UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA
AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA
ERGONOMIA E SEGURANÇA DO PACIENTE NA PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO
DE EVENTOS ADVERSOS NO TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DE
PACIENTES POR MAQUEIROS EM UMA MATERNIDADE DE ALTA
COMPLEXIDADE
Natal - RN
Outubro/2020
AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA
ERGONOMIA E SEGURANÇA DO PACIENTE NA PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO
DE EVENTOS ADVERSOS NO TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DE
PACIENTES POR MAQUEIROS EM UMA MATERNIDADE DE ALTA
COMPLEXIDADE
Dissertação submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN, como requisito necessário para a
obtenção do título de Mestre em Engenharia
de Produção.
Linha de Pesquisa: Ergonomia, Engenharia do
Produto e Engenharia da Sustentabilidade.
Professor: Ricardo José Matos de Carvalho.
Natal - RN
Outubro/2020
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Silva, Aianna Rios Magalhaes Veras e.
Ergonomia e segurança do paciente na prevenção e mitigação de
eventos adversos no transporte e transferência de pacientes por
maqueiros em uma maternidade de alta complexidade / Aianna Rios
Magalhaes Veras e Silva. - 2021.
183 f.: il.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção, Natal, RN, 2021.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho.
1. Ergonomia -Dissertação. 2. Segurança do paciente -
Dissertação. 3. Eventos adversos - Dissertação. 4. Maqueiros -
Dissertação. 5. Transporte de pacientes - Dissertação. I.
Carvalho, Ricardo José Matos de. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 614.253.83
Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ERGONOMIA E SEGURANÇA DO PACIENTE NA PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO
DE EVENTOS ADVERSOS NO TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DE
PACIENTES POR MAQUEIROS EM UMA MATERNIDADE DE ALTA
COMPLEXIDADE.
AIANNA RIOS MAGALHAES VERAS E SILVA
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO
DO GRAU DE
MESTRE EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
OUTUBRO, 2020
© 2020 AIANNA RIOS MAGALHAES VERAS E SILVA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
O autor aqui designado concede ao Programa de Engenharia de Pós-graduação em Engenharia
de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte permissão para reproduzir,
distribuir, comunicar ao público, em papel ou meio eletrônico, esta obra, no todo ou em parte,
nos termos da Lei.
Assinatura do Autor:
__________________________________________________________________________________________________________________________
APROVADO POR:
_________________________________________________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho – Presidente
___________________________________________________________________________________________________________________________ Prof. Dr. Júlio Francisco Dantas de Rezende – Examinador Interno ao Programa
______________________________________________________________________________________________________________
Profª. Drª Maria Christine Werba Saldanha –Examinadora Externa à Instituição
Aos meus pais, Acácio Salvador Véras e
Silva e Réia Sílvia Rios Magalhães,
exemplos de pais dedicados e professores
universitários competentes, e que, além de
terem me inspirado a seguir meus sonhos,
também os sonharem junto comigo. Amor
pleno e amparo fundamental!
E aos meus irmãos, Acácio Júnior e Anne
que, pela grande diferença de idade, foram
meus professores de tarefas escolares,
motoristas, cuidadores, protetores e
companheiros, sempre abraçando minhas
dores como se fossem suas. Amor
incondicional a me estimular!
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente а Deus por este presente maravilhoso que é concluir esta
etapa tão importante em minha vida acadêmica e pelas pessoas que Ele colocou em meu
caminho. Maior mestre que alguém pode conhecer!
Ao meu orientador, Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho, pela forma segura,
dedicada, competente e acolhedora com que conduziu as atividades, ao longo do processo de
construção desta dissertação. Você é admirável, muito obrigada!
Aos meus familiares: pais, irmãos, tios, primos e cunhados, pelo carinho, incentivo e
apoio constante em todos os momentos da minha vida pessoal e acadêmica. Em especial, à tia
amada e fonte de inspiração, Maria do Socorro Rios Magalhães, pelas correções de Português.
Parte fundamental da minha vida e da minha história!
Ao meu noivo, João Isaque Fortes Machado, pelo carinho, paciência e apoio. Seu
amor e companhia foram imprescindíveis!
À cunhada e professora de inglês, Tátila Galganea, pela elaboração do Abstract deste
trabalho. Valiosa contribuição!
À Maternidade Januário Cicco pela disponibilidade e colaboração na execução deste
projeto, principalmente, aos membros do Núcleo de Segurança do Paciente e aos maqueiros.
Convivência harmoniosa e engrandecedora!
Aos professores do curso de Engenharia de Produção da UFPI que me indicaram a
direção certa para que eu construísse meu conhecimento na área. Meu eterno agradecimento!
Agradeço, em especial, a minha banca examinadora, Profª. Drª. Maria Christine Werba
Saldanha e Prof. Dr. Julio Francisco Dantas de Rezende, pelas sugestões e contribuições
preciosas a este trabalho. Para vocês, meu reconhecimento sempre!
Enfim, agradeço aos meus queridos amigos, Cryslaine Nascimento, Danyella
Reinado, Danylla Gabryella, Rômullo Dantas e Matheus Alves, pela convivência sadia, rica
de bons sentimentos, momentos de cumplicidade, companheirismo, superação, estudos,
tensão e muitas alegrias. A vocês, minha gratidão, para sempre, Bruacas!
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AET – Análise Ergonômica do Trabalho
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CAAE – Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CCIH – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
COFEN – Conselho Federal de Enfermagem
CORENs – Conselhos Regionais de Enfermagem
EA – Eventos Adversos
EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
ERS – Ergonomic Research Society
GA – Grupo de Acompanhamento
GAE – Grupo de Ação Ergonômica
GF – Grupo de Foco
IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente
IEA – International Ergonomics Association
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
IOM – Institute of Medicine
LER/DORT – Lesões Por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados
Ao Trabalho
MEJC – Maternidade Escola Januário Cicco
NR – Norma Regulamentadora
OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMS – Organização Mundial da Saúde
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PNSP – Programa Nacional de Segurança do Paciente
PPRA – Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais
RDC – Resolução da Diretoria Colegiada
REBA – Rapid Entire Body Assessment
SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SNVS – Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
UFRN – Universidade Federal do Rio grande do Norte
WAI – Work As Imagined
WAD – Work As Done
SUS – Sistema Único de Saúde
LOS – Lei Orgânica da Saúde
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Manchete revista VEJA .......................................................................................... 19 Figura 2 – Manchete Tribuna do Norte .................................................................................... 20
Figura 3 – Determinantes da atividade de trabalho .................................................................. 36 Figura 4 – Equipamento de transferência de paciente .............................................................. 57 Figura 5 – Fachada da MEJC ................................................................................................... 75 Figura 6 – Esquema da construção social a ser desenvolvida na MEJC .................................. 79 Figura 7 – Grandes Momentos da AET .................................................................................... 81
Figura 8 – Quarta reunião para instrução da demanda entre a pesquisadora e os membros do
NSP ........................................................................................................................................... 84 Figura 9 – Série histórica de notificações de EA’s ................................................................... 99
Figura 10 – Organograma da MEJC ....................................................................................... 101 Figura 11 – Fluxograma do chamado dos maqueiros ............................................................. 104 Figura 12 – Fluxograma do transporte de pacientes realizado pelos maqueiros .................... 105 Figura 13 – Riscos ambientais e ocupacionais para os maqueiros ......................................... 106
Figura 14 – Acesso a unidade B2 ........................................................................................... 112 Figura 15 – Sala do setor dos maqueiros ................................................................................ 113
Figura 16 – Local de descanso dos maqueiros ....................................................................... 114 Figura 17 – Cadeiras de rodas e macas do setor ..................................................................... 115
Figura 18 – Desnível do elevador ........................................................................................... 116 Figura 19 – Percentual de respostas do questionário nórdico ................................................ 117 Figura 20 – Sequência de ações de transferência de uma paciente para cama de um leito .... 120
Figura 21 – Maqueiro correndo com a paciente na cadeira de rodas para pegar impulso na
rampa ...................................................................................................................................... 121
Figura 22 – Cadeiras de rodas sem suporte para soro ............................................................ 122 Figura 23 – Uso do elevador para o transporte de pacientes .................................................. 123
Figura 24 – Paciente saindo da plataforma com auxílio do acompanhante............................ 124 Figura 25 – Transferência e transporte de pacientes sendo realizados sem luvas .................. 125 Figura 26 – Paciente de alta saindo sem acompanhamento do maqueiro nem de outra pessoa
................................................................................................................................................ 128 Figura 27 – Transporte sendo feito por terceiros .................................................................... 129 Figura 28 – Transferência da maca para o leito com auxílio do acompanhante .................... 129
Figura 29 – Gráfico de barras escala de avaliação de risco .................................................... 131 Figura 30 – Idade das respondentes ........................................................................................ 133
Figura 31 – Nível de escolaridade das respondentes .............................................................. 134 Figura 32 – Uso do espaço: utilização e frequência de uso da MEJC .................................... 135 Figura 33 – Uso do espaço: tempo médio de permanência .................................................... 136
Figura 34 – Utilização do serviço dos maqueiros................................................................... 136 Figura 35 - Condições do serviço de transporte e transferências de pacientes ...................... 137
Figura 36 - Condições dos equipamentos utilizados para esse serviço .................................. 138 Figura 37 - Condições das instalações para transporte ........................................................... 138
Figura 38 - Condições gerais da maternidade ........................................................................ 139
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Fatores que influenciam a prática clínica .............................................................. 31 Quadro 2 – Classificações da ergonomia ................................................................................. 40
Quadro 3 – Etapas para realização da busca dos documentos em inglês ................................. 47 Quadro 4 – Etapas para realização da busca dos documentos em português ........................... 47 Quadro 5 – Classificações da pesquisa ..................................................................................... 72 Quadro 6 – Exigências éticas fundamentais ............................................................................. 92 Quadro 7 – Princípios e principais competências do NSP da MEJC ....................................... 97
Quadro 8 – Percentuais de respostas de cada ponto por dados .............................................. 132 Quadro 9 – Resumo dos objetivos específicos da pesquisa, suas constatações e sugestões de
melhorias ................................................................................................................................ 143
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Modelo Tradicional e a nova abordagem para resposta à ocorrência de EA’s ....... 30 Tabela 2 – Novos impulsos de ação global para melhorar a segurança do paciente ................ 33
Tabela 3 – Fatores de risco para LER/DORT........................................................................... 44
RESUMO
Nos últimos tempos, a segurança do paciente vem se tornando uma preocupação de âmbito
mundial, compreendendo, para assegurá-la, uma gama de aspectos a considerar, tais como a
cirurgia segura, a identificação do paciente, a higienização das mãos, a prevenção de quedas,
o uso seguro de medicamentos, o ambiente seguro de cuidado, entre outros, tornando mais
complexo o conhecimento e o controle de todas essas variáveis, quando se trata do
gerenciamento dos sistemas de atendimento de pacientes, como hospitais e maternidades,
entre outros. A segurança do paciente, assim como as causas dos eventos adversos (EAs) e
suas consequências, em maior ou menor grau, têm relação com a qualidade das instalações,
dos equipamentos e dos serviços prestados, com o dimensionamento de pessoal para
realização dos serviços, com a jornada diária e semanal de trabalho, com a densidade ou
intensificação do trabalho, com a complexidade do quadro clínico dos pacientes, com a
remuneração dos profissionais, com a gestão da segurança e saúde do trabalhador, com a
gestão da infecção hospitalar, entre outros. Nesse contexto, o transporte e a transferência de
pacientes realizados por maqueiros no ambiente intra-hospitalar expressa preocupação como
atividade suscetível à ocorrência de eventos adversos com os pacientes envolvidos, devido à
frequência com que são realizados, bem como a sua complexidade, porque envolve todos os
aspectos citados anteriormente. Apesar disto, do tempo de internação prolongado, das
consequências aos pacientes e dos custos envolvidos com os eventos adversos, as pesquisas
sobre este tema ainda não são abundantes. A ideia de segurança, conforme preconizada por
Hollnagel, na abordagem Safety II, ressalta a importância de se analisar o trabalho como é
realmente feito ou realizado (“work as done-WAD”), diferentemente de analisar o trabalho
como foi imaginado ou prescrito (“work as imagined-WAI”), como é a abordagem Safety I. A
abordagem Safety II valoriza o conhecimento e a experiência dos trabalhadores sobre o
trabalho que realizam e se interessa sobre como e por que as coisas dão certo (“go right”). A
abordagem Safety I, por sua vez, largamente adotada nos sistemas de gestão de segurança das
organizações em geral, inclusive hospitalares, centra-se nos aspectos normativos e
prescritivos, no conhecimento de especialistas e gestores, e interessa-se por conhecer o
porquê de as coisas não darem certo (“go wrong”), a exemplo dos modelos de análise de
riscos do trabalho e de erros utilizados. O trabalho real do maqueiro é muito mais do que
transportar e transferir o paciente de um local a outro. Consiste em transportar e fazer
transferência do paciente com eficiência e segurança, e isto envolve a consideração, por parte
dos maqueiros, dos aspectos tecnológicos e organizacionais, do layout das instalações, das
condições de saúde do paciente e das condições de saúde e estratégias cognitivas do próprio
maqueiro, para se evitar eventos adversos com os pacientes. A Ergonomia apresenta-se, neste
contexto, como um campo científico e metodológico fundamental que, através da Análise
Ergonômica do Trabalho, permite que se compreenda o trabalho real do maqueiro, que se
formule um diagnóstico da sua atividade e se estabeleça indicações de melhoria da sua
atividade e das unidades de saúde que cuidam de pacientes, visando à segurança desses
durante a atividade de transporte e transferência. Assim, o presente trabalho tem como
objetivo central analisar a atividade dos maqueiros da Maternidade Escola Januário Cicco
(MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando identificar os determinantes dessa
atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes. Pretende-se, com isso, indicar
medidas de melhoria da atividade dos maqueiros, que minimizem as possibilidades de
ocorrência dos eventos adversos e aumentem a segurança do paciente. Para tanto, foi adotado
o método situado da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que se caracteriza por aplicar
técnicas observacionais e interacionais e por adotar uma abordagem participativa e negocial
com os sujeitos interessados na solução dos problemas em foco. Os resultados da pesquisa
demonstraram que os maqueiros, ao realizarem suas atividades, defrontam-se com contrantes
físicos, devido às características das instalações físicas (degradação de equipamentos, ao
layout inadequado, ausência de elevador de acesso à unidade B2, entre outros) da MEJC e dos
equipamentos utilizados (cadeiras de rodas sem suportes, macas de diferentes modelos, entre
outros). Defrontam-se, também, com contrantes temporais (urgência do transporte, alta
demanda x baixo número de efetivos, alta demanda x equipamentos indisponíveis etc.). Para
garantir a eficiência do serviço prestado, os maqueiros realizam regulações frequentemente,
que consistem no desenvolvimento de estratégias e ações, tais como contar com auxílio de
terceiros para realizar certas transferências e transportes de pacientes, e fazer antecipações
com previsões de demanda de chamados, ao depararem-se com fluxos intensos em
determinados períodos e dias da semana, retirar todas camas de leitos, cadeiras de
acompanhantes e berços de dentro do leito, ao realizarem uma transferência da maca para
cama do leito, além de fazê-la no corredor, suspender cadeiras de rodas e macas, ao entrarem
e saírem dos elevadores, correr com cadeiras de rodas, ao subirem rampas muito íngremes
etc., sendo que parte dessas estratégias constatadas podem aumentar o risco de ocorrência de
uma EA. Essas regulações têm como objetivo atenuar ou eliminar os contrantes e as
variabilidades incidentais, facilitando a execução das ações (transporte e transferência do
paciente). Diante dos achados, sugeriu-se, uma série de medidas para melhoria da segurança
do paciente, como, por exemplo, a aquisição de suportes para as cadeiras de rodas, a
realização de um estudo aprofundado de análise e previsão de demanda do setor, a realização
de um treinamento conjunto do setor de enfermagem e o setor dos maqueiros, quanto à
instrução para o seguimento do protocolo de chamados, além disso, incluir nesse protocolo
níveis que digam o grau de enfermidade do paciente, pois, assim, facilitaria para os
maqueiros, em momentos de alta demanda, a escolha da estratégia utilizada, além de dar um
maior noção do estado de saúde do paciente, o que ajudaria na prevenção de eventos adversos.
Sugeriu-se, ainda, a inclusão dos maqueiros nos treinamentos, palestras, cursos etc. sobre a
segurança do paciente, que incluam a importância da sua atividade e como fazê-la de forma
segura para os pacientes e profissionais, evitando que os maqueiros utilizem manobras
arriscadas no transporte de pacientes. Além disso, recomendou-se, também, que esses
profissionais sejam alertados sobre a importância da lavagem das mãos pré e pós-
atendimento, principalmente, diante do momento atual de pandemia de COVID-19.
PALAVRAS-CHAVE: Ergonomia. Segurança do paciente. Eventos adversos. Maqueiros.
Transporte de pacientes.
ABSTRACT
Throughout the years, patient safety has become a worldwide concern, covering a range of aspects to
be taken into consideration, looking to ensure it, such as safe surgery, patient identification, hands
sanitization, prevention of falls, safe use of medicines, safe care environment, among others, making
the knowledge more intricate and the control of all these variables, when it comes to managing the
system of patient care, such as hospitals, maternity, amongst others. Patient safety, as well as the
causes of adverse events (AEs) and their consequences, to a greater or lesser extent, are related to the
facilities and equipment quality, the services provided, the distribution of the staff to do the services,
the daily and weekly work, the density or intensification of work, the complexity of the patients'
clinical conditions, the payment of the professionals, the management of the worker’s safety and
health, the management of infections in the hospital, among others. In this context, the transportation
and relocation of patients in the intra-hospital environment expresses concern due to the frequency it
occurs, its complexity, given the occurring aspects, above mentioned, and the possible manifestations
of adverse events related to these activities, in which are performed by the stretcher-bearers. However,
there is a scarcity of research that considers them as an important barrier to the occurrence of AEs.
Despite the hospital stay length, the side effects on the patients, and the costs caused by unexpected
events, the research on this theme is still not sufficient. The understanding of safety, as proposed by
Hollnagel, in the Safety II procedure, emphasizes the importance of analyzing the work as it is done
(WAD), unlike analyzing the work as it was imagined (WAI), as is the Safety I procedure. The Safety-
II procedure values the workers' knowledge and experience on the job they execute, besides taking
interest in how and why things “go right”. The Safety I procedure, in turn, generally adopted in the
security management systems of organizations, including hospitals, focuses on normative and
prescriptive aspects, on the knowledge of specialists and managers, and is interested in knowing why
things “go wrong”, as the used work risk and error samples. The actual work of the stretcher-bearer is
much more than transporting the patient from one place to another. It consists of transporting and
relocating efficiently and safely, and this action involves the stretcher-bearer’s consideration of the
technological and organizational aspects, the layout of the facilities, the patient's health conditions as
well as the stretcher-bearer’s own cognitive strategies and health conditions, to avoid adverse events.
Ergonomics presents itself, in this context, as a fundamental scientific and methodological field,
through the Ergonomic Analysis of Work, to comprehend the work of the stretcher-bearer, to
formulate a diagnosis of their work and, to establish indications to improve the stretcher-bearer’s
activity and the health units that take care of the patients, aiming their safety during the activity of
transportation and relocation of the patient. Thus, the present work has as its main objective the
analysis of the stretcher-bearers’ activity in the Maternity School Januário Cicco (MEJC), situated in
the city of Natal-RN, proposing to identify the causes of this work activity that impact patients’ safety.
The objective is to indicate measures to improve stretcher-bearers’ work activity, to level down the
occurrence of possible adverse events, or vulnerabilities associated with the activity, and increase
patient safety. Therefore, it will adopt a method based on the Ergonomic Analysis of Work (TSA),
which is characterized for applying observational and interactional techniques and also for adopting an
inclusive and negotiable approach with interesting subjects to solve the aforementioned problems. The
preliminary results of the research show that the stretcher-bearers, when performing their work
activities, face physical problems, due to the characteristics of the physical facilities (deterioration of
equipment, inadequate layout, lack of elevator of access to unit B2, among others) of the MEJC and
the equipment used. They also endure usual incidents (the urgency of transportation, high demand x
low number of staff, high demand x availability equipment, etc.). To promote the efficiency and
security of the service provided, stretcher-bearers often deal with adjustments, such as the
development of strategies and actions, as in relying on the assistance of third parties to carry out
certain transportations and relocations of patients and make anticipations with forecasts of on-call
demands that encounter intense flows in certain periods and days of the week, remove all beds,
escort’s chairs and cradles from inside the bed when transferring the patient from the stretcher to the
bed, in addition to doing it in the hallway, suspending wheelchairs and stretchers when getting in and
out of elevators, running with wheelchairs when climbing very steep ramps, etc., part of these
strategies can increase the risk of an AE. These regulations aim to attenuate or eliminate contractors
and accidental variabilities, facilitating the accomplishment of actions (patient’s transportation and
relocation). Considering the made discoveries it was suggested a series of measures to improve patient
safety, such as the acquisition of accessories for wheelchairs, the execution of an in-depth study to
analyze and estimate the demand of the sector, along with the implementation of collaborative
training, nurses and stretcher-bearers, as instructions for the follow-up protocol to callings. In addition,
the inclusion in this protocol of degrees to inform the patient’s illness condition, as to facilitate the
choices for the stretcher-bearers in moments of high demand, besides giving a greater awareness of the
patient’s health situation, preventing the rise of adverse events. Furthermore, the admission of
stretcher-bearers into training courses and lectures on patient safety, showing the importance of their
job and how to best perform it for the sake of patients’ professionals’ assurance, as to avoid that the
stretcher-bearers use risky maneuvers in the transportation of patients and the importance of hand-
washing pre and post care, especially in face of the current COVID-19’ pandemic state.
KEYWORDS: Ergonomics. Patient safety. Adverse events. Stretcher-bearers. Transport of
patients.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 19 1.1 Problemas e hipóteses de pesquisa ................................................................................ 24
1.1 Objetivos ........................................................................................................................ 25 1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 25 1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 25 1.2 Justificativa .................................................................................................................... 25 2 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL ............................................................ 28
2.1 Segurança do Paciente e Eventos Adversos .................................................................. 28 2.2 Ergonomia: conceitos relevantes para pesquisa ............................................................ 34 2.2.1 Ergonomia Participativa ............................................................................................ 41
2.3 LER/DORT .................................................................................................................... 42 3 PESQUISAS RELACIONADAS AO TEMA ............................................................... 46 3.1 Quantificação das publicações de pesquisas científicas e estudos relevantes para
pesquisa .................................................................................................................................... 46
4 ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS RELACIONADOS À PESQUISA ............. 62 4.1 Aspectos legais da enfermagem e a relação com a função de maqueiro ....................... 62
4.2 Movimentação e Transporte de paciente: norma regulamentadora brasileira ............... 63 4.3 Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde: norma
regulamentadora brasileira ....................................................................................................... 64 4.4 Lei 8080/1990 (Lei Orgânica da Saúde - LOS) ............................................................. 67 4.5 Resolução de diretoria colegiada – RDC nº 36 ............................................................. 69
5 METODOLOGIA .............................................................................................................. 72 5.1 Classificação da pesquisa .............................................................................................. 72
5.1.1 Quanto à natureza ...................................................................................................... 73 5.1.2 Quanto à abordagem .................................................................................................. 73
5.1.3 Quanto aos objetivos .................................................................................................. 74 5.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos ........................................................................... 74 5.2 Local da pesquisa........................................................................................................... 75
5.3 População ...................................................................................................................... 76 5.4 Pesquisa bibliográfica e documental ............................................................................. 77 5.5 Pesquisa Empírica (Estudo de Caso): pesquisa de campo na Maternidade Escola
Januário Cicco-MEJC ............................................................................................................... 78 5.5.1 Construção Social-CS ................................................................................................ 78
a) Instrução da Demanda ................................................................................................... 81 b) Análise Global ............................................................................................................... 84 c) Análise da Atividade ..................................................................................................... 85
- Análise focal da atividade (focalização da análise) e pré-diagnóstico .......................... 85 - Análise focada da atividade e diagnóstico ..................................................................... 87
d) Especificações ergonômicas .......................................................................................... 89 e) Restituição e validação .................................................................................................. 90
5.6 Tratamento e análise de dados ....................................................................................... 91 5.7 Aspectos éticos da pesquisa ........................................................................................... 92 6 CARACTERIZAÇÃO DA MATERNIDADE .............................................................. 94 6.1 Análise global da maternidade ...................................................................................... 94 6.1.1 Histórico da Maternidade-escola ............................................................................... 94 6.1.2 Estrutura da Maternidade-escola................................................................................ 94
6.1.3 População de trabalhadores da maternidade-escola ................................................... 94
6.1.4 Serviços oferecidos na Maternidade-escola ............................................................... 95 6.1.5 Núcleo de Segurança do Paciente .............................................................................. 96 6.1.5.2 Princípios e competências ...................................................................................... 97 6.1.5.3 Série histórica do registro de EA’s ......................................................................... 98 6.2 Análise global do setor dos maqueiros ........................................................................ 100
6.2.1 Organograma ........................................................................................................... 100 6.2.2.1 Dados sócio demográficos ................................................................................... 102 6.2.2.2 Organização do Trabalho ..................................................................................... 102 6.2.3 Instalações e equipamentos do Setor dos Maqueiros ............................................... 103 6.2.4 Fluxo do processo de chamada e do transporte de pacientes ................................... 103
6.2.5 Trabalho prescrito dos maqueiros ............................................................................ 105 6.2.6 Aspectos relativos à Saúde e Segurança do Trabalho .............................................. 106 6.2.7 Atendimentos prestados pelos maqueiros ................................................................ 107
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 108 7.1 Segurança do Paciente ................................................................................................. 108 7.2 Incidentes e acidentes .................................................................................................. 109 7.3 Treinamento ................................................................................................................. 110
7.4 Pontos positivos e negativos da função de maqueiro .................................................. 111 7.5 Aspectos negativos relacionados a equipamentos e instalações .................................. 112
7.5.1 Plataforma automática utilizada para suspensão e elevação do paciente ................ 112 7.5.2 Sala do Setor dos maqueiros .................................................................................... 113
7.5.3 Cadeiras de rodas, macas e acessórios ..................................................................... 114 7.5.4 Elevador da MEJC ................................................................................................... 115 7.6 Sugestões de melhorias da atividade apontadas pelos próprios maqueiros ................. 116
7.7 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Questionário
Nórdico ................................................................................................................................... 116
7.8 Análise Focal da atividade e Pré-diagnósticos da atividade ........................................ 118 7.9 Análise Focada da atividade e diagnóstico da atividade ............................................. 119
7.9.1 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Plano de
observação sistemático e conversações .................................................................................. 119 7.9.1.1 Tipo, equipamentos utilizados e contrantes encontrados no transporte ............... 119
7.9.1.2 Uso de EPI’s e higienização das mãos e dos equipamentos ................................ 124 7.9.1.3 Comunicação e chamados .................................................................................... 125 7.9.1.4 Acompanhamentos e auxílios no transporte......................................................... 128
7.9.2 Resultados referentes à aplicação da Escala de avaliação dos riscos no transporte,
remoção e transferência .......................................................................................................... 130
7.9.3 Resultados referentes à aplicação dos Questionários com pacientes e/ou
acompanhantes........................................................................................................................ 132 7.9.3.1 Informações sociodemográficas ........................................................................... 133
7.9.3.2 Uso do espaço....................................................................................................... 134 7.9.3.3 Percepção do local ................................................................................................ 137
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 141 8.1 Aspectos gerais ............................................................................................................ 141
8.2 Síntese do atendimento aos objetivos e sugestões de melhoria ................................... 142 8.2 Limitações e recomendações para trabalhos futuros ................................................... 145 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 146 ANEXOS ................................................................................................................................ 156 ANEXO A – QUESTIONÁRIO NÓRDICO ......................................................................... 157 ANEXO B - ESCALA DE AVALIAÇÃO DOS RISCOS NO TRANSPORTE, REMOÇÃO E
TRANSFERÊNCIA ............................................................................................................... 158
ANEXO C - PLANTA BAIXA TÉRREO DA MATERNIDADE ESCOLA JANUÁRIO
CICCO .................................................................................................................................... 161 ANEXO D - PLANTA BAIXA PRIMEIRO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA
JANUÁRIO CICCO ............................................................................................................... 162 ANEXO E - PLANTA BAIXA SEGUNDO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA
JANUÁRIO CICCO ............................................................................................................... 163 APÊNDICES .......................................................................................................................... 164 APÊNDICE A - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL DA
MATERNIDADE) ................................................................................................................. 165 APÊNDICE B - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL SETOR
MAQUEIROS) ....................................................................................................................... 166 APÊNDICE C - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (MAQUEIROS) ................ 168 APÊNDICE D - PLANO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICO .......................................... 170
APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO COM PACIENTES E OU ACOMPANHANTES ........ 173 APÊNDICE F - QUESTIONÁRIO COM MAQUEIROS ..................................................... 176 APÊNDICE G - QUESTIONÁRIO COM GESTORES ........................................................ 179 APÊNDICE H - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE ... 180
APÊNDICE I - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS (FOTOS E
VÍDEOS) ................................................................................................................................ 183
APÊNDICE J - TERMO DE COMPROMISSO .................................................................... 184
19
1 INTRODUÇÃO
Embora as organizações que cuidam da saúde das pessoas (maternidades, hospitais
etc.) se destinem à cura dos pacientes, muitos eventos adversos – que não fazem parte do
quadro clínico que provocou a internação do paciente – ocorrem nesses ambientes, desde os
primórdios de sua existência, provocando problemas à saúde dos internos, que vão, desde os
pequenos agravos, passando por sequelas irreversíveis, e até mesmo a morte.
Somente a partir dos anos 2000, a segurança do paciente passou a fazer parte das
estratégias internacionais (Organização Mundial de Saúde - OMS) e nacionais (Ministério da
Saúde - MS) de cuidado da saúde (healthcare) nas organizações de saúde públicas, privadas e
filantrópicas. Por isso, cada vez mais, essas organizações de saúde têm se preocupado com o
controle de eventos adversos visando à segurança do paciente durante o atendimento.
No entanto, atualmente, a frequência dos eventos adversos ainda é preocupante. Em
julho de 2011, a revista VEJA estampou a seguinte manchete, mostrada na Figura 1: OMS – ir
ao hospital é mais arriscado do que viajar de avião.
Figura 1 – Manchete revista VEJA
Fonte: VEJA (2011)
De acordo com esta reportagem, os dados da Organização de Mundial de Saúde
(OMS) apontam que milhões de pessoas morrem todos os anos em função de erros médicos e
infecções adquiridas em hospitais (VEJA, 2011).
20
A Tribuna do Norte, em novembro de 2017, apontou, em uma de suas manchetes, que
as falhas hospitalares matam mais que acidentes e câncer, como evidenciado na Figura 2,
destacando ainda os eventos adversos como a segunda maior causa de morte no Brasil.
Figura 2 – Manchete Tribuna do Norte
Fonte: Tribuna do Norte (2017)
No Brasil, registrou-se, em 2018, a ocorrência de 103.275 eventos adversos nas
unidades de saúde, localizados, principalmente, nas regiões Sudeste e Nordeste, sendo
responsáveis, respectivamente, por 40% e 21,3% das notificações dos eventos adversos
relacionados à assistência à saúde (BRASIL, 2019). Quanto à distribuição das notificações
dos eventos adversos, por período/turno, observa-se que a maioria (60%) ocorreu durante o
plantão diurno (7 h às 19 h) (BRASIL, 2019). Vale ressaltar que muitos eventos adversos não
são informados, de maneira que os dados publicados são subnotificados.
Os cuidados da saúde em organizações que prestam serviços de alta complexidade,
exigem uma atenção especial, pois envolvem pacientes que necessitam de cuidados de
natureza complexa, em que uma série de aspectos deve ser levada em conta para promover a
segurança do paciente e garantir a minimização de eventos adversos (EAs) correlatos.
A World Alliance for Patient Safety (2004) (em português, Aliança Mundial para
Segurança do Paciente) foi criada em 2004, por meio da Organização Mundial de Saúde
(OMS), visando à disseminação de conhecimentos a respeito da segurança do paciente em
todo o mundo, fornecendo alertas sobre aspectos sistêmicos e técnicos envolvidos e
promovendo campanhas internacionais sobre o tema, na tentativa de minimizar os eventos
21
adversos e, consequentemente, as vítimas de eventos adversos evitáveis (WORLD
ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY, 2004).
Há muitas formas de prevenir os EAs, mas, segundo a World Alliance for Patient
Safety (2004), a principal causa dos EAs está relacionada às deficiências na concepção,
organização e operação do sistema hospitalar. Sendo assim, a maioria dos eventos adversos
(EAs) ocorrem devido a causas latentes dentro dos sistemas, e não por conta de negligência
ou falta de treinamento dos profissionais (WORLD ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY,
2004).
Para Belela, Peterlini e Pedreira (2010), as causas dos EAs e suas consequências, nos
ambientes hospitalares, devem-se, também, à precariedade dos serviços prestados, à falta de
dimensionamento adequado de pessoal, à carga horária excessiva e à má remuneração dos
profissionais. Depreende-se dessa afirmação, que os aspectos organizacionais do trabalho têm
relação com os eventos adversos e, portanto, com a segurança do paciente.
A segurança do paciente envolve uma vasta gama de aspectos, que estão elencados nas
Portarias nº 1377/2013 (BRASIL, 2013) e nº 2095/2013 (BRASIL, 2013) em que se tem os
protocolos básicos de segurança do paciente. Os aspectos mencionados nessas portarias são:
cirurgia segura, identificação do paciente, higiene das mãos, prevenção de quedas, uso seguro
de medicamentos, e ambiente seguro de cuidado.
A identificação e análise das causas dos eventos adversos tem despertado interesses
científicos no campo da segurança do paciente. “O trabalho pioneiro e clássico nessa área é o
Estudo da Prática Médica de Havard, (em inglês, Harvard Medical Practice Study (HMPS)),
realizado em 1984, que constou da revisão de 30.121 prontuários de internações hospitalares
em 51 hospitais de Nova York” (ZANETTI et al., 2020).
Os pacientes dão entrada nas unidades hospitalares em busca de tratamento e cura,
mas, durante o período de tratamento, parte deles pode ser afetada por eventos adversos que
podem, por sua vez, agravar a patologia original ou provocar uma nova lesão ou patologia,
prolongando o tempo de internação ou incapacitando o paciente, de forma temporária ou
permanente, podendo até provocar o óbito.
É válido ressaltar, que não somente os profissionais da área de saúde são os
responsáveis pela segurança do paciente. Devem, também, fazer parte deste processo, além de
todos os profissionais envolvidos, os acompanhantes e, até mesmo, os próprios pacientes. Os
acompanhantes passam, muitas vezes, mais tempo com o paciente do que os próprios
profissionais e há ocasiões em que o paciente não conta com a vigilância ativa de
acompanhantes, nem dos profissionais que o assistem.
22
No Brasil, por meio da Portaria GM/MS nº 529, de 1° de abril de 2013 (BRASIL,
2013), foi instituído o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), com o objetivo
de contribuir para a melhoria do cuidado com o paciente em todos os estabelecimentos de
saúde em todo o território nacional. O PNSP propõe uma série de estratégias para
implementação da cultura de segurança do paciente. Para o Ministério da Saúde (2016), essas
estratégias reforçam o fato de que a responsabilidade sobre a segurança é de todos, indo muito
além da segurança do paciente, e incluindo a segurança dos próprios profissionais, familiares
e comunidade.
Este projeto de pesquisa concentra-se na área temática da segurança do paciente, tendo
como unidade de análise a atividade de transporte de pacientes realizada por maqueiros em
uma organização de saúde pública federal – maternidade-escola de atendimento de alta
complexidade. Objetiva-se, com este projeto, compreender quais as relações existentes entre a
atividade do maqueiro e a segurança do paciente. Procura-se, com isso, identificar e analisar
os determinantes dessa atividade potencialmente causadores de adventos adversos e, portanto,
ameaçadores da segurança do paciente. Pretende-se, por outro lado, identificar e analisar as
estratégias e ações utilizadas pelos maqueiros para gerenciar as variabilidades (GUÉRIN et
al., 2001; VIDAL, 2008) e os contrantes (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008) da atividade e
manter a segurança do paciente.
A coleta no ponto de origem, o transporte por maca ou cadeira de rodas e a entrega de
pacientes a um ponto de destino é uma atividade que possui riscos e está sujeita a ocorrências
acidentais, que podem resultar em queda do paciente, choques de parte do corpo do paciente
contra superfícies, desconexão de dispositivos de tratamento injetados no corpo, coleta, e
transporte e entrega do paciente errado no ponto de destino, entrega do paciente ao destino
errado etc.
Assim, a atividade dos maqueiros exige algumas capacidades e habilidades que fazem
parte da gestão da segurança do paciente por ele realizada. Como exemplo disso, tem-se a
identificação ou certificação do paciente (com quem o maqueiro precisa interagir), a
certificação do local do destino do paciente, o manuseio seguro do paciente, para evitar
quedas e outras ocorrências indesejáveis, trafegar com o paciente em meio a outras pessoas e
equipamentos, a manipulação segura da maca em diversos trajetos e ambientes, a
manipulação de dispositivos clínicos utilizados pelo paciente (soro, injetáveis, balões de
oxigênio, etc.), a leitura correta da documentação do paciente, o recebimento e despacho da
documentação do paciente, a orientação espacial na planta da unidade de saúde, o transporte
em si na unidade de saúde (corredores, elevadores, rampas, etc.), a operação do elevador etc.
23
O conhecimento ou não, dentre outros aspectos, da natureza da enfermidade do paciente, do
efeito do medicamento utilizado (sonolência, tonteira, inconsciência etc.) e o grau de
autonomia do paciente tem relação também com a atividade do maqueiro e com a segurança
do paciente.
Logo, não cabe ao maqueiro apenas transportar o paciente de um ponto (A) a outro
(B), mas transportá-lo com segurança e conforto. Isto exige do maqueiro conhecimentos e
prática em transporte de pessoas que não se encontram em suas condições de saúde plena, que
podem estar sentindo dores, ter lesões, estarem medicadas, cirurgiadas, desacordadas, com
algum dispositivo invasivo (sondas, soro, tubo de oxigênio), ou sem autonomia total. Os
maqueiros, além de realizar o transporte intra-hospitalar, atuam também na transferência e
transporte de pacientes da ambulância ou veículo particular para a maca ou cadeira de rodas e
vice-versa.
Os modos operatórios adotados pelos maqueiros durante o transporte também têm a
ver com o estado dos equipamentos de transporte (maca ou cadeira de rodas) utilizados, com
os modelos dos equipamentos de transporte (se cadeira de roda ou maca, se é regulável ou não
etc.) e os acessórios a eles acoplados, com sua própria antropometria e estado de saúde, com a
antropometria do paciente, com os dispositivos de pega e controle do equipamento de
transporte, com o fluxo de circulação de pessoas no ambiente em que o transporte está sendo
realizado, com a acessibilidade do local, com o contexto do transporte (se de urgência ou não)
etc.
Muitas variáveis estão envolvidas e relacionadas com a segurança do paciente,
podendo causar eventos adversos no paciente durante o transporte pelo maqueiro. Daí a
importância de se estudar a atividade do maqueiro e sua reação com a segurança do paciente e
a ocorrência de eventos adversos. Este é um tema ainda escasso na literatura científica e, em
especial, quando se trata de maternidade-escola, que presta atendimento de alta complexidade.
A presente pesquisa tem por objetivo analisar a atividade dos maqueiros da
Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando
identificar os determinantes dessa atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes.
Pretende-se, com isso, indicar medidas de melhoria da atividade que minimizem as
possibilidades de ocorrência dos eventos adversos, ou as vulnerabilidades associadas à
atividade, e que aumentem a segurança do paciente.
Espera-se com este estudo contribuir para a implementação de medidas que melhorem
a segurança dos pacientes transportados pelos maqueiros na MEJC e que essas medidas
possam inspirar outras unidades de saúde a implementarem, também, medidas adequadas,
24
nesse mesmo sentido. O estudo pode, também, a partir do método aplicado, dos achados
científicos e das medidas de melhoria propostas incentivar outros estudos similares em outras
unidades de saúde. E, por fim, o estudo pode contribuir para o conhecimento científico na
área de ergonomia, segurança do paciente e engenharia de produção.
1.1 Problemas e hipóteses de pesquisa
A fim de responder a algumas questões, que só podem ser respondidas e confirmadas
por meio da pesquisa científica, foram formulados três problemas de pesquisa e quatro
hipóteses, que nortearão a investigação, quais sejam:
P1: De que maneira os contrantes temporais e físicos (acessibilidade, espaços, leiaute),
relacionados com a atividade de transporte e transferência de pacientes pelos
maqueiros, impactam na segurança do paciente, provocando, por exemplo, risco de
agravamento da lesão original do paciente, riscos de queda, riscos de colisões contra
pessoas, equipamentos e instalações físicas e desconexão de dispositivos clínicos (seringa,
sonda, máscara de oxigênio etc.) conectados ao paciente?
H1: Os contrantes temporais, devido ao grau de urgência do quadro clínico do paciente e à
grandeza da demanda de transportes de pacientes, fazem com que os maqueiros acelerem os
procedimentos de transporte e transferência do paciente, criando instabilidades nas ações
correlatas, aumentando os riscos de acidentes ou eventos adversos e, portanto, impactando a
segurança do paciente.
H2: Os contrantes físicos dificultam o transporte e transferência do paciente pelos maqueiros,
devido às barreiras físicas existentes no percurso do local de origem ao destino, constituindo-
se em riscos de acidentes ou eventos adversos, tais como riscos de queda e riscos de choque
da maca com o paciente contra instalações, equipamentos e/ou pessoas.
P2: Até que ponto as exigências físicas da atividade dos maqueiros impactam na
segurança do paciente e na própria saúde dos maqueiros, e como se dá essa relação entre
a saúde dos maqueiros e a segurança do paciente?
H3: O manuseio dos pacientes pelos maqueiros se dá através de intensa e frequente exigência
física muscular e posturas corporais instáveis, que geram fadiga e distúrbios
musculoesqueléticos nos maqueiros, que podem criar maiores dificuldades e mudanças no
25
modo recomendado de manuseio de paciente, e provocar riscos de queda e/ou risco do
agravamento da enfermidade original do paciente.
P3: Quais as estratégias utilizadas pelos maqueiros para gerenciar as variabilidades
individuais, técnicas e organizacionais de sua atividade, a fim de promover e/ou garantir
a segurança dos pacientes?
H4: Os maqueiros antecipam certas ações de acordo com certas situações possíveis de
acontecer, solicitam ajudas de terceiros para a realização de certas operações e fazem ajustes
nos dispositivos técnicos do equipamento de transporte, como forma de economizar tempo e
fazer o transporte e a transferência do paciente de forma segura.
1.1 Objetivos
Para solucionar a problemática da subseção anterior, houve a necessidade de apontar
os objetivos geral e específicos da pesquisa, os quais serão expostos a seguir.
1.1.1 Objetivo geral
Propor um conjunto de medidas de melhoria da atividade de transporte e transferência
dos pacientes realizada pelos maqueiros, visando à minimização de ocorrências dos eventos
adversos e à melhoria da segurança do paciente da maternidade escola.
1.1.2 Objetivos específicos
• Identificar e analisar os contrantes temporais e físicos da atividade de
transporte e transferência dos pacientes, que podem contribuir para a ocorrência de eventos
adversos e impactar a segurança do paciente.
• Apreender e examinar a efetividade das estratégias utilizadas pelo maqueiro
para gerenciar as variabilidades e contrantes da atividade e promover ou garantir a segurança
do paciente.
1.2 Justificativa
A ocorrência de eventos adversos (EA) no ambiente hospitalar é uma realidade que, há
tempos, preocupa os profissionais de saúde. No entanto, a partir dos anos 2000 passou a ser
uma preocupação de âmbito mundial, devido à divulgação do relatório publicado pelo
26
Institute of Medicine (IOM), To err is human, em que os resultados indicaram a ocorrência de
2,9 a 3,7% de EA em pacientes norte-americanos, o que resultou em 44.000 a 98.000 mortes
por ano, por conta da assistência insegura (IOM, 1999).
Segundo o Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), estima-se que 15%
dos custos hospitalares nos países da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) seja resultado direto da ocorrência de eventos adversos. No Brasil, os eventos
adversos consomem de R$ 5,19 bilhões a R$ 15,57 bilhões de reais (WARELINE, 2017).
No Boletim de Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde - SNVS,
número 20, emitido pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária em novembro de 2019, as
quedas de pacientes ocupam o quarto lugar do ranking de EAs mais frequentes no Brasil,
sendo responsável por, em média, 11% dos incidentes relacionados à assistência à saúde. No
mesmo boletim há o registro de 2037 notificações classificadas como lesões aos pacientes e
hematomas, representando, cerca de 2% dos incidentes relacionados à assistência à saúde
(BRASIL, 2019). Estes podem estar relacionados com a atividade de transporte e
transferência de pacientes, uma vez que é uma atividade que tem o contato direto com os
pacientes, que se encontraram com sua saúde mais fragilizada e, muitas vezes, com uso de
medicamentos, estando assim mais propensos a quedas, que, por sua vez, podem causar lesões
e hematomas aos pacientes.
No entanto, há uma escassez de pesquisa que mostrem a relação entre os eventos
adversos e a atividade de transporte de pacientes, ainda que esta atividade seja de suma
importância dentro do contexto hospitalar, uma vez que esses profissionais têm o contato
direto com os pacientes. Além disso, a maioria das pesquisas encontradas que se relacionam
aos profissionais maqueiros restringe-se ao aspecto ergonômico físico da atividade e sua
influência na saúde do próprio trabalhador, evidenciando essa atividade como uma ocupação
propensa a causar sintomas osteomusculares na parte inferior e superior das costas, bem como
nos tornozelos/pés e joelhos, que podem a vir acarretar uma LER/DORT, como mostrou o
estudo de Oliveira (2014). Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN), no Rio Grande do Norte, em 2010, as LER/DORT apresentaram-se como o terceiro
agravo mais frequente entre as notificações de agravos relacionados ao trabalho, assim como
também no Nordeste e no Brasil (BRASIL, 2011).
É importante ressaltar que a presente pesquisa, não apenas analisará os aspectos físicos
da atividade dos maqueiros, mas também investigará o impacto desses para segurança do
paciente, da mesma maneira que identificará os contrantes temporais e físicos dessa atividade,
analisando a efetividade das estratégias utilizadas por esses profissionais para gerenciar esses
27
contrantes e as variabilidades da atividade, sendo esse um diferencial dentro das pesquisas
encontradas que se relacionam com o presente tema.
Carayon (2010) destaca a importância do uso da Ergonomia e Fatores Humanos (em
inglês, Human Factors and Ergonomics - HFE) para a melhoria da segurança do paciente. A
Academia Nacional de Engenharia entende que a HFE constitui uma ferramenta-chave, que
pode contribuir para melhorar os sistemas de saúde e, assim, gerar melhorias na qualidade dos
cuidados e da segurança dos pacientes (REID, COMPTON, GROSSMAN, E FANJIANG,
2005). No entanto, o transporte de pacientes, a segurança do paciente e a ergonomia são
encontrados nas pesquisas de forma dissociada, sendo essa associação uma individualidade da
presente pesquisa.
A escolha do tema, além de todos esses fatores considerados, surgiu de situações reais
de vida da pesquisadora, pois, há cerca de sete anos, esta tem vivido experiências dentro do
ambiente hospitalar, por acompanhar a mãe, que tem recorrido a longos tratamentos de saúde.
Neste processo, verificou-se que os maqueiros careciam de conhecimentos e condições de
trabalho seguras, que se manifestavam no modo como trabalhavam, cuja atividade os expunha
a riscos de acometimento de distúrbios musculoesqueléticos e ameaçava a segurança dos
pacientes que transportavam e faziam transferências.
Pelas razões supracitadas e tomando conhecimento do interesse da Maternidade Escola
Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, em realizar seu primeiro estudo
em que se analisasse a relação entre a atividade dos maqueiros e a segurança dos pacientes,
decidiu-se realizar esta pesquisa na referida maternidade, para atender à demanda da referida
instituição.
A relevância desta pesquisa consiste no ineditismo do estudo na referida maternidade,
em contribuir para o conhecimento científico da Ergonomia em Segurança do Paciente,
especificamente, no que se refere ao trabalho do maqueiro e na possibilidade de contribuir
para indicações de melhoria nessa atividade, no sentido de, integradamente, melhorar a
segurança do paciente, a saúde dos maqueiros e a qualidade do serviço de saúde na referida
maternidade, minimizando os custos de internação prolongada e de indenizações judiciais, por
conta da ocorrência dos possíveis eventos adversos com os pacientes transportados e
transferidos pelo maqueiros, em ambiente intra-hospitalar.
28
2 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL
Este capítulo apresenta os principais conceitos e aspectos teóricos oriundos da
literatura científica sobre o tema deste projeto de pesquisa, que ajudarão a compor o desenho
deste projeto e as futuras discussões teóricas à luz dos resultados obtidos. Assim, os principais
conceitos e aspectos teóricos abordados neste capítulo dizem respeito à Segurança do paciente
e à ergonomia, envolvendo aspectos da ergonomia participativa e das lesões por esforço
repetitivos e doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho.
2.1 Segurança do Paciente e Eventos Adversos
Vincent (2009) define a segurança do paciente como “o ato de evitar, prevenir e
melhorar os resultados adversos ou as lesões originadas no processo de atendimento médico-
hospitalar”. Esses danos têm sido estudados há mais de um século, no entanto, dificilmente,
eram, até meados dos anos 2000, mencionados em revistas médicas, discutidos publicamente,
nem tampouco eram considerados pelas instituições governamentais.
Segundo Trindade e Lage (2014), no final do século XIX, a comunidade médica e a
sociedade em geral acreditavam que os incidentes ocorriam devido ao comportamento de
alguns raros profissionais, tendo, assim, pouca influência no resultado do tratamento do
paciente.
Vincent (2009) ainda afirma que o mais famoso estudo já realizado no campo da
segurança do paciente foi o Estudo da Prática Médica em Harvard, publicado em 1989, com o
intuito de expor a extensão do problema das lesões causadas ao paciente, estimando os
números de casos potencialmente indenizáveis em Nova York, nos Estados Unidos, e
considerando que as indenizações poderiam ser oferecidas sem procurar culpados.
Somente, a partir da década de 2000, a segurança do paciente tornou-se, de fato, uma
preocupação mundial, devido à divulgação do relatório publicado pelo Institute of Medicine
(IOM), “To err is human”, já citado anteriormente. Segundo Reis, Martins e Laguardia
(2012), a segurança do paciente é posta como prioridade para pesquisadores de todo o mundo,
passando a ser internacionalmente reconhecida como uma dimensão fundamental da
qualidade em saúde, o que fez com o que vários países passassem a criar institutos,
associações e organizações voltadas à questão da segurança do paciente.
Tendo em vista esse enorme crescimento do interesse quanto à segurança do paciente,
a Organização Mundial de Saúde (OMS) constituiu, em 2004, a Aliança Mundial para a
29
Segurança do Paciente (World Alliance for Patient Safety). No seu programa de segurança do
paciente, formado por diversos países, estão definidas as questões prioritárias para a pesquisa
na área de segurança do paciente, destacando-se, entre outras, os cuidados de saúde para com
as mães e aos recém-nascidos e fragilidade da cultura de segurança (WORLD ALLIANCE
FOR PATIENT SAFETY, 2004). Para a World Alliance for Patient Safety (2004, p. 4), a
segurança do paciente é definida como “a redução do risco de danos desnecessários durante
os processos assistenciais e uso das boas práticas para alcançar os melhores resultados para o
cuidado de saúde”.
Um conceito fundamental para a compreensão da segurança do paciente é o de eventos
adversos. Leape et al. (1991) definiram Eventos Adversos (EAs) como todos os incidentes
que resultam em danos à saúde do paciente. Segundo Vincent (2009, p. 51), eventos adversos
são entendidos como “uma lesão não intencional causada pelo tratamento médico, e não pelo
progresso da doença” (VINCENT, 2009, p. 51). Para o National Quality Forum (2002), os
EAs incorporam todos e quaisquer tipos de episódios de caráter negativos ou deficitários
decorridos de uma prestação de serviço de saúde no ambiente hospitalar que podem ocasionar
em danos aos envolvidos. Padilha et al. (2015), por sua vez, definem eventos adversos (EAs)
como aqueles não relacionados à evolução natural da doença de base, podendo levar ao
aumento do tempo e do custo de internação, a incapacitações e até à mortalidade dos doentes.
Portanto, conclui-se que, ao longo dos anos, não houve alterações significativas no conceito
de Eventos Adversos.
De acordo com o programa de segurança do paciente (WORLD ALLIANCE FOR
PATIENT SAFETY, 2004), ao tecer comentários sobre a segurança do paciente, os problemas
no próprio sistema de cuidados de saúde são compreendidos como fatores predominantes para
a ocorrência de EAs. De acordo com este programa, os seres humanos cometem falhas, que
podem resultar em erros e, por isso, os erros devem ser considerados consequências e não
causas. Para minimizá-los, devem ser criadas defesas no sistema de cuidados de saúde, uma
vez que a condição humana é imutável.
Beccaria et al. (2009) afirma que, apesar do EA ser, comumente, associado ao erro
humano, devem-se considerar como fatores desencadeadores dos EAs as condições de
trabalho, os aspectos estruturais, a complexidade da tarefa, a qualificação dos profissionais e a
sobrecarga de serviço. Para Trindade e Lage (2014), isso exige uma mudança de cultura das
organizações de saúde, passando de uma cultura de culpabilização do indivíduo para a cultura
de segurança e de aprendizagem com o erro. Para tal, deve haver o incentivo dos profissionais
a reportar os EAs, com a criação de sistemas de notificação confidencial de eventos adversos
30
e, além disso, deve haver a análise sistemática dos dados e a divulgação dos resultados, para
que todos fiquem cientes e se beneficiem com as recomendações.
Outro mecanismo de defesa para não ocorrência de EA’s é o conhecimento de que
todo profissional da saúde é uma barreira para ocorrência de EA, incluindo os maqueiros que
têm um contato direto com os pacientes. No entanto, é importante que os envolvidos
entendam que aprender apenas com os próprios erros tornaria o processo vagaroso e com
grande impacto negativo para os pacientes, sendo, portanto, necessário que as experiências
dos outros também sirvam de aprendizado.
Preocupado com a ocorrência de EAs nas unidades de saúde, o Department of Health
(2000) expôs dois modelos de resposta do sistema nacional de saúde diante da ocorrência de
EA, um modelo tradicional, que visa culpabilização do indivíduo diante das falhas e o outro
que considera a aprendizagem com o erro (falha) com uma nova abordagem (Tabela 1).
Tabela 1 – Modelo Tradicional e a nova abordagem para resposta à ocorrência de EA’s
Tradicional Nova abordagem
Medo de represálias Política de relatórios geralmente sem culpa
Indivíduos como “bode expiatório” Quando houver justificativa, os indivíduos serão
responsabilizados
Bancos de dados de eventos adversos com
discrepâncias
Todas as bases de dados coordenadas
Os funcionários nem sempre ouvem o resultado de
uma investigação
Feedback regular para o pessoal da linha de frente
Formação individual dominante Treinamento baseado em equipe
A atenção concentra-se em erro individual Abordagem de sistemas para identificar perigos e
prevenção
Falta de consciência da gestão de riscos Treinamento de conscientização geral de risco
Fixação a curto prazo de problemas Ênfase na manutenção da redução de risco
Uso manipulativo de dados Uso consciente dos dados
Muitos eventos adversos considerados como
exceções
Reconhecimento do potencial para replicação de
eventos adversos similares
Lições de eventos adversos vistos como interessantes
apenas para equipe envolvida
Reconhecimento de que as lições aprendidas podem
ser relevantes para outros
Aprendizagem passiva ou individual Aprendizagem ativa baseadas em equipes
Fonte: Adaptado de Department of Health (2000)
Assim, de acordo com a Tabela 1, na segunda coluna, a “nova abordagem” formulada
para o enfrentamento dos EAs está assentada em alguns princípios, quais sejam: o sistema de
31
saúde deve focar mais na prevenção, no reconhecimento precoce e na resolução rápida, justa e
eficaz dos problemas, além de no trabalho em equipe. Segundo essa abordagem, os esforços
para a melhoria da segurança do paciente devem envolver todo o sistema, que, por natureza, é
complexo, abrangendo uma ampla gama de disciplinas de cuidados de saúde e todos os atores
envolvidos, devendo detectar e controlar os riscos reais e potenciais à segurança do paciente,
além de buscar soluções de longo prazo (DEPARTMENT OF HEALTH, 2000).
Para Taylor-Adams e Vincent (2004), há alguns tipos de fatores que influenciam o
desempenho dos profissionais, podendo precipitar erros e afetar a segurança do paciente.
Esses fatores mencionados pelos autores, mostrados no Quadro 1, são uma extensão do
modelo do queijo suíço de James Reason (que mostra que quando não há camadas de queijo
“barreiras”, os buracos se comunicam, ou seja, o risco não encontrou barreira e atingiu o
paciente), que foi adaptado para uso em um ambiente de saúde, considerando sua influência
na prática clínica.
Quadro 1 – Fatores que influenciam a prática clínica
TIPOS DE FATORES FATORES CONTRIBUINTES OU INFLUNCIADORES
Fatores do Paciente
Condição (complexidade e gravidade)
Comunicação e linguagem
Fatores sociais e de personalidade
Fatores da Tarefa ou Tecnologia
Claridade da estrutura e desenho da tarefa Disponibilidade e
uso de protocolos
Disponibilidade e acurácia dos testes
Auxílios a tomada de decisão
Fatores Individuais (pessoas)
Conhecimento e habilidade
Competência
Saúde física e mental
Fatores da equipe
Comunicação verbal
Comunicação escrita
Disponibilidade de ajuda e supervisão
Estrutura da equipe (congruência, consistência,
liderança, etc.)
Fatores do Ambiente de Trabalho
Mix de nivelamento e habilidades do staff
Padrões de turno e carga de trabalho
Manutenção, design e disponibilidade de equipamentos
Apoio administrativo e gerencial Ambiente de trabalho
Área física
Fatores Organizacionais & Gerenciais Restrições financeiras
32
Estrutura organizacional
Políticas, padrões e objetivos
Cultura de segurança e prioridades
Fatores do Contexto Institucional
Contexto regulatório e econômico
Sistema de saúde nacional
Ligação com organizações externas
Fonte: Taylor-Adams e Vincent (2004)
Por meio do Quadro 1, é possível verificar que muitos são os fatores que influenciam
na prática clínica e consequentemente na segurança do paciente. Patriarca et al. (2017)
comungam com essa visão, pois consideram que os cuidados de saúde são um sistema sócio
técnico complexo, uma vez que há uma grande quantidade de componentes que interagem
fortemente, cujos agentes são adaptáveis e podem alterar o seu comportamento de acordo com
a interações globais e o do próprio ambiente de trabalho, o que mostra, de fato, a necessidade
de uma mudança de paradigma do modelo de resposta aos eventos adversos, emergindo no
campo da engenharia de resiliência (ER).
Macchi et al. (2011) afirmam que, embora os serviços de cuidados de saúde possam
ser padronizados, espera-se que os profissionais de saúde quebrem protocolos, caso seja
necessário para segurança do paciente, pois cada paciente é único e tem necessidades e
condições que são difíceis de prever nos procedimentos ou padrões de cuidados gerais, sendo
que um sistema resiliente deve ser capaz de responder a essas variações. Assim, a engenharia
de resiliência oferece a oportunidade para resolver os problemas ou incidentes que surgem
devido às variabilidades.
Powell (2006) criou uma abordagem de sistemas para segurança dos pacientes
envolvendo o trabalho de equipe. Este modelo, concebido para o sistema de saúde, foi
desenvolvido utilizando-se de técnicas de engenharia de sistemas que identificaram a
liderança, a cultura organizacional de aprendizagem, as equipes eficazes e uma melhor
utilização da tecnologia da informação como elementos centrais, considerando quatro níveis
de barreiras: o paciente individual, a equipe de cuidados, a organização e o ambiente político
e econômico.
Hollnagel (2014) faz uma distinção entre duas visões de Segurança, denominadas
como Safety I e Safety II. Para este autor, Safety I representa o modelo hegemônico de
segurança amplamente disseminado e adotado nas academias e organizações produtivas, que
se assenta na criação de estruturas de gerenciamento de segurança, na identificação e análise
de riscos e em medidas de controle de riscos baseadas em prescrições técnicas,
33
organizacionais e normas. Nessa abordagem, os gestores são os principais protagonistas e não
há a participação direta ou há pouca participação dos trabalhadores em todo o processo de
gerenciamento da segurança. Ou seja, trata-se de características de um modelo de cultura de
segurança top-down e de uma abordagem que cria prescrições, considerando o trabalho como
imaginado (work as imagined - WAI). A abordagem Safety II expressa-se em outra
perspectiva, pois leva em consideração o trabalho situado, o conhecimento dos trabalhadores
e, portanto, a perspectiva do trabalho como é realmente realizado (work as done - WAD).
Partindo da perspectiva de que os trabalhadores podem contribuir para a melhoria do
gerenciamento da segurança na maternidade em questão, este projeto adotará a perspectiva da
Safety II, para compreender os aspectos de segurança presentes na atividade do maqueiro nos
diversos contextos. O encaminhamento metodológico deste projeto tornará clara esta escolha
de abordagem teórica, quando explicitará a adoção do método participativo da Análise
Ergonômica do Trabalho (WISNER, 1987; GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008), em
especial, o desenvolvimento da etapa de análise da atividade, prevista nesse método, que
coloca no centro das análises o trabalho real ou o trabalho como realmente realizado (work as
done - WAD).
Em dezembro de 2018, a World Health Organization (WHO, 2018) disponibilizou seu
relatório geral sobre a segurança do paciente, evidenciando, de fato, que o panorama global
dos cuidados de saúde está mudando e os sistemas de saúde operam em ambientes cada vez
mais complexos. Neste relatório são apresentados os novos impulsos de ação global para
melhorar a segurança do paciente, de modo que os principais encontram-se listados na Tabela
2.
Tabela 2 – Novos impulsos de ação global para melhorar a segurança do paciente
NOVOS IMPULSOS DE AÇÃO GLOBAL PARA MELHORAR A SEGURANÇA DO PACIENTE
A necessidade de uma visão mais integrada, baseada no sistema de segurança;
Conhecimento de que a necessidade de garantir a segurança do paciente abrange quase todos os sistemas de
saúde, campos de cuidados, grupos demográficos e áreas temáticas;
Incorporar nas políticas e práticas sobre a segurança do paciente as evidências e conhecimento gerado a partir
de pesquisas;
Entender que pacientes, famílias e comunidades são os co-produtores de saúde, portanto engajar pacientes,
familiares e cuidadores é a chave para a prestação de cuidados seguros;
Assegurar uma liderança eficaz e a disponibilidade de uma força de trabalho competente e compassivo é um
pré-requisito para a prestação de cuidados seguros;
A disponibilidade de informações sobre a gravidade, os tipos e as causas dos erros, dos eventos adversos e
quase-acidentes é fundamental para o desenvolvimento e implementação de políticas de segurança do
paciente, estratégias e planos;
34
A aplicação das tecnologias digitais é indispensável no século 21 para a implementação de intervenções de
segurança do paciente e monitorar e medir o seu impacto;
A incorporação dos princípios de responsabilidade e cooperação nos ambientes hospitalares.
Fonte: WHO (2018)
O Ministério da Saúde desenvolve ações visando à divulgação da segurança do
paciente, que incluem medidas de educação e propagação das boas práticas para profissionais
de saúde, pacientes e acompanhantes e, também, promoção de ações preventivas como a
implementação das seis metas da OMS, que são: identificar corretamente o paciente, melhorar
a comunicação entre os profissionais da saúde, melhorar a segurança na prescrição, no uso e
na administração de medicamentos, assegurar a cirurgia em local de intervenção,
procedimento e paciente corretos, higienizar as mãos para evitar infecções e reduzir o risco de
quedas e úlceras por pressão (WORLD ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY, 2004).
Para Macchi et al. (2011), as organizações de saúde estão entre as organizações mais
complexas, devido à evolução dos modelos de atenção, regimes de tratamento e tecnologias
disponíveis, em conjunto com pressões econômicas e temporais. Neste cenário, o
fornecimento seguro de serviços de saúde é uma responsabilidade organizacional, em que as
organizações devem criar pré-requisitos para o trabalho das equipes e profissionais
individuais na organização. Ainda para os autores um bom modelo de gestão de segurança do
paciente deve considerar todos os fatores necessários para fornecer serviços de saúde, bem
como as interações entre eles.
Diante do que foi visto, pode-se assegurar que, atualmente, um sistema de gestão de
segurança deve visar não só avaliar e eliminar os riscos, mas, também, aumentar os acertos e
ser desenvolvido levando em conta as características específicas de cada organização. Para
Costa (1998), deve haver a substituição do modelo de gestão que se baseia em um regime
autoritário, centralizado, rígido e especializado, por um novo paradigma, em que haja a
descentralização, a flexibilidade, a polivalência dos colaboradores e o processo participativo.
2.2 Ergonomia: conceitos relevantes para pesquisa
A International Ergonomics Association (IEA) define em seu site oficial a ergonomia
como “uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres
humanos e outros elementos dos sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e
métodos a projetos, a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema”
35
(em inglês: “Ergonomics (or human factors) is the scientific discipline concerned with the
understanding of interactions among humans and other elements of a system, and the
profession that applies theory, principles, data and methods to design in order to optimize
human well-being and overall system performance.” ) (IEA, 2000).
No Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) surgiu em 31 de agosto
de 1983 e define, assim, ergonomia: “é uma disciplina científica relacionada ao entendimento
das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias,
princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho
global do sistema"(ABERGO, 2018).
O campo de atuação da ciência da Ergonomia vem crescendo e se expandindo. Uma
das contribuições para isso é o fato de a Ergonomia ser a única ciência que inclui uma gama
de disciplinas científicas amplas para projetar e oferecer soluções para sistemas, processos,
máquinas e produtos (BOATCAA; CIRJALIU, 2015).
Segundo Carayon (2006), houve um aumento da complexidade do sistema de trabalho,
o que apresenta desafios únicos para as pessoas envolvidas na concepção, implementação e
manutenção de sistemas sócio técnicos (sistemas que reconhecem a interação entre
as pessoas e os sistemas técnicos nos ambiente de trabalho), incluindo os ergonomistas.
De acordo com Falzon (2007), os ergonomistas devem ter uma compreensão ampla de
todos os aspectos da atividade humana, devendo considerar os fatores físicos, cognitivos,
sociais, organizacionais, ambientais, dentre outros. Másculo e Vidal (2011) definem os
ergonomistas como profissionais responsáveis por responder às demandas acerca da atividade
de trabalho. Essas demandas, segundo os autores, podem exigir campos de interesses amplos
e variados, como áreas que envolvem anatomia, conforto, prevenção de acidentes etc.
Alguns conceitos da Ergonomia ajudarão no desenvolvimento deste projeto de
pesquisa, no que se refere ao entendimento da atividade de trabalho e sua relação com a
segurança do paciente, como é o caso dos seguintes conceitos: trabalho prescrito (VIDAL,
2002) ou trabalho como imaginado (Work As Imagined - WAI), utilizado na engenharia de
resiliência (HOLLNAGEL, 2017), trabalho real (VIDAL, 2002) ou trabalho como realizado
(work as done - WAD), também utilizado na engenharia de resiliência (HOLLNAGEL, 2017),
determinantes da atividade (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008), variabilidade (GUÉRIN et
al., 2001; VIDAL, 2008), gestão de variabilidades (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008),
contrante (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008) e regulações (VIDAL, 2008).
Segundo Vidal (2002, p. 150), o trabalho prescrito surge “da concepção teórica do
trabalho e dos meios de trabalho”, por meio de “parâmetros determinados pela empresa a
36
partir de regras, normas, e avaliações empíricas”. Vidal (2002) afirma que o trabalho prescrito
jamais corresponde ao trabalho real, devido à dinamicidade da realidade e à incapacidade de
prever-se todos os ocorridos ou imprevistos. Para o autor, o trabalho real é, portanto, o que, de
fato, o sujeito mobiliza para realizar a tarefa, ou seja, o que realmente é feito por ele. Para
Falzon (2007) tarefa é o que é prescrito pela organização, de maneira que estabeleça o
objetivo, as demandas e as condições de sua realização.
Hollnagel (2017) refere-se a trabalho como imaginado (em inglês, work as imagined-
WAI) como o que designers, gerentes, reguladores e autoridades acreditam que o trabalho
acontece ou deveria acontecer. Enquanto o trabalho como realizado (em inglês, work as done-
WAD) é como realmente ocorre e o que as pessoas realmente fazem durante o trabalho.
Para Guérin et al. (2001), as atividades de trabalho podem causar consequências
diversas para os trabalhadores, podendo ser negativas, como alterações “da saúde física,
psíquica e social”, ou positivas, como o alcance de mais conhecimentos, aumento de
experiência e qualificação. Diante disso, os determinantes da atividade de trabalho possuem
diferentes resultados, sendo afetados por vários componentes diferentes, mostrados na Figura
3.
Figura 3 – Determinantes da atividade de trabalho
Fonte: Guérin et al. (2001)
37
O autor distingue os determinantes da atividade entre fatores internos (próprio de cada
trabalhador), por exemplo, as características pessoais, experiência, formação adquirida e
estado momentâneo, representados na coluna “O operador”, da Figura 3, e fatores externos
(situação na qual se exerce a atividade), representados na coluna “A empresa”, da Figura 3.
As variabilidades provêm da inconstância das pessoas e dos componentes das
situações de trabalho, ao longo do tempo. Por isso, os ergonomistas devem identificar as
variabilidades dos trabalhadores e adaptar os sistemas de acordo com as mesmas
(DANIELLOU, 2004).
Para Vidal (2002), as variabilidades podem ser divididas em duas grandes categorias:
a variabilidade normal e a variabilidade incidental. A variabilidade normal é aquela já
esperada, podendo assim ser, muitas vezes, previsível e até, parcialmente, controlada, por
exemplo, variações no mix de produtos ou variações sazonais. A variabilidade incidental, por
sua vez, é aquela decorrente de imprevistos de ordens diversas, por exemplo, a quebra de um
equipamento (VIDAL, 2002).
As variabilidades podem ainda ter origem técnica, humana ou organizacional:
• Técnicas: estão ligadas ao processo em si, por exemplo, variabilidades advindas dos
equipamentos ou da matéria prima (VIDAL, 2008). Por exemplo, nesta pesquisa, a
variabilidade pode expressar-se pela diferença existente entre as macas, entre as cadeiras de
roda, os diversos modelos, entre os diferentes tipos de dispositivos invasivos nos pacientes
(soro, entubação etc.), a existência ou não de dispositivos de regulação, de defeitos que
surgem nesses equipamentos etc.;
• Humanas: surgem das características dos indivíduos que realizam a atividade, podendo
ser interindividual (considera que cada pessoa tem sua própria característica, se homem ou
mulher, mais ou menos jovem, baixo ou alto; os indivíduos apresentam estratégias, posturas,
raciocínios, esforços e fadigas diferentes entre si etc.) (GUÉRIN et al., 2001, p. 50-51) e
intraindividual (considera que, além da diversidade entre as pessoas, há variações do estado
de cada indivíduo em diferentes escalas, por exemplo em escala diária decorrentes da fadiga
por acontecimentos ocorridos no dia ou em uma escala maior como o efeito do
envelhecimento, ao longo dos anos) (GUÉRIN et al., 2001, p. 51). A variabilidade
interindividual, para efeito desta pesquisa, ocorre pela diferença das características entre os
próprios maqueiros e entre os pacientes (quadro clínico, gordo-magro, nível de autonomia
etc.). E a variabilidade intraindividual ocorre, por exemplo, pela ocorrência de um mal súbito
no paciente durante o transporte;
38
• Organizacional: originam-se de normas, procedimentos, tarefas e da própria
organização do trabalho, a exemplo as escalas de trabalho, folgas, intervalos, rotatividade etc.
(VIDAL, 2008).
Os contrantes ou constrangimentos (GUÉRIN et al., 2001) e as contingências
(VIDAL, 2002) também estão presentes nas atividades humanas e são definidos como toda
influência impostas ao homem pelo ambiente em que ele se encontra (DE MONTMOLLIN,
1995).
Contrante é um termo de origem latina “constringere”, que denota compressão,
aperto, apertado, restrição, cerceamento (GUÉRIN et al., 2001), ou seja, são as dificuldades
encontradas pelos trabalhadores para realizar sua tarefa da melhor maneira para si. Para Vidal
(2002), os contrantes podem ser temporais, posturais e ambientais.
Para Guérin et al. (2001), os constrangimentos ou contrantes podem ser classificados
em temporais e físicos. Os contrantes físicos estão ligados aos espaços, acessibilidade,
ambiente térmico, iluminação, ruídos, vibrações, tóxicos etc. Os contrantes temporais, por sua
vez, relacionam-se com a pressão do tempo, horários, cadências. Os contrantes temporais
ocorrem devido ao fato de que “o tempo é um dos elementos essenciais que intervém na
determinação dos modos operatórios” e “em certas situações a gestão dos constrangimentos
temporais realizada pelo operador estão ligadas a gestão dos constrangimentos referentes ao
espaço” (GUÉRIN et al., 2001, p. 50).
Vidal (2008, p. 120) define contingência como o “conjunto de circunstâncias
particulares a que um sistema esteja submetido em face de um grupo de eventos especiais e
articulados”. É válido ressaltar, que, muitas vezes, as contingências são confundidas com as
variabilidades, mas há diferenças entre elas, que nem sempre são fáceis de serem esclarecidas.
Vidal (2002) cita um exemplo de contingência que mostra a lentidão dos operários, ao
operar um guindaste com capacidade de velocidade superior à usada. Isso ocorria devido à
deficiência no tecido urbano e de cortes, imprevisíveis, de energia elétrica que poderiam criar
uma inércia capaz de tombar o pórtico, sendo mantida, por prudência, a velocidade lenta.
Assim, se o problema da baixa produtividade for analisado em um âmbito menor (de
variabilidades técnica e/ou humana), seria aparentemente solucionável, no entanto, ao se
considerar o âmbito maior (de contingência), o problema torna-se insolúvel. Na maternidade,
a falta de energia no horário noturno no momento que o maqueiro está transportando o
paciente no corredor ou no elevador, pode gerar um advento adverso, principalmente, se
tratar-se de um transporte de urgência, pois isto pode significar uma demora maior do que o
tempo esperado para o paciente chegar ao seu destino previsto.
39
Para atender os objetivos e metas traçados pela empresa, com a cadência imposta pela
produção e com os meios disponibilizados, o trabalhador precisa usar de seus conhecimentos
e de suas condições físicas e mentais, tendo que fazer regulações nesse processo (VIDAL,
2002). Vidal (2002, p. 151) define regulação como o ato de realizar “ajustes de
comportamento e de procedimentos”, resultando em um modo operatório, estando presente
nos três tipos de sistemas que tratam a ergonomia (sistemas físicos, cognitivos e
organizacionais (VIDAL, 2008).
As regulações no sistema físico são complexas e têm em vista garantir a manutenção
da capacidade física do operador e também do dispositivo que está sendo operado, no sistema
cognitivo elas dividem-se em rastreamento sistemático (formal) ou oportunista (estrutural),
em antecipações e em correções individuais ou compartilhadas (cooperação), as regulações
nos sistemas organizacionais objetivam definir as regras cabíveis para determinação das
influências do contexto real sobre a atividade (VIDAL, 2008).
De acordo com a International Ergonomics Association (IEA) (em português,
Associação Internacional de Ergonomia) (IEA, 2000) e a Associação Brasileira de Ergonomia
(ABERGO) (ABERGO, 2018), os ergonomistas, em geral, podem trabalhar em três domínios
de especialização: ergonomia cognitiva, ergonomia organizacional e ergonomia física. O
presente trabalho abrangerá os três domínios citados.
Segundo a IEA (2000), a ergonomia cognitiva refere-se “aos processos mentais, tais
como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre
seres humanos e outros elementos de um sistema”. Os aspectos das situações de trabalho,
relacionados à ergonomia cognitiva, expressar-se-ão, neste trabalho, devido ao fato de tratar
dos processos mentais, incluindo a percepção e os processos de tomadas de decisão, com
relação às interações entre as pessoas e os demais elementos do sistema (FALZON, 2007),
que no presente trabalho encontra-se na interação dos maqueiros com os próprios pacientes e
com os equipamentos utilizados para movimentação e transferência deles, como macas,
cadeiras de rodas e elevadores, visando compreender as estratégias utilizadas na atividade,
durante a normalidade (antecipações) e diante de contrantes, variabilidades, incidentes e
acidentes, que resultam em regulações/ações.
O estudo da ergonomia organizacional também é de grande importância, uma vez que,
como já comentado anteriormente, as principais causas das ocorrências dos eventos adversos
estão relacionadas com as deficiências na concepção, organização e operação do sistema de
trabalho (WORLD ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY, 2004).
40
De acordo com Iida e Guimarães (2016), a ergonomia organizacional busca a
otimização de sistemas sociotécnicos, envolvendo as estruturas organizacionais, políticas e
processos. Para Falzon (2007), a ergonomia organizacional inclui a comunicação, a
concepção do trabalho, o trabalho em equipe, a cultura organizacional, dentre outros
elementos. A Abergo (2018) cita que a ergonomia organizacional está ligada à otimização dos
sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos.
O domínio da ergonomia física expressa-se também, neste trabalho, devido à provável
relação existente entre os fatores biomecânicos, impostos pelos modos operatórios, a que
estão submetidos os maqueiros, e a segurança do paciente. Para Abergo (2018), a ergonomia
física relaciona-se com às características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e
biomecânica em sua relação à atividade física. Segundo Falzon (2007), a ergonomia física
inclui as posturas de trabalho, manuseio de materiais, arranjo físico do posto de trabalho, a
segurança, a saúde, movimentos repetitivos e distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao
trabalho.
Como foi evidenciado, o escopo da ergonomia é amplo, assim, ao longo do tempo, os
ergonomistas desenvolveram modalidades para desempenhar suas funções. Vidal (2002)
classifica a ergonomia quanto ao tipo de problema prioritário (objeto), quanto à forma de
buscar soluções (perspectivas), e quanto a sua ação ergonômica (finalidade), de acordo com o
que mostra o Quadro 2.
Quadro 2 – Classificações da ergonomia
Ergonomia
Quanto ao objeto Ergonomia de Produto
Ergonomia de Produção
Quanto à perspectiva Ergonomia de Intervenção
Ergonomia de Concepção
Quanto à finalidade
Ergonomia de Correção
Ergonomia de Enquadramento
Ergonomia de Remanejamento
Ergonomia de Modernização
Fonte: Vidal (2002)
A ergonomia de produto é aquela que inclui recomendações ergonômicas no projeto
de artefatos diversos, enquanto a ergonomia de produção volta-se para compreensão das
41
condições reais da atividade de produção. Quanto à perspectiva, a ergonomia de intervenção é
a resposta a uma demanda ergonômica, e a ergonomia de concepção é a produção com base
na ergonomia de novos itens (processo, produtos etc.). Quanto à finalidade, a ergonomia de
correção ocorre quando a demanda é de corrigir um erro de projeto, por exemplo. A
ergonomia de enquadramento visa ao atendimento a uma norma e/ou lei. A ergonomia de
remanejamento ocorre, quando há alguma necessidade de mudança, que pode ser facilmente
resolvida e deve ser aproveitada para corrigir erros passados. A ergonomia de modernização,
por sua vez, diz respeito a mudanças mais amplas e extensas, com mais abrangência e
profundidade (VIDAL, 2002, p. 68), a exemplo da antropotecnologia, citada por Wisner
(2004).
Diante disso, a presente pesquisa envolverá a ergonomia de produção, pois analisará as
condições da atividade dos maqueiros; ergonomia de intervenção, pois foi feita a análise de
uma atividade já existente; ergonomia de enquadramento, pois foram consideradas todas as
normas e leis vigentes para a atividade e correção, pois visa analisar e melhorar a atividade
dos maqueiros.
Assim, a natureza dos sistemas de trabalho e as interações internas exigem uma
abordagem multidisciplinar dos sistemas para gerar melhorias na segurança (NAGAMACHI e
IMADA, 1992). A partir disso, é válido ressaltar, também, o conceito de ergonomia
participativa e sua importância no presente trabalho.
2.2.1 Ergonomia Participativa
A macroergonomia é um campo de estudo que permite avaliar a estrutura
organizacional de forma holística e participativa, lidando com as análises e projetos do
sistema de trabalho (HENDRICK e KLEINER, 2006), que incluem as variáveis ambientais,
tecnológicas e interpessoais que interferem nas interações sistêmicas entre os indivíduos e
seus dispositivos de trabalho, revelando assim oportunidades de melhoria que transcendem os
aspectos ergonômicos, partindo de uma visão integrada da organização, passando pelo
processo até chegar ao posto de trabalho.
Hendrick (1994), ao tratar da evolução ou abordagem da ergonomia, afirma que a
ergonomia está se movendo em direção a uma abordagem de sistemas, ou seja, a própria
macroergonomia, que “trata da tecnologia de interface humano-organização” (HENDRICK e
KLEINER, 2006, p. 17). Assim, a ergonomia participativa consiste, fundamentalmente, numa
42
técnica utilizada pela macroergonomia, em que se reconhece todo o grupo ou a equipe como
unidade de trabalho (HENDRICK e KLEINER, 2006).
Segundo Kuorinka (1997), algumas tendências da indústria, como o “design para
manufatura” influenciaram o surgimento da ergonomia participativa, além de mudarem “o
papel de ergonomista de especialista para agente de mudança, que, por sua vez, influencia a
prática da ergonomia participativa”. Assim, o autor define a ergonomia participativa como
uma abordagem resultante de várias tendências, como a participação na sociedade, a
organização da produção de acordo com os princípios sociotécnicos e o desenvolvimento da
ergonomia de “micro” a “macro” (KUORINKA, 1997).
Numa pesquisa realizada por Gadbois et al. (1992) foi adotado o método da ergonomia
participativa, que contou com a participação 180 profissionais de 60 hospitais franceses. Os
pesquisadores concluíram que seria possível desenvolver uma abordagem estruturada,
ergonômica, ou ainda ter atitudes altamente descentralizadas, nos diversos departamentos
hospitalares, usando a ergonomia participativa.
O presente trabalho adotará como método a ergonomia participativa, uma vez que
analisará a atividade dos maqueiros, com a observação in loco de suas tarefas e atividades,
realizará entrevistas e aplicará questionários com os mesmos, bem como irá conhecer a
percepção dos gestores, pacientes e acompanhantes a respeito do processo de movimentação e
transferência de pacientes, visando identificar os determinantes dessa atividade laboral que
impactam na segurança dos pacientes, considerando a segurança do paciente como um
resultado de um sistema de trabalho cooperativo.
2.3 LER/DORT
Para se responder ao segundo problema da pesquisa (até que ponto as exigências
físicas da atividade dos maqueiros impactam na segurança do paciente e na própria saúde dos
maqueiros, e como se dá esta relação entre a saúde dos maqueiros e a segurança do paciente?)
é importante compreender as Lesões por Esforços Repetitivo / Doenças Osteomusculares
Relacionadas ao Trabalho.
A Agency for Healthcare Research and Quality (2003) cita que as relações entre a
segurança do paciente e a saúde do trabalhador da área de saúde pode influenciar os
resultados em saúde, gerando eventos adversos, devido, por exemplo, a forma de organização
do trabalho, com fluxos de trabalhos deficientes que causam staff dos trabalhadores. Para
Souza e Mendes (2014), há uma interdependência entre a saúde do trabalhador, a ergonomia e
43
a segurança do paciente, de tal maneira que a maioria das intervenções para a prevenção de
eventos adversos devem envolver esses temas e considerar a perspectiva sistémica do
contexto.
A dor relacionada ao trabalho esteve presente desde a antiguidade, no entanto,
segundo o Ministério da Saúde (2012), com o advento da globalização e da revolução
industrial, houve um maior desequilíbrio entre as exigências das tarefas realizadas no trabalho
e as capacidades funcionais individuais, tornando essas dores mais numerosas.
No tocante a distúrbios ou doenças relacionadas ao trabalho, a Organização Mundial
de Saúde (OMS) os classifica em dois tipos: doença profissional, como sendo aquela inerente
às atividades laborais, e doença do trabalho (ou relacionada ao trabalho), que é aquela em que
não se identifica apenas um fator causal (BRASIL, 2012).
As lesões por esforços repetitivos (LERs) e distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho (DORTs) são as expressões mais utilizadas para problemas no sistema
musculoesquelético, no Brasil. Tais denominações são adotadas, oficialmente, pelo Ministério
da Saúde (MS) e pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). No entanto, o
MS, em seu Protocolo de Complexidade Diferenciada, considera alguns sinônimos, como:
Síndrome Cervicobraquial Ocupacional, Afecções Musculoesqueléticas Relacionadas ao
Trabalho (AMERT) e Lesões por Traumas Cumulativos (LTC) (BRASIL, 2012).
Entretanto, segundo Colombini, Occhipinti e Fanti (2008) fatores não ocupacionais,
como idade, sexo, condição psicológica, estrutura antropométrica, estado hormonal,
patologias crônicas, traumas e fraturas, também, podem relacionar-se com o surgimento da
LER/DORT. Assim, por essa relação existente entre os fatores de risco, orienta-se que sua
análise envolva, não só aspectos de organização do trabalho, mas, também, deve-se incluir
aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos (BRASIL, 2012).
Para Oliveira (2014), as LER/DORTs constituem distúrbios de extrema importância
em vários países, tendo, em alguns, dimensões epidêmicas em diversas categorias
profissionais, podendo manifestar-se sob distintas formas clínicas, sendo complicado o seu
controle, tanto por parte das equipes de saúde, como também das instituições previdenciárias.
Segundo a cartilha da Comissão de Reumatologia Ocupacional (SBR, 2011) do Brasil,
pode-se adquirir um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho, quando não se segue
pelo menos um dos seguintes fatores organizacionais no ambiente de trabalho:
- Treinamento e condicionamento (técnicas para execução de tarefas);
- Local de trabalho adequado (piso, superfície, barulho, umidade, ventilação,
temperatura, iluminação, distanciamentos percorridos, angulação etc.);
44
- Ferramentas, utensílios, acessórios e mobiliários adequados;
- Duração das jornadas de trabalho corretas;
- Intervalos apropriados;
- Posturas adequadas;
- Respeito aos limites biomecânicos (força, repetitividade), manutenção de posturas
específicas por períodos prolongados.
Dessa forma, quando se tem um ambiente de trabalho organizado de maneira
adequada, o risco de um indivíduo desencadear um distúrbio musculoesquelético torna-se
mais baixo.
Kuorinka e Forcier (1995) referem-se aos seguintes fatores de risco, conforme ilustra a
Tabela 3, como sendo os responsáveis pelo aparecimento de LER/DORT:
Tabela 3 – Fatores de risco para LER/DORT
O grau de adequação do posto de trabalho a zona de atenção e a visão
A presença de vibrações
Frio
Posturas inadequadas
A invariabilidade da tarefa
As exigências cognitivas do trabalho
Fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho
A carga estática
As lesões mecânicas, decorrente de tensão, pressão, fricção e irritação
A influência da força, da repetitividade, da duração da carga etc.
Fonte: Kuorinka e Forcier (1995)
Em geral, muitas situações de trabalho apresentam condições desfavoráveis, o que
contribui para o aparecimento das LER/DORTs. Assim, para se identificar quais fatores de
risco estão presentes na atividade, indica-se a realização de uma análise ergonômica,
considerando os pontos críticos do trabalho, com o estudo da atividade real dos trabalhadores,
possibilitando a identificação de riscos, bem como as suas características moduladoras
(intensidade, duração, frequência), detectando o desequilíbrio entre a força de trabalho e o
executor, pois relacionar o surgimento desses distúrbios apenas ao ambiente de trabalho é
desconsiderar a realidade do trabalho, uma vez que não leva em conta a dinâmica das relações
45
de trabalho, a atividade desenvolvida, a duração, o tempo de pausa, a produtividade exigida
etc. (BRASIL, 2001).
46
3 PESQUISAS RELACIONADAS AO TEMA
Este capítulo tem o intuito de apresentar a revisão bibliográfica que foi realizada, em
que se buscou, nas bases de dados Periódicos Capes e PubMed, identificar o que há de
estudos e pesquisas relativos ao tema desta pesquisa, publicados em artigos científicos,
dissertações de mestrado e teses de doutorado. Com isso, primeiramente, foi feita uma
quantificação ou bibliométrica referente à bibliografia obtida e, depois, foram descritas, de
forma sucinta, o conteúdo dos estudos e pesquisas da bibliografia consultada e selecionada.
Esta revisão bibliográfica sistematizada permite se conhecer o que há de estudos sobre o tema
em foco, bem como colaborar com a discussão dos resultados com a presente pesquisa.
3.1 Quantificação das publicações de pesquisas científicas e estudos relevantes para
pesquisa
Inicialmente, realizou-se uma quantificação da bibliografia consultada nas bases de
dados Periódicos Capes e PubMed, com o intuito de organizar as publicações com potencial
de colaboração para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa. Sampaio e Mancini (2007)
afirmam que esse tipo de trabalho tem como finalidade orientar o desenvolvimento de
pesquisas, apontando novos caminhos para investigações futuras, além de mostrar quais os
métodos de pesquisa mais indicados para o estudo.
A pesquisa bibliográfica sistemática da literatura científica e a respectiva quantificação
consistiu na busca de artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que abordassem
estudos ou pesquisas no domínio da ergonomia e da segurança do paciente relacionados à
atividade de transporte e transferência de pacientes pelos maqueiros em unidades de saúde,
como maternidades e hospitais.
Para a definição da pesquisa sistemática, utilizaram-se 3 (três) arranjos de palavras-
chave: ergonomia, segurança do paciente, transporte de paciente, a serem localizadas no
resumo dos artigos. Tais palavras foram, também, traduzidas para o inglês, devido ao fato de
que a maior parte das plataformas científicas ser de língua inglesa. Diante disso, a busca foi
feita em duas fases, com quatro etapas cada, de acordo com o Quadro 3 e Quadro 4, a seguir.
47
Quadro 3 – Etapas para realização da busca dos documentos em inglês
E
t
a
p
a
s
Palavra-chave em inglês
Operador
Lógico
Utilizado
Quantidade encontrada
Período de
realização
da Pesquisa
1 1 "ergonomics"
AND Periódicos Capes: 452
PubMed: 360
09/06/2018
à
20/05/2019 2 "patient safety"
2 1 "ergonomics"
AND Periódicos Capes: 19
PubMed: 18
09/06/2018
à
20/05/2019 2 "patient transport"
3 1 "patient transport"
AND Periódicos Capes: 25
PubMed: 21
09/06/2018
à
20/05/2019 2 "patient safety"
4
1 "ergonomics"
AND Periódicos Capes: 0
PubMed: 0
09/06/2018
à
20/05/2019
2 "patient safety"
3 "patient transport"
A partir do Quadro 3, observa-se a utilização do operador lógico “AND”, utilizado
entre as respectivas palavras-chave com valor de inclusão, delimitando a busca apenas por
artigos que apresentam ambas as palavras no decorrer do trabalho. A busca deu-se também
com palavras-chave em português, tais como: ergonomia, segurança do paciente, transporte
de pacientes, como mostra o Quadro 4, a seguir.
Quadro 4 – Etapas para realização da busca dos documentos em português
E
t
a
p
a
s
Palavra-chave em português
Operador
Lógico
Utilizado
Quantidade
encontrada
Período de
realização
da Pesquisa
1 1 "ergonomia"
E Periódicos Capes: 6
PubMed: 0
09/06/2018
à
20/05/2019 2 "segurança do paciente"
2 1 "ergonomia"
E Periódicos Capes: 17
PubMed: 0
09/06/2018
à
20/05/2019 2 "transporte de pacientes"
3 1 "transporte de pacientes "
E Periódicos Capes: 25
PubMed: 0
09/06/2018
à
20/05/2019 2 "segurança do paciente"
4
1 "ergonomia"
E Periódicos Capes: 1
PubMed: 0
09/06/2018
à
20/05/2019
2 "transporte de pacientes "
3 "segurança do paciente"
48
Após finalizar a coleta de publicações científicas, através da pesquisa sistemática,
criou-se um banco de dados em uma planilha eletrônicas do software MicroSoft Excel®. A
criação desse banco de dados, por sua vez, teve a intenção de facilitar a triagem dos
documentos buscados anteriormente, de maneira a eleger os que podem contribuir
significativamente para o trabalho. Como critérios de exclusão de artigos que não viessem a
contribuir para o trabalho, utilizaram-se os seguintes:
• Publicações científicas que não fossem artigos publicados em periódicos científicos;
• Artigos repetidos;
• Artigos escritos em idiomas que não fossem o português, inglês, ou espanhol, tendo
em vista que a autora possui conhecimento nesses idiomas;
• Artigos indisponíveis para leitura, ou seja, artigos a que não se tinham acesso; Artigos
científicos oriundos de periódicos que não possuíam o processo peer review, ou seja,
publicações que não tinham sido analisados pelo processo de revisão por pares, o que
assegura a qualidade do artigo, no caso da plataforma do Periódico Capes.
Após a aplicação dos critérios de exclusão, encontrou-se a necessidade de aplicar um
método para selecionar, dentre os artigos selecionados, aqueles que apresentassem conteúdo
embasado nas palavras-chave utilizadas, uma vez que a busca das palavras-chaves deu-se em
todo o corpo do texto e não apenas no título, o que aumentou a chance de possuírem artigos
que não estabeleciam ligação lógica com o tema estudado. No entanto, realizou-se a leitura
dos resumos de todas as publicações, para realizar essa triagem e, assim então, haver a leitura
completa dos selecionados.
Considerou-se importante especificar as datas de início e término da busca de
documentos devido à dinamicidade dos dados contidos nas bases, ou seja, a quantidade de
publicações científicas de um portal pode ser alterada constantemente à medida que surgem
novos estudos.
É válido ressaltar que outras referências foram acrescentadas, provenientes de fontes
do professor orientador da pesquisa. Assim, julgou-se relevante e necessário acrescentá-las.
O Quadro 5, a seguir, apresenta as principais referências bibliográficas obtidas e
exploradas para fins de elaboração deste capítulo.
49
Quadro 5 – Principais referências selecionadas para apoio da presente pesquisa
N° REFERÊNCIA
COMPLETA
OBJETIVOS
METODOLOGIA
ANO LOCAL
1
OLIVEIRA, J. M. C.
Aspectos ergonômicos
e sintomas
osteomusculares em
um setor de
transporte de
pacientes -
maqueiros.
Monografia de
especialização em
engenharia e segurança
do trabalho. Curitiba,
2014.
Caracterizar os sintomas
osteomusculares e as
atividades que exigem maior
esforço para o sistema
musculoesquelético em
maqueiros que atuam no
transporte de pacientes.
Escala de Avaliação
do Risco na
Movimentação e
Transferência e
questionário
Nórdico adaptado.
2014 Curitiba/Brasil
2
ALMEIDA, R. A. R.;
ABREU, C. C. F.;
MENDES, A. M. O. C.
Quedas em doentes
hospitalizados:
contributos para uma
prática baseada na
prevenção. Revista de
Enfermagem
Referência, v.3, n.2,
p.163-172, 2010.
Contribuir para uma maior
compreensão do fenómeno
da queda, sensibilizando os
enfermeiros para o seu
estudo e incorporação nas
práticas de cuidados
(prevenção).
Revisão de literatura 2010 Coimbra/Portugal
3
HAINS, I.; MARKS,
A.; GEORGIOU, A.;
WESTBROOK, J.
I.Non-emergency
patient transport: what
are the quality and
safety issues? A
systematic review.
International Journal
for Quality in Health
Care. USA, v. 23, n. 1,
p. 68–75, 2011.
Examinar os fatores
associados à qualidade e
segurança dos serviços de
transporte não-emergenciais.
Revisão de literatura 2011 Australia
4
MARKUS A.
FEUFEL,
KATHERINE D.
LIPPA, & HELEN A.
KLEIN. Calling 911:
Emergency Medical
Services in Need of
Human Factors.
Ergonomics in design.
Spring, 2009.
Destacar as principais áreas
onde as intervenções HF / E
pode ajudar a melhorar a
qualidade dos sistemas de
EMS e tornar a vida dos
paramédicos e seus
pacientes mais seguro e
fácil.
Observacional 2009 Estados Unidos
50
5
COSTA, A. L.;
FLAUSINO, T. C.
Prevalência dos
distúrbios
osteomusculares
relacionados ao
trabalho (DORTs) em
maqueiros de um
centro de reabilitação
na cidade de Goiânia-
GO. Revista
eletrônica saúde e
ciência, v. 5, n.1, p.22-
35, 2015.
Identificar a presença dos
DORTs, segundo o
Questionário Nórdico para
Distúrbios Osteomusculares,
dos maqueiros do CRER e
correlacionar quanto ao
perfil sociodemográfico
Pesquisa de campo;
aplicação de
Questionário
Nórdico
2015 Goiânia/Brasil
6
DONNA, U. B. et al.
Incidents relating to
the intra-hospital
transfer of critically ill
patients. Intensive
Care Medicine, n.30,
p.1579-1585, 2004.
Identificar as causas, os
resultados e fatores
contribuintes associados ao
transporte intra-hospitalar.
Revisão transversal
do caso, por
relatórios de
incidentes
submetidos ao
estudo de
monitoramento
Australian Incident
em Cuidados
Intensivos (AIMS-
UTI).
2004 Australia
7
WANG, H.;
KASAGAMI, F. A
Patient Transfer
Apparatus Between
Bed and Stretcher.
IEEE transactions on
systems, man, and
cybernetics - part b:
cybernetics, v. 38, n.
1, 2008.
Apresentar um aparelho de
transporte de doentes entre
cama e maca.
Observacional 2008 Japão
8
MUELLER, J. A.;
STANLEY, L. M.
Emergency Medical
Services: A
Naturalistic Posture
Evaluation While
Providing Patient Care
during Patient
Transport.
Proceedings of the
human factors and
ergonomics society
57th annual meeting,
p. 1546- 1550, 2013.
analisar os profissionais
médicos que administram a
assistência ao paciente
durante o transporte do
paciente para destacar
previamente questões
negligenciadas de segurança
em uma ambulância.
Observacional,
fazendo vídeos por
3 meses
2013 Bozeman,
Montana
9
GALLASCH, C. H.;
ALEXANDRE, N. M.
C. Avaliação dos riscos
ergonômicos durante a
movimentação e
transporte de pacientes
em diferentes unidades
hospitalares. Revista
de Enfermagem, Rio
de janeiro: UERJ, v.
11, p. 252-260, 2003.
Mapear os riscos
ergonômicos durante os
referidos procedimentos em
unidades de internação,
clínicas e cirúrgicas de um
hospital universitário
Observacional,
análise de
prontuários e escala
de avaliação do
risco na
movimentação e
transferência
2003 São Paulo/Brasil
51
10
TULLAR, J. M.;
BREWER, S.;
AMICK, B. C.;
IRVIN, E. MAHOOD,
Q.; POMPEIA, L. A.;
WANG, A.; EERD, D.
V.; GIMENO, D.;
EVANOFF, B.
Occupational Safety
and Health
Interventions to
Reduce
Musculoskeletal
Symptoms in the
Health Care Sector.
Journal Occupation
Rehabilitation.
Estados Unidos:
Springer Science, v.
20, p.199–219, 2015.
Verificar se as intervenções
de segurança e saúde no
trabalho em ambientes de
cuidados de saúde têm um
efeito sobre o estado de
saúde musculoesquelética
Revisão de literatura 2010 Mundial
11
NELSON, A.;
COLLINS, J.;
SIDDTHARTHAN,
K.; MATZ, M.;
WATERS, T. Link
Between Safe Patient
Handling and Patient
Outcomes in Long-
Term Care.
Rehabilitation
Nursing. John Wiley
& Sons, v. 33, n. 1, p.
33 – 43, 2008.
Examinar a relação entre
manipulação segura dos
pacientes e medidas de
qualidade de cuidados
Observacional e
modelo de regressão
linear
2008 Estados Unidos
12
NELSON, A.; MATZ,
M.; CHEN, F.;
SIDDTHARTHAN,
K.; LLOYD, J.;
FRAGALA, G.
Development and
evaluation of a
multifaceted
ergonomics program to
prevent injuries
associated with patient
handling tasks.
International Journal of
Nursing Studies.
Revista Elsevier, v.
43, p. 717-733, 2006.
Criar ambientes de trabalho
mais seguros para pessoal de
enfermagem que prestam
assistência direta ao
paciente, projetar e
implementar um programa
multifacetado que a prática,
tecnologia e melhoria da
segurança é baseada em
evidência e avaliar o
impacto do programa na
taxa de lesões, dias de
trabalho perdidos e
modificados, satisfação no
trabalho, atos inseguros de
manipulação do paciente
auto-relato, o nível de apoio
ao programa, funcionários e
aceitação do paciente, a
eficácia do programa, custos
e retorno sobre o
investimento.
Um desenho pré-
pós, sem um grupo
de controlo foi
utilizado para
avaliar a eficácia de
um programa de
atendimento ao
paciente em 23
unidades de alto
risco
2006 Estados Unidos
13
NELSON, A.;
BAPTISTE, A.
Evidence-based
practices for safe
patient handling and
Resumir as evidências atuais
de intervenções destinadas a
reduzir as lesões do cuidador
Revisão de literatura 2004 Estados Unidos
52
movement. Online
Journal of Issues in
Nursing, v.9, n. 3, p.
1-26, 2004.
14
RETSAS, A.;
PINIKAHANA, J.
Manual handling
activities and injuries
among nurses: an
Australian hospital
study. Journal of
Advanced Nursing, v.
31, n. 4, p. 875-883,
2000.
Identificar padrões de
atividades de manipulação
manual e suas lesões e
conseqüências associadas
entre enfermeiros que
trabalham em um grande
centro médico de referência
e ensino em Melbourne,
Austrália.
Um questionário
com 140 itens de
autorrelato
2000 Austrália
15
RADOVANOVIC, C.
A. T.; ALEXANDRE,
N. M. C.
Desenvolvimento de
um instrumento para
avaliar a
movimentação e
transferência de
pacientes: um enfoque
ergonômico. São
Paulo: Revista da
Escola de
Enfermagem da USP,
v. 36 n. 3, p. 231-239,
2002.
Descrever o
desenvolvimento de um
instrumento para avaliar os
riscos ergonômicos durante
os procedimentos de
movimentação e
transferência de clientes.
desenvolver o check
list como referencial
teórico a ergonomia,
o que abrange a
interação entre os
equipamentos, as
atividades, o
ambiente e o próprio
trabalhador.
2002 São Paulo/Brasil
16
GARG, A.; OWEN,
B.; BELLER, D.;
BANAAG, J. A
biomechanical and
ergonomic evaluation
of patient transferring
tasks: bed to
wheelchair and
wheelchair to bed.
Ergonomics. Queen's
University Libraries,
Kingston, v. 34, n. 3, p.
289- 312, 1991.
Reduzir o estresse nas costas
do pessoal de enfermagem
enquanto realizavam tarefas
de manuseio de pacientes
entre a cama e a cadeira de
rodas e vice e versa.
estudo em
laboratório
1991 Estados Unidos
17
KEIR, P. J.;
MACDONELL, C. W.
Muscle activity during
patient transfers: a
preliminary study on
the influence of lift
assists and experience.,
Ergonomics.v.47, n.
3., p. 296–306, 2004.
Examinar os padrões de
atividade muscular durante o
manuseio do paciente
durante as transferências
manuais e as transferências
usando os elevadores de piso
e teto.
estudo em
laboratório
2004 Canada
53
18
MARRAS, W. S.;
DAVIS,K. G.;
KIRKING, B. C.;
BERTSCHE, P. K. A
comprehensive
analysis of low-back
disorder risk and spinal
loading during the
transferring and
repositioning of
patients using different
techniques.
Ergonomics. v. 42, n.
7, p. 904 – 926, 1999.
Avaliar o risco de lesões
lombares em manipuladores
de pacientes realizando
diferentes tarefas de
manipulação.
modelo de risco de
transtorno de
lombalgia e modelo
de carregamento
espinhal
biomecânico
1999 Estados Unidos
19
MARRAS, W. S;
KNAPIK, G. G.;
FERGUSON, S.
Lumbar spine forces
during manoeuvring of
ceilingbased and floor-
based patient transfer
devices. Ergonomics.
Taylor & Francis
online, v. 52, n. 3, p.
384–397, 2009.
Analisar as forças da coluna
dorsal impostas à coluna
lombar quando 10
indivíduos manipularam
elevadores de pacientes
baseados no teto e no chão
através de várias condições e
manobras de manuseio do
paciente.
estudo de campo 2009 Estados Unidos
20
SOUSA, C. M. DE;
BEZERRA, A. L. Q.;
BARRETO, R. A. S.
S.; PALOS, M. A. P.;
TOBIAS, G. C.;
PARANAGUÁ, T. T.
B. Perspectiva dos
condutores/maqueiros
diante dos incidentes
ocorridos no transporte
de pacientes. Revista
enfermagem UFPE
online, v. 12, n. 2, p.
475 – 480, 2018.
Analisar os incidentes
ocorridos durante o
transporte intra-hospitalar
dos pacientes na perspectiva
dos condutores/maqueiros.
Estudo quantitativo,
exploratório,
descritivo, realizado
com 10 maqueiros
de um hospital
universitário.
2018 Recife/Brasil
21
RODRIGUES, C. M.
A. Sintomas
osteomusculares
relacionados ao
trabalho de
enfermagem em uma
unidade de terapia
intensiva: uma
abordagem sobre
ler/dort. Dissertação
de Mestrado em
Enfermagem da
Universidade Federal
do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO).
UNIRIO: Rio de
Janeiro, 2016.
Identificar sintomas
musculoesqueléticos em
trabalhadores de
enfermagem que atuam em
uma Unidade de Terapia
Intensiva de um hospital
Federal do Estado do Rio de
Janeiro e discutir os
sintomas
musculoesqueléticos e seus
aspectos ergonômicos com
ênfase na saúde do
trabalhador
Questionário
composto por
informações
relativas às
variáveis
sociodemográficas,
laborais, sintomas
osteomusculares e
de um censo de
ergonomia
modificado
2016 Rio de
Janeito/Brasil
54
22
MERLO, A. R. C.;
VAZ, M. A.; SPODE,
C. B.; ELBERN, J. L.
G.; KARKOW, A. R.
M.; VIEIRA, P. R. B.
O trabalho entre
prazer, sofrimento e
adoecimento: a
realidade dos
portadores de lesões
por esforços
repetitivos. Psicologia
& Sociedade. v.15,
n.1, p. 117-136, 2003.
Determinar as relações das
Lesões por Esforços
Repetitivos/Distúrbios
Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho
(LER/DORT) com o
processo produtivo e suas
conseqüências sobre a saúde
física e mental dos
trabalhadores estudados.
Anamnese
Ocupacional
e de Entrevistas
individuais com
roteiro semi-
estruturado.
2003 Rio Grande do
Sul/Brasil
A partir das leituras e análises das bibliografias referenciadas (ou literaturas
científicas/técnico-científicas) no Quadro 5, pode-se evidenciar os objetivos, a metodologia e
o local de cada um dos trabalhos levantados. A seguir tem-se os resultados das principais
bibliografias.
Para Almeida, Abreu e Mendes (2010), os EA’s mais frequentes, em unidades de
saúde do Brasil, são as quedas, podendo ter consequências físicas, psicológicas e sociais para
os pacientes. Krause W. e Krause T. (2004), em seu estudo, com duração de três anos,
realizado em um hospital da Alemanha, concluíram que as quedas afetam cerca de 2% a 17%
dos pacientes durante a internação, e as taxas de queda podem variar de 1,4 até 17,9 quedas
por 1000 dias de internamento. Heinze et al. (2006) corrobora, afirmando em seu estudo que
mais de um quarto das quedas, em geral, resultam em lesões físicas.
Em uma revisão de literatura a respeito do tema, que inclui apenas os enfermeiros na
incorporação das práticas de cuidados (prevenção), Almeida, Abreu e Mendes (2010) também
contribuíram para uma maior compreensão do fenômeno da queda, evidenciando como
medidas de prevenções: a avaliação de risco individual, a determinação de fatores de risco e a
constituição de protocolos de intervenção e treinamento, no entanto dá ênfase aos enfermeiros
na incorporação das práticas de cuidados (prevenção).
Merlo et al. (2003), em seu estudo realizado em 2003, relativo às relações das Lesões
por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(LER/DORT) com o processo produtivo e suas consequências sobre a saúde física e mental
dos trabalhadores, desenvolvido no Ambulatório de Doenças do Trabalho do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, chegaram à conclusão de que o sofrimento das LERs/DORTs está
associado não apenas à dor física, mas, também, a aspectos fisiopatológicos da doença,
existindo uma complexa relação que vincula a dor às vivências subjetivas e à identidade
55
social. Afirmam, ainda, que, nos anos seguintes, haveria uma disseminação das doenças
osteomusculares na população como um todo.
Esta previsão confirmou-se, cinco anos mais tarde (2008), nas pesquisas de Rosa et al.
(2008), para quem as LER/DORTs são conhecidas como a doença da modernidade, por conta
do elevado número de afastamentos, que, por muitas vezes, acarretam na aposentadoria por
invalidez do trabalhador. Tais fatores podem impactar na segurança do paciente, uma vez que
o absenteísmo elevado de trabalhadores pode provocar o aumento da carga de/do volume de
trabalho para os trabalhadores presentes, gerando a eles maiores chances de adquirir
problemas como estresse, fadiga e a própria LER/DORT.
Segundo Rodrigues (2016), as afecções musculoesqueléticas representam uma grande
fração do conjunto de adoecimentos que afetam o trabalhador, atingindo homens, mulheres e
até adolescentes, tendo como possíveis causas a organização do trabalho, mas a imprecisão do
diagnóstico pode dificultar o processo de associação entre o adoecimento e o histórico
profissional do trabalhador.
É válido ressaltar que as LER/DORTs têm origem multifatorial, mas o adoecimento do
trabalho por LER/DORT não resulta de nenhum defeito ontogenético, ou seja, não resultam
do processo evolutivo acerca das alterações biológicas sofridas pelo indivíduo ao longo da
vida ou de caracteres depreciativos, de natureza biológica ou psíquica, mas sim objetivamente
do trabalho. Por conseguinte, atinge quase exclusivamente homens e/ou mulheres que
realizam o trabalho concreto, que se situam no nível hierárquico inferior das organizações
(AUGUSTO et al., 2008; RIBEIRO, 1997).
O estudo de Costa e Flausino (2015), relativo à atividade dos maqueiros de um centro
de reabilitação na cidade de Goiânia-GO, identificou a prevalência de sintomas
osteomusculares na parte inferior das costas (50%) e na parte superior nas costas (36,4%)
desses trabalhadores. A pesquisa realizada por Oliveira (2014), com maqueiros de um
hospital de Curitiba-PR, revelou que a região corporal mais afetada nesses profissionais é a
região dos tornozelos/pés (57,4%) e dos joelhos (28,6%), pelo fato de percorrerem grandes
distâncias durante a atividade de remoção e transporte dos pacientes.
O recente estudo realizado por Sousa et al. (2018) trouxe a perspectiva dos
condutores/maqueiros diante dos incidentes ocorridos no transporte de pacientes em estudo
exploratório realizado com 10 maqueiros de um hospital universitário em Goiás.
Identificaram, em seus resultados, que 60% dos trabalhadores relataram participação em
cursos de capacitação; dentre os incidentes ocorridos durante o transporte intra-hospitalar,
identificou-se a desconexão de O2 (oxigênio), de sonda, de equipo de soro, quebra de maca,
56
paciente com parada cardíaca, crise de vômitos e quedas. Esta pesquisa verificou que os
incidentes relatados por eles, relacionados ao transporte do paciente, colocam os profissionais
em situação de vulnerabilidade e em conflito com as diretrizes do hospital, além de referir-se
à escassez de estudos, na literatura disponível, que envolvam a atividade laboral dos
maqueiros e os riscos envolvidos.
Na pesquisa de Oliveira (2014), observou-se uma maior relação com o presente
projeto de pesquisa, uma vez que ele baseou-se em fundamentos da ergonomia para
caracterizar os sintomas osteomusculares e as atividades que exigem maior esforço para o
sistema musculoesquelético em maqueiros que atuam no transporte de pacientes. Assim, parte
da metodologia apresentado pelo autor traz uma certa contribuição, embora seu foco maior se
centre na segurança dos profissionais, evidenciando o aspecto físico, sem relacioná-los com a
segurança do paciente, que é o foco deste projeto de pesquisa.
Oliveira (2014) relaciona os seguintes fatores como causadores de risco, não só para
os pacientes, mas, também, para o próprio maqueiro, com o alto índice de ocorrência de
lesões na coluna vertebral: cadeiras de rodas e macas de difícil movimentação, falta de travas
e suporte lateral em macas, cadeiras de rodas sem trava, falta de apoio para os pés, desnível de
altura entre a cama e maca, falta de equipamentos auxiliares para transportar pacientes, falta
de acessórios para transporte de cateteres, tubos de oxigênio, entre outros.
Hains et al. (2011) examinou, por meio de uma revisão de literatura, os fatores
associados à qualidade e segurança dos serviços de transporte não-emergenciais (transporte
para pacientes de alta acuidade, que inclui pacientes gravemente doentes que necessitam de
habilidades clínicas, mas não para pacientes que necessitam de urgência, constatando como
principais fatores os seguintes: a comunicação, a adequação de pessoal, o tempo para
organizar transferências e a segurança e eficiência do processo dos serviços de transporte não-
emergenciais.
Feufel, Lippa e Klein (2009) destacaram as principais áreas onde as intervenções em
fatores humanos e ergonomia podem ajudar a melhorar a qualidade dos sistemas de serviços
médicos de emergências (no caso, equipes de ambulâncias em incêndio), tornando a vida dos
paramédicos e seus pacientes mais segura. Assim, constataram que as tomadas de decisão dos
paramédicos nas ambulâncias dependiam de “overtraining” e que o trabalho em equipe é
essencial.
Hollnagel (2012) afirma que, durante os últimos anos, a engenharia de resiliência vem
sendo utilizada como uma ferramenta de gestão de segurança no ambiente sociotécnico, a fim
de apoiar a utilização da capacidade de adaptação de pessoas e sistemas, além de reconhecer
57
algumas variabilidades como inevitáveis e benéficas, devendo ser geridas, em vez de
reduzidas. Esta expansão pode ser evidenciada, uma vez que, em uma revisão de literatura,
Righi, Saurin e Wachs (2015) selecionaram 237 estudos, e desses, apenas 16% utilizavam a
ER como ferramenta de gestão de segurança, e esse número seria a ainda menor, se
buscassem as pesquisas que relacionassem o tema com a área de saúde. No entanto, dois anos
mais tarde, Patriarca et al. (2017), também, em uma revisão de literatura, evidenciaram 63
estudos englobando o tema da ER como ferramenta de melhoria da segurança do paciente nos
cuidados de saúde.
Donna et al. (2004) buscaram identificar as causas, os resultados e fatores
contribuintes associados aos incidentes no transporte intra-hospitalar de pacientes em estado
crítico em uma Unidade de Terapia Intensiva na Austrália, identificando que, dos fatores que
contribuem, 46% foram baseados no sistema, e 54% baseado no humano. Destacam, portanto,
que é imprescindível o fornecimento adequado de pessoal altamente qualificado,
equipamentos bem conservados, bem como o acompanhamento adequado dos pacientes para
evitar / minimizar esses incidentes.
Wang e Kasagami (2008), no Japão, projetaram um equipamento de transferência
entre a cama e a maca, ou vice-versa (Figura 4), que faz com que seja possível uma
enfermeira mover um paciente fraco, com feridas, ou paralisado, sem ajuda. Além disso, com
tal equipamento, o sofrimento, estresse e sensação desconfortável do paciente podem ser
aliviados.
Figura 4 – Equipamento de transferência de paciente
Fonte: Wang e Kasagami (2008)
Além disso, Wang e Kasagami (2008) afirmam que, com tal equipamento, o
sofrimento, o estresse e a sensação desconfortável do paciente podem ser aliviados,
assegurando, dessa maneira, a segurança do paciente nesse aspecto.
Mueller e Stanley (2013) evidenciaram que os trabalhadores de serviços médicos de
emergência são um grupo de alto risco e, embora parte desse risco seja inerente ao tipo de
58
trabalho que realizam, grande parte dele pode ser evitável. Em seu estudo, os autores
examinaram os profissionais médicos que administram o atendimento ao paciente durante o
transporte, destacando problemas de segurança negligenciados em uma ambulância. Suas
descobertas indicaram que há uma relação entre a capacidade do trabalhador de serviço
médico de emergência de fornecer adequadamente o atendimento ao paciente e sua
incapacidade de fazê-lo, a partir de uma postura sentada em ambulâncias usadas em todo o
mundo.
Gallasch e Alexandre (2003) relataram que os procedimentos de movimentação e
transporte de pacientes requerem grande esforço físico e estão associados a problemas
musculoesqueléticos em trabalhadores da área da saúde. Os autores mapearam os riscos
ergonômicos durante tais procedimentos em unidades de internação, clínicas e cirúrgicas de
um hospital universitário de Campinas-SP, utilizando-se de uma metodologia observacional,
da análise de prontuários e de uma escala de avaliação do risco na movimentação e
transferência, já utilizada e mencionada anteriormente por Oliveira (2014). Tal metodologia
foi desenvolvida por Radovanovic e Alexandre (2002), e, também, foi utilizada na presente
pesquisa, como poderá ser observada no Capítulo 5 (Metodologia).
Radovanovic e Alexandre (2002) ratificam, ainda, que um elemento crucial para
qualquer programa de prevenção dos eventos adversos nas instituições de saúde, baseado na
ergonomia, é identificar riscos e apresentar métodos que podem minimizá-los, elencando os
procedimentos de movimentação e transferência de pacientes como uma atividade que
envolve altos riscos para os trabalhadores responsáveis e para os pacientes.
Por meio de uma revisão da literatura científica, Tullar et al. (2010) buscaram verificar
se as intervenções de segurança e saúde no trabalho em ambientes de cuidados de saúde têm
efeito sobre o estado de saúde musculoesquelética no setor de saúde. Constataram que há um
número considerável de pesquisas que atestam que intervenções de segurança e saúde no
trabalho reduzem as lesões musculoesqueléticas e as consequências de ter uma lesão em
ambientes de cuidados de saúde. Não foi encontrada nenhuma evidência de que qualquer
intervenção possa ter tido algum efeito negativo para o trabalhador.
Nelson et al. (2008) buscaram examinar a relação entre tratamento seguro dos
pacientes e medidas de qualidade de cuidados, em uma instalação de cuidados de longa
duração (lar de idosos), por meio de uma metodologia observacional e regressão linear. Os
resultados desse estudo permitiram concluir que a implementação de um programa de
tratamento de paciente seguro melhorasse significativamente a qualidade da assistência aos
pacientes (residentes) para alguns indicadores de qualidade de atendimento. Após a
59
implementação desse programa, o funcionamento físico dos residentes aumentou, o número
daqueles que relataram pouca ou nenhuma atividade durante o dia diminuiu, o número de
quedas entre residentes diminuiu, e os pacientes ficaram mais atentos pela manhã. No entanto,
não foram capazes de mostrar uma melhora significativa nos indicadores de humor e
comportamento ou na cognição.
Nelson et al. (2006), em outra pesquisa, publicada em 2006, nos Estados Unidos,
denominada “Development and evaluation of a multifaceted ergonomics program to prevent
injuries associated with patient handling tasks”, objetivavam o seguinte: 1) criar ambientes
de trabalho mais seguros para o pessoal de enfermagem que prestava assistência direta ao
paciente, 2) projetar e implementar um programa multifacetado de ergonomia, tecnologia e
melhoria da segurança baseado em evidência, e 3) avaliar o impacto deste programa na taxa
de lesões, dias de trabalho perdidos, satisfação no trabalho, atos inseguros de manipulação do
paciente, o nível de apoio ao programa, e aceitação de funcionários e paciente, a eficácia do
programa, custos e retorno sobre o investimento.
Como resultados mostraram que a taxa de lesões pós-intervenção diminuiu em 15 das
23 unidades, aumentou em sete unidades e manteve-se a mesma em uma unidade, portanto
obtiveram resultados positivos. No entanto, o número total de dias de trabalho perdidos
diminuiu apenas 18% pós-intervenção, o que não foi considerada uma diferença
estatisticamente significante para o autor. Assim, o programa foi bem aceito pelos pacientes e
bem-sucedido no curto prazo, mas mais pesquisas são necessárias para avaliar o impacto do
programa, a longo prazo.
Retsas e Pinikahana (2000) identificaram padrões de atividades de manipulação
manual, suas lesões e as consequências associadas, entre enfermeiros que trabalham em um
grande centro médico de referência e ensino em Melbourne, Austrália, por meio de um
questionário de 140 itens de autorrelato. Com isso, os autores evidenciaram que 40% dos
enfermeiros relataram possuir/ter sido acometidos de uma lesão associada à atividade de
manuseio manual, dos quais 75% a 89% incluíam lesões nas costas. Aproximadamente um
terço (34%) de todas as lesões foi associada com o transporte de pacientes e essa atividade
compreendia metade de todas as causas associadas a lesões decorrentes de atividades diretas
de atendimento ao paciente.
Os demais estudos também limitaram-se aos aspectos físicos, como, por exemplo,
reduzir o estresse nas costas do pessoal de enfermagem enquanto realizavam tarefas de
manuseio de pacientes entre a cama e a cadeira de rodas e vice-versa, avaliar o risco de lesões
lombares em manipuladores de pacientes realizando diferentes tarefas de manipulação e
60
analisar as forças à coluna lombar, quando utilizam equipamentos auxiliares (MARRAS;
KNAPIK; FERGUSON, 2009; MARRAS et al., 1999; GARG et al., 1991; KEIR;
MACDONELL, 2004). E, embora o(s) autore(s) não tenham feito relação entre as lesões
lombares nos manipuladores do paciente, essas lesões fragilizam o sistema osteomuscular
desses trabalhadores, fazendo com que eles tenham menos firmeza na manipulação, podendo
colocar em risco a segurança do paciente, que pode sofrer quedas, sentir dores maiores
durante a manipulação entre outros problemas.
Belela, Peterlini e Pedreira (2010) evidenciaram uma série de fatores que se
relacionavam com as equipes de trabalho em saúde, tais como a carga de trabalho dos
profissionais, o estresse e as características do ambiente da prática de trabalho, que podem
acarretar eventos adversos. Assim, pode-se deduzir, à luz das evidências encontradas pelos
autores, que a equipe de trabalho formada pelos profissionais responsáveis pelo transporte e
transferência dos pacientes, os maqueiros, exercem um papel fundamental nesse processo de
trabalho, podendo contribuir para a prevenção e minimização da ocorrência de eventos
adversos e a consequente melhoria da segurança do paciente. Para tanto, é fundamental
gerenciar os fatores de carga de trabalho, o estresse e a qualidade do ambiente de trabalho e
das práticas desses profissionais.
Há muitos estudos que consideram os enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos
como elementos importantes para saúde e segurança do paciente, como os estudos de Silva
(2010) e Fassini e Hahn (2012), mas há uma escassez de pesquisas na área que considerem os
maqueiros.
Diante do que foi visto, pode-se observar que os temas ergonomia, transporte de
pacientes e segurança do paciente são encontrados nas pesquisas com duplas associações
(ergonomia-segurança do paciente; transporte do paciente-segurança do paciente; ergonomia-
transporte do paciente), sendo que a tripla associação (ergonomia-transporte do paciente-
segurança do paciente) é um diferencial na presente pesquisa.
Observa-se que a maior parte das pesquisas estão relacionados apenas com lesões
lombares e sintomas osteomusculares presentes na atividade de manuseio de pacientes, e
poucas relacionam tais fatores com os eventos adversos e a segurança do paciente.
Além disso, a maioria das pesquisas encontradas restringem-se ao aspecto físico da
ergonomia, sendo que a presente pesquisa buscará identificar e analisar os contrantes
temporais e físicos da atividade de transporte e transferência dos pacientes, que podem gerar
ou contribuir para a ocorrência de eventos adversos, impactando na segurança do paciente.
Nesta pesquisa, também, buscar-se-á analisar a efetividade das estratégias utilizadas pelos
61
maqueiros da unidade de saúde em foco, para gerenciar as variabilidades e contrantes da
atividade, no sentido de minimizar ou prevenir a ocorrência dos EAs e, consequentemente,
melhorar a segurança do paciente.
62
4 ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS RELACIONADOS À PESQUISA
Este capítulo destina-se a apresentar as legislações e as normas aplicáveis em nível
nacional para regulamentar o funcionamento do SUS e a função do maqueiro.
4.1 Aspectos legais da enfermagem e a relação com a função de maqueiro
O órgão incumbido de normatizar e fiscalizar o exercício da profissão de enfermeiros,
técnicos e auxiliares de enfermagem no Brasil é o Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN), fundado em 1973, juntamente com os seus respectivos Conselhos Regionais
(CORENs), por meio da Lei 5.905, devendo zelar pela qualidade dos serviços prestados.
Conforme determina o COFEN, em sua Resolução n.º 376/2011, no Art. 1º, “os
profissionais de Enfermagem participam do processo de transporte do paciente em ambiente
interno aos serviços de saúde”
De acordo, ainda, com o Art. 1º, inciso I desta Resolução, na etapa de planejamento,
deve o Enfermeiro da Unidade de origem:
a) avaliar o estado geral do paciente;
b) antecipar possíveis instabilidades e complicações no estado geral do paciente;
c) prover equipamentos necessários à assistência durante o transporte;
d) prever necessidade de vigilância e intervenção terapêutica durante o transporte;
e) avaliar distância a percorrer, possíveis obstáculos e tempo a ser despendido até o destino;
f) selecionar o meio de transporte que atenda às necessidades de segurança do paciente;
g) definir o(s) profissional(is) de Enfermagem que assistira(ão) o paciente durante o
transporte;
h) realizar comunicação entre a Unidade de origem e a Unidade receptora do paciente;
De acordo com o Art. 3º da referida Resolução, “não compete aos profissionais de
Enfermagem a condução do meio (maca ou cadeira de rodas) em que o paciente está sendo
transportado”.
Segundo o Art. 4º, “todas as intercorrências e intervenções de Enfermagem durante o
processo de transporte devem ser registradas no prontuário do paciente”.
Tendo em vista o que consta na Resolução n.º 376/2011, não compete aos enfermeiros
a atividade de transporte de pacientes, e qualquer intercorrência e intervenção de Enfermagem
durante esse processo deve ser registrada no prontuário do paciente, podendo os técnicos de
enfermagem fazê-lo.
63
É válido ressaltar que o maqueiro hospitalar está incluído na classe de trabalhadores
dos Serviços de Promoção e Apoio à Saúde, sob o código 5155, com o título de Atendente de
Enfermagem, derivação 10, completando o código de ocupação como 5151-10, definido por
meio da Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, estabelecido pelo Ministério do
Trabalho e Emprego, que é o órgão responsável por regulamentar as profissões no Brasil,
obedecendo à Lei nº 7.183, de 05 de abril de 1984, Lei nº 9.615, de 25 de março de 1998 e
Portaria n.º 397, de 09/10/2002.
4.2 Movimentação e Transporte de paciente: norma regulamentadora brasileira
No Brasil, não há uma norma especifica para a movimentação e o transporte de
pacientes no ambiente hospitalar, no entanto, tem-se a Norma Regulamentadora 17 (NR-17),
que é a responsável por determinar os parâmetros que relacionam as características
psicofisiológicas dos indivíduos e as suas condições de trabalho, de maneira que garanta o
conforto e segurança dos profissionais, além de preocupar-se com o seu desempenho
eficiente.
No tocante às condições de trabalho e ao levantamento, transporte e descarga de
material ou carga, essa norma estabelece os seguintes pontos:
• 17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento,
transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições
ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho.
• 17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga
é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a
deposição da carga.
• 17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de
maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de
cargas.
• 17.2.6. O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de
vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão
ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja
compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua
segurança.
64
• 17.3.5. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser
colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os
trabalhadores durante as pausas.
Assim, tais pontos dessa norma devem ser levados em consideração, ao analisar-se
atividade de trabalho dos maqueiros, uma vez que, apesar de não ser uma norma específica
para tal profissional, serve como base de referência, pois trata-se de uma norma de nível geral
destinada a qualquer atividade que envolva transporte e movimentação de carga, em que se
inclui, nesse caso, o transporte de pacientes realizado pelos maqueiros.
4.3 Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde: norma
regulamentadora brasileira
A Norma Regulamentadora 32 (NR-32), denominada Segurança e Saúde no Trabalho
em Estabelecimentos de Saúde, quanto ao seu objetivo e campo de aplicação, visa estabelecer
as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos
trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção
e assistência à saúde em geral, como é o caso dos maqueiros, entendendo-se por serviços de
saúde qualquer edificação destinada à prestação de assistência à saúde da população, e todas
as ações de promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em saúde em qualquer
nível de complexidade.
Diante disso, quanto aos riscos biológicos previstos no tópico 32.2 desta norma,
destacam-se os seguintes quesitos:
• 32.2.4.3 Todo local onde exista possibilidade de exposição ao agente biológico deve
ter lavatório exclusivo para higiene das mãos provido de água corrente, sabonete
líquido, toalha descartável e lixeira provida de sistema de abertura sem contato
manual;
• 32.2.4.3.2 O uso de luvas não substitui o processo de lavagem das mãos, o que deve
ocorrer, no mínimo, antes e depois do usá-las;
• 32.2.4.4 Os trabalhadores com feridas ou lesões nos membros superiores só podem
iniciar suas atividades após avaliação médica obrigatória com emissão de documento
de liberação para o trabalho;
• 32.2.4.5 O empregador deve vedar:
a) a utilização de pias de trabalho para fins diversos dos previstos;
65
b) o ato de fumar, o uso de adornos e o manuseio de lentes de contato nos postos de
trabalho;
c) o consumo de alimentos e bebidas nos postos de trabalho;
d) a guarda de alimentos em locais não destinados para este fim;
e) o uso de calçados abertos.
• 32.2.4.6 Todos os trabalhadores com possibilidade de exposição a agentes biológicos
devem utilizar vestimenta de trabalho adequada e em condições de conforto.
• 32.2.4.6.1 A vestimenta deve ser fornecida sem ônus para o empregado.
• 32.2.4.6.2 Os trabalhadores não devem deixar o local de trabalho com os
equipamentos de proteção individual e as vestimentas utilizadas em suas atividades
laborais.
• 32.2.4.7 Os Equipamentos de Proteção Individual - EPI, descartáveis ou não, deverão
estar à disposição em número suficiente nos postos de trabalho, de forma que seja
garantido o imediato fornecimento ou reposição.
• 32.2.4.8 O empregador deve garantir a conservação e a higienização dos materiais e
instrumentos de trabalho;
• 32.2.4.9.1 A capacitação deve ser adaptada à evolução do conhecimento e à
identificação de novos riscos biológicos e deve incluir:
a) os dados disponíveis sobre riscos potenciais para a saúde;
b) medidas de controle que minimizem a exposição aos agentes;
c) normas e procedimentos de higiene;
d) utilização de equipamentos de proteção coletiva, individual e vestimentas de
trabalho;
e) medidas para a prevenção de acidentes e incidentes;
f) medidas a serem adotadas pelos trabalhadores no caso de ocorrência de incidentes e
acidentes;
• 32.2.4.13 Os colchões, colchonetes e demais almofadados devem ser revestidos de
material lavável e impermeável, permitindo desinfecção e fácil higienização;
• 32.2.4.13.1 O revestimento não pode apresentar furos, rasgos, sulcos ou reentrâncias.
Essa norma ainda estabelece em suas disposições gerais, presentes no tópico 32.10, os
seguintes pontos:
• 32.10.1 Os serviços de saúde devem:
66
a) atender as condições de conforto relativas aos níveis de ruído previstas na NB 95 da
ABNT;
b) atender as condições de iluminação conforme NB 57 da ABNT;
c) atender as condições de conforto térmico previstas na RDC 50/02 da ANVISA;
d) manter os ambientes de trabalho em condições de limpeza e conservação.
• 32.10.2 No processo de elaboração e implementação do PPRA e do PCMSO devem
ser consideradas as atividades desenvolvidas pela Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar – CCIH do estabelecimento ou comissão equivalente.
• 32.10.3 Antes da utilização de qualquer equipamento, os operadores devem ser
capacitados quanto ao modo de operação e seus riscos.
• 32.10.4 Os manuais do fabricante de todos os equipamentos e máquinas, impressos em
língua portuguesa, devem estar disponíveis aos trabalhadores envolvidos.
• 32.10.5 É vedada a utilização de material médico-hospitalar em desacordo com as
recomendações de uso e especificações técnicas descritas em seu manual ou em sua
embalagem.
• 32.10.8 Os postos de trabalho devem ser organizados de forma a evitar deslocamentos
e esforços adicionais.
• 32.10.9 Em todos os postos de trabalho devem ser previstos dispositivos seguros e
com estabilidade, que permitam aos trabalhadores acessar locais altos sem esforço
adicional.
• 32.10.10 Nos procedimentos de movimentação e transporte de pacientes deve ser
privilegiado o uso de dispositivos que minimizem o esforço realizado pelos
trabalhadores.
• 32.10.11 O transporte de materiais que possa comprometer a segurança e a saúde do
trabalhador deve ser efetuado com auxílio de meios mecânicos ou eletromecânicos.
• 32.10.12 Os trabalhadores dos serviços de saúde devem ser:
a) capacitados para adotar mecânica corporal correta, na movimentação de pacientes
ou de materiais, de forma a preservar a sua saúde e integridade física;
b) orientados nas medidas a serem tomadas diante de pacientes com distúrbios de
comportamento.
• 32.10.13 O ambiente onde são realizados procedimentos que provoquem odores
fétidos deve ser provido de sistema de exaustão ou outro dispositivo que os
minimizem.
67
• 32.10.14 É vedado aos trabalhadores pipetar com a boca.
• 32.10.15 Todos os lavatórios e pias devem:
a) possuir torneiras ou comandos que dispensem o contato das mãos, quando do
fechamento da água;
b) ser providos de sabão líquido e toalhas descartáveis para secagem das mãos.
Destacam-se ainda, nas disposições finais, encontradas no tópico 32.11, os seguintes
subtópicos:
• 32.11.1 A observância das disposições regulamentares constantes dessa Norma
Regulamentadora - NR não desobriga as empresas do cumprimento de outras
disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos ou regulamentos
sanitários dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, e outras oriundas de
convenções e acordos coletivos de trabalho, ou constantes nas demais NR e legislação
federal pertinente à matéria.
• 32.11.2 Todos os atos normativos mencionados nesta NR, quando substituídos ou
atualizados por novos atos, terão a referência automaticamente atualizada em relação
ao ato de origem.
• 32.11.4 A responsabilidade é solidária entre contratantes e contratados, quanto ao
cumprimento desta NR.
4.4 Lei 8080/1990 (Lei Orgânica da Saúde - LOS)
A Constituição Federal de 1988 determinou que a saúde é um direito fundamental de
toda população, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício,
determinando a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). O Congresso Nacional aprovou a
Lei Orgânica da Saúde (LOS), que detalha e regulamenta o funcionamento do SUS. Esta lei
foi publicada no Diário Oficial da União em 20 de setembro de 1990.
Em seu Art. 1º, essa Lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de
saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas
naturais ou jurídicas de direito público ou privado (BRASIL, 1990).
No seu Art. 2º, a lei determina a saúde como um direito fundamental do ser humano,
devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. Para isso, o
Estado deve compreender que garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas
68
econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1990). No entanto, o dever
do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade (BRASIL, 1990).
O Art. 5º dessa lei trata dos objetivos do Sistema Único de Saúde, elencando: a
identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; a formulação
de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância do
disposto no § 1º do art. 2º desta lei; a assistência às pessoas por intermédio de ações de
promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações
assistenciais e das atividades preventivas (BRASIL, 1990).
No Art. 6º da lei estão incluídas, ainda no campo de atuação do Sistema Único de
Saúde:
I - A execução de ações: a) de vigilância sanitária; b) de vigilância epidemiológica; c)
de saúde do trabalhador; e d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento
básico;
III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;
V - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a
saúde;
VI - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e
tecnológico;
VII - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados.
O capítulo 3 da referida lei trata da organização, da direção e da gestão. De acordo
com o Art. 8º desse capítulo da lei, as ações e serviços de saúde executados pelo Sistema
Único de Saúde - SUS, seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa
privada, serão organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade
crescente (BRASIL, 1990).
Ainda no capítulo 3, no Art. 9º, registra-se que a direção do Sistema Único de Saúde -
SUS é única, de acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em
cada esfera de governo pelos seguintes órgãos: no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;
no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão
69
equivalente; e no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão
equivalente (BRASIL, 1990).
No capítulo 7, denominado de subsistema de acompanhamento durante o trabalho de
parto, parto e pós-parto imediato, (Capítulo acrescido pela Lei nº 11.108, de 7/4/2005)
determina-se que os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde, da rede própria ou
conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um)
acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato
(BRASIL, 1990).
4.5 Resolução de diretoria colegiada – RDC nº 36
Esta resolução, de 26 de julho de 2013, tem por objetivo instituir ações para a
promoção da segurança do paciente e a melhoria da qualidade nos serviços de saúde, sejam
eles públicos, privados, filantrópicos, civis ou militares, incluindo aqueles que exercem ações
de ensino e pesquisa.
Esta resolução, em sua seção III, conceitua os principais termos que aparecem ao
longo de seus capítulos, sendo eles: boas práticas de funcionamento do serviço de saúde;
cultura de segurança; dano; evento adverso; garantia da qualidade; gestão de risco; incidente;
núcleo de segurança do paciente; plano de segurança do paciente em serviços de saúde,
serviço de saúde e tecnologia em saúde.
O capítulo II, seção I, destina-se à obrigatoriedade da criação do NSP pela direção do
serviço de saúde (arto 4o) e estabelece que devem ser disponibilizados para o seu
funcionamento sistemático e contínuo, recursos humanos, financeiros, equipamentos, insumos
e materiais, bem como um profissional responsável pelo NSP com participação nas instâncias
deliberativas do serviço de saúde (arto 5o). No referido capítulo também são estabelecidas
todas as competências do NSP (arto 7o), além dos seus princípios e diretrizes (arto 6o), que são:
I – A melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias da saúde;
II – A disseminação sistemática da cultura de segurança;
III – A articulação e a integração dos processos de gestão de risco;
IV – A garantia das boas práticas de funcionamento do serviço de saúde.
Na seção seguinte, tem-se informações a respeito do Plano de Segurança do Paciente
em Serviços de Saúde, que deve ser elaborado pelo NSP, visando estabelecer estratégias e
70
ações de gestão de risco (arto 8o), conforme as atividades desenvolvidas pelo serviço de saúde,
para:
I – Identificação, análise, avaliação, monitoramento e comunicação dos riscos no
serviço de saúde, de forma sistemática;
II – Integrar os diferentes processos de gestão de risco desenvolvidos nos serviços de
saúde;
III – Implementação de protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde;
IV – Identificação do paciente;
V – Higiene das mãos;
VI – Segurança cirúrgica;
VII – Segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos;
VIII – Segurança na prescrição, uso e administração de sangue e hemocomponentes;
IX – Segurança no uso de equipamentos e materiais;
X – Manter registro adequado do uso de órteses e próteses quando este procedimento
for realizado;
XI – Prevenção de quedas dos pacientes;
XII – Prevenção de úlceras por pressão;
XIII – Prevenção e controle de eventos adversos em serviços de saúde, incluindo as
infecções relacionadas à assistência à saúde;
XIV– Segurança nas terapias nutricionais enteral e parenteral;
XV – Comunicação efetiva entre profissionais do serviço de saúde e entre serviços de
saúde;
XVI – Estimular a participação do paciente e dos familiares na assistência prestada;
XVII – Promoção do ambiente seguro.
O capítulo 3 dessa resolução fala a respeito da vigilância, do monitoramento e da
notificação de eventos adversos, que devem ser realizados mensalmente pelo NSP, por meio
das ferramentas eletrônicas disponibilizadas pela Anvisa (arto 10o). No caso de eventos
adversos levarem o paciente a óbito, devem ser notificados em até 72 horas a partir do
ocorrido (parágrafo único do arto 10o). Compete a Anvisa (arto 11o):
I – Monitorar os dados sobre eventos adversos notificados pelos serviços de saúde;
II – Divulgar relatório anual sobre eventos adversos com a análise das notificações
realizadas pelos serviços de saúde;
71
III – Acompanhar, junto às vigilâncias sanitárias distrital, estadual e municipal as
investigações sobre os eventos adversos que evoluíram para óbito.
O quarto e último capítulo desta resolução refere-se às disposições finais e transitórias,
citando que o descumprimento das disposições contidas nesta Resolução constitui infração
sanitária, nos termos da Lei n. 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo das
responsabilidades civil, administrativa e penal cabíveis.
72
5 METODOLOGIA
Este capítulo apresenta a metodologia adotada para o desenvolvimento da presente
pesquisa, expondo suas classificações, segundo os aspectos da natureza, da forma de
abordagem do problema, dos objetivos e dos procedimentos técnicos, apontando os fatores
que a qualificam como tal, além de definir o local da pesquisa e caracterizar a sua população e
a amostra. Posteriormente, foi abordado o método empírico utilizado na pesquisa,
caracterizando a forma de levantamento dos dados bibliográficos, documentais e de campo e
o tratamento e análise dos dados.
5.1 Classificação da pesquisa
A classificação de uma pesquisa pode se dar em diferentes perspectivas ou pontos de
vistas. Berto e Nakano (2014) classificam-na quanto à natureza, podendo ser básica ou
aplicada, quanto à abordagem, que se subdivide em quantitativa, qualitativa ou ainda em uma
combinação de ambas, formando a abordagem mista, quanto aos objetivos, podendo ser de
caráter exploratório, descritivo ou explicativo, e quanto ao procedimento, pode ser um estudo
de caso, uma modelagem, um levantamento (survey), uma simulação, um estudo de campo,
um experimento ou um estudo teórico/conceitual. O Quadro 6, a seguir, sintetiza essas
classificações da pesquisa.
Quadro 5 – Classificações da pesquisa
Quanto à natureza Quanto à abordagem Quanto aos objetivos Quanto aos
procedimentos
Básica
Quantitativa Exploratório
Estudo de caso
Modelagem
Survey
Aplicada
Qualitativa Descritivo Simulação
Estudo de campo
Mista Explicativo Experimento
Teórico/conceitual
Fonte: Adaptado Berto e Nakano (2014)
As subseções apresentadas a seguir detalharão a classificação desta pesquisa, de
acordo com as perspectivas supracitadas.
73
5.1.1 Quanto à natureza
Para Vergara (2003), uma pesquisa caracteriza-se como aplicada, quando é motivada
pela necessidade de se resolver problemas (demandas) concretos, mais imediatos ou não,
tendo uma finalidade prática, ao contrário da pesquisa básica (pura), configurada,
basicamente, pela curiosidade intelectual do pesquisador e situada no nível de especulação.
Assim, a presente pesquisa é definida como aplicada, uma vez que se fundamentou, a partir da
demanda real explicitada pela MEJC e negociada, que consiste em se analisar a atividade dos
maqueiros da Maternidade-escola, buscando identificar os determinantes dessa atividade
laboral que impactam na segurança dos pacientes.
5.1.2 Quanto à abordagem
Por muito tempo houve um entendimento de que as abordagens quantitativas
(experimentais e objetivas) e as abordagens qualitativas (interpretativas e subjetivas) eram
opostas e excludentes, no entanto, atualmente, há uma flexibilidade de tais abordagens,
permitindo a existência de procedimentos metodológicos combinados, ou seja, mistos, que,
por sua vez, possibilitam estudos mais significativos sob quaisquer que sejam as perspectivas
e áreas do conhecimento (BERTO; NAKANO, 2014). Deste modo, esta pesquisa classifica-se
como de abordagem mista, tendo em vista que adotou, por um lado, uma abordagem
qualitativa, pois considerou os elementos interpretativos e subjetivos nas entrevistas e
conversações aplicadas aos maqueiros e gestores (Apêndices A, B, C e G) e, também, coletou,
nas observações abertas e sistemáticas, aspectos da realidade que não podem ser
quantificados. Exemplos dos dados qualitativos que foram levantados nesta pesquisa são as
opiniões dos maqueiros a respeito dos pontos negativos e positivos do seu trabalho, as
opiniões dos pacientes e acompanhantes a respeito do transporte de paciente na MEJC.
Também, por outro lado, adotou uma abordagem quantitativa, pois levantou dados
quantitativos através dos questionários que foram aplicados aos maqueiros e pacientes
(Anexos A e B). Exemplo desses dados quantitativos são peso, altura etc.
74
5.1.3 Quanto aos objetivos
Segundo Prodanov e Freitas (2013), uma pesquisa é caracterizada como descritiva
quando o pesquisador registra os fatos que estão sendo observados, descrevendo as
características de determinado fenômeno, podendo ainda estabelecer relações entre variáveis.
Para mostrar/explicar como determinado fenômeno se manifesta, foram realizadas
avaliações (avaliando os equipamentos utilizados, as condições das instalações, e etc.) e coleta
de dados, utilizando-se de técnicas específicas e padronizadas, que podem ser identificadas
pelos questionários (Anexos A e B, Apêndice E e F), pelo Plano de observação sistemática
(Apêndice D) e pelas entrevistas e conversações (Apêndice A, B e C) que foram aplicadas.
A pesquisa exploratória permite uma maior familiaridade entre o pesquisador e o tema
pesquisado, sendo necessário que o pesquisador inicie um processo de sondagem, para
aprimorar ideias, descobrir intuições e, posteriormente, construir hipóteses, sendo que a
pesquisa explicativa registra fatos, analisa-os, interpreta-os e identifica suas causas.
(PRODAVOV; FREITAS, 2013).
Considerando as definições e características de tais pesquisas, pode-se constatar que a
presente pesquisa enquadra-se como de caráter descritivo, pois houve o registro de fatos que
foram observados e descritos, como o curso da ação da atividade dos maqueiros, além da
aplicação de questionários com maqueiros e pacientes, bem como uma entrevista com o
gestor do setor, podendo ainda estabelecer relações entre essas variáveis, de caráter
exploratório, uma vez que foi desenvolvida uma análise global da maternidade e do setor
específico, a fim de instruir melhor a demanda de pesquisa e construir as hipóteses de
pesquisa, e de caráter explicativo, pois, com os registro anteriores, foram feitas análises que
buscaram identificar suas causas.
5.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos
Para Yin (2015), uma investigação pode se configurar como estudo de caso, quando se
deseja compreender fenômenos sociais complexos e ter uma perspectiva holística e de eventos
do mundo real. De maneira complementar a essa ideia, Gil (2008) atesta que o estudo de caso
é caracterizado também por um estudo profundo e até exaustivo de um ou de poucos
fenômenos, até que os torne altamente delineados, fazendo perguntas do tipo “como” ou “por
que”. É importante ressaltar, que, no estudo de caso, o pesquisador exerce pouco ou nenhum
controle sobre os fenômenos estudados, ou seja, o seu papel é obter informações do
75
fenômeno, a partir da opinião dos indivíduos, coletando evidências que possam auxiliar na
interpretação do ambiente estudado (GANGA, 2012). Para Berto e Nakano (2014), o estudo
de caso define-se pela descrição e análise aprofundada de um ou mais objetos de
observação (casos), permitindo a interação entre pesquisador e objeto de pesquisa, devendo
ter o uso de múltiplos instrumentos de coleta de dados.
Desta forma, como foi realizada uma análise ergonômica do trabalho dos maqueiros
na MEJC, esta pesquisa caracteriza-se, quanto aos seus procedimentos, como estudo de caso,
pelo fato de enquadrar-se em tais características supracitadas.
Tal estudo pode, ainda, ser classificado com estudo de campo, que segundo Berto e
Nakano (2014), ocorre, quando há o emprego de outros métodos de pesquisa (principalmente
com dados primários de natureza qualitativa) ou uso de dados primários sem estruturação
formal do método de pesquisa. Segundo Gil (2008), o estudo de campo pretende estudar um
único grupo ou comunidade. Esta pesquisa foi realizada nas dependências de uma
maternidade e buscou ressaltar a relação entre seus componentes, utilizando-se de técnicas
observacionais (curso da ação dos maqueiros) e interacionais (questionários, conversações)
com maqueiros, gestores e pacientes.
5.2 Local da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, na Maternidade
Escola Januário Cicco – MEJC (Figura 5), localizada na Avenida Nilo Peçanha, número 259,
no bairro Petrópolis. A MEJC é considerada a mais importante maternidade do Estado,
pertencente à esfera pública federal e está vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
Figura 5 – Fachada da MEJC
Fonte: EBSERH: Ministério da educação (2018)
76
5.3 População
A população da pesquisa, em um primeiro momento, compreendeu todos os dez
maqueiros da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), sendo considerado, portanto, um
estudo censitário. Estes maqueiros estão distribuídos entre os três turnos de trabalho diário
(manhã, tarde e noite) e as observações feitas com os mesmos ocorreram nos três turnos, a fim
de se verificar se havia variações entre eles, as observações abertas ocorreram entre abril e
agosto de 2019, enquanto as observações sistemáticas ocorreram no período de setembro a
novembro de 2019, assim foram realizados 60 acompanhamentos de campo, referentes às
atividades dos maqueiros, com relação ao transporte e transferência de pacientes, totalizando
90 horas de observações sistemáticas e coletas de dados.
Posteriormente, a pesquisa também envolveu as pacientes, compreendidas por toda e
qualquer mulher ou mãe que desse entrada na maternidade e fosse transportada em macas ou
em outro sistema de transporte de finalidade similar, podendo ser as mulheres/mães que
fossem parir ou realizar cirurgias e/ou endoscopias ginecológicas.
Para fins de cálculo amostral do número de pacientes que deveriam ser estudados, foi
considerado, como tamanho da população (N), o número médio de pacientes atendidos por
mês na maternidade, no ano de 2018, resultando em uma população (N) média mensal de 560
pacientes no referido ano. Assim, essa média mensal de 560 pacientes é o resultado do
número de pacientes atendidos na maternidade em todo o ano de 2018, ou seja, 6720
pacientes, divididos por 12, que é o número de meses no ano. Foram, ainda, definidos o nível
de confiança de 95% (com z = 1,96), a margem de erro (e) de 5%, o desvio padrão (p) de 0,5
e a taxa estimada de 10% não respondentes.
O cálculo do tamanho da amostra (n), referente aos usuários ou pacientes da
maternidade, que deveriam participar desta pesquisa, ou seja, que deveriam se entrevistados,
baseou-se na seguinte fórmula (LUIZ; MAGNANINI, 2000):
Sendo:
n = tamanho da amostra
77
N = tamanho da população = 560
z = escore z do nível de confiança 95% = 1,96;
e = margem de erro = 5% = 0,05;
p = desvio padrão = 0,5.
Ao inserir, nessa fórmula, os valores referidos anteriormente, correspondentes às
respectivas variáveis, chegou-se ao tamanho da amostra (n) de 228 pacientes, que corresponde
ao número inicial de pacientes que deveriam fazer parte desta pesquisa. No entanto, foi
adicionada uma taxa de recusa de 10% dos potenciais participantes, resultando em um
tamanho amostral de 205 pacientes, que diz respeito ao número de pacientes participantes
desta pesquisa. Este valor foi considerado para duas partes da pesquisa, quais sejam:
PARTE 1: aplicação do Check list (Anexo B), que permitiu avaliar os riscos
ergonômicos presentes nos procedimentos de transporte e transferência dos pacientes,
possibilitando, dessa forma, que se faça uma descrição do tipo de assistência requerida por
esses pacientes. Tratou-se de um estudo observacional, em que foi feita uma seleção
sistemática dos períodos de observação de campo, que foi realizado nos 3 turnos de
funcionamento da MEJC pois considerou-se que poderia haver uma variação, entre eles, dos
quesitos e contextos observados. Esta parte ocorreu também no período de setembro a
novembro de 2019, havendo a aplicação de 205 check list com pacientes em diferentes
unidades e em todos os turnos.
PARTE 2: aplicação dos questionários com os pacientes e/ou acompanhantes
(Apêndice E), em que foram abordadas questões qualitativas a respeito do transporte e
transferência dos pacientes na referida maternidade, a fim de se conhecer a percepção dos
mesmos sobre o transporte de pacientes da MEJC. Assim, é importante, também, que os
questionários sejam aplicados durante os três turnos e identifique o local de aplicação, para
que se verifique se essa percepção varia de acordo com o turno e local de aplicação, dessa
maneira, esta parte também ocorreu no período de setembro a novembro de 2019, havendo a
aplicação de 205 questionários com pacientes em diferentes unidades e em todos os turnos.
5.4 Pesquisa bibliográfica e documental
Para a imersão no campo da segurança do paciente, dos eventos adversos e da
atividade dos maqueiros, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em bases de dados
acadêmicas, como Periódicos Capes e PubMed, e de órgãos governamentais, aspirando
escolher e definir as possíveis teorias e/ou conceitos que ajudassem na fundamentação teórica
78
da pesquisa, na melhor formulação do problema, das hipóteses, dos objetivos e da
metodologia, na compreensão e explicação dos resultados, na explicitação da contribuição
teórica da pesquisa e nas reflexões sobre os trabalhos futuros sobre o tema em questão.
Também, foi realizada uma pesquisa documental referente a legislações, normas e
resoluções, no tocante ao sistema de saúde, maternidades-escolas, atividades dos maqueiros,
segurança do paciente, estatísticas e outros assuntos pertinentes.
5.5 Pesquisa Empírica (Estudo de Caso): pesquisa de campo na Maternidade Escola
Januário Cicco-MEJC
Para descrever o método adotado na pesquisa empírica, caracterizada pela pesquisa de
campo na MEJC, local do estudo de caso, primeiramente, será apresentada a construção social
a ser desenvolvida para a realização da AET e, em seguida, será descrita a AET adotada no
estudo de caso, o tratamento e a análise dos dados e os aspectos éticos relacionados com a
pesquisa empírica.
5.5.1 Construção Social-CS
Para o andamento adequado de uma ação ergonômica, Vidal (2008) defende que é
necessária uma estrutura de ação, de natureza participativa, técnica e gerencial para tal e,
portanto, propõe que haja uma interação do pesquisador (responsável pela ação ergonômica)
com vários grupos de composições distintas do local onde foi realizada a ação ergonômica,
sendo eles: Grupo de Interesse (GI), Grupos de Foco (GF´s), Grupo de Acompanhamento
(GA) e o Grupo de Suporte (GS).
Nessa pesquisa, os grupos relacionados por Vidal (2008) foram compostos da seguinte
forma:
• Grupo de Ação Ergonômica (GAE): formado pela equipe externa de
Ergonomia e pelo grupo de interesse, ou seja, o grupo de pessoas responsáveis pela ação
ergonômica na empresa. Assim, o GAE, na presente pesquisa, foi formado, pelo Grupo de
Extensão e Pesquisa em Ergonomia - GREPE da UFRN, representado pela autora deste
projeto (mestranda em Engenharia de Produção), pelo professor orientador da pesquisa, pela
gestora do Núcleo de Segurança do Paciente-NSP da maternidade estudada e pelo gestor da
hotelaria responsável pelos maqueiros da referida maternidade.
79
• Grupo de Suporte (GS): fazem parte deste grupo os tomadores de decisão do
local em estudo, competindo ao GAE interagir com esse grupo durante todo o período da ação
ergonômica. Nesta pesquisa, o GS foi composto pelos gestores e funcionários que ocupam
posições-chaves no Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e o gestor da hotelaria
responsável pelos maqueiros, como também o gestor responsável pela direção da
maternidade.
• Grupo de Acompanhamento (GA): este grupo assemelha-se ao anterior, no
entanto, é formado por pessoas com autoridade técnica para tomada de decisão. Assim, nesta
pesquisa, o professor orientador deste trabalho atuou como a autoridade técnica deste grupo,
bem como o gestor do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e o gestor da hotelaria
responsável pelos maqueiros.
• Grupos de Foco (GF’s): são formados por pessoas que participam do
levantamento de dados e da validação dos diversos momentos da análise, estabelecendo e
pontuando os momentos importantes da ação ergonômica. Nesta pesquisa, tem-se dois grupos
de foco: o Grupo de Foco 1, composto pela equipe de maqueiros da Maternidade Escola
Januário Cicco e o Grupo de Foco 2, formado pelas pacientes que iriam parir ou haviam
parido seus bebês, e pelas pacientes que iriam fazer ou haviam feito cirurgias e / ou
endoscopias ginecológicas, bem como alguns acompanhantes.
A Figura 6, a seguir, ilustra o esquema da construção social desenvolvida na pesquisa
de campo.
Figura 6 – Esquema da construção social a ser desenvolvida na MEJC
Fonte: Autora (2019)
80
5.5.2 Análise Ergonômica do Trabalho-AET
O método científico adotado na pesquisa ou estudo de campo foi a Análise
Ergonômica do Trabalho (AET) (WISNER, 1987; GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008),
tendo como caso a ser estudado a Maternidade Escola Januário Cicco-MEJC, localizada na
cidade de Natal-RN, Brasil.
A AET foi realizada mediante o desenvolvimento da Construção Social, que permeia
todas as suas fases. Para Daniellou (2004), a AET consiste na análise da demanda, da análise
do processo técnico e da tarefa, da análise da atividade, da formulação e difusão do
diagnóstico e das recomendações ergonômicas.
Guérin et al. (2001) denomina de construção da ação ergonômica o processo de análise
ergonômica do trabalho, consistindo, nas seguintes etapas:
• Análise da demanda;
• Conhecimento do Funcionamento da empresa (Hipóteses de Nível 1);
• Escolha da ou das situações a analisar;
• Observações abertas da atividade e pré-diagnóstico (Hipóteses de Nível 2);
• Observações sistemáticas da atividade, tratamento de dados e validação;
• Diagnóstico local incidindo sobre a(s) situação(ões) analisada(s);
• Diagnóstico global incidindo sobre o funcionamento global da empresa.
Vidal (2008), por sua vez, concebe a AET, primordialmente, considerando as
seguintes etapas:
• Instrução da demanda;
• Focalização e pré-diagnóstico;
• Modelagem Operante;
• Validação e restituição;
• Resultados.
Para efeito deste projeto, foi adotada a seguinte estrutura, adaptada de Vidal (2008):
• Instrução da demanda;
• Análise global;
• Análise da atividade
o Análise focal da atividade e pré-diagnóstico;
81
o Análise focada da atividade e diagnóstico;
• Validação e restituição;
• Especificações ergonômicas.
A Figura 7, a seguir, sintetiza a estrutura definida anteriormente, que representa os
grandes momentos da AET:
Figura 7 – Grandes Momentos da AET
Fonte: Adaptado de Vidal (2008)
Cada uma dessas etapas, evidenciadas na Figura 7, estão detalhadas nos pontos a
seguir.
a) Instrução da Demanda
Como foi visto, o processo da AET inicia-se com o surgimento da demanda, que pode
originar-se da direção da empresa ou, até mesmo, dos próprios trabalhadores, sendo, portanto,
crucial analisar e reformular a demanda por pessoas competentes para a condução do processo
da ação ergonômica (GUÉRIN et al., 2001). Segundo Carvalho e Saldanha (2001), a demanda
pode ainda não se conceber, inicialmente, a partir da empresa, isto é, quando pesquisadores
interessados em um tema buscam uma organização propondo ajudá-la a compreender e
solucionar possíveis problemas existentes, no âmbito da Ergonomia.
Este tipo de abordagem para a formulação de demandas, surgidas de um movimento
exógeno, mas que confrontada dentro da organização, é denominado pelos referidos autores
82
de demanda provocada, como foi o caso da presente pesquisa, uma vez que a pesquisadora
procurou a MEJC e propôs um estudo, que despertou o interesse do setor encarregado pela
segurança do paciente na referida maternidade, por ter esse setor evidenciado problemas desta
natureza relacionados com a atividade dos maqueiros.
A instrução da demanda realizada nesta pesquisa foi conduzida por uma construção
social (VIDAL, 2008), utilizando-se de técnicas interacionais e observacionais (VIDAL,
2008), para a formulação da demanda inicial provocada e para a reformulação da demanda.
As técnicas interacionais consistiram em ações conversacionais e verbalizações
espontâneas. As interações ocorreram através de reuniões com os gestores da MEJC,
responsáveis pelo Núcleo de Segurança do Paciente-NSP, e com o gestor dos maqueiros, que
fazem parte do grupo de suporte (GS) indicado acima.
Houve, inicialmente, dois encontros na MEJC, em que estavam presentes os
representantes do Núcleo de Segurança do Paciente, três alunos do mestrado de engenharia de
produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, e o professor orientador
dos mestrandos, que é Coordenador do Grupo de Extensão e Pesquisa em Ergonomia da
UFRN.
Na primeira reunião, o professor orientador desta pesquisa fez uma explanação, para
os membros do NSP, a respeito da área de Ergonomia e sua abrangência, mostrando em que e
de que maneira as pesquisas em Ergonomia poderiam ajudar na melhoria da segurança do
paciente, ao lidar com possíveis problemas presentes em diversas atividades hospitalares,
como: lavagem de roupa hospitalar , transporte de pacientes ,
dispensação/prescrição/administração de medicamentos, classificação de riscos , banho de
pacientes etc. Esses problemas poderiam suscitar, na visão do grupo da UFRN, possíveis
demandas de ergonomia (hipóteses de demanda) a serem solucionadas, desde que tivessem,
obviamente, a validação destas hipóteses de demanda pelo NSP e concordância para
solucioná-las através da ação ergonômica, utilizando o método da AET.
Nessa mesma reunião, portanto, os membros do NSP confirmaram a existência, na
MEJC, dos problemas que acabaram de ser apresentados, destacaram a importância de estudá-
los e enfrentá-los e apontaram interesse em negociar algumas dessas demandas de pesquisa
relativas à Segurança do Paciente. Eles levantaram também outros problemas que tinham
interesse de que fossem pesquisados e solucionados, tais como estudar os processos de
higienização das mãos e de manutenção de equipamentos.
O confronto dos problemas e respectivas demandas entre os grupos de ergonomia e do
NSP resultou na negociação de três demandas ergonômicas, quais sejam: 1) estudar e
83
solucionar as quedas relacionadas com o transporte de pacientes por maqueiros; 2) estudar a
atividade de classificação de riscos para minimizar os eventos adversos relacionados; 3) fazer
um diagnóstico da cultura de segurança do paciente na MEJC. A demanda ergonômica
negociada, de que trata esta pesquisa, diz respeito à de número 1: “estudar e solucionar as
quedas relacionadas com o transporte de pacientes por maqueiros”.
Após a primeira reunião, foram mantidos contatos com a Coordenação do NSP,
através de e-mails, e uma nova reunião foi marcada com um intervalo de um mês. Na segunda
reunião, houve a apresentação e discussão das propostas de pesquisa relativas às três
demandas, mas, aqui, vamos tratar somente da demanda 1, que diz respeito ao tema desta
pesquisa.
Após as discussões durante a segunda reunião, ficou entendido que a atividade dos
maqueiros reúne uma série de aspectos e que os problemas relacionados a ela vão além da
ocorrência de quedas de pacientes e que, portanto, havia outros problemas nesta atividade que
têm potencial de afetar a segurança do paciente. Face a este novo entendimento, a demanda 1
foi reformulada e negociada da seguinte maneira: “estudar e solucionar os eventos adversos
relacionados com a atividade dos maqueiros, visando à melhoria da segurança do paciente”.
Uma terceira reunião com o grupo do NSP ocorreu, aproximadamente, dois meses e
meio depois, em que estiveram presentes dois representantes do NSP, três alunos do mestrado
de Engenharia de Produção da UFRN, dois gestores de hotelaria responsáveis pelos
maqueiros, e uma gestora do Setor de Classificação de Risco (uma vez que se estava também
negociando uma demanda ergonômica relacionada a essa atividade) da maternidade.
Nessa reunião, foram novamente apresentadas as três propostas de estudo (demandas
ergonômicas), desta feita já com as devidas alterações introduzidas na demanda 1, que foram
negociadas na segunda reunião. Contudo, uma nova solicitação foi feita pelos membros do
NSP, que não alterava a formulação da demanda 1 negociada, mas implicava na forma de
encaminhar a pesquisa de campo (análise da atividade), que consistia em garantir que a
pesquisa considerasse todos os transportes e movimentações que o maqueiro executa, seja
com as mães, bebês ou mulheres que farão ou fizeram cirurgias ginecológicas.
Outro ponto abordado na reunião foi como se daria, a partir daquele momento, o livre
acesso dos pesquisadores à maternidade e suas dependências para a execução da pesquisa de
campo. Ficou definido, portanto, que o acesso dos mesmos à maternidade só seria liberado,
após protocolar e aprovar, no Comitê de Ética de Pesquisa da Plataforma Brasil, o projeto de
pesquisa relativo à demanda ergonômica negociada.
84
Uma quarta reunião ocorreu, aproximadamente, três meses após a terceira, com o
intuito de solicitar alguns dados iniciais necessários para a pesquisa e definir onde se poderia
obtê-los-iam e quais seriam os responsáveis por fornecê-los. Nessa reunião, estiveram
presentes a pesquisadora responsável por esta pesquisa e três gestores responsáveis pelo NSP,
como pode ser visto na Figura 8.
Figura 8 – Quarta reunião para instrução da demanda entre a pesquisadora e os membros do NSP
Fonte: Autora (2019)
b) Análise Global
Para Vidal (2008), a análise global serve para ampliar o escopo inicial, ajustar os focos
e os temas, e refinar a demanda. Ainda para o referido autor, ela consiste em reconhecer o
local onde a ação ergonômica deverá produzir seus efeitos. Trata-se, portanto, de procurar
conhecer o contexto social, econômico e tecnológico da maternidade que se pretende estudar
para melhor conhecer a demanda ergonômica e as especificidades da organização (GUÉRIN
et al., 2001). Esta análise global é motivada pela demanda e pela necessidade de se formular
um pré-diagnóstico da situação de trabalho (GUÉRIN et al., 2001) dos maqueiros na
Maternidade Escola Januário Cicco – MEJC.
85
O presente trabalho subdividiu a análise global em duas categorias: análise global da
maternidade, contendo informações gerais sobre a Maternidade Escola Januário Cicco, desde
a sua fundação, o organograma geral, os tipos de serviços, o número de atendimentos, o
fluxograma de atendimento das pacientes, o número de funcionários, e outros; e análise global
do setor de estudo, no caso o setor dos maqueiros, contendo informações especificas do setor,
como: quantidade de profissionais, jornada de trabalho, número de atendimentos,
equipamentos utilizados, normas de trabalho, etc.
Os dados da análise global da maternidade foram obtidos, principalmente, a partir de
uma entrevista com roteiro de ação conversacional (Apêndice A) realizada pela pesquisadora,
com o gestor dos maqueiros, o gestor de classificação de riscos, e gestores do NSP e, também,
por meio do site e de documentos e relatórios oficiais da maternidade.
Já os dados da análise global do setor foram obtidos, a partir da aplicação, via e-mail,
pela pesquisadora, do roteiro de ação conversacional (Apêndice B), com o gestor dos
maqueiros da empresa terceirizada que presta o serviço interno de transporte e movimentação
dos pacientes e com o gestor dos maqueiros da própria MEJC. Tais dados também foram
obtidos por meio de duas entrevistas realizadas pela pesquisadora, utilizando o roteiro de ação
conversacional (Apêndice C). Assim, a primeira entrevista foi realizada, no dia 22 de agosto
de 2018, com os três maqueiros que estavam em trabalho (no momento da entrevista) e o
responsável por atender as chamadas telefônicas referentes às demandas de transporte dos
pacientes e por repassar aos maqueiros para atendimento. A segunda entrevista foi realizada,
no dia 06 de maio de 2019, com o gestor da hotelaria e com o gestor dos maqueiros da
referida empresa terceirizada.
c) Análise da Atividade
- Análise focal da atividade (focalização da análise) e pré-diagnóstico
As fases que antecedem à análise focal da atividade – análise global e instrução da
demanda - permitem formar uma visão genérica da atividade, no entanto, de fora do seu
contexto real, sem respeitar, portanto, uma característica fundamental da AET, que é a de
considerar a atividade como sendo “situada” (VIDAL, 2008).
A focalização da análise caracteriza-se, portanto, pela confrontação das informações
obtidas nas etapas anteriores – distanciadas da situação de trabalho a analisar – com os
conhecimentos empíricos e situados obtidos diretamente nessa situação de trabalho e
86
atividade (GUÉRIN et al., 2001). Para tanto, é necessário se fazer entrevistas com cada um
dos trabalhadores envolvidos, com o grupo e com o gestor direto, observações livres na
situação de trabalho e observação da documentação local (GUÉRIN et al., 2001). A
realização de conversações (VIDAL, 2008) com trabalhadores e gestores também é
recomendada. Procura-se, com isso, confrontar “o que deve ser feito com o que realmente é
feito” (GUÉRIN et al., 2001, p. 134) no contexto da situação de trabalho que foi analisada.
As primeiras investigações durante esta fase procuram conhecer o funcionamento do
processo técnico e a organização do trabalho e a relação com os constrangimentos ou
contrantes (físicos, temporais) impostos, a circulação das informações entre os operadores e
os setores, o resultado do trabalho em termos de qualidade, quantidade e modos de controle e
as modalidades de manutenção de equipamentos etc. As informações daí decorrentes ajudam
no entendimento das variabilidades presentes na atividade de trabalho, das condições de
execução, da distância com relação às normas, das dificuldades enfrentadas pelos
trabalhadores, das características dos trabalhadores, do conhecimento que eles têm da própria
saúde etc. (GUÉRIN et al., 2001).
A focalização consiste na escolha de situações de trabalho a analisar. Estas situações
são escolhidas a partir de critérios em função da problemática em questão e da estrutura da
empresa. Os critérios das escolhas devem levar em consideração as situações em que: as
queixas dos operadores são mais urgentes, as queixas ou as consequências dos problemas são
mais graves, encontra-se a amostra mais ampla dos problemas levantados, ocupam um papel
central no dispositivo e cujo funcionamento tem repercussões a montante e a jusante, que
devem ser objeto de transformações num prazo mais ou menos longo, as características sejam
estáveis durante a ação ergonômica e haja facilitação dos atores sociais para a realização da
ação ergonômica (GUÉRIN et al., 2001).
Assim, “a focalização consiste em identificar os fatores de carga de trabalho e o pré-
diagnóstico significa apontar como se processam as regulações em situação real de trabalho”
(VIDAL, 2008, p. 217).
Para Vidal (2008), a focalização da atividade é feita mediante realização de
observações abertas e conversa-ação na situação de trabalho em questão, e a formulação do
pré-diagnóstico, a partir daí, deve ser empreendida, estabelecendo-se relações causais simples
entre um dado do contexto e um dado das condições de execução naquela situação.
Nesta pesquisa, foram realizadas observações abertas, em que se observou, de maneira
preliminar, dados como: condições gerais dos equipamentos, problemas frequentes, as
divisões das tarefas, as comunicações etc.
87
De maneira complementar, foi aplicado o roteiro de ação conversacional (Apêndice C)
com os maqueiros, bem como questionários com os gestores de transporte e transferência dos
pacientes da MEJC e da empresa terceirizada (Apêndice G), para se identificar o perfil desses
profissionais, bem como conhecer as tarefas previstas para os maqueiros e confrontar com o
que foi observado nas situações de trabalho.
Foram também aplicados questionários (Apêndice F) com os maqueiros, a fim de se
conhecer o perfil desses profissionais, suas tarefas, bem como suas demandas a respeito do
trabalho. Todos os dados obtidos das observações, roteiro de ação conversacional e
questionários foram confrontados com a instrução da demanda e a análise global para, então,
ser formulado o pré-diagnóstico.
Formular o pré-diagnóstico é, portanto, o objetivo da análise focal. O pré-diagnóstico
é de natureza qualitativa e constitui-se de um conjunto de hipóteses explicativas sobre a
atividade de trabalho. Para Guérin et al. (2001, p. 142), o pré-diagnóstico é “um enunciado
provisório de relações entre certas condições de execução do trabalho, características da
atividade e resultados da atividade”.
Assim, o pré-diagnóstico contribui para o planejamento da observação da atividade de
forma sistematizada, conforme prevê a etapa seguinte da AET, análise focada e diagnóstico.
Além de expressar “uma explicação dos problemas levantados, aponta os elementos que
deverão ser levados em conta nas transformações e justifica as investigações que vão ser
realizadas” (GUÉRIN et al., 2001, p. 142), durante a análise focada da atividade e de
formulação do diagnóstico, assunto do próximo tópico.
- Análise focada da atividade e diagnóstico
Esta é a fase da análise da atividade, de natureza qualitativa e quantitativa, que se
desenvolve a partir de observações sistemáticas da atividade e de sua descrição, visando a
objetivos específicos, que resultarão em um diagnóstico ergonômico da atividade.
Vidal (2008) elucida a importância das observações sistemáticas para o diagnóstico,
que requerem a construções de bons observáveis, subdividindo-os em três categorias básicas:
comportamentos de ação, de monitoração e comunicação, e esses, independentemente do tipo
de comportamento a observar, podem ser elementares ou compostos. Ainda para o autor, os
observáveis elementares mais comuns são as posturas, os deslocamentos, a direção do olhar e
as comunicações, sejam elas diálogos, comunicados, ordens ou sinais. Já os observáveis
compostos são as sequências das ações e a aferição do estado dos equipamentos e instalações.
88
O autor ainda define outra categoria, sendo a mais específica a da Análise Ergonômica
do Trabalho (AET), que não pode ser classificada nem como elementar nem como composta,
denominada de verbalizações. As verbalizações podem ser espontâneas (partindo do
operador), provocadas (partindo da provocação do ergonomista, que faz perguntas ou
solicitações de comentários etc.), e autoconfrontadas, em que o operador é chamado para
verbalizar diante da gravação apresentada de sua própria atividade (áudio, vídeo...).
Nesta pesquisa, os observáveis definidos para a análise da atividade foram: as
posturas, as comunicações, as sequências das ações e a aferição do estado dos equipamentos e
instalações, que foram verificados por meio do Plano de Observação Sistemático (Apêndice
D), e as verbalizações, mediante a aplicação do roteiro de ação conversacional (Apêndice C).
O Plano de Observação Sistemático (Apêndice D) desenvolvido consistiu em observar
a atividade dos maqueiros de forma sistematizada considerando, além dos observáveis
definidos anteriormente, as variabilidades, os contrantes e as regulações realizadas pelos
maqueiros, durante o transporte e transferência dos pacientes. Para facilitar os registros das
observações guiadas pelo referido Plano, foi feito o registro audiovisual das atividades (curso
da ação) dos maqueiros, com utilização de câmeras de vídeo e fotográficas, que possibilitou,
depois, se verificar, dentre outros quesitos, os observáveis da atividade e analisar a atividade.
O Roteiro de ação conversacional (Apêndice C) aplicado com os maqueiros consistiu
no registro das verbalizações provocadas e autoconfrontadas sobre os assuntos relativos ao
transporte e transferência do paciente, ocorrência de eventos adversos e segurança do
paciente, visando à formulação do diagnóstico ergonômico. O questionário Nórdico
(PINHEIRO; TRÓCCOLIA; CARVALHO, 2002) foi aplicado com os maqueiros, conforme
Anexo A, para avaliar os distúrbios musculoesqueléticos relacionados com a atividade dos
maqueiros.
O check list denominado de Escala de Avaliação do Risco na Movimentação e
Transferência (RADOVANOVIC; ALEXANDRE, 2002) (Anexo B) foi aplicado com as
pacientes e preenchido pelo pesquisador. Esse instrumento permitiu avaliar os riscos
ergonômicos presentes nos procedimentos de transporte e transferência dos pacientes,
possibilitando, dessa forma, fazer uma estimativa do tipo de assistência requerida pelas
pacientes para os maqueiros.
O referido check-list prevê a coleta de dados referentes à unidade de internação e do
paciente, e contempla nove tópicos, sendo eles: peso, altura, nível de consciência e
psicomotricidade, mobilidade na cama, transferência da cama/maca ou cama/cadeira e vice-
89
versa, deambulação, cateteres e equipamentos utilizados pelo paciente e ambiente. Cada
tópico contém três respectivos conceitos ou valores representados pelos números 1, 2 e 3.
A pontuação conferida a cada paciente pode variar entre 8 e 24 pontos. A faixa
referente ao intervalo entre 8 e 12 pontos significa que há pouco risco ergonômico, durante os
procedimentos de movimentação e transporte, entre 13 e 18 pontos, significa que há médio
risco, ou seja, necessita-se de planejamento, de auxílio da equipe de enfermagem e de
pequenos equipamentos, como pranchas, cintos e tábua de transferência e, entre 19 e 24
pontos, significa que há muito risco, durante os procedimentos, ou seja, necessita-se de um
rigoroso planejamento, de auxílio da equipe de enfermagem e de equipamentos mecânicos,
como, por exemplo, elevadores mecânicos.
Na análise focada da atividade também foram aplicados questionários com os
pacientes (Apêndice E), em que foram abordadas questões a respeito do transporte e da
transferência do paciente na referida maternidade e a relação com a segurança do paciente, e
para verificar a percepção deles sobre a atividade de transporte e transferência de pacientes.
d) Especificações ergonômicas
A descrição e comunicação da AET desenvolvida na MEJC foi caracterizada pelas
especificações ergonômicas, que foram expressas através de um relatório final da AET (RF-
AET), que foi entregue à MEJC para conhecimento – restituição – e validação.
O RF-AET foi restituído aos sujeitos respondentes da pesquisa, e por eles validado.
Esse documento deve apresentar uma descrição sintetizada da AET desenvolvida, com os
objetivos, com a descrição do processo de instrução da demanda, com a modelagem operante
da atividade e com as indicações das transformações que deverão ser realizadas nas situações
de trabalho analisadas (VIDAL, 2008).
Segundo Vidal (2008), o resultado mais concreto da AET é o relatório final, e deve ser
constituído de seis elementos:
• Ficha do relatório: devendo conter o título do projeto, nome completo dos integrantes,
coordenadas da equipe, supervisão (se for o caso), contato e ementa de objetivos;
• Sumário: elenca os títulos e subtítulos, permitindo uma localização mais rápida do que
se procura;
• Preliminares: neste campo deve conter informações sobre o trabalho desenvolvido,
descrever o processo de instrução da demanda, detalhar a ementa de objetivos,
enfatizar a natureza do trabalho;
90
• Resultados: descrever de maneira geral o trabalho, fazer uma caracterização física da
situação de trabalho e dos procedimentos organizacionais e expor a modelagem
operante da atividade analisada (descrever a atividade, a situação e carga de trabalho,
bem como fazer associações dessa carga com os componentes da situação de
trabalho);
• Encaminhamentos: são as indicações de mudanças, que devem ser precisas e objetivas;
• Anexos: deve conter as notas técnicas, os instrumentos usados e os protocolos de
mensuração.
• Um outro elemento que pode ser acrescentado a esta lista são os apêndices,
constituídos de elaborações textuais e gráficos como esquemas, notas explicativas,
questionários utilizados etc., desenvolvidos pelos autores do relatório final.
e) Restituição e validação
Para Terssac (1990) apud Vidal (2008, p. 254) a AET é “um meio de confrontação,
uma vez que ela obriga os atores a discutir a representação do trabalho que ela produz”, o
autor refere-se à validação, o “aspecto técnico e integrador desse processo”, enquanto a
“restituição ao seu sentido deontológico e holístico”. A confrontação propicia a validação e
restituição desta representação.
A etapa de restituição e validação consiste em averiguar, com a população observada,
se os resultados que foram obtidos exprimem a realidade da instituição e do setor em questão.
A validação é o aspecto técnico e integrador deste processo, e a restituição o seu sentido
deontológico e holístico (VIDAL, 2008). Para efeito desta pesquisa, este processo envolveu
os gestores dos maqueiros, os membros do Núcleo de Segurança do Paciente e os próprios
maqueiros (VIDAL, 2008).
A restituição e validação foram realizadas em todas as etapas da AET, da seguinte
forma:
- Instrução da demanda: foram apresentados, aos gestores do NSP e do Setor de
Transporte e Movimentação de Pacientes e aos maqueiros, os problemas identificados na
pesquisa bibliográfica, nas observações in loco e nas conversações com os gestores e
maqueiros. Também foram apresentadas as demandas que foram formuladas por todos, bem
como suas formulações até se formular a demanda ergonômica negociada. Isto foi feito em
reuniões separadas, em que os textos com a lista de problemas e as respectivas demandas
91
foram apresentadas/lidas, discutidas e validadas, por meio de apresentação dos slides
referentes ao processo de instrução da demanda, através do uso de notebook e/ou notebook
com projetor de slides, e/ou de entrega dos respectivos slides em papel impresso. A validação
final da demanda ergonômica negociada foi feita pelos gestores do NSP, considerando as
demandas específicas e as negociações efetivadas durante o processo.
- Análise global: ao longo de sua construção foi apresentada aos gestores do NSP e do
Setor de Transporte e Movimentação de Pacientes, bem como aos maqueiros por meio de
reuniões com slides mostrando os resultados que foram obtidos e os corrigindo, conforme
solicitado por eles.
- Análise da atividade (focal e focada): esta etapa foi restituída e validada por meio de
conversas com os maqueiros após cada coleta, em que foram mostrados a eles trechos de
vídeos, áudios e extratos de fala, para assim serem feitas as respectivas alterações e correções,
bem como com uma apresentação para os gestores dos maqueiros da MEJC e também da
empresa terceirizada.
- Especificações Ergonômicas: após definida as especificações ergonômicas ocorreu
uma reunião que esteve presente 2 maqueiros, bem como os gestores envolvidos na
construção social desta pesquisa, tanto dos maqueiros como do Núcleo de Segurança do
Paciente.
5.6 Tratamento e análise de dados
Todos os dados coletados por meio dos roteiros de ação conversacional (Apêndices A,
B e C), utilizados, principalmente, para a análise global foram organizados de forma
sistemática para realização de uma análise detalhada, assim, para esse tratamento e análise, foi
utilizado um software online de reconhecimento de voz e tradução instantânea de voz da web,
denominado de Speechlogger.
De forma complementar, após essas transcrições e organizações, os dados foram
importados para software ATLAS.ti, responsável por facilitar a análise sistemática de dados
qualitativos, oriundos de discussões feitas com os grupos focais, entrevistas e outros tipos de
dados, incluindo áudio/vídeos.
A tabulação das informações quantitativas obtidas por meio dos questionários (Anexo
A, B e Apêndices E, F), bem como do Plano de Observação Sistemático da atividade
(Apêndice D), foi realizada com o auxílio de planilhas eletrônicas do software MicroSoft
92
Excel® e salvos em formato .txt. Os aspectos qualitativos foram importados para o software
ATLAS.ti.
5.7 Aspectos éticos da pesquisa
Um projeto de pesquisa que envolve seres humanos possui aspectos éticos, sendo
necessário discuti-los para cumprir as determinações éticas previstas na Resolução nº
466/2012, que diz respeito ao aspecto bioético das pesquisas, à garantia da dignidade humana
e à proteção devida aos participantes das pesquisas, procurando estimular o desenvolvimento
e o engajamento ético, inerente ao desenvolvimento científico e tecnológico, respeitando a
dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano.
Entende-se por pesquisa com seres humanos, toda e qualquer pesquisa que envolve o
ser humano, direta ou indiretamente, devendo assegurar, dentro dos seus procedimentos,
confidencialidade, privacidade, proteção de imagem, não estigmatizar, não utilizar
informações que causem algum prejuízo aos indivíduos estudados. Assim, as exigências
éticas fundamentais e científicas devem ser respeitadas (MELO; LIMA, 2004). Algumas
destas encontra-se na Quadro 6.
Quadro 6 – Exigências éticas fundamentais
Fonte: Melo e Lima (2004)
O projeto de pesquisa inicial, que resultou no projeto de qualificação de mestrado e
nesta dissertação, foi submetido ao Comitê de Ética da Plataforma Brasil, no dia 08/04/2019 e
foi aprovado no dia 03/05/2019, recebendo o Certificado de Apresentação para Apreciação
Ética (CAAE) sob o número 08910118.0.0000.5292. Para tanto, alguns documentos foram
93
exigidos, como, por exemplo, o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)
(Apêndice H), que exprime que a vontade e decisão do voluntário em participar da pesquisa
deverá ser respeitada, o Termo de Autorização para Uso de Imagens, incluindo Fotos e
Vídeos (Apêndice I), bem como o Termo de Compromisso do Pesquisador para com a
Pesquisa (Apêndice J).
Os riscos associados à realização desta pesquisa são considerados mínimos, sendo
eles, o de causar constrangimentos aos profissionais maqueiros, aos pacientes e aos
acompanhantes, durante a realização das entrevistas ou na aplicação dos questionários, bem
como acontecer algum desconforto, ansiedade e/ou estresse devido à temática abordada.
Diante de sua ocorrência, o pesquisador assume a responsabilidade de dar assistência integral
às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos, bem como, também, ao
ressarcimento e/ou indenizações, caso comprovado sua necessidade. Durante as entrevistas
e/ou questionários, o participante pode pausar a qualquer momento, bem como estar livre para
desistir de participar da presente pesquisa.
Quanto aos benefícios desse estudo, pode-se incluir o aumento do atual contexto de
conhecimento a respeito do trabalho dos maqueiros e sua relação com a segurança do
paciente, o que pode auxiliar na melhoria dos serviços prestados aos pacientes e na melhoria
da saúde e segurança do profissional, uma vez que o número de pesquisas desse tipo é escasso
no mundo, e na maternidade em questão nunca houve um estudo com tais profissionais,
principalmente, envolvendo os pacientes e acompanhantes no processo de pesquisa.
94
6 CARACTERIZAÇÃO DA MATERNIDADE
Este capítulo expõe a análise global da Maternidade Escola Januário Cicco, bem como
os dados específicos coletados do setor estudado (maqueiros). Para a realização da análise
global, foram realizadas observações in loco e entrevistas semiestruturadas e conversações
(VIDAL, 2008) com os gestores do hospital responsáveis pelo Núcleo de Segurança do
Paciente-NSP e pelo setor da atividade dos maqueiros, respectivamente.
6.1 Análise global da maternidade
6.1.1 Histórico da Maternidade-escola
A MEJC teve sua construção iniciada no ano de 1932 e terminada no início da década
de 1940. Mas, somente em 1950, houve, de fato, a inauguração da Maternidade de Natal, pois
esse prédio foi cedido, entre os anos de 1941 e 1947, para o Ministério da Guerra, por meio de
acordo com a Sociedade de Assistência Hospitalar, ficando bastante deteriorado, sendo
necessários três anos de trabalhos de recuperação do edifício.
Segundo Trindade (2015), na sua fundação em 1950, a maternidade possuía 130 leitos,
com o que havia de mais moderno em termos de equipamentos hospitalares à época.
6.1.2 Estrutura da Maternidade-escola
A MEJC possui uma edificação em estilo eclético neocolonial, predominantemente,
que dispõe de uma estrutura composta por 141 leitos, sendo 26 leitos de Unidade de Terapia
Intensiva, 16 leitos cirúrgicos de ginecologia e 72 leitos de obstetrícia clínica e cirúrgica; 22
consultórios ambulatoriais; 01 Anfiteatro e 01 Centro de Estudos, distribuídos em uma área
total equivalente a 7.787 m².
6.1.3 População de trabalhadores da maternidade-escola
Segundo a Ebserh (2019), a MEJC é um Hospital de referência em gestação de alto
risco, possuindo um quadro de profissionais de excelência na área assistencial, que
compreende técnicos, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, psicólogos,
95
farmacêuticos, biomédicos, assistentes sociais, nutricionistas, fonoaudiólogos, biólogos e
fisioterapeutas, assim como profissionais administrativos de apoio à gestão.
6.1.4 Serviços oferecidos na Maternidade-escola
A MEJC é um complexo hospitalar especializado, de natureza pública, que oferece
atendimento integral ao público usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, com
atuação nas áreas de saúde da mulher, alto risco gestacional e cirurgia ginecológica. Também,
na MEJC, são realizadas atividades de ensino (formação de alunos do curso de graduação em
medicina) e de pesquisa (Programas de Pós-Graduação, Residência Médica e Mestrado).
Em 2013, a MEJC passou a ser gerida pela Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (EBSERH), com a missão de garantir e ampliar a assistência à saúde, seguindo
os princípios fundamentais do SUS, e de contribuir com a formação de profissionais de saúde,
dentro do que está proposto no Plano de Reestruturação dos Hospitais Universitários
(REHUF) (EBSERH, 2019). A missão de formar profissionais de saúde resultou na criação da
Gerência de Ensino e Pesquisa da MEJC e na formalização de um contrato entre a UFRN e
EBSERH.
Esse contrato estabeleceu obrigações e responsabilidades, que consistiam em
preservar e ampliar os espaços e serviços necessários para o processo de ensino e
aprendizagem destinados à formação do profissional dos cursos oferecidos pela UFRN,
incentivar a produção de conhecimento científico e tecnológico no âmbito dos hospitais, bem
como criar um fundo para o incentivo à pesquisa e à extensão, cujo percentual é definido
anualmente pela Diretoria Executiva da EBSERH. Estabelecia, ainda, preservando as
necessidades para o ensino, a pesquisa e a extensão de interesse da UFRN, a característica de
manter seu perfil de Hospital Universitário, atendendo as necessidades da rede de saúde e das
políticas prioritárias do Ministério da Saúde (EBSERH, 2019).
A MEJC disponibiliza, também, ambulatórios de gestação de alto risco, planejamento
familiar, perinatologia, medicina fetal, ginecologia geral e especializada e prevenção das
doenças do trato genital inferior, além dos ambulatórios multiprofissionais (psicólogo,
enfermeiro, assistente social, nutricionista) e do Centro de Reprodução Assistida (pioneira na
introdução do método de reprodução assistida no serviço público do norte e nordeste
brasileiro), único nas regiões norte e nordeste com serviço 100% prestado pelo SUS. A
Maternidade ainda possui serviço de urgência e emergência durante 24 horas, constituído de
um Centro Obstétrico, uma UTI Neonatal, uma UTI Materna, um Banco de Leite Humano,
96
uma sala de Mamografia, uma sala de Ultrassonografia, bem como, Laboratórios de Análises
Clínicas, de Microbiologia e de Citopatologia.
A Maternidade-escola possui também enfermarias de alojamento conjunto, onde mãe e
bebê já saem juntos do centro obstétrico, quando não há necessidade de UTI neonatal. Existe
na Maternidade o programa Mãe-Canguru, em que se identificam bebês de baixo peso, que
não necessitam de incubadora e sim do calor materno, sendo esse um importante programa
que conforma a política de humanização de assistência ao recém-nascido prematuro e de
baixo peso. Além de possuir um Núcleo de Segurança do Paciente-NSP, que foi caracterizado
no subtópico 6.1.5.
Segundo seus relatórios técnicos, de 2010 a 2014, foram realizados mais de vinte mil
partos na MEJC, dos quais mais de 60% foram do tipo cesárea. Neste mesmo período, de
2010 a 2014, foram registrados mais de 120 acidentes de trabalho. Em 2016, o Núcleo de
Segurança do Paciente-NSP passou a registrar a quantidade de partos de alto risco. Nesse ano,
foram realizados mais de 3.800 partos na MEJC, sendo 63% do tipo cesárea e 37% do tipo
normal. Desses 3.800 partos, 91% foram considerados de alto risco e 9% de risco habitual.
No relatório técnico, referente ao ano de 2018, consta um total de 6764 internações,
incluindo as cirurgias ginecológicas, parto cesárea de alto risco, tratamentos clínicos, entre
outros, com um total de 1.244 cirurgias realizadas e mais de 2100 tratamentos clínicos,
internando, assim, em média, 560 pacientes por mês.
6.1.5 Núcleo de Segurança do Paciente
6.1.5.1 Histórico e finalidades
O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), constituído por meio da
portaria GM/MS nº 529, de 1° de abril de 2013, tem como principal objetivo contribuir para a
qualificação do cuidado, em todos os estabelecimentos de saúde em território nacional, e
propõe uma série de estratégias para implementação da cultura de segurança do paciente,
nesses estabelecimentos (BRASIL, 2013).
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), nº. 36, de 25 de julho de 2013,
estabeleceu a obrigatoriedade de implantação dos Núcleos de Segurança do Paciente (NSPs)
em serviços de saúde do país, sejam eles públicos, privados, filantrópicos, civis ou militares,
incluindo aqueles que exercem ações de ensino e pesquisa (BRASIL, 2013).
97
Em 2014, implantou o NSP da MEJC, que tem como finalidade a promoção de uma
cultura de segurança do paciente no ambiente hospitalar, com o planejamento,
desenvolvimento, controle e avaliação de processos assistenciais, com o intuito de garantir a
qualidade desses processos. Os membros desse núcleo devem representar diferentes setores
do hospital, além de contar com a participação de pacientes, família e/ou cuidadores sempre
que possível (EBSERH, 2019). Atualmente, o núcleo conta com a chefe do setor de vigilância
em saúde e segurança do paciente (setor de qualidade), chefe da unidade de riscos
assistenciais e chefe da unidade de vigilância em saúde.
6.1.5.2 Princípios e competências
A partir do que estabelece a RDC nº 36/2013, o NSP da Maternidade Escola Januário
Cicco definiu sete princípios e dezenove competências do NSP, expostos no Quadro 7.
Quadro 7 – Princípios e principais competências do NSP da MEJC
PRINCÍPIOS COMPETÊNCIAS
1. A garantia da proteção à honra e à imagem dos
pacientes, profissionais, fabricantes de produtos e
notificadores envolvidos em incidentes em saúde.
1. Promover mecanismos para identificar e avaliar a
existência de não conformidades nos processos
realizados e na utilização de equipamentos,
medicamentos e insumos, propondo ações
preventivas e corretivas.
2. A garantia da independência e imparcialidade de
seus membros na apuração dos fatos.
2. Promover ações para a gestão de risco no âmbito
da instituição.
3. A melhoria contínua dos processos de cuidado e do
uso de tecnologias da saúde.
3. Analisar e avaliar as notificações sobre incidentes
e queixas técnicas selecionadas pelo setor de
vigilância em saúde e segurança do paciente.
4. A disseminação sistemática da cultura de
segurança do paciente.
4. Desenvolver ações para a integração e a
articulação multiprofissional no âmbito da
instituição.
5. A articulação e a integração dos processos de
gestão de risco.
5. Promover e acompanhar ações de melhoria de
qualidade alinhadas com a segurança do paciente.
6. A garantia das boas práticas de funcionamento do
serviço de saúde.
6. Estabelecer, avaliar e monitorar barreiras para
prevenção de incidentes nos serviços de saúde.
7. A promoção da gestão do conhecimento sobre a
segurança do paciente.
7. Elaborar, divulgar e manter atualizado o plano de
segurança do paciente.
8. Elaborar propostas de metas e indicadores para
inserção nos processos de contratualização.
9. Acompanhar os processos de notificação ao
sistema nacional de vigilância sanitária os eventos
adversos decorrentes da prestação do serviço de
saúde
10. Elaborar plano de pesquisa sobre segurança do
paciente para desenvolvimento da instituição, em
parceria com a gerência de ensino e pesquisa ou
equivalente.
Avaliar e monitorar as ações vinculadas ao plano de
segurança do paciente.
Priorizar a implantação dos protocolos de segurança
98
do paciente determinados pelo ministério da saúde,
ANVISA, EBSERH e realizar monitoramento dos
respectivos indicadores.
Compartilhar e divulgar à direção e aos profissionais
os resultados da análise e avaliação dos dados sobre
incidentes e eventos adversos decorrentes da
prestação de serviço em saúde.
Acompanhar o processo de notificação ao SNVS dos
eventos adversos.
Acompanhar os alertas sanitários e outras
comunicações de risco divulgadas pelas autoridades
sanitárias.
Participar de eventos e demais ações promovidas pela
EBSERH.
Apoiar a sede da EBSERH no desenvolvimento de
estratégias de segurança do paciente para a rede da
empresa.
Desenvolver, implantar, avaliar, monitorar e manter
atualizado o plano de capacitação em segurança do
paciente.
Desenvolver, implantar, avaliar, monitorar e manter
atualizado o plano de comunicação social em saúde
quanto aos temas referentes a segurança do paciente.
Fonte: EBSERH (2018)
Por meio do Quadro 7, pode-se observar que esse Núcleo tem como finalidade a
promoção de uma cultura de segurança do paciente no ambiente hospitalar, com o
planejamento, desenvolvimento, controle e avaliação de processos assistenciais, com o intuito
de garantir a qualidade desses serviços. Os membros deste Núcleo devem representar
diferentes setores do hospital, além de contar com a participação de pacientes, família e/ou
cuidadores sempre que possível (EBSERH, 2018).
Este NSP deve ter reuniões, no mínimo, mensalmente, devendo ter lista de presença
assinada pelos participantes e deve ser elaborada uma ata de cada reunião. Anualmente, um
relatório de atividades deve ser publicado para o conhecimento de todos os funcionários da
MEJC, após ser aprovado pela Superintendência (EBSERH, 2018). Tudo isso vem sendo
cumprido devidamente pelo NSP da MEJC, todas as reuniões têm atas com assinaturas dos
participantes e acontecem as quartas-feiras de 15 em 15 dias.
6.1.5.3 Série histórica do registro de EA’s
As notificações de eventos adversos são realizados através do software de gestão de
riscos VIGIHOSP próprio da rede EBSERH, a notificação pode ser feita por qualquer
profissional da rede, não sendo necessário identificar-se para fazer a notificação, no entanto,
essa forma de notificação não é disponibilizada para pacientes e/ou acompanhantes, que, caso
99
queiram relatar a ocorrência de um evento adverso, devem direcionar-se à ouvidoria da
MEJC.
Após a análise e classificação dos eventos adversos relatados no VIGIHOSP, os dados
são repassados ao módulo de Assistência à Saúde do Sistema de Notificações em Vigilância
Sanitária (módulo assistência à saúde ou NOTIVISA 2.0). Essa etapa apenas o gerente de
riscos assistenciais ou profissionais cadastrados do núcleo de segurança do paciente podem
realizar. A classificação dos eventos adversos na referida maternidade ocorre, apenas, quanto
ao grupo de notificações (doenças e agravos de notificações compulsórias, artigo médico-
hospitalar, perda de cateter, erro médico, quedas, identificação de paciente, erro de
medicação, lesões de pele, outros e etc.) e ano que ocorreu o evento adverso, não sendo
possível classificá-los por setor de ocorrência.
No ano de 2019, a identificação de paciente, doenças e agravos de notificações
compulsórias e flebites (traumatismos ou contaminações bacterianas devido a injeções
intravenosas de medicamentos ou de drogas) ficaram como os três grupos com mais
notificações, é válido ressaltar que a identificação do paciente está sempre entre as mais
notificadas, desde 2015, esses dados, porém, são referentes aos incidentes ocorridos, logo nem
todos chegaram a resultar, de fato, em danos aos pacientes (EBSERH, 2019).
A partir da implantação do NSP, em 2014, observou-se um aumento do número de
notificações de eventos adversos entre 2014 e 2017, com decréscimo entre 2017 e 2018, como
mostra a Figura 9, a seguir.
Figura 9 – Série histórica de notificações de EA’s
Fonte: EBSERH (2018)
100
Por meio da Figura 9, como supracitado, observa-se um aumento significativo no
número de notificações de EA’s na MEJC, mas tal fato não significa um aumento no número
de ocorrência de EA’s, mas sim que estão sendo notificadas e registradas pelo NSP, além
disso, observa-se um decréscimo em 2018 com relação a 2017. Tais observações podem
indicar a passagem de um sistema de gestão tradicional para um sistema de gestão que faz o
uso consciente dos dados, reconhece o potencial para replicação de eventos adversos e
reconhece que as lições aprendidas podem ser relevantes para outros, o que entra em
consonância com nova abordagem dos sistemas de gestão mostrada anteriormente na Tabela
1.
6.2 Análise global do setor dos maqueiros
Os dados da análise global do setor dos maqueiros foram obtidos a partir do contato
via e-mail, com o gestor dos maqueiros da empresa terceirizada, que presta serviço para a
MEJC, e por meio de uma entrevista, utilizando-se um roteiro semiestruturado, realizada pela
pesquisadora com três maqueiros e o responsável pelo atendimento das chamadas de
solicitação de serviços de transporte de pacientes e pelo repasse destas chamadas para aos
maqueiros.
6.2.1 Organograma
Os maqueiros, que são responsáveis pela atividade de transporte de paciente, estão
alocados na Unidade de Hotelaria, vinculada à Divisão de Logística e Infraestrutura
Hospitalar da Maternidade de acordo com a Figura 10, do organograma da empresa.
101
Figura 10 – Organograma da MEJC
Fonte: EBSERH (2018)
Por meio da Figura 10, observa-se que o organograma está dividido em quatro níveis
hierárquicos, no primeiro encontra-se a gerência administrativa, no segundo tem-se a divisão
administrativa financeira e a divisão logística de infraestrutura hospitalar, no terceiro, o setor
de orçamentos, finanças e contabilidade, o setor de administração e o setor de gestão de
pessoas, no quarto, encontram-se as unidades dos setores, e abaixo os maqueiros que
pertencem à unidade de hotelaria, geridos pela divisão de logística e infraestrutura hospitalar.
6.2.2 Caracterização dos maqueiros
Ao todo, são dez maqueiros que trabalham na maternidade. Os maqueiros são
terceirizados. Em 2016, houve a troca da empresa que terceiriza este setor, contudo 80% dos
maqueiros permaneceram. No entanto, 1 dos 10 maqueiros não é exclusivo da MEJC, sendo
escalado para diversos hospitais, quando há demanda ou falta de algum profissional, mas
costuma ser mais demandado para própria MEJC. Nove deles se intercalam em regime de
plantão de 12 horas, folgando 36 horas, e um em regime de 44 horas semanais (horário
administrativo: das 07h às 17h de segunda a sexta), ficando presente três ou quatro durante o
turno do dia e, sempre, dois no turno da noite. O turno do dia, para os maqueiros que
trabalham em regime de plantão de 12 horas, inicia às 7h e termina às 19h, enquanto o turno
da noite inicia às 19h e termina às 7h. Todos eles têm intervalos de 1 hora para almoço e duas
pausas de 15 minutos, mas foi relatado que as pausas são feitas, quando não há chamado.
102
6.2.2.1 Dados sócio demográficos
• Idade: 50% dos maqueiros têm entre 30 –| 40 anos e 50% possuem mais de 40 anos;
• Sexo: 100% são do sexo masculino;
• Nível de escolaridade: 90% dos maqueiros possuem nível médio completo e 10%
fundamental completo;
• Salário da profissão: 100% recebem 1 salário-mínimo mensal, adicional de
insalubridade mensal e 13º salário;
• Férias: os maqueiros gozam de 30 dias de férias anuais;
• Tempo de serviço na função: 60% têm acima de 9 anos; 10%, 7 anos; 20% têm 5 anos
e, apenas, 10%, 1 ano de serviço na função;
• Tempo de serviço na empresa (terceirizada): 80% com 3 anos, e 20 % com 1 ano ou
menos.
• Tempo de serviço na MEJC: 40% dos maqueiros têm acima de 19 anos, 40% entre 5 e
7 anos e 20% tem menos de 1 ano;
• Trabalhadores primários e terceirizados: 100% dos maqueiros são trabalhadores
terceirizados.
6.2.2.2 Organização do Trabalho
• Jornada semanal de trabalho: 9 dos maqueiros trabalham em regime de plantão, de
12h/36h, ou seja, trabalham 12h e folgam 36h, e 1 deles trabalha em jornada de 44h
semanais de segunda à sexta, de 07h às 17h;
• Turno de trabalho: 40% realizam trabalho noturno (19h – 7h) e 60% realizam
trabalhos diurno (7h – 19h);
• Pausa de 1h para almoço e duas pausas de 15 minutos;
• Trabalham na folga: dos 9 que trabalham em regime de plantão, 67% trabalham nas
36h de folga em trabalhos extras que variam entre lava jato, atleta de futebol, carrinho
de venda, conserto de móveis e serviços gerais e 33% trabalham exclusivamente como
maqueiros.
103
6.2.3 Instalações e equipamentos do Setor dos Maqueiros
Há uma sala administrativa (ver Anexo C) que não é exclusiva para os maqueiros, e é,
também, utilizada por outros profissionais, como por exemplo, os de serviço gerais e um
auxiliar administrativo. Os maqueiros em serviço compartilham essa sala com um profissional
que dispõe de um computador (auxiliar administrativo), através do qual são recebidas, via
telefone, as chamadas de solicitação de transporte, que são repassadas por ele aos maqueiros.
Nesta sala, os maqueiros aguardam os chamados vindo dos vários setores da MEJC para o
transporte de pacientes, nela também realizam seus intervalos e descansos. A MEJC conta
com 16 macas, 9 cadeiras de rodas, 1 cadeira para banho e 1 incubadora transporte.
6.2.4 Fluxo do processo de chamada e do transporte de pacientes
Há um responsável por receber as chamadas (auxiliar administrativo), via telefone, e
repassar aos maqueiros, via rádio (para os maqueiros que não se encontram na sala) ou
pessoalmente (para os maqueiros que se encontram na sala), as demandas de transporte de
pacientes, conforme ilustra o fluxograma da Figura 11. O auxiliar administrativo é também
responsável por controlar as tarefas dos maqueiros, a partir do preenchimento de uma planilha
de controle de chamadas, que contém o nome do maqueiro, o tipo de transporte que
necessitou, o setor de início do transporte do paciente, o setor de destino do paciente, o
horário de saída e de chegada à sala administrativa dos maqueiros, tal planilha foi usada até,
aproximadamente, março de 2019. Atualmente, esse controle é feito por meio do software de
chamados GLPI (Gestionnaire Libre de Parc Informatique), no entanto, esse registro só
ocorre no período diurno. Até março de 2019, em todas as sextas-feiras, o gestor da hotelaria,
responsável pelo gerenciamento das atividades dos maqueiros na MEJC, salvava esta planilha
e a enviava para a empresa terceirizada. Atualmente, isso se dá em tempo real, de acordo com
o preenchimento dos dados mencionados anteriormente no software GLPI.
104
Figura 11 – Fluxograma do chamado dos maqueiros
Fonte: Autora (2020)
Os chamados telefônicos, solicitando, aos maqueiros, o transporte dos pacientes,
devem ser realizados por enfermeiros, que devem identificar-se, informando seu nome ao
maqueiro, o ramal de onde está, o local de origem e o de destino do paciente, o tipo de
transporte que necessita e se precisa de oxigênio durante o transporte, a fim de que seja
preenchida corretamente a planilha citada anteriormente e de tornar o processo mais ágil. No
entanto, durante a entrevista com os maqueiros, foi relatado que esse protocolo não é seguido
corretamente pelos enfermeiros.
De acordo com os maqueiros e com o chefe dos maqueiros, o transporte dos pacientes
obedece às etapas mostradas no fluxograma da Figura 12.
105
Figura 12 – Fluxograma do transporte de pacientes realizado pelos maqueiros
Fonte: Autora (2020)
Como pode ser visto na Figura 12, o processo inicia-se como o recebimento dos dados
do atendimento, seguido da colocação dos EPI’S. Logo após, os maqueiros pegam o
equipamento necessário para o transporte, vão ao local, procuram a enfermeira que solicitou o
transporte para, por fim, pegar a paciente e entregá-la ao lugar de destino.
6.2.5 Trabalho prescrito dos maqueiros
O trabalho prescrito para os maqueiros consiste em: encaminhar pacientes para áreas
solicitadas; receber, conferir e transportar exames, materiais ou equipamentos, como
oxigênio, prontuário, entre outros; controlar material esterilizado; manter equipamentos
limpos e organizados, como macas e cadeiras; providenciar macas e cadeiras de rodas para
transporte dos pacientes; socorrer as vítimas e relatar, quanto ao atendimento e conclusão de
chamadas para efeito de controle. Durante o período de coleta de dados, observou-se que tais
tarefas realmente são realizadas pelos maqueiros, no entanto, no trabalho real, houve uma
observação em que transporte de pacientes ocorreu externo a MEJC, onde o maqueiro foi
acompanhando a paciente na ambulância, o que não consta no trabalho prescrito.
106
6.2.6 Aspectos relativos à Saúde e Segurança do Trabalho
De acordo com a empresa responsável pelos maqueiros da MEJC, esses profissionais
estão submetidos a riscos ocupacionais, como, por exemplo, riscos devido a agentes físicos
(ruído, vibrações, temperaturas extremas), químicos (poeiras, gases, vapores, absorvidos pelo
organismo humano por via respiratória, através da pele), biológicos (bactérias, fungos,
bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros), ergonômicos (trabalho em pé, manuseio
dos pacientes etc.) e de acidentes de trabalho, como mostra a Figura 13.
Figura 13 – Riscos ambientais e ocupacionais para os maqueiros
Fonte: Empresa terceirizada (2019)
Durante o ano de 2018, houve dois afastamentos pelo Instituto Nacional do Seguro
Social-INSS, contudo, não há detalhamento sobre os motivos desses afastamentos.
Anualmente, são realizados treinamentos com esses profissionais sobre saúde e
segurança do trabalho. Em dezembro de 2018, ocorreram treinamentos abordando os
seguintes assuntos: acidente de trabalho; Norma Regulamentadora 32; princípios básicos em
prevenção e combate a incêndio e a Norma Regulamentadora 17 (Ergonomia). No entanto,
esses treinamentos não são específicos para a função maqueiros, pois contemplam, também,
motoristas e profissionais do setor da lavanderia.
Nos últimos dois anos (2017-2018), os principais tipos de acidentes de trabalho na
MEJC foram os acidentes com material biológico (58%), seguido de quedas (16%). Para
minimizar a ocorrência de acidentes do trabalho, a MEJC, através do NSP do paciente,
realiza, além dos cursos mencionados anteriormente, atividades educativas e de mobilização,
tais como exposições dialogadas, bate-papos, campanhas informativas, aplicação de
questionários junto aos colaboradores para identificar a ocorrência de violência ou de
situações de riscos e prevenção de quedas (EBSERH, 2019).
107
6.2.7 Atendimentos prestados pelos maqueiros
Até junho de 2019, o setor de maqueiros teve, em média, 14.000 chamados
registrados, ou seja, apenas no turno diurno, em que 63% foram para manuseio, transporte
e/ou transferência de pacientes, e 37% transporte de materiais e/ou equipamentos, como
exames e oxigênio. Dentre os cinco setores que mais solicitaram chamados, até junho de
2019, estão em primeiro lugar o setor de alto risco (13%), em segundo a unidade A (9,2%),
em terceiro o setor da ultrassonografia (7,7%), em quarto a unidade B2 (6,5%), e em quinto a
UTI materna (6,4%).
108
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este capítulo explana os resultados alcançados na execução dos procedimentos
metodológicos apresentados anteriormente.
7.1 Segurança do Paciente
Quando os maqueiros da MEJC foram questionados sobre o que entendem por
segurança do paciente, 80% dos 10 maqueiros responderam que segurança do paciente refere-
se a transportar com cuidado, atenção e/ou calma, 40% responderam que é dar segurança ao
paciente, fazendo a conferência dos equipamentos, 30% disseram que é fazer o transporte
acompanhado de técnicos, enfermeiros e/ou médicos, 30% responderam que é detectar a
enfermidade do paciente e saber se é de urgência ou não, 20% disseram que é ter cuidado com
o bebê e, apenas 10%, citaram que é usar EPI’S.
Como pode ser visto, o entendimento sobre segurança do paciente, para eles,
compreende, principalmente, em transportar com cuidado, atenção e/ou calma os pacientes.
Vejamos alguns relatos dos maqueiros com relação ao que entendem por segurança do
paciente:
TRECHO 1 - “O paciente sentir confiança na gente e, também, assim né, nos
equipamentos utilizados, mas, muitas vezes, os equipamentos não tão muito bom” (Maqueiro
F. M. S.).
TRECHO 2 - “Tem que ter cuidado ao transportar o paciente, né?! Dar atenção, ter
cuidado com o bebê também” (Maqueiro E.J.C.A)
TRECHO 3 - “Transportar elas com calma, fazer a transferência do leito com atenção,
conferir os equipamentos, pois tem macas com trilho que tem que tá encaixado, se não o
paciente cai” (Maqueiro D. S. S.).
TRECHO 4 - “É quando transportar o paciente, dependendo da gravidade, tomar
cuidado, sempre acompanhado da enfermeira, médico. E tomar cuidado com a gente também
né, para não pegar em sangue, porque a gente não sabe o que ela tem, tem que usar as luvas
né” (Maqueiro C. R. A. P.).
Com o primeiro trecho pode se observar uma visão mais peculiar sobre a segurança do
paciente, tratando de um aspecto mais abstrato que é a confiança que o paciente deve ter nos
maqueiros, mas também mostrou entendimento sobre a segurança do paciente em um
contexto mais técnico ao falar da importância dos equipamentos. O segundo trecho restringiu-
109
se à importância do cuidado e da atenção dos maqueiros no transporte. Enquanto o terceiro,
também citou o cuidado e a atenção, mas acrescentou o aspecto técnico dos equipamentos,
que também foi citado no primeiro trecho. Já no quarto trecho tem-se como diferencial dos
demais trechos o fato de falar sobre o contexto do transporte, se de urgência ou não e,
também, sobre o cuidado com a sua própria saúde, ao citar o uso das luvas para não se ter
contato com sangue.
Assim, na maioria dos trechos da fala dos maqueiros, pode-se observar que a maioria
considera a segurança do paciente como, principalmente, ter cuidado e atenção no transporte e
transferência de pacientes. O Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, entende a
segurança do paciente como tudo aquilo que é estudado e aplicado na prática para que os
riscos de danos desnecessários diminuam até um nível aceitável, ou até mesmo que haja
eliminação desses riscos (IBSP, 2015), o que se relaciona com as questões citadas
anteriormente pelos maqueiros.
Quanto aos pacientes e/ou acompanhantes, muitos relataram que a segurança do
paciente tinha relação com os cuidados que os médicos e enfermeiros deveriam ter com as
pacientes, citaram tratamento desrespeitoso, erros de medicação e falta de condições
adequadas como exemplos.
7.2 Incidentes e acidentes
Quando os maqueiros da MEJC foram questionados se já haviam vivenciado,
testemunhado ou se envolvido em algum incidente e/ou acidente, durante o transporte de
pacientes, 60% dos 10 maqueiros disseram que nunca vivenciaram, testemunharam ou se
envolveram em algum incidente e/ou acidente, durante o transporte de pacientes, e 40%
responderam que sim. As falas dos maqueiros, a seguir, ilustram os tipos de incidentes ou
acidentes vivenciados:
” Uma vez o elevador estava quebrado, aí o maqueiro que ia levar ela teve que ir
subindo pela escada, não tomou muito cuidado, também estava fraca e a paciente caiu.”
(Maqueiro I. D. T. O.).
“Ah rapaz teve uma vez que passei a maca por cima do pé da técnica de enfermagem
que acompanhava, mas foi sem querer, não dava pra eu ver. Ela até pegou afastamento
(Maqueiro E. J.C.A.).
110
“Um dia uma paciente desmaiou durante a transferência na unidade B, pois não tem
elevador e a plataforma não tava funcionando no dia e ela teve que subir de escada recém-
parida.” (Maqueiro D. N. S.).
“Assim né, aqui já ocorreram alguns desmaios e quedas de pacientes, mas nada muito
grave não, pode acontecer” (Maqueiro F. M. S.).
A partir desses relatos, observa-se a predominância nesta ME de incidentes como
desmaios e quedas cotidianas. Tal fato pode ser relacionado com a condição de saúde das
pacientes e com o esforço físico exigido das mesmas, por conta de problemas com layout e da
falta de elevadores, em certos locais.
Alguns pacientes e acompanhantes atribuíram a ocorrência de incidentes e/ou
acidentes devido às péssimas condições de internação, citando exemplo de macas ruins que
que poderiam auxiliar para ocorrência de um incidente e/ou acidentes, verificou-se que as
pacientes e acompanhantes que relataram esse problema estavam alojadas em macas nos
corredores.
7.3 Treinamento
Sobre já ter passado por algum tipo de treinamento específico para exercer sua função,
10% responderam que nunca receberam nenhum treinamento e 90% disseram que já
receberam treinamento. 30% dos maqueiros que receberam treinamento, tiveram apenas 1
treinamento; 40% tiveram 2 treinamentos, 20% tiveram 4 treinamentos e apenas 10% tiveram
mais de 15 treinamento. 80% dos maqueiros responderam que os treinamentos duraram, em
média, de 2 a 4 horas, e 20% responderam que duraram 8h, abordando tópicos sobre
manuseio seguro do paciente (100%), forma correta de transferência (100%), postura (100%),
humanização no ambiente hospitalar (10%), importância do uso EPI’S (40%), manuseio e
operação dos equipamentos (freios das macas, etc.). Embora haja alguma relação entre alguns
desses treinamentos com a segurança do paciente, nenhum deles tinha esse enfoque
específico. Segundo o gestor da empresa terceirizada, esses treinamentos têm por objetivo
melhorar o desempenho dos maqueiros e diminuir os riscos ergonômicos, para eles, durante a
realização de sua função, tanto em relação à forma como devem manusear os pacientes,
incluindo o modo de transferências de paciente entre macas, como em relação à parte técnica
de operação das cadeiras de rodas e macas. Todos os maqueiros já estão há mais de 1 ano e
meio sem receber treinamento.
111
Para ser maqueiro na MEJC, não é necessário nenhum curso específico ou formação
na área, no entanto, foi relatado que eles, logo que são contratados, recebem um treinamento
básico para exercer a função, como foi o caso de um dos maqueiros da MEJC, que estava
exercendo a função há apenas 1 ano e só tinha recebido esse treinamento, em que relatou que
abordava os temas de manuseio seguro de paciente, postura, forma correta de transferência e
manuseio e operação dos equipamentos (freios da macas, etc.).
No entanto, Sousa et al. (2018) identificaram, em seus resultados, que, apenas, 60%
dos trabalhadores relataram participação em cursos de capacitação, e constatou diversos tipos
de incidentes ocorridos durante o transporte intra-hospitalar, que colocavam esses
profissionais em situação de vulnerabilidade e em conflito com as diretrizes do hospital,
sendo, portanto, essencial a capacitação desses trabalhadores. E Oliveira (2014) corroborou,
relatando a necessidade que se faça a implementação de treinamentos em transporte e
movimentação de cargas, técnicas corretas de movimentação de pacientes, aquisição por parte
dos empregadores de materiais adequados para o exercício da profissão, programas
ergonômicos nos locais de trabalho e também cursos de reciclagem para os funcionários,
visando à promoção da saúde e ao bem-estar dos maqueiros, nas situações de trabalho.
7.4 Pontos positivos e negativos da função de maqueiro
Como pontos positivos em relação a sua função, 80% dos maqueiros relataram a boa
relação com a equipe e gestores, 30%, os bons equipamentos e macas novas, 10% o fato de
ser uma função essencial, pois tem o primeiro contato com o paciente, e 10% relataram o
prazer pela função.
A seguir, podem ser observados alguns dos relatos feitos por eles:
- “Eu acho que um ponto positivo é gostar do que faz né, se eu não gostasse não
trabalhava há mais de 30 anos com isso, é bom ajudar os outros, a gente tem que entender os
pacientes, porque cada um tem seus problemas, e a gente não sabe o eles estão passando, tem
que respeitar” (H.S.S).
- “Os maqueiros é o primeiro que recebe os pacientes, então a gente é, digamos assim,
a entrada deles né, é uma função essencial, e a equipe também, somos amigos” (C.R.A.P).
Quanto aos pontos negativos, 70% dos maqueiros se referiram à falta de rampa ou
elevador para unidade B2 e ao fato de a plataforma de transporte para Unidade B2 da MEJC
estar inoperante em agosto de 2019. 40% dos maqueiros destacaram o baixo salário como um
dos pontos negativos da própria função; 40% apontaram a falta de disponibilização de
112
aparelho de rádio de comunicação, para uso entre eles e algumas enfermarias, como sendo
um dos pontos negativos, especificamente no turno da noite, uma vez que não há funcionário
(auxiliar administrativo) disponível com a responsabilidade de receber os chamados por
telefone referentes às demandas de transportes de pacientes na sala em que fica o setor e
repassar aos maqueiros, 30% apontam como ponto negativo a existência de um desnível entre
o piso do elevador e o do corredor da MEJC, dificultando a entrada do paciente que está na
cadeira de rodas ou maca, exigindo um esforço biomecânico para elevar o conjunto veículo-
paciente para adentrar ao elevador; 30% consideram as cadeiras de rodas velhas, sem freio e
sem suporte, como um dos pontos negativos da função; 10% consideram, como um dos
pontos negativos, o fato de o telefone de chamados não ser exclusivo para receber chamados,
mas estar disponível, também, para receber outras demandas; e, por fim, 10% dos maqueiros
consideram como ponto negativo o fato de serem demandados para pegar, também,
equipamentos diversos, exames, e por atenderem outras providências demandadas pelos
enfermeiros.
7.5 Aspectos negativos relacionados a equipamentos e instalações
7.5.1 Plataforma automática utilizada para suspensão e elevação do paciente
A plataforma automática existente (Figura 14), responsável pela suspensão e elevação
do paciente até a unidade B2, tem recorrentes problemas que impedem o seu funcionamento,
até agosto de 2019, esta plataforma encontrava-se sem uso, fazendo com que as pacientes que
estão com menos de 24h de cirurgia, ou que acabaram de se submeter ao parto, tenham que
subir as escadas sozinhas ou, apenas, com o auxílio dos maqueiros. No entanto, a partir de
setembro de 2019, sua manutenção foi regularizada, permitindo o seu funcionamento, o que
vem sendo observado, desde então, pela pesquisadora.
Figura 14 – Acesso a unidade B2
Fonte: Autora (2019
113
7.5.2 Sala do Setor dos maqueiros
A sala do setor dos maqueiros (Figura 15) é considerada pelos maqueiros como sendo
um ambiente pequeno, com pé direito baixo para antropometria dos ocupantes, pois suas
cabeças ficam próximas ao teto, locomoção é dificultada por uma quantidade de objetos,
como mesa, cadeiras, pia, frigobar etc., distribuídos em poucos metros quadrados, além disso,
há infiltrações em uma das paredes.
Figura 15 – Sala do setor dos maqueiros
Fonte: Autora (2019)
O local de descanso também foi alvo de muitas reclamações, o acesso é pela sala do
setor dos maqueiros, ficando embaixo de uma escada, cujo teto é inclinado e muito baixo
(Figura 16), além do local ser extremamente pequeno.
114
Figura 16 – Local de descanso dos maqueiros
Fonte: Autora (2019)
Segundo relatos dos maqueiros, já houve acidentes de choques das suas cabeças contra
o teto da sala, ao se levantarem do colchão (Figura 16), ou contra a parte superior da porta,
por esta ser mais baixa do que a altura da maioria deles.
Entretanto, o local mostrou-se em conformidade com a NR-17, tópico 17.3.5, que cita
que as atividades em que os trabalhos são realizados de pé, como é caso dos maqueiros,
“devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por
todos os trabalhadores durante as pausas”, uma vez que há assentos disponíveis.
Conforme determina a NR-32, “todo local onde exista possibilidade de exposição ao
agente biológico deve ter lavatório exclusivo para higiene das mãos provido de água corrente,
sabonete líquido, toalha descartável e lixeira provida de sistema de abertura sem contato
manual”, o que também é cumprido na sala dos maqueiros. Todavia, mesmo estando
cumprindo as normas básicas exigidas, pôde-se observar pontos que necessitam de melhorias
nesse ambiente, como os mencionados acima.
7.5.3 Cadeiras de rodas, macas e acessórios
Com as observações abertas, verificou-se que os equipamentos como macas e cadeiras
de rodas só são limpos, quando estão visivelmente sujos (com manchas), e a troca do pano na
cadeira de rodas também só é feita, quando este está muito sujo, com manchas escuras, ou
quando está sujo de sangue da paciente. Também, foram observadas as condições das nove
115
cadeiras de rodas, em que seis estão enferrujadas e quatro com o apoio de pés quebrados, e
nenhuma tem suporte para soro ou outro medicamento, como mostra, a exemplo, a Figura 17-
A. Quanto às macas, observou-se que há quatro tipos de macas diferentes, dentre as 15
unidades existentes na MEJC, que diferem de tamanhos, larguras e alturas, o que implica
formas de uso diferentes para os maqueiros e, também, influencia no conforto percebidos pelo
paciente (ver Figura 17-B).
Figura 17 – Cadeiras de rodas e macas do setor
Fonte: Autora (2019)
7.5.4 Elevador da MEJC
Na Maternidade-escola estudada, só há dois elevadores, de capacidades diferentes,
sendo que apenas por um deles é possível subir com macas. No elevador que permite o uso de
macas foi observada a existência de um pequeno desnível entre o piso do elevador e o piso
dos corredores de acesso aos andares 1 e 2 (destacado de vermelho na Figura 18). Além disso,
verificou-se que não há um elevador exclusivo para lixos comuns e/ou hospitalares. Assim, os
dois elevadores transportam pacientes, acompanhantes, funcionários e, também, os lixos.
116
Figura 18 – Desnível do elevador
Fonte: Autora (2019)
7.6 Sugestões de melhorias da atividade apontadas pelos próprios maqueiros
Como sugestões de melhorias, relativas às situações de trabalho dos maqueiros,
questionadas pelo apêndice F, eles indicaram as seguintes:
• Disponibilizar uma sala exclusiva para os maqueiros;
• Melhorar a qualidade do local de descanso;
• Obter o rádio de comunicação para todos os setores;
• Estabelecer que o telefone instalado na sala do setor dos maqueiros deve ser exclusivo
para chamadas referentes às demandas de transporte de pacientes;
• Instalar um elevador ou uma rampa não automática para acesso a Unidade B da
MEJC;
• Instalar/construir uma passarela que ligue a Unidade A à Unidade B2 e alto risco da
MEJC (ver Anexo C)
• Adquirir cadeiras de rodas para pacientes com suporte para soro;
• Melhorar a sala do setor dos maqueiros;
• Instalar uma rampa de acesso em um determinado local da Unidade B2.
7.7 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Questionário
Nórdico
Como pode ser visto na Figura 19, apenas 40% dos maqueiros, ao responderem ao
Questionário Nórdico, relataram algum tipo de dor, formigamento ou desconforto.
117
Figura 19 – Percentual de respostas do questionário nórdico
Fonte: Autora (2019)
Dos 40% dos maqueiros, 50% têm acima de 40 anos. 75% deles relataram que
exercem a função de maqueiro há mais de cinco anos. 75% deles relataram que tiveram
problemas anteriores, como cirurgia em joelhos e ombros, por conta de acidente de moto, ou
sofreram queda fora do ambiente de trabalho. Destes 75% que relataram problemas anteriores,
75% exercem a função de maqueiro há mais de cinco anos.
Quando questionados sobre problemas, como dores, lesão e/ou formigamentos etc. nos
últimos 12 meses, apenas 30% haviam sentido dor na parte inferior das costas, 20% na parte
superior das costas, punhos/mãos, quadril/coxas e joelhos e 10% nos cotovelos e ombros.
Apenas 10% relataram impedimento de realizar as atividades normais nos últimos 12
meses, por conta de problemas dores, lesão e/ou formigamentos na parte inferior das costas.
Neste caso, consultaram um profissional da saúde nos últimos 12 meses, por conta de dores
na parte inferior das costas.
Quanto a problemas como dores, lesão e/ou formigamentos nos últimos sete dias, 10%
sentiram nos ombros, parte superior das costas, parte inferior das costas, punhos/mãos e
joelhos. Tais achados podem ser comparados aos encontrados por Oliveira (2014), que
constatou uma grande variação, entre 14,5% a 71,5%, nos sintomas osteomusculares dos
maqueiros, em que, nos últimos 12 meses, a maioria (71,5%) relatou sentir dores nos
tornozelos e/ou pés, seguido dos joelhos e parte inferior das costas (43%), e das partes
superiores das costas, bem como quadril/coxas e punhos e mãos (28,6%). O maior percentual
de dores dos maqueiros da pesquisa de Oliveira (2014), tornozelos e pés, nem mesmo foram
relatados na presente pesquisa. Dessa forma, percebe a importância de estudos específicos
para cada local.
40%60%
Q U E S T ION Á RI O N Ó R D I C O
SIM NÃO
118
Essas evidências podem ser decorrentes de que os maqueiros da pesquisa de Oliveira
(2014) eram, em sua maioria jovens, entre 18 e 29 anos, e em início de carreira, nesta
pesquisa os maqueiros já enquadram-se como adultos, em que 50% têm entre 30 e 40 anos e
50% possuem mais de 40 anos, além de terem um bom nível de experiência, uma vez que
90% têm acima de cinco anos no exercício da função, no entanto, precisam sempre estarem
conscientes da responsabilidade e importância do seu trabalho, que exige esforços e desgastes
físicos necessários para a execução da atividade de movimentação e transporte de pacientes
doentes.
Os estudos de Marras et al. (1999); Garg et al. (1991); Keir; Macdonell (2004)
também evidenciaram os aspectos físicos da atividade, por exemplo, o risco de lesões
lombares em manipuladores de pacientes realizando diferentes tarefas de manipulação, a
análise das forças da coluna lombar quando utilizam equipamentos auxiliares. E, embora o(s)
autore(s) não tenham feito relação entre as lesões lombares nos manipuladores do paciente e a
segurança do paciente, estas lesões fragilizam o sistema osteomuscular desses trabalhadores,
fazendo com que eles tenham menos firmeza na manipulação, podendo colocar em risco a
segurança do paciente, que pode sofrer quedas, sentir dores maiores, durante a manipulação,
entre outros problemas.
7.8 Análise Focal da atividade e Pré-diagnósticos da atividade
A partir dos dados supracitados, que foram advindos dos relatos dos maqueiros e das
observações abertas, chegou-se aos seguintes pré-diagnósticos:
• A falta de uma rotina de higienização dos equipamentos, a não regularidade nas trocas
dos panos usados no atendimento de transporte e/ou transferência, bem como o uso
comum do elevador para toda e qualquer atividade, inclusive para lixos comuns e/ou
hospitalares e, também, o transporte de pacientes, podem aumentar o risco de
infecções hospitalares, considerado um EA comum no Brasil. Segundo Oliveira e
Maruyama (2008), as principais causas da infecção hospitalar são: esterilização e
desinfecção inadequada dos artigos e equipamentos, quebra nas rotinas de limpeza do
hospital, quebra dos procedimentos de rotina da enfermagem e médica. Ou seja, tais
procedimentos podem gerar o agravo de risco de uma EA aos pacientes da MEJC.
• Os contrantes físicos observados, que envolvem a falta de acessibilidade na Unidade
B2, problemas com o layout na Unidade A, fazem com que os maqueiros tenham que
utilizar de estratégias, como pedir ajuda a terceiros, durante o transporte de ou para
119
Unidade B2, ou utilizar manobras mais arriscadas ao passar com a maca na Unidade
A, bem como levantar a maca durante a entrada e saída do elevador, devido ao
desnível existente. Tais estratégias podem aumentar a chance de ocorrência de um EA,
como quedas e/ou desmaios, que podem afetar diretamente a segurança do paciente da
MEJC.
• Para certos tipos de pacientes e de transportes, há a necessidade de haver o auxílio dos
enfermeiros e/ou técnicos de enfermagem, de outros maqueiros, ou até mesmo do
próprio acompanhante do paciente, embora nada disso esteja prescrito para esses
casos.
7.9 Análise Focada da atividade e diagnóstico da atividade
Neste tópico foram explanados os resultados referentes aos dados coletados através da
aplicação do Plano de observação sistemático e conversações, da Escala de avaliação dos
riscos no transporte, remoção e transferência dos Questionários com pacientes e/ou
acompanhantes.
7.9.1 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Plano de observação
sistemático e conversações
Foram realizados 60 acompanhamentos de campo, referentes às atividades dos
maqueiros, com relação ao transporte e transferência de pacientes, totalizando 90 horas de
observações e coletas de dados, no período de setembro a novembro de 2019. Nos tópicos a
seguir, tem-se os principais resultados obtidos com as observações, utilizando o plano de
observação sistemático e conversações.
7.9.1.1 Tipo, equipamentos utilizados e contrantes encontrados no transporte
Não houve nenhum transporte de paciente realizado pelos maqueiros, que pudesse ser
enquadrado como urgência, dentro das observações de campo. E, em 88% das vezes, os
maqueiros fizeram transporte de pacientes e, em média, 12% das vezes, fizeram transferências
de pacientes.
120
Das sete transferências de pacientes observadas (em média 12% das observações), seis
foram da maca para a cama do leito ou para outra maca, e apenas um da cadeira de rodas para
a maca.
Nas transferências das macas para as camas dos leitos, o layout apresenta-se como um
contrante físico para esse tipo de operação, devido à quantidade de macas distribuídas nos
corredores. Em um dos quartos, em que se observou esta operação, havia três camas de leitos,
impossibilitando o maqueiro de transitar com a maca dentro do quarto. Para resolver o
contrante, ele retirou duas camas do quarto, as colocou no corredor, e fez a transferência da
paciente no corredor. Em seguida, colocou a cama novamente no quarto, e, por fim, colocou a
outra cama no quarto (ver Figura 20).
Figura 20 – Sequência de ações de transferência de uma paciente para cama de um leito
Fonte: Autora (2020)
Legenda:
1: Retiram a primeira cama do leito;
121
2: Verificam se será necessário retirar a outra cama;
3: Retiram as cadeiras das acompanhantes do leito;
4: Retiram a segunda cama do leito;
5: Fazendo a transferência da paciente para uma das camas do leito;
6: Transferência da paciente realizada;
7: Colocando a cama com paciente transferida dentro do leito;
8: Colocando o bebê da paciente dentro do leito;
9: Colocando a outra cama do leito.
Outro contrante encontrado foi quanto à rampa de acesso muito íngreme para a
Unidade B e alto risco, em que os maqueiros utilizam da estratégia de correr para pegar
impulso e subir na rampa (ver Figura 21).
Figura 21 – Maqueiro correndo com a paciente na cadeira de rodas para pegar impulso na rampa
Fonte: Autora (2019)
Esses tipos de contrantes encontrados, que envolvem as características do ambiente da
prática de trabalho dos maqueiros, foram evidenciados na pesquisa de Belela, Peterlini e
Pedreira (2010) como um dos fatores que se relacionavam com as equipes de trabalho em
saúde que poderiam acarretar eventos adversos.
Além disso, em 83% dos transportes, foram utilizadas cadeiras de rodas e, em apenas
17% das vezes, utilizaram macas, e se observou que nenhuma das cadeiras de rodas possuíam
suporte para fixar o soro ou qualquer outro dispositivo (ver Figura 22), o que dificulta o
transporte de pacientes que estão com soros ou outros dispositivos acoplados, tendo esses que
122
segurar o dispositivo, que por sua vez, pode enganchar nas suas vestimentas, no seu corpo ou
nas rodas das cadeiras e provocar um evento adverso.
Dessa forma, sugere-se a aquisição de suportes para as cadeiras de rodas, pois as
pacientes, muitas vezes, têm que levar o soro, o bebê, o prontuário e até mesmo as sacolas do
bebê nas pernas, o suporte ajudaria, nesse sentido, além de, como mencionado anteriormente,
diminuir as chances de ocorrência de eventos adversos, como a desconexão do soro ou
incidentes com o tubo de soro.
Esses tipos de eventos adversos são comuns e foram evidenciados na pesquisa Sousa
et al. (2018) em que, durante sua coleta, ocorreram incidentes, como desconexão de O2
(oxigênio), de sonda, de equipo de soro e quedas durante o transporte intra-hospitalar, o que
coloca em risco os pacientes e torna os trabalhadores vulneráveis diante de tais incidentes.
Figura 22 – Cadeiras de rodas sem suporte para soro
Fonte: Autora (2019)
Em 70% dos transportes de pacientes, os maqueiros utilizaram o elevador (ver Figura
23) e há um desnível no elevador, mencionado e mostrado anteriormente na Figura 18, com
isso, os maqueiros utilizam da estratégia de suspender a maca ou cadeira de rodas ao passar
pelo desnível, o que também se enquadra como um fator de maior risco de EA,
principalmente, com as macas que são mais extensas e pesadas.
123
Figura 23 – Uso do elevador para o transporte de pacientes
Fonte: Autora (2019)
Em 80% das vezes em que houve o uso da plataforma automática para transportar a
paciente até o piso superior, observou-se que o maqueiro colocava a paciente na plataforma de
transporte, mas não a auxiliava no desembarque, nem a acompanhava até o destino (Leitos da
unidade B2). Somente o acompanhante, quando existia, a auxiliava no desembarque e a
acompanhava até o destino (ver Figura 24). No entanto, na demais observações os maqueiros
não deixaram a paciente sozinha em nenhum momento, permanecendo sempre próximo ao
paciente, mesmo quando havia acompanhantes e enfermeiras, ou seja, o destino para a
unidade B2 é um ponto crítico do transporte, pois os maqueiros devem sempre acompanhar as
pacientes até seu destino final.
Em 60% das vezes que o setor de destino foi a unidade B2, o maqueiro precisou da
ajuda do acompanhante para auxiliar a mãe com o bebê para subir na plataforma, que dá
acesso a unidade B2.
124
Figura 24 – Paciente saindo da plataforma com auxílio do acompanhante
Fonte: Autora (2019)
Como sugestão seria a construção de uma rampa de acesso interligando a parte que
contém a unidade A com a parte que contém a unidade de alto risco e unidade B2, o que
evitaria o uso contínuo da plataforma de acesso, que nem sempre está funcionando e, muitas
vezes, as pacientes têm que subir escadas, recém-paridas, e mesmo quando está funcionando,
as pacientes acabam saindo sozinha da plataforma, ou seja, sem ajuda dos maqueiros.
Durante as observações de campo foi observado apenas um incidente, que ocorreu da
seguinte maneira: uma senhora quase caía ao se sentar na cadeira de rodas, porque o apoio de
pés da cadeira estava na vertical, mas logo o maqueiro a segurou, evitando que ela caísse, e a
auxiliou para que ela se sentasse novamente.
7.9.1.2 Uso de EPI’s e higienização das mãos e dos equipamentos
Em aproximadamente 97% dos transportes e transferências de pacientes realizadas
pelos maqueiros, verificou-se que eles não fizeram a lavagem de mãos de pré-atendimento e,
em 87% das vezes não houve a lavagem pós-atendimento. Ademais, em aproximadamente
57% das vezes, os maqueiros não utilizavam luvas e nem máscaras (ver Figura 25).
Tais medidas encontram-se em desacordo com o estabelecido na NR-32, que cita a
obrigatoriedade da utilização de equipamentos de proteção coletiva, individual e vestimentas
125
de trabalho, além de determinar que nem mesmo uso de luvas substitui o processo de lavagem
das mãos, que deve ocorrer, no mínimo, antes e depois do seu uso.
Figura 25 – Transferência e transporte de pacientes sendo realizados sem luvas
Fonte: Autora (2019)
Não há uma periodicidade da limpeza das macas e cadeiras de rodas, que é feita
somente quando o maqueiro julga necessário. Durante todo o período das observações de
campo, verificou-se apenas uma limpeza nas cadeiras de rodas e macas.
7.9.1.3 Comunicação e chamados
De acordo com Art. 1º, inciso I da Resolução n.º 376/2011, o enfermeiro da unidade
de origem deve “selecionar o meio de transporte que atenda às necessidades de segurança do
paciente”, mas, frequentemente, foi observada a falta de comunicação adequada entre
enfermeiros e maqueiros, em que em 97% das vezes, os chamados não seguiram o protocolo
citado no capítulo 7, no subtópico 7.2.4, ou seja, não repassavam aos maqueiros o tipo de
transporte necessário para o paciente, o que está em desacordo com a resolução mencionada e,
por vezes, ocasionava retrabalho, pois o maqueiro recebia o chamado e seguia para o local
com a cadeira de rodas, e ao chegar, constatava a necessidade de uma maca.
As comunicações entre maqueiros e enfermeiros ocorriam, principalmente, durante a
chegada ao setor de origem do paciente, em que o maqueiro questiona qual foi a enfermeira
que o chamou, qual a paciente a ser transportada e qual é o setor de destino, por conta do não
126
seguimento do protocolo de chamados, em que o enfermeiros já deveriam ter citado no
chamado seu nome ao maqueiro, o ramal de onde se encontra, o local de origem e o de
destino do paciente, o tipo de transporte que necessita e se precisa de oxigênio durante o
transporte.
Já a comunicação com os pacientes limitava-se, essencialmente, em saber como estava
se sentindo e se conseguia caminhar. Para Oliveira (2014), a comunicação entre pacientes e
maqueiros é essencial, evidenciando que os maqueiros devem sempre manter a atenção no
nível de consciência e nas condições físicas do paciente e do ambiente (leito, corredores do
hospital) antes de iniciar os procedimentos de remoção e transporte de pacientes em qualquer
que sejam as condições e unidades do hospital, mesmo que aparentemente a paciente esteja
em alerta.
Ainda para o autor a comunicação, eficiência e adequação (padronização) são fatores-
chaves. Dessa forma, sugere-se a realização de um treinamento conjunto do setor de
enfermagem e o setor dos maqueiros, quanto à instrução para o seguimento do protocolo de
chamados, em que deve ser dito no chamado o nome do enfermeiro, o ramal de onde está, o
local de origem e o de destino do paciente, o tipo de transporte que necessita e se precisa de
oxigênio durante o transporte. Além disso, seria importante incluir, nesse protocolo, níveis
que diriam o grau de enfermidade do paciente, ou seja, a urgência do transporte, por exemplo:
nível 1 – transporte de rotina para exames e etc., nível 2 - paciente com dores, nível 3 –
paciente com alto risco (urgência no transporte), pois assim facilitaria para os maqueiros, em
momentos de alta demanda, na escolha da estratégia a ser utilizada, além de dar um maior
noção do estado de saúde do paciente, o que ajudaria na prevenção de eventos adversos.
Outro treinamento necessário é quanto ao uso do rádio, por parte dos enfermeiros,
principalmente do turno da noite, em que não há o responsável pelos chamados por telefone,
o que faz com que a maioria dos chamados tenham que ser realizados pelos rádios e o seu
mau uso dificulta na comunicação entre maqueiros e enfermeiros, gerando transtornos, pois
enfermeiros querem ligar para o setor e, muitas vezes, não é possível os maqueiros atenderem
por não estarem na sala, e sim fazendo outro transporte. Diante disso, também, sugere-se a
aquisição de rádio de comunicação para todos os setores, além de definir que o telefone
instalado na sala do setor dos maqueiros deve ser exclusivo para chamadas referentes às
demandas de transporte de pacientes.
Em, aproximadamente, 87% dos transportes ou transferências dos pacientes, os
maqueiros realizaram a identificação do paciente e conferiram o local de destino. No entanto,
127
isto foi feito com o maqueiro perguntando a enfermeira e nunca perguntando ao próprio
paciente.
O estudo de Feufel, M. A.; Lippa, K. D.; Klein, H. A. (2009) buscou destacar as
principais áreas em que as intervenções em fatores humanos e ergonomia podem ajudar a
melhorar a qualidade dos sistemas de serviços médicos de emergência, constatando que o
trabalho em equipe é essencial para o sucesso da serviços médicos de emergência, além da
importância dos treinamentos para tomadas de decisões eficientes com estratégias heurísticas.
Tal achado corrobora, mais uma vez, a importância da comunicação entre maqueiros,
enfermeiros e, também, pacientes.
Em 67% dos transportes ou transferências, as pacientes estavam cirurgiadas, com
bebês, sob efeitos de medicamentos e/ou com um ou mais dispositivos invasivos, mas
nenhuma delas se encontrava desacordada, o que poderia facilitar a comunicação e
colaboração entre maqueiros e pacientes, além de acordar mais facilmente ao tópico 17.2.6 da
NR-17, que cita que o transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de
vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico, no caso cadeiras
de rodas ou macas, deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo
trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a
sua segurança, isto também pode ser verificado com os achados do questionário nórdico.
Verificou-se que os chamados, também, são feitos por acompanhantes e/ou pacientes e
porteiros, e não apenas por enfermeiros.
Quando as mães recebem alta, os maqueiros não são chamados, geralmente, para
transportá-las. Eles, habitualmente, são chamados apenas quando uma mãe sai da Unidade A,
em que funciona a clínica cirúrgica ginecológica, com cirurgias de histerectomia, mama,
ovário, suspensão de bexiga, laqueadura tubária etc. (ver Figura 26).
128
Figura 26 – Paciente de alta saindo sem acompanhamento do maqueiro nem de outra pessoa
Fonte: Autora (2019)
7.9.1.4 Acompanhamentos e auxílios no transporte
Segundo o Art. 1º, inciso I da Resolução n.º 376/2011, o enfermeiro da unidade de
origem deve “definir o(s) profissional (is) de Enfermagem que assistira(ão) o paciente durante
o transporte”, no entanto, aproximadamente, 87% dos transportes de pacientes foram
realizados sem a participação de enfermeiras ou técnicos de enfermagem. Ou seja, esses
transportes foram realizados apenas pelo maqueiro, o que demonstra desconformidade com a
resolução. Foi observado, também, pacientes saindo da curetagem, semi-nuas, sendo
transportadas e/ou transferidas por maqueiros, sem o auxílio de uma enfermeira.
É previsto na maternidade que o transporte de pacientes é uma atribuição exclusiva
dos maqueiros e que “não compete aos profissionais de enfermagem a condução do meio
(maca ou cadeira de rodas) em que o paciente está sendo transportado”, mas, constatamos in
loco o transporte do paciente sendo realizado, com certa frequência, por enfermeiros e/ou
auxiliares de enfermagem, principalmente em situações em que não há a comunicação
adequada entre eles e os maqueiros, ou em picos de alta demanda da atividade. Foram
129
observados, também, transportes de pacientes feitos por terceiros, por falta de maqueiros
disponíveis no momento (ver Figura 27) e, também, transferências sendo feitas com auxílio de
acompanhantes (ver Figura 28), o que contraria o que diz o Art. 3º da resolução do cofen n.º
376/2011.
Figura 27 – Transporte sendo feito por terceiros
Fonte: Autora (2019)
Figura 28 – Transferência da maca para o leito com auxílio do acompanhante
Fonte: Autora (2019)
130
Em, aproximadamente, 22% das observações o maqueiro necessitou da ajuda de
terceiros. Em todos os casos de transferências de pacientes, o maqueiro teve de auxílio de
outro maqueiro, acompanhante e/ou enfermeiros.
Desta maneira, sugere-se a realização de um estudo aprofundado de análise e previsão
de demanda, uma vez que, previamente, observou-se uma variação de demanda, ao longo dos
dias de coletas de dados, o que fazia com que, em determinados momentos, houvesse uma
baixa demanda, em que os maqueiros acabavam ficando ociosos e, em outro momento, uma
alta demanda, que acabava gerando transtornos e fazendo com que terceiros, como pessoas de
outro setor ou acompanhantes, realizassem o transporte de pacientes, ou auxiliassem na
transferências de pacientes.
7.9.2 Resultados referentes à aplicação da Escala de avaliação dos riscos no transporte,
remoção e transferência
A forma de avaliação e análise dessa etapa, citada na metodologia, atribuem uma
pontuação a cada paciente, que pode variar de oito a 24 pontos e, de acordo com essas
pontuações, é dado o grau de risco da atividade de transporte e transferência desses pacientes
para os maqueiros.
Das 205 aplicações feitas com os pacientes, 113 somaram entre oito e 12 pontos, ou
seja, 55,12% do total apresentam pouco risco para os maqueiros na atividade de transporte e
transferência, em que 43 (38%) encontram-se no limite dessa categoria com os 12 pontos
máximos para se enquadrarem na mesma, outros 91 respondentes, ou seja, 44,39% do total,
somaram entre 13 e 18 pontos e, apenas um somou 19 pontos.
131
Figura 29 – Gráfico de barras escala de avaliação de risco
Fonte: Autora (2020)
Desta forma, é possível identificar que a maioria dos transportes e transferências
observados na MEJC, apresenta pouco risco para os profissionais que realizam a atividade, no
entanto, uma parcela considerável, aproximadamente 45%, apresentou um médio risco para
esses profissionais, além de 43 (38%) estarem no limite da categoria anterior (de pouco risco),
o que pode indicar a necessidade de uma maior atenção para essa atividade, necessitando de
um maior planejamento, auxílio de terceiros, como de equipes de enfermagem, além de uma
possível necessidade de adquirir equipamentos que auxiliem no processo, amenizando o risco
para os maqueiros, como pranchas, cintos e tábua de transferência.
O achado desta pesquisa mostrou-se similares aos encontrados por Oliveira (2014), em
que nas unidades de Ginecologia e Obstetrícia, 31% representavam pouco risco, 65% médio
risco e apenas 4% alto risco, e na unidade de Cirurgias de parto, 38% representavam pouco
risco, 57% médio risco e apenas 5% alto risco.
Para uma análise mais detalhada é válido ressaltar como se deu a distribuição das
respostas de cada paciente para cada item de dados e as respectivas pontuações atribuídas,
conforme as definições de cada item explicitadas em seus valores/conceitos e definidos por
Radovanovic e Alexandre (2002) (ver Anexo B). Assim, no Quadro 8, tem-se os percentuais
correspondentes a 205 pacientes respondentes.
132
Quadro 8 – Percentuais de respostas de cada ponto por dados
DADOS/PONTOS 1 2 3 TOTAL
Peso 3% 33% 64%
100%
Altura 10% 88% 2%
100%
Nível de
consciência e
psicomotricidade 94% 3% 3%
100%
Mobilidade na
cama/cadeira de
rodas 76% 22% 2%
100%
Transferência 57% 40% 3%
100%
Deambulação 61% 38% 2%
100%
Cateteres e
equipamentos 93% 7% 0%
100%
Ambiente do
paciente 47% 45% 8%
100%
Fonte: Autora (2020)
De acordo com o Quadro 8, os pontos com maiores percentuais de resposta que
somavam três pontos foram referentes ao peso, em que, aproximadamente, 64% das pacientes
tinham mais de 70kg, seguida da altura, em que 88% tinham entre 1,51m a 1,79m,
enquadrando-se na soma 2. Os dados de nível de consciência e psicomotricidade, e cateteres e
equipamentos foram os com maiores percentuais de respostas com soma 1, ou seja, 95% das
pacientes estavam alertas e 93% estavam com até 1 acessório acoplado.
7.9.3 Resultados referentes à aplicação dos Questionários com pacientes e/ou
acompanhantes
Este questionário (APÊNDICE E) foi dividido em 3 partes a serem respondidas,
sendo elas: informações sociodemográficas, uso do espaço e percepção do local, os resultados
obtidos nessa etapa encontraram-se nos subtópicos posteriores.
133
7.9.3.1 Informações sociodemográficas
Nesse subtópico será visto como se comportaram, dentro da amostra de 205
respondentes, as informações sociodemográficas dos pacientes, como sexo, idade e nível de
escolaridade.
Quanto ao sexo, 100% das respondentes eram do sexo feminino e estavam como
pacientes da MEJC.
Quanto à idade, houve duas respondentes de 0 a 13 anos, sete respondentes de 14 a 17
anos, 62 respondentes de 18 a 24 anos, 116 respondentes de 25 a 39 anos, 15 respondentes de
40 a 59 anos e quatro respondentes com 60 anos ou mais, as porcentagens representativas de
cada faixa de idade podem ser vistas na Figura 30.
Figura 30 – Idade das respondentes
Fonte: Autora (2020)
Conforme a Figura 30, a maioria das pacientes (57%) tinha entre 25 e 39 anos. 30%
das pacientes tinham entre 18 e 24 anos e grande parte dessas estavam internadas por
complicações na gravidez, ou porque iam parir, seja por cesárea ou parto normal. Apenas 4%
(9 pacientes) das pacientes eram menores de idade, tendo duas pacientes com 13 anos, que
estavam com gravidez de alto risco, e sendo que uma delas tinha também o diagnóstico de
esquizofrenia. Outras (9%) tinham 40 anos ou mais, sendo essas internadas, principalmente,
134
por motivos de cirurgias ginecológicas. Observa-se, portanto, a predominância de pacientes
jovens sendo atendidas na MEJC.
Quanto ao nível de escolaridade, três respondentes estavam na categoria de sem
instrução e menos de um ano de estudo, 37 respondentes com nível fundamental incompleto,
28 respondentes com nível fundamental completo, 39 com nível médio incompleto, 70 com
nível médio completo, 4 respondentes com nível superior incompleto e 24 com nível superior
completo ou equivalentes.
Figura 31 – Nível de escolaridade das respondentes
Fonte: Autora (2020)
Por meio da Figura 31, pode-se observar que a maioria das pacientes (53%) tinham
nível médio, seja ele completo (34%) ou incompleto (19%). E, apenas, 14% haviam chegado
ao nível superior, em que 12% o concluíram. Observa-se também que somente 1% não tinha
nenhuma instrução ou menos de um ano de estudo.
7.9.3.2 Uso do espaço
Das 205 pacientes respondentes, 92 respondentes nunca haviam utilizado o serviço da
maternidade, antes, e 113 respondentes já haviam utilizado o serviço da maternidade
anteriormente, sendo que, dessas, 113, 93 haviam utilizado, esporadicamente, enquanto 15
utilizaram de uma a duas vezes ao ano, e cinco utilizaram de três a quatro vezes ao ano, de
acordo com a Figura 32.
1%
18%
14%
19%
34%
2%
12%
Sem instrução e menos de um ano de estudo
Nível fundamental incompleto ou equivalente
Nível fundamental completo ou equivalente
Nível médio incompleto ou equivalente
Nível médio completo ou equivalente
Nível superior incompleto ou equivalente
Nível superior completo ou equivalente
135
Figura 32 – Uso do espaço: utilização e frequência de uso da MEJC
Fonte: Autora (2020)
Como pode ser visto na Figura 32, a maioria das respondentes (55%) já havia utilizado
os serviços da MEJC anteriormente, no entanto, quando elas foram questionadas a respeito da
frequência de uso, 82% não tinham regularidade nesse uso, ou seja, vinham esporadicamente
para MEJC, 13% frequentavam de uma a duas vezes ao ano, e 5% de três a quatro vezes ao
ano e nenhuma mais de quatro vezes ao ano. Tais achados podem indicar a realização
inadequada dos pré-natais, o que pode ser preocupante, principalmente, pelo fato da MEJC
atender predominantemente gravidez de alto risco, além disso, é indicado que as consultas do
pré-natal devem ser realizadas uma vez por mês até as 28 semanas de gestação, de 15 em 15
dias das 28ª até a 36ª semana e semanalmente a partir da 37ª semana de gestação.
Quanto ao tempo médio de permanência na Maternidade Escola Januário Cicco, oito
respondentes estavam há menos de seis horas na MEJC, 10 respondentes estavam com entre
seis e 12 horas de permanência, quatro respondentes estavam com entre 12 e 18 horas de
permanência, 33 estavam com entre 18 e 24 horas, e 150 entrevistadas estavam com mais 24
horas na MEJC, os percentuais representativos a essas respostas podem ser vistos na Figura
33.
136
Figura 33 – Uso do espaço: tempo médio de permanência
Fonte: Autora (2020)
Dessa forma, por meio da Figura 33, conclui-se que a grande maioria das respondentes
(73%) estava na MEJC a mais de 24h, 16% estavam entre 12 e 18 horas de permanência e
apenas 11% estavam com menos de 18 horas de permanência, o que pode revelar que as
pacientes, em sua maioria, estavam internadas e não apenas em consultas de rotina, ou em
realizações de exames, que exigem um menor tempo de permanência na MEJC.
Quando questionadas sobre quantas vezes utilizaram o serviço dos maqueiros da
MEJC naquela permanência, 24 respondentes ainda não haviam utilizado o serviço dos
maqueiros, 105 haviam utilizado de uma a duas vezes, 35 respondentes haviam utilizado de
três a quatro vezes e 41 respondentes já haviam utilizado mais de quatro vezes, como pode ser
visto na Figura 34.
Figura 34 – Utilização do serviço dos maqueiros
Fonte: Autora (2020)
4%
5%2%
16%
73%
Menos de 6 horas Entre 6 -|12 horas Entre 12 -|18 horas
Entre 18 -|24 horas Mais de 24 horas
12%
51%
17%
20%
Nenhuma vez 1 a 2 vezes 2 a 4 vezes Mais de 4 vezes
137
Por meio do gráfico da Figura 34, observa-se que 88% (181) já haviam utilizado o
serviço dos maqueiros da MEJC, pelo menos uma vez naquela estadia, e apenas 12% ainda
não haviam utilizado. Das 181 respondentes que já haviam utilizado os serviços de maqueiros,
14 (7,7%) só haviam utilizado macas, 104 (57,5%) só haviam utilizado cadeiras de rodas e 63
(34,8%) respondentes utilizaram macas e cadeiras de rodas, ou seja, a maioria só havia
utilizado cadeiras de rodas. Isso corrobora com as observações de campo feitas com o plano
de observação sistemático, em que 83% das vezes utilizaram cadeira de rodas e, em apenas
17% das vezes, utilizaram macas.
7.9.3.3 Percepção do local
Quanto às condições do serviço de transporte e transferências de pacientes, dos 181
que já haviam utilizado o serviço, nenhum classificou como muito ruim, apenas duas
classificaram com muito ruim, nove como regular, 114 como bom, e 56 classificaram com
muito bom, esses justificando que os maqueiros são muito atenciosos e solícitos e que nunca
tiveram nenhum problema com esse setor (ver Figura 35).
Figura 35 - Condições do serviço de transporte e transferências de pacientes
Fonte: Autora (2020)
Já com relação às condições dos equipamentos utilizados para esse serviço, três
classificaram com muito ruim, 10 como ruim, justificando que as macas que estavam
utilizando no momento eram desconfortáveis e duras, 47 classificaram como regular, 90 como
bom e 31 como muito bom (ver Figura 36).
138
Figura 36 - Condições dos equipamentos utilizados para esse serviço
Fonte: Autora (2020)
Quanto às condições das instalações para transporte, três classificaram como muito
ruim, 11 como ruim, alegando não ter local adequado para os acompanhantes ficarem, bem
como não ter acesso por elevadores para determinados locais, e corredores lotados de macas
como leitos, ficando, assim, muito apertado para a passagem com outras macas ou cadeira de
rodas e, ainda, 46 classificaram com regular, 98 como bom e 23 como muito bom (ver Figura
37).
Figura 37 - Condições das instalações para transporte
Fonte: Autora (2020)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Bom Muito bom Regular Ruim Muito ruim
31
90
47
10
3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Bom Muito bom Regular Ruim Muito ruim
23
98
46
11
3
139
Dos 205 respondentes, apenas um respondeu já ter ocorrido com ele, ou ter tomado
conhecimento ou testemunhado, algum tipo de incidente ou acidente ou evento adverso ou
anormalidades, durante o transporte ou transferência de paciente na Maternidade Escola
Januário Cicco, relatando ter presenciado um desmaio durante a transferência de uma paciente
para leito da unidade A, mas que o maqueiro conseguiu segurá-la e colocá-la na cama do leito
com segurança.
Dos 205 respondentes, sete elencaram como muito ruim as condições gerais da
maternidade, oito como ruim, 30 como regular, 102 como boa e 58 como muito boa (ver
Figura 38).
Figura 38 - Condições gerais da maternidade
Fonte: Autora (2020)
É válido ressaltar que não houve variação significativa nas respostas entre os turnos de
aplicação, no entanto, houve um maior número de reclamações das condições dos
equipamentos e das instalações da maternidade por pacientes localizadas na unidade B1 (ver
Anexo D), uma vez que, nesse local, havia um maior número de pacientes em leitos extras,
alocadas em macas nos corredores da maternidade, assim, a maioria delas reclamou das
instalações e também dos equipamentos, alegando que as macas eram duras e não eram
confortáveis, diferentemente das alocadas nos quartos em camas de leitos.
Tal achado pode ser considerado delicado e importante, pois, como já foi visto, a
maioria das respondentes (73%) estava há mais de 24 horas internadas, ou seja, estas,
provavelmente, também poderiam estar alojadas em leitos extras em corredores apertados e
0
20
40
60
80
100
120
Bom Muito bom Regular Ruim Muito ruim
58
102
30
8 7
140
macas desconfortáveis, por um longo período. No entanto, foi relatado que essa é a forma que
a maternidade consegue conduzir, ao serem atingidos o número máximo de pacientes nos
leitos, uma vez que a demanda, em certos períodos, é mais alta que o número de leitos
ofertados, e por ser uma maternidade escola de alta complexidade e 100% SUS, a situação
torna-se ainda mais delicada.
141
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo discorrerá sobre as conclusões a respeito do estudo, expondo uma visão
geral do tratamento dos dados, prováveis razões para determinados achados e sugestões de
possíveis melhorias, além de explicitar as limitações do estudo e recomendações para estudos
futuros.
8.1 Aspectos gerais
Esta dissertação objetivou propor um conjunto de medidas de melhoria da atividade de
transporte e transferência dos pacientes realizada pelos maqueiros da MEJC, visando à
minimização de ocorrências dos eventos adversos e a melhoria da segurança do paciente da
maternidade escola, além de expandir o atual contexto de conhecimento sobre o tema, uma
vez que, como supracitado, os números de pesquisas similares são escassos,
consequentemente, difundir o entendimento sobre ergonomia, seus métodos, e sua aplicação
na área de saúde e segurança do paciente.
Na abordagem metodológica foi utilizada a Análise Ergonômica do Trabalho, com a
utilização de métodos de observação e interação, como roteiros de ação conversacional,
questionários, verbalizações, registro de fotos e vídeos. Como componente do processo
metodológico desta pesquisa, a construção social realizada com a pesquisadora, professor
orientador, maqueiros, membros do núcleo de segurança do paciente, gestores dos maqueiros,
foi essencial neste processo, pois, a partir dessa relação comunicativa e interativa, houve o
compartilhamento de informações imprescindíveis para compreensão da atividade.
Os achados da pesquisa evidenciaram que os maqueiros, ao realizar suas atividades,
se defrontam com contrantes físicos – devido às características das instalações físicas
(degradação de equipamentos, layout inadequado, ausência de elevador de acesso à unidade
B2 e etc.) da MEJC e dos equipamentos utilizados – e com contrantes temporais (urgência
do transporte, alta demanda etc.), e que para realizar o seu objetivo – de transportar e
movimentar o paciente com segurança – realizam regulações que consistem em
desenvolvimento de estratégias e ações, tais como contar com auxílio de terceiros para
realizar certas transferências, fazer antecipações com previsões de demanda de chamados, ao
se depararem com fluxos intensos em determinados períodos e dias da semana, retirar todas
camas de leitos, cadeiras de acompanhantes e berços de dentro do leito ao realizar uma
transferência da maca para cama do leito, além de fazê-la no corredor, suspender cadeiras de
142
rodas e macas, ao entrar e sair dos elevadores, correr com cadeiras de rodas ao subir rampas
muito íngremes etc. Grande parte dessas estratégias constatadas podem aumentar o risco de
ocorrência de uma EA, uma vez que, por exemplo, o auxílio de terceiros, que não são
instruídos para realizar tais atividades, como também correr com paciente na cadeira de rodas
aumentam as chances de quedas, ou de desconexão de dispositivos conectados ao paciente.
Esse ano, devido à pandemia, o NSP promoveu treinamento sobre a importância e as
formas corretas de uso dos epi’s, para todos os profissionais da MEJC, incluindo maqueiros.
No entanto, observou-se que, de maneira geral, a atividade dos maqueiros é, em sua maioria
das vezes, esquecida e desconsiderada nas ações do núcleo de segurança do paciente, que
realizam atividades, como palestras, treinamentos, cursos e etc., regularmente, com os
profissionais de saúde da MEJC sobre segurança do paciente, mas os maqueiros não estão
dentro dos participantes dessas ações, apenas participam, quando há stands com os temas no
corredor, uma vez que estão expostos em frente à sala dos maqueiros, que ao passarem,
acabam tendo a curiosidade de “visitar”, durante suas pausas.
Assim, essa cultura de desconsideração da importância dessa atividade e de seus
riscos para segurança do paciente é evidenciada, mais uma vez, com esse achado, pois, como
vimos, há poucas pesquisas que consideram os maqueiros como uma das barreiras para
ocorrência de EA’s. Dessa forma, os resultados alcançados juntamente com as recomendações
de melhoria puderam ser restituídos por meio de reunião online, com o intuito de expandir o
conhecimento dos riscos da atividade e minimizar a ocorrência dos eventos adversos e, assim,
promover melhorias na segurança do paciente da maternidade escola.
8.2 Síntese do atendimento aos objetivos e sugestões de melhoria
Nessa subseção são expostas as considerações acerca dos objetivos específicos pré-
estabelecidos no projeto, apresentadas no Quadro 9.
143
Quadro 9 – Resumo dos objetivos específicos da pesquisa, suas constatações e sugestões de melhorias
Objetivos
específicos
Subseção
no qual
foi
atendido
Constatações Sugestões de melhoria
Identificar e
analisar os
contrantes
temporais e
físicos da
atividade de
transporte e
transferência
dos pacientes,
que podem
contribuir para a
ocorrência de
eventos
adversos e
impactar a
segurança do
paciente.
7.1 a 7.8
Resumidamente, constatou-se que
os maqueiros, ao realizar suas
atividades, se defrontam com
contrantes físicos – devido às
características das instalações
físicas (degradação de
equipamentos, layout inadequado,
ausência de elevador de acesso à
unidade B2 e etc.) da MEJC e dos
equipamentos utilizados – e com
contrantes temporais (urgência do
transporte, alta demanda etc.).
Construir uma rampa de acesso
interligando a parte que contém a
unidade A com a parte que contém a
unidade de alto risco e unidade B2, o
que evitaria o uso contínuo da
plataforma de acesso, que nem sempre
está funcionando, e, muitas vezes, as
pacientes têm que subir escadas recém
paridas, e mesmo quando está
funcionando, as pacientes acabam
saindo sozinha da plataforma, ou seja,
sem ajuda dos maqueiros. Outra
sugestão, seria a aquisição de suportes
para as cadeiras de rodas, pois as
pacientes, muitas vezes, têm que levar
o soro, o bebê, o prontuário e até
mesmo as sacolas do bebê nas pernas,
o suporte ajudaria nesse sentido, além
de diminuir as chances de ocorrência
de eventos adversos, como a
desconexão do soro ou incidentes com
o tubo de soro.
Apreender e
examinar a
efetividade das
estratégias
utilizadas pelo
maqueiro para
gerenciar as
variabilidades e
contrantes da
atividade e
promover ou
garantir a
segurança do
paciente.
7.9
Contatou-se que para realizar o
seu objetivo – de transportar e
movimentar o paciente com
segurança – realizam regulações
que consistem em
desenvolvimento de estratégias e
ações, tais como contar com
auxílio de terceiros para realizar
certas transferências, fazer
antecipações com previsões de
demanda de chamados ao se
depararem com fluxos intensos
em determinados períodos e dias
da semana, retirar todas camas de
leitos, cadeiras de acompanhantes
e berços de dentro do leito ao
realizar uma transferência da
maca para cama do leito, além de
fazê-la no corredor, suspender
cadeiras de rodas e macas ao
entrar e sair dos elevadores, correr
com cadeiras de rodas ao subir
rampas muito íngremes etc.,
sendo que grande parte dessas
estratégias constatadas podem
aumentar o risco de ocorrência de
uma EA, uma vez que, por
exemplo, ao pedirem auxílio de
terceiros os mesmos não são
Outra sugestão é a realização de um
estudo aprofundado de análise e
previsão de demanda, uma vez que,
previamente, observou-se uma variação
de demanda ao longo dos dias de
coletas de dados, o que fazia em
determinados momentos ter uma baixa
demanda, em que os maqueiros
acabavam ficando ociosos, e em outro
momento uma alta demanda, que
acabava gerando transtornos e fazendo
com que terceiros, como pessoas de
outro setor ou acompanhantes,
realizassem o transporte de pacientes,
ou auxiliassem na transferências de
pacientes.
Uma outra sugestão, seria a realização
de um treinamento conjunto do setor de
enfermagem e o setor dos maqueiros, o
treinamento seria quanto a instrução
para o seguimento do protocolo de
chamados, em que deve ser dito no
chamado o nome do enfermeiro, o
ramal de onde está, o local de origem e
o de destino do paciente, o tipo de
transporte que necessita e se precisa de
oxigênio durante o transporte, e isso
não é seguido, além disso seria
importante incluir nesse protocolo
144
instruídos para realizar tais
atividades, como também correr
com paciente na cadeira de rodas
aumentam as chances de quedas,
ou de desconexão de dispositivos
conectados ao paciente.
níveis que diriam o grau de
enfermidade do paciente, ou seja, a
urgência do transporte, por exemplo:
nível 1 – transporte de rotina para
exames e etc., nível 2 - paciente com
dores, nível 3 – paciente com alto risco
(urgência no transporte), pois assim
facilitaria para os maqueiros em
momentos de alta demanda na escolha
da estratégia utilizada, além de dar um
maior noção do estado de saúde do
paciente, o que ajudaria na prevenção
de eventos adversos.
Outro treinamento necessário é quanto
ao uso do rádio por parte dos
enfermeiros, principalmente do turno
da noite, que não há o responsável
pelos chamados por telefone, o que faz
com que a maioria dos chamados
tenham que ser realizados pelos rádios
e o seu mau uso dificulta na
comunicação entre maqueiros e
enfermeiros, gerando transtornos, pois
enfermeiros querem ligar para o setor e
muitas vezes não é possível os
maqueiros atenderem por não estarem
na sala, e sim fazendo outro transporte.
Outra sugestão é inclusão dos
maqueiros nos treinamentos, palestras,
cursos etc. sobre a segurança do
paciente, que incluam a importância da
sua atividade e como fazê-la de forma
segura para os pacientes e
profissionais, evitando que os
maqueiros utilizem de manobras
arriscadas no transporte de pacientes,
como correr nas rampas, não auxiliar o
paciente na saída da plataforma, não
lavar as mãos pré e pós atendimento,
principalmente, diante do momento
atual de pandemia etc.
Como pode ser visto no Quadro 9, a partir da aplicação do método da AET, foi
possível observar uma relação entre a atividade de trabalho dos maqueiros e a ocorrência de
eventos adversos ou de riscos de eventos adversos e, consequentemente, para a segurança do
paciente.
É importante ressaltar que a realização de uma AET propõe melhorias nas condições
de saúde, segurança e eficiência às empresas e aos seus trabalhadores, e não deve ser tratada
como um processo acabado, com início, meio e fim, devendo ser um processo contínuo, que
precisa ser realizado, constantemente, visando sempre à melhoria das situações de trabalho.
145
8.2 Limitações e recomendações para trabalhos futuros
Como se observou, no decorrer deste projeto de pesquisa, há uma escassez, nas bases
de dados acessadas, de trabalhos científicos relacionando a atividade de transporte e
transferência de pacientes pelos maqueiros com a segurança do paciente, principalmente, com
o uso de uma abordagem ergonômica, sendo esse um diferencial na presente pesquisa.
No entanto, essa pode ser considerada uma limitação para o estudo, uma vez que a
pesquisadora teve dificuldades na construção dos instrumentos de coletas e na forma de
abordagem e coleta, por se tratar de um ambiente de saúde e, também, pelo estado físico e
emocional das pacientes.
Outra limitação do estudo foi o tempo de coleta de dados, devido a problemas para
conseguir uma assinatura exigida pelo comitê de ética e ao longo tempo de espera para
aprovação no Comitê.
Essas limitações podem ser aproveitadas para impulsionar novas pesquisas
complementares, investigando cada vez mais os problemas, e ficando mais fácil propor
melhores soluções.
Dessa forma, a partir das observações elencadas, pode-se sugerir trabalhos futuros que
repliquem este estudo em diferentes maternidades e hospitais nos diversos estados do país,
sendo possível fazer um quadro comparativo da atividade dos maqueiros com os mais
diversos tipos de enfermidades nos pacientes.
Outro estudo complementar recomendado é um maior aprofundamento no aspecto
físico no âmbito da ergonômica para os maqueiros da MEJC, utilizando de outras ferramentas
que analisem mais detalhadamente este aspecto e, ainda, a realização de um estudo
aprofundado de análise e previsão de demanda, uma vez que, previamente, observou-se uma
variação de demanda ao longo dos dias de coletas de dados.
Por fim, recomenda-se também um estudo comparativo da atividade, com o antes e
depois da realidade atual de pandemia com a presença do vírus COVID-19, uma vez que um
dos achados deste trabalho diz respeito à baixíssima regularidade da lavagem das mãos, por
parte dos maqueiros, ao iniciar ou finalizar um atendimento.
146
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Alegre. v. 41, n. 1, fev. 2020.
156
ANEXOS
157
ANEXO A – QUESTIONÁRIO NÓRDICO
NOME:_______________________________________________________________________
DADOS PARA CONTATO (TELEFONE; EMAIL):____________________________________
IDADE:__________
PESO: _________
ALTURA: _________
FUNÇÃO:-_____________________________________
TEMPO DA FUNÇÃO: ______________________________
INFORMAÇÕES ADICIONAIS (USO DE REMÉDIOS, PROBLEMAS
ANTERIORES):_____________________________________________________________________________
Fonte: adaptado PINHEIRO; TRÓCCOLIA; CARVALHO, 2002.
158
ANEXO B - ESCALA DE AVALIAÇÃO DOS RISCOS NO TRANSPORTE,
REMOÇÃO E TRANSFERÊNCIA
159
DEFINIÇÕES
PESO
1 = equivale ao peso de até 50 Kg;
2 = indica um peso de 51 Kg a 69 Kg;
3 = o paciente deverá pesar igual ou superior a 70 Kg.
ALTURA
1 = equivale a uma estatura de 1,50 m;
2 = equivale a estatura entre 1,51 e 1,79 m;
3 = indica que o paciente possui estatura igual ou superior a 1,80 m.
NÍVEL DE CONSCIÊNCIA E PSICOMOTRICIDADE
1 = alerta: o paciente responde apropriadamente aos mínimos estímulos, e na ausência deles
está desperto e parece perceber o meio;
2 = confusão/ letargia
Confusão: o paciente tem alteração ainda que transitória do nível de consciência, alteração da
orientação e atenção, possíveis distúrbios de senso-percepção, alguma inquietação motora;
Letargia: o paciente pode parecer lento ou hesitante ao falar, aos estímulos tátil e verbal;
3 = inconsciência/ agitação psicomotora:
Inconsciência: o paciente não percebe impressões sensoriais devido a alterações
estruturais/funcionais ou por indução de drogas;
Agitação psicomotora: é a aceleração e exaltação de toda atividade motora do indivíduo,
comumente associa-se à hostilidade e à heteroagressividade.
MOBILIDADE NA CAMA
1 = independente: o paciente realiza todos os movimentos, mexe os membros inferiores e
superiores, senta-se na cama, sem necessitar de auxílio;
2 = movimenta-se com auxílio: o paciente mexe os membros inferiores e superiores, consegue
virar parcialmente o corpo para os lados e só se senta na cama com auxílio;
3 = dependente: o paciente não consegue mexer os membros inferiores e superiores, depende
totalmente da equipe de enfermagem.
TRANSFERÊNCIA DA CAMA/MACA PARA A CAMA/CADEIRA E VICE-VERSA
1= independente: o paciente consegue sentar-se na cama ou virar o corpo e transferir-se sem
ajuda, e fazer o processo de retorno para a cama;
2 = transfere-se com auxílio: o paciente consegue mexer os membros inferiores e superiores,
vira o corpo parcialmente, mas para transferir-se necessita da supervisão da e auxílio da
equipe de enfermagem;
160
3 = dependente: o paciente não realiza nenhum movimento citado acima, depende totalmente
da equipe de enfermagem.
DEAMBULAÇÃO
1 = independente: o paciente deambula sem necessitar de auxílio da enfermagem;
2 = deambula com auxílio: o paciente necessita de auxílio e supervisão da equipe de
enfermagem;
3= dependente: o paciente não deambula.
CATETERES E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PELO PACIENTE
1 = até um: o paciente não possui nenhum ou possui até um acessório ou equipamento
conectado;
2 = dois a quatro: o paciente possui de dois a quatro acessórios ou equipamentos conectados;
3 = mais de cinco: o paciente possui cinco ou mais acessórios ou equipamentos conectados.
Consideram-se acessórios e cateteres como: sonda vesical, nasogástrica/enteral, drenos, soros,
cateteres periféricos e centrais bolsas de colostomia.
Consideram-se equipamentos como: monitores, respiradores, bomba de infusão, oxímetros,
máquinas de hemodiálise, tração transesquelética e cutânea.
AMBIENTE DO PACIENTE
1 = bom: quando o ambiente não proporciona risco, durante o processo de movimentação e
transferência do paciente, espaço físico e piso adequado, camas com altura ajustável,
maca/cama e cadeiras com travas nas rodas.
2 = potencial para risco: tem a presença de um dos fatores de risco como espaço físico
restritivo, piso irregular ou camas sem altura ajustável, maca/cama e cadeiras sem travas nas
rodas.
3 = risco: quando o ambiente apresenta dois ou mais dos fatores de risco como piso irregular,
espaço físico restrito ou camas sem altura ajustável, maca/cama e cadeiras sem travas nas
rodas.
Fonte: RADOVANOVIC; ALEXANDRE, 2002.
161
ANEXO C - PLANTA BAIXA TÉRREO DA MATERNIDADE ESCOLA JANUÁRIO
CICCO
162
ANEXO D - PLANTA BAIXA PRIMEIRO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA
JANUÁRIO CICCO
163
ANEXO E - PLANTA BAIXA SEGUNDO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA
JANUÁRIO CICCO
164
APÊNDICES
165
APÊNDICE A - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL DA
MATERNIDADE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
- Verificar o conceito de acidente do trabalho que se baseiam (lei federal, nbr, ...);
- Sistema de controle de incidentes (quase-acidentes), acidentes de trabalho e doença
ocupacional com trabalhadores;
- Sistema de controle de eventos adversos com pacientes;
- Histórico / fundação da MEJC– antes e depois da EBSERH (anteriores: área construída,
setores, número de atendimentos, números de funcionários);
- Número de atendimentos por mês e ano (série histórica);
- Serviços prestados;
- Perfil do usuário (capital, interior, faixa etária...);
- Quadro de funcionários (quantidade geral, nomes das funções, sexo, faixa etária e gênero,
Turnos, horários);
- Organograma geral (departamentos e hierarquia);
- Política de recursos humanos;
- Tipo de vínculo dos funcionários;
- Setores terceirizados;
- Dados de eventos adversos envolvendo pacientes;
- Treinamentos prestados a comunidade;
- Indicadores gerais usados na MEJC;
- Visão do usuário (qualidade);
- Verificar como se dá o processo de reformas das instalações da MEJC e pedido de novos
equipamentos (setor de compra);
- Leis e regulamentações seguidas;
- Principal atendimento (referência com porcentagem);
- Responsabilidades, objetivo e finalidade do NSP;
166
APÊNDICE B - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL
SETOR MAQUEIROS)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
- Dados sociodemográficos (quantidades, nomes dos maqueiros, idade, nível de escolaridade,
renda, gênero, tempo na função de forma geral e na MEJC, trocas de turno);
- Treinamentos: tipos, objetivos e carga horária; quantidade; tempo que têm sido realizados; a
regularidade de tempo nos treinamentos ofertados;
- Jornada de trabalho (horário de entrada e saída, dias da semana, ritmo, pausas e horas
extras);
- Sindicato da categoria; pautas principais; relação do empregador com o sindicato;
- Organograma do setor ou hierarquia;
- Atribuições gerais (tarefas);
- Regras do setor de forma geral, e referente aos cuidados com o paciente;
- Absenteísmo;
- Rotatividade;
- Número de atendimentos por funcionário e de forma geral durante o mês;
- Local de trabalho (acesso, espaço, iluminação, temperatura, ruído);
- Maqueiros quantidade antes da EBSERH e atualmente, e números de atendimentos;
- Dados de acidentes de trabalho e qual conceito de acidente de trabalho que se baseiam;
- Sistema de controle de incidentes (quase-acidentes), acidentes de trabalho e doença
ocupacional com trabalhadores;
- Leis e regulamentações seguidas;
- Fluxograma geral das atividades;
- Fluxograma de cada tarefa;
- Protocolos da atividade; regras que têm que cumprir (por exemplo, uso de quais EPI’s,
identificação dos pacientes);
- Verificação de presença de outros profissionais acompanhando o maqueiro durante o
transporte e a transferência de pacientes (técnico de enfermagem).
- Histórico das empresas terceirizadas responsáveis pelos maqueiros nos últimos 10 anos na
MEJC. Anos de contratação de empresas na prestação do serviço de maqueiros. Verificar se a
167
empresa terceirizada, ao ser contratada para assumir a prestação do serviço de maqueiro,
manteve os maqueiros da empresa anterior.
- Verificar como se dá a gestão dos maqueiros pela empresa terceirizada e como se dá a
supervisão pela MEJC.
168
APÊNDICE C - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (MAQUEIROS)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
Explicação da pesquisa aos maqueiros, identificação interpessoal e autorização para execução
da pesquisa;
- Pontos negativos em relação ao trabalho;
- Pontos positivos em relação ao trabalho;
- Quantidade de profissionais;
- Jornada semanal de trabalho; folgas; jornada diária de trabalho, intervalos e pausas;
- Número de transporte de paciente diário por maqueiro;
- Rotina de revezamento;
- Condições dos equipamentos e instalações;
- Necessidade de algum equipamento auxiliar;
- Serviço de transportes: se é apenas interno; se pegam os pacientes nas ambulâncias e carros
particulares também; tipos de equipamentos que utilizam (maca, cadeira etc.) e em que
situações; se fazem transporte manual de paciente, com que frequência e como se dá.
- Tipo de pacientes (jovem, adulta, idosa, bebê, com deficiência, com mobilidade reduzida,
dependente/autônoma, cirurgiada, em situação de urgência ou emergência etc.), que
transportam (mães, bebês etc.). Tipo de serviço (exames e/ou cirurgias etc) a que se destina o
transporte do paciente. Pedir para descrever situações mais complicadas que enfrentaram no
transporte ou transferência de pacientes.
- Quantidade de maqueiros por transporte de paciente. Verificar se há variação da formação
da equipe de transporte (1 pessoa, 2 pessoas etc. em função do tipo de transporte ou de
paciente, como se dá a constituição desta formação (2 maqueiros; 1 maqueiro-1 técnico de
enfermagem etc.) e quais as razões para esta formação.
- Pedir para que os maqueiros descrevam em que situações eles pedem ajuda no transporte ou
transferência de pacientes, como eles pedem as ajudas e a quem (citar se a outro profissional
da MEJC ou se pessoas da população em geral, que está na MEJC no momento).
- Verificar: se o maqueiro em questão já trabalhou de maqueiro antes; há quanto tempo
trabalha de maqueiro; se já recebeu treinamento para exercer a função de maqueiro, qual tipo
de treinamento e a frequência.(OBS: se ele não citar nada relativo a treinamento sobre
segurança do paciente e/ou evento adverso, estimulá-lo a falar)
169
- Pedir para descrever o fluxo do processo de transporte com diferença de nível (uso de
elevador, rampa e escada) e sem diferença de nível.
- Relação dos profissionais com os pacientes;
- Saber quais os cuidados que devem ter durante a realização de suas tarefas (uso de máscaras,
luvas, limpeza de equipamentos, lavagem das mãos etc.)
- Tipos de doença a que foi acometido por estar em contato com pacientes e em que período
contraiu cada uma. Explicar como contraiu cada doença.
- Experiências anteriores na maternidade ou em outros locais de incidentes e/ou acidentes
durante o transporte.
- Verificar se o maqueiro tem conhecimento sobre a ocorrência de algum evento adverso com
algum paciente em decorrência do transporte ou transferência, feito por ele mesmo ou por
outro colega. Pedir para descrever em detalhes. (OBS: explicar para o maqueiro, de forma
fácil, o que é um evento adverso. Dar exemplos, para facilitar o entendimento dele).
- Saber se ele tomou conhecimento se alguma medida foi tomada para se evitar ou minimizar
a ocorrência de eventos adversos na atividade dele. Pedir para ele descrever como se deu esta
medida e seus efeitos.
- O que, no entender do maqueiro, é preciso ser feito (pela MEJC, pela empresa em que ele
trabalha, por ele mesmo, pelo paciente, pelo acompanhante etc.) para que a atividade dele
(transporte e transferência de pacientes) seja realizada de maneira a
garantir/promover/propiciar a segurança do paciente e a evitar ou minimizar a ocorrência de
eventos adversos.
170
APÊNDICE D - PLANO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
Nome do observado:
Data:____/_____/______ Hora de início: | Hora do fim:
Enfermeiros ou técnicos acompanhando o
transporte: _______________________________ Setor de início:____________________________
Setor de destino:___________________________
Foi seguido o protocolo de chamada pelas
enfermeiras:
( ) sim
( ) não. Como foi
feito:_____________________________________
( ) não se aplica
Realizou a identificação do paciente: ( ) sim
( ) não
Conferiu o local de destino do paciente: ( ) sim
( ) não
Transporte de urgência: ( ) sim
( ) não
Grau de autonomia do paciente: ( ) sob efeito de medicamentos
( ) cirurgiado
( ) desacordado
( ) com um ou mais dispositivos invasivos (sondas,
soro, tubo de oxigênio)
Materiais e Equipamentos utilizados
para o transporte:
( ) maca
( ) cadeira de rodas
( ) cadeira de rodas para banho
( ) outros. Quais:____________________________________
___________________________________________________
Condição do equipamento utilizado: ( ) possui problemas
Quais:______________________________________________
___________________________________________________
( ) Não possui problemas
Tipo de transferência: ( ) maca para cama, e vice-versa
( ) cadeira de rodas para cama, e vice-versa
( ) cadeira de rodas para maca, e vice-versa
( ) outros. Qual: _____________________________________
Foi necessário o uso do elevador: ( ) sim. Problemas observados (largura, comprimento,
diferença de nível, funcionamento, outros usuários, altura da
171
porta, altura do ambiente, dificuldades operatórias,
estratégias/regulações realizadas, etc.).
( ) não
Uso de epi’s: ( ) sim. Quais:______________________________________
___________________________________________________
( ) não
Contrantes físicos e/ou temporais
(exceto elevador):
( ) falta de acessibilidade. Local:________________________
Especificação:_______________________________________
( ) problema com o leiaute. Local:______________________
Especificação:_______________________________________
( ) outros. Qual: ____________________________________
Limpeza dos materiais e/ou
equipamentos - pré e pós-atendimento.
( )sim. Qual:_______________________________________
___________________________________________________
( ) não
Lavagem da mão pré-atendimento: ( ) sim. Seguiu o protocolo de lavagem (Portaria nº 1377/2013
e nº 2095/2013 ?____________________________________
( ) não
Lavagem da mão pós-atendimento: ( ) sim. Seguiu o protocolo de lavagem?_________________
( ) não
Em algum momento deixou o paciente: sozinho(a)
( ) sim
( ) não
com alguém
( ) sim. Quem (téc enferm; maqueiro, acompanhante, outros):
_________________________________________________
( ) não
Necessitou de ajuda de terceiros em
algum momento:
( ) sim. De quem:____________________________________
__________________________________________________
Em que tipo de operação:_____________________________
_________________________________________________
Como se deu (descrever):_____________________________
_________________________________________________
__________________________________________________
( ) não
Ocorreu algum acidente e/ou incidente
durante a operação de
transporte/transferência:
( ) sim. Quais e como procedeu: ______________________
__________________________________________________
172
_________________________________________________
( ) não
Houve a devida comunicação e
colaboração entre os maqueiros e
enfermeiros:
( ) sim. Como ocorreu: ______________________________
__________________________________________________
( ) não
Houve a devida comunicação e
colaboração entre os maqueiros e/ou
pacientes e acompanhantes:
( ) sim. Como ocorreu: ______________________________
__________________________________________________
( ) não
O maqueiro estava no início, meio, ou
fim do seu turno?
( ) início (até 4 horas)
( ) meio (entre 4 e 8 horas)
( ) fim (acima de 8 horas)
Observações adicionais:
173
APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO COM PACIENTES E OU ACOMPANHANTES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
INFORMAÇÕES SÓCIO-DEMOGRÁFICAS
RESPONDENTE:
( ) paciente ( ) acompanhante
Idade:
( ) 0 a 13 anos
( ) 14 a 17 anos
( ) 18 a 24 anos
( ) 25 a 39 anos
( ) 40 a 59 anos
( ) 60 ou mais
Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
Nível de escolaridade:
( ) Sem instrução e menos de um ano de estudo
( ) Nível fundamental incompleto ou equivalente
( ) Nível fundamental completo ou equivalente
( ) Nível médio incompleto ou equivalente
( ) Nível médio completo ou equivalente
( ) Nível superior incompleto ou equivalente
( ) Nível superior completo ou equivalente
( ) Não determinado
O/a paciente chegou à Maternidade:
( ) em veículo particular (próprio, táxi, uber etc.)
( ) à pé
( ) veículo público
( ) outro: ________________________________________________________________
USO DO ESPAÇO
Já utilizou dos serviços da Maternidade Escola Januário Cicco anteriormente?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sabe
ESTA PRÓXIMA PERGUNTA SÓ SERÁ RESPONDIDA SE A RESPOSTA
ANTERIOR FOR SIM
174
Com que frequência utiliza os serviços da Maternidade Escola Januário Cicco?
( ) Esporadicamente
( ) De 1 a 2 vezes ao ano
( ) De 3 a 4 vezes ao ano
( ) Acima de 4 vezes ao ano
____________________________________________________________________
Tempo médio de permanência, nesta estadia, até o momento na Maternidade Escola
Januário Cicco?
( ) Menos de 6 horas
( ) 6 –| 12 horas
( ) 12 –| 18 horas
( ) 18 –| 24 horas
( ) Mais de 24 horas
Quantas vezes utilizou o serviço dos maqueiros da MEJC nessa estadia?
( ) Nenhuma
( ) De 1 a 2 vezes
( ) De 3 a 4 vezes
( ) Acima de 4 vezes
Qual tipo de serviço de transporte que já utilizou?
( ) Maca
( ) Cadeira de rodas
( ) Ambos
( ) Nenhum até o momento
PERCEPÇÕES DO LOCAL
Nas próximas questões assinale a que melhor responde as suas impressões da Maternidade
Escola Januário Cicco.
Como você classificaria a condição geral da Maternidade Escola Januário Cicco?
( ) Muito ruim
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Boa
( ) Muito Boa
Justifique: ___________________________________________________________
Como você classificaria o serviço de transporte de pacientes da Maternidade Escola
Januário Cicco?
( ) Muito ruim
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Boa
( ) Muito Boa
Justifique: ___________________________________________________________
Como você classificaria as condições gerais dos equipamentos de transporte de pacientes
da Maternidade Escola Januário Cicco?
( ) Muito ruim
175
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Boa
( ) Muito Boa
Justifique: ___________________________________________________________
Como você classificaria as condições gerais das instalações para o transporte de
pacientes da Maternidade Escola Januário Cicco?
( ) Muito ruim
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Boa
( ) Muito Boa
Justifique: ___________________________________________________________
Já ocorreu com você, ou você tomou conhecimento ou testemunhou, algum tipo de
incidente ou acidente ou evento adverso ou anormalidades durante o transporte ou
transferência de paciente na Maternidade Escola Januário Cicco?
( ) Sim
( ) Não
Em caso afirmativo, descreva.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
O que entende por segurança do paciente?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
MUITO OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO!
PREENCHIMENTO POR PARTE DO APLICADOR
Data:___/___/___
Turno:______
Setor de aplicação:
___________________________________________________________________________
Observações adicionais:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
176
APÊNDICE F - QUESTIONÁRIO COM MAQUEIROS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
INFORMAÇÕES SÓCIO-DEMOGRÁFICAS
Iniciais do nome:
Idade: Nível salarial:
( ) 0 a 13 anos ( ) 1 –| 2 salários mínimos
( ) 14 a 17 anos ( ) 2 –| 3 salários mínimos
( ) 18 a 24 anos ( ) 3 –| 4 salários mínimos
( ) 25 a 39 anos ( ) Acima de 4 salários mínimos
( ) 40 a 59 anos
( ) 60 ou mais
Sexo: Férias / Décimo terceiro:
( ) Masculino
( ) Feminino
Nível de escolaridade: Jornada / Pausas:
( ) Sem instrução e menos de um ano de estudo
( ) Nível fundamental incompleto ou equivalente
( ) Nível fundamental completo ou equivalente
( ) Nível médio incompleto ou equivalente Trabalha durante sua folga? Se sim, em que?
( ) Nível médio completo ou equivalente
( ) Nível superior incompleto ou equivalente
( ) Nível superior completo ou equivalente
( ) Não determinado
DADOS DA FUNÇÃO
Tempo de serviço na função: __________________________________________________
Tempo de serviço na empresa terceirizada:______________________________________
Tempo de serviço na Maternidade Escola Januário Cicco:_________________________
O que entende por Segurança do paciente? Dê exemplo
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
177
O que entende por Evento Adverso? Dê exemplo
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Já ocorreu com você, ou você tomou conhecimento ou testemunhou, algum tipo de
incidente ou acidente ou anormalidade ou evento adverso durante o transporte ou
transferência de paciente na Maternidade Escola Januário Cicco?
( ) Sim (a- ocorreu comigo ( ); b- tomei conhecimento ( ); c- testemunhei ( ))
( ) Não
Em caso afirmativo, descreva. ________________________________________________
a-incidente ou acidente ( ); b-anormalidade ( ); c-evento adverso ( )
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Qual a relação que sua atividade (transporte e transferência de pacientes) tem com a
segurança do paciente e, portanto, com a ocorrência de eventos adversos? Explique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
O que é preciso ser feito (pela MEJC, pela sua empresa, por você, pelo paciente, pelo
acompanhante etc) para que sua atividade (transporte e transferência de pacientes) seja
realizada de maneira a garantir/promover/propiciar a segurança do paciente e a evitar
ou minimizar a ocorrência de eventos adversos?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Já passou por algum tipo treinamento específico para exercer sua função?
( ) Sim
( ) Não
Em caso afirmativo:
Quantos?
__________________________________________________________________________
178
Quanto tempo durou?
__________________________________________________________________________
O que foi abordado?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Há quanto tempo foi seu último treinamento?
___________________________________________________________________________
Quais pontos positivos, em relação a sua função, da Maternidade Escola Januário
Cicco?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Quais pontos negativos, em relação a sua função, da Maternidade Escola Januário
Cicco?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
SUGESTÕES DE MELHORIA:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
MUITO OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO!
PREENCHIMENTO POR PARTE DO APLICADOR
Dia:______
Hora:______
Data:___/___/___
179
APÊNDICE G - QUESTIONÁRIO COM GESTORES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
Nome: _____________________________________________________________________
Idade: __________________
Formação: __________________________________________________________________
Função na MEJC:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Tempo na função: __________________
Tarefas e responsabilidades em geral:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Responsabilidades específicas com o setor dos maqueiros:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Já teve algum tipo de dificuldade relacionado a esse setor na sua gestão? Qual (is)?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Já houve incidentes e/ou acidentes, com pacientes ou com os próprios maqueiros durante sua
gestão, relacionados com o transporte e movimentação do paciente? Em caso afirmativo: De
que tipo? Quando ocorreram? O que foi feito?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Quais principais dificuldades você elencaria para este setor? Por exemplo: há maqueiros e
equipamentos suficientes? O turno da noite sem supervisão? Ambiente adequado (pisos,
acessibilidade)? Elevadores suficientes?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Como entende a relação dos maqueiros com a segurança do paciente?
___________________________________________________________________________
180
APÊNDICE H - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
TCLE para maiores de idade:
Esclarecimentos
Este é um convite para você participar da pesquisa: Análise ergonômica do trabalho
dos maqueiros e sua relação com a segurança do paciente em uma maternidade escola da
cidade de Natal, que tem como pesquisador responsável Aianna Rios Magalhães Véras e
Silva. Esta pesquisa pretende analisar a atividade dos maqueiros da Maternidade Escola
Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando identificar os
determinantes dessa atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes. Pretende-se
com isso, indicar medidas de melhoria da atividade que minimizem as possibilidades de
ocorrência dos eventos adversos, ou as vulnerabilidades associadas à atividade, e aumentem a
segurança do paciente.
O motivo que nos leva a fazer este estudo é que percebe-se a importância de
pesquisas que visem conhecer os incidentes que podem ocorrer com os pacientes durante o
transporte intra-hospitalar, a exemplo, um estudo recente realizado por Sousa et al (2018)
com maqueiros de um hospital em Goiás, verificou que os incidentes relatados por eles,
advindos do transporte do paciente, os colocam situação de vulnerabilidade e em conflito
com as diretrizes do hospital, além de ratificar, em sua pesquisa, a escassez de literatura
que envolva a atividade laboral dos maqueiros e os riscos envolvidos na mesma.
Observou-se, também, a necessidade do estudo pela demanda real em uma maternidade
escola na cidade de Natal, pois na mesma nunca houve um estudo com tais profissionais,
principalmente, envolvendo os pacientes e acompanhantes no processo da pesquisa,
devendo assim haver a exploração da literatura a respeito do tema para que haja melhorias
na saúde e segurança dos pacientes e do profissional estudado.
Caso você, maqueiro, decida participar, você deverá participar de entrevistas
semiestruturadas, a fim de se descobrir o seu perfil profissional (idade, sexo, escolaridade),
demandas e queixas a respeito do seu trabalho, o que elencariam como os pontos positivos no
seu trabalho, durante a entrevista haverá registro de imagens e/ou vídeos, assim como durante
como durante a observação da realização de suas atividades. Além disso, ocorrerá a aplicação
181
de questionário Nórdico, com o objetivo de analisar e averiguar os problemas musculares que
a afetam o sistema locomotor. Já com pacientes, ocorrerá a aplicação de um Check list,
denominado de escala de avaliação do risco na movimentação e transferência, permitindo
avaliar os riscos ergonômicos que podem estar presentes durante os procedimentos de
movimentação e transporte de pacientes, possibilitando, dessa forma, fazer uma estimativa do
tipo de assistência requerida por estes, além de um questionário com pacientes e/ou
acompanhantes, visando recolher as suas percepções a respeito da MEJC. Tais processos
levaram, cerca de, 3 meses para coleta. Qualquer registro de vídeo, imagem ou voz será para
uso do próprio pesquisador, sendo excluído posteriormente.
Durante a realização das entrevistas e questionários a previsão de riscos é mínima, ou
seja, o risco que você corre é semelhante àquele sentido exame físico ou psicológico de rotina.
Sendo eles, o de causar constrangimentos aos profissionais maqueiros, aos pacientes e aos
acompanhantes durante a realização das entrevistas ou na aplicação dos questionários, bem
como acontecer algum desconforto, ansiedade e/ou estresse devido a temática abordada, e
diante de sua ocorrência o pesquisador assume a responsabilidade de dar assistência integral
às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos, bem como, também, ao
ressarcimento e/ou indenizações, caso comprovado sua necessidade.
Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para
Aianna Rios Magalhães Véras e Silva, (86)99932-3597, [email protected].
Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer
fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.
Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em
congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe
identificar.
Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local
seguro e por um período de 5 anos.
Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo
pesquisador e reembolsado para você.
Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será
indenizado.
Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá entrar em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, telefone: 3342-5003,
endereço: Av. Nilo Peçanha, 620 – Petrópolis – Espaço João Machado – 1° Andar – Prédio
Administrativo - CEP 59.012-300 - Nata/Rn, e-mail: [email protected].
182
Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o
pesquisador responsável Aianna Rios Magalhães Véras e Silva.
Consentimento Livre e Esclarecido
Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados
serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela
trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da
pesquisa Análise ergonômica do trabalho dos maqueiros e sua relação com a segurança do
paciente em uma maternidade escola da cidade de Natal, e autorizo a divulgação das
informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que
nenhum dado possa me identificar.
Assinatura do participante da pesquisa
Declaração do pesquisador responsável
Como pesquisador responsável pelo estudo Análise ergonômica do trabalho dos
maqueiros e sua relação com a segurança do paciente em uma maternidade escola da cidade
de Natal, declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os
procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados ao
participante desse estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade do
mesmo.
Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei
infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.
Aianna Rios Magalhães Véras e Silva
183
APÊNDICE I - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS (FOTOS E
VÍDEOS)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
Eu, ____________________________________________________________,
profissional maqueiro ou paciente da Maternidade Escola Januário Cicco, AUTORIZO o(a)
pesquisadora Aianna Rios Magalhães Véras e Silva, com pesquisa intitulada: análise
ergonômica do trabalho dos maqueiros e a sua relação com a segurança do paciente em uma
maternidade escola na cidade de natal, sob coordenação do Prof. Ricardo José Matos de
Carvalho a fixar, armazenar e exibir a minha imagem por meio de vídeos com o fim
específico de inseri-la nas informações que serão geradas na pesquisa, aqui citada, e em outras
publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas, congressos e jornais.
A presente autorização abrange, exclusivamente, o uso de minha imagem para os fins
aqui estabelecidos e deverá sempre preservar o meu anonimato. Qualquer outra forma de
utilização e/ou reprodução deverá ser por mim autorizada. O pesquisador responsável Aianna
Rios Magalhães Véras e Silva, assegurou-me que os dados serão armazenados em meio de
vídeo sob sua responsabilidade, por 5 anos, e após esse período, serão destruídas. Assegurou-
me, também, que serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer
momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.
Natal, ______/______/ 2020.
Assinatura do participante da pesquisa
Impressão datiloscópica do participante
Assinatura e carimbo do pesquisador responsável
184
APÊNDICE J - TERMO DE COMPROMISSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE
Ilma Profª. Drª. Janaina Cristiana de Oliveira Crispim Freitas
Chefe do setor de Pesquisa da GEP/MEJC.
Eu, AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA, (86) 99932-3597,
[email protected], submeto o presente projeto de pesquisa intitulado ”ANÁLISE
ERGONÔMICA DO TRABALHO DOS MAQUEIROS E A SUA RELAÇÃO COM A
SEGURANÇA DO PACIENTE EM UMA MATERNIDADE ESCOLA NA CIDADE DE
NATAL”, sob orientação do Ricardo José Matos de Carvalho, Professor, Doutor,
Departamento de engenharia de produção, a ser desenvolvido como:
( ) Relato de caso para fins acadêmicos*;
( ) Relato de caso para fins científicos*;
( ) TCC de conclusão de curso da graduação;
( ) TCC de curso de pós-graduação lato sensu;
( x ) Dissertação de mestrado;
( ) Tese se doutorado;
( ) Pós-doutoramento;
Outros: _______________________
Declaro que o projeto de pesquisa apresentado contempla os princípios vigentes da
Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) 466/12 que trata da Pesquisa
envolvendo Seres Humanos. Quando se aplicar, comprometo-me a entregar um relatório
parcial por escrito, até 30 dias após a finalização da coleta do material e apresentar de forma
oral e/ou escrita o produto da minha pesquisa, desenvolvida nesta Maternidade, citar o nome
desta instituição nos trabalhos publicados em congressos, simpósios ou outras atividades
semelhantes, bem como em jornais, revistas e periódicos nacionais ou estrangeiros, seja no
título, resumo (abstract) ou na metodologia do estudo publicado como artigo científico.
*Não será necessário relatório parcial e final.
Natal, 13 de agosto de 2018.
__________________________
Pesquisador (a) responsável
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