Feitiçaria, Bruxaria Tradicional e Moderna
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Samuel Oliveira
35 anos, nascido em Avaré,interior de São Paulo.Estudante e praticante de
Bruxaria Tradicional, Bruxaria Moderna eocultismo a 20 anos, iniciado originalmentenum sistema de feitiçaria brasileira semelhanteà algumas tradições de Stregheria, com maiorênfase em conjurações e feitiços, poucofocado em armas mágicas formais. Nomemágico: Janus Arthan.
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wiccanos associam a varinha ao
elemento ar, assim como alguns
magos teúrgicos. É usada para
evocações e invocações, feitiços,
alguns wiccanos usam para mexer
poções e demais preparos no
caldeirão, lançar o circulo mágico e
traçar símbolos no ar.
Tradicionalmente a varinha deve ser
confeccionada em madeira, mas em
realidade pode ser feita em
qualquer material, sendo também substituída por muitos wiccanos por um Dorje ou bastão
atlante. Isto por que na verdade não necessitamos de uma varinha se tivermos treino
adequado para dirigir nossa vontade, e isso não se aplica somente a varinha, mas a todo o
resto, podendo o trabalho ser feito apenas com a mentalização, sem a necessidade de fazer
um único gesto. No hermetismo isto é chamado de magia astral. Mas as ferramentas facilitam
em muito o nosso trabalho, depois de consagradas adquirem poder mágico, e quanto mais
forem usadas, mais este poder aumenta, melhores resultados serão obtidos, e menos energia
será exigida do operador.
Uma coisa interessante sobre o material usado na confecção de varinhas e bastões, é a
unanimidade da família das betuláceas, como carvalho, bétula, aveleiras e demais árvores
desta espécie, tendo associações próprias para cada tradição, mas sendo usada por todas
elas.
Segundo o ramo moderno da Arte, as varinhas devem ter o comprimento que vá do cotovelo
até a ponta do dedo indicador de seu proprietário, mas já vi varinhas com dez centímetros de
comprimento que funcionavam muito bem. As varinhas de uso geral são feitas de salgueiro
(no Brasil esta árvore é popularmente conhecido como chorão) cortado em noite de lua cheia.
As de fins específicos são feitas dos seguintes tipos de madeira:
Macieira - amor
Nogueira - sabedoria, adivinhação
Freixo - cura
Bétula - purificação
Sabugueiro - evocação e exorcismo de entidades
Carvalho - trabalhos solares.
Alguns wiccanos brasileiros fazem uso também da madeira da goiabeira. Nei Naiff uma vez
me sugeriu que fizesse cetros e varinhas com galhos de seringueira. Franz Bardon fazia seus
bastões furados de uma ponta à outra, para que pudesse acrescentar um núcleo (seus
condensadores fluídicos). Na Golden Dawn, os bastões ou varas do fogo como eram
chamados, também eram ocos, para colocar um vareta magnética que ficava 15mm fora da
extremidade traseira do bastão.
Essas são algumas formas tradicionais de fazer uma varinha, mas fique a vontade para fazer
a sua, o material e o tamanho não importa, o fato de ser oca possibilita colocar um núcleo em
especial, por exemplo, numa varinha feita para fins curativos poderia ser posto um núcleo a
base de sangue de dragão...mas como eu disse, fique a vontade. Esculpa, pinte, entalhe,
depois de consagrada funcionará independente de ser feita de ouro, prata ou madeira.
O Athame é a faca mágica ou punhal cerimonial da
Wicca, sendo geralmente um punhal ou faca de fio
duplo de cabo preto com a lâmina cega, usado para
direcionar a energia gerada durante os ritos e não como
instrumento de corte. Também é usado para lançar o
circulo demarcando o espaço sagrado e traçar símbolos
no ar. O uso de espadas na Wicca não é incomum,
devido à grande influência da Magia Erudita e literatura
Arthuriana no ramo moderno da Arte, sendo
consideradas como facas grandes, diferenciando-se no
fato de que no hermetismo a espada é o símbolo da
autoridade do mago sobre as entidades (geralmente
demônios). O Athame é comumente associado ao elemento Ar e ao ponto cardeal leste,
sendo também um objeto sagrado ao Deus devido sua natureza fálica e poder de causar
mudanças, alguns bruxos o associam ao elemento fogo.
O Bolline é a faca de cabo branco usada para trabalhos gerais como cortar ervas, entalhar
símbolos e demais tarefas que não seriam apropriadas com a faca de cabo preto. Geralmente
é consagrada, mas não para uso ritual como o Athame, mas para os fins já explicados. O
nome bolline vem da pequena foice usada pelos druidas celtas para colher ervas, sendo
O Athame
Bolline
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também usada por alguns membros da Arte em sua
forma moderna no lugar da faca de cabo branco.
Tido por muitos como o instrumento da bruxa por
excelência, o caldeirão é uma peça imbuída em mistério
e tradição mágica. Acredita-se no ramo moderno que é
no caldeirão que ocorrem as transformações mágicas.
A Wicca vê o caldeirão como o símbolo da Deusa, a essência
da feminilidade e fertilidade, o útero cósmico. É também o
símbolo do elemento água. Geralmente o caldeirão é o ponto
central do ritual.
Nos ritos de primavera é preenchido com água e flores, no
inverno o fogo é aceso dentro do caldeirão representando o
retorno do sol (o Deus) vindo do caldeirão (a Deusa). O
caldeirão idealmente deve ser de ferro e com três pés, com a
boca menor que o corpo, não importando o tamanho.
Já o cálice, não há muito do que se comentar, é um caldeirão de
vidro apoiado num pé só. Idem ao caldeirão simboliza a Deusa.
É usado para conter o elemento água no altar durante os ritos,
ou também a bebida ritual. Pode ser feito de praticamente qualquer material como ouro, prata,
bronze, cristais, barro...
O pentáculo, no caso da Wicca, o
pentagrama consiste em uma
estrela de cinco pontas feito em
ouro, prata, madeira, cera ou
cerâmica. Representa o elemento
terra, sendo usado para evocar ou
invocar entidades e como objeto de
proteção, sendo também adequado
à consagração de amuletos,
talismãs e outros objetos.
A Vassoura
Dentro do ramo moderno, a
vassoura é um objeto sagrado tanto
à Deusa quanto ao Deus.
Associada ao elemento água, é tida como um objeto de purificação psíquica e proteção.
Usa-se a vassoura para limpar ritualisticamente o covenstead (área escolhida para os ritos) ou
proteger a casa. Como os demais utensílios rituais, deve ser usada apenas para este
propósito. A vassoura pode ser tanto artesanal como comprada, mas para a segunda
alternativa, aconselha-se que seja arredondada no total de suas cerdas, vassouras horizontais
não surtem o mesmo efeito.
Geralmente dentro dos covens (grupo de bruxos{as} modernas) há o hábitos de usar
vestimentas próprias para os fins rituais. Normalmente são robes ou túnicas simples, mas já vi
covens que usavam túnicas arthurianas e mantos cerimoniais extremamente elaborados, mas
isto vai de acordo com as condições dos praticantes, e principalmente com sua afinidade com
esta regalia. Muitos preferem realizar seus ritos completamente nus, o que é muito comum no
mundo da magia, sendo a forma mais natural que se pode ficar. O uso de uma roupa própria
para o ritual tem como simbologia principal despir-se da personalidade cotidiana e vestir a
personalidade mágica. Para os que pretendem fazer uso de vestimentas rituais segue uma
lista de cores usadas pelo ramo moderno e seus significados:
Amarelo – para rituais de adivinhação
Roxo – para trabalhos com o poder divino puro ou sintonizar-se com as divindades.
Azul – para curandeiros que trabalham com sua consciência psíquica, ou para sintonizar-se
com a Deusa em seu aspecto oceânico.
Índigo – para rituais climáticos, astronômicos e viagens no tempo.
Verde – para ritos herbalistas.
Marrom – para os que têm ligações com os animais ou que lançam encantamentos através
deles.
Branco – simboliza purificação e espiritualidade pura, é usado para meditação e rituais de
purificação, rituais da lua cheia e acessar a Deusa.
Laranja – para rituais de proteção e conectar-se ao Deus em seu aspecto solar.
Vermelho – para rituais que envolvem questões corporais, poder e zoologia.
Roxo – rituais que trabalhe as emoções: amor, ódio, raiva, medo,êxtase...
Preto – simboliza a noite, o universo e a ausência de falsidade. Também protege os chakras.
Costuma ser a cor mais usada.
O caldeirão e o Cálice
O Pentáculo
As Vestimentas
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Na Wicca o altar fica no centro do
círculo, é um local de poder
reservado para colocar as
ferramentas
rituais e as representações do Deus
e da Deusa. A parte esquerda e
dedicado a Deusa e seus objetos
sagrados são depositados ali, como
o cálice, o pentagrama, cristais e o
caldeirão, uma estatueta da Deusa
ou uma vela branca para
representá-la. O lado direito do altar
é dedicado ao Deus, e desse lado
são depositados o athame, o boline
, a varinha, o incensário e uma representação do Deus, como uma estatueta ou uma vela
preta. O altar pode ser redondo para representar a Deusa e a espiritualidade, pode ser
quadrado para representar os quatro elementos, pode ser uma pequena mesa com uma
toalha, pode ser um toco de árvore ou uma pedra plana, e nos ritos a céu aberto pode ser
substituído por uma fogueira. Alguns wiccanos enfeitam o altar ainda com flores, frutas e
bolotas de carvalho.
O cetro ou varinha na Arte
tradicional não tem atribuições
muito diferentes das demais formas
de magia, sendo um extensor da
mão do bruxo, projetor da vontade e
forças numinosas. É usado para
traçar símbolos, Compassos e
enfeitiçar. É tradicionalmente feito
de bétula, carvalho, aveleira,
sorveira, teixo, freixo, sabugueiro, salgueiro e abrunheiro, mas como não moramos no país do
freixo e do espinheiro, faça com a madeira que achar correta, que deve ter o comprimento que
vá de seu cotovelo ate seu dedo médio.
Ao entrar na mata (supõe-se que é onde vá procurar a matéria prima para confecção do
objeto) peça autorização e a benção do Deus Arddhu, hoje mais conhecido como Homem
Verde, pois não só as matas e florestas, como toda a natureza são de seu domínio. Ao achar
o galho ideal, peça autorização a Dríade da árvore para colher um de seus galhos, e após
fazê-lo, agradeça a Dríade e deixe uma oferta de sangue para ela, furando seu dedo mínimo e
pingando uma gota no local onde havia o galho. Leite, mel e vinho podem também ser
vertidos em libação nas raízes da árvore como parte da oferta. Ao sair da mata, agradeça
Arddhu (lembre-se de sempre agradecer, ingratos não chegam a lugar algum). Recomenda-se
que o corte do galho seja feito no dia e hora de Mercúrio, num único golpe, acho isto um
pouco impossível de fazer como um boline ou arthame, a não ser que tenha uma força
descomunal, então pelo menos faça de uma forma rápida. Após ter o ramo para confeccionar
a varinha, corte-o no tamanho correto, descasque e deixe-o secar por aproximadamente um
mês. Para dar acabamento você pode lixar para deixá-lo mais liso, e depois pintar ou entalhar
sigilos, runas ou símbolos mágicos no corpo da varinha. Para envernizar use cera de abelha
derretida, assim que secar bem é só lustrar com uma flanela para dar brilho. Você também
pode optar por colocar um cristal de quartzo (amplificador de energia) na ponta da varinha. Se
decidir por fazê-lo, prenda o cristal a varinha com resina de pinheiro derretida. Há uma
infinidade de maneiras de manufaturar uma varinha, e diversos tipos também, esta é apenas
uma das formas tradicionais de fazê-lo.
Obs: o nome Dríade é de uso geral para se referir as ninfas da floresta, na realidade, Dríade é
o nome das ninfas que habitam nos carvalhos, as ninfas que habitam nos demais tipos de
árvore são chamadas de Hamadríade.
Arthame é o nome dado ao punhal ou faca cerimonial na Arte Tradicional. Assim como no
ramo moderno, é um punhal, ou uma faca de dois gumes. Alguns acreditam que o nome
O Altar
Ferramentas da Bruxaria Tradicional
O Cetro ou Varinha
O Arthame
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Arthame venha de Arthana, forma
como a faca de cabo preto é
referida em “As Chaves de
Salomão” (mas a faca referida
nesse grimoire é de fio simples e
não duplo, o punhal de fio duplo
recebe outro nome), já Andrew
Chumbley e Sayed Idres Shah
defendem que o termo venha da
palavra Al-dhamme ou Adh’amme,
faca ritual utilizada no culto
marroquino de feitiçaria Dhu’lqarnen
(Senhor de Dois Chifres), que
significa letra de sangue,
salientando que diferente da Wicca
conservamos sua lâmina afiada. O
Arthame é um objeto de conjuração e controle de diversos tipos de espíritos, é usado também
para traçar o Compasso (círculo mágico), signos no ar, extrair oferendas de carne e sangue.
Para algumas vertentes da Arte dos Sábios a faca não só é associada à espada como são
consideradas sinônimas. Elas detém os atributos da precisão, incisividade, penetração e
iluminação simbolizada pela “espada relâmpago” de Arthur, Calad Vwlch, hoje conhecida
como Excalibur. Para outras é tido como o arado de Caim. Não é um objeto usado por todas
as tradições, mas é tido como um dos mais importantes dos objetos para as tradições que o
usam.
O caldeirão é o emblema do renascimento, da
abundância e da fonte de sabedoria. É o símbolo da
Deusa Galesa Cerridwen, a Deusa do Caldeirão, sendo
a fonte de todo nutrimento, nascimento, regeneração e
transformação, onde ela destila a essência tripla da
inspiração onisciente por um ano e um dia.
Tradicionalmente deve ser de ferro e com três pés, o
tamanho vai conforme a necessidade do praticante. O
caldeirão é também usado por muitos bruxos e bruxas
como oráculo para adivinhação e como chave para
vários ritos.
São várias as pedras usadas na Arte, as mais famosas
são a Hagstone, uma pedra com um orifício natural
causado pela erosão das águas de rios e mares, usada
para divinação e tida como o amuleto mais valioso. A
Troystone, uma pedra achatada que possui um labirinto
gravado num de seus lados, usada para meditação e
atingir estados alterados de consciência. Também são
usadas pedras simples para afiar os objetos cortantes
da Arte, e na Stregheria, a Bruxaria Tradicional italiana,
fala-se da pedra redonda que ao ser encontrada numa
estrada deve ser consagrada ao Follettino Russo, traduzido como Gnomo Vermelho no livro
Aradia- O Evangelho das Bruxas, mas que ao pé da letra seria Goblin Vermelho.
A vassoura é símbolo do vôo extático das bruxas e feiticeiras, é também
símbolo da purificação e renascimento sacro. É através dela que os bruxos e
bruxas realizam o vôo do espírito para as dimensões do Sabbat. A vassoura
nas Ilhas Britânicas tradicionalmente é feita de três madeiras: freixo para o
cabo, ramos de bétula para as cerdas, e os galhos flexíveis do salgueiro para
amarrar as cerdas. Mais isto é feito nas Ilhas Britânicas, nos moramos no
Brasil, use o que estiver à disposição. Com certeza é preferível o uso de uma
vassoura artesanal, que não é difícil de fazer, mas uma industrial de palha pode
ser usada também. A vassoura é usada em diversos feitiços, para consagrar o
Compasso e muitas outras práticas.
O Caldeirão
As Pedras
A Vassoura
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Postado por Samuel Oliveira às 14:45 Nenhum comentário:
O Stang é um cajado bifurcado, o ícone Maximo do Deus das
bruxas, é o mastro estandarte de Owld Hornie. É um cetro
cerimonial, que na falta do Magister (líder do clã), ou em trabalhos
solitários deve ser fincado na extremidade Norte do Compasso,
simbolizando o Deus das bruxas. O Stang tem infinitas aplicações
dentro da Arte, pode ser usado como cavalo no lugar da vassoura,
pode ser usado para girar o Compasso, objeto de divinação, ponte
para as divindades e espíritos a serem evocados, etc...
O Stang originalmente é feito de freixo, mas pode ser
manufaturado em qualquer tipo de madeira, seguindo as mesmas
orientações para confecção da varinha. A altura do Stang
geralmente varia de 1 metro a 1,5 metro. Lembrando que quando é
fincado no solo, uma vela é fixada no meio da bifurcação,
representando a iluminação (sabedoria) transmitida por Owld
Hornie, e para fazê-lo melhor, um prego deve ser posto na
bifurcação, que tem como função o ato de manter o poder da
consagração dentro do Stang. Nem só de um galho bifurcado pode
ser feito um Stang, ele pode ser uma estaca com o crânio de bode,
cervo, boi, ou apenas os chifres destes animais fixados na estaca. Para os concílios que
fazem uso desta ferramenta, esta é a peça mais importante da Arte dentro de um ritual.
Vestimentas especiais na arte tradicional não foram muito usadas nos tempos antigos, visto
que a bruxaria sendo um esoterismo/ocultismo popular, tinha o povo como seus principais
adeptos, que nunca foram muito abonados. Como explicaria ao ser pego por oficias, ou
mesmo vizinhos e amigos, usando um manto cerimonial, ou uma roupa fora do comum ao dia
a dia. Mas hoje os tempos são outros e quem tem condições com certeza tem a sua túnica ou
manto de uso exclusivo para suas práticas. Mas muitos conservam os costumes seculares,
que são o uso de roupas comuns, ou o rito praticado totalmente nu.
Estes são alguns dos objetos da Bruxaria Tradicional que por serem usados por muitas
tradições, pode-se dizer que são “objetos formais”. Outras tradições ainda fazem uso de itens
como o sal, que representa o elemento terra e age como catalisador e purificador de energia,
vinho, cerveja, trigo, etc.
Mas isto é uma coisa que varia muito de tradição para tradição e de bruxo para bruxo como
dito na introdução do post.
A consagração dos objetos, tanto pelo ramo moderno quanto pelo tradicional, será exposta
num post futuro.
Janus Arthan
Imbolc 2015 E.C
O Stang
Vestimenta
domingo, 9 de março de 2014
A Bruxa de Évora
A Pedra das Bruxas http://apedradasbruxas.blogspot.com.br/
6 de 17 12/10/2015 20:52
A feiticeira ou bruxa de Évora é uma das personagens mais populares e misteriosas do folclore
e das lendas da magia, especialmente na esfera da cultura popular. Sua biografia é dispersa,
incerta, cheia de contradições. Até onde conduzem as pesquisas, não pode ser considerada
figura histórica; no entanto, sua fama é suficiente para considerá-la arquétipo mítico de um
certo tipo de bruxa, de feiticeira.
Sobre uma Bruxa de Évora, como pessoa localizada em um tempo, sua identidade primeira e
verdadeira, sobre isso não há, nenhum registro que possa ser considerado como Histórico,
documental, de fonte confiável. Documentos referentes à Bruxa simplesmente inexistem.
É difícil até mesmo determinar a época em que viveu. A maioria dos textos/livros sobre uma
Bruxa de Évora afirma que ela viveu no século... Outros, dizem que viveu em meados da Idade
Média. Todavia, um único de texto de referência permite supor que, na verdade, essa Bruxa é
mais antiga, e que poderia perfeitamente ter vivido em pleno século III d.C..
Mítica, é possível que a primeira bruxa de Évora tenha sido tão poderosa e influente que seu
nome tornou-se sinônimo para praticantes da bruxaria que vieram muito depois e também
fizeram fama desde o antigo oriente Médio, Ásia Menor. Uma idéia de bruxa que alcançou não
somente a Península Ibérica mas também toda a região costeira do Mar Mediterrâneo, os
Bálcãs, as ilhas do mar Mediterrâneo: ao longo de séculos, a expressão "Bruxa de Évora",
tornou-se algo como um título.
A BRUXA & O SANTO FEITICEIRO
As pesquisas sobre esta feiticeira indicam que boa parte de sua fama nasce junto com a fama
de um outro mago negro controverso: CIPRIANO DE ANTIOQUIA que viveu no século III da
Era cristã (anos 200). Este, depois de uma vida dedicada à magia negra, converteu-se ao
Cristianismo e foi até canonizado passando fazer parte da história Cristã como São Cipriano.
Segundo as lendas, pois as biografias desses personagens não têm registros históricos
precisos, o nome "Bruxa de Évora" [ou Bruxa de Yeborath – Iebora, em árabe یعبره
significando Cruzado, cruzamento, encruzilhada] aparece pela primeira vez, no contexto do
estudo da História da Bruxaria, ligado ao nome do Santo feiticeiro. Ela teria sido uma das
mestras do mago e ele, seu discípulo mais prestigiado, herdeiro de seus feitiços.
BABILÔNIA:
FEITICEIRAS DE ENCRUZILHADAS
NOS PRIMÓRDIOS DA BRUXARIA
A migração da mítica da Bruxa de
Évora:
da Babilônia até a Península
Ibérica
Porém, esse encontro NÃO
ACONTECEU na península Ibérica,
como sugere o termo designativo,
distintivo da Bruxa, Évora que é
uma cidade histórica de Portugal.
Segundo a biografia do feiticeiro
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7 de 17 12/10/2015 20:52
Cipriano, seu encontro com a Bruxa aconteceu na Mesopotâmia, na Babilônia, [atual Iraque]
onde se reuniam os ocultistas que estudavam a magia dos antigos Caldeus [sobretudo
Astrologia].
Os dois personagens, já legendários: Cipriano, o Feiticeiro e supostamente, um de seus
Mestres, sendo uma certa Bruxa de Évora, parecem ser um caso de migração de mitos e
sincretismo cultural.
Ambos, Cipriano e a Bruxa, originalmente, parecem pertencer ao acervo das crenças e figuras
mitológicas que chegaram à península Ibérica em diferentes períodos históricos mas que
combinaram-se perfeitamente no universo da mítica do sobrenatural: primeiro, chega a lenda
Cipriano, já difundida no Martirológio cristão: o caso do Feiticeiro e sua misteriosa mestra de
Yeborath. O Bruxo que virou Santo.
Mais tarde, o juntamente com os Mouros sarracenos que invadiram e dominaram o território a
partir de 715 d.C., vieram as bruxas misteriosas do Oriente, quase ciganas, as bruxas das
Yeborath ou Iebora, das encruzilhadas, das agulhas.
E, se sobre a Bruxa não há registro históricos de espécie alguma, a não ser como arquétipo,
sobre Cipriano, o Santo Feiticeiro, existem, ao menos, um parcos documentos, como sua
Confissão depois da conversão ao Cristianismo.
Como foi dito, Cipriano – o Feiticeiro não somente encontrou uma certa Bruxa de Evora em
sua passagem pela Babilônia como dela teria herdado os livros, as poções, os segredos do
poderes de sua Mestra.
Considerando essa informação como fato possível, uma Bruxa ou feiticeira na/ou da Babilônia
seria, naturalmente, versada naquele tipo magia característica da cultura Mesopotâmica, aquela
normalmente classificada como magia das trevas, da mão esquerda, magia negra: Goecia,
necromancia, vidência, evocações, parcerias com demônios, envultamentos [encantamento à
distância: os bonecos de cera e as agulhas], oráculos.
Essas bruxas e bruxos foram aqueles que preservaram alguma coisa das tradições da magia
das tribos nômades e reino antigos de tempos ainda mais arcaicos entre os quais destacam-se
os Caldeus e os Assírios. Era uma Magia de sombras, freqüentemente desprovida de
escrúpulos, sem critérios éticos, que livremente associava-se com entidades não humanas e
pouco confiáveis: demônios, gênios, formas-pensamento, elementais, espíritos de pessoas
mortas.
Uma bruxa assim poderia, mesmo ter existido. E não somente uma, mas várias. As bruxas
de-ou-das Evoras seriam algo como uma categoria de feiticeiras. Voltando à etimologia da
palavra Évora, embora sejam encontradas raízes em solo europeu, não se pode desconsiderar
a Yeborath dos árabes que, como foi explicado tem como significado: Cruzado,
cruzamento, encruzilhada.
Uma etimologia que sugere a tradução do termo Bruxa de Évora para Bruxa de Encruzilhada
ou, bruxa que faz seus trabalhos em encruzilhadas, lugar de Pactos. [Lembrando uma
característica que lembra a divindade grega Hécate, senhora dos encantamentos e do mundo
dos mortos.]
Com uma pequena mudança gráfica e fonética, se Yeborath é dito Iebora, então o significado
muda para Agulha, agulhas e assim resulta, Bruxa das Agulhas. Ou seja, uma bruxa que
trabalha com agulhas [supõe este pesquisador, agulhas e bonequinho de cera. Meditemos]...
MAGIAS DE ÉVORA ANTES DE TUDO
Rastrear a trajetória geográfica da figura da "Bruxa de Évora" ao longo dos séculos passa,
necessariamente pelo conhecimento do histórico da localidade de Évora até porque, se o
folclore em torno desta personagem começa na Babilônia do século III d.C., a crença se
perpetua além Oriente-médio, alcança com toda força mítica a vasta região da península
Ibérica e, atravessando o Atlântico junto com os grandes navegadores portugueses e
espanhóis, encontrou seu lugar no imaginário dos povos latinos-nativos-afro-americanos.
Se, de fato, existiu uma bruxa de Évora cuja vida se cruza com a vida de São Cipriano, esta
personagem viveu [ou teria vivido] no século III, os anos 200 depois de Cristo. Nesta época,
Évora era uma cidade romana, a Libetalitas Julia, conquistada em 57 d.C..
Contudo, a palavra Évora, ao que tudo indica é a denominação popular da localidade, antes e
depois do domínio romano e, ainda, são várias as explicações para a origem deste nome.
Plínio, o Velho (23–79 d.C.) – filósofo e naturalista, cronista romano, em seu livro Naturalis
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Historia, chama o lugar de Ebora Cerealis, por
causa dos campos de trigo que dominavam a
paisagem.
OS CELTÍBEROS
Os povoamentos na região, cujo centro, hoje, é a
cidade Évora, abriga sítios arqueológicos que datam
da Idade do Bronze [1.800 a.C.] e outros ainda mais
antigos, do Paleolítico, Neolítico, Calcolítico [Idade do
Cobre, cerca de 3.000 a.C]; de muito antes da Era
Cristã. Sobre o passado remoto de Évora escreve J.
Saramago:
Chamaram-lhe Ebora os celtiberos, e como Ebora
Cerealis a tem nomeado Plínio, o Velho, na sua
História Natural, o que servirá para dar
testemunho de que as planuras transtaganas já
davam pão pelo menos dez séculos antes que os "alentejanos" (os que viveram e
vivem além do Tejo...) se tornassem portugueses (SARAMAGO, 2001).
Mitologia-folclore cristão-pagão e sarraceno [mouros] são apenas dois dos elementos que se
misturam na composição da lenda e das imagens relacionadas à Bruxa de Évora. Uma
influência ainda mais recuada repousa na história dos fascínios e medos dos povos que
habitaram a Península antes de romanos ou mouros.
São os bárbaros celtiberos, dos quais fala Saramago no texto acima e outras nações várias
que se miscigenaram com os supostos autóctones [nativos do local] lusitanos ou lusitani [em
latim] a maior das tribos ibéricas. Os lusitanos propriamente ditos são, geralmente,
considerados como proto-celtas, celtas primitivos, migrantes, provenientes do norte europeu,
mais especificamente os Célticos.
MAGIA DOS CELTÍBEROS
Uma xamã, ou feiticeira ibérica, [ou um xamã, o
gênero é incerto] figura central no culto da
Fertilidade, no Ocidente. É uma sacerdotisa. No
peitoral, sete símbolos do sol. British Museum.
Estes primeiros habitantes organizados em aldeias e
tribos da região, os celtiberos praticavam a magia
européia ocidental mais primitiva, ainda eivada de
crenças e práticas pré-históricas, como os sacrifícios
humanos, por exemplo.
Nesse contexto, o papel das mulheres tinha grande
relevância posto que exerciam o papel de Xamãs,
curandeiras que se utilizavam do conhecimento das
virtudes e das peçonhas fornecidos pela Natureza,
poções para o bem e para o mal extraídas de vegetais,
animais e minerais. No alvorecer da História, as bruxas
eram como médicas: do corpo, da alma; intermediárias
entre os homens e as forças da Natureza.
Foi essa magia primitiva que, aos poucos, transformou-se na Bruxaria da península Ibérica,
resultado da interação com saberes de outras nações: romanos pagãos, romanos cristãos,
bárbaros outros, pagãos originais ou romanizados; bárbaros cristianizados, Mouros
(muçulmanos, Sarracenos).
Sobre a relação entre Évora e os celtíberos, estudos indicam que, a palavra e o lugar podem
estar ligados a uma antiga divindade celta cultuada na região: Eburianus cujo símbolo é a
árvore do Teixo. Houve tempo em que os lusitanos chamavam a atual localidade de Évora de
Eburobrittium (SÍMON, 2005).
ERA UMA VEZ... LAGARRONA-LAGARDONA
Segundo o livro de São Cipriano [o feiticeiro, século III d.C. anos 200], capa de Aço, no tempo
em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora, o rei mouro Praxadopel ali construiu
um castelo, em Montemur.
Nesse lugar, hoje chamado Castelo de Giraldo [referência a Geraldo, o Sem Pavor – ... -1173?
herói da reconquista da terra lusa ocupada pelos mouros], transformado em ruínas pelo passar
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dos séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, no
fundo da propriedade, ocultos embaixo de montes de pedras, no Túmulo de Montemur, foram
encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos escritos por Lagarrona, a
Feiticeira de Évora (também chamada Lagardona ou La Guardona).
* Os mouros, povos do oriente médio, somente poderiam ter ocupado a região depois
período de expansão dos domínios árabes em suas incursões em território europeu, em
uma época, portanto, pós-fundação do Islamismo. Porém as referências à uma bruxa de
Évora remontam aos primeiros séculos do Cristianismo, por volta do século III,
coincidindo com o período de vida de do bruxo Cipriano. Eis uma prova da dificuldade
de identificar a historicidade dessa feiticeira tão famosa.
FOLCLORE DA FEITICEIRA EM PORTUGAL
Ruínas das muralhas: Castelo do Giraldo, cidade Évora –
Portugal. O Castelo de Giraldo, mais que uma referência a
uma edificação, refere-se a toda uma região que, hoje, é um
sítio arqueológico de Portugal.
No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora [e os mouros chamavam a
cidade de Yeborath a Liberalitas Julia da época da dominação romana], o rei mouro
Praxadopel ali construiu um castelo em Montemur [região vizinha de Évora cujo centro é a
cidade de Montemor].
Nesse castelo, hoje chamado Castelo de Giraldo, transformado em ruínas pelo passar dos
séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, que, no
fundo da propriedade, enterrada entre montes de pedras, está o Túmulo de Montemur. Nele
foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos [supostamente] escritos
por LAGARRONA, a feiticeira de Évora.
Frei Antão de Sis, estudioso dos fenômenos mágicos e da feitiçaria, através dos pergaminhos,
encontrou a casa da bruxa, ainda em pé, apesar do tempo. Descreveu-a como uma casa
diabólica... No meio dela havia uma cova da altura de um homem. As paredes internas
estavam repletas de desenhos representando lagartos, cobras, lagartixas caracóis, rãs,
escaravelhos, símbolos egípcios, vespas, baratas e outros bichos peçonhentos.
Do lado de fora, havia quatro sapos e várias figuras de meninos tendo nas mãos molhos de
varinhas de ervas com os quais ameaçavam os sapos. Ainda dentro da casa, em dos cantos
dessa casa mal-assombrada havia a escultura de pedra de um cavalo-homem, como um
centauro. Noutro lugar, outra estátua, esta, a de uma mulher-serpente. Em certo ponto do chão
ladrilhado com cerâmica negra, uma inscrição:
O primeiro a abrir esta cova
Verá coisas jamais vistas
Cava por diante para que resistas [enfrentes]
ao grande temor que seu peito prova
Verás sortilégios mágicos que prendem os homens,
o filtro do amor que amarra as mulheres.
Não temas, não temas. Não mostres temor:
acharás sucessos, magia e amor
e, por certo, em tudo será vencedor.
Gran libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985
A BRUXA DE ÉVORA NOS LIVROS
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Em Portugal A Bruxa de Évora é o modelo de bruxa. Mas não somente em Portugal: este
modelo de bruxa está na fantasia de toda a Península Ibérica e nos territórios que foram
descobertos e conquistados pelos grandes navegadores ibéricos da Idade Moderna.
É praticamente inexistente o material documental sobre a pessoa específica de uma Bruxa
relacionada, residente ou oriunda da região de Évora. Livros, biografias sobre essa
personagem são poucos e contém informações de fonte duvidosa e/ou desconhecida. Edições
de obras bem conhecidas não mencionam datas ou originais. Dois livros destacam-se nessa
bibliografia exígua: O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora de Amadeo de Santander e A
Bruxa de Évora, de Maria Helena Farelli.
No primeiro, no que se refere à biografia da Bruxa, o que se encontra, logo no primeiro capítulo
é uma reprodução e/ou tradução de outro texto de autor praticamente desconhecido: capítulo
do Livro de São Cipriano, sabe-se lá em qual de suas repetitivas versões mas, muito
possivelmente da edição em espanhol Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del
hechicero.
O capítulo, intitulado La Hechicera de Evora o Historia de La Siempre Novia (Siempre Novia,
referência uma das lendas mais difundidas sobre a Bruxa) teria sido, supostamente, extraído
[todo o capítulo] de um manuscrito cujo autor é um certo [ou incerto] Amador Patrício.
FEITIÇO DA COBRA GRÁVIDA
Outro supostamente episódio biográfico sobre a Bruxa relata o paradoxal encontro da Feiticeira
com o Bruxo Cipriano, já cristianizado mas ainda especialista em bruxedos. O caso é conhecido
com O Encontro de São Cipriano com a Bruxa de Évora. Neste encontro, Cipriano não
parece um discípulo diante de uma antiga mestra. Ao contrário, é a bruxa, já em avançada
idade que recorre ao novo cristão para realizar um feitiço que lhe renderia [a ela, bruxa] bom
dinheiro. Trata-se do feitiço da cobra grávida, para segurar marido.
O ex-bruxo propõe uma barganha: a conversão da bruxa ao Cristianismo em troca da fórmula
mágica. A bruxa aceita e eis a feiticeira de Évora transformada em penitente velhinha cristã. Ao
final, a receita profana, destinada a recuperar o marido da contratante, uma jovem senhora da
nobreza, pede o favor para a réptil gestante [a cobra grávida!] mas, isso em nome de Deus e da
Virgem Maria! Uma combinação extravagante de feitiço pagão e reza cristã.
Santander, autor deste livro, O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora, este autor é tão difícil
de identificar e datar quanto a própria Bruxa de Évora. Ele começa sua obra sem qualquer
introdução, identificando o período de vida da personagem que dá nome ao livro com o tempo
da dominação Sarracena na península Ibérica, ou seja entre o século VIII e começo do século
XII.
Escreve Santander: No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora...
E ao longo do capítulo descreve o que seriam os últimos anos de vida da Bruxa, claramente
qualificada como Moura, muçulmana. No relato, a feiticeira tem um filho adulto e mau.
Chamado Candabul, desejou possuir uma jovem donzela cristã. A bruxa ajuda no rapto da
moça, providencia a morte por enfeitiçamento todos os pretendentes dela. Mas o mal-feitor é
preso e condenado à morte. Mais uma vez a bruxa interfere e se empenha em produzir
mágicos meios de fuga para Candabul.
LA GUARDONA, O FANTASMA DA BRUXA
Caçada pelos agentes da Lei, depois de várias peripécias, ela acaba morrendo durante um
acidente na realização de um de seus feitiços, que fazia em uma tentativa desesperada de
escapar da Justiça. Quando chegaram os soldados, encontraram-na morta. Não foi sepultada.
Como punição post-mortem, foi pendurada na porta da própria casa e ali ficou apodrecendo e
sendo devorada pelos abutres e vermes. O cadáver, lentamente virando ossada, oscilando ao
sabor das ventanias, era uma visão macabra que parecia vigiar o lugar e a bruxa morta passou
a ser chamada de La Guardona [ou, as corruptelas, Lagarrona e Lagardona], algo como A
Guardiã... da casa, de suas ruínas e arredores. O local, naturalmente, passou a ser temido e
considerado como assombrado [Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985].
Todavia, mais adiante, quando fala do encontro da feiticeira com o ex-mago negro, o autor
[Santander] ignora completamente os dados históricos que, se pouco dizem também sobre a
vida do bruxo Cipriano, ao menos bem determinam a data de sua morte, martirizado por ser
cristão em 304 d.C., muito antes, séculos antes, portanto, da Bruxa de Santander ter
protagonizado aquelas aventuras. No episódio do feitiço da cobra grávida, o fim da bruxa é
outro: cristianizada, bem aposentada com o ouro do último bruxedo que fez por contrato e
empregada como Aia [criada pessoal] de uma condessa.
LENDAS, FÓRMULAS & SEGREDOS
Torna-se claro que os relatos sobre a bruxa de Évora são de fato, um conjunto de lendas e seus
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supostos escritos são de origem desconhecida, excertos de Grimórios mais antigos de autoria
igualmente duvidosa. Alguns são atribuídos a este ou aquele mestre mais conhecido na esfera
do folclore, da cultura popular, como Alberto, o Grande, Papa Honório, bruxo Atanásio e o
próprio Cipriano, o feiticeiro.
Muitas das receitas dos Grimórios são fórmulas de remédios caseiros, acervo de um saber
muito útil em uma época em que a medicina dispunha de toscos recursos e médicos com
estudo eram poucos e para ricos. Muitos dos Segredos da Bruxa revelados no livro de
Amadeo de Santander fazem parte da sabedoria popular dos curandeiros e curandeiras de
linhagem imemorial, uma herança que durante muito tempo foi preservada e transmitida através
da cultura oral.
A própria Bruxa apresentada por A. de Santander em sua pretensa-original tradução-
reprodução do Único e autêntico manuscrito comprovado pelos sábios da Galícia extraído
do Flor Sanctorum, datado dos tempos dos mouros de Évora, a feiticeira comenta
revelando algo possivelmente verídico na vida de muitas Bruxas de Évora: que seus
conhecimentos foram-lhe ensinados pela mãe, segredos passados de geração em geração.
Explicando a Cipriano em que consiste o seu [dela] feitiço da Cobra Grávida Para Prender
Marido ela revela algo de recorrente na biografia dessas bruxas de Encruzilhadas:
É pele de cobra com flor de suage [ou sage, Artemisia vulgaris ou, ainda, flor-de-
são-joão, erva-de-são-joão, artemísia-verdadeira, losna, absinto. L.C.] e raiz de urze
[Erica Lusitanica ou torga e/ou Calluna vulgaris] que estou queimando em nome
de Satanás, para defumar as roupas do duque [o Grão Duque de Terrara] e ver se
o desligo daquela mulher [uma amante]. Esta mágica foi sempre infalível quando
minha mãe a praticava debaixo dessas abóbodas em que as mãos dos homens
não tomaram parte. Minha mãe desligou com ela [a tal magia] mancebais
[relações extraconjugais] de nobres e monarcas...
(SANTANDER, p 13)
O ENCANTAMENTO DA BRUXA
...a Bruxa de Évora foi vista voando em um bode preto...
voava... acompanhada por um veado e um javali alados...
(FARELLI, 2006 p 26)
Em A Bruxa de Évora, Maria Helena Farelli (2006) apresenta a personagem como arquétipo
folclórico luso-hispano-brasileiro, com ênfase nas raízes portuguesas da lenda, já devidamente
hibridizadas entre: 1. o druidismo celtíbero doméstico; 2. o culto romano à deusa Diana
[correspondente à grega Artemis], cujas ruínas do templo ainda podem ser visitadas em Évora;
3. a figura mítica da moura feiticeira, freqüentemente apresentada, simplesmente e
depreciativamente como a Moura Torta, um modelo de bruxa, tudo isso misturado ao – 4.
ritualismo cristão das orações e adoração dos santos e das relíquias e nome sagrados.
Em Farelli (2006), a narrativa passa, como é necessário, pela história da nação lusitana,
detendo-se em período em que a cultura popular mística-religiosa já tinha absorvido elementos
que ficaram como herança do tempo da dominação islâmica-sarracena em toda a península
Ibérica. Boa parte dessa herança consiste no universo misterioso na magia semita, caldaica,
mesopotâmica: dos magos-alquimistas, astrólogos, videntes, quiromantes, necromantes –
invocadores de gênios e espíritos dos mortos, magia-negra, também, sim, da mais antiga
tradição árabe, pré-Islã. Segundo Farelli a Bruxa de Évora era a ...guardadora dos segredos
dos feitiços do Oriente, a que voava em camelos alados... (FARELLI, 2006 – p 15).
Sobre o sincretismo no qual foi forjada a Bruxa de Évora, a autora escreve: ...o português
sempre acendeu uma vela para Deus e uma para o outro. Até na Igreja ele fazia
mirongas... Até os padres eram acusados desses feitos. Mas os considerados grandes
bruxos eram os mouros e os judeus... (Idem, p 29). E mais: ...segundo a lenda, a Bruxa de
Évora era moura... árabe ou mourisca... morena... (Ibid., p 29).
BRUXA ERUDITA
Em relação à aparência, A Bruxa de Évora (FARELLI, 2006) apresenta o arquétipo folclórico
da personagem em sua velhice. Esta esta é uma daquelas bruxas velhas e esquivas dos contos
infantis. Mas, ao contrário do modelo da curandeira intuitiva, analfabeta, camponesa ignorante
cujo conhecimento é todo proveniente de experiência pessoal e herança de tradições orais, em
Farelli (Idem) a bruxa de Évora é praticamente uma erudita. Alfabetizada, poliglota, ela fala, lê
e escreve em português [o gentílico da época], árabe e latim.
Sem citar sua fonte de informação, a autora enfatiza: Sabia matemática... reconhecia as
estrelas,... sabia ler a sorte nas areias... Ela conhecia a magia de seus ancestrais
muçulmanos* mas, vivendo no século XIII [anos 1200], também sabia [da magia] dos
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celtas... (FARELLI, 2006 – p 33). Todavia, a moura pagã era, ao mesmo tempo, devota cristã:
...a velha bruxa já tinha feito a peregrinação a Santiago de Compostela [tradição cristã]...
Já tinha ido à Sé de Braga, muitas vezes, pagar promessas... (Idem) ...E, ainda: ...a bruxa
de Évora não era uma herética. Era uma mulher que conhecia as rezas (Ibid., p 41).
* Um equívoco comum do olhar superficial do Ocidente sobre o Oriente. Há muito tem-se
confundido cultura árabe com cultura de muçulmanos. A magia não poderia ser
praticada por uma muçulmana. O Islã proibiu, sujeitando a severas penas, a prática da
magia tradicional pré-islâmica. Na verdade, a famosa riqueza da cultura árabe precede o
Islã; uma riqueza que o Islamismo cuidou de mutilar ao longo de mais de um milênio e
declina, mais e mais, com a expansão e recrudescimento fundamentalista da fé no
Alcorão e sua teocracia – repressiva, opressora e regressora, baseada em leis
supostamente religiosas suplementares – as Sharias, diferentes para as diferentes seitas
muçulmanas, que ignoram até mesmo os preceitos estabelecidos no confuso livro
sagrado desses crentes.
Além disso, essa Bruxa de Évora era uma senhora em situação social e de comportamento
atípicos para sua época. Vivia bem [ou seja, não passava dificuldades financeiras, materiais].
Tinha dinheiro proveniente da prestação de seus serviços mágicos e/ou técnicos-científicos.
Porém, consciente do espírito dos tempos medievais, não ostentava riqueza ou poder. Era
discreta, sabiamente. Andava pobremente vestida, Era seu jeito de ficar invisível e evitar
confrontos com as autoridades religiosas.
O LIVRO DA BRUXA QUE NÃO É DA BRUXA
Flos Sanctorium ou Flos-Santorio: Flor
dosSantos
Como todo ocultista, seja leigo ou erudito,
considerando uma figura histórica da Bruxa como
precursora ou símbolo de um mito, a Bruxa de
Évora, alfabetizada que era possuía ou devia possuir
seu próprio Livro [ou livros] de estudos e anotações
contendo fórmulas de elixires, ungüentos, poções,
rezas, rituais e outros saberes. Nos meios
exotéricos, o livro de registros pessoais de uma
bruxa é chamado Livro das Sombras.
Um possível Livro da Bruxa de Évora seria – ou foi
e é, um objeto que, se autêntico, atraiu e atrai
curiosidade e cobiça proporcional à força lendária de
sua suposta autora. Um objeto digno de um Museu
de história da cultura ocidental. De fato, este Livro é
um dos elementos mais explorados do folclore em torno da Bruxa; explorado, inclusive, no
mercado editorial.
Porém, o texto que tem atravessado séculos e que Amadeo Santander reproduz em seu Livro
da Bruxa (s/data), este texto é uma mutação de autoria desconhecida o suficiente para ser
considerado de domínio público. Na folha de rosto de uma edição recente Santander e/ou a
editora [seja lá quem for este autor] declara que a obra reproduz o único e autêntico
manuscrito... [cópia] do original extraído dos Flos Sanctorum, datado do tempo dos
mouros de Évora.
Esta informação é uma encruzilhada na pesquisa: ocorre que o Flos Sanctorum [ou Florilégio
dos Santos, Flor dos Santos] a princípio, é Hagiografia: um livro que reúne biografias de
santos [?!]. E a situação se complica posto que o Flos Sanctorum, segundo estudos é, por sua
vez, reedição de um livro mais antigo, A Lenda Áurea ou A Legenda Áurea que também é,
essencialmente, coletânea de vidas de santos, escrito-compilado por Jacobus de Voragine
[1230-1298, italiano, religioso dominicano, arcebispo de Gênova], datado em em torno do ano
de 1260.
A questão é: como pode, o Livro da Bruxa apresentado por A. Santander ser extrato, derivação
de um Flos Sanctorum de qualquer século? Tudo indica que o Livro da Bruxa não é, de modo
algum derivado de manuscritos de uma Bruxa de Évora. O nome da Bruxa, nesse caso, tal
como no caso do penitente Bruxo Cipriano é usado como atrativo de mercado. Caso simples de
propaganda enganosa. Em ambos os casos, os Livros atribuídos aos lendários autores são
coletâneas de simpatias e receitas populares, tradicionais, resgatadas do acervo da cultura
oral, misturadas com rezas e saberes práticos destinados a solucionar os problemas do corpo e
da alma do Homem medieval.
MAGIA PRÁTICA, MUITO PRÁTICA
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comentário ao conteúdo de O Livro da Bruxa de A. Santander
No livro de A. Santander as receitas mágicas, feitiços, oráculos, começam no CAPÍTULO III
com uma técnica muito útil, atemporal! que pode funcionar em qualquer época, para as
mulheres se livrarem dos homens quando estiverem aborrecidas de os aturar. A seguir,
uma receita infalível para as mulheres não terem filhos, tão útil quanto anterior ou mais,
método bastante tradicional, utilizando esponjas do mar introduzidas na vagina antes do coito,
truque já usado no Egito Antigo, por exemplo. Há magias para sedução, rejeição e fidelidade,
para prosperar no trabalho honesto ou desonesto. Oferece proteção contra inimigos, oráculos
para saber do presente e do futuro, feitiços e contra-feitiços.
O CAPÍTULO IV resgata a figura do mago egípcio Janes [que, juntamente com seu parceiro,
Jambres], que confrontou Moisés e Arão diante do Faraó com uma disputa de poderes
mágicos. Este personagem, o mago egípcio Janes, pouco lembrado nos dias correntes,
também é citado nos Livros de são Cipriano, fortalecendo as alusões a uma ligação, mestra-
discípulo entre o Santo Bruxo e a Bruxa de Évora. Em uma das versões da fim da vida da
Bruxa, ela é convertida ao cristianismo por Cipriano e termina sua vida como devota católica e
aia [camareira pessoal] de uma aristocrata.
Neste capitulo,continuam sendo listadas magias relacionadas com questões
mundanas,cotidianas,incluem ainda, receitas de beleza: Para conservar a formosura, para
afinar, limpar e clarear a pele, tingir os cabelos. Em uma das formulas o mago Jambres
promete: ...Fazer sumir do corpo e do rosto as verrugas, manchas e outras excrescências
da pele.
O CAPITULO V é dedicado à Pastoromancia, denominação imprópria, refere-se à chamada,
por ocultistas como Eliphas Levi [Alphonse Louis Constant, 1810-1875] e Papus [Gérard
Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916], magia dos campos, da tradição dos pastores da
Sicilia, Itália. E não são propriamente magias.
São receitas, mais especificamente, medicinais, parte do arsenal curativo popular dos precários
tempos medievais. São remédios e rezas para combater, solitária [Taenia solium, verme
platelminto], hemorróidas, lesões musculares, surdez, dor de dentes, feridas, úlceras,
hemorragias, queimaduras, picada de insetos e animais peçonhentos e, é claro, receita contra
calos e verrugas.
O CAPITULO VI promete revelar o segredo alquímico da arte de fazer ouro. Porém, como
sempre acontece nesse tipo de "literatura" o texto nada fornece de aproveitável sobre o tema.
Aliás, passa longe de qualquer fórmula de produzir ouro.
São mencionadas umas poucas substâncias muito usadas em outras operações mágicas
registradas em outros manuais do gênero. Tais substancias seriam ingredientes-chave da
transmutação de materiais ordinários no precioso metal. Escreve Santander: Não faltam nos
livros verídicos [?] exemplos que comprovem essa operação. E ainda: Esta arte é de
grande facilidade [!] mas exposta a graves perigos porque não se pode executar em a
cooperação do demônio (SANTANDER, p 59).
É o demônio quem prepara e fornece certos pós empregados na transmutação. Dois metais e
uma outra substância são mencionados como ingredientes essenciais: argenteo vivo
[possivelmente interpretável como Alumínio (Al) mas muito mais provável que seja redundância
esclarecendo o azougue como sendo e elemento Mercúrio cujo símbolo é Hg provém da
designação latina – hydrargyrum que significa prata líquida.
De fato, o Mercúrio assemelha-se a uma prata buliçosa e vívida [por sua consistência entre o
fluido e o gel]; daí também a denominação azougue [para o mercúrio], aludindo a algo buliçoso,
que não para quieto. Finalmente, entre os ingredientes da transmutação comentada em O Livro
da Bruxa é mencionado um misterioso pó de Resh [Veja box ao lado].
Galiza ou Galícia é uma comunidade autônoma espanhola, fronteira com Portugal, situada a
noroeste da Península Ibérica. Sua capital é Santiago de Compostela, na província da Corunha.
As informações sobre estes tesouros foram alegadamente extraídas de um pergaminho que
teria sido encontrado nas ruínas do castelo mourisco de Altamira [abaixo] no ano de 1065.
Sobre o paradeiro do pergaminho (no século XX) diz o autor (Santander) que encontra-se [ou
encontrava-se...] em Barcelos, [cidade portuguesa, norte do país], na Biblioteca Acadêmica
Peninsular Catalã.
Muito danificado, o pergaminho tem partes carcomidas e em alguns casos não se entende bem
(SANTANDER, p 63]. Na verdade, todo o texto sobre os supostos Tesouros da Galiza não se
entende nada bem, por exigüidade de informações e/ou por arcaísmos nas denominações
topográficas, medidas de distância e valores.
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Os termos usados nos textos dos
173 (cento e setenta três) segredos
estão repletos de termos muito
antigos. Exemplos: Encruzilhada de
Lobios, distância de 32 homens...
depositamos 500 cunhos, na
ponte do Poderoso, à profundeza
de dois homens... [na]...
residência de frei Tramudo... um
haver de prata em rama... entre
dois troncos de pinheiro, etc.
Deste modo, as dezenas de
segredos que deveriam revelar ou
fornecer chaves de localização de
tesouros, parecem nada significar;
de nada servir aos caçadores das
arcas e das botijas perdidas.
Todavia, se um crédulo ou teimoso arriscar apostar em algumas das 173 dicas vai precisar
estudar exaustivamente para decifrar/traduzir os nomes de localidades, que mudaram muitas
vezes, identificar personagens históricos, descobrir e converter para termos atuais valores das
distâncias e das supostas riquezas.
CAPÍTULO VIII – ORÁCULO DOS SEGREDOS
REVELADOS PELA FEITICEIRA DE ÉVORA
São 108 estes segredos que o autor (Santander) classifica como maravilhosos. Porém o
capítulo, na realidade apenas reúne mais receitas, cujo teor oscila entre a superstição e o
curandeirismo mais popular.
Pretender fornece fórmulas para uma miríade de problemas da condição humana: desde a
prática de proezas sobrenaturais, remédios caseiros para questões domésticas mais ou menos
ordinárias ou, ainda artifícios para alcançar desejos pouco louváveis e, certamente, nada
cristãos.
Em termos gerais trata da saúde e higiene básicas, das virtudes de certas substâncias e de
outras coisas, dos truques mágicos para obter vantagens, das operações consideradas
sobrenaturais, como a levitação. São outros exemplos desses segredos textos que tratam de
assuntos como:
Em saúde e higiene – Cura de dores de cabeça, evitar pulgas, carrapatos, percevejos, piolhos,
formigas, moscas; são remédios par lombrigas, tosse, catarro. diarréia, desinteira; para evitar a
sarna, para conhecer enfermidades pelo exame da urina, para manter a castidade, para cobrir
os cabelos brancos. Para manter a castidade...
Sobre virtudes de substâncias e de certas coisas – Do vinagre, da urina, do ovo, da
Genebra, da Artemísia, do Jacinto, do sono, de peles descartadas na muda das cobras. Para
conhecer as enfermidades pelo exame da urina. Sobre as virtudes do sono.
Prodígios – Tirar o sal da água do mar. Separar água e vinho. Para que um cavalo pareça
manco não sendo. Para não sentir tédio nem cansaço em uma jornada. Para o fogo não
queimar. Descobrir infidelidades. Fabricar uma lâmpada invisível.
CAPÍTULO IX – FRENOLOGIA, ANTROPOMETRIA & FISIOGNOMIA
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Trata-se de conhecer os indivíduos pelo
estudo ou leitura do Crânio [fenologia], das
Proporções e aspectos das partes do Corpo
[antropometria] e dos traços do rosto
[fisiognomia]. Capítulo bastante curioso que,
muito provavelmente, mistura sabedoria
popular com idéias científicas que
tornaram-se populares.
Além disso, esse tipo de conhecimento é
matéria essencial para qualquer magista
e/ou ocultista, uma tema especial entre
todos os tópicos dos estudos das Ciências
Humanas [no ocultismo].
Embora estas ciências tenham origens muito
antigas, o texto de Santander em O Livro da
Bruxa é fundamentado nos estudos do
médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828, que mapeou crânio e cérebro segundo suas
supostas funções):
Gall, o notável médico e fisionomista... é o autor deste engenhoso sistema, que ensina a
descobrir, por claríssimo modo, as inclinações, vícios, paixões e virtudes de todas as
pessoas pelo simples exame e configuração do crânio. ...Não se pode por em dúvida a
lógica desse sistema. ... Os homens mais notáveis, tanto por seus talentos como por
seus crimes, raras vezes apresentam cabeças regulares [SANTANDER].
Santander fornece a lista das faculdades cerebrais, que são trinta associadas a trinta regiões
crânio-cérebro, mas não apresenta o mapa concebido por F. J. Gall. A seguir passa a tratar da
fisiognomia, estudo dos traços e formas do rosto fornecendo algumas dicas sobre a leitura
dessas características: formato, tamanho dos olhos, nariz, testa, boca, dentes, queixo, orelhas,
mãos, pés.
Também fala dos tipos físicos como um todo, considerando altura, compleição, postura. Porém,
o estudo apresentado por Santander muito superficial se comparado a outros publicados por
ocultistas mais eruditos, como Papus [Gerard Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916].
CAPÍTULO X – CARTOMANCIA
Neste penúltimo capítulo, mais uma vez, misterioso manuscrito revelaria a técnica da suposta
Bruxa de Évora no ofício oracular de ler o destino das pessoas nas cartas de um baralho
comum.
Na misérrima choça que abrigava a bruxa, sua última morada antes da condenação e
num falso compartimento que lhe servia de dormitório, foi achado um manuscrito esta
nova arte de deitar as cartas, a que demos o nome de cartomancia cruzada e, ao que
parece, [desta técnica] a feiticeira começou a fazer uso depois de ter-se indisposto com
Satanás [supostamente, a Bruxa converteu-se ao Cristianismo por influência do também
ex-feiticeiro Cipriano – [p 139].
Observação: Na cartomancia, as cartas podem deitadas [tiradas e postas na superfície de um
plano] em disposição linear, uma ao lado da outra, é muito comum. A forma cruzada dispõe as
cartas de modo a formarem a figura de uma cruz, com uma tiragem de cinco cartas, por
exemplo. Isso isentaria a prática de tirar a sorte do estigma do pecado que consiste,
justamente, em fazer uso de oráculos. Meditemos...
CAPÍTULO XI – SOBRE ASSOMBRAÇÕES
Finalizando o Livro, Santander apresenta uma pequena coleção de casos de assombrações,
sem faltar a célebre casa assombrada de Atenas e referências a personagens do folclore
histórico, especialmente da península Ibérica, como: o Frade da Mão Furada e a Velha nos
telhados das casas. Crenças que chegaram ao Brasil colônia como atestam pesquisas de
estudiosos do assunto.
Fonte: Site Sofá da Sala - http://www.sofadasala.com
Janus ArthanLughnasadh 2014 E.C
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