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CAPTULO 5
ALTERAES EM PROPRIEDADESFSICAS DO SOLO EM ECOSSISTEMASDE FLORESTA APS A IMPLANTAODE PASTAGEM NO EXTREMO
OESTE DO ACRE
Arley Figueiredo PortugalLuiz Eduardo Ferreira Fontes
Joo Luiz LaniCarlos Ernesto G. Reynald Schaefer
Elpdio Incio Fernandes Filho
Projeto financiado pelo PPG7/CNPq.
1. INTRODUO
O Acre uma das ltimas fronteiras da Amaznia
Ocidental brasileira e localiza-se entre as latitudes de
0707S e 1108S, e as longitudes de 6630 W e74WGr, e ocupa uma rea de aproximadamente
164.221,36 km (16.422.136 ha) correspondente a 4%
da rea amaznica brasileira e a 1,9% do territrio
nacional (PASSOS, 2006).
No Acre, o uso da terra por pequenos produtores
em reas de Assentamentos baseia-se, em grande parte,
no processo de derruba e queima da floresta primria
e/ou, secundria (capoeira), seguida do plantio de
culturas anuais como arroz, milho, feijo e mandioca, porum perodo mdio de um a cinco anos (FUJISAKA et al.,
1996; FUJISAKA e WHITE, 1998; AMARAL et al., 2001).
Aps este perodo, em razo de fatores como o
empobrecimento qumico do solo, surgimento de plantas
daninhas, ocorrncia de pragas e doenas, dentre outros,
o produtor deixa a terra em pousio, em ciclos que variam
em mdia cinco a dez anos, para recuperao de sua
fertilidade e/ou, incorpora pastagens extensivas,
enquanto novas reas so desmatadas para utilizao
com culturas (AMARAL et al., 2001, MATHIEU et al., 2004;NUMATA et al., 2007).
O Acre possui uma das maiores regies
preservadas do Brasil, cerca de 88 % do seu territrio
encontram-se sob floresta (INPE, 2008). Do total
desmatado, em torno de 81 % (13.352 km, o equi-
valente a 1,3 milhes de hectares) tem sido utilizado com
pastagens extensivas (OLIVEIRA et al., 2006), o que
demonstra a grande expresso da pecuria no Estado.
Espacialmente, as reas com pastagens ocupam
o maior percentual entre as tipologias agrcolas,
apresentando uma grande rea de ocupao entre as
reas desmatadas no Estado do Acre. Os rebanhos se
caracterizam pela criao com a finalidade de corte nas
grandes fazendas e pelo criatrio destinado ao corte e
leite em reas dos projetos de assentamento (VALENTIM E
GOMES, 2006). Com o advento do Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre, o Estado passou a ser dividido em
cinco regionais de desenvolvimento: Microrregies do
Alto Acre, Baixo Acre, Purus, Tarauac/Envira e Juru;
estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE) (ACRE, 2000; ACRE, 2006).
A regional do Alto Juru constitui-se numa rea
de grande diversidade biolgica, mas em decorrncia da
colonizao recente, a tendncia tem sido a mudana no
padro de ocupao da terra (ACRE, 2006). A
microrregio do Juru, at o ano de 2004, apresentava
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representado uma ameaa sustentabilidade aos
sistemas pecurios no Brasil. A maior parte dos estudos
que abordam o problema relaciona o processo de
degradao com as interaes entre fatores zootcnicos
(taxa de lotao animal), da planta (perda de vigor,
alterao morfolgica) e do solo (propriedades
qumicas), enquanto o problema de degradao fsica do
solo tem sido deixado em segundo plano (LEO et al.,2004).
2. ESTUDO DE CASO
No Acre, as alteraes em propriedades fsicas
do solo em sistemas agropecurios so ainda pouco
estudadas, especialmente pastagens instaladas no
extremo oeste do Estado, que se constitui como uma
importante rea de ocupao antrpica no Estado.
A Universidade Federal de Viosa, por meio da
sua equipe de Pesquisadores do Departamento de Solos,
vem desenvolvendo pesquisas no Estado do Acre como um
todo e, mais especificamente na rea de Fsica do Solo, no
extremo oeste do Acre com o intuito de avaliar alteraes
em propriedades fsicas do solo aps a retirada da
floresta e implantao de pastagem.
A regio citada a microrregio do Alto Juru,
no assentamento Iucat, localizado no municpio de
Rodrigues Alves. O assentamento situa-se nascoordenadas 72o 3930''W e 7 46'30''S, e foi
implantado h aproximadamente 25 anos, e apresenta
mdulos de aproximadamente 10 ha, e representa bem a
realidade da pecuria nesta regio, onde se tem a
pecuria extensiva. O clima da regio caracterizado
pelas altas temperaturas e elevados ndices
pluviomtricos, com mdia anual de 2.171 mm, sendo
classificado como tropical mido Awi (Kppen),
predominando perodo seco, nos meses de maio a outubro
com alta umidade relativa e temperatura (BRASIL, 1977).Quanto geologia, a rea est inserida na provncia
geolgica dos Depsitos Cenozicos, representada pela
Formao Solimes, predominando as rochas sedimen-
tares argilito e siltito (BRASIL, 1977, CAVALCANTE,
2006).
Neste trabalho, estudaram-se os seguintes usos
da terra, onde foram considerados os tratamentos: (a)
mata nativa - Floresta Ombrfila Densa, utilizada com
testemunha; (b) pastagem com 20 anos de implantao,aps cultivo com culturas anuais; (c) pastagem com 10
anos de implantao, aps a derrubada da mata; (d)
mata secundria (capoeira), aps cultivo com culturas e
uso como pastagem. O esquema histrico do uso do solo
rea desflorestada de 1604,5 km2, o correspondente a
5,11 % dessa microrregio. Os municpios de Cruzeiro do
Sul e Rodrigues Alves foram os que apresentaram maiores
reas desflorestadas, com 7,2 e 11,7% da rea do
municpio (INPE, 2008).
Neste sentido, a identificao e realizao de
medidas de melhoramento e reabilitao de reas compastagem alteradas e subutilizadas em bases
sustentveis, devem ser adotadas, com o intuito de
reverter o processo de deteriorao ambiental e social, e
estimular a permanncia do agricultor no meio rural.
A expanso das reas de pastagens no Acre vem
se tornando menos vivel devido s crescentes restries
da legislao ambiental (VALENTIM e GOMES, 2006).
Assim, a alternativa dos produtores deve ser a
busca de sistemas sustentveis de produo para
aumentar a produtividade das reas de pastagens jexistentes por meio da incorporao de tecnologias aos
sistemas produtivos com o mnimo de impacto aos
ecossistemas.
Ao derrubar a vegetao nativa para instalar
plantaes, h remoo de sistemas biolgicos
complexos, multiestruturados, diversificados e estveis, e
a sua substituio por sistemas simples e instveis, provoca
variaes nas suas propriedades fsicas. A compreenso e
a quantificao do impacto do uso e manejo do solo na
sua qualidade fsica so fundamentais no desenvolvimen-
to de sistemas agrcolas sustentveis. A introduo de
sistemas agrcolas em substituio s florestas causa
desequilbrio no ecossistema, modificando as
propriedades do solo, cuja intensidade varia com as
condies de clima, uso e manejo adotados e a natureza
do solo. De maneira geral, com o uso intensivo dos solos,
geralmente ocorre deteriorao de suas propriedades
fsicas.
O pisoteio animal em toda superfcie e, s vezes,repetidamente no mesmo local, pode promover drsticas
alteraes nas condies fsicas do solo, interferindo o
crescimento do sistema radicular, como resultado da
compactao do solo. A compactao um processo de
degradao do solo que resulta na deteriorao de sua
estrutura (LAL, 1979). Qualquer alterao significativa
que ocorra na estrutura do solo, seja pela compactao,
seja por outro processo, provocar mudanas nas
relaes solo-gua-ar (PEDROTTI & DIAS JUNIOR, 1996).
Portanto, de fundamental importncia buscar prticasde manejo que mantenham ou melhorem as condies
estruturais dos solos.
A degradao das pastagens cultivadas tem
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apresentado na Figura 1, e os histricos de uso do solo
aps a retirada da mata so apresentados no Quadro 1.
Em todos os usos ocorre a classe do ArgissoloVermelho-Amarelo distrfico. A altitude mdia do
local de 210 metros e o comprimento mdio daslanantes de aproximadamente 300 metros, sendoque a rea avaliada dentro dos usos foi amostradano tero mdio da paisagem para todos os usos.
A regio est situada em duas grandesRegies Fitoecolgicas: o domnio da FlorestaOmbrfila Aberta (FOA) e o domnio da FlorestaOmbrfila Densa (FOD) de acordo com Brasil (1977) e
Pereira e Bersch (2006). Estas duas regies fitoecolgicas
regionais esto geralmente associadas s grandes
feies climticas e morfoestruturais presentes na baciaamaznica (os Baixos Plats da Amaznia, o Planalto
Rebaixado da Amaznia Ocidental e Regio Aluvial da
Amaznia). Tais feies fitoecolgicas regionais (FOA e
FOD) esto tambm condicionadas a fatores geolgicos,
geomorfolgicos e pedolgicos, coexistindo uma grande
diversidade de formaes vegetais, sendo o solo o fator
principal desta diferenciao. No local do experimento
predomina o Domnio da Floresta Ombrfila Densa
(Figura 2).
Em cada uso (tratamento), de modo aleatrio,
foram abertas trs trincheiras para amostragem de solo,
consideradas como as repeties, nas quais foram
coletadas amostras indeformadas nas profundidades de
0 a 10, 10 a 20 e 45 a 55 cm, a fim de se avaliar os
impactos do uso antrpico nas propriedades fsicas do
solo nas camadas superficiais e subsuperficiais. Para a
coleta de amostras indeformadas, uma rea de
aproximadamente 1 hectare dentro de cada uso foi
separada em quadrantes, e dentro de cada quadranteforam retiradas 20 amostras simples para formar uma
amostra composta, em cada profundidade, para
obteno da Terra Fina Seca ao Ar (TFSA).
O carbono orgnico total (COT) foi determinado
utilizando o mtodo descrito por Yeomans e Bremner
(1988). As anlises fsicas constaram de: densidade do
solo (mtodo do anel volumtrico), anlise textural,
porosidade total, condutividade hidrulica (meio satura-
do) e estabilidade de agregados em gua foram
realizadas conforme metodologia descrita por Embrapa
(1997). Foram calculados os ndices de agregao:dimetro mdio ponderado (DMP) e dimetro mdio
geomtrico (DMG), e a % de agregados estveis na clas-
se > 2 mm (AGRE2), usando as seguintes equaes:
DMP=xiDMi; DMG=10xilog (DMi) e AGRE2 = xi>2 *
100, onde: xi a proporo de agregados de cada
classe em relao ao total; DMi o dimetro mdio de
cada classe de agregado; xi>2 a proporo de
agregados da classe maior que 2 mm. Tambm calculou-
se os macroagregados (MACR) e os microagregados
(MICRO), somando-se a % de agregados retidos nas
classes acima e abaixo de 250 m, respectivamente,
como sugerido por Tisdall e Oades (1982). Foi calculado
o ndice de sensibilidade (IS), sugerido por Bolinder et al.
(1999), segundo a expresso: Is = As/Ac, em que Is o
ndice de sensibilidade; As o valor do DMP do solo para
cada uso agrcola, e Ac o valor do DMP do solo sob
mata. Tambm foi determinada a resistncia
penetrao em um penetrmetro de bancada, marca
Marconi, modelo MA-933, com velocidade de avano
de 14,99 mm min-1 e dotado de registro automtico de
dados em computador, permitindo grande sensibilidade
de leitura (foram feitas as leituras de dados a cada 0,5
mm). Foram realizadas nove leituras em cada uso do solo
e em cada profundidade, sendo que as amostras foram
anteriormente submetidas presso de 1500 kPa,
estando, portanto com a umidade referente ao ponto de
murcha permanente.
Para determinar a distribuio de poros por
tamanho utilizaram-se amostras com estrutura nodeformada. Utilizou-se o modelo capilar proposto por
Bouma (1991) para o clculo do dimetro dos poros, a
partir da seguinte equao: DP = 4 Cos /m), sendo
DP o dimetro dos poros (m); a tenso superficial daogua (73,43 kPa a 20 C); o ngulo de contato entre o
menisco e a parede do tubo capilar (considerado 0) em
a tenso de gua no solo (kPa). Utilizou-se o mtodo da
mesa de tenso para a determinao do contedo de
gua a 20, 40, 60, 80 e 100 cm de tenso de coluna de
gua, classificando os poros de acordo com a reteno degua nestas alturas de coluna de gua. O limite entre
macroporos e microporos foi estabelecido como a tenso
de 60 cm de coluna de gua, conforme EMBRAPA (1997).
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Figura 1. Esquema identificando o histrico de ocupao das reas
que foram avaliadas no ecossistema de pastagens.
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Com estes mesmos valores de tenso foi montada a curva
de reteno de gua a baixas tenses.
Para a reteno de gua foram utilizadas
amostras com estrutura preservada, submetidas s
respectivas presses por 7 dias. A capacidade de gua
disponvel (CAD) foi determinada subtraindo a gua
retida no solo sob a presso equivalente a 10 kPa
(capacidade de campo) da quantidade de gua retida
na presso equivalente a 1500 kPa (ponto de murcha
permanente). Foi utilizada a presso de 10 kPa para
representar a capacidade de campo (CC), baseado em
resultados obtidos por Reichardt (1988), que consideram
essa, a melhor tenso para representar a CC em solos
tropicais. Foi calculada a relao CC/PT (em que: cc =
capacidade de campo; PT = porosidade total) com os
dados acima citados.
Na anlise dos dados, os usos do solo foram ostratamentos, e considerou-se o delineamento inteiramente
casualizado. Os efeitos dos tratamentos de uso do solo
sobre as suas propriedades foram testados por meio de
anlise de varincia. Analisaram-se os efeitos dos
tratamentos em cada profundidade, separadamente.
Quando as variveis foram estatisticamente diferentes, as
mdias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de
probabilidade.
3. RESULTADOS OBTIDOS
Verifica-se pela anlise granulomtrica dos solos
sob os usos avaliados (Tabela 1), que a frao areia
(areia grossa + areia fina) predomina nos quatro solos
sob os diferentes usos, mostrando que possivelmente, os
solos foram formados de rochas com sedimentos mais
grosseiros, o que indica que o ambiente de sedimentao
no perodo de formao da rocha foi de maior energia,
permitindo maior sedimentao de partculas mais
grosseiras.-1O teor de argila variou de 11,0 a 38,7 dag kg e
-1os de silte variou de 15,3 a 24,7 dag kg entre todos os
usos e profundidades avaliados. Nota-se que a argila
aumenta em profundidade, evidenciando o processo de
iluviao da argila no perfil do solo, tpico da classe
Argissolo.
Os solos, em todos os usos, na profundidade de 0
a 10 cm, enquadram-se como sendo da classe textural
franco-arenoso (SANTOS et al., 2005). Na profundidadede 10 a 20 cm, os solos sob a mata e o pasto com 10 anos
foram classificados como franco-argilo-arenoso, e a
capoeira como franco-arenoso, ao passo que o solo sob
pasto com 20 anos foi classificado na classe textural
argila. Na profundidade de 45 a 55 cm, todos os solos
foram classificados como franco-argilo-arenoso.
De maneira geral, os solos apresentaram
propores equivalentes de tamanhos de partculas
(areia, silte e argila), de forma que no h o
favorecimento do ajuste das partculas (RESENDE et al.,
1999).Os valores de densidade do solo foram menores
para mata, em todas as profundidades, evidenciando
que o uso do solo, caracterizado pela retirada da mata
nativa e implantao de pastagem extensiva provocou
alteraes nas condies fsicas do solo evidenciadas
pela compactao do solo, tanto em superfcie como em
subsuperfcie (Figura 3).
Houve aumento na DS em relao mata de 26,
49 e 45 % para capoeira, pasto com 10 anos e 20 anos,
respectivamente, na profundidade de 0 a 10 cm. De 10 a
20 cm o aumento da DS foi de 11, 9 e 19 % para
capoeira, pasto com 10 anos e 20 anos, respectivamente,
enquanto para a profundidade de 45 a 55 cm houve um
aumento da DS de 13, 7 e 8 % respectivamente. Estes
resultados mostram que aps a implantao da
pastagem houve a compactao significativa do solo em
superfcie, e que essa compactaofoi menor em
subsuperfcie. Tambm se observa que o pousio e a
formao de capoeira possuem efeito benfico sobre as
propriedades fsica do solo, em especial a sua densidade.
Na pastagem, os altos valores de DS na
superfcie esto associados s altas presses exercidas
pelo pisoteio animal, s vezes, repetidamente no mesmo
local, que agravado pelo manejo aplicado, onde se tem
superpastejo e uso contnuo da pastagem. Na literatura
so mencionados valores de presses que variam entre
0,25 e 0,49 kPa para bovinos de 400 a 500 kg, podendo
atingir a profundidade de 5 a 10 cm (PROFFITT et al.,
1993).Outro fator que contribui para maior DS na
pastagem e que com o desmatamento, o solo exposto
ao direta das gotas da chuva e raios solares, tornando-
se fisicamente mais frgil, caracterizando assim o incio
da sua degradao (PORTUGAL et al., 2008), e dessa
forma, h o aumento da ocorrncia de ciclos de
umedecimento e secagem, que promovem o rearranjo das
partculas, causando o adensamento do solo,
especialmente em superfcie (OLIVEIRA et al., 1996).
Tambm, em superfcie, as diferenas na
densidade do solo podem estar relacionadas s perdas
de carbono orgnico total (COT) (Tabela 2) com a
retirada da mata, j que o carbono orgnico do solo
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exerce grande influncia nos processos de agregao do
solo, reteno de gua, favorecimento da fauna edfica,
alm de possuir menor massa. Mesmo havendo alterao
da densidade do solo nos ambientes com pastagem em
relao mata, os valores encontrados foram menores
que o ndice crtico do crescimento radicular de soloas-3arenosos, de 1,75 kg dm (MEDINA, 1985; CORSINI &
FERRAUDO, 1999).
Os valores de porosidade total mostraram
comportamento inverso aos de densidade do solo, com
maiores valores ocorrendo no solo sob a mata, e os
menores nos solos sob pastagens, em todas as
profundidades (Figura 4). Pode-se observar que o uso
antrpico do so lo com pastagem alterou ,
significativamente, a porosidade total do solo nas
camadas de 0 a 10 cm e 10 a 20 cm, ao passo que de 45
a 55 cm no houve impacto negativo do uso sobre aporosidade total do solo. Tambm, 10 anos de abandono
das reas com pastagem para formao de capoeira
resultou em recuperao da porosidade total, somente de
0 a 10 cm.
Considera-se um solo fisicamente ideal para a
maioria das prticas agrcolas, o que apresente em
mdia 50 % do seu volume ocupado por slidos, e os
outros 50 % por volume poroso, ocupados por gases e
gua (BRADY, 1989). Nos solos sob pastagem, em todas
as profundidades avaliadas, observa-se que aporosidade total menor que 50 %, especialmente de 0 a
10 cm, evidenciando o impacto do uso com pastagem
sobre o espao poroso do solo nesta regio.
Com relao microporosidade, pode-se notar
que em nenhum dos usos e profundidades avaliados
apresentaram diferena estatstica, a exceo do pasto
com 20 anos que, apresentou menor microporosidade de
10 a 20 cm (Figura 4). Isso indica que a reduo da
porosidade total observada nos solos deve-se, pre-
ferencialmente, a alteraes na reduo da proporo
de macroporos em relao ao nmero de microporos.
Silva e Kay (1997) salientam que a microporosidade do
solo fortemente influenciada pela textura, teor de
carbono orgnico e muito pouco influenciada pelo
aumento da densidade do solo, originada da presso
exercida sobre o solo, o que concorda com o observado
neste trabalho.
Por outro lado, a macroporosidade apresentou
reduo significativa em relao mata de 31%, 71% e
60 % para capoeira, pasto com 10 anos e pasto com 20
anos, respectivamente, na profundidade de 0 a 10 cm.
Nas demais profundidades no houve diferenas
significativas. Estes resultados confirmam que a reduo
da porosidade na superfcie dos solos sob pastagem foi
devido s diferenas na macroporosidade.
Nota-se que os poros de maior dimetro so os
principais afetados pelo efeito da compactao do solo,
o que ir afetar grandemente a capacidade de aerao
e infiltrao de gua no solo, j que os macroporos so os
responsveis pela movimentao da gua no solo. Este
fato confirmado pelos dados de condutividadehidrulica (Figura 5).
Pela distribuio de tamanhos de poros pode-se
notar que, com exceo do uso pasto com 10 anos na
classe de poros entre 50 e 9 m, todos os demais usos do
solo, em todas as profundidades, no se diferenciaram
significativamente para as classes de poros menores que
50 m, considerada limite entre macroporosidade e
microporosidade (Tabela 2). Este resultado confirma que
a retirada da mata e implantao de pastagem noextremo oeste do Acre no resultou em impactos
significativos sobre a microporosidade do Argissolo.
Por outro lado, pode-se notar que o uso com
pastagem provocou reduo significativa nas classes de
poros maiores que 50 m (macroporos) nas
profundidades de 0 a 10 e 10 a 20 cm, ao passo que na
profundidade de 45 a 55 cm no ocorreu impacto
negativo em nenhuma classe de poros (Tabela 2).
Percebe-se que as classes de poros maiores que 73 mapresentaram grande reduo com a implantao de
pastagem, tanto com 10 anos como com 20 anos, sendo as
maiores diferenas observadas na classe de poros maior
que 145 m, que so poros predominantemente
responsveis pela drenagem e aerao do solo. Os poros
maiores que 50 m, macroporos, so responsveis pela
drenagem e condutividade hidrulica do solo, de forma
que a reduo destes poros, especialmente em superfcie,
dificulta a infiltrao da gua no solo e favorecem o
escoamento superficial, potencializando os processos
erosivos no solo. Portugal (2005) concluiu que as redues
na porosidade de um Argissolo Vermelho-Amarelo
distrfico sob pastagem degradada, na Zona da Mata
Mineira, foram devido s redues do volume de
macroporos.
Aps 10 anos de abandono da rea com
pastagem e conseqente formao de capoeira pode-se
notar que houve uma recuperao total da classe de
poros de 73 a 145m, e parcial na classe maior que 145
m na profundidade de 0 a 10 cm. Na profundidade de
10 a 20 cm, 10 anos com capoeira no foram suficientes
para recuperar a classe de poros maior que 145 m,
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Figura 2. Foto ilustrativa do ambiente no extremo oeste do
Acre, no assentamento no Municpio de Rodrigues Alves, onde
foi realizado o trabalho. Fotografia: Arley Portugal, 2008
Figura 3. Densidade do solo para mata, capoeira, pasto 10 anos e
pasto 20 anos, nas diferentes profundidades. As mdias com a mesma
letra, dentro de cada profundidade, no diferem entre si pelo teste de
Tukey, a 5 % de probabilidade.Quadro 1. Usos do solo aps a retirada da mata e respectivos
histricos de cada rea estudada.
Usos Histrico de uso da rea
Pasto 20 anos A mata primria foi retirada (derrubada e queima), seguindo-se o
plantio de culturas, como o arroz, milho, feijo e mandioca (culturas
brancas), durante um perodo de 5 anos. Nesse sistema no se
utilizaram corretivos e fertilizantes qumicos, e em razo do
empobrecimento do solo e surgimento de plantas espontneas, pragas
e doenas, este sistema foi abandonado e instalou-se o plantio de
Capim-braquiria (Brachiaria brizantha) h 20 anos. Na pastagem
no se utilizou corretivos e fertilizantes qumicos, e o manejo o de
pastoreio contnuo o ano todo, com lotao de 1 a 2 cabeas/ha,
podendo ser maior, dependendo das necessidades do produtor. H
ocorrncia de queimas esporadicamente, no intencional. No h
ocorrncia de solo exposto, e tem-se pouca presena de plantas
invasoras.
Pasto 10 anos A mata primria foi retirada (derruba e queima), seguindo-se o
plantio de C apim-braquiria (Brachiaria b rizantha), sem antes haver
o cultivo do solo com culturas perenes. O manejo o mesmo da
pastagem com 20 anos. No h ocorrncia de solo exposto, e no se
tem presena de plantas invasoras.
Capoeira A mata primria foi retirada (derrubada e queima), seguindo-se o
plantio de culturas (arroz , milho, f eijo e mandioca), durante 5 an os,
depois instalou-se o plantio de Capim-braquiria (Brachiaria
brizantha), por um perodo de 10 anos, com o mesmo manejo das
pastagens citadas anteriormente. H 10 anos a pastagem foi
abandonada, constituindo-se a capoeira.
Figura 4. Valores mdios de macro, micro e porosidade total do solo
nas reas com mata nativa, capoeira, pasto com 10 anos e pasto com
20 anos, nas profundidades avaliadas. Mdias com as mesmas letras
em cada profundidade no diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey, a 5 % de probabilidade.
Figura 5. Valores mdios de condutividade hidrulica em meio
saturado para os solos sob mata, capoeira, pastagem com 10 anos e
pastagem com 20 anos, nas profundidades de 0 a 10 cm, 10 a 20 cm e
45 a 55 cm. As mdias com a mesma letra entre os usos dentro de cada
profundidade no diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
Figura 6. ndice de sensibilidade (IS) para dimetro mdioponderado de agregados, em Argissolo Vermelho-Amarelosubmetido a diferentes usos, em relao ao ambiente de matanativa.
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indicando que a recuperao dos efeitos danosos na
porosidade do solo em conseqncia da implantao de
pastagem sob as condies estudadas mais difcil de
ocorrer em profundidade.
Em relao aos teores de carbono orgnico total
(COT), na profundidade de 0 a 10 cm, foram maiores na
mata do que nos demais usos do solo, indicando que autilizao antrpica do Argissolo com pastagem est
contribuindo para a reduo do COT nessa profundidade
(Tabela 2). Nas demais profundidades no houve
diferenas significativas para o COT entre os tratamentos
estudados. Estes resultados mostram que a retirada da
mata provocou efeitos negativos nos estoques de carbono
apenas na superfcie, j que de 10 a 20 e 45 a 55 cm os
usos no se diferenciaram em relao aos teores de COT.
Neste estudo, houve reduo nos valores de
condutividade hidrulica em meio saturado com aretirada da mata nas profundidades de 0 a 10 e 10 a 20
cm, no sendo afetada na profundidade de 45 a 55 cm
(Figura 5). De 0 a 10 e 10 a 20 cm, pode-se notar que a
implantao da pastagem reduziu a condutividade
hidrulica, e que a retirada da pastagem e formao da
capoeira levou a recuperao parcial desta
caracterstica fsica do solo. A reduo da condutividade
hidrulica na pastagem possivelmente est relacionada
com a diminuio de macroporos, especialmente aqueles
da classe maior que 145 m.A recuperao da condutividade hidrulica em
meio saturado com o uso do solo com capoeira est
associada recuperao da macroporosidade neste
ambiente (Tabela 2). Segundo Camargo (1983) o volume
de gua que flui por um tubo na unidade de tempo,
proporcional quarta potncia do raio. Ento, se o di-
metro desse tubo diminui 3 vezes o seu tamanho, o
volume de fluxo no mesmo tempo diminuir 81 vezes.
Dessa forma, a compactao com a consequente reduo
no volume de macroporos, ter um grande reflexo nacondutividade hidrulica, conforme pode ser observado
pelos dados deste trabalho. O resultado dessa
diminuio na condutividade hidrulica o menor volume
de infiltrao de gua das chuvas, resultando em maior
escoamento superficial, o que pode provocar uma menor
recarga hdrica do solo e potencializar processos erosivos
no solo.
Com relao reteno de gua no solo, pode-
se notar que na camada de 0 a 10 cm, a reteno degua na capacidade de campo (CC) e no ponto de
murcha permanente (PMP) foram menores para mata e
maiores para os demais usos, mostrando que a
compactao do solo, que provocou a reduo de
macroporos (Tabela 3), provavelmente, est gerando
poros com geometria e forma que favorecem a reteno
de gua (RESENDE et al., 1999). Assim, a alterao fsica
na camada de 0 a 10 cm nos solos com pastagem,
evidenciada pela maior densidade do solo, reduo da
macroporosidade e condutividade hidrulica,
aumentaram a gua retida na CC e no PMP. Segundo
Baver (1956), a reteno de gua no solo funo da
distribuio e forma de poros, que, por sua vez, depende
de outros fatores, tais como: textura, agregao,
densidade do solo, teor de matria orgnica, entre outros
fatores.
Os dados de reteno de gua a baixas tenses
permitem observar o efeito do uso do solo na reteno de
gua causado preferencialmente pela mudana
estrutural do solo, j que o arranjo e distribuio dos
poros so os principais responsveis pela reteno degua a baixas tenses (BAVER, 1956). Desta forma, por
meio da Figura 7, pode-se notar que as curvas de
reteno de gua a baixas tenses apresentaram um
ntido deslocamento para cima nos usos com pastagem e
capoeira em relao mata, na profundidade de 0 a 10
cm. Isto confirma que em superfcie a presso de uso,
observadas pela maior densidade e reduo de
macroporosidade, gerou poros que proporcionaram
maior reteno de umidade nesta faixa de tenso.
Tambm a capoeira apresentou a curva com valores maisprximos aos da mata, mostrando o seu potencial para
recuperao das propriedades fsicas do solo. Resende et
al. (1999) sugerem que a compactao pode ser
benfica em termos de reteno de gua, pela
transformao de parte dos macroporos em poros
menores, microporos, cuja caracterstica de reteno de
gua por capilaridade e/ou, fenmenos de adsoro.
Na camada de 10 a 20 cm, as curvas dereteno de gua a baixas tenses apresentaramcomportamento mais semelhante entre si, comtendncia de deslocamento para cima em relao mata, como reflexo da presso do uso sobre os porosat esta profundidade. Nesta profundidade o pastocom 20 anos constitui uma exceo, apresentandocurva de reteno de umidade diferenciada,estando abaixo dos demais usos. Essa menorreteno de umidade a baixas tenses pode estarrelacionada com a menor microporosidadeobservado neste uso (Figura 4), para estaprofundidade. J na profundidade de 45 a 55 cmhouve tendncia das curvas se deslocarem parabaixo em relao mata, evidenciando que apresso de uso pela alterao estrutural do solo no
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alterou a reteno de gua nesta profundidade,sendo as diferenas entre os usos atribudas acaractersticas intrnsecas dos solos.
No obstante as diferenas na reteno degua na CC e PMP entre os usos avaliados, foramobservadas que no houve alterao na
capacidade de gua disponvel para as plantas(CAD) em todas as profundidades avaliadas (Tabela3). Isto mostra que o uso do solo com pastagem nestaregio no est acarretando em impactos nofornecimento de gua para as plantas, emboradiferenas de reteno de gua na CC e PMP foramencontradas.
Para que o solo tenha uma boa qualidadefsica, preciso que ele apresente uma boa relaoentre gua retida e o espao poroso (Skopp et al.,
1990). Estes autores sugerem uma relao entregua retida na capacidade de campo e aporosidade total (CC/PT) de 0,66 para que ocorrauma boa atividade microbiana, capaz demineralizar os restos culturais. Os valores baixosdesta relao para mata e capoeira de 0 a 10 cmest relacionada maior porosidade e acaracterstica arenosa dos solos nesta profundidade(Tabela 3). Na camada de 0 a 10 cm pode-severificar que os usos com pastagens, tanto de 10 anos
como de 20 anos aumentaram a relao CC/PT,deixando-a prxima do ideal (0,66), como sugeridopor Skopp et al., 1990.
Nas demais profundidades no houvealteraes significativas da relao CC/PT, emboraos usos com pastagem apresentassem valores maisprximos do ideal. A relao CC/PT maior pode serum aspecto positivo na utilizao do Argissolo compastagem extensiva no extremo oeste do Acre.
Entretanto uma relao CC/PT elevada, como ocorrena pastagem com 10 anos, pode levar a umaaerao deficiente quando o solo estiver prximo CC, uma vez que grande proporo dos poros estarocupada por gua, dificultando a atividademicrobiana e a respirao radicular das plantas.
Com relao estabilidade de agregados em gua,percebe-se que os ndices de estabilidade estruturaldimetro mdio ponderado (DMP), dimetro mdiogeomtrico (DMG), porcentagem de agregados
maior que 2 mm (AGRE2), macroagregados (MACR)e microagregados (MICR), no diferiramsignificativamente entre os tratamentos estudados,na profundidade de 0 a 10 cm, embora a mata e
capoeira tenham tido valores ligeiramente maiores(Tabela 4). Como houve diferenas nos valores decarbono orgnico do solo entre os tratamentos nacamada de 0 a 10 cm (Tabela 2), pode-se verificarque o carbono orgnico do solo sozinho no explicaa agregao nos diferentes usos, indicando que houtros fatores envolvidos na estabilidade de
agregados entre os usos nesta profundidade. Todosos solos foram classificados na mesma classe texturalnesta profundidade, de forma que no henvo lv imento decorren tes da var iaogranulomtrica do solo na agregao.
Na camada de 10 a 20 cm, as curvas de reteno
de gua a baixas tenses apresentaram comportamento
mais semelhante entre si, com tendncia de deslocamento
para cima em relao mata, como reflexo da presso
do uso sobre os poros at esta profundidade. Nestaprofundidade o pasto com 20 anos constitui uma exceo,
apresentando curva de reteno de umidade
diferenciada, estando abaixo dos demais usos. Essa
menor reteno de umidade a baixas tenses pode estar
relacionada com a menor microporosidade observado
neste uso (Figura 4), para esta profundidade. J na
profundidade de 45 a 55 cm houve tendncia das curvas
se deslocarem para baixo em relao mata,
evidenciando que a presso de uso pela alterao
estrutural do solo no alterou a reteno de gua nestaprofundidade, sendo as diferenas entre os usos
atribudas a caractersticas intrnsecas dos solos.
No obstante as diferenas na reteno de gua
na CC e PMP entre os usos avaliados, foram observadas
que no houve alterao na capacidade de gua
disponvel para as plantas (CAD) em todas as
profundidades avaliadas (Tabela 3). Isto mostra que o
uso do solo com pastagem nesta regio no est
acarretando em impactos no fornecimento de gua para
as plantas, embora diferenas de reteno de gua naCC e PMP foram encontradas.
Para que o solo tenha uma boa qualidade fsica,
preciso que ele apresente uma boa relao entre gua
retida e o espao poroso (Skopp et al., 1990). Estes
autores sugerem uma relao entre gua retida na
capacidade de campo e a porosidade total (CC/PT) de
0,66 para que ocorra uma boa atividade microbiana,
capaz de mineralizar os restos culturais. Os valores baixos
desta relao para mata e capoeira de 0 a 10 cm estrelacionada maior porosidade e a caracterstica
arenosa dos solos nesta profundidade (Tabela 3). Na
camada de 0 a 10 cm pode-se verificar que os usos com
pastagens, tanto de 10 anos como de 20 anos
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aumentaram a relao CC/PT, deixando-a prxima do
ideal (0,66), como sugerido por Skopp et al., 1990.
Nas demais profundidades no houve alteraes
significativas da relao CC/PT, embora os usos com
pastagem apresentassem valores mais prximos do ideal.
A relao CC/PT maior pode ser um aspecto positivo na
utilizao do Argissolo com pastagem extensiva noextremo oeste do Acre. Entretanto uma relao CC/PT
elevada, como ocorre na pastagem com 10 anos, pode
levar a uma aerao deficiente quando o solo estiver
prximo CC, uma vez que grande proporo dos poros
estar ocupada por gua, dificultando a atividade
microbiana e a respirao radicular das plantas.
Com relao estabilidade de agregados em
gua, percebe-se que os ndices de estabilidade
estrutural dimetro mdio ponderado (DMP), dimetro
mdio geomtrico (DMG), porcentagem de agregadosmaior que 2 mm (AGRE2), macroagregados (MACR) e
microagregados (MICR), no diferiram significativamente
entre os tratamentos estudados, na profundidade de 0 a
10 cm, embora a mata e capoeira tenham tido valores
ligeiramente maiores (Tabela 4). Como houve diferenas
nos valores de carbono orgnico do solo entre os
tratamentos na camada de 0 a 10 cm (Tabela 2), pode-se
verificar que o carbono orgnico do solo sozinho no ex-
plica a agregao nos diferentes usos, indicando que h
outros fatores envolvidos na estabilidade de agregadosentre os usos nesta profundidade. Todos os solos foram
classificados na mesma classe textural nesta
profundidade, de forma que no h envolvimento
decorrentes da variao granulomtrica do solo na
agregao.
Para a camada de solo de 0 a 10 cm, a
agregao na mata possivelmente est relacionada aos
maiores teores de carbono orgnico do solo em relao
aos outros tratamentos (Tabela 2), bem como por ser um
ambiente sem perturbaes antrpicas. Segundo Six et
al. (2000) aps a aproximao das partculas minerais, a
matria orgnica apresenta importante papel como um
dos fatores determinantes da estabilizao de
agregados. Os compostos orgnicos participam das
ligaes entre partculas individuais do solo, atuando
como agentes cimentantes das unidades estruturais pelas
suas diversas caractersticas de superfcie (LIMA et al.,
2003). Tambm Castro Fillho et al. (1998) indicam
correlao direta entre contedo de matria orgnica eestabilidade de agregados.
Por outro lado, nos sistemas sob pastagem, na
camada de 0 a 10 cm, a agregao possivelmente se
deve ao efeito diferencial do sistema radicular da
braquiria, bastante denso. Silva e Mielniczuck (1997)
atriburam a maior formao e estabilizao de
agregados por gramneas perenes alta densidade de
razes, s peridicas renovaes do sistema radicular e
uniforme distribuio dos exsudados no solo, que
estimulam a atividade microbiana. Bromick e Lal (2005)
chamam a ateno para a importncia dos resduosder ivados das razes na es tabi l izao de
macroagregados, enfatizando o potencial dos exsudados
radiculares na formao e estabilizao de
macroagregados, alm da comunidade microbiana, que
pode influenciar marcadamente a agregao no solo.
Nas camadas de 10 a 20 cm e 45 a 55 cm os
ndices de agregao DMP, DMG, AGRE2 e MCR foram
menores para a mata em relao aos demais tratamentos
(Tabela 4). Estes resultados evidenciam que a ao dosistema radicular da braquiria deve afetar
positivamente a agregao do solo tambm nesta
profundidade. A no diferenciao dos teores de
carbono orgnico do solo entre os usos avaliados nesta
profundidade corrobora que h efeito diferencial do
sistema radicular das pastagens sobre a agregao do
Argissolo avaliado.
O dimetro mdio ponderado (DMP) um ndice
que traduz a estabilidade dos agregados de toda a
amostra. O ndice de sensibilidade (IS) avalia se osvalores de DMP dos usos agrcolas do solo foram
diferentes daquele com o solo de mata. Observando o IS
pode-se notar que, de 0 a 10 cm, ele ficou bem prximo
unidade, demonstrando que os usos mantiveram a
estabilidade em gua dos agregados do solo semelhante
entre os usos avaliados (Figura 6). A partir da camada de
10 a 20 cm os solos comearam a se diferenciar em
relao ao IS, pois capoeira, pasto com 10 anos e pasto
com 20 anos mostraram IS 29, 38 e 7 % maior que a
unidade, respectivamente. Na profundidade de 45 a 55cm as diferenas foram mais marcantes, com IS de 39, 29
e 77 % maiores que a unidade para capoeira, pasto com
10 anos e pasto com 20 anos, respectivamente. Estes
valores confirmam que a estabilidade dos agregados
no se alterou na camada superficial do solo, enquanto
que a partir da camada de 10 a 20 cm, os tratamentos
com pastagem de 10 e 20 anos e a capoeira melhoraram
a agregao do solo.
A estabilidade estrutural dos agregados variacom as caractersticas intrnsecas do solo e com os sistemas
de manejo e cultivo. No entanto, um agregado de elevado
DMP nem sempre apresenta adequada distribuio de
tamanho de poros no seu interior, o que implica em
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qualidade estrutural varivel (BERTOL et al., 2004). Isto
pode ser visto nos tratamentos com pastagem, onde se
observa uma alterao fsica, evidenciada pela elevada
densidade do solo, e reduo da porosidade e
condutividade hidrulica, ainda que apresentasse
elevada estabilidade de agregados.
Os dados de resistncia do solo penetrao(RP) mostram que os solos se diferenciaram entre os usos,
sendo parte desta alterao em funo do uso com
pastagem e parte devido a caractersticas intrnsecas do
solo em cada uso (Figura 8). O solo com pastagem com 10
anos apresentou valores de RP maior entre os usos na
profundidade de 0 a 4,5 cm, com maior valor ocorrendo
na profundidade de 3,5 cm (11,5 MPa), a partir deste
valor de RP, a tendncia de decrscimo.
Os valores de RP para pastagem com 10 anos
entre as profundidades de 10,5 e 14,5 cm mostram quehouve reduo da RP em relao superfcie. Estes
resultados mostram tambm que nesse ambiente o efeito
negativo da compactao sobre o crescimento radicular
esta sendo pior nos primeiros centmetros do solo. Estes
resultados esto de acordo com os maiores valores de
densidade do solo neste ambiente em superfcie (Figura
2). Arajo et al. (2004), comparou solos de mata nativa
com solos cultivados e concluram que a RP foi influenciada
positivamente pela densidade do solo e negativamente
pela umidade do solo, com maior magnitude no solocultivado. Assim, os valores de RP encontrados neste
trabalho, considerados elevados, em parte se devem ao
fato de as anlises terem sido realizadas com a umidade
do solo no ponto de murcha permanente (1500 KPa).
Tambm, os elevados valores de RP para a pastagem com
10 anos podem estar associados a uma ao
diferenciada do sistema radicular da braquiria neste
uso, que devido a maior densidade de razes levou a um
maior preenchimento dos macroporos, aumentando a
rigidez do solo.
Imhoff et al. (2000), trabalhando com pastagem
de Capim-colonio, que tambm tem sistema radicular
denso, encontraram valores de RP de 10 MPa, em solo
com densidade de 1,5 g cm-3 e umidade volumtrica de
0,200 m3 m-3, semelhante ao observado para pasto com
10 anos entre 0 e 4,5 cm.
Por outro lado, pastagem com 20 anos no
apresentou valores de RP to elevados como a pastagem
com 10 anos de 0 a 4,5 cm, se assemelhando matanativa. Isto evidencia que neste ambiente o efeito da
compactao sobre a RP no to drstico nos primeiros
centmetros do solo, se tornando maior em profundidade.
Os maiores valores de RP entre os usos para pasto 20
anos na camada de 10,5 a 14,5 cm evidenciam que o
maior impedimento ao crescimento radicular neste uso
encontra-se na profundidade de 13,5 cm (13,2 MPa).
Estes valores tambm esto de acordo com a maior
densidade de solo observado neste ambiente para esta
profundidade.
O ambiente com capoeira apresentou valoresbaixos de RP nas camadas de 0 a 4,5 cm e de 10,5 a 14,5
cm de profundidade, mostrando o efeito benfico do
pousio do solo aps o uso com pastagem. Os menores
valores de RP tambm podem ser atribudos aos menores
teores de argila neste ambiente nestas profundidades, j
que quanto mais argiloso um solo, mais resistente (duro)
se torna quando seco, devido a maior ao das foras de
coeso e adeso (BAVER, 1956).
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Usos Areia Grossa Areia Fina Silte Areia
------------------------------------dag kg1
----------------------------------
0 a 10 cm
Mata 30,0 39,0 15,3 15,3
Capoeira 36,7 32,2 20,0 11,0
Pasto 10 anos 40,7 23,7 16,7 19,0
Pasto 20 anos 34,0 28,3 20,3 17,3
10 a 20 cm
Mata 25,7 33,3 18,3 22,7
Capoeira 32,7 29,7 23,7 14,0
Pasto 10 anos 33,0 23,3 17,3 26,3
Pasto 20 anos 22,0 18,7 20,7 38,7
45 a 55 cm
Mata 22,0 32,3 20,0 25,7
Capoeira 26,0 24,0 24,7 25,3
Pasto 10 anos 27,3 21,0 18,0 33,7
Pasto 20 anos 29,0 28,0 21,0 22,0
Tabela 1. Caracterizao granulomtrica dos solos sob os usos com
mata, capo -eira, pastagem com 10 anos e pastagem com 20 anos,nas profundidades de 0 a 10 cm, 10 a 20 cm e 45 a 55 cm.
Tabela 2. Valores mdios para carbono orgnico total do solo (COT) edistribuio de tamanho de poros do Argissolo Vermelho-Amarelo sob
mata, capoeira, pasto com 10 anos e pasto com 20 anos, nas
diferentes profundidades avaliadas.
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Tabela 3. Valores mdios para reteno de gua a pressesequivalentes ca -pacidade de campo (CC), ponto de murchapermanente (PMP) e capacidade de gua disponvel (CAD) em basevolumtrica, e relao entre gua retida na capacidade de campo eporosidade total (CC/PT), nos Argissolos Vermelho --amarelo sobdiferentes usos e profundidades.
Usos C C P M P CAD CC/PT
----------------------m3 m 3----------------------0 a 10 cm
Mata 0,206 b 0,165 b 0,041 a 0,35 bCapoeira 0,215 ab 0,175 ab 0,039 a 0,39 bPasto 10 anos 0,313 a 0,280 a 0,034 a 0,72 aPasto 20 anos 0,299 ab 0,253 ab 0,046 a 0,65 a
10 a 20 cmMata 0,290 ab 0,250 ab 0,040 a 0,58 aCapoeira 0,255 b 0,208 c 0,047 a 0,56 aPasto 10 anos 0,306 a 0,276 a 0,029 a 0,67 aPasto 20 anos 0,274 ab 0,230 bc 0,043 a 0,65 a
45 a 55 cmMata 0,288 ab 0,240 a 0,048 a 0,60 aCapoeira 0,283 b 0,224 a 0,059 a 0,70 aPasto 10 anos 0,334 a 0,273 a 0,060 a 0,74 aPasto 20 anos 0,296 ab 0,254 a 0,042 a 0,66 a
Mdias seguidas pela mesma letra dentro de cada profundidade, entre os diferentes usos,
no diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
Figura 7. Curvas de reteno da gua no solo em baixas tensespara o Argissolo sob diferentes usos no extremo oeste do Acre.
70
Figura 8. Resistncia do solo penetrao avaliada porpenetrmetro de banca -da para o Argissolo sob diferentes usos eprofundidades. Antes da anlise todas as amostras foramsubmetidas tenso de 1500 kPa, apresentando umidadeequivalente ao ponto de murcha permanente(PMP)
Tabela 4. Valores mdios para os ndices de agregao: dimetro
mdio ponderado (DMP), dimetro mdio geomtrico (DMG),
porcentagem de agregados > 2 mm (AGRE2), porcentagem de
agregados > 250 m (MACR), porcentagem de agregados < 250
m (MICR), em Argissolo Vermelho-amarelo sob diferentes usos eprofundidades.
Usos DMP DMG AGRE2 MACR MICRO
----------mm---------- ------------------%------------------0 a 10 cm
Mata 2,44 a 1,94 a 55,10 a 93,58 a 6,42 aCapoeira 2,44 a 1,94 a 72,36 a 93,58 a 6,42 aPasto 10 anos 2,15 a 1,57 a 59,47 a 92,40 a 7,60 aPasto 20 anos 2,27 a 1,67 a 65,61 a 91,83 a 8,17 a
10 a 20 cmMata 1,73 b 1,16 b 39,04 b 88,21 b 11,79 aCapoeira 2,24 ab 1,71 ab 61,65 ab 92,74 ab 7,26 aPasto 10 anos 2,40 a 1,93 a 69,90 a 95,11 a 4,89 bPasto 20 anos 1,85 ab 1,28 b 43,97 ab 89,72 ab 10,28 ab
45 a 55 cmMata 1,08 b 0,67 b 11,89 b 81,88 b 18,12 aCapoeira 1,50 ab 0,99 ab 28,41 ab 86,96 a 13,04 bPasto 10 anos 1,39 ab 0,77 b 30,65 ab 78,92 b 21,08 aPasto 20 anos 1,90 a 1,35 a 43,79 a 91,08 a 8,92 b
Mdias seguidas pela mesma letra dentro de cada profundidade, entre os diferentes usos,no diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
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4. CONSIDERAES FINAIS
Pela anlise granulomtrica dos Argissolos ficou
evidente o predomnio das fraes areia (areia grossa +
areia fina) em todos os usos e profundidades avaliadas,
mostrando que possivelmente os solos foram formados de
rochas com sedimentos mais grosseiros, o que indica que o
ambiente de sedimentao no perodo de formao darocha foi de maior energia, permitindo maior se-
dimentao de partculas mais grosseiras.
O processo de ocupao antrpica no extremo
oeste do Acre, com a retirada da mata nativa e
implantao de pastagens causou impacto negativo
sobre as propriedades fsicas do Argissolo, evidenciado
pelos maiores valores de densidade do solo e resistncia
do solo penetrao; reduo da porosidade total e da
condutividade hidrulica. A reduo da porosidade pela
compactao do Argissolo foi marcante sobre osmacroporos, especialmente sobre a classe de poros
maiores que 145 m, ao passo que praticamente no
houve alteraes nos microporos, o que pode resultar em
menor infiltrao de gua da chuva e consequente
potencializao dos processos erosivos. A compactao
do solo foi mais intensa na camada de 0 a 10 cm, menos
evidente na camada de 10 a 20 cm e no alterou na
camada de 45 a 55 cm.
As mudanas estruturais causadas pela
compactao nos Argissolos sob pastagem provocaram
deslocamento para cima na curva de reteno de gua a
baixas tenses, bem como alteraram os valores de
reteno de gua na capacidade de campo e ponto de
murcha permanente em superfcie, evidenciando o efeito
do uso com pastagem sobre a reteno de gua no solo.
No obstante as alteraes na reteno de gua, a
capacidade de gua disponvel para as plantas no se
alterou entre os diferentes usos. A estabilidade deagregados no se alterou entre os usos avaliados.
O abandono das reas com pastagens para a
formao de capoeira apresentou recuperao parcial
das propriedades fsicas do solo, demonstrando que o
pousio e a formao de capoeira possuem efeito
benfico sobre as propriedades fsicas do Argissolo, em
especial sobre a compactao do solo.
O trabalho deixa claro o efeito da presso de
uso com o desmatamento e a implantao de pastagenssobre as propriedades fsicas do Argissolo. Neste sentido,
h a necessidade eminente de novas pesquisas sobre
esses impactos, com o intuito de buscar alternativas para
que a ocupao do extremo oeste do Acre ocorra em
bases sustentveis, preservando os recursos naturais.
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