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A Tarde do Fauno (Stéphane Mallarmé 1842-1898)

livre tradução por León de Castela

Estas ninfas, vou-as perpetuar. Tão claro,

Entorpece de sono pesado Amo um sonho? [aqui o eu lírico inicia o sonho]Minha dúvida, monte de noite antiga, termina.Em ramificações sutis, que, permanecem os verdadeirosBosques, mostram, infelizmente! que bem só me ofereçopor triunfo a falta ideal das rosasConsideremos... Se as moças das quais glosasFiguram um desejo em teus sentidos fabulosos!Fauno, a ilusão distancia-se dos olhos azuisE frios, como uma fonte de pranto da mais casta[a ninfa]:Mas, a outra toda suspiros, diz-te que comparesComo a brisa quente em teus pelos? Qual! pelo imóvel e lasso desmaio.Sufocando de calor a manhã fresca que se agita,Não murmure o veio d'água que minha flauta não cante [essa foi difícil de traduzir]No pomar jorrando harmonia; e somente o ventoSaído de duas paletas pronto a se exalar [paletas são os tubos da flauta do fauno]Que dispersa o som em uma chuva áridaÉ, do horizonte completamente linearO visível e sereno sopro artificial [sinestesia]Da inspiração que retorna ao céuÓ banco[orla] siciliano de calmo brejoQue rivaliza co'os sóis de minha vã pilhagem, [a pilhagem que refere-se à ninfa transformada em flauta]Tácita, debaixo das flores que centelham, Contai [aqui o fauno evoca a ninfa, transformada em flauta?]"Que recorto daqui o bambu oco, domado [outra referência à ninfa]"Pelo talento; quando sob o glauco ouro de terras distantes."Frescura que liba seu vinho às fontes"Flamula, em repouso, uma alvura animal"E qual lento prelúdio, onde nascem as flautas"Esvoaçam os cisnes, não! as naiádes se salvam [mais uma referência às ninfas que fogem transformadas em seres naturais]"Ou submergem..." Inerte, todo chamuscado da hora bestialSem assinalar por qual artes partiram [as ninfas]Levantei-me então ao primeiro fervorEreto e só, sob um feixe de luz. [pensei aqui que a palavra "ereto", em vez de "direito", desse um sentido mais sensual ao texto]Lírio! e um dentre nós pela ingenuidadeOutro que o doce nada por seu lábio esparsoO beijo que que bem debaixo da perfídia confidenteMeu seio, virgem de prova, testemunha uma mordida [parece-me que ele se refere à luta contra a

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ninfa]Misteriosa, devido àquele augusto dente;Mas chega! arcano tal eleito por confidenteO junco vasto e gêmeo onde sob azul ele tocaQue distraem a si a confusão do rostoSonho dentro de um longo solo, que nos diverte [solo instrumental]A beleza do ambiente pelas confusõesFalhas entre ela mesma e nosso canto incauto;E de fazer também alta que o amor se moduleDesmaiar de costas da canção vãOu de puro flanco sustido por meu olhar veladoUma sonora e monótona linha.Manchada então, instrumento de fuga, ó malignaSeringa, a reflorir o lago onde tu me esperas! [Seringa=Syrinx, ninfa conhecida por sua castidade, seguidora de Artemis, que ao ser perseguida por Pã foi transformada em um junco, do qual Pã fez sua flauta]Eu, de meu orgulhoso rumor, falarei muito tempoDe deusas; e por pinturas profanas, A seu ombro elevar além da cintura;Assim quando das uvas suguei a claridadePara banir uma decepção por meu fingimento rejeitar.Risonho, ergo ao céu de verão a rama vaziaE, soprando sobre sua pele luminosa, ávidoDe ebriedade até a noite olho através.Ó ninfas, inflemos de recordações variadas"Meu olho, perfuram os juncos, dardejam cada uma"Imortal, que afogam na onda sua queimadura"Com um grito de fúria ao céu da floresta"E some o esplêndido banho de cabelo [???]"Na claridade e calafrio, ó gemas!"Corro; quando a meus pés, se entrelaçam(feridas"De seu langor delicioso a este mal de ser dois)"As dorminhocas dentre seus solitários abraços aventurosos;"Eu as deleito, sem as desenlaçar, e roubo"A sua densidade, irado pela sombra frívola,"As rosas secam todo perfume ao sol"Onde nosso prazer ao dia consumado seja parelho."Eu te adoro cólera das virgens, ó delíciaTímida da sagrado fardo nu que deslizaPara escapar de meu lábio em brasa, como um raioTremei! o temor secreto da carne:Dos pés do inumano ao coração da tímidaQue abandona ao mesmo tempo uma inocência, úmidaAs copiosas lágrimas ou os mais tristes vapores"Meu crime, é o de, alegremente vencer os medos"Traidoras, dividem o tufo descabelado"Os beijos que os deuses guardam tão bem obscurecidos"Pois mal escondem um riso ardente"Sobre as dobras felizes de um só (guardando"Por um simples dedo, a fim de que sua candura de pluma"Se tinja à agitação de sua irmã que se ilumina,"A pequena, ingênua e desavergonhada:)

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"Que meus braços, desfeitos pelo vago óbito,"Essa prece à jamais ingrata se liberta"Sem piedade do soluço do qual já estou embriagado."Mau, mau! à alegria d'outros guiam-mePor sua trança atada aos chifres de minha fronte:Dizes, minha paixão, que púrpura e já madura,Cada explosão de um bago e de abelhas murmura;E nosso sangue, amante do que vai desfrutar,Esparge por todo enxame infindável do desejo.À hora onde seu bosque dourado e de cinzas se extigueUma festa se exalta na folhagem extinta:Etna! está entre ti vindo de Vênus [o poema se passa na Sicília, onde o vulcão Etna é ativo. Vênus a deusa do amor é a esposa de Vulcano, deus do fogo, e mantém uma relação adúltera com Marte]Sobre a lava pousam os calcanhares incautos,Quando troveja um triste sono ou se exaure a chama.Tomo a rainha! Ó castigo... Não, porém a almaDe palavras vagas e carregadasSucumbem tardiamente ao orgulhoso silêncio do meio-dia:Sem nada mais necessita dormir e esquecer a blasfêmiaSobre a areia esmaecidajaz e como amoAbrir minha boca ao astro eficaz do vinho!Parceiras, adeus; Irei ver a sombra que te tornaste.

Imagem: Faun Whistling to a Blackbird(Fauno assobiando para um passáro preto), 1875, Oils on Canvas, Arnold Böcklin (1827 - 1901)

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