UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A RELAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE COM A PSICOPEDAGOGIA
MÁRCIA MARIA SOARES WEIRICH
ORIENTADORA
SIMONE FERREIRA
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A RELAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE COM A PSICOPEDAGOGIA
Rio de Janeiro
2010
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Márcia Maria Soares Weirich
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AGRADECIMENTOS
Em função desta pesquisa tive a oportunidade de conhecer muitas
pessoas interessantes com quem além de me oferecer ajuda; tive o prazer de
compartilhar também de seus saberes e, em gratidão, pois este trabalho é
também fruto das nossas trocas e por isso, também é obra de todos nós.
4
DEDICATÓRIA
Homenagem à minha família,
pelo início de tudo isso e pelo
incentivo à minha carreira
acadêmica e profissional.
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EPÍGRAFE
“A vida sempre me pareceu uma planta que vive em raiz”.
Sua verdadeira vida é invisível, escondida na raiz.
A parte que aparece acima do chão dura somente um verão.
Então murcha – uma efêmera aparição.
Quando pensamos no eterno crescimento e queda da vida e das civilizações, não podemos escapar à impressão de profunda nulidade.
No entanto, eu nunca perdi o sentido de algo que vive e resiste por debaixo do luxo eterno.
O que vemos é a flor que passa. “A raiz permanece”.
Jung (oc. Vol. VIII/2).
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RESUMO
Este artigo apresenta o resultado do início de uma reflexão sobre o
papel do psicopedagogo atuando em uma equipe interdisciplinar, nas áreas da
saúde e da instituição, que atende crianças com dificuldades de aprendizagem.
Pode-se, através do mesmo, compreender a interdisciplinaridade possível,
enquanto, forma de trabalho, desde que os conhecimentos conscientes e os
saberes inconscientes dos profissionais que atuam na equipe possam circular
de forma a possibilitar espaços de autoria de pensamento de quem ensina e de
quem aprende. Não raro, são encaminhadas para atendimento
psicopedagógico, crianças que trazem como queixa terem algum déficit de
aprendizagem, pois "não aprendem”. Após uma avaliação, constata-se que
essas crianças apresentam problemáticas na estruturação e conhecimento de
seu corpo, no uso desse corpo enquanto instrumento de interação com o outro,
nos movimentos, nos gestos, nas praxias. Através do conhecimento dos
pressupostos da psicomotricidade e do intercâmbio com profissionais desta
área, o psicopedagogo pode, com maior habilidade, fazer um diagnóstico
diferencial mais preciso e, com os recursos oferecidos por esta disciplina,
elaborar planos de atuação adequados a esta demanda específica e freqüente.
Conclui-se que a articulação entre os diversos conhecimentos das disciplinas e
os saberes subjetivos dos profissionais é uma necessidade para que se tenha
uma visão ampla e clara do quadro apresentado pelo indivíduo.
Palavras-chave: Psicopedagogia, Psicomotricidade,
Interdisciplinaridade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1
PSICOMOTRICIDADE 10
1.1 MOVIMENTO 12
1.2 AFETIVIDADE 14
1.3 COGNIÇÃO 15
CAPÍTULO 2
PSICOPEDAGOGIA 17
2.1 AVALIAÇÕES 26
2.2 PROFESSORES 28
2.3 FAMÍLIA 29
CAPÍTULO 3
OS MODOS INVESTIGATIVOS NAS FORMAÇÕES DE
PRÁTICAS EDUCATIVAS 32
3.1 INTERATIVIDADES EM ESPAÇO FORMAL DE ENSINO 36
3.2 PLANEJAMENTO 43
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA 53
ANEXOS ---
ÍNDICE 55
8
INTRODUÇÃO
De acordo com as características das relações da Psicomotricidade
e a Psicopedagogia, ambas são parecidas e diferenciadas. Tendo como
sinalização abordagens onde, se obtém informações corporais, emocionais,
intelectuais, histórico hereditário, histórico gestacional e histórico genético do
sujeito e seu desenvolvimento ao nascer até o presente momento da queixa
apresentada, pelos pais, professores, escola e ou outro profissional que já
tenha realizado atividades com o sujeito. As conquistas de este ser irão de
acordo com seus desenvolvimentos neuroevolutivos, sem maiores
conseqüências nas bases da normalidade. Também são consideradas as
avaliações estruturais do indivíduo; pontuando as relações corporais, cognitivo
e sócio afetivas. Os trabalhos individuais ou em grupo serão sempre aplicados
de forma lúdica para a maior assimilação da construção da imagem e esquema
corporal integrando se como indivíduos, interno e externamente. Relatando sua
condição como sujeito aplicado à sociedade relacional, funcional e na
construção do pensamento.
Nesses âmbitos curriculares também são apresentados os modelos
investigativos, nos quais a instituição e os docentes, tanto quanto, a família e
amigos conectam-se para um bom desempenho as suas mobilidades e
capacidades e até mesmo nas realizações das tarefas, comprometimentos e
soluções, na tentativa das melhorias dos padrões sociais, familiares, da
autonomia e educacional.
E considerando todas essas vertentes relacionadas às duas
profissões, se percebem que ambas complementam funções das aquisições
das aprendizagens. Sempre considerando que a psicomotricidade terá um foco
na construção real e imaginária do sujeito e a psicopedagogia num foco
institucional mostrando novos recursos para a atuação quanto ao aluno, aos
pais, professores e funcionários da escola. Relacionando as atividades lúdicas
para todas as realizações das atividades para uma maior compreensão do
sujeito, docente e família. Assim que forem identificados os erros e acertos nas
9
aprendizagens adquiridas pode se então, desenvolver sem maiores
conseqüências todas as suas habilidades e capacidades pertinentes do
indivíduo.
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CAPÍTULO 1
PSICOMOTRICIDADE
Ciência da educação que enfoca a unidade indivisível do homem
(constituída pelo soma e psique), educando o movimento ao mesmo tempo em
que põe em jogo as funções intelectivas. Controle mental da expressão motora.
Educação dos movimentos ou através dos movimentos, visando uma melhor
utilização das capacidades físicas do indivíduo e favorecendo o seu
desenvolvimento geral. Consiste na unidade dinâmica das atividades, dos
gestos, das atitudes, e posturas enquanto sistema expressivo, realizador e
representativo do ser em situação e da coexistência com o outro. Relações
entre o pensamento e ação, englobam, portanto, funções neurofisiológicas e
psíquicas. Leva-se em conta o aspecto comunicativo do ser humano, do corpo
e dos seus gestos, interligando as relações com os mundos interno e externo.
Em 1900, há o aparecimento do termo Psicomotricidade por
Wernick. Em 1907, surge a primeira noção de psicomotricidade por Dupré e a
partir daí, vários autores como Le Boulch, Vayer, Wallon, Ajuriaguerra, e outros
desenvolveram trabalhos nesta área de estudo.
• Estudam a integração entre a motricidade, a mente e a
afetividade. Ela se dispõe a desenvolver as faculdades expressivas do
indivíduo.
• Enfocam a unidade indispensável do homem constituída pelo
soma e a psique educando o movimento ao mesmo tempo em que põem em
jogo as funções intelectuais.
• Consistem na unidade dinâmica das atividades dos gestos, das
atitudes e posturas enquanto sistema expressivo, realizador, e representativo
do ser em situação e da existência do outro.
• Estudam o homem como a sua unidade como pessoa, logo a sua
intervenção se situa a nível global, numa tentativa de mudar toda uma atitude
11
em relação ao seu corpo como lugar sensação, expressão e criação, que
consiste em auxiliar uma pessoa a ser o que é capaz de ser.
• Encaram a motricidade individual como um instrumento de
trabalho e a expressão pessoal como um objetivo final.
• São linguagens que exprimem a pessoa inteira, e estão ligadas
aos gestos, aos movimentos, aos resultados de algo sentido, as
representações do que se sente ou do que se quer dizer.
A psicomotricidade parte dos gestos corporais que é a manifestação
da presença do homem no mundo. Ela tem como preocupação a ação de
sentir, agir e pensar. Na prática dispõe a superar a posição o homem e seu
corpo, para o homem é o seu corpo.
A psicomotricidade nasceu nos serviços de neuropsiquiatria infantil
com o nome de reeducação psicomotora. Inicialmente, foi utilizada em casos
patológicos, e atualmente está sendo usada mais como forma de terapia.
As áreas de atuação da psicomotricidade estão intimamente ligadas
não havendo possibilidade de separá-las. Uma delas vai sobressair, mas
jamais será única. Contudo, podemos explicar sucintamente as três
abordagens psicomotoras no tratamento de um indivíduo, apresentando a
síntese dos seus aspectos bio/psico/sociais.
• Educação – atuam na formação do indivíduo possibilitando o seu
desenvolvimento global, utilizando-se do corpo como meio de atingir os fins
determinados pela escola. Destina-se aos estabelecimentos de ensino nos
seguimentos de Educação Infantil e Fundamental.
• Reeducação – atuam nas funções prejudicadas, utilizando-se do
próprio corpo para a reabilitação. Permitem corrigirem através de técnicas
apropriadas, os diversos transtornos detectados pelos testes e diagnósticos.
• Terapia - atuam nas emoções, na afetividade e através dos jogos
corporais, tem como objetivo auxiliar o indivíduo nas múltiplas ações de
adaptação da vida corrente.
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De acordo com os estudos de Coste (1992), a Psicomotricidade é
uma nova abordagem do corpo humano. Ela estuda o indivíduo e suas
relações com o corpo. É uma ciência – encruzilhada, uma técnica em que se
cruzam e se encontram múltiplos pontos de vista e que utiliza os
conhecimentos de várias ciências como: Biologia, Psicologia, Psicanálise,
Sociologia e Lingüística.
Além disso, é uma terapia porque se dispõe a desenvolver as
faculdades expressivas do indivíduo. Como se sabe toda ciência tem um objeto
de estudo, que dela tira sua unidade e especificação. No caso da
Psicomotricidade, o objeto de estudo é o corpo e a sua expressão,
fundamenta-se em três aspectos fundamentais ao conhecimento:
• Movimento, que, segundo os estudos atuais, ultrapassa o ato
mecânico e o próprio indivíduo, sendo à base das posturas e posicionamentos
diante da vida.
• Intelecto, que encerra a gênese e todas as qualidades da
inteligência e do pensamento humano; seu desenvolvimento depende do
movimento para se estabelecer, desenvolver e operar.
• Afeto, que é a própria pulsão interna do indivíduo, varia a
motivação e envolve todas as relações do sujeito com os outros, com o meio e
consigo mesmo.
1.1 MOVIMENTOS
Determinado modo de mover-se; englobam várias modalidades de
exercícios como de realinhamento postural, mobilizações globais e
segmentares, alongamentos, deslocamentos (coordenação e controle), controle
do equilíbrio estático e dinâmico, dissociação dos movimentos e outros. Esta
atividade serve para despertar cada articulação, segmento corporal com
flexões e extensões, aduções e abduções em todas as direções, e em
diferentes ritmos, buscando uma maior consciência das ações que executam,
ou não.
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A maior parte do tempo conduz nosso corpo a um nível
subconsciente. Realizamos todo o repertório de nossa vida diária, sem prestar
atenção à maneira que fazemos. Continuamos nos desgastando dia após dia,
pois permanecemos na profunda ignorância de nossos maus hábitos de
tensão, até o surgimento de uma crise de dor ou algum distúrbio físico ou
emocional.
Usar o corpo corretamente significa movimentá-lo com máximo de
equilíbrio e coordenação de todas as partes, para que haja apenas o esforço
absolutamente necessário.
Durante as atividades psicomotoras e através de outras mais
específicas, desenvolvemos também as percepções visuais, auditivas, táteis, e
as funções cognitivas de atenção, memória, que com o passar do tempo à
pessoa irá adquirindo cada vez mais conhecimentos.
Segundo Feldenkrais (1977), a maior parte do que vai dentro de nós,
permanece escondido, até que atinge os músculos. Sabemos o que está dentro
de nós, logo que os músculos da face, coração ou aparelho respiratório, se
organizam em padrões, conhecidos por nós como medo, ansiedade, riso ou
qualquer outro sentimento. Mesmo quando apenas um tempo muito pequeno é
requerido para organizar a expressão muscular da resposta ou sentimento
interno, todos nós sabemos que é possível conter o próprio sorriso, antes que
se torne notado pelos outros.
Nós todos temos mais experiência e capacidade de movimento do
que de sentimento ou pensamento. A estrutura física do indivíduo e sua
habilidade de movimento são muito importantes. As dificuldades de movimento
destroem e distorcem a auto–estima, forçando-a a comportamentos que
interferem com seu desenvolvimento de direção e suas inclinações naturais.
Conforme Berstein (1970), o movimento é sempre um processo com
curso temporal e requer uma cadeia contínua de impulsos isolados, com o
desenvolvimento das habilidades motoras, os impulsos individuais se
sintetizam e se combinam em estruturas cinestésicas. Quando um impulso é
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único será suficiente para ativar um estereotipo dinâmico, completo de
elementos automaticamente intercambiáveis.
O aspecto motor e o perceptivo da conduta estão interligados
estritamente no seio de uma auto-regulação, na qual a programação da ação
não significa estar próximo do movimento, mas uma atualização das intenções
em função da natureza das transformações que a ação deve operar. Na
obtenção de um ato novo, consistirá em uma nova experimentação dos
mecanismos de ação, fazendo com que o indivíduo obtenha melhorias nas
suas atividades de vida diária.
1.2 AFETIVIDADE
Vivemos em sociedade, rodeados de pessoas dos mais diversos
tipos e comportamentos, muitas vezes, estas características, tão especiais de
cada indivíduo, são extremamente opostas ao nosso modo próprio de ser, que
dificulta esta convivência. Entretanto, não significa que se fôssemos
extremamente iguais as coisas seriam mais fáceis.
Logo, iguais, diferentes, homens e mulheres, pais e filhos, aluno e
professor, patrão e empregado, tudo é muito complexo, porque sempre que
nos relacionamos com qualquer pessoa, em qualquer situação interagimos
nesse momento sentimentos e emoções. Esse conjunto de sentimentos, que
são sintomas de bem estar ou mal estar, alegria ou tristeza, amor ou desamor,
chamado de comportamento emocional, é a forma de dar e receber afeto.
Para definirmos precisamente o significado de afetividade, podemos
encontrar a resposta no Dicionário Aurélio:
“Afetividade é um conjunto de fenômenos psíquicos que se
manifestam sob a forma de emoções, paixões e sentimentos,
acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de
satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria
ou de tristeza”.
Todavia, é mais fácil achar o significado da palavra afetividade, do
que realmente assimilar sua dimensão. Devemos considerar a afetividade,
15
como a mais simples forma de atenção. Por opção, podemos estabelecê-las
positivas ou negativas.
A promoção do afeto faz parte da formação da auto-estima. Quando
colocamos à vontade e em paz, podemos percebê-la no íntimo, que temos
importância e que somos aceitáveis exatamente como nos apresentamos. Ao
estabelecer harmonia com os nossos valores vivemos com integridade.
“Nada posso dar que não existe em você”. Não posso abrir lhe, outro mundo de imagens, Além daquele que há em sua própria existência. Nada lhe posso dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei “a tornar visível o seu próprio mundo”. HERMAN HESSE.
A afetividade, nessa referência constitui uma história singular acerca
da maneira como somos afetados pelos outros que conosco se relacionam ou
relacionam-se, e a maneira como estes outros foram e são por nós afetados.
Sendo assim, a ação do outro nos afeta, a nossa o afeta e esta última nos
retorna enquanto repercussão, o que também nos afeta. Falamos, então, de
afetos que encontram se em movimento constante.
Devemos estar atentos à qualidade desses afetos, podendo nos
reportar os afetos positivos ou negativos que se estabelecem em diferentes
momentos da relação. Isso irá influenciar, ou contaminar, de maneira direta o
seu vir a ser, o seu movimento de fazer se enquanto ser de relação.
1.3 COGNIÇÃO
A cognição é o ato de entender, que se inicia com as percepções
dos objetos ao seu redor, e é capaz de gerar conhecimento dessa realidade.
Assim, o desenvolvimento cognitivo ocorre num processo demorado e mediado
socioculturalmente, no qual a criança chega lentamente a operar em sua mente
os processos psicológicos, facilitando o desenvolvimento das estruturas
lingüísticas e cognitivas.
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A aprendizagem é tomar o conhecimento, tornar se capaz, de reter
na memória, graças ao estudo, observação e experiência. Observar estas duas
vertentes significa entender a alfabetização como um processo natural, porém
muito complexo, cujo sucesso garante uma integração do indivíduo com o
meio.
De acordo com o Dicionário de Psicologia: o significado inteligência
ou cognição, quer dizer:
“Inteligência se desenvolve impulsionada pelas emoções, e está diretamente
relacionada a duas atividades cognitivas humanas: pensamento simbólico e linguagem”.
“Cognição é um termo geral empregado para referir se nos processos
mentais superiores. Genericamente, a cognição pode ser entendida como o processo que
inclui atividades mentais do tipo: pensamento e contextualização; recordação,
representação e imagem mental; percepção e atenção; raciocínio e tomada de decisão”.
O sistema cognitivo está conhecendo os conteúdos adquiridos pela
família, professor e na vida cotidiana; tornando-se uma atividade própria e
destinada exclusivamente ao indivíduo. Ao pensar-se, e levando em
consideração a existência de integração dos conhecimentos, o aluno interage e
participa de todas as formas de reter as informações passadas pelos outros.
Assim, formas de se analisar essas questões facilitam o aparecimento de,
principalmente, duas grandes construções e que interessam no momento: a
aprendizagem e o desenvolvimento.
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CAPÍTULO 2
PSICOPEDAGOGIA
Historicamente, a era industrial trouxe grande valorização da
produtividade e, em decorrência disso, surgiu à preocupação com tudo o que
atrapalhava a possibilidade de produzir. Diante deste contexto, no qual as
dificuldades de aprendizagem passam a ser o centro das atenções, recorre-se
a Medicina para estudar a causa dos problemas e suas correções.
A partir da Primeira Guerra Mundial, o cérebro humano começa a
ser estudado, aproveitando-se os combatentes feridos ou mortos,
estabelecendo assim relação entre as áreas lesadas do cérebro e as funções
prejudicadas.
Contudo, no final do século XIX, educadores, psiquiatras e
neuropsiquiatras preocupados com as variantes que interferiram na
aprendizagem e começaram a organizar novos métodos para a educação
infantil, surgindo trabalhos significativos a respeito.
Segundo Mery (1985) os primeiros centros psicopedagógicos foram
fundados na Europa, a partir da segunda metade do século XX e visavam os
atendimentos de pessoas com dificuldade de aprendizagem embora fossem
inteligentes. Para isto, uniam os conhecimentos pedagógicos e psicanalíticos.
Simultaneamente nos Estados Unidos, o movimento desenvolvido evidenciava
os aspectos médicos, dando um caráter biológico à questão da dificuldade de
aprendizagem. De acordo com Bossa (2000) a crença de que os problemas de
aprendizagem eram causados por fatores orgânicos perdurou por muitos anos
e determinou a forma do tratamento dada à questão do fracasso escolar até
bem recentemente.
A corrente européia influenciou parte do movimento da psicologia
escolar. Influenciando principalmente a Argentina, onde passou a cuidar de
pessoas portadoras de dificuldade de aprendizagem, há mais de trinta anos,
realizando um trabalho de reeducação.
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O Brasil recebeu influência tanto americana, quanto européia,
através da Argentina. Notadamente no sul do país a entrada dos estudos de
Quirós, Jacob Fernandes, Ana Maria Muniz, Sara Paín, Alicia Fernandez e
Jorge Visca, enriqueceu o desenvolvimento da psicopedagogia no Brasil.
Desta forma, o campo de atuação da Psicopedagogia no Brasil está
se ampliando, pois inicialmente caracterizava-se somente no aspecto clínico,
hoje pode ser aplicado no segmento escolar, conhecido como institucional, em
segmentos hospitalares, empresa rias e em organizações que aconteçam à
gestão de pessoas.
O aspecto clínico é realizado em centros de atendimento, ou clínicas
psicopedagógicas, e as atividades ocorrem com atendimentos individuais.
Importante ressaltar que este tipo de atendimento tem conotação apenas no
tange ao processo de ensino e aprendizagem, voltado para os motivos pelos
qual o sujeito aprende na busca de compreender onde estão evidenciadas as
dificuldades de aprendizagem. E por esta razão o atendimento clínico
psicopedagógico não é um atendimento psicológico ou voltado para qualquer
procedimento analítico, pois para tal torna-se necessário o profissional estar
legalmente habilitado como psicólogo.
O aspecto institucional, como já foi referido acima, acontecerá em
escolas e organizações educacionais e está voltado para a área de prevenção
dos insucessos relacionais e de aprendizagem, embora possa ocorrer a
necessidade de prática terapêutica nas organizações. A Psicopedagogia
aplicada a segmentos hospitalares e empresariais está voltada para a
manutenção de um ambiente harmônico e à identificação e prevenção dos
insucessos de aprendizagem. Neste caso a prática poderá ser realizada de
forma individual ou em grupo.
Bossa (2000) expõe o documento, enviado à Câmara de Deputados
em Brasília, no ano de 1997; produzido pela Associação Brasileira de
Psicopedagogia, intitulado carta de intenções para a regulamentação
profissional do psicopedagogo, onde é feita a exposição, dos motivos e defesa
da necessidade do profissional de Psicopedagogia, bem como a atuação da
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Psicopedagogia na área clínica, institucional e na pesquisa científica. Dando
início a esta defesa, o autor referido, lembra o papel da escola como promotor
do desenvolvimento das potencialidades das crianças:
A escola deveria ser local de promoção do desenvolvimento das potencialidades de todos os indivíduos, toma-se, para muitos, palco de fracassos ou de desenvolvimento insatisfatório e precário. Este quadro leva a desejar uma urgente revisão do projeto educacional brasileiro, de modo a melhorar a atuação na qualidade do qual se ensina e de como se ensina; do que se aprende e de como se aprende. Tal desafio só poderá ser enfrentado se o processo de aprendizagem for analisado sob uma perspectiva que considere não só o contexto social em que esta prática se dá, mas simultaneamente com a visão global da pessoa que aprende. (BOSSA, 2000, p.66).
Desta maneira, no texto enviado à Câmara dos Deputados em
Brasília; o autor não apenas relata as dificuldades da escola no processo de
ensino-aprendizagem, como também esclarece o que é a psicopedagogia, qual
a sua função, e em conseqüência o papel e a limitação da atuação do
psicopedagogo. Importante se faz conhecer este documento que é a defesa do
reconhecimento para a legalização deste instrumento para o sucesso no
processo de ensino e aprendizagem.
A Psicopedagogia clínica procura compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos e pedagógicos que interferem na aprendizagem, a fim de possibilitar situações que resgatem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promoção da integração entre pais, professores, orientadores educacionais e demais especialistas que transitam no universo educacional do aluno. Cabe, ainda, ao psicopedagogo assessorar a escola, alertando-a para o papel que lhe compete, seja reestruturando a atuação da própria instituição junto a alunos e professores, seja ainda redimensionando o processo da aquisição e incorporação do conhecimento dentro do espaço escolar, seja encaminhando alunos para outros profissionais. A partir da eficiência constatada na prática clínica, os Psicopedagogos estruturaram um corpo de conhecimentos psicopedagógicos, abrindo-se, ao mesmo tempo, a um vasto campo de investigação de fenômenos envolvidos no processo da aprendizagem humana. (BOSSA, 2000, p.67)
Pode-se assim concluir que cabe aos profissionais da
psicopedagogia a análise do processo de aprendizagem do ponto de vista do
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sujeito que aprende e da instituição que ensina no que se refere o seu decurso
normal ou de dificuldades.
Contribuir para o crescimento dos processos da aprendizagem e
auxiliar no que diz respeito a qualquer dificuldade em relação ao rendimento
escolar também é do âmbito da Psicopedagogia, bem como os professores,
com o conteúdo e relacioná-los ao aspecto afetivo e cognitivo, permite uma
atuação mais segura e eficiente.
O objeto de reflexões é o ser global que está perante um movimento
de aprendizagem, tornando-se necessário considerar que o desenvolvimento
deste dar-se-á harmoniosa e equilibradamente nas diferentes condições
motoras, emocional, cognitiva, social e espiritual. As dificuldades podem surgir
quando um ou mais aspectos citados se encontram alterados e tendendo a
agravar-se na medida em que não forem diagnosticados precocemente.
O ser humano é singular e somente a ele pertence sua situação,
sua relação com o processo que lhe foi oferecido e o desenrolar deste. A
atuação da Psicopedagogia tem como base o pensar, a forma como este ser
pensa e não propriamente o que aprende. Ter um olhar Psicopedagógico de
um processo de aprendizagem é buscar compreender como é que este ser
utiliza os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para aprender. A
psicopedagogia preocupa-se como é que o ser humano aprende.
Segundo Silva (1997), pode-se refletir a aprendizagem como uma
gama de conhecimentos e ou experiências adquiridas pelo discente, e que
podem ou não ser comprometido pelo mesmo. Percebe-se também que nem
todas as condutas do indivíduo são aprendidas, pois muitos são reflexos
independentes da aprendizagem (por exemplo, o ato de sucção do recém
nascido). Entretanto, grande parte do comportamento humano ocorre em
função da aprendizagem embora o indivíduo não necessariamente comporte
mentalmente o conteúdo aprendido. Tal afirmação gera discussão já que para
alguns estudiosos a aprendizagem é o modo de como o indivíduo adquire
novos conhecimentos, desenvolve habilidades e muda o comportamento, ou
seja, uma das funções da aprendizagem é a mudança do comportamento
21
humano.
Desde a antiguidade, na Grécia e em Roma, a aprendizagem visava
à formação individual (pedagogia da individualidade) sendo completada pela
aprendizagem universal (pedagogia humanista).
Na Idade Média, o sistema de aprendizagem e ensino passa a ser
gerido pela igreja, ou seja, pela religião e seus dogmas. Finalmente com o
advento do Humanismo e da Reforma, no século XVI e sua ampliação a partir
da Revolução Francesa, as teorias do ensino aprendizagem conseguiram
seguir seu caminho.
A partir do Século das Luzes até o inicio do século XX, o processo
de aprendizagem passou a ser compreendido e demonstrado cientificamente.
Assim de forma cientifica, procurava-se explicar as causas e formas do seu
funcionamento, forçando uma metodologia que tinha como objetivo enquadrar
o comportamento de todos os organismos num único modelo. Assim era
realizado pelos cientistas ao explicar, os fenômenos das ciências naturais.
Desta forma, a aprendizagem estava ligada ao condicionamento. Percebe-se
tal fato nas experiências realizadas por Ivan Pavlov, filósofo russo, quando
trabalhou o condicionamento de cães.
Nascia assim o behaviorismo, com John B. Watson, americano, que
realiza com bebês, experiências de condicionamento, hoje tal método é eficaz
no tratamento de eliminação de traumas, medos e fobias, teoria seguida por B.
F. Skiner, que compreendia a aprendizagem basicamente como uma mudança
de comportamento. No qual o mais importante seria, depois de se ensinar,
pedir que o estudante execute o que se ensinou e corrigi-lo imediatamente. A
cada seqüência de eventos Skinner chamou de contingências do reforço.
A partir da década de 30 os cientistas Edwin R. Guthrie, Clark L. Hull
e Edward C. Tohman pesquisaram sobre as leis que regem a aprendizagem.
Guthrie acreditava que as respostas, ao invés das percepções ou estados
mentais, poderiam formar os componentes da aprendizagem. Hull afirmava que
a força do hábito, além dos estímulos originados pelas recompensas, constitui
um dos principais aspectos da aprendizagem a qual se dava um processo
22
gradual. Tolman seguia a linha de raciocínio de que o princípio objetivo visado
pelo sujeito era a base comportamental para a aprendizagem.
Contudo, foi a partir de Lev Semvonovich Vygotsky que o
pensamento verbal foi visto não como forma de comportamento natural e inato,
mas como determinado por um processo histórico-cultural e tem propriedades
e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais de
pensamento e fala. Esclarece Vygotsky (1993), que uma vez admitido o caráter
histórico do pensamento verbal, deve-se considerá-lo sujeito de todas as
premissas do materialismo histórico que são válidas para qualquer fenômeno
histórico na sociedade humana.
Desta forma, sendo o pensamento sujeito as interferências históricas
às quais está o indivíduo submetido, entende-se que, o processo de aquisição
da ortografia, a alfabetização e o uso autônomo da linguagem escrita são
resultantes não apenas do processo ensino-aprendizagem propriamente dito,
mas das relações subjacentes a isto.
Diz ainda Vygotsky (1991), que o pensamento propriamente dito é
gerado pela motivação, isto é, pelos desejos e necessidades, interesses e
emoções. Assim, por trás de cada pensamento há uma tendência
afeto/evolutiva. A compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem
só é possível quando se entende a sua base afetivo/evolutiva.
Desta forma, não seria válido estudar a aprendizagem sem
considerar os aspectos afetivos. Realizar testes psicométricos, avaliar estágio
de desenvolvimento não responde a questão central do aprendizado, é
necessário fazer uma análise do contexto emocional, das relações afetivas, do
modo como o indivíduo está situado historicamente no mundo.
Para Vygotsky (1991), a linguagem tem papel construtor e propulsor
do pensamento, concluindo assim que é o aprendizado não o desenvolvimento,
ou seja, é o aprendizado adequadamente organizado que resulta em
desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de
desenvolvimento, que de outra forma seriam impossíveis de acontecer.
Segundo Vygotsky (1991), a linguagem é então o motor do
23
pensamento; defendendo o processo de desenvolvimento não coincide como
processo de aprendizagem, uma vez que o desenvolvimento progride de forma
mais lenta indo atrás do processo de aprendizagem, que ocorre de forma
seqüencial.
Outro grande pesquisador que possibilitou o conhecimento do
processo de aprendizagem é Piaget; que após o seu doutorado ao trabalhar no
laboratório de Sinet, com testes de Surt, centrado na análise de situações onde
o foco eram as relações entre a parte e o todo, num determinado conjunto
dado, segundo Azenha (1995), usando como campo para observações uma
escola primária. O que realmente chamou atenção não foi o aspecto
substantivo da tarefa, mas sim os erros cometidos pelas crianças e á
interpretação do percurso intelectual em relação ao seu desenvolvimento
cognitivo global.
Este trabalho de pesquisa resultou na Teoria da Epistemologia
Genética, cujo ponto central é as estruturas cognitivas do sujeito, que muda
através dos processos de adaptação assimilação e acomodação.
Piaget (1975) postula que todo o esquema de assimilação tende a
alimentar-se, ou seja, incorporar elementos que sejam exteriores e compatíveis
com a sua natureza do que resulta uma acomodação dos elementos novos
assimilados, assim as modificações se dão em função das particularidades,
mas sem perder a continuidade nem os poderes anteriores.
Segundo Azenha (1995), a realização dessas operações está
subordinada a um processo geral de equilíbração, para o qual tende o
desenvolvimento cognitivo como um todo. Conforme Piaget (1975) a
equilibração é necessária porque se a pessoa só assimilasse, desenvolveria
apenas alguns esquemas cognitivos, comprometendo a própria capacidade de
diferenciação.
Azenha (1995) afirma que a vasta produção de Piaget, além do valor
qualitativo que traz em si, carrega também a marca dos grandes cientistas.
Após a sua morte, em 1980, suas idéias, continuam inspirando inúmeros
empreendimentos de pesquisa.
24
Sara Paín, enquanto pesquisadora deu prosseguimento ao trabalho
de Piaget, e descreve as modalidades de aprendizagem sintomática como
assimilação e a acomodação que atuam no modo de como o sujeito aprendem,
e como isso pode ser sintomatizado, característica de um excesso ou escassez
de um desses movimentos, o que afeta o resultado final.
Na abordagem de Piaget o sujeito está em constante equilibração.
Contudo, Pain (1989) parte desse pressuposto e afirma que as dificuldades de
aprendizagem podem estar relacionadas com a hiperatuação de uma dessas
formas, somadas a uma hipo-atuação da outra gerando as modalidades de
uma aprendizagem sintomática que pode ser por: hiperassimilação (numa
aprendizagem sintomatizada pode ocorrer uma exacerbação do movimento de
assimilação, de modo que o sujeito não se resigna ao aprender; com o
predomínio dos aspectos subjetivos sobre os objetivos); hipoacomodação
(resistência em acomodar, ou dificuldade de internalizar objetos);
hiperacomodação (o exagero da acomodação levando a pobreza de contato
com a subjetividade, a submissão cega); hipoassimilação (a pobreza na
assimilação do objeto, de modo a não transformá-lo, não assimilá-lo de todo,
apenas acomodá-lo).
O que caracteriza o sintoma no aprender é o predomínio de um
movimento sobre o outro: com a assimilação as dificuldades de aprendizagem
são de ordem da não resignação, o que leva o sujeito a interpretar os objetos
de modo subjetivo, não internalizando as suas características. Quando a
acomodação predomina, o sujeito não empresta sentido subjetivo aos objetos,
antes, resigna-se em criticas, Paín (1989) chega à conclusão de que o
processo educativo pode produzir sujeitos muito acomodados se a reprodução
dos padrões for mais valorizada que o desenvolvimento da autonomia e da
criatividade. Contudo, evidencia que cada indivíduo apresenta um conjunto de
estratégias cognitivas que mobilizam o processo de aprendizagem. Em outras
palavras, cada pessoa aprende do seu modo, estilo e ritmo que é identificado
pelo modo como cada indivíduo se comporta durante o aprendizado. Desta
forma, descobrir o estilo de cada um é descobrir como lhe ensinar com mais
eficiência e para alcançar melhores resultados.
25
Segundo Pain (1989), os estilos de aprendizagem são identificados
pela observação das características do sujeito, com uma variação de
possibilidades:
a) físico: corresponde aos indivíduos que usam muito a expressão
corporal, são irrequietos, não permanecem sentados por muito tempo e
aprendem mais tocando e manipulando objetos, sentem-se melhor aprendendo
em movimento, tem boa coordenação motora e habilidade física;
b) intrapessoal: presente em indivíduos introspectivos; os aprendizes
rendem mais trabalhando sozinhos, são persistentes e tentam várias
alternativas para resolver problemas; têm raciocínio lógico muito apurado e são
reflexivos;
c) intrapessoal: aplicável a indivíduos extrovertidos, os quais
produzem mais trabalhando em grupo; gostam de ajudar, ouvir e dar opiniões;
d) lingüístico-verbal: estilo de aprendizagem é próprio dos indivíduos
que adoram ler e contar histórias tem excelente memória e boa fluência verbal
e facilidade para se expressar;
e) matemático: caracteriza aprendizes apaixonados por jogos e
números, seguidores e defensores de teorias científicas, cuja relação com o
mundo é facilitada através do raciocínio envolvendo números, padrões e
seqüências;
f) musical: comum em aprendizes que vivem cantando, adoram tudo
que esteja relacionado com sons e ritmo;
g) visual: estilo presente em indivíduos com grande facilidade para
organizar ambientes com harmonia. Apreciam obras de arte, pintura, gravura,
cores, presentes em seu mundo. Para aprender necessitam ver o trabalho
sendo realizado.
O conhecimento do estilo de aprendizagem de cada indivíduo
possibilita a criação de programas educacionais que motivam e dão
significados no que diz respeito à eficácia da aprendizagem.
Com a evolução da respectiva literatura resultante de estudos e
26
pesquisas a psicopedagogia tem contribuído com muita eficiência nos últimos
anos para melhor entendimento do processo de ensino-aprendizagem,
evidenciando o dinamismo de o processo aprender a aprender, direcionado à
singularidade de cada um e de cada sociedade.
O que marcaria a modernidade educativa seria a didática do aprender a aprender, ou do saber pensar, englobando, num todo só, a necessidade de apropriação do conhecimento disponível e seu manejo criativo e crítico. A competência que a escola deve consolidar e sempre renovar é aquela fundada na propriedade do conhecimento como instrumento mais eficaz da emancipação das pessoas e da sociedade. DEMO (1992 p.25).
Desta maneira também Visca, (1987) contribui organizando um
modelo de análise efetivamente dinâmico, permitindo compreender a interação
dos aspectos, cognitivos e afetivos no processo de aprendizagem.
2.1 AVALIAÇÕES
Na epistemologia convergente, todo o processo diagnóstico é
estruturado de modo a observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o
afetivo, de onde resulta o "funcionamento do sujeito". Os instrumentos
conceituais que elaborou para a formulação desse paradigma teórico se
constituem em:
- o esquema evolutivo da aprendizagem concebe a aprendizagem
como uma construção, intrapsíquica, com continuidade genética e diferenças
evolutivas resultantes das precondições energético-estruturais do sujeito e as
circunstâncias do meio;
- o processo diagnóstico consiste na série de passos por cujo
intermédio se realizam o reconhecimento, o prognóstico e as indicações. Esse
processo possibilita uma imagem do sujeito mediante construção de um
modelo a partir dele mesmo;
- a matriz do pensamento diagnóstico individual é instrumento
conceitual "capaz de representar os distintos estados (normais ou patológicos)
do objeto de estudo sem que perca sua unicidade". Para tanto, consta de três
partes: o diagnóstico propriamente dito, o prognóstico e as indicações;
27
-o modelo nosográfico classifica os estados patológicos da
aprendizagem conforme a base de sua descrição e explicação em três níveis: o
semiológico (sintomas objetivos e subjetivos), o patogênico (estruturas e
mecanismos que provocam a sintomatologia) e o etiológico (suas causas
históricas); - os critérios de seleção ou EOCA (entrevista operativa centrada na
aprendizagem) consiste em uma consigna inicial e intervenções do
entrevistador;
- processo corretor é o conjunto de operações clínicas por cujo
intermédio se facilitam à aparição e estabilização de condutas entre um sujeito
que acompanha o processo e outro que sofre ativamente, configurando ambos
uns sistemas em devenir (movimento pelo quais as coisas se transformam).
Para Visca (1987), esses seis modelos tentam ser uma instância de
integração das concepções psicanalítica e piagetiana que transcenda o estudo
do aspecto afetivo e cognitivo em separado, permitindo uma visão integradora,
mais ampla e profunda. Como se pode constatar, o fazer da Psicopedagogia é
uma área de conhecimento e de atuação profissional bastante recente,
facilitando conhecer a forma de aprender do sujeito.
Todo diagnóstico psicopedagógico é uma investigação, é uma
pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta
esperada. É o esclarecimento de uma queixa, do próprio aluno, da família, da
escola. Trata-se do não-aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente,
do não-revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível
aprendizagem. Nessa investigação, pretende-se obter uma compreensão
global da forma de aprender do sujeito e dos desvios que estão ocorrendo
nesse processo.
Conclui-se assim, que a partir da psicopedagogia o indivíduo estará
sendo olhado no seu todo, como um ser integral, que têm peculiaridades nas
formas de pensar, de aprender, de reagir diante desta ou daquela situação, de
acordo com o contexto histórico-social em que está inserido. Onde é
indispensável respeitar o seu processo de construção/ desconstrução/
construção, para que o aprender a aprender possa avançar possibilitando ao
28
sujeito a lidar com os processos de paralisação do saber, e seja capaz de lidar
com os processos de distorção do saber, como ser em constante e contínuo
crescimento.
2.2 PROFESSORES
Em busca da coerência com as dimensionalidades da didática, deve-
se analisar o papel do professor a partir da consideração da criança, não
apenas como ser real, mas, primordialmente, como ser integral, nas dimensões
cognitiva, motora, emocional e de personalidade.
É necessário que o professor esteja atento e comprometido com a
mudança social, com a formação do cidadão, considerando que não
conseguirá superar as inúmeras barreiras sem o envolvimento das escolas e
dos professores em suas causas.
A visão interacionista da construção da mente e do conhecimento é
fundamental para se compreender o papel do professor como promotor da
interação aluno/objeto de conhecimento, cuja prática em sala de aula pode
envolver montagem do ambiente para atividades psicopedagógicas,
intervenções mediadoras, questionamentos e conversações dialógicas, pois
todo aprendizado deve resultar da interação aluno com objeto de aprendizado.
A prática de construção do aprendizado não é autoritária, não
impinge conhecimentos de fora para dentro, por estimulação, mas parte do
princípio de que o aluno constrói o conhecimento antes, durante e depois da
escola. Por isso o professor precisa estar atento para unir todo o conhecimento
absorvido pelo aluno, propiciando a construção de conceitos científicos. É seu
papel encorajar o discente através de atividades que lhe causem desequilíbrio
ou o coloquem em ação, não apenas apresentando o conteúdo, mas
questionando, interrogando e fazendo com que ele pense por comparação,
seriação, classificação, casualidade, reversibilidade, proporcionalidade, entre
outros.
A mediação realizada pelo professor ocorre da seguinte forma: o
objeto de aprendizagem, que é sempre cultural, faz seu desvela mento na teia
29
das relações sociais e, através delas o aluno entra em interação com o objeto
de conhecimento juntamente com os colegas e o professor. Nesse processo,
como ensina Piaget (1975), o erro é fundamental na construção do
conhecimento, não para corrigi-lo, mas colocando-o numa posição de
destaque, não para ser condenado, mas utilizado como importante mediador
de aprendizagem, pois ninguém aprende sem errar. A equilibração por
regulação se faz por tentativas e erros. A equilibração por coordenação de
esquemas ocorre justamente porque houve erros na tentativa de assimilar por
meio de um único esquema. Igualmente, por compensação se baseia entre
erros e falhas. Conforme Montessori (1987) cabe ao professor ajudar a criança
a libertas dos seus defeitos sem a fazer sentir a sua fraqueza. Como mediador,
o professor é o elo entre o educando e a matéria do conhecimento, interferindo
no processo, sem desvirtuá-lo nem desviá-lo. A interação aluno-conteúdo é um
diálogo aluno mundo mediado pelo professor e outras pessoas.
O professor é representante do movimento de mudança social das
grandes aspirações da humanidade refletidas na massa popular, interessada
em conhecer o poder da verdade, contra a verdade do poder e dos privilégios
sociais. Simboliza a libertação do homem através da intermediação de
conhecimentos científicos e tecnológicos para a efetivação do bem estar social.
Esclarece Ferreiro (1985), que o papel do professor é
importantíssimo. Se desejarmos alunos ativos na construção do conhecimento,
o mestre também tem que ser ativo; falar menos e escutar mais e trabalhar
logicamente também com o que escuta e vê em seus alunos.
2.3 FAMÍLIA
Em todas as sociedades conhecidas, e apesar das transformam
ações de estrutura da família, esta última continua sendo uma mola essencial
da vida social. Poder-se-á, portanto sempre convocá-la, dos pais mal
informados e, por assim dizer, insuficientemente educado, aos pais melhor
informados e dos quais, se assim é possível falar, se terá completado a
educação parental.
Da mesma forma, em educação, os plenos poderes dos anciãos a
30
tribo, a seguir do pater familias, e enfim dos pais, nos últimos séculos, foram
sendo cada vez mais limitados por uma regulamentação escolar que nem
sempre redundou em prejuízo para a criança.
Há, pois certo interesse em tentar analisar a situação de fato, nas
circunstâncias atuais, quando um conjunto de métodos é proposto
simultaneamente ao Estado e às famílias.
Em primeiro lugar, os pais existem na mesma forma que todas as
outras coisas: há pais excelentes, mas também os há piores, contra a vontade
dos quais é vantajoso que se possa proteger a criança. Existem os inteligentes
e bem informados, mas existem igualmente os pouco dotados e os retrógrados,
que haverão de hesitar, por exemplo, em consultar um médico ou seguir seus
conselhos, em caso de moléstia, e aos quais não se deverá falar, em se
tratando de educação, nem de psicólogos nem de pedagogia moderna. A
questão está principalmente em saber como atuar em relação aos pais deste
último tipo: bons sujeitos, desejando unicamente o bem de seus filhos, mas
opondo-se, por ignorância ou por tradicionalismo, a tudo quanto lhes possa ser
realmente útil.
O segundo é que a preocupação primordial dos pais, em todos os
níveis da escolaridade e mesmo da educação familiar pré-escolar, consiste em
que seus filhos não estejam "atrasados": é preciso que um bebê saiba andar
com x meses, sob pena de se tornar torto das pernas; é preciso que um
pequerrucho da escola maternal saiba ler e contar até 20, aos x anos, quando
tudo aconselha a nada forçar artificialmente e consagrar esse período de
iniciações.
Quanto à orientação dos alunos não resta dúvida de que pode haver
conflito entre os conselhos do professor, ou do psicólogo orientador, e os
desejos dos pais. Não se trata absolutamente de serem estes últimos
insensíveis aos esforços desenvolvidos pelos orientadores, ou pelos
especialistas no diagnóstico das aptidões, a fim de ajudá-los a aconselhar seus
filhos. Mas subsistem os possíveis casos de conflito entre a vontade dos pais e
as indicações da escola ou do serviço de orientação.
31
A esse respeito, se "toda pessoa tem direito à educação", é evidente
que os pais também possuem, e igualmente "por prioridade", o direito de serem
senão educados, ao menos informados e mesmo formados no tocante à
melhor educação a ser proporcionada aos filhos. Dois tipos de medidas foram
postos em prática com esse objetivo, e ambos merecem os mais sérios
estímulos.
Em primeiro lugar, foram constituídas sociedades e organizados
congressos de "educação família!" cujos dois objetivos simultâneos consistem
em chamar a atenção dos pais para os problemas da educação inerente à
família (conflitos afetivos conscientes e inconscientes, etc.) e colocando a par
dos problemas escolares e psicopedagógicos em geral, da mesma forma, em
certos países, foi difundido um conjunto de publicações de divulgação
psicológica e pedagógica a respeito dos mesmos problemas.
Mas, sobretudo, em todos os meios aonde a educação vai
adquirindo certa importância foi desencadeada movimentos de colaboração
entre a escola e a família, os quais se revelaram extremamente produtivos, e
aproveitáveis, para as duas partes em questão, a escola na realidade tem tudo
a ganhar, ao tomar conhecimento das reações dos pais, e estes experimentam
um proveito cada vez maior ao serem iniciados, por sua vez, nos problemas da
escola. Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva a
muita coisa mais que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba
resultando em ajuda recíproca e, freqüentemente, em aperfeiçoamento real dos
métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos
pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da
escola, chega-se até mesmo a uma divisão das responsabilidades: em alguns
países, conselho de pais e mestres reunidos constitui os verdadeiros
inspiradores da psicopedagogia e realizam dessa forma a síntese desejada
entre a família e a escola.
32
CAPÍTULO 3
OS MODELOS INVESTIGATIVOS NAS FORMAÇÕES DE PRÁTICAS EDUCATIVAS
A escuta é fundamental para que se possa conhecer como e o que o
sujeito aprende, e como diz Nádia Bossa, “perceber o entre jogo, entre o
desejo de conhecer e o de ignorar”. O psicopedegogo também deve estar
preparado para lidar com possíveis reações frente a algumas tarefas, tais
como: resistências, bloqueios, sentimentos, lapsos, entre outros. E não parar
de buscar, de conhecer, de estudar, para compreender de forma mais completa
estes indivíduos já tão criticados por não corresponderem às expectativas dos
pais e professores.
A Psicopedagogia e a Psicomotricidade estão inteiramente ligadas à
educação, na qual uma parte é aplicada à prática e à teoria, sob vários
aspectos:
• Quanto à origem – surgiu para compreender as causas do fracasso de
certas crianças no sistema escolar e tratamento de determinadas
dificuldades de aprendizagem específicas;
• Quanto à formação – a psicomotricidade é uma difusão da neurologia,
enquanto à psicopedagogia é aberta a profissional de diferentes áreas;
• Quanto à atuação – a psicomotricidade abrange todas as áreas motoras,
emocionais e intelectuais, enquanto à psicopedagogia é uma área
plenamente interdisciplinar, tanto psicológica como pedagógica;
• Docente/discente: termo usado para indicar que todo o sujeito exerce
funções simultâneas;
• Diagnóstico: trata-se da avaliação da situação e história individual;
• DIFAJ: termo cunhado por Alícia Fernàndez para descrever o modelo de
atendimento implementado pelo E.Psi.B.A. É o acrômio para
“Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem, em uma
Jornada”.
33
• Inteligência atrasada: estado de inibição cognitiva caracterizado pelo
esquema mental de defesa ou fuga, desenvolvido pelo próprio sujeito
que impede ou atrapalha a aprendizagem;
• Queixa: termo que designa o problema vivenciado pelo sujeito, em geral
crianças ou adolescentes, na visão dos pais ou de quem apresenta o
caso ao profissional;
• Vinculo: relação mútua entre a criança ou adolescente e o outro (família,
colegas, profissionais, etc.).
Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o
objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar
causando este bloqueio. Para isso, o profissional utilizará recursos como jogos,
desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras
situações que forem oportunas. A criança, muitas vezes, não consegue falar
sobre seus problemas e é através de desenhos, jogos e brinquedos que ela
poderá revelar a causa de sua dificuldade. É através dos jogos que a criança
adquire maturidade, aprende a ter limites, aprende a ganhar e perder;
desenvolve o raciocínio, aprende a se concentrar, adquire maior atenção.
Durante todo o processo de aprendizagem, os elementos básicos da
psicomotricidade são utilizados com freqüência. O desenvolvimento do
esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e
pré-escrita são fundamentais na aprendizagem: um problema em um destes
elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem. A criança, cujo
desenvolvimento psicomotor é mal construído, poderá apresentar problemas na
escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras, na ordenação de
sílabas, no pensamento abstrato, na análise gramatical, dentre outras.
A aprendizagem da leitura e da escrita exige habilidades tais como:
• Dominância manual já estabelecida;
• Conhecimento numérico para saber quantas sílabas formam uma
palavra;
• Movimentação dos olhos da esquerda para a direita que são os
34
adequados para escrita;
• Discriminação de sons (percepção auditiva);
• Adequação da escrita às dimensões do papel, bem como proporção das
letras e etc.;
• Pronúncia adequada das letras, sílabas e palavras;
• Noções de lateralidade da disposição sucessiva das letras e palavras;
• Capacidade de decompor palavras em sílabas e letras;
• Possibilidade de reunis letras e sílabas para formar palavras, etc.
Oportunizando as crianças a condições de desenvolver capacidades
básicas, aumentando o potencial motor, utilizando o movimento para atingir
aquisições mais elaboradas, como as intelectuais ajudando a sanar estas
dificuldades.
“A aprendizagem dramatiza-se no corpo a partir da existência de prazer pela autoria. Sendo a autoria objeto de toda intervenção psicopedagógica e sendo a psicomotricidade a que se ocupa do saber sobre o corpo e seus modos de valer-se, vamos vendo outros lados fraternais” (Alícia Fernàndez).
A Psicomotricidade nos enriquecem com as idéias de fazerem, e de
conhecerem se como corpo. E a Psicopedagogia nos direcionam para mostrá-
los ou não mostrarem o conhecimento.
A citação de Fernàndez (2001, p.145) remete-nos a pensar a
psicomotricidade enquanto possível ferramenta para uma prática
psicopedagógica mais completa e interdisciplinar. Equilíbrio, tonicidade,
orientação espacial e temporal, esquema corporal, imagem corporal,
lateralidade e coordenação motora são estruturas psicomotoras necessárias
para que nosso organismo explore o ambiente, perceba-se nesse mesmo
ambiente, perceba o outro e, com isso, se desenvolva. Assim, é comum na
prática psicopedagógica a necessidade de trabalharmos esses aspectos, que
podem se encontrar deficitários em sua estruturação, nas crianças que nos são
encaminhadas porque "não aprendem", "não param", "não tem coordenação",
35
são "hiperativas", "as que não aprendem nada", "as desinteressadas" ou as
que "vivem no mundo da lua". Esta é “a queixa sintoma”, com a qual nos
deparamos no nosso dia a dia enquanto profissionais da área da saúde. O
conceito de sintoma merece nossa especial atenção e é em Andrade (2002, p.
54) que nos baseamos: Vamos considerar sintoma como sendo o sinal de um
conflito inconsciente, um descompasso entre a demanda subjetiva e a
produção objetiva. Nesse sentido, muito próximo da perspectiva médica, o
sintoma não é a doença em si, mas mostra um desequilíbrio entre organismo e
subjetividade. Assim, estas crianças podem trazer, concomitantemente, com o
sintoma que nos é mostrado, que nos é dado a ver (Levin 2003), um déficit
lúdico e criativo significativo. Apresentam-se alienadas em um objetivo
resultante da dicotomia entre a objetividade e a subjetividade (Freire, 1983) que
lhes acarreta problemas significativos em todo o seu desenvolvimento
neuro/psico/motor.
A Psicopedagogia utiliza-se dos conhecimentos da área da
psicomotricidade não para o treino de um organismo, mas sim, como
possibilidade de se ter um corpo enquanto instrumento de conhecimento, de
articulação do pensamento. Temos nosso corpo para conhecer o Outro e para
receber o conhecimento desse Outro. Esta é a base para o estabelecimento de
uma relação professor/aluno saudável.
Assim, o trabalho psicopedagógico torna se a luz da
psicomotricldade e poderá basear-se em:
• Oferecer condições motoras e percepto/cognitivas que possibilitem as
condições de realização de uma atividade;
• Realização de uma atividade, entendida como a possibilidade de
espaços de autoria do pensamento e significação de sintoma.
Fernàndez (2001) coloca que ambas as disciplinas, Psicopedagogia
e Psicomotricidade, ficam nas margens, nos espaços em que intercedem as
disciplinas (Fernàndez, 2001, p.145). Margens entre o saber e o conhecer,
entre a objetividade e a subjetividade, entre o poder e o não poder. São
disciplinas que não acumulam conhecimento e, portanto, vão constantemente
36
se constituindo, se construindo e se subjetivando na objetividade de suas
práticas. É importante ao profissional psicopedagogo perceber os limites de
nossa disciplina. Atitude esta espera de profissionais de todas as áreas do
conhecimento.
Nem todo psicopedagogo é um psicomotricista e, assim, em alguns
casos de atendimento é necessário o encaminhamento para o profissional
específico da área da Psicomotricidade. Compreender esse limite é
fundamental para o trabalho interdisciplinar. As importâncias de um diagnóstico
interdisciplinar, nestes casos de Problemas de Aprendizagem, possibilitam que
as intervenções adequadas sejam efetuadas; com abrangência das múltiplas
possibilidades de acordo com o quadro em questão, fica evidente a
necessidade de um psicopedagogo integrar-se com as demais áreas de
conhecimento, como a psicologia, a psicomotricidade, a fonoaudiologia, a
pedagogia, a terapia ocupacional, a psicanálise, a neurologia e a psiquiatria,
além de outras, para que se tenha uma visão ampla e clara do quadro
apresentado pelo aluno. A Psicopedagogia oferece à equipe interdisciplinar,
instrumentos para a compreensão do quadro apresentado por uma criança
privada de sua capacidade de aprender. Conseqüentemente, toma possível
uma atuação terapêutica, provinda de várias disciplinas, que nos reporta à
possibilidade do sujeito ser autor de seu pensamento, de sua ação, de seu
desejo.
3.1 INTERATIVIDADES EM ESPAÇO FORMAL DE ENSINO
A construção significativa dos conceitos deixa seus alunos exporem
os temas transversais, assim havendo uma correlação entre as áreas de
conhecimentos.
Ensinar é mostrar o caminho em direção a novos tempos, despertar
a vontade de aprender, acender a chama do conhecimento, ser agente de uma
transformação, pegar o futuro pelas mãos e ajudar a fazer do mundo, um lugar
melhor para viver. Semear o futuro, sempre pensando que há uma esperança
da evolução da educação.
Segundo Andrighetto (1994), o trabalho interdisciplinar enfatizará a
37
importância das áreas de conhecimento relacionando o corpo, pelo qual a
criança irá conceituar os conteúdos propostos na trajetória de escolarização. O
mesmo relata:
Para trabalharmos de forma interdisciplinar em uma escola ou
sala de aula e primeiramente não devemos fragmentar os
conteúdos, sabendo, sim, identificar o vivido e o estudado,
sendo que o vivido deve abordar as mais variadas
experiências dos alunos. Devemos relacionar todas as áreas
do saber, ou melhor, todas as disciplinas, enfatizando o
diálogo em momentos da aula, pois, através deste podemos
ver e analisar o mundo nas diferentes concepções.
(ANDRIGHETTO, 1994, P. 6).
Apoiando-se nas idéias de Mattos (2005) a psicomotricidade na
Educação Infantil é à base de toda educação. Psicólogas; Psiquiatras;
Psicomotricistas insistem, dizendo que é importante a psicomotricidade no
período Infantil, porque desenvolve a inteligência e a personalidades das
crianças. No bebê, ajuda a sair pouco a pouco da "aura" maternal para adquirir
uma relativa independência pensamento e ação.
Nas palavras de Piaget e Vygotsky chamamos de "passos", cuja
importância é fundamental.
• Passo do "afetivo" e do "raciocínio”
• Passo do egocentrismo e da socialização
• Passo do "afetivo" e do "racional”
Nessa fase, qualquer excesso de afetividade (investidura afetiva)
impedirá o "desfecho racional".
A educação deve permitir progressos de uma e de outra, através de
situações simbólicas. E à medida que se efetua essa separação relativa entre o
racional e o afetivo, entre o real o simbólico e o imaginário, desenvolve-se a
"afetividade consciente".
Ainda mencionando as idéias de Kabarite (2005), por esse motivo
38
passará a criança do pensamento mágico ao pensamento lógico. A passagem
do egocentrismo e da socialização, nessa fase, a criança descobre o modo de
relacionar-se com os colegas desconhecidos (porque criança pequena é
egocêntrica), na Educação Infantil é importante à construção da comunicação.
A primeira relação e a solidariedade e imitação, daí a importância da
psicomotricidade adaptada a essa idade.
A criança não separa o corpo do objeto, a ação do pensamento, a
percepção da expressão, o afetivo do racional, o real do imaginário, para que
com segurança chegue ao passo do racional. A psicomotricidade vai dá
segurança de auto-reconhecimento, na qual a criança constata sua exploração
do corpo, tornando-se um sujeito apto no desenvolvimento cognitivo,
psicomotor e social.
Portanto, criança que vem desde pequena trabalhada amplamente
com movimentos psicomotores, não terá dificuldades de construir de sua
aprendizagem. Para comprovar essa afirmação Gomes, (1998, p.) com suas
contribuições do corpo. O esquema corporal é o "(...) conhecimento do próprio
corpo, não apenas em função do inter-relacionamento de suas partes, mas
também englobando o controle ou domínio de corpo em movimento, portanto
em relação ao espaço e objetos ao redor".
As idéias de Oliveira (1992), que a psicomotricidade deve estar
integrada na formação da criança, oferecendo uma melhor capacitação nos
seus fatores cognitivo, afetivo e social, tendo uma amplitude maior na
construção de aprendizagem.
Afirmando as idéias de Fontes (1991), quando interagimos com o
mundo, podemos descobrir novas experiências, não podendo ficar só no
imaginário, tendo que usá-lo para ampliar novos saberes, assim o mesmo diz:
Quando lemos os jornais e nos interamos de milhares de acontecimentos que não pudemos presenciar pessoalmente, quando em que as crianças estudando Geografia e História, quando sabemos por carta o que aconteceu a outra pessoa, em todos os casos nossa fantasia ajuda a nossa experiência (Fontes, 1991. p 20).
Os movimentos psicomotores aceleram o desenvolvimento cognitivo
39
e motor dos sujeitos em processo de aprendizagem. LE BOULCH, (1982)
enfatizou a importância dos conceitos: espaço, tempo e lateralidade, e nos
repassa que a criança com um o passar do tempo, irá perceber, situar onde se
encontra. A mesma norteará um sujeito com capacidades e habilidades que
tem o seu próprio lugar, portanto, isso concretizará se o adulto explorar seu
próprio corpo. A escola será sua grande mediadora nesse processo de
descoberta do seu "eu". Mencionando suas palavras ele relata que.
A escola enquanto mediadora do reconhecimento deve trabalhar com a psicomotricidade de forma que passe a criança tranqüilidade, otimismo e segurança, pois assim a criança irá se sentir à vontade para trabalhar com o corpo e a mente de forma prazerosa e significativa. (LE BOULCH, 1982, P. S).
O professor deve propiciar atividades em que gradativamente a
criança desenvolva seus ritmos corporais com prazer, sem mera reprodução de
movimentos.
Na década de setenta e início da década de oitenta o próprio Ministério da Educação e Cultura tratou de divulgar por todo o Brasil a mais recente novidade para a educação das crianças: a psicomotricidade. Na época, ela foi considerada uma das "(...) grandes soluções para os inúmeros problemas que levavam ao fracasso educacional e, em sentido mais restrito. Ao fracasso da alfabetização. Para tanto, era preciso treinar as habilidades: esquema corporal, percepção temporal, lateralidade, equilíbrio, entre outros que passaram a fazer parte do discurso pedagógico" (grupo, 1996 p. -46). Na psicomotricidade, além do movimento servir de recurso pedagógico para o sucesso em outras áreas de conhecimento, era pautado em um modelo de criança universal que "desconhece as diferenças de gênero, etnia e classe social!". (Sayão, 2002, P.55).
Educadores deveriam usar a psicomotricidade como ferramentas
primordiais de seu trabalho, fazendo com que seus discentes aprendam e
conceituem os conteúdos com o seu próprio corpo. Sem mecanização forjada
de materiais concretos, porém, sem explorar o objetivo maior os movimentos
corporais, ainda na afirmação de Sayão, (2002).
Para comprovar a questão prática seguirei uma linha teórica de
Alves (2005), que enfatiza a Psicomotricidade como ferramenta para que o
docente possa desenvolver conceitos a partir do corpo e o movimento, salienta
ainda que a criança deva ser trabalhada desde pequena, para abranger
40
intrinsecamente um processo de alfabetização sem dificuldade, assim a autora
constata:
A Psicomotricidade serve como ferramenta para todas as áreas de estudo voltadas para a organização afetiva, motor, social e intelectual do indivíduo acreditando que o homem é um ser ativo capaz de se conhecer cada vez mais e de se adaptar às diferentes situações e ambientes. (ALVES. 2005 p. 137).
A afirmação da autora é condizente com comprovação da hipótese
de estudo. O educador deve inserir as atividades psicomotoras no cotidiano
das crianças, fazendo correlação com o conteúdo, assim tornando-se um
sujeito com auto-reconhecimento de si próprio.
Mediante a afirmação da ciência Psicomotricidade integrada na
prática psicopedagógica, saliento com base nas idéias de Andrade (2004) a
importância também de trabalhar com projetos interdisciplinares, onde a
criança aprende correlacionar um conteúdo com o outro, ou seja, as disciplinas
se completam sem fragmentar as áreas de conhecimento.
Que o educador promova situações que coloquem o corpo "em
cena", no estimular o desenvolvimento global da criança, enfocando a postura
dos movimentos e das relações que possibilitem uma evolução Psicomotora e
ainda prevenir futuras dificuldades no seu processo de aprendizagem formal
(descobrimento da leitura e escrita).
Com o entendimento da Psicomotricidade, o professor com um olhar
psicomotor; propicia o jogo corporal; o toque; o movimento; o tônus; a postura;
a relação com o espaço, o tempo e o outro. Quando o mesmo domina estes
conceitos, consegue sistematizar sua prática Psicopedagógica com o mundo
Psicomotor. Diversificando o âmbito de ensino num instrumento prazeroso,
viabilizando uma Educação Psicomotora no cotidiano da criança, onde a
mesma terá um papel pleno na sua construção de aprendizagem, na qual será
descoberta a partir do seu próprio corpo. Quando a criança se reconhecer, não
terá dificuldade de estabelecer vínculo com o próximo e os demais suportes de
saberes que tem para construir na sua fase infantil.
A mobilização da psicomotricidade, hoje, é abrangente em todas as
41
áreas. Só que ainda não temos uma aceitação integrada na educação.
Constatando, na pesquisa, com base teórica de Alves (2003), que a
psicomotricidade é mais do que essencial nesta construção dos saberes
escolares do mundo social dos sujeitos.
A educação psicomotora vem tomando seu lugar na prática, e vem
sendo discutida historicamente e tendo uma grande importância na
escolarização principalmente na Educação Infantil. Não só como um suporte e
sim integrada no cotidiano na escola. A objetivação de estudos psicomotores
viabiliza uma ampliação nos conhecimentos e na prática psicopedagógica. É
satisfatório estar integrada numa experiência que dá certo e que promove nas
crianças um conhecimento dela e do seu próximo dentro da sua realidade
social. Não é difícil trabalhar com algo que compensa o ensino, incorporando o
sujeito para descobrir o seu "eu", potencializando para a significação da sua
aprendizagem, diversificando seus saberes e percebendo a diferença cultural
ao seu redor. Conquistando um lugar pleno, seu mundo, podendo expressar-se
com autocontrole de si próprio.
Fazendo menção às palavras de (DE MEUR1989) que a criança,
antes de chegar à sua fase da alfabetização, precisa ter exercícios de pré-
escrita, nos quais são enfatizados os movimentos de domínio de gesto, as
estruturações espaciais e temporais, que são fundamentais para esse processo
de escrita. Tendo isso desenvolvido, a criança não terá dificuldades de pegar
objetos, desenhar e escrever. O potencial da escrita se dará a do seu próprio
corpo; isso, a psicomotricidade vai incorporar se na estruturação da escrita do
aprendiz. Não só a capacidade cognitiva, porém afetiva, social e motora,
obtendo sempre um bom resultado na sua motricidade, amplamente
desenvolvido:
Domínio de gesto. Estruturação corporal espacial e orientação temporal são os três fundamentos da escola. Com efeito, a escrita supõe: Uma direção gráfica (Escrevemos horizontalmente da esquerda para) à direita; As noções de em cima e em baixo: de esquerda e direita e de oblíquos e curvos; A noção de antes e depois sem o que a criança não inicia seu gesto no lugar correto, por exemplo, para escrever a criança trocará (a linha da direita antes de formar o círculo) e na formação das palavras, escreverá inicialmente a
42
segunda letra antes da primeira ("ap” para "pa") mesmo que tenha decomposto as sílabas corretamente. Portanto os exercícios de pré-escrita e de grafismo selo necessários para a aprendizagem das letras e dos números: sua finalidade é que a criança atinja o domínio do gesto e do instrumento a percepção e a compreensão da imagem a reproduzir. (DE MEUR; STATES. 1989 p.17).
O docente necessita ter uma especialização para estar promovendo
esse desenvolvimento psicomotor na criança. Dentro da psicomotricidade é
preciso querer fazer e principalmente saber fazer, para que esse processo seja
pleno e eficaz.
Como já foi proposta, no decorrer deste trabalho, a psicopedagogia
preocupa-se com questões referentes ao motivo pelo qual o educando não
aprende como aprende, e para responder a estas questões, o profissional
precisa analisar os sintomas apresentados pelo educando, tais como lentidão,
dispersão, dificuldades de elaboração, compreensão e projeção da
aprendizagem. Tais sintomas devem ser estudados à luz dos aspectos físico,
emocional, social e cultural do educando, levando-se em conta suas relações
tanto com o ambiente familiar, como o escolar e o social. Assim a psicanálise, a
psicologia social e epistemologia genética, a Psicopedagogia objetiva o
reconhecimento das capacidades do educando visando retirar o obstáculo que
o impede de aprender.
A alfabetização tem sido motivo de grande preocupação entre os
profissionais voltados para a educação, já que como nos ensina Freire (1987)
esta deve cuidar para libertar o homem.
Contudo, a Psicopedagogia preocupada com todo o processo que
leva o educando a aprender, percebe que o ensino tradicional voltado para a
repetição, a memorização, cópias reiteradas de modelos de mecanização
apenas possibilitam ao educando a apropriar-se de nada; pois como propõe
Ferreiro (2003), acabam estas crianças por serem meras reprodutoras de
signos. Assim a Psicopedagogia analisa a forma pela qual o educando está se
apropriando da escrita, compreendendo também seus erros e caminhos por ela
percorridos para ali chegar.
Ninguém tenta compreender o que a criança quis escrever,
43
porque se supõe que não possa escrever nada até ter
recebido a instrução formal pertinente (na realidade: é melhor
que não escreva até não saber grafar de modo conveniente).
Ninguém tenta traduzir o que a criança escreveu, porque lhe
nega o direito de aproximar-seda escrita por um caminho
diferente do indicado pelo método escolhido pelo professor.
(FERREIRO, 2003, p.30).
Weiss, (2003) enfatiza que um diagnóstico psicopedagógico leva em
consideração a possibilidade de o paciente penetrar no significado daquilo que
escreve ou lê e, para isto, usará situações como jogos, desenhos, pinturas,
palavras cruzadas, dramatizações, divertimentos com revistinhas e livros de
história, observando o modo com que o educando se aproxima ou evita essas
atividades, sua postura, as dissociações de campo, o abandono da tarefa e a
temática do material escolhido para ler ou escrever.
Assim observa se e estabelece se uma correlação entre a qualidade
do que o educando pode produzir como texto ou obter como leitura e a
exigência a que está submetido na escola.
Para compreender o desenvolvimento da leitura e da escrita,
evitando o desrespeito à forma pela qual cada educando se apropria da escrita,
Ferreiro (1999) concluiu que há uma série de modos de representação da
linguagem. Sua psicogênese da língua escrita distingue quatro níveis, os quais:
pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Cada um deles apresenta
uma fase de evolução do educando, justificando a proposta pela razão de que
a escrita produzida antes do ensino sistemático traz os mais claros indicadores
das explorações infantis para compreender a natureza do processo de
aprendizagem.
Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia
escrever certo conjunto de palavras, está nos oferecendo um
valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para
poder ser avaliado... Aprender a lê-Ias, isto é, a interpretar é
um longo aprendizado que requer uma atitude teórica definida.
(FERREIRO, 1985, p.16).
44
Por este motivo torna-se necessário ao avaliar, observar o vínculo
do educando com o que escreve o processo de escrever, o produto final em
todos os seus aspectos, o que quis escrever, conceituando, e percebendo o
motivo dos enganos (erros). Ferreiro e Teberosky (1999), na sua obra
demonstram que o educador precisa perceber que a criança, primeiro aprende
a escrever, para só depois dominar a ortografia.
Outras questões também são levantadas por estas autoras, que
ressaltam a necessidade de observar no educando: em relação com as
pessoas (se interage com outras pessoas; sabem-se quem é o professor e
como demonstra isso; se presta atenção quando o outro fala; a sua relação,
consigo mesmo); a sua relação em relação ao espaço (sabe qual a sua sala,
como se loco move nos espaços da escola, se sabe qual é a sala onde guarda
seus pertences); relação com o tempo (se realiza as tarefas no tempo
planejado, se é muito rápido ou muito lento, se reconhece à rotina dos horários,
sabe quando é a hora da merenda, da roda, da conversa); relação com objetos
(sabe o que é seu, o que é do outro, como demonstra isto, cuida dos seus
objetos, dos objetos da escola, como manuseia os objetos); relação com as
atividades (demonstra compreender as tarefas, como o faz, precisa de ajuda,
como brinca, participa ou prefere ficar sozinho, quais as atividades que prefere
ou evita).
É necessário olhar o educando no todo, não negligenciando o seu
contexto histórico/social/familiar. Portanto, a Psicopedagogia contribui com este
novo olhar para onde a escuta e as intervenções estão voltadas para todo o
movimento subjetivo do educando frente ao conhecimento, no decorrer da
construção deste sujeito no ato de aprender; tendo como finalidade a autoria do
pensamento, que é a descoberta da originalidade e da diferença, da marca e, a
partir daí; abrir espaço para a criatividade. Desta forma, a Psicopedagogia
chega transformando também a escola, o seu espaço, tornando-a mais
acolhedora, criativa, indo além dos métodos.
45
3.2 PLANEJAMENTOS
De acordo com os indicadores de Qualidade na Educação,
elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), na escola é recomendado um
professor para cada grupo de crianças, adolescentes, jovens e adultos que
reforçam a necessidade de planejar as aulas com base em conhecimentos,
parte fundamental do processo de aprendizagem.
“Com as crianças divididas em
grupos, as atividades simultâneas
têm diferentes objetivos:
acompanhá-las mais de perto ou
apenas orientá-las”. Elisângela
Fernandes
Por isso, não é rara a presença de pelo menos dois responsáveis
que poderiam dar conta de respostas simultâneas. Atividades que podem ser
feitas com a turma inteira ao mesmo tempo e outras que necessitam de
atenções individualizadas. Aprender as regras ou ultrapassar obstáculos são
tarefas que nem sempre podem ser realizadas sem ajuda do adulto. Por isso, a
organização de pequenos grupos de modo que os demais realizem tarefas com
independência. Esses cuidados vão colaborar para que façam o que ainda não
conseguem fazer sozinho.
Terezinha Maria dos Santos, diz que: “intervenções certeiras
fomentam a aprendizagem e dão acolhimento”.
Há momentos em que o indivíduo precisa criar sem que os outros
digam como. O profissional deve ser apenas um suporte, oferecendo material
necessário, ajuda para mediar os conflitos e colaboração para aquele que os
planos dêem certo. E mesmo deixando-os à vontade, sempre prestando
atenção neles e fazer um planejamento de aula que envolva:
• Desenvolvimento da autonomia;
• Promover um percurso criativo com certo direcionamento;
• Preparar ambientes;
46
• Organizar os materiais necessários para a atividade;
• Trabalhar individualmente ou em grupo;
• Desenvolver habilidades corporais;
• Proporcionar a verbalização e comentários depois dos trabalhos
aplicados.
Planejamento é o meio orientador de trabalho, indicando “o que
pretende atingir” e “de como fazer” na dinâmica de sala de
aula, tornando como referência fundamental determinado grupo
e determinada época, (Ivane Reis Calvo Hernandes).
As informações recolhidas devem ser trabalhadas necessitando
tempo para as discussões, mudanças e definições transformadoras. É o “sim
julgar e agir”, com o objetivo de tomar decisões buscando soluções a curto e
longo prazo.
O planejamento visto como a prevenção de um conjunto de atos
racionais para contrair situações difíceis acontece naturalmente e com clareza
em nossas vidas, onde modelos simplificados e convergentes devem ser
evitados; bem como situações imaginárias (problemas ou conceitos
dissociados do meio concreto); por isso, tudo embota o pensar criativo e a ação
equilibrada dos sujeitos. A meta de toda essa ação é “pensar, julgar e decidir”
com autonomia e originalidade. Planejar como resposta de pensar das idéias à
ação.
Planejar significa antever o que irá acontecer, as metas a serem
vencidas é a melhor maneira de atingi-las, decidindo por trabalhos que
envolverão todo o grupo, ou pôr alternativas diferenciadas conforme
características especiais da turma. Planejar significa também prever o tempo
necessário para a execução e avaliação do projeto.
Assim, na construção de um planejamento há momentos a percorrer:
• Conhecimento do mundo nas dimensões espaço/temporais, onde
está situada a comunidade escolar: suas possibilidades, recursos,
características, limitações, necessidades, problemas,...;
47
• Conhecimento do aluno como ser conhecedor e que traz para a
escola uma bagagem riquíssima e marcante que não pode ser
ignorada na previsão do trabalho a ser desenvolvido. Assim:
condições pessoais, aptidões, interesses, problemas, reivindicações
dos aprendizes devem ser identificados em momentos de
comunicação franca e amistosa, evitando as situações formais, como
testes e entrevistas, que bloqueiam as manifestações afetivas mais
autênticas das pessoas;
• Estabelecimento das relações conteúdos-objetos, onde com os
alunos será construída a rede de conceitos a ser trabalhada como
estrutura da matéria de determinada disciplina, definindo o que
trabalhar e com que qualidade fazê-lo. Neste momento deve-se ter
especial cuidado, evitando-se o uso de linguagem técnica que
compromete a comunicação aluno-professor;
• Seleção e discriminação de procedimentos técnicos e atividades
adequados aos conteúdos, de modo a tratá-los como algo próximo e
que desafiem os alunos para a vivência de processos mentais
avançados. Assim, os aprendizes participam, efetivamente, da
descoberta e da construção do saber. É o momento de “fazer
caminho”. Como toda a decisão pressupõe alternativas de escolha,
professores e alunos devem familiarizar se com situações concretas
de experiências de aprendizagem. Ao entrarem em contato com os
procedimentos ao vivo e em ambientes reais, eles obtêm materiais
para reflexão, exame e definição de novas ações mais adequadas ao
seu grupo e ocasião. São atividades e procedimentos selecionados
num exercício didático de ação/reflexão/ação.
• Seleção e previsão do uso de recursos, do mundo, da comunidade
da escola, audiovisual, sucata... A apresentação do uso se faz
necessária quanto o equipamento tiver seu funcionamento
condicionado a detalhes técnicos mais sofisticados. As explorações
de recursos reais e atualizados devem ser apropriadas no emprego
48
de meios, pois eles contêm toda a riqueza de desafios autênticos.
Entre os prejuízos podemos destacar:
• Falta de detalhes importantes; solicitação desnecessária de
decodificação de signos por parte do aprendiz; quando o real está
próximo e disponível; gastos com materiais; desgaste e esforço
desnecessário do professor; perdas de oportunidades
desencadeadoras de aprendizagens corretas (filmes, textos,
gravuras, cartazes só são aconselhados para a ajuda na formação
de conceitos e fenômenos distantes e inacessíveis);
• Decisões sobre os meios a empregar para a avaliação do processo
com a finalidade de verificar a coerência interna das ações que
acontecem em sala de aula. E sempre alerta a necessidade de
considerar, também a coerência externa. Necessidades de meios
para atingir a relação entre rendimento e o contexto social, com a
finalidade de “ver, julgar e decidir” sobre o que fazer para controlar
desvios, preencher lacunas, intensificando-se as oportunidades com
vistas a corrigir desigualdades de resultados.
A idéia de momentos procura mostrar o dinamismo da ação de
planejar, onde o profissional é o principal articulador, ao mesmo tempo em que
se compromete com tudo àquilo que constata e prevê numa atitude livre e
consciente pela qual busca transformar o mundo, tornando-o mais humano e
mais digno.
49
CONCLUSÃO
Ao longo de todos os processos de pesquisa constatou se o quanto
são amplos os conceitos de aprendizagem, nos quais têm início bem antes dos
docentes ingressarem na vida escolar estendendo se além dos primeiros ciclos
de educação. Por estas razões compreende se que não há possibilidades de
conhecimento sem a relação com o mundo, linguagem, escrita com o contexto,
já que todas as formas de aprendizagem necessitam ter significado na vida do
educando.
Destas formas como objeto deste trabalho são vistas de forma plena
não se limitando apenas as possibilidades do educando soletrar algumas
palavras, mas como as inserções do ser no mundo, como cidadãos. Nestes
momentos a leitura dos textos de Emília Ferreiro tornou se fundamental em
suas pesquisas que contribuíram de formas decisivas para o desenvolvimento
do estudo da psicogênese do sistema da escrita; observa se sob novas
perspectivas e transformam os conceitos de prontidão, imaturidade, habilidade
motora e perceptual, anteriormente observados isoladamente, a partir de então
vinculados ao contexto sócio-cultural dos educadores.
As buscas dos conhecimentos, da autonomia, permeadas pelas
dimensões sociaisl, nos que se referem aos afetos, sentimentos e
preferências, de todos estes fatos aliados ao desenvolvimento global
explicam a importância crescente da psicopedagogia e da psicomotricidade.
Destes caminhos que nos ensinam que aprender significa mudar, crescer,
tendo o passado como referência para descobrirem o futuro e construirem uma
nova história, diferente da vida até os dias atuais.
As preocupações com todos o processos que levam o educando a
aprenderem, levam em conta os vínculos que ele mantém com a escrita, a
relação com o contexto histórico-social no qual estão inseridos, observando os
modos como o educando se aproximam ou evitam as atividades e, suas
posturas, as dissociações dos campos motores e, o abandono das tarefas e
todas as atitudes que traduzem os movimentos subjetivos.
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Através dos conhecimentos veiculados, acredita se que sejam
possíveis darem novos significados a dificuldade de aprendizagem nos
processos de aquisição da linguagem e da escrita, entre outras funções
educacionais.
Assim, possibilitam condições de mediarem à construção desses
conhecimentos, fazendo com que todos tenham acessos às suas
compreensões.
Por estas razões será indispensável o uso da Psicopedagogia e da
Psicomotricidade nos ambientes escolares, onde estejam atuando ao lado do
professor de forma preventiva nas questões de ensino e aprendizagem.
A Psicopedagogia transforma desta maneira a escola, o seu espaço,
tornando a mais acolhedora, criativa, indo além dos métodos, por fazer parte
de um processo de mobilização social nos quais a valorização do ser humano
devem ser possíveis e realizáveis, já que a psicopedagogia representa um
olhar diferenciado à própria vida.
As importâncias das crianças reconhecerem a si própria e os demais
são elementos que o professor deve inserir cada vez mais nas vivências dos
alunos e nos conteúdos psicomotrores e psicopedagógicos.
Ramal (2002) diz que estamos chegando a dimensões amplas de
leitura e escrita, que se aproximam no próprio esquema corporal. Cada vez
mais os hipertextos buscam mais informações, no sentido de conhecer novas
palavras num contexto textual mais complexo.
Portanto, a formação dos alunos será ampla desde a base da
Educação Infantil, ou seja, as práticas sociais precisam ser inseridas no
contexto escolar para que o sujeito se tome um alfabetizado-letrado.
Segundo Soares (2004), para a escolarização real e afetiva da
população, os sujeitos devem ter acessos aos materiais impressos de leituras
(livros, jornais, revistas e tecnologia) e relacionam suas práticas de leituras no
contexto escolar, tanto quanto, em casa.
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Podemos aliar o letramento com a educação psicomotora; tornando
se essenciais para aprendizagens, com significado maior nos mundos sociais e
psicomotores. Pois a educação psicomotora se faz necessário para que as
crianças na idade pré-escolar e escolar se conscientizem do seu próprio corpo,
do social, e da lateralidade, a situar se nos espaços, há dominarem o tempo e
adquirirem habilidades e coordenações de gestos e movimentos, tendo uma
eficácia maior nas aprendizagens globais.
Os ideais seriam que todos os educadores tivessem como alicerce
para as suas atividades a psicomotricidade e a psicopedagogia, pois fariam
com que as crianças tivessem liberdade de realizarem experiências com o
corpo, sendo indispensável nos desenvolvimentos das funções mentais e
sociais.
Será interessante as crianças exporem fatos vivenciados, com as
finalidades de estabelecerem uma ligação entre o imaginário e o real.
Na escola, o importante que se levem em considerações os
aspectos:
• Socioafetivo: favorecerem a auto-imagem positiva, valorizando suas
potencialidades de ação e crescimento à medida que desenvolvem
seus processos de socialização e devem interagir com grupos
independentes de classes sociais, sexo ou etnia;
• Cognitivo: acreditarem que, através das descobertas e resoluções de
situações, constroem as noções e conceitos. Enfrentando desafios e
trocando experiências com os colegas e adultos, desenvolvendo seu
pensamento.
• Psicomotor: através da expansão de seus movimentos e explorações
do corpo e do meio em sua volta. Realizando atividades que
envolvam esquema e imagem corporal, lateralidade, relações
espaciais e temporais.
A partir de uma relação autêntica e de confiança estabelecida entre
o professor, o aluno e o psicomotricista / psicopedagogo que poderão propor
52
dinâmicas que auxiliem o desenvolvimento não somente infantil, mas como
todas as faixas etárias, contribuindo nas capacidades de expressão e de
habilidades motoras.
53
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55
ÍNDICE
PÁG.
CAPA 1
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
EPÍGRAFE 5
RESUMO 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1
PSICOMOTRICIDADE 10
1.1 MOVIMENTO 12
1.2 AFETIVIDADE 14
1.3 COGNIÇÃO 15
CAPÍTULO 2
PSICOPEDAGOGIA 17
2.1 AVALIAÇÕES 26
2.2 PROFESSORES 28
2.3 FAMÍLIA 29
CAPÍTULO 3
OS MODOS INVESTIGATIVOS NAS FORMAÇÕES DE PRÁTICAS EDUCATIVAS 32
3.1 INTERATIVIDADES EM ESPAÇO FORMAL DE ENSINO 36
3.2 PLANEJAMENTO 45
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA 53
ANEXOS ---
ÍNDICE 55
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