Ensino Básico. São atribuídos mais tempos semanais a Matemática e
reduzido um tempo ao conjunto de disciplinas de Inglês e História e Geografia de Portugal
(opção da responsabilidade de cada escola). No terceiro ciclo é, ainda, conferida à escola
autonomia para atribuir 45 minutos a Língua Portuguesa ou Matemática ou a ser utilizada
para atividades de acompanhamento e estudo (anexo III, do Decreto-Lei n.º 94/2011, de
3 de agosto).
A 23 de Dezembro de 2011, o Ministro da Educação e Ciência faz publicar o
Despacho n.º 17169/2011, onde é assumido que o «Currículo Nacional do Ensino Básico
79
- Competências Essenciais» “continha uma série de insuficiências que na altura foram
debatidas, mas não ultrapassadas, e que, ao longo dos anos, se vieram a revelar
questionáveis ou mesmo prejudiciais na orientação do ensino” (ME, 2011).
Afirmando que o Currículo Nacional era pouco claro, com ideias ambíguas,
excessivamente extenso, misturando-se orientações gerais com determinações dispersas,
considera-se um documento “curricular pouco útil” (ME, 2011).
São criticadas as recomendações pedagógicas:
Em primeiro lugar, erigindo a categoria de «competências» como orientadora de
todo o ensino, menorizou o papel do conhecimento e da transmissão de
conhecimentos, que é essencial a todo o ensino. Em segundo lugar, desprezou a
importância da aquisição de informação, do desenvolvimento de automatismos e
da memorização. Em terceiro lugar, substituiu objetivos claros, precisos e
mensuráveis por objetivos aparentemente generosos, mas vagos e difíceis, quando
não impossíveis de aferir. Dessa forma, dificultou a avaliação formativa e
sumativa da aprendizagem. (ME, 2011).
Este Despacho ministerial combate fortemente a organização curricular em torno
de competências, defendendo que deve organizar-se em objetivos de aprendizagem,
decompostos em conhecimentos e capacidades. “Os conhecimentos e a sua aquisição têm
valor em si, independentemente de serem mobilizados para a aplicação imediata” (idem).
Neste sentido, é assumido que “o currículo nacional deve definir os
conhecimentos e as capacidades essenciais que todos os alunos devem adquirir e permitir
aos professores decidir como ensinar de forma mais eficaz, gerindo o currículo e
organizando da melhor forma a sua atividade letiva (…). Deve incidir sobre conteúdos
80
temáticos, destacando o conhecimento essencial e a compreensão da realidade que
permita aos alunos tomarem o seu lugar como membros instruídos da sociedade” (idem).
Assim e uma vez que se considera que o Currículo Nacional em vigor “não reúne
condições de ser orientador da política educativa preconizada para o Ensino Básico”
(idem), dá-se por finda a sua aplicação.
A partir do ano letivo 2012/2013, no seguimento do Decreto-Lei n.º 139/2012, de
5 de julho, passa a vigorar uma nova matriz curricular, deixando de integrar, nos 2.º e 3.º
ciclos, as área curriculares não disciplinares (Formação Cívica, Estudo Acompanhado e
Área de Projeto), passando a duração das aulas a ser definida por cada escola, desde que
respeitando os valores mínimos e máximos regulamentados no referido Decreto-Lei.
Gradualmente, vão sendo publicadas no portal da Direção-Geral da Educação as
Metas Curriculares, que “estabelecem aquilo que pode ser considerado como a
aprendizagem essencial a realizar pelos alunos, em cada um dos anos de escolaridade ou
ciclos do ensino básico. Constituindo um referencial para professores e encarregados de
educação, as metas ajudam a encontrar os meios necessários para que os alunos
desenvolvam as capacidades e adquiram os conhecimentos indispensáveis ao
prosseguimento dos seus estudos e às necessidades da sociedade atual” (DGIDC (ME),
2012).
As metas constituem as referências fundamentais para o desenvolvimento do
ensino: “nelas se clarifica o que nos Programas se deve eleger como prioridade, definindo
os conhecimentos a adquirir e as capacidades a desenvolver pelos alunos nos diferentes
81
anos de escolaridade”, de acordo com o Despacho n.º 5306/2012, de 18 de abril (DGIDC
(ME), 2012).
Pode ler-se, ainda, no portal das Metas Curriculares que
a elaboração das metas fundamentou-se em bases e estudos científicos e teve em
conta as que têm sido estabelecidas em países com bons níveis de desempenho.
Neste contexto, as metas que agora se apresentam referem-se àquilo que pode ser
considerado como a aprendizagem essencial a realizar pelos alunos em cada
disciplina, por ano de escolaridade, ou, quando isso se justifique, por ciclo,
realçando o que nos atuais Programas deve ser objeto de ensino, representando
um documento normativo de progressiva utilização obrigatória, por parte dos
professores (DGIDC (ME), 2012).
Como princípios orientadores estabeleceu-se que, sendo específicas de cada área
disciplinar, as metas deveriam identificar os desempenhos que traduzem os
conhecimentos a adquirir e as capacidades que se querem ver desenvolvidas, respeitando
a ordem de progressão da sua aquisição. Houve a preocupação de as formular de forma
clara e precisa de modo a que os professores saibam exatamente o que se pretende que o
aluno aprenda.
As Metas Curriculares constituirão apenas um referencial, durante o ano letivo
2012-2013 “após o que assumirá um caráter obrigatório, articulando-se com as avaliações
a realizar” (DGIDC (ME), 2012). Por outro lado, as metas serão acompanhadas de
82
cadernos de apoio, contendo suportes teóricos aos objetivos e descritores definidos e
exemplos de concretização de alguns descritores e de estratégias e métodos de ensino.
Síntese
Apesar de o conceito de currículo ter interpretações múltiplas, de acordo com o
enfoque e com a conceção de escola implícita, há uma ideia comum que se prende com o
percurso de aprendizagem e que pode sintetizar-se no entendimento do currículo como o
conjunto de aprendizagens que, por se considerarem socialmente necessárias, num dado
tempo e contexto, cabe à escola garantir e organizar (Roldão, 1999a; Zabalza, 1997).
Com a revisão curricular do Ensino Básico de 2001 caiu por terra a visão de
currículo como uma listagem de disciplinas ou plano de estudos e, relativamente a cada
disciplina, como lista de conteúdos e métodos a desenvolver dentro das salas de aula.
A partir do momento histórico em que se reconhece a necessidade social de
assegurar a transmissão de um certo número de conhecimentos e competências, de uma
forma sistemática através da escola, o currículo constitui a essência da escola (Roldão,
1999b).
À medida que se vai construindo uma lógica de projeto curricular contextualizado,
a autonomia das escolas e o aumento da responsabilidade destas enquanto lugares de
gestão do currículo, na sua adequação à realidade, também os professores assumem nos
níveis de gestão curricular um novo protagonismo (Formosinho, 1991; Pacheco, 2001).
Deixando de ser meros executores, passam a ser gestores do currículo (Roldão, 2001).
A gestão curricular é inerente à prática docente e já não se esgota na programação
e calendarização dos conteúdos. As decisões de gestão ao nível central prendem-se mais
83
com a definição de aspetos globais e os professores passam a ser gestores locais do
currículo, numa determinada comunidade e relativamente ao seu conjunto concreto de
alunos.
Esta conceção de currículo e de gestão curricular está ligada a três preocupações
centrais: diferenciação, adequação e flexibilização (Pinto, 2008).
A implementação da Gestão Flexível do Currículo, que terminou com um
Currículo Nacional rígido e pouco flexível, iniciou-se com o Projeto de Reflexão
Participada sobre os Currículos do Ensino Básico, em 1996 que viria a culminar na
publicação do Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de janeiro.
A partir de 2001, com a generalização da gestão flexível do currículo, dentro das
balizas do Currículo Nacional, cada escola procede às opções curriculares de adequação
à sua comunidade e aos seus recursos, através do Projeto Curricular de Escola (ou
Agrupamento de Escolas) e, em cada turma, o professor ou o Conselho de Turma são
gestores do currículo, na concretização deste através do Projeto Curricular de Turma.
No início do ano letivo 2010/2011, o Ministério da Educação publica as Metas de
Aprendizagem, para os diversos ciclos de escolaridade e para as diversas áreas
curriculares. Este documento pretende ser orientador, para o desenvolvimento curricular
ao nível das escolas e das turmas.
No mesmo ano letivo, no âmbito de compromissos assumidos no seio de
Programas da União Europeia e da Organização de Estados Iberoamericanos, é lançado
o Programa Educação 2015, com a definição das metas a atingir em 2015, no âmbito do
desenvolvimento de competências da aprendizagem, mas também no domínio das taxas
de retenção e nas taxas de abandono escolar.
84
No início do ano letivo 2011/2012 o Governo publica um novo desenho curricular
para o Ensino Básico, fazendo alguns ajustes ao modelo anterior e antecipando um
cenário de avaliação externa a realizar em todas as áreas curriculares, no final dos 2.º e
3.º ciclos (ponto 7, do art.º 13.º do Decreto-lei n.º 94/2011, de 3 de agosto). Em novembro
de 2011, publica o Despacho Normativo n.º 14/2011, de 18 de novembro, definindo a
implementação de exames nacionais nos 6.º e 9.º anos, a partir de 2011/2012.
No final de 2011, por Despacho do Ministro da Educação e Ciência, o “Currículo
Nacional – Competências Essenciais” deixa de vigorar (Despacho n.º 17169/2011). É
publicada uma nova matriz curricular, que vigora a partir de 2012/2013 e são publicadas
Metas Curriculares que serão meramente indicativas durante 2012/2013 e que passarão a
ser obrigatoriamente seguidas, a partir do ano seguinte.
Importa, agora, perceber, dentro deste quadro de evolução do conceito de
currículo e de evolução do quadro legal, com a gestão flexível do currículo, como será
possível concretizar a diferenciação e a adequação a cada aluno, aos seus interesses,
necessidades, ritmos e estilos de aprendizagem. A Pedagogia Diferenciada abre portas
nesse sentido.
85
Pedagogia Diferenciada
"Um barco sai para o leste e o outro para o oeste
Levados pelo mesmo vento que sopra;
É a posição das velas, e não o sopro do vento,
Que determina o caminho que eles seguem."
(Ella Wheeler Wilcox)
88
Apresentação
A origem do conceito de Pedagogia Diferenciada perde-se na História da
Educação, apesar de a expressão, propriamente dita, se ter generalizado a partir do século
XX, encontrando-se na bibliografia de autores e sistemas educativos de diferentes países
(Simpson, 1989; Perrenoud, 2001; Ainscow, 1997).
O conceito de Pedagogia Diferenciada está relacionado com a necessidade de a
Escola fazer desenvolver competências semelhantes em alunos com características,
necessidades e interesses diferentes (Perrenoud, 1995).
Com a Pedagogia Diferenciada pretende-se promover o sucesso escolar, pela
concretização de três grandes objetivos: melhorar a relação aluno/professor, enriquecer a
interação social e o desenvolver a autonomia do aluno (Przesmycki, 1991). A sua
implementação passa pela diferenciação de diversos dispositivos: dos processos de
aprendizagem, dos conteúdos e das estruturas.
Diversos modelos pedagógicos apresentam propostas de Pedagogia Diferenciada,
sendo útil conhecê-los e conhecer as suas propostas, compreendendo as suas
potencialidades e limitações.
1. Origem
Ao tentarmos situar na História da Educação a origem do conceito de Pedagogia
Diferenciada, depressa nos deparamos com a presença do conceito em épocas anteriores
às formas escolares que consideramos hoje como «tradicionais». Embora a expressão
«Pedagogia Diferenciada» ainda não fosse utilizada, o conceito já estava presente no
discurso de alguns pedagogos anteriores ao século XX.
89
Pestalozzi, em 1798, assume a direção de um orfanato com crianças de rua, em
Stanz, na Suíça. Dessa experiência podemos ler o seguinte testemunho:
Duas das descobertas que eu fiz são importantes (...): a primeira é que é possível
ensinar, ao mesmo tempo e de maneira distinta, um grande número de crianças,
mesmo de idades diversas. A segunda é que é possível instruí-las em muitas
coisas, enquanto trabalham (Pestalozzi, 1996, pp. 54-55).
Portanto, de certa forma, já Pestalozzi se tinha dado conta da possibilidade de
crianças diferentes aprenderem com atividades e ritmos diferentes.
Em 1886, Pauline Kergomard, inspetora de escolas, já falava no que Pierre
Bourdieu (1966) viria a chamar, mais tarde, indiferença às diferenças:
Nós medimos na mesma escala todas as crianças de todas as escolas. É a nossa
forma de nos mostrarmos igualitários. Percorremos um falso caminho,
confundindo o princípio – que é o de conduzir todas as crianças ao mesmo nível
de desenvolvimento – com os procedimentos que deviam ser diferentes, vistas as
desigualdades do ponto de partida, vistos os elementos dissolventes que fazem
manter as circunstâncias e paralisar a nossa ação (Plaisance, 1996, p. 3).
O conceito de Pedagogia Diferenciada nasce da evolução progressiva do
reconhecimento do aluno como cidadão e com direitos, através da mensagem de diversos
autores. Cousinet (1950), Freinet (1976) e Oury (1977) demonstram que o aluno existe
com os seus desejos, as suas necessidades e as suas riquezas e propõem uma pedagogia
centrada no aprendente e nas suas características.
Roger Cousinet (1950) propõe uma pedagogia do trabalho de grupo tomando em
conta os diferentes estilos de aprendizagem dos alunos. O jogo é a base da teoria de
Cousinet sobre o trabalho em grupo. Para ele, o jogo e a brincadeira são atividades
90
naturais da criança e, portanto, a atividade educativa deve ser fundamentada nessas
atividades.
Cousinet (1950) também valorizou a questão da autoconfiança dos alunos: não
havia resultados pré-determinados para avaliar o desempenho dos alunos, nem se media
o seu trabalho com notas. Se a realização dos trabalhos das crianças não era a desejável,
não se culpava a criança, pois acredita convictamente nas possibilidades de cada um em
relação ao seu próprio crescimento intelectual e moral. As tarefas para os alunos não
seguiam hierarquias ou ritos, pois acreditava que os aspetos desconcertantes
desapareceriam por si próprios na evolução natural.
Relativamente aos métodos de ensino vigente na sua época, Cousinet (1950)
criticava-os pela centralidade dada aos saberes factuais e informativos, considerando mais
importantes os saberes operacionais. “Aprende-se a ler para conhecer o pensamento
escrito, aprende-se a escrever para expressar o pensamento. Com o que se aprende pode-
se fazer muita coisa. Com o que se decora, muito pouco” (Cousinet, 1959). De acordo
com esta perspetiva, o papel do professor não é o de expor os conteúdos aos alunos, mas
orientar o de trabalho para a realização de descobertas. O saber adquire-se pela utilização
de métodos de trabalho com instrumentos adequados (observação, experimentação,
análise de documentos, etc.). Aprende-se muito com a pesquisa e não só com o que nos
transmitem. A planificação feita pelos professores cede lugar aos interesses que
determinados temas suscitam nos alunos. Não há um esquema de temas organizados que
o professor deve seguir, sendo a liberdade de construção do saber fundamental na sua
teoria. Não há horários fixos para as disciplinas nem separação entre elas. Como
referimos, o trabalho em grupo ocupa o lugar de destaque. As crianças organizam-se
91
livremente, escolhem o seu grupo, trabalham com os seus pares e adquirem a capacidade
de corrigir os seus trabalhos.
Celestin Freinet (1976; 1993) pensa que a pedagogia deve favorecer a passagem
do aluno à idade adulta, através da organização de interações sociais frequentes e
concretas, através de uma pedagogia cooperativa.
Por volta de 1925, Freinet procurava adaptar as ideias da Escola Nova (à altura
chamada Escola Ativa) ao trabalho com os seus alunos.
Freinet comprou uma velha imprensa de fazer jornais, e transformou-a no coração
de sua sala. As crianças começaram a elaborar textos em que descreviam os seus passeios
pela aldeia, os seus sonhos, o seu mundo. Isto fazia com que os alunos trocassem, pelo
correio tradicional, textos, desenhos e poesias com escolas da França e até de outros
países da Europa e até da África (Pinto, 2008).
Essa técnica, que ficou conhecida como correspondência interescolar, juntamente
com os contactos com a comunidade e o texto livre (desenha-se e/ou escreve-se
livremente sempre que houver vontade de expressar algo), constitui um dos fundamentos
do método natural, criado por Freinet (1976; 1993).
Para Freinet (1976, 1993), a sociedade está cheia de contradições que refletem os
interesses antagónicos das classes sociais que nela existem, sendo que tais contradições
penetram em todos os aspetos da vida social, inclusive na escola. Para ele, a relação direta
do homem com o mundo físico e social é feita através do trabalho (atividade coletiva) e
liberdade é aquilo que decidimos em conjunto.
92
Nas suas conceções educacionais, dirige pesadas críticas à escola tradicional, que
considera inimiga do "tatear experimental", fechada, contrária à descoberta, ao interesse
e ao prazer da criança (Freinet, 1976).
Analisou de forma crítica o autoritarismo da escola tradicional, expresso nas
regras rígidas da organização do trabalho, no conteúdo determinado de forma arbitrária,
compartimentados e desfasados em relação à realidade social e ao progresso das
ciências. Contra o autoritarismo sob qualquer aspeto, é contrário à avaliação quantitativa
e à imposição de castigos e sanções. Isso não significa que não deva haver ordem e
disciplina na sala de aula. Pelo contrário, o respeito mútuo entre professor e aluno é
fundamental.
Também critica as propostas da Escola Nova, particularmente Décroly e
Montessori, questionando os seus métodos, pela definição de materiais, locais e condições
especiais para a realização do trabalho pedagógico (Freinet, 1993).
Para Freinet (1976, 1993), as mudanças necessárias e profundas na educação
deveriam ser feitas pela base, ou seja, pelos próprios professores.
O movimento pedagógico fundado por ele caracteriza-se pela sua dimensão social,
evidenciada na defesa de uma escola centrada na criança, que é vista não como um
indivíduo isolado, mas fazendo parte de uma comunidade.
Atribui grande ênfase ao trabalho: as atividades manuais têm tanta importância
quanto as intelectuais e a disciplina e a autoridade resultam do trabalho organizado.
Questiona as tarefas escolares (repetitivas e enfadonhas) opostas aos jogos (atividades
lúdicas, recreio), apontando como essa dualidade presente na escola reproduz a dicotomia
trabalho/prazer, gerada pela sociedade capitalista industrial (Freinet, 1976, 1993).
93
A escola é vista por Freinet (1976, 1993) como um elemento ativo de mudança
social e é também popular por não marginalizar as crianças das classes menos
favorecidas. Propõe o trabalho/jogo como atividade fundamental.
Freinet elabora toda uma pedagogia, com técnicas construídas com base na
experimentação e documentação, que dão à criança instrumentos para aprofundar o seu
conhecimento e desenvolver a sua ação.
Quando fala em trabalho, não se limita ao manual. Embora adaptado à criança, o
trabalho deve ser uma atividade verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como
dá grande importância à relação da escola com as famílias e a comunidade. Algumas
técnicas da pedagogia de Freinet são o desenho livre, o texto livre, as aulas-passeio, a
correspondência interescolar, o jornal, o livro da vida (diário e coletivo), o dicionário dos
pequenos, o caderno circular para os professores, etc. (Pinto, 2008). Essas técnicas têm
como objetivo favorecer o desenvolvimento dos métodos naturais da linguagem
(desenho, escrita, gramática), da Matemática, das Ciências Naturais e das Ciências
Sociais. Porém, essas técnicas não são um fim em si mesmas, mas sim momentos de um
processo de aprendizagem que, ao partir dos interesses mais profundos da criança,
propicia as condições para o estabelecimento da apropriação do conhecimento (Gomes,
2001).
Freinet (1976; 1993) considera a aquisição de conhecimento como fundamental
mas, essa aquisição, deve ser garantida de forma significativa.
A experiência é um caminho para que a criança chegue ao conhecimento. Assim,
criação, trabalho e experiência, pela sua ação conjunta resultam em aprendizagem.
94
Freinet concebe a educação como um processo dinâmico que se modifica com o
tempo e que está determinada pelas condições sociais. Desta forma, é preciso transformar
a escola para adaptá-la à vida, para readaptá-la ao meio (Freinet, 1976, 1993). Ele acredita
no poder transformador da educação. Por isso, propõe uma pedagogia de busca e
experiências que eduquem profundamente, que proporcionem à criança um papel ativo,
de acordo com seus interesses. A educação é uma preparação para a vida social e aí está
uma das razões para defender o trabalho cooperativo como via para transformar a natureza
e a sociedade.
Podemos afirmar que Freinet é um dos pedagogos da 1.ª metade do século XX
que mais contribuições oferece àqueles que atualmente estão preocupados com a
construção de uma escola ativa, dinâmica e historicamente inserida num contexto social
e cultural (Gomes, 2011a).
Fernand Oury (1977) insiste sobre a aprendizagem social, através do conselho de
equipa onde cada grupo de alunos organiza o trabalho. Perante as diferenças entre os
alunos, desafiou-se a apoiar a todos no seu crescimento, fugindo da prática de rotulá-los
entre "bons" e "maus" alunos. Defendeu uma pedagogia diferenciada que permitisse a
cada qual trabalhar a partir do seu nível e segundo o seu ritmo.
Manteve contacto com Celestin Freinet, tendo-se apropriado das suas "técnicas”,
aplicou-as na sua sala de aula, agora em ambiente urbano. Incorpora, então, a
correspondência interescolar, o jornal escolar, a imprensa na escola, as aulas-passeio-
investigação, entre outras e, sobretudo, dá uma maior dimensão ao Conselho de Classe.
Para ele, a "instituição" é um sistema de regras elaborado e interiorizado pelos alunos,
95
para regular a vida em comum na classe e na escola, permitindo ordenar a vida coletiva,
substituindo o caos e as relações de força por um sistema simbólico carregado de sentido
para todos e cada um dos estudantes (Oury & Vasquez, 1977).
O Conselho de Classe é constituído pelos próprios estudantes, seguindo um ritual
específico e segundo um calendário pré-estabelecido. Presidido por um aluno e
secretariado por outro, mas acompanhado pelo professor que também integra o grupo-
classe, é um tempo/espaço de avaliação da vida em comum na sala de aula, constituindo-
se, segundo a expressão de Oury, num olho, cérebro e coração do grupo-classe (Oury &
Vasquez, 1977).
Na expressão de Jacques Pain, a Pedagogia Institucional, com as suas técnicas ou
seus dispositivos, pode ser sumarizada em torno de quatro "L" (Pain, 2002):
- Lugar: cada um tem o seu espaço reconhecido, o seu nome, a sua identidade;
- Lei: no coletivo cada um aprende a viver dentro de uma esfera simbólica,
segundo regras de convivência que permitem superar o caos e aprendendo a
compartilhar;
- Limite: cada um tem o seu espaço reconhecido e aprende a respeitar os espaços
dos demais, respeitando os limites que a convivência requer;
- Linguagem: num tal contexto, todos têm direito à palavra e a participar das
decisões, vivendo a liberdade de expressão num contexto de comunicação onde
cada um passa a "existir como sujeito” (p. 22).
Os méritos atribuídos à pedagogia de Oury são de ordem cognitiva (os alunos são
desafiados a aprender, a se superarem, num contexto de cooperação, sem coerção) e de
ordem comportamental (os estudantes aprendem a viver dentro de um contexto em que
96
cada qual merece o devido respeito e, assim, as relações contribuem para manter um clima
escolar protegido).
Na mesma linha de preocupação com a necessidade de adequação da Escola às
características dos alunos, criando mecanismos de Pedagogia Diferenciada, Bourdieu
(1966) defende que é necessário “dar a todos a oportunidade de aprender, quaisquer que
sejam a sua origem social e os seus recursos culturais”, embora sem propostas concretas.
Já Bloom (1966) faz uma abordagem mais pragmática, propondo um modelo de
pedagogia racional, orientada para domínios explicitamente definidos, com remediações
individualizadas, fundamentadas em avaliação criteriosa e formativa.
São necessários alguns anos para que a Pedagogia Diferenciada se torne palavra
de ordem: “é a lenta transformação do fracasso [escolar] em problema social mais do que
em fatalidade natural” (Perrenoud, 2001, p. 28), que faz emergir a necessidade de repensar
a escola.
As correntes da Escola Nova recolocaram o aluno no centro da ação educativa,
passando o professor a ser visto como uma pessoa-recurso, como organizador de
situações de aprendizagem (Astolfi, 1992; Develay, 1992; De Vecchi & Carmona-
Magnaldi, 1996). Defenderam-se as pedagogias construtivistas e interacionistas e
demonstrou-se que ninguém pode aprender no lugar do aluno, mas que ninguém aprende
sozinho (CRESAS, 1987, 1991). Perrenoud (1995) acentua mais a construção de
competências do que o acumular de conhecimentos, valorizando-se mais o trabalho em
projetos, pela pesquisa e situações-problemas.
97
Colocar o aluno no centro não significa que os alunos necessitem de ser ensinados
separadamente para aprenderem os assuntos e os conteúdos escolares. Na organização da
sala de aula podem ser feitas adaptações individuais. Além disso, os alunos podem apoiar-
se uns aos outros de acordo com as suas capacidades e áreas fortes. Isso significa olhar
para as diferenças como oportunidades de aprendizagem (UNESCO, 2005).
A escola dos nossos dias confronta-se com uma grande heterogeneidade social e
cultural. “Esta realidade implica uma outra conceção de organização escolar que
ultrapasse a via da uniformidade e que reconheça a diferença considerando, assim, a
diversidade como um aspeto enriquecedor da própria comunidade” (Cadima, 1996, p. 48).
98
2. Conceito
O conceito de Pedagogia Diferenciada pode ser encontrado na leitura de diversos
autores (Gomes, 2001, 2011a, 2011b; Grave-Resendes, 1989, 2002, 2004; Pinto, 2008;
Przeesmychi, 1991; Pinto & Gomes, 2013; Visser, 1993; entre outros), com enfoques em
diversos aspetos. Pode ser encarada colocando a tónica no processo, considerando-a o
processo de seleção e implementação de estratégias de ensino-aprendizagem, ou como
uma intervenção ao nível da regulação dos processos de aprendizagem individuais.
No primeiro sentido, encontramos a definição de Visser (1993) que considera a
Pedagogia Diferenciada como o processo pelo qual os professores enfrentam a
necessidade de fazer progredir no currículo, uma criança, em situação de grupo, através
da seleção apropriada de métodos de ensino e de estratégias de aprendizagem (e de
estudo).
E, para Przesmycki (1991), a Pedagogia Diferenciada
é uma pedagogia relativa aos processos: com ela pretende-se implementar um
conjunto de estratégias onde as aprendizagens são explícitas e diversificadas
para que os alunos aprendam segundo os seus próprios itinerários de
apropriação do saber e do saber-fazer (p. 10).
Na segunda aceção, a Pedagogia Diferenciada tem como base a regulação
individualizada dos processos e itinerários de aprendizagem e passa pela seleção
apropriada de métodos de ensino adequados às estratégias de aprendizagem de cada
aluno. Trata-se, em suma, da adequação das estratégias de ensino encontradas pelo
professor para se aproximar das estratégias de aprendizagem de cada aluno (Meirieu,
1988; Perrenoud, 1995; Vecchi, 1992; Visser, 1993).
99
Não se confunda, contudo, a regulação individualizada dos processos e itinerários
de aprendizagem com o sistemático trabalho individual. A esse respeito, Pires (2001)
refere que “a diferenciação de percursos de aprendizagem não pressupõe que cada aluno
os faça sempre de maneira individualizada, antes pelo contrário, é útil alternarem
momentos em coletivo (veja-se que não diz em simultâneo) com momentos de trabalho
individual, de trabalho de grupo ou de apoio direto do professor” (p. 35).
Simson (1989), num documento publicado pelo Gabinete Escocês para a
Educação, escreve que a “Diferenciação é a identificação e a resposta a um leque diverso
de capacidades de uma turma, de forma a que os alunos, numa determinada aula não
necessitem de estudar as mesmas coisas ao mesmo ritmo e sempre da mesma forma” (p.
36).
Perrenoud (1995) realça que a Pedagogia Diferenciada não é uma prescrição, mas
uma realidade quotidiana incontestável: em cada sala de aula, com cada professor, não
existem dois alunos que sejam tratados exatamente da mesma maneira. A questão é,
portanto, como colocar a diversidade ao serviço de todos.
A Pedagogia Diferenciada organiza-se a partir de um ou vários elementos
característicos das heterogeneidades dos alunos (idem):
as diferenças cognitivas no nível de aquisição das competências esperadas e na
riqueza dos seus processos mentais, estados de desenvolvimento operatório,
imagens mentais, modos de pensar, estratégias de aprendizagem;
as diferenças socioculturais: valores, crenças, histórias familiares, códigos de
linguagem, tipos de socialização, riquezas e especificidades culturais;
100
as diferenças psicológicas: motivações, vontades, atenção, criatividade,
curiosidade, energia, prazer, equilíbrio, ritmos.
Assim, podemos como Perrenoud (1997) afirmar que
diferenciar é romper com a pedagogia magistral – a mesma lição e os mesmos
exercícios para todos ao mesmo tempo – mas é sobretudo uma maneira de pôr em
funcionamento uma organização de trabalho que integre dispositivos didáticos,
de forma a colocar cada aluno perante a situação mais favorável (p. 22).
O grande desafio é deslocar a tónica do «ensinar» para o «fazer aprender». “O
sucesso da educação depende da adaptação do ensino às diferenças individuais dos
aprendentes” (Gaspar, 1999, p. 67).
Diferenciar é fazer com que cada aprendiz vivencie, tão frequentemente quanto
possível, situações fecundas de aprendizagem (Perrenoud, 1995; 1997). Pressupõe “lutar
para que as desigualdades diante da escola se atenuem e, simultaneamente, para que o
nível de ensino se eleve” (Perrenoud, 2000a, p. 9). Esta adequação da escola às
características individuais faz parte das exigências de igualdade. A indiferença às
diferenças transforma desigualdades iniciais, diante da cultura, em desigualdades de
aprendizagem e, em consequência, em insucesso escolar, como demonstrou Bourdieu
(1966).
Nesta perspetiva poder-se-á definir a Pedagogia Diferenciada como
uma pedagogia individualizada que reconhece o aluno como uma pessoa com as
suas próprias representações; uma pedagogia variada que propõe um conjunto
de medidas que se opõe ao mito de uniformidade, falsamente democrático,
segundo o qual todos devem trabalhar ao mesmo ritmo, com a mesma duração e
pelos mesmos itinerários. A Pedagogia Diferenciada renova as condições de
101
formação pela abertura do máximo de portas de acesso ao máximo de alunos
(Przesmycki, 1991, p.10).
Para que a escola continue a favorecer os mais favorecidos e a desfavorecer os
mais desfavorecidos, nas palavras de Bourdieu (1966)
é necessário e suficiente que a escola ignore no conteúdo do ensino transmitido,
nos métodos e nas técnicas de transmissão e nos critérios de avaliação, as
desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Por
outras palavras, tratando todos os alunos, por mais desiguais que de facto sejam
como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar, na verdade,
a sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura. A igualdade formal que
regula a prática pedagógica serve, na verdade, de máscara e de justificativa à
indiferença para com as desigualdades reais diante do ensino e diante da cultura
ensinada ou, mais exatamente, exigida (p. 336-337).
Em 2005, Mel Ainscow proferiu uma comunicação no Inclusive and Supportive
Education Congress (ISEC) sobre “Escolas Eficazes para Todos”, apresentando os
resultados de investigações desde o ISEC de 1990 sobre os fatores que contribuem para
a mudança dos sistemas educativos numa direção mais inclusiva. O autor apontou como
estratégias-chave o debate entre os professores sobre as diferentes formas de gerir a sala
de aula, o desenvolvimento de uma linguagem comum que lhes permita falar sobre as
suas práticas, o registo e a reflexão sobre as suas práticas de ensino.
Durante vários anos Ainscow (1993a e 1993b; 1994a e 1994b) refletiu acerca da
formação inicial e contínua, que seja capaz de ajudar os professores a adotar formas de
trabalhar que tenham em conta todos os alunos da classe, incluindo os que apresentem
dificuldades de aprendizagem. Ainscow, a partir desta experiência extensiva, que
implicou cerca de 50 países, insiste que os professores precisam de agarrar as
102
oportunidades de considerar novas possibilidades e precisam de apoio à experimentação
e reflexão.
Ao encorajarmos os professores a explorarem formas de desenvolver a sua
prática, de modo a facilitar a aprendizagem de todos os alunos, estamos,
porventura, a convidá-los a experimentarem métodos que, no contexto da sua
experiência anterior, lhes são estranhos. Consequentemente, é necessário
empregar estratégias que lhes reforcem a autoconfiança e que os ajudem nas
decisões arriscadas que tomaram. A nossa experiência diz-nos que uma estratégia
eficaz consiste em implicar a participação dos professores em experiências que
demonstrem e estimulem novas possibilidades de ação (Ainscow, 1997, p. 16).
No âmbito deste projeto, pretendeu-se levar os professores a considerar a vida na
sala de aula a partir do ponto de vista dos alunos e, ao mesmo tempo, relacionar estas
experiências com a sua própria prática na escola.
Gaspar (1999) refere três variáveis do processo de ensino como principais
responsáveis pela diferença individual na aprendizagem escolar. As duas primeiras tem a
ver com características de tipo cognitivo e afetivo e a terceira com fatores determinantes
da qualidade do ensino. Três problemáticas têm sido relevantes nos modelos de ensino,
ao questionar diretamente a aprendizagem. São elas:
- a questão sobre o modo como a mente humana cria conhecimento deu origem ao
que vulgarmente se refere como os pontos de vista construtivistas da educação;
- a reflexão sobre a capacidade do aprendente para receber e desenvolver
conhecimento, cujos resultados se têm aprofundado em função da reavaliação da natureza
do pensamento, ressentindo-se particularmente nas redefinições de inteligência;
103
- o estudo do modo a utilizar para ajudar o aluno a compreender como o
conhecimento é construído sob o controlo consciente dos mecanismos utilizados – a
metacognição.
É hoje consensual que todos os alunos são diferentes, ou seja, que têm relações
diferentes com o saber, interesses diversos, estratégias e ritmos próprios de aprendizagem.
Embora a ilusão das turmas homogéneas comece finalmente a desvanecer-se no discurso
racional dos professores, a verdade é que, muitas vezes na prática, inconscientemente,
continua a tentar-se homogeneizar, quer através da constituição de turmas por níveis
supostamente idênticos de aprendizagem, quer dentro da própria turma, pela divisão em
subgrupos, também supostamente homogéneos para facilitar o ensino do professor
(presente na legislação, designadamente no Despacho normativo n.º 13-A/2012, de 5 de
junho). É disto que se trata quando se fala, muitas vezes, em diferenciação. Mas esta é
uma perversão do sentido pedagógico da diferenciação porque mantém a lógica do ensino
simultâneo (Santana, 2000a).
Nunziati (1988), considera que o problema da aprendizagem passa a ser posto em
termos de lógica do aprendente e do seu acesso à autonomia e não mais em termos de
lógica do especialista ou da condução pedagógica. Para isso, é fundamental que se
montem “dispositivos pedagógicos” que promovam as aprendizagens.
104
3. Objetivos
A Pedagogia Diferenciada visa promover o sucesso escolar dos alunos,
considerando as características individuais dos alunos, tirando delas o máximo partido
(Ainscow, 1993a, 1993b, 1994a, 1994b). No fundo, visa o sucesso e a eficácia da escola,
através da organização de situações de aprendizagens e de avaliação adaptadas às
necessidades e às dificuldades específicas dos alunos, segundo processos diversificados,
permitindo-lhe tomar consciência das suas capacidades, desenvolver as suas
competências, despertar o desejo de aprender, traçar o sue próprio percurso (Gaspar,
1999).
Podemos organizar os objetivos da Pedagogia Diferenciada em três grandes eixos
(Przesmycki, 1991, pp. 13-15):
melhorar a relação professor/aluno;
enriquecer a interação social;
desenvolver a autonomia do aluno.
Melhorar a relação professor/aluno.
Os estudos realizados por Changeux (1983) e Racle (1983) demonstram que as
emoções positivas (como, por exemplo, a confiança, o prazer e a segurança) desenvolvem
a motivação, sem a qual nenhuma aprendizagem pode efetuar-se, e facilitam o tratamento
e a memorização da informação. A qualidade da relação pedagógica é, portanto, de suma
importância: a Pedagogia Diferenciada abre possibilidades ao desenvolvimento destas
emoções.
105
A propósito dos modelos High/Scope e do Movimento da Escola Moderna,
aquando das suas descrições, a questão da relação professor/aluno, no tocante ao suporte
à aprendizagem quer em relação à gestão da atividade da turma, será abordada.
A relação professor/aluno é relevante nos dois modelos e para a Diferenciação
Pedagógica em geral, sendo objeto de referência regular ao longo deste trabalho.
Enriquecer a interação social.
As interações ricas permitem a apropriação duradoira do saber e do saber-fazer: o
aluno torna-se autor da sua aprendizagem, com os outros, integrado num grupo.
Segundo os trabalhos de Piaget (1978) e Wallon (1945), uma interação social
dinâmica e rica permite melhorar o desenvolvimento cognitivo, favorecendo, por sua vez,
a ação e a criação de sentido e interesse numa tarefa.
Piaget (1978) demonstrou que a aprendizagem surge de um conflito
sociocognitivo entre as próprias representações e representações diferentes de outras
pessoas (professor, colegas, etc.). O conflito provoca uma descentração, reorganizando a
antiga representação, integrando os elementos da nova representação.
Wallon (1945) refere a importância da ação no desenvolvimento do pensamento.
O indivíduo tem necessidade de agir sobre o mundo, aplicando o saber adquirido, vendo
a sua aplicação perante as suas dificuldades, resolvendo os problemas, elaborando novas
formas de compreensão. “O pensamento nasce da ação e volta para a ação” (Wallon,
1945).
106
Ausubel (1980), através da sua teoria da aprendizagem significativa, descreve de
que forma o aprendente adquire conceitos e como se organiza a sua estrutura cognitiva.
De uma forma sintética, pode dizer-se que "a aprendizagem significativa acontece quando
uma informação nova é adquirida mediante um esforço deliberado, por parte do aprendiz,
em ligar a informação nova com conceitos ou proposições relevantes preexistentes na sua
estrutura cognitiva" (p. 159). A tónica está no sentido de o que se pretende que seja
aprendido faça sentido para o aluno. E isto acontece quando a nova informação se
“ancora” nos conceitos relevantes já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz.
Para haver aprendizagem significativa são precisas duas condições (Ausubel,
1980):
a) o aluno precisa ter uma disposição para aprender: se o indivíduo quiser
memorizar o material arbitrariamente e literalmente, então a aprendizagem será
mecânica;
b) o material a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo, ou seja ele
tem que ser logicamente e psicologicamente significativo: o significado lógico depende
somente da natureza do material e o significado psicológico é uma experiência que cada
indivíduo tem. Cada aprendiz faz uma filtragem dos materiais que têm significado ou não
para si próprio.
Vygotsky, na sua perspetiva sociocultural, elabora “uma teoria que tem por base
o desenvolvimento do sujeito como resultado de um processo sócio-histórico, onde
enfatiza o papel da linguagem e da aprendizagem” (Sousa, 2005). Nesta sua perspetiva,
107
Vygotsky advoga que o processo de desenvolvimento depende do meio, “dos outros mais
próximos, que se constituem como percursores do meio mais longínquo” (Sousa, 1993).
Desenvolver a autonomia do aluno.
Carl Rogers (1996) demonstra que favorecer o desenvolvimento da imaginação e
da criatividade facilita a compreensão. Os alunos têm necessidade de um ambiente seguro
e de liberdade, onde haja direito de escolha, de decisão, de inovação, de tomada de
responsabilidades. Este ambiente é proposto, na Pedagogia Diferenciada, no trabalho
autónomo, na avaliação formativa, na pedagogia de projeto, nos trabalhos de grupo.
A temática da autonomia do aluno será retomada, designadamento no capítulo do
Trabalho Autónomo e da Autorregulação da Aprendizagem.
108
4. Dispositivos de diferenciação
Quando abordamos a questão da Pedagogia Diferenciada, uma questão que
emerge é a “que diferenciar?”.
Ao nível do trabalho no seio da turma, na Pedagogia Diferenciada, é necessário
pensar a organização do trabalho, o tempo, o espaço e os materiais. Tal como refere
Cadima (1996),
isto passa pela criação de um clima da aula em que o professor partilha o poder
com os alunos e lhes dá um tempo para o desenvolvimento de trabalho autónomo,
ou seja, dá-lhe uma oportunidade de serem responsáveis e gerirem as suas
próprias aprendizagens (p. 51).
A disponibilização de materiais de trabalho diversificados é fundamental para
permitir a diferenciação de atividades. Os instrumentos de trabalho devem ser
diversificados, também, quanto ao tipo de documento, de conteúdo e de nível de
dificuldade.
Os alunos devem ter a possibilidade de conhecer os objetivos didáticos e
identificar as aprendizagens fundamentais, de modo a planificarem o seu estudo, a avaliar
os seus conhecimentos e a identificar as suas dificuldades (Cadima, 1996).
A Diferenciação desenvolve-se na interação contínua entre as pessoas, o saber e a
instituição (Przesmychi, 1991). Ao falar-se em «pessoas», estamos a falar na
heterogeneidade de alunos e professores face aos conteúdos e aos processos de
aprendizagem. Os alunos têm diferentes modos de apropriação e diferentes resultados nas
aprendizagens propostas, da mesma forma que os professores também são diferentes nas
suas práticas pedagógicas.
109
O «saber» a promover, definido através do currículo, é traduzido pelos professores
no seu projeto de turma, com objetivos cognitivos, metodológicos e comportamentais de
desenvolvimento de competências.
Meirieu (1988) apresenta estes elementos interatuantes nos vértices de um
triângulo e, segundo a sua perspetiva, para obter o máximo sucesso na Pedagogia
Diferenciada, há três dispositivos a diferenciar: os «processos», as «estruturas» e os
«conteúdos».
A Diferenciação dos processos de aprendizagem.
Assim, na diferenciação dos processos de aprendizagem, os alunos são divididos
por vários grupos, cada grupo trabalha simultaneamente para os mesmos objetivos,
segundo processos diferentes, havendo diversificação das práticas de trabalho autónomo:
trabalho autocorretivo, projetos, etc.. Também é diferenciável a organização da turma,
devendo haver momentos de trabalho individual e coletivo. O fundamental é a
diversificação das estratégias propostas e utilizadas.
A Diferenciação dos conteúdos de aprendizagem.
Na diferenciação dos conetúdos de aprendizagem, é possível que cada grupo
trabalhe conteúdos diferentes, em simultâneo. Os conteúdos são escolhidos de acordo
com o considerado necessário, para cada etapa, para cada grupo, a fim de que todos
acedam aos níveis exigidos pelo currículo.
110
A Diferenciação das estruturas.
Outra estratégia passa por distribuir os alunos por outras turmas, permitindo aos
alunos conhecer outras formas de organização dos grupos, outros lugares, outros
professores, provocando novas interações sociais. A diferenciação das estruturas pode
passar por partilhar conhecimento, trocar trabalhos por correspondência ou outra forma
de divulgação para o exterior, em interação com outras turmas.
111
5. As primeiras experiências de Pedagogia Diferenciada
5.1. Escola da Dalton.
Em 1905, Miss Parkhust, a diretora da Escola de Dalton, Massachusetts, nos
Estados Unidos da América, convencida da necessidade de diferenciar os percursos de
formação dos alunos, em função dos seus níveis e da sua «personalidade», decidiu
implementar um trabalho por fichas individuais a partir de um texto inicial (Meirieu,
2000).
Este método original é posto em marcha em 1920. Para cada nível e para cada
matéria, o programa oficial está dividido em 10 contratos mensais. O aluno conhece
antecipadamente a tarefa a que irá ser submetido. O trabalho mensal é ele mesmo
decomposto em unidades, para os professores. Eles não dão as aulas em coletivo, mas
têm à disposição dos alunos, nos «laboratórios» correspondentes a cada disciplina, toda a
documentação necessária (Cros, 2000).
5.2. Escola de Winnetka.
Em 1922, em Inglaterra, na Escola de Winnetka, Washburne retomou os
princípios de Parkhust procurando integrar simultaneamente um maior respeito pelos
direitos das crianças e os conhecimentos da Psicologia Cognitiva. Nas tentativas de
individualização do ensino, haveria questões por resolver: toda a aprendizagem acessível
à criança pode efetuar-se por si própria, sem que se ponha a questão da motivação? Ou o
nível de acessibilidade resulta ele mesmo da questão da motivação? A motivação é
prioritária e determina a aprendizagem, sendo que uma criança motivada ultrapassa todos
os obstáculos? (Meirieu, 2000).
112
Washburne ocupou-se a decompor o programa em unidades mínimas de
aprendizagem, um tipo de racionalização da aprendizagem por meio de fichas
autocorretivas (Cros, 2000).
5.3. Escola du Mail.
Dottrens, na Escola du Mail, em Génève, em 1927, vai tentar resolver as questões
emergentes da heterogeneidade de alunos. Para ele, como para Parkhust e Washburne, é
necessário identificar o nível de cada aluno e orientar o seu trabalho por fichas individuais
correspondentes às suas necessidades. Dottrens exclui deliberadamente as fichas
autocorretivas por que, segundo ele, suprimem a relação mestre-aluno. Ele não utiliza
nenhum manual escolar, nem nenhuma bateria de exercícios já elaborados. Ele formula-
as, para cada aluno, de forma a serem acessíveis e a mobilizá-lo para a sua resolução.
Dottrens é particularmente atento ao facto de o seu sistema permitir a autonomia da
criança, permitindo-lhe, progressivamente, a autopilotagem do seu trabalho (Meirieu,
2000; Cros, 2000).
5.4. Modelo de Célestin Freinet.
Célestin Freinet centra o seu trabalho em métodos suscetíveis de dar significado
às aprendizagens escolares, procurando que as atividades propostas façam despertar o
interesse/necessidade de saber. Segundo a sua perspetiva, define um conjunto de
aprendizagens essenciais para a participação nas atividades coletivas. Propõe, então, um
sistema de fichas individuais para garantir que os alunos possam ultrapassar as suas
dificuldades e as suas diferenças de níveis. Ao longo do seu trabalho, manteve duas
113
grandes preocupações: finalizar as aprendizagens com uma atividade mobilizadora e fazer
efetuar as aprendizagens individualmente, segundo procedimentos diferenciados,
adaptados a cada aluno (Freinet, 1976; Meirieu, 2000).
114
6. Fundamentação teórica da Pedagogia Diferenciada
6.1. Conceções da Pedagogia Diferenciada.
A Pedagogia Diferenciada é associável a um projeto estratégico assente em
conceções e normas explícitas, que Cros (2000, pp. 40-41) organiza em três tipos:
a) uma conceção ativista da Pedagogia Diferenciada. Desenvolve-se através da
construção de fichas autocorretivas ou a formação de grupos mais homogéneos
temporários ou pegar nos alunos com dificuldades e fazê-los refazer uma tarefa (apoio)
nas disciplinas onde se exprimem as suas dificuldades. Nada é mudado nos conteúdos
nem nas estruturas escolares.
b) uma conceção tecnicista de Pedagogia Diferenciada. Não está tão relacionada
com o conteúdo, mas com a aprendizagem. É necessário que o aluno aprenda a aprender:
saber ler, saber tomar notas, saber exprimir-se, saber tratar a informação, etc. As
atividades pedagógicas centram-se mais no desenvolvimento de metacompetências.
c) uma conceção referencial que centra a atenção no comportamento, nos valores
defendidos numa sociedade pluralista. A Pedagogia Diferenciada inscreve-se nos valores
de democratização, igualdade de oportunidades, como o exprime bem Perrenoud ao
escrever que “a Pedagogia Diferenciada é como a ação de conduzir todos os alpinistas à
altitude que se imagina ser suportada ou conduzir cada um ao ponto mais alto onde ele
pode ir” (Perrenoud, 1997, p. 37). Os conteúdos são diferenciados de acordo com os
alunos.
115
Przesmycki (1991) argumenta que, por detrás da Pedagogia Diferenciada, há duas
exigências filosóficas: a crença nas potencialidades do ser humano e o ideal de igualdade
de oportunidades (reconhecimento do direito à diferença do indivíduo-aluno).
6.2. As duas grandes correntes teóricas da diferenciação.
A gestão das diferenças pode inspirar-se em dois princípios diferentes: o princípio
chamado «diagnóstico a priori» e o chamado «descoberta metódica» (Meirieu, 2000, p.
8).
No primeiro princípio, a informação é considerada como se contivesse, em
potência, a remediação. No segundo, a informação é um indicador, entre outros, que
permite simplesmente fazer projeções e observar os seus efeitos. No primeiro caso, o
professor procurará atender a uma «natureza profunda» do aluno, que lhe permitirá
classificá-lo numa categoria para a qual disporá de um conjunto de soluções. No segundo
caso, a informação permite somente estabelecer as necessidades do momento e avançar
uma proposta particular que não se sabe se terá efeito. Utilizando a nomenclatura de Karl
Popper, da Sociologia, Meirieu (2000) fala em «diferenciação fechada» e «diferenciação
aberta».
Esta oposição talvez seja radical, especialmente porque ambas as perspetivas
tentam reduzir as diferenças entre os alunos, propondo itinerários variados, organização
diversa de grupos (grupos de nível, grupos de necessidades, atelier, etc.). Mas os projetos
são diferentes: “para uns, as diferenças são definitivas, para outros, inscrevem-se numa
relação aventurosa onde podem ser sempre ultrapassadas” (Meirieu, 2000, p. 9).
116
6.3. Gestão tecnocrática versus tensão invenção-regulação.
A gestão tecnocrática das diferenças é representada pela vontade de deduzir da
natureza atestada do indivíduo, as suas necessidades em matéria de conteúdos e de
métodos, etc. Reduz-se à irredutível remediação perante os diagnósticos.
A tensão invenção-regulação coloca deliberadamente o aluno no coração
dinâmico da turma. Nesta perspetiva, há a necessidade de inventar todos os dias meios
novos, apelando à memória e à imaginação, para que, cada um, na sua diferença, possa
desenvolver-se (Meirieu, 2000).
117
7. A Pedagogia Diferenciada enquanto Direito da Criança
À parte da classificação das correntes teóricas de Pedagogia Diferenciada, a
atenção dada, na escola, à diversidade prende-se com a realização dos Direitos Humanos,
que se vem refletindo em diversas convenções, compromissos e programas. “A cultura
dos valores neles [Direitos Humanos] contidos são condição fundadora das relações
contratuais de todo o ato pedagógico” (Niza, 2000, p. 26).
Para além dos Diretos Humanos, o principal instrumento jurídico internacional
específico sobre o «direito à educação» é a “Convenção sobre a luta contra a
discriminação do domínio do ensino” (UNESCO, 1960). Depois desta convenção, há a
considerar três compromissos históricos enquadradores das práticas educativas: ao nível
nacional, a Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) e, ao nível internacional, o Acordo
de Jomtien (1990) e a Declaração de Salamanca (1994).
Outros documentos têm vindo a ser produzidos para apoiar e ajudar a implementar
as ideias expressas nas aludidas convenções, dos quais podemos destacar a Carta do
Luxemburgo para uma Escola para Todos (1996), na sequência do programa Hélios II
(1993-1996) com a proclamação europeia do princípio da não-discriminação, consagrada
também no artigo 13.º do Tratado de Amesterdão (1997) e a Declaração de Madrid
(2002), com o princípio de «não discriminação mais Ação Positiva fazem a Inclusão
Social».
118
7.1. A Escola Inclusiva.
A escolarização fora do sistema regular de ensino para todos os que se
encontravam em situação de deficiência começa a ser posta em causa, a partir de 1959,
na Dinamarca, que inclui na sua legislação o conceito de «normalização», entendido
como a possibilidade de o deficiente mental desenvolver um tipo de vida tão normal
quanto possível (Bank-Mikkelsen, 1969), estendendo-se a seguir por toda a Europa e
América do Norte. A sua generalização no meio educativo vai desencadear “a substituição
das práticas segregadoras por práticas e experiências integradoras” (Jiménez, 1997, p.
25), iniciando-se assim o movimento de integração escolar e a desinstitucionalização dos
então chamados «deficientes».
Os países que aderiram a este movimento colocaram as suas crianças e jovens em
situação de deficiência nas classes regulares, acompanhados por professores de ensino
especial, previamente formados para isso (Sanches & Teodoro, 2006).
A evolução deste movimento sustenta-se e afirma-se com sucessivos trabalhos
científicos, entre os quais se destaca o The Warnock Report (1978) que introduziu o
conceito de Necessidades Educativas Especiais, substituindo a categorização médica das
crianças e jovens em situação de deficiência.
Com o Education Act (1981) o conceito vai ser oficialmente definido, em
Inglaterra: «uma criança tem necessidades educativas especiais se tem dificuldades de
aprendizagem que obrigam a uma intervenção educativa especial, concebida
especificamente para ela» (p. 1), embora integradas no dito “ensino regular”.
119
Em Portugal, os professores de Educação Especial já se organizavam em equipas,
desde o início da integração escolar, nos anos setenta (Sanches & Teodoro, 2006, p. 80),
embora só em 1988 se tenham criado e regulamentado as Equipas de Educação Especial
(Despacho Conjunto 36/SEAM/SERE, de 17 de agosto) e o regime Educativo Especial
para os alunos com Necessidades Educativas Especiais (Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de
agosto), duas medidas importantes para a definição da política educativa, nesta área.
Decreto-lei revisto e atualizado com a publicação do Decreto-lei n.º 3/2008, de 7 de
janeiro.
7.2. Convenção sobre a luta contra a discriminação do domínio do ensino.
Na convenção sobre a luta contra a discriminação do domínio do ensino, da
UNESCO (1960), o centro do debate está na ideia de que o princípio da não-discriminação
é a forma negativa do princípio de igualdade.
No artigo 2.º desta convenção, este princípio surge enunciado da seguinte forma:
cada um pode invocar todos os direitos e todas as liberdades proclamadas nesta
declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, cor, de género, de
língua, de religião, de opinião política ou de qualquer outra opinião, de origem
nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação
(UNESCO, 1960, art.º 2.º).
René-Jean Dupuy escreveu, mais tarde, a este propósito, que a
diferença e similitude estão em relação dialética: situam-se numa tensão, a da
identidade e a do parentesco. Ela anima o devir do homem. Nesta visão, com
efeito, a natureza humana não é um todo acabado. O homem, os povos, a
humanidade, são conceitos abertos. (…) A igualdade, princípio filosófico, moral
e jurídico, só tem sentido porque os homens não são idênticos. Assim, a norma
fundamental, primeira, é a que proíbe a discriminação, porque assume ao mesmo
tempo, igualdade e diferença (Dupuy, 1986, p. 176).
120
O princípio de não-discriminação implica um direito à diferença:
Se no direito à diferença está em jogo a identidade de cada ser humano, esta é
fundamentalmente obra da educação, um «direito do homem» em que é
particularmente densa, sensível e delicada a dimensão cultural de todos os
«direitos do homem» (Monteiro, 2000, p. 753).
7.3. Lei de Bases do Sistema Educativo.
A Lei de Bases do Sistema Educativo Português de 1986 reconhece o direito à
diferença no domínio da educação. O artigo 3.º afirma que “o sistema educativo se
organiza de forma a (…) assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas
personalidades e pelos projetos individuais da existência, bem como da consideração e
valorização dos diferentes saberes e culturas”.
A Lei de Bases reconhece a cada cidadão o direito ao acesso a uma educação
escolar básica e o consequente direito ao sucesso no decurso da sua frequência.
7.4. Acordo de Jomtien: Declaração Mundial Sobre Educação Para Todos.
A rutura formal com a Educação Especial dá-se com a Conferência Mundial sobre
Educação para Todos, em Jomtien (UNESCO, 1998), na medida em que se considera que
a Educação Básica deve ser oferecida a todas as crianças e as crianças com necessidades
educativas especiais devem fazer parte integrante do sistema educativo.
A Declaração Mundial Sobre Educação Para Todos acentuou a necessidade de
uma estratégia de ensino centrada na criança, visando o sucesso educativo de todas.
121
O acordo de Jomtien, em 1990, assumido por Portugal, propõe-se garantir uma
Educação Básica para todos, numa escola para todos. Desenvolve-se, no nosso país,
através do Programa de Educação para Todos (PEPT), em algumas escolas, em projetos
sujeitos a candidaturas.
O Fórum Mundial da Educação (UNESCO, 2000) veio avaliar as metas propostas
em Jomtien, fazendo o balanço de uma década e lançando seis novos desafios:
1) Expandir e melhorar o sistema de cuidados e educação das crianças, sobretudo
das mais desfavorecidas e necessitadas;
2) Garantir que em 2015 todas as crianças (especialmente as raparigas, crianças
desfavorecidas ou pertencentes a minorias étnicas), tenham acesso a educação
primária de boa qualidade;
3) Garantir que o ensino dos jovens e adultos seja adaptado às suas necessidades
de formação;
4) Atingir uma melhoria de 50% nos níveis de literacia de adultos em 2015,
sobretudo das mulheres e garantir o acesso equitativo e contínuo da Educação
Básica a todos os adultos;
5) Eliminar até 2005 a disparidade de géneros no ensino primário e secundário e
até 2015 garantir a igualdade de género em matéria de educação;
6) Melhorar em todos os aspetos a qualidade do ensino.
122
7.5. Declaração de Salamanca.
A Declaração de Salamanca é o resultado da Conferência Internacional realizada
de 7 a 10 de Junho de 1994, na cidade que lhe dá o nome. A Declaração foi assinada por
Portugal, com mais de 91 países e 25 organizações internacionais e reconhece que «cada
criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que
lhe são próprias» (UNESCO, 1994, p. xiii).
Através da Declaração de Salamanca, os estados signatários proclamam, ainda,
que:
- cada criança tem o direito fundamental à educação e deve ter a oportunidade
de conseguir e manter um nível aceitável de aprendizagem;
- os sistemas de educação devem ser planeados e os programas educativos
implementados tendo em vista a vasta diversidade destas características e
necessidades (UNESCO, 1994, p. xiii).
Esta Declaração assenta no direito de todas as crianças à educação, proclamado
na Declaração Universal dos Direitos Humanos e reafirmado na Declaração sobre
Educação Para Todos.
No tocante aos direitos das crianças e dos jovens com Necessidades Educativas
Especiais (NEE), situa-os no contexto mais lato dos direitos da criança e do homem,
fazendo referência à Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), à Convenção
relativa aos Direitos da Criança (1989), à Declaração Mundial sobre Educação para Todos
(1990) e às Normas das Nações Unidas sobre a Igualdade de Oportunidades para as
Pessoas com Deficiência (1993).
Através da Declaração de Salamanca, os estados signatários, declaram acreditar
e, por isso, proclamam que:
123
- cada criança tem o direito fundamental à educação e deve ter a oportunidade
de conseguir e manter um nível aceitável de aprendizagem;
- cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de
aprendizagem que lhe são próprias;
- os sistemas de educação devem ser planeados e os programas educativos
implementados tendo em vista a vasta diversidade destas características e
necessidades (UNESCO, 1994, p. xiii).
O princípio orientador da Declaração consiste em afirmar que “as escolas devem
ajustar-se a todas as crianças, independentemente das condições físicas, sociais,
linguísticas e outras” (UNESCO, 1994, p. 6). Neste princípio, enquadram-se as crianças
com deficiência ou sobredotadas, crianças da rua ou crianças que trabalham, crianças de
populações nómadas, crianças de minorias e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos
ou marginais. As escolas terão de encontrar formas de educar estas crianças. Coloca-se,
por isso, aos sistemas educativos, um grande desafio: desenvolver uma pedagogia
centrada nas crianças, que permita a educação de todas, com sucesso.
Uma pedagogia centrada na criança é benéfica para todos os alunos e, como
consequência, para a sociedade em geral, pois a experiência tem demonstrado
que esta pedagogia pode reduzir substancialmente as desistências e as repetições
e garantir um êxito escolar médio mais elevado. Uma pedagogia deste tipo pode
também ajudar a evitar o desperdício de recursos e a distribuição de esperanças,
o que, muito frequentemente, acontece como consequência do baixo nível de
ensino e da mentalidade – “uma medida serve para todos” – relativa à educação
(UNESCO, p. 1994, p. 7).
124
Uma pedagogia centrada na criança é a base da construção de uma sociedade
orientada para as pessoas, respeitando quer diferenças, quer a dignidade de todos os seres
humanos.
Relativamente à versatilidade do currículo é dito que os currículos devem adaptar-
se às necessidades da criança e não vice-versa (UNESCO, 1994). Portanto, as escolas
terão de fornecer oportunidades curriculares que correspondam às crianças com
capacidade e interesses distintos.
A aquisição dos conhecimentos não é uma simples questão de ensino formal e
teórico:
O conteúdo da educação deve apontar para níveis elevados, de modo a permitir
aos indivíduos uma plena participação no desenvolvimento e o ensino relacionar-
se com a experiência dos próprios alunos e com assuntos práticos, de modo a
suscitar-lhes a motivação para aprender (UNESCO, 1994, p. 22).
Faz, portanto, uma forte referência à aprendizagem significativa, como
despertadora de motivação para novas aprendizagens.
A escola deve reconhecer e fazer face às necessidades diversas dos seus alunos,
adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem. Desta forma promove um bom
nível de educação para todos, através de currículos adequados.
Para que tal seja possível, “o planeamento educativo elaborado pelos governos
deverá centrar-se na educação para todas as pessoas, em todas as regiões do país e em
todas as condições económicas” (UNESCO, 1994, p. 13).
125
Relativamente à avaliação, é sustentada a ideia de que a avaliação formativa deve
integrar o processo educativo regular, de forma a professores e alunos estarem informados
sobre o nível de conhecimento atingido e para que sejam identificadas e sanadas as
dificuldades que surjam no percurso de aprendizagem.
Apesar de a Declaração de Salamanca ser sobre a Educação de cidadãos com
necessidades educativas especiais, é declarado que a maioria das mudanças necessárias
na educação não se relacionam unicamente com a inclusão das que têm necessidades
educativas especiais, antes fazem parte de uma reforma educativa mais ampla que aponta
para a promoção da qualidade educativa e para um mais elevado rendimento escolar de
todos os alunos. A adoção de sistemas mais flexíveis e mais versáteis, capazes de melhor
atender às diferentes necessidades das crianças, contribuirá quer para o sucesso educativo
quer para a inclusão.
7.6. Livro Branco da Comissão Europeia sobre a Educação e a Formação.
O Livro Branco da Comissão Europeia sobre a Educação e a Formação
(UNESCO, 1995) chama a atenção para a mundialização da economia e das mudanças, a
sociedade da informação e comunicação e o desenvolvimento de uma civilização
científica e técnica, e o Relatório da UNESCO sobre a educação para o século XXI –
“Educação, um tesouro a descobrir” (Delors, 1996) – que coloca a educação durante toda
a vida (life-long learning) no centro das atenções da sociedade, organizando-se em torno
de quatro grandes pilares: o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a viver
em comum e o aprender a ser.
126
7.7. Inclusion International.
Em novembro de 1995, a Inclusion International, organização que passou a
confederar um largo conjunto de instituições educativas que funcionavam em sistema
segregado, com crianças com desvantagens sociais, adverte-nos, na sua carta para a
inclusão, que “a inclusão é uma questão de direitos humanos”, acrescentando que “todas
as crianças têm igual valor e que a exclusão do sistema escolar regular, devida a
dificuldades na aprendizagem, implica não reconhecer este valor e constitui uma prática
discriminatória. Porque a educação separada conduz à segregação da vida” (CSIE, 2003).
Diversos autores têm salientado a importância da inclusão de todas as crianças no
sistema educativo regular, com argumentos diversos que poderemos agrupar nos
seguintes:
Não existe uma relação determinista entre a cultura, a classe social e os
resultados escolares obtidos. As relações são mais amplas e interativas
(Marjoribanks, 1994);
As diferenças dos resultados académicos das escolas estão sistematicamente
relacionados com as características dos processos educativos, que podem ser
modificados pela equipa de professores (Rutter, Maughan, Mortimore &
Ouston, 1979);
Uma escola que é capaz de promover o progresso educativo de um grupo de
alunos também o promove nos outros alunos (Mortimore, Sammons, Stoll,
Lewis & Ecob, 1988).
127
Em 2005, a UNESCO publicou um relatório intitulado “Orientações para a
Inclusão: Garantindo o Acesso à Inclusão Para Todos”, procurando dar uma resposta à
necessidade de identificação e intervenção junto de grupos excluídos. Neste sentido,
pretendeu-se que fosse um “documento vivo”, que servisse como um instrumento
dinâmico de análise que mostrasse a realidade das crianças marginalizadas e excluídas,
face à Escola. Há muitas crianças que não vão à escola, mas
há inúmeras outras dentro do sistema escolar sem receberem uma educação de
qualidade. (…) O que devemos fazer para termos a certeza de que estas crianças,
que têm direito à educação, não são abandonadas? Este documento dá
orientações e ideias para que os Planos Nacionais de Educação/ Educação para
Todos (EPT) se tornem mais inclusivos com o objetivo de assegurar acesso e
qualidade de educação para TODOS os alunos (UNESCO, 2005, p. 4).
O atual conceito de “Inclusão” decorre do campo da Educação Especial. O
desenvolvimento desta área envolveu uma série de etapas durante as quais os sistemas
educativos experimentaram diferentes formas de dar resposta às crianças portadoras de
deficiência e aos alunos com dificuldades de aprendizagem. Nalguns casos, a Educação
Especial foi ministrada como suplemento à educação em geral, noutros casos aconteceu
inteiramente separada. Nos últimos anos, a forma de sistemas separados foi preterida,
tanto pela perspetiva dos direitos humanos como do ponto de vista da eficácia.
As práticas de educação especial foram levadas para as escolas de ensino regular
através de um método conhecido por “Integração”. O maior problema com a
integração foi a passagem para o ensino regular não ter sido acompanhada por
mudanças na organização das escolas, nos seus currículos e nas estratégias de
ensino e aprendizagem. Esta falha de mudança organizacional provou ser uma
128
das maiores barreiras à implementação de políticas de educação inclusiva. Uma
reflexão aprofundada levou à redefinição de “necessidades educativas especiais”
(UNESCO, 2005, p. 4).
Segundo esta conceção, as dificuldades de aprendizagem dos alunos também se
relacionam com a organização das escolas e com as estratégias de ensino. Percebeu-se
que as escolas precisam de ser reestruturadas e que precisam de desenvolver respostas
positivas à diversidade de alunos, olhando para as diferenças individuais como
oportunidades para enriquecer o ensino.
Gradualmente, a inclusão passou a ser vista como um elemento essencial de todo
o movimento de promoção da Escola para Todos, ultrapassando o foco nos alunos com
Necessidades Educativas Especiais. Contudo, é importante não perder de vista as origens,
até porque as crianças portadoras de deficiência continuam a ser o maior grupo excluído
da Escola. Assim,
educação para Todos significa assegurar que todas as crianças tenham acesso a
uma Educação Básica de qualidade. Isto implica criar condições nas escolas e
nos programas da Educação Básica que possibilitem a aprendizagem de todas as
crianças com mais ou menos capacidades. Essas condições devem proporcionar
um ambiente inclusivo, eficaz para as crianças, simpático e acolhedor, saudável
e protetor. O desenvolvimento desse ambiente amigável de aprendizagem é uma
parte essencial dos esforços de todos os países do mundo para melhorar a
qualidade e desenvolver o acesso às suas escolas (UNESCO, 2005, p. 7).
A UNESCO (2005) considera a inclusão como “uma forma dinâmica de responder
positivamente à diversidade dos alunos e de olhar para as diferenças individuais não como
problemas, mas como oportunidades para enriquecer a aprendizagem” (p. 9).
129
No centro da educação inclusiva está o direito humano à educação, estabelecido
na Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 que declara:
Todos têm direito à educação… A educação deve ser gratuita, pelo menos nos
níveis elementar e básico. A educação elementar deve ser obrigatória. A
educação deve ser direcionada para o completo desenvolvimento da
personalidade humana e o fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e
liberdades fundamentais. Promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade
entre todas as nações, raças e grupos religiosos e assegurará as atividades das
Nações Unidas para a manutenção da paz (art.º 26 – Declaração Universal dos
Direitos Humanos).
Na mesma linha se encontram as disposições da Convenção dos Direitos da
Criança (UNESCO, 1989), tal como o direito das crianças à não discriminação,
estabelecido nos artigos 2 e 23. O artigo 23 determina que as crianças com deficiências
devem ter:
acesso efetivo aos serviços de educação, treino, cuidados de saúde e reabilitação,
preparação para o emprego e oportunidades de lazer de forma o mais possível
conducente à integração social e ao desenvolvimento individual, incluindo o seu
próprio desenvolvimento cultural e espiritual (Artigo 23).
O artigo 29, sobre “objetivos da educação”, declara que o desenvolvimento
educacional do indivíduo é o objetivo principal e que a educação deveria permitir às
crianças atingir o seu máximo potencial em termos de capacidades cognitivas, emocionais
e criativas. Exatamente neste sentido, o Relatório de Observação Global de 2005
considera que a Educação deveria permitir às crianças atingir o seu máximo potencial em
termos das suas capacidades cognitivas, emocionais e criativas (UNESCO, 2005).
130
Neste sentido, podemos considerar que está reforçada a mensagem de que todas
as crianças têm o direito de receber o tipo de educação que não as discrimine em aspetos
como casta, etnia, religião, condição económica, condição de refugiadas, língua, género,
incapacidade, etc. É necessário que sejam tomadas medidas específicas para implementar
estes direitos, em qualquer ambiente de aprendizagem.
Um tipo de educação baseado nestes direitos obedece a três princípios (UNESCO,
2005, p. 9):
• Acesso à educação gratuita e obrigatória;
• Igualdade, inclusão e não discriminação;
• Direito a uma educação de qualidade nos conteúdos e nas estratégias.
A inclusão implica uma série de mudanças, ao nível social e da sala de aula, que
têm sido acompanhadas pela elaboração de numerosos instrumentos legais, ao nível
internacional. A inclusão tem sido implicitamente defendida desde a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (UNESCO, 1948) e tem sido referida em todas as
ocasiões num grande número de declarações e convenções chave das Nações Unidas.
Há também importantes razões humanas, económicas, sociais e políticas para se
prosseguir uma política e uma abordagem de educação inclusiva, visto que é também um
meio de alargar o desenvolvimento pessoal e promover relações entre pessoas, grupos e
nações. A Declaração de Salamanca e o Enquadramento para a Ação (1994) afirma que
“as escolas regulares com orientação inclusiva são o meio mais eficaz para combater a
discriminação, criar comunidades recetivas, construir uma sociedade inclusiva e
conseguir uma educação para todos.” (UNESCO, 1994, Art.º 2.º)
131
A Conferência Mundial de Jomtien sobre Educação para Todos (1990)
estabeleceu a meta de Educação para Todos (EPT). A UNESCO, em conjunto com outros
serviços das Nações Unidas, agências internacionais para o desenvolvimento e muitas
organizações não-governamentais nacionais e internacionais, tem vindo a trabalhar para
alcançar esta meta, juntando-se aos esforços feitos a nível nacional, lutando para que
todas as crianças e jovens do mundo, com os seus pontos fortes e fracos, com as
suas esperanças e expectativas, têm direito à educação. Não é o nosso sistema de
educação que tem direito a certos tipos de crianças. Por isso, é o sistema escolar
de cada país que deve adaptar-se para ir ao encontro das necessidades de todas
as crianças (UNESCO, 2005, p. 10)
É a vez de as escolas assumirem a responsabilidade de se certificarem de que este
direito é implementado. Concretamente isto envolve:
• Iniciar debates sobre a forma como a comunidade compreende os direitos
humanos;
• Promover a reflexão coletiva e identificar soluções práticas quanto à forma de
fazer com que os Direitos Humanos sejam observados nos currículos escolares
locais;
• Relacionar o movimento para os Direitos Humanos com o acesso à educação;
• Lançar as sementes para fomentar a proteção e fortalecer os seus laços a nível
político;
• Incentivar a criação na comunidade de reuniões onde os assuntos relacionados
com o acesso possam ser discutidos; e
• Desenvolver a relação comunidade/escola para identificar as crianças que não
a frequentam assim como promover atividades que garantam que as crianças vão
para a escola e aprendam (UNESCO, 2005, p. 10).
132
Há quatro elementos chave que têm contribuído para a conceptualização da
inclusão. Esses quatro elementos são os seguintes:
• A Inclusão é um processo. Isto significa que a inclusão tem que ser vista como
uma procura sem limites para encontrar as melhores formas de responder à
diversidade. Significa aprender a viver com a diferença e aprender a aprender
com ela. Desta forma, as diferenças passam a ser vistas duma maneira mais
positiva como um estímulo para encorajar a aprendizagem, entre crianças e
adultos.
• A Inclusão preocupa-se com a identificação e eliminação de barreiras. Por isso,
implica reunir, examinar e avaliar a informação proveniente de uma larga
variedade de fontes antes de planear os melhoramentos em termos de política e
de prática. Trata-se de usar vários tipos de evidência para estimular a
criatividade e a resolução de problemas.
• A Inclusão visa a presença, a participação e o sucesso de todos os estudantes.
Neste caso, a “presença” está relacionada com o local onde as crianças são
educadas, e com a eficácia e a pontualidade com que o fazem; a “participação”
refere-se à qualidade das suas experiências enquanto lá estão e, por isso, deve
incluir o parecer dos próprios alunos; e o “sucesso” tem a ver com os resultados
de aprendizagem relativamente ao currículo, e não simplesmente com os
resultados dos testes ou dos exames.
• A Inclusão implica uma particular atenção aos grupos de alunos que possam
estar em risco de marginalização, exclusão ou mau aproveitamento. Isso mostra
a responsabilidade moral de garantir que os grupos que, estatisticamente, estão
mais “em risco” sejam cuidadosamente acompanhados, e que, quando
necessário, sejam tomadas medidas para garantir a sua presença, participação e
sucesso escolar no sistema educativo (UNESCO, 2005, pp. 12-13).
133
O Centro de Estudos sobre Educação Inclusiva (CSIE) elaborou o Índex for
Inclusive Schooling (CSIE, 2003), que é constituído por indicadores que podem revelar
se o sistema educativo está na diração da inclusão.
O CSIE toma como ponto de partida o modelo social da deficiência, baseia-se
numa boa prática e orienta o trabalho em volta de um ciclo de atividades que guiam
as escolas através de fases de preparação, investigação, desenvolvimento e
avaliação:
1. Os alunos são chamados a tomar parte em todos os assuntos e atividades;
2. O ensino e aprendizagem são planificados tendo em mente todos os alunos;
3. O currículo fomenta a compreensão e o respeito pelas diferenças;
4. Durante as aulas todos os alunos participam;
5. Recorre-se a uma grande variedade de formas de ensino e estratégias;
6. Os alunos sentem que têm sucesso na aprendizagem;
7. O currículo procura desenvolver a compreensão das diferentes culturas;
8. Os alunos tomam parte nos sistemas de avaliação e acreditação;
9. As dificuldades de aprendizagem são vistas como oportunidades para o
desenvolvimento da prática (UNESCO, 2005, P. 29-30).
A Assembleia-Geral das Nações Unidas proclamou, em 2002, a Década das
Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DNUEDS) para o
período 2005–2014 e designou a UNESCO para liderar o respetivo processo de
implementação.
134
A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável é uma iniciativa
ambiciosa e complexa e o seu objetivo global consiste em integrar os valores
inerentes ao Desenvolvimento Sustentável nas diferentes formas de aprendizagem
com vista a fomentar as transformações necessárias para atingir uma sociedade
mais sustentável e justa para todos (UNESCO, 2006, p. 6).
135
8. Implementação da Pedagogia Diferenciada
Em Genebra, a Lei da Escola Pública exige, da escola e dos professores, que
corrijam as desigualdades no sucesso escolar. “Mas, o sucesso escolar não se decreta. Ele
constrói-se dia-a-dia, no contacto com uma realidade que resiste frequentemente às nossas
(boas) intenções” (Maulini, 2000, p. 36). É necessário mobilizar a união dos recursos
humanos e materiais num processo de mudança sistemática, generalizando a pedagogia
diferenciada.
Maulini (2000) apresenta-nos as conclusões de quatro anos de experiência na
implementação da Pedagogia Diferenciada, nas escolas de Genebra, entre 1999 e 2000,
que nós sintetizámos nos seguintes pontos:
a) A Pedagogia Diferenciada - uma pedagogia a negociar:
A resposta à diversidade é uma questão dificil e “o remédio da diferenciação pode,
se for mal utilizado, revelar-se pior do que o mal” (Maulini, 2000, p. 13). A interpretação
das diferenças interindividuais nem sempre é evidente, depende do critério de distinção
relativamente à norma em vigor. Por outro lado, a procura da igualdade pode constituir-
se como um princípio regulador.
Se admitirmos que a forma como encaramos a diferença depende do critério de
distinção selecionado e a norma em vigor, então é necessário o envolvimento do aluno e
do professor na definição da ação face às diferenças. Nesta vertente, é essencial que a
intervenção pedagógica seja interativa (Maulini, 2000).
136
b) Das intenções à ação - o detonador:
Nos últimos anos, “as diferenças do sentido da escola, entre crianças de famílias
populares e crianças de famílias da classe média ou superior, obrigaram a que a escola
não pudesse continuar a funcionar focada numa inexistente homogeneidade” (Hutmacher,
1993, p. 159). É necessário, por isso, deixar de trabalhar como se as crianças fossem
iguais e encarar a diversidade, deixando o estado de encanto, para passar das intenções à
ação (Perrenoud, 1997).
c) Da exploração à extensão - uma inovação negociada:
Em 1994, a plataforma para a renovação da escola de Genebra, apontou três eixos
de atuação: individualizar o percurso de formação; aprender a melhor trabalhar em
equipa; colocar os alunos no centro da ação educativa. Os três eixos são solidários, uns
com os outros, devendo cada um ser ponto de apoio para os outros (Maulini, 2000).
Cronbach e Snow (1967), ainda referenciados por diversos autores, na atualidade
(Niza, 2000, p. 29; Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 12), organizam em cinco grupos
as possíveis respostas educativas às diferenças dos alunos que a escola acolhe:
o método seletivo: assente em objetivos e conteúdos fixos e comuns para todos
os alunos. Os alunos irão deixando o sistema educativo quando não conseguem
alcançar esses objetivos;
o método temporal: pressupõe a existência de conhecimentos comuns a todos
os elementos de uma sociedade e que os alunos que tenham necessidade
possam dispor de mais tempo para alcançá-los. Reconhecem-se diferenças no
ritmo de aprendizagem;
137
o método de neutralização: baseia-se no princípio de que fatores sociais ou
culturais originam dificuldades na escola em alguns alunos, os quais deverão
ser compensados;
o método de adaptação de objetivos: parte do princípio de que não se podem
realizar as mesmas aprendizagens devido à diversidade dos alunos que
frequentam uma escola. Diversificam-se assim os objetivos criando currículos
paralelos.
o método da adaptação do ensino: tem em conta que um único método de
ensino/aprendizagem não consegue dar resposta às necessidades de todos os
alunos. Por isso, adaptam-se a organização e as estratégias de ensino às
necessidades de desenvolvimento curricular dos alunos.
138
9. A Aprendizagem como ato social
Segundo Cros (2000), trabalhos recentes, nomeadamente no Canadá, referem que
a aprendizagem necessita sempre da dimensão social. É chamada à turma “comunidade
de aprendizagem” (Cros, 2000, p. 38), no seguimento das novas teorias de aprendizagem
que reconhecem que o ato de aprender é um processo social e interativo.
Desde os anos de 1970 que a investigação sobre as várias abordagens e estratégias
de Aprendizagem Cooperativa, implementadas em diversificados contextos
socioculturais, tem demonstrado as vantagens de aprender em cooperação. Apontam
alguns estudos para resultados mais elevados, mais eficiente apropriação dos conteúdos,
melhor desenvolvimento de competências sociais, maior abertura à diversidade, quando
as estratégias de Aprendizagem Cooperativa são desenvolvidas de forma continuada
(Pozo, 1999; Ribeiro, 2006).
É determinante, nesta conceção, a teoria sociocultural de Vygotsky, na qual a
aquisição dos processos cognitivos superiores se produz através das atividades sociais,
nas quais cada indivíduo participa. As correntes defensoras da Aprendizagem
Cooperativa realçam a importância dessas atividades sociais para a promoção da
aprendizagem.
Convém realçar que a Aprendizagem Cooperativa envolve o trabalho de grupo,
mas nem todo o trabalho de grupo é cooperativo. Para que o trabalho de grupo seja
cooperativo é necessário o estabelecimento de uma interdependência positiva entre os
seus membros (Pinto, 2008). Uma outra condição tem a ver com a salvaguarda da
heterogeneidade dos grupos. Podemos dizer que a “Aprendizagem Cooperativa existe
139
quando estudantes trabalham juntos para realizar objetivos partilhados de aprendizagem”
(Ribeiro, 2006, p. 3). Cada estudante pode então conseguir alcançar os seus objetivos de
aprendizagem se e só se os outros membros do grupo conseguirem alcançar os seus
(Johnson & Johnson, 1999).
A implementação destas estratégias implica, como o referimos noutros capítulos,
que o professor assuma papéis menos diretivos, como organizador, dinamizador e
mediador, assumindo o seu trabalho de menor relevo na aula.
Síntese
Apesar de a utilização da expressão Pedagogia Diferenciada se ter vulgarizado a
partir do século XX, o conceito começou a construir-se ao longo da História da Educação,
podendo encontrar as suas linhas-mestras na visão de Pestalozzi (1996), de Cousinet
(1950; 1959), Kergomard (1886) e Freinet (1976; 1993).
É central a ideia da importância da aprendizagem significativa e do envolvimento
direto das crianças nos processos de aprendizagem.
Neste sentido, Oury e Vasquez (1977) e Vygotsky (1991) fundamentaram, nos
seus trabalhos, a importância da Aprendizagem Social e da Aprendizagem Cooperativa.
O conceito de Pedagogia Diferenciada é bem defendido por Visser (1993),
Przesmycki (1991), Meirieu (1988; 1991; 2000), Vecchi (1992), Simpson (1989) e
Perrenoud (1995; 2000a), entre outros. Em qualquer dos casos, a Pedagogia Diferenciada
relaciona-se sempre com a adequação da Escola à diversidade de características
140
individuais (Gomes, 2011a). Cada corrente acentua mais um ou outro aspeto, mas sempre
na peugada do reconhecimento da diferença interindividual.
A partir das últimas décadas do século XX, bastantes iniciativas vão surgindo, no
quadro de diversos sistemas educativos, designadamente na Europa, ensaiando respostas
educativas que vão de encontro às preocupações que decorrem da heterogeneidade de
alunos (Maulini, 2000; Hutmacher, 1993; Perrenoud, 1997). A Pedagogia Diferenciada
afirma-se como essa via de corresponder às necessidades de diferenciar os percursos
educativos.
A Aprendizagem Cooperativa assume protagonismo no âmbito da Pedagogia
Diferenciada, acreditando-se na importância dos laços sociais como promotores de
aprendizagens eficazes e significativas, redutores dos efeitos da diversidade, sentidos nos
modelos mais tradicionais de organização das atividades da sala de aula (Gomes, 2011a,
2011b; Ribeiro, 2006; Sousa, 2005).
O Trabalho Autónomo
“Certas coisas são tão importantes
que precisam ser descobertas sozinhas”.
(Paulo Coelho)
143
Apresentação
O tempo de trabalho autónomo, na agenda semanal de uma turma, é o tempo por
excelência dedicado à participação mais intensa, ativa e direta do aluno na sua
aprendizagem, possibilitando-lhe a sua autoorganização no desenvolvimento da(s)
tarefa(s) escolar(es), agindo sobre os conteúdos e os processos.
No que aos conteúdos diz respeito, o aluno pode propor assuntos/temas, de acordo
com o decurso do trabalho escolar. Quando nos referimos aos processos, pensamos na
autonomia do aluno na própria preparação e no desenvolvimento do trabalho.
A investigação acerca da organização do trabalho autónomo em sala de aula,
relaciona-o com os conceitos de tempo escolar e respetivas implicações pedagógicas
(Moura, 2005). As perspetivas defensoras da organização de tempos específicos para o
trabalho autónomo dos alunos, em contexto de sala de aula, estão em rutura com visões
da organização das atividades com base no princípio da homogeneidade e da
transmissividade de conhecimentos. Implicando o envolvimento do aluno na
aprendizagem, podem considerar-se níveis diferentes, que requerem competências
diversas relacionadas com a concentração, a persistência e a complexidade das tarefas.
Em qualquer dos casos, a investigação aponta os objetivos que podem ser
atingidos com o trabalho autónomo, defendendo uma metodologia de implementação e
gestão deste tempo assentes na autoavaliação e coavaliação formativas que enriquecerão
o tempo dedicado ao trabalho autónomo (Przesmycki, 1991).
Em Portugal, tem havido uma crescente aposta no estudo da aprendizagem
autorregulada, em que o papel do aluno como gestor do seu percurso de aprendizagem
tem vindo a ser o foco do estudo. Diversos autores se debruçaram sobre o estudo da
144
aprendizagem autorregulada em alunos de níveis mais avançados de escolarização (Veiga
Simão, 2002; Rosário, Nuñez & González-Pienda 2007; Lopes da Silva, 2004; Sá, 2004)
e com Pinto (2008) podemos acompanhar a investigação que realizou sobre as
implicações do tempo de estudo autónomo no desenvolvimento de competências de
aprendizagem autorregulada, em alunos do 1.º ciclo do Ensino Básico, destacando
sobremaneira a preponderância da utilização dos Planos Individuais de Trabalho, na
prossecução dos objetivos de destacar a importância do papel do aluno na aprendizagem.
Ao longo deste capítulo, estas questões são abordadas, contextualizando o estado
da investigação sobre o estudo autónomo e a sua relação com o desenvolvimento da
aprendizagem autorregulada, podendo perceber-se as diversas fases de execução e
controlo, a automonitorização, a metacognição durante a fase de execução e controlo e a
importância das estratégias de aprendizagem. O pedido de ajuda e o controlo volitivo,
bem como a fase de autorreflexão e autorreacção serão abordados de forma a percebermos
a sua importância na implementação de estratégias de Pedagogia Diferenciada.
1. Autonomia, tempo e envolvimento
1.1. Conceitos de tempo escolar e implicações pedagógicas.
Para Moura (2005), “o processo de ensino-aprendizagem, como uma forma de
organizar a experiência dos alunos no tempo, pode ser feito de várias formas. (…) A
diferentes modos de organizar o tempo escolar dos alunos correspondem diferentes
conceitos de tempo escolar, com diferentes implicações pedagógicas e ideológicas”
(p.117).
145
A definição dos tempos escolares, por Berliner (1990), em “What’s all the fuss
about the Instrutional Time?” é-nos proposta da seguinte forma:
Tempo atribuído (allocated time) - tempo que ao nível central ou da escola ou do
professor é destinado a determinadas tarefas. Por vezes também denominado de «tempo
regulamentado», para o distinguir do tempo realmente atribuído pelos professores a essas
mesmas tarefas. Hargreaves (1998) utiliza a expressão “tempo objetivo” ou “fixo”,
diferenciando de um “tempo subjetivo”. Sendo um tempo fixo, pode também
corresponder aos tempos que são preenchidos por atividades iguais todos os dias (rotinas),
por exemplo, tempo inicial de distribuição de material, lanche, recreio.
Tempo de empenhamento (engaged time) - tempo em que os alunos prestam
atenção a materiais ou apresentações. É um subdomínio do tempo atribuído.
Tempo na tarefa (time-on-task) - tempo de empenhamento em determinadas
tarefas de aprendizagem, é mais restrito e complexo do que tempo de empenhamento.
Tempo de aprendizagem académica (academic learning time) - parte do tempo
atribuído a uma determinada área curricular, em que o aluno está empenhado com sucesso
nas atividades específicas da disciplina.
Tempo de transição (transition time) - tempo que não é de aprendizagem e que é
despendido antes e depois de uma atividade de aprendizagem (por exemplo, quando os
cadernos são distribuídos).
Tempo de espera (waiting time) - tempo que um aluno tem de esperar para receber
apoio pedagógico e tempo despendido à espera de receber novas instruções do professor,
à espera que o professor verifique o trabalho ou à espera da atenção do professor depois
de pôr o dedo no ar.
146
“Segundo esta lógica, não é valorizada a participação do aluno na construção do
seu ritmo de aprendizagem. O aluno é submetido ao tempo do professor, tempo planeado
e tempo atribuído, o que condiciona completamente o tipo de comunicação professor-
aluno” (Moura, 2005, p. 118).
Outros conceitos relacionando o tempo escolar têm sido referidos em diversos
trabalhos de investigação (Carrol, 1963; Berliner,1990).
Os conceitos de tempo relacionam-se com outros conceitos, tal como define
Arends (1995):
1. Aptidão é definida como a quantidade de tempo que o aluno necessita, em
condições ótimas de aprendizagem, para atingir um objetivo de aprendizagem.
Aptidão elevada para aprender um assunto é determinada por aprendizagem
rápida; baixa aptidão reflete-se em aprendizagem lenta;
2. Capacidade é definida como a competência para compreender a instrução.
4. Perseverança é definida como a quantidade de tempo que o aluno está
determinado a despender na aprendizagem de determinado assunto ou na
realização de uma tarefa. O autor refere que este conceito é tradicionalmente
pensado como um conceito relacionado com a motivação, mas que quando
operacionalizado deste modo, se torna uma variável medida em tempo (Arends,
1995, cit. Moura, 2005, p. 119)
Ora, o princípio da homogeneidade que suporta a escola tradicional e transmissiva
assenta na conceção de que todos os alunos aprendem simultaneamente o mesmo ao
mesmo tempo. Por isso, reafirmamos que as conceções do tempo e as conceções
pedagógicas estão relacionadas entre si. “O modelo da escola atualmente existente baseia-
se num modo de organização pedagógica que visa a homogeneização dos alunos e a
147
uniformização das práticas educativas, cuja origem remonta à criação da escola pública”
(Barroso, 1998, p. 13).
1.2. Envolvimento da criança na aprendizagem.
Concebido como uma qualidade da atividade humana, o envolvimento é: a)
reconhecido pela concentração e persistência; b) caracterizado pela motivação, atração e
entrega à situação, abertura aos estímulos e intensidade da experiência (quer ao nível
físico, quer ao nível cognitivo) e por uma profunda satisfação e energia; c) determinado
pelo impulso exploratório e pelo padrão individual de necessidades ao nível
desenvolvimental; e, d) indicador de que o desenvolvimento está a ter lugar (Laevers,
1994a).
O envolvimento, tal como o definiu Laevers (1994a) implica que as atividades
propostas não sejam excessivamente fáceis nem exageradamente difíceis. O desejado
envolvimento tem que se enquadrar no cruzamento das potencialidades e das
necessidades da criança, ou seja, na zona de desenvolvimento potencial (Vygotsky,
1995).
A Escala de Envolvimento da Criança (Oliveira-Formosinho & Araújo, 2004),
traduzida e adaptada da escala original The Leuven Involvement Scale for Young Children
(LIS-YC) (Laevers, 1994a), é constituída por duas componentes: uma lista de
indicadores/sinais característicos de um comportamento de envolvimento e os níveis de
envolvimento numa escala de 5 pontos.
Esta escala compreende (Oliveira-Formosinho e Araújo, 2004):
148
- Concentração: a criança focaliza a sua atenção ao círculo limitado da sua
atividade. Apenas estímulos intensos podem distraí-la.
- Energia: a energia física está envolvida nas atividades motoras.
- Complexidade e criatividade: a criança aplica livremente e num grau acentuado
capacidades cognitivas e outras. Como resultado, o seu comportamento ultrapassa a
noção de comportamento rotineiro – a criança envolvida encontra-se a realizar no seu
máximo. A complexidade envolve com muita frequência a criatividade: a criança
adiciona um toque individual à atividade, produz algo de novo, mostra algo não
inteiramente predizível, algo de pessoal, sendo que aquilo que realiza promove o
desenvolvimento da sua criatividade.
- Expressão facial e postura: os sinais não-verbais são uma grande ajuda quando
se avalia o nível de envolvimento.
- Persistência: quando concentrada, a criança dirige toda a sua atenção e energia
para um ponto. A persistência refere-se à extensão dessa concentração. A criança que se
envolve não abandona facilmente a atividade. Ela pretende obter uma sensação de
satisfação experienciada com uma atividade intensa e está preparada para realizar todos
os esforços necessários a fim de manter essa atividade. As atividades que suscitam
envolvimento tendem a estender-se (de acordo com a idade e níveis de desenvolvimento)
e a serem revisitadas.
- Precisão: a criança envolvida dá especial atenção ao seu trabalho, é suscetível
aos detalhes e mostra precisão nas suas ações. Nas atividades verbalmente orientadas
como contar histórias, comunicações em atividades de grupo como o tempo de círculo,
os detalhes escapam ao seu reconhecimento (exs.: palavras casuais, gestos).
149
- Tempo de reação: a criança envolvida está alerta e rapidamente responde a
estímulos (ela “salta” para a ação), demonstrando motivação.
- Comentários verbais: as crianças explicitam, por vezes, o seu envolvimento nas
atividades através de comentários espontâneos (ex.: “Eu gosto disto! Posso fazer outra
vez?”). Elas podem ainda indicar mais implicitamente que as atividades lhes interessam,
fazendo descrições entusiastas acerca do que estão/estiveram a fazer; elas não conseguem
refrear a sua necessidade de pôr em palavras o que estão a experimentar, a descobrir.
- Satisfação: as atividades que possuem a qualidade de envolvimento induzem, a
maior parte das vezes, um sentimento de “satisfação”. A fonte deste sentimento pode
variar, mas deve sempre implicar uma resposta a estímulos e exploração.
Uma outra componente da Escala de Envolvimento da Criança são os níveis de
envolvimento (Oliveira-Formosinho e Araújo, 2004):
Nível 1: Ausência de atividade: este nível é reservado para os momentos em
que as crianças estão “não ativas/inativas”. Isto é mais óbvio quando elas fitam
o espaço, estão sentadas num canto, distraídas e ausentes. O nível 1 também
inclui aqueles momentos em que as crianças parecem estar ativas, mas de facto
estão totalmente ausentes. Nesse caso, a ação é uma pura repetição
estereotipada de movimentos muito elementares.
Nível 2: Atividade frequentemente interrompida: enquanto no nível 1 a
observação evidencia, sobretudo, atividade aparente ou mesmo ausência de
atividade, no nível 2 existem momentos de atividade.
150
Nível 3: Atividade mais ou menos contínua: durante o período de observação
as crianças estão mais ou menos empenhadas continuamente na atividade, não
sendo visíveis sinais reais de envolvimento. As crianças parecem estar
indiferentes à atividade, sem realizar qualquer esforço. Em contraste com a
atividade “aparente” existe, contudo, alguma forma de progresso, isto é, um
encadeamento de ações que faz sentido.
Não se trata de uma mera repetição de movimentos elementares, uma vez que
as crianças estão completamente conscientes do que estão a fazer e as suas
ações são realizadas deliberadamente. Porém, elas não estão realmente
envolvidas – estão a “fazer coisas”, mas isso “não lhes diz nada”. As ações são
interrompidas sempre que um estímulo interessante surge.
Nível 4: Atividade com momentos intensos: Este nível integra, relativamente
ao nível anterior, uma qualidade adicional que é o envolvimento, o qual se
expressa por um conjunto de sinais observáveis, pelo menos durante metade do
tempo de observação. A atividade tem uma importância real para a criança,
como pode ser deduzido pela sua concentração, persistência, energia ou
satisfação. Uma variação consiste numa atividade mantida com uma boa
“dose” de concentração, mas que “falha” em complexidade: as ações são
inteiramente motivadas como partes de uma tarefa escolhida, na medida em
que servem um objetivo específico. Contudo, em si próprias, elas não são mais
do que rotina, não requerendo um grande esforço mental.
Nível 5: Atividade intensa mantida: este nível está reservado para atividades
que são acompanhadas pelo maior envolvimento possível. A criança está
151
claramente absorvida na sua atividade. Os seus olhos estão mais ou menos
ininterruptamente focalizados nas ações e no material, sendo que os estímulos
circundantes não a distraem. As ações são prontamente realizadas e requerem
esforço mental, o qual surge de forma natural. Existe uma certa tensão em torno
da ação (uma tensão intrínseca). O nível 5 requer especialmente a observação
de sinais ou indicadores de concentração, persistência, energia e complexidade
em grande quantidade.
152
2. Objetivos do trabalho autónomo
Przesmycki (1991) propõe-nos um esquema de apresentação dos objetivos do
trabalho autónomo nas diversas vertentes. Globalmente, com o trabalho autónomo,
pretende-se que os alunos atinjam três objetivos:
a) adquirir as técnicas operatórias de pesquisa documental;
b) aprender a avaliar a sua produção
c) saber comunicar / apresentar a sua documentação.
Ao nível da aprendizagem da autonomia, pretende-se, com o trabalho autónomo:
a) dar aos alunos a possibilidade de ser ativos e de experimentar, para
que possam, eles mesmos, construir o seu saber;
b) suscitar o gosto pela pesquisa;
c) oferecer aos alunos a ocasião de alimentar a autoconfiança, graças à
liberdade de iniciativa, de criatividade e ao reconhecimento explícito
do direito ao erro;
d) aprender a trabalhar e a viver com os outros, colegas e adultos;
e) transformar as condições da comunicação
Os objetivos cognitivos disciplinares do trabalho autónomo prendem-se com a
aquisição de saberes específicos de uma disciplina, graças aos investimentos do aluno,
em energia e curiosidade. Pretende-se que os alunos consigam:
a) adquirir novos conhecimentos de forma mais sólida e duradoura;
b) aprofundar os conhecimentos já adquiridos, através de uma pesquisa
pessoal (Przesmycki, 1991).
153
3. Metodologia de implementação do trabalho autónomo
É comum identificarem-se três fases na implementação do trabalho autónomo
(Przesmycki, 1991):
a) o diagnóstico inicial das aquisições e das necessidades escolares dos alunos: é
importante aferir, para além dos conhecimentos e competências atuais do aluno, os
centros de interesse e as motivações dos alunos;
b) a preparação do trabalho: definir objetivos e organizar documentos, mais ou
menos complexo, diversos e detalhados de acordo com cada aluno;
c) determinação das condições do trabalho autónomo: se há um contrato, qual a
duração e estruturação do tempo a dedicar ao trabalho autónomo, realização individual
ou em grupos (que dimensões), que documentos são necessários, que fontes, que tipo de
produção final (dossier, sketch, cartaz, exposição, diapositivos, banda desenhada, jogo,
etc…), que avaliação.
Estas fases de implementação podem constituir-se em si mesmas como
importantes momentos de apoio à tomada de consciência do desenvolvimento do
processo de aprendizagem que está implícito ao tempo de trabalho autónomo.
De acordo com a perspetiva do docente, o nível de envolvimento dos alunos nas
fases de implementação do trabalho autónomo também é variável.
Acrescentar-se-á, às fases de implementação do trabalho autónomo, a sua
avaliação, se desejavelmente pretendemos potenciar crescentemente estes momentos.
154
4. A autoavaliação e coavaliação formativas
O trabalho autónomo pode ser enriquecido com o recurso à autoavaliação e
coavaliação formativas. A autoavaliação acerca do que o aluno realizou e a avaliação feita
pelos seus colegas é particularmente importante no trabalho autónomo, na medida em que
fornece informação que permite a modelação do ritmo e do itinerário de aprendizagem.
É um meio privilegiado de diferenciação dos processos, porque cria uma situação de
aprendizagem onde o aluno escolhe as estratégias de apropriação e de correção dos erros.
Como veremos, aquando da análise do modelo do Movimento da Escola Moderna,
a participação dos alunos da turma na avaliação mútua da planificação, desenvolvimento
e avaliação das atividades realizadas diariamento no Tempo de Estudo Autónoma assume
extrema importância. A coavaliação ou heteroavaliação é estrutural num modelo baseado
no socioconstrutivismo, sendo o sucesso de cada aluno uma responsabilidade de todo o
grupo.
A autoavaliação e a coavaliação assumem, sem dúvida, um importante papel,
enquanto instrumento regulador, detse momento de maior autonomia e diferenciação do
trabalho realizado pelos alunos, assegurando que é um tempo utilizado de forma eficiente,
tendo em vista o objetivo último que é promover aprendizagens.
5. Trabalho Autónomo e Aprendizagem Autorregulada
O papel do estudante como gestor do seu percurso de aprendizagem, bem como
regulador do mesmo, tem vindo a ser largamente investigado nas últimas décadas (Allal,
1993; Bandura, 1993; Bronson, 2000; Corno, 1994; Lopes da Silva, 2004; Newman,
1994; Rosário, Núñez & González-Pienda, 2007; Sá, 2004; Schunk, 1989; Veiga Simão,
155
2002; Zimmerman, 1994; Zimmerman, 2000). É comum dizer-se que vivemos atualmente
na “sociedade do conhecimento”, pela massificação do acesso à informação. É
fundamental, por isso, que a Escola prepare os seus alunos para serem eficientes na
utilização da informação e na sua transformação em conhecimento, ajudando-os a serem
decisores e orientadores do seu percurso escolar, a gerir os recursos disponíveis, de modo
a alcançarem o sucesso escolar, através da aquisição e consolidação de aprendizagens.
Veiga Simão (2002) refere que os alunos devem “aprender, criticar o
conhecimento adquirido, utilizá-lo, saber como se chega ao conhecimento, amar o
conhecimento, saber saboreá-lo” (p. 14).
A Aprendizagem Autorregulada é um constructo que surge definido como um
processo ativo, onde o aluno conduz a sua aprendizagem, através da monitorização, do
controlo e da regulação do seu comportamento, perseguindo a sua meta (Lopes da Silva,
2004).
Barry Zimmerman, a nível internacional, um dos mais conceituados
investigadores no âmbito da Aprendizagem Autorregulada, e referido por diversos
autores (Allal, 1993; Bronson, 2000; Corno, 1994; Corno & Randi, 2000; Lopes da Silva,
2004; Newman, 1994; Veiga Simão, 2005), ao refletir sobre a Aprendizagem
Autorregulada, “refere-se aos pensamentos, sentimentos e ações gerados pelos
estudantes”, cuja ação é “sistematicamente orientada para o alcance das suas metas”
(Zimmerman, 1994, p. IX).
Pensamentos, sentimentos e ações que implicam uma atividade consciente e
intencional dos alunos, que concentram os seus esforços “de uma forma autónoma e
156
centrada na tarefa” (Rosário et al., 2007, p. 13). Segundo Lopes da Silva (2004), implica
uma “participação ativa, construtiva e autónoma” (p. 19).
Zimmerman (1994) acrescenta, ainda, que “o constructo da autorregulação se
refere ao nível em que os indivíduos são participantes ativos no seu próprio processo de
aprendizagem, de forma metacognitiva, motivacional e comportamental” (p. 3). Podemos
dizer que é “um processo ativo no qual os sujeitos estabelecem os objetivos que norteiam
a sua aprendizagem tentando monitorizar, regular e controlar as suas cognições,
motivação e comportamentos com o intuito de os alcançar” (Rosário et al., 2007, p. 11).
Por outro lado, a Aprendizagem Autorregulada implica que o estudante encare
cada aprendizagem como alcançável mas, em simultâneo, desafiante; implica também
que sejam mobilizadas as estratégias adequadas, maximizando os recursos internos e
externos disponíveis; é ainda determinante que haja uma constante e rigorosa avaliação
do processo, para que seja reajustado sempre que necessário (Lopes da Silva, 2004).
5.1. O Desenvolvimento da Aprendizagem em Alunos do 1.ºCiclo.
Segundo Pinto (2008), que realizou um trabalho de investigação sobre o
desenvolvimento de competências de Aprendizagem Autorregulada com alunos do 1.º
ciclo, parafraseando Schunk (1989) e Zimmerman (1994), embora os níveis mais
elevados de Aprendizagem Autorregulada só possam ser esperados a partir da
adolescência, as crianças podem aprender estratégias específicas que as ajudem a regular
a sua própria aprendizagem de modo sistemático, a partir do 1.º Ciclo.
Veiga Simão (2002) considera que as crianças dos seis aos dez anos não recorrem
espontaneamente a determinadas estratégias de aprendizagem (como a verificação de
157
textos escritos ou outras estratégias complexas), mas já beneficiam do seu ensino, sendo
“competentes para executar a tarefa mas não para a usarem de modo espontâneo e
mostram uma deficiência de produção” (p. 24).
A Zona de Desenvolvimento Potencial.
Vygotsky defende que a “interação do indivíduo com o contexto sociocultural
promove a aprendizagem e esta é que conduz ao desenvolvimento” (Vygotsky, 1934, p.
17) e refere-se a dois níveis de desenvolvimento: o nível de desenvolvimento efetivo e o
nível de desenvolvimento potencial (Vygotsky, 1991; Fontes & Freixo, 2004). O nível de
desenvolvimento efetivo refere-se ao grau de desenvolvimento das funções
psicointelectuais da criança, alcançadas como resultado do processo de desenvolvimento
já realizado; o nível de desenvolvimento potencial refere-se às funções ainda em
desenvolvimento (Vygotsky, 1991).
Vygotsky (1978; 1991), nesta linha, sublinha a importância do conceito de zona
de desenvolvimento potencial (ZDP) [ou zona de desenvolvimento proximal, como
referem alguns autores, como Fontes e Freixo (2004) e Simão (2002)], entendida como
“a distância entre o nível de desenvolvimento real de uma criança . . . e o nível mais
elevado de desenvolvimento potencial, determinado pela resolução de problemas sob a
orientação de um adulto ou trabalhando com pares mais capazes” (Fontes & Freixo, 2004,
p. 18).
158
A Aprendizagem em Interação com os Outros.
De acordo com Vygotsky (1978; 1991), a interação da criança com o contexto
sociocultural promove a aprendizagem e, portanto, o desenvolvimento.
Simão (2002) refere que o “processo de interiorização” permite a passagem da
regulação externa para a autorregulação, que passa pela “reconstrução e transformação
ativa, por parte do sujeito” (p. 56). Ocorre na ZDP, sendo gradual e passando por várias
fases: o apoio direto de alguém mais experiente; a realização autónoma da tarefa,
recorrendo a autoinstruções e a ajudas pontuais; a mecanização; e a reconstrução
individual, que corresponde à ascensão a um novo nível de desenvolvimento (Campione
& Armbruster, 1985; Simão, 2002; Vygotsky, 1991).
Fontes e Freixo (2004), parafraseando Vygotsky, a propósito da importância da
interação social na aprendizagem referem que:
A aprendizagem é um processo social complexo, culturalmente organizado,
especificamente humano, universal e necessário ao processo de desenvolvimento.
Assim, . . . a aprendizagem deixa de ser individualista, para ser social e
facilitadora da aprendizagem dos outros. A aprendizagem desperta um conjunto
de processos internos que operam apenas quando os alunos estão em interação
com os colegas ou com o professor. Estes processos, uma vez interiorizados,
passam a fazer parte das conquistas evolutivas dos alunos. (p. 15)
Podemos dizer que se a criança trabalhar com regularidade na sua ZDP, com o
auxílio do professor ou de um um colega mais experiente, “o seu desempenho
inicialmente assistido passará a ser interiorizado e o seu desenvolvimento efetivo passará
a um nível superior” (Pinto, 2008, p. 15).
159
5.2. Fases e Processos da Aprendizagem Autorregulada.
As tarefas reguladas pelos alunos nas diversas fases e processos da Aprendizagem
Autorregulada são referidas pelos diversos autores (Lopes da Silva, 2004; Zimmerman,
1994): a determinação de um objetivo, a planificação, a execução, a monitorização, a
gestão do tempo e dos recursos, o controlo da atenção, a reformulação, a avaliação, etc.,
embora o seu número e organização não seja consensual.
Lopes da Silva (2004) sintetiza a autorregulação da aprendizagem en três fases:
“a fase de antecipação e preparação, a de execução e controlo e a de autorreflexão e
autorreacção” (p. 19).
A fase de Antecipação e Preparação.
A fase de antecipação e preparação é a fase em que é determinada a meta e é
delineado o plano estratégico para a alcançar (Lopes da Silva, 2004).
“O aluno autorregulado deve saber determinar a meta a atingir, de modo claro e
inequívoco, e motivar-se para a mesma. Por outro lado, deve mobilizar as suas
competências metacognitivas para delinear um plano estratégico adequado, económico e
eficaz, face à meta a atingir” (Pinto, 2008, p. 21).
A Motivação na Fase de Antecipação e Preparação.
Esta fase é altamente influenciada por crenças motivacionais, tais como a crença
de autoeficácia e as expectativas face aos resultados (Lopes da Silva, 2004). De acordo
160
com Bandura (1993) e Sá (2004), estes aspetos são cruciais para o desenvolvimento de
tarefas complexas.
Implica que o aluno tenha uma perceção de autoeficácia adequada face ao
objetivo a delinear: que o objetivo seja simultaneamente acessível e desafiante; que o
aluno considere que “aprender pode ser tão útil, como agradável” (Veiga Simão, 2002, p.
15).
Se considerarmos que “as crenças de autoeficácia são convicções pessoais quanto
a dar conta de uma determinada tarefa e num grau de qualidade definida” (Bzuneck, 2000,
p. 116), as crenças de autoeficácia “são a perceção que o aluno tem a respeito de se vai
conseguir concluir determinada tarefa e do grau de sucesso com que a irá alcançar” (Pinto,
2008, p. 22).
É importante perceber que existem quatro fatores que determinam a perceção de
autoeficácia de um aluno, segundo Schunk (1995): as experiências anteriores
significativas, as observações sociais e a avaliação do desempenho dos outros, a perceção
que se tem das avaliações que os outros têm a seu respeito e o estado psicológico no
momento da tarefa.
No contexto de sala de aula, as perceções de autoeficácia dos alunos podem ser
desenvolvidas positivamente se o professor orientar o trabalho propondo tarefas que
representem objetivos ou metas a serem cumpridas e que sejam simultaneamente
próximas, específicas e de nível adequado de dificuldade, face a cada aluno. Se as tarefas
mais complexas forem, inicialmente, realizadas com o apoio de um indivíduo mais
experiente (o professor ou um colega), a perceção de autoeficácia será ainda mais elevada,
161
uma vez que a possibilidade de o aluno não concluir com sucesso a tarefa será muito
reduzida (Pinto & Gomes, 2013).
O objetivo a delinear é outro aspeto que se relaciona diretamente com a motivação
e o prosseguimento da tarefa: este deve ser simultaneamente alcançável mas desafiante
(Allal, 1993; Lopes da Silva, 2004; Sá, 2004). Se a criança souber, à partida, que irá
conseguir alcançar a meta a que se propõe, irá empenhar-se na tarefa desde o início. Este
aspeto é ainda reforçado se a criança souber que alcançará a sua meta, embora necessite
de esforçar-se para tal – o que irá levar a que se aplique no plano delineado de modo ainda
mais motivado.
Idealmente, o professor deve orientar cada criança para o estabelecimento de
objetivos que se situem na sua própria zona de desenvolvimento potencial, sempre tendo
em conta que a aprendizagem é um processo gradual e autonomizante, onde o controlo
que a criança assume deve ser alvo de atenção por parte do professor.
Porém, se algum destes aspetos motivacionais não corresponder à realidade (por
exemplo, se a perceção de autoeficácia que o indivíduo tiver for desajustada e a tarefa se
revelar muito difícil para as suas capacidades), a motivação decresce. Nestas
circunstâncias, o aluno pode reajustar o plano concebido para a execução da tarefa, caso
seja persistente e se a sua perceção de autoeficácia for elevada, ou pode abandonar ou
evitar a tarefa, caso considere que não será capaz de alcançar com sucesso o seu objetivo
(Sá, 2004).
Uma vez que a fase de antecipação e preparação é, como vimos, altamente
influenciada por aspetos motivacionais, o aluno autorregulado deve ter uma perceção de
autoeficácia realista e desejavelmente adequada à tarefa a cumprir. Para que tal seja
162
possível, é necessário que já tenha tido várias experiências cujo sucesso transfere para as
expectativas face ao plano a desenvolver. O apoio e o reforço positivo, por parte do
professor, são determinantes.
Embora esta fase seja predominantemente psicológica, com poucos
comportamentos observáveis, há indivíduos que recorrem a autorregistos, como forma
de se comprometerem com a tarefa e, por outro lado, de facilitarem a automonitorização
e a avaliação nas fases seguintes. De acordo com Lopes da Silva (2004), este é um
processo que torna a gestão do trabalho “mais visível para o próprio estudante” (p. 21).
É, portanto, uma estratégia desejável para crianças do 1.ºCiclo, que estão numa fase
inicial do desenvolvimento da Aprendizagem Autorregulada (Pinto, 2008).
A fase de Execução e Controlo.
A fase de execução e controlo, onde é posto em prática o plano estratégico
delineado, implica o domínio de vários processos psicológicos complexos, como
referimos anteriormente. É a fase mais longa e na qual intervêm mais processos
autorregulatórios.
Nesta fase, o aluno gere continuamente o seu comportamento em função da meta
a alcançar. De acordo com Lopes da Silva (2004),
torna-se necessário que o indivíduo seja capaz de dar atenção ao que está a
ocorrer no momento presente, que se observe, que tome consciência das ações
que está a realizar, dos procedimentos que estão a ser adotados, dos resultados
que estão a ser obtidos (p. 20).
163
Embora seja a fase em que o comportamento é mais evidente, através da
operacionalização do plano estratégico, a fase de execução e controlo exige a regulação
constante dos processos psicológicos. Conforme vai dando cumprimento ao plano
delineado, o aluno autorregulado deve constantemente avaliar a ação em
desenvolvimento, recorrendo a processos de automonitorização.
Automonitorização.
A automonitorização é determinante na fase de execução e controlo. O aluno
autorregulado deve ter sempre consciente o seu plano estratégico e avaliá-lo com
frequência, equacionando a alteração de estratégias ou recursos, sempre que verificar que
tal possa ser necessário (Silva, 2005; Zimmerman, 2000).
Deste modo, a automonitorização é uma “avaliação em ação”, um estado de alerta
permanente que permite conhecer a determinar a cada momento se o plano estratégico
está ou não a ser seguido e, por outro lado, se esse plano estratégico é exequível e
adequado às condições existentes. Para tal, o aluno autorregulado recorre novamente aos
processos metacognitivos (Pinto, 2008).
A Metacognição durante a Fase de Execução e Controlo.
Tal como já foi referido, a metacognição é um conhecimento de nível superior,
que permite ao indivíduo controlar e refletir sobre outros aspetos da sua cognição. É o
“pensamento sobre o pensamento” (Ponce, Soler & Moreno, 2006, p. 244).
164
De acordo com Meirieu e Grangeat (1997), a metacognição é determinante para o
desenvolvimento da atividade autorregulada, uma vez que permite que o aluno entenda o
que está a fazer enquanto trabalha, recorra às estratégias mais eficazes e olhe para dentro
de si próprio. Deste modo, as competências cognitivas têm um papel fundamental na
automonitorização, uma vez que são elas que tornam possível a tomada de consciência
da situação e a sua avaliação.
O desenvolvimento das competências metacognitivas desde os primeiros anos
escolares é essencial, pois permite que os alunos aprendam, progressivamente, a decidir
e controlar o seu percurso e cada uma das tarefas que surgirem, através da “adoção dos
passos apropriados” e da correção desse percurso, no caso de encontrarem dificuldades
(Ponce et al., 2006, p. 244).
Lopes da Silva (2004) reforça o papel fulcral da metacognição na Aprendizagem
Autorregulada, referindo que “a tomada de consciência dos progressos . . . tem surgido
como uma variável importante para o desenvolvimento da perceção da eficácia pessoal”,
enfatizando a importância dos autorregistos para esta aprendizagem (p. 21). Este é um
procedimento que, em sala de aula, pode assumir um interesse relevante, uma vez que
permite ao aluno monitorizar a sua ação e permite ao professor controlar a atividade do
aluno sem intervir diretamente, situação que surge como um “andaime” na aprendizagem
da criança.
Em síntese, podemos concluir que a Aprendizagem Autorregulada depende
diretamente dos processos metacognitivos que a criança domina, uma vez que é a
metacognição que lhe permite conhecer o conhecimento que possui, equacionar as
estratégias a utilizar e constantemente automonitorizar e adaptar o seu percurso, face aos
165
objetivos que conscientemente definiu e persegue. Deste modo, é pertinente o
desenvolvimento deste tipo de competências desde a infância, de modo a que a criança
fique munida de ferramentas que lhe permitam optar pela melhor solução disponível.
A importância das Estratégias de Aprendizagem.
Veiga Simão (2002) destaca a importância da metacognição para a seleção das
estratégias adequadas, defendendo que a qualidade da aprendizagem depende
fundamentalmente da “possibilidade de captar as exigências das tarefas numa
determinada situação de aprendizagem e controlar com os meios adequados essa dita
situação” (p. 37).
As estratégias de aprendizagem são descritas como a “implementação de um
conjunto de procedimentos para atingir um objetivo” de modo deliberado, consciente e
intencional (Rosário & Almeida, 2005, p. 148). Neste sentido, são “operações ou
atividades mentais que facilitam e desenvolvem os diversos processos de aprendizagem
escolar”, implicando a reflexão sobre a tarefa a desenvolver, de modo a “processar,
organizar, reter e recuperar o material informativo que temos de aprender” (Veiga Simão,
2005, p. 264).
As estratégias de aprendizagem são distintas das técnicas de estudo. Como refere
Veiga Simão (2002), “não se trata de fornecer ao aluno uma série de recursos para ter
sucesso em algumas tarefas . . . As estratégias dizem respeito a operações ou atividades
mentais que facilitam e desenvolvem os diversos processos de aprendizagem escolar” (p.
166
36). As estratégias são sempre dirigidas a um objetivo concreto, relacionado com a
aprendizagem, e as técnicas podem ser treinadas sem uma intenção educacional.
Como já foi referido, durante a execução de um plano estratégico, a
automonitorização avalia, a cada momento, a ação em curso. Perante a deteção de algum
desvio face ao plano delineado, o aluno recorre a estratégias de intervenção, tais como a
reformulação do plano estratégico, o pedido de ajuda ou a implementação de estratégias
de controlo volitivo, como a inibição de estímulos distratores ou a gestão do tempo. Pela
sua relevância, sugerimos uma reflexão mais aprofundada sobre algumas destas
estratégias.
O Pedido de Ajuda.
O pedido de ajuda é uma estratégia determinante para o desenvolvimento da
Aprendizagem Autorregulada, como já vimos na reflexão feita a respeito da ZDP e do
apoio do professor ou de um par mais competente. Face a dificuldades que surjam, o
aluno autorregulado pode utilizar o pedido de ajuda intencionalmente, não apenas
remediando um problema imediato, mas assegurando autonomia a longo prazo, pelo
domínio de uma tarefa (Newman, 1994).
A criança que desenvolve uma tarefa complexa, de modo autorregulado, não tem
necessariamente que fazê-la sem recorrer ao apoio do professor ou de um colega. Como
referem Rosário et al. (2007), as crianças autorreguladas “não estão, nem se sentem
sozinhas nas suas tarefas de aprendizagem, pelo contrário, procuram apoio, sempre que
necessário, de modo a alcançarem satisfatoriamente os seus objetivos”(p. 13).
167
O Controlo Volitivo.
O controlo volitivo assume, nesta fase, um papel fulcral: através dele, o aluno
autorregulado é capaz de focalizar-se na meta delineada e persegui-la, gerindo e
controlando os aspetos distratores ou dissuasores da sua ação (Corno, 1994).
De modo mais específico, o aluno autorregulado é capaz de gerir o tempo que
definiu ou tem disponível para a tarefa e, em simultâneo, focalizar-se na mesma, de modo
a não se distrair com aspetos que possam prejudicar a perseguição do seu objetivo,
gerindo a sua atenção.
O controlo da atenção assume, também, um papel determinante. De acordo com
Ponce et al. (2006), a atenção permite “filtrar a informação” e “escolher um determinado
estímulo entre muitos” (p. 242). Os autores referem que esta é uma competência que se
vai aperfeiçoando com a idade, mas que implica uma escolha consciente da criança, que
tem que optar por aquilo que lhe interessa.
A atenção aos detalhes é, de acordo com Bandura (1993), um dos quatro processos
cognitivos que permite a resolução de tarefas complexas. Para este autor, a atenção é
determinante, pois permite à criança distinguir o essencial do acessório, bem como
reparar em pormenores do exterior e dentro de si própria.
Por outro lado, o aluno deve gerir o seu esforço: concentrar a sua energia na tarefa
e procurar adaptar o seu plano estratégico de modo a despender apenas o esforço
necessário, estabelecendo prioridades claras (Corno, 1994; Newman, 1994).
O aluno autorregulado deve ainda mobilizar os recursos (internos e externos) mais
adequados à tarefa a desenvolver e que estejam ao seu dispor.
168
No entanto, todos estes aspetos relacionados com o controlo volitivo podem tornar
o aluno de tal modo obstinado em perseguir o seu objetivo, que podem levá-lo a não
ponderar outras hipóteses. Assim, o aluno autorregulado deve ser capaz de persistir e
envolver-se na sua tarefa de modo inteligente, mas não de modo obsessivo (Corno, 1994),
automonitorizando o seu plano estratégico.
A fase de autorreflexão e autorreacção.
A fase de autorreflexão e autorreacção, que surge no final do plano estratégico,
caracteriza-se pela avaliação do mesmo e pelas opções tomadas, face a essa avaliação.
A autorreflexão permite ao aluno comparar o seu atual desempenho com os
objetivos de aprendizagem e desempenho previamente definidos. A autorreacção do
aluno refere-se à forma como o aluno reage à avaliação que faz do seu desempenho
(Schunk, 1989).
Caso a meta seja alcançada com sucesso, o aluno autorregulado não deve ignorar
a avaliação do processo. O aluno deve avaliar adequadamente a execução do plano
estratégico, de modo a criar pistas de trabalho para tarefas seguintes, em algo
semelhantes. Caso a meta não seja alcançada com sucesso, o aluno autorregulado deve
questionar simultaneamente o plano estratégico e a meta delineada. Caso esta seja
alcançável, o aluno deve traçar um novo plano. O abandono da tarefa apenas deve ser
considerado como último recurso, caso a meta seja totalmente desajustada às capacidades
e aos recursos disponíveis.
169
Apresentadas as fases das tarefas complexas, geridas de modo autorregulado,
importa fazer uma síntese das características que deve ter um aluno autorregulado, tendo
em vista a promoção dessas mesmas competências em ambiente educacional.
No próximo ponto deste capítulo, procuraremos definir o perfil do aluno
autorregulado, tendo em conta a investigação até aqui referida e, em particular, as
evidências registadas por Zimmerman (2000).
5.3. O Perfil do Aluno Autorregulado.
Vários autores (Bronson, 2000; Vygotsky, 1991) referem que as crianças com 7
ou 8 anos podem desenvolver rapidamente processos mentais superiores como a
memória, a reflexão e a automonitorização.
Por outro lado, se tivermos em conta a teoria da aprendizagem de Vygotsky,
verificamos que “a interação do indivíduo com o contexto sociocultural promove a
aprendizagem e esta é que conduz ao desenvolvimento” (Vygotsky, 1934, citado por
Fontes & Freixo, 2004, p. 17).
Assim, mais do que procurar um nível comum de desenvolvimento de estratégias
de Aprendizagem Autorregulada em crianças em idade escolar, será útil ter em conta que
um contexto educativo estruturado e orientado para a cooperação, para a reflexão e para
a tomada de decisões pode promover o desenvolvimento deste tipo de competências mais
cedo do que contextos diretivos, onde as decisões, a avaliação e o apoio sejam apenas da
responsabilidade do professor, sem promover o envolvimento das crianças.
De acordo com as evidências anteriormente enunciadas, através da
implementação de práticas educativas adequadas, será possível apoiar os alunos no
170
desenvolvimento de diversas estratégias de Aprendizagem Autorregulada, como as que
enunciam Veiga Simão, Lopes da Silva e Sá (2007): a seleção e utilização adequada de
estratégias, a ponderação do que já sabe e do que necessita saber, a gestão do seu tempo
de estudo e do esforço para alcançar as suas metas escolares, a resistência às distrações e
a gestão da ansiedade e da motivação.
A competência no desempenho de uma tarefa é determinada pela “capacidade
potencial” e pelo “domínio de alguns procedimentos que permitam ao aluno ter êxito de
forma habitual na realização da dita tarefa” (Veiga Simão, 2002, p. 22). Assim, de acordo
com Zimmerman (2000), um aluno com elevado nível de desenvolvimento de estratégias
de Aprendizagem Autorregulada é um aluno que conhece, domina e aplica
conscientemente, com repetido sucesso e eficácia, os seguintes procedimentos ou
estratégias mentais superiores:
Durante a fase de antecipação e preparação:
• Estabelecimento de objetivos, tomando decisões sobre metas específicas de
aprendizagem ou desempenho;
• Planificação estratégica, selecionando métodos apropriados à tarefa e
cenários de realização da mesma, na perseguição dos objetivos estabelecidos;
• Apresentação de elevadas crenças de autoeficácia, considerando ter recursos
pessoais para aprender e desempenhar tarefas de forma efetiva;
• Apresentação de elevadas crenças relacionadas com as expectativas de
resultados, considerando ser possível atingir a meta estabelecida, embora
complexo e desafiante;
171
• Apresentação de elevados níveis de motivação intrínseca, definidos por
Lynch e colaboradores (2004, citados por Sharma, 2007) como o grau com
que o aluno se empenha na tarefa de modo a enfrentar um desafio pessoal, a
satisfazer os seus prazeres ou curiosidades pessoais e/ou alcançar a mestria
nas tarefas envolvidas;
Durante a fase de execução e controlo:
• Utilização ativa de estratégias específicas, adequadas às exigências da tarefa;
• Utilização de autoinstruções, descrevendo, de modo declarado ou encoberto,
o modo de como se deve proceder enquanto se executa uma tarefa;
• Controlo da atenção, através da concentração e da monitorização dos outros
processos internos ou acontecimentos externos;
• Gestão do tempo e do esforço, procurando economizá-los e utilizá-los de
modo útil;
• Gestão dos recursos e do ambiente de trabalho, procurando orientar os fatores
externos de modo a facilitarem o prosseguimento da execução do plano
estratégico;
• Auto-observação, nomeadamente através do recurso ao autorregisto, que
permite potenciar a proximidade e a acuidade do retorno da execução da
tarefa;
• Autoexperimentação, procurando diferentes formas de resolução de
problemas, até encontrar a estratégia adequada para determinada situação;
172
Durante a fase de autorreflexão e autorreação:
• Autojulgamento, avaliando o seu desempenho face ao objetivo delineado ou
a um padrão de cumprimento;
• Realização de atribuições causais, justificando os aspetos responsáveis pelos
pontos fortes e fracos do processo;
• Autorreação, através da criação de perceções de satisfação ou insatisfação
relativas ao seu desempenho;
• Adaptativa-defensiva, estabelecendo conclusões sobre a necessidade de
alterar a abordagem a determinado tipo de tarefa.
Sistematizámos, assim, os principais processos comportamentais, metacognitivos
e motivacionais que um aluno com elevado nível de desenvolvimento de competências
de autorregulação pode e deve mobilizar.
Considerando que o desenvolvimento destas competências depende
fundamentalmente do contexto educativo e das experiências que o professor promove,
importa, agora, conhecer que tipos de abordagens e propostas pedagógicas devem ser
mobilizadas, de modo a apoiar os alunos eficazmente.
5.4. A Orientação da Aprendizagem Autorregulada em Alunos do 1.ºCiclo: O Papel
do Professor como “Construtor de Andaimes”.
De acordo com Branford, Brown e Cocking (1999), as crianças têm um forte
desejo de aprender e de aplicar-se em situações que aprendizagem. Para tal, as crianças
precisam de ter a “oportunidade de aprender” (Bronson, 2000, p.116). Este aspeto
173
direciona-nos para a importância que os adultos – especialmente os professores e os pais
– têm no desenvolvimento da aprendizagem autorregulada.
A questão da necessidade de apoiar adequadamente as crianças no
desenvolvimento da autorregulação da sua aprendizagem é colocada por Rosário et al.
(2007) da seguinte forma:
Todos os alunos conseguem autorregular os seus processos de aprendizagem, ou
seja, para atingirem os seus objetivos, todos são capazes de mobilizar
comportamentos de acordo com as especificidades dos seus contextos de
aprendizagem. No entanto, como é visível nas salas de aula, . . . nem sempre o
fazem de uma forma adequada ou no sentido de uma aprendizagem qualitativa e
robusta (p. 14).
Para Alemany (2000, citado por Santana, 2007), o papel do professor ao serviço
do desenvolvimento dos alunos é o de fornecimento de um “suporte estruturado, que
normalmente é mais intenso e direto numa fase inicial, passando a realizar-se
gradualmente de forma mais distanciada e indireta, através de um olhar atento sobre o
processo para nele intervir quando necessário” (p. 36). De acordo com esta perspetiva, o
professor, mesmo quando não interfere claramente nas tarefas que os alunos realizam,
proporcionando autonomia e espaço, deve estar muito atento às mesmas.
Estudos desenvolvidos por Zahn-Waxler e seus colaboradores (1995, citados por
Bronson, 2000) referem vários comportamentos de pais e professores que se
correlacionam com o desenvolvimento prossocial e cognitivo da criança. Destes
comportamentos, destacamos em primeiro lugar a relevância que o envolvimento
emocional do adulto nas tarefas pode assumir. Se o adulto aplica entusiasmo e intensidade
174
em determinadas atividades, a criança tende a envolver-se nelas, atribuindo-lhes
importância.
Por outro lado, a existência de um modelo de comportamento é determinante. Os
comportamentos frequentes dos adultos de referência para a criança tendem a ser
copiados por esta e são uma forma muito eficaz de aprendizagem. A este respeito,
Zimmerman (2000) refere que as crianças tendem a escolher deliberadamente pessoas
mais experientes que “observam e com as quais efetivamente aprendem” (p. 15).
Por último, destaca-se a importância da atribuição de qualidades à criança: se a
criança ouve frequentemente que tem uma ou outra característica, tende a interiorizar esse
discurso e procura comportar-se de acordo com essas atribuições. Além de promover o
autoconceito da criança, permite que esta desenvolva a consciência de que pode controlar
as suas ações e que é responsável por elas.
Vygotsky (1991) afirma que “o que a criança pode fazer hoje, com o auxílio dos
adultos, podê-lo-á fazer amanhã por si só”, destacando a importância que as tarefas que
atuam na ZDP têm no desenvolvimento do aluno e o papel insubstituível de um apoio
experiente e atento nesse processo (p. 44). Neste sentido, Santana (2007) defende que o
professor deve ser mais do que um simples proporcionador de tarefas, mas um agente
forte da aprendizagem:
Não se trata de simplificar a tarefa para que se possa encaixar no seu nível de
desenvolvimento e assim ser compreendida pelo aluno, mas de o ajudar a lidar
com toda a complexidade que a mesma envolve, não desvirtuando o real e
promovendo um avanço qualitativo das suas estruturas mentais superiores (p.
36).
175
Nesta perspetiva, o papel do adulto ou dos pares mais competentes deve ser o de
“colocar andaimes” (Bruner, citado por Santana, 2007, p. 31) ou “scaffolding” (Wood et
al., citados por Bronson, 2000, p. 119), numa alusão ao apoio atento e adequado que deve
ser prestado à criança, de modo a que esta se adiante ao seu desenvolvimento de modo
sustentado e eficaz.
Este apoio deve ser retirado gradualmente, à medida que o processo de
interiorização ocorre. Inicialmente, o professor controla e guia a criança na atividade.
Numa segunda fase, aos poucos, o professor e a criança passam a partilhar o controlo da
tarefa, devendo o professor dar espaço à criança para que tome iniciativa, sob o seu olhar
atento e orientador. Nesta fase, deve ser dado espaço à criança para experimentar e errar.
Finalmente, o adulto cede o controlo à criança e passa a ter uma função de uma confiável
e estruturante “audiência” (Vygotsky, 1991).
O estilo de abordagem pedagógica dos professores também é relevante, uma vez
que professores demasiadamente diretivos não promovem nos alunos a metacognição.
Por outro lado, professores que promovam a “participação ativa na planificação e na
avaliação” estão a contribuir ativamente para o incremento da compreensão dos
procedimentos a adotar (Ponce et al., 2006, p. 247).
Professores, tutores e mestres, em todas as situações de aprendizagem formal ou
informal, funcionam idealmente como promotores de autorregulação, por estimular o
surgimento de autocontrolo ao gradualmente ceder o controlo externo. Esta atitude
pedagógica opõe-se claramente à postura tradicional (Campione & Armbruster, 1984).
176
177
Síntese
Neste capítulo tentámos clarificar o conceito de estudo autónomo, os seus
objetivos e as estratégias de implementação e gestão.
Paralelamente, destacámos a importância do estudo sobre a aprendizagem
autorregulada, como forma de melhor compreendermos o que está envolvido no tempo
dedicado ao trabalho ou estudo autónomo.
De destacar, porém, a importância do professor como “construtor de andaimes”,
sobretudo ao nível do 1.º ciclo do Ensino Básico, no seu papel de orientador da
aprendizagem autorregulada dos alunos, durante o tempo de trabalho autónomo, a sua
planificação e avaliação.
O tempo de trabalho autónomo poderá, portanto, ser um excelente contributo para
a Diferenciação Pedagógica, na medida em que pressupõe a possibilidade de cada aluno
realizar atividades de acordo com as suas necessidades de progredir no desenvolvimento
das suas competências, mas também havendo lugar para trabalhar de acordo com os seus
interesses, ritmos e estilos de aprendizagem, sem descurar a importância do trabalho a
pares e da entreajuda (Pinto, 2008).
O conhecimento e aplicação das conclusões da investigação acerca da
aprendizagem autorregulada, pode ser uma via para melhorar o estilo de abordagem
pedagógica dos professores. Professores demasiadamente diretivos não promovem nos
alunos a metacognição, enquanto professores que promovam a “participação ativa na
planificação e na avaliação” contribuem ativamente para o incremento da compreensão
dos procedimentos a adotar (Ponce et al., 2006, p. 247), como referimos.
178
Os professores, no exercício da sua função, podem funcionar como promotores de
autorregulação, em oposição à postura tradicional (Campione e Armbruster, 1984).
A Aprendizagem Autorregulada é um constructo complexo, envolvendo
processos e estratégias de nível superior. É uma forma de o estudante ser decisor do seu
percurso de aprendizagem, adequando-o às suas capacidades, ritmos, dificuldades e
interesses. É ainda um processo desafiante, na medida em que o aluno, sempre de modo
consciente e deliberado, tem que gerir todos os fatores envolvidos para atingir uma meta
por si decidida, possível de ser alcançada mas desafiante.
PARTE II
METODOLOGIA
Metodologia
“Na ciência (como em outras atividades) o mais importante não é o que
chamamos científico. É o lado humano. Criou-se uma ideia de que o cientista é
isento de erro, uma espécie de ser privilegiado que apenas trilha pelos atalhos
do rigor e da exatidão.
Criou-se a ideia de que o erro é inimigo da ciência. Essa aversão pelo erro é o
mais grave dos erros. É vital errarmos, e devemos afastar o medo de errar.
Devemos manter o gosto por experimentar, mesmo cometendo falhas.
Não podemos ter medo de não saber.
O que devemos recear é o não termos inquietação para passarmos a saber”.
(Mia Couto, 2005, p. 46 )
183
Apresentação
Convictos de que “o método científico é a arte de interrogar a natureza dos
fenómenos, ordenando os factos em relações lógicas, coerentes e objetivas que explicam
e reproduzem os factos” (Carvalho, 2002, p. 85), importa clarificar as opções
metodológicas, as técnicas e os instrumentos de investigação, face à problemática que
despoleta o estudo.
Tal como refere Lima (2003), para que se realize investigação de modo científico,
deve seguir-se “um procedimento estruturado e lógico - a metodologia da investigação”
(p. 2). Este processo sistemático e cíclico possui diversas etapas, necessariamente
adequadas entre si: “o tipo de problema formulado, o enquadramento teórico utilizado e
as opções tomadas relativamente à recolha de informação” (Lima, 2003, p. 3).
Neste sentido, apresentamos a problemática geral e, no seu seguimento, as
questões de investigação, bem como as opções relativas à recolha e ao tratamento dos
dados.
A metodologia escolhida, de caráter qualitativo, é justificada face aos objetivos
do estudo, enquadrando-se no âmbito dos “estudos de caso”.
Como técnicas de recolha de dados optámos pela utilização da entrevista, da
observação e da análise documental. Para a aplicação destas técnicas, importa definir
unidades de observação e indicadores, calendarizar a intervenção, clarificar a situação do
observador e fazer opções relativas ao tratamento dos dados recolhidos.
184
1. Problemática Geral e Questões de Investigação
1.1. Problemática.
A evolução da sociedade, no seguimento do desenvolvimento industrial,
tecnológico e científico e pressionada por uma lógica de economia global, alterou a visão
de escola, do seu papel, do papel dos seus atores.
A escola, acessível a todas as crianças e adolescentes, de todos os grupos
socioculturais, passa a ter responsabilidade de, no quadro de balizas definidas pelo
Currículo Nacional, gerir estrategicamente os seus projetos curriculares, adequando-se à
realidade da comunidade que serve, aos alunos que a frequentam, considerando os
recursos de que dispõe. Sempre tendo em vista a promoção do sucesso educativo.
Depois de um período de reflexão sobre os currículos do Ensino Básico, o
Decreto-Lei n.º 6/2001 veio regulamentar esta forma autónoma de gerir o currículo, com
a generalização da flexibilização curricular.
A escola portuguesa tem um quadro legal de responsabilização e autonomia dos
estabelecimentos de ensino na gestão curricular, estando em sintonia com as declarações
internacionais de promoção da Escola Para Todos (Acordo de Jomtien, UNESCO, 1988)
e de respeito pela diversidade (Declaração de Salamanca, UNESCO, 1994).
Contudo, a implementação de medidas de promoção do sucesso educativo de
todos, de preocupação com a diversidade e pelo seu respeito e rentabilização, não se
esgota nos normativos legais, mas implica mudanças reais no terreno, na escola, na prática
pedagógica.
A investigação e reflexão no campo das Ciências da Educação têm reforçado a
necessidade de a escola encontrar formas de adequação aos alunos, através da Pedagogia
185
Diferenciada (Cadima, 1996; Meirieu, 1988, 2000; Perrenoud, 1995, 1997, 2000a;
Gomes, 2011a, 2011b).
A Pedagogia Diferenciada, entendida como a implementação de um conjunto de
estratégias onde as aprendizagens são explícitas e diversificadas, para que os alunos
aprendam segundo os seus próprios itinerários de apropriação do saber e do saber-fazer
(Przesmucki, 1991) é, acima de tudo, uma perspetiva que visa conseguir maximizar o
desenvolvimento das competências de todos os alunos.
Neste sentido, alguns modelos pedagógicos sugerem estratégias de organização e
gestão de atividades, de forma a criar ambientes de Pedagogia Diferenciada. São exemplo
disso o modelo High/Scope e o modelo do Movimento da Escola Moderna.
Estes modelos apresentam propostas de desenvolvimento curricular respeitadoras
da diversidade de alunos, rentabilizando as características, dificuldades, interesses e
estilos de aprendizagens individuais. Para isso, sugerem formas de organização das
atividades letivas de modo a que os alunos trabalhem de acordo com as suas necessidades
e ritmos, diversificando-as também para corresponder aos estilos individuais de
aprendizagem.
O trabalho autónomo ou individual (nomenclatura variável nos modelos),
orientado por um plano individual que tem em conta as necessidades do aluno, pode ser
negociado entre professor/turma e aluno, a diversos níveis de profundidade, de acordo
com o modelo e com a autonomia desenvolvida pelo aluno e constitui-se como um
importante recurso de diferenciação.
O modelo High/Scope, baseado nas teorias de Jean Piaget, surge nos Estados
Unidos da América, nos anos 60, defendendo a aprendizagem ativa, integrando
186
preocupações com o desenvolvimento intelectual, social e emocional das crianças
(Oliveira-Formosinho, 2007).
As expressões “aprendizagem ativa” ou “aprendizagem pela ação” (Hohmann &
Weikart, 2007) designam a ação do indivíduo sobre os objetos, as pessoas, as ideias e os
acontecimentos (Brickman & Taylor, 1996).
Com este modelo tenta-se proporcionar experiências-chave altamente
significativas, despoletadoras de aprendizagem, passando pela exploração de materiais
diversificados (Oliveira-Formosinho, 2007; Hohmann & Weikart, 2007; Brickman &
Taylor, 1996).
As atividades organizam-se enquadradas numa rotina diária consistente e estável
que contempla os tempos de acolhimento, de planear-fazer-rever, em pequeno-grupo, em
grande grupo, de exterior, transições, etc (High/Scope Educational Research Foundation
[HSERF], 2008).
A sala de aula divide-se em cinco ou mais áreas de interesse. Cada área tem
recursos diversificados e facilmente acessíveis, para que as crianças concretizem os seus
planos, em função dos interesses e necessidades (Brickman & Taylor, 1996; HSERF,
2008).
A principal função do professor, neste modelo, é apoiar as crianças, encorajando-
as nas suas descobertas e na solução dos seus problemas. “O papel do adulto não é dirigir
ou controlar o processo de aprendizagem, mas antes apoiá-lo” (Brickman & Taylor, 1996,
p. 4).
Como modelo de Pedagogia Diferenciada, as suas principais virtudes assentam na
possibilidade de a criança se envolver ativamente na aprendizagem, de acordo com o seu
187
ritmo, os seus interesses e as suas necessidades, de acordo com uma securizante rotina
diária, preenchida de experiências-chave propostas pelo professor (Oliveira-Formosinho,
2007; Hohmann & Weikart, 2007; Brickman & Taylor, 1996; HSERF, 2008)
O modelo do Movimento da Escola Moderna tem vindo a ser desenvolvido,
através da construção de “propostas de educação e de formação democrática” (…),
“partindo das necessidades e interesses dos alunos e partilhando com eles a gestão dos
tempos, dos recursos e dos conteúdos escolares” (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 29).
É um modelo que propõe a diversificação de estratégias pedagógicas e recusa o
trabalho simultâneo constante (Santana, 2000b). Baseia-se no envolvimento afetivo entre
os alunos da turma, necessário para a criação de um ambiente securizante e acolhedor.
Sanches (1998) refere que a escola é uma comunidade e, como tal, necessita de “laços de
proximidade, de aceitação dos outros, das suas necessidades e pontos de vista” (González,
2002, p. 168).
Desta forma, propõe-se a construção de uma relação pedagógica onde imperem a
entreajuda e o estímulo à autonomia em construção, a partir de uma plataforma de
confiança e respeito. Como refere González (2002), “a afetividade é percebida como uma
componente imprescindível para o desenvolvimento emocional equilibrado das crianças
e dos jovens” (p. 105).
Do mesmo modo que se cultiva a confiança, o respeito e a afetividade repugnam-
se a subordinação, a dependência e a obediência cega, por parte dos alunos. Tais valores
não são compatíveis com o espírito democrático, de interajuda e de partilha de poder, que
se pretende fomentar (Pinto, 2008).
188
Uma ilustração deste aspeto é a redução da intervenção discursiva do professor,
como refere Sérgio Niza (1998), ao afirmar que “há duas coisas terríveis na profissão
docente: essa espécie de omnipotência do professor e o discurso, a vontade de falar . . .
Nós no Movimento aprendemos que estas duas coisas têm que ser dominadas por nós”
(González, 2002, p. 108).
Este controlo deliberado do protagonismo do professor é determinante, uma vez
que permite que os alunos experimentem e desenvolvam, eles próprios, competências de
discurso e de gestão de sessões coletivas e, por outro lado, possibilita que haja mais tempo
para atividades concretas dos alunos. Como refere González (2002), nesta organização
social das aprendizagens joga-se “o equilíbrio entre a não diretividade e a diretividade”,
instituindo “uma organização democrática que permite ao professor uma visão mais
ampla e equilibrada da realidade e o respeito pelos diferentes ritmos e os estilos de
aprendizagem” (p. 109).
Por outro lado, “promovendo as aprendizagens em interação comunicativa, faz-se
avançar o desenvolvimento psicológico e educacional” (Niza, 1998a, p.80) das crianças,
à luz da teoria da aprendizagem de Vygotsky. Deste modo, dar oportunidade às crianças
de apresentarem as suas produções e aprenderem em interação é proporcionar-lhes o
crescimento académico, intelectual, pessoal e cívico (Gomes, 2011a).
Como modelo de Pedagogia Diferenciada, as suas principais virtudes residem na
diferenciação do trabalho de cada aluno, com a utilização do PIT (Plano Individual de
Trabalho) e na sua concretização no Tempo de Estudo Autónomo, durante o qual cada
um trabalha, ao seu ritmo, de acordo com os seus interesses, necessidades e face ao ponto
em que se encontra no currículo (Gomes, 2001).
189
1.2. Pergunta de partida e questões de investigação.
A pergunta de partida e as questões de investigação, perante uma dada
problemática, focalizam a atenção do investigador sobre o que deverá ser observado
durante o estudo. É a “pergunta inicial que vai orientar todo o processo. É ela que vai
orientar a estratégia de investigação” (Lima, 2003, pp. 4-5), limitando o campo de estudo
e orientando as formas de recolha de dados.
A sua definição “delimita com progressiva clareza o objeto de estudo,
funcionando como referências para a posterior definição dos rumos de investigação”
(Carmo & Ferreira, 1998, p. 45).
No presente estudo, a pergunta de partida é “como pode a organização das
atividades, em sala de aula, de acordo com a abordagem dos modelos High/Scope e do
Movimento da Escola Moderna, contribuir para a implementação da Pedagogia
Diferenciada e, desta forma, dar resposta à diversidade dos alunos?”
A pergunta de partida é subdividida em questões de investigação. As questões de
investigação subjacentes a este trabalho sintetizam-se da forma seguinte:
- Como se processa a organização do trabalho segundo os modelos pedagógicos
High/Scope e do Movimento da Escola Moderna?
- Como é implementado o Trabalho Autónomo/Individual, de acordo com estes
modelos pedagógicos?
190
- Qual é o papel do aluno no Trabalho Autónomo/Individual?
- Qual é o papel do professor no Trabalho Autónomo/Individual dos alunos?
- Quais as semelhanças e diferenças entre as propostas dos dois modelos
pedagógicos?
- Qual a contribuição de cada um destes modelos para uma Pedagogia
Diferenciada?
- De que forma podem contribuir para uma escolaridade de sucesso?
1.3. Objetivos.
É nossa intenção perceber como pode o professor, com a(s) sua(s) turma(s),
implementar a Pedagogia Diferenciada, respeitadora e valorizadora da diferença
interindividual, na peugada da Escola Para Todos.
Queremos perceber as propostas dos modelos de Pedagogia Diferenciada
(High/Scope e do MEM), sobretudo no tocante ao Tempo de Trabalho Individual (o
planear-fazer-rever, do modelo High/Scope) ou Tempo de Estudo Autónomo (no modelo
do MEM) e de que forma estas estratégias são uma oportunidade de Pedagogia
Diferenciada.
Uma vez percebidas as vantagens da Pedagogia Diferenciada, queremos com este
estudo, contribuir para o progresso da investigação em Ciências da Educação,
designadamente no âmbito do Desenvolvimento Curricular, tendo em vista um mais
generalizado sucesso educativo, na escolarização da sociedade.
191
Por outro lado, pretendemos contribuir para tornar possível a aplicabilidade das
propostas destes modelos, na Escola portuguesa, tendo em vista a melhoria das práticas
pedagógicas e as aprendizagens dos alunos.
192
2. Opções metodológicas
Nas palavras de Bell (1997), uma vez decididos o tema e os objetivos do trabalho
de investigação, surgirá a necessidade de pensar a forma de recolher a informação
pretendida. Assim, “a pergunta inicial não será que «metodologia», mas «o que preciso
saber e porquê?». Só então se questionará «qual a melhor maneira de recolher dados?» ”
(p. 85).
Parece ser aceite, pela generalidade dos investigadores em educação, que a
escolha de uma dada metodologia de investigação é conformada pelos objetivos e em
particular pelas questões a que se pretende responder (Matos & Carreira, 1994, p. 20).
Motiva-nos a procura de «respostas» a partir da observação da «vida na aula»,
através da análise da organização das atividades à luz dos modelos de Pedagogia
Diferenciada, junto dos intervenientes - professores e alunos. Parece-nos, portanto, que o
estudo a realizar deve enquadrar-se no âmbito dos «estudos sociográficos ou descritivos»,
“em que a intenção é descrever rigorosamente e claramente um dado objeto de estudo na
sua estrutura e no seu funcionamento” (Carmo e Ferreira, 1998, p. 47).
Tal como referem Bogdan e Biklen (1994), o objetivo dos investigadores
qualitativos é o de “melhor compreender o comportamento e a experiência humanos.
Tentam compreender o processo mediante o qual as pessoas constroem significados e
descrever em que consistem esses mesmos significados” (p. 70).
Nos estudos qualitativos, o investigador tem uma ideia daquilo que está a fazer,
mas não estabelece previamente um procedimento pormenorizado. É mais o trabalho em
si que estrutura a investigação (Bogdan & Taylor, 1992, pp. 38-44).
193
Este trabalho de investigação enquadra-se dentro da chamada investigação
qualitativa, considerando este como “um termo genérico que agrupa as diversas
estratégias de investigação (...), os dados recolhidos são designados qualitativos, o que
significa ricos em pormenores descritivos” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 16).
2.1. Estudos de Casos.
Yin (1989) define «estudo de caso» como uma “abordagem empírica que investiga
um fenómeno atual no seu contexto real, quando os limites entre determinados fenómenos
e o seu contexto não são claramente evidentes e no qual são utilizadas muitas fontes de
dados” (Carmo e Ferreira, 1998, p. 216).
Considerando que as questões de investigação deste trabalho são do tipo «como?»,
é o estudo de caso uma metodologia recomendada. Yin (1989), põe em evidência que “o
estudo de caso constitui a estratégia preferida quando se quer responder a questões de
«como»; o investigador não pode exercer controlo sobre os acontecimentos e o estudo
focaliza-se na investigação de um fenómeno atual no seu próprio contexto” (Carmo e
Ferreira, 1998, p. 216).
O estudo de caso é, assim, uma metodologia adequada quando, como neste caso
concreto, se pretende a exploração e descrição de casos únicos, com a recolha de dados
de natureza qualitativa e não se persegue a confirmação de nenhuma hipótese, nem a
generalização.
O estudo de caso é adequado quando o fenómeno em estudo não se pode isolar do
seu contexto, na medida em que oferece um meio de investigar fenómenos imersos em
194
unidades sociais complexas que incluem múltiplos elementos potencialmente importantes
para a compreensão desse fenómeno (Matos & Carreira, 1994).
Acrescente-se, ainda, que “o método de estudo de caso é especialmente indicado
para investigadores isolados” (Bell, 1997, p. 22), proporcionando uma oportunidade para
estudar, de uma forma relativamente aprofundada determinados aspetos de uma
questão/problema, em relativamente pouco tempo. É muito mais do que uma história ou
descrição de acontecimentos e circunstâncias. Como em qualquer outra investigação, os
dados são recolhidos sistematicamente, interessando-se sobretudo pela interação de
fatores e acontecimentos. A observação e a entrevista são as técnicas frequentemente
utilizadas nesta metodologia de estudo de caso qualitativo (Bell, 1997, p. 23).
A grande vantagem dos estudos de caso é permitir que o investigador se concentre
no(s) caso(s) específico(s) e possa identificar os diversos processos interativos,
observando, questionando, estudando. Centra-se na procura de características específicas
e particulares, nas vantagens e dificuldades, etc..
Merriam (1988, pp. 11-13) caracteriza o estudo de caso como uma descrição
analítica, intensiva, holística e globalizante de uma entidade bem definida, um fenómeno
único ou uma entidade social única.
Speller e colaboradores (2002) referem que as questões de compreensão são
características de estudos que pretendem descrever como é sentida e vivida uma
determinada experiência, procurando conhecer em detalhe os problemas. De acordo com
os autores, neste tipo de estudo, o investigador não tem, inicialmente, uma ideia muito
clara acerca daquilo que irá encontrar, e por isso as metodologias utilizadas para a recolha
195
de dados são geralmente diversas, incluindo entrevistas em profundidade, histórias de
vida, estratégias de observação participante ou outras formas de análise intensiva da
situação. Defendem ainda que, nestes estudos, não é necessária uma grande amostra, mas
é essencial uma boa escolha dos informantes, optando por participantes com uma
experiência rica.
Os críticos desta metodologia de investigação apontam o problema da
representatividade / generalização. Convém explicitar que o objetivo não é a
generalização, mas “o estudo pode ser relatado de forma a permitir aos membros de
grupos semelhantes reconhecer dificuldades e, possivelmente, ver formas de solução de
problemas semelhantes no seu próprio grupo/caso” (Bell, 1997, p. 25).
Stake (1978) sugere o conceito de generalização naturalista ao argumentar que
existe nas pessoas uma tendência geral em encontrar modelos que sirvam de explicação
para os acontecimentos que as rodeiam, bem como para a sua própria experiência. O
processo de generalização naturalista acontece porque se reconhece haver semelhança nas
situações, fenómenos e objetos de análise – embora em diferentes contextos.
Uma posição semelhante consiste em admitir que nos estudos de caso a
generalização é realizada pelo leitor, na medida em que lhe são colocados à disposição
elementos que pode interpretar à luz da sua experiência. É o leitor das conclusões do
estudo de caso que deve interrogar o texto e questionar o que há no referido estudo que
possa ser aplicado à sua própria situação e o que claramente não poderá ser aplicado.
196
Nesta perspetiva, em última análise, a generalização está relacionada com aquilo que o
leitor pretende aprender com o estudo de caso (Matos & Carreira, 1994).
Yin (cit. Ponte, 1994) contrapõe esta questão referindo que este tipo de estudo não
generaliza “em extensão mas sim para a teoria” ajuda a levar ao aparecimento de novas
teorias ou, até mesmo, “confirmar ou infirmar as teorias existentes” (p. 10).
“Os estudos em educação (...) constituem uma «ciência prática», na medida em
que não queremos apenas conhecer factos e compreender as relações em nome do saber,
mas também pretendemos conhecer e compreender com o objetivo de sermos capazes de
agir e agir «melhor» do que anteriormente” (Langeveld, 1965, p. 4).
Na tentativa de encontrar respostas para as questões enunciadas, pareceu-nos útil
o «mergulho» na sala de aula, no ambiente “natural” onde “os fenómenos se verificam”
(Hammersley & Atkinson, 1994, p. 20), através da realização de dois estudos de caso
realizados simultaneamente em locais diferentes (diferentes modelos pedagógicos). Esta
classificação tem como base os pressupostos de Bogdan e Biklen (1994). O investigador,
assim, “observa o que se passa, escuta o que se diz, pergunta coisas; ou seja, recolhe todo
o tipo de dados acessíveis para poder projetar luz sobre o tema que decidiu estudar
(Hammersley & Atkinson, 1994, p. 15).
Em suma, o estudo de caso qualitativo focaliza-se numa determinada situação,
acontecimentos e fenómenos; o produto final é uma descrição do objeto estudado; é
holístico porque tem em conta a realidade na sua globalidade. Nos estudos de caso, é dada
uma maior importância aos processos do que aos produtos, à compreensão e à
interpretação (Carmo & Ferreira, 1998, p. 217). É descritivo, porque tem em conta o
fenómeno, a história e outros estudos; é interpretativo, na medida em que tem em conta o
197
contexto e as diversas relações; é explicativo porque envolve descrição, explicitação e
questionamento (Pinto, 2008).
2.2. Procedimentos e Técnicas de recolha de dados.
No estudo de caso, utilizam-se diferentes técnicas de recolha de dados, tais como
a entrevista, a observação, o questionário ou a análise documental (Carmo & Ferreira,
1998).
De acordo com Yin (1988), os dados recolhidos num estudo de caso podem ser de
natureza quantitativa, qualitativa ou de ambas. Nesta investigação, recolheram-se dados
predominantemente de natureza qualitativa.
É necessário registar pormenores, dar conta de factos e de perspetivas, captar “o
interacionismo dos fenómenos” e definir as “funções que lhes estão subjacentes” (Estrela,
1992, p. 30).
Para isso, utilizámos a entrevista e a observação, que como referimos
anteriormente, se adequam à metodologia escolhida, complementadas com análise
documental.
As Entrevistas.
Moser e Kalton (1971) descrevem a entrevista como uma conversa entre um
investigador e um entrevistado que tem o objetivo de extrair determinada informação do
entrevistado. Embora possa parecer tão fácil e linear, a entrevista é uma técnica que é
necessário dominar minimamente para com ela atingir os objetivos de investigação que
se pretende.
198
Como técnica de investigação, a entrevista deve servir três propósitos (Amado,
1998):
1. é uma técnica que tem acesso às conceções das pessoas, ao não-observável:
opiniões, atitudes, representações, recordações, afetos, intenções, etc..;
2. pode ser usada para testar ou sugerir hipóteses podendo, ainda, servir para
explorar ou identificar variáveis e relações;
3. pode ser usada em conjugação com outros processos. A conjugação de métodos
de investigação permite ajuizar da coerência ou incoerência dos resultados e validar dados
obtidos pela entrevista.
Todas as entrevistas pressuporão uma relação verbal direta (frente a frente) entre
o entrevistador e o entrevistado e serão provocadas pelo investigador. Embora
comportando uma parte de artificialismo, servirão para completar as observações. Nas
entrevistas usámos guiões, permitindo a expressão do entrevistado, mas de uma forma
orientada. O guião da entrevista, com o conjunto de pontos a explorar, orienta o sentido
das questões e diálogos.
Aquando da realização das entrevistas, tentámos revelar o interesse do estudo, a
utilização que virá a fazer-se dele; preocupando-nos em fazer desaparecer os receios e
explicar o papel do entrevistado no estudo.
Optámos pela entrevista semidiretiva. “Por um lado, trata-se de permitirmos que
o próprio entrevistado estruture o seu pensamento em torno do objeto perspetivado”
199
(Ruquoy, 1997, p.85), por outro, limitando-lhe a divagação para considerações fora do
objeto de estudo.
A entrevista com guião respeita quatro momentos-chave, a saber: os preliminares,
o início da entrevista, o corpo da entrevista e o fim da entrevista.
No primeiro momento (os preliminares), intentámos pôr o interlocutor à vontade
e vencer as suas últimas apreensões, assegurando-lhe, também, a garantia da
confidencialidade. Recordámos sinteticamente os objetivos da investigação e o papel do
investigado. “Trata-se de agir de modo que o entrevistado se sinta associado à
investigação e compreenda que o seu ponto de vista é importante” (Ruquoy, 1997, p.
111).
Para o início da entrevista, escolhemos sempre uma questão introdutória que
aflore o tema central do trabalho. Durante o corpo da entrevista, surgem todas as outras
questões que se desejam abordar, colocadas de uma forma semidiretiva, de forma a
permitir ao entrevistado a estruturação do seu pensamento e a respetiva exposição,
procurando sempre centrar-se no tema e evitar desvios.
O fim da entrevista foi aproveitado para perguntar ao entrevistado se, em seu
entender, não foi omitido nada de importante e/ou pertinente, bem assim, como perceber
como decorreu a entrevista e como se sentiu o entrevistado.
Apesar do papel incontestável da entrevista, “o que as pessoas afirmam sobre as
suas práticas não é suficiente para revelar as lógicas que as subentendem (...). Embora a
200
entrevista permita aceder às representações dos sujeitos, só de forma imperfeita dá
informações sobre as suas práticas” (Ruquoy, 1997, p.88). Daí decorre a necessidade de
complementaridade com outras técnicas de recolha de dados.
Ao longo do estudo, para complementar os dados recolhidos na entrevista inicial
e nas observações, foram realizadas pequenas entrevistas, do tipo “entrevista centrada”,
com “perguntas abertas” (Carmo & Ferreira, 1998, p. 131) à professora e aos alunos.
No final, realizámos uma entrevista, com o objetivo de recolher informações
relativas à avaliação do ano com a turma, à avaliação dos alunos (progressos, etc.) e para
complementar as informações recolhidas.
A Observação.
As entrevistas fornecem elementos que revelam o entendimento que as pessoas
têm acerca do que acontece e não o que realmente acontece, daí ser usual considerar que
a observação e a entrevista se complementam.
A observação permite a contextualização de comportamentos e de perspetivas,
considerando que “observar é selecionar informação pertinente, através dos órgãos
sensoriais e com recurso à teoria e à metodologia científica, a fim de poder descrever,
interpretar” (Carmo & Ferreira, 1998, p. 97).
Com a observação, o objetivo foi detetar práticas e perspetivas face à Pedagogia
Diferenciada, designadamente no tocante à organização das atividades, interessando a
situação e os detalhes, com vista a uma posterior interpretação “situada” (Estrela, 1992,
p. 33).
201
A observação permite uma atenção centrada no registo dos “incidentes”, de algum
modo relacionados com a problemática enunciada. Colocado à parte da turma,
procurámos uma atenção seletiva (Erickson, 1989), registando os fenómenos relevantes
para a compreensão e futura descrição dos casos estudados.
A Análise Documental.
De acordo com Yin (1989), os dados recolhidos pela análise documental podem
ser ricos, embora devam ser analisados em conjunto com outras fontes de informações,
permitindo assim verificar a sua exatidão.
Segundo Valles (1997) a investigação documental é uma ferramenta importante
no campo da sociologia, dando como exemplos, os sociólogos Marx, Durkheim e Weber
que produziram estudos importantes recorrendo a ela.
No que respeita ao uso dos documentos disponíveis, Valles (1997) recomenda:
O uso que o investigador social faça da documentação disponível, deverá ir
acompanhado da correspondente avaliação e interpretação do material
documental. O uso vantajoso desta singular fonte de informação passa,
necessariamente, pelo reconhecimento dos seus limites. Pois estes, como as
vantagens, são sempre relativos.
Depende de qual seja o propósito do estudo e das decisões de desenho adotadas.
Uma vez mais, o desenho (que é tanto como evocar a imaginação sociológica) se
nos apresenta como a chave para tirar o máximo proveito dos sempre limitados
recursos da investigação (p. 131).
202
A informação que os documentos contêm, de acordo com Olabuénaga (2003),
podem não permitir respostas completas às nossas questões, mas, a partir de uma análise
atenta, orientada por um princípio organizador, podem ser retiradas interpretações
suficientemente contrastadas que possibilitem captar o sentido e o significado que
encerram.
2.3. Delimitação do campo de observação.
Para selecionar-se um método de observação é imperativo decidir o que pretende
observar-se, o que não é assim tão fácil. É impossível registar tudo, daí que se tenha que
tomar decisões em relação ao que observar: se o conteúdo, se o processo, as interações,
determinados aspetos específicos (Bell, 1997).
Durkheim (1980) considera que para melhor captar o objeto de estudos é preciso
delimitar o seu campo e, nesse sentido, Raymond Quivy (1992) compara o processo de
pesquisa nas Ciências Sociais ao da prospeção petrolífera. Da mesma forma que qualquer
perfuração no terreno é precedida de um estudo geológico prévio, “mergulhar cegamente
num processo de recolha de dados sem delimitar minimamente o objeto de estudo resulta
numa perda de tempo e energias” (Carmo & Ferreira, 1998, p. 44).
Na intenção de recolher dados que permitissem reflexão acerca da temática
abordada, propusemo-nos observar duas turmas em que fossem experimentados dois
modelos pedagógicos distintos: o modelo High/Scope e o modelo do Movimento da
Escola Moderna.
Os Modelos High/Scope e da Escola Moderna são modelos de Pedagogia
Diferenciada, na medida em que propõem a organização das atividades e a gestão das
203
rotinas da sala de aula em função das aprendizagens dos alunos, considerados na sua
individualidade, no que diz respeito a necessidades face ao currículo, aos interesses e aos
ritmos e estilos de aprendizagens. São modelos que preconizam um papel ativo na
planificação, monitorização e avaliação das atividades desenvolvidas na sala de aula,
tornando os alunos gradualmente conscientes do papel que desempenham nas suas
aprendizagens.
O Modelo High/Scope propõe um tempo de planear-fazer-rever (ou trabalho
individual); o Modelo do Movimento da Escola Moderna defende a existência de um
tempo de Estudo Autónomo, na agenda semanal. Em ambos é pressuposto que os alunos
tenham um tempo específico para trabalho individual, a pares ou em pequenos grupos, no
qual são responsáveis pela planificação, desenvolvimento e avaliação do trabalho
desenvolvido.
Por tudo o que foi exposto, estes modelos que estão em implementação em
Portugal, são modelos de Pedagogia Diferenciada, fazendo sentido estudá-los para a
prossecução dos nossos objetivos.
Optámos por observar turmas do 1.º Ciclo do Ensino Básico por, a este nível, se
verificar a monodocência e, por inerência, um maior tempo de trabalho semanal sem
«variação de atores». Por outro lado, é aqui considerado, também, o critério da
familiaridade. “É vantajoso que o trabalho a empreender se enraíze na experiência
anterior do investigador” (Carmo & Ferreira, 1998, p. 45).
204
Assim, na prossecução dos objetivos deste trabalho, julgámos ser importante
recolher dados relativos a:
- caracterização da turma;
- organização física da sala de aula;
- atividades curriculares propostas e desenvolvidas;
- organização das atividades;
- trabalho autónomo (implementação, desenvolvimento, monitorização e
avaliação).
Na investigação qualitativa, a fonte direta dos dados é o ambiente natural,
constituindo o investigador o instrumento principal.
Os dados são recolhidos em situação e complementados pela informação que se
obtém através do contacto direto. Frequentando o local estudado, as ações podem ser
melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência.
2.4. Definição de unidades de observação.
De acordo com Merriam (1988), a escolha da unidade de análise ou caso deve ser
cuidada, existindo para tal várias técnicas, sendo as não probabilísticas as mais
apropriadas.
As amostras não probabilísticas podem ser selecionadas tendo como base critérios
de escolha intencional, sendo frequentemente utilizadas para fazer estudos em
205
profundidade, devendo a sua dimensão ou elementos serem escolhidos em função dos
objetivos do estudo (Carmo & Ferreira, 1998).
Planeámos acompanhar a “vida escolar” de duas turmas do 4.º ano do 1.º ciclo do
Ensino Básico, tendo em vista a problemática enunciada e a Pedagogia Diferenciada. O
plano foi aberto, de modo a poder operacionalizar-se em adaptabilidade com o que, no
contexto, a evolução da recolha de dados viesse a oferecer.
As Professoras.
As práticas pedagógicas das professoras escolhidas para o presente estudo foram
determinantes, uma vez que pretendíamos estudar a implementação de modelos de
Pedagogia Diferenciada.
Neste sentido, escolhemos duas professoras: uma professora (A) que implementa
o modelo High/Scope e uma professora (B) que implementa o modelo do Movimento da
Escola Moderna. Contudo, procurámos professoras que tivessem beneficiado de
formação inicial com o modelo, complementada com formação contínua no modelo e que
acompanhassem a turma, desde o 1.º ano, na implementação dos respetivos modelos.
A professora (A), que escolhemos por implementar o modelo High/Scope,
realizou os seus primeiros anos de ano serviço numa escola pioneira na implementação
do modelo High/Scope em Portugal. Também tem frequentado ações de formação
contínua e conferências sobre o modelo, inclusive através da plataforma e-learning
disponibilizada pela High/Scope Educational Research Foundation aos seus membros.
206
A Professora (B), que implementa o Modelo do MEM, tem formação e
implementa o modelo; participa regularmente no grupo cooperativo e no congresso anual,
inclusive com a apresentação/partilha das suas práticas. Sempre trabalhou segundo este
modelo.
As Turmas.
As turmas a observar são as das professoras escolhidas, depois de feitos diversos
contactos, designadamente com associações e movimentos que manifestam preocupações
com esta temática, onde é possível observar o funcionamento nos modelos pedagógicos
referidos. Em função desses contactos e seguindo a sugestão de Bell (1997, p. 37) de
decidir se os indivíduos a investigar iriam colaborar e ter tempo para recolher e analisar
as informações, optámos por estas turmas.
As duas turmas estudadas são de 4.º ano. A turma A é constituída por 11 alunos e
funciona numa escola da freguesia de Cascais. A turma B é constituída por 12 alunos e
funciona numa escola da freguesia de Algueirão/Mem-Martins.
De acordo com a caracterização prévia das turmas, pelas respetivas professoras,
os alunos da turma A “gostam da Área da Expressão Plástica, eles gostam de mexer no
material. (…) São muito virados, na maioria, para a Matemática e não tanto para a Língua
Portuguesa. (…) A turma tem elementos que são muito preguiçosos” (Entrevista 1-A).
No quadro que se segue apresenta-se, sumariamente, uma visão global acerca dos
alunos da turma A.
Quadro 4 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma A
Aluno Idade Língua Matemática Estudo do Meio
207
1 9
Precisa melhorar a fluência e
expressividade;
Dificuldades de ortografia;
Precisa concentrar-se na
escrita.
Dificuldades: números e
operações; cálculo mental;
interpretação de problemas
Motivada
2 9
Precisa melhorar a fluência e
expressividade;
Não aplica algumas regras
gramaticais da Língua
Portuguesa, transpondo este
problema também para a
escrita, revelando
dificuldades sérias de
ortografia e coesão textual.
Dificuldades: números e
operações; cálculo mental;
interpretação de problemas
Motivada
3 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente. As
dificuldades na ortografia
estão a ser superadas.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
4 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
5 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente, embora
timidamente. Constrói textos
coerentes e ricos, embora
revele resistência à
construção de textos
maiores.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
208
6 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente, embora
timidamente.
Motivado.
Sucesso.
Interessado, mas pouco
participativo.
7 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Precisa de escrever textos
mais longos.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
8 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Dá erros ortográficos,
devendo investir mais na
leitura e na escrita
autocorretiva.
Motivada.
Sucesso.
Motivada.
9 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Constrói textos coerentes e
ricos.
Motivada.
Sucesso.
Motivada.
10 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Constrói textos coerentes e
ricos.
Motivada.
Sucesso.
Motivada.
11 Espetro autista. Nunca foi observado nas aulas
A turma B “é um bocadinho especial. (…) Tem um grupo de alunos que têm
algumas dificuldades relativas às atitudes e aos comportamentos depois; tem um grupo
de alunos que, embora possa ter algumas dificuldades de comportamento, mas que têm
algumas dificuldades a nível de aprendizagem” (Entrevista 1-B).
Apresenta-se, de seguida, um quadro com uma síntese da situação dos alunos face
ao currículo.
Quadro 5 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma B
Aluno Idade Língua Portuguesa Matemática Estudo do Meio
1 9
Boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de
textos.
Bom desenvolvimento ao
nível do raciocínio lógico.
Precisa de treinar a invenção
de problemas.
Precisa de ler, escrever e
fazer esquemas para
aperfeiçoar as técnicas de
estudo e criar relações.
2 9
Boa capacidade de leitura e
interpretação e média
capacidade de produção
escrita. É criativo.
Apresenta facilidade em criar
esquemas e diversificar
estratégias para resolver
problemas. Precisa de treinar
a criação de problemas e a
leitura de números com
muitos algarismos.
Precisa de aperfeiçoar a
elaboração de textos de cariz
científico-explicativo.
209
3 9
Boa capacidade de leitura e
interpretação. Por vezes,
precisa de ler em voz alta
para compreender. Precisa
de formalizar mais a escrita e
melhorar o encadeamento de
ideias.
Tem correspondido
razoavelmente aos assuntos
trabalhados. Precisa de
treinar a leitura de números
com muitos algarismos.
Demostra gosto por aprender
coisas novas. Precisa de
aperfeiçoar a elaboração de
textos de cariz científico-
explicativo.
4 9
Gosta mais de ler do que de
escrever, precisando de ser
muito incentiva para a escrita.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Precisa de ser mais
persistentes no estudo,
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
5 9
Satisfatória capacidade de
leitura e interpretação de
textos e capacidade média de
produção escrita. Por vezes,
não identifica os seus
próprios erros.
Corresponde de forma
mediana aos assuntos
trabalhados. Tem dificuldade
em se aproprias dos
exemplos dados em coletivo,
para utilizar nas suas
atividades individuais.
Precisa de aperfeiçoar a
elaboração de textos de cariz
científico-explicativo.
6 9
Comete irregularidades
ortográficas comuns, mas
tem vindo a progredir na
capacidade
autoaperfeiçoamento de
textos.
Muito interessa, apresenta
bom cálculo mental. Nem
sempre dispõe de estratégias
adequadas para resolver as
situações, sobretudo se
envolverem tabelas e
esquemas.
Precisa de aperfeiçoar a
elaboração de textos de cariz
científico-explicativo.
7 9
Boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de
textos. Hesita na leitura de
livros e textos extensos.
Precisa de formalizar mais a
escrita.
Bom raciocínio lógico, um
bom cálculo aritmético e
mental. É rápido e claro e
desenvolvido nos seus
raciocínios
Precisa de ser um pouco
mais persistente no estudo,
escrevendo e/ou
esquematizando os temas
trabalhados
8 9
Boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de
textos. Precisa de treinar o
texto explicativo.
Ainda demora muito na
resolução de situações
problemáticas, mas já tem
mais facilidade em
diversificar estratégias.
Tem gosto e entusiasmo em
temas abordados em coletivo
e em projetos. Precisa de ler
e escrever mais, assim como
esquematizar.
9 9
Lê textos e obras extensas.
Praticamente não comete
incoerências ortográficas.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Ganharia muito
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
10 9
Lê textos e obras extensas.
Praticamente não comete
incoerências ortográficas.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Ganharia muito
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
11 9
Lê textos e obras extensas.
Praticamente não comete
incoerências ortográficas.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Ganharia muito
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
12 9
Boa capacidade de leitura e
interpretação. Por vezes,
precisa de ler em voz alta
para compreender. Precisa
de formalizar mais a escrita e
melhorar o encadeamento de
ideias.
Tem correspondido
razoavelmente aos assuntos
trabalhados. Precisa de
treinar a leitura de números
com muitos algarismos.
Demostra gosto por aprender
coisas novas. Precisa de
aperfeiçoar a elaboração de
textos de cariz científico-
explicativo.
210
Os alunos das turmas são naturalmente heterogéneos entre si, no que diz respeito
às características pessoais, aos interesses, às dificuldades e necessidades de
aprendizagem, havendo alunos que durante a observação se revelaram com bastantes
dificuldades em algumas áreas curriculares, a par de alunos que, revelando facilidade
perante a maioria das aprendizagens, constantemente se desafiam e querem aprender mais
e em mais âmbitos.
Numa segunda fase, optámos por acompanhar aprofundadamente o percurso
particular de quatro alunos, cuja escolha não foi aleatória. De entre os alunos das turmas,
escolhemos os quatro que demonstraram mais evidências de maior familiaridade e que
tirassem mais partido do Trabalho Autónomo / Individual. A escolha baseou-se na nossa
perceção e na opinião da docente de cada turma.
2.5. Indicadores: Os fenómenos.
Os indicadores são construídos para atingir objetivos concretos: retratar a
realidade, nas suas facetas, revelar as perceções dos indivíduos que se pretende observar
e avaliar a intervenção com clareza e rigor. Funcionam como instrumentos de pilotagem
de informação, permitindo uma orientação mais segura no terreno.
Os fenómenos que intentaremos observar referem-se a situações e
comportamentos, atividades e tarefas, os tempos e os espaços de ação demonstrativos da
organização das atividades segundo modelos de Pedagogia Diferenciada e, portanto,
respeitadores da diversidade. Consideraremos que o critério de seleção dos
comportamentos a registar será o da pertinência.
211
Com o objetivo de recolher dados que nos permitissem retratar a realidade e as
suas múltiplas facetas, fomos construindo uma listagem de indicadores que, na fase de
tratamento de dados possibilitasse uma visibilidade mais aprofundada sobre os campos e
posterior descrição dos casos estudados.
Todos os dados foram recolhidos através de entrevistas, observação e análise
documental.
212
Indicadores/Fenómenos Técnicas de recolha de dados
Caracterização da Turma
Caracterização Geral
Casos de alunos (mais positivos e mais negativos)
Avaliação/Progressão
Organização Espacial (Espaço e Recursos)
A sala de aula
Materiais (Recursos: equipamentos, textos, jogos, etc.)
Atividades Curriculares
Horário / Semana Típico (rotinas)
Organização / distribuição de tarefas / atividades
Avaliação
Organização das atividades
Professor/turma, grupo, individual
Simultaneamente/iguais, diferentes em simultâneo,
diferentes em tempos diferentes
Plano de trabalho: decisão do professor, negociação
prof/aluno, decisão do aluno
Estratégias: fundamentação da decisão/avaliação de pré-
requisitos, acompanhamento, avaliação final
Alunos
Interações (Comunicação)
Interação
Participação dos alunos
Papel do professor
Perspetivas Metodológica
Metodologias Preferenciais
Perspetiva de Diferenciação Pedagógica
entr inicial + Anal.Doc.
entr inicial + Anal.Doc.
entr final + Anal.Doc.
Observação + Anal.Doc.
observação
observação + Anal.Doc.
observação + Anal.Doc.
observ + entr final
observação
observação
observação
observação
observação
observação
observação
entr inicial + Anal.Doc.
entr inicial + Anal.Doc.
entr inicial + observ +
Anal.Doc.
Legenda: entr inicial = entrevista inicial (1-A) / observ = observação / Anal.Doc = análise documental
213
2.6. Calendarização das observações.
1.ª fase – Estudo exploratório: reconhecimento prévio do campo – 10 horas
(entrevista preliminar, análise documental e observação)
2.ª fase – Observação genérica acerca da organização das atividades
(implementação, monitorização, avaliação) – 30 horas
– Entrevista(s) complementar(es)
3.ª fase – Observação relativa ao Trabalho Autónomo / Trabalho Individual
(planificação / decisão das atividades, realização, monitorização e
avaliação; avaliação / evoluções) – 60 horas
– Análise documental
– Entrevista(s) final(is)
4.ª fase – Entrevista(s) aos alunos – realizadas nos finais de período do 5.º ano
(ano letivo seguinte)
1.ª fase.
Como a entrevista é uma forma de recolher dados, ela “está presente na fase
exploratória da generalidade das investigações”, como nos diz Ruquoy (in Albarello,
1997, p. 84). O mesmo autor que reflete acerca do facto de as Ciências Sociais se
interessarem pelo coletivo, questionando o interesse em interrogar o singular, defende
que “o indivíduo é investigado enquanto representante de um grupo social.” (idem, p. 85).
As entrevistas preliminares podem ser situadas perto do extremo “completamente
não estruturado do continuum de formalidade” (Bell, 1997, p. 121). Nesta fase, o
214
investigador precisa, ainda, de descobrir que tópicos e áreas são importantes. Também é
neste momento que o investigador pode imprimir uma dose de coragem para falar sobre
o que for de importância fulcral para o investigado.
Antes de iniciar a observação, realizámos uma entrevista preliminar para recolher
informações iniciais que nos permitissem o primeiro conhecimento do grupo a observar,
bem assim como um conjunto de características de alguns casos especiais de alunos; com
os objetivos de definir pontos de referência para a caracterização da turma, recolhemos
dados para uma caracterização da opinião do professor sobre aspetos da relação
pedagógica e sobre a Pedagogia Diferenciada. Através dessa entrevista pretendemos ficar
a conhecer melhor as características gerais do grupo / turma, como é que cada um dos
professores caracteriza a sua ação e como perceciona a organização das atividades na sala
de aula.
Esta entrevista inicial forneceu parâmetros, ferramentas, uma orientação geral
para os passos seguintes. Foram objetivos da entrevista inicial:
(1) Compreender as conceções dos professores acerca da Pedagogia Diferenciada
(interesse? utilidade? valor? finalidade?);
(2) Compreender como são organizadas as atividades na turma;
(3) Perceber como interpretam as propostas de organização das atividades do
Modelo de Pedagogia Diferenciada com que se identificam;
(4) Perceber como percecionam a importância do trabalho autónomo para a
liberdade e gestão da própria aprendizagem;
(5) Compreender como é preparado (diagnósticos), implementado, monitorizado
e avaliado o trabalho autónomo.
215
O guião das entrevistas iniciais e um excerto exemplificativo encontram-se como
anexos.
No Decreto-Lei 6/2001, o Ministério da Educação determina os diferentes níveis
de adequação do Currículo Nacional, estabelecendo que cada turma deve ter um Projeto
Curricular de Turma, da responsabilidade do professor titular da turma, em articulação
com o Conselho de Docentes da escola. Neste Projeto, o professor deve referir e justificar
os aspetos do Currículo Nacional que privilegiará na sua prática docente, em função das
características da turma.
Assim, os Projetos Curriculares de Turma incluem, de um modo geral, a
caracterização da turma e de cada um dos seus alunos, a forma de organização dos
momentos letivos e da sala de aula, entre outras informações relevantes para compreender
o funcionamento e as particularidades da turma em questão.
Alguns investigadores encaram este tipo de documentos oficiais das escolas ou de
outras instituições burocráticas como extremamente subjetivos, com informação
enviesada e com dados irrealistas, especialmente se tiverem como objetivo a divulgação
para o exterior. Porém, são exatamente essas propriedades que podem interessar ao
investigador, pois embora possam não transmitir a verdade pura dos factos, revelam a
forma como os vários responsáveis encaram a escola ou a situação referida nesses
documentos. São testemunhos escritos da “perspetiva oficial” das instituições, bem como
das pessoas que os redigiram ou divulgaram (Bogdan e Biklen, 1994, p.180).
216
Tal como refere Yin (1989, citado por Bressan, 2000), a utilização dos dados da
documentação deve ser cuidadosa, pois eles não podem ser encarados como registos
literais e precisos dos eventos ocorridos, devendo o seu uso ser meticuloso, de modo a
que sirva para corroborar e aumentar as evidências vindas de outras fontes.
Tendo em conta estes aspetos, considerámos pertinente a consulta e utilização da
informação do Projeto Curricular de Turma, cuja utilidade para a análise cruzada de dados
é inequívoca, especialmente para compreender alguns aspetos da organização da vida da
turma e explicitar algumas intenções da professora face a determinadas rotinas ou
atividades.
Para a recolha de dados da observação exploratória, construímos uma grade de
recolha de dados. No cabeçalho registámos o número de ordem de cada dia de observação
e a turma respetiva. No corpo da grade, registámos as horas do registo que estávamos a
fazer, o tipo de atividade e a descrição. Na coluna das observações fomos registando
algumas inferências, dúvidas que surgiram, tópicos para reflexão posterior e outras notas.
217
Quadro 6 - Exemplar de grelha de observação, não preenchida
2.ª fase.
Nesta fase fizemos uma observação genérica da organização das atividades
(implementação, monitorização e avaliação), utilizando o mesmo modelo de grade da 1.ª
fase.
Para complementar os dados recolhidos na entrevista inicial e nas observações,
foram realizadas pequenas entrevistas, do tipo “entrevista centrada”, com “perguntas
abertas” (Carmo e Ferreira, 1998, p. 131) à professora, com os seguintes objetivos:
(1) Compreender o funcionamento dos instrumentos de pilotagem do trabalho;
(2) Perceber a relação entre o currículo explícito e os Planos Individuais de
Trabalho (MEM) e os registos de avaliação (High/Scope);
(3) Clarificar regras do Tempo de Estudo Autónomo / Individual;
(4) Compreender outras atividades;
218
3.ª fase.
Foi feita a análise documental dos registos do Trabalho Autónomo/Individual dos
alunos: planeamento, realização e avaliação. De acordo com Yin (1989), este tipo de
dados pode ser rico, embora deva ser analisado em conjunto com outras fontes de
informações, permitindo assim verificar a sua exatidão.
Assim, foi feita a recolha de dados e a análise dos Planos Individuais de Trabalho
de todos os alunos da turma A e os registos acerca do Trabalho Individual realizados pela
professora da turma B, pretendendo-se recolher entre outros dados:
• De que forma cada participante (alunos, professora) se apropriou do instrumento
de registo e o utiliza;
• Se existiu evolução na relação entre a última avaliação e a planificação seguinte
do trabalho;
• Os quatro alunos que se revelaram ser uma referência na utilização do Trabalho
Autónomo/Individual.
Para registo dos dados e posterior análise, foi criada uma matriz. Esta matriz
consiste numa grelha com todos os itens relevantes do Plano Individual de Trabalho
(turma A) e dos registos da professora (turma B), para cada aluno.
Alguns dos dados registados são de natureza qualitativa, tais como as avaliações
escritas, mas outros são adequados para um tratamento de índole quantitativa, como o
número de atividades previstas ou a avaliação simples das atitudes durante o Tempo de
Estudo Autónomo / Trabalho Individual.
219
O Quadro seguinte exemplifica uma parte da matriz de registo dos dados,
preenchida com as informações constantes nos Planos Individuais de Trabalho (turma A),
referentes a um aluno. Em anexo a esta investigação, apresentaremos dois exemplares da
matriz – um exemplar sem dados e outro preenchido - em formato real para facilitar a
leitura.
Quadro 7 - Exemplar de parte da Matriz de registo dos dados do PIT, preenchida
Após ponderar quais os alunos que melhor ilustrariam uma boa rentabilização do
Trabalho Autónomo / Trabalho Individual, o assunto foi discutido informalmente com
220
cada professora, que confirmaram ter a mesma perceção a respeito desses alunos. Assim,
foram escolhidos quatro alunos e dois suplentes (para prevenir uma eventual
impossibilidade de recolha de dados), sobre os quais incidiu a nossa observação mais
focada no Tempo de Trabalho Autónomo / Individual.
Para esta fase de observação, construímos uma grelha de observação, baseando-
nos em grelhas já testadas em trabalhos de investigação congéneres (Pinto, 2008).
Esta grelha constitui um instrumento indispensável ao registo dos
comportamentos/procedimentos observáveis, realizados pelos alunos, durante o Tempo
de Estudo Autónomo.
A grelha permite o registo de observações de comportamentos/estratégias
observáveis de três alunos, em simultâneo. É composta por três grandes secções,
correspondentes às três grandes fases do trabalho individual realizado no TEA, ao longo
da semana: a planificação, a execução e a avaliação.
A coluna “Descrição” pretende reunir todos os comportamentos/procedimentos
observáveis. Existe espaço para, em cada uma das fases, acrescentar comportamentos que
não estavam previstos inicialmente na grelha.
As secções correspondentes à Planificação e à Avaliação são compostas por
comportamentos/procedimentos observáveis cuja frequência é única ou nula (acontece ou
não acontece), para cada aluno. Por esse motivo, cada comportamento/estratégia é
acompanhada de um espaço onde será registado se se verificou ou não, na coluna
“Sim/Não”. Foi ainda acrescentada, em cada uma destas secções, uma coluna denominada
“Ordem”, para registar a ordem com que é realizada cada ação, de modo a que,
posteriormente, seja possível compreender melhor o processo.
221
A secção correspondente à Execução é composta por
comportamentos/procedimentos observáveis que podem acontecer várias vezes, pelo que
inclui uma coluna, para cada aluno, de registo da “Frequência” de cada comportamento.
As três secções têm uma coluna, para cada aluno, intitulada “Observações”, onde
será posto um asterisco (*) caso haja necessidade de acrescentar alguma observação,
facilitando a análise posterior dos dados.
Quadro 8 - Exemplar de grelha de observação – Planificação (TEA/TI)
222
Quadro 9 - Exemplar de grelha de observação – Execução (TEA/TI)
223
Quadro 10 - Exemplar de grelha de observação – Avaliação (TEA/TI)
Complementámos os dados recolhidos através da observação, utilizando a grelha
apresentada, através de autorrelatos guiados dos alunos, durante o Tempo de Estudo
Autónomo / Individual.
Para o efeito, elaborámos 25 questões, a aplicar durante a realização das tarefas,
nas três fases (planificação, execução e avaliação) do trabalho. O guião e um exemplo
preenchido estão em anexo.
224
No final, realizámos uma entrevista a cada professora, para complementar as
informações recolhidas, tendo como objetivos:
(1) Aprofundar as conceções das professoras acerca da Pedagogia Diferenciada
(interesse? utilidade? valor? finalidade?);
(2) Aprofundar a identificação das professoras com os modelos;
(3) Aprofundar como as professoras caracterizam o modelo;
(4) Conhecer a formação inicial, a formação no modelo, experiência docente e o
nível de aprofundamento e/ou divergência do modelo, das professoras;
(5) Aprofundar as conceções e práticas de Tempo de Estudo Autónomo / Trabalho
Individual (planear/fazer/rever), das professoras;
(6) Conhecer o balanço que fazem das opções de organização as atividades na
turma;
(7) Perceber como interpretam a influência do modelo nos resultados obtidos
pelos alunos;
(8) Perceber que balanço fazem do trabalho autónomo, como momento promotor
da liberdade e gestão da própria aprendizagem;
(9) Perceber que alteração virão a introduzir em futuras implementações do
modelo, face ao balanço do presente ano letivo e do acompanhamento da turma
durante anos anteriores.
O guião e um excerto ilustrativo estão em anexo.
225
4.ª fase.
No decurso do ano letivo seguinte, estando os alunos a frequentar o 5.º ano de
escolaridade, aplicámos uma entrevista a cada um dos quatro alunos (mais dois suplentes)
que decidimos observar mais aproximadamente durante a fase anterior.
Com esta entrevista pretendemos:
(1) Perceber como foi a adaptação ao 5.º ano, isto é, à pluridocência, à maior
disciplinarização do currículo;
(2) Perceber que dificuldades estão a ser sentidas;
(3) Conhecer qual a perceção que os alunos têm a respeito de quais as
competências desenvolvidas no 1.º Ciclo, mobilizadas neste novo ciclo escolar;
(4) Conhecer qual a perceção que os alunos têm a respeito das vantagens que
foram sentidas, em comparação com as sentidas pelos colegas;
(5) Saber se os alunos utilizam alguma forma de autorregisto de um plano
estratégico (em casa, na escola, no ATL);
(6) Saber se o(s) aluno(s) utiliza(m) estratégias de gestão das tarefas escolares e
do tempo (tpc, estudo para momentos de avaliação formal, trabalhos, estudo
autónomo);
(7) Conhecer qual a perceção que os alunos têm a respeito das suas áreas
curriculares mais fortes e mais fracas e como se posicionam perante os seus níveis
de final de período;
226
(8) Conhecer qual a perceção que os alunos têm a respeito da influência do
TEA/TI (no 1.º Ciclo) para o sucesso/resultados no 2.º ciclo;
(9) Conhecer qual a perceção/opinião que os alunos têm acerca do funcionamento
do Estudo Acompanhado, no 2.º ciclo;
(10) Conhecer qual a perceção que os alunos têm sobre a importância do Conselho
de Cooperação (MEM) / Planear-Fazer-Rever (High/Scope) e que aspetos estes
momentos de reflexão em grande grupo poderiam ajudar a melhorar se existissem
no 2.º Ciclo;
(11) Conhecer a perceção do(s) aluno(s) acerca da influência/importância do
Trabalho de Projeto no 1.º ciclo para o seu desempenho na área curricular de Área
de Projeto, no 2.º ciclo;
2.7. Instrumentos de registo.
- Bloco de notas: registo das primeiras impressões, sob a forma de tópicos,
diagramas, memorandos;
- Diário de pesquisa: “diário de bordo” com registos em ordem cronológica de
acontecimentos relevantes (suporte informático);
- Gravações áudio (das entrevistas);
- Grades de registo;
- Fotografias (dos espaços e instrumentos pedagógicos usados nas turmas)
Apresenta-se, de seguida, um quadro síntese dos dados recolhidos, com cada tipo
de instrumentos, relativos a cada categoria.
227
Quadro 11 – Categorias, Instrumentos e Dados recolhidos
228
229
2.8. Situação de Observador.
Observámos o grupo de alunos e a professora, através de observação, para permitir
um descritivo comportamental coerente. Só interviemos no trabalho, pontualmente,
ajudando ocasionalmente um aluno ou outro e pedindo-lhes esclarecimentos acerca do
que estava a fazer (modos, razões, fins imediatos). Desta forma pudemos esclarecer, ao
longo do processo de observação, pistas levantadas por observação direta e o
levantamento de novas pistas explicativas.
Ainda assim, na maioria do tempo, a nossa presença na sala de aula foi a mais
discreta possível, procurando ficar mais ao fundo da sala. Bogdan e Biklen (1994)
consideram que “o facto de o investigador ser o segundo adulto irá alterar as relações
existentes, tornando-se difícil que a sua presença não seja intrusiva” (p. 92). Com a nossa
presença discreta ao fundo da sala e com o avançar do tempo, este efeito tendeu a reduzir-
se.
Colocámo-nos na situação de quem queria aprender e apreender as lógicas dos
atores. Procurámos manter, durante a nossa permanência no terreno, um papel visível e
por todos reconhecido de investigador, umas vezes mais distanciado outras vezes mais
próximo (pedindo esclarecimentos, tentando obter informações de alguma situação
imediatamente vivida).
O estudo de caso, como no-lo relembram Matos e Carreira (1994) não tem
características de intervenção – exige mesmo um certo distanciamento do investigador
em relação ao objeto em análise.
230
2.9. Estratégia de Observação.
Durante o período de trabalho de campo e recolha de dados, a observação foi
sistemática, ao longo do ano letivo; de uma forma intermitente, por regra uma semana
completa de cada vez.
A seleção das semanas a observar foi sempre resultado da combinação prévia com
cada professor. A observação sistemática permite pôr em relevo a coerência dos processos
e dos resultados obtidos. Realizada no meio natural permite a descrição e a quantificação
dos comportamentos.
Para realizar as observações, construímos grelhas de observação que preenchemos
diariamente. Todas as grelhas e anotações foram arquivadas por ordem cronológica.
A forma de registo da informação foi, de certa forma e em grande parte, uma
questão de preferência pessoal, nas palavras de Bell (1997). Neste sentido, para o registo
das observações das aulas das turmas, tentámos utilizar instrumentos construídos com
base em pressupostos e teorias testadas por outros investigadores e que nos permitissem
a recolha e a sistematização da informação para futuro tratamento.
Assim, para as observações de aula recorreremos a uma “Grelha para registo de
comportamentos em situação de aula”, segundo o modelo de Albano Estrela (1994), com
adaptações, onde registámos, para além da data, o tempo (hh:mm), os intervenientes, a
descrição situacional, materiais didáticos utilizados e inferências pessoais.
À medida que o estudo for evoluindo, “afunilámos” a recolha de dados, de acordo
com o interesse do estudo.
231
Segundo Bogdan e Biklen (1994), na investigação qualitativa em educação, o
investigador comporta-se mais de acordo com o viajante que não planeia do que com
aquele que o faz meticulosamente, por isso, ao longo de todo o processo fomos sempre
fazendo opções e adequações estratégicas e instrumentais.
232
3. Técnica de Análise Dos Dados: Análise de Conteúdo.
Depois das entrevistas e observações, por muito úteis que sejam as tabelas e
grelhas, estas não registam as emoções, tensões e intenções escondidas. É necessário
descobrir relações entre os factos observados, entre as posições assumidas nas entrevistas
e entre estas e as observações. Todos os dados recolhidos (registados) têm pouco
significado até serem analisados e interpretados. O trabalho do investigador consiste em
procurar e descobrir semelhanças e diferenças, modelos significativos.
“O lugar ocupado pela análise de conteúdo na investigação social é cada vez
maior, nomeadamente porque oferece a possibilidade de tratar de forma metódica
informações (...) que apresentam um certo grau de profundidade e complexidade” (Quivy,
1998, p. 227)
A análise de dados tem como finalidade principal a construção de um esquema de
inteligibilidade dos campos concretos estudados. A operação básica de análise qualitativa
dos dados consiste em descobrir «categorias», isto é, classes pertinentes de ações, pessoas
e acontecimentos. Depois, são definidas as suas propriedades específicas e constrói-se um
conjunto de relações entre as classes.
Segundo os teóricos da análise de conteúdo, esta permite-nos “a ultrapassagem da
incerteza” e o “enriquecimento da leitura: se um olhar imediato, espontâneo, é já fecundo,
não poderá uma leitura atenta, aumentar a produtividade e a pertinência?” (Bardin, 1977,
p. 29).
A análise de conteúdo é uma “técnica de investigação que permite fazer uma
descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações,
233
tendo por objetivo a sua interpretação” (Berelson, citado por Carmo e Ferreira, 1998, p.
251).
As fases da análise de conteúdo são três, a saber: a pré-análise, a exploração do
material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação (Bardin, 1977, p.
95).
A primeira fase, a pré-análise, corresponde à organização, a um período de
intuições, mas tem por objetivo sistematizar as ideias iniciais. As grandes missões desta
fase são a formulação de hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que
fundamentem a interpretação final. Dentro desta fase, a primeira atividade é a leitura
«flutuante», estabelecer o contacto com os documentos a analisar e deixar-se evadir das
impressões e orientações. Gradualmente, vão surgindo hipóteses, projeções de teorias
sobre o material.
A fase da exploração do material, a mais longa e fastidiosa, consistirá na
administração das opções tomadas decorrentes da primeira fase.
No passo seguinte, o tratamento dos resultados obtidos e interpretação, os
resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos. Operações
estatísticas simples permitirão o estabelecimento de quadros de resultados, diagramas,
figuras e modelos, pondo a relevo as informações fornecidas pela análise. (Bardin, 1977).
234
É necessário enquadrar a análise dentro de um quadro teórico. Tratar o material é
codificá-lo, transformando os dados brutos do texto permitindo uma representação do
conteúdo.
Para nos auxiliar na análise de conteúdo, recorremos ao software NVivo 9 -
Qualitative Data Analysis Software -, que nos auxiliou na classificação dos dados
recolhidos e, posteriormente, na sua análise.
PARTE III
RECOLHA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Modelos de Pedagogia Diferenciada
239
Apresentação
Neste capítulo, apresentamos dois modelos de Pedagogia Diferenciada, na sua
proposta para o 1.º ciclo: o modelo High/Scope e o modelo do Movimento da Escola
Moderna.
De acordo com Joyce e Weil (1985), a descrição dos modelos pedagógicos deve
compreender as seguintes secções: introdução ao modelo, o modelo, aplicação e efeitos
didáticos e educativos.
Do nosso ponto de vista, antes da descrição dos modelos, é oportuna uma
apresentação das Associações que suportam a atualização de cada modelo e a
correspondente formação dos professores.
1. O Modelo High/Scope
O Modelo High/Scope é uma abordagem aberta, de teorias de desenvolvimento e
práticas educacionais, que se baseia no desenvolvimento natural das crianças. É um
enfoque educativo orientado para o desenvolvimento da criança e da sua aprendizagem,
integrando as perspetivas intelectual, social e emocional (Epstein, 2007).
Baseado nas teorias de Jean Piaget (1896-1980) acerca do desenvolvimento
infantil, o Modelo High/Scope insere-se numa abordagem interacionista/construtivista do
desenvolvimento. Centrado no desenvolvimento da criança em termos de estádios
sequenciais, considera a criança como aprendiz ativo que aprende melhor a partir das
atividades que ela mesmo planeia, desenvolve e sobre as quais reflete (Epstein, 2003).
“Cada estádio representa uma estrutura qualitativa própria que, por sua vez, forma uma
sequência invariante de desenvolvimento universal” (Guerreiro, 2006, p. 33).
240
Partindo da abordagem piagetiana, “a abordagem educational do High/Scope
enfatiza a «aprendizagem participativa ativa»” (Epstein, 2007, p. 1), ou seja “as crianças
aprendem fazendo” (Fewson, 2008, p. 10). Esta «aprendizagem pela ação» designa “a
ação do sujeito sobre os objetos, as pessoas, as ideias e os acontecimentos” (Epstein,
2007, p. 1). Para que a aprendizagem aconteça, é necessário proporcionar inúmeras
oportunidades de ação («experiências-chave») a fim de que o sujeito realize experiências
altamente significativas e possa explorar diversos materiais (Brickman & Taylor, 1996;
Hohmann & Weikart, 2007).
Nesta perspetiva, os adultos organizam as áreas de interesse, no ambiente de
aprendizagem; mantém a rotina diária que permite às crianças o planeamento e a
realização das suas próprias atividades; e juntam-se às atividades das crianças para as
ajudar a refletir. Para além disso, os adultos encorajam as crianças a envolverem-se em
experiências-chave, ajudam-nas a aprender a fazer escolhas, a resolver problemas e a
optar por atividades que promovam o desenvolvimento intelectual, social e físico
(Fewson, 2008). Ao longo de décadas de investigação (Schweinhart & Weikart, 1999;
Evans, 1999; Peyton, 2008), tem-se demonstrado que o modelo tem resultados positivos,
potenciando significativamente as oportunidades de vida das crianças. Estudos têm
comparado os resultados de crianças de diferentes proveniências socioculturais, sendo
que as que beneficiam do modelo High/Scope revelam um desenvolvimento superior
(Epstein, 2003, p. 2). Quando adultos, as pessoas que beneficiaram do modelo
High/Scope na sua escolarização, têm profissões mais bem pagas (Epstein, 2003, p. 3).
241
1.1. A Fundação High/Scope.
A High/Scope Educational Research Foundation, sediada no Michigan, nos
Estados Unidos da América, é a fundação que está na origem do modelo e que continua
a dar-lhe suporte, tendo sido constituída em 1970 (Epstein, 2003). Na sua atividade
regular, dinamiza a atualização do modelo, através da condução de investigação; promove
a formação dos associados; e comercializa publicações de apoio à implementação de
estratégias condizentes com os seus fundamentos.
O seu sítio de Internet disponibiliza informação diversa acerca do modelo e
possibilita, para além da formação contínua em e-learning, a comunicação e troca de
experiências entre os associados, assim como acesso a um conjunto de documentos que
testemunham a sua história.
Em Portugal, a fundação está representada na Associação High/Scope Portugal
[AHSP], criada em 2010 e sediada em Lisboa, dispondo de um centro de formação
destinado a formar professores neste modelo. Esta associação e o respetivo centro de
formação são o resultado da experiência adquirida na implementação deste modelo, em
Portugal, de uma forma sistemática, desde 2000 (AHSP, 2013).
A Formação no modelo.
A formação no modelo contempla um programa de formação inicial (Step-by-
step), organizado em três segmentos (Haque, 2009, pp. 21-22; Woodard, 2009): Básico
(fases 1 a 3); Avançado (fase 4) e Especialização (fase 5):
242
1.ª fase – Sensibilização: trata-se de uma introdução aos elementos básicos
do modelo, ajudando a melhor entender como aprende a criança e como a
aprendizagem ativa é importante. Também é feita uma abordagem à
temática da interação adulto-criança e é dada uma panorâmica geral sobre
todos os elementos do modelo;
2.ª fase – Construção do conhecimento: esta fase foca-se no ambiente de
aprendizagem e nos conteúdos curriculares; também introduz alguns
componentes mais complexos do modelo, como sejam os “Indicadores
Chave do Desenvolvimento da Criança” e a sequência “planear-fazer-
rever”;
3.ª fase – Aplicação do conhecimento: formação acerca de como aplicar a
informação das fases anteriores, incluindo a criação de planos de aula
(ideias para atividades em pequeno e em grande grupo), de acordo com os
interesses e níveis de desenvolvimento das crianças, a importância do
registo de episódios;
4.ª fase – Estudo Avançado - Programa de Desenvolvimento Profissional:
nesta fase serão aprofundadas as áreas das Artes, Ciência,
Desenvolvimento Socioemocional, Linguagem e Literacia, Matemática,
Música e Movimento.
5.ª fase: Especialização: estudo aprofundando do modelo, com uma
componente de prática supervisionada.
243
A formação, de acordo com as fases descritas, é realizável em diversas cidades
dos Estados Unidos da América e em alguns países da Europa onde o modelo está
implementado e há delegações da Fundação High/Scope. Em Portugal, a formação no
modelo é possível, como o referimos, no centro de formação da “Associação High/Scope
Portugal”, associado à Escola Raiz, em Lisboa.
Anualmente, realiza-se um Congresso Internacional onde são abordadas questões
diversas do modelo e partilhadas experiências e estudos sobre a sua implementação.
A revista da Fundação - Extensions - é publicada de dois em dois meses e
difundida pelos membros, a nível mundial, apresentando estudos realizados sobre o
modelo, experiências de implementação, sugestões sobre alguns dos aspetos
metodológicos e divulgação de iniciativas e publicações.
No sítio www.highsope.com, os membros podem aceder à plataforma de formação
à distância, bem como a aplicações diversas (acesso restrito), como por exemplo, para o
registo de episódios observados nos alunos, através da COR (Child Observation Record).
1.2. O Modelo High/Scope.
1.2.1. Introdução.
Origem
O Modelo High/Scope começou a ser estruturado nos anos sessenta, em Ypsilanti
(Michigan, Estados Unidos da América), com a denominação “Ypsilanti Perry-School
Project”, sob a direção de David P. Weikart (diretor dos Serviços Especiais de Apoio às
Escolas Públicas de Ypsilanti). Weikart tinha trabalhado como psicólogo no distrito
244
escolar de Ypsilanti, nos finais da década de 50 do séc. XX, no atendimento de crianças
com Necessidades Educativas Especiais (Hohmann, 2007; Brickman & Taylor,1996).
Esta experiência profissional motivou-o para desenvolver um programa de
educação pré-escolar que preparasse estas crianças para a entrada na escola.
Cria, então, em 1962, o Ypsilanti Perry Pre-School Project que representa a
primeira pedra do que é hoje o modelo High/Scope que, como é natural, estava
ainda muito longe da estruturação que hoje apresenta (Oliveira-Formosinho,
2007, p. 55).
A fundamentação teórica deste modelo centra-se em Piaget e na sua teoria,
defendendo que o ser humano se desenvolve mediante estádios sequenciais do
pensamento e dependendo este desenvolvimento das interações que o sujeito estabelece
com o meio ambiente. Tal como este teórico do desenvolvimento, também a abordagem
High/Scope defende que a aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento humano,
adotando a expressão “aprendizagem pela ação” (Hohmann, 2007; Brickman &
Taylor,1996; Oliveira-Formosinho, 2007) para designar a ação do sujeito sobre os
objetos, as pessoas, as ideias e os acontecimentos (Epstein, 2007).
Deste modo, é considerado um modelo cognitivo de educação (Constantino, 2001,
p. 60; Oliveira-Formosinho, 2007, p. 57), inserindo-se numa abordagem
interaccionista/construtivista do desenvolvimento (Guerreiro, 2006, p. 33), defendendo
um currículo flexível, no sentido em que atende às necessidades e particularidades de
cada aluno, mediante o respeito pelos seus interesses e propostas (Epstein, 2007).
245
A história do modelo é-nos apresentada por diversos autores (Oliveira-
Formosinho, 2007; Guerreiro, 2000, 2006; Constantino, 2001; Hohmann & Weikart,
2007), dividida em quatro importantes fases: (1) educação compensatória, (2) tarefas
piagetianas / tarefas de aceleração, (3) experiências-chave: da aceleração à construção e
(4) a criança como motor da aprendizagem, no diálogo. Neste trabalho, apresentamos o
que perspetivamos venha a ser considerada a quinta fase: em 2012, são publicados nove
volumes (Epstein, 2012b-i) com a atualização do modelo High/Scope, de onde
destacamos os “indicadores-chave de desenvolvimento” (completamente novos), para
cada área curricular (Epstein, 2012a).
Numa primeira fase, designada como «educação compensatória», o projeto
guiava-se por considerações de ordem geral, que identificavam o que queriam que o
projeto não fosse: “não queriam que fosse meramente um código de «boas maneiras e
bons costumes»; não queriam que fosse somente um apoio ao desenvolvimento
socioemocional da criança” (Oliveira-Formosinho, 2007, p. 56).
O nascimento deste modelo situa-se no Movimento da Educação Compensatória,
com preocupações com a igualdade de oportunidades educacionais, chamando a atenção
para a necessidade de se criarem condições promotoras da igualdade (Guerreiro, 2006).
“Depois de muitos estudos e debates, foi criada uma Comissão de Serviços de
Educação Especial cujo objetivo principal era promover a igualdade de oportunidades
educativas para todas as crianças, no sentido de combater precocemente o insucesso”
(Constantino, 2001, p. 60). Os pressupostos centrais são que a aprendizagem se processa
246
através da ação e não somente pela imitação, repetição ou memorização e o currículo
dirige-se ao desenvolvimento intelectual da criança (Oliveira-Formosinho, 2007).
Com o objetivo de servir as crianças em risco de bairros pobres de Ypsilanti
(Michigan) e de dar resposta às elevadas taxas de insucesso existentes nos alunos do
Ensino Secundário, começaram, então, a elaborar-se os primeiros programas dirigidos a
crianças em idade Pré-Escolar, a partir dos 3-4 anos, baseados nos estudos e teorias de
Piaget (Guerreiro, 2000).
Posteriormente, é desenvolvida uma rotina diária - plan-do-review (planear-fazer-
rever) - baseada nas tarefas piagetianas (tarefas de aceleração), dando início à segunda
fase. O adulto daria às crianças diferentes tarefas, com o intuito de promover o
desenvolvimento das estruturas próprias de cada estádio, permitindo à criança alcançar o
estádio seguinte (Guerreiro, 2000, p. 22).
Surgem nos Estados Unidos, nos anos 60, várias apresentações da obra piagetiana.
Estas influências, combinadas com o contributo de Sara Smilansky ao nível do
desenvolvimento de uma rotina diária e do ciclo planear-fazer-rever, são duas das
principais fontes para esta segunda fase (Hohmann & Weikart, 2007).
Nesta fase, o modelo, assenta em vários pressupostos (Oliveira-Formosinho,
2007, p. 57):
a) Definição do desenvolvimento psicológico como finalidade da educação;
b) Definição do papel do professor como o promotor do desenvolvimento
psicológico da criança;
247
c) Criação e utilização de tarefas e questões que promovam as estruturas próprias
de cada estádio e que permitam que a criança avance para o estádio seguinte;
d) Criação de uma rotina diária estável, incluindo o tempo do denominado
«planear-fazer-rever».
Toda a atividade do modelo se organiza em torno da preparação de tarefas que
permitam “acelerar” o desenvolvimento da criança.
A terceira fase surge nos inícios dos anos 70. Podemos encontrar no livro “A
Criança em Ação” (Hohman, Banet & Weikart, 1995) uma aprofundada descrição.
Sumariamente, esta fase contempla a organização das atividades educativas
baseadas em “experiências-chave” e numa nova conceção do papel do adulto, que deixa
de determinar tarefas, técnicas e situações de aplicação estandardizadas para, partindo da
teoria, construir a sua prática educativa com base na reflexão. “As experiências de
aprendizagem, para as crianças, devem ser ativas” (Brickman & Taylor, 1996, p. 3),
porque “as crianças aprendem fazendo” (Fewson, 2008, p. 10).
O modelo, assim concebido, “passou a ser utilizado de forma flexível com
diferentes populações de crianças – mais favorecidas e menos favorecidas – em
programas bilingues, em programas com crianças com Necessidades Educativas
Especiais, etc.” (Oliveira-Formosinho, 2007, p. 58). Existem diversas publicações que
descrevem o modelo com turmas que integram alunos com diferentes línguas maternas
(Escobar, 2013, Weiner, 2013; Hirshbein, 2013), turmas em países desfavorecidos
(Archibald, 2013, Williams, 2009; Marshal, 2007) e/ou crianças com Necessidades
Educativas Especiais (Tretjack, 2010; Downling e Mitchell, 2007).
248
Nos primeiros anos da década de oitenta do século passado, o modelo é alargado
ao nível do 1.º ciclo do Ensino Básico (Oliveira-Formosinho, 2007, p. 58; Fewson, 2008,
Hohmann, 2004).
Na quarta fase, a criança é vista como o motor da aprendizagem no diálogo
(Fewson, 2008; Constantino, 2001). Com esta fase, o papel diretivo do adulto tende a
diminuir, preconizando-se formas de atuação que permitam à criança maior ação, maior
iniciativa e maior decisão (Oliveira-Formosinho, 2007; Fewson, 2008, Hohmann, 2004,
Gavin, 2009).
Nesta fase, entende-se que o processo de aprendizagem se realiza através da
interação entre as ações da criança e o meio, implicando quatro elementos críticos, a saber
(Epstein, 2007):
1) ação direta sobre os objetos;
2) reflexão sobre as ações;
3) motivação intrínseca, invenção e produção;
4) resolução de problemas.
Foram atualizados os instrumentos PIP (Perfil de Implementação do Programa)3,
em 1989, e o COR (Registo de Observação da Criança)4, em 1992 (Constantino, 2001, p.
63). Também nesta fase, foi desenvolvido um novo texto sobre o modelo, que incorpora
os saberes construídos ao longo do tempo e o alarga a outros níveis de ensino. “Pode,
3 PIP – Program Implementation Profile (High/Scope Press, 1989)
4 COR – High/Scope Child Observation Record (High/Scope Press, 1992)
249
assim, dizer-se que a criança se tornou decisivamente o motor central do programa e que
se clarificou quer o papel do adulto quer o papel da teoria no programa curricular”
(Oliveira-Formosinho, 2007, p. 59).
Recentemente (Epstein, 2012a), com aquela que perspetivamos venha a ser a 5.ª
fase, o modelo integrou algumas mudanças/atualizações, decorrentes de décadas de
prática e investigação, assegurando um equilíbrio “entre a continuidade e a mudança” (p.
5). Foram publicados nove volumes (Epstein & Hohmann, 2012), sobre a teoria e
investigação curricular, sobre a prática pedagógica, sobre a avaliação e sobre as diversas
áreas curriculares: Abordagem à Aprendizagem; Desenvolvimento Social e Emocional;
Desenvolvimento Físico e Sáude; Linguagem, Literacia e Comunicação; Matemática;
Artes Criativas; Ciência e Tecnologia; e Estudos Sociais (Esptein, 2012b-i).
Os princípios e fundamentos teóricos, assim como os “ingredientes da
aprendizagem ativa” mantém-se. O modelo de controlo-partilhado continua a guiar a
interação adulto-criança. As filosofias de organização do espaço e das rotinas mantém-se
as mesmas.
O modelo foi atualizado na investigação que suporta as práticas e foi expandido o
modelo de avaliação. Assim, apesar de se manterem as oito áreas curriculares para que se
propõem experiências-chave de desenvolvimento praticamente inalteráveis, os
“indicadores-chave de desenvolvimento” (KDI), para cada área, são completamente
novos. Foram revistos, para refletirem a atual investigação sobre o desenvolvimento das
crianças e sobre as práticas pedagógicas. Para cada indicador-chave foi concebido um
“esquema de suporte ao desenvolvimento”, descrevendo as competências a desenvolver
250
nas crianças e como podem os professores apoiar a aprendizagem das crianças com
diferentes competências e níveis de desenvolvimento (Epstein, 2012a). Esta ferramenta
facilita a implementação individualizada do modelo.
Os seis indicadores-chave estruturam-se da seguinte forma (Eptein, 2012a):
1. Iniciativa na exploração do mundo: indicadores-chave que se
relacionam com a curiosidade, independência e autorregulação das
aprendizagens, interação com materiais, ações e ideias;
2. Planificação: relaciona-se com os planos feitos pelas crianças (tomada
de decisões, expressão das escolhas e intenções baseadas nos
interesses) de complexidade crescente ao longo da escolaridade;
3. Compromisso: as atividades devem estar focadas nos seus interesses,
para que as crianças desenvolvam a capacidade de se comprometerem
e sejam determinadas e concentradas na prossecução dos seus
compromissos;
4. Resolução de Problemas: prende-se com a flexibilidade e inovação na
resolução de problemas. É normal progredir-se através da tentativa e
erro.
5. Utilização dos recursos: exploração do mundo com vários recursos
(incentivo à colocação de questões, à exploração de ideias);
6. Reflexão sobre as suas experiências: as crianças têm que desenvolver-
se na capacidade de chegar a conclusões acerca de pessoas, materiais,
acontecimentos, ideias, etc…
251
A “Abordagem à Aprendizagem” (Epstein, 2012b) prende-se mais com o “«como
as crianças aprendem» do que com «o que aprendem»” (Hyson, 2008) até porque o
modelo preconiza que “as crianças aprendem fazendo” (Fewson, 2008, p. 10). A
“Abordagem à Aprendizagem” é o primeiro tópico da nova estruturação do modelo, para
“sublinhar que as crianças produzem as suas próprias experiências educativas em todos
os domínios” (Epstein, 2012a, p. 8). De acordo com Ross Thompson (2002), quando a
criança é curiosa, interessada e confiante na descoberta das respostas para as suas
questões, estão mais capazes de beneficiar das oportunidades de aprendizagem da leitura,
da matemática e de todas as outras áreas. Isto reflete-se no seu progresso tanto no 1.º ciclo
como posteriormente.
Em Portugal, este modelo foi inicialmente contextualizado pela Professora
Cristina Figueira, da Escola Superior de Educação de Setúbal, nos anos 80 (Figueira,
1990). Mais tarde, uma equipa de professores do Instituto da Criança, da Universidade
do Minho, também trabalhou sobre este modelo, no âmbito do “Projeto Infância:
Contextualização de Modelos de Qualidade” (integrando a descrição da implementação
em algumas turmas, no distrito de Braga), sendo a equipa coordenada pela Professora
Júlia Oliveira-Formosinho.
É determinante destacar que o modelo High/Scope, presente em mais bibliografia
relacionado com a Educação Pré-Escolar, está implementado,
com o mesmo nível de qualidade, na escolaridade básica, baseando-se nas
componentes centrais do modelo, implicando aprendizagem participativa/ativa;
252
mudanças no espaço de aprendizagem; autêntico suporte na relação adulto-
criança; abordagem de resolução de problemas aplicada à resolução de
conflitos; e consistente rotina diária, incluindo a sequência planear-fazer-rever
(Fewson, 2008, p. 10).
A implementação do modelo High/Scope na escolaridade básica é descrita por
diversos investigadores (Fewson, 2008; Kruse, 2003), sendo os componentes e princípios
semelhantes ao modelo aplicado à educação pré-escolar.
Por outro lado, é também de referir que podemos considerá-lo um modelo de
Pedagogia Diferenciada, na medida em que “o modelo High/Scope permite aos
professores a adaptação das atividades e interações aos interesses e necessidades de cada
criança” (Epstein, 2012a, p. 6). Aliás, este modelo pretende conduzir a “uma mudança do
ensino centrado no professor para a aprendizagem centrada no aluno” (Fewson, 2008, p.
10).
Porém, o professor continua a ter um papel determinante. Epstein (2007) refere-
se a “ser um professor intencional”, dizendo que o
ensino intencional significa que os professores agem tendo em mente os objetivos
que se prendem com o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças … os
professores precisam de conhecer quando usar uma dada estratégia para
acomodar diferentes percursos de aprendizagem, de acordo com a
individualidade das crianças e os conteúdos específicos que querem fazer
aprender (Epstein, 2007, p. 1).
253
O modelo High/Scope propõe um quadro geral de organização das atividades,
adaptado à turma com que se trabalha. “A coisa mais importante que queremos que as
crianças aprendam é, provavelmente, que todos somos iguais em muitos aspetos e todos
somos diferentes noutros aspetos e que tais diferenças são normais” (Brickman & Taylor,
1996, p. 184).
Tretjack (2010), ao paresentar sugestões de gestão da sala de aula, considerando
a diversidade, relembra-nos que
as nossas comunidades são compostas de indivíduos e grupos que representam
um amplo leque de experiências, competências e conhecimentos prévios. A
diversidade é refletida, na nossa sala de aulas, nas crianças das diversas
proveniências culturais, raciais e etnias; com diferenças físicas e de
conhecimentos prévios; com estruturas familiares e meios socioculturais
diferentes; com diferentes experiências linguísticas; com um conjunto de
características individuais que fazem de cada criança uma criança única (p. 9).
De acordo com a abordagem do modelo High/Scope, “as crianças têm
oportunidade de fazer escolhas baseadas nos seus interesses individuais e no seu nível de
desenvolvimento. Uma consistente, mas flexível, rotina diária dá às crianças uma
sensação de controlo; e um espaço de aprendizagem organizado pomove a
independência” (Tretjack, 2010, p. 9), o que é favorável à diferenciação.
Aliás, como vimos nas páginas anteriores, o modelo nasce com preocupações com
a igualdade de oportunidades educativas.
254
1.2.1.1. Objetivos.
É, genericamente, objetivo do Modelo High/Scope ajudar as crianças em diversos
domínios (Espstein, 2003, p. 2):
a serem autónomas, mais livres, capazes de tomarem decisões e
expressarem o que sentem e pensam; a serem criativas, pacíficas e que
sabem relacionar-se com os outros;
a tornarem-se independentes, responsáveis e seguras, assim como
preparadas para um bom desempenho escolar;
a aprenderem a planear muitas das suas atividades, levá-las a cabo e
trocarem ideias e experiências com outras crianças e seus professores
sobre o que fizeram;
a aprenderem, através da interação ativa com outras pessoas, com
matérias, acontecimentos e ideias;
a adquirirem conhecimentos e competências em áreas importantes do
desenvolvimento humano, como a representação recreativa, a língua,
iniciativa e relações sociais, movimento, música, classificação, seriação,
Matemática, espaço e tempo.
Pretende potenciar-se, em suma, através deste modelo, as áreas do
desenvolvimento cognitivo, socioemocional e psicomotor, concebendo a criança como
um todo (Espstein, 2003, p. 2).
255
1.2.1.2. Enquadramento Teórico.
A influência do Construtivismo Piagetiano
A teoria piagetiana e dos seus seguidores, tais com Hunt, Flavel e Ginsburg
influenciaram a conceção curricular atual do modelo High/Scope (Hohmann & Weikart,
2007; Oliveira-Formosinho, 2007), designadamente ao defender que a criança tem um
papel ativo na construção do seu conhecimento; que a construção dos conhecimentos não
é estática, mas efetua-se através de ações; que as ações da criança devem ser interpretadas
como desenvolvimento das estruturas mentais.
As pesquisas de Piaget tiveram como principal objetivo o estudo do
conhecimento, nos seus processos de desenvolvimento. Os grandes princípios por ele
definidos, à volta da ideia de que o saber se elabora através da construção, na relação
ativa do sujeito com o ambiente, e não por meio da reprodução passiva (Morgado, 2005),
são elementares para a compreensão da sua teoria do funcionamento cognitivo das
crianças e, neste estudo, da influência que teve no modelo High/Scope.
Piaget salienta a importância de “descobrir e respeitar os interesses dos alunos,
dando-lhes a possibilidade de interagir com um leque suficientemente alargado de áreas
de saber” (Morgado, 2005, p. 30), neste processo de contrução do saber.
Abordou o desenvolvimento do pensamento lógico da criança no “estudo da
génese das estruturas lógicas e a elaboração das categorias do pensamento” (Piaget, 1981,
p. 21). O desenvolvimento não é automático, nem uma qualidade inata, mas construído
pelo sujeito, em interação com o ambiente, com o mundo físico e social, sendo
indissociável a experiência sensorial do raciocínio.
256
Piaget não se identifica com um neobehaviorismo nem com um maturacionismo,
indicando que a questão central é a da formação contínua de novas estruturas, que não
estariam à partida formadas no próprio sujeito (Piaget, 1978).
De acordo com o maturacionismo, é o mecanismo biológico de maturação que
regula toda a forma de crescimento. A criança é portadora de estruturas que, naturalmente,
dão início à construção do conhecimento e o seu desenvolvimento caracteriza-se por uma
sucessão de estádios. O desenvolvimento mental processa-se numa ordem imutável, sem
que o meio interfira de forma determinante. Neste sentido, a Pedagogia não teria um papel
primordial na aprendizagem, uma vez que tudo estaria predeterminado (Perraudeau,
1996).
De acordo com o behaviorismo, o conhecimento adquire-se através de um
mecanismo de condicionamento relativo ao exterior. Neste sentido, no domínio da
educação, o papel transmissor de saber pode ser desempenhado por um adulto ou por um
outro meio (dicionário, computador, ficheiro autocorretivo, etc.) (Perraudeau, 1996).
Quando apresenta os estádios de desenvolvimento da criança, Piaget não quer
lançar as bases de um quadro normativo tipo maturacionista, mas apenas criar referências
cronológicas que representam estimativas médias (Vermersch, 1979). Se ele descreve
uma sucessão de etapas, põe sobretudo em evidência as estruturas que as caracterizam e
mostra as ligações que as unem. O conceito de «estrutura» é um conceito-chave do
pensamento piagetiano, englobando um sistema definido por prioridades em interação
(Piaget, 1981).
A forma como se constrói o conhecimento é central nas pesquisas de Piaget. Para
ele, a ação desempenha um papel determinante: “o instrumento de intercâmbio inicial não
257
é a perceção, tal como os racionalistas o atribuíram com demasiada facilidade ao
empirismo, mas sim a própria ação na sua plasticidade bem maior” (Piaget, 1978, p. 12).
Não se trata, no entanto, de uma ação reduzida ao nível da motricidade, mas sim de um
ato mais complexo que ganha sentido na consciencialização que a criança efetua.
A ação, ato observável, encontra a sua pertinência na operação. As propriedades
que definem a operação são a interiorização (capacidade de pensar a ação), a
reversibilidade (possibilidade de fazer a ação e depois de a desfazer) e a
articulação de diversas operações num agrupamento: a estrutura (Perraudeau,
1996, p. 42).
A este respeito, convem clarificar que “ser ativo de modo cognitivo não se limita,
como é evidente, a um qualquer tipo de manipulação; pode haver atividade mental sem
manipulação, assim como pode haver passividade com manipulação” (Inhelder, Sinclair
& Bovet, 1974, p. 44).
Meirieu (1991), na linha de Piaget, considera que o conhecimento se produz a
partir da ação da criança sobre o objeto “mas, como esse conhecimento só é possível
através da mediação da linguagem, o professor tem de criar condições para que essa
linguagem possa desempenhar o seu papel: uma das principais condições será o trabalho
em grupo” (p. 45).
Nesta perspetiva, a finalidade da educação é o desenvolvimento e, para tal, é
necessário que se apoie a criança no processo de avançar para o estádio seguinte (processo
educativo), oferecendo e criando-lhe espaços de troca e situações sociais e
intelectualmente estimulantes, para que possa construir a sua autonomia intelectual, como
autoconstrutora do seu conhecimento (Guerreiro, 2006).
258
1.2.1.3. Princípios.
São cinco os princípios básicos que formam o enquadramento da abordagem
educativa High/Scope: Aprendizagem pela Ação, Rotina Diária, Interação adulto-criança,
Ambiente de Aprendizagem e Avaliação (Fewson, 2008; Murphy, 2012;).
O seguinte diagrama, intitulado “Roda da Aprendizagem”, inclui estes 5
princípios e serve de orientação aos profissionais envolvidos na abordagem High/Scope
(HSERF, 2009, anexo):
Imagem 1 – Diagrama “Roda da Aprendizagem”. Fonte: HSERF, 2008, anexo
Podemos dizer que os princípios centrais do modelo High/Scope assentam na
convicção de que as “experiências de aprendizagem para crianças devem ser ativas, isto
é, tais experiências devem tornar a criança capaz de construir o seu próprio conhecimento
lidando diretamente com pessoas, materiais e ideias” [e] “o papel do adulto não é dirigir
259
ou controlar este processo de aprendizagem, mas apoiá-lo” (Brickman & Taylor, 1996,
pp. 3-4).
As atividades são desenvolvidas em pequeno grupo (Epstein, 2009) e grande
grupo (Marshal, 2009), assentes nas decisões e realizações individuais e coletivas. Deste
modo, para além de promover a autonomia de cada criança, promove também a
cooperação e a interação grupal. “É importante desenvolver relações postivas na sala de
aula e construir uma comunidade que desenvolva a aprendizagem e o desenvolvimento
físico, emocional e cognitivo” (Marshal, 2009, p. 8).
Aprendizagem pela Ação.
A abordagem educativa High/Scope enfatiza a "aprendizagem ativa participativa"
(Brikman & Taylor, 1996; Epstein, 2007; Fewson, 2008). Aprendizagem ativa significa
que os estudantes têm experiências de aprendizagem com pessoas, objetos, eventos e
ideias (Epstein, 2007). Os interesses e escolhas das crianças estão no cerne do modelo.
Eles constroem o seu próprio conhecimento através da interação com o mundo e com as
pessoas à sua volta. São as crianças que dão o primeiro passo no processo de
aprendizagem, fazendo escolhas e seguindo os seus planos e decisões. Espera-se que os
professores prestem apoio ao desenvolvimento físico, emocional, intelectual (Epstein,
2012). Em configurações de aprendizagem ativa, os adultos expandem o pensamento das
crianças, com diversos recursos e nutrindo as interações: expandem a capacidade de
pensar independentemente, assim como a curiosidade e o desejo de aprender (Gainsley,
2003a; 2003b, 2004).
260
Para tal, é necessário que a criança disponha de um meio rico em materiais e
interações estimulantes, para que se desencadeiem experiências ativas que promovam o
conhecimento do mundo que a rodeia (Vogel, 2012).
O modelo High/Scope tem como característica principal a sua intencional
promoção da aprendizagem ativa, ou seja, acredita que as vivências diretas e imediatas,
no dia-a-dia da criança, são muito importantes, se ela retirar delas algum significado,
através da reflexão. O poder da aprendizagem ativa vem da iniciativa pessoal que geram
as experiências-chave. “As crianças aprendem mais quando são encorajadas a
explorarem, a interagirem, a serem criativas, a seguirem os seus próprios interesses e a
brincarem” (Brickman & Taylor, 1996, p. 4).
A aprendizagem ativa pressupõe que a criança escolhe o que vai fazer, que há
muitos materiais que podem ser utilizados de diversas maneiras pelas crianças e que esta
é livre de manusear os objetos livremente (Fewson, 2008; Vogel, 2012; Epstein, 2003).
Ao utilizar e manusear os materiais, a criança é incentivada a descrever o que está a fazer.
O adulto deve reforçar positivamente as soluções e a criatividade da criança (Gainsley,
2008).
Ao dar-se às crianças a possibilidade de escolha, está a garantir-se o seu interesse.
“Quando as crianças estão interessadas nalguma coisa, é mais provável que aprendam
algo de novo e que permaneçam interessadas no que estão a fazer” (Brickman & Taylor,
1996, p. 13). Ao descobrirem que podem fazer planos e executá-los até ao fim e que não
há fórmulas mágicas para fazer as coisas, mas apenas problemas para resolver, as crianças
ganham autoconfiança. Por outro lado, tomando decisões e resolvendo problemas, as
crianças desenvolvem a sua independência e “aprendem a não depender demasiado dos
261
adultos para saberem como fazer, quando fazer ou porque fazer” (Brickman & Taylor,
1996, p. 13).
Através da aprendizagem ativa as crianças constroem um conhecimento que as
ajuda a encontrar sentido no seu mundo. Assente na convicção de que as crianças
aprendem melhor seguindo os seus próprios interesses e metas, estimula-se para que
escolham, em cada dia, as atividades e os materiais que vão utilizar. Exploram-nos,
levantam perguntas, procuram respostas, resolvem problemas e interagem com os seus
companheiros (Gainsley, 2008).
Podemos, portanto, dizer, em síntese, que a abordagem da aprendizagem, à luz do
modelo High/Scope, considera que “através da aprendizagem pela ação – viver
experiências diretas e imediatas e retirar delas significado através da reflexão – as crianças
constroem o conhecimento que as ajuda a dar sentido ao mundo” (Hohmann & Weikart,
2007, p. 5).
As crianças planificam, realizam e avaliam as suas atividades, o que vai
desenvolvendo o pensamento e a aprendizagem da criança (Murphy, 2012; Fewson, 2008,
Epstein, 2003).
O ambiente é fundamental para uma boa aprendizagem. O modelo High/Scope
propõe uma certa disposição e uso de mobiliário e equipamento organizados em áreas de
interesse, claramente definidas. Isto permite às crianças localizar materiais, utilizá-los e
recolocá-los no seu lugar para o uso dos companheiros. As salas estão divididas em áreas
de interesse (Vogel, 2012; Fewson, 2008).
Os cinco princípios da Aprendizagem Ativa, podem sintetizar-se em (adaptação a
partir de Epstein, 2007):
262
1. Materiais: o modelo defende a disponibilização abundante de diversos
materiais, apropriados à idade;
2. Manipulação: as crianças manipulam, examinam, combinam e
transformam materiais e ideias;
3. Escolha: as crianças escolhem os materiais, mudam-nos e constroem-
nos, planeando as atividades de acordo com os seus interesses e
necessidades;
4. Linguagem: as crianças descrevem o que fazem e aprendem;
comunicando verbal e não verbalmente.
5. Adultos construtores de andaimes: os adultos apoiam as crianças ao
seu nível, ajudando-as a avançar para o estádio seguinte.
Experiências-chave.
As experiências-chave, propostas pelo modelo, são organizadas de acordo com as
áreas curriculares — Língua e Literacia, Matemática, Ciência, Expressão Dramática e
Música e Movimento Rítmico —, definem o alcance e sequência de conceitos-chave e
competências para as crianças (Gainsley, 2008). Porém, o modelo é compatível e deve
ser adaptado ao desenho curricular de cada país, para cumprir os requisitos curriculares
legalmente instituídos (Epstein, 2008). Essas experiências-chave guiam o ensino e a
avaliação em cada área (Fewson, 2008; Epstein, 2010). O professor usa as experiências-
chave nas suas próprias observações das crianças para planear as atividades dos pequenos
grupos, focando conceitos e competências em cada área temática (Epstein, 2008;
Marshall, 2009; Kruse, 2006). A grande maioria das atividades propostas pelo modelo
263
pressupõem que as crianças possam trabalhar com materiais manipulativos; aplicam
competências para resolver problemas práticos; e aprendem a comunicar os resultados
dos seus esforços numa variedade de formas (Vogel, 2012). Muitas experiências exigem
trabalho cooperativo e de utilização eficaz das competências de comunicação. Os
professores também incentivam as crianças a usar importantes conceitos e competências
durante as atividades programadas pelas crianças que ocorrem durante o tempo de
trabalho e outros segmentos da agenda são programados (Epstein, 2003, 2008).
Imagem 2 – Diagrama “Ciclo da Aprendizagem” (Adaptado por Gomes, Mário) Fonte: HSERF, 2008, anexo
Prazer
Jogar, fazer
Domínio,
Conhecimento
Confiança
Maior propensão para
explorar novas coisas
Jogar, fazer
264
1.2.2. Análise do modelo.
A análise do modelo será feita segundo quatro dimensões: a sintaxe, o sistema
social, os princípios de reação e os sistemas de apoio, tal como proposto por Joyce e Weil
(1985).
“A sintaxe das fases do modelo descreve o modelo em ação” (Joyce & Weil, 1985,
p. 26), com a apresentação das estratégias que são postas em marcha, as sequências e as
fases. Enquanto na parte sobre “o Sistema Social descreve os papeis do professor e dos
alunos e as relações e tipo de normas que prevalecem” (p. 27), no que toca aos “Princípios
de reação, [estes] são princípios que nos dizem como atender ao aluno e como responder
ao que faz” (p. 27). Relativamente ao “Sistema de apoio” referimo-nos à descrição das
condições necessárias para a sua existência. Por fim, apresentamos os “Efeitos didáticos
e educativos”, diretos e indiretos, respetivamente.
1.2.2.1. Sintaxe.
Rotina ou Agenda Diária
A rotina do modelo High/Scope estrutura-se segundo uma sequência de
acontecimentos previsíveis, constantes e estáveis, possibilitando que as crianças
beneficiem de “um ambiente descontraído” (Kruse, 2003, p. 2) e que haja “liberdade de
escolha” (idem).
Cada dia segue uma consistente agenda, cuidadosamente planeada para incluir
experiências de aprendizagem individuais, em pequenos grupo e em grande grupo
e um equilíbrio entre as atividades planeadas pelo professor e as planeadas pela
265
criança. Cada dia inclui o tempo de planear-fazer-rever, pelo menos uma hora
ou mais, em que cada criança planifica, executa e reflete sobre as suas próprias
escolhas. O trabalho em pequenos grupos é planeado pelo professor à volta de
conteúdos específicos na maioria das áreas (Fewson, 2008, p. 11).
Os interesses das crianças também são tidos em consideração, devendo ser
questionadas, para que possam fazer escolhas, podendo seguir os seus interesses enquanto
desenvolvem competências nas diversas áreas (Epstein, 2003).
“A rotina não dita a atividade da criança, mas organiza-lhe o dia, procurando fazer
emergir a iniciativa da criança, pedindo-lhe que determine as suas metas, que lhes dê
continuidade e que reflita sobre elas nos vários tempos em que se divide” (Oliveira-
Formosinho, 2007, p. 60).
A agenda diária deve adequar-se às características da turma: “é flexível,
oferecendo a suficiente segurança, independência e estímulo para ir de encontro às
necessidades de todas as crianças …; possibilita que a criança escolha de uma larga
variedade de atividades …; promove o desenvolvimento de todas as crianças …; implica
a existência de materiais suficientes para apoiar o desenvolvimento das atividades”
(Kruse, 2003, p. 2).
Momentos da rotina diária
266
Na sala de aula High/Scope, regra geral, existem os seguintes momentos da rotina
diária:
Tempo de acolhimento ou roda de boas vindas
É o momento em que as crianças chegam à escola e se sentam em grupo, falando
de acontecimentos significativos. É um momento de forte interação com as outras
crianças e com o professor, momento que também é aproveitado para planear o dia
(Brickman & Taylor, 1996; Hohmann & Weikart, 2007).
Planear-fazer-rever
Esta sequência “é única na abordagem High/Scope” (Epstein, 2003, p. 4). Inclui
10 a 15 minutos em pequeno grupo durante o qual cada criança planeia o que quer fazer
durante o tempo do planear-fazer-rever (a área a visitar, materiais que vai usar, e com que
colegas); uns 45 a 60 minutos de trabalho individual para executar os seus planos; e,
depois 10 a 15 minutos, em pequeno grupo para rever com o adulto e com outras crianças
o que fez e o que aprendeu. Entre o «fazer» e o «rever», a criança limpa e arruma todos
os materiais utilizados. Geralmente, à medida que a criança vai crescendo e se vai
adaptando ao modelo, maiores e mais detalhados são os planos e as revisões (Epstein,
2003).
Fewson (2008), ao descrever a utilização do modelo High/Scope, refere que o
tempo “planear-fazer-rever” na escolaridade básica é baseado nos mesmos princípios que
o “planear-fazer-rever” da Educação Pré-Escolar, mas apresenta exemplos de registos que
267
cada criança pode fazer, em cada um dos momentos do planear-fazer-rever (inicialmente
utilizando o desenho e, gradualmente, passando a apenas escrito).
As crianças, regra geral, estão motivadas durante o tempo «fazer», porque estão a
realizar as atividades que lhes interessam. Elas podem seguir os seus planos iniciais mas,
muitas vezes, à medida que estiverem envolvidas na ação, os seus planos podem mudar
completamente (Gainsley, 2008).
Na fase do «rever», o professor deve incentivá-las a rever as suas experiências.
Isto não significa que elas tenham que contar de forma oral todos os passos que deram
dentro da área onde estiveram a fazer o que havia sido planeado. É, acima de tudo, uma
oportunidade para fazerem uma revisão da sua experiência e do que acham que
aprenderam (Epstein, 2007).
Quando as crianças falam sobre os seus projetos, os põem em prática e refletem
sobre eles, estão num triângulo que tem por objetivo fortalecer os interesses, as iniciativas
e as competências. Planear é importante porque estimula as crianças a articularem as suas
ideias, escolhas e decisões, promove a autoconfiança e o seu sentido de controlo, leva ao
envolvimento e concentração na brincadeira e apoia o desenvolvimento de atividades
lúdicas progressivamente mais complexas (Mitchell, 2008).
Tempo em pequenos grupos.
Mitchell (2008) explica-nos que, durante este tempo, um pequeno grupo de
crianças, “idealmente seis a oito” (Epstein, 2003, p. 4) reúnem-se com um adulto, para
experiências com materiais e para resolução de problemas. Embora o professor possa
268
escolher um pequeno grupo de atividades para enfatizar uma ou mais áreas de conteúdos,
as crianças são livres para utilizar os materiais, da forma que quiserem, durante este tempo
(Mitchell, 2008).
O trabalho em pequeno grupo é planificado pelo professor à volta de determinado
conteúdo, nas diversas áreas, devendo apelar a atividades cooperativas de incentivo à
coesão de grupo (Epstein, 2009b).
Tempo de grande grupo
O tempo de grande grupo constrói um sentido de comunidade. São os momentos
em que toda a turma se reúne para atividades de Música e Movimento Rítmico, Expressão
Dramática, Leitura, momentos de comunicações e outras experiências partilhadas. Neste
tempo, as crianças têm muitas oportunidades de fazer escolhas e desempenhar o papel de
líder (Biddle, 2010; Epstein, 2003, p. 4).
O modelo High/Scope permite o cruzamento com a metodologia de trabalho de
projeto, em que se podem conciliar atividades autoiniciadas pelas crianças e atividades
planeadas pelo adulto. Um projeto é a exploração em detalhe de um assunto ou tópico
realizado por um grupo de crianças ou por uma criança em conjunto com o professor
(Epstein, 2007). O trabalho de projeto permite discussão e debate, trabalho de campo,
representação (desenho, pintura, escrita, representação gráfica, role-play, drama, etc.),
exposição (seleção e organização da documentação). Normalmente são consideradas três
269
fases na metodologia de trabalho de projeto: (1) planeamento e início; (2) progresso e
desenvolvimento; (3) consolidação e finalização (Gainsley, 2008).
Tempo de exterior
As crianças e o professor passam pelo menos 30 minutos fora da sala de aula todos
os dias, para jogar ao ar livre, sem as limitações das quatro paredes. Eles sentem-se livres
para fazer grandes movimentos e experiências com as suas vozes. As crianças correm,
escalam, pulam, gritam e cantam com energia (Mitchell, 2008; Epstein, 2003).
Transições
As transições são os minutos entre os blocos do dia, bem como a chegada e a
partida. O objetivo é fazer transições sem problemas para o próximo segmento do dia. As
transições também fornecem oportunidades significativas de aprendizagem. Sempre que
possível, dar-se-á às crianças a oportunidade de escolha sobre como fazer a transição. Por
exemplo, podem escolher tempo de pequenos grupos. Com uma rotina diária consistente,
as crianças sabem o que vai ter lugar no próximo momento (Mitchell, 2008; Epstein,
2003).
Alimentação e repouso
As refeições e pequenos lanches permitem desfrutar de alimentos saudáveis num
ambiente social e calmo. O principal objetivo é a criação de um momento de convívio
saudável e sentido de comunidade (Mitchell, 2008).
270
Além da proposta, de resto estruturante, no modelo High/Scope, há pequenas
sugestões genéricas, de desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, nas diversas
áreas do saber. São disso exemplo, as que seguidamente de apresentam, no âmbito da
Língua, da Matemática, das Ciências e dos Estudos Sociais.
271
A comunicação escrita.
O modelo sugere a utilização de um quadro de mensagens diárias. Este quadro
permite a partilha de ideias, sendo um incentivo à escrita, à leitura e à conversação. Neste
quadro, as crianças escrevem informações, sugestões, críticas, agradecimentos, tudo o
que quiserem partilhar com a turma (Gainsley, 2007).
Outra estratégia é a utilização do momento da leitura: do professor para a turma,
de alunos para a turma, em pequenos grupos, a pares, individualmente. Constitui um
momento importante de treino da leitura e de enriquecimento do vocabulário. Estes
momentos são de extrema importância e devem ser incentivados, até ao ponto máximo
de os alunos tomarem a iniciativa de ler para a turma trechos de livros que andem a ler,
fora da escola, mas que desejem partilhar com a turma (Hohmann & Adams, 2008;
Escobar, 2013).
A aprendizagem da Matemática.
No desenvolvimento de competências, no âmbito da Matemática, é importante a
sequencialidade. “Cada atividade de Matemática é criada para garantir o desenvolvimento
de todas as crianças em todos os níveis, em para atingirem o sucesso e terem experiências
de aprendizagem significativas. … A progressão é construída em cada atividade e na
relação com outras atividades, permitindo que a criança evolua num continuum” (Epstein,
2008, p. 1).
272
A aprendizagem sequencial é importante, sendo importante assegurar que a
crianças em diferentes estádios de desenvolvimento correspondem estratégias de ensino
adequadas (Neil, 2011).
A aprendizagem da Matemática desenvolve-se nas seguintes áreas de conteúdo:
sentido de número e operações, medidas, geometria, álgebra e análise de dados (Epstein,
2008, p. 2).
É comummente aceite que o desenvolvimento da aprendizagem da Matemática
“não pode ser fortuito ou aleatório” (Epstein, 2007): deve assegurar que se elevam a
“níveis sofisticados de construção de ideias, de reconhecimento e uso de relações para
resolverem problemas e conectar as novas aprendizagens com as anteriores” (NCTM,
2000, p. 6). Isto implica que “o currículo seja coerente e compatível, que haja relação
entre as aprendizagens e que a aprendizagem seja sequencial” (NAYEC e NCTM, 2002),
beneficiando as crianças através desse planeamento sequencial (Clements, 2004). Para
tal, é fundamental “usar o conhecimento inicial das crianças, para que elas construam
progressivamente mais avançados conhecimentos e, simultaneamente, a sua perceção
matemática faça sentido” (Campbell, 1997, p. 106).
No modelo High/Scope, “os professores são incentivados a tomar atenção às ideias
das crianças, sendo o seu papel, como professores, o de criar relações com essas ideias”
(Epstein, 2008, p. 2).
As atividades em pequeno grupo podem ser adequadas para que as crianças
foquem a sua atenção numa ideia. O professor pode observar o que a criança está a
compreender ou não e apoiá-la na experiência de aprendizagem, de acordo com o seu
próprio nível. A criança aprende quando ela mesma resolve as discrepâncias entre as suas
273
estratégias e conclusões e as estratégias e conclusões dos seus pares. Grupos mistos
potenciam a aprendizagem em Matemática (Epstein, 2008).
Adequar as estratégias às crianças assegurará experiências de aprendizagem
positivas e maximizará o potencial de cada criança. “Em sequências fixas, ao contrário,
o professor pode seguir em direção a atividades de alto-nível, mas algumas crianças
podem não conseguir acompanhar e ficar «perdidas» na implementação das seguintes
atividades” (Epstein, 2008, p. 2).
A aprendizagem no campo das ciências.
Segundo a conceção deste modelo, as crianças exploram o mundo utilizando as
mesmas técnicas que o adulto “cientista” usa: observação, identificação do problema ou
questionamento, formulação de hipóteses, experimentação, análises dos resultados,
conclusão e comunicação (HSERF, 2008).
Através da observação, sugere-se que a criança aprenda sobre o mundo físico,
natureza, como as coisas funcionam e os seus limites. Na fase da observação, espera-se
que ganhem sentido as aprendizagens e as novas descobertas. Sugere-se que as crianças
criem um sistema de classificação, com categorias próprias do seu nível etário. Ao
experimentar, a criança pode testar uma ideia e verificar se é verdadeira ou tentar
soluções, para que resulte. Predizer é descrever a expectativa criada com as fases
anteriores. A fase da apresentação das conclusões é uma fase importante na construção
do conhecimento, antes da comunicação na escola e em casa, aos colegas e à família
(Fewson, 2008; Epstein, 2008).
274
A avaliação.
O modelo valoriza a avaliação como estratégia para conhecer o nível em que cada
criança se encontra na aquisição e desenvolvimento de conhecimentos e competências,
para auxiliar a planificação das experiências-chave de aprendizagem. A avaliação deve
ser feita, preferencialmente, em equipa (Epstein, 2003).
“Avaliar, na abordagem High/Scope, significa trabalhar em equipa para construir
e apoiar o trabalho nos interesses e competências de cada criança” (Hohmann e Weikart,
2007, p. 8).
A avaliação é feita diariamente e está integrada, inclusivamente, na sequência
«planear-fazer-rever», de uma forma muito clara, para os alunos, sendo formalmente uma
tarefa do professor e baseada nos seus registos de observação das crianças. Os professores
deverão fazer um registo diário de notas ilustrativas, baseando-se naquilo que veem e
ouvem quando observam as crianças. Cada professor vai anotando episódios importantes
acerca do seu desenvolvimento. Implica construir e apoiar o trabalho nos interesses e
competências de cada criança, de modo a aferir se está a evoluir para o estádio seguinte
(Epstein, 2003).
O(s) professor(es) documentam os progressos através de dois métodos:
recolhendo breves notas de episódios, gravação de observações das crianças e compilando
produções em portefólios com amostras do trabalho e outros tipos de documentos que são
demonstrativas do progresso. Estes métodos fornecem uma avaliação mais completa e
equilibrada das crianças e dos seus progressos do que a tradicional realização de testes
(Shipstead, 2008; Fox, 2005).
275
Existem, também, alguns instrumentos de registo do trabalho diário, com o
objetivo de regular a ação das crianças e promover o desenvolvimento dos seus interesses
(Guerreiro, 2006): mapas de registos (mapa de atividades, mapa de presenças, quadro de
tarefas, diário e plano semanal) coletivos e individuais; as comunicações aos colegas ou
à comunidade; as ocorrências significativas registadas no diário e reflexão realizada em
Assembleia.
A fundação High/Scope desenvolveu dois instrumentos de avaliação, para apoiar
o modelo: o COR (“Child Observation Record”), através do qual se avalia a criança
através do registo das observações de experiências-chave; e o PIP (“Projeto de
Implementação do Programa”) que permite observar, avaliar e verificar a exequibilidade
da eficácia do projeto dentro da sala. O objetivo da avaliação é permitir adequar
constantemente a prática e intervenção do professor às necessidades e interesses das
crianças (Guerreiro, 2006; Fox, 2005).
O modelo preconiza a avaliação do desenvolvimento da criança com observações
abrangente, em vez de testes restritos, usando o “Child Observation Record (COR)”, um
protocolo de observação desenvolvido pela fundação que dá suporte ao modelo.
Observando um vasto leque de comportamentos, ao longo de várias semanas ou meses,
dá-nos uma imagem mais exata das verdadeiras capacidades da criança do que testes
administrados numas sessões, usando os conteúdos das áreas como um quadro de registo
diário de episódios, descrevendo o que as crianças fazem e dizem (Withrell, 2005). Duas
ou três vezes por ano, devem rever-se esses episódios e avaliar cada criança ao mais alto
nível que ele ou ela tem demonstrado até ao momento, em 30 pontos em seis áreas de
desenvolvimento: iniciativa, relações sociais, criatividade, representação, movimento e
276
música, linguagem e alfabetização e lógica e matemática. A pontuação ajuda os
professores na conceção de oportunidades de aprendizagem adaptadas ao seu nível de
desenvolvimento. Em vez de só se dar uma pontuação resumo aos pais, os professores
ilustram o que os seus filhos estão a fazer neste momento e como é que vai continuar a
crescer, com partes de episódios registados (Guerreiro, 2006; Dluke, 2011).
O “Projeto de Implementação do Programa” (PIP) é um instrumento de avaliação
dos níveis de implementação do modelo construído e editado pela Fundação High/Scope.
Pode ser usado como ferramenta de avaliação, como ajuda na formação de professores
que queiram implementar o modelo e, ainda, como um meio de assegurar um controlo de
qualidade. Está organizado para observar e avaliar 30 itens, que são subdivididos em
quatro secções (Guerreiro, 2006, p. 37):
1. Ambiente físico – neste item observa-se e avalia-se a organização do
espaço, a variedade e riqueza de recursos e a sua organização;
2. Rotina diária – auxilia na observação e avaliação da rotina diária, que
é implementada pelo adulto – a sua consistência, equilíbrio e as
estratégias utilizadas para o planear-fazer-rever;
3. Interação adulto-criança – ajuda na observação e avaliação do papel
do adulto na criação de situações que desafiem o pensamento da
criança, na comunicação, no seu envolvimento nas atividades, etc.;
Interação adulto-adulto – refere-se à observação e avaliação do nível de interação
entre os adultos (pessoal docente e não docente), que utilizam um trabalho em equipa,
onde se partilha a responsabilidade na implementação do modelo, planificação e
277
avaliação, na relação com os encarregados de educação e na formação contínua (Esptein,
2003).
1.2.2.2. Sistema Social.
Adulto – Criança
Neste modelo, o professor é entendido como o promotor do desenvolvimento
psicológico da criança.
Na abordagem que o High/Scope propõe (…) os adultos e as crianças partilham
o controlo. Reconhecemos que o poder para aprender reside na criança, o que
justifica o foco nas práticas de aprendizagem através da ação. Quando aceitamos
que a aprendizagem vem de dentro, atingimos um balanço crítico na educação
das crianças. O papel do adulto é apoiar e guiar as crianças através das
aventuras e das experiências que integram a aprendizagem pela ação. Creio que
é isto que faz com que o programa tenha tão bons resultados (Hohmann &
Weikart, 2007, p. 1).
A aprendizagem ativa depende, inequivocamente, da interação positiva entre os
adultos e as crianças. “O papel do adulto não é dirigir ou controlar o processo de
aprendizagem, mas antes apoiá-lo” (Brickman & Taylor, 1996, p. 4). Os adultos deverão
apoiar as conversas e brincadeiras das crianças, deverão ouvi-las com atenção e fazer os
seus comentários e observações que considerem pertinentes, também apoiam e encorajam
a criança nas suas descobertas e na solução de problemas. Desta forma a criança sentir-
278
se-á confiante e com liberdade para manifestar os seus pensamentos e sentimentos
(Fewson, 2008).
A interação adulto-criança cria na criança uma confiança e empatia que lhe
permite expressar-se livremente e com confiança pois, como assinalam Hohmann e
Weikart (2007), “a aprendizagem pela ação depende das interações positivas entre os
adultos e as crianças” (p. 6). Esta forma de interação é sustentada pelo encorajamento da
iniciativa da criança e dos grupos, estabelecendo-se relações verdadeiras com a criança e,
pelo apoio do adulto, nas brincadeiras e na resolução de problemas que possam surgir.
Nesta conceção do papel do adulto, este deixa de determinar tarefas, técnicas e
situações de aplicação estandardizadas para, partindo da teoria, construir a sua prática
educativa com base na reflexão (Fewson, 2008; Biddle, 2010).
Por isso, pode “dizer-se que a criança se tornou decisivamente o motor central do
programa e que se clarificou quer o papel do adulto quer o papel da teoria no programa
curricular” (Oliveira-Formosinho, 2007, p. 59).
Gestão do ambiente
O professor, no modelo High/Scope, evita a utilização da recompensa e punição
para gerir os comportamentos, centrando-se na criação de um ambiente social positivo no
qual as expectativas e os limites são claros. Os adultos ajudam as crianças a aprender a
usar uma abordagem de resolução de problemas, a resolver dificuldades e conflitos. Os
adultos esforçam-se em focar os pontos fortes das crianças, em vez das limitações e
utilizam estratégias pedagógicas que se baseiam na motivação intrínseca para aprender
(Epstein, 2003).
279
Os castigos não existem. Quando surge algum problema, incentiva-se a criança a
encontrar soluções, que seja ela mesma a encontrá-las e a impô-las.
1.2.2.3. Princípios de reação.
O conflito é inevitável na vida das crianças. Elas precisam de desenvolver as
capacidades de interpretar sinais sociais, de compreender outros pontos de vista e de
aprender a adequar o seu comportamento às situações. Para ajudar as crianças a
aprenderem a resolver os conflitos, o modelo defende que os professores treinem o uso
de seis etapas para resolver problemas e resolver conflitos (Epstein, 2003; Hohmann &
Weikart, 2007; Brickman & Taylor, 1996):
1. Abordagem calma, parando quaisquer ações ou linguagem ofensiva: uma
maneira calma tranquiliza as crianças, dando-lhes a ideia de que as coisas estão sob
controlo e que tudo pode ser resolvido para satisfação de todos.
2. Reconhecer sentimentos: as crianças sentem necessidade de expressar os seus
sentimentos, são incentivadas a exprimi-los e a pensar sobre possíveis soluções para o
problema.
3. Recolher informação: os adultos têm que ter cuidado para não fazer suposições
ou tomar posição. Solicita-se que deixem abertura para ajudar as crianças descreverem o
que se passou nas suas próprias palavras.
4. Reformular o problema: usando as informações fornecidas pelas crianças, os
adultos reformulam o problema, usando termos claros e simples.
280
5. Pedir ideias e soluções ao grupo: os adultos incentivam as crianças a sugerir
soluções, ajudando a colocá-las em prática. As crianças aceitam melhor as suas ideias,
em vez da imposição das ideias do adulto, dando assim às crianças a satisfação de ter
resolvido o problema.
6. Dar seguimento e dar apoio quando necessário: os adultos ajudam as crianças a
concretizar a solução, certificando-se de que ninguém permanece aborrecido. Se
necessário, repetir uma ou várias etapas até que todas as crianças fiquem bem.
O Currículo
O currículo High/Scope não apresenta um conjunto estruturado e sequencial de
tarefas e conteúdos, mas apenas um quadro geral que é utilizado para desenvolver um
programa específico, adaptado ao grupo particular de crianças com o qual trabalham
(Epstein, 2008, 2010). “Embora as linhas-mestras do curriculum sejam concretas e para
aplicação prática, elas não determinam o programa do dia-a-dia: os detalhes dos materiais,
do planeamento do tempo e das atividades de cada dia são elaboradas, caso a caso, pelo
pessoal de cada programa” (Brickman & Taylor, 1996, p. 3).
Neste sentido, o modelo propõe que se organizem as experiências-chave em torno
de cinco grandes áreas: Língua e Literacia, Matemática, Ciência, Expressão Dramática e
Música e Movimento Rítmico (Epstein, 2003, 2012).
Os professores planificam as aulas em torno dos conteúdos definidos no Currículo
Nacional, “em função do seu conhecimento sobre os princípios da aprendizagem ativa e
das suas próprias observações dos interesses e competências das crianças, para planearem
281
trabalho em pequeno-grupo focando-se em conceitos e competências em cada uma das
áreas curriculares” (Fewson, 2008, p. 11). São de destacar os projetos em que
as crianças trabalham com materiais manipulativos, aplicando as suas
competências para resolver problemas e aprender a comunicar os resultados dos
seus esforços em formatos variados. Algumas experiências requerem trabalho
cooperativo e o uso de efetivas competências de comunicação. Os professores
também encorajam as crianças a usar importantes conceitos e competências
durante as atividades de iniciativa das crianças durante o tempo de trabalho em
diversos segmentos da agenda (Fewson, 2008, p. 11).
A Socialização
O desenvolvimento das capacidades sociais, a par das cognitivas, ocorre por
experiência direta, através da observação, exemplificação, tentativas e resolução de
problemas (Epstein, 2012b).
A abordagem High/Scope à socialização organiza-se em torno de cinco
capacidades: confiança, autonomia, iniciativa, empatia e autoestima (Brickman & Taylor,
1996). Estas capacidades vão-se desenvolvendo pela ordem apresentada, devendo cada
uma delas ser consolidada antes que a seguinte se enraíze.
A Confiança é “a crença nos outros que permite à criança aventurar-se à ação,
sabendo que as pessoas de quem depende lhe proporcionarão o apoio e o encorajamento
necessários. Os adultos que trabalham com a criança sabem que a confiança é uma
condição prévia – as crianças têm que estar confiantes antes de serem capazes de explorar
e de aprender” (Brickman & Taylor, 1996, p. 15).
282
A autonomia é entendida como “a capacidade de independência e de exploração”
e a iniciativa não é mais do que “a capacidade que a criança tem de começar uma tarefa
e de a levar até ao fim. É a capacidade de avaliar uma situação e de atuar de acordo com
o entendimento que tem dessa situação” (Brickman & Taylor, 1996, p. 16).
Relativamente à empatia, esta é a “capacidade que permite à criança compreender
os sentimentos dos outros por os poder relacionar com os sentimentos que ela própria já
experimentou. A empatia leva a criança a fazer amizades e a desenvolver um sentido de
pertença” (Brickman & Taylor, 1996, p. 17).
“A confiança na própria capacidade de dar contributos positivos a outras pessoas
ou situações” (Brickman & Taylor, 1996, p. 16) é a autoestima.
O modelo valoriza o desenvolvimento de competências sociais, relacionando essa
missão com os Estudos Sociais (Epstein, 2012b) e com a aceitação da diversidade na sala
de aula (Hirshbein, 2013; Tretjack, 2010).
1.2.2.4. Sistema de apoio.
Ambiente de Aprendizagem
O modelo atribui grande importância ao planeamento das atividades e à seleção
dos materiais adequados, porque as crianças integradas num contexto de aprendizagem
ativa, têm a oportunidade de realizar escolhas e tomar as suas próprias decisões (Murphy,
2012).
A sala de aula
283
De acordo com a abordagem High/Scope, “a sala de aula contém distintas áreas,
de acordo com as suas funções. As áreas de aprendizagem diferem de ano para ano de
escolaridade, de acordo com as idades das crianças” (Fewson, 2008, p. 10). A sala de aula
é dividida em cinco ou mais áreas de “interesse” distintas, como, por exemplo, «Leitura
e Livros», «Matemática», «Ciências», «Artes», «Jogos e Construções» e
«Computadores» (Fewson, 2008; Vogel, 2012). Cada área é concebida em relação com
as áreas curriculares e preparada para a iniciativa de aprendizagem dos alunos (Fewson,
2008).
Estas diferentes áreas contêm materiais facilmente acessíveis que as crianças
podem escolher para usarem conforme o que tinham planeado, para levar a cabo as suas
atividades/tarefas. Quando a criança termina a tarefa que realizou, arruma devidamente
no lugar os materiais que utilizou. Para que isto aconteça é necessário que todos os
materiais se encontrem em prateleiras baixas, facilmente acessíveis e onde esteja colado
uma etiqueta com o símbolo e nome do que a caixa contém.
Em cada área, uma larga variedade de materiais apelativos estão disponíveis,
acessíveis às crianças, para que os possam usar e voltar a arrumar
independentemente. A criança é livre para usar cada uma das áreas durante o
tempo do planear-fazer-rever e tipicamente fazem rotação entre as diversas áreas
durante as atividade planeadas pelo(s) professor(es) (Fewson, 2008).
284
Os Materiais
Na sala de aula, de acordo com a abordagem deste modelo, as crianças têm acesso
a abundante e significativo material, para uso no quotidiano. “A variedade e
disponibilidade permitem à criança direcionar as suas próprias descobertas e possibilita a
aprendizagem de várias competências” (Fewson, 2008, p. 11). Fewson (2008), na sua
descrição do modelo High/Scope na escolaridade básica, refere que mesmop com
materiais semelhantes aos da escola tradicional, o uso e as funções desses materiais é
diferente. “Por exemplo, os materiais de pintura, na sala de aula tradicional são usados
com descrição durante específicas aulas de arte. Na sala High/Scope, estão acessíveis à
criança, para o uso diário, como desejar, durante as atividades de aprendizagem”
(Fewson, 2008, p. 11).
Neste ambiente, há uma variedade de materiais que podem ser usados de variadas
formas, o que convida os alunos ao envolvimento pessoal, através de experiências
educativas significativas. “Na sala de aula High/Scope, as crianças têm acesso a uma
abundância de materiais significativos, para uso de acordo com a agenda diária. A
variedade e a disponibilidade permitem que as crainças dirijam as suas próprias
descobertas e se acomodem à variedade de competências a desenvolver” (Fewson, 2008,
p. 11). Estes materiais estão disponíveis para a criança trabalhar ao longo do dia, assim
como também durante o tempo de “planear-fazer-rever”. Por exemplo,
se o professor estiver a ensinar o conceito de padrão, em Matemática, os alunos
podem ser encorajados a selecionar um conjunto de materiais para fazerem séries
de padrões (exemplo: moedas, feijões, etc.), de qualquer área da sala. As crianças
podem escolher e selecionar outros materiais (pincéis, rolo de fita, etc.) durante
285
as atividades de ciências quando lhe é pedido que comparem objetos, em termos
de velocidade, num plano inclinado. Durante uma sessão de arte, quando lhes é
pedido que usem lanternas para capturar sombras, as crianças podem selecionar
materiais do ambiente e integrar como parte da aprendizagem (Fewson, 2008, p.
12).
Outros aspetos
Indicadores de implementação do Modelo High/Scope
A Fundação High/Scope publicou, na revista “Extensions” (HSERF, 2008), 10
sinais indicadores da implementação do modelo, numa adaptação da Associação Nacional
para a Educação da Criança, que resumidamente se apresentam:
1. As crianças ocupam a maior parte do seu tempo a jogar e a trabalhar com
materiais e com outras crianças; não estão sentadas, passivamente, durante
longos períodos de tempo;
2. As crianças têm acesso a variadas atividades ao longo do dia, utilizando
materiais de construção, materiais de pintura e de outras artes, puzzles. Não
estão todos a fazer as mesmas coisas ao mesmo tempo.
3. Os professores trabalham individualmente com a criança, com pequenos
grupos e com toda a turma, diversas vezes, durante o dia. Não ocupam todo o
tempo com toda a turma.
4. A sala está decorada com trabalhos originais realizados pelas crianças, com os
seus próprios textos e histórias;
286
5. Os alunos realizam atividades de escrita, de Matemática e experiências,
relacionadas com o seu contexto, incluindo animais, plantas, de que tratam;
6. As crianças trabalham em projetos e têm tempo para os explorar;
7. As crianças têm a possibilidade de brincar todos os dias, nunca sendo
sacrificados os tempos de atividade de recreio fora da sala;
8. As crianças leem individualmente ou em pequenos grupos;
9. O desenvolvimento do currículo é baseado nas necessidades e interesses dos
alunos. Os professores reconhecem que as crianças têm diferentes pré-
requisitos, interesses e necessidades, não podendo aprender as mesmas coisas
ao mesmo tempo;
10. As crianças estão felizes, não choram frequentemente, por irem para a Escola.
287
Ready School
Fruto de anos de investigação, é desenvolvido o conceito de “Ready School”, que
tem a ver com a escola assegurar que todas as crianças que entram nas suas portas
desenvolverão ao máximo todas as suas potencialidades com alunos (Daniel-Echols,
2008; HSERF, 2006), e foi publicada uma lista de dez características de uma “Ready
School” (Shore, 1998).
A Fundação High/Scope foi financiada para desenvolver uma ferramenta de
avaliação da implementação dos princípios “Ready School”. Neste sentido, publicou uma
edição com um conjunto de questionários de avaliação das diferentes vertentes da
implementação do modelo, como forma de auxiliar na sua implementação e de aferição
do nível de desenvolvimento do modelo (HSERF, 2006).
Este conceito de “Ready School” está fortemente conectado com a focagem do
modelo na construção de ambientes de aprendizagem que concorram para o MÁXIMO
desenvolvimento de TODOS os alunos.
288
Efeitos do modelo
O nascimento deste modelo, como o referimos, a propósito da sua origem, situa-
se no Movimento da Educação Compensatória, com preocupações com a igualdade de
oportunidades educacionais, chamando a atenção para a necessidade de se criarem
condições promotoras da igualdade, através da igualdade de oportunidades económicas e
sociais.
O sucesso da abordagem High/Scope tem sido documentada numa série de estudos
(já referimos neste capítulo alguns deles), tendo sido validado inicialmente na década de
1980 pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos da América (Epstein, 2003).
Os dados recolhidos sobre a abordagem incluem melhorias nas crianças no tocante à
realização de testes de avaliação de níveis de alfabetização e aptidões. Também foram
tidos em conta relatos de professores demonstrativos de melhorias nas habilidades para
resolver problemas, tomar decisões e expressar-se criativamente (Epstein, 2003).
Como referimos, ao longo da descrição do modelo, é esperado que os adultos
ajudem as crianças a aprender a fazer escolhas, a resolver problemas (James, 2012) e a
optar por atividades que promovam o desenvolvimento intelectual, social e físico
(Fewson, 2008). A investigação tem destacado que modelo tem efeitos positivos junto
dos cidadãos que dele beneficiaram na sua escolarização, potenciando significativamente
as oportunidades de vida (Schweinhart e Weikart, 1999; Evans, 1999; Peyton, 2005). De
acordo com um dos mais destacados nomes do modelo, Ann Epstein, os estudos que têm
comparado os resultados de crianças que beneficiam do modelo High/Scope com outras
crianlas, revelam um desenvolvimento superior as que têm experiência escolar neste
modelo (Epstein, 2003, p. 2). Estudos a longo prazo têm revelado que, em adultos, quem
289
beneficiou de escolarização de acordo com a abordagem High/Scope tem profissões mais
bem pagas (Epstein, 2003, p. 3).
290
2. Modelo do Movimento da Escola Moderna
O Modelo do Movimento da Escola Moderna (M.E.M.) foi sendo construído, ao
longo dos últimos 50 anos, a partir da reflexão fundamentada na prática pedagógica dos
membros do movimento que lhe dá o nome.
Pode ler-se no sítio da internet do M.E.M., em
http://www.movimentoescolamoderna.pt/, que este movimento “surge a partir da
atividade de seis professores que se constituíram, em fevereiro de 1965, num Grupo de
Trabalho de Promoção Pedagógica, impulsionado pelos cursos de aperfeiçoamento
profissional de professores que Rui Grácio promoveu e dirigiu no Sindicato Nacional de
Professores” (MEM, 2013).
Desde então, o modelo tem estado em desenvolvimento através da formação
cooperada, da partilha e da investigação produzida pelos associados do movimento
(González, 2000). São associados do M.E.M., atualmente, mais de dois mil profissionais
de educação, dos diversos níveis de ensino, organizando-se por núcleos regionais. A
associação tem como principal objetivo a formação contínua dos seus associados,
segundo um sistema de autoformação cooperada (Pinto, 2008).
Para que melhor se compreenda o estado atual do modelo, começamos por fazer
uma breve apresentação do movimento e da sua evolução histórica, bem como dos
objetivos e princípios que lhe subjazem, realçando que o movimento pretende assumir-se
como uma “alternativa de socialização democrática dos estudantes assente na organização
e gestão cooperadas do trabalho curricular das turmas, entendidas pelo MEM como
comunidades democráticas de aprendizagem” (MEM, 2013).
291
2.1. O Movimento da Escola Moderna.
Origem.
O Movimento da Escola Moderna encontra as suas raízes nas propostas
pedagógicas de Freinet e na Pedagogia Institucional e, como afirma Nóvoa (1996), em
personalidades como César Porto, Faria de Vasconcelos, António Sérgio, Álvaro Viana
de Lemos e Adolfo Lima, entre outros, através da descoberta da Escola Nova e de algumas
correntes da pedagogia liberal e republicana que influenciaram a escola portuguesa na
primeira metade do século XX.
A partir do ano 50, os contributos de Maria Amália Medeiros, João dos Santos e
Rui Grácio, entre outros, foram determinantes para a história do Movimento da Escola
Moderna português que, segundo a interpretação de Nóvoa (1996), se confunde, a vários
níveis, com a história da educação em Portugal.
O grupo inicial (Grupo de Trabalho de Promoção Pedagógica), constituído a
propósito cursos de aperfeiçoamento profissional de professores, que Rui Grácio
promoveu, “analisava e refletia sobre as suas práticas de ensino a partir de relatos
apoiados nos trabalhos dos alunos, complementando essa atividade com a produção de
instrumentos auxiliares do trabalho pedagógico e com a leitura e debate de textos
promotores do seu desenvolvimento teórico” (González, 2000).
Em 1966, Rosalina Gomes de Almeida e Sérgio Niza assumiram,
estrategicamente, no Congresso Francês da Escola Moderna, em Perpignan, a
responsabilidade de integrar, com a discrição requerida pela vida sob ditadura, a
Federação Internacional dos Movimentos de Escola Moderna (FIMEM). A intenção era
292
conseguirem apoio para o projeto que haviam empreendido e a que se associou a
experiência dos professores do Centro Infantil Helen Keller, a que ambos pertenciam e
onde se utilizavam já as técnicas Freinet (introduzidas com o estímulo de Maria Amália
Borges antes desta partir para o Canadá em 1963) (Gonzáles, 2000; MEM, 2013; Gomes,
2014).
Em 1974, começou a publicação do boletim (hoje revista) «Escola Moderna», com
alguns números anuais e cujo objetivo é ser o veículo de comunicação e instrumento de
intercâmbio de experiências entre os sócios (Henrique, 1992).
Apesar de o movimento se ter criado nos anos 50-60, apenas foi formalizado
juridicamente em 1976 (Diário da República 26/11/1976).
O Movimento da Escola Moderna reorientou, desde os anos oitenta, o seu trabalho
de formação cooperada e o respetivo modelo pedagógico de intervenção escolar para uma
perspetiva comunicativa e sociocultural, decorrente dos trabalhos de Vygotsky, Bruner e
outros (González, 2000).
No início do ano letivo de 2001/02, o MEM foi reconhecido como Pessoa Coletiva
de Utilidade Pública (Diário da República, II série, n.º 226 de 28 de setembro de 2001) e
em maio de 2004, no âmbito das comemorações do 30.º aniversário do 25 de Abril,
agraciado com o título de Membro-Honorário da Ordem da Instrução Pública (Diário da
República, II série, n.º 46 de 19 de outubro de 2004).
293
Atualmente, o Movimento da Escola Moderna propõe um modelo que é
reconhecido pelas instituições universitárias portuguesas e estrangeiras, fruto dos
resultados positivos obtidos na aplicação prática e cientificamente fundamentada, como
modelo de autoformação cooperada e modelo pedagógico, na formação contínua de
professores (Grave-Resendes & Soares, 2002).
O sistema de formação cooperada e o modelo pedagógico, que os professores vão
construindo, têm sido divulgados na Revista Escola Moderna, através do relato de práticas
e de outros artigos, e objeto de vários trabalhos de investigação, designadamente no
âmbito de dissertações de mestrado e de teses de doutoramento (Niza, 2011; Mestre,
2010; Neves, 2011; Lousada, 2008).
O Sistema de Formação Cooperada.
A formação dos membros do MEM tem por base um sistema de autoformação
cooperada (Grave-Resendes & Soares, 2002) fundamentado numa “filosofia que, por um
lado, assume uma perspetiva de autoformação e de cooperação entre iguais e, por outro,
tem como objetivo a construção de um modelo pedagógico em que as práticas escolares
visam a coerência com os princípios que defende” (González, 2002, p. 42). Para essa
formação, o M.E.M. organiza e dinamiza Grupos de Formação Cooperada, Sábados
Pedagógicos, Congressos Anuais e Encontros de Formação.
294
Grupos de Cooperação Formativa (“Grupos Cooperativos”)
São espaços privilegiados de formação onde grupos de sócios (MEM, 2013):
- avaliam e planificam as suas práticas de intervenção escolar;
- constroem e partilham instrumentos de trabalho didáctilo/pedagógico;
- realizam a reflexão e o aprofundamento teórico das práticas à luz dos contributos
das Ciências da Educação.
Sábados Mensais de Animação Pedagógica (“Sábados Pedagógicos”)
A organização dos Sábados Mensais de Animação Pedagógica fica a cargo da
Comissão Coordenadora de cada Núcleo Regional. Podem organizar-se sob as formas de
(MEM, 2013):
- Jornadas pedagógicas (temáticas);
- Apresentação simultânea de três relatos de práticas (pré-escolar, 1.º ciclo e 2.º/3.º
ciclos, secundário e superior), seguidos de debate;
- Sessões Plenárias, com apresentação e discussão de um trabalho académico ou
um tema de atualidade na política educativa.
Em setembro, em alguns dos Núcleos Regionais, as Comissões Coordenadoras
promovem a realização de Jornadas Pedagógicas que correspondem a pequenos
congressos regionais de apoio ao início do ano escolar.
Congresso Anual
O Congresso Anual tem lugar na segunda quinzena do mês de julho, organizado
rotativamente pelos diferentes Núcleos Regionais, chamando à participação de todos os
295
membros do MEM a nível nacional e outros profissionais de ensino curiosos pelas
propostas deste modelo (González, 2002). É o grande momento de mostra e de avaliação
do trabalho realizado, ao longo do ano letivo nas escolas, na formação de professores e
na investigação.
Encontros de Formação
Estes encontros, em complemento com o trabalho e a dinâmica desenvolvida nos
grupos de cooperação formativa, podem considerar-se como a matriz fundadora do
Movimento porque foi pelas atividades de formação que construiu o seu modelo
isomórfico. Decorrem da convicção, sentida por esta comunidade de conhecimento e
aprendizagem, de que se aprende na ação cooperada e pela criação de produtos culturais
(textuais, experimentais, artísticos) (MEM, 2013).
Encontros da Páscoa
Realizam-se anualmente, na interrupção letiva da Páscoa, os Encontros da Páscoa.
São encontros destinados a sócios que durante um dia e meio discutem assuntos
relacionados com a vida associativa (formação, organização, ...) e refletem sobre temas
específicos de atualidade profissional (MEM, 2013).
Para além do seu sistema de formação cooperada, o movimento publica uma
revista trimestral intitulada “Escola Moderna”, dispõe de um Centro de Formação e de
296
um Centro de Documentação. Também faz divulgação de práticas e estudos sobre o
Movimento no seu sítio da internet.
2.2. O Modelo do Movimento da Escola Moderna.
2.2.1 Introdução.
O Modelo Pedagógico do Movimento da Escola Moderna português é um modelo
sociocêntrico de organização cooperativa que vem sendo construído ao longo de mais de
quarenta anos, através de uma interação permanente entre a prática desenvolvida pelos
seus sócios e a partilha e reflexão sistemáticas no seio de grupos de aprofundamento
teórico-prático (González, 2000; 2002).
Denomina-se de “modelo sociocêntrico” porque a “prática democrática da gestão
de conteúdos, das atividades, dos materiais, do tempo e dos espaços se fazem em
cooperação” (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 41).
Através da prática e reflexão têm vindo a ser desenvolvidas estratégias
metodológicas ativas e de diferenciação do trabalho pedagógico, fomentando a
participação democrática dos educandos, tanto na vivência em cooperação da sala de aula,
como nos diversos contextos da vida escolar.
Podemos considerá-lo um modelo de Pedagogia Diferenciada atendendo a que, a
partir das necessidades e interesses dos alunos, partilhando com eles a gestão dos tempos,
dos recursos e dos conteúdos escolares, este modelo tem, como finalidade, o
envolvimento e corresponsabilização dos alunos na sua própria aprendizagem, com vista
a uma maior qualidade educativa que se reflita, não só num aumento dos saberes dos
alunos e no seu gosto de aprender, como num maior desenvolvimento pessoal e social
297
dos mesmos, através da prática de uma formação democrática para o exercício da
cidadania (Niza, 2011; Rebelo, 2011; Louseiro, 2011).
2.2.1.1. Objetivos.
Um dos pontos centrais do modelo do MEM é procurar “envolver os alunos no
seu percurso de aprendizagem, no sentido da aquisição de uma gradual tomada de
consciência do ponto em que se encontram e do que precisam de fazer para poderem
avançar no currículo” (Santana, 1999, p. 117).
A clarificação do ponto de partida (a partir do currículo claramente explicitado,
mobilizando os interesses e saberes prévios), são o arranque para o envolvimento dos
alunos (Xarepe, 1992), para o que concorre também a instituição de circuitos de
comunicação (Miranda, 2011). Simultaneamente criam-se condições para a estimulação
do desenvolvimento da autonomia, da interajuda, da socialização, do sentido da
responsabilidade e de cidadania, através da vivência de regras democráticas (Santana,
1999, 2000a).
Como explicita Sérgio Niza (1998a), neste modelo a ação educativa centra-se no
trabalho diferenciado de aprendizagem dos alunos e não no ensino simultâneo dos
professores.
São objetivos do modelo do MEM (González, 2002):
envolver os alunos na sua aprendizagem;
desenvolver a consciência do ponto em que se encontram e do que
precisam de fazer para poderem avançar no currículo;
articular as aprendizagens das diversas áreas curriculares;
298
desenvolver vivências democráticas;
desenvolver a autonomia, a interajuda, a socialização, o sentido da
responsabilidade e da cidadania;
diferenciar o trabalho dos alunos, na sala de aula;
potenciar as aprendizagens cooperativas;
2.2.1.2. Enquadramento teórico.
A Aprendizagem Cooperativa
O Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais sugere
explicitamente que o professor deve “criar condições para que o aluno possa cooperar de
forma produtiva, na realização de tarefas em grupos” (DEB, 2001, p. 54).
A aprendizagem cooperativa é uma velha ideia, já referida no Talmude, onde se
afirma que, para aprender, deve haver um companheiro de aprendizagem. Da mesma
forma, o filósofo Séneca afirmava «qui docet discet», ou seja, ensinar é aprender duas
vezes (Johnson & Johnson, 1983) e Johan Amos Comenius defendia que os alunos
deviam beneficiar do ensino ministrado por professores e do ensino proporcionado por
outros alunos, entendendo a escola como um «oficina de homens» (Leitão, 2006).
O MEM tem sido influenciado, como o podemos perceber, pelo
sociocunstrutivismo, valorizando a aprendizagem cooperativa.
299
O Socioconstrutivismo
Algumas das ideias propostas por Vygotsky já foram apresentadas anteriormente,
na perspetiva da influência exercida sobre as conceções atuais no campo da
autorregulação da aprendizagem.
Queremos, agora, focar a sua perspetiva sobre a aprendizagem cooperativa.
Vygotsky (1995) salienta a importância da experiência partilhada, do diálogo e da
colaboração, concebendo, desse modo, a aprendizagem como um processo de trocas e,
portanto, necessariamente social. Para Vygotsky (1993; 1995) a construção do
conhecimento manifesta-se na e pela interação social, e deve ser um processo
transparente, inteiramente possível de ser observado e comungado por todos aqueles que
participam na situação. É essa visibilidade que amplia a capacidade cognitiva individual
porque abre espaço para a tomada de consciência e decorrente realização em conjunto
daquelas tarefas que o indivíduo não é capaz de realizar sozinho (Pinto, 2008). Vista
assim, a interação com o adulto ou pessoa mais experiente assume um caráter estruturante
pois além do apoio efetivo, fornece ajuda para a atividade cognitiva (Palangana, 1994).
Princípios da Aprendizagem Cooperativa
Bertrand (1992) enumera alguns princípios da aprendizagem cooperativa, entre
eles: a) a cooperação – a sinergia entre alunos que trabalham em conjunto num projeto
faz com que aprendam mais; b) a flexibilidade – traduz-se na adaptabilidade a
circunstâncias, alunos, culturas, regiões, não havendo um modelo único válido para todas
as circunstâncias; c) a entreajuda – é o princípio que advoga que todos devem ajudar-se
300
no trabalho comum, o que tem efeitos positivos nos alunos fracos, nos médios e nos bons;
d) a complexidade cognitiva – as situações de aprendizagem são pensadas para estimular
a dimensão cognitiva, psicológica e social do aluno que aprende a evoluir num contexto
mais estimulante; e) a interdependência positiva – o trabalho conjunto realizado visa
contrariar o espírito de competição e promover cooperação; os elementos são
recompensados na base do reconhecimento do trabalho realizado; f) a valorização pessoal
– os alunos veem, na realização de uma obra coletiva, a sua autoestima aumentar, sentem-
se menos sós nos problemas, não são penalizados se errarem, o que facilita a motivação;
g) o professor tem muitas funções, entre elas a de apoio ao trabalho de cada aluno e do
grupo recorrendo ao feedback para explicar os sucessos ou as falhas dos alunos.
Ao tratar a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, Vygotsky (1991,
1993), como já o referimos, refere-se a dois níveis de desenvolvimento: ao nível de
desenvolvimento real e nível de desenvolvimento potencial (Fontes & Freixo, 2004). Este
último nível a que pode chegar com assistência e orientação do adulto ou com a
colaboração de pares, donde a importância do trabalho colaborativo. Para Vygotsky
(1979) “a única aprendizagem válida é a que se antecipa ao desenvolvimento” (p. 89).
A interação aluno-aluno é potencialmente geradora do confronto de perspetivas,
levando o aluno à necessidade de clarificação das suas ideias e ao esforço de compreensão
das dos pares, estimula a elaboração de novos instrumentos cognitivos e, por essa razão,
o socioconstrutivismo defende que as interações sociais podem promover o
desenvolvimento cognitivo e metacognitivo: “supervisionar, analisar, refletir e rever são
301
consideradas capacidades metacognitivas, que envolvem pensamento acerca do
pensamento, considerado como um tipo superior de pensamento” (Smith, 1990, p.52).
Nesta linha de pensamento, a linguagem assume um importante papel na
estruturação do conhecimento:
aprendemos estruturando e estruturamos através da exteriorização oral ou
escrita. Assim, boa parte da aprendizagem da criança resulta da interação
conversacional com os outros durante a realização de tarefas em colaboração. É
a falar com os outros que a criança expõe as suas ideias, questiona, desafia e
confirma – estratégias muito úteis na aprendizagem (Dillon, 1985, p. 90).
2.2.1.3. Princípios.
O MEM propõe-se promover o desenvolvimento de formação democrática dos
alunos através da atividade dos docentes associados (González, 2002). Na abordagem do
modelo do MEM, é sugerido que os alunos participem na gestão do currículo e sejam
corresponsáveis pelo planeamento das atividades curriculares (Pinto, 2008), assim como
corresponsáveis pela aprendizagem dos colegas, designadamente quando envolvidos em
trabalhos de grupo como, por exemplo, na realização de trabalhos de projeto. Os alunos
também são envolvidos na auto e hetero-avaliação, por exemplo, quando são
apresentados trabalhos e, semanalmente, na avaliação dos Planos Individuais de
Trabalho, durante o Conselho de Cooperação.
302
De acordo com o sítio da Internet do MEM (www.movimentoescolamoderna.pt),
o essencial é “a integração dos valores democráticos na vida das escolas” (MEM, 2013),
daí se valorizar, na organização do trabalho da turma a implicação dos alunos, em
exercício verdadeiro democrático.
As estruturas organizativas do MEM contemplam o formalismo jurídico mas
assentam numa forma de organização própria e adequada à vida em democracia, de
acordo com os seguintes princípios de estruturação da ação educativa:
- os meios pedagógicos veiculam, em si, os fins democráticos da educação;
- a atividade escolar, enquanto contrato social e educativo;
- a prática democrática da organização partilhada por todos institui-se em
Conselho de Cooperação Educativa;
- os processos de trabalho escolar reproduzem os processos sociais autênticos;
- a informação partilha-se através de circuitos sistemáticos de comunicação;
- as práticas escolares darão sentido social imediato às aprendizagens dos
alunos;
- os alunos intervêm ou interpelam o meio social e integram na aula “atores”
comunitários como fonte de conhecimento nos seus projetos; (MEM, 2013)
2.2.1.4. Conceitos fundamentais.
Cooperação
303
A organização do funcionamento da turma, de acordo com o modelo do MEM,
baseia-se no princípio de cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002), como o temos
vindo a referir. Toda a turma é envolvida em todas as fases do processo educativo, desde
a planificação à avaliação, passando pelo desenvolvimento (Pinto, 2008). Os alunos são
responsáveis pelo bem-estar e pelo sucesso das aprendizagens dos outros, são
responsáveis pela organização do espaço, pela gestão dos conflitos, por todas as
dimensões de funcionamento da turma (Grave-Resendes & Soares, 2002).
O Conselho de Cooperação é o momento de excelência de cooperação, na medida
em que é o momento em que todos os assuntos relacionados com a vida da turma são
discutidos, procurando-se o consenso (Pinto & Gomes, 2013).
Diferenciação
De acordo com a abordagem do modelo do MEM, o que é percetível, desde logo,
nos seus princípios, cada aluno é entendido como tendo os seus próprios interesses,
necessidades de aprendizagem, ritmos de trabalho e estilo de aprendizagem (Gomes,
2001, 2011b; Pinto, 2008; Grave-Resendes & Soares, 2002).
A organização do trabalho escolar respeita e potencia essas características
individuais, havendo um Plano Individual de Trabalho e tempos regulares de Trabalho
Autónomo. Mesmo nas atividades mais coletivas, é respeitado o ritmo de cada criança,
aceitando-se com naturalidade as dúvidas ou dificuldades (Grave-Resendes & Soares,
2002). O PIT e o TTA promovem o desenvolvimento da Aprendizagem autorregulada
(Pinto, 2008; Pinto & Gomes, 2013).
304
Regulação (auto e hetero)
No início da semana, cada aluno apresenta à turma o seu Plano Individual de
Trabalho, com os compromissos de trabalho semanais. No final da semana, cada aluno
faz a sua autoavaliação e pede a outros colegas para procederem também à sua avaliação
(os alunos escrevem, em espaços para o efeito, no PIT). Depois, a professora também faz
comentários nos PIT de cada aluno. Esta auto e heteroavaliação é feita e dada a conhecer,
no final da semana, no Conselho de Cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002).
As conclusões da auto e heteroavaliação são tidas em conta na definição do PIT
da semana seguinte. Toda a turma se sente corresponsável pelo trabalho de todos e de
cada um, sendo normal interferirem, com comentários e sugestões, na elaboração do PIT
(Pinto, 2008).
Partilha de poder
O poder é partilhado, dentro da sala de aula. O professor precisa de esvaziar
conceções de autoridade e superioridade, para ser possível a turma trabalhar em
cooperação, autonomia e responsabilidade. Não quer isto dizer que o professor se demita
das suas funções supervisoras e de orientação do trabalho, mas ao aceitar partilhar com a
turma as decisões sobre a vida da turma, é uma forma de criar um verdadeiro espírito de
cooperação e de vivência democrática (Niza, 1998a, 2000).
305
2.2.2. Análise do Modelo.
A estrutura organizativa do modelo, que Grave-Resendes (2002, p. 127) nos
propõe, aplicado ao 1.º ciclo, permite-ne uma visualização da forma como é organizada
a dinâmica da sala de aula, segundo a abordagem do modelo do MEM.
306
Quadro 12 – Organização Geral do Modelo do MEM
Fonte: Grave-Resendes (2002, p. 127)
Esquema da Organização Geral do
Modelo Pedagógico do MEM
Gestão e organização da classe Organização semanal do
trabalho
Organização espacial
Planeamento Avaliação Instr. pilotagem
do trabalho
Áreas de trabalho Conselho de
Cooperação
Apresentação de
produções
Planificação do
trabalho
Trabalho em várias
modalidades
(coletivo, peq.
grupo e em pares)
Comunicações
Atividades de
Extensão
Sessão Coletiva de
Expressões
Conselho Semanal de
Cooperação
Área da organização
e pilotagem do
trabalho
Área da Matemática
Área da
Experimentação
em Ciências
Área da Escrita e da
Leitura
Área da Expressão
Artística
Registo da
avaliação dos
conteúdos
programáticos
Fichas de registo
de projetos
Registo de
leituras
Registo de
produção de
textos
Mapa de tarefas
Diária
Semanal
Periódica
Plano semana
Plano diário
Projetos
Planos
individuais
de trabalho
307
2.2.2.1 Sintaxe.
O Currículo explícito
“Porque a aprendizagem é um ato intencional, os alunos devem ter conhecimento
do que se espera que aprendam, a fim de que dirijam o seu trabalho nesse sentido”
(Santana, 1999).
Neste modelo, é feita a apresentação do currículo aos alunos, no início de cada
ano escolar, através de grelhas de autoavaliação (Gomes, 2001). Estas permitem uma
maior aproximação dos alunos aos objetivos e a sua apropriação gradual dos conteúdos a
abordar, enunciados em competências a construir. Estas grelhas vão sendo preenchidas
com códigos em cores (Pinto, 2008).
Periodicamente, faz-se um balanço do que foi trabalhado e do que falta trabalhar,
o que desencadeia novas planificações. O registo das aquisições individuais devolve ao
aluno a imagem do que se espera dele. A leitura das grelhas coletivas permite, por sua
vez, perceber quais as áreas em que cada um tem que investir mais trabalho (Santana,
1999; Niza, 1998a; 2000).
A apresentação do currículo das diversas áreas curriculares aos alunos é feita no
início do ano letivo e constitui a base do trabalho e a primeira abordagem do que a escola
exige a todos (alunos e professores). “Procuramos, deste modo, desocultar os critérios da
escola e partilhar com os alunos as competências e os conteúdos das aprendizagens, de
forma a envolvê-los no processo desde o primeiro momento” (Santana, 1999, pp. 15-16).
De certa forma, é um “contrato educativo” (Niza, 1998a), a partir do qual os alunos se
mobilizam para as competências a desenvolver.
308
Depois, para além da apresentação do currículo no início do ano, há avaliações
periódicas da evolução, para que os alunos gradualmente vão tomando consciência do
que têm que aprender. Isto faz-se através da verificação de conteúdos que não foram ou
foram menos trabalhados. Esses momentos são também momentos de planificação dos
conteúdos a trabalhar no período seguinte e desencadeiam a constituição e organização
de grupos em torno de novos projetos (Grave-Resendes & Soares, 2002; Niza, 1998a,
2000).
Para além disso, “é a auto e heteroavaliação das aprendizagens dos conceitos
trabalhados que permite a cada aluno apropriar-se verdadeiramente do programa, a partir
da tomada de consciência do que já domina e do que precisa de trabalhar para melhorar”
(Santana, 1999, p. 16).
Pode construir-se, com a turma, uma grelha que permita simultaneamente uma
análise do currículo e dos percursos individuais de aprendizagem. Terá uma listagem dos
conteúdos e uma lista de verificação. Esta tabela facilita a gestão coletiva do trabalho,
uma vez que se pode assinalar o que já foi trabalhado e o que se projeta trabalhar,
propiciando a regulação individual das aprendizagens, através da autoavaliação periódica
(Pinto, 2008). Cada aluno pode situar-se, em qualquer momento, face ao que já foi
realizado. “Dá-nos uma visão global dos progressos do grupo e de cada um e facilita aos
alunos a tomada de consciência dos seus percursos” (Santana, 1999, p. 16). Estes quadros,
para cada área curricular, são afixados de modo a serem facilmente lidos por todos (Niza,
1998a).
309
Planeamento
Neste modelo, as tarefas são combinadas, distribuídas e avaliadas semanalmente,
em Conselho de Cooperação, o que obriga muitas vezes a clarificar situações e até a fazer
com os alunos uma análise de tarefas que o professor regista e expõe na aula para ajudar
o desempenho dos alunos e para lhes permitir uma avaliação mais objetiva (Santana,
1999).
Os planos de trabalho são instrumentos que permitem diferenciar o trabalho, o
tempo, as atividades e os conteúdos programáticos. Também são instrumentos de
controlo, contratos explícitos que comprometem e responsabilizam os alunos e o
professor perante si e perante a turma (Pinto, 2008; Niza, 2000).
Os planos são afixados na sala, como roteiro de trabalho e como instrumento de
balanço das atividades diárias e semanais. Inicialmente, o registo e o controlo são feitos
pelo professor, que gradualmente, vai passando essa competência para as crianças
(Santana, 1999; Pinto, 2008).
Plano Semanal
O plano semanal é a listagem das atividades a realizar ao longo da semana, de
acordo com o desenvolvimento do projeto curricular da turma e das rotinas de trabalho
estabelecidas e a prosseguir (Grave-Resendes & Soares, 2002).
Ao longo da semana, há para distribuir as seguintes atividades (Pinto, 2008)
- apresentação das produções pessoais (ler e mostrar);
- trabalho de projeto;
310
- trabalho de estudo autónomo (TEA);
- os livros e a leitura;
- Língua Portuguesa / trabalho de texto;
- Matemática Coletiva;
- Atividades de Extensão Curricular;
- Sessões Coletivas de Expressão Artística.
Plano diário
A planificação do trabalho, pelos alunos e pela professora, é feita diariamente, em
Conselho de Cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002).
O plano diário decorre do plano semanal e contém a listagem das tarefas a realizar
em cada dia pelos respetivos intervenientes.
Projetos: Trabalho de Projeto
Os trabalhos de projeto são realizados em pequenos grupos, em tempos
predefinidos na agenda semanal, a partir de interesses dos alunos. Gradualmente, vão
aprendendo a associá-los a temas curriculares, em concordância com o mapa curricular
que lhes foi apresentado e está fixado na sala.
Trata-se de pequenas pesquisas que partem de interesses dos alunos, decorrem da
avaliação e planificação das áreas curriculares ou de desafios lançados pelos
correspondentes de outra turma/escola. A sua realização, em pequeno grupo (não mais do
que três elementos) está contemplada na organização da semana.
311
O trabalho de projeto é uma estratégia de diferenciação dos conteúdos das
aprendizagens, das atividades e do tempo (Pinto, 2008). Centra-se no trabalho dos alunos,
isto é, no aprender, e não na lição do professor, isto é no ensinar. Portanto, implica o lado
ativo e dispensa o lado passivo do processo aprendizagem (Niza, 2000).
Existe um quadro no qual os alunos registam os assuntos sobre os quais gostariam
de fazer um trabalho de projeto (pesquisa). Nem todos dão origem a projetos, apenas se
implicarem recolha de informação. Organiza-se um mapa de registo dos temas dos
projetos e os nomes dos participantes, as datas previstas para finalizar o trabalho, para a
apresentação das comunicações e a avaliação (Santana, 1999).
Comunicações
No final da realização dos projetos, o grupo faz a comunicação do projeto à turma,
partilhando as aprendizagens feitas. O grupo que faz a apresentação também elabora uma
«ficha de extensão», com perguntas acerca do projeto, para os restantes alunos
responderem, apelando ao que aprenderam da comunicação do grupo (Gomes, 2014).
312
O PIT – Plano Individual de Trabalho
O Plano Individual de Trabalho (PIT) permite operacionalizar a diferenciação do
trabalho, ou seja, permite que cada aluno realize atividades segundo as necessidades que
progressivamente vai consciencializando na interação com os outros.
Trata-se de um registo do projeto e compromisso individual de trabalho para a
semana, que decorre das motivações e das necessidades tornadas conscientes através das
várias formas de avaliação, designadamente da avaliação semanal do PIT anterior, em
Conselho de Cooperação e de outros instrumentos de pilotagem do trabalho da turma.
No próprio documento existe um campo para a auto-avaliação, cujo conteúdo é
partilhado com os colegas, no Conselho de Cooperação, no final da semana. Também as
sugestões do professor e dos colegas, vão regulando o trabalho individual e ajudando a
direcionar a planificação do trabalho da semana seguinte (Pinto, 2008).
O plano individual de trabalho (PIT) é um roteiro que guia o trabalho dos alunos
ao longo da semana. “É planificado individualmente, no início da semana, e avaliado
individualmente e coletivamente no final da semana (Santana, 1999, p. 119).
O modelo de PIT, regra geral, contempla (Pinto, 2008; Grave-Resendes & Soares,
2002; Santana, 1999):
- espaço destinado ao nome do aluno e à semana a que diz respeito;
- um espaço destinado ao registo da tarefa;
- uma área que contém do lado esquerdo o elenco das atividades possíveis de
realizar naquele tempo, na qual cada aluno regista e quantifica aquilo que pensa fazer ao
longo da semana.
313
- do lado direito, um espaço destinado ao registo e à quantificação das atividades
efetivamente realizadas;
- uma área destinada ao registo dos projetos, à composição do grupo, ao que cada
um se propõe fazer e ao balanço do trabalho realizado;
- uma área destinada ao registo da comunicação do projeto à turma, de outros
trabalhos, ao registo do dia ou dias de trabalho com o professor durante o TEA e do apoio
aos colegas;
- uma área destinada à autoavaliação e às sugestões dos colegas e do professor.
Avaliação
Diária
Diariamente, é feita, com o envolvimento de professor e alunos, a avaliação diária,
confrontando o trabalho realizado com a planificação diária. No seguimento desta
avaliação, pode surgir a necessidade de uma readequação/atualização da agenda dos dias
seguintes. Aliás, a agenda semanal é diariamente atualizada, justamente considerando
esta avaliação feita ao final de cada dia.
Semanal
Semanalmente, o Conselho de Cooperação reúne para fazer a avaliação da
semana, iniciando-se, regra geral, por cada aluno proceder autoavaliação do seu PIT que,
314
depois, é objeto de avaliação/comentário pelos pares e pelo professor. É feita também a
avaliação do plano semanal, que influencia a definição da agenda da próxima semana,
dando continuidade ao trabalho realizado, considerando as necessidades, dúvidas
individuais e coletivas, bem como as dúvidas ou sugestões que entretanto surgiram.
Também em função desta avaliação, são combinados os apoios com a professora ou com
os pares mais competentes, de acordo com as necessidades individuais. Apoios estes
concretizados essencialmente durante o tempo de Trabalho Autónomo.
No Conselho de Cooperação é ainda lido o Diário de Turma (com o “gostei”, “não
gostei” e “propostas”), seguindo-se a sua disucussão, e são resolvidos os problemas que
emergiram, ao longo da semana.
Periódica
Trimestralmente, é feito o balanço do que foi desenvolvido e ainda falta
desenvolver face ao currículo, reprogramando-se o trabalho. É um momento privilegiado
de balanço do desenvolvimento curricular, ajudando os alunos a desenvolverem a sua
consciência acerca das aprendizagens concretizadas e a promover (Pinto, 2008).
As grelhas de autoavaliação permitem uma maior aproximação dos alunos aos
objetivos programáticos e a sua mobilização para o trabalho sobre os itens em
que sentem maiores dificuldades. Focalizam conteúdos dos programas
apresentados sob a forma de capacidades e são preenchidos periodicamente
segundo um código de cores. Esses registos individuais vão sendo passados para
uma grelha coletiva através de discussões em grupo. São momentos de
heteroavaliação que provocam uma enorme interação, uma vez que a avaliação
individual pode não coincidir com a opinião do grupo (Santana, 1999, pp. 118-
119).
315
2.2.2.2. O Sistema Social: A Regulação Cooperada das Aprendizagens.
O Conselho de Cooperação Educativa
O Conselho de Cooperação Educativa é constituído pelos alunos e professor(es)
da turma (Niza, 2000; Santana, 1999; Pinto, 2008). É organizado segundo as regras
democráticas e trabalha cooperativamente (Santana, 1999). Reúne diariamente para
planificar e fazer o controlo do Trabalho (Conselho Diário ou Balanço Diário) e
semanalmente, à Sexta-feira, para regular as relações sociais da turma, avaliar as
realizações dos alunos durante a semana e programar o trabalho da semana seguinte
(Conselho Semanal) (Grave-Resendes & Soares, 2002).
Como referimos anteriormente, é durante Conselho de Cooperação que a turma
planifica o trabalho diário semanal, que também se negoceiam os apoios com o professor
aos projetos e a alunos com dúvidas, as tomadas de decisão quanto às comunicações a
apresentar, a determinação dos conteúdos a tratar e os tipos de trabalho a realizar durante
os tempos coletivos (Niza, 1998a, 2000).
O Conselho é presidido e secretariado, rotativamente, por dois alunos, sendo o
presidente que assegura, durante a semana, o funcionamento do Conselho Diário.
Para a realização do Conselho Semanal, propõem-se que se organizem em U ou
mesa redonda, para que os alunos se vejam frente a frente e possam comunicar facilmente,
de acordo com as regras definidas e o respeito pelo uso da palavra gerido pelo presidente.
Instrumentos de pilotagem
316
Para regular a produção da turma, são usados diferentes registos, a que é comum
chamar-se instrumentos de pilotagem complementares do PIT (Santana, 1999). Estes
instrumentos estão visíveis junto das diversas áreas de trabalho, permitindo que cada
aluno possa assinalar as suas realizações.
Em termos pragmáticos, estes instrumentos permitem o registo e, logo, a
monitorização do trabalho da turma, face ao currículo, mas também no que diz respeito à
utilização dos ficheiros de cada área curricular, à produção de textos e às leituras, por
exemplo, constituindo-se um importante recurso para a avaliação.
Os instrumentos vulgarmente usados em turmas que implementam o modelo são
os seguintes: o Diário de Turma, o mapa de desenvolvimento curricular, a ficha de registo
dos projetos realizados e planeados realizar, o registo de leituras, o registo de produções
de textos, os mapas de tarefas (Santana, 1999). A implementação destes instrumentos
deve surgir das necessidades da turma e todos devem ser adequados à dua especificidade.
2.2.2.3. Princípios de reação
De acordo com a abordagem do MEM e considerando os seus princípios de
formação democrática e de cooperação, a gestão dos conflitos é feita em Conselho de
Cooperação, havendo corresponsabilização de todos pelos problemas relacionais entre
alunos. As situações são, portanto, analisadas e discutidas no Conselho de Cooperação,
sendo os alunos incentivados a apresentar propostas de resolução dos problemas.
317
Quando os alunos têm dúvidas em determinados conteúdos, podem ser ajudados,
pela professora ou por aluno(s) mais competentes nessa área (Niza, 2000). Esses apoios
são combinados em Conselho de Cooperação e são uma prática corrente, porque cada
aluno tem necessidades e ritmos diferentes e, com a ajuda mútua, haverá uma mais eficaz
superação dessas dificuldades.
2.2.2.4. Sistemas de apoio
Organização Espacial: O Cenário Pedagógico
A sala de aula é organizada de acordo com este modelo, em áreas de trabalho,
sendo desejável que todos os materiais de cada área curricular estejam acessíveis aos
alunos (Greve-Resendes & Soares, 2002). Os materiais vão sendo adequados, em função
do desenvolvimento das aprendizagens, dos interesses e das necessidades dos alunos.
Através desta organização do cenário procura-se que este seja “estruturante e
facilitador do acesso dos alunos a todos os recursos de aprendizagem bem como aos
instrumentos reguladores dos processos de trabalho” (Santana, 1999, p. 117).
Além disso, a organização do espaço tem em vista a possibilidade de os alunos
realizarem atividades diversificadas em diferentes modalidades de trabalho (individual, a
pares, em grupo, etc.) e a disposição dos materiais visa permitir que os alunos o utilizem
autonomamente (Grave-Resendes & Soares, 2002).
Área de Organização e Pilotagem do Trabalho
318
Afixados na parede da sala, para estarem visíveis e acessíveis, estão um conjunto
de instrumentos de apoio e de pilotagem que permitem o registo e organização cooperada
do trabalho. Esta área denomina-se “Área de Organização e Pilotagem do Trabalho” e
nela se apresentam a Agenda Semanal, os Planos de Trabalho diário e semanal, o Mapa
de Projetos, os Mapas de Desenvolvimento Curricular, de tarefas e de presenças, bem
como o Diário de Turma e o Calendário (Grave-Resendes & Soares, 2002).
A Agenda Semanal, como já o referimos, é organizada pela turma, apresentando
os tempos dedicados a cada área curricular, tempo de trabalho autónomo, trabalho de
projeto, etc. No início da semana, a turma decide o que vai ser feito dentro de cada um
desses tempos, elaborando o Plano Semanal. Depois, diariamente, no início do dia, a
turma concretiza e atualiza a agenda para o dia, com o Plano Diário.
O Mapa de Projetos é uma tabela onde se vão registando os projetos em curso, a
constituição dos grupos e os temas.
Os Mapas de Desenvolvimento Curricular têm os conteúdos de cada área
curricular para o ano de escolaridade e é nele que se vai registando a evolução do trabalho
da turma e de cada aluno face ao currículo. Estes mapas são apresentados no início do
ano letivo e, ciclicamente, são alvo de análise, para se fazer a avaliação do progresso dos
alunos relativamente aos conteúdos a abordar.
A forma cooperada de gerir a atividade da turma implica que todos saibam o que
é preciso fazer e que cada um seja responsável pela sua tarefa. Semanalmente, é atribuída
uma tarefa a cada aluno ou par de alunos, registando-se no Mapa de Tarefas e sendo
avaliado o desempenho no final da semana.
319
Também existe o Mapa de Presença onde, como o próprio nome indica, é feito o
registo diário das presenças dos alunos da turma e, opcionalmente, se a turma o entender,
diversificando as cores, da pontualidade.
Área da Matemática
É nesta área que estão à disposição dos alunos os materiais estruturados e não
estruturados, a balança, pesos e medidas, assim como os ficheiros de Matemática. Junto
aos ficheiros, estão também as tabelas de registo coletivo das produções e realizações dos
alunos, nesta área (Grave-Resendes & Soares, 2002).
Área da Experimentação em Ciências
Os materiais de apoio às experiências encontram-se nesta área, acompanhados de
ficheiros e guiões para apoio à realização das experiências e grelhas de registo das
experiências realizadas e das questões suscitadas.
Área da escrita e da leitura
Nesta área, estão o computador e o canto da leitura, com a(s) estante (s) onde estão
os livros da biblioteca da turma e almofadas para os alunos poderem estar comodamente
sentados a ler.
Também existem grelhas de registo das leituras realizadas, dos livros requisitados
para leitura em casa e sugestões de leitura que os alunos podem fazer uns aos outros.
320
Também é nesta área que é afixada a correspondência coletiva recebida e
produzida pela turma (Grave-Resendes & Soares, 2002).
Área da Expressão Artística
Os materiais de pintura, modelagem e de desperdício estão nesta área, onde os
alunos podem dar largas à sua imaginação criativa (Grave-Resendes & Soares, 2002).
2.2.3. Aplicação.
Apresentação de Produções
No tempo para a apresentação de produções pessoais (trabalhos realizados por
iniciativa própria: textos livres, criações temáticas, ...), cada aluno faz a apresentação do
que produziu. Como não é possível todos mostrarem as suas produções, em cada dia, faz-
se por ordem de inscrição. Ao longo da semana, todos terão a oportunidade de fazer uma
apresentação e de discutir as suas criações, de se sujeitar à apreciação dos outros e de
recolher sugestões. É um momento de comunicação oral, de partilha de informação e de
estratégias pessoais de aprendizagem, de auto e heterorregulação de regras sociais de
comunicação: saber ouvir, aguardar a vez de falar, não perturbar, defender as suas
opiniões e respeitar as dos outros.
Este momento faz interagir os conhecimentos que o aluno possui com novos
conhecimentos que o grupo introduz, ou para os quais o desafia, provocando novas
aprendizagens (Grave-Resendes & Soares, 2002).
321
Planificação do trabalho
A planificação do trabalho é realizada em Conselho. O Plano Semanal, fruto da
negociação na turma, tem as atividades a realizar ao longo da semana. Diariamente, a
partir deste Plano Semanal, é elaborado o Plano Diário com maior objetividade e tem as
atividades a realizar e os respetivos intervenientes, funcionando como um roteiro de
trabalho, que no final do dia servirá de instrumento de balanço do dia.
Trabalho em várias modalidades
A turma no modelo do Movimento da Escola Moderna organiza-se, de acordo
com os objetivos que se pretendam atingir, em trabalho individual, a pares, em pequenos
grupos ou grande grupo/turma.
Nas sessão coletivas em que se pretende a apresentação de um conteúdo, ou a sua
sistematização, de forma coletiva, a turma trabalha em grande grupo.
No desenvolvimento dos projetos, normalmente, recorre-se ao trabalho a pares ou
em pequenos grupos.
No tempo de Trabalho Autónomo, a maioria do trabalho é individual, podendo
também ser a pares, por exemplo, quando se faz enriquecimento de texto, na realização
de experiências ou nos momentos de apoio entre pares.
O Tempo de Estudo Autónomo
O tempo de estudo autónomo (TEA) ocupa, pelo menos, uma hora diária, na
agenda. Destina-se ao treino de capacidades e competências curriculares, ao estudo, à
322
escrita de textos e a leituras à escolha dos alunos e ao apoio do professor aos alunos que
manifestam dificuldades em qualquer área do currículo, sem os desintegrar dos seus
companheiros nem do trabalho que se desenvolve na turma.
Por acordo entre o professor e os alunos, algumas crianças dispõem de uma parte
do seu tempo para ajudar um companheiro numa tarefa específica, escrever um texto ou
fazer uma ficha, por exemplo. Este trabalho de cooperação, entre pares, faz parte dos seus
planos individuais.
No início da semana, cada aluno, em função das suas necessidades, ritmo e
interesses, livremente assiná-la no seu Plano Individual de Trabalho os trabalhos que
pensa realizar. Diariamente, marca no seu PIT e nos registos coletivos as atividades
realizadas. “Criam-se condições para que os alunos aprendam a respeitar o trabalho dos
outros, a experimentar estratégias para vencer as dificuldades e também recorrer à ajuda
de companheiros e de toda a informação disponível. Aprende-se a estudar, a ser autónomo
e cooperante num clima de afetividade que opõe a cooperação à competição” (Grave-
Resendes & Soares, 2002, p. 89).
2.2.4. Efeitos didáticos e educativos.
Como efeitos didáticos ou diretos, o Modelo do MEM tem como meta conseguir
desenvolver nos alunos:
- competências de investigação;
- articular as aprendizagens das diversas áreas curriculares;
- potenciar o desenvolvimento de competências em todas as áreas curriculares,
apostando no conhecimento do currículo, por parte dos alunos.
323
Como efeitos educativos ou indiretos, segundo a perspetiva deste modelo, os
alunos desenvolverão:
- formação democrática e ao desenvolvimento moral (justiça, reciprocidade e
solidariedade);
- plena participação na gestão do currículo da turma (planificação, execução e
avaliação);
- responsabilidade;
- espírito de interajuda.
324
3. Semelhanças e divergências entre os modelos do High/Scope e do
MEM
3.1. Influências Teóricas
A Fundação High/Scope propõe um modelo pedagógico influenciado pelo
construtivismo, com especial destaque para a teoria de Piaget.
A tónica do modelo é posta na Aprendizagem Ativa, concebendo-a como
experiências com pessoas, objetos, eventos e ideias. “As crianças aprendem mais quando
encorajadas e a explorarem, a interagirem, a serem criativas, a seguirem os seus próprios
interesses “ (Brickman & Taylor, 1996, p. 4).
A ação na aprendizagem é determinante, sobretudo quando há consciencialização
dessa ação. O conhecimento produz-se através da ação, através da mediação da linguagem
(Meirieu, 1997).
Piaget, tendo estudado o desenvolvimento do pensamento lógico da criança,
influencia o modelo na conceção de que se promovermos, com as crianças, determinadas
tarefas de aceleração, podemos ajudá-las a passar ao estádio seguinte de desenvolvimento
(Guerreiro, 2006).
Da apresentação da influência teórica de Piaget no modelo High/Scope realça-se
que “a obra de Piaget remete sempre para a ideia de autonomia e independência do sujeito
face às coisas e aos outros” (Lourenço, 2005, p. 52), o que se reflete na abordagem ao
modelo.
325
Por outro lado, o MEM propõe um modelo pedagógico influenciado pelas teorias
da Aprendizagem Cooperativa, com especial destaque (assumidamente, a partir dos anos
80) para Vygotsky (González, 2000).
Vygotsky (1993; 1995) coloca em destaque a importância do grupo, do social, do
coletivo. Sendo fundamental o ato social na aprendizagem, reforça a importância da
partilha, da cooperação, bem como a centralidade da linguagem na organização do
pensamento verbal e na regulação das ações. Para Vygotsky, a construção do
conhecimento manifesta-se na e pela interação social (Palangana, 1994).
Pode perceber-se, desde as influências teóricas, que no modelo do Movimento da
Escola Moderna é colocada uma maior ênfase no aspeto cooperativo e social da
aprendizagem, acreditando-se que, com a ajuda do professor ou dos pares, é possível
ajudar o aluno a superar as dificuldades e a desenvolver mais e novas aprendizagens.
De facto, a perspetiva “de Vygotsky orienta-se para a ideia de heteronomia ou
subordinação do sujeito individual às diversas estruturas sociais” (Lourenço, 2005, p. 52).
Esta é a grande diferença ao nível das influências teóricas que se refletem nos
princípios e nas propostas pedagógicas dos dois modelos:
enquanto Piaget deixou uma obra sobre o sujeito que constrói individual e
solitariamente o seu conhecimento, Vygotsky deixou uma obra sobre um sujeito
que só se desenvolve na medida em que participa em formas diversas de interação
social, nisso utilizando instrumentos (e.g., ábaco, lápis, martelo) e símbolos (e.g.,
linguagem, jogo do faz-de-conta, fórmulas matemáticas) uns e outros sociais na
sua própria natureza. Em vez de individual e solitário, o conhecimento surge em
Vygotsky como coletivo e duplamente social (Lourenço, 2005, p. 53).
326
Orlando Lourenço (2005), ao refletir sobre os aspetos comuns e divergentes,
propõem-nos um quadro comparativo das semelhanças e diferenças entre as teorias de
Piaget e de Vygotsky, sintetizando que “existem semelhanças assinaláveis entre ambos,
sendo as diferenças quase desprezíveis” (p. 53).
Quadro 13 – Semelhanças e diferenças: Piaget, Vygotsky, Autonomia e Heteronomia
Algumas semelhanças entre Piaget e Vygotsky
Perspetiva genética
Abordagem dialética
Visão não reducionista
Visão não dualista
Importância da ação
Primazia dos processos
Foco nas mudanças qualitativas
Piaget, Vygotsky, Autonomia e Heteronomia
Dimensão Piaget e a procura da
autonomia Vygotsky e a orientação
para a heteronomia
A origem do conhecimento
e o motor do desenvolvimento O próprio Os outros
Relação valorizada Entre iguais De sutoridade
Método de análise Clínico Microgenético
Conhecimento focado Necessidade Verdade
Foco educativo Transformação Transmissão
Fonte: Adaptação a partir de Lourenço, 2005, pp. 53 e 56
Em suma, há muitas semelhanas entre as duas perspetivas mas, porém, há “uma
diferença crucial” (Lourenço, 2005, p. 52) que se reflete nas suas influências sobre os
modelos em análise neste trabalho: na obra de Piaget nota-se uma preponderância “para
a autonomia do sujeito face às coisas e aos outros” (idem, p. 68), enquanto Vygotsky
327
realça “uma subordinação acentuada, se bem que não total, do sujeito individual às
diversas estruturas sociais” (idem, p. 68)
3.2. Conceitos-chave
O conceito-chave do modelo High/Scope é a “Aprendizagem pela Ação” ou
“Aprendizagem Ativa Participativa” (Brickman & Taylor, 1996; Epstein, 2003, 2007;
Fewson, 2008), propondo que a aprendizagem se faz pela ação do sujeito sobre os objetos,
pessoas, ideias e acontecimentos, sendo que devem ser proporcionadas à criança
experiências-chave altamente significativas (Epstein, 2007). De acordo com esta
abordagem, as “experiências de aprendizagem para crianças devem ser ativas, isto é, tais
experiências devem tornar a criança capaz de construir o seu próprio conhecimento
lidando diretamente com pessoas, materiais e ideias” (Brickman & Taylor, 1996, pp. 3-
4)
O modelo do MEM, por sua vez, é sociocêntrico, defendendo uma “prática
democrática da gestão de conteúdos, das atividades, dos materiais, do tempo e dos
espaços se fazem em cooperação” (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 41). A
organização do funcionamento da turma, de acordo com esta abordagem, deve basear-se
no princípio da cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002), em todas as fases, desde a
planificação à avaliação (Pinto, 2008).
No modelo High/Scope as experiências-chave, propostas em cada área curricular,
apoiam o desenvolvimento das aprendizagens (Gainsley, 2008): guiam o ensino e
328
suportam a avaliação (Fewson, 2008; Epstein, 2010), na medida em que o professor
utiliza as experiências-chave e observação das crianças para planear as atividades
subsequentes (Epstein, 2009; Marshall, 2009; Kruse, 2006). A aprendizagem ativa e
significativa determina as aprendizagens.
No modelo do MEM não encontramos esta visão, sendo os alunos, eles próprios,
organizados enquanto “comunidades educativas de aprendizagem “ (MEM, 2013) que,
conhecendo o currículo planificam e avaliação (auto e hétero-avaliação) as suas
progressões: “porque a aprendizagem é um ato intencional, os alunos devem ter
conhecimento do que se espera que aprendam, a fim de que dirijam o seu trabalho nesse
sentido” (Santana, 1999).
Os conceitos-chave “aprendizagem ativa” e “cooperação”, do modelo High/Scope
e do modelo do MEM, respetivamente, refletem as influências teóricas que influenciaram
a evolução de cada modelo de forma distinta. A preponderância “para a autonomia do
sujeito face às coisas e aos outros” (idem, p. 68), de Piaget reflete-se na valorização da
“Aprendizagem Ativa Participativa” (Brickman & Taylor, 1996; Epstein, 2003, 2007;
Fewson, 2008) do sujeito aprendente, em experiências-chave propostas pelo professor. Já
no modelo do MEM, por influência da perspetiva de Vygotsky, existe “uma subordinação
acentuada, se bem que não total, do sujeito individual às diversas estruturas sociais”
(idem, p. 68), com base na cooperação.
Não podemos dizer com isto que o papel do professor é completamente esvaziado
no modelo do MEM. O poder, em sala de aula, é partilhado, propondo o modelo que se
esvaziem as conceções de autoridade e superioridade do professor. Mas, não pode este
demitir-se das suas funções de supervisão e orientação do trabalho. Aceitar partilhar as
329
decisões sobre a vida da turma é, também, uma forma de criar um verdadeiro espírito de
cooperação e vivência democrática (Niza, 1998a; 2000).
Na abordagem High/Scope, embora também se preconize que “os adultos e as
crianças partilham o controlo” (Hohmann & Weikart, 2007, p. 1) é mais na escolha das
atividades e materiais, designadamente no momento do «planear-fazer-rever», porque “a
aprendizagem vem de dentro” (idem), que o papel do professor “é apoiar e guiar as
crianças através das aventuras e das experiências que integram a aprendizagem pela ação”
(idem). Sobretudo nas últimas fases do desenvolvimento do modelo, como o referimos
anteriormente, “a criança tornou-se decisivamente o motor central do programa”
(Oliveira-Formosinho, 2007, p. 59).
3.3. Objetivos
No que diz respeito aos objetivos, os dois modelos são muito semelhantes.
O desenvolvimento, nos alunos, da autonomia, da responsabilidade, da
socialização, entre outros, podemos encontrá-los inscritos nos objetivos de ambos os
modelos (Brickman & Taylor, 196; Epstein, 2003, 2012b; Santana, 1999; Niza, 1998a).
Pequenas acentuações destacam influências e focos diferentes.
No modelo High/Scope, surgem como objetivos, para além dos enunciados,
desenvolver (Brickman & Taylor, 196; Epstein, 2003, 2012b):
- a independência;
- as competências de planificação.
O modelo do MEM apresenta, também, como objetivos (Niza, 1998a):
- envolver o aluno no seu percurso de aprendizagem;
330
- pomover a aquisição gradual da tomada de consciência do ponto em que se
encontram e do que precisam de fazer para poderem avançar no currículo;
- estimular a interajuda;
- desenvolver a cidadania (através de vivência de regras democráticas).
Podemos considerar uma proximidade entre o objetivo de envolver o aluno no seu
percurso de aprendizagem e desenvolver a aquisição gradual da tomada de consciência
da sua aprendizagem (MEM), com o desenvolvimento de competências de planificação
(High/Scope). Mas, a forma como os objetivos são enunciados, revelam a diferença de
abordagem.
Na verdade, o modelo do MEM, sendo sociocêntrico, está mais focado no lado
cooperativo e, logo, na interdependência. As aprendizagens, os fracassos e sucessos, bem
como os conflitos e o desrespeito de regras são da responsabilidade do grupo (Grave-
Resendes & Soares, 2002; Pinto, 2008).
3.4. Princípios
No modelo High/Scope, os princípios são: a aprendizagem pela ação, rotina diária,
interação adulto-criança, ambiente de aprendizagem e avaliação.
Por sua vez, no modelo do MEM, os princípios são a formação democrática e o
desenvolvimento sociomoral que reflete a intencionalidade de integração dos valores
democráticos na vida das escolas (MEM, 2013; Niza, 2000). Os conceitos fundamentais
331
relacionam-se, por isso, com a cooperação, a diferenciação, a auto e heterorregulação e a
partilha de poder (Santana, 1999; Gomes, 2011b).
Podemos verificar que, enquanto no modelo High/Scope há uma preponderância
da rotina diária, como forma de o aluno antecipar o dia e a semana (Epstein, 2003;
Fewson, 2008, Oliveira-Formosinho, 2007; Kruse, 2003), no modelo do MEM, a tónica
recai na cooperação e a definição do trabalho coletivo é resultado da negociação e das
decisões de todos (Grave-Resendes & Soares, 2002). Também no High/Scope vemos
como um dos princípios a relação adulto-criança (Hohmann & Weikart, 2007). Ao invés,
no modelo do MEM o foco está na relação entre os pares – a cooperação (Grave-Resendes
& Soares, 2002; Santana, 1999; Pinto, 2008; Gomes, 2014).
3.5. Controlo e regulação das atividades
A este respeito, lê-se menos na teoria e investigação acerca do modelo
High/Scope, embora surja, frequentemente, a indicação de que “os adultos e as crianças
partilham o controlo” (Hohmann & Weikart, 2007) das atividades. Apesar de que, no
modelo High/Scope “o papel do adulto não é controlar ou dirigir o processo de
aprendizagem, mas sim apoiá-lo” (Brickman & Taylor, 1996, p. 4), é o professor que
planifica a agenda diária (Fewson, 2008), integrando nela as experiências-chave
(Gainskey, 2008) que guiam o ensino e a avaliação em cada área (Fewson, 2008; Epstein,
2009, 2010; Marsahla, 2009; Kruse, 2009).
332
Já no modelo do MEM é dado grande ênfase à questão da regulação cooperada
das atividades, através do Conselho de Cooperação Educativa (Grave-Resendes & Soares,
2002). Neste Conselho, constituído pelos alunos da turma e professor(es), são negociados,
construídos e adequados a Agenda da Turma, os Planos Diários, os instrumentos de
pilotagem do trabalho, os Planos Individuais de Trabalho, as regras da turma, etc.
Também os problemas, conflitos, sugestões e propostas são discutidos em grupo (idem).
O modelo propõem a utilização do Plano Individual de Trabalho (PIT), como
instrumento de controlo e regulação das atividades individuais, uma forma de controlo e
regulação das atividades individuais, uma forma de contrato que cada aluno assume com
a turma, relativamente ao trabalho que vai desenvolver durante a semana, para o
funcionamento regular da turma e para a sua aprendizagem, de acordo com o seu ritmo,
os seus interesses e as suas necessidades (Pinto, 2008).
Claramente, no modelo High/Scope o professor tem uma maior implicação na
planificação das atividades, até porque é ele que, em função da avaliação individual, tem
conhecimento das experiências-chave a promover. Contudo, é notório que, na última
revisão do modelo (Epstein, 2012a), como vimos, o modelo se aproxima mais do modelo
do MEM, na questão do papel do professor no controlo e regulação das atividades.
3.6. A Agenda
A Agenda, apesar de ligeiras nuances entre os dois modelos, é um dispositivo
semelhante, devendo incluir, em ambos, tempo para trabalho individual, trabalho de
projeto e sessões coletivas.
333
Contudo, no modelo High/Scope, como temos vindo a referir, é o professor que
planifica a agenda semanal, o trabalho em pequeno grupo e nas sessões coletivas (Fewson,
2008). Também fazem necessariamente parte da agenda diária, neste modelo, o tempo de
acolhimento, o momento do «planear-fazer-rever», tempo de exterior e as transições
(Epstein, 2003, 2007).
No modelo do MEM, a Agenda Semanal é definida pela turma e atualizada
semanal e diariamente, em Conselho de Cooperação, através do Plano Semanal e Plano
Diário (Grave-Resendes & Soares, 2002; Santana, 1999). Também como vimos, a
Agenda resulta da avaliação feita em Conselho de Cooperação, tendo em consideração os
interesses e necessidades da turma, face ao currículo explícito e afixado na sala de aula
(Santana, 1999; Gomes, 2014). Aqui reside uma diferença substancial, entre os dois
modelos.
3.7. Cenário Pedagógico
Nos dois modelos é defendido que o cenário pedagógico – a sala de aula – deve
organizar-se em áreas diversas, relacionadas com as diferentes áreas curriculares.
O modelo High/Scope preconiza que “a sala de aula contém distintas áreas, de
acordo com as suas funções” (Fewson, 2008, p. 12), denominadas «áreas de interesse»
relacionadas com as áreas curriculares e com recursos materiais específicos, a utilizar,
pelos alunos, nas suas experiências de aprendizagem (Fewson, 2008, Vogel, 2012). A
diversidade e acessibilidades dos materiais é fundamental (Guerreiro, 2006; Fewson,
334
2008). “Na sala de aula High/Scope, as crianças têm acesso a uma abundância de
materiais significativos” (Fewson, 2008, p. 11).
Com uma perspetiva semelhante, nesta matéria, o modelo do MEM propõe que a
sala de aula seja organizada de maneira a que tudo o se relaciona com cada área curricular
esteja acessível e ao alcance dos alunos (Grave-Resendes & Soares, 2002). A organização
do espaço é relevante, tendo em vista a possibilidade de os alunos fazerem atividades
diferenciadas (idem), devendo a organização do espaço ser “estruturante e facilitador do
acesso dos alunos a todos os recursos de aprendizagem bem como aos instrumentos
reguladores dos processos de trabalho” (Santana, 1999, o. 117).
Nos dois modelos se sugere a afixação de trabalhos dos alunos, nas paredes, sendo
que, no modelo do MEM é dado relevo à afixação dos instrumentos de pilotagem do
trabalho na “área de organização e pilotagem do trabalho” (Grave-Resendes, 2002).
3.8. Avaliação
No modelo High/Scope foram criados alguns instrumentos de registo de avaliação
dos alunos: o COR (Child Observation Record), através do qual se avalia a criança através
do registo de observações de experiências-chave; e o PIP (Projeto de Implementação do
Programa), que permite observar, avaliar e verificar a exequibilidade da eficácia do
projeto dentro da sala de aula. O objetivo da avaliação é permitir adequar constantemente
a prática e intervenção do professor às necessidades e interesses das crianças (Guerreiro,
2006, pp. 36-37).
335
Recentemente, foram atualizados os indicadores-chave do modelo (Epstein,
2012a), instrumento auxiliar na avaliação individual dos alunos em relação às diversas
áreas curriculares. Estes indicadores suportam, portanto, a avaliação (Epstein, 2003).
No modelo do MEM, atendendo à ênfase que é colocada na cooperação, todo o
processo de avaliação envolve os alunos, não sendo o professor o único responsável pela
avaliação (Grave-Resendes & Soares, 2002). Neste modelo, a avaliação é mais concebida
como um instrumento regulador da aprendizagem, ajudando a definir o percurso de
trabalho, dos alunos, em cooperação (Pinto, 2008).
Consideramos, portanto, que a grande diferença, neste aspeto, é que, no modelo
do High/Scope, a avaliação é mais concebida como uma forma de o professor conseguir
adequar a sua prática aos alunos (Epstein, 2003; 2012), ou seja, muito mais centrado no
professor do que na autorregulação dos alunos.
Síntese
Os modelos são muito semelhantes, nas suas propostas pedagógicas de
organização das atividades. Por exemplo, a proposta de organização da sala de aula em
áreas de interesse, a existência de uma agenda semanal do conhecimento dos alunos, a
afixação de trabalhos na sala de aula, a preocupação com o atender à diferença, a
promoção de um tempo de Trabalho Individual/Autónomo, são muito semelhantes.
336
O modelo High/Scope, de influência piagetiana, tem uma abordagem pedagógica
mais centrada na “autonomia e independência do sujeito” (Lourenço, 2005, p. 52),
enquanto o modelo do Movimento da Escola Moderna dá ênfase à cooperação, ao lado
social da aprendizagem (Grave-Resendes & Soares, 2002; Santana, 1999; Pinto, 2008;
Gomes, 2011). Enquanto no modelo High/Scope é o professor que propõe as atividades
na agenda semanal (Epstein, 2003; Fewson, 208) e a avaliação serve para adequar o seu
trabalho às necessidades dos alunos (Epstein, 2003; Fox, 2005; Guerreiro, 2006;
Hohmann e Weikart, 2007), no modelo do MEM, as atividades e a agenda decorrem da
avaliação feita pelos alunos ao seu desenvolvimento e às necessidades e interesses da
turma (Grave-Resendes & Soares, 2002).
Como referimos, os dois modelos preconizam um tempo de Trabalho
Individual/Autónomo, que a própria terminologia evidencia terem perspetivas diferentes.
No modelo High/Scope a tónica é colocada no indivíduo, no seu desenvolvimento
individual, na sua capacidade de planear, fazer e rever (Epstein, 2003; Fewson, 2008). No
modelo do MEM, o enfoque está no desenvolvimento da capacidade de cada aluno
perceber a sua posição face às aprendizagens e trabalhar sobre elas, havendo
corresponsabilização e compromisso com os pares (Grave-Resendes & Soares, 2002;
Santana, 1999), de clara influência do socioconstrutivsmo vygostkyano. Do trabalho que
cada aluno se compromete fazer durante a semana será dado conta ao Conselho de
Cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002), tratando-se o PIT de um compromisso
que cada aluno assume com o grupo/turma (Pinto, 2008).
Análise e interpretação de dados
"Todas as culturas têm virtudes, experiências,
sabedorias, ao mesmo tempo que carências e ignorâncias"
(Edgar Morin)
339
340
Apresentação
Neste capítulo apresentamos os casos estudados, através da apresentação e
discussão dos dados recolhidos ao longo do trabalho de investigação.
O caso A trata-se de uma turma em que estava em implementação o modelo
High/Scope e o caso B de uma turma em que estava em implementação o modelo do
Movimento da Escola Moderna.
Ao longo da apresentação dos dois casos, perceberemos semelhanças e diferenças
mas, sobretudo, potencialidades enquanto propostas pedagógicas de Pedagogia
Diferenciada.
Sobremaneira, no tempo de Trabalho Individual/Autónomo, os dois modelos têm
propostas relevantes na prossecução dos objetivos de diferenciação e de adequação às
necessidades, interesses, ritmos e estilos de aprendizagem individuais.
O caso A
A turma com o Modelo High/Scope
1. O meio
A turma A funcionou numa escola da freguesia de Cascais, sede do concelho
homónimo, com 20,07 km² de área e 33 255 habitantes, de acordo com os sensos de 2001.
A origem do nome vem do facto de ser uma zona piscatória, sendo comuns, por toda a
praia, os amontoados de cascas de mexilhão - os cascais.
A história de Cascais é rica praticamente desde a sua constituição como Vila, pela
sua importância estratégica quer na era dos Descobrimentos, quer depois da Restauração
de Portugal, quando se construiu uma série de fortificações destinadas à defesa da costa
341
e da entrada no rio Tejo. Voltou, depois, a ter preponderância quando a vilegiatura da
Corte passou a ser feita em Cascais e os Reis D. Luís e D. Carlos se instalaram no Palácio
da Cidadela (portal da Junta de Freguesia de Cascais, 2011).
Atualmente, a localidade dispõe dos serviços básicos de uma freguesia com
características urbanas, sendo o concelho conhecido, dentro e fora do país, pela sua larga
oferta turística.
A área circundante da escola é composta por vivendas e prédios de poucos
andares, incluindo um bairro social.
2. A Escola
A turma integrava uma escola básica do 1.º Ciclo com jardim-de-infância, com
um total de seis turmas, das quais quatro do 1.º Ciclo do Ensino Básico e duas da
Educação Pré-Escolar.
O corpo docente era jovem, sendo quatro docentes contratadas e duas do quadro.
As seis docentes já trabalhavam há alguns anos no mesmo estabelecimento, notando-se
um clima afável. Praticamente em todos os dias da semana se deslocava a este
estabelecimento uma docente de Educação Especial, passando várias horas em cada uma
das turmas.
O edifício encontrava-se bem cuidado e com amplos espaços exteriores, com
equipamentos de recreio adequados à utilização das crianças destas idades.
342
3. A turma
Pode ler-se no Projeto Curricular que a “turma é constituída por onze alunos, de
9 anos de idade, dos quais cinco são raparigas e seis são rapazes. É uma turma
heterogénea, no que concerne ao nível socioeconómico, ao tipo de estrutura familiar, às
aprendizagens prévias e até ao percurso escolar” (PCT-A, p. 5).
Quadro 14 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma A
Aluno Idade Língua Matemática Estudo do Meio
1 9
Precisa melhorar a fluência e
expressividade;
Dificuldades de ortografia;
Precisa concentrar-se na
escrita.
Dificuldades: números e
operações; cálculo mental;
interpretação de problemas
Motivada
2 9
Precisa melhorar a fluência e
expressividade;
Não aplica algumas regras
gramaticais da Língua
Portuguesa, transpondo este
problema também para a
escrita, revelando
dificuldades sérias de
ortografia e coesão textual.
Dificuldades: números e
operações; cálculo mental;
interpretação de problemas
Motivada
3 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente. As
dificuldades na ortografia
estão a ser superadas.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
4 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
5 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente, embora
timidamente. Constrói textos
coerentes e ricos, embora
revele resistência à
construção de textos
maiores.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
343
Aluno Idade Língua Matemática Estudo do Meio
6 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza. Lê
fluentemente e
expressivamente, embora
timidamente.
Motivado.
Sucesso.
Interessado, mas pouco
participativo.
7 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Precisa de escrever textos
mais longos.
Motivado.
Sucesso.
Motivado.
8 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Dá erros ortográficos,
devendo investir mais na
leitura e na escrita
autocorretiva.
Motivada.
Sucesso.
Motivada.
9 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Constrói textos coerentes e
ricos.
Motivada.
Sucesso.
Motivada.
10 9
Comunica oralmente com
autonomia e clareza.
Constrói textos coerentes e
ricos.
Motivada.
Sucesso.
Motivada.
11 Espetro autista. Nunca foi observado nas aulas
3.1. Caracterização geral
Os alunos desta turma gostavam bastante de fazer tarefas “da Área da Expressão
Plástica, eles gostam de mexer no material” (entrevista 1-A). A professora referiu que
procurava “ter sempre algum material em que eles possam mexer, para aprenderem
através dessa manipulação. São muito virados, na maioria, para a Matemática e não tanto
para a Língua Portuguesa. Temos um aluno que é muito perfecionista: o Gustavo. Demora
sempre o seu tempo a fazer as coisas, mas está sempre tudo bem. Vai perguntando várias
vezes «está bem?», para nunca ter errado. Depois, a turma, tem elementos que são muito
preguiçosos. Estamos a tentar ultrapassar isto, mas está a ser difícil” (entrevista 1-A).
344
3.2. Casos de alunos
A professora, na entrevista 1-A, fez referência a um aluno que nunca vimos nas
aulas, por estar frequentemente ausente, tendo-nos dito que “tem espectro autista e está a
ser seguido pela Psicóloga. Não sendo um autismo muito grave, é um aluno bastante
problemático, perturba a turma toda. Não se pode dizer «chiu», não se pode dizer
«cuidado». Há várias coisas que não podemos dizer. É como se um mecanismo no cérebro
se ativasse e ele bate. Já dá para perceber que ele perturba um bocado”.
3.3. Avaliação/Progressão
Na entrevista 2-A, a professora fez uma caracterização global da avaliação que
faz da evolução dos alunos nas diversas áreas de aprendizagem. De acordo com a docente,
“a Isabel precisa de melhorar a fluência e expressividade na leitura. Também dá alguns
erros que, acima de tudo, são o reflexo de alguma falta de concentração”. Também em
Matemática apresentava algumas dificuldades, designadamente na interpretação de
problemas. “Nas Expressões, também precisa de melhorar a sua concentração. Em Estudo
do Meio, como a generalidade dos alunos, está muito motivada”, afirmou (entrevista 2-
A).
No que concerne à aluna Carolina, a docente afirmou na entrevista 2-A que “tem
sérias dificuldades na ortografia e coesão textual, o que também se repercute na
interpretação de problemas matemáticos. Tem algumas dificuldades no cálculo mental”.
Nas Expressões e no Estudo do Meio afirmou que a aluna se encontrava motivada,
“embora precise de se aplicar mais” (entrevista 2-A).
345
O Manuel é “bastante bom no âmbito da Língua Portuguesa, é um aluno de
sucesso em Matemática e nas restantes áreas curriculares. É um dos alunos que mais
partido tira do modelo que desenvolvemos”, afirma (entrevista 2-A).
O aluno Carlos é “muito claro na comunicação oral, constrói textos coerentes, mas
oferece resistência à criação de textos maiores” (entrevista 2-A). É um aluno de sucesso
na maioria das áreas, embora precise de superar algumas dificuldades nas Expressões.
Em relação ao David, a professora referiu na entrevista 2-A que “é tímido e, por
isso, pouco participativo. Sobretudo nas Expressões isso reflete-se. Mas não tem
dificuldades. Também a organização do trabalho segundo o nosso modelo ajuda-o a tentar
superar-se”, garantiu.
A docente caracterizou os alunos Nuno, Joana, Zulmira e Carla como
comunicadores fluentes, falando de forma clara e autónoma. “Estão altamente motivados
em todas as áreas curriculares. O tempo do planear-fazer-rever é excelente para estes
alunos poderem progredir de acordo com os seus ritmos e interesses” (entrevista 2-A).
Ainda na entrevista 2-A, a docente referiu que a turma, globalmente, “adaptou-se
bem ao modelo e tira um excelente partido das suas rotinas. Penso que é uma mais-valia
para o seu desenvolvimento escolar e pessoal”.
A professora fez uma avaliação global, tendo referido que “globalmente, os alunos
evoluíram bem em todas as áreas. Eles gostam muito de Expressão Plástica. Destacam-
se talvez mais no Estudo do Meio, sobretudo nas experiências, por que há um grande
incentivo nesta área, porque o modelo preconiza a “aprendizagem ativa”. Embora
tenhamos que perceber que o que se pretende é que sejam ativos na construção da sua
346
aprendizagem, nas diversas áreas, incluindo naquelas em que exteriormente são mais
passivos. Não quer dizer que, dentro das suas cabeças, não haja muita atividade. Mas,
pela própria atividade externa, pela aposta no domínio das experiências, o Estudo do Meio
é uma área forte. Mas, na Matemática, até pelo incentivo à manipulação, sobretudo nos
primeiros anos, eles também são bons” (entrevista 2-A).
Relativamente aos alunos que escolhemos para acompanhar de forma mais focada,
durante o Tempo de Trabalho Individual, a professora considera que “os quatro são muito
bons em Estudo do Meio. A Isabel destaca-se também na Expressão Plástica. O Manuel,
o Gustavo e o Carlos são alunos de sucesso em Língua Portuguesa e Matemática”
(Entrevista 4-A).
Aluno 1
A Isabel “tem um excelente sentido estético, tem algumas dificuldades na escrita
sobretudo por não se concentrar e, talvez pelo mesmo motivo, na interpretação de
problemas e no cálculo mental. Na planificação das atividades para o trabalho individual
não tem bem a perceção das suas dificuldades de concentração que fazem com que não
trabalhe tanto como deveria” (Entrevista 4-A).
Nos registos individuais de avaliação, pudemos verificar que “a aluna comunica
oralmente com autonomia e clareza e expressa as suas opiniões e dúvidas” (Anexo 36)
sendo, contudo, necessário que continue a esforçar-se “de modo a ler mais fluentemente
e expressivamente. Nota-se, no entanto, francas melhoras neste aspeto” (idem). Refere-
se, ainda, que “as dificuldades na ortografia continuam por superar e devem continuar a
347
ser trabalhadas. Ao escrever, deve concentrar-se ainda mais, para não escrever
incorretamente palavras que estão bem escritas noutro local da folha ou da sala” (idem).
No final do 2.º período, a professora considera que a “Isabel evoluiu positivamente
desde o trimestre passado, especialmente no que concerne aos erros ortográficos” (Anexo
37), e mantém dificuldades na área da interpretação de textos.
Na Matemática, “a aluna já acompanha os colegas nos conteúdos matemáticos,
revelando ainda algumas dificuldades a nível dos números e operações” (Anexo 36). No
que diz respeito ao cálculo mental, “revela claramente algumas lacunas. Esta deverá ser
uma área de intervenção prioritária no próximo período” (idem).
Apesar de ter revelado melhoria na interpretação dos problemas, ainda revela
alguma dificuldade. “A Matemática é a área em que a Isabel deverá apostar mais, em
termos de trabalho individual” (idem).
No registo de avaliação individual do 2.º período, a professora salienta “a
crescente motivação nas atividades de Matemática, especialmente nas operações” (Anexo
37).
Em termos globais, a professora considera que “a Isabel é uma aluna muito
esforçada e trabalhadora, que não desiste perante uma adversidade. Deve continuar a
trabalhar afincadamente, procurando superar as suas dificuldades. Deve também confiar
mais em si própria e pedir apoio à professora e aos colegas apenas quando necessita
mesmo desse apoio, pois muitas vezes sabe aquilo que lhe é pedido” (idem). Para o 3.º
período, a professora preparou um plano de recuperação para a aluna.
Aluno 2
348
O Manuel é um aluno altamente motivado. Comunica oralmente com clareza e lê
fluentemente e expressivamente. Em Matemática, em Estudo do Meio, em todas as áreas,
desenvolveu muito bem as competências. Sempre foi muito bom e responsável, no
planear-fazer-rever (Entrevista 2-A).
No registo individual de avaliação do 1.º período, lê-se que “o aluno comunica
oralmente com autonomia e clareza. Lê fluentemente e expressivamente” (Anexo 36) e
que também “melhorou a sua produção escrita quer do ponto de vista da expressão, quer
da organização textual. Quando motivado, constrói textos coerentes e ricos” (idem).
Já no âmbito da ortografia deve continuar a apostar para superar as dificuldades.
A professora considera que, no 2.º período, o Manuel “domina a maioria dos
aspetos trabalhados na Língua Portuguesa, embora não se esforce ao máximo. Deve
procurar empenhar-se mais, para utilizar ao máximo as suas capacidades” (Anexo 37).
Compreende facilmente os textos lidos e “possui um vocabulário acima da média, para a
idade, e a maturidade e gosto com que maneja vários tipos de livros (literatura juvenil,
banda desenhada, enciclopédias, etc.)” (idem).
Na Matemática, “revela muito interesse e motivação nesta área; resolve com
sucesso os problemas apresentados e cria novas situações problemáticas” (Anexo 36).
A professora sugere que em Estudo do Meio o aluno faça “esquemas e resumos
dos conteúdos abordados, para facilitar o estudo em casa” (idem).
No 2.º período, a professora destacou que o Manuel “comete erros na resolução
dos exercícios por falta de concentração” (Anexo 37), mas “está de parabéns pelo modo
com aprendeu o algoritmo da divisão com dois algarismos no divisor e pelo raciocínio
demonstrado na resolução de situações problemáticas” (idem).
349
Em termos globais, “tem potencial para ser um aluno excelente. No entanto, a sua
desorganização prejudica o seu aproveitamento global e o seu desempenho em algumas
áreas. Deve procurar esforçar-se para superar estas questões. Parabéns pela cultura geral
que revela possuir e pela boa disposição contagiante” (idem).
Aluno 3
O Gustavo também é um aluno motivado, “embora só se empenhe quando está
mesmo interessado. Como perfecionista, nem sempre é seguro do que está a fazer.
Contudo, podemos registar um excelente progresso, neste âmbito, ao longo deste ano
letivo” (Entrevista 2-A).
No final do 1.º período, a professora considerou que “o aluno melhorou a sua
produção escrita quer do ponto de vista da expressão, quer da organização textual.
Demonstra, por vezes, alguma resistência em fazer tarefas de Língua Portuguesa mais
demoradas, como criação de textos ou cópias. Porém, constrói textos coerentes e ricos”
(Anexo 36).
No registo individual de avaliação do 2.º período, a professora dá-lhe os parabéns
pela leitura fluente, mas refere que é pena que “não se esforce ao máximo, nomeadamente
na escrita de textos” (Anexo 37).
No âmbito da Matemática, “resolve com sucesso os problemas apresentados e cria
novas situações problemáticas” (…) “Domina claramente os conteúdos matemáticos
trabalhados, inclusivamente apoia os colegas nesta área”. No 2.º período, “está de
parabéns pelo modo com que aprendeu o algoritmo da divisão com dois algarismos no
350
divisor e pelo raciocínio demonstrado na resolução de situações problemáticas” (Anexo
36).
Aluno 4
A respeito do aluno Carlos, a professora disse ser “muito bom na construção de
textos, pela sua riqueza e coerência. Não se expressa muito através do desenho. É um
aluno empenhado e motivado em todas as áreas. No trabalho individual beneficiou muito
da superação das dificuldades iniciais e afirma-se como um aluno que atingiu as
competências de ciclo com muita qualidade. Sempre foi muito responsável e empenhado
nas tarefas do planear-fazer-rever” (Entrevista 2-A).
“O aluno melhorou a sua produção escrita quer do ponto de vista da expressão,
quer da organização textual” (Anexo 36), no 1.º período, e “constrói textos coerentes e
ricos, embora revele resistência à construção de textos maiores” (idem).
O aluno domina “a maioria dos aspetos trabalhados na Língua Portuguesa, embora
nem sempre se esforce ao máximo” (Anexo 37).
É um bom aluno no âmbito da Matemática e “resolve com sucesso os problemas
apresentados e cria novas situações problemáticas” (Anexo 36). Porém, “por vezes,
comete erros na resolução dos exercícios por falta de concentração” (Anexo 37).
No final do registo individual de avaliação, a docente escreve que “o Carlos é um
bom aluno e tem potencial para ser excelente. No entanto, a sua impulsividade e a falta
de estudo que por vezes revela prejudicam o seu desempenho em algumas áreas. Deve
procurar esforçar-se para superar estas questões” (idem).
351
4. A Professora
A professora tinha, aquando do início do estudo, 28 anos de idade e 5 anos de
serviço.
Licenciada em Ensino no 1.º Ciclo do Ensino Básico, quando questionada acerca
das suas formações inicial e no modelo High/Scope, indicou-nos que fez a “formação
inicial na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa, onde houve
alguma abordagem a diversos modelos, High/Scope, M.E.M., Waldorf, etc.” (Entrevista
3-A).
Na altura, sentiu-se logo seduzida pelo modelo High/Scope, tendo referido na
entrevista 3-A que, “depois, por acaso, consegui ir trabalhar para uma escola privada (…).
Aprendi bastante em dois anos que estive lá, nesse modelo. Depois, deixei essa escola.
Continuei a aplicar as ideias e o que aprendi, embora o facto de estar mais sozinha seja
uma dificuldade. Quando sei de alguma ação para os pais ou assim, organizada por essa
escola, tento ir assistir. Também no sítio da Fundação High/Scope vão surgindo novidades
e tento continuar por dentro, inclusive fazendo formação em e-learning”.
Sempre trabalhou neste modelo. “Este modelo é bastante abrangente, não é tão
estruturado como certos modelos, tenho muita margem de manobra. Contudo, considero
que tenho vindo a aprofundar, embora não haja formação contínua, em Portugal. Mas,
tento ir refletindo e aprofundando” (entrevista 1-A). Pouco tempo depois da realização
desta entrevista entrou em atividade uma delegação da fundação High/Scope, em Lisboa,
com a oferta de formação na área – a Associação High/Scope Portugal.
Podemos concluir, portanto, que a docente tem formação no modelo High/Scope,
embora no momento da nossa observação não estivesse integrada numa equipa de colegas
352
que também sigam o modelo. Porém, faz formação regularmente, quer através de ações
de formação, quer mesmo através da plataforma de e-learning. Recebe a revista da
fundação High/Scope – Extensions - e acompanha a evolução do modelo, de acordo com
a informação fornecida.
5. Organização do espaço
5.1. O Cenário Pedagógico
De acordo com as orientações do Modelo High/Scope, o ambiente é fundamental
para uma boa aprendizagem, propondo, por isso, uma disposição e uso de mobiliário e
equipamento em áreas de interesse («Leitura e Livros», «Matemática», «Ciências»,
«Artes», «Jogos e Construções» e «Computadores»), claramente definidas. Esta
organização permite às crianças localizarem materiais, utilizá-los e recolocá-los no seu
lugar, para o uso dos companheiros (Fewson, 2008; Vogel, 2012; Baquero, 1996).
Estas áreas de interesse eram usadas de forma autónoma pelos alunos, durante o
tempo do planear-fazer-rever. Para tal, era disponibilizada abundante quantidade de
diversos materiais, apropriados à idade e que permitiam que as crianças os manipulassem.
Pode ler-se, nos “cinco ingredientes” da Aprendizagem Ativa, (adaptação a partir
de Epstein, 2007) que o Modelo High/Scope pressupõe a disponibilização abundante de
diversos materiais, apropriados à idade, e que as crianças manipulam, examinam,
combinam e transformam materiais e ideias, para além de escolherem os materiais,
mudam-nos e constroem-nos, planeando as atividades de acordo com os seus interesses e
353
necessidades (Epstein, 2003; Fewson, 2008). De acordo com este modelo, como
referimos na sua descrição, ao abordarmos a importância do ambiente de aprendizagem,
as crianças integradas neste contexto de aprendizagem ativa têm a oportunidade de
realizar escolhas e tomar as suas próprias decisões (Brickman & Taylor, 1996).
Ao longo das nossas observações, pudemos verificar, por diversas vezes, que as
crianças podem e são incentivadas a tirar partido dos recursos disponibilizados nas
diversas áreas da sala de aula.
“No modelo High/Scope aplicado à Educação Básica, é preconizado que haja
variedade de materiais de utilização diversa (materiais que podem ser usados com
diferentes objetivos), o que incentiva os alunos nas suas confiantes e significativas
experiências de aprendizagem” (Fewson, 2008, p. 11).
5.1.1. A Sala de Aula
A sala de aula da turma A estava, como já o referimos, organizada de acordo com
o preconizado pelo modelo High/Scope (Epstein, 2003; Fewson, 2008; Vogel 2012),
dividida em áreas de “interesse” distintas.
Estas diferentes áreas continham materiais facilmente acessíveis, que as crianças
podiam escolher para usarem conforme o que tinham planeado, para levar a cabo as suas
atividades/tarefas. Quando a criança terminava a tarefa que realizou, arrumava
devidamente no lugar os materiais utilizados. De modo a facilitar este processo, todos os
materiais se encontram em prateleiras baixas, facilmente acessíveis e onde estava colada
uma etiqueta com o símbolo e nome do que a caixa continha.
354
Imagem 3 – Áreas de Expressões e de Matemática
De acordo com o Projeto Curricular de Turma, “os alunos, durante o Tempo de
Trabalho Individual (planear-fazer-rever), podem mover-se livremente pela sala de aula,
desde que respeitem as regras combinadas em grupo (tais como: não fazer barulho,
arrumar o material utilizado, etc.)” (Anexo 33).
“O material deve estar disponível para a criança trabalhar ao longo do dia, assim
como também no tempo de «planear-fazer-rever» (Fewson, 2008, p. 11).
A sala tinha ao centro as mesas redondas de trabalho e, à volta, as áreas. Tal como
referiu a professora, “em cada área há recursos para a realização de trabalho e
experiências, de acordo com o tema da área. Está tudo organizado e etiquetado, para que
rapidamente cada aluno saiba onde está o que precisa. Também lhes é «exigido» que
355
limpem e arrumem o que sujam e/ou desarrumam” (Entrevista 2-A).
Se atendermos a que “na sala de aula High/Scope é dado ênfase à Aprendizagem
Cooperativa, deve organizar-se o espaço com mesas de trabalho de grupo nas várias
«áreas de interesse» da sala. Também deve haver áreas de trabalho para Trabalho
Individual. Nessas áreas de trabalho individual se inclui o espaço de Leitura” (Fewson,
2008, p. 13).
Legenda: a) Computador e Construções; b) quadros; c) armário material individual d) armários de livros; e) armários de áreas de Matemática, Ciências, Expressões, etc… f) lavatório
Imagem 4 – Planta da sala de aula da turma A
De acordo com os 10 sinais indicadores da implementação do modelo (HSERF,
2008), a sala deve ser “decorada com trabalhos originais realizados pelas crianças, com
os seus próprios textos e histórias”.
A sala da turma A tinha afixados nas paredes bastantes trabalhos realizados pelos
356
alunos, de produção individual ou em grupo. Pode ver-se um exemplo de trabalhos
afixados na parede, junto à área de “Leitura e Livros”, na imagem seguinte.
Na sala de aula High/Scope, os professores preparam quadros para as mensagens
dos alunos, informação para os pais e agenda semanal. A sala de aula fica repleta
de representações das aprendizagens e descobertas. Os professores criam um
cenário pedagógico que mostra a escrita dos alunos, assim como importantes
mensagens, exemplos de escrita em grupo, porque os alunos aprendem lendo o
resultado das suas aprendizagens”. (…) As paredes vão ficando cheias de
criações das crianças – arte, ciência, projetos de matemática, por exemplo – e
fotografas do tempo de trabalho, com a descrição das atividades em baixo
(Fewson, 2008, p. 13)
Imagem 5 – Área “Livros e Leituras”
357
Nas paredes da sala, podemos ainda ver alguns instrumentos de pilotagem do
trabalho: a agenda semanal e o registo semanal das áreas utilizadas pelos alunos no tempo
de Trabalho Individual (planear-fazer-rever).
Imagem 6 – Instrumentos de Pilotagem (Registo semanal de distribuição dos alunos pelas diferentes áreas,
durante o tempo de Trabalho Individual)
De acordo com o preenchimento da lista de controlo das características físicas da
sala de aula (adaptação de Wang, 1995), que anexamos (Anexo10), podemos concluir que
a sala de aula preenche os principais requisitos para a podermos considerar adequada aos
princípios da Pedagogia Diferenciada. Verificámos, na nossa observação, que o
mobiliário e os recursos de aprendizagem estavam dispostos de tal modo que os alunos e
358
os professores se podem mover com facilidade, estando as zonas de aprendizagem bem
assinaladas. Podemos, portanto, considerar que existia uma zona assinalada para colocar
e mostrar os materiais didáticos de cada componente do currículo e era acessível aos
alunos, acrescentando-se que a localização das zonas para armazenar e mostrar os
materiais estimula a integração dos mesmos dentro de uma área curricular.
Os materiais de aprendizagem alternativos estavam disponíveis na sala. Em cada
área existiam pelo menos duas ou três atividades que variam de conteúdo, nível de
dificuldade e forma, podendo considerar-se que eram disponibilizadas bastantes
atividades variadas para adaptar-se às diferenças dos alunos.
O equipamento e os materiais encontravam-se limpos, eram duradoiros e em
condições de poderem ser usados; existiam habitualmente em suficiente número para
realizar as atividades. Os materiais eram ainda atrativos para os alunos (os alunos
procuravam-nos e usavam-nos regularmente).
Cada aluno dispunha de um lugar individual para os seus objetos pessoais, dentro
da sala de aula e, à entrada, do lado de fora, existia um espaço adequado para cada aluno
colocar a sua mochila.
359
Imagem 7 – Espaços para materiais individuais
Ainda de acordo com a lista de controlo das características físicas da sala de aula
(adaptação de Wang, 1995), esta sala dispunha de um relógio, com o qual os alunos
podiam controlar o tempo. O trabalho terminado pelos alunos era apresentado ao grupo e
algumas atividades das diversas áreas estavam pensadas para estimular a interação social.
Verificámos que não existia um sistema (por exemplo afixado num placard) que
controlasse o número de alunos em determinada zona, como por exemplo registos de
frequência de utilização de cada área ou dos materiais. Também não há uma zona
separada para o trabalho do professor com os alunos individualmente. Aliás, de acordo
com Fewson (2008), na sala de aula deve haver espaço para o trabalho individual ou com
o professor.
360
Os materiais didáticos propostos não estão marcados com um código facilmente
decifrável, isto é, não estão classificados para facilitar a seleção e substituição por parte
dos alunos (por exemplo, cadernos de trabalho separados dos de leitura, blocos separados
por formato) nem os recursos semelhantes estão assinalados com etiquetas ou com
palavras que sejam inteligíveis para os alunos com capacidade limitada de leitura.
De acordo com Fewson (2008), “na sala de aula do modelo High/Scope adaptada
à Educação Básica, as caixas e cestos com os materiais está claramente etiquetado e
organizado” (p. 13).
Não verificámos a existência de uma lista atualizada de tarefas de aprendizagem
para cada objetivo do currículo nem a existência de, pelo menos, uma tarefa de
aprendizagem para cada objetivo do currículo.
Como referimos no capítulo acerca dos modelos de Pedagogia Diferenciada, o
modelo High/Scope tem como característica principal a sua intencional promoção da
aprendizagem ativa (Epstein, 2003, 2007; Lockhart, 2011), ou seja, acredita que as
vivências diretas e imediatas no dia-a-dia da criança são muito importantes se ela retirar
delas algum significado através da reflexão (Epstein, 2003; Fewson, 2008).
“As crianças aprendem mais quando são encorajadas a explorarem, a interagirem,
a serem criativas, a seguirem os seus próprios interesses e a brincarem” (Brickman &
Taylor, 1996, p. 4).
Neste sentido, na realização de atividades de cada uma das áreas em que a sala
está organizada, o modelo High/Scope defende que a criança deve poder escolher o que
vai fazer, existindo muitos materiais que podem ser utilizados de diversas maneiras
361
(Fewson, 2008; Vogel, 2012). Numa observação, testemunhámos que, num trabalho de
expressão plástica, a professora disse para usarem materiais «diferentes», ao que uma
aluna utilizou “cola branca na folha. Depois, meteu areia por cima. Despejou no lixo o
excedente e os grãos que aderiram à cola ficaram agarrados, fazendo parte do desenho”
(observação 2). Assim, pudemos verificar que os alunos utilizavam os materiais de forma
criativa ou não-convencional, como é preconizado pelo modelo.
Os materiais deverão estar “acessíveis à criança, para uso diário, como desejar,
durante as atividades de aprendizagem” (Fewson, 2008, p. 11).
Preenchemos, ainda, a lista de verificação sobre «o respeito pela diversidade» da
publicação “Ready School” (Anexo 39), desenvolvida pela Fundação High/Scope, para
aferição do nível de implementação do modelo neste domínio.
Neste sentido, podemos referir como aspeto positivo que, na turma A, “existem
muitos materiais na sala de aula que introduzem conhecimentos básicos e experiências
culturais” (idem). Porém, como aspetos menos positivos, poucas vezes as “atividades que
se referem ao background cultural e as experiências dos estudantes são integradas nos
planos de aula, ao longo do ano” e “as atividades da sala de aula fornecem informação
exata prática e respeitadora a respeito dos backgrounds culturais e das experiências
humanas” (idem).
5.1.2. Cantos e áreas
362
Na turma A, a sala dispunha das seguintes áreas: «leitura e livros»
(cumulativamente espaço da rotina de acolhimento), «matemática», «ciências»,
«expressão plástica», «computadores» e «jogos e construções». Neste aspeto, o cenário
pedagógico estava organizado de acordo com a proposta do modelo (Fewson, 2008;
Vogel, 2012).
Na linha do que tem vindo a ser referido, neste modelo a criança é incentivada a
descrever o que está a fazer, ao utilizar e manusear os materiais (Epstein, 2007). Na
observação 3, durante a pintura de telas para os alunos oferecerem a propósito Dia do Pai,
a professora perguntou “se não querem colar coisas, feijões, etc…” e “se vão escrever
alguma coisa no quadro”. Um outro exemplo, podemos encontrá-lo na observação 6,
quando registámos que “a professora vai circulando pela turma. Coloca algumas questões,
dizendo que podem ser questões que podem surgir”, aquando da realização de um
trabalho de projeto no âmbito do Estudo do Meio.
Há a referir, ainda, que o canto do “Leitura e Livros” é o espaço de acolhimento e
de transição entre atividades. Tem um tapete e umas almofadas no chão, cumprindo bem
a sua missão de ser acolhedor e congregador dos alunos antes do início das atividades e
na transição entre elas, de acordo com o modelo High/Scope (Brickman & Taylor, 1996;
Hohmann e Weikart, 2007). Nas diversas observações, verificámos que “os alunos entram
do intervalo e sentam-se na área de leitura, no tapete” (entrevista 1-A) e ali esperam,
conversando serenamente, até que estejam criadas as condições para se iniciarem as
atividades.
363
Por exemplo, na observação 6, no início da manhã, “os alunos vão chegando, a
professora já está na sala. Os alunos sentam-se no tapete e vão conversando entre si
assuntos banais (jogos, pequenas histórias que se passaram em casa, etc…)”.
Outra utilização sistemática das áreas diversificadas da aula decorre no momento
do Trabalho Individual (planear-fazer-rever), em que “cada aluno vai para a área
combinada” (observação 1), aí concretizando o trabalho por si planeado e de que dará
conta aos colegas, no momento de “rever”. O momento do “rever” também é no canto
“Leituras e Livros” (por exemplo, observação 3).
Averiguámos ainda que é respeitado o princípio de que a utilização das áreas
pressupõe o respeito por um conjunto de regras definidas e atualizadas pela turma,
ilustrado quando, por exemplo, a professora referiu que “quem acabou as atividades vai
arrumar as suas áreas” (observação 2).
5.1.3. Regras
No que diz respeito às regras de utilização das diversas áreas da sala, quando
questionámos a professora a respeito dos registos do que cada aluno planeia fazer durante
o tempo de Trabalho Individual (planear-fazer-rever), esta referiu que “já pus a hipótese
de criar um registo individual para cada um, onde colocassem as áreas onde se
comprometem a trabalhar. Porém, não tenho sentido essa necessidade, pois todos os dias
planeamos e avaliamos o trabalho de cada um em coletivo e existe a grelha comum que,
364
de modo simples, nos indica as áreas planeadas por cada criança e permite que, em cada
dia, cada um deles saiba quantos alunos irão estar na área em que vão trabalhar, etc. Esse
registo coletivo facilita o trabalho, sem o burocratizar” (Entrevista 1-A).
Porém, parece-nos que esse registo coletivo se pode tornar pouco autonomizante,
uma vez que a responsabilidade da sua gestão é da professora e o seu controlo é diário,
não havendo espaço para que o aluno aprenda a gerir o trabalho ao longo de uma semana.
Por outro lado, Fewson (2008), na descrição do modelo High/Scope na Educação
Básica, defende a criação e utilização de registos individuais, designadamente para o
planeamento e revisão do tempo «planear-fazer-rever».
5.1.4. Instrumentos de pilotagem
Questionada sobre os instrumentos de registo, a professora referiu que há um
registo coletivo das áreas planeadas para cada criança, ao contrário do planeamento
individualizado proposto por Fewson (2008). Em diversas observações, registámos a
utilização desta grelha, já reproduzida na Imagem 5 – Instrumentos de Pilotagem (Registo
semanal de distribuição dos alunos pelas diferentes áreas, durante o tempo de Trabalho
Individual).
Uma vez que todos os dias se planeia e avalia o trabalho de cada aluno, pedimos
à professora que explicasse o funcionamento deste instrumento de pilotagem (entrevista
2-A).
A professora disse que “há uma grelha simples, com os dias da semana e os nomes
dos alunos. Na célula de interceção, marca-se utilizando um código de cor, a área para
que cada aluno vai. É muito simples, mas é uma forma de fazer rotatividade, ou seja, de
365
todos passarem por todas as áreas e também de não estarem todos a trabalhar nas mesmas
áreas” (entrevista 2-A). Quem faz a marcação na tabela é a professora.
E, continuando, “em relação à planificação do trabalho individual, cada aluno
pensa no que vai fazer na área que lhe está destinada, nesse dia e é convidado a dizer à
turma o que pensa ir fazer. No final do “planear-fazer-rever” é convidado a dizer o que
fez e o que aprendeu” (entrevista 2-A). Não existe, portanto, nenhum registo formal e
escrito da atividade específica para a qual se dirigem nem da avaliação do tempo de
Trabalho Individual.
De acordo com Fewson (2008), o planeamento e a avaliação deveriam ser
individuais e registados em ficha individual adequado (inicialmente através de desenho
gradualmente passando-se a utilizar apenas a escrita).
Um outro instrumento de registo utilizado pela professora é uma tabela de
avaliação dos comportamentos e atitudes (observação 3, por exemplo). Trata-se de uma
tabela simples. Da primeira coluna constam os nomes dos alunos e da primeira linha os
itens a avaliar. Em cada dia da semana é colocada uma marca (bolinha) na célula de
cruzamento do nome com cada item. A professora vai fazendo as perguntas e “cada aluno
diz se fez, mais-ou-menos ou não e a professora marca com verde, amarelo ou vermelho,
respetivamente. Os colegas também se pronunciam, se quiserem” (observação 3).
Apresenta-se, de seguida, uma imagem como exemplo da referida tabela.
366
Imagem 8 – Grelha de registo de avaliação de atitudes e comportamentos
Com a evolução do modelo High/Scope foram desenvolvidos dois instrumentos
de avaliação: o COR (“Pré Child Observation Record”), através do qual se avalia a criança
através do registo das observações de experiências-chave; e o PIP (“Projeto de
Implementação do Programa”) que permite observar, avaliar e verificar a exequibilidade
da eficácia do projeto dentro da sala. O objetivo da avaliação é, na perspetiva deste
modelo, sempre permitir adequar constantemente a prática e intervenção do professor às
necessidades e interesses das crianças (Guerreiro, 2006).
A este respeito, a professora disse “tenho uma grelha (anexo 35), inspirada na
C.O.R. (Child Observation Record), onde vou fazendo registos da evolução de cada
criança face às competências curriculares e do modelo” (entrevista 2-A).
6. Organização das atividades
De acordo com a perspetiva do modelo High/Scope, “os adultos e as crianças
partilham com os adultos o controlo [das atividades]” (Hohmann & Weikart, 2007, p. 1).
Como já o referimos anteriormente, os professores organizam as áreas de interesse no
ambiente de aprendizagem, mantém a rotina diária que permite às crianças o planeamento
e procura das suas próprias atividades e juntam-se às atividades das crianças para ajudá-
367
las a refletir (Brickman & Taylor, 1996; Hohmann & Taylor, 2007). Os adultos, para além
disso, encorajam as crianças a envolverem-se em experiências-chave, ajudam-nas a
aprender a fazer escolhas, a resolver problemas e a optar por atividades que promovam o
desenvolvimento intelectual, social e físico (Gainsley, 2008).
O modelo, baseado na teoria piagetiana, propõe que os professores promovam
tarefas de aceleração. O adulto organiza diferentes atividades, com o intuito de promover
o desenvolvimento das estruturas próprias de cada estádio, permitindo à criança alcançar
o estádio seguinte (Epstein, 2010; Fewson, 2008).
6.1. Agenda/Rotinas
6.1.1. Agenda
Na teoria do modelo High/Scope encontramos um conjunto de rotinas que devem
fazer parte da organização diária das atividades com a turma que funcionam segundo este
modelo (Fewson, 2008; Oliveira-Formosinho, 2007).
De acordo com Epstein (2003), a rotina é constituída por uma sequência de
acontecimentos previsíveis, planeados pelo(s) professor(es), constantes e estáveis,
permitindo que a criança possa variar de situação de trabalho individual, de pares, de
pequeno e grande grupo, mas também de ambiente (sala, recreio, meio envolvente).
368
A agenda é planeada pelo professor e inclui experiências de trabalho individual,
de pequeno grupo, de grande grupo e um balanço das atividades planeadas, apoiando a
aprendizagem ativa da cada criança. “Cada dia segue uma agenda, cuidadosamente
planeada” (Fewson, 2008), permitindo uma diversidade de formas de trabalho.
A rotina diária é um ponto essencial para a segurança e a independência da criança.
Ela “não dita a atividade da criança, mas organiza-lhe o dia, procurando fazer emergir a
iniciativa da criança, pedindo-lhe que determine as suas metas, que lhe dê continuidade e
que reflita sobre elas nos vários tempos em que se divide” (Oliveira-Formosinho, 2007,
p. 60).
Questionada acerca da organização das atividades numa semana-tipo, a professora
explicou que “ao longo da semana, temos as diferentes áreas distribuídas por [um] horário
semanal mas, fundamentalmente, a nossa rotina é diária. Todos os dias, digo-lhes que
atividades iremos fazer dentro de cada área e, no final do dia, fazemos um balanço disso”.
E o Trabalho Individual também decorria diariamente, como nos explicou a docente:
“Embora a área que cada um vai fazer seja decidida à segunda-feira. Globalmente, acho
que o nosso dia se pode resumir num esquema que é básico e estruturante no modelo
High/Scope: planificar, executar, avaliar. De um modo geral isso é conseguido”
(Entrevista 1-A).
De uma forma mais pormenorizada, a professora explicou a rotina diária da turma
(entrevista 2-A):
369
“Todos os dias, à medida que os alunos chegam, sentam-se no tapete, na «Área da
Leitura dos Livros», onde, enquanto esperam que todos cheguem, há conversas informais,
entre eles. É o denominado «Tempo de Acolhimento» ou «Roda de boas-vindas».
Normalmente, na pré-escola é mais habitual chamar-se «Roda de boas-vindas» e, no
primeiro ciclo «Tempo de Acolhimento»”.
As rotinas do «tempo de acolhimento» e de «transição» foram registadas em todas
as observações. O dia iniciava-se sempre com a chegada dos alunos, cerca das 9h. Todos
se iam dirigindo para o canto «Leituras e Livros», onde alguns se sentavam no tapete,
havendo aí uma conversa de circunstância, com a conclusão dos assuntos que vinham da
rua ou o relato de novidades, entre os alunos. Por vezes, a professora aproveitava para
fazer o registo das presenças no Diário de Frequência, num caderno da edição do
Ministério da Educação.
Na perspetiva da professora, estes momentos assumiam relevância na vida do
grupo: “É um momento de comunicações significativas, porque os alunos falam, entre si
e também com a professora, sobre assuntos que lhes interessam, sobre o que fizeram em
casa, qualquer coisa que viram, etc.” (Entrevista 2-A).
Assim, normalmente, o dia começava com os alunos a chegarem e a sentar-se no
tapete. Aí, tinham uma conversa informal e, depois, iniciava-se o trabalho. Decidia-se o
que cada aluno iria fazer e, quando se levantam do tapete, pegavam nos recursos
necessários, iam para a área própria ou para as mesas redondas e começavam a trabalhar.
A professora relatou este momento da seguinte forma: “Depois, temos uma agenda
semanal. Em função dessa agenda semanal, vamos trabalhar. À exceção da segunda-feira
que começa com atividades de Expressão Físico-Motora, iniciamos sempre com Língua
370
Portuguesa. Cerca de uma hora. Depois, trabalhamos sempre Matemática. Ora, as
atividades de Língua Portuguesa podem ser em grande grupo, em pequeno grupo ou
individualmente, de acordo com o que for mais oportuno. Em função do que temos que
fazer. Eu digo ao grupo a tarefa que vamos fazer e como nos vamos organizar. Para além
dos manuais e cadernos individuais, há recursos tanto para uma área como para outra,
devidamente organizados e etiquetados, que os alunos podem ir buscar à área respetiva,
se necessário. Por exemplo, para a Matemática, há recursos manipuláveis, que são muito
úteis, sobretudo para a concretização de determinados conceitos.
Segue-se a pausa para uma refeição ligeira e o tempo de exterior.
De volta à sala, a mesma rotina. Os alunos sentam-se no tapete e acalmam-se.
Normalmente ainda vêm com assuntos do tempo de exterior. Ora, é preciso trazer a
serenidade ao grupo e fazer a transição ao momento seguinte. Na nossa agenda semanal,
temos, uns dias mais 30 minutos para se concluírem as atividades de Matemática ou 45
minutos para Inglês. Nos dias em que há Inglês, a seguir há 45 minutos de Expressão e
Educação Musical. Nos outros dias, há Expressão Físico-Motora ou, no caso da Segunda-
feira, que tivemos Expressão Físico-Motora logo de manhã, Língua Portuguesa.
Antes do almoço, há sempre 30 minutinhos para a Biblioteca, para a leitura
silenciosa, a pares ou para o grande grupo.
Regressados do almoço e tempo de exterior, a mesma rotina de «Tempo de
Acolhimento» e, depois, Estudo do Meio, Expressão Dramática ou Expressão Plástica.
Os últimos 45 minutos de todos os dias, são dedicados ao Trabalho Individual,
normalmente chamado de «Planear-fazer-rever». No início da semana, no primeiro
momento de tapete, ou no último dia da semana, antes de irmos de fim de semana,
371
distribui-se cada aluno por uma área para cada dia da semana. Começa com uns 10
minutos para a criança planear o que vai fazer na área que, nesse dia, está marcada para
trabalhar. A criança decide que materiais vai usar, o que vai fazer. Nos últimos 10
minutos, cada criança é convidada a dizer o que fez. Poderia ser em pequenos grupos,
mas como a turma não é muito grande, normalmente, faz-se em grande grupo, essa revisão
do que foi feito por cada um.
Antes do rever, cada criança arruma os materiais que usou. Normalmente, as
crianças empenham-se muito neste tempo, porque estão a fazer aquilo que realmente lhes
interessa” (entrevista 2-A).
Um aspeto que a professora não refere, mas que foi observado por várias vezes,
foi a rotina associada aos trabalhos de casa: “A professora pergunta quem ainda não
arrumou os trabalhos de casa. Os alunos vão, então, ao baú que está à porta, do lado de
fora, tirar da mochila os dossiers dos trabalhos de casa e colocam os dossiers, com o
manual de Matemática incluído, no canto ao lado do armário de prateleiras com os
dossiers e manuais, que está junto ao quadro” (observação 2). Esta rotina é diária.
Pudemos ver, por exemplo, na observação 6, que, por volta das 9h15, quando o grupo já
estava completo, a professora pediu para os alunos colocarem os trabalhos de casa em
cima da mesa.
372
Imagem 9 – Agenda semanal
No final do ano letivo, pedimos à professora que fizesse um balanço da
organização das atividades (agenda semanal, rotinas diárias, distribuição das atividades),
durante este ano letivo, pretendendo-se que a docente refletisse sobre como considera que
as opções tomadas relativamente à organização das atividades da turma influenciaram os
resultados, as aprendizagens dos alunos.
A este respeito, a professora disse que “o balanço é muito positivo. Considero que
este grupo de alunos vai ser muito empenhado nas suas aprendizagens, porque
perceberam que são os autores dessas aprendizagens, através das descobertas, das
experiências, da resolução de problemas”. Também comparou esta forma de trabalho com
aquilo que pensa ser o trabalho de outros docentes do 1.ºCiclo: “Penso que são mais
autónomos do que se tivessem passado o 1.º Ciclo numa sala de ensino tradicional. Claro
que alguns alunos, pelas suas personalidades, foram mais além, são mais autónomos,
373
adquiriram ou desenvolveram mais competências, do que outros. Mas, globalmente, o
balanço que faço é muito positivo”.
A professora reconhece, porém, uma fragilidade neste processo: “O único senão
é que nem sempre os alunos optam pelas atividades que mais precisam, no tempo do
planear-fazer-rever. O meu papel de orientadora foi muito exercido. Mas, também nestas
idades, é normal”, afirma (Entrevista 4-A).
Relativamente à questão de o modelo High/Scope pressupor que a organização
das atividades propostas tem em conta a diversidade (ritmos, interesses, motivações,
dificuldades), a professora referiu que também tem essa abordagem na sua prática,
implementando “tempo de trabalho em pequeno grupo, para a realização de experiências
e para a resolução de problemas, por exemplo; mas também em grande grupo, sobretudo
para atividades de Expressão Musical, Expressão Dramática e comunicações à turma”.
Não foram referidas outras propostas de diversificação.
Entre cada um dos momentos, há as chamadas “transições”, que implica o grupo
todo no tapete, para se reorientarem para as tarefas seguintes.
Quando os alunos estão no Trabalho Individual, é possível apoiá-los
individualmente. “Mesmo que não seja no Trabalho Individual, durante as atividades ao
longo do dia, podemos apoiá-los individualmente. O facto de estarem a fazer atividades
diferentes… Por exemplo, a Língua Portuguesa estão uns a fazer uma ficha, outros a fazer
um puzzle sobre outro assunto, já é mais fácil podermos dividir esse apoio. Depois, temos
374
a parte do final do dia, que é o Trabalho Individual, em que eles escolhem uma área e
cada um trabalha nessa área. Só que eu posso também ajudar durante o Trabalho
Individual. Por exemplo, um aluno que tenha alguma dificuldade em alguma coisa, posso
propor que, na segunda-feira, vá ficar comigo a trabalhar essa dificuldade. E mesmo eles
podem propor, se tiverem dúvidas, podem chegar ao pé de mim e dizer «eu gostava de
trabalhar isto contigo»” (Entrevista 1-A).
6.1.2. Planificação
Considerando que o modelo se insere numa abordagem
interaccionista/construtivista do desenvolvimento da criança em termos de estádios
sequenciais, acredita-se que a criança é um aprendiz ativo que aprende melhor a partir
das atividades que ela mesmo planeia, desenvolve e sobre as quais reflete. “Cada estádio
representa uma estrutura qualitativa própria que, por sua vez, formam uma sequência
invariante de desenvolvimento universal” (Guerreiro, 2006, p. 33).
Um dos objetivos do modelo é ajudar “a aprender a planear muitas das suas
atividades, levá-las a cabo e trocar ideias e experiências com outras crianças e seus
professores sobre o que fez” (Epstein, 2003).
É importante relembrar que “quando as crianças estão interessadas nalguma coisa,
é mais provável que aprendam algo de novo e que permaneçam interessadas no que estão
a fazer” (Brickman & Taylor, 1996, p. 13). Ao descobrirem que podem fazer planos e
executá-los até ao fim e que não há fórmulas mágicas para fazer as coisas, mas apenas
problemas para resolver, as crianças ganham autoconfiança. Além disso, tomando
decisões e resolvendo problemas, as crianças desenvolvem a sua independência e
375
“aprendem a não depender demasiado dos adultos para saberem como fazer, quando fazer
ou porque fazer” (idem, p. 13).
Nas observações realizadas, sentimos que houve pouco apelo à planificação. Por
exemplo, na observação 1, a professora “diz que deveria ser Inglês, mas como de manhã
de atrasaram um pouco nas atividades, vão fazer atividades de Matemática” e a opinião
dos alunos ou as suas propostas não foram consideradas nesta planificação do trabalho.
Verificámos que existia uma planificação em coletivo da semana, apenas no
momento final da realização da Assembleia de Turma, nas sextas-feiras, à tarde, quando
eram decididas as áreas para que cada aluno iria, durante o tempo de Trabalho Individual,
em cada dia da semana seguinte.
No tempo de Trabalho Individual, de acordo com o modelo, a primeira fase é a de
planificação mas, de acordo com o que observámos, essa planificação foi sempre
individual e mental, não havendo registos nem partilha desse processo, ao contrário do
sugerido por Fewson (2008).
6.1.3. Desenvolvimento
Durante o desenvolvimento das diversas atividades da agenda semanal, a
professora assume papéis diferentes: no trabalho das diversas áreas curriculares, quando
é feito em grande grupo, a professora lidera, definindo o que irá ser feito.
Nos outros momentos, a professora diz que vai “circulando pela sala, à medida
que os miúdos me pedem ajuda. Algumas vezes, no início do Trabalho Individual, eu
informo um ou dois alunos de que temos que trabalhar em conjunto, porque é necessário
376
um apoio claro e individualizado em determinada área” (Entrevista 1-A). Este apoio
nunca foi combinado previamente com a turma e, mesmo quando era requisitado por
algum aluno, não existia um momento específico para tal acontecer. Surgia habitualmente
por proposta da professora ou, eventualmente, por necessidade imediata do aluno.
6.1.4. Avaliação
Como refere Veiga Simão (2002), os alunos devem “aprender, criticar o
conhecimento adquirido, utilizá-lo, saber como se chega ao conhecimento, amar o
conhecimento, saber saboreá-lo” (p.14).
O modelo High/Scope considera a criança como aprendiz ativo que aprende
melhor a partir das atividades que ela mesmo planeia, desenvolve e sobre as quais reflete.
Neste espírito, as crianças planificam, realizam e avaliam as suas atividades, o que
vai desenvolvendo o pensamento e a aprendizagem da criança. Inclusive, constitui-se uma
oportunidade de desenvolvimento de competências relacionadas com a linguagem,
porque as crianças descrevem o que fazem e aprendem, comunicando verbal e não
verbalmente.
“Avaliar, na abordagem High/Scope, significa trabalhar em equipa para construir
e apoiar o trabalho nos interesses e competências de cada criança (Hohmann & Weikart,
2007, p. 8).
Como foi referido, no capítulo de apresentação do modelo, a avaliação é feita
diariamente e implica um conjunto de tarefas: registo diário, reuniões de planeamento
diário onde se partilha, analisa e planifica (se houver uma equipa de docentes para a
turma). Os professores deverão fazer um registo diário de notas ilustrativas, baseando-se
377
naquilo que veem e ouvem quando observam as crianças. Cada professor vai anotando
episódios importantes acerca do desenvolvimento das crianças. Implica construir e apoiar
o trabalho nos interesses e competências de cada criança.
Além desses registos individuais, o modelo desenvolveu instrumentos de
avaliação: o COR (“Pré Child Observation Record”) (Anexo 9), através do qual se avalia
a criança através do registo das observações de experiências-chave (Guerreiro, 2006, pp.
36-37).
Ao longo das observações realizadas com esta turma, assistimos a momentos de
avaliação do desenvolvimento das atividades. Na assembleia, registámos que se “foi
perguntando um-a-um e cada um fazia o balanço acerca do desempenho da sua função
durante a semana” (observação 1). Também durante as assembleias cada aluno tinha a
oportunidade de dizer o que tinha gostado mais e menos, no decurso da semana (por
exemplo, observação 1).
O trabalho autónomo pode ser enriquecido com o recurso à autoavaliação e
coavaliação formativas. A autoavaliação acerca do que o aluno realizou e a avaliação feita
pelos seus colegas é particularmente importante no trabalho autónomo, na medida em que
fornece informação que permite a modelação do ritmo e do itinerário de aprendizagem.
É um meio privilegiado de diferenciação dos processos, porque cria uma situação de
aprendizagem onde o aluno escolhe as estratégias de apropriação e de correção dos erros.
Nas observações realizadas, no final do tempo de Trabalho Individual, pudemos
assistir à fase do «rever», na qual cada aluno partilhava com a turma o que tinha feito e
aprendido. Porém, a interação de outros colegas foi sempre diminuta e pouco estimulada
pela professora. Não existiu registo escrito individual desta fase, tal como sugere Fewson
378
(2008).
A professora aproveitava o momento imediatamente a seguir, para fazer, com os
alunos, a avaliação das atitudes e do comportamento individuais, relativos ao dia, como
já referimos anteriormente.
6.1.5. Assembleia
A gestão do conflito tem sido objeto de reflexão na investigação do modelo
High/Scope (Slack, 2011; Biddle, 2010; Epstein, 2003, 2007), incluindo na sua aplicação
à Escolaridade Básica (Fewson, 2008, pp. 14-15).
Na bibliografia consultada, em nenhuma circunstância surge identificada como
uma rotina semanal a realização de uma Assembleia de Alunos. Porém, a professora
decidiu implementá-la, com esta turma, como forma de incrementar uma maior
maturidade, assegurando um momento de balanço semanal no qual cada aluno é livre de
refletir e dizer o que gostou mais de fazer e algo de que não tenha gostado, ao longo da
semana. É também o momento de se fazer a avaliação do desenvolvimento das tarefas
individuais sorteadas semanalmente, entre os alunos.
De referir que não é feito nenhum registo prévio, no decorrer ou posteriormente à
sessão da Assembleia.
Logo na observação 1, quando os alunos regressaram do intervalo de almoço a
professora, pergunta “Quem é que põe a assembleia?”. Organizam o espaço os alunos que
já estão na sala. Na mesa, sentam-se a professora e o presidente (aluno com tarefa sorteada
semanalmente). Nas cadeiras à frente da mesa os restantes alunos.
379
Imagem 10 – Esquema de organização dos lugares dos alunos na Assembleia
O presidente dá início à sessão, perguntando aluno a aluno o que gostou mais na
semana de aulas. A professora, por vezes, tem que intervir. Por exemplo, numa situação
de impasse, um aluno diz “Não sei do que é que gostei ou não gostei” e a professora
intervém perguntado “Não gostaste de nada? Olha à volta. Não gostaste de nada?”
(observação 1).
Na continuidade, passam a referir aquilo de que não gostaram, sendo o presidente
a dar a palavra a cada aluno.
A professora também assume o papel de gestora de comportamentos, em caso de
desordem. Numa sessão da Assembleia, a Carolina diz “Não gostei, odiei o que a Zulmira
fez, que foi entornar a sopa, no recreio. Estava o balde na árvore, para os bebés não
conseguirem. Veio a Zulmira e estragou …” A Isabel levanta-se e dá um murro na mesa.
A Carolina levanta-se e imita a Isabel. O Manuel imita-a. A professora intervém,
mandando calar e que todos se sentem (Observação 1-A).
Na parte final da Assembleia, faz-se também a avaliação do cumprimento das
tarefas. Primeiro é perguntado ao próprio aluno se considera ter cumprido bem a sua
380
tarefa, durante a semana. Por exemplo, na observação 1, a primeira avaliação foi à tarefa
da Carolina, tendo ela dito que “Sim”, que cumpriu bem a sua tarefa. Neste exemplo, por
acaso, a professora tomou a palavra, de seguida para dizer “Não concordo. Reparem lá
que está tudo desorganizado”. De seguida, os alunos podem também expressar a sua
opinião. O mesmo procedimento é adotado para os restantes alunos, fazendo-se o balanço
da semana.
De seguida, sorteiam-se as tarefas para a semana seguinte, com os nomes das
tarefas dentro de uma bolsa, que são retirados por cada aluno. No final, a professora
acrescentou “vejam se, de vez em quando, olham para as tarefas e as fazem”, porque
regularmente há quem se esqueça de cumprir com a sua responsabilidade (Observação 1-
A).
6.2. Organização e distribuição das atividades
Como já referimos algumas vezes, de acordo com o modelo High/Scope, as
crianças partilham com os adultos o controlo das atividades (Hohmann e Weikart, 2007).
As atividades organizam-se enquadradas numa rotina diária consistente e estável que
contempla os tempos de acolhimento, de planear-fazer-rever, em pequeno-grupo, em
grande grupo, de exterior, transições, etc. (Epstein, 2003; Fewson, 2008; Murphy, 2012;
Oliveira-Formosinho, 2007).
Na observação 1, o aluno “Gustavo termina a atividade que estava a fazer e mostra
à Professora. Depois, arruma o manual e vai para a área dos jogos, por iniciativa própria”.
De acordo com a abordagem High/Scope, os materiais de cada área da sala de aula estão
à disposição todos alunos (Vogel, 2012). Por outro lado, é incentivada a iniciativa das
381
crianças (Epstein, 2007), sendo positivo que os alunos sejam ativos e, de acordo com o
ponto 9 dos 10 indicadores de implementação do modelo, os interesses e as necessidades
individuais são respeitados (HSERF, 2008).
Mais tarde, na observação 3, a professora diz “Alguém tem ideias? Vocês vão
levar um trabalho de férias: um projeto. Vão pensar num tema, fazem em casa e, depois,
apresentam aos colegas”. A metodologia do trabalho de projeto é valorizada neste
modelo, na medida em que, quando as crianças falam nos seus projetos, os põem em
prática e refletem sobre eles, estão a fortalecer os interesses, a capacidade de iniciativa,
competências e conhecimentos diversos (Gainsley, 2008; Mitchell, 2008).
Na observação 1, registámos que a professora diz para os alunos se sentarem à
volta das mesas e, “depois, distribui o trabalho da seguinte forma: uns vão fazer operações
no manual de Matemática e dois, vão para o quadro, com a Professora”. De acordo com
Fewson (2008), e Biddle (2010), o papel do adulto não é determinar tarefas e situações
de aprendizagem estandardizadas, mas construir a sua prática educativa baseada na
reflexão. “O papel do adulto é apoiar e guiar as crianças através das aventuras e das
experiências que integram a aprendizagem pela ação (Hohmann e Weikart, 2007, p. 1).
Na situação referida, recorrentemente nesta turma, a professora propôs atividades
diferenciadas, mas raramente envolvendo os alunos na reflexão acerca das opções
tomadas. Também Epstein (2007) defende que, de acordo com a abordagem High/Scope,
o “ professor intencional … usa uma dada estratégia para acomodar diferentes percursos
de aprendizagem, de acordo com as dificuldades das crianças e os conteúdos específicos
que querem fazer aprender” (p. 1).
382
6.2.1. Gestão cooperada
Dewey (1979) defende que a escola deve espelhar a realidade social e
proporcionar uma oportunidade para a aprendizagem da vida real. Assim, os professores
deveriam construir ambientes de aprendizagem democráticos e científicos, através do
trabalho ativo e cooperativo (trabalho de projeto, organização de grupos de resolução de
problemas, etc.). O modelo High/Scope, segundo Hohmann e Weikart (2007), propõe que
“os adultos e as crianças partilhem o controlo” (p. 1).
Na turma onde se implementa o modelo High/Scope não observámos práticas
consolidadas de gestão cooperada das atividades da turma. Aliás, na observação 1
registámos que a Professora decidiu que, apesar de na agenda semanal, um período da
tarde ser dedicado ao Inglês, como de manhã os aluno se “atrasaram um pouco nas
atividades”, se irão dedicar antes à Matemática. Não houve nesta decisão participação dos
alunos. De acordo com Pinto (2008), para que as atividades de grupo sejam de cooperação
é necessário o estabelecimento de uma interdependência positiva entre os membros.
As tarefas
Cada aluno da turma tem a responsabilidade de desempenhar uma tarefa, durante
cada semana, de acordo o sorteio realizado no último dia da semana, no final da
Assembleia. Logo na observação 1, pudemos testemunhar que “sortearam-se, com os
nomes das tarefas dentro de uma bolsa, as tarefas de cada um para a próxima semana”.
As tarefas são diversas e vão do «presidente» que é quem conduz os trabalhos da
Assembleia, à responsabilidade por arrumar cada uma das áreas ou assegurar que não
ficam papéis espalhados pelo chão ao final do dia.
383
Na observação 2, a professora recordou “quem acabou as atividades vai arrumar
as suas áreas”.
Também é na Assembleia que, semanalmente, se faz a avaliação do cumprimento
das tarefas individuais. Cada aluno é convidado a fazer a sua autoavaliação e, depois, a
turma pode exprimir-se, avaliando o cumprimento da tarefa em avaliação. Na observação
1, registámos que o presidente “foi perguntando um-a-um e cada um fazia o balanço
acerca do desempenho da sua função durante a semana”.
Constituindo-se como uma forma de, rotativamente, os alunos se
coresponsabilizarem por tarefas que se prendem com a vida da turma, permite também
criar um sentimento de pertença ao grupo e de que, com o contributo de todos, pode
melhorar-se o ambiente e o funcionamento da turma.
6.2.2. Trabalho Individual
Para além do tempo chamado de Trabalho Individual (o tempo de planear-fazer-
rever), as atividades dos alunos podem desenvolver-se de forma individual (Epstein,
2009b; Mitchell, 2008), contribuído para os objetivos enumerados por Epstein (2003) de
apoiar as crianças a serem autónomas e independentes.
Foi frequente o recurso a esta forma de organizar as atividades na sua forma
individual. Na observação 1, a professora “sugere que os alunos se sentem à volta das
mesas. Depois, distribui o trabalho da seguinte forma: uns vão fazer operações no manual
de Matemática e dois, vão para o quadro, com a Professora. Dois alunos sentam-se à
frente do quadro. A Professora passa operações. Primeiro resolvem em conjunto mas,
384
depois, a professora divide o quadro ao meio e cada aluno faz do seu lado. Os restantes
alunos, nas mesas, fazem operações no manual”.
Noutras observações, registámos frequente atividade com recurso ao trabalho
individual, com realização de atividades de consolidação. Também assistimos à
realização de atividades de expressão plástica individualmente (observação 3).
6.2.3. Pequeno Grupo
Meirieu (1991) defende que o conhecimento se produz a partir da ação da criança
sobre o objeto “mas como esse conhecimento só é possível através da mediação da
linguagem, o professor tem de criar condições para que essa linguagem possa
desempenhar o seu papel: uma das principais condições será o trabalho em grupo” (p.
45).
O modelo High/Scope defende a promoção de atividades em pequenos grupos,
para experiências com materiais e para resolução de problemas (Mitchell, 2008). Aliás, o
trabalho em pequeno grupo deve ser planificado pelo professor, à volta de determinado
conteúdo, nas diversas áreas, devendo apelar a atividades cooperativas de incentivo à
coesão de grupo (Epstein, 2003; 2009b).
O modelo propõe três fases na metodologia de trabalho de projeto: Fase 1 –
planeamento e início; Fase 2 – progresso e desenvolvimento; Fase 3 – consolidação e
finalização (Gainsley, 2008). E, quando fala na organização de atividades em grande
grupo, contempla a apresentação dos projetos à turma, incluindo o seu debate (Biddle,
2010; Epstein, 2003).
385
Na turma A, na observação 2, a professora disse “Vamos começar com a língua.
Temos uma caça ao tesouro. O que têm que procurar são parágrafos de uma história com
sentido. Têm que procurar dentro e fora da sala. Mas, há regras. Têm que ir a pares. Não
podem entrar nas outras salas. Outra regra, muito importante, é não fazerem barulho. Há
aulas a funcionar. Podem ir, sem correr”.
Numa outra aula, a professora diz “para os alunos se organizarem nos pequenos
grupos que têm estado a fazer trabalhos de projeto, sobre animais, no âmbito do Estudo
do Meio” (Observação 6).
6.2.4. Grande Grupo - Turma
O tempo de grande grupo constrói um sentido de comunidade, de acordo com o
espírito do modelo (Mitchell, 2008). São os momentos em que toda a turma se reúne para
atividades de Expressão Musical, Expressão Dramática, leitura, momentos de
comunicações e outras experiências partilhadas. Neste tempo, as crianças têm muitas
oportunidades de fazer escolhas e desempenhar o papel de líder (Biddle, 2010; Epstein,
2003).
O modelo High/Scope permite o cruzamento com a metodologia de trabalho de
projeto, em que se podem conciliar atividades autoiniciadas pelas crianças e atividades
planeadas pelo adulto (Fewson, 2008).
Por outro lado, há a relembrar que as intenções sociais ricas a apoiar duradoura do
saber, possibilitando o desenvolvimento cognitivo (Piaget, 1978; Wallon, 1945).
386
6.3. Ritmo de Trabalho e Estilos de Aprendizagem
Vimos, na revisão bibliográfica, as distinções entre os conceitos de «tempo
atribuído (allocated time)» que na expressão de Hargreaves (1998) surge como «tempo
objetivo» ou «fixo», por oposição a «tempo subjetivo». Por sua vez, temos também o
«tempo de empenhamento (engaged time)» e o «tempo na tarefa (time-on-task)», sendo
este o tempo de empenhamento em determinadas tarefas de aprendizagem, e o «tempo de
aprendizagem académica (academic learning time)».
Quando “não é valorizada a participação do aluno na construção do seu ritmo de
aprendizagem (…) o aluno é submetido ao tempo do professor, tempo planeado e tempo
atribuído, o que condiciona completamente o tipo de comunicação professor-aluno”
(Moura, 2005, p. 118).
Já o referimos diversas vezes, anteriormente, o princípio da homogeneidade que
suporta a escola tradicional e transmissiva assenta na conceção de que todos os alunos
aprendem simultaneamente o mesmo ao mesmo tempo (Gomes, 2011a).
A atenção aos ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos é essencial na
Pedagogia Diferenciada e, logo, nos modelos que se propõem ser uma resposta às
necessidades de atender às diferenças interindividuais. O ritmo diverso de trabalho dos
alunos é um dos elementos característicos da heterogeneidade (Perrenoud, 1995),
integrando os ritmos e os estilos de aprendizagem nas diferenças psicológicas.
Por outro lado, os modelos de Pedagogia Diferenciada devem defender o
desenvolvimento de competências de autorregulação da aprendizagem (Pinto, 2008),
através da crescente tomada de consciência dos seus ritmos e estilos de aprendizagem e,
387
logo, das suas necessidades, interesses, áreas fortes, etc… (Lopes da Silva, 2004; Veiga
Simão, 2002).
Neste sentido, na entrevista inicial, questionámos a professora acerca de que
forma o Trabalho Individual pode contribuir para a autoconsciência e autorregulação da
própria aprendizagem.
A professora respondeu que “cada um deles [alunos] executa atividades dentro
dos seus interesses e das suas dificuldades. É claro que a consciência das dificuldades é
algo que cada um deles vai construindo individualmente e com a minha ajuda.
Diariamente, ao realizarem atividades, eles deparam-se com algo que não conseguem
realizar ou que realizam sem sucesso. Nesses momentos, eles tomam consciência de que
aquela é uma área na qual devem trabalhar mais. Eu também os vou chamando à atenção
para esses aspetos” (Entrevista 1-A).
Apesar disso, na observação 1, a professora disse à turma “que deveria ser Inglês,
mas como de manhã de atrasaram um pouco nas atividades, vão fazer atividades de
Matemática”, o que parece contraditório com o que temos vindo a refletir sobre a questão
do tempo e do respeito pelo ritmo de trabalho individual.
Mais adiante, o Gustavo termina a atividade e mostra-a à Professora. “Depois,
arruma o manual e vai para a área dos jogos, por iniciativa própria” (observação 1). Parece
não haver uma estratégia para quando os alunos estão a fazer atividades semelhantes e os
alunos vão concluindo a ritmos diferentes. Pouco depois, “os alunos que estão a trabalhar
no quadro terminam e perguntam à Professora se podem ficar a desenhar no quadro.
Professora não autoriza. Decidem, então, ir para a área da Expressão Plástica” e, de
seguida “a Zulmira junta-se-lhes quando conclui a atividade do manual” (observação 1).
388
Noutro dia, estavam a fazer atividades no âmbito da Expressão Plástica, quando a
professora disse “quem acabou as atividades vai arrumar as suas áreas” (observação 2) e,
na observação 3, verificámos que “os alunos que terminam esperam pelos outros”, o que
revela novamente a inexistência de uma estratégia para situações em que os alunos
terminam as atividades em tempos diferentes.
6.4. Currículo
Como modelo cognitivo de educação, de orientação construtivista e de escola
ativa, a abordagem High/Scope defende um currículo flexível (Epstein, 2003; Fewson,
2008), no sentido em que atende às necessidades e particularidades de cada aluno,
mediante o respeito pelos seus interesses e propostas, sob o controlo do professor.
O modelo High/Scope não apresenta um conjunto estruturado e sequencial de
tarefas e conteúdos, sendo compatível com os currículos de cada país. Apesar disso, o
modelo propõe que se organizem as experiências-chave em torno da linguagem, literacia
e comunicação, do desenvolvimento social e emocional, do desenvolvimento físico, das
artes e das ciências (Matemática, Ciência e Tecnologia, Estudos Sociais e Artes) (Epstein,
2012a; Gainsley, 2008).
Quando perguntámos à professora se o currículo era apresentado aos alunos, a
docente respondeu que “de certo modo, sim. No início do ano, os alunos têm a curiosidade
normal de folhear os manuais e ver que espécie de temas e conteúdos iremos abordar.
Mas também surgem conteúdos e temas de «fora do programa», a partir de conversas e
interesses dos miúdos. Acima de tudo, eles devem ter espaço para crescer, ao seu ritmo
individual. Se quisermos ser congruentes com esta perspetiva, não podemos
389
simplesmente expor, em setembro, a planificação para todo o ano letivo. As
aprendizagens vão surgindo e as opções vão sendo tomadas de acordo com o que acontece
cá dentro da sala”. Portanto, não há uma apresentação clara, em linguagem adequada às
crianças, do currículo concebido para o ano letivo. Os alunos têm um contacto com esse
currículo através dos manuais escolares e pode ser enriquecido a partir dos interesses dos
alunos.
No dia da nossa primeira observação (Observação 1-A) os alunos tiveram um
momento de Expressão Musical, antes da hora de almoço, sendo a professora coadjuvada
por uma professora com formação mais aprofundada na área. No mesmo dia, da parte da
tarde, a professora dinamizou um momento de Expressão Dramática, numa sala de aula
sem mesas nem cadeiras. A atividade começou com os alunos “sentados, espalhados pelo
chão. Ao som da música (orquestra de cordas), têm que imitar o animal preferido. Quando
a Professora faz pausa, mudam de animal. O Gustavo não estava a participar. A professora
perguntou-lhe se não queria participar. Ele disse que não gosta deste jogo. Continua
sentado”.
Depois, a professora “parou a música” e disse “Estes animais andam a passear na
floresta e transformam-se em quê? Alguns alunos tentam descobrir, dizendo, em voz alta
«sapos, mágicos, …»” A professora diz: “Não. Em robots. Eles eram robots muito bem-
mandados. Juntavam-se aos pares e imitavam-se uns aos outros e, de acordo com o ritmo
da música. E eles não tinham som. Não falam nem têm som. Façam pares! Têm que
combinar quem imita quem. Quando eu parar a música, trocam”. O Gustavo continuou
sem participar.
390
A atividade seguinte foi introduzida pela professora que disse “Deitem-se de
barriga para baixo e metade de pé. Os que estão de pé vão imaginar que estão a fazer uma
pizza nas costas do que estão deitados, para relaxarem”. A professora vai falando, dizendo
as fases e fazendo nas costas de um aluno. Depois, trocam. Quando trocaram, o Gustavo
sentou-se junto da Professora, mas não fez a pizza nas costas da Professora (Observação
1-A).
Assistimos várias vezes a atividades de Língua Portuguesa de Matemática
(exemplo, Observação 2-A). Também desenvolveram atividades do âmbito da Expressão
Plástica (exemplo, Observação 3-A). Pudemos assistir ao desenvolvimento de trabalhos
de projeto, sobre temas de Estudo do Meio (exemplo, Observação 6-A).
7. Interações
O papel do professor é muito relevante, à luz do modelo High/Scope, porque se
espera que assegurem a rotina diária e, em cada tarefa, ajudem as crianças a refletirem
sobre o que estão fazer e a aprenderem, a partir dessa ação (Epstein, 2003; Hohmann &
Weikart, 2007). Para além disso, os adultos encorajam as crianças a envolverem-se em
experiências-chave preconizadas pelas teorias piagetianas, ajudam-nas a aprender a fazer
escolhas, a resolver problemas e a optar por atividades que promovam o desenvolvimento
intelectual, social e físico (Brickman & Taylor, 1996; Fewson, 2008).
7.1. Interação professor-aluno
Uma interação adulto-criança positiva cria na criança uma confiança e empatia
que lhe permite expressar-se livremente e com confiança pois, como assinalam Hohmann
391
e Weikart (2007), “a aprendizagem pela ação depende das interações positivas entre os
adultos e as crianças” (p. 6). Esta forma de interação é sustentada pelo encorajamento da
iniciativa da criança e dos grupos, estabelecendo-se relações verdadeiras com a criança e,
pelo apoio do adulto, nas brincadeiras e na resolução de problemas que possam surgir.
A interação professor-aluno é valorizada, também, na resolução de conflitos. O
professor, no Modelo High/Scope, evita a utilização da recompensa e punição para gerir
os comportamentos, centrando-se na criação de um ambiente social positivo no qual as
expectativas e os limites são claros (Epstein, 2003).
Na observação 2-A, a professora apercebeu-se de que havia alunos com flores
recentemente arrancadas e pergunta onde as foram arranjar. Os alunos disseram que
tinham andado a arrancar flores. Então, a professora questionou “Qual é a regra do
recreio?”. Alguns alunos, em coro, dizem “Não arrancar flores!”, ao que a professora
acrescente “E agora? Estão a sentir-se bem com isso? Agora, morreram!”.
O Manuel diz que a Carolina, no outro dia, também arrancou. Há alguma
discussão entre os alunos, estando a acusar-se uns a outros. A professora interferiu,
dizendo “Bom. O que importa é que não podem arrancar flores. Mas, também vi algumas
coisas no recreio de que não gostei nada, mas vou deixar para a assembleia. Agora,
durante a manhã, pensem bem. À tarde, vamos falar sobre isso” (observação 2-A).
Também o questionamento com vista a despoletar criatividade ou ajudar a
resolver problemas, é defendida pelo modelo (James, 2012). Na observação 3-A, a
professora pergunta aos alunos se não querem colar coisas alternativas e menos
convencionais, tais como “feijões, etc…” e pergunta se vão escrever algo no quadro.
392
A interação professor-aluno também é relevante no apoio à superação de
dificuldades e na resolução de problemas (James, 2012). A este respeito, na entrevista 1-
A, a professora disse: “de manhã, houve um exemplo muito bom. A Isabel tem algumas
dificuldades a Língua Portuguesa e eu estive basicamente com ela, porque eu sei que os
outros conseguem fazer sozinhos. E com ela, ainda vou combinar mais para trabalhar com
ela no Trabalho Individual”. Mais adiante, noutra passagem, referiu que “vou circulando
pela sala, à medida que os miúdos me pedem ajuda. Algumas vezes, no início do Trabalho
Individual, eu informo um ou dois alunos de que temos que trabalhar em conjunto, porque
é necessário um apoio claro e individualizado em determinada área”.
Na observação 1-A, registámos que “à Isabel e ao Manuel, estando com algumas
dificuldades, a Professora foi buscar materiais manipuláveis de Matemática, para os
auxiliar”.
7.2. Participação dos alunos
De acordo com o defendido pelo modelo High/Scope, o desenvolvimento de
competências sociais, a par das cognitivas, ocorre por experiência direta, através da
observação, exemplificação, tentativas e resolução de problemas (James, 2012).
A abordagem High/Scope à socialização organiza-se em torno de cinco
capacidades: confiança, autonomia, iniciativa, empatia e autoestima, como foi
apresentado anteriormente, sendo relevante a interação entre os alunos e a sua
participação na vida da turma (Epstein, 2012b).
393
8. Papel do professor
No modelo High/Scope é defendido que o professor se deve juntar aos alunos, nas
atividades individuais ou em pequenos grupos (Biddle, 2010; Epstein, 2008), para ajudá-
las a refletir (Murphy, 2012). O professor incentiva os alunos a envolverem-se em
experiências-chave, ajudam-nas a aprender a fazer escolhas, a resolver problemas e a
optar por atividades que promovam o desenvolvimento intelectual, social e físico
(Epstein, 2007; Fewson, 2008).
Também é valorizada a utilização de experiências-chave (tarefas de aceleração ou
tarefas piagetianas), que o professor propõe com o intuito de promover o
desenvolvimento das estruturas próprias de cada estádio, permitindo à criança alcançar o
estádio seguinte (Guerreiro, 2000).
No modelo High/Scope, em cada dia, o professor segue uma consistente agenda,
cuidadosamente planeada para incluir experiências de trabalho individual, de pequeno
grupo, de grande grupo e um balanço das atividades planeadas, apoiando a aprendizagem
ativa da cada criança (Fewson, 2008). O que as crianças pretendem fazer também é
considerado, devendo ser questionadas para que possam fazer escolhas, seguir os seus
interesses enquanto desenvolvem competências nas diversas áreas (Epstein, 2003;
Hohmann & Weikart, 2007; Kruse, 2003).
O professor tem ainda um papel determinante na avaliação. Os professores fazem
um registo diário de notas ilustrativas, baseando-se naquilo que veem e ouvem quando
observam as crianças, e anotam episódios importantes acerca do desenvolvimento dos
alunos (Epstein, 2003; Fox, 2005; Shipstead, 2008).
394
Neste modelo, o professor é entendido como o promotor do desenvolvimento
psicológico da criança. “O papel do adulto é apoiar e guiar as crianças através das
aventuras e das experiências que integram a aprendizagem pela ação” (Hohmann &
Weikart, 2007, p. 1).
A aprendizagem ativa depende, inequivocamente, da interação positiva entre os
adultos e as crianças. Os adultos deverão apoiar as conversas e as brincadeiras das
crianças, deverão ouvi-las com atenção e fazer os comentários e observações que
considerem pertinentes; também apoiam e encorajam a criança nas suas descobertas e na
solução de problemas. Desta forma, a criança sentir-se-á confiante e com liberdade para
manifestar os seus pensamentos e sentimentos.
“O papel do adulto não é dirigir ou controlar o processo de aprendizagem, mas
antes apoiá-lo” (Brickman & Taylor, 1996, p. 4), como o temos vindo a referir.
8.1. Perspetivas do professor
Quando questionámos a professora acerca de se considera que o modelo do
High/Scope é um modelo de Pedagogia Diferenciada e em que medida, a professora
respondeu que considera e acrescentou que “o modelo High/Scope não implica um
conjunto estruturado e sequencial de tarefas e conteúdos, mas funciona mais como um
orientador geral de organização do trabalho, que implica a adaptação curricular ao grupo
particular de crianças com que se trabalha” (entrevista final 1-A). Esta perspetiva está
claramente em concordância com a abordagem do modelo designadamente com o
princípio da interação adulto-criança: a professora refere-se, ainda, à ideia de se seguirem
os manuais de fio a pavio, com todos os alunos a trabalharem ao mesmo tempo. Neste
395
modelo, cada criança trabalha de acordo com o seu nível de desenvolvimento. As crianças
aprendem melhor se trabalharem nos seus próprios interesses. “Há um autor do modelo
que diz que «as crianças exploram, fazem perguntas, encontram respostas, resolvem
problemas». Uma das coisas importantes que as crianças devem também aprender é que
somos iguais em alguns aspetos e diferentes noutros e que isso é normal” (entrevista 1-
A), conclui.
Esta perspetiva da professora é muito próxima das palavras de Brickman e Taylor
(1996), designadamente quando dizem que “a coisa mais importante que queremos que
as crianças aprendam é, provavelmente, que todos somos iguais em muitos aspetos e todos
somos diferentes noutros aspetos e que tais diferenças são normais (p. 184).
Uma outra questão tem a ver com o nível de desenvolvimento dos alunos.
“Tentamos também pôr ou estimular as suas propostas de acordo com o nível de
desenvolvimento individual, no fundo as suas necessidades. Sobretudo no momento de
Trabalho Individual, o planear-fazer-rever, é possível que cada aluno trabalhe de acordo
com o que precisa. Por outro lado, nestes momentos, o professor está mais livre para
poder ajudar os alunos individualmente” (entrevista final 1-A).
Quando questionada sobre a razão que a leva a defender o modelo High/Scope, a
professora disse que considera “que é uma mais-valia apostar nas atividades, na
aprendizagem ativa, porque torna as aprendizagens mais significativas e, logo, mais
interessantes e acessíveis” (idem).
A professora sublinhou que o modelo High/Scope é “um modelo que se baseia no
desenvolvimento natural das crianças. Acreditamos que as crianças aprendem melhor
396
com atividade direta, no seguimento do que planearam fazer e sobre o qual são convidadas
a refletir” (idem).
Na linha do que temos referido acerca do modelo, insistiu que “a aprendizagem
pela ação é central neste modelo. Não queremos que estejam sentadinhos, quietinhos e
caladinhos mas, pelo contrário, que interajam uns com os outros, com outros adultos, com
recursos materiais, etc…” (idem).
A professora acrescenta ainda ”e, quando digo ação, não quero esgotar o sentido
da palavra no ato, na motricidade, como diz um pensador do modelo. O fim é o que se
passa dentro da cabeça dos miúdos, na sequência da ação. Há também um conjunto de
experiências-chave que queremos que eles vivam, para se superarem e passarem a
estádios de desenvolvimento seguintes” (Entrevista 1-A).
A organização do espaço por áreas e a organização da rotina diária também são
centrais no modelo e diferenciam-no de outros modelos. As crianças sabem sempre onde
estão os recursos de cada área e o que vai acontecer em cada momento do dia e da semana.
“Claro que, no início, não é logo assim. Mas, com o tempo, vamos implementando estas
rotinas e o espaço, esse, está sempre dividido em áreas e etiquetado” (Entrevista 1-A).
Podemos, portanto, concluir que, segundo o que nos disse nas entrevistas, está
identificada e em congruência com a perspetiva do modelo, sobretudo no tocante à sua
conceção de Pedagogia Diferenciada, na valorização da Aprendizagem Ativa, na
organização da agenda/rotina diária e no envolvimento da criança no planeamento e na
avaliação.
8.2. Perspetiva de Pedagogia Diferenciada
397
O modelo High/Scope assume-se como um modelo de Pedagogia Diferenciada,
na medida em que procura o desenvolvimento máximo das competências dos alunos,
respeitando as suas características, necessidades, ritmos e estilos de aprendizagem.
Segundo Epstein (2012a), “o modelo High/Scope permite aos professores a adaptação das
atividades e interações aos interesses e necessidades da criança” (p. 6).
Na perspetiva da professora, a Pedagogia Diferenciada “é aplicar, desenvolver
estratégias adequadas às suas necessidades, características e ritmos de trabalho. Julgo que
implica organizar o trabalho da turma, permitindo que os alunos trabalhem em áreas
curriculares diferentes, ao mesmo tempo e, se for na mesma área, em conceitos ou níveis
diferentes. Os alunos não são todos iguais e é preciso encontrar estratégias para conseguir
corresponder aos seus ritmos, interesses e necessidades” (entrevista 1-A), tendo
acrescentado que “é importante pensar no desenvolvimento integral, não só intelectual,
mas também social e afetivo” (idem).
Na observação 1-A, assistimos a um momento em que a professora sugeriu que
os alunos se sentem à volta das mesas e depois, distribuiu o trabalho da seguinte forma:
“uns vão fazer operações no manual de Matemática e dois, vão para o quadro, com a
Professora. Dois alunos sentam-se à frente do quadro. A Professora passa operações.
Primeiro resolvem em conjunto mas, depois, a professora divide o quadro ao meio e cada
aluno faz do seu lado. Os restantes alunos, nas mesas, fazem operações no manual”. Desta
forma, a professora diferenciou o trabalho dos alunos, apesar de todos estarem a trabalhar
no âmbito da Matemática.
Na entrevista 1-A, a professora considerou que “este modelo rompe com o ensino
tradicional, baseado na repetição e memorização. Centra-se na Aprendizagem pela ação.
398
O objetivo do modelo é conduzir as crianças a uma maior autonomia, capazes de ter
iniciativa, a ser mais independentes e seguros de si. Também a questão do planeamento
das atividades é importante. Saber planear, prepara-os para a vida”.
Esta visão da professora plasma os objetivos apresentados na descrição do modelo
(Epstein, 2003), sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento da autonomia, à
independência e à integração social.
9. Trabalho Individual
9.1. Planear-fazer-rever
A sequência «planear-fazer-rever» é um tempo de Trabalho Individual, como é
comummente designada entre os docentes, em Portugal. É uma característica marcante
do modelo High/Scope e inclui 10 a 15 minutos em pequeno grupo durante o qual cada
criança planeia o que quer fazer durante este tempo (a área a visitar, materiais que vai
usar, e com que colegas); uns 45 a 60 minutos de trabalho para executar os seus planos;
e, depois 10 a 15 minutos, em pequeno grupo para rever com o adulto e com outras
crianças o que fez e o que aprendeu (Epstein, 2003, 2007; Fewson, 2008; Gainsley, 2008).
Na observação 1-A pudemos assistir a uma sessão de Trabalho individual. A
professora, por volta das 15h30, disse, em voz alta, para a turma, “Vamos para o Trabalho
Individual. Sentem-se aqui à roda”, na área dos “Livros e Leituras”.
Cada aluno diz para que área vai e o que pensa fazer. Porém, nesta sessão houve
um pequeno incidente. Quando chegou a vez do Gustavo, ele disse que ia para a
Matemática e ficou calado. A professora perguntou “O que vais fazer?” e o aluno
399
responde-lhe “Não me apetece!”, pelo que a professora lhe disse “Mas, vocês escolheram
no início da semana” (Observação 1-A).
Depois de os alunos terem referido o que planearam fazer, cada aluno vai para a
área respetiva. Na observação 1-A, o Gustavo acaba por se sentar e dizer que não vai fazer
nada. Os diversos alunos vão fazendo diversas atividades e “a professora trabalha no
computador. Interfere, várias vezes, com a Isabel que devia estar no lugar dela e foi para
a área das Ciências” (Observação 1- A).
Passados cerca de 30 minutos, a “professora pede para arrumarem, para se
sentarem no tapete e diz «Vamos fazer a revisão»” (Observação 1-A). De seguida, pede
a cada aluno que diga o que planeou fazer e se cumpriu ou não. No caso da Carla, que foi
para a área das Ciências e fez uma experiência com água, açúcar, azeite e corante, a
Professora pergunta o resultado.
Depois de todos terem feito a partilha com os colegas daquilo que fizeram durante
o Trabalho Individual, a professora disse que “o Gustavo tinha planeado ir para a área da
Matemática, mas não foi o único que não cumpriu. Acham certo? Durante o fim de
semana vejam o que querem fazer e se não querem fazer sozinhos, combinem. Na
segunda-feira têm que dizer. Não se esqueçam que não podem repetir áreas nos dias da
semana” (Observação 1-A).
A professora referiu, na entrevista 1-A que “quando os alunos estão no Trabalho
Individual, é possível apoiá-los individualmente”. É um tempo “em que eles escolhem
uma área e cada um trabalha nessa área. Só que eu posso também ajudar durante o
Trabalho Individual. Por exemplo, um aluno que tenha alguma dificuldade em alguma
400
coisa, posso propor que, na segunda-feira, vá ficar comigo a trabalhar essa dificuldade. E
mesmo eles podem propor, se tiverem dúvidas, podem chegar ao pé de mim e dizer «eu
gostava de trabalhar isto contigo»” (Entrevista 1-A).
Esta docente refere ter consciência de que “os alunos são todos diferentes” e que,
se algum aluno tem alguma dificuldade em algum conteúdo, pode “apoiá-lo mais,
sobretudo no tempo de Trabalho Individual” (entrevista 1-A). Para ilustrar o que acaba
de dizer, acrescenta que “de manhã, houve um exemplo muito bom. A Isabel tem algumas
dificuldades a Língua Portuguesa e eu estive basicamente com ela, porque eu sei que os
outros conseguem fazer sozinhos. E, com ela, ainda vou combinar mais para trabalhar
com ela no Trabalho Individual” (entrevista 1-A).
Para apoiar a regulação do trabalho, “existe uma grelha onde se regista, à segunda-
feira, a área em que cada aluno decide trabalhar em cada um dos momentos de Trabalho
Individual ao longo da semana. Este registo ajuda-me a controlar se cada um está a fazer
o que se compromete” (entrevista 1-A). Nas observações, nunca resgistámos a utilização
desta grelha.
Quando questionada acerca da existência de um registo individual do que cada
aluno planeia fazer, a professora disse que “já pus a hipótese de criar um registo individual
para cada um, onde colocassem as áreas onde se comprometem a trabalhar. Porém, não
tenho sentido essa necessidade, pois todos os dias planeamos e avaliamos o trabalho de
cada um e existe a grelha coletiva que, de modo simples, nos indica as áreas planeadas
por cada criança e permite que, em cada dia, cada um deles saiba quantos alunos irão estar
na área em que vão trabalhar, etc. Esse registo coletivo facilita o trabalho, sem o
burocratizar” (entrevista 1-A).
401
Ao refletirmos sobre a forma como o Trabalho Individual pode concorrer para o
desenvolvimento da autoconsciência e autorregulação da aprendizagem dos alunos, a
professora considera que se “cada um deles executa atividades dentro dos seus interesses
e das suas dificuldades” (entrevista 1-A), está a contribuir-se para uma crescente
consciência das dificuldades, que “é algo que cada um deles vai construindo
individualmente e com a minha ajuda. Diariamente, ao realizarem atividades, eles
deparam-se com algo que não conseguem realizar ou que realizam sem sucesso. Nesses
momentos, eles tomam consciência de que aquela é uma área na qual devem trabalhar
mais. Eu também os vou chamando à atenção para esses aspetos” (idem).
Considerando que o tempo do «planear-fazer-rever» é designado, em Portugal,
por alguns docentes, tal como a professora da turma estudada, por «Trabalho Individual»,
tentámos perceber se esta designação tem influência na perceção. Neste sentido,
questionámos a docente acerca se considera este tempo uma oportunidade de trabalho
autónomo. A professora clarificou que o tempo de «Trabalho Individual» é um tempo de
trabalho autónomo, “na medida em que cada aluno planifica, realiza e avalia o que faz.
Começa com 10 a 15 de planificação, em pequeno grupo. A criança decide o que vai fazer
com os recursos da área onde vai trabalhar e com que colegas. Depois, no final, em
pequeno grupo, também revê o que aprendeu. Elas fazem aquilo que lhes interessa e o
que precisam, autonomamente” (entrevista final 1-A).
No final do ano letivo, quando pedimos à professora que nos dissesse se considera
que o tempo de Trabalho Individual foi determinante para as aprendizagens dos alunos,
402
considerou que “determinante é uma palavra muito forte” (entrevista 2-A). Contudo, disse
“que teve um lugar de destaque na diferenciação do trabalho, na construção de uma ideia
de que cada um é responsável, é autor das suas aprendizagens” (idem) e que foi
importante no desenvolvimento da autonomia, na capacidade de planear o trabalho e de
gerir o tempo. Acrescentou acreditar que, “para além dessas competências, também foram
momentos de aprendizagem escolar, de trabalho de áreas curriculares, de ultrapassagem
de dificuldades” (idem).
O Trabalho Individual contribuiu para a adequação às necessidades, interesses e
ritmos dos alunos, na medida em que é “excelente para a diferenciação, para essa
adequação às necessidades, interesses e ritmos de trabalho dos alunos” (idem). Durante o
Trabalho Individual, “cada aluno, confronta-se com a necessidade de trabalhar, de forma
autónoma ou em pequeno grupo, nas diferentes áreas curriculares, sobretudo onde tem
mais dificuldades, em tarefas de superação dessas dificuldades ou no treino, na
consolidação dos assuntos abordados. É o momento forte dessa diferenciação ou
adequação” (idem).
Em relação à preparação, implementação, monitorização e avaliação do trabalho
individual, a professora refere que “o facto de os alunos na maioria já virem do pré-escolar
neste modelo facilita. Mas, as crianças têm mais facilidade de adaptação às rotinas do que
teria um adulto” (idem). Valoriza a importância da implementação das rotinas, que deve
ser negociada com os alunos, para fazer sentido, ou seja, “deve partir das necessidades da
turma. Não deve ser algo de imposto. Ou melhor, devemos levá-los a criar necessidade
ou a dar sentido às rotinas” (idem). Explica que “no caso do planear-fazer-rever, a
403
implementação é gradual, até porque a capacidade de planear e de rever, no sentido de
partilhar com os outros o que aprenderam ou descobriram, vai evoluindo com a
maturidade deles. À medida que vão ficando mais crescidos ficam mais autónomos, há
mais possibilidade de trabalharem nos diversos domínios de forma autónoma, …” (idem).
Já no que diz respeito à monitorização, ela é feita pela professora, “através do
registo das atividades realizadas e dos progressos conseguidos nas diversas áreas” (idem).
Na observação 2-A, no momento do «rever», a professora perguntou “o que é que
o Manuel planeou fazer”, o aluno respondeu “um aquário!” e a professora questionou se
correra bem. O Manuel apenas respondeu “Sim”.
Depois, a Professora também perguntou à Isabel o que ela planeara fazer, tendo
esta respondido “Eu não fiz o que planeei. Não deu tempo”.
A professora dá a palavra à Carolina que diz “planeei trabalhar no aquário. E fiz”
(Observação 2-A). Os diálogos foram muito curtos, não houve interação entre os alunos,
nem foram convidados a tirar conclusões do que fizeram, explicando o que aprenderam,
por exemplo. A aluna que diz que não fez o que planeou, por não ter tido tempo, não tirou
nenhuma conclusão, não lhe foi apresentada nenhuma sugestão, nem houve qualquer tipo
de consequência.
Na observação 3-A, quando terminou o tempo do Trabalho Individual, a
professora diz para arrumarem e se sentarem no tapete, para se fazer a revisão. Os alunos
arrumam e sentam-se no tapete. “A Professora pega numa folha de avaliação do
comportamento e pergunta, a cada aluno o seguinte:
404
- respeitaste os colegas?
- respeitaste os professores?
- arrumaste os materiais?
- estiveste com atenção?
- fizeste os TPC?
- cumpriste as regras do recreio?
- cumpriste as regras do refeitório?
- cumpriste as atividades individuais?
Cada aluno diz se fez, mais-ou-menos ou não e a professora marca com verde,
amarelo ou vermelho. Os colegas também se pronunciam, se quiserem” (Observação 3-
A).
As perguntas colocadas pela professora a cada aluno ultrapassam o tempo do
Trabalho Individual. Por outro lado, cada aluno responde, a professora decide a
classificação (cor) que atribui a cada aluno, não havendo envolvimento direto dos
restantes colegas.
Em suma, “a avaliação global é muito positiva. O tempo de trabalho individual é
o momento de diferenciação por excelência, o momento em que, cada um pode evoluir
nas áreas que mais lhe interessa e onde tem mais dificuldades” (Entrevista 2-A). Salienta
que o papel do professor, enquanto orientador, é importante, “por que, se não,
trabalhariam sempre na área preferida” (idem). Por outro lado, como tem que “haver
rotatividade e o facto de terem que fazer o “rever” para a turma, ajuda a controlar essa
situação” (idem). A professora considera, globalmente que “a turma evoluiu no sentido
405
da responsabilidade” (idem) e o Trabalha Individual “constituiu uma oportunidade
excelente para desenvolverem as competências nas diversas áreas curriculares” (idem).
Apesar de tudo o atrás exposto, a professora reflete sobre o modelo e considera
que uma das fragilidades do modelo High/Scope, “em relação a outros, se situa no facto
de não haver tanto o envolvimento dos outros alunos nos percursos individuais. Cada um
é mais responsável pelo seu trabalho. Mas, penso que a turma trabalhou bem nas diversas
rotinas, trabalhou de forma ativa nas diversas áreas, na perspetiva do modelo High/Scope”
(idem). O balanço é muito positivo, no entender da docente mas, com a próxima turma
talvez “implemente uma forma de registo individual do trabalho planeado e realizado,
para poder haver um acompanhamento do trabalho individual pela turma e possa haver
mais corresponsabilização” (idem). Mas, a este respeito, mesmo assim, sente que ainda
precisa “amadurecer as ideias” (idem).
9.2. Ação do aluno sobre os conteúdos
A base do trabalho autónomo consiste em fazer participar o aluno na construção
da sua própria aprendizagem, deixando-lhe a liberdade de se organizar no
desenvolvimento da(s) na(s) tarefa(s) escolar(es). A sua ação desenvolver-se-á sobre os
conteúdos e sobre os processos, como o referimos no capítulo dedicado ao Trabalho
Autónomo.
Relativamente aos conteúdos, o aluno pode propor assuntos ou dirigir a sua
atenção para outros temas que surjam no decurso do trabalho escolar. No tocante aos
406
processos, ele pode tomar a iniciativa e a responsabilidade desde a preparação ao
desenvolvimento do trabalho.
Segundo Vygotsky (1991), o envolvimento não ocorre quando as atividades são
demasiadamente fáceis ou demasiadamente exigentes. Para haver envolvimento, a
criança tem de funcionar no limite das suas capacidades, ou seja, na zona de
desenvolvimento próximo. Há dados que sugerem que uma criança envolvida está a ter
uma experiência de aprendizagem profunda, motivada, intensa e duradoura.
A abordagem High/Scope defende que a aprendizagem é fundamental para o
desenvolvimento humano, adotando a expressão «aprendizagem pela ação» para designar
a ação do sujeito sobre os objetos, as pessoas, as ideias e os acontecimentos. Aliás, ao
dar-se às crianças possibilidade de escolha, está a garantir-se o seu interesse. “Quando as
crianças estão interessadas nalguma coisa, é mais provável que aprendam algo de novo e
que permaneçam interessadas no que estão a fazer” (Brickman & Taylor, 1996, p. 13).
Ao descobrirem que podem fazer planos e executá-los até ao fim e que não há fórmulas
mágicas para fazer as coisas, mas apenas problemas para resolver, as crianças ganham
autoconfiança. Por outro lado, tomando decisões e resolvendo problemas, as crianças
desenvolvem a sua independência e “aprendem a não depender demasiadamente dos
adultos para saberem como fazer, quando fazer ou porque fazer” (idem).
Nesta perspetiva, a professora da turma A considera que a decisão do que o aluno
vai fazer no Trabalho Individual “depende dos seus interesses e da tomada de consciência
das dificuldades que cada um vai tendo” (Entrevista 1-A).
407
Ao longo das observações, verificámos que os alunos eram livres de, dentro das
áreas em que trabalhavam, fazer as atividades que quisessem.
9.3. Experiência de 4 alunos durante o Trabalho Individual
9.3.1. Planificação
Os quatro alunos estudados de forma mais focada, de acordo com o explicitado
no capítulo relativo à Metodologia, não reviram a avaliação (fase «rever») do tempo de
«planear-fazer-rever» do dia anterior, ou seja, não fizeram a planificação com base no
momento anterior. Na turma A não há avaliação escrita, ao contrário do sugerido por
Fewson (2008), sendo o «rever» feito apenas oralmente, o que também impossibilita a
implementação do hábito de planificar com base na avaliação anterior.
A planificação é meramente oral, não havendo registos, ao contrário da proposta
do modelo High/Scope (Fewson, 2008). Os quatro alunos fizeram a planificação oral
individual antes de iniciarem a realização das atividades e, durante o tempo de Trabalho
Individual, fizeram apenas uma atividade. Nunca pediram apoio à professora ou a outro(s)
colega(s). Não acrescentaram nem alteraram as atividades planeadas.
9.3.2. Execução
Os quatro alunos reúnem os recursos materiais com que vão trabalhar e realizam
apenas as atividades planeadas.
408
Os alunos 1, 2 e 4 não se distraíram com colegas, durante o Tempo de Trabalho
Individual, nas sessões em que os observámos mais focadamente. Apenas o aluno 3 se
distraiu, com alguma frequência, com outros colegas, tendo-se alheado das suas
atividades.
Dos quatro alunos, o aluno 2 saiu do seu lugar, durante a realização das atividades
do «planear-fazer-rever» duas vezes.
Os quatro interpelaram a professora, pedindo ajuda ou sugestão, sem se ter
combinado previamente qualquer tipo de «apoio».
O aluno 2 deixou uma atividade incompleta e iniciou outra e, da observação dos
quatro, registámos práticas de autoverbalização (autoinstrução), durante a realização das
tarefas.
A manutenção do local de trabalho organizado foi uma característica comum,
assim como registámos que os quatro reviram (e se necessário corrigiram) as atividades,
quando as terminaram.
Dos quatro alunos, o aluno 3 fez tarefas a pares, durante o Tempo de Trabalho
Individual observado, sendo que os restantes trabalharam individualmente.
9.3.3. Avaliação
Cada um dos quatro alunos avaliou (fase «rever») a sua atividade, dizendo o que
fez e o que aprendeu e, depois, respondeu às questões colocadas pela professora. Nenhum
pediu a outro(s) colega(s) para opinar(em) a respeito do seu trabalho e não justificaram a
sua avaliação.
409
De referir que, na Assembleia, não é feita avaliação das atividades realizadas no
tempo de «planear-fazer-rever», de uma forma mais aprofundada, apenas se distribuem
pela semana, as áreas nas quais, em cada dia, cada aluno irá trabalhar.
O caso B
A turma com o Modelo do Movimento da Escola Moderna
1. O meio
A turma B funcionou numa escola da freguesia de Algueirão/Mem-Martins, no
concelho de Sintra, com uma área de 1.596 ha e cerca de 75 mil habitantes, de acordo
com os censos de 2001. O nome da Algueirão provém do árabe 'Algueiran', plural de
'Algar', que significa caverna ou gruta. Já o nome Mem Martins, provavelmente o nome
do cavaleiro medieval que morou na região e que se chamava Martim Escorso.
Consequentemente, o nome poderá também provir do apelido dos filhos deste cavaleiro
que também viveram nesta região e que se chamavam 'Martins'.
Segundo a informação que se pode ler no sítio da Junta de Freguesia
(www.jfamm.pt), em 1210, o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, aforou quatro casais
em Pucilgaes, tendo em 1230 voltado a registar-se novo aforamento. O Mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho foi, durante séculos, o
principal proprietário de terras da atual Freguesia de Algueirão - Mem Martins.
As indústrias Químicas afirmam-se no tecido empresarial da freguesia. Apesar de
o setor secundário ser uma percentagem significativa, o setor terciário é maioritário, com
410
58% da mão-de-obra ativa e sendo responsável por um desenvolvimento paralelo ao
crescimento demográfico.
Tanto os serviços de natureza económica, de apoio administrativo, técnico e
financeiro, como os serviços comerciais, estão bem implantados e oferecem uma gama
completa de produtos ao nível dos grandes centros urbanos.
Pode ler-se no Projeto Educativo da Turma B que a escola se situa numa zona da
freguesia “maioritariamente habitacional, sem grande relevo industrial nem turístico, mas
bastante completa em termos de serviços. Nota-se que se trata de uma zona que, apesar
de ter pessoas a trabalhar fora, não consiste num simples dormitório, dada a quantidade
de estabelecimentos que se encontram abertos diariamente ao serviço da população, de
entre estes alguns estabelecimentos de ensino, supermercados, lojas de artigos diversos,
biblioteca, bancos, estabelecimentos de restauração, etc.” (p. 8).
2. A Escola
A turma integrava uma escola básica do 1.º Ciclo, com um total de quatro turmas
do 1.º Ciclo do Ensino Básico. O corpo docente era maioritariamente jovem, notando-se
um ambiente de partilha de ideias e recursos, entre os profissionais nos momentos de
intervalo. O edifício encontrava-se bem cuidado, apesar de muito limitado em termos de
área, com salas de aula muito pequenas e com reduzidos espaços exteriores.
411
3. A turma
No Projeto Curricular podemos ler que a turma “é composta por doze alunos, dos
quais duas são raparigas e dez são rapazes. De entre os rapazes, um deles está pelo
primeiro ano na escola. Está diagnosticado e medicado como hiperativo” (PCT-B, p. 4).
Quadro 15 – Síntese global da situação dos alunos face às aprendizagens – Turma B
Aluno Idade Língua Portuguesa Matemática Estudo do Meio
1 9
Boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de
textos.
Bom desenvolvimento ao
nível do raciocínio lógico.
Precisa de treinar a invenção
de problemas.
Precisa de ler, escrever e
fazer esquemas para
aperfeiçoar as técnicas de
estudo e criar relações.
2 9
Boa capacidade de leitura e
interpretação e média
capacidade de produção
escrita. É criativo.
Apresenta facilidade em criar
esquemas e diversificar
estratégias para resolver
problemas. Precisa de treinar
a criação de problemas e a
leitura de números com
muitos algarismos.
Precisa de aperfeiçoar a
elaboração de textos de cariz
científico-explicativo.
3 9
Boa capacidade de leitura e
interpretação. Por vezes,
precisa de ler em voz alta
para compreender. Precisa
de formalizar mais a escrita e
melhorar o encadeamento de
ideias.
Tem correspondido
razoavelmente aos assuntos
trabalhados. Precisa de
treinar a leitura de números
com muitos algarismos.
Demostra gosto por aprender
coisas novas. Precisa de
aperfeiçoar a elaboração de
textos de cariz científico-
explicativo.
4 9
Gosta mais de ler do que de
escrever, precisando de ser
muito incentiva para a escrita.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Precisa de ser mais
persistentes no estudo,
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
5 9
Satisfatória capacidade de
leitura e interpretação de
textos e capacidade média de
produção escrita. Por vezes,
não identifica os seus
próprios erros.
Corresponde de forma
mediana aos assuntos
trabalhados. Tem dificuldade
em se aproprias dos
exemplos dados em coletivo,
para utilizar nas suas
atividades individuais.
Precisa de aperfeiçoar a
elaboração de textos de cariz
científico-explicativo.
6 9
Comete irregularidades
ortográficas comuns, mas
tem vindo a progredir na
capacidade
autoaperfeiçoamento de
textos.
Muito interessa, apresenta
bom cálculo mental. Nem
sempre dispõe de estratégias
adequadas para resolver as
situações, sobretudo se
envolverem tabelas e
esquemas.
Precisa de aperfeiçoar a
elaboração de textos de cariz
científico-explicativo.
412
7 9
Boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de
textos. Hesita na leitura de
livros e textos extensos.
Precisa de formalizar mais a
escrita.
Bom raciocínio lógico, um
bom cálculo aritmético e
mental. É rápido e claro e
desenvolvido nos seus
raciocínios
Precisa de ser um pouco
mais persistente no estudo,
escrevendo e/ou
esquematizando os temas
trabalhados
8 9
Boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de
textos. Precisa de treinar o
texto explicativo.
Ainda demora muito na
resolução de situações
problemáticas, mas já tem
mais facilidade em
diversificar estratégias.
Tem gosto e entusiasmo em
temas abordados em coletivo
e em projetos. Precisa de ler
e escrever mais, assim como
esquematizar.
9 9
Lê textos e obras extensas.
Praticamente não comete
incoerências ortográficas.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Ganharia muito
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
10 9
Lê textos e obras extensas.
Praticamente não comete
incoerências ortográficas.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Ganharia muito
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
413
Aluno Idade Língua Portuguesa Matemática Estudo do Meio
11 9
Lê textos e obras extensas.
Praticamente não comete
incoerências ortográficas.
Corresponde muito bem aos
assuntos trabalhados.
Excelente nível de cultura
geral. Ganharia muito
escrevendo e/ou
esquematizando os temas.
12 9
Boa capacidade de leitura e
interpretação. Por vezes,
precisa de ler em voz alta
para compreender. Precisa
de formalizar mais a escrita e
melhorar o encadeamento de
ideias.
Tem correspondido
razoavelmente aos assuntos
trabalhados. Precisa de
treinar a leitura de números
com muitos algarismos.
Demostra gosto por aprender
coisas novas. Precisa de
aperfeiçoar a elaboração de
textos de cariz científico-
explicativo.
3.1. Caracterização geral
A professora considera que a turma “é um bocadinho especial. Tem um grupo de
alunos (…) que têm algumas dificuldades relativas às atitudes e aos comportamentos
depois, tem um grupo de alunos que, embora possa ter algumas dificuldades de
comportamento, mas que têm algumas dificuldades a nível de aprendizagem” (Entrevista
1-B). Refere que, na maioria dos casos, os alunos que têm dificuldades em alguma área
curricular têm facilidades noutras. “No caso da Marta, ela é muito boa na Língua
Portuguesa, mas depois tem muitas limitações na Matemática” (Entrevista 1-B). Ao nível
do comportamento, refere alguns exemplos, referindo-se ao “Gustavo, ao Bruno, ao
Rodrigo, ao Vasco e mesmo ao Rafael eu posso dizer que são alunos que não têm grandes
dificuldades em termos globais, embora por vezes passem o tempo na brincadeira”
(Entrevista 1-B). Destaca, ainda o Diogo que “é um aluno que tem muitas dificuldades
em concentrar-se. Embora seja muito perspicaz, tem muita dificuldade no registo, (…)
está sempre na brincadeira e é um bocadinho imaturo” (idem). Já o João “é muito bom a
Matemática, tem algumas dificuldades na Língua Portuguesa, (…) é perspicaz na medida
em que compreende os conteúdos, mas depois, dependendo da concentração, é de grande
irregularidade na qualidade dos trabalhos” (idem). Refere-se ao Bruno como tendo “um
414
percurso difícil, está a ser acompanhado por uma terapeuta. Sobretudo em termos
emocionais, ele é uma criança muito impulsiva. Tinha uma autoestima muito baixa e
desde o primeiro ano que temos andado a tentar combater isso” (idem). Por fim, alude ao
Rafael e ao Henrique que chegaram à turma no ano letivo passado. O Henrique “tem
muitas dificuldades ao nível da oralidade. Anda a ser acompanhado por uma terapeuta.
Escreve da mesma forma que fala, que é a principal dificuldade dele” (idem). A Bruna
chegou apenas este ano e, globalmente, “ainda anda um bocadinho perdida. Estava num
sistema tradicional e isto agora é totalmente diferente” (idem). O Igor está “indicado
como sendo hiperativo. (…) Tem correspondido bem às atividades propostas. Parece não
ter grandes dificuldades de maior” (idem).
“Do ponto de vista da socialização, este grupo parece-me ter adquirido ao longo
dos tempos boas noções de sociabilidade democrática, através de uma longa prática de
Conselho [de cooperação]. No entanto, persistem ainda algumas dificuldades no
autocontrolo das emoções, na responsabilidade pelo (e no) trabalho e no respeito pelas
regras de comunicação” (PCT-B, p. 5). Mais adiante, considera que ”as noções que o
grupo apresenta de trabalho são diversas e estão bem integradas nas estruturas de cada
um. No entanto, persistem ainda dificuldades de concentração no decurso de atividades
mais morosas, sobretudo em momentos coletivos, da parte de alguns alunos” (idem).
No domínio da Língua Portuguesa, “a generalidade do grupo tem uma boa
funcionalidade escrita, para além de ler e escrever por gosto e de forma significativa”
(PCT-B, p. 5). Já no que diz respeito à Matemática, “há um grupo de cinco alunos com
um excelente raciocínio e cálculo mental, que adquire e desenvolve facilmente as
415
competências e objetivos propostos e que vão sendo trabalhados. Esses alunos têm a
Matemática como a sua área preferida e o gosto coincide com as capacidades que
revelam” (p. 6). Depois, “há dois alunos que têm um bom domínio do cálculo e dos
conteúdos práticos, mas alguma dificuldade na resolução de problemas complexos; há
uma outra criança que, apesar de ter algumas limitações do domínio do cálculo e da
compreensão se esforça muito e, por isso, vai avançando com relativo sucesso. As
restantes três crianças apresentam alguma instabilidade na demonstração das suas
competências: há conteúdos que parecem ter adquirido mas que, passados uns dias,
parecem ter sido esquecidos, o que prova que as estruturas cognitivas não os terão
assimilado propriamente, impedindo a sua transferência para outras situações” (p. 6).
No âmbito das expressões, foca “algumas dificuldades coletivas na realização de
jogos de equipa que requeiram algum tipo de competição, bem como um desajustamento
notório entre as competências de escrita e as competências de ilustração e expressão
plástica em geral” (p. 6).
3.2. Casos de alunos
Referencia três casos, no Projeto Curricular de Turma: “um aluno que, revelando
desde sempre uma grande imaturidade e dificuldade de concentração fez, ao longo dos
três anos transatos um percurso muito positivo, está bem adaptado, mas ainda revela
muitas limitações no campo da escrita bem como da organização, quer do pensamento
(por exemplo quando fala ou escreve), quer dos seus próprios materiais e tempo de que
dispõe para realizar as atividades” (p. 4). Acrescenta que se trata de um aluno que se
416
precipita “com facilidade a realizar as propostas, nem sempre fazendo corresponder o
registo escrito às suas capacidades cognitivas reais, superiores ao mesmo” (idem).
Um outro caso é o do “aluno que veio o ano passado para o grupo, está
referenciado como tendo dislexia, tem algumas limitações ao nível da articulação oral e,
logo, da escrita. Desconcentra-se com preocupante facilidade pelo que, embora já tenha
evoluído muito desde o ano passado, continua a requerer muito apoio específico para
superar as suas dificuldades” (p. 4).
Por fim, refere-se a “um aluno que desde o primeiro ano apresenta algum
descontrolo emocional e da autoestima, que foi perturbando a sua aprendizagem ao longo
do tempo. Neste momento está perfeitamente adaptado à escola e à exigência deste nível
de aprendizagem, cognitivamente está adaptado ao quarto ano, embora ainda tenha
alguma maturação a fazer do ponto de vista da gestão do tempo e da ansiedade em
momentos de tensão ou muito difíceis. A sua organização pessoal e concentração
requerem algum aperfeiçoamento e, a sua autoestima irregular, uma atenção e estímulo
permanentes, embora procurando nunca criar dependência” (p. 4-5).
3.3. Avaliação/Progressão
A Bruna, no início do ano letivo já “revela uma boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de textos, independentemente da sua tipologia. Apenas se sente
um pouco mais insegura em livros ou textos muito longos. Precisa de treinar mais o texto
explicativo” (Anexo 62). Já no final do 2.º período, a professora considerava que “evoluiu
na construção de textos explicativos, apresentando resultados positivos, quer na
417
elaboração de respostas de desenvolvimento, quer ao nível da escrita em Projetos”
(Anexo 63).
Na Matemática, “apresenta desenvolvimentos ao nível do raciocínio lógico, bem
como do cálculo aritmético e mental. Evoluiu bastante ao longo do [primeiro] período na
elaboração de esquemas e na diversificação de estratégias objetivas para resolver
problemas, embora ainda leve algum tempo. No entanto, apropria-se facilmente dos
exemplos dados em coletivo para utilizar nas suas atividades individuais. Precisa de
treinar mais a invenção de problemas” (Anexo 62). Nos registos de avaliação do 2.º
período, pode ler-se que “apesar da evolução já feita na elaboração de esquemas e na
diversificação de estratégias objetivas para resolver problemas, a Bruna ainda está muito
presa aos algoritmos formais” (Anexo 63). A resolução de situações problemáticas é a
área da Matemática em que deverá trabalhar mais no terceiro período.
É uma aluna que apreende com gosto e entusiasmo os conteúdos de Estudo do
Meio. “Precisa de ler e escrever bastante sobre cada tema para memorizar alguns
pormenores. Escrever e esquematizar os temas trabalhados será benéfico para aperfeiçoar
as suas técnicas de estudo, de grande utilidade em toda a sua vida escolar” (Anexo 62).
Já no final do 2.º período, pode considerar-se que “evoluiu na sua capacidade de escrever
e esquematizar sobre os temas trabalhados, aperfeiçoando as suas técnicas de estudo.
Deve continuar a fazê-lo para benefício do seu sucesso escolar futuro” (Anexo 63).
Ao longo do ano letivo, o Diogo, “que sempre teve dificuldades de concentração
(…), nos momentos coletivos ele poucas coisas fixa, porque perde-se muito facilmente
418
do discurso e, depois, integra umas coisas agora e outras mais à frente. É sempre muito
difícil, para ele, ouvindo apenas, perceber e apreender as coisas” (Entrevista 4-B). A
professora considera que ele precisa sempre de um trabalho muito sistemático, porque
precisa de insistir muitas vezes nos mesmos temas. “Depois, tem um ritmo muito próprio:
demora muito tempo a fazer as coisas” (Entrevista 4-B). Mas, houve uma nítida evolução:
“embora ele tenha tido algumas dificuldades em adaptar-se, no início, às regras, era muito
imaturo e perdia muito tempo (…), é uma criança para quem o Trabalho Autónomo foi
muito importante, porque o ajuda a organizar-se, a definir prioridades” (Entrevista 4-B).
Por outro lado, “o facto de ele ser um pouco diferente dos outros neste aspeto, havia
sempre uma certa frustração de, quando fazíamos perguntas em coletivo, ele nunca estar
lá [sentido figurado]” (Entrevista 4-B).
Sobretudo na Língua Portuguesa, o Diogo tinha “algumas dificuldades”
(Entrevista 4-B): “precisa de formalizar mais a sua escrita e encadear melhor as ideias.
Do ponto de vista ortográfico, tem vivido um processo de adequação progressiva às
regras, embora ainda persistam algumas incorreções ortográficas, em grande parte
decorrentes de distrações, desconcentração ou pressa na revisão do texto” (Anexo 62).
Já na Matemática, “tem um raciocínio mais desenvolvido, embora no registo (tudo
o que sejam registos, organização) é um pouco confuso” (Entrevista 4-B). No 1.º período,
a professora considerou que “apresenta maior facilidade em criar esquemas e diversificar
estratégias objetivas para resolver problemas, já demorando menos tempo e sendo um
pouco mais claro na organização gráfica e lógica do registo escrito. Apropria-se mais
facilmente dos exemplos dados em coletivo para utilizar nas suas atividades individuais”
(Anexo 62) e, no final do período seguinte, “apresenta progressos ao nível do raciocínio
419
lógico, bem como do cálculo aritmético e mental. Continua a progredir na sua capacidade
para criar esquemas e diversificar estratégias objetivas na resolução de problemas. É mais
rápido e claro na organização gráfica e lógica do registo escrito. Já domina melhor a
leitura de números e as conversões, bem como a utilização de algoritmos” (Anexo 63).
No âmbito do Estudo do Meio, “tem um bom nível de cultura geral, mas que tudo
o que sejam aspetos de memorização de pormenor, ele tem algumas dificuldades”
(Entrevista 4-B). Se no 1.º período, “precisa (…) de aperfeiçoar a elaboração de textos de
cariz científico-explicativo para responder de forma desenvolvida a questões” (Anexo
62), no seguinte registo de avaliação, a professora reafirma que “precisa muito (…)
estudar, aperfeiçoando a elaboração de textos de cariz científico-explicativo para
responder de forma desenvolvida a questões” (Anexo 63).
Ao referir-se ao Henrique, diz que “revela uma satisfatória capacidade de leitura
e interpretação de textos, e uma capacidade média de produção escrita. Já lê e escreve
com gosto e iniciativa. No entanto, hesita ainda em livros e textos muito extensos,
precisando de incentivo para os ler e escrever. Os seus escritos são coerentes, consegue
explicitar as suas ideias por escrito, embora ainda mantenha muitos traços específicos da
oralidade. Precisa de formalizar mais a sua escrita” (Anexo 62) e, no final do 2.º período,
“tem vivido um processo de adequação progressiva às regras, embora ainda persistam
muitas incorreções ortográficas, em grande parte decorrentes de distrações,
desconcentração, mas sobretudo das suas limitações orais e fonográficas” (Anexo 63).
Em relação à Matemática, no 1.º período, “revela já uma maior facilidade em criar
esquemas e diversificar estratégias objetivas para resolver problemas, embora isso ainda
420
não aconteça sempre e demore muito tempo a fazê-lo. Tem dificuldade em se apropriar
dos exemplos dados em coletivo para utilizar nas suas atividades individuais, pois está
desconcentrado em grande parte dos momentos coletivos” (Anexo 62). No final do 2.º
período, “apresenta alguns progressos ao nível do raciocínio lógico, bem como do cálculo
aritmético e mental, mas mantém consideráveis dificuldades em realizar conversões, em
fazer leituras diversas de números, em antecipar rapidamente o resultado de um número
quando o multiplicamos ou dividimos por dez, cem ou mil” (Anexo 63).
O Henrique precisa “de aperfeiçoar a elaboração de textos de cariz científico-
explicativo para responder de forma desenvolvida a questões” (Anexos 62 e 63), para
melhorar o desempenho em Estudo do Meio.
O Igor “é um aluno que escreve bem, comete irregularidades ortográficas comuns
na fase escolar em que se encontra, tem vindo a progredir na sua capacidade de
autoaperfeiçoamento de textos, lê com fluência, mas não se propõe frequentemente para
apresentar os seus textos e livros ao grupo, demonstrando aí ser um pouco reservado.
Quando lhe é pedido que apresente alguma coisa, fá-lo com facilidade: é claro e
expressivo” (Anexo 62) mas, por outro lado, “mantém ainda alguma inconsistência nas
atividades de interpretação de textos, embora se notem progressos significativos. As
dificuldades a este nível são mais evidentes em textos de caráter explicativo e enunciados
matemáticos” (Anexo 63).
Ele demonstra um interesse maior na Matemática, “apresenta um bom cálculo
mental, tem facilidade em aderir às propostas que lhe são feitas e tem correspondido de
forma positiva aos temas trabalhados” (Anexo 62). Porém, precisa de uma maior
421
insistência no trabalho de problemas complexos. “Não me parece que tenha alguma
dificuldade cognitiva em compreender as propostas que lhe são feitas, nem sempre dispõe
é de estratégias adequadas para resolver essas situações, sobretudo se envolverem tabelas
e esquemas e não apenas contas (algoritmos)” (idem). No final do período seguinte, as
observações da professora, no registo individual de avaliação, mantiveram-se, apenas
acrescentando que as dificuldades nos problemas complexos se relacionam com o
“encadeamento de processos sequenciais a que obrigam. No fundo, é mais um problema
de leitura e interpretação, do que propriamente de cálculo. Quando há muitos dados e/ou
raciocínios encadeados, o Igor tem dificuldade em lembrar-se de tudo o que é pedido,
acabando por deixar raciocínios a meio, ao longo da tarefa” (Anexo 63).
No Estudo do Meio, o Igor compreende bem os temas trabalhados e demonstra
gosto por aprender coisas novas. “Precisa ainda de aperfeiçoar a elaboração de textos de
cariz científico-explicativo para responder de forma desenvolvida a questões” (Anexo
62). Em temas que requerem uma grande memorização, “precisa de escrever sobre eles,
e assim integrar os conhecimentos de forma mais profunda e consistente” (Anexo 63).
“O João revela uma boa capacidade de leitura, interpretação e produção de textos.
Lê e escreve com gosto e iniciativa” (Anexo 62). Precisa de incentivo para ler e produzir
textos extensos, mas “os seus escritos são coerentes, consegue explicitar bem as suas
ideias por escrito, embora ainda mantenha muitos traços específicos da oralidade. Precisa
de formalizar mais a sua escrita” (idem).
Na Matemática, “apropria-se facilmente dos exemplos dados em coletivo para
utilizar nas suas atividades individuais e foi-se tornando mais organizado nos seus
422
registos e apontamentos” (Anexo 62). É um aluno com “um bom raciocínio lógico, um
bom cálculo aritmético e mental, bastante facilidade em criar esquemas e diversificar
estratégias objetivas para resolver problemas. É rápido e claro e desenvolvido nos seus
raciocínios” (Anexo 63).
É um aluno “com um excelente nível de cultura geral, que apreende facilmente e
com entusiasmo os temas trabalhados na turma e em projetos” (Anexo 62 e 63), no âmbito
do Estudo do Meio.
O Rafael “revela uma boa capacidade de leitura, interpretação e produção de
textos, independentemente da sua tipologia e extensão. Lê obras extensas com gosto e
iniciativa, escreve textos longos, praticamente sem incoerências ortográficas, de
pontuação ou sentido, e com muita criatividade” (Anexo 62). No final do 2.º período, a
professora considerou que “tem progressiva facilidade em elaborar resumos e esquemas,
praticamente não comete desvios ortográficos, de pontuação ou sentido, e revela muita
criatividade” (Anexo 63).
Rafael corresponde muito bem aos assuntos trabalhados em Matemática,
“apresenta um bom raciocínio lógico, um bom cálculo aritmético e mental, relativa
facilidade em criar esquemas e diversificar estratégias objetivas para resolver problemas”
(Anexo 62). “Apropria-se facilmente dos exemplos dados em coletivo para utilizar nas
suas atividades individuais” (Anexos 62 e 63).
É um aluno com um excelente nível de cultura geral, que apreende facilmente e
com entusiasmo os temas trabalhados na turma e em projetos, Estudo do Meio. “Tem uma
forte capacidade de memorização e expressão escrita, o que lhe facilita o estudo e as
423
realizações” (Anexo 62). A professora realça no final do 2.º período que o aluno “se
tornou mais organizado e persistente” (Anexo 63).
O Vasco, na Língua Portuguesa, “revela uma boa capacidade de leitura,
interpretação e produção de textos, independentemente da sua tipologia e extensão. Lê
obras extensas com gosto e iniciativa, escreve textos longos, praticamente sem
incoerências ortográficas, de pontuação ou sentido, e com muita criatividade” (Anexo
62). E, no final do 2.º período, a professora registou que “tem progressiva facilidade em
elaborar resumos e esquemas” (Anexo 63).
Na Matemática, “corresponde muito bem aos assuntos trabalhados, apresenta um
bom raciocínio lógico, um bom cálculo aritmético e mental, bastante facilidade em criar
esquemas e diversificar estratégias objetivas para resolver problemas. É rápido e claro
nos seus raciocínios” (Anexo 62). Com o avançar do ano letivo, revela apropriar-se
“facilmente dos exemplos dados em coletivo para utilizar nas suas atividades individuais.
Já apresenta as suas respostas e estratégias de forma mais organizada e completa” (Anexo
63).
É um aluno com um “excelente nível de cultura geral, que apreende facilmente e
com entusiasmo os temas trabalhados na turma e em projetos” (Anexo 62), no âmbito do
Estudo do Meio. Recomenda a professora que “deve, no entanto, continuar a desenvolver
a sua capacidade de escrever para estudar, pois a forma como dominar estas técnicas de
estudo determinará certamente o seu sucesso escolar futuro” (Anexo 63).
424
No que diz respeito aos alunos que escolhemos para acompanhar de forma mais
focada, durante o Tempo de Trabalho Autónomo, a professora fez as seguintes
considerações:
Aluno 1
Em relação ao Bruno, a professora refere que ele tinha um autoconceito muito
baixo: “achava que nunca iria conseguir fazer nada. Fazia birras, era imensamente
dramático, nunca queria fazer nada, porque achava que não iria conseguir” (Entrevista 4-
B). Com o tempo, passou “a ter mais confiança nele próprio. O grupo também foi
ajudando a realçar as coisas que ele ia conseguindo” (Entrevista 4-B).
É um aluno que “não tem dificuldades ao nível do discurso nem do raciocínio,
mas que ao nível da Língua Portuguesa tem muita dificuldade, por exemplo, ao nível da
ortografia” (Entrevista 4-B) até porque lhe está diagnosticada dislexia. Revela
dificuldades em persistir no trabalho. Na Matemática, “ele até tem um bom raciocínio
mas, quando chega à parte de formalizar, etc…, apresenta aí mais dificuldades. O Bruno
ao nível do Estudo do Meio é um aluno bom. Aprende bem as coisas porque também é
muito interessado e emprenhava-se” (idem).
O Bruno “revela uma boa capacidade de leitura e interpretação de textos, e uma
capacidade média de produção escrita. Já lê e escreve com gosto e iniciativa. No entanto,
hesita ainda em livros e textos muito extensos, precisando de incentivo para os ler e
escrever” (Anexo 62). A forma como escreve é coerente, “consegue explicitar as suas
ideias por escrito, embora ainda mantenha muitos traços específicos da oralidade. Precisa
de formalizar mais a sua escrita” (idem). Notou-se uma evolução ao longo do ano,
425
revelando “em alguns momentos uma boa capacidade analítica e autocorretiva dos seus
escritos e dos dos outros, pelo que deverá continuar a treinar a atenção e automatização
desses conhecimentos sempre que escreve. É muito criativo e já escreve bem
individualmente e textos de extensão considerável” (Anexo 63).
No âmbito da Matemática, no 1.º período, “apresenta grandes progressos ao nível
do raciocínio lógico, bem como do cálculo aritmético e mental. Apresenta facilidade em
criar esquemas e diversificar estratégias objetivas para resolver problemas, já demorando
menos tempo e sendo mais claro na organização gráfica e lógica do registo escrito” (anexo
62), enquanto no registo individual do 2.º período, a professora realça que “é mais rápido
e claro na organização gráfica e lógica do registo escrito. Já domina melhor a leitura de
números e as conversões, bem como a utilização de algoritmos, embora ainda precise
muito de estudar a tabuada” (Anexo 63). O que é mais difícil, para este aluno, “é resolver
situações problemáticas complexas, não pela grandeza dos valores, mas pelo
encadeamento de processos sequenciais a que obrigam” (idem).
Em Estudo do Meio, “compreende bem os temas trabalhados e demonstra gosto
por aprender coisas novas. Precisa ainda de aperfeiçoar a elaboração de textos de cariz
científico-explicativo para responder de forma desenvolvida a questões, o que
desenvolverá certamente através do trabalho continuado em projetos de estudo e de muito
treino e esquematização desse tipo de escrita” (Anexo 62). Chegado o final do 2.º período,
“evoluiu um pouco na elaboração de textos de teor explicativo, mas deve continuar a
treinar, pois em temas que requerem uma grande memorização, o Bruno precisa de
escrever mais sobre eles, e assim integrar os conhecimentos de forma mais profunda e
consistente” (Anexo 63).
426
Aluno 2
A Marta “sempre foi uma aluna muito dedicada (…) é uma criança já por si muito
responsável e trabalhadora” (Entrevista 4-B). Tinha algumas dificuldades na Matemática,
sobretudo “ao nível do raciocínio, do cálculo mental, etc.” (idem). Mas, no final do 1.º
período, “apresenta grandes progressos ao nível do raciocínio lógico, bem como do
cálculo aritmético e mental. Já apresenta uma maior facilidade em criar esquemas e
diversificar estratégias objetivas para resolver problemas, embora ainda precise de muito
tempo” (Anexo 62). No final do 2.º período, “continua a progredir na criação de esquemas
e na diversificação de estratégias objetivas para resolver problemas” (Anexo 63).
Na Língua Portuguesa, “como ela adorava escrever, era um prazer poder tempo
para gerir esses gostos” (Entrevista 4-B). Por isso, “escreve textos longos, praticamente
sem incoerências ortográficas, de pontuação ou sentido e com muita criatividade”
(Anexos 62 e 63) e também “revela uma boa capacidade de leitura, interpretação e
produção de textos, independentemente da sua tipologia e extensão” (Anexo 62 e 63).
Em Estudo do Meio, “é muito interessada, mas tem algumas dificuldades em fixar
as coisas, tem que insistir bastante nos pormenores, mas aprende com facilidade”
(Entrevista 4-B). A professora recomendou-lhe, no final do 1.º período, que lesse e
escrevesse “bastante sobre cada tema para memorizar alguns pormenores. Escrever e
esquematizar os temas trabalhados, será benéfico para aperfeiçoar as suas técnicas de
estudo, de grande utilidade em toda a sua vida escolar” (Anexo 62).
Aluno 3
427
Inicialmente, o Gustavo “não era tão perseverante como devia ser. Por um lado,
ele também não sentia as necessidades de forma tão forte como os outros que as tinham”
(Entrevista 4-B). A professora refere que o Gustavo “é uma criança que detesta trabalhar
em casa” (idem) e, por isso, “aprendeu a rentabilizar bem o tempo, na escola, nas coisas
que tinha para fazer” (idem).
A área forte do Gustavo também não é a Expressão Plástica, mas sim a
Matemática. “Depois, na Língua Portuguesa, é um aluno bom, mas pouco persistente na
escrita. Se ele persistisse mais, se tivesse mais gosto, escreveria mais. Mas, isso não quer
dizer que ele não escreve bem” (idem).
O Gustavo, no domínio da Língua Portuguesa, “lê obras extensas com gosto e
iniciativa, escreve textos longos, praticamente sem incoerências ortográficas, de
pontuação ou sentido, e com muita criatividade” (Anexo 62).
Na Matemática “apresenta um bom raciocínio lógico, um bom cálculo aritmético
e mental, bastante facilidade em criar esquemas e diversificar estratégias objetivas para
resolver problemas” (Anexo 62) e “é rápido, claro e desenvolvido nos seus raciocínios”
(Anexo 63).
Já no Estudo do Meio, “é um aluno com um excelente nível de cultura geral, que
apreende facilmente e com entusiasmo os temas trabalhados na turma e em projetos.
Precisa apenas de ser um pouco mais persistente no estudo, escrevendo e/ou
esquematizando os temas trabalhados” (Anexo 62).
Aluno 4
428
Ao referir-se ao Rodrigo, considera que “sempre muita dificuldade em gerir o
tempo, não por ter dificuldades” (Entrevista 4-B), mas porque queria sempre todos os
pormenores, quer fosse na leitura de um livro ou na escrita de um texto. “Ele de tal
maneira queria aperfeiçoar aquilo que estava a fazer que, a uma certa altura, perdia muito
tempo” (idem). A professora considera que “é um aluno que, do ponto de vista geral,
escreve bem, lê bem. Aliás, ele adora ler” (idem) e “lê obras extensas com gosto e
iniciativa, escreve textos longos, praticamente sem incoerências ortográficas, de
pontuação ou sentido, e com muita criatividade” (Anexo 62). A professora, no final do
2.º período referiu que “tem uma capacidade especial para a expressão escrita, domina o
uso das palavras do seu quotidiano e mobiliza, para a sua escrita, de forma extraordinária,
todo o vocabulário e estruturas que apreende dos textos e obras que lê” (Anexo 63).
O Rodrigo corresponde muito bem aos assuntos trabalhados em Matemática:
“apresenta um bom raciocínio” (Entrevista 4-B), “um bom cálculo aritmético e mental,
bastante facilidade em criar esquemas e diversificar estratégias objetivas para resolver
problemas” (Anexo 62). Pode dizer-se que “É rápido, claro e desenvolvido nos seus
raciocínios” (Anexo 63).
Em Estudo do Meio é um aluno interessado, especialmente em História
(Entrevista 4-B), “com um excelente nível de cultura geral” (Anexo 62). Apreende
facilmente e com entusiasmo os temas trabalhados na turma e em projetos. “Tem uma
forte capacidade de memorização” (Anexo 62) e “mobiliza os amplos conhecimentos que
tem da História de Portugal de forma muito criativa, em especial para a escrita de
aventuras e outros textos” (Anexo 63).
429
430
5. A Professora
A professora tinha, aquando do início do estudo, 27 anos de idade e este era o seu
quarto ano de serviço.
Licenciada em Ensino no 1.º Ciclo do Ensino Básico, pela Escola Superior de
Educação de Lisboa, quando questionada acerca das suas formações inicial e no modelo
do Movimento da Escola Moderna, referiu que, “no estágio dos 2.º e 3.º anos, estive a
fazer observação e, depois, prática pedagógica no Externato Fernão Mendes Pinto, onde
eles utilizavam esta metodologia” (Entrevista 3-B). Na formação inicial, na Licenciatura,
foi feita “uma abordagem a todos os modelos (…) e foram-nos introduzindo dentro do
modelo do Movimento da Escola Moderna” (idem). Depois, no estágio, “foi onde a
intervenção foi mais direta, onde pude perceber melhor como é que as coisas
funcionavam, porque, enquanto o modelo era só uma teoria, parecia tudo muito
complicado. Parecia que tinha muita burocracia” (idem). Apesar de ter consciência de
que, no estágio, “nunca se chega a conseguir perceber tudo, mas o facto de a pessoa
trabalhar com o modelo, foi o mais importante, para dar alguma segurança” (idem).
Exemplificou que, “no 4.º ano foi numa sala em que a professora tinha iniciado as
crianças pelo método natural, (…) eles já estavam no 2.º ano e a professora esteve
completamente disponível para nos deixar experimentar. E isso foi o mais importante”
(idem). O estágio constituiu-se “uma oportunidade para introduzir grande parte dos
instrumentos do modelo. Também começaram a ter Conselho, Trabalho Autónomo.
Houve uma série de coisas que pudemos pôr em prática e que a turma não tinha.
Contribuímos para a introdução desses mecanismos e essa construção acho que foi
431
importante. Depois, quando peguei na minha turma, sabia mais ou menos por onde havia
de começar” (idem).
Em termos de formação no modelo, tem “estado sempre integrada nos grupos
cooperativos. No 1.º ano estive num grupo que era exclusivamente de acompanhamento
ao 1.º ano, por um lado ao 1.º ano de serviço e, por outro lado, ao 1.º ano de escolaridade.
Era um grupo que funcionava, mais ou menos, dentro dos moldes de um estágio
profissional que o sistema do Movimento da Escola Moderna tem, mas como nós não
precisávamos de acreditação, dispensámos as formalidades do estágio” (idem). Este
processo de “acompanhamento foi muito bom e ajudou-me a ter mais segurança, porque
começar assim com este modelo, sem ter acompanhamento acho que é um bocadinho
difícil. E, ao longo dos anos, também tenho estado sempre em grupos cooperativos”
(idem).
Os grupos cooperativos do movimento são, como o referimos, momentos
privilegiados de formação (MEM, 2013), onde há cooperação na planificação e avaliação
das práticas escolares, bem como construção de instrumentos de trabalho. Esta
metodologia de «autoformação cooperada» (Grave-Resendes & Soares, 2002), também
permite uma atualização da “construção do modelo pedagógico em que as práticas
escolares visam a coerência com os princípios que defende” (Gonzalez, 2002, p. 42) o
modelo.
As colegas da professora da turma B “também trabalham neste modelo, o que é
uma ajuda e me ajudou a começar também por aqui” (Entrevista 3-B) e, com o tempo,
“tenho vindo a aprofundar [o modelo], quer através da participação nos grupos
432
cooperativos, quer através do congresso, onde inclusive tenho feito comunicações”
(idem).
Com humildade, a professora considera que embora “não tenha chegado, em
termos de trabalho, àquilo que eu gostaria… acho que há muitos aspetos que tenho que
aperfeiçoar, em termos de adequação, há sempre muita coisa que é preciso melhorar. De
qualquer das formas, em termos de modelo, identifico-me bastante com este modelo”
(idem). Por um lado, salienta que “as coisas não são absolutamente padronizadas. Cada
grupo faz um trabalho diferente. (…) Tem mais a ver com referenciais teóricos e, depois,
tem um sistema de trabalho, mas não há propriamente um método em que se tem que ir
sempre da mesma forma, independentemente das crianças, do que elas já sabem. Acho
que o facto de ser um processo construído com todos tem mais a ver e, para mim, tem
mais interesse a forma de trabalhar” (idem).
A professora valoriza a “participação democrática direta” (Entrevista 3-B) dos
alunos. “O que normalmente não costuma acontecer no modelo tradicional, em que tudo
está centrado no professor e as crianças não têm muita oportunidade de participar
ativamente na construção dos seus processos de aprendizagem. Neste modelo, o que o
diferencia dos outros, tem a ver com isto, com a participação das crianças na sua própria
aprendizagem, a consciência que têm desse processo e, depois, a forma como vão
intervindo, ao longo do tempo… o espaço que lhes é dado” (idem).
433
6. Organização do espaço
6.1. O Cenário Pedagógico
O modelo do MEM defende que o material pedagógico deve ser organizado em
áreas de trabalho, de maneira a que tudo o que se relaciona com cada área curricular esteja
acessível e ao alcance dos alunos, num determinado espaço, devidamente identificado
(Grave-Resendes & Soares, 2002). Ao longo do percurso de aprendizagem dos alunos, os
recursos vão sendo adequados (Pinto & Gomes, 2013; Santana, 1999).
Como referido no capítulo anterior, através desta organização do cenário, procura-
se que este seja “estruturante e facilitador do acesso dos alunos a todos os recursos de
aprendizagem bem como aos instrumentos reguladores dos processos de trabalho”
(Santana, 1999, p. 117).
Por outro lado, a organização do espaço tem em vista a possibilidade de os alunos
realizarem atividades diversificadas em diferentes modalidades de trabalho (individual, a
pares, em grupo, etc.) e a disposição dos materiais visa permitir que os alunos o utilizem
autonomamente (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 46).
6.1.1. A Sala de Aula
A sala de aula da turma B estava organizada de acordo com o defendido pelo
modelo do MEM, dividida em áreas distintas. Cada área continha materiais facilmente
acessíveis, que os alunos usavam para as atividades respetivas.
434
Imagem 11 – Áreas da Leitura e Canto do Computador
Para cada área curricular existia um conjunto de ficheiros autocorretivos, como
pode ver-se na imagem seguinte.
435
Imagem 12 - Ficheiros
A sala de aula era bastante pequena e as mesas estavam todas concentradas no
centro da sala, para permitir a circulação dos alunos à volta do grupo, a fim de usarem os
materiais disponíveis na sala. Mas, por outro lado, a organização das mesas de trabalho
em grupos tem uma intenção. “Tal decorre de uma grande preocupação minha pela
interação constante entre os alunos, no decorrer de todas as atividades” (PCT-B, p. 12).
436
Imagem 13 – Planta da sala de aula da turma B
Imagem 14 – Sala de aula da turma B
437
Nas paredes da sala de aula, estavam afixados trabalhos dos alunos e sínteses
coletivas de diversos conteúdos desenvolvidos nas aulas, de acordo com o proposto pelo
MEM (Grave-Resendes & Soares, 2002). “Nos placards da Língua Portuguesa
encontram-se afixados, textos produzidos pelos alunos, trabalhados ou não em coletivo,
as proveniências da correspondência, bem como materiais de escrita construídos pelo
grupo e adjuvantes ao desenvolvimento da escrita dos alunos, como sejam as regras de
gramática trabalhadas, as famílias de palavras e áreas vocabulares elaboradas em grupo,
o abecedário ....” (PCT-B, p. 13).
Nos placards de Matemática e de Estudo do Meio “encontram-se afixados todos
os registos dos trabalhos realizados em coletivo, em pequeno grupo ou individualmente.
Estes são, por um lado, produtos de trabalho e, por outro, desencadeadores e facilitadores
de outras aprendizagens, bem como da elaboração de outros produtos e materiais” (PCT-
B, p. 13).
Imagem 15 – Trabalhos produzidos no âmbito dos Projetos
438
Imagem 16 – Placard da Matemática, com sínteses coletivas
Podemos verificar, através do PCT da turma B, a fundamentação para a
organização do espaço da Organização Cooperada que “está dividido em duas partes:
organização social e gestão curricular. No primeiro grupo de registos encontram-se, como
o próprio nome indica, todos os registos decorrentes da negociação e organização do
grupo. Destacam-se as regras da sala e dos vários momentos de trabalho, os diários de
turma, as atas dos conselhos e os registos da distribuição de tarefas e das presenças, etc…”
(PCT-B, p. 14). De acordo com a professora “estes elementos funcionam constantemente
como memória daquilo que o grupo vai decidindo ao longo das semanas, e daquilo que
cada um vai assumindo como compromisso perante o grupo. No fundo, é nestes
documentos que se encontra a síntese da vida social da turma, incluindo-se obviamente
439
as memórias dos momentos de trabalho mais marcantes, desencadeadores de discussão e,
logo, de crescimento” (PCT-B, p. 14). Um outro grupo de registos, em consonância com
este último, integra o “Programa Curricular para o quarto ano de escolaridade, bem como
os registos de planificação e gestão do currículo, negociadas com os alunos. Assim,
podem existir explicitações periódicas (mensais, quinzenais, etc.), e uma explicitação
semanal em formato de Agenda Semanal, que funciona como o grande orientador
funcional do trabalho do grupo. No final de cada atividade coletiva ou ciclo de atividades
planeadas para o desenvolvimento de um determinado conteúdo programático, os alunos
registam no seu Plano Individual de Trabalho (P.I.T.) o respetivo tema, dúvidas que
tiveram, apoios a marcar e, quando cada um se sente preparado para isso, realiza uma
pequena ficha-teste, ou oralmente comigo, ou por escrito, e marca no currículo a cor
correspondente aos conhecimentos que demonstrou ter (verde - sabe bem; amarelo – tem
que estudar mais e vermelho – ainda não sabe)” (PCT-B, p. 14).
Os placards e registos funcionam como elementos de comunicação significativa,
de trabalho desenvolvido pelo grupo e dos compromissos assumidos, em concordância
com o modelo proposto pelo MEM (Grave-Resendes & Soares, 2002; Santana, 1999;
Pinto, 2008; Gomes, 2011a).
440
Imagem 17 – Instrumentos de Pilotagem (Organização Cooperada)
441
Imagem 18 – Planos Individuais de Trabalho
Preenchemos a lista de controlo das características físicas da sala de aula
(adaptação de Wang, Margaret, 1995), que anexamos (anexo10), podendo concluir que a
sala de aula preenchia os principais requisitos para ser considerada adequada aos
princípios da Pedagogia Diferenciada.
Apesar de, como referimos, a sala ser de dimensão reduzida, o mobiliário e os
recursos de aprendizagem estavam situados de tal modo que os alunos e a professora se
pudessem movimentar pela sala de aula.
442
As áreas estavam assinaladas de forma clara (por exemplo, Leitura, Matemáticas,
Computador, Ficheiros, etc…) e havia sistemas (afixados num placard) onde se registava
a utilização das diversas áreas, pelos alunos.
A sala de aula tinha um relógio para os alunos controlarem o tempo e o aluno que
tivesse a função de presidente avisava antecipadamente que se aproximava o tempo para
determinada atividade, de acordo com a agenda definida pela turma.
Havia uma zona assinalada para colocar e mostrar os materiais didáticos de cada
componente do currículo e estava acessível aos alunos. A localização das zonas para
armazenar e mostrar os materiais estimulava a integração dos mesmos dentro de uma área
curricular.
Cada aluno tinha um lugar individual para os seus objetos pessoais. O trabalho
terminado pelos alunos era exibido, como referimos e os materiais didáticos propostos
estavam ordenados em sequência e estavam marcados com um código facilmente
decifrável. Os recursos semelhantes estavam assinalados com etiquetas inteligíveis para
os alunos, mesmo para os que tivesse capacidade limitada de leitura.
Em cada área havia pelo menos duas ou três atividades que variam de conteúdo,
nível de dificuldade e forma. Havia bastantes atividades variadas para adaptar-se às
diferenças dos alunos e uma lista atualizada de tarefas de aprendizagem para cada objetivo
do currículo.
O equipamento e os materiais estavam limpos, eram duradoiros e em condições
de poderem ser usados; existindo em suficiente número para realizar as atividades. Os
materiais eram interessantes e atrativos para os alunos (os alunos usavam-nos
regularmente).
443
Algumas atividades estavam pensadas para estimular a interação social e havia
pelo menos uma tarefa de aprendizagem para cada objetivo do currículo. As tarefas de
aprendizagem preparadas pelo professor estavam relacionadas com objetivos específicos
do currículo.
Como aspeto negativo, poderemos apontar a inexistência de um espaço adequado
para atividades de grupo ou para trabalho independente.
Preenchemos, também, a lista de verificação do uso do modelo MEM no 1.º ciclo,
proposta por Luís Mestre (2010) e, no tocante ao subtópico «espaço e materiais»,
verificámos que se cumpriam os requisitos: havia ficheiros de apoio ao estudo e um
armário com material cooperativo. Estavam criadas as áreas de leitura (biblioteca),
escrita, Matemática, Ciências e Artes Plásticas.
6.1.2. Cantos e áreas
O modelo propõe que, na sala de aula, existam áreas diversas associadas a áreas
curriculares: a área da Matemática, com os materiais estruturados e não estruturados, a
balança, pesos e medidas, assim como os ficheiros de Matemática (Grave-Resendes &
Soares, 2002, p. 53); a área da Experimentação em Ciências, com os materiais de apoio
às experiências, acompanhados de ficheiros e guiões para apoio à realização das
experiências e grelhas de registo das experiências realizadas e das questões suscitadas; a
área da escrita e da leitura, onde estará o computador e o canto da leitura, com a(s)
estante(s) onde estão os livros da biblioteca da turma e almofadas para os alunos poderem
444
estar comodamente sentados a ler; a área da Expressão Artística, com os materiais de
pintura, modelagem e de desperdício estão nesta área, onde os alunos podem dar largas à
sua imaginação criativa (idem, p. 56).
Neste capítulo, a professora tem clara a importância da organização da sala de
aula, sobretudo “para os momentos de Trabalho Autónomo. Se é minha intenção que as
crianças sejam autónomas na escolha, consulta e utilização de instrumentos e realização
de atividades, então é fundamental que a disposição da sala facilite esse acesso. Deste
modo, é na mesa dos ficheiros que estão as caixas com os diversos ficheiros das diferentes
áreas curriculares, e as respetivas folhas de registo de utilização dos mesmos” (PCT-B, p.
15).
Existe também um espaço destinado ao material cooperativo. “Este é o nome que
damos a todo o material que seja partilhado e da responsabilidade de todos os elementos
do grupo. Para além das fichas (já mencionadas e arrumadas num local específico) é neste
espaço que estão os materiais de registo (canetas, lápis de cor, lápis de cera), as colas, as
borrachas, entre outras coisas que se encontram ao dispor de todos os alunos, quer as
possuam no seu material individual ou não” (idem).
Depois, existem as restantes área: a área da Leitura que “é um espaço que se
pretende calmo e acolhedor, cujo objetivo é o de proporcionar experiências agradáveis de
leitura. É neste espaço que se encontra a Biblioteca da Turma, onde os alunos podem
encontrar inúmeros livros de histórias, algumas revistas e jornais, vários manuais de
diferentes áreas curriculares e alguns livros mais técnicos que os podem ajudar na
realização de projetos e investigações” (idem).
445
Na área do Computador, “especialmente dedicada aos projetos e à escrita, como
se induz pelo nome, estão o computador e a impressora da sala” (idem).
Na Área da Pintura e da Expressão Plástica “as crianças podem encontrar e utilizar
uma grande variedade de materiais destas áreas. Na verdade, estes materiais estão junto
ao material cooperativo, porque é disso mesmo que se tratam. Destacam-se as tintas,
aguarelas, papéis diversos, lãs, tecidos, pincéis, plasticina, alguns desenhos e livros de
passatempos, materiais de desperdício que vão trazendo de casa, entre outras coisas. A
utilização deste espaço e destes recursos faz-se sobretudo durante o Tempo de Trabalho
Autónomo ou nos momentos de Expressão Plástica” (idem).
Logo no primeiro dia, observámos como os alunos utilizam os espaços diferentes
para diferentes atividades. Registámos, por exemplo, que o “Vasco e Diogo levantam-se
para fazerem o relatório da experiência, na mesa ao fundo” (Observação 1-B), junto aos
materiais e recursos relacionados com as experiências.
6.1.3. Regras
Existe um conjunto de regras definidas para a utilização de cada área, onde se
inclui o preenchimento de registos das atividades realizadas em cada um. Todas as regras
são definidas em Conselho de Cooperação. Por exemplo, “a Biblioteca deve ser utilizada
de acordo com as regras definidas em Conselho especificamente para esse espaço” (PCT-
B, p.15).
446
Na observação 1-B, “a professora relembra um aluno de que uma das regras é
passarem por todas as áreas”, durante o Trabalho Autónomo (regras definidas pela turma
e afixadas na sala). O aluno “regista no mapa de utilização” e, quando termina a realização
da atividade “faz registo no PIT” (Observação 1-B).
As regras são consideradas um compromisso entre todos e, por isso, devem ser
respeitadas por todos. Numa observação (3-B), “um aluno denuncia que o Vasco apagou
coisas do PIT. A professora disse «Pára tudo!»” e, depois, pergunta “Alguma vez se
apagam as cruzes feitas na 2.ª feira?” A Marta acrescentou “Se não se consegue, pede-se
ajuda”. “E, se entretanto, for marcado algo mais urgente?”, questiona novamente a
docente. “Depois, justifica-se no Conselho de Sexta”, completa a Marta. Para concluir, a
professora disse: “Já toda a gente percebeu? A ideia não é melindrar o Vasco, é que ele
perceba que não se pode apagar os comportamentos assumidos em Conselho”.
6.1.4. Recursos/Materiais
Na sala B, ao longo do ano letivo, os recursos foram sendo acrescentados e
atualizados em função dos conteúdos desenvolvidos. Mesmo “os placards da sala estão
bastante mais completos, com cartolinas de resolução de problemas em coletivo”
(Observação 5-B). Por exemplo, no âmbito de conteúdos desenvolvidos em Trabalho de
Projeto, estão afixadas “uma cartolina com representação do universo (decorrente de
projeto apresentado) e uma cartolina mais pequena alusiva ao 5 de Outubro” (idem).
6.1.5. Instrumentos de pilotagem
447
São os instrumentos de apoio e de pilotagem que permitem o registo e organização
cooperada do trabalho. São expostos na(s) área(s) de «Organização e Pilotagem do
Trabalho», como por exemplo, a Agenda Semanal, os Planos de Trabalho diário e
semanal, o Mapa de Projetos, os Mapas de Desenvolvimento Curricular, de tarefas e de
presenças, bem como o Diário de Turma e o Calendário (Grave-Resendes & Soares, 2002,
pp. 47-52).
A Agenda Semanal, fruto da negociação da turma, apresenta os tempos dedicados
a cada área curricular, tempo de trabalho autónomo, trabalho de projeto, etc. No início da
semana, a turma decide o que vai ser feito dentro de cada um desses tempos, elaborando
o Plano Semanal. Depois, diariamente, no início do dia, a turma concretiza e atualiza a
agenda para o dia, com o Plano Diário.
Imagem 19 – Exemplo de Agenda Semanal da Turma B
O Mapa de Projetos é uma tabela onde se vão registando os projetos em curso, a
constituição dos grupos e os temas.
448
A forma cooperada de gerir a atividade da turma implica que todos saibam o que
é preciso fazer e que cada um seja responsável pela sua tarefa. Semanalmente, é atribuída
uma tarefa a cada aluno ou par de alunos, registando-se no Mapa de Tarefas e sendo
avaliado o desempenho no final da semana.
Também existe o Mapa de Presença onde, como o próprio nome indica, é feito o
registo diário das presenças dos alunos da turma e, opcionalmente, se a turma o entender,
diversificando as cores, da pontualidade.
De acordo com o modelo do MEM, cada aluno tem um Plano Individual de
Trabalho semanal. Definido pela turma, assume-se como um compromisso que cada
aluno assume com a turma, relativo ao trabalho a desenvolver durante a semana. Planeado
no início, é avaliado no final da semana, com o envolvimento e a corresponsabilização de
todos.
Apresenta-se, de seguida, uma imagem da primeira parte do Plano Individual de
Trabalho e uma outra com um conjunto de PIT afixados na sala.
449
Imagem 20 – Parte inicial do PIT
Imagem 21 – PIT semanais, afixados na sala de aula
Por sua vez, a produção do grupo pode ser regulada individual e coletivamente
através da análise dos diferentes registos existindo. Para isso, existe um conjunto de
instrumentos de pilotagem complementares do PIT. São instrumentos de registo de
450
produção expostos junto das diversas áreas de trabalho, ao alcance de todos, onde cada
um vai assinalando as suas realizações. São disso exemplo, entre muitos outros, os
registos de ficheiros, o registo da produção de textos e o registo de leituras. Na imagem
seguinte, apresentamos um conjunto de instrumentos de pilotagem afixados na sala B,
com tabelas de «registo dos textos trabalhados», «circuito comunicativo de textos»,
«registo de textos produzidos» e «registo de apoio da professora em Tempo de Trabalho
Autónomo», para além de outros mais relacionados com as contas da turma.
Imagem 22 – Instrumentos de pilotagem
Estes instrumentos permitem, a qualquer momento, a análise do nível de produção
de cada aluno e de toda a turma. Alguns deles (registos dos ficheiros) são avaliados
pontualmente e outros (registo de produção de textos, registo de leituras) mensalmente.
Pela visibilidade que dão das realizações de cada um, ajudam no confronto permanente
451
dos alunos com as suas produções, o que determina uma continuada adequação ao
processo de aprendizagem (Pinto, 2008).
O «registo de avaliação dos conteúdos programáticos» ou «lista de verificação de
conhecimento» ou «mapas de desenvolvimento curricular» são listagens com os
conteúdos de cada área curricular para o ano de escolaridade, numa linguagem adequada
à idade dos alunos (Grave-Resendes & Soares, 2002; Santana, 1999). No início do ano,
são apresentadas aos alunos e, regularmente revisitadas, para se ir fazendo a aferição da
situação de cada aluno face a esses conteúdos e relembrando o percurso que ainda há a
fazer (Pinto, 2008; Gomes, 2011).
Imagem 23 - Registo da avaliação dos conteúdos programáticos
452
Um outro instrumento que atravessa toda a vida do grupo, é o Diário de Turma. A
sua discussão em Conselho, permite gerir e regular conflitos e regular a vida da turma
(aprendizagens, projetos, etc…)
Como foi referido, aquilo que substancialmente distingue o modelo do MEM é o
modo como se gere, organiza e avalia de forma cooperada, o trabalho, o tempo, o espaço,
os conteúdos das aprendizagens e a vida social da turma (Grave-Resendes & Soares,
2002; Santana, 1999; Mestre, 2010).
No final do ano letivo, quando refletiu acerca dos instrumentos de pilotagem, disse
que a preocupou “um bocado a forma como se gere a marcação no currículo a verificação
das atividades. Eu acho que esta questão da avaliação é sempre a mais difícil. E eu acho
que o programa não pode aparecer só com aqueles conteúdos que lá estão. É preciso que
dentro de cada conteúdo haja pequenas… os passos que são precisos ser dados até
chegarmos àqueles conteúdos, isto por que, muitas vezes, passamos muito tempo à volte
de um assunto e, depois, quando chegamos à hora de marcar, parece que não temos nada
para marcar. Por isso, eu acho que aí eu vou precisar de trabalhar muito” (Entrevista 4-
B). Apesar de considerar que “as listas de verificação são adaptadas à turma” (Entrevista
4-B), às idades e capacidades, “uma das coisas que acho que tenho mais dificuldade de
fazer, [é a] forma como isso ficar escrito depois vais facilitar a forma como as crianças se
apropriam daquilo e a forma como conseguem marcar autonomamente” (Entrevista 4-B).
453
7. Organização das atividades
No modelo do Movimento da Escola Moderna, como explica Sérgio Niza (1998)
a ação educativa centra-se no trabalho diferenciado de aprendizagem dos alunos e não no
ensino simultâneo dos professores.
Neste modelo, o envolvimento dos alunos é central (Grave-Resendes & Soares,
2002). Para tal, existem momentos diários e semanais de «Conselho de Cooperação».
“Este é um momento de balanço e análise das atividades (…) de reflexão de experiências
vividas e compromissos futuros, numa constante educação para a cidadania responsável
e válida” (PCT-B, p. 17). Em cada “segunda-feira, e dado nunca ser possível concluir
tudo na sexta-feira, passam-se os assuntos relativos à Avaliação e Planificação Semanais,
à Avaliação e Planificação do P.I.T. e à Avaliação e Distribuição de Tarefas” (idem).
Para a professora B, “as crianças aprendem, independentemente do método que
seja escolhido. Agora, uns têm mais vantagens numas coisas e outros noutras” (Entrevista
4-B). Sublinha que o facto de as crianças terem noção, “desde o início, do que é o
currículo, do que é a que a escola espera deles” (Entrevista 4-B), é muito positivo. “A
primeira coisa que se faz, embora quando estão no 1.º ano ainda não tenham logo essa
consciência, é apresentar-lhes o programa, saberem quais são as regras da escola. Eu acho
que isso é muito importante. Sobretudo as crianças que têm mais dificuldades podem ir
tomando consciência do que é que a escola espera delas, podem ir – todas elas – mas,
podem ir sabendo o que é que lhes falta, o que é que precisam de estudar mais” (Entrevista
4-B).
A respeito da organização das atividades, o aluno 4, na entrevista que lhe
realizámos (Anexo 5) referiu que, no 5.º ano, como “cada professor é diferente, por vezes,
454
para percebermos como é que tudo funciona é difícil”, porque a planificação do trabalho
não é feita com a participação ativa dos alunos.
7.1. Agenda/Rotinas
7.1.1. Agenda
Um dos eixos centrais do modelo do MEM é procurar “envolver os alunos no seu
percurso de aprendizagem, no sentido da aquisição de uma gradual tomada de consciência
do ponto em que se encontram e do que precisam de fazer para poderem avançar no
currículo” (Santana, 1999, p. 117).
A turma tem uma agenda semanal, que foi construída com os alunos, no 1.º ano e
foi sofrendo sucessivas atualizações. “É o instrumento central da planificação e regulação
semanais do trabalho. Nela estão incluídos de forma interativa momentos de natureza
diversa. Há momentos de trabalho autónomo, outros especialmente destinados à
consecução de projetos; alguns momentos coletivos de abordagem a temas curriculares
mais específicos, outros destinados à comunicação, quer escrita, quer oral; alguns tempos
mais centrados na leitura e, por fim, momentos específicos de avaliação e regulação das
aprendizagens curriculares e sociais” (PCT-B, p. 16).
Todos os alunos estão na turma, desde o 1.º ano, expecto dois. “No início do 1.º
ano, não havia agenda. Em cada dia íamos combinando o que se fazia. No final de uma a
duas semanas já se conseguia, vendo esses planos todos, ter uma perceção do que se fez
em cada dia da semana e fomos construindo a agenda, uma tabela, em conjunto”
(Entrevista 1-B). Depois, ao longo do tempo, foram-na adequando. ”Se precisamos de
mais tempo para isto ou para aquilo, (…) ao longo do ano, vai-se reformulando, de acordo
455
com as necessidades que o grupo vai tendo. E isso é feito em Conselho de Cooperação”
(Entrevista 1-B).
Imagem 24 – Exemplo de Agenda Semanal da Turma B
7.1.2. Planificação
Apesar de haver rotinas semanais, que mais não são do que momentos agendados
semanalmente que se repetem ao longo dos vários dias e das várias semanas de trabalho,
“os assuntos a serem trabalhados nos diversos tempos são sempre combinados pelo grupo
no Conselho de segunda-feira, num momentos denominado precisamente de Planificação
Semanal. Deste modo, todo o grupo fica logo informado daquilo que vai fazer ao longo
da semana, informação essa que, para além de ficar registada, passou pela aprovação de
todos” (PCT-B, p. 18).
456
A este respeito, a docente ainda faz uma outra importante consideração: “parece-
me que é esta consciência do planificado, numa mediação entre o que se gosta e o que se
deve fazer - dadas as obrigações do programa, conhecidas por todos - que, por um lado,
está na base de todo o sistema democrático da sala de aula e, por outro lado, ajuda os
alunos a terem noção daquilo que a escola espera deles, responsabilizando-os ativa e
conscientemente nesse processo de gestão do currículo, de tão grande complexidade”
(PCT-B, p. 18). Por outro lado, este é o momento de transformar as aprendizagens
significativas porque nascem “dos interesses e necessidades do grupo, numa interação
constante com aquilo que nos é legalmente imposto pelos programas curriculares” (PCT-
B, p. 18).
Todos os dias de manhã, “é lido pelos presidentes e escrito no caderno por todos
o plano de trabalho para esse dia” (PCT-B, p. 19). Este relembrar do que vai acontecer ao
longo do dia, “já previamente combinado por todos, ajuda a estruturar o trabalho e a
integrar as noções de tempo e de organização do mesmo. Por vezes, é também neste
momento que se planificam algumas atividades concretas” (PCT-B, p. 19). Também se
fazem algumas alterações, “dado que a Agenda Semanal não existe para escravizar o
trabalho, mas sim para o estruturar. Tudo isto é muito flexível e, por vezes, é nestes
momentos matinais que nos apercebemos da necessidade de mudar coisas que, outrora
planificadas, deixaram de fazer sentido ou foram desvalorizadas por outras que, fazendo
mais sentido, se sobrepuseram às mesmas” (PCT-B, p. 19).
Numa das observações, foi a professora que liderou, de manhã, a definição
conjunto do Plano do Dia. “Relembra-se o que há a fazer. Analisa-se a possibilidade de
457
aumentar o tempo para o Conselho Semanal, atendendo a que, na semana passada não se
realizou, por ter havido uma festa na quarta-feira, feriado na quinta e tolerância de ponto
na sexta e, na sequência disso, haver muitos assuntos para o Conselho. Os alunos
apresentam propostas. Então, ficou decidido, antecipar o Conselho para depois da
comunicação do trabalho de projeto agendado” (Observação 2-B).
Os apoios individualizados, pela Professora ou por outro aluno, também são
marcados em função da avaliação do trabalho. “As crianças que são mais autónomas
costumam ter a iniciativa, decorrendo da marcação das listas de verificação, por exemplo,
percebem que há coisas que não têm bem; fazem fichas de verificação e há coisas que
verificamos que ainda têm que melhorar. Essas crianças dizem logo «tens que marcar um
apoio comigo, disto ou daquilo»” (Entrevista 2-B). Aos alunos “que não têm tanta
facilidade nem tanta consciência das suas dificuldades” (Entrevista 2-B) é a professora
que propõe. “Podem ser apoios comigo, mas também há o caso de se marcarem apoios
com os colegas. Por exemplo, «tenho dúvidas nos verbos», suponhamos no tempo verbal
do pretérito perfeito e no pretérito imperfeito. Há um colega que diz «ah! Eu já sei isso
bem. Posso explicar-te!» Eles podem marcar apoios nesse sentido, embora eu fique atenta
e dê uma ajudinha, mas também há essa possibilidade” (Entrevista 2-B).
Grande parte dos apoios é logo marcada à segunda-feira, de acordo com as dúvidas
que eles tiverem registado nos PIT, dos momentos coletivos. “Por exemplo, quando há
fichas de verificação sobre um tema que já foi trabalhado e há dúvidas nesses temas,
também se marcam apoios. Se têm dificuldades numa ficha, procura-se marcar esses
apoios. Muitas vezes, sou eu que vou registando, ao longo da semana, apontamentos
458
dessas coisas que eu vou observando, para depois os lembrar, no caso de eles não se
lembrarem. É claro que nunca é possível lembrarmo-nos de tudo, nem marcar apoios para
tudo o que é preciso. Sobretudo se há crianças que têm dificuldades a muitas coisas e
tentamos sempre colmatar o máximo das falhas” (Entrevista 2-B).
7.1.3. Desenvolvimento
O Plano Individual de Trabalho (PIT) é um instrumento de controlo e regulação
das atividades individuais, uma forma de controlo e regulação das atividades individuais,
uma forma de contrato que cada aluno assume com a turma, relativamente ao trabalho
que vai desenvolver durante a semana, para o funcionamento regular da turma e para a
sua aprendizagem, de acordo com o seu ritmo, os seus interesses e as suas necessidades
(Gomes, 2011; Grave-Resendes & Soares, 2002; Pinto, 2008; Santana, 1999).
Nas observações efetuadas, verificámos a utilização regular do PIT, tal como
preconizado pelo modelo do MEM, ajudando na estruturação dos percursos individuais
de aprendizagem semanais.
7.1.4. Avaliação
No final do dia há um balanço diário. “O presidente lê o Plano do Dia na Agenda
Semanal e vai, com a ajuda do grupo, registando se as atividades foram realizadas ou não.
No caso de não terem sido, combina-se se já não são mais necessárias ou, se forem,
quando é que se irão realizar em alternativa” (PCT-B, p. 20). Segue-se um tempo de
partilha oral de opiniões sobre o dia, em que “todos se podem manifestar acerca de coisas
de que gostaram ou não, bem como pedir a ajuda do grupo para resolverem determinados
459
conflitos/situações que considerem de urgente discussão” (PCT-B, p. 20). Na nossa
observação 3-B, depois de se avaliar o que fora ou não feito do Plano do Dia, “houve o
momento para os alunos refletirem oralmente sobre o dia, ao nível do comportamento
pessoal, cumprimento do PIT e do que gostaram ou não”.
À segunda-feira também é feita a avaliação dos Planos Individuais de Trabalho,
com o “intuito de regular o trabalho do grupo e de cada aluno, bem como de coletivizar
aquilo que cada um faz” (PCT-B, p. 20). À sexta-feira todos os alunos fazem o balanço
da sua semana, “preenchendo no seu P.I.T. os espaços relativos à autoavaliação” e “nesse
momento, os colegas têm a oportunidade de comentar o trabalho de cada um, dando
sugestões de melhoramento, as quais são, sempre que possível, registadas” (PCT-B, p.
20).
Então, à segunda-feira, “é lida a autoavaliação de cada aluno, bem como os
respetivos comentários (da professora e dos colegas), e cada um tem a oportunidade de
se manifestar sobre o seu trabalho, de ouvir a opinião de mais alguns colegas, devendo
assumir compromissos de melhoramento progressivo do seu trabalho. As crianças que
precisarem de ajuda para se organizarem no Trabalho Autónomo: na marcação do P.I.T.,
na escolha e concretização das atividades, etc., podem aproveitar o momento da avaliação
para formar parcerias de trabalho com colegas ou comigo para a corrente semana,
parcerias essas registadas sempre que possível” (PCT-B, p. 20).
Depois “cada aluno planifica individualmente (ou seguindo as referidas parcerias)
o seu trabalho, no novo P.I.T., devendo ter em conta os comentários que lhe foram feitos
e respetivos compromissos assumidos perante o grupo” (PCT-B, p. 20).
460
Relativamente à avaliação do ano letivo estudado a professora disse que “uma das
coisas que acho que foi um bocadinho difícil, para mim, de organizar com eles, tem a ver
com a própria estrutura dos cadernos, dos apontamentos, da apresentação das coisas, da
organização dos materiais, uma série de coisas que eu acho que eles precisavam de ter
tido mais indicadores da minha parte, para poderem logo desde o início utilizar mais
facilmente os cadernos e os materiais como materiais de estudo” (Entrevista 4-B).
Relatou-nos que, com a turma, discutiu “pouco isso e, no final, surgiram algumas
dificuldades a este nível. As coisas não chegaram àquele ponto de rigor, nesse aspeto”
(Entrevista 4-B).
7.1.5. Conselho de Cooperação
Segundo o modelo do Movimento da Escola Moderna, “o Conselho inclui todos
os momentos em que o grupo se organiza para discutir/ avaliar/ planificar assuntos da
turma” (PCT-B, p. 20). Por isso, “existem momentos de Conselho diários – Planificação
Diária e Balanço – e o Conselho Cooperativo Semanal, que tem lugar todas as sextas-
feiras à tarde, prolongando-se pela manhã da segunda-feira seguinte” (PCT-B, p. 20). É
o momento forte de Formação Cívica, “visando sobretudo dar cumprimento às finalidades
pedagógicas deste projeto que consistem no «desenvolvimento progressivo de estratégias
democráticas de resolução de conflitos», na «maior tomada de consciência da importância
do diálogo e da negociação enquanto mecanismos - base de trabalho», na «incorporação
de todas as áreas curriculares disciplinares e não disciplinares nas dinâmicas da turma, de
forma interdisciplinar» e na «responsabilização individual e coletiva por todo o trabalho
e progressos realizados» ” (PCT-B, p. 20). Nos Conselhos semanais de sexta-feira, “os
461
presidentes da semana (…) asseguram a leitura das ocorrências registadas no diário de
turma, e dão a palavra aos vários intervenientes, a fim de se explicarem” (PCT-B, p. 20).
Também são discutidas, definidas e alteradas as regras de vida do grupo e fazem-se
“sugestões para o melhoramento das condutas individuais e coletivas, numa caminhada
constante para a cidadania” (PCT-B, p. 20).
O Conselho de Cooperação é uma oportunidade de regulação das relações na
turma (Grave-Resendes & Soares, 2002). Quando algum aluno não gosta de alguma
situação, incluindo situações de conflito entre alunos, “escrevem no diário de turma,
metem o nome e a data”. Se, na sessão do Conselho, na sexta-feira seguinte, “o problema
já foi resolvido, o autor marca na folha «E», de assunto encerrado. Quando o assunto fica
por tratar, os presidentes escrevem «PD» de próximo diário” (Observação 2-B). Mas,
“tentam encontrar estratégias de resolução dos problemas, inclusive com assumir de
compromissos e de entreajuda” (Observação 2-B).
7.2. Organização e distribuição das atividades
7.2.1. Gestão cooperada
462
Os defensores da aprendizagem como ato social chamam à turma «comunidade
de aprendizagem», no seguimento das teorias de aprendizagem que reconhecem que o ato
de aprender é um processo social e interativo (Cros, 2000, p. 38).
Dewey (1979) defende que a escola deve espelhar a realidade social e
proporcionar uma oportunidade para a aprendizagem da vida real. Assim, os professores
deveriam construir ambientes de aprendizagem democráticos e científicos, através do
trabalho ativo e cooperativo (trabalho de projeto, organização de grupos de resolução de
problemas, etc.).
O modelo do Movimento da Escola Moderna, muito em sintonia com as ideias
defendidas por Vygotsky (1978; 1991), considera que a interação da criança com o
contexto sociocultural promove a aprendizagem. Este modelo é, nesta linha, considerado
um modelo sociocêntrico de organização cooperativa porque a “prática democrática da
gestão de conteúdos, das atividades, dos materiais, do tempo e dos espaços se fazem em
cooperação” (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 41).
Segundo alguns investigadores deste modelo, o processo de cooperação educativa
tem-se revelado como a melhor estrutura social para aquisição de competências (Gomes,
2011; Pinto, 2008; Santana, 1999).
A regulação cooperada das atividades é, neste modelo, assegurada através do
Conselho de Cooperação Educativa. Constituído pelos alunos da turma e professor, é o
espaço próprio onde são negociados, construídos e adequados a Agenda da Turma, os
Planos Diários, os instrumentos de pilotagem do trabalho, os Planos Individuais de
Trabalho, as regras da turma, etc. Também os problemas, conflitos, sugestões e propostas
são discutidos em grupo (Grave-Resendes & Soares, 2002).
463
O Henrique, entrevistado já no 5.º ano, considerou que se adaptou bem ao 2.º ciclo,
apesar de não haver gestão cooperada. Ainda assim, “há professores que, no final da aula,
dizem o que vão fazer na aula seguinte” (Anexo 59). Mas, propor ou trabalhar algum tema
do interesse dos alunos “só em Formação Cívica e Estudo Acompanhado” (idem). Nem
existe uma forma de registar o trabalho a realizar, como acrescenta a Marta quando refere
que “já não há PIT”, no 5.º ano.
7.2.2. As tarefas
As tarefas fazem parte da estratégia de gestão cooperada da atividade da turma.
Nesta perspetiva de trabalho democrático, que se tem vindo a apresentar, “afigura-se
fundamental partilhar tarefas e responsabilidades entre os alunos, assegurando a sua
formação cívica e dando cumprimento ao que está previsto na lei. Esta partilha terá de ser
feita de forma a integrar todos os alunos na vida da turma (havendo integração e não
exclusão), tornando-os assim cidadãos mais ativos na vida escolar” (PCT-B, p. 19).
Com a aplicação desta estratégia, pretende-se proporcionar experiências que
conduzam à aprendizagem efetiva da vivência democrática, ou seja, como se aprende a
fazer fazendo (Delors, 1996, pp. 77-88), pretendendo “criar situações de aprendizagem
formadoras, de modo a instaurar um ambiente mais democrático na sala de aula” (PCT-
B, p. 19). O perfil do professor do 1.º ciclo recomenda “a participação ativa dos alunos
na construção e prática de regras de convivência, fomentado a vivência de práticas de
colaboração e respeito solidário no âmbito da formação para a cidadania democrática”
(Decreto-Lei n.º 241/2001, anexo n.º 2, capítulo 2. º, alínea j). Para além disso, “esta será
464
a melhor forma de não deixar que os alunos sejam tão expostos ao currículo oculto por
parte do professor; currículo este que engloba as ocorrências no plano emocional entre os
diversos intervenientes do dia-a-dia escolar e que não estão incluídas nos planos de
trabalho nem das quais os intervenientes têm consciência” (PCT-B, p. 19). A professora
considera que, “quanto mais o clima de sala de aula visar a partilha do poder e o confronto
de opiniões, mais oportunidade os alunos terão de gerir (e de se autogerirem e
conhecerem) e, logo, de não serem geridos pelos constructos inconscientes que o
professor tem deles” (PCT-B, p. 19). Salienta, portanto, que para que tudo funcione da
melhor maneira “o professor, apesar de ser o decisor máximo, também deve cumprir as
regras da turma para que os alunos percebam a sua importância na vida escolar” (PCT-B,
p. 19).
Neste sentido, “existem várias tarefas de rotatividade semanal, acordadas no grupo
a partir das suas necessidades, as quais vão sendo assumidas pelos alunos, em benefício
de todos” (PCT-B, p.19): Presidente (dois alunos), que ajuda a gerir os momentos
coletivos; a organização e arrumação do material cooperativo (dois alunos); a limpeza
(dois alunos); as horas (dois alunos); a biblioteca - arrumação e gestão dos recursos (1
aluno); as Finanças da Sala - atividade mensal – (2 alunos). “Para além destas, todas as
outras tarefas que forem sendo necessárias, podem ser negociadas no grupo e incluídas
neste esquema (PCT-B, p. 19).
Observámos, várias vezes os alunos cumprirem estas tarefas. Por exemplo, o
responsável pelas horas relembra as horas (Observação 1-B). Uma vez, o responsável das
horas estava distraído e o Gustavo diz “o responsável do relógio tem que avisar que faltam
5 min para o intervalo” (Observação 2-B).
465
O presidente conduz o Conselho no balanço do dia: “pergunta, apontando para o
plano diário, acerca do cumprimento das atividades planeadas. Para cada ponto, os alunos
levantam o braço se fizeram ou a pedir a palavra para comentar (Observação 1-B). São
também os presidentes que conduzem o Conselho de Cooperação de sexta-feira,
começando pela leitura da ata da última sessão (observação 4-B e 5-B), após a distribuição
das folhas para a redação da ata (todos os alunos tomam notas). Depois, um dos
presidentes lê o Diário de Turma, o outro redige a ata coletiva (Observação 2-B e 5-B).
No início do dia, os presidentes também são responsáveis por perguntar “se toda
a gente marcou no PIT e nos registos de utilização dos ficheiros o que fizeram em casa.
Também pergunta se já marcaram as presenças de hoje e atualiza a data, no quadro”
(Observação 4-B).
Outras tarefas têm a ver com a arrumação dos recursos e da sala. Na observação
3-B, no final do dia, alguns alunos que ainda ficaram na sala, “arrumam os ficheiros, uma
vez que é a sua tarefa. O Rafael limpa a sala, com vassoura e pá”.
7.2.3. Trabalho Individual
Os alunos produzem bastantes trabalhos individuais, para além do tempo de
Trabalho Autónomo, propriamente dito. Por exemplo, utilizando o computador
(observação 1-B) ou na produção de textos. Observámos os alunos a fazer a leitura de
textos redigidos por si para toda a turma. Na observação 4-B, “inicia o Rafael. Lê um
texto escrito no caderno, de pé, junto ao quadro. No final, disse para a turma «perguntas
466
e comentários?» e alguns colegas pronunciaram-se. Por exemplo, o Henrique elogia a
dimensão do texto e a boa leitura.
Seguiu-se o Gustavo, que foi ler de um livro intitulado “As férias do futebol
clube”. Quando terminou, disse também «perguntas e comentários?». O seu colega Igor
disse que o texto estava bem, mas que quando lê está sempre a tossir. E, assim
sucessivamente, várias apresentações (Observação 4-B).
7.2.4. Pequeno Grupo
Como já tem sido referido, Meirieu (1991) considera que o conhecimento se
produz “através da mediação da linguagem, o professor tem de criar condições para que
essa linguagem possa desempenhar o seu papel: uma das principais condições será o
trabalho em grupo” (p. 45).
Nesta turma, os alunos são incentivados a realizar trabalhos de projeto, em
pequenos grupos. “No primeiro ano, quando o trabalho de projeto começou, era sempre
neste sentido: «o que é que queremos saber?». Surgiam coisas que podiam ter a ver com
o currículo ou não. (…) Deixando, na mesma, espaço para a curiosidade de cada um, daí
que eles escolham os temas nos quais tenham maior interesse, era importante
corresponderem também às coisas do programa. Portanto, tentamos começar sempre por
escolher coisas que tenham a ver com o programa” (Entrevista 2-B).
Mas, não é só nos trabalhos de projeto que trabalham em pequenos grupos.
Algumas atividades do Trabalho Autónomo também pressupõem trabalho em pequenos
grupos, como por exemplo, na realização de experiências. Na observação 1-A, “Vasco e
Diogo levantam-se para fazerem o relatório da experiência, na mesa ao fundo”, durante o
467
Trabalho Autónomo. Na mesma observação, também “dois alunos vão buscar cartões à
fábrica de histórias”, para fazerem criação de texto. Mas, para a realização de atividades
de outras áreas curriculares, também é possível o trabalho em pequeno grupo. “Gustavo
e Diogo escolhem uma ficha de «operações» de Matemática e sentam-se na mesa ao fundo
da sala, a resolvê-la em conjunto. Vasco e Henrique trabalham em conjunto o 2.º capítulo
de texto criado com recurso a cartões da fábrica de histórias. Rafael e Pedro leem texto
do manual e respondem a questionário. Bruna, Marta e Rodrigo fazem atividades sobre
características do reconto” (Observação 2-B).
A Marta, na entrevista realizada quando já estava no 5.º ano referiu-nos que “havia
colegas que não sabiam fazer projetos e apresentar e assim… Mas, como eu já estava
habituada, pude ajudá-los. Penso que foi mais fácil para mim”, afirmando ser uma mais-
valia a experiência do 1.º ciclo, no modelo MEM.
7.2.5. Grande Grupo - Turma
O modelo do MEM, propõe que haja momentos de trabalho em turma,
designadamente para introdução e sistematização coletiva de conteúdos (Mestre, 2010).
Ilustrando o que se acaba de referir, a professora deu o exemplo de uma vez em que houve
“necessidade de sistematização das características dos vários tipos de texto. Sempre que
trabalhamos um texto, escolhemos um que tenha uma característica diferente e vamos
fazendo o balanço dessas características. Depois, por exemplo, a partir de cada texto, de
acordo com as dificuldades que a pessoa que escreveu teve, em termos de ortografia ou
tem uma pontuação desadequada ou os tempos verbais não estão bem de acordo com esse
468
tipo de texto ou uns com os outros, na lógica do texto, pegamos nesses temas e estudamos
isso todos juntos” (Entrevista 2-B).
Na primeira observação da turma, houve um momento de Matemática coletiva. A
professora pediu para pegarem “no caderno de Matemática para fazerem a verificação do
problema das sete calças e das sete camisolas” (Observação 2-B). A professora retira as
folhas que estavam afixadas no quadro e coloca novas brancas. “O Gustavo oferece-se
para ler, a professora escreve no quadro «dados» e pede ao aluno para ao ler ir dando os
dados, questionando-o, por vezes, se é importante determinado dado” (idem). A
professora escreve, numa folha em branco, no quadro, os dados do problema lido. Depois,
questiona a turma: “Quem quer vir explicar o seu raciocínio, a sua estratégia? A
professora regista no quadro os nomes dos alunos que levantaram o braço”(idem). O
Rodrigo é o primeiro a explicar a sua estratégia. “Pintou com bolinhas de cores diferentes
representando as calças e as camisolas (…). Foi fazendo traços com as hipóteses e
formulando a operação 7+7+7+7+7+7+7 = 7X7 = 49” (idem).
Depois da explicação, a professora pediu comentários à estratégia do aluno, tendo
um dito “que estava bem pensado. Foi uma boa estratégia” (idem). A professora
perguntou à turma se acha que estão lá todos os processos mentais ou se falta alguma
explicação. Os Alunos disseram que não falta” (idem).
Outros alunos foram a presentar a sua proposta de resolução do problema. Depois,
foi feito o cartaz com a resposta coletiva, tendo a professora perguntado “se, em vez de
camisolas e calças, usarmos símbolos?” (idem). Os alunos apresentaram várias sugestões
e, depois de se chegar a um consenso, “ficou o quadrado para as calças e o triângulo para
469
a camisola” (idem). No final, todos copiam para os seus cadernos o cartaz elaborado em
coletivo.
Também no âmbito da Língua Portuguesa foram realizadas atividades coletivas,
diversas vezes. Por exemplo, na observação 3-B, a turma fez enriquecimento de texto e
cópia de texto escrito pelo Henrique e intitulado «As minhas férias no Brasil».
7.3. Ritmo de Trabalho e Estilos de Aprendizagem
No modelo do MEM, a atenção ao ritmo e estilo de aprendizagem de cada aluno
é essencial (Grave-Resendes & Soares, 2002; Gomes, 2001). A este respeito, a professora
deu um exemplo, “Eles levam trabalhados de casa às terças, quartas e sextas. Por vezes,
também fazem trabalhos diferentes. Quando há semanas em que nós vemos que os
trabalhos estão um bocado atrasados (…), por algum motivo as coisas se atrasam e não
há tempo suficiente para cumprirem os compromissos individuais, digamos assim, eles
podem, na mesma, no Apoio ao Estudo, avançar nesse trabalho. Escolhem as fichas que
precisam de levar e avançam, como se fosse um tempo complementar ao do trabalho
autónomo” (Entrevista 2-B).
7.4. Currículo
470
Na perspetiva do MEM, porque a aprendizagem é um ato intencional, o que se
espera que os alunos aprendam, deve ser do conhecimento dos alunos, para que orientem
o seu trabalho nessa direção (Santana, 1999).
Defende-se, por isso, a apresentação do currículo aos alunos, no início do ano
letivo, para uma maior aproximação dos alunos aos objetivos e a sua apropriação gradual
dos conteúdos a abordar, enunciados em competências a construir, através de Mapas de
Desenvolvimento Curricular (Santana, 1999). Periodicamente, faz-se um balanço do que
foi trabalhado e do que falta trabalhar, o que desencadeia novas planificações (Gomes,
2001). Neste sentido, o registo das aquisições individuais devolve ao aluno a imagem do
que se espera dele. Espera-se que os “alunos aprendam segundo os seus próprios
itinerários de apropriação do saber e do saber-fazer” (Przesmucki, 1991).
Como modelo de Pedagogia Diferenciada, as suas propostas são de diferenciação
do trabalho de cada aluno, com a utilização do PIT (Plano Individual de Trabalho) e na
sua concretização no Tempo de Estudo Autónomo, durante o qual cada um trabalha, ao
seu ritmo, de acordo com os seus interesses, necessidades e face ao ponto em que se
encontra no currículo (Pinto, 2008).
A apresentação do currículo das diversas áreas curriculares aos alunos é feita no
início do ano letivo e constitui a base do trabalho e a primeira abordagem do que a escola
exige a todos (alunos e professores). “Procuramos, deste modo, desocultar os critérios da
escola e partilhar com os alunos as competências e os conteúdos das aprendizagens, de
forma a envolvê-los no processo desde o primeiro momento” (Santana, 1999, pp. 15-16).
De certa forma, é um “contrato educativo” (Niza, 1998a), a partir do qual os alunos se
mobilizam para as competências a desenvolver.
471
Para a explicitação do currículo aos alunos, a professora preparou as listas de
verificação, com os conteúdos de cada área, numa linguagem adequada às idades. “Estão
ali afixadas na parede. (…) Uma das primeiras coisas que fizemos no primeiro dia de
aulas… claro que eu não li os tópicos todos na íntegra porque iria demorar muito tempo,
mas fiz uma apresentação global daquilo que iríamos trabalhar ao longo do quarto ano.
Depois, o currículo está sempre ali presente. Sempre que vamos fazendo alguma
atividade, nós vamos marcando, sublinhando, o que andamos a trabalhar, para os alunos
irem tendo consciência dessas coisas” (Entrevista 1-B). É importante que se reflita no
PIT, “para irem estudando sobretudo essas coisas e, também claro, as outras que precisam
mais” (Entrevista 1-B). Por outro lado, “na planificação dos projetos, eles tiveram que ir
ler o currículo para selecionarem os temas que lhes interessava mais trabalhar. Claro que
quando eu apresento o programa eles não ficam logo a saber tudo. Ao longo do ano, eles
vão contactando muitas vezes com aquilo para ver se integram essas coisas” (Entrevista
1-B).
Nos momentos de balanço dos conteúdos trabalhos, “vamos sublinhando, no
programa, as coisas. Por exemplo, ao nível do Estudo do Meio, normalmente fazemos
isso quando se marcam projetos. Quando um grupo escolhe um projeto, antes de eles
elaborarem as perguntas, vamos sempre ver ao programa quais são as questões que
apontam nesse sentido, para que, para além das questões pessoais, também correspondam
às questões do programa. Aí, sublinhamos logo com o marcador” (Entrevista 2-B), sem
importar a cor.
Na Matemática e na Língua Portuguesa, procedem de igual forma. “Sempre que
há um momento coletivo (…), vamos sublinhando as coisas que forem trabalhadas”
472
(Entrevista 1-B). Assim, toda a turma fica consciente de que conteúdos devem aprofundar
e treinar no Trabalho Autónomo. “A uma certa altura, nós terminamos de trabalhar um
tema ou vários e fazemos o ponto da situação, com uma ficha de verificação sobre isso.
Eles fazem individualmente, depois eu vejo, dou-lhes o feedback disso e, nessa altura,
eles vão marcar esses assuntos no currículo” (Entrevista 2-B). A sequência é mais ou
menos “trabalhamos, fazem uma ficha de verificação, verificam o que é que já sabem
bem, o que sabem mais ou menos ou que ainda não sabem. Marcam com verde o que já
sabem bem, a amarelo o que sabem mais ou menos e vermelho o que ainda não sabem”
(Entrevista 1-B). Por outro lado, os apoios vêm daí, “da descoberta dessas necessidades.
Tentamos fazer isso logo que se trabalha um tema, para não deixar arrastar para o final
do período, porque depois é mais difícil recuperar essas coisas” (Entrevista 1-B).
473
9. Interações
Como já o referimos, o modelo proposto pelo MEM é “modelo sociocêntrico”
assente na “prática democrática da gestão de conteúdos, das atividades, dos materiais, do
tempo e dos espaços se fazem em cooperação” (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 41).
De acordo com a investigação no âmbito da autorregulação da aprendizagem
(Pinto, 2008), as interações são importantes a vários níveis mas, inclusive, no pedido de
ajuda. Como vimos na reflexão feita a respeito da ZDP e do apoio do professor ou de um
par mais competente, face a dificuldades que surjam, o aluno autorregulado pode utilizar
o pedido de ajuda intencionalmente, não apenas para remediar um problema imediato,
mas assegurando autonomia a longo prazo, pelo domínio de uma tarefa (Newman, 1994).
As crianças com bom nível de desenvolvimento de aprendizagem autorregulada “não
estão, nem se sentem sozinhas nas suas tarefas de aprendizagem, pelo contrário, procuram
apoio, sempre que necessário, de modo a alcançarem satisfatoriamente os seus objetivos”
(idem, p. 13).
9.1. Interação professor-aluno
Os alunos podem tomar a iniciativa das interações com a professora,
designadamente no tocante ao pedido de apoios. Como nos referiu a docente, “as crianças
que são mais autónomas costumam ter a iniciativa, decorrendo da marcação das listas de
verificação, por exemplo, percebem que há coisas que não têm bem; fazem fichas de
verificação e há coisas que verificamos que ainda têm que melhorar. Essas crianças dizem
logo «tens que marcar um apoio comigo, disto ou daquilo»” (Entrevista 2-B).
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9.2. Participação dos alunos
Os alunos participam ativamente na tomada de decisões. Nas observações 4-B e
5-B, por exemplo, no início da manhã, a turma fez o plano do dia e “os alunos apresentam
propostas”.
Há momentos específicos da agenda da turma destinados à apresentação de
produções dos alunos à turma. Normalmente, segue-se à definição do plano do dia, como
sucedeu, por exemplo, na Observação 4-B, em que “a professora consulta quem se
inscreveu para apresentação de produções. Inicia o Rafael. Lê um texto escrito no
caderno, de pé, junto ao quadro”.
Na conceção, realização e apresentação de projetos também se verifica o relevo
dado à participação dos alunos. O grupo de alunos que vai fazer a comunicação do projeto
começa por distribuir aos restantes colegas a folha de “comunicação de projetos”, onde
os alunos tomam as notas, fazem a avaliação e colocam as dúvidas, que decorrem da
apresentação (Observação 5-A). No final, pedem “opinião, críticas e sugestões acerca da
comunicação” à turma. Cada aluno expressa-se, de acordo com as notas que a
apresentação suscitou. Depois, o grupo entrega uma ficha com perguntas produzidas,
sobre o tema, para cada aluno responder, a fim de aferir se os assuntos ficaram bem
percebidos (idem).
Depois das apresentações de produções, os alunos são incentivados a serem
críticos. Na continuação da apresentação do texto escrito pelo Rafael, o próprio perguntou
se havia “perguntas e comentários”, por parte dos colegas. O Henrique elogia a dimensão
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do texto e a boa leitura (Observação 4-B). A esta apresentação seguiram-se outras, de
outros alunos.
A participação dos alunos também é importante para a superação de alguma tarefa
ou para apoio numa mais complexa, que pode ser assegurado por colegas (Pinto, 2008).
“Por exemplo, «tenho dúvidas nos verbos», suponhamos no tempo verbal do pretérito
perfeito e no pretérito imperfeito. Há um colega que diz «ah! Eu já sei isso bem. Posso
explicar-te!» Eles podem marcar apoios nesse sentido, embora eu fique atenta e dê uma
ajudinha, mas também há essa possibilidade” (Entrevista 2-B).
Outra frente em que a participação dos alunos é incentivada é na
avaliação/balanço. A autoavaliação acerca do que o aluno realizou e a avaliação feita
pelos seus colegas é particularmente importante no trabalho autónomo, na medida em que
fornece informação que permitem a modelação do ritmo e do itinerário de aprendizagem
(Pinto, 2008). É um meio privilegiado de diferenciação dos processos, porque cria uma
situação de aprendizagem onde o aluno escolhe as estratégias de apropriação e de
correção dos erros.
Neste modelo, os alunos são incentivados a assumir uma participação ativa na
vida da turma, através do Conselho de Cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002;
Santana, 1999), já aqui referido e explicado diversas vezes, mas também através do diário
de turma, onde podem expressar o que gostam ou não gostam, sendo essas partilhas e
reflexões discutidas em Conselho de Cooperação, por toda a turma (ver, por exemplo,
observação 1-B).
476
10. Papel do professor
O papel do professor, no modelo do MEM, é mais de mediador da aprendizagem
do que de transmissor. Neste sentido, o professor promove uma gestão cooperada da vida
da turma, estando os alunos envolvidos no processo de planificação, desenvolvimento e
avaliação de todas as atividades, coletivas e individuais (Niza, 1998a, 2000).
O professor é também um «recurso» de apoio à superação de dificuldades (Gomes,
2001). Na observação 2-B, “a professora sugeriu ao Igor ela trabalhar com ele”, mas
muitas vezes são os próprios alunos que tomam a iniciativa e/ou são marcados no
seguimento da avaliação do PIT, no início da semana (Entrevista 2-B).
10.1. Perspetivas do professor
Neste modelo, como no-lo refere Sérgio Niza (1998a), “a ação educativa centra-
se no trabalho diferenciado de aprendizagem dos alunos e não no ensino simultâneo dos
professores” (p. 16). O modelo é denominado de sociocêntrico, por defender a “prática
democrática da gestão de conteúdos, das atividades, dos materiais, do tempo e dos
espaços se fazem em cooperação” (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 41).
O controlo deliberado do protagonismo do professor é determinante, neste
modelo, uma vez que permite que os alunos experimentem e desenvolvam, eles próprios,
competências de discurso e de gestão de sessões coletivas e, por outro lado, possibilita
que haja mais tempo para atividades concretas dos alunos (Niza, 1998a, 2000). Como
relembra González (2002), nesta organização social das aprendizagens joga-se “o
equilíbrio entre a não diretividade e a diretividade”, instituindo “uma organização
477
democrática que permite ao professor uma visão mais ampla e equilibrada da realidade e
o respeito pelos diferentes ritmos e os estilos de aprendizagem” (p.109).
10.2. Perspetiva de Pedagogia Diferenciada
Quando questionada acerca do que entende ser a Pedagogia Diferenciada, a
professora B respondeu-nos que “, tem sobretudo a ver com a criação de um sistema, com
encontrar uma forma de todos terem lugar, ou seja, cada criança, independentemente das
suas características e de acordo com a sua individualidade, consegue ter o seu espaço no
grupo, consegue evoluir dentro das suas necessidades. E, ao mesmo tempo, há um
trabalho que todo o grupo faz, para integrar cada um. Para mim, a diferenciação tem
sobretudo a ver com isto” (Entrevista 3-B).
O modelo do Movimento da Escola Moderna “é um modelo de diferenciação. Pelo
menos esforçamo-nos por isso. O facto de cada um ter o seu próprio plano de trabalho,
que elabora semanalmente, cada um vai evoluindo dentro do seu padrão de
desenvolvimento, ou seja, não há um bom número de trabalhos nem um objetivo igual
para todos. Cada um, dentro do trabalho que vai fazendo, tem o objetivo de progredir para
o currículo que esse é o mesmo para toda a gente” (Entrevista 3-B). O Plano Individual
de Trabalho, “mas também o Diário de Turma, a forma como cada um vai expressando
as suas dificuldades, a sua socialização, pode ir crescendo com os outros, no grupo, na
forma como pode ir falando, expressando as suas opiniões, criando o seu próprio espaço
e, ao mesmo tempo, respeitando as normas que são do grupo todo. Acho que
478
especialmente o Plano Individual de Turma e o Diário de Turma são os principais
mecanismos de diferenciação” (Entrevista 3-B).
A professora B considera que a Pedagogia Diferenciada “tem sobretudo a ver com
a criação de um sistema, (…) uma forma de todos terem lugar, ou seja, cada criança,
independentemente das suas características e de acordo com a sua individualidade,
consegue ter o seu espaço no grupo, consegue evoluir dentro das suas necessidades. E, ao
mesmo tempo, há um trabalho que todo o grupo faz, para integrar cada um” (Entrevista
3-B).
Considera que o modelo pedagógico do Movimento da Escola Moderna se
enquadra nas orientações da Pedagogia Diferenciada, porque defende a importância “de
cada um ter o seu próprio plano de trabalho, que elabora semanalmente, cada um vai
evoluindo dentro do seu padrão de desenvolvimento, ou seja, não há um bom número de
trabalhos nem um objetivo igual para todos” (Entrevista 3-B). Salienta a centralidade do
Plano Individual de Trabalho, como forma de incrementar o desenvolvimento máximo
das aprendizagens de cada aluno, diferenciando o conteúdo e o número de atividades
individuais. “Cada um, dentro do trabalho que vai fazendo, tem o objetivo de progredir
para o currículo que esse é o mesmo para toda a gente. Portanto, eu acho que o Plano
Individual de Trabalho, mas também o Diário de Turma, a forma como cada um vai
expressando as suas dificuldades, a sua socialização, pode ir crescendo com os outros, no
grupo, na forma como pode ir falando, expressando as suas opiniões, criando o seu
próprio espaço e, ao mesmo tempo, respeitando as normas que são do grupo todo. Acho
que especialmente o Plano Individual de Turma e o Diário de Turma são os principais
mecanismos de diferenciação” (Entrevista 3-B).
479
11. Trabalho Autónomo
É durante o tempo de estudo autónomo que cada aluno trabalha ao seu ritmo, de
acordo com os seus interesses, necessidades e face ao ponto em que se encontra no
currículo (Pinto, 2008). No modelo do MEM, o tempo de estudo autónomo (TEA) ou
tempo de trabalho autónomo (TTA) ocupa, pelo menos, uma hora diária, na agenda e
destina-se ao treino de capacidades e competências curriculares, ao estudo, à escrita de
textos e a leituras à escolha dos alunos (Grave-Resendes & Soares, 2002; Santana, 1999).
Também é um tempo rentabilizado com o apoio do professor aos alunos que
manifestam dificuldades em qualquer área do currículo, sem os desintegrar dos seus
companheiros nem do trabalho que se desenvolve na turma. Este apoio também pode ser
dado por um colega mais competente numa determinada área, ajudando um companheiro
numa tarefa específica, escrever um texto ou fazer uma ficha, por exemplo. Este trabalho
de cooperação, entre pares, faz parte dos seus planos individuais (Pinto, 2008).
No início da semana, cada aluno, em função das suas necessidades, ritmo e
interesses, livremente assiná-la no seu PIT os trabalhos que pensa realizar. Diariamente,
marca no seu PIT e nos registos coletivos as atividades realizadas.
De acordo com (Grave-Resendes & Soares, 2002 ), “criam-se condições para que
os alunos aprendam a respeitar o trabalho dos outros, a experimentar estratégias para
vencer as dificuldades e também recorrer à ajuda de companheiros e de toda a informação
disponível. Aprende-se a estudar, a ser autónomo e cooperante num clima de afetividade
que opõe a cooperação à competição” (p. 89).
A professora considera que “o momento de trabalho autónomo é o que possibilita
mais a diferenciação” (Entrevista 1-B), na medida em que possibilita “a cada criança fazer
480
aquilo de que precisa mais, não aquilo que o professor decidiu que todos deviam fazer.
Não precisam todos do mesmo” (Entrevista 1-B). Aliás, mesmo em relação ao número de
trabalhos. “Nem todos conseguem fazer o mesmo número de trabalhos. Por isso, é
possível todos irem ao seu ritmo e de acordo com as suas necessidades” (Entrevista 1-B).
Durante este tempo, é possível o professor “dar um apoio diferenciado a um aluno ou a
um par enquanto os outros meninos têm trabalho para fazer e sabem fazê-lo sozinhos”
(Entrevista 1-B). Se uma criança precisa mais de apoio numa revisão de texto, por
exemplo, a professora não faz “uma revisão igual com um menino que esteja num
determinado estádio do que faço com outro que esteja noutro” (Entrevista 1-B). No
Trabalho Autónomo, “podemos trabalhar com cada um e ver mais ou menos onde é que
eles estão” (Entrevista 1-B).
Também é importante perceber que o “Trabalho Autónomo ajuda a ter essa
consciência sobretudo acerca do «que consigo fazer num determinado tempo?» e, «nesse
tempo, que atividade me interessa mais fazer, para rentabilizar esse tempo de acordo com
as minhas dificuldades?»” (Entrevista 1-B). A professora considera que “ao longo do
tempo, eles vão tendo essa noção, vão conseguindo ajustar aquilo que planificam com
aquilo que conseguem fazer na realidade. Agora, em relação à consciência do que
precisam mais, eu acho que tem muito a ver com o papel do professor, ir vendo com eles,
ir registando, estar atento e ir marcando as dúvidas deles” (Entrevista 1-B). No verso da
folha do PIT também se avaliam os momentos coletivos e “eles analisam, a partir de um
tema que foi explorado que dúvidas é que tiveram e, depois, na planificação” (Entrevista
1-B) devem ser tidas em conta para o estudo durante o Tempo de Trabalho Autónomo.
481
Quando perguntámos à professora se considerava que o Trabalho Autónomo era
essencialmente individual, respondeu-nos que “embora seja trabalho autónomo, na
medida em que cada um tem o seu próprio plano, (…) não é um trabalho individualizante,
ou seja, não se espera que cada criança faça apenas o seu trabalho, como há tempos de
trabalharem em parcerias comigo ou com os colegas” (Entrevista 3-B). Há uma grande
diversidade de formas de trabalho. “A criança tem que cumprir o seu plano e, esse sim, é
um plano individual porque é feito à sua medida. Mas, nesse plano e no trabalho ao longo
da semana, vai trabalhando com outros. Portanto, não se prevê que trabalhe sempre
sozinho. A ideia não é essa. É trabalhar nas suas dificuldades, mas sempre com o apoio
do grupo. Por isso é que, depois, há sempre uma avaliação coletiva desse trabalho e toda
a planificação é feita com todos. Há sempre um acompanhamento do grupo a cada um,
diariamente e em todas as modalidades do trabalho. Portanto, é autónomo, mas não tem
que ser individual, embora possa haver momentos de trabalho individual” (Entrevista 3-
B).
11.1. Tempo de Trabalho Autónomo
O Tempo de Trabalho Autónomo é dedicado essencialmente a atividades de
consolidação, “é especialmente de treino” (Entrevista 2-B). Obviamente que também há
aprendizagens novas. “Surgem muitas ideias durante o tempo de Trabalho Autónomo,
não tenho dúvidas quanto a isso, mas é sobretudo um tempo de treino” (Entrevista 2-B).
Neste sentido, as atividades planeadas no PIT, procura-se “que sejam coisas de acordo
com o que cada um mais precisa, em função daquilo que se anda a trabalhar, das
482
dificuldades que teve nos temas do currículo, em função de outras dúvidas que tenham”
(Entrevista 2-B). Também há escrita de textos, treino dos algoritmos, resolução de
problemas, etc.; “são coisas transversais que eles vão ter que ir fazendo ao longo do ano”
(Entrevista 2-B). Mas, além disso, “o PIT tem umas linhas em branco em cada área, para
poderem escrever coisas que não fazem parte do enquadramento normal do plano mas
que, naquela semana, precisam de treinar mais” (Entrevista 2-B). Em suma, espera-se que
“o PIT seja o instrumento que os ajude, durante a semana, a trabalhar as necessidades que
surgem do trabalho coletivo, mas também do que eles vão fazendo” (Entrevista 2-B).
11.1.1. Planificação
A planificação do Tempo de Trabalho Autónomo advém da avaliação dos PIT
feita à sexta-feira. Na segunda-feira, faz-se a leitura da “avaliação que eles fizeram dos
PIT, para falarmos um bocadinho sobre isso. Logo a seguir, eles marcam, no outro plano,
as coisas com que se comprometerem nesse momento. Marcam logo para a semana toda”
(Entrevista 1-B). Mas, se um “aluno marca poucas coisas, por exemplo, e a meio da
semana já fez tudo (…) não quer dizer que a planificação não possa ser alterada. Surge
uma alteração durante a semana. Um aluno tem que fazer, com urgência, uma coisa que
não estava no plano, altera-se, desde que haja uma justificação para isso. Embora a
planificação seja feita à segunda, ela vai sendo revista ao longo da semana toda, ajustada
às necessidades” (Entrevista 1-B).
A planificação da semana, no PIT, tem em conta as necessidades de cada aluno.
“Suponhamos que há uma criança que tem mais dificuldade (…) na divisão, (…) tem que
marcar fichas de contas” (Entrevista 2-B). Tenta-se que cada um reflita sobre o que é que
483
precisa mais de fazer. “Se vai fazer fichas de contas, então, escreve logo que são de
divisão, porque é das de divisão que ele precisa” (idem). As crianças que não tenham
necessidades muito evidentes vão explorando os ficheiros livremente “mas, depois, os
ficheiros também têm regras. Por exemplo, o de contas tem uma sequência: de cinco em
cinco há uma ficha-teste que não tem autocorreção e que eles vêm corrigir comigo”
(Entrevista 2-B). O importante é “que eles escolham as coisas de acordo com as
capacidades que tenham, para também não andarem a fazer coisas que não sejam
necessárias” (Entrevista 2-B). O ficheiro de problemas também tem uma sequência, mas
é mais por séries, sendo no momento da nossa observação até mil. O “ficheiro das
metodomáticas tem mais a ver com competências de análise de tabelas, sistemas, lidar
com a Matemática, também está organizado por séries. A cor de laranja é mais fácil,
depois a outra. Eles tentam ir, mais ou menos, seguindo essa ordem” (Entrevista 2-B).
Tanto o de metodomáticas como o dos problemas, como “o ficheiro geral de Matemática
que tem vários temas da Matemática e também tem um índice, para os ajudar a escolher
os temas que precisam, têm autocorreção” (Entrevista 2-B). A professora antecipou-nos
que “não há muito aquele hábito de fazerem batota. Desde o início que foram habituados
a ver a utilidade do trabalho autónomo e, então, eles vão buscar a ficha para fazer, fazem
e, depois de fazerem, vão buscar a ficha autocorretiva e vêm como é que está. E, se houver
coisas que não percebam, eu também vou estando atenta, depois voltam a fazer com apoio
essa mesma ficha” (Entrevista 2-B).
11.1.2. Regras
484
As regras do Trabalho Autónomo foram definidas pela turma e estão afixadas na
sala de aula. “Eles já tinham uma boa consciência disso dos outros anos, combinámos,
por exemplo, que era importante variar as atividades. Não interessava muito repetir
atividades sem antes terem passado por todas as áreas curriculares. Combinámos que era
importante fazer muitas coisas, mas sem descurarem da apresentação, da identificação
dos trabalhos” (Entrevista 1-B). Também se definiram regras para assegurar que
trabalham naquilo que precisam. Por isso, devem “pegar nas avaliações que vamos
fazendo e marcar, em primeiro lugar, de acordo com essas necessidades” (Entrevista 1-
B). Apesar de não haver atividades obrigatórias, “eles sabem que há coisas que são
garantidamente mais importantes: escrever textos, trabalhar textos, resolver problemas.
Portanto, há coisas que são mais importantes. Se um aluno passa a tarde inteira, por
exemplo, a ler um livro, é claro que a leitura é importante, mas pode ler noutros
momentos. Aqui interessa rentabilizar no uso dos apoios que tem disponíveis e que não
tem em casa. Estamos sempre a insistir nessas coisas” (Entrevista 1-B).
Relativamente aos «registos de utilização dos ficheiros» e às linhas verticais, a
professora esclareceu que “a escola está organizada no sentido de os alunos levarem
trabalhos de casa em alguns dias da semana. Têm que ir uma hora para o Apoio ao Estudo
e, naquela hora, fazem os trabalhos” (Entrevista 2-B). Neste sentido, foi combinado “que
à terça-feira fazem coisas do manual de Matemática, à quarta-feira avançam no de Língua
Portuguesa. Noutros dias é variado. Embora possa ser alterado em cada uma das semanas”
(Entrevista 2-B).
485
Outra regra importante é “que não podem estar sem fazer nada, para passarem a
outra atividade” (Observação 1-B).
11.2. Ação do aluno sobre os conteúdos
É central no trabalho autónomo a possibilidade de fazer participar o aluno na
construção da sua própria aprendizagem, deixando-lhe a liberdade de se organizar no
desenvolvimento da(s) na(s) tarefa(s) escolar(es). O aluno pode agir sobre os conteúdos
e sobre os processos: o aluno pode propor assuntos ou dirigir a sua atenção para outros
temas que surjam no decurso do trabalho escolar; ele pode tomar a iniciativa e a
responsabilidade desde a preparação ao desenvolvimento do trabalho (Santana, 1999;
Pinto, 2008).
Logo na primeira observação, assistimos a um momento de trabalho autónomo.
Os alunos estavam a terminar a tarefa anterior e a professora diz-lhe “vão fazer o que foi
planeado de manhã para o trabalho autónomo” (Observação 1-B). Vasco e Diogo
levantam-se para fazerem o relatório da experiência, na mesa ao fundo. A Bruna vai para
o computador. Dois alunos vão buscar cartões à fábrica de histórias. Dois alunos vão
confirmar o que têm que fazer nos PITs. Depois, vão buscar fichas ao ficheiro de História.
Escolhem a ficha a fazer. O Gustavo está a produzir um texto (idem).
Noutra sessão, pudemos observar que os alunos “ vão junto do PIT para verem o
que vão fazer” (Observação 2-B, 3-B e 4-B). Depois, na segunda observação, o “Gustavo
e Diogo escolhem uma ficha de «operações» de Matemática e sentam-se na mesa ao fundo
da sala, a resolvê-la em conjunto. (…) Vasco e Henrique trabalham em conjunto o 2.º
486
capítulo de texto criado com recurso a cartões da fábrica de histórias. Rafael e Pedro leem
texto do manual e respondem a questionário. Bruna, Marta e Rodrigo fazem atividades
sobre características do reconto. Diogo levantou-se e foi buscar outra fixa para fazer.
Passados uns 3 min decide fazer ficha de Estudo do Meio” (Observação 2-B).
A rotina de os alunos irem consultar o PIT para verificarem que atividades se
tinham comprometido fazer está consolidada, segundo a nossa observação. Na terceira
observação, “A Marta vai consultar o seu PIT e escolher ficheiro (Ensino do Meio –
História). A atividade planificada no PIT tem uma X (cruz), ao ser concluída, o aluno
pinta a quadrícula em cima da cruz” (Observação 3-B).
11.3. Acompanhamento/Monitorização
O acompanhamento, para a professora desta turma, “depende dos dias. Eu hoje
não tinha nenhum apoio marcado. Estamos no início do ano. Não tinha nenhum apoio
específico para dar a nenhum aluno. Então, o trabalho é ir circulando, ver como estão a
fazer as coisas, ir tirando dúvidas pontualmente. É um trabalho mais geral” (Entrevista 1-
B). Mas, na maioria das vezes, tem sempre apoios marcados. “Por exemplo, um aluno
teve uma dificuldade a fazer uma ficha, então, na planificação marcamos logo esse apoio
para um determinado dia” (Entrevista 1-B). Mas, a professora monitoriza o trabalho dos
alunos: “como os PIT estão sempre ali na parede, eu procuro no final de cada Trabalho
Autónomo ir olhando e ver se as coisas estão equilibradas (…). Sempre que eles fazem
uma atividade eles marcam e dá para ver, mais ou menos, pela mancha se as coisas andam
a correr bem ou não. Se as coisas não estão a correr bem, eu tenho que chamar à atenção”
(Entrevista 1-B).
487
11.4. Avaliação
“Este ano quase todas as fichas são autocorretivas” (Entrevista 1-B). Além disso,
a professora todas as semanas leva os cadernos dos alunos para casa, para ver. “Se não
têm as coisas bem-feitas ou se há uma ficha que não está correta, eu aviso e voltam a
reformular. No caso dos ficheiros autocorretivos, eles corrigem logo, depois de fazerem
a ficha” (Entrevista 1-B). As fichas, para além de serem autocorretivas “têm um código.
Por exemplo, as de contas têm um código. Se falham só uma marcam uma bolinha verde,
se erram mais … Têm regras próprias, para fomentar a autonomia deles” (Entrevista 1-
B). À segunda-feira, “apresentam o seu plano, os colegas comentam, os comentários que
já estão feitos por escrito são lidos, para todos saberem. A pessoa assume o seu
compromisso e, normalmente, eu peço-lhes para dizerem, logo, mais ou menos quantos
trabalhos pretendem fazer naquela semana e marcarem logo, à frente de todos, os
trabalhos que eles consideram mais importantes, ou seja, aqueles que têm que fazer
mesmo eles marcam logo. Marcam com uma cor diferente. Depois, nós vamos aferindo
se eles respeitam ou não. Ou seja, embora seja cada um, com a nossa ajuda, a dizer o que
é que acha mais importante, eles assumem logo diante do grupo. Os colegas também se
vão apercebendo e se não estão a cumprir, eles avisam. As coisas são controladas em
grupo” (Entrevista 1-B).
Pedimos-lhe, no final do nosso estudo, que refletisse sobre a importância do
Trabalho Individual nas aprendizagens dos alunos, tendo-nos dito que “cada vez mais, as
488
crianças são diferentes e, sobretudo em termos de concentração e em termos das coisas
que já sabem, quando chegam à escola, a diversidade é cada vez maior. Então, parece-me
que, nos momentos coletivos, quando tudo é explicado pelo professor e, depois, não há
uma discussão disso, algumas crianças apropriam-se e outras não” (Entrevista 4-B).
Assim sendo, “o Trabalho Autónomo é, sobretudo, um tempo de treino e de
aperfeiçoamento que dá espaço para que cada um se consiga ir apropriando as coisas que
são trabalhadas em conjunto” (Entrevista 4-B). Se, por um lado, “há crianças que
precisam de muito mais tempo para aprender certo tipo de conteúdo e há outros que
precisam de mais tempo noutros e o contrário” (Entrevista 4-B), se tudo for em coletivo,
“centrado no professor, eles não teriam este espaço para se irem apropriando destas
mesmas coisas” (idem).
A Professora pensa que, acima de tudo, o Trabalho Autónomo é determinante na
consolidação dos conteúdos desenvolvidos. “Começam-se os temas, sistematizam-se os
temas em conjunto, mas depois tem que haver um tempo de estudo, de treino. Sobretudo,
eu acho que é nisso que é determinante” (Entrevista 4-B).
A Marta, no 5.º ano, disse considerar ter vantagens acrescidas em relação aos
restantes colegas “que não faziam no 1.º ciclo [e que] tiveram mais dificuldades. Por que
nós, com o Trabalho Autónomo, já estávamos habituados” (Anexo 59).
Confrontados os alunos, depois de estarem integrados no 5.º ano, fora do modelo
MEM, descreveram-nos que o tempo de Estudo Acompanhado funciona de forma
diferente: “primeiro escrevemos o sumário, depois fazemos fichas de Inglês e
Matemática. As professoras são de Inglês e de Matemática. E, às vezes, quando temos
testes, fazemos de Língua Portuguesa, de História..., de outras disciplinas, de Ciências”
489
(Anexos 59), não havendo diferenciação nem autonomia dos alunos, como vinham
habituados a ter. Na turma da Marta “o Estudo acompanhado, muitas vezes, é para
avançar nas matérias de Português e Matemática. Mas, quando fazemos resumos e assim,
como por exemplo, textos, penso que os meninos que não faziam no 1.º ciclo tiveram
mais dificuldades. Por que nós, com o Trabalho Autónomo, já estávamos habituados”
(Anexo 59).
O Bruno conclui que o Estudo Acompanhado, no 2.º ciclo, serve “para nos
prepararem para os testes” e que “agora, só os testes é que contam” (idem).
Já o Rodrigo considera, quando questionado se, no Estudo Acompanhado, utiliza
algumas estratégias que já usava no 1.º ciclo, diz-nos que é um tempo para se
organizarem. “As professoras levam e pedem para nós levarmos os cadernos das
disciplinas, quando vamos ter testes ou fazemos os trabalhos de casa. Às vezes
organizamo-nos. Dão-nos fichas para marcarmos os testes, os trabalhos de casa, as notas.
Ajudam-nos a organizar o estudo. Às vezes, como somos rápidos a fazer fichas, elas
levam sempre para fazermos, depois de estudarmos e fazermos os trabalhos de casa. E
isso ajuda-nos a estudar” (Anexo 59).
A Marta diz ter “pena que não haja uma agenda semanal, como no 1.º ciclo, em
que sabemos logo o que vamos fazer na semana” porque, no modelo MEM, tinham “o
tempo de trabalho autónomo e isso ajudou-nos a sabermos estudar e fazer os trabalhos
sozinhos” (Anexo 59).
11.5. Experiência de 4 alunos durante o Trabalho Individual
490
11.5.1. Planificação
Dos quatro alunos estudados de forma mais focada, de acordo com o explicitado
no capítulo relativo à Metodologia, no momento semanal de planeamento da semana,
apenas o aluno 3 não reviu a avaliação do PIT antes de proceder à planificação do Tempo
de Estudo Autónomo. Porém, nenhum dos quatro reviu as atividades realizadas
anteriormente, antes de iniciar a realização de novas atividades.
Na planificação das atividades, o aluno 2 foi o único que não registou o
compromisso de realizar atividades em quase todas as áreas, mas registou em áreas
diversificadas.
Nenhum deles previu que recursos viriam a utilizar nas atividades planeadas. Os
alunos 3 e 4 registaram o pedido de ajuda à professora durante um dos próximos
momentos de Estudo Autónomo.
Os quatro alunos planificaram as atividades individualmente. O aluno 3
acrescentou atividades, após a planificação e alterou as atividades inicialmente planeadas.
O aluno 4 não acrescentou atividades, mas fez uma alteração às atividades planeadas, no
decurso da semana.
Quando questionados acerca do porquê de escolherem as atividades, o aluno1
respondeu que “escolhi estas atividades, porque acho que são importantes. São coisas que
devemos aprender” (Anexo 58). Já o aluno 2 respondeu que “são as mais importantes
para mim, porque tenho mais dificuldades” (idem). O aluno 3 referiu ter escolhido
atividades por serem importantes e por gostar: “Eu gosto e, ainda por cima, é importante
para mim” (idem). Fez bastantes considerações e referiu, ainda, que “no Estudo do Meio
não costumo marcar muito porque eu estudo sempre e é a minha matéria preferida. Esta
491
semana marquei mais porque vamos fazer o teste” (idem). O aluno 4 também responde
que “são as atividades que preciso de fazer para melhorar” (idem).
Quando questionados acerca de como estão a pensar fazer as atividades,
designadamente em que ordem, os alunos 1 e 4 referem que vão começar com as que
consideram ser mais difíceis (idem). O aluno 2 pensou em deixar para o final as “três
coisas de que preciso mais” (idem).
Relativamente às áreas em que precisam de trabalhar mais e lhes perguntamos se
estão a escolher atividades dentro dessas áreas, as respostas são semelhantes, tendo todos
identificado em que áreas precisam mais de fazer atividades de treino e consolidação e
que estão a escolher tendo esse dado em consideração (idem).
Questionados acerca do cumprimento do PIT semanal, os quatro revelam que
estão a cumprir, respondendo de forma semelhante ao aluno 2 que diz claramente que
“está equilibrado o número de atividades com o meu ritmo” (idem).
No tocante à forma como aprenderam a planear, a executar e a avaliar o Plano
Individual de Trabalho, designadamente no que diz respeito às atividades do tempo de
Estudo Autónomo, o aluno 1 refere que “aprendemos a marcar as atividades de acordo
com as nossas dificuldades” e que “a professora foi-nos ajudando e os colegas diziam se
devíamos marcar mais ou menos trabalhos. Para avaliar, temos que ver se fizemos os
trabalhos todos. O aluno 2 também se refere à relação do PIT com “as coisas que tinha
mais dificuldades” e à avaliação “se fizemos ou não aquilo que nos propusemos” (idem).
É unânime, entre os quatro alunos, a perceção de que “agora já sei melhor que
trabalhos posso escolher, para conseguir cumprir o PIT”, refere, a título de exemplo o
aluno 4 (idem). Por outro lado, o fator tempo também é referido pelos alunos 2 e 3 que,
492
respetivamente, referem que “agora já sei escolher melhor as atividades que consigo
cumprir no tempo que temos” e “já sei mais coisas e já consigo despachar-me mais
rapidamente” (idem), respetivamente.
11.5.2. Execução
Durante os momentos de Tempo de Estudo Autónomo, os quatro alunos
realizaram atividades das planificadas e observam o registo de planificação (o Plano
Individual de Trabalho) antes de iniciarem cada nova atividade, à exceção do aluno 3 que
das atividades realizadas, iniciou uma sem antes ter consultado o registo de planificação.
Relativamente à preparação dos materiais necessários à realização da atividade,
antes do seu início, os alunos 1 e 4 apenas o fizeram uma vez, tendo em duas atividades
necessitado de materiais que não tinham preparado previamente, quando já estavam em
fase de execução.
Os quatro alunos mantém globalmente o local de trabalho organizado.
Os alunos 1 e 4 distraíram-se com outros colegas 1 vez em 3 das atividades por
nós acompanhadas, tendo-se alheado das suas atividades. Apenas o aluno 2 saiu do seu
lugar uma vez e apenas o aluno 1 interpelou a professora sem se ter inscrito para apoio
durante o tempo de Estudo Autónomo.
Os quatro alunos assinalaram a realização de cada uma das atividades,
imediatamente após a sua conclusão.
Os alunos 1, 3 e 4 realizaram 1 terço das atividades individualmente e 2 terços das
atividades a pares. O aluno 2 realizou metade individualmente e metade a pares.
493
Questionados durante a realização de atividades no tempo de Estudo Autónomo,
o aluno 2 disse ter começado por fazer problemas de matemática “porque tenho algumas
dúvidas nos problemas” (Anexo 58), enquanto o aluno 2 começou pela revisão de textos
com o apoio de outro colega “para despachar” (idem) e o aluno 3 refere que, tratando-se
de uma atividade com outro colega, “tínhamos de estar disponíveis os dois” (idem). Já o
aluno 4 começou por fazer uma ficha sobre o Ciclo da Água, porque “tinha marcado apoio
com a professora” (idem).
Quando lhes perguntamos porque iniciam por determinada atividade, o aluno 1
responde que costuma “começar com problemas” (idem), enquanto os alunos 2 e 3
habitualmente iniciam com as “atividades mais fáceis” (idem) e o aluno 4 pelo que “é
mais importante” (idem).
Relativamente à perceção acerca de estarem ou não a fazer bem a atividade, as
respostas vão desde o aluno 1 que diz estar a “ler as coisas com atenção. Penso como é
que será. Já fiz outros parecidos” ao aluno 4 que vai perguntando à professora, passando
pelos alunos 2 e 3 que, estando a trabalhar em conjunto referem que só têm a certeza
“quando a professora corrigir” (idem).
Relativamente ao cumprimento do plano, apenas o aluno 3 considera que não vai
conseguir cumprir porque “tenho andado ocupado com outras coisas. Esta semana, ainda
fiz poucos”. Os restantes estão seguros de que vão conseguir cumprir plenamente.
A dificuldade do cumprimento do planeado para o tempo de Estudo Autónomo é
sentida pelos quatro: “os trabalhos são difíceis”, diz o aluno 1; “há atividades que
demoram tempo”, diz o aluno 2; “porque tenho dificuldades” diz o aluno 4. E também é
494
unânime a segurança sentida de que, perante as dificuldades pedem ajuda “à professora
ou aos colegas”, como refere o aluno 3. Apenas o aluno 2 confessa que, se ti ver
dificuldades, “apago tudo e mudo de atividade”.
11.5.3. Avaliação
Os quatro alunos preencheram a avaliação global, no final da semana, no momento
a esse fim destinado, tendo justificado a sua avaliação e, de seguida, pediram a um colega
que opinasse, por escrito, a respeito do seu trabalho. Nenhum dos quatro refletiu sobre o
que aprendeu e não referiram o que pretendiam melhorar na semana seguinte. No
Conselho de Cooperação justificaram oralmente as suas avaliações, apelando a critérios
pré-estabelecidos pela turma e aceitando as críticas e/ou sugestões de colegas e
professora. Também participaram na avaliação dos colegas e a sua autoavaliação foi
confirmada pela heteroavaliação coletiva.
Os quatro alunos, na fase de avaliação, consideram que se avaliam “bem, porque
cumpri o PIT” (alunos 1, 2 e 4) e “aproveitei o tempo” (aluno 1). O aluno 3 considera que
trabalhou bem porque cumpriu mas, por outro lado, trabalhou “mal porque tive que levar
trabalhos para casa, para conseguir fazer tudo” (Anexo 58).
Quando perguntamos se mudariam alguma coisa no planeamento, se fosse
possível voltar ao início da semana, o aluno 1 “não mudava nada”, o aluno 2 diz que
retirava “uma leitura e punha mais um texto” e, no seu desempenho mudava a conversa,
fazendo “menos conversa”. O aluno 3 disse que teria posto menos apoios aos colegas e
495
“conversava menos”, enquanto o aluno 4 refere que “mudava os trabalhos, para trabalhar
noutras dificuldades” (idem).
Relativamente à avaliação pelos pares, o aluno 1 refere que “ajuda-me a marcar
mais atividades, fazem sugestões” e o aluno 2 destaca as sugestões dos colegas mesmo
quando “acham que estou a fazer mal, qualidades e vantagens disso. Pode ajudar-me a
melhor as minhas qualidades”. Apenas o aluno 2 que só pede para ser avaliado pelos
colegas por ser uma regra, “se não fosse, não pedia”.
Todos são unânimes em dizer que o Estudo Autónomo os ajuda, porque “ajuda-
me a aprender nas áreas em que tenho mais dúvidas” (aluno 1), “porque é uma
oportunidade para nós podermos aprender e podermos estar mais descansados sem estar
a trabalhar em coletivo” (aluno 2), para “treinarmos individualmente” (aluno 3) e para
“ultrapassar as minhas dificuldades. É útil para treinar nas áreas onde tenho dúvidas”
(aluno 4).
Semelhanças e diferenças entre os casos
1. O meio
As escolas das duas turmas situam-se em freguesias urbanas da periferia de
Lisboa: a turma A numa zona com maior incidência de vivendas, prédios de reduzida
dimensão e a proximidade de um bairro social; a turma B numa freguesia mais
densamente povoada. Na área circundante, em ambos os casos, existem os serviços de
referência de freguesias urbanas atuais.
496
2. As Escolas
As duas escolas tinham dimensões semelhantes, embora a turma A funcionasse
num estabelecimento de ensino que também tinha a valência de Educação Pré-Escolar.
Em ambas as situações, o corpo docente era jovem, não havendo casos de professores
com menos de um ano de serviço no estabelecimento.
Na turma B, a professora sentia-se mais apoiada pelas colegas, na implementação
do modelo, porque todas conheciam e implementavam o modelo do Movimento da Escola
Moderna, havendo partilha e entreajuda.
3. As turmas
Com dimensões semelhantes: a turma A com doze alunos de 9 anos de idade, dos
quais cinco são raparigas e seis são rapazes, e a turma B com doze alunos, dos quais duas
são raparigas e dez são rapazes, tendo todos os alunos, a 31 de dezembro do ano letivo
estudado, a idade de 9 anos.
As duas turmas eram bastante heterogéneas. Enquanto a turma A é “uma turma
heterogénea, no que concerne ao nível socioeconómico, ao tipo de estrutura familiar, às
aprendizagens prévias e até ao percurso escolar” (PCT-A, p. 5), a turma B “é um
bocadinho especial. Tem um grupo de alunos (…) que têm algumas dificuldades relativas
às atitudes e aos comportamentos depois, tem um grupo de alunos que, embora possa ter
algumas dificuldades de comportamento, mas que têm algumas dificuldades a nível de
aprendizagem” (Entrevista 1-B).
A turma A prefere o trabalho no âmbito da expressão Plástica e os alunos “são
muito virados, na maioria, para a Matemática e não tanto para a Língua Portuguesa”. Já
497
na turma B, “a generalidade do grupo tem uma boa funcionalidade escrita, para além de
ler e escrever por gosto e de forma significativa” (PCT-B, p. 5). Já no que diz respeito à
Matemática, “há um grupo de cinco alunos com um excelente raciocínio e cálculo mental,
que adquire e desenvolve facilmente as competências e objetivos propostos e que vão
sendo trabalhados. Esses alunos têm a Matemática como a sua área preferida e o gosto
coincide com as capacidades que revelam” (PCT-B, p. 6).
Por outro lado, na turma A, há um aluno que “tem espectro autista” (Entrevista 1-
A), mas que nunca esteve presente nas aulas que observámos e na turma B um aluno
“diagnosticado e medicado como hiperativo” (PCT-B, p. 4).
Nas duas turmas, analisados os registos individuais de avaliação (anexos, 36, 37,
62 e 63) constatamos que, organizando o trabalho da turma segundo modelos pedagógicos
diferentes, o desenvolvimento das competências dos alunos nas diferentes áreas
curriculares foi muito positivo, em termos globais, havendo referências neste sentido, nos
documentos de todos os alunos.
4. As Professoras
As duas professoras tinham menos do que 30 anos de idade e fizeram a sua
formação inicial na Escola Superior de Educação do Instituo Politécnico de Lisboa. Foi
na formação inicial que o interesse pelo modelo pedagógico que implementam surgiu. A
professora da turma A relembra que, na sua Licenciatura, “houve alguma abordagem a
diversos modelos, High/Scope, M.E.M., Waldorf, etc.” (entrevista final 1-A) e a
professora B diz que o estágio foi determinante para “perceber melhor como é que as
coisas funcionavam” (Entrevista 3-B).
498
Relativamente à formação contínua e atualização, a professora A faz formação
regularmente, quer através de ações de formação, quer mesmo através da plataforma de
e-learning. Recebe a revista da fundação High/Scope e acompanha a evolução do modelo.
A professora B tem estado sempre integrada nos grupos cooperativos do MEM,
participa habitualmente no Congresso Anual e, na sua escola, todas as colegas trabalham
neste modelo.
499
5. Organização do espaço
5.1. O Cenário Pedagógico
No Modelo High/Scope, o ambiente é fundamental para uma boa aprendizagem,
defendendo uma disposição e uso de mobiliário e equipamento em áreas de interesse
(«Leitura e Livros», «Matemática», «Ciências», «Artes», «Jogos e Construções» e
«Computadores»), claramente definidas (Fewson, 2008; Vogel, 2012). Estas áreas de
interesse são usadas de forma autónoma pelos alunos, durante o tempo do planear-fazer-
rever e permitem aos alunos localizar materiais, utilizá-los e recolocá-los no seu lugar,
para o uso dos companheiros (Fewson, 2008; Baqueiro, 2008).
O modelo do MEM defende que o material pedagógico deve ser organizado em
áreas de trabalho (Grave-Resendes & Soares, 2002), de maneira a que tudo o que se
relaciona com cada área curricular esteja acessível e ao alcance dos alunos, num
determinado espaço, devidamente identificado. Ao longo do percurso de aprendizagem
dos alunos, os recursos vão sendo adequados. Através desta organização do cenário
procura-se que este seja “estruturante e facilitador do acesso dos alunos a todos os
recursos de aprendizagem bem como aos instrumentos reguladores dos processos de
trabalho” (Santana, 1999, p. 117).
Os modelos são semelhantes nesta questão, defendendo a organização em «áreas
de interesse» (High/Scope) ou «áreas de trabalho», em qualquer dos casos bem definidas
e com recursos para utilização associada às diferentes áreas curriculares. A subtil
diferença está no modelo do Movimento da Escola Moderna que sublinha a pertinência
500
de dispor, no cenário pedagógico, os “instrumentos reguladores dos processos de
trabalho” (Santana, 1999, p. 117). Facto que foi observado na sala da turma B.
5.1.1. A Sala de Aula
As salas de aula das duas turmas estudadas estavam organizadas, de acordo com
os modelos pedagógicos, em áreas e com recursos diversificados.
Nas duas turmas, as mesas de trabalho dos alunos estavam no centro sala. A sala
da turma A era mais espaçosa, possibilitando disposições diferentes das mesas e do
mobiliário. A sala da turma B, devido à sua reduzida dimensão, implicava sempre que as
mesas estivessem agrupadas no centro da sala.
Nas duas salas havia trabalhos de alunos e instrumentos de pilotagem afixados.
Na sala B de forma muito abundante, praticamente não havendo espaços vazios, com
placards dedicados a cada área de trabalho e aos diversos instrumentos de pilotagem.
Preenchemos a lista de controlo das características físicas da sala de aula
(adaptação de Wang, Margaret, 1995) e, nas duas situações, os resultados foram muito
positivos, podendo considerar-se que cumprem os princípios subjacentes à Pedagogia
Diferenciada, nesta matéria.
Relativamente à sala da turma A, preenchemos, ainda, a lista de verificação sobre
«o respeito pela diversidade» da publicação “Ready School” (anexo 39), desenvolvida
pela Fundação High/Scope, para aferição do nível de implementação do modelo neste
domínio. Os resultados também foram muito positivos, verificando-se que cumpre a
501
esmagadora maioria dos princípios aí enunciados para o «respeito pela diversidade», na
organização do cenário pedagógico.
Para a turma B, preenchemos a lista de verificação do uso do modelo MEM no 1.º
ciclo, proposta por Luís Mestre (2001) e, no tocante ao subtópico «espaço e materiais»,
verificámos que se cumpriam totalmente os tópicos de verificação aí anunciados.
5.1.2. Cantos e áreas
Nos modelos High/Scope e do Movimento da Escola Moderna é defendida a
organização da sala de aula, como referimos, em cantos e áreas.
Na sala da turma A, pudemos encontrar as áreas «leitura e livros»
(cumulativamente espaço da rotina de acolhimento), «matemática», «ciências»,
«expressão plástica», «computadores» e «jogos e construções».
Na turma B, para além do espaço dos ficheiros e respetivos instrumentos de
pilotagem, existia um espaço destinado ao material cooperativo, a área da leitura (onde
se encontra a biblioteca da turma), a área do Computador, a área da Pintura e da Expressão
Plástica e a área de materiais Matemáticos e para Experiências.
Na sala do modelo High/Scope, a área «livros e leituras» é também o espaço da
rotina de acolhimento, no início das atividades, e o espaço de transição entre atividades.
Nas diversas observações, os alunos, quando chegam á sala, dirigem-se para esta área, até
502
que se inicie alguma atividade. Também na transição entre atividades e para as fases de
«planear» e de «rever» do tempo de Trabalho Individual esta área é usada.
A utilização diária dos recursos das diversas áreas é uma prática central, nos dois
modelos estudados: no High/Scope, no tempo de Trabalho Individual, e, no modelo do
Movimento da escola Moderna, no tempo de Trabalho Autónomo.
5.1.3. Regras
Também em ambos os modelos existem regras para a utilização das áreas. Porém,
no modelo do Movimento da Escola Moderna há mais e mais claras regras, construídas e
sistematicamente atualizadas pela turma (Observação 1-B). Neste modelo, há
instrumentos de registo das atividades feitas em cada área, desde logo no Plano Individual
de Trabalho, mas também nos instrumento de pilotagem existentes em cada área. As
regras são consideradas uma espécie de contrato e a sua violação é considerada uma falta
de respeito pelo grupo, na medida em que foram definidas e aceites por todos (Observação
3-B).
No modelo High/Scope as regras prendem-se mais com a rotatividade da
utilização, que é assegurada na planificação da semana, ao decidir-se para que área vai
cada aluno em cada dia da semana. Uma outra importante regra é a que se relaciona com
a obrigatoriedade de deixar a área usada limpa e arrumada (Observação 1-A; 2-A; 3-A).
5.1.4. Recursos e materiais
503
Em ambas as salas de aula, os recursos foram atualizados, ao longo do ano letivo,
os recursos foram sendo acrescentados e atualizados em função dos conteúdos
desenvolvidos. Os recursos são mais complexos e variados na turma B, com a
disponibilização de ficheiros de níveis de dificuldade diversos, autocorretivos e em todas
as áreas.
5.1.5. Instrumentos de pilotagem
Na turma A há um registo coletivo das áreas planeadas para cada criança. Na
Imagem 5 – Instrumentos de Pilotagem (Registo semanal de distribuição dos alunos pelas
diferentes áreas, durante o tempo de Trabalho Individual) – pudemos verificar que se trata
de uma grelha bastante simples onde se pode verificar a distribuição planeada dos alunos
pelas diversas áreas, ao longo da semana. É um instrumento que visa assegurar a
“rotatividade, ou seja, de todos passarem por todas as áreas e também de não estarem
todos a trabalhar nas mesmas áreas” (entrevista 2-A). Quem faz a marcação na tabela é a
professora.
Outro instrumento utilizado pela professora A é uma tabela de avaliação dos
comportamentos e atitudes (observação 3, por exemplo): uma tabela de duas entradas.
Todos os dias é colocada uma marca (bolinha). “Cada aluno diz se fez, mais-ou-menos
ou não e a professora marca com verde, amarelo ou vermelho, respetivamente”
(observação 3).
No modelo High/Scope foram desenvolvidos dois instrumentos de avaliação: o
COR (“Pré Child Observation Record”), através do qual se avalia a criança através do
504
registo das observações de experiências-chave; e o PIP (“Projeto de Implementação do
Programa”) que permite observar, avaliar e verificar a exequibilidade da eficácia do
projeto dentro da sala.
No modelo do Movimento da Escola Moderna, são mais e mais complexo os
instrumentos de pilotagem, porque se considera que são os instrumentos de apoio e de
pilotagem que permitem o registo e organização cooperada do trabalho (Grave-Resendes
& Soares, 2002; Santana, 1999). Na turma B, verificámos a utilização dos seguintes
instrumentos de pilotagem: a Agenda Semanal, o Plano de Trabalho diário e semanal, o
Mapa de Projetos, os Mapas de Desenvolvimento Curricular, de tarefas e de presenças,
bem como o Diário de Turma e o Calendário.
505
6. Organização das atividades
6.1. Agenda / Rotinas
Um conjunto de rotinas que devem fazer parte da organização diária das atividades
com a turma é proposto pelo modelo High/Scope (Epstein, 2003). Estes acontecimentos
previsíveis, planeados pelo professor, constantes e estáveis, são um ponto essencial para
a segurança e a independência da criança. Para Oliveira-Formosinho (2007), “não dita a
atividade da criança, mas organiza-lhe o dia, procurando fazer emergir a iniciativa da
criança, pedindo-lhe que determine as suas metas, que lhe dê continuidade e que reflita
sobre elas nos vários tempos em que se divide” (p. 60).
Para a professora A, a rotina é fundamentalmente diária. “Todos os dias, digo-lhes
que atividades iremos fazer dentro de cada área e, no final do dia, fazemos um balanço
disso” (Entrevista 1-A).
“Todos os dias, à medida que os alunos chegam, sentam-se no tapete, na «Área
da Leitura dos Livros», onde, enquanto esperam que todos cheguem, há conversas
informais, entre eles. É o denominado «Tempo de Acolhimento»” (Entrevista 2-A).
De seguida cumpre-se a agenda semanal. “Em função dessa agenda semanal,
vamos trabalhar. À exceção da segunda-feira que começa com atividades de Expressão
Físico-Motora, iniciamos sempre com Língua Portuguesa. Cerca de uma hora. Depois,
trabalhamos sempre Matemática” (Entrevista 2-A). Segue-se a pausa para uma refeição
ligeira e o tempo de exterior.
De volta à sala, a mesma rotina. “Os alunos sentam-se no tapete e acalmam-se.
Normalmente ainda vêm com assuntos do tempo de exterior. Ora, é preciso trazer a
506
serenidade ao grupo e fazer a transição ao momento seguinte. Na nossa agenda semanal,
temos, uns dias mais 30 minutos para se concluírem as atividades de Matemática ou 45
minutos para Inglês” (Entrevista 2-A). Antes do almoço, há sempre 30 minutinhos para a
Biblioteca, para a leitura silenciosa, a pares ou para o grande grupo.
Regressados do almoço e tempo de exterior, a mesma rotina de «Tempo de
Acolhimento» e, depois, Estudo do Meio, Expressão Dramática ou Expressão Plástica.
Os últimos 45 minutos de todos os dias, são dedicados ao Trabalho Individual,
normalmente chamado de «Planear-fazer-rever».
No modelo do Movimento da Escola Moderna, procura-se “envolver os alunos no
seu percurso de aprendizagem, no sentido da aquisição de uma gradual tomada de
consciência do ponto em que se encontram e do que precisam de fazer para poderem
avançar no currículo” (Santana, 1999, p. 117). Neste sentido, a turma tem uma agenda
semanal, construída e sucessivamente atualizada com os alunos. “É o instrumento central
da planificação e regulação semanais do trabalho. Nela estão incluídos de forma interativa
momentos de natureza diversa. Há momentos de trabalho autónomo, outros
especialmente destinados à consecução de projetos; alguns momentos coletivos de
abordagem a temas curriculares mais específicos, outros destinados à comunicação, quer
escrita, quer oral; alguns tempos mais centrados na leitura e, por fim, momentos
específicos de avaliação e regulação das aprendizagens curriculares e sociais” (PCT-B,
p. 16).
507
Nas duas turmas existe uma agenda semanal, mas enquanto na turma A esta é
«imposta» pela professora, bem como todas as atividades que a integram, na turma B, a
agenda é construída e atualizada pelos alunos. Diariamente, a turma do modelo do MEM
faz o plano diário, no início da manhã, e a sua avaliação, no final das atividades letivas.
As atividades que se vão realizar resultam das necessidades, propostas e consenso da
turma, em concordância com o proposto pelo modelo do MEM (Grave-Resendes; Gomes,
2011; Pinto, 2008; Santana, 1999), o que evidencia a grande diferença face ao modelo
High/Scope que coloca a tónica no professor que prepara e apresenta à turma atividades
na perspetiva de «tarefas de aceleração» do desenvolvimento dos alunos. No modelo
High/Scope, é o professor que planifica a agenda diária (Fewson, 2008), integrando as
experiências-chave (Gainsley, 2008).
6.2. Planificação
Na nossa observação da turma A, apenas verificámos a planificação da semana,
em coletivo, no momento final da realização da Assembleia de Turma, nas sextas-feiras,
à tarde, ao serem decididas as áreas para que cada aluno iria, durante o tempo de Trabalho
Individual, em cada dia da semana seguinte. Os alunos não são envolvidos na planificação
das restantes atividades da semana.
A primeira fase do Trabalho Individual é o «planear» mas, de acordo com o que
observámos, essa planificação foi sempre individual e mental, não havendo registos nem
partilha desse processo, ao contrário do proposto por Fewson (2008).
508
Na turma B, com o modelo do Movimento da Escola Moderna, “os assuntos a
serem trabalhados nos diversos tempos são sempre combinados pelo grupo no Conselho
de segunda-feira (Planificação Semanal)” (PCT-B, p. 18). Depois, todos os dias de
manhã, “é lido pelos presidentes e escrito no caderno por todos o plano de trabalho para
esse dia (…). É também neste momento que se planificam algumas atividades concretas”
(PCT-B, p. 19). Também se fazem algumas alterações, “dado que a Agenda Semanal não
existe para escravizar o trabalho, mas sim para o estruturar” (PCT-B, p. 19).
Os apoios individualizados, pela professora ou entre pares, também são marcados
em função da avaliação do trabalho, no Conselho de Cooperação.
6.3. Desenvolvimento
A professora A lidera a proposta e orientação do desenvolvimento das atividades
da turma, nas diversas áreas curriculares. No Trabalho Individual, vai circulando pela
sala, para apoiar os alunos. “No início do Trabalho Individual, eu informo um ou dois
alunos de que temos que trabalhar em conjunto, porque é necessário um apoio claro e
individualizado em determinada área” (Entrevista 1-A). Este apoio nunca foi combinado
previamente com a turma e, mesmo quando era requisitado por algum aluno, não existia
um momento específico para tal acontecer. Surgia habitualmente por proposta da
professora ou, eventualmente, por necessidade imediata do aluno.
No modelo do MEM, que estudámos em ação na turma B, o Plano Individual de
Trabalho (PIT) é um instrumento de controlo e regulação das atividades individuais,
durante a semana, de acordo com o seu ritmo, os seus interesses e as suas necessidades
509
(Pinto, 2008). Funciona como uma espécie de contrato assumido por cada aluno com a
turma (Niza, 1998a; 2000). No PIT, são registados os compromissos de trabalho/estudo,
durante a semana, e é lá que cada aluno vai fazendo o registo de todas as atividades
realizadas.
6.4. Avaliação
O modelo High/Scope considera que o aluno ativo aprende melhor a partir das
atividades que planeia, desenvolve e sobre as quais reflete (Epstein, 2003). Na turma A,
os alunos só são convidados a avaliar, no momento «rever» do Trabalho individual
(«planear-fazer-rever») e, no final da semana, quando têm a oportunidade de dizer o que
gostaram mais e menos.
A professora aproveitou o momento imediatamente a seguir ao «rever», para
fazer, com os alunos, a avaliação das atitudes e do comportamento individuais, relativos
ao dia.
A docente, por sua vez, faz um registo diário de notas ilustrativas, de acordo com
o defendido pelo modelo High/Scope, baseando-se naquilo que veem e ouvem quando
observam as crianças, tomando nota de episódios importantes acerca do desenvolvimento
das crianças (Epstein, 2003; Fax, 2005; Guerreiro, 2006).
Na turma do modelo do Movimento da Escola Moderna, todos os dias os alunos
são convidados a fazer avaliação: o presidente lê o Plano do Dia (PCT-B, p. 20) e os
alunos fazem a avaliação do dia. No caso de haver necessidade de reagendar algumas das
510
atividades, por o tempo não ter sido suficiente, por terem despoletado dúvidas, etc., são
tomadas as respetivas decisões. Há, depois, um tempo de partilha oral e podem “pedir a
ajuda do grupo para resolverem” (PCT-B, p. 20) situações diversas.
À segunda-feira também é partilhada com a turma a avaliação dos PIT, com o
“intuito de regular o trabalho do grupo e de cada aluno” (PCT-B, p. 20), no seguimento
da avaliação da semana, feita “preenchendo nos seus PIT os espaços relativos à
autoavaliação” (idem) e heteroavaliação.
A planificação do trabalho para a semana é baseada neste processo avaliativo feito
sempre em cooperação.
Regularmente, também fazem a avaliação e o preenchimento do Mapa de
Desenvolvimento Curricular, fazendo um ponto da situação de cada aluno face ao
desenvolvimento de cada um dos conteúdos.
É notória, neste ponto, a diferença entre os dois modelos. O modelo do Movimento
da Escola Moderna concebe muito mais a avaliação como um instrumento regulador da
aprendizagem, envolvendo os alunos na sua avaliação e na da dos colegas (Pinto, 2008;
Santana, 1999). A avaliação é um elemento fundamental para que cada aluno se situe face
ao que é esperado pelo currículo e também é fundamental para a planificação do trabalho
seguinte, pela turma. Ao invés do modelo High/Scope que entende a avaliação mais como
uma forma de recolher elementos para o professor adequar o seu trabalho às necessidades
dos alunos, sem que estes sejam muito envolvidos nesse processo (Epstein, 2003; Fox,
2005; Guerreiro, 2006; Withrell, 2005).
511
6.5. Assembleia / Conselho
Apesar de não termos encontrado, na bibliografia sobre o modelo High/Scope,
referência a uma rotina semanal de Assembleia de Alunos, a professora implementou-a
na turma A. É uma assembleia simples, não sendo feito nenhum registo prévio, no
decorrer ou posteriormente à sessão da Assembleia.
O aluno com funções presidente na semana dá início à sessão, perguntando aluno
a aluno o que gostou mais na semana de aulas e, depois, não gostaram. Na parte final da
Assembleia, faz-se também a avaliação do cumprimento das tarefas. De seguida,
sorteiam-se as tarefas para a semana seguinte, com os nomes das tarefas dentro de uma
bolsa, que são retirados por cada aluno.
No modelo do MEM, o Conselho de Cooperação é constituído por alunos e
professor (Grave-Resendes & Soares, 2002) que se organizam para “discutir/ avaliar/
planificar assuntos da turma” (PCT-B, p. 20). Diariamente fazem a planificação e o
balanço das atividades do dia. O “Conselho Cooperativo Semanal, (…) todas as sextas-
feiras à tarde, prolongando-se pela manhã da segunda-feira seguinte” (PCT-B, p. 20), visa
a avaliação e planificação semanal. Para além de ser uma oportunidade de regulação das
relações na turma, é uma excelente estratégia de promoção de vivências de participação
democrática.
No modelo do MEM, o Conselho é mais organizado e funciona diariamente para
preparar e avaliar as atividades. Semanalmente, os trabalhos são conduzidos por dois
presidentes (alunos), um que escreve a ata e outro que preside os trabalhos. As sessões
512
começam com a leitura da ata da sessão anterior, seguindo-se a avaliação dos PIT, a
leitura do Diário de Turma e respetiva discussão dos assuntos lá partilhados, é feita a
preparação da semana seguinte. As deliberações tomadas por consenso são verdadeiros
contratos entre os alunos, devendo todos respeitá-las.
As perspetivas são diferentes. No High/Scope não se aposta tanto no sentido
cooperativo, como no modelo do Movimento da Escola Moderna. Naquele, os alunos são
convidados a exprimirem-se sobre o que gostaram ou não, não havendo grande
interferência do grupo, nem discussão ou decisões coletivas. As tarefas são sorteadas e as
áreas em que cada aluno irá trabalhar também são definidas, sem que se tenha em
consideração a avaliação feita e, no seguimento, as necessidades formativas dos alunos.
Esta perspetiva é bastante diferente da do Movimento da Escola Moderna. Também neste,
é um momento formal, havendo um registo dos temas e das conclusões do coletivo, para
além de os trabalhos serem conduzidos por alunos e estarem organizados no espaço de
forma a todos verem todos.
6.6. Organização e distribuição das atividades
Verificámos que, na turma A, as atividades se organizavam enquadradas numa
rotina diária consistente e estável que contempla os tempos de acolhimento, de planear-
fazer-rever, em pequeno-grupo, em grande grupo, de exterior, transições, etc., de acordo
com o preconizado pelo modelo High/Scope (Esptein, 2003; Fewson, 2008).
A maioria das atividades semanais é liderada pela professora, que as prepara e
conduz, potenciando o trabalho individual, a pares, pequenos grupos e turma. No tempo
513
do Trabalho Individual, os alunos decidem o que fazer dentro da área que lhe estava
previamente definida, sendo essencialmente trabalho individual e, pontualmente, de
pequeno grupo.
Na turma B, todas as atividades decorrem das propostas discutidas em turma,
muito embora se baseiem no currículo explícito e do conhecimento da turma. A turma é
soberana na decisão da agenda, no planeamento e na avaliação dos planos semanais e
diários.
Os pensadores que defendem a aprendizagem como ato social chamam à turma
«comunidade de aprendizagem», reconhecendo que o ato de aprender é um processo
social e interativo (Cros, 2000). Tentando espelhar a realidade social e proporcionar
ambientes de aprendizagem democráticos (Dewey, 1979), a organização das atividades
implica o máximo envolvimento dos alunos.
6.6.1. Gestão cooperada
Na turma A não observámos práticas consolidadas de gestão cooperada das
atividades da turma.
Na turma B, porque o modelo do MEM é sociocêntrico de organização
cooperativa (Grave-Resendes & Soares, 2002; Niza, 1998a, 2000), as opções de gestão
da agenda da turma resultam sempre das deliberações do Conselho semanal e diário,
adequando-se às necessidades, interesses e ritmos da turma. Não é a professora que decide
514
unilateralmente as atividades que a turma vai realizar. A organização e distribuição das
atividades resultam sempre da ponderação da turma. A regulação cooperada das
atividades é, neste modelo, assegurada através do Conselho de Cooperação Educativa
(Grave-Resendes & Soares, 2002) que é o espaço próprio onde são negociados,
construídos e adequados a Agenda da Turma, os Planos Diários, os instrumentos de
pilotagem do trabalho, os Planos Individuais de Trabalho, as regras da turma, etc.
6.6.2. As tarefas
Nas duas turmas estudadas, os alunos têm tarefas a desempenhar, durante cada
semana. Na turma A realiza-se o sorteio das tarefas, pelos alunos, no último dia da
semana, no final da Assembleia. As tarefas são diversas e vão do «presidente» que é quem
conduz os trabalhos da Assembleia, à responsabilidade por arrumar cada uma das áreas
ou assegurar que não ficam papéis espalhados pelo chão ao final do dia.
Na turma B, as tarefas fazem parte da estratégia de gestão cooperada da atividade
da turma. Nesta perspetiva de trabalho democrático, a partilha de tarefas e
responsabilidades entre os alunos visa a formação cívica.
A avaliação do desempenho das tarefas individuais é feita semanalmente, nas duas
turmas, na Assembleia ou no Conselho, na turma A e na turma B, respetivamente.
6.6.3. Trabalho Individual
515
Para além do tempo chamado de Trabalho Individual (o tempo de planear-fazer-
rever), as atividades dos alunos podem desenvolver-se de forma individual. Foi frequente
o recurso a esta forma de organizar as atividades, na turma A.
Na turma B, o tempo de Trabalho Autónomo é, muitas vezes, um trabalho
individual. Também durante outros momentos, sobretudo quando o esperado é a
consolidação de algum conteúdo, há recurso à organização do trabalho na forma
individual.
6.6.4. Pequeno Grupo
No modelo High/Scope defende-se a realização de atividades em pequenos
grupos, para experiências com materiais e para resolução de problemas (Epstein, 2009b;
Fewson, 2008; Mitchell, 2008). Assistimos a algumas atividades em pequeno grupo (ver,
por exemplo, observações 2-A e 6-A).
Um dos momentos de trabalho em pequeno grupo foi na realização de projetos.
O recurso a esta forma de trabalho – pequeno grupo – é uma constante no modelo
do MEM, desde o trabalho de projeto, à construção e enriquecimento de texto, passando
mesmo pelo apoio entre pares e pela realização de atividades em pequeno grupo, mesmo
durante o tempo de Trabalho Autónomo (por exemplo, na realização de experiências).
6.6.5. Grande Grupo - Turma
516
A iniciação de conteúdos nas diversas áreas, bem assim como as atividades no
âmbito das Expressões, na turma A, foram essencialmente realizadas em grande grupo,
com a liderança da professora.
Há momentos de atividades em grande grupo, na turma B, sobretudo nas
Expressões e em Língua Portuguesa e Matemática, na construção de
conclusões/sistematizações coletivas (ver exemplos nas observações 2-B e 3-B). Como
modelo sociocêntrico de organização cooperativa, está de acordo com o Currículo
Nacional do Ensino Básico que refere ser fundamental “criar condições para que o aluno
possa cooperar de forma produtiva, na realização de tarefas em grupos” (2001, p. 54).
6.7. Ritmos de Trabalho e Estilos de Aprendizagem
Na turma A, a professora considerou que “cada um deles [alunos] executa
atividades dentro dos seus interesses e das suas dificuldades” (Entrevista 1-A). A
consciência das suas dificuldades “é algo que cada um deles sai construindo
individualmente e com a minha ajuda” (idem). Ao realizarem as atividades, “eles tomam
consciência de que aquela é uma área na qual devem trabalhar mais” (idem) e diz que vai
“chamando à atenção para esses aspetos” (idem).
Ao longo das observações (observação 2-A e 3-A, por exemplo) verificámos não
haver uma estratégia para quando os alunos terminam as atividades, realizadas em
coletivo, antes de toda a turma.
517
Por outro lado, na turma B, na linha do MEM, que considera que a atenção ao
ritmo e estilo de aprendizagem de cada aluno é essencial (Gomes, 2001), verificámos que
“fazem trabalhos diferentes” (Entrevista 2-B). Mas, além disso, quando, “por algum
motivo as coisas se atrasam e não há tempo suficiente para cumprirem os compromissos
individuais” (idem) eles aproveitam o tempo de Apoio Trabalho Autónomo para
avançarem nesses trabalhos.
O facto de haver um PIT, com as atividades que cada aluno se compromete a fazer,
de acordo com as suas necessidades e interesses, em cada área curricular, assegura que
sejam tidos em conta os ritmos e estilos de aprendizagem (Pinto, 2008). Nesta turma, está
consolidada a regra de nunca estarem sem fazer nada. Quando terminam uma atividade,
avançam no desenvolvimento do seu PIT.
6.8. Currículo
O modelo High/Scope defende um currículo flexível, adaptável às necessidades e
particularidades de cada aluno, mediante o respeito pelos seus interesses e propostas, sob
o controlo do professor (Epstein, 2008, 2010, 2012a).
Não existe um conjunto estruturado e sequencial de tarefas, o que torna o modelo
compatível com o Currículo Nacional de cada país (Fewson, 2008). Porém, o modelo
apresenta um conjunto de propostas de experiências-chave, que devem ser promovidas
com os alunos (Gainsley, 2008).
Na turma A verificámos que os alunos apenas tomam contacto com o currículo
através dos manuais escolares. “No início do ano, os alunos têm a curiosidade normal de
518
folhear os manuais e ver que espécie de temas e conteúdos” (Entrevista 1-A) irão ser
abordados.
Ao longo das observações realizadas, à exceção dos momentos de Trabalho
Individual, as atividades realizadas pela turma foram propostas pela professora. Porém,
em nenhum momento verificámos, de forma clara, a realização de «experiências-chave»,
em concordância com as propostas pelo modelo (Gainsley, 2008) e alinhadas com os
«indicadores-chave de desenvolvimento» (Epstein, 2012a).
Na turma B, porque o modelo do MEM considera que a aprendizagem é um ato
intencional, o que se espera que os alunos aprendam deve ser do seu conhecimento
(Santana, 1999). O currículo é apresentado aos alunos, numa linguagem adequada às suas
idades. Na sala de aula, fica afixa o Mapa de Desenvolvimento Curricular, com os
conteúdos organizados por áreas curriculares, onde se vão registando os conteúdos que
os alunos vão dominando, ao longo do ano. “Procuramos, deste modo, desocultar os
critérios da escola e partilhar com os alunos as competências e os conteúdos das
aprendizagens, de forma a envolve-los no processo desde o primeiro momento” (idem).
Como refere Niza (1998), é um “contrato educativo”, em torno do qual os alunos se
mobilizam.
Neste aspeto aos modelos têm visões diferentes: enquanto no High/Scope a
responsabilidade pela proposta e condução das atividades recai mais sobre o professor,
sendo este o que conhece o currículo e sabe o percurso de desenvolvimento que quer
promover com os alunos; no modelo do Movimento da Escola Moderna, é essencial que
519
os alunos tenham uma perceção no currículo, do percurso de aprendizagens que é
esperado que venham a fazer.
520
7. Interações
No modelo High/Scope, espera-se que seja o professor a assegurar a rotina diária
(Epstein, 2003; Kruse, 2003) e, em cada tarefa, a auxiliar as crianças a refletirem acerca
do que estão a aprender (Oliveira-Formosinho, 2007). É o professor que incentiva as
crianças a envolverem-se em experiências-chave, ajuda-as a resolver problemas e a
escolher atividades adequadas ao desenvolvimento intelectual, físico e social (Epstein,
2008; Gainsley, 2008).
Ao contrário, o modelo do MEM é sociocêntrico e baseia-se na prática
democrática da gestão da vida da turma (conteúdos, atividades, materiais, tempo e
espaços), em cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002). Se atendermos ao que se
sabe hoje sobre autorregulação da aprendizagem, compreendemos o quão importante é o
apoio do professor ou de um colega mais competente, para a aquisição e desenvolvimento
de competências a partir da ZDP (Pinto, 2008; Lopes da Silva, 2004; Veiga Simão, 2004).
As interações aluno-professor, professor-aluno e aluno-aluno são fundamentais
nos dois modelos, com esta grande diferença de perspetiva: no High/Scope o professor
lidera mais do que no modelo do MEM, que se centra na cooperação.
7.1. Interação professor-aluno.
À luz do modelo High/Scope, a interação professor-aluno, quando positiva, cria
uma confiança e empatia que lhe permite expressar-se livremente e com segurança e isso
é fundamental para a aprendizagem pela ação (Brickman & Taylor, 1996; Fewson, 2008;
521
Hohmann e Weikart, 2007). Também a interação professor-aluno é valorizada na gestão
de conflitos (Epstein, 2003). Assistimos, algumas vezes, durante as nossas observações,
à resolução de conflitos, com base na liderança da professora, que colocava questões de
reflexão sobre os atos praticados (ver, por exemplo, observação 2-A). O mesmo se diga,
em relação ao papel da professora a estimular a criatividade dos alunos (ver, por exemplo,
observação 3-A). Quando os alunos necessitam de apoio mais individualizado é à
professora que recorrem (ver, por exemplo, observação 1-A).
Por seu lado, no modelo do MEM, não é tão destacada a interação com iniciativa
da professora. Toda a turma é responsável pela gestão de conflitos e pela prestação de
apoio ou ajuda na superação de dificuldades. “Percebem que há coisas que não têm bem;
fazem fichas de verificação e há coisas que verificamos que ainda têm que melhorar”
(Entrevista 2-B). Essas crianças marcam apoios com a professora ou com outro colega
que domine melhor o conteúdo.
7.2. Participação dos alunos.
A interação dos alunos é valorizada, no modelo High/Scope, como forma de
desenvolver a socialização e, logo, a confiança, a autonomia, a iniciativa, a empatia e a
autoestima (Brickman & Taylor, 1996; Hirshbein, 2013; Tetjack, 2010). Ao longo das
nossas observações verificámos que a interação entre os alunos era incentivada no
momento do acolhimento, no início do dia, bem como nas fases de transição, nos
momentos de Trabalho Individual e na Assembleia.
522
Os alunos participam ativamente na tomada de decisões, na turma do modelo do
MEM (Grave-Resendes & Soares, 2002; Santana, 1999). Participam na planificação do
dia e da semana, na conceção, realização e apresentação de projetos, nas apresentações
de produções, etc. Em todas as situações, os alunos são convidados a serem críticos e a
pronunciarem-se, de forma construtiva, num espírito de cooperação (Niza, 1998a).
Podemos dizer que a interação entre alunos é incentivada em ambos os modelos,
com ligeiras nuances, mas sendo central que a participação dos alunos é importante para
o desenvolvimento de competências sociais dos alunos.
523
8. Papel do professor.
Como já referimos diversas vezes, no modelo High/Scope, espera-se que o
professor seja o despoletador de experiências-chave (Epstein, 2008; Gainsley, 2008), para
desenvolver as estruturas próprias de cada estádio, para que a criança alcance o estádio
seguinte (Vogel, 2012).
O papel do professor é seguir uma agenda consistente, planeada para incluir
experiências de trabalho individual, de pequeno grupo e de grande grupo. Da mesma
forma, o professor tem um papel determinante na avaliação, como atrás já tínhamos
referido. O professor é entendido, no modelo High/Scope como o promotor do
desenvolvimento da criança.
No modelo do MEM, o professor é visto mais como mediador da aprendizagem,
promovendo uma gestão cooperada da vida da turma, estando os alunos envolvidos em
todas as fases do professo, desde a planificação à avaliação (Pinto, 2008). O professor é
um «recurso», como verificámos ao longo das nossas observações, sobretudo no apoio à
superação de dificuldades (observação 2-B; entrevista 2-B).
8.1. Perspetivas do Professor.
A professora da turma A considera que o modelo High/Scope é um modelo de
Pedagogia Diferenciada porque “não implica um conjunto estruturado e sequencial de
tarefas e conteúdos, mas funciona como mais como um orientador geral de organização
do trabalho, que implica a adaptação curricular ao grupo particular de crianças com que
524
se trabalha” (Entrevista 3-A). Sobretudo no momento de Trabalho Individual, “é possível
que cada aluno trabalhe de acordo com o que precisa” (Entrevista 1-A). Mas, o modelo é
acima de tudo uma mais-valia, na perspetiva da docente, porque aposta “na aprendizagem
ativa, porque torna as aprendizagens mais significativas e, logo, mas interessantes e
acessíveis” (idem). Neste cenário, a professora considera que o seu papel, enquanto
professora é ajudar os alunos a fazerem opções e a resolverem problemas.
Uma vez que, de acordo com o modelo do MEM, “a ação educativa centra-se no
trabalho diferenciado de aprendizagem dos alunos e não no ensino simultâneo dos
professores” (Niza, 1998a, p. 41), o professor é incentivado a reduzir o seu protagonismo,
para que os alunos desenvolvam competências de discurso e de gestão de sessões
coletivas. De acordo com González (2002), na organização social que é a turma, neste
modelo, joga-se o “equilíbrio entre a não diretividade e a diretividade”, instituindo “uma
organização democrática que permite ao professor uma visão mais ampla e equilibrada
da realidade e o respeito pelos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem” (p. 109).
Na turma B, nas nossas observações, verificámos que o protagonismo da docente
é reduzido comparativamente com o ensino tradicional, implementando o que o modelo
do MEM preconiza de centralidade na aprendizagem dos alunos.
8.2. Perspetivas de Pedagogia Diferenciada.
A professora da turma A considera que Pedagogia Diferenciada é “aplicar,
desenvolver estratégias adequadas às necessidades, características e ritmos de trabalho”
(Entrevista 1-A) dos alunos. Isto implica permitir que “os alunos trabalhem áreas
525
curriculares diferentes, ao mesmo tempo e, se for na mesma área, em conceitos ou níveis
diferentes” (idem). Observámos a docente a atribuir tarefas diferenciadas (ver, por
exemplo, observação 1-A). A docente considera, ainda, que a Pedagogia Diferenciada
“rompe com o ensino tradicional, baseado na repetição e memorização” (Entrevista 1-A),
centrando-se mais na aprendizagem pela ação.
A professora da turma B considera que a Pedagogia Diferenciada tem, sobretudo,
a ver com “encontrar uma forma de todos terem lugar, ou seja, cada criança
independentemente das suas características e de acordo com a sua individualidade,
consegue ter o seu lugar no grupo, consegue evoluir dentro das suas necessidades”
(Entrevista 3-B). Salienta que, no modelo do modelo do MEM, o facto de cada aluno ter
um PIT permite que “cada um vai evoluindo dentro do seu padrão de desenvolvimento
(…), dentro do trabalho que vai fazendo, tem o objetivo de progredir para o currículo que
esse é o mesmo para toda agente” (idem).
As duas docentes estão em sintonia relativamente à conceção de Pedagogia
Diferenciada enquanto adequação das estratégias às características, necessidades,
interesses, ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos. A professora do modelo
High/Scope foca mais a questão da aprendizagem pela ação, enquanto a professora do
modelo do MEM põe em relevo a pertença ao grupo e a progressão no currículo que é
igual para todos.
526
9. Trabalho Individual / Autónomo
O papel do estudante como gestor do seu percurso de aprendizagem, bem como
regulador do mesmo, tem vindo a ser largamente investigado nas últimas décadas (Allal,
1993; Bandura, 1993; Bronson, 2000; Corno, 1994; Lopes da Silva, 2004; Newman,
1994; Rosário, Núñez e González-Pienda, 2007; Sá, 2004; Schunk, 1989; Veiga Simão,
2002; Zimmerman, 1994; Zimmerman, 2000), incluindo ao nível do 1.º ciclo do Ensino
Básico (Pinto, 2008; Pinto e Gomes, 2013).
No modelo High/Scope o momento do «planear-fazer-rever» é, em Portugal,
conhecido também como o tempo de Trabalho Individual. Este momento diário inicia-se
com 10 a 15 minutos em pequeno grupo, para que cada criança planifique o que quer
fazer durante esse tempo («planear»). Segue-se o tempo do «fazer», que dura 45 a 60
minutos, durante o qual o aluno realiza atividades num das áreas de interessa da sala.
Termina com 10 a 15 minutos de «rever», durante o qual os alunos partilham com a turma
o que fizeram e o que aprenderam (Epstein, 2003, 2007; Gainsley, 2008).
Tivemos a oportunidade de assistir diversas vezes a este momento. Nesta turma,
convencionou-se atribuir a área para onde cada aluno vai em cada dia da semana,
registando no final da semana anterior, numa grelha que fica afixada. Não há mais
registos. Mesmo quando questionada a este respeito, a professora disse que já tinha
ponderado a criação de um registo individual, mas que não tem sentido essa necessidade
(Entrevista 1-A). Pensamos, porém, que a falta de registos e o facto de as fazes do
«planear» e «rever» serem apenas orais, não maximiza o potencial que encerram estes
tempos, como antecipação, reflexão e avaliação das aprendizagens, nem torna claro que
527
os alunos trabalham em áreas verdadeiramente importantes para o seu percurso de
aprendizagem. Fewson (2008), na sua descrição do modelo High/Scope aplicado ao nível
da Educação Básica, sugere a utilização de registos escritos.
No modelo do MEM, o tempo de Trabalho Autónomo é o momento em que cada
aluno trabalha ao seu ritmo, de acordo com os seus interesses e necessidade e face ao
ponto em que se encontra no currículo (Pinto, 2008). O tempo de Trabalho Autónomo
(ou de Estudo Autónomo, como também é chamado) preenche, pelo menos, uma hora
diária, e destina-se ao treino de capacidades e competências curriculares, ao estudo, à
escrita de textos e a leituras. Também é durante este tempo que é prestado apoio na
superação de dificuldades, pela professora ou por outro aluno. A professora da turma B
considera que este tempo é “o que possibilita mais a diferenciação” (Entrevista 1-B)
porque possibilita “a cada criança fazer aquilo que precisa mais, não aquilo que o
professor decidiu que todos deveriam fazer. Não precisam todos do mesmo” (idem). Este
tempo também ajuda o aluno a perceber o que consegue fazer num determinado tempo e,
“nesse tempo, que atividade me interessa mais fazer, para rentabilizar esse tempo de
acordo com as minhas dificuldades?” (idem).
Nas nossas observações, verificámos que como regulador da atividade dos alunos,
existe o Plano Individual de Trabalho, onde está assumido o compromisso do número de
atividades a realizar, em cada área curricular, durante a semana.
O trabalho deste tempo é planificado por cada aluno, de acordo com a auto e
heteroavaliação do PIT da semana anterior, porque é importante que “escolham as coisas
528
de acordo com as capacidades que tenham, para não andarem a fazer coisas que não sejam
necessárias (Entrevista 2-B).
Em cada área curricular existem ficheiros, a maioria deles autocorretivos, para os
alunos realizarem de forma autónoma.
Há um conjunto de regras, definidas pela turma, como por exemplo, não repetir
atividades antes de se ter passado por todas as áreas curriculares, ter cuidado com a
apresentação das atividades realizadas, fazer aquilo que precisam.
Enquanto na turma do modelo High/Scope não há registos das diversas fazes do
Trabalho Individual, na turma do modelo do MEM, existe um Plano Individual de
Trabalho e um conjunto de instrumentos de pilotagem, que asseguram, à partida, uma
utilização mais eficiente deste tempo de trabalho diferenciado.
529
Conclusão
"O que é bonito neste mundo,
e anima,
é ver que na vindima de cada sonho
fica a cepa a sonhar outra aventura."
(Miguel Torga )
532
Com o trabalho que aqui se conclui, foi nosso objetivo procurar propostas de
concretização da Escola para Todos, partindo da revisão da investigação do âmbito do
Desenvolvimento Curricular e refletindo acerca do contributo que os modelos de
Pedagogia Diferenciada podem trazer para a prática profissional dos docentes e para a
aprendizagem dos alunos.
O direito de todos a mais e melhor educação está plasmado num conjunto de
legislação e de compromissos transnacionais assinados por Portugal, que apresentámos
no primeiro capítulo.
Porque acreditamos que a Pedagogia Diferenciada é a forma de atenuar as
desigualdades face à escola e melhorar o sucesso das aprendizagens, promovendo o
desenvolvimento de competências semelhantes em alunos com características diferenres
(Perrenoud, 1995), quisemos aprofundar os contributos dos modelos pedagógicos
High/Scope e do Movimento da Escola Moderna, neste âmbito. Sobretudo porque a
Pedagogia Diferenciada se implementa ao nível das decisões grupais e individuais
(Roldão, 2001), relacionando-se mais com a gestão estratégica e não tanto com a gestão
planificada (Zabalza, 1997), considerámos fazer sentido o estudo das propostas destes
dois modelos, ao nível da organização das atividades em sala de aula. Sendo os momentos
de Estudo Individual/Autónomo os momentos potencialmente de maior diferenciação do
trabalho dos alunos, quisemos debruçar-nos sobre o seu desenvolvimento, de acordo com
as abordagens dos referidos modelos.
Neste sentido, procurámos perceber como pode a organização das atividades, em
sala de aula, de acordo com a abordagem dos modelos High/Scope e do Movimento da
533
Escola Moderna, contribuir para a implementação da Pedagogia Diferenciada. A escolha
destes modelos prendeu-se com o facto de serem, provavelmente, os dois modelos mais
generalizados em Portugal, ao nível do 1.º Ciclo do Ensino Básico.
Com este estudo, pretendemos adquirir e desenvolver competências para um
melhor desempenho profissional, para uma melhor influência ao nível do trabalho
colaborativo nas instituições onde trabalhamos ou viermos a trabalhar. Por outro lado,
também quisemos dar um contributo para o debate à volta das questões do
Desenvolvimento Curricular, da Pedagogia Diferenciada e dos modelos pedagógicos que
se identificam com estas problemáticas.
No contexto em que Portugal se encontra, depois de decorridos 50 anos em que o
país quis acompanhar a promoção de uma escola pública impulsionadora de efetivas
aprendizagens, pensamos que a temática é relevante e que o nosso estudo pode contribuir
para trazer luz sobre as oportunidades que os dois modelos estudados podem representar,
na peugada da implementação de uma verdadeira e eficiente Escola para Todos.
Neste sentido, o trabalho iniciou-se com uma contextualização da evolução de
perspetivas no âmbito da Teoria e Desenvolvimento Curricular, porque é nesta frente
pragmática, em que os docentes tomam importantes decisões, que se jogam as grandes
opções de melhoria do serviço que prestamos (Roldão, 1999b; Zabalza, 1997), se
atendermos à necessidade de criar ambientes de aprendizagem diferenciados. É
fundamental perceber o conceito de currículo e entender a escola como centro das
534
decisões curriculares (Roldão, 1999b), para nos assumirmos como gestores do currículo
e, no quadro da gestão flexível, implementada em Portugal, em 2001, tomarmos decisões
estratégicas tendo em vista a melhoria do sucesso de todos os nossos alunos.
Para uma melhor compreensão desta nossa conceção, contextualizámos os
princípios da Gestão Curricular no quadro da legislação portuguesa e das convenções
internacionais que Portugal assinou. O que se nos afigura como essencial é percebermos
que o nosso país dispõe de um quadro normativo favorável à gestão flexível do currículo,
a favor de uma gestão em concordância com a realidade dos alunos com que trabalhamos.
Contudo, é imprescindível que tenhamos a visão global da estratégia educativa europeia,
definida pelo Quadro Estratégico de Cooperação Europeia em matéria de Educação e
Formação, com o horizonte em 2020, e das opções tomadas por Portugal, designadamente
com o Programa Educação 2015.
Clarificado o enquadramento conceptual e normativo, tentámos clarificar os
conceitos relacionados com a Pedagogia Diferenciada, iluminando os seus princípios
básicos, porque ela é um direito de cada um dos nossos alunos, enquanto cidadãos. A
Pedagogia Diferenciada é a via para a escola se adequar aos diferentes alunos, com
características, necessidades, interesses, ritmos e estilos de aprendizagem diferentes
(Visser, 1993; Przesmucki, 1991; Simpson, 1989).
Os modelos pedagógicos High/Scope e do Movimento da Escola Moderna
apresentam sugestões de organização das atividades, em sala de aula, que nos permitiram
considerá-los alinhados com os princípios da Pedagogia Diferenciada. A fundamentação
535
desta consideração foi desenvolvida na terceira parte deste trabalho (Recolha, análise e
interpretação de dados).
Porque nos quisemos focar no momento por excelência de diferenciação – o
Trabalho Individual (High/Scope) ou Autónomo (MEM) –, aprofundámos os conceitos
de tempo escolar e das suas implicações pedagógicas, os princípios subjacentes ao
envolvimento da criança na sua aprendizagem e, por isso, a temática da aprendizagem
autorregulada.
Discussão de resultados à luz da teoria
Os modelos High/Scope e do MEM, enquanto modelos pedagógicos de Pedagogia
Diferenciada, são simultaneamente próximos e diferentes nas suas propostas de
organização das atividades em sala de aula.
O modelo High/Scope baseia-se na teoria de Piaget e tem como cerne a
importância das experiências de aprendizagem ativas (Epstein, 2003; Fewson, 2008;
Hohmann e Weikart, 1995, 2007; Brickman & Taylor, 1996). Neste modelo é esperado
que o professor promova, com os alunos, um conjunto de experiências-chave (Epstein,
2008; Gainsley, 2008), consideradas como tarefas de aceleração, para apoiar a criança a
evoluir ao estádio seguinte (Epstein, 2010; Fewson, 2008). Este conceito-chave –
aprendizagem ativa – compreende a ação do sujeito sobre objetos, pessoas, ideias e
acontecimentos e visa o desenvolvimento da autonomia, da responsabilidade, da
independência e de competências de planificação e reflexão (Epstein, 2007).
Neste modelo, as rotinas são fundamentais para que o aluno se sinta seguro,
através da antecipação da agenda do dia (Kruse, 2003; Oliveira-Formosinho, 2007). O
536
professor surge como o grande responsável pela garantia desta rotina e pela promoção
das referidas experiências-chave. Da mesma forma, o professor faz a avaliação do
desenvolvimento dos alunos, utilizando instrumentos desenvolvidos como resultado da
investigação sobre o modelo, para poder adequar a sua ação pedagógica às necessidades
dos alunos (Hohmann e Weikart, 2007). O papel do adulto é apoiar o processo de
aprendizagem (Brickman & Taylor, 1996).
Verificámos, no caso A, com a aplicção do modelo High/Scope, que a turma tem
uma rotina diária instituída e em concordância com o modelo, designadamente com o
tempo diário de «planear-fazer-rever».
Porém, não pudemos verificar de forma clara o desenvolvimento de experiências-
chave, em concordância com o defendido pelo modelo e diferenciadas, de acordo com os
indicadores-chave de desenvolvimento (Epstein, 2012a).
Por sua vez, o modelo do Movimento da Escola Moderna é bastante mais
influenciado por correntes que valorizam a aprendizagem cooperativa e o lado social da
aprendizagem, muito na linha de Vygotsky (González, 2000). Tratando-se de um modelo
sociocêntrico, aposta na “prática da gestão de conteúdos, das atividades, dos materiais,
do tempo e dos espaços”, em cooperação (Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 41). O
modelo pugna pelo envolvimento do aluno no seu percurso de aprendizagem, tentando
promover a aquisição gradual da tomada de consciência do ponto em que se encontra e
do que precisa de fazer para avançar no currículo (Pinto, 2008; Santana, 1999). Para isso,
é estimulada a interajuda e o desenvolvimento da cidadania, pela vivência de regras
democráticas (Niza, 2000).
537
No que à organização das atividades diz respeito, no modelo do MEM, é colocada
grande ênfase na regulação cooperada das atividades, através do Conselho de Cooperação
(Grave-Resendes & Soares, 2002). Também a existência de Planos Individuais de
Trabalho, enquanto instrumentos de controlo e regulação das atividades individuais, são
uma forma de contrato que cada aluno estabelece com a turma, com as atividades e áreas
curriculares onde se compromete trabalhar, de acordo com as suas necessidades (Pinto,
2008).
Verificámos, no caso B, com a aplicação do modelo do MEM, que a turma faz a
gestão do seu funcionamento de forma cooperada, existindo uma agenda semanal definida
e avaliada em Conselho de Cooperação e diariamente atualizada e avaliada (Plano
Diário).
Também verificámos que semanalmente são elaborados e avaliados os Planos
Individuais de Trabalho, sendo um instrumento de diferenciação e de regulação do
trabalho individual, com grande importância na definição das atividades de aprendizagem
realizadas diariamente no Tempo de Estudo Autónomo.
O cenário pedagógico, em ambos os modelos, é organizado em áreas de interesse,
colocando à disposição dos alunos recursos para o trabalho nas diversas áreas
curriculares.
A turma B tem mais trabalhos de alunos afixados nas paredes da sala e têm mais
instrumentos de pilotagem do trabalho.
Em ambos os casos, há recursos diversificados, para utilização nas diversas áreas
de interesse ou de trabalho. No entanto, na sala do modelo do MEM, verificámos a
538
existência de ficheiros autocorretivos, o que pensamos ser uma forma mais eficiente de
orientar a realização de tarefas de aprendizagem (treino, uso e consolidação de
conhecimentos).
Na sala A, com o modelo High/Scope, não existem registos de frequência de
utilização das diferentes áreas e materiais. De acordo com Fewson (2008), deveria haver
um espaço próprio para o trabalho individual ou com o professor, o que não verificámos
existir.
Em ambas as salas, os materiais estavam etiquetados, de acordo com o
preconizado por Fewson (2008).
Na sala A não verificámos a existência de uma lista de tarefas para cada objetivo
do currículo.
Também os dois modelos preconizam um momento diário de Trabalho
Individual/Autónomo, constituindo este um momento alto de diferenciação.
No modelo High/Scope, a rotina diária contempla um momento de Trabalho
Individual («planear-fazer-rever»), que se inicia justamente pela planificação de uma
atividade numa determinada área de interesse e termina com a revisão que mais não é do
que a partilha com os colegas de uma reflexão acerca da atividade realizada e as
aprendizagens conseguidas.
Testemunhámos, nas nossas observações, o desenvolvimento do tempo do
«planear-fazer-rever». Efetivamente, os alunos planificavam oralmente o que pretendiam
fazer e, no final, partilhavam as atividades e aprendizagens feitas. Porém, todo o processo
foi sempre oral, não tendo concretizado as sugestões do modelo High/Scope, tal como
539
propostas por Fewson (2008), para a aplicação do modelo ao nível da Educação Básica.
Este autor defende que a planificação e avaliação sejam feitas em documento de registo
individual escrito, incluindo uma reflexão crescentemente aprofundada, com auxílio ao
desenvolvimento de competências de autorregulação da aprendizagem.
No modelo do Movimento da Escola Moderna, verificámos que o tempo de
Trabalho Autónomo é usado para o treino e consolidação de conteúdos curriculares, de
acordo com o Plano Individual definido para a semana escolar, que se relaciona com o
currículo explicitado e exposto na sala de aula. A planificação, desenvolvimento e
avaliação é feita cooperativamente, em Conselho de Cooperação.
As diferenças nas propostas dos dois modelos aqui estudados partem das
diferentes perspetivas ao nível da influência teórica. “A obra de Piaget remete para a ideia
de autonomia e independência do sujeito” (Lourenço, 2005, p. 52), o que se reflete na
abordagem pedagógica do modelo High/Scope. Por sua vez, o modelo do MEM,
influenciado pelo sociocontrutivismo, designadamente pelas ideias de Vygostky, que se
orienta “para a ideia de heteronomia ou subordinação do sujeito individual às diversas
estruturas sociais (Lourenço, 2005, p. 25).
Na sequência desta diferença ao nível da influência teórica, os conceitos-chave
também são diferentes. No modelo High/Scope vemos que é central a «aprendizagem pela
ação» sobre objetos, pessoas, ideias e acontecimentos (Epstein, 2003), com grande relevo
dado às rotinas diárias, designadamente ao tempo do «planear-fazer-rever».
540
No modelo do MEM, a tónica é colocada “na prática democrática da gestão de
conteúdos, das atividades, dos materiais, do tempo e dos espaços (…) em cooperação”
(Grave-Resendes & Soares, 2002, p. 41).
Por outro lado, o conteúdo do currículo a desenvolver com os alunos também
difere. Enquanto com o modelo High/Scope existe um conjunto de experiências-chave
pré-estabelecidas que podem ser associadas ao Currículo Nacional (Epstein, 2008;
Gainsley, 2008), no modelo do MEM existe uma gestão cooperada das aprendizagens que
parte do Currículo Nacional, traduzido numa linguagem percepível aos alunos, que é
desenvolvido de acordo com os interesses e as necessidades específicas do grupo/turma
(Pinto, 2008). Assim, verifica-se existir no modelo do MEM uma procura de
aprendizagens significativas que se integrem na filigrana de conhecimentos de cada
aluno, em contraste com propostas generalistas para todos os grupos de dada idade.
No nosso estudo, verificámos que, na sala do modelo High/Scope, o professor é o
responsável por preparar a agenda da turma, por propor as atividades de aprendizagem,
por avaliar os alunos, como o demonstramos no último capítulo.
No modelo do Movimento da Escola Moderna, a liderança do professor dilui-se,
porque existe um modelo de gestão cooperada de toda a vida da turma, incluindo a
organização das atividades, em sala de aula.
Na mesma sequência de ideias, verificámos que, no Tempo de Trabalho
Individual, no High/Scope a tónica está colocada no desenvolvimento individual. O
541
tempo do «planear-fazer-rever» é planeado, desenvolvido e avaliado individualmente. Ao
invés, no modelo do MEM, a planificação e a avaliação das atividades realizadas no
Tempo de Trabalho Autónomo é feito em cooperação, na reunião de Conselho. Neste
modelo, este momento diário, apesar de ser de trabalho em autonomia, é planificado,
desenvolvido e avaliado de forma cooperativa, havendo corresponsabilização de todos
pelo seu sucesso.
Podemos concluir que ambos os modelos têm propostas na linha da Pedagogia
Diferenciada, variando os enfoques, mas os dois tendo como central a atenção à
diversidade de alunos e à preocupação de fazer aprender todos os alunos,
independentemente das suas características.
Ambos os modelos propõem a organização das atividades e a gestão das rotinas
da sala de aula em função das necessidades e interesses dos alunos, defendendo um papel
ativo dos alunos na planificação, desenvolvimento e avaliação das atividades realizadas
no Tempo de Trabalho Individual («planear-fazer-rever»), no modelo High/Scope, e no
Tempo de Trabalho Autónomo, no modelo do MEM.
Resultados comparáveis com outros estudos
Os nossos resultados demonstram que as propostas de organização das atividades,
de acordo com os modelos High/Scope e do MEM, estão em concordância com os
princípios da Pedagogia Diferenciada defendidos por diversos autores (Gaspar, 1999;
Gomes, 2001; 2011; Grave-Resendes & Soares, 2002; Grave-Resendes, 1989; 2004;
542
Perrenoud, 1995; Pinto, 2008; Pinto e Gomes, 2013; Pires, 2001; Przesmychi, 1991;
Visser, 1993).
Os dois modelos apresentam propostas de seleção e implementação de estratégias
de ensino-aprendizagem e de intervenção ao nível da regulação dos processos de
aprendizagem individuais, tendo como objetivo a necessidade de fazer progredir no
currículo os alunos, através de propostas concretas de estratégias de organização das
atividades, em sala de aula.
Em ambos os modelos se verifica “a diferenciação de percursos de aprendizagem”
(Pires, 2001, p. 35), alternando “momentos em coletivo (veja-se que não se diz em
simultâneo) com momentos de trabalho individual, de trabalho de grupo ou de apoio
direto do professor” (idem).
Os princípios dos modelos High/Scope e do MEM refletem uma preocupação com
a organização das atividades, em sala de aula, tendo em consideração os elementos
característicos da diversidade de alunos (Perrenoud, 1995): as diferenças cognitivas, as
diferenças socioculturais; as diferenças psicológicas.
Consideramos que a componente do nosso estudo relativa ao modelo High/Scope
não é possível de comparar com estudos congéneres realizados em Portugal e ao nível do
1.º Ciclo do Ensino Básico. Feita uma exaustiva pesquisa de bibliografia, apenas
encontrámos trabalhos relacionados com o modelo High/Scope ao nível da Educação Pré-
Escolar, todos eles se centrando mais na descrição das propostas do modelo.
Já o modelo do MEM é regularmente objeto de estudo em Portugal e ao nível do
1.º Ciclo do Ensino Básico, com abordagens e enfoques diferentes dos aqui realizados.
543
Porém, todos eles enumeram vantagens pedagógicas e de Diferenciação Pedagógica,
sobretudo no seu contributo para o desenvolvimento de competências de autorregulação
da aprendizagem (Pinto, 2008), de competências relacionadas com a leitura e a escrita
(Santana, 1999), de competências relacionadas com a formação cívica e a cidadania
(Niza, 2000).
Originalidade dos nossos resultados
Feita uma extensiva pesquisa bibliográfica, este é o primeiro estudo realizado em
Portugal e ao nível do 1.º Ciclo do Ensino Básico, com o modelho High/Scope em
aplicação. Este estudo demonstra que o modelo High/Scope apresenta uma abordagem
congruente com os princípios da Pedagogia Diferenciada, como o referimos.
Por outro lado, também não encontrámos estudos que comparassem as propostas
dos modelos High/Scope e do MEM, no tocante às suas propostas de organização das
atividades em sala de aula.
Em face dos resultados apresentados, podemos afirmar com segurança que os dois
modelos preconizam a Pedagogia Diferenciada, procurando, com as suas propostas de
organização das atividades em sala de aula, ser uma alternativa positiva de diferenciação
dos percursos de aprendizagem, considerando as características dos alunos.
O modelo High/Scope propõe o tempo do «planear-fazer-rever» como o momento
em que os alunos são convidados a planificarem, a desenvolverem e a avaliarem uma
atividade de aprendizagem, durante este tempo diário da rotina. No seguimento da
influência piagetiana, este momento está mais focado no desenvolvimento da autonomia
544
e independência de cada aluno. O nosso estudo confirmou que o desenvolvimento deste
Tempo de Trabalho Individual, na turma A, seguiu esta tendência.
No modelo do MEM, por sua vez, podemos ver o aluno mais sujeito à estrutura
social que é a turma. O Tempo de Estudo Autónomo é planeado e avaliado por toda a
turma, em cooperação, existindo uma verdadeira corresponsabilização de todos pelo
trabalho de cada um.
Recomendações para o Ensino
Dito isto, seria importante que os governos apostassem mais na disseminação de
«boas práticas» destes e de outros modelos, que incentivassem uma verdadeira gestão
flexível e uma real adequação da escola aos seus reais alunos. A implementação de
estratégias de Pedagogia Diferenciada não se concretiza através de normativos legais.
Julgo que o caminho deveria ser pelo incentivo à formação de professores, pela partilha
de experiências, pela divulgação das ditas «boas práticas».
São exemplo deste investimento na formação de docente, através da dessiminação
de boas práticas, o trabalho das associações que estão por detrás da formação e do
desenvolvimento destes modelos: a Associação High/Scope Portugal (representante, no
nosso país, da Fundação High/Scope Educational Research Foundation) e o Movimento
da Escola Moderna.
Tendo acompanhado duas turmas no desenvolvimento dos modelos, atestando as
mais-valias que as propostas pedagógicas em ação constituem para as aprendizagens
545
académicas, pensamos ser este o caminho para uma efetiva construção de uma Escola
para TODOS.
Sugestões para novos trabalhos de investigação
Consideramos que seria interessante fazer um estudo mais alargado, com estes
modelos, nos diversos anos de escolaridade, para se conseguir fazer uma descrição mais
completa da implementação dos modelos, em sala de aula, percebendo, no caso do
modelo High/Scope a adequabilidade dos indicadores-chave de desenvolvimento à
população portuguesa e, no caso do modelo do MEM, a forma como, a partir da vivência
da turma, surgem os instrumentos de pilotagem, a agenda semanal e toda a dinâmica de
gestão em cooperação.
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