MINISTRIODAEDUCAO
UNIVERSIDADEFEDERALDOPARANSETORDECINCIASHUMANAS,LETRASEARTES
DEPARTAMENTODECINCIASSOCIAIS
Disciplina:SEMINRIOSINTEGRADOSI1o.Semestre2009Professora:BenildeM.L.MotimAlunos:ChristianMacieldeBritto
FlviaRegina
FICHADELEITURAARAJO,Carla.AVIOLNCIADESCEPARAAESCOLA:Suasmanifestaesnoambienteescolareaconstruodaidentidadedosjovens.BeloHorizonte:Autntica.2002.
AVila"desce"paraaescolaadinmicadosencontros
J no incio do texto a pesquisadora Carla Arajo define, de maneiraclaraeobjetiva,seuobjetodepesquisa:a)Comoosjovensseencontram,se
aproximam, fazem amigos, criam estratgias de convivncia? b) Como seenvolvem em tumultos, no respeitam a diversidade, e, muitas vezes, comoacabamtransformandodesentendimentosemgravessituaesdeviolncia?c)Na escola, os jovens daVila da Luz se encontram com jovens que no tmumavivnciadeviolncia.Comosedesteencontro?
Tendo como eixo temtico estas trs perguntas a autora desenvolvesuas observaes, com base em dados empricos colhidos na escolaProfessoraInsGonalves,emBeloHorizonte,MinasGerais.SegundoArajo,a sociabilidade do jovem muito importante para a construo de suaidentidade, assim no ambiente escolar possvel que "muitos traos de seu
cotidiano se reproduzam" (ARAJO, 2002, p.116). Contudo, a escola que
deveria ser um local seguro para os alunos na verdade se apresenta comofontederiscosconflituosos,dadoocontextogeradopeloconvviodealunosdediferentesbairrosemcontraposioapresenadealunosmoradoresdaVila
daLuz.
Asbrigas:osmeninosdeoutrosbairros
A autora identifica a predominncia das "brigas de galera", que acabapor constituir "um tipo de solidariedade grupal que se constitui por e naviolncia" (ARAJO, 2002, p.117), nas excees quem briga sozinhonormalmente o faz portando armas. Observa tambm que quase sempre asbrigasseiniciamatravsdeum"ritual",quepodeseruma"encarada",umolharmaisdireto,umapuxadadebon.Mas,aindaquealgumasbrigaspossamse
iniciar atravs do confronto entre dois jovens, estes lanam mo de seusamigos, a maioria da Vila da Luz, que de sua parte descem para dar umamozinha, o que parece configurar uma espcie de corporao a servio daviolncia,explica.
Para os alunos que nomoram na Vila da Luz, so os colegas de lagemcomviolnciagratuita,estaalgumasvezescomrequintesdecrueldade,contaapesquisadora. Dentrodestadinmicaalgunspontossoressaltados:a)oconfronto,quasesempre,definidoentreaVilaeosoutrosbairrosb)acultura de violncia configura parmetros psicossociais que tolha odiscernimento dos agressores, gerando, dentre tantas consequencias, a
banalizao da violncia c) diante de tal quadro, a escola que deveria agircomoagentesocializadoracabaportransferindoosalunosproblemticos.
No que tange amotivao da violncia, alguns alunos apontamo usoabusivo de drogas, e sua dessensibilizao, ou, na maioria das vezes, agratuidade, ou seja, qualquer desculpa motivo para a briga. Comoembasamento terico a autora apresenta a distino entre motivo e razo,realizada por Giddens, no sentido em que a razo apresenta na ao umclculo,aopassoqueamotivaoenvolveum"estadosentimental"(ARAJO,
2002,p.121),cujacomposioenvolveaflieseformasinconscientes.Nestesentido, a hiptese de que a violncia poderia ser ummecanismode defesadosagressores levantada,umaagressoautoprotetora,noqueo jovemse
sentindo frgil e desprotegido lanamodaagressoparaevitar a perdadesua identidade social, cuja presso no manifestada atravs da linguagemverbal. Como as ansiedades e angstias dos jovens, juntamente com suanecessidade de autoafirmao, no so verbalizadas a autora levanta apropostadesecriaremambientesnaescolaparao fomentododilogo,umamesa de negociaes, ou tambm fruns escolares, em que pese apossibilidadedeseresolveremconflitosporestavia,enopelaagresso.
Outropontoimportante,apresentaapesquisadora,envolveaformao,eafirmao,daidentidadedosjovensmoradoresdaViladaLuz.Dentrodestadinmicapareceficarclaroadistinoidentitriadeformadicotomizadaentre
"ns" e "eles", estratgia pela qual os indivduos se constroem socialmente,sendo provvel que as identidade juvenis sejam construdas dentro destadinmica.
Asbrigas:osmeninosdaViladaLuz
Noscorredoresdaescola,noslocaispblicos,ainteraosocialparecesermarcadaporregrasdeolharesecorporalidades,sendoqueumolharpodeouafirmar, ouameaar uma identidade, "uma identidadequenascedoolhardosjovens"(ARAJO,2002,p.127),numaperspectivadequeaconstruodaidentidade envolve a dinmica da alteridade. Contudo, a autora pondera ser
plausvelpensarqueapenasofatodeosjovensmoraremnaViladaLuz,comsuainfraestruturaprecria,ostornarevoltadoseviolentos,masestefatornogeneralizvelumavezqueasbrigasdentrodaescolaparecemnoserumacontinuidade, apenas, do que acontece na Vila. Outrossim, a questo dospreconceitosedaestigmatizaoapontadanoquelevadiversosmoradoresdaVilanomencionaremserdaquelelocal.
Naescola,asestratgiasdeconvivnciadosjovensdaViladaLuz
No que tange a sociabilidade, muitas vezes os alunos vtimas deagressosimblicasolevadosanodiscordardosmoradoresdaVila,como
objetivodenoseremrechassados,emoutroscasosarelatosdealunoscommedobuscamrefgionasigrejasparanoserempegos.Segundoaautora,aquesto da carncia e da pouca infraestrutura parece estar intimamenterelacionadacomoaltondicedeviolncia,segundoela,aviolnciasegregaeaprisiona.
ComomuitosalunosacabammentindoacercadeseremmoradoresdaVila,umaquestoticase levanta juntamentecomademandaparaoensinoda moral pelos professores, "um construto fundamental da formao daidentidade"(ARAJO,2002,p.133).
Olocaldemoradia
Outrofatorimportante,ofatodequeolocaldemoradia,nocasoaVilada Luz, parece se constituir como elemento de ameaa junto a seusmoradores, quemuitas vezes acabam omitindo sua origem com o intuito denoseremdiscriminados.Arajo, inclusive, levantaanecessidadedeo lugarreceber manutenes da prefeitura e mais investimentos, mas o que seconstata que devido a violncia encontrada no local, nem carteiros ecoletoresdelixoousamseaproximar,deixandoasituaoaindamaiscatica.
Outrossim,constatadoqueumaltograudeviolnciaacabaporgerarumabaixasensaodecomunidade.Porfimaconstruodaidentidadedosjovens violentos aponta para um reforo da masculinidade e tudo o que ela
implica, num sentido negativo, alm disso o gnero da violncia preponderantementemasculino.
possveltrabalharjunto?
Neste momento, a pesquisadora aborda de modo detalhado qualmetodologiafoiutilizadaemsuapesquisaecomosedesenvolveusuarelao
comosestudantes.Paratanto,aautoraseutilizoudatcnicadaassociaolivre que consistia em apresentar palavras descontextualizadas para osentrevistados de forma com que a partir das mesmas busquem estabelecer
associaescomoutrasidias.
Paraquetalprocedimentofossepossvel,imprescindvelquehajaumaprimeira aproximao entre entrevistador e entrevistado, uma vez que osresultados de sua pesquisa dependiam diretamente da participao eenvolvimento dos mesmos. Deste modo, a autora relata todo o trabalho deexplicar os alunos quais seriam os objetivos de seu trabalho, optando poresclarecerqueofocodapesquisaseriaojovemeaescola,semprecisarqueesteabordariaprincipalmenteaviolncianaescola,paraqueosalunosnoseretrassem durante as entrevistas. Alm disso, fora necessrio todo umesclarecimento de que se tratava de umapesquisa autnomae no de uma
pesquisa feitaouencomendadapelocolgio.Talpreocupaovisaquebraromedo e o constrangimento dos alunos de falar de seus problemas, j que apesquisa no tinha por intuito denuncilos escola e tudo o que fossereveladoseriamantidosobsigilo.
A primeira das dinmicas de associao livre aplicada pelapesquisadora foi a partir da palavra jovem. Foi orientado que os alunos,individualmente,escrevessemascincoprimeiraspalavras,idiasoufrasesqueviessemmentedosmesmos.Tambmsereveloudereal importnciaofatodapesquisadoradeixlosvontadeparaaquiloqueconsiderassemrelevantenas exposies, deixando claro que naquela atividade no havia certo nem
errado,comoemgeraloalunoaprendenaescola.
Interessantenotar queao longodaatividadeosalunos semantiveramquietosemseuslugaressemsecomunicarunscomosoutros.Jnomomentoemqueaautorapedequeosalunos tentememgrupoescreverumamsicacom os elementos levantados na tarefa anterior, h uma tenso ou mesmoperturbaoentreosestudantes.Nestemomentoagrandemaioriadosalunosoptouporrealizarsozinhoatarefasolicitada,jqueafirmavamquedificilmenteos trabalhos em grupo davam certo, pois cada um pensava de uma formadiferente. A afirmao geral dos estudantes que eles no estavamacostumadosafazernenhumtrabalhoemgrupo,oquerevelacomoaescola
acabapor isolarosdiferentesaprendizadosdosalunos,semaproveitarestasoportunidades de trabalho em grupo para transmitir o respeito diversidadedasdemaispessoas.
ConfianaesegurananocotidianodosjovensdaViladaLuz
Voltandoaos relatosdos jovensdaViladaLuz, aautora identificaumponto em comum para a formao da identidade dos mesmos, que osentimento de segurana capaz de ajudlos a enfrentar as ansiedadesexistenciaisdocotidiano.Estesentimentotemligaocomaprpria trajetriadojovem,desdesuasprimeirasrelaescomaquelesqueoeducam.Portanto,
a presena dos educadores iniciais, ou seja, primeiro os pais e depois osprofessores,marcamdeformaprofundaaidentidadedestesjovens.
Interessante notar nas narrativas dos entrevistados como variam emdiferentesmomentosaquelesquesetornamrefernciaoupontodeapoio.Paraalguns, a famlia o fator que mais garante segurana, j para outros, oumesmo a grandemaioria espera apoio na figura dos amigos, oumesmo dogrupo.EstespodemserosmoradoresdaprpriaVila,daigreja,oumesmooscolegasdaescola.
A autora, aps apresentar as idias que ajudam a compreender asorigens do sentimento de confiana dos alunos, busca agora examinar as
razesquelevamosjovensasentirinsegurana.Estasseriamdiferentementedoquesepensaa respeitoda juventude,deorigemmuitoconcreta,queaviolncia.PrincipalmentenocontextodaViladaLuz,naqualosjovenssentemseinsegurosemrelaoconstanteviolnciadolocal.
Dentre os fatores de insegurana identificados nos jovens da Vila daLuz, aparece, por exemplo, o medo de ser baleado por engano. Estemedoconstante faz com que os jovens busquem desconfiar de pessoasdesconhecidas,pormedodoquepodeviraocorrer.Nestecaso,as relaes
acabamporselimitarumcirculomuitorestritodeamizades,oquediminuiaintegraosocialnaquelacomunidadeediminuioslaosdeseguranas.
Outro fator complicador da situao destes jovens que alm de
desconfiarem dos que lhes parecem ser malandros e dos que lhe sodesconhecidos,estesmesmoestudantestambmnoconseguemconfiarnospoliciais. A fora policial no vista como confivel pelo fato de acabaremsendo confundidos com o grupo dos malandros. Pelo simples fato depertencerem ao mesmo grupo de amigos ou mesmo por morarem emdeterminado local ou usarem determinado tipo de roupa, eles mesmos soconfundidospelospoliciaiseacabamsendopresosoulevandobatida.
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