Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Marianna Ribeiro da Silva
ANÁLISE DO POSICIONAMENTO DISCURSIVO NO TEXTO Máfia Sindical: a hora de
acabar com o nefasto imposto (Autor: Rodrigo Constantino) Publicado em 15.06.2015.
Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/
A revista Veja, um dos principais canais de comunicação da editora Abril é muito
conhecida por expor claramente seu ponto de vista sobre a conjuntura política do Brasil,
questões relacionadas aos partidos de esquerda e posicionamentos sobre assuntos polêmicos.
Ela tem sido um canal ecoante de um grupo da sociedade que, a partir dos últimos
acontecimentos, têm se mostrado intolerante com questões sociais.
Buscou-se, neste texto, analisar o artigo “Máfia Sindical: a hora de acabar com o
nesfato imposto” de autoria de Rodrigo Constantino, articulista da revista Veja, conhecido por
ter um posicionamento extremante crítico, politicamente alinhado à direita, conservador e
bastante irônico.
A Imprensa é um importante Aparelho Ideológico do Estado (ALTHUSSER,1970),
pois é por ela que são divulgadas ideologias que tendem a servir aos interesses da classe
dominante do Estado. E o discurso proferido pela Imprensa tende a se posicionar, tal qual um
partido político, “ajudando a desnudar a ideologia dominante” (GRAMSCI apud BORGES,
2013).
Gramsci ainda analisa que a imprensa burguesa é um “aparelho privado de
hegemonia”, capaz de disputar os rumos da sociedade por meio de uma verdadeira guerra de
posições em todas as “trincheiras ideológicas” (GRAMSCI apud BORGES, 2013).
Dessa maneira, tomando como base as características do discurso elencadas por
Maingueneau, deve-se enfatizar que o discurso é submetido às regras de organização de um
determinado grupo social, só é considerado discurso porque possui um EU que o assume, ou
seja, responsabilizando-se pelo que está sendo enunciado e, além disso, é contextualizado,
pois se não, não há discurso.
Posicionamento discursivo é uma das categorias de base da Análise do Discurso, que
diz respeito à instauração e à conservação de uma identidade enunciativa. Num campo
discursivo, “posicionamento” define mais precisamente uma identidade enunciativa forte, um
lugar de produção do discurso bem específico e não diz respeito apenas ao conteúdo, mas às
diversas dimensões do discurso, no modo de citar. Dessa maneira, o posicionamento
discursivo é a posição que o produtor do discurso assume em um campo de discussão, os
valores defendidos por ele, que caracterizam a sua identidade social e ideológica.
ANÁLISE
A partir do elemento dêitico “ontem”, o autor do texto situa o leitor, que
provavelmente assistiu ao programa informativo da TV Globo Fantástico, quando em uma
das reportagens exibidas tratou de uma investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, sobre
um suposto esquema de corrupção no Sindicato dos Comerciários daquele estado.
No primeiro parágrafo, Rodrigo Constantino apresenta uma opinião que generaliza a
atuação dos sindicatos como “antros de corrupção” e chama os “brasileiros esclarecidos”,
provavelmente aqueles que lêem a revista Veja, como conhecedores de tal verdade. Utiliza,
ainda, o termo pelego, que diz respeito ao agente disfarçado do governo que procura agir
politicamente nos sindicatos de trabalhadores, enfatizando que no texto, provavelmente tecerá
críticas ao governo gerido pelo Partido dos Trabalhadores e que possui um histórico de
participação atuante no movimento sindical brasileiro.
Ainda no primeiro parágrafo, conclui ironizando a opção pela ideologia socialista de
boa parte dos sindicalistas, mostrando a contradição dessa opção com relação a um suposto
modo de “vida nababesca”, ou seja, de luxo e riqueza, vivido por eles, deixando subentendido
que em todo sindicato há desvio de verbas oriundas dos trabalhadores sindicalizados, em
favor dos líderes sindicais.
Em seguida, o autor utiliza o discurso direto trazendo para seu texto partes da
reportagem exibida no Fantástico, fazendo alguns recortes em partes que ele considera
relevantes para as críticas que virão.
No parágrafo que segue, destaca o termo República Sindical relacionando-o ao Partido
dos Trabalhadores, no qual a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula são filiados. O
autor traz críticas contumazes ao Imposto Sindical, que é compulsório e, portanto, é retirado
dos salários dos trabalhadores, anualmente, sem a prévia autorização destes. Chama o dito
imposto de nefasto, ou seja, prejudicial aos trabalhadores.
Nos últimos parágrafos traz críticas à Getúlio Vargas, ex-presidente do Brasil que há
cerca de 70 anos criou o imposto e o compara a Lula, ex-presidente do Brasil na história
recente e que é conhecido por sua atuação no movimento sindical.
Por fim, discorre sobre o quão prejudicial são os sindicatos e utiliza novamente o
termo nababesco, comparando a vida confortável que Lula leva hoje à sua militância no
movimento sindical. Utiliza de forma agressiva o termo podridão, concluindo que os
sindicatos não servem aos trabalhadores, mas aos sindicalistas.
Destaque para dois elementos, que provavelmente foram escolhidos no final da
produção: a imagem que acompanha o texto e o título.
Como é a intenção do autor tecer críticas insistentes ao governo do PT, ele traz a
principal figura do partido, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 1979, num comício
histórico do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo dos Campos, em São Paulo.
No título, o autor trata do assunto referindo-se como Máfias sindicais e anuncia, em
seguida, a necessidade de se acabar com o que ele chama de nefasto imposto.
REFERÊNCIAS:
ALTHUSSER, Louis. Ideologia e os Aparelhos Ideológicos do Estado. Disponível em:
https://docs.google.com/file/d/0Bxad4Ol-hCVbNWdSeFpiYk91Rjg/edit?pli=1
BORGES, Altamiro. Marx, Lênin, Gramsci e a Imprensa. Disponível em:
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/08/marx-lenin-gramsci-e-imprensa.html
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do
Discurso – São Paulo. Contexto, 2014.
MAINGUENEAU, Dominique. Análise dos Textos de Comunicação. Disponível:
https://www.passeidireto.com/arquivo/2123382/127964024-maingueneau-dominique-
maingueneau-analise-de-textos-de-comunicacao-pdf/2
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