UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
SEMINÁRIO II
A PAISAGEM E SUA RELAÇÃO COM AS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS
Joyce Rodrigues Lobo Orientadora: Maria Clorinda Soares Fioravanti
GOIÂNIA 2013
JOYCE RODRIGUES LOBO
A PAISAGEM E SUA RELAÇÃO COM AS DOENÇAS INFECCIOSAS E
PARASITÁRIAS
Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás
Nível: Doutorado
Área de Concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal
Linha de Pesquisa:
Técnicas de Diagnóstico Aplicadas a Patologia e Clínica Animal
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Clorinda Soares Fioravanti - UFG
Comitê de Orientação:
Profª Drª Concepta MacManus Pimentel - UnB Pesq. Dr. Fernando Brito Lopes - Embrapa/CNPAF
GOIÂNIA 2013
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................
2 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................
2.1 Concepção histórica da paisagem na ocorrência de doenças.....................
2.2 Perspectiva da paisagem na ocorrência de doenças..................................
2.2.1 Aspectos ambientais.................................................................................
2.2.2 Aspectos socioeconômicos e políticos......................................................
2.2.3 Aspectos demográficos.............................................................................
2.2.4 Aspectos antropogênicos..........................................................................
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................
REFERÊNCIAS.................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO
As populações humanas, vegetais e animais desenvolvem constantes
interações em determinados ambientes, assim definem distintas paisagens. Não
obstante nestes diferentes cenários interagem também microrganismos, sendo
alguns destes causadores de doenças a outros integrantes das paisagens. O
homem atua neste espaço como o principal modificador ambiental podendo
equilibrar ou não o convívio entre os demais constituintes, sendo que
compreender o processo de organização social humana no tempo e em diferentes
locais torna-se essencial em investigações epidemiológicas de doenças.
Analisar o ambiente como pré-requisito para melhor compreensão da
ocorrência de doenças nas populações destaca-se por determinar aspectos
ambientais globais tais como a perda da biodiversidade, a poluição atmosférica, o
efeito estufa, a redução da camada de ozônio, além de questões ambientais
locais como a poluição do solo, ar e água, o ambiente doméstico e de trabalho
que têm reflexos, principalmente, na saúde humana. Nesta dimensão ambiental,
ocorrem interferências na dinâmica de doenças que acometem o homem e os
animais como produto das ações antrópicas no ambiente (PIGNATTI, 2004).
Sob uma perspectiva geográfica na avaliação da frequência de
doenças esta se difere do foco epidemiológico, pois este último realiza a
avaliação a partir da doença, de como esta se manifesta no seu contexto e da sua
distribuição nas coletividades. Por outro lado, a abordagem geográfica parte do
geral, de como a doença obteve condições para sua ocorrência, do processo de
interação desta com a natureza e a maneira como o meio é transformado.
Considerando esta visão totalizadora determinou-se o conceito de espaço
geográfico, que já era utilizado desde 1930 por Pavlovsky, parasitologista russo,
que inseria em seus estudos a epidemiologia paisagística (SILVA, 2000).
A partir desse aspecto pode ser considerado tanto o surgimento quanto
o ressurgimento de doenças, anteriormente controladas, que têm sido motivo de
preocupação científica, assim como têm determinado a adoção de distintas
políticas sanitárias em muitos países. Os estudos desenvolvidos com relação a
doenças infecciosas e parasitárias de preocupação mundial necessitam incluir
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entre os fatores a serem considerados na sua ocorrência aspectos demográficos,
ambientais, relacionados ao desempenho do setor de saúde, às mudanças e
adaptação dos microrganismos, características sociais, culturais, históricas,
políticas e econômicas do país, e até mesmo a manipulação de microrganismos
intencionando o desenvolvimento de armas biológicas (LUNA, 2002).
Atualmente as inovações tecnológicas cada vez mais vêm colaborando
para facilitar o monitoramento de doenças que ameaçam a saúde de humanos e
animais, como no caso dos sistemas de informação geográfica (SIG). Este
sistema permite o armazenamento, integração, consulta, visualização e análise de
dados utilizando as informações sobre a localização de dados das paisagens. A
análise combinada à estatística permite a determinação da paisagem com
previsão de risco de doenças, tornando-se assim um poderoso conjunto de
ferramentas para a vigilância epidemiológica, prevendo possíveis surtos de
doenças e orientações aos programas de intervenção (DANIEL et al., 2004).
A presente revisão justifica-se ao explicitar a relação entre os
diferentes ambientes com a dinâmica de formação das suas paisagens e a
ocorrência de doenças infecciosas e parasitárias dos animais domésticos,
silvestres e do homem. O estudo da ecologia da paisagem na ocorrência de
doenças pode propiciar melhor embasamento científico como suporte na
formulação de políticas que visem controlar ou mesmo erradicar doenças
emergentes e reemergentes nas diferentes populações susceptíveis.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Concepção histórica da paisagem na ocorrência de doenças
Desde os primórdios da civilização humana, já havia o relato da
existência da relação entre o ambiente e a saúde humana por meio dos escritos
de Hipócrates (século VI a.C.) a partir do desenvolvimento da Teoria dos
Humores que defendia que os elementos naturais tais como água, terra, fogo e ar
estavam implícitos à explicação sobre a saúde e a doença (HERZLICH, 2004).
Somente a partir do crescimento urbano no século XIX (período da
Revolução Industrial) que os estudiosos começaram a investigar as possibilidades
envolvidas na ocorrência de doenças, pois neste período aumentaram também os
prejuízos a saúde da população em decorrência das más condições de vida.
Cientificamente acreditava-se que as doenças procediam de dejetos acumulados
que emitiam emanações denominadas miasmas. Esta teoria miasmática foi
historicamente importante para o desenvolvimento no mundo moderno em um
ambiente urbano sanitariamente melhor (ROSEN, 1994).
Porém, o médico John Snow, um dos instituidores da epidemiologia,
modificou esta teoria ao determinar a possibilidade da existência de agentes
microscópicos causadores de doenças em seus estudos sobre cólera. No final do
século XIX consolidou-se o conceito da uni causalidade, pois deste momento em
diante atribuía-se a ocorrência de doenças somente a existência de micróbios.
Este fato prejudicou as explicações relacionadas com o ambiente, visto que em
consequência disso, os programas de saúde pública ignoravam a relação entre
doença e aspectos socioambientais (PIGNATTI, 2004).
O ambiente voltou a ser abordado cientificamente com relação à
ocorrência de doenças no século XX, quando a ecologia se estabeleceu como
disciplina científica, fundamentando a interação entre agente e hospedeiro
inseridos em um ambiente com aspectos físicos, biológicos e sociais, instituindo a
teoria da multi causalidade (PIGNATTI, 2004).
Acredita-se que o pioneiro da fundamentação teórica do ambiente
aplicado à epidemiologia tenha sido Pavlovsky, parasitologista russo da década
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de 1930, ao desenvolver a teoria da nidalidade natural das doenças
transmissíveis. Os estudos deste cientista desenvolveram-se na antiga União
Soviética da era Stalin, quando se iniciou a expansão agrícola na região da Ásia,
juntamente com o desbravamento do ambiente na procura por recursos naturais
como madeira e minerais. Como consequência, a população ficou susceptível a
leishmaniose na Ásia Central e as encefalites por arbovírus na Sibéria. A
preocupação sanitária com estas enfermidades perdurou por décadas e
despertou o interesse de muitos cientistas, que se empenharam em inúmeras
pesquisas sobre os focos naturais destas doenças (SILVA, 2000).
Apesar dos aspectos ambientais terem sido abordados por estudiosos
desde o inicio do século passado, a conceituação epidemiológica clássica do
ambiente o considerava como um substrato, exercendo sua influência por meio de
fenômenos naturais como o clima. Sob esta perspectiva o ambiente seria inerte e
invariável não participante do processo de disseminação de doenças. Esse
conceito permaneceu estático, mesmo com o conhecimento de que a modificação
da paisagem determinava alterações ecológicas no espaço natural de circulação
dos agentes infecciosos, fenômeno conhecido como patobicenose (SABROZA,
2004).
Historicamente na epidemiologia descritiva a conceituação de espaço
no delineamento das doenças sempre envolveu determinantes naturais como a
vegetação, latitude e topografia; entretanto, o mais importante sempre foi o clima.
Este último determinante há alguns anos tem chamado à atenção em decorrência
do aquecimento global, agregado a outros como a degradação e poluição
ambiental, o aumento da radiação ultravioleta, entre outros, que têm refletido na
saúde humana, elevando a ocorrência de neoplasias e doenças infecciosas
(SILVA, 2000).
Os estudos epidemiológicos na medicina, a partir da década de 1960,
propuseram uma abordagem ecológica baseando-se na trilogia agente-
hospedeiro-ambiente e na história natural da doença. Neste momento passou-se
a considerar o individuo doente em seu espaço geográfico, respeitado os fatores
físicos (clima, hidrografia, relevo e solo), fatores sociais e humanos (religião,
densidade populacional e padrão de vida) e fatores biológicos (vegetais, animais,
agentes patogênicos, vetores, reservatórios, hospedeiros intermediários e
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definitivos). Porém, quando se praticava esta abordagem, o aspecto social ainda
não recebia a atenção adequada, pois se apresentava incorporada a história
natural da doença, assim como aos fatores econômicos e fisiopatológicos, não
avaliando o quadro sanitário sob este aspecto (PIGNATTI, 2004).
A epidemiologia focaliza atenção no processo de ocorrência de
doenças nas coletividades, tendo como eixo de investigação o coletivo e seu
comportamento. Porém, se o foco deixar de ser a coletividade e passar a ser o
processo de interação desta com a natureza e se for notado como o ambiente é
transformado para sustentar a atividade econômica, se ganha com isso à
perspectiva histórica da doença, essencial para a compreensão do momento a ser
avaliado (SILVA, 2000).
2.2 Perspectiva da paisagem na ocorrência de doenças
A relação entre a ocorrência de doenças nas diferentes populações e
suas respectivas paisagens tem sido feita frequentemente, desde os primórdios
dos estudos epidemiológicos. Ultimamente, tem se tornado importante incluir
nestas investigações os efeitos da fragmentação do habitat na prevalência de
infecções dos hospedeiros, tornando assim essencial o desmembramento das
diferentes paisagens com suas divergências de aspectos. Na avaliação de
paisagens fragmentadas classicamente, a hipótese é de que as populações são
mais susceptíveis aos patógenos com consequente maior prevalência de
infecções (BALASUBRAMANIAM et al., 2010).
De tal maneira que para melhor compreensão da relação doença e
paisagem é importante à análise do processo de formação da paisagem, pois, se
trata de um processo contínuo, que admite uma visão dinâmica do processo
saúde-doença. A utilização da paisagem como recurso de investigação na
ocorrência de doenças muda o eixo de investigação epidemiológica e permite
melhor fundamentação na evolução das doenças entre as populações
susceptíveis (SILVA, 2000).
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O maior determinante do processo de formação de uma paisagem é a
necessidade econômica, que vai moldando o ambiente conforme as atividades
exercidas pela sociedade, como a agricultura, pecuária, exploração mineral,
transporte de mercadorias, construção de cidades, indústrias diversas e produção
de energia. Não obstante, há o determinante histórico que promove no decorrer
do tempo à sobreposição da organização espacial como pode ser percebido, por
exemplo, nas paisagens históricas européias como os vestígios da época romana,
do feudalismo, da revolução industrial e período contemporâneo (HOSKINS,
1984).
Outro determinante a ser considerado na análise da paisagem que se
relaciona com a ocorrência de doenças são algumas inovações tecnológicas
desenvolvidas pelo homem em favor da sociedade. Entre as inovações do mundo
moderno que tanto trouxeram vantagens para a sociedade como um todo está o
transporte aéreo, cada vez mais rápido e podendo percorrer longas distâncias.
Esta tecnologia aproxima as populações de diferentes continentes. Por outro lado,
mais particularmente considerando os aspectos sanitários, apresenta-se como
desvantajoso ao proporcionar também o transporte entre continentes de agentes
causadores de doenças, seja na forma de vetor ou de portador humano ou animal
de doenças infecciosas e parasitárias, disseminando-as em diferentes regiões
geográficas (PIGNATTI, 2004).
Nos últimos anos, têm sido motivo de investigação e preocupação
sanitária as doenças emergentes, aquelas novas ou que já existiam e têm sua
incidência aumentada, bem como as doenças reemergentes, aquelas que anos
atrás foram erradicadas e têm ressurgido. No Brasil, a preocupação com estas
doenças é maior, pois o país possui uma imensa biodiversidade, sendo
degradada, especialmente em decorrência da expansão agropecuária sentido
áreas naturais. Proporciona assim, o contato entre as populações humanas e
seus animais domésticos com as populações de animais silvestres no seu habitat.
Esse contato colabora na disseminação de agentes infecciosos e parasitários
para novos hospedeiros e ambientes, além da possibilidade de introdução destas
doenças por meio de transporte entre continentes como no caso do transporte
aéreo (CARVALHO et al., 2009).
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Os aspectos anteriormente citados enfatizam a importância do estudo
da paisagem de forma científica, de modo a conferir embasamento teórico
analítico e tecnicamente confiável, para produzir influência nas decisões de
políticas públicas efetivas no controle sanitário de doenças. Assim como, em
políticas para o uso dos recursos naturais em função do desenvolvimento
econômico. Desse modo é necessário à identificação dos fatores impostos pelo
homem ao meio ambiente que interferem na dinâmica da paisagem, para que o
conhecimento existente não seja insuficiente e empírico, ao contrário, que seja
denso o bastante para permitir a fundamentação de leis que buscam a definição
das relações de causa e efeito no ambiente (PETERKA, 2008).
O desmembramento dos fatores da paisagem envolvidos na ocorrência
de doenças apresenta-se impraticável, pois todos os determinantes que definem
uma paisagem encontram-se fortemente atrelados. Nesta presente revisão com a
intenção de facilitar a compreensão dos fatores da paisagem que interferem na
maior ocorrência de doenças foi criado os subtópicos que seguem abaixo. Estes
devem ser considerados como os aspectos que mais influenciam nas doenças
exemplificadas e não como excludente dos outros aspectos.
2.2.1 Aspectos ambientais
A interferência das condições ambientais na frequência de doenças
pode ser conferida em diversos estudos em diferentes regiões do mundo. Em
particular no Brasil as endo e ectoparasitoses de ruminantes são enfermidades de
grande impacto em decorrência das perdas econômicas resultantes. Estes
parasitas caracterizam-se por serem intensamente prolíferos, adaptáveis e
resistentes às adversidades climáticas, contribuindo assim para a ampla
distribuição geográfica, bem como para a alta prevalência, independente do clima
ser temperado ou tropical. As combinações ecológicas determinam que um
parasita se desenvolva em dada região, mas que não o faça em outra
(MOLENTO, 2009).
Em estudo realizado no Hospital Veterinário da Universidade de
Campina Grande em Patos, Paraíba, durante um período de oito anos, foram
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avaliados aspectos epidemiológicos de doenças parasitárias de ruminantes
criados no semiárido da Paraíba e de estados vizinhos. A região apresenta
chuvas irregulares com precipitações médias anuais em torno de 800 mm
concentradas em um período aproximado de quatro meses e temperatura média
de 26ºC (COSTA et al., 2009).
Sob as condições ambientais acima citadas neste estudo foi observado
que a doença parasitária mais frequente em caprinos e ovinos foi a helmintose
gastrointestinal, principalmente a hemonchose, sendo os caprinos (6,24% dos
casos diagnosticados) mais afetados que ovinos (4,7%). Para os bovinos foi
descrita uma baixa frequência de helmintoses gastrointestinais, provavelmente
ocasionada pelo sistema de criação no semiárido, que é de baixa taxa de lotação
e permanência de bezerros com as respectivas mães (resistentes ao parasitismo)
por até um ano (COSTA et al., 2009).
Ainda considerando o estudo anterior, a principal doença em bovinos
foi a tristeza parasitária, com maior ocorrência no final do período de chuvas, em
áreas de desequilíbrio enzoótico, localizada em regiões de montanhas e
planaltos, áreas irrigadas e áreas das bacias hidrográficas. No período de seca
nas áreas mais afetadas do semiárido, o vetor [Rhipicephalus (Boophilus)
microplus] não sobrevive, pois as condições ambientais deste período são tão
intensamente seca e quente que levam a eliminação total dos carrapatos, porém
é reintroduzido no período chuvoso por meio de animais parasitados,
multiplicando-se, ocasião em que a doença pode incidir (COSTA et al., 2009).
No Brasil outros parasitismos preocupantes são os decorrentes dos
carrapatos, ou seja, os microrganismos patogênicos por eles transmitidos, como
protozoários, riquétsias, espiroquetas, vírus e helmintos. Estes parasitas, quando
intensamente presentes em determinada região ocasionam transtornos de ordem
econômica aos animais de produção e problemas de saúde pública ao homem.
Nesse sentido, os carrapatos devem ser considerados vetores de grande
importância para doenças infecciosas emergentes e reemergentes do homem,
animais domésticos e silvestres (JONGEJAN & UILENBERG, 2004).
Para melhor compreender o risco de infecção de patógenos
transmitidos por carrapatos torna-se essencial o conhecimento da ecologia
dessas espécies de artrópodes e suas relações com o ambiente natural. Por se
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tratarem de parasitas hematófagos, seu ambiente físico inclui os hospedeiros
constituindo em ambiente biótico, que reage ao parasitismo destes vetores. Os
fatores bióticos incluem a dinâmica populacional e a distribuição e abundância
tanto de carrapatos como de hospedeiros. Assim, o ambiente abiótico não impõe
pressões fisiológicas, populacionais e evolucionárias. A importância significativa
dos fatores abióticos está restrita ao ciclo vital livre, em se tratando de parasitas
intermitentes que sofrem interferências das estruturas da paisagem e
principalmente do clima (RANDOLPH, 2004).
O parasitismo ocasionado por carrapatos em seus respectivos
hospedeiros tem relação direta com fatores ambientais como altitude,
temperatura, pluviosidade e umidade relativa do ar. Tais fatores ambientais estão
diretamente ligados à presença, ao desenvolvimento, a atividade e a longevidade
destes vetores portadores de patógenos e reservatórios zoonóticos de infecções.
A ação do homem no ambiente tem colaborado para o aumento da infestação
destes vetores que, juntamente com o aumento da degradação ambiental, elevou
a incidência de doenças emergentes transmitidas por carrapatos, demonstrando o
efeito desses desequilíbrios na saúde humana e animal (DANIEL et al., 2004). O
surgimento de algumas zoonoses emergentes ocorreu em consequência da
degradação ambiental, por permitir a propagação de espécies parasitas de
humanos e animais antes contidas em ambientes silvestres (PETERKA, 2008).
Os fatores climáticos, da ecologia de vetores e até mesmo da situação
socioeconômica divergirem entre os continentes, torna essencial a realização de
análises regionais sobre a ecologia e biologia desses vetores e até mesmo de
hospedeiros intermediários. Assim, ambos estão susceptíveis as mudanças
espaciais e temporais de temperatura, precipitação e umidade nas diversas
paisagens terrestres, interferindo consequentemente no risco de propagação de
doenças (GITHEKO et al., 2000).
Entre as doenças infecciosas que são avaliadas em relação às
variáveis ambientais destaca-se a leptospirose, uma importante zoonose de
distribuição mundial, causada pela bactéria da ordem Spirochaetales gênero
Leptospira, sendo L. interrogans a principal espécie patogênica, mas o gênero
alberga mais de 230 sorotipos (SMYTHE et al., 2002).
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Em uma avaliação geográfica realizada no estado do Rio Grande do
Sul, BARCELLOS et al. (2003) objetivaram identificar áreas de maior risco e os
prováveis componentes ecológicos da transmissão da leptospirose. Por meio de
dados epidemiológicos obtidos em unidades espaciais que representavam a
diversidade socioambiental do estado, assim como consideravam a exposição, os
reservatórios, os agentes etiológicos e os quadros clínicos da doença.
No estudo anteriormente citado pôde-se verificar que as maiores taxas
de incidência estiveram relacionadas às áreas sedimentares litorâneas, às de
baixa altitude e às de uso do solo predominantemente agrícola, sendo a maioria
destas áreas associada à lavoura irrigada. Estas características ambientais,
determinadas por interferências antrópicas, sugerem ser favoráveis à transmissão
da leptospirose em locais de proliferação de roedores sinantrópicos, assim como
produção agrícola intensiva (BARCELLOS et al., 2003).
A relação entre presença de leptospirose e ambiente com maior
umidade pode ser também verificado em estudo realizado por MINEIRO et al.
(2007) com intuito de avaliar a frequência de leptospirose em rebanhos bovinos
leiteiros, na Microrregião de Parnaíba, Piauí. Esta doença acarreta transtornos
reprodutivos aos bovinos e consequentemente perdas econômicas. No estudo
pôde ser observada a correlação positiva entre pluviosidade alta no período
chuvoso e maior prevalência de soropositividade para leptospirose, sendo que a
diminuição da proporção de soropositivos, entre os períodos chuvoso e seco,
sugeriu que na microrregião o período chuvoso atua como fator favorecedor da
persistência de leptospiras no ambiente.
Outras doenças de importância econômica nos animais de produção
tem tido medidas de controle mais intensas como no caso da tuberculose nos
bovinos. Nos Estados Unidos da América (EUA), intensa vigilância tem sido feita
para tuberculose na pecuária, e pesquisadores têm empenhado esforços na
erradicação da tuberculose bovina no país. Assim, FINE et al. (2011) que
investigaram a possibilidade de contaminação e risco de infecção dos animais
domésticos propiciado pela transmissão indireta de Mycobacterium bovis.
FINE et al. (2011) avaliaram a possibilidade de presença de M. bovis
em substâncias presentes no ambiente, nos locais em que há trânsito de cervos
(Odocoileus virginianus) das propriedades de criação de gado, levando em
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consideração a alimentação destes animais silvestres de vida livre e as práticas
de manejo de animais de produção em Michigan nos EUA. Para tal avaliação,
foram colhidas amostras de feno, grãos, silagem, capim, solo, esterco e água nas
propriedades rurais com a cultura de M. bovis confirmada em bovinos e em locais
com alta prevalência de M. bovis em cervos de vida livre. Nenhuma das amostras
ambientais colhidas e processadas para cultura de micobactérias foi positiva para
M. bovis, reduzindo assim a probabilidade de contaminação dos animais
domésticos via contaminantes ambientais.
Porém, os pesquisadores sugerem a probabilidade de determinantes
provenientes do agente, dos hospedeiros e de fatores da paisagem, ainda não
bem investigadas, poderem diminuir a probabilidade de identificação da bactéria
por meio de cultura micobacteriana convencional. Com o uso de técnicas mais
sensíveis há a probabilidade de aperfeiçoar as avaliações ambientais,
aumentando a perspectiva de detecção de M. bovis em amostras ambientais
oriundas de locais conhecidos na transmissão deste agente. Em investigações
epidemiológicas realizadas em estudos experimentais, técnicas como as
moleculares serão mais eficazes na caracterização da persistência do M. bovis no
ambiente e o seu papel na transmissão interespécies (FINE et al., 2011)
2.2.2 Aspectos socioeconômicos e políticos
Para atender as necessidades do crescimento populacional que vem
ocorrendo mundialmente, a ação antrópica alterou o ambiente natural no planeta
e trouxe consequências que refletem em todos os seres habitantes dos diferentes
continentes, incluindo o homem. Como exemplo disso, pode-se citar o surgimento
de doenças emergentes como a síndrome da imonudeficiência adquirida (AIDS);
o resurgimento de doenças antes controlada por vacina e medicamentos como a
tuberculose; e o aumento de doenças vetoriais anteriormente contidas em seus
ambientes e hospedeiros naturais como a leishmaniose; entre outras transmitidas
por carrapatos. Assim, nas últimas décadas, doenças infecciosas emergentes têm
desafiado aspectos políticos, socioeconômicos e de saúde pública em todos os
países. É válido mencionar que há significativas quantidades de doenças que
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acomete o homem e são zoonoses, além de estarem relacionadas direta ou
indiretamente com animais domésticos e silvestres (PETERKA, 2008).
A transmissão de doenças infecciosas como a gripe aviária,
tuberculose e a brucelose, de animais silvestres para o homem e animais
domésticos, desperta preocupações sobre o papel dos animais de vida livre como
reservatórios de doenças em vários países. Entre os exemplos, pode ser citado o
caso de texugos (Meles meles) na Grã-Bretanha aos quais são atribuídos o fato
de ocorrer aumento na incidência de tuberculose bovina (TB), causada pela
infecção por Mycobacterium bovis, nos rebanhos do país prejudicando a
subsistência dos pecuaristas e aumentando potencialmente os riscos de
exposição humana a infecção. O controle torna-se complicado pelo envolvimento
da fauna e os interesses dos pecuaristas, gerando conflito entre conservação e
sustentabilidade da atividade pecuária (DONNELLY et al., 2003).
Porém, no governo da Grã-Bretanha existem políticas voltadas para
medidas de controle desse reservatório. Entre os anos de 1975 e 1997 mais de
20.000 texugos foram abatidos como parte da política de controle da TB britânica,
gerando conflito entre conservação e grupos de interesses agrícolas.
Posteriormente, um estudo demonstrou que após testes de campo realizados em
larga escala, que o abate dos texugos não foi suficiente para controlar a doença,
além de parecer ter aumentado a incidência de TB nos bovinos (DONNELLY et
al., 2003).
O estado de Michigan, nos EUA, em 2000 perdeu a designação de
“livre de TB” pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Esta inversão
de status livre de tuberculose, originalmente conseguida em 1979, foi resultado da
detecção de TB em rebanhos bovinos em 1998 e confirmada com o
estabelecimento de tuberculose em cervos (Odocoileus virginianus) na região
nordeste do Estado em 1995. Como medida de controle da zoonose foi autorizada
a caça de cervos, sob licença, de modo que o efetivo destes animais foi reduzido
em 50%. A ocorrência de TB em bovinos e cervos em Michigan apresenta a
mesma distribuição espacial e temporal. A doença já foi encontrada em outras
espécies de animais selvagens, incluindo alce (Cervus elaphus), coiote (Canus
latvans), guaxinim (Pvocyon lotov), gambá (Didelphis virginiana), lince (Felis
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rufus), urso negro (Ursus americanus) e raposa vermelha (Vulpes vulpes)
(SCHMIT et al., 2002).
Nos EUA adotam-se diferentes medidas de controle de reservatórios
de vida livre, como os possíveis portadores de doenças infecciosas para os
animais domésticos. As agências federais e estaduais que podem permitir, por
exemplo, aos bisões estarem sujeitos ao mais alto nível das medidas de controle
de doenças, tais como serem abatidos quando tentam sair dos limites de áreas
públicas, enquanto alces são autorizados a andar e migrar com algumas
restrições (GALEY et al., 2005).
Semelhante ao que ocorre com a tuberculose existe também a
preocupação com outras doenças infecciosas como a brucelose nos EUA. Não
houve casos conhecidos de brucelose transmitidos de bisão para o gado, mas em
Wyoming e Idaho múltiplas transmissões de alce para o gado foram detectadas
por testes de DNA. A estirpe bacteriana responsável para um dos recentes surtos
de Wyoming foi de 99% geneticamente idêntica à Brucella sp. cultivadas a partir
de alces invernados em terrenos de alimentação em Muddy Creek (GALEY et al.,
2005). Como é provável que o alce continue a ser implicado em surtos de
brucelose, a sua liberdade de trânsito em áreas de pastagens de rebanhos
bovinos pode ser limitada no futuro (BEINEN & TABOR, 2006).
A contaminação pela Brucella abortus nos animais selvagens, alces e
bisões, da região oeste dos EUA, mais especificamente no Grande Ecossistema
Yellowstone (Greater Yellowstone Ecosystem – GYE) ocorreu a partir de 1900, via
rebanhos bovinos infectados vindos da Europa. Atualmente, estes animais têm
sido de reservatórios para os animais de produção que se contaminam pelo
contato com fetos infectados oriundos de abortamentos, restos placentários e
fluidos do parto de animais portadores nesta região (BEINEN & TABOR, 2006).
Existem grandes divergências entre ambientalistas e fazendeiros sobre
o grau em que os alces e bisões devem ser controlados de forma a minimizar o
risco de transmissão de doenças ao gado. Muitos fazendeiros, bem como as
agências federais responsáveis pela gestão da brucelose, têm operado sob a
suposição de que, enquanto os animais selvagens representarem qualquer risco
de transmissão da doença para o gado, estas espécies devem suportar o impacto
das medidas de controle. Por outro lado, os conservacionistas têm argumentado
14
que a brucelose causa pouca morbidade e mortalidade em espécies selvagens,
não devendo ser abatidas em terras públicas, sugerindo que a fim de minimizar o
risco de transmissão de doenças, os fazendeiros e órgãos federais e estaduais
devem ser responsáveis para limitar a presença de gado (particularmente as
fêmeas) em terras públicas. Diante do impasse existente entre ambientalistas e
agricultores, diversos pesquisadores têm envidado esforços para pesquisar
alternativas para o controle de brucelose em animais selvagens preservando-os e
partindo de uma avaliação em escala de ecossistema (BEINEN & TABOR, 2006).
2.2.3 Aspectos demográficos
A ocorrência de doenças em qualquer local do mundo está vinculada
as variáveis demográficas, incluindo as migrações populacionais, a dinâmica
urbana e as ocupações de novas áreas. Assim, entre os fatores determinantes de
doenças infecciosas encontram-se a distribuição dos hospedeiros susceptíveis
que facilitam a transmissão entre espécies animais (PROFFITT et al., 2011).
Pesquisadores empenhados nesta abordagem observaram em seus
estudos realizados com mapas desenvolvidos a partir de modelos de função de
seleção de pesquisa (resource selection function – RSF) a sobreposição espacial
entre as áreas de habitat de alces e pastagens de rebanhos bovinos. O estudo
levou em consideração o período de risco de transmissão de brucelose (definido o
período de risco entre 15 de fevereiro e 15 de junho correspondentes ao final do
prazo de aborto e períodos de partos). Estes dados foram utilizados como
ferramentas que puderam fornecer uma base para identificação das áreas de
maior risco de transmissão de brucelose entre estas espécies animais na região
de Madison Valley no Estado de Montana nos EUA (PROFFITT et al., 2011).
O modelo realizado por PROFFITT et al. (2011) possibilitou prever que
áreas selecionadas pelos alces tinham menor probabilidade de serem ocupadas
por lobos (Canis lupus), situadas em propriedades particulares localizadas ao sul
da região do GYE que contêm encostas mais íngremes com estradas estreitas e
altos índices de vegetação por diferença normalizada – NDVI (este índice mapeia
a vegetação assim como mede a quantidade e a condição da vegetação em uma
15
determinada área). Estes autores identificaram também que os alces selecionam
florestas e áreas de pastagens compartilhando o mesmo espaço dos animais
domésticos de produção. O fato de os alces selecionarem as terras de
propriedades privadas leva a sobreposição espacial das áreas de gado e aumenta
o risco de mesclar as duas espécies animais. Além disso, ambas as espécies
concentram-se em áreas de altos NDVI aumentando a área de sobreposição.
Os indivíduos infectados por Brucella abortus podem apresentar
abortos tardios ou permitir o desenvolvimento fetal, logo o risco de transmissão
ocorre no final da prenhez ou no momento do parto. Assim, foi determinada a
soroprevalência de anticorpos contra Brucella abortus entre os rebanhos de alces
no GYE constatando que aumentou de modo recente em alguns rebanhos de
alces de vida livre. Contudo, evidências atuais sugerem que a soroprevalência
aumentou mais predominantemente na região sul do GYE (região mais próxima
das propriedades rurais). Adicionalmente, o risco de transmissão entre espécies
animais depende de muitos fatores a serem considerados, como a persistência de
bactérias no ambiente, o número de alces, a atividade pecuária e a probabilidade
de infecção dos susceptíveis (CROSS et al., 2010).
Pesquisas brasileiras envolvendo a investigação de doenças
infecciosas na fauna silvestre e consequentemente a sua condição de
reservatório para os animais domésticos ainda são poucas, animais estes que
compartilham o mesmo espaço geográfico dos animais domésticos.
ZIMMERMANN (2012) ao comparar a ocorrência de Brucella sp., por meio de
teste de PCR, em veados-campeiros (Ozotoceros bezoarticus) e bovinos em
simpatria na sub-região Pantaneira da Nhecolândia (Corumbá - Mato Grosso do
Sul) observou que 5% dos cervos e 15,15% dos bovinos avaliados eram positivos,
sugerindo que Brucella spp. circula no ambiente do Pantanal Sul-Mato-Grossense
entre estas espécies animais. Ainda no pantanal do Mato Grosso do Sul, ELISEI
et al. (2010) observaram que 20,4% das amostras de 44 veados-campeiros foram
positivas para Brucella spp. aplicando-se a PCR. Já MAYOR et al. (2006)
encontraram anticorpos anti-Brucela em catetos (Tayassu tajacu) na região
amazônica (4/41 animais).
Outras enfermidades passíveis de transmissão entre espécies animais
foram investigadas como na avaliação feita no puma (Puma concolor), um felídeo
16
encontrado em diferentes zonas ecológicas do Brasil e nas Américas. Na
avaliação do parasitismo gastrointestinal na região central do Rio Grande do Sul
verificou-se a presença de infecção mista por oocistos de Cryptosporidium sp. e
ovos de Trichuris sp., assim como de oocistos de coccídeos sugestivos de
Toxoplasma gondii ou Besnoitia sp. Desta forma, pode-se considerar o puma
como um potencial hospedeiro destes parasitas. Contudo, os achados expõe a
necessidade de se pesquisar o papel deste felídeo no ambiente relacionado à
disseminação destes parasitas (FANFA et al., 2011).
A soroprevalência para Toxoplasma gondii também foi avaliada em
animais silvestres em cativeiro nas regiões norte e nordeste do Brasil, verificando
que 33% dos mamíferos avaliados foram sororreagentes positivos para este
parasita, entre estes animais encontra-se a anta brasileira (Tapirus terrestris). As
infecções por T. gondii são amplamente predominantes em seres humanos e
animais em todo o mundo. A possibilidade de animais em cativeiro, especialmente
em zoológicos, atuarem como potenciais fontes de infecção aos visitantes
humanos devem ser monitoradas para que minimize esta possibilidade
(MINERVINO et al., 2010).
Para o estabelecimento de um programa de erradicação de doenças
nos animais domésticos, o objetivo não deve ser a busca por uma situação de
soro positividade “zero” nos indivíduos susceptíveis, mesmo porque em grande
parte da infecções avaliadas a ocorrência de animais soropositivos pode ser tanto
em decorrência de vacinação quanto após a infecção. Critérios para declarar um
país ou uma dada região oficialmente indene de determinada doença foram
estabelecidas em normas internacionais, em diretivas e recomendações como da
Organização Internacional de Epizootias da União Europeia (OIE/EU). Muitas
doenças são epidemiologicamente complexas, sendo necessários outros critérios
além dos resultados dos testes para garantir o sucesso de um programa de
erradicação (GODFROID et al., 2010).
A ênfase deve ser colocada na investigação multidisciplinar, abordando
a ecologia da infecção, particularmente sobre como prever se a infecção irá
persistir em uma população. A partir de uma abordagem ampla e bem
fundamentada cientificamente sobre a ocorrência das doenças, os órgãos
responsáveis devem estabelecer um consenso, principalmente para prevenir a
17
reintrodução da infecção em rebanhos, especialmente em regiões consideradas
oficialmente livres (GODFROID et al., 2010).
2.2.4 Aspectos antropogênicos
O crescimento populacional mundial têm se intensificado
significativamente nas últimas décadas, especialmente em países
subdesenvolvidos, com aumento em particular da urbanização em vários países,
tendo uma estimativa de que 50% da população mundial vivem nas cidades. Em
virtude disso, têm ocorrido transtornos que atingem os seres vivos, principalmente
o homem, como saneamento inadequado no abastecimento de água, sistema de
esgoto e destino dos resíduos sólidos; proliferação de fauna sinantrópica;
deficiência de infraestrutura urbana e agressão ao meio ambiente. Os fatores
citados determinam condições para a disseminação e proliferação de agentes,
seus vetores e reservatórios que favorecem o surgimento de doenças nas
populações (LUNA, 2002).
Em virtude das mediações humanas, notavelmente o ambiente no
mundo todo sofre contínuas mudanças. Assim, é compreensível que os padrões
de doenças e seus efeitos na saúde das populações humanas e dos diferentes
animais também estão sujeitos a alterações constantes. As interferências
antropogênicas no ambiente alteram a ecologia das doenças infecciosas e
parasitárias trazendo consequências negativas à saúde do homem e animais
(PETERKA, 2008).
Algumas doenças em consequência da ação antrópica sofreram um
processo de urbanização, já que tempos atrás eram doenças típicas do meio
rural, como por exemplo, a esquistossomose. Esta doença causada pelo
Schistosoma mansoni é uma parasitose de preocupação mundial em saúde
pública e devido aos vários fatores envolvidos caracteriza-se por possuir
transmissão complexa, sendo de grande preocupação mundial sua veiculação
hídrica a animais e humanos. Para seu controle surgiram medicamentos
extremamente eficazes atuantes no parasita o que reduziram sua morbidade.
Porém, os parasitas possuem ampla distribuição no Brasil e no mundo sendo
18
discutida a necessidade de recorrer a outras disciplinas que possam ajudar na
elucidação da ocorrência desta doença como a sociologia e a geografia (LIMA,
2000).
Doenças parasitárias como a esquistossomose comumente estão
associadas a baixos índices socioeconômicos e a falta de saneamento. Porém,
isto não foi confirmado em estudo realizado no município de Campinas, São
Paulo. A relação entre a doença e a urbanização foi avaliada baseando-se nos
conhecimentos sobre migração populacional, desenvolvimento socioeconômico,
as classes sociais, os padrões de ocupação do solo, assim como as informações
epidemiológicas e biológicas da doença. Pôde ser evidenciado no estudo, sob os
aspectos da dinâmica de ocorrência e manutenção da doença, que esta
apresentava distribuição heterogênea na população. Diante disso, não pode ser
estabelecido o padrão nesse ambiente urbano, apesar de dados oficiais
(SUCEN/Campinas) considerarem que os criadouros do vetor estão em toda
cidade (LIMA, 2000).
Os diferentes gêneros e espécies de carrapatos também ocasionam
transtornos à saúde do homem e animais veiculando doenças emergentes em
virtude da degradação ambiental ocasionada pela ação antrópica. É importante
mencionar que cerca de 90% das espécies de carrapatos parasitam
exclusivamente animais silvestres em habitat com pouca interferência humana,
mantendo em equilíbrio os patógenos transmitidos por estes artrópodes. Tal fato
criou um problema de via dupla, pois, como populações domésticas e humanas
estão em contato com áreas de ocorrência de patógenos silvestres, o contrário
também ocorrem com animais silvestres expostos aos patógenos de carrapatos
das populações domésticas (JONGEJAN & UILENBERG, 2004).
Um exemplo dessa disseminação de doença transmitida por carrapatos
silvestres seria a bactéria intracelular obrigatória Rickettsia rickettsii, agente
causador da febre maculosa em humanos e apresenta como principal vetor no
Brasil o carrapato da espécie Amblyomma cajennense. Apesar dos casos de
febre maculosa terem sido observados em poucas localidades consideradas
endêmicas é possível que possam ter ocorrido outros casos em regiões não
endêmicas, fato que se torna preocupante ao se tratar de uma doença altamente
letal (PETERKA, 2008).
19
Atualmente há a preocupação com diferentes doenças emergentes
pelo mundo, exemplo disso é o vírus da encefalite japonesa (JEV), um arbovírus
que é o principal causador de encefalite viral, responsável por 10.000 a 15.000
mortes por ano no mundo, que ainda é uma doença tropical negligenciada. A JEV
tem grande e continua área de distribuição, se estendendo em direção a novas
regiões da Ásia e Austrália. Apesar de grandes campanhas de vacinação terem
sido eficazes, a encefalite japonesa continua ser uma doença de preocupação na
saúde global, principalmente pelo favorecimento do seu ciclo de transmissão
zoonótica que pode ser tanto silvestre como doméstico. O primeiro envolve aves
ciconiformes como hospedeiros amplificadores, já o segundo envolve suíno
(principal hospedeiro amplificador doméstico), além disso, espécies de mosquitos
Culex, especialmente Culex tritaeniorhynchus, constituemos principais vetores
(LE FLOHIC et al., 2013).
Em escala global, o clima, a cobertura vegetal e o uso da terra são
fatores fortemente dependentes de atividades humanas que afetam a abundância
de vetores para JEV e de hospedeiros silvestres e domésticos. Na Ásia, em
decorrência do aumento da área de cultivo de arroz, intensamente utilizado por
aves ciconiformes e da elevação na produção de suínos, tem ocorrido alta
disponibilidade de recursos para manutenção de mosquitos vetores, colaborando
para disseminação da JEV, amplificação e transmissão. Em escalas regionais, as
características de densidade, tamanho e arranjo espacial em três elementos da
paisagem como os arrozais, criatórios de suínos e habitações humanas podem
facilitar ou impedir a circulação de vetores, assim como determinar a interação da
JEV com hospedeiros e vetores definindo o risco de infecção para os seres
humanos. Se a JEV é introduzida numa paisagem favorável, quer por animais
infectados vivos ou vetores, em seguida, o vírus pode emergir e tornar-se uma
grande ameaça para a saúde humana. A investigação multidisciplinar é essencial
para elucidar os mecanismos biológicos envolvidos na emergência, propagação,
ressurgimento e alterações genotípicas de JEV (LE FLOHIC et al., 2013).
20
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As intervenções humanas causam alterações tanto macroambientais
quanto microambientais modificando a distribuição espacial dos agentes
patogênicos. Estas intervenções acontecem por estarem atreladas ao
desenvolvimento econômico em virtude, muitas vezes, da expansão agrícola
geralmente associada ao desmatamento rápido e não planejado, ou melhor, sem
que antes seja investigada a existência de potenciais agentes causadores de
doenças. Este fato expõe as populações de animais e humanos aos transtornos
causados por agentes causadores de doenças.
Uma sequencia de ações e reações do homem e do ambiente ocorrem
em função dos interesses sociais em favorecimento do desenvolvimento
econômico de um país ou de determinada região. Este fato está muito relacionado
à necessidade de crescimento em que ocorre intervenção política apoiando aos
interessados na exploração dos recursos naturais disponíveis. Esta exploração
ocorre geralmente de modo desordenado e sem planejamento ambiental. Em
consequência disso, indivíduos antes restritos ao seu habitat natural passam a
coabitar com o homem e seus animais domésticos, promovendo o desequilíbrio
do ciclo biológico de algumas espécies de seres vivos, ocasionado certas vezes a
ocorrência de doença antes não existentes.
Contudo, não há políticas prontas ou fundamentadas cientificamente
em quais alterações podem ocorrer em função dessa necessidade de crescimento
econômico. A exploração dos recursos naturais sem planejamento e com
ausência de investigação de agentes patogênicos, sujeita indivíduos habitantes
da natureza a se adaptarem a novos hospedeiros e novas condições ambientais,
bem como, expõem humanos e seus animais domésticos ao convívio com
animais silvestres e seus agentes causadores de doenças. E isso vem ocorrendo
ao longo do tempo desde o início das civilizações.
A necessidade de conhecer as diferentes paisagens torna-se
importante para o estabelecimento de estratégias e medidas que poderão ser
incluídas nos programas governamentais de controle e erradicação de doenças
infecciosas nos animais e daquelas que são transmitidas por vetores ao homem.
21
No Brasil, bem como em outros países, as medidas de controle e erradicação de
doenças adotadas são formuladas por organizações internacionais que visam à
eliminação de reagentes positivos para determinadas doenças. Entretanto, não se
leva em consideração os aspectos das paisagens inerentes de cada país ou
região.
O intenso desequilíbrio ecológico, agregado a aspectos
socioeconômicos, políticos e culturais existentes em determinadas paisagens
torna o controle de doenças vetoriais extremamente difíceis de ser estabelecido.
O conhecimento da dinâmica destas doenças nas diversas paisagens pode
auxiliar no estabelecimento de medidas sanitárias preventivas.
22
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