Agroecologia: Uso Sustentável da Terra
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA – CEFET/RJ
Mônica Ramos Domingues Carneiro
Prof. Orientador: Doralice Chagas Tavares
Rio de Janeiro
Agosto de 2014
Introdução e JustificativaIntrodução e Justificativa
Crise Ambiental
Perversidades e injustiças sócio-
ambientais
Crise do modelo de sociedade
Crise civilizatória e multidimensional
Reprodução de degradação e
desigualdade na cidade e no campo para satisfazer as necessidades da
sociedade hegemônica
(CAPRA, 1988; SANTOS, 2012 apud RIGOTTO et all,2012)
Modelo hegemônicoModelo hegemônico
• Bases: ideologia do progresso + paradigma científico moderno + racionalidade instrumental;
• Premissa: mito do consumo = satisfação das necessidades;
• Contradição: enorme potencial tecnológico x altos níveis de entropia ambiental e social;
• Gerando: submissão da natureza + opressão de povos.
(AZEVEDO, 2009; ELIZALDE, 2003; LIMA, 1998)
Objetivos e MetodologiaObjetivos e Metodologia
• Explanar e discutir brevemente o modelo agrícola convencional e prejuízos;
• Exemplificando com malefícios do uso excessivo de insumos químicos;
• Apresentar e defender a Agroecologia como alternativa ao uso sustentável da terra e da Terra;
• Pesquisa Bibliográfica: sistematização de teorias, dados e experiências ao redor do mundo.
Modelo de produção agrícola Modelo de produção agrícola modernomoderno
• Latifúndio + monocultura + insumos químicos + o.g.m. + motomecanização = Pacote Tecnológico da Rev. Verde;
• Mecanismos industriais = produção contínua e exploração excessiva dos recursos naturais;
• Objetivando a máxima produtividade através da artificialização dos ecossistemas.
(ALMEIDA, 2001; LUTZENBERGER, 2001; MARAFON, 2011; SHIKI, 2013)
Prejuízos da Agricultura ConvencionalPrejuízos da Agricultura Convencional
• Não culminou na segurança alimentar mundial;
• Desemprego no campo;
• Ampliação da concentração fundiária;
• Êxodo rural;
• Redução da biodiversidade;
• Desequilíbrios ecológicos;
• Erosão e desgaste dos solos;
• Poluição das águas e do ar;
• Dependência de insumos externos e financeiros.
(ALMEIDA, 2001; LONDRES, 2011; LUTZENBERGER, 2001; MARAFON, 201; SHIVA, 2003)
Prejuízos da Agricultura ConvencionalPrejuízos da Agricultura Convencional
• Se produz cerca de 4 bilhões de toneladas de alimentos/ano, destes 30-50% são desperdiçados
(Global Food – IMECHE, 2013).
Figura 1: Estimativa da FAO do número de pessoas subnutridas em 2009, (milhões de pessoas) por região - Fonte: Adaptado de FAO, 2009c apud FAO, 2009, p. 120.
Economias de mercadodesenvolvidas - 15
Oriente Próximo e Áfricado Norte - 42
América Latina e Caribe -53
África subsaariana - 265
Ásia e Pacífico - 642
Sustentável e sustentabilidadeSustentável e sustentabilidade
Ecologia Política (TRUJILLO-ORTEGA, 2013)
Racionalidade ambiental (LEFF, 2009) x racionalidade econômica e
social
Superação da visão reducionista e mecanicista do
mundo
Incorporação dos processos ecológicos, culturais,
tecnológicos, políticos e econômicos
Gerando mecanismos de distribuição da riqueza e poder, erradicando a pobreza e guerra,
fortalecendo a autonomia e soberania dos povos!
Mudança ParadigmáticaMudança Paradigmática
Organismo global, ecossistema – interações e
interdependências
Mudança na noção de natureza
Auto-organização e complexidade
Revolução biológica e ecológica
Mudança na noção de vida
(MORIN, 1973)
AgroecologiaAgroecologia
• Racionalidade produtiva com bases de sustentabilidade e equidade social;
• Abordagem integradora, transdisciplinar, multidimensional e holística – enfoque sistêmico.
(BORSATTO e CARMO, 2012; CAPORAL et all, 2006)
Figura 2: Exemplos de contribuições de outras ciências à Agroecologia, ilustrando as inúmeras possibilidades de integrações de distintas áreas do conhecimento na
consolidação do enfoque agroecológico como matriz disciplinar e novo paradigma do reino da complexidade, exposto por Morin (1973).- Fonte: CAPORAL et all, 2006, p. 08.
• Além da substituição dos inputs externos – incorporando princípios ecológicos e valores culturais locais – acesso igualitário aos meios de vida;
• Suporte para transição paradigmática;
• Agroecossistema = unidade geográfica e sócio-cultural.
(ALTIERI,2009; CAPORAL e COSTABELER, 2004; CAPORAL et all, 2006 ;LEFF, 2002)
PrincípiosPrincípios
• Sistemas complexos – diversidade sociocultural e ecológica – produção limpa e justa;
• Metodologias participativas + diálogo de saberes = harmonizar as atividades agrícolas com os processos naturais dos seres vivos;
• Otimização do Agroecossistema como um todo – interações e sinergismos = auto-regulação.
(ALTIERI, 2009; CAPORAL e COSTABELER, 2002; GÕTSCH, 1996)
Solo(s) = organismo vivo
Litosfera Biosfera
Processos biogeoquímicos
Transformação de água, nutrientes e radiação
solar em vida
Produzindo em cada lugar equilíbrios
particulares
Litosfera
Manejo dos solosManejo dos solos
(CARDOSO, 2008)
Manejo dos solosManejo dos solos
• Práticas que promovam o restabelecimento de funções ecológicas – reprodução da fertilidade (PRIMAVESI, 2008);
• Conceito de fertilidade: quantidades totais de nutrientes no solo x suprimento constante e equilibrado de nutrientes (PETERSEN e ALMEIDA,2008);
• Ciclagem permanente através do manejo da biodiversidade funcional.
Manejo Integrado da Fertilidade do Manejo Integrado da Fertilidade do Solo - MIFSSolo - MIFS
Intensivo em conhecimento x aportes químicos
Figura 3: Enfoque e tecnologias empregadas no MIFS
Fonte: TITTONELL et all, 2008, p.35
• Práticas de manejo podem diferir em função dos contextos socioculturais – objetivar a promoção da alta diversidade biológica;
• Métodos de desenvolvimento endógenos para o manejo ecológico dos recursos naturais – busca soberania.
Figura 3: Produtividade, receita líquida, custo de produção e rentabilidade de sistemas convencionais e em transição agroecológica no Planalto Norte de Santa Caratina (em kg de
milho) - Fonte: PETERSEN e ALMEIDA, 2008, p.22
Considerações FinaisConsiderações Finais
• Transmissão dos saberes de manejo agroecológico dos solos e dos agroecossistemas para sistemas sustentáveis de organização e reprodução social com respeito à todas as formas de existência;
• Desafio: superação do poderio político, econômico e ideológico dos atores que sustentam a permanência e expansão do modelo atual em detrimento da soberania alimentar dos povos.
• ALMEIDA, Sílvio Gomes de. A insustentabilidade do modelo de desenvolvimento agrícola brasileiro. In:______. Crise socioambiental e conservação ecológica da agricultura brasileira: subsídios à formulação de diretrizes ambientais para o desenvolvimento agrícola. 1.ed. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2001. p. 11-32.
• ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 5.ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
• AZEVEDO, Andréa Aguiar. Legitimação da insustentabilidade? Análise do Sistema de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais – SLAPR (Mato Grosso). Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Desenvolvimento sustentável – CDS / UnB. Universidade de Brasília, Brasília, 2009. Disponível em: <http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_arquivos/4/TDE-2009-09-28T160752Z-4395/Publico/2009_AndreaAguiarAzevedo.pdf>. Acesso em: 06 jul.2014.
• BORSATTO, Ricardo Serra; CARMO, Maristela Simões do. Agroecologia e sua epistemologia. Interciencia. Caracas, v.37, n.9, p. 711-716, set. 2012. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/339/33925502010.pdf>. Acesso em: 06 jul. 2014.
• CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004.
• ____________. Agroecologia: Enfoque científico e estratégico. Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.2, abr./jun. 2002.
• CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio; PAULUS, Gervásio. Agroecologia: Matriz disciplinas ou novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável. Brasília – DF: SEAE, abr. 2006. Disponível em: < http://www.seaembu.org/docs/agroecologia2.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2014.
• CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. 7.ed. São Paulo: Editora Cultrix Ltda, 1988.
ReferênciasReferênciasReferênciasReferências
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• ELIZALDE, Antonio. Desarrollo Humano y Ética para La Sustentabilidad. México y Chile: PNUMA y UNIVERSIDADED BOLIVARIANA, 2003.
• FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. El Estado Mundial de la Agricultura y la Alimentacion. Roma, 2009. Disponível em: <https://www.fao.org.br/download/i0680s.pdf>. Acesso em: 06 jul. 2014.
• GÖTSCH, Ernst. O renascer da agricultura; tradução Patricia Vaz. 2.ed. Rio de Janeiro: AS-PTA. 1996.
• IMECHE, Institution Of Mechanical Engineers. Global Food: Waste Not, Want Not. Wales, 2013. Disponível em: <http://www.imeche.org/>. Acesso em: 22 jun. 2014.
• LEFF, Enrique. Agroecologia e saber ambiental. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, v.3, n.1, p. 36-51, jan./mar. 2002.
• ____________. Complexidade, racionalidade ambiental e diálogo de saberes. Educ. Real., Porto Alegre, v.34, n.3, dez. 2009. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0100-31432009000300003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13 jul. 2014.
• LIMA, Gustavo F. da Costa. Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios. Revista Eletrônica Política e Trabalho. Revista de Ciências Sociais – Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB, p. 139-154, set. 1998. Disponível em: <http://www.cefetsp.br/edu/eso/ecologiacritica.html>. Acesso em: 22 abr. 2014.
• LONDRES, Flávia. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2011.
• LUTZENBERGER, José A. O absurdo da agricultura. Estud. av. São Paulo, v.15, n.43, p. 61-74, dez. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000300007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jun. 2014.
ReferênciasReferências
• MARAFON, Glaucio José. O desencanto da terra: produção de alimentos, ambiente e sociedade. Rio de Janeiro: Garamond, 2011.
• MORIN, Edgar. A sutura epistemológica. In: ______. O Paradigma Perdido: A Natureza Humana. 4.ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1973. Primeira parte.
• PETERSEN, Paulo; ALMEIDA, Edinei de. Revendo o conceito de fertilidade: conservação ecológica do sistema de manejo dos solos na região do Contestado. Agriculturas: experiências em agroecologia. Rio de Janeiro, v.5, n.3, set. 2008.
• PRIMAVESI, Ana. Agroecologia e manejo do solo. Agriculturas: experiências em agroecologia. Rio de Janeiro, v.5, n.3, set. 2008.
• RIGOTTO, Raquel Maria; PORTO, Marcelo Firpo; FOLGADO, Cleber; FARIA, Neice Muller; AUGUSTO, Lia Giraldo; BEDOR, Cheila; BURIGO, Andre; CARNEIRO, Fernando Ferreira; CASTRO, Franciléia Paula; FERNENDES, Gabriel Bianconi; FERREIRA, Marcelo José Monteiro; FRIEDREICH, Karen; MARINHO, Alice Maria Correia Pequeno; MONTEIRO, Denis; PIGNATI, Antonio Wanderley; PINHEIRO, Tarcísio Márcio Magalhães; RIZZOLO, Anelise; SILVA, Nivia; TYGEL, Alan. Dossiê Abrasco – Parte 3 - Agrotóxicos, conhecimento científico e popular: construindo a ecologia de saberes. Porto Alegre: ABRASCO, nov. de 2012.
• SHIKI, Shigeo. Impacto das inovações da agricultura tropical brasileira sobre o desenvolvimento humano. In: SAUER, Sérgio; BALESTRO, Moisés Villamil (orgs). Agroecologia e os desafios da transição agroecológica. 2.ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013.
• SHIVA, Vandana. Monoculturas da mente: perspectiva da biodiversidade e da biotecnologia; tradução Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Gaia, 2003. TITTONELL, Pablo; MISIKI, Michael; EKISE, Isaac. Falando de ciência do solo com os agricultores. Agriculturas: experiências em agroecologia. Rio de Janeiro, v.5, n.3, set. 2008. TRUJILLO-ORTEGA, Laura Elena. Ecología Política del Desarrollo Sostenible. In: SAUER, Sérgio; BALESTRO, Moisés Villamil (orgs). Agroecologia e os desafios da transição agroecológica. 2.ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013. p. 71-98.
ReferênciasReferências
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