Juliana Preisser de Godoy e Silva
Análise dos aspectos prosódicos na expressão da certeza e da dúvida no
português brasileiro
Belo Horizonte Faculdade de Letras da UFMG
2008
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Juliana Preisser de Godoy e Silva
Análise dos aspectos prosódicos na expressão da certeza e da dúvida no português brasileiro
Belo Horizonte Faculdade de Letras da UFMG
2008
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Lingüística. Área de Concentração: Lingüística Linha de Pesquisa: Organização Sonora da Comunicação Humana Orientador: Prof. Dr. César Augusto da Conceição Reis
À Deus
AGRADECIMENTOS
À Deus, luz do meu caminho, sempre presente em todos os momentos da minha
vida.
Ao Professor César Reis, pela confiança, pela paciência, pelos ensinamentos, por
me fazer aprofundar no mundo na lingüística.
Ao Professor Rui Rothe Neves pelos conselhos e discussões que clarearam a
realização desse trabalho.
A todos os professores que de alguma maneira estiveram presentes, transmitindo
conhecimentos nesses dois anos do mestrado.
Ao Professor Hani Camille Yehia (Cefala – UFMG) pela atenção e formulação do
script para a filtragem dos dados.
Aos atores que realizaram a gravação das situações, pela disponibilidade e
interesse no trabalho e aos juízes que participaram dos testes de reação subjetiva,
pela disponibilidade e prontidão com que se dispuseram a ajudar.
Aos estagiários do Labfon: Caroline Xavier, Ligia, Anaíde, Raíssa, Andrea, Cândido,
Vanessa Wright, obrigada por todos os momentos compartilhados, pelos risos, pelos
auxílios.
À Carol Xavier, pela disponibilidade e grande ajuda na correção dessa dissertação.
À Vanessa, à Anaíde e ao Leandro, pela grande ajuda durante a gravação dos
dados.
Ao Leandro, pela paciência e disponibilidade durante a realização da análise
estatística dos dados coletados.
Às inesquecíveis amigas “cesaretes” Lidiane, Érica, Isabel e Letícia, por todos os
momentos de estudo, de diversão, de companheirismo, de consolo, de amizade...
Obrigada por estarem sempre presentes!
À amiga não “cesarete”, mas muito especial, Ceriz, palavra amiga e de incentivo em
todos os momentos. Obrigada pelo companheirismo, pela grande ajuda com o
Abstract!
Às companheiras de mestrado Vanessa Ferreira, Karine Kelvia, Camila, Aline,
Flaviana por todos os momentos compartilhados.
Agradeço à Leandra, Adriana, Horácio, Bernadete, Érica Couto e Thais Machado
pelos conhecimentos partilhados.
Ao Horácio, pelos conselhos e pela parceria durante o desenvolvimento da
metodologia, escolha dos atores, gravações dos dados. Muito obrigada!
À Capes por ter financiado essa pesquisa.
À Câmara de pesquisa da Faculdade de Letras da UFMG, pelo auxílio financeiro
para a gravação dos dados.
Aos meus pais e irmão pela companhia e carinho durante a realização desse
trabalho.
À Marluce, por me acolher com carinho, por me incentivar a crescer cada vez mais
na minha profissão, a buscar novos conhecimentos e aprendizagens.
Às amigas Bel e Jaque, que me acolheram com carinho e agüentaram meus papéis
espalhados bagunçando o apartamento. Obrigada pela paciência e carinho!
Obrigada a todos os amigos que estiveram de longe torcendo, por compreenderem
os momentos de ausência, pelo apoio, pelas palavras amigas e de incentivo.
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo estudar o papel da prosódia na expressão da atitude
do locutor, mais especificamente, descrever os aspectos prosódicos utilizados na
expressão da certeza e da dúvida no português falado em Belo Horizonte e região
metropolitana. Para tal, foram formulados dez enunciados introduzidos por um
parágrafo que teve como objetivo fornecer ao falante, de forma simples e concisa, o
contexto necessário à expressão das atitudes de certeza e dúvida.
Participaram desta pesquisa 10 estudantes de teatro, do sexo masculino, que,
primeiramente, leram e, posteriormente, produziram os dez enunciados com as
atitudes de certeza e dúvida. Em seguida, foram realizadas a análise acústica e
estatística dos dados. Foi realizado também teste de reação subjetiva com o objetivo
de verificar se as atitudes estudadas eram identificadas fora do contexto de
produção.
Concluímos que a prosódia exerceu um papel importante na expressão dessas
atitudes, visto que os informantes utilizaram parâmetros prosódicos específicos na
expressão da certeza e dúvida. Observamos que na expressão da dúvida, foi
utilizado maior número de parâmetros prosódicos que na certeza. Percebemos ainda
que os informantes sempre utilizaram algum parâmetro prosódico normalmente
associado à expressão da dúvida, entretanto nem todos conseguiram combinar os
vários parâmetros que tornam a expressão dessa atitude identificável numa situação
de teste.
Palavras chaves: prosódia; atitude; certeza; dúvida.
ABSTRACT
This work aims at studying the prosodic role in the speaker’s attitude expression,
more specifically, at describing the prosodic aspects used in the expression of
certainty and doubt in Brazilian Portuguese. In order to do so, ten utterances were
made. They were introduced by a paragraph which had the objective of giving the
speaker, in a simple and concise way, the context necessary to the attitude
expression of certainty and doubt.
Ten male theater students participated in this research. At first they read and then
produced the ten utterances containing the attitudes of certainty and doubt. After that
the acoustic and statistical analyses of the data were made. A test of subjective
reaction was performed aiming at verifying if the studied attitudes were identified out
of the context of production.
We conclude that prosody had an important role in the expression of these attitudes
since subjects used specific prosodic parameters in the expression of certainty and
doubt. We observed that the number of prosodic parameters was bigger in the
expression of doubt than in the certainty. We also noticed that the subjects always
used some prosodic parameter normally associated to the expression of doubt, but
not all of them could match the parameters which make the expression of this attitude
identifiable in a test situation.
Key-words: prosody; attitude; certainty; doubt.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Representação dos aspectos não-segmentais de um enunciado...........23 FIGURA 2: Sinal de fala correspondente à “Eu deixei o recado” ..............................50
FIGURA 3: Script para realização da filtragem do som desenvolvido por Hanni Camille Yehia (CEFALA – UFMG). ........................................................................... 51 FIGURA 4: Sinal de fala com representação da curva de frequência antes da filtragem..................................................................................................................... 52 FIGURA 5: Sinal de fala com representação da curva de frequência após a filtragem. .................................................................................................................................. 52 FIGURA 6: Sinal de fala com curva de F0 ,ostrando a pausa durante a expressão de dúvida, retirando o tempo de oclusiva. ...................................................................... 59 FIGURA 7: Representação dos valores de F0 inicial nas curvas de F0 correspondentes à expressão da dúvida, da certeza e leitura do enunciado “Eu devolvi o livro” pronunciado pelo IN6. ....................................................................... 64 FIGURA 8: Representação dos valores de F0 final nas curvas de F0 correspondentes à expressão da dúvida, da certeza e leitura do enunciado “Eu devolvi o livro” pronunciado pelo IN6.. ...................................................................... 67 FIGURA 9: Representação da curva de F0 correspondente à expressão da certeza com maior número de acertos, no enunciado “Eu gosto da Carol”, pronunciado pelo IN 1. ......................................................................................................................... 108 FIGURA 10: Representação da curva de F0 correspondente à expressão da certeza com menor número de acertos, no enunciado “Eu entreguei o documento”, pronunciado pelo IN 4. ............................................................................................ 108 FIGURA 11: Representação da curva de F0 correspondente à expressão da dúvida com maior número de acertos, no enunciado “Eu tomei o remédio”, pronunciado pelo IN 7. ......................................................................................................................... 110 FIGURA 12: Representação da curva de F0 correspondente à expressão da dúvida com menor número de acertos, no enunciado “Eu paguei a conta”, pronunciado pelo IN 8. ......................................................................................................................... 110 FIGURA 13: “ Eu devolvi o livro”, enunciado produzido com atitude de certeza pelo IN 1. ......................................................................................................................... 120 FIGURA 14: “ Eu devolvi o livro”, enunciado produzido com atitude de dúvida pelo IN 1.. ............................................................................................................................ 120 FIGURA 15: “Eu desliguei o fogão”, produzido com atitude de certeza pelo IN 7. .. 120
FIGURA 16: “Eu desliguei o fogão”, produzido com atitude de dúvida pelo IN 7. ... 121 FIGURA 17: “ Ele volta a jogar”, produzido com atitude de certeza pelo IN 7...... 121 FIGURA 18: “ Ele volta a jogar”, produzido com atitude de dúvida pelo IN 7. ......... 121 FIGURA 19: “ Eu deixei o recado”, produzido com atitude de certeza pelo IN 9. .... 124 FIGURA 20: “ Eu deixei o recado”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 9 .. 124 FIGURA 21: “Eu gosto da Carol”, produzido com atitude de certeza pelo IN 4. ...... 124 FIGURA 22: “Eu gosto da Carol”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 4. ... 125
FIGURA 23: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de certeza pelo IN 6. ....... 125 FIGURA 24: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 6 ..... 125 FIGURA 25: “Eu desliguei o fogão” produzido com atitude de certeza pelo IN 5. ... 127 FIGURA 26: “Eu desliguei o fogão” produzido com atitude de incerteza pelo IN 5 . 128 FIGURA 27: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de dúvida pelo IN 7 ......... 129 FIGURA 28: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de certeza pelo IN 7 ........ 130 FIGURA 29: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de certeza pelo IN 6. ....... 131
QUADRO 1: Distinção entre entonação expressiva e entonação atitudinal. ............. 32 QUADRO 2: Valores kappa considerados na análise estatística e seu significado... 62 QUADRO 3: Características das pausas por informante na expressão da atitude de dúvida ........................................................................................................................ 98 QUADRO 4: Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à certeza (Juiz 1 ao juiz 4). ....................................................................................... 105 QUADRO 5: Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à dúvida (Juiz 1 ao Juiz ).............................................................................................106 QUADRO 6: Apresentação dos valores referentes aos enunciados de certeza que apresentaram maior e menor número de acertos. .................................................. 109 QUADRO 7: Apresentação dos valores referentes aos enunciados de certeza que apresentaram maior e menor número de acertos. .................................................. 111
QUADRO 8: Amplitude de SP em IN 1 e IN 7 na expressão da atitude de certeza e na expressão da atitude de dúvida. ......................................................................... 122 QUADRO 9: Amplitude de SP em IN 1 e IN 7 na expressão da atitude de certeza e na expressão da atitude de dúvida. ......................................................................... 122 QUADRO 10: Valores de intensidade média de IN 1 e IN 7 na comparação entre certeza e dúvida. ..................................................................................................... 123 QUADRO 11: Amplitude de SP de IN 9, IN 4 e IN 6 na expressão da atitude de certeza e na expressão da atitude de incerteza. ..................................................... 126
QUADRO 12: Tessitura de IN 9, IN 4 e IN 6 na expressão da atitude de certeza e na expressão da atitude de incerteza. .......................................................................... 126
QUADRO 13: Valores de intensidade média de IN 9, IN 4 e IN 6 na comparação entre certeza e incerteza. ........................................................................................ 127 QUADRO 14: Valores de intensidade média de IN 7 e IN 6 na comparação entre dúvida e incerteza. .................................................................................................. 131 QUADRO 15: Características presentes na expressão da incerteza e dúvida comparadas com a expressão da certeza. .............................................................. 137 GRÁFICO 1: Representação dos valores médios de F0 inicial na expressão da certeza, dúvida e leitura. ........................................................................................... 65 GRÁFICO 2: Representação dos valores médios de F0 inicial na expressão da certeza, da dúvida e leitura. ...................................................................................... 68 GRÁFICO 3: Representação dos valores médios da amplitude da sílaba proeminente na expressão da certeza, da dúvida e na leitura. ...................................................... 71 GRÁFICO 4: Representação dos valores médios da amplitude da primeira sílaba que antecede a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura . ....................... 74 GRÁFICO 5: Representação dos valores médios da amplitude da segunda sílaba que antecede a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura. ................. 75 GRÁFICO 6: Representação dos valores médios da amplitude da primeira sílaba localizada após a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura ............... 78 GRÁFICO 7: Representação dos valores médios da amplitude da segunda sílaba localizada após a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura. .............. 80
GRÁFICO 8: Representação da tessitura referente na expressão de certeza, de dúvida e na leitura. .................................................................................................... 82 GRÁFICO 9: Representação da duração na SP na expressão de certeza, de dúvida e na leitura................................................................................................................. 85 GRÁFICO 10: Representação da duração da primeira sílaba anterior à sílaba proeminente nas atitudes de certeza e dúvida e na leitura. ...................................... 87 GRÁFICO 11: Representação da duração da segunda sílaba anterior à sílaba proeminente nas atitudes de certeza e de dúvida e na leitura. ................................. 88
GRÁFICO 12: Representação da duração da primeira sílaba posterior à proeminente nas atitudes de certeza, de dúvida e na leitura ......................................................... 91 GRÁFICO 13: Representação da duração da segunda sílaba posterior à proeminente nas atitudes de certeza, de dúvida e na leitura. ................................... 91 GRÁFICO 14: Representação dos valores de duração nas atitudes de certeza, de dúvida e leitura. ......................................................................................................... 94 GRÁFICO 15: Representação dos valores de duração nas duas últimas sílabas do enunciado “Eu paguei a conta”, na expressão da certeza, na dúvida e na leitura .... 96 GRÁFICO 16: Representação dos valores de duração da primeira sílaba do enunciado “Eu desliguei o fogão”, na expressão da certeza, da dúvida e na leitura. 97 GRÁFICO 17: Representação dos valores médios de intensidade de acordo com as atitudes expressas. ................................................................................................... 99
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Valores médios de F0 inicial por falante ................................................. 63 TABELA 2: Média, desvio padrão e significância de F0 inicial da certeza, da dúvida e da leitura.................................................................................................................... 66 TABELA 3: Valores médios de F0 final por informante ............................................. 66 TABELA 4: Média, desvio padrão e significância de F0 final da certeza, da dúvida e da leitura.................................................................................................................... 69 TABELA 5: Valores referentes à amplitude melódica na sílaba proeminente, por informante ................................................................................................................. 70 TABELA 6: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na sílaba proeminente na atitude de certeza, de dúvida e na leitura ........................................ 71 TABELA 7: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na sílaba imediatamente anterior à proeminente na atitude de certeza, de dúvida e leitura, por informante ................................................................................................................. 73 TABELA 8: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba que antecede a proeminente por informante .................................................. 73 TABELA 9: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na primeira sílaba que antecede a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura .............. 75 TABELA 10: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba que antecede a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura .............. 76 TABELA 11: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na primeira sílaba localizada logo após à proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura, por informante ................................................................................................................. 77 TABELA 12: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na primeira sílaba localizada logo após a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura ... 78 TABELA 13: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba localizada logo após a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura, por indivíduo .................................................................................................................... 79 TABELA 14: Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba localizada logo após a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura ... 80 TABELA 15: Valor médio da tessitura por informante ............................................... 81
TABELA 16: Média, desvio padrão e significância da tessitura na certeza, na dúvida e na leitura................................................................................................................. 83 TABELA 17: Valores referentes à duração, em segundos, na sílaba proeminente, por informante ................................................................................................................. 84 TABELA 18: Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na sílaba proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura . 85 TABELA 19: Valores referentes à duração, em segundos, na primeira sílaba anterior à proeminente, por informante .................................................................................. 86 TABELA 20: Valores referentes à duração, em segundos, na segunda sílaba anterior à proeminente, por informante .................................................................................. 86 TABELA 21: Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na primeira sílaba anterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura ..................................................................................................... 88 TABELA 22: Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na segunda sílaba anterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura ..................................................................................................... 89 TABELA 23: Valores referentes à duração, em segundos, na primeira sílaba posterior à proeminente, por informante .................................................................. 89 TABELA 24: Valores referentes à duração, em segundos, na segunda sílaba posterior à proeminente, por informante ................................................................... 90 TABELA 25: Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na primeira sílaba posterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura ..................................................................................................... 92 TABELA 26: Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na segunda sílaba posterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura ..................................................................................................... 92 TABELA 27: Valor médio, em segundos, por informante, da duração do enunciado ................................................................................................................................. .93 TABELA 28: Média, desvio padrão e significância do enunciado nas atitudes de certeza e de dúvida e na leitura ................................................................................ 94 TABELA 29: Valor médio por informante da intensidade do enunciado .................... 99 TABELA 30: Média, desvio padrão e significância da intensidade do enunciado nas atitudes de certeza, dúvida e leitura ........................................................................ 100 TABELA 31: Porcentagem de acertos em relação às atitudes produzidas ............. 101
TABELA 32: Apresentação dos acertos referentes à expressão da certeza, após tratamento estatístico .............................................................................................. 102 TABELA 33: Apresentação dos acertos referentes à expressão da dúvida, após tratamento estatístico .............................................................................................. 102 TABELA 34: Porcentagens de acerto referente à atitude de certeza encontrada na aplicação do teste fechado ...................................................................................... 113
TABELA 35: Porcentagens de acerto referente à atitude de dúvida encontrada na aplicação do teste fechado ...................................................................................... 114 TABELA 36: Resultado do teste fechado aplicado em um menor número de juízes após a modificação dos enunciados apresentados ................................................. 115
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18
1.1 Delimitação do tema e justificativa ................................................................... 18
1.2 Objetivos .......................................................................................................... 20
1.2.1 Geral ............................................................................................................. 20
1.2.2 Específicos ................................................................................................... 20
1.3 Hipóteses ......................................................................................................... 21
1.4 Conteúdo ......................................................................................................... 21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 23
2.1 Prosódia ........................................................................................................... 23
2.2 Entonação ........................................................................................................ 25
2.3 Prosódia e expressão ...................................................................................... 27
2.4 Atitude .............................................................................................................. 29
2.4.1 Atitude e entonação ...................................................................................... 32
2.5 Sobre certeza e dúvida .................................................................................... 36
3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 41
3.1 Piloto ................................................................................................................ 41
3. 2 Informantes ..................................................................................................... 44
3.3 Corpus ............................................................................................................. 45
3.4 Coleta dos dados ............................................................................................. 46
3.5 Análise dos dados ........................................................................................... 50
3.5.1 Filtragem ....................................................................................................... 50
3.5.2 Teste de reação subjetiva ............................................................................. 53
3.5.3 Análise Acústica ........................................................................................... 56
3.5.3.1 Parâmetros analisados .............................................................................. 57
3.6 Análise estatística ............................................................................................ 59
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 61
4.1 Estudo piloto .................................................................................................... 61
4.2 Análise Acústica .............................................................................................. 62
4.2.2 F0 inicial e F0 final ........................................................................................ 62
4.2.3 Amplitude melódica das sílabas ................................................................... 69
4.2.3.1 Sílaba proeminente .................................................................................... 70
4.2.3.2 Sílabas que antecedem a sílaba proeminente ........................................... 72
4.2.3.3 Amplitude melódica das sílabas localizadas posteriormente à sílaba
proeminente ........................................................................................................... 76
4.2.4 Tessitura ....................................................................................................... 81
4.2.5 Duração ........................................................................................................ 83
4.2.5.1 Sílaba proeminente .................................................................................... 84
4.2.5.2 Duração das sílabas localizadas anteriormente à sílaba proeminente ...... 86
4.2.5.3 Duração das sílabas localizadas posteriormente à sílaba proeminente .... 89
4.2.5.4 Duração do enunciado ............................................................................... 92
4.2.5.4.1 Prolongamento silábico ........................................................................... 95
4.2.5.4.2 Pausas .................................................................................................... 97
4.2.6 Intensidade ................................................................................................... 98
4.3 Análise perceptiva ........................................................................................ 100
4.3.1 Teste aberto ................................................................................................ 100
4.3.2 Teste fechado ............................................................................................. 112
5 ATITUDE DE DÚVIDA OU DE INCERTEZA ........................................................ 118
5.1 Expressão da dúvida ..................................................................................... 119
5.2 Expressão da incerteza ................................................................................. 123
5.3 Dúvida x incerteza ......................................................................................... 129
6 CONCLUSÕES .................................................................................................... 133
6.1 Dos resultados e discussões ......................................................................... 133
6.2 Das atitudes de certeza, incerteza e dúvida .................................................. 135
Referências bibliográficas ....................................................................................... 140
Anexos .................................................................................................................... 146
18
1 INTRODUÇÃO
1.1 Delimitação do tema e justificativa
O Fonoaudiólogo é um profissional que atua na expressão oral, trabalhando seus
aspectos para promover uma adequação dos padrões de fala e comunicação, além
de operar também no aprimoramento destes padrões. Entretanto, para que seja
possível um desempenho adequado deste profissional, faz-se necessário um
conhecimento lingüístico mais aprofundado dos aspectos presentes na comunicação
humana. Objetivando aprofundar meus conhecimentos em lingüística, surgiu o
interesse em desenvolver um trabalho que abordasse aspectos relacionados à
comunicação oral.
Sabe-se que o processo comunicativo tem como objetivo não apenas transmitir uma
informação, mas também a atitude ou a intenção do locutor. Parâmetros segmentais
exercem grande influência na transmissão desta informação, mas em determinadas
situações a prosódia pode influenciar a interpretação sintática e semântica de um
enunciado, tornando-se essencial para o entendimento do mesmo. Esta intenção do
locutor, presente na oralidade, e geralmente expressa pela prosódia, revela a atitude
do falante.
A relação da prosódia influenciando a expressão de atitudes e emoções é um
assunto que vem sendo discutido por vários estudiosos, dentre os quais podemos
citar Pike (1945), Crystal (1969), Halliday (1970), Couper-Kulhen (1986), Fónagy
(1993), Moziconnaci e Hermes (1997) e Wichmann (2002). No Brasil, estudos nessa
área vêm sendo realizados por Reis (2001, 2005); Alves (2002); Queiroz (2004);
Azevedo (2007); Antunes (2007); Viola e Madureira (2008); Moraes (2008), entre
outros.
19
No Laboratório de Fonética (Labfon) da Universidade Federal de Minas Gerais esse
interesse deu origem a um eixo de pesquisa com a realização de trabalhos
abordando a influência de aspectos prosódicos na expressão de atitudes. Alguns
autores acreditam que aspectos relacionados principalmente à curva de F0
influenciem na percepção de determinadas atitudes, fazendo com que as mesmas
sejam percebidas mesmo fora de um contexto determinado. Porém, seria mesmo
possível perceber uma determinada atitude somente pela variação de F0? Haveria
um contorno melódico ou características prosódicas específicas que determinem
uma atitude?
Estudos realizados anteriormente, como Crystal(1969) e Halliday (1970), levam em
consideração que não existe uma relação unívoca entre a curva melódica e a
expressão de uma determinada atitude, ou seja, uma atitude pode ser expressa por
diferentes contornos melódicos. Entretanto acreditamos que há uma relação entre
contornos melódicos específicos e a expressão de atitudes, pois as pessoas
conseguem identificar atitudes diferentes ao escutá-las em uma situação de fala.
Acreditamos também que exista um limite nessa interrelação e que outros aspectos
contribuam para o reconhecimento das atitudes, mas a prosódia exerce influência
nessa identificação sendo muitas vezes essencial para a compreensão do que está
sendo falado.
Pensando desta maneira, em quais atitudes podemos perceber a prosódia
exercendo este papel de “diferenciador”? As atitudes de certeza e dúvida foram
escolhidas para este estudo visto que auditivamente possuem características
distintas, além de grande influência dos aspectos prosódicos em suas emissões,
sendo possível realizar uma diferenciação entre as duas expressões sem levar em
consideração outros aspectos comunicativos, como gestos, expressão facial, entre
outros.
20
E como essas atitudes influenciam na comunicação? Qual a importância de serem
definidos aspectos prosódicos que levem à percepção de uma dúvida ou de uma
certeza? A certeza e a dúvida são atitudes produzidas em várias situações do dia a
dia que exercem um importante papel na comunicação, estando relacionadas à
credibilidade do falante. O conhecimento de quais são os aspectos prosódicos que
influenciam na sua produção é mais um instrumento que a lingüística oferece à
fonoaudiologia, para que possamos, então, trabalhar o aprimoramento da
comunicação.
Tendo em vista todas essas questões citadas acima e objetivando contribuir ainda
mais para um melhor entendimento da relação entre os aspectos prosódicos e a
expressão de atitudes, este estudo se propõe a descrever a curva melódica, além de
analisar quais outros aspectos prosódicos (como a duração) influenciam na
expressão das atitudes de certeza e de dúvida.
1.2 Objetivos
1.2.1 Geral
- Contribuir para o estudo da relação entre a prosódia e a expressão de
atitudes no português brasileiro.
1.2.2 Específicos
- Analisar a variação de F0 nos enunciados contendo as atitudes de certeza e
dúvida;
- Refletir sobre a relação entre a expressão de atitudes e aspectos prosódicos,
em particular a entonação;
- Realizar uma avaliação perceptiva das atitudes em questão;
21
- Analisar e descrever qual (quais) outro(s) aspecto(s) prosódico(s) pode(m)
interferir juntamente com a entonação na expressão dessas atitudes.
- Desenvolver uma metodologia para o estudo da expressão de atitudes do
locutor.
1.3 Hipóteses
Pensando no papel que os aspectos prosódicos teriam na expressão das atitudes
estudadas, foram levantadas as seguintes hipóteses:
1) Outros aspectos prosódicos, que não a entonação, exercem influência na
expressão das atitudes de dúvida e certeza.
2) Existe alguma diferença em aspectos como intensidade e duração que
permitem diferenciar uma expressão de dúvida de uma expressão de certeza.
3) Na expressão da dúvida ocorre uma maior variação melódica comparada à
expressão da certeza.
1.4 Conteúdo
No capítulo de Fundamentação teórica será apresentado um panorama sobre o
estudo da prosódia e a atitude, além do quadro teórico que deu embasamento à
elaboração dessa dissertação.
No capítulo de Metodologia será explicitado como ocorreu a coleta do corpus
utilizado no desenvolvimento da dissertação, além da metodologia utilizada na
análise acústica e estatística.
No capítulo Resultados e discussões serão abordados detalhadamente os
parâmetros analisados para o desenvolvimento do trabalho.
22
No capítulo Atitude de dúvida ou incerteza serão discutidos aspectos encontrados
durante a análise dos dados que nos levaram a questionamentos quanto a
expressão tanto de dúvida quanto de incerteza no corpus analisado.
Por fim, o capítulo de Conclusão sintetizará os achados mais relevantes encontrados
neste estudo.
23
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Prosódia
O termo prosódia é definido por Crystal (1969) como efeitos vocais constituídos por
variações ao longo dos parâmetros de altura, intensidade, duração e pausa. Para o
autor os traços prosódicos da linguagem abrangem os segmentos fonéticos dos
enunciados, incluindo além de duração e pausa, o ritmo, o acento enfático e a
entoação. Crystal também faz uma diferenciação entre o que é prosódico e o que é
paralingüístico. Este último é resultado de mecanismos fisiológicos, ligados
diretamente às cordas vocais ou, ainda, resultado do funcionamento das cavidades
faríngea, oral ou nasal.
FIGURA 1: Representação dos aspectos não-segmentais de um enunciado, retirado de
Couper-Kouhlen, 1986, cap. 1, pag.4.
Para Lehiste (1970) são prosódicos aqueles parâmetros que promovem contraste ao
longo do tempo e cujo domínio mínimo é a sílaba. Considera que a prosódia
encontra-se inserida no nível suprassegmental, ou seja, quando os aspectos
prosódicos vão além do segmento.
24
Laver (1994) pondera que existem elementos não segmentais como a melodia, a
intensidade, a duração e a articulação. Denomina esses elementos como
suprassegmentais, mas diferentemente de Crystal, o autor considera que o termo
prosódico relaciona-se apenas à melodia e intensidade. Entretanto, ambos os
autores fazem oposição aos fatos fônicos que se limitam ao segmento e aos fatos
que se organizam além do nível da palavra.
Couper-Kouhlen (1986) relata o uso do termo prosódia na Grécia antiga para se
referir a traços que não eram indicados ortograficamente, especificamente para o
tom ou acento melódico. Coloca, ainda, que o termo prosódia, na língua inglesa,
pode ser considerado como uma categoria de percepção auditiva em uma análise
“top-down” da linguagem. Os traços prosódicos abrangem aspectos da fala de uma
maneira ampla, e se aplica aos fenômenos cujo domínio básico é a sílaba.
Kent e Read1 (1992, apud SOUZA, 2007) discutem a dificuldade de definição do
termo prosódia, observando que, mesmo entre estudiosos do assunto, ocorrem
divergências principalmente quanto a sua distinção de entonação. Os autores
consideram entonação como parte da prosódia sendo que ela se refere a um
fenômeno mais estreito relacionado geralmente às variações melódicas, enquanto
que a prosódia envolve outros parâmetros, tais como pausa, prolongamento, ritmo e
outros.
Apesar das divergências encontradas no estudo da prosódia, as definições
apresentadas acima apresentam muitos pontos em comum, principalmente em
relação aos parâmetros prosódicos. Para o desenvolvimento deste trabalho e
realização das discussões necessárias, o termo prosódia será tratado de acordo
com a teoria proposta por Crystal (1969).
1 Kent, R.D.; Read, C. The acoustic analysis of speech. San Diego: Singular Publishing Group, 1992.
25
2.2 Entonação
A entonação é um dos aspectos prosódicos mais estudados. Pode ser definida como
uma caracterização abstrata do conjunto de mudanças melódicas de uma sentença
(contorno melódico) que tendem a ser padronizadas por falantes de uma língua,
estes sendo usuários de uma seqüência melódica básica de maneira parecida em
circunstâncias parecidas (PIKE, 1945).
Para Crystal (1969), a entonação é vista não como um simples sistema de contornos
e níveis, mas como um complexo de traços de diferentes sistemas prosódicos.
Segundo o autor:
“These systems vary in their relevance, but the most central are tone, pitch-
range and loudness, with rhythmicality and tempo closely related. (…)
Scholars have been anxious to restrict the formal definition of intonation to
pitch movement alone(…) but when the questions on intonational meanings
is raised, then criteria other than pitch are readily referred to as being part of
the basis of a semantic effect. (…) Intonation then refers to a phenomenon
which has a very clear centre of pitch contrasts and a periphery of
reinforcing (and occasionally contradicting) contrast of a different order.”
(p. 195)
Diferentemente do proposto por Crystal, Halliday (1970) aproxima-se de Pike (1945),
e considera a entonação como sendo a melodia da fala. Segundo o autor, a melodia
da fala é feita por variações contínuas de freqüência, ou contorno de freqüência. Em
seu estudo destaca o contorno melódico, introduzindo conceitos como tom,
tonicidade e tonalidade. Assim, tom diz respeito aos contornos melódicos que
realizam contraste gramatical. Halliday (1970) reconheceu, na língua inglesa, cinco
tons primários: tom 1 (descendente), tom 2 (ascendente alto), tom 3 (ascendente
baixo), tom 4 (descendente – ascendente) e tom 5 (ascendente – descendente). Os
contornos melódios realizados são caracterizados como descendentes,
ascendentes ou planos. A tonalidade permite a divisão da curva melódica em grupos
26
tonais, ou em unidades entonativas. Cada grupo consiste de uma sílaba tônica
(sílaba proeminente) e divide grupo tonal em dois segmentos, um tônico e um pré-
tônico. Por último, a tonicidade está relacionada ao emprego da tônica no grupo
tonal e do número de tônicas em cada grupo.
Ao abordar a definição de entonação, Reis (1984) lembra que o conceito desse
termo deve ser analisado levando-se em consideração a seguinte diferença: em
sentido amplo, a entonação está na inter-relação de um complexo de traços de
diferentes sistemas prosódicos, como tom, intervalo melódico, força, ritmiticidade e
organização temporal; em sentido estrito a entonação relaciona-se a contrastes de
gradientes devido à variação melódica.
Autores como Crystal (1969) consideram a entonação no sentido amplo do termo,
diferentemente de outros autores como Pike (1945), Halliday (1970) e Couper-
Kuhlen (1986) que consideram a entonação como variação na altura melódica, ou
seja, a entonação relaciona-se a variações na freqüência fundamental.
‘t Hart e Collier e Cohen (1990) expressando o desejo de compreender como a
melodia da fala funciona na comunicação humana, relatam que a teoria da
entonação deveria compreender um componente fonético e um componente
lingüístico. A parte fonética da teoria deveria expor aspectos fisiológicos, acústicos e
perceptivos da entonação e elucidar a relação entre eles. O componente lingüístico
da teoria deveria objetivar uma interpretação fonológica dos fatos fonéticos e uma
explicação pragmática de como a entonação funciona na interação comunicativa
entre o falante e o ouvinte.
Couper-Kuhlen (1986) também considera a entonação no seu sentido estrito,
associada à variação melódica da fala. Em seu texto, a autora cita t’ Hart e Collier
(1975): estes autores mostraram três diferentes níveis nos quais a entonação pode
ser analisada, cada um refletindo um diferente grau de abstração. São eles:
27
• Nível acústico: que pode ser visto como uma sucessão de curvas de F0 no
tempo, que nem sempre são percebidas;
• Nível fonético: diferencia-se pelo fato de a entonação ser vista como eventos
que são percebidos e
• Nível fonológico: mais abstrato, pode ser identificado como eventos melódicos
potencialmente distintos, agrupados em categorias significativas.
Hirst e Di Cristo (1998) propõem o uso do termo entonação no seu sentido amplo,
envolvendo tanto o sistema cognitivo abstrato quanto os parâmetros físicos sobre os
quais estes sistemas são mapeados. Segundo estes autores, no nível fonológico a
prosódia consiste de sistemas lexicais, como tom, acento e quantidade, e de um
sistema não lexical, a entonação. Eles também propõem um segundo significado
para o termo entonação, que se refere especificamente a características fonéticas
do enunciado. No entanto, o que os autores escolhem para representar essas
características formalmente são denominados como parâmetros prosódicos
acústicos. Estes parâmetros são: freqüência fundamental, intensidade, duração e
características espectrais (utilizados como correlatos auditivos de melodia, força,
comprimento e timbre, respectivamente).
Abordaremos, no presente estudo, a entonação segundo os critérios propostos por
Halliday (1970), levando em consideração a definição do termo entonação no seu
sentido estrito, isto é, relacionada a contrastes de gradientes devido à variação
melódica.
2.3 Prosódia e expressão
Cada sentença, palavra ou sílaba possui uma melodia quando é falada. Não há
sentença sem melodia e as mudanças na direção do contorno melódico contribuem
para o significado do que está sendo falado. (PIKE, 1945)
28
A importância da entonação é também relacionada ao sentido da sentença, ao
dizermos coisas diferentes. Caso a entonação de uma sentença seja modificada,
certamente ocorrerá uma mudança no significado dessa sentença. A entonação é
um dos muitos tipos de recursos que estão disponíveis na linguagem e que nos
permitem fazer uma distinção de significados. (HALLIDAY, 1970)
t’ Hart e Collier e Cohen (1990) pontuam que a prosódia de um enunciado adiciona
uma dimensão expressiva ao processo comunicativo, pois modificando os traços
prosódicos o falante pode enriquecer sua fala com elementos de significado que não
estão explícitos no léxico. Ainda consideram que o valor comunicativo dos traços
prosódicos é possivelmente evidenciado no fato de que um mesmo texto pode ser
falado de diferentes maneiras. Essa visualização da prosódia vai ao encontro do que
é afirmado por Cagliari (1992). O autor considera a prosódia como a essência da
língua falada e que os elementos prosódicos, incluindo a entonação, têm a função
básica de realçar ou reduzir certas partes do discurso.
Uma frase simples pode ser produzida de diferentes maneiras e assim apresentar
diferentes significados. Essas diferenças podem ocorrer devido a eventos como
padrão acentual, localização da ênfase, ritmo, velocidade de fala, pausas, dentre
outros aspectos supra-segmentais que colaboram para a compreensão da
mensagem falada. (KENT; READ, 1992, apud SOUZA, 2007)
Bradford2 (1988, apud VALENTE, 2003) compreende as mudanças contínuas da
melodia da voz do falante para expressar significado. Pode-se dizer diferentes
coisas usando o mesmo grupo de palavras arranjadas na mesma ordem, porém,
falando em diferentes sentidos.
Mozziconacci e Hermes (1997) e Moziconacci (2000) concordam com os autores
citados quando afirmam que pistas prosódicas fornecidas durante a comunicação
2 BRADFORD, B. Intonation incontext: intonation practice for upper intermediate and advanced learners of
English. Cambridge University Press: 1988. 68p.
29
são utilizadas pelos falantes e ouvintes para expressar e decodificar a mensagem
transmitida. Sendo assim, a fala transmite algo além das palavras utilizadas e
elementos que se encontram além do nível segmental exercem importante papel
para compreensão adequada do que foi falado. Do mesmo modo, defendem que a
prosódia também desempenha um importante papel na expressão de atitudes e
emoções, podendo resultar em uma informação adicional ao componente lingüístico
ou até modificá-lo.
Wichmann (2002) acredita que a forma como se fala um enunciado, o tom de voz,
pode gerar significados em uma conversação que são diferentes ou que vão além do
que é falado. A forma como se fala influencia no sentido do enunciado, podendo
algumas vezes até contrariar a sua semântica.
Seguindo essa mesma linha de pensamento, Hirst (2005) afirma que a prosódia
contribui para o significado de um enunciado e que quando ocorre uma discrepância
entre a prosódia do enunciado e o conteúdo semântico, costuma-se acreditar mais
na prosódia que na semântica. Para ilustrar essa afirmativa, o autor utiliza o seguinte
exemplo: quando alguém pronuncia a frase “Isto é tão animador!” acredita-se que
essa pessoa esteja animada, satisfeita. Entretanto, se essa frase for pronunciada
utilizando-se um tom de voz “aborrecido”, tende-se a acreditar que esse falante está
desanimado, o contrário do que é dito pela frase.
2.4 Atitude
Autores como Reis (1984), Tench (1990), Mozziconacci e Hermes (1997), Wichman
(2000), Cheang e Pell (2008), entre outros, concordam que a fala não apenas
transmite o componente lingüístico das sentenças, mas expressa ainda atitudes e
emoções do falante.
30
A definição do termo atitude é muito discutida e varia de acordo com diferentes
autores e diferentes áreas de estudo. Wichmann (2000) diferencia o conceito de
atitude utilizado pela psicologia social e pelos estudos entonativos. Segundo a
autora, na literatura que aborda estudos de entonação, uma postura interpessoal é
usualmente denominada “atitude”, termo distinto do que é observado na prática da
psicologia social. Atitude na psicologia social refere-se a crenças e opiniões, as
quais motivam ou explicam um determinado comportamento, enquanto que nos
estudos que abordam a entonação o termo atitude é utilizado definindo o
comportamento em si.
Couper-Kuhlen (1986) define atitude como:
(...) uma forma de expressão cognitivamente monitorada, convencionada e
com um propósito comunicativo; diferentemente da emoção, não
monitorada, puramente psicológica, determinada pela externalização de um
estado emocional.
(Couper-Kuhlen 1986: p. 174, tradução nossa)
Seguindo um mesmo raciocínio, Fónagy (1993) considera atitude como um
comportamento controlado e determinado conscientemente em oposição à emoção
que foge ao controle do locutor. Searle (1995), com sua teoria da intencionalidade,
avança na distinção que Fónagy faz entre atitude e emoção, pois diferencia estados
mentais intencionais, como crença, temor, esperança e desejo, que se caracterizam
pela direcionalidade, de estados mentais não intencionais, como o nervosismo, a
exaltação e ansiedade (apud Reis, 2001:p.227).
Antunes (2006), após a realização de um abrangente estudo da literatura,
conceituou atitude como expressões controladas pelo falante (portanto, voluntárias,
cognitivas, intencionais e motivadas) e convencionadas (desta forma, dependentes
31
do sistema lingüístico e, logo, aprendidas), através das quais o falante informa seu
ponto de vista; que permitirão a percepção ou a inferência de seu comportamento.
A definição do termo atitude é bastante discutida e alguns autores vêem dificuldade
em não considerá-la como emoção (Wichmann 2002, Mozziconacci e Hermes 1997,
Moziconacci 2000). Wichmann (2002) relata parecer ser difícil distinguir atitude de
outros tipos de significados afetivos como a emoção. Em vários estudos que
abordam a entonação esses termos são freqüentemente utilizados como sinônimos,
ou ao menos se considera que ocorra uma coexistência de emoção e atitude em um
mesmo enunciado. No mesmo artigo, a autora aborda o conceito utilizado por
psicólogos sociais que denominam atitude como tendo função de opinião, crença ou
conhecimento a respeito de algo, sendo denominada atitude proposicional. Esse
termo é descrito como sendo atitudes que dizem respeito a uma proposição, “atitude
psicológica rumo a um estado de ocupação” (LEECH3 1983:p.106 apud WICHMANN
2000). Este conceito vai de encontro aos utilizados em pesquisas atuais sobre
entonação, pois considera atitude como um possível prognóstico de um
comportamento social, e não como o comportamento em si. Ainda diferencia
“Entonação expressiva” de “Entonação atitudinal” sendo que a primeira é uma
entonação que aparece para transferir emoção pura e emoções decorrentes ou
intimamente ligadas a crenças, conhecimentos e opiniões, enquanto que a segunda
significa qualquer traço de entonação que junto com a informação não lingüística
reflete o comportamento do falante em determinada situação. O quadro abaixo
resume o pensamento exposto pela autora:
3 LEECH, G.N. Priciples of Pragmatics. Longman, London: 1983
32
QUADRO 1
Distinção entre entonação expressiva e entonação atitudinal
Entonação expressiva
Reflete....
E ....
Entonação atitudinal
Reflete....
Emoção Atitude proposicional
Opinião, crença, conhecimento
sobre uma pessoa ou assunto
Comportamento do falante
Determinado e/ou percebido
em um contexto estabelecido
Ele está (sentindo)
Feliz
Zangado
triste
Eu sou
Crítico
Impressionado
desaprovador
Você está sendo
Condescendente
Amigo
Rude
(traduzido de Wichmann, 2002)
O conceito de atitude é muito discutido e um tanto complexo, sendo que muitos dos
conceitos propostos tentam diferenciar atitude de emoção, mas freqüentemente
estes termos se misturam. Entretanto, assim como Moziconacci (2001), também
acreditamos que ocorra uma distinção entre a expressão de estados fisiológicos e
expressões mais cognitivamente monitoradas, mesmo que muitas vezes a
expressão da atitude carregue aspectos emotivos. Uma definição mais conveniente
e esclarecedora, e que será utilizada durante a realização deste trabalho, é a
estabelecida por Couper-Kuhlen (1986).
2.4.1 Atitude e entonação
É incontestável o fato de que a entonação tem um importante papel a desempenhar
na expressão de emoções e atitudes. Dentre as funções comunicativas
desempenhadas pela entonação, Couper-Kuhlen (1986) cita a função atitudinal, na
qual a entonação influencia na expressão e percepção de determinada atitude,
33
relação esta também reconhecida e discutida por Pike (1945), Crystal (1969),
Halliday (1970), Moziconnaci e Hermes (1997) e Wichmann (2002).
Em diversos estudos realizados, a entonação foi um dos principais aspectos
analisados para se estudar a expressão de atitudes e a intenção do falante. Pike
(1945) aponta que, na língua inglesa, o significado da entonação modifica o
significado lexical de uma sentença, adicionando a atitude do falante para o
conteúdo da sentença. Essa mesma função da entonação é relatada por Halliday
(1970), que considera a entonação como um dos muitos recursos da língua que são
utilizados para fazer distinções entre significados. Em frases sintaticamente
semelhantes, ela pode estar relacionada à atitude do falante e contribuir para a
interpretação da intenção do que está sendo dito. Reserva, simpatia, surpresa,
impaciência, respeito, cortesia, certeza, incerteza, preocupação, despreocupação,
entre outras, são exemplos de atitudes expressas pela entonação, assim como
atitude de excitação, desânimo, orgulho, relatadas por Crystal (1969).
Halliday (1970) ainda coloca que todo padrão de entonação determina um
significado, ficando apenas a seguinte pergunta: qual tipo de significado eles
determinam? No geral, pode-se dizer que o tom expressa a função da fala, enquanto
que a proeminência expressa a estrutura da informação. Seria o mesmo em
mencionar que a escolha do tom relata o modo verbal (tipo de sentença, questão,
etc. – “mood”), a modalidade (avaliação da possibilidade, probabilidade, validade,
relevância, etc. do que foi falado – “modality”) e a atitude do falante de educação,
indiferença, entre outras (“key”). Em outras palavras, a escolha do tom relaciona-se
com os fatores que marcam a relação entre o falante e o ouvinte em uma situação
de fala, e a escolha da proeminência relata como a mensagem é dividida em
unidades de informação.
Uldall (1972) observa que é claro que alguns tipos de significado são determinados
pela entonação da fala. Para a autora, a entonação é capaz de expressar atitudes
sociais direcionadas do falante para o ouvinte, do falante para o tema do assunto e
do falante para o mundo. Realiza em seu estudo um experimento que consiste em
34
oferecer a um grupo de sujeitos um número de sentenças às quais foram impostos
sinteticamente dezesseis contornos melódicos, com o objetivo de investigar
significados atitudinais ou emocionais determinados por diferentes contornos
melódicos. As atitudes/emoções pesquisadas eram polares (impaciente/paciente,
agradável/desagradável, autoritário/submisso). Na avaliação perceptiva cada dupla
de atitude/emoção ficou separada por sete espaços sendo que o do meio significava
neutralidade, ou seja, nenhum dos rótulos se aplicava ao enunciado escutado. Do
meio para a direita ou para a esquerda, quanto mais se aproximava da
atitude/emoção mais forte eram os indícios que o anunciado escutado correspondia
àquela atitude/emoção.
Fónagy (1993) considera que as atitudes exprimem-se, sobretudo, por configurações
melódicas, não havendo participação de aspectos articulatórios. Mozziconacci e
Hermes (1997) discutem aspectos relacionados a uma pequena variação da
freqüência fundamental influenciando na expressão de atitudes. De acordo com os
autores, essa pequena variação melódica tem tanta importância na expressão de
atitudes quanto nas variações globais da entonação.
Reis (2005) relata apresentar um interesse particular pela função atitudinal da
entonação, pois acredita que apesar das inúmeras funções que a prosódia pode
exercer na comunicação é na expressão de atitudes que a prosódia age por
excelência. É nessa função que os aspectos prosódicos atingem sua plenitude
comunicativa.4
Além da função atitudinal, para Moziconacci e Hermes (1997), Wichmann (2002) e
Gussenhoven (2002), a entonação também desempenha uma função na expressão
do significado afetivo da mensagem, influenciando na expressão de emoções do
falante. Cosmides (1983) corrobora com tal afirmação e acrescenta que o significado
4 Aula ministrada pelo Prof César Reis, na Disciplina Prosódia e a expressão de atitudes – Programa de Pós-
graduação em estudos lingüísticos / UFMG, agosto-dezembro, 2005.
35
de F0 é um dos parâmetros mais consistentes utilizados na expressão da emoção
na fala.
No português brasileiro, trabalhos abordando a relação prosódica na expressão das
atitudes vêm sendo realizados por autores como Reis (1984; 2001); Alves (2002);
Queiroz (2004); Azevedo (2007); Antunes (2007) discutindo a relação entre a
expressão de determinadas atitudes e o contorno melódico produzido.
Além da entonação, outros aspectos prosódicos influenciam na expressão das
atitudes e emoções, e se correlacionam à ela. Lieberman e Michaels (1962)
acreditam que a freqüência fundamental é muito importante, mas que sozinha não
transmite todo o conteúdo emocional do enunciado. Além de F0, a duração é um
parâmetro que deve ser analisado na expressão de atitudes (CAHN5, 1990, apud
MOZICONACCI, 1998).
Viola e Madureira (2008) realizaram um estudo para analisar o padrão de pausas na
fala expressiva. Analisaram as pausas por meio de uma classificação funcional e
correlacionaram a duração de pausas com a expressão de sentimentos. Para a
metodologia foi utilizado um poema intitulado “Juca Pirama”, que foi interpretado por
um ator profissional sendo que o mesmo ator interpretou três papéis diferentes: um
guerreiro Tupi, o pai do guerreiro e o chefe da tribo Timbira. A análise das pausas
mostrou que ocorreu uma variação entre os diferentes personagens, principalmente
em relação ao guerreiro e ao chefe da tribo, sendo que o guerreiro utilizou pausas
mais longas nos enunciados do poema, pois ele precisava argumentar para fazer
com que o chefe mudasse de idéia, além de precisar convencer o chefe que seu
pedido era justo. A duração também variou de acordo com o tipo de sentimento
transmitido pelo enunciado, visto que pausas mais longas relacionaram-se à atenção
e pausas mais curtas à ansiedade.
5 CAHN, J. E. Generating expression in synthesized speech. Technical report, MIT Media lab., Boston, 1990
36
2.5 Sobre certeza e dúvida
O conceito dos termos certeza e dúvida varia de acordo com diferentes abordagens.
Inicialmente, vamos focalizar o conceito de certeza e dúvida tal como apresentado
no dicionário. Como definição, a certeza é uma afirmação categórica, algo que não
oferece dúvida. Filosoficamente é considerada como convicção intelectual que,
considerando superada a dúvida característica do questionamento filosófico,
sustenta uma verdade supostamente irrefutável e evidente. Na lingüística ela é vista
como modalidade lógica do necessário. A dúvida é a ação, estado ou efeito de
duvidar, hesitação, incerteza. Filosoficamente, suspensão permanente e definitiva de
qualquer juízo que se pretenda verdadeiro. Outro conceito importante para essa
discussão é a incerteza, definida como estado ou caráter do que é incerto; é a falta
de certeza, a dúvida. (HOUAISS, 2001)
Assim como a definição colocada no Houaiss, o dicionário Michaelis (2007)
considera a certeza como uma qualidade do que é certo e a coloca como antônimo
de dúvida, que é o ato ou efeito de duvidar, dificuldade para se decidir, incerteza
acerca da realidade de um fato, uma hesitação. Já a incerteza pode ser vista como
uma falta de certeza e também como uma hesitação, dúvida e indecisão. Ao
comparar essa duas definições podemos observar que a dúvida e a incerteza estão
bem próximas e até mesmo são utilizadas para se definirem à medida que a dúvida
é uma incerteza e a incerteza é considerada como sendo uma dúvida.
Em estudos na área da Pragmática, Searle (1995), por exemplo, ao abordar o
estudo da Intencionalidade, considera a dúvida e a certeza como estados mentais
intencionais, ou seja, tanto a dúvida como a certeza apresentam uma direção ao
serem produzidas. Pode-se dizer que quando tenho uma certeza ou uma dúvida,
deve ser uma certeza ou dúvida de que uma determinada coisa é de um ou de outro
jeito. Crença, desejo, temor, aceitação, entre outros também podem ser
considerados como estados mentais intencionais.
37
Para Halliday (1970) em frases sintaticamente semelhantes, a entonação relaciona-
se à atitude do falante e pode contribuir para a interpretação da intenção do que está
sendo falado. A certeza e a incerteza são discutidas em relação aos contornos
melódicos encontrados durante sua produção. Basicamente, o contorno
descendente relaciona-se à expressão da certeza, enquanto que um contorno
ascendente significa incerteza. Observa-se que o autor utiliza sempre o termo
incerteza em seu estudo e não dúvida.
Spohn (1994) discute em seu artigo a questão do que se pode chamar de certeza.
Em concordância com filósofos que estudam o assunto o autor considera a certeza
como uma qualidade epistêmica, ou seja, como uma modalidade epistêmica. A
modalidade epistêmica não se aplica simplesmente a sistemas modais que
basicamente envolvem as noções de possibilidade e necessidade, mas a qualquer
sistema modal que indica o grau de comprometimento do falante com o que ele fala
(PALMER, 1986; PAPAFRAGOU, 2005).
Pensando-se ainda na certeza como modalidade epistêmica, o estudo realizado por
Gravano et all (2008) analisou a influência da modalidade e do tipo de contorno
melódico na percepção de graus de certeza, examinando duas construções
utilizadas para expressar a certeza: o contorno entonacional descendente e o verbo
“to be” no futuro do pretérito (“would”). Para realizar essa análise os autores pediram
aos participantes do estudo para avaliar enunciados os quais continham o modal no
futuro do pretérito (would) ou o verbo no presente (be) e enunciados produzidos
variadamente com três contornos melódicos diferentes: descendente, declarativo e
questões sim/não. Os participantes relacionaram o contorno descendente com o que
mais representa a expressão de certeza e o contorno equivalente a questões
sim/não como o que mais se aproxima da incerteza. Quanto à utilização do verbo
modal, os enunciados que apresentaram a forma verbal “would” foram considerados
com mais alto grau de certeza do que aqueles que não o apresentavam. Sendo
assim, o estudo concluiu que tanto o contorno melódico quanto o verbo modal
apresentaram efeitos significativos e atuaram independentemente um do outro na
percepção da certeza.
38
Dubost e Su (1999) realizaram um estudo com objetivo de investigar o uso da
entonação no mandarim e no francês comparando o uso de aspectos prosódicos na
produção de duas modalidades, declarativa e interrogativa e na expressão de duas
atitudes sendo essas a dúvida e a surpresa, tanto do ponto de vista acústico quanto
perceptivo. Foram analisados valores de F0 ao longo do enunciado, além de valores
de intensidade e duração. Os contornos de F0 apresentaram maior modulação no
Francês quando na expressão das modalidades e atitudes. Já no mandarim o
contorno de F0 mostrou-se semelhante nas produções solicitadas. A tessitura foi
maior na expressão da surpresa, seguida pela sentença interrogativa. As sentenças
declarativas apresentaram os menores valores de tessitura tanto no francês quanto
no mandarim. A dúvida teve a taxa mais curta de variação no francês. Quanto aos
valores de duração, a surpresa teve o valor mais longo de duração no francês,
seguida pela dúvida e declarativa e depois pela interrogativa. No mandarim não
houve uma constante, mas a surpresa teve a menor duração em ambos os falantes.
A intensidade apresentou valores decrescentes na seguinte ordem: surpresa,
declarativa, interrogativa e dúvida, em ambas as línguas. No teste perceptivo as
modalidades e atitudes foram bem diferenciadas no francês, enquanto que no
mandarim apenas a surpresa foi bem identificada.
A dúvida é considerada por Machado (1996), ao discutir Descartes, como:
(...) uma alternância entre um sim e um não, pois o sim e o não definitivos
eliminariam imediatamente a dúvida, que é feita de sua coexistência
antagônica e de nada mais.
(Machado, 1996: p 2)
O autor acredita que a dúvida não é um estado, ou seja, uma posição estática. Para Machado, assim como para Descartes, passa-se pela dúvida, não permanecendo nela.
Levando em consideração o conceito de atitude de Couper-Kuhlen (1986) que será
utilizado no trabalho em questão, a certeza e dúvida podem ser consideradas
atitudes, visto que apresentam um propósito comunicativo, sendo expressas
conscientemente e monitoradas cognitivamente.
39
Após longas discussões a respeito das definições dos termos certeza / dúvida /
incerteza resolvemos adotar no presente estudo uma perspectiva pragmática, mas
levando em consideração o ponto de vista do locutor ao produzir o enunciado.
Ao longo desse estudo começamos a nos perguntar se incerteza e dúvida poderiam
ser consideradas como sinônimos. Observamos que as produções científicas que
abordam esse assunto não aprofundam no significado desses termos e resolvemos
então realizar uma breve discussão sobre o que poderíamos considerar como
dúvida e como incerteza. Outra discussão que o presente estudo se propõe a fazer é
em relação à existência ou não de uma diferença de significado entre dúvida e
incerteza. Na literatura pesquisada observa-se hora a utilização de dúvida hora de
incerteza, mas em nenhum momento fica explícita uma diferenciação entre esse
dois termos.
Após várias discussões levantadas durante a realização desse estudo começamos a
nos perguntar e a pensar a incerteza e a dúvida como sendo coisas diferentes. Se
pensarmos melhor na definição utilizada por Machado (1996), e levando-se em
consideração observações realizadas durante a pesquisa, encontramos na definição
colocada pelo autor dois conceitos separados: a dúvida que é feita da “coexistência
antagônica do sim e do não”, e a incerteza “uma alternância entre um sim e um não”.
Podemos pensar em ambas como um “será”, relacionadas à memória, a buscar algo
na memória. Entretanto, acreditamos que a dúvida existe ali, estática entre um sim e
um não, mas não chega a ser nem o sim e nem o não ou então deixaria de existir. A
dúvida seria uma questão que vem de repente, uma pergunta levantada, mas que
não pede necessariamente uma resposta imediata; a dúvida simplesmente surge. A
incerteza se encontraria na alternância entre um sim e um não, movimentando-se
entre esses dois extremos.
Ao discutirmos um pouco mais sobre a incerteza, podemos dizer que ela permite
uma gradação de acordo com o nível de conhecimento sobre um assunto. Isto é,
mesmo quando se sai da alternância, para um lado ou para o outro, quando falamos
40
de incerteza pressupõe uma gradação até a certeza definitiva. Ela aproxima-se
ainda da indecisão, da hesitação.
Já a expressão da dúvida não. A dúvida aproxima-se da pergunta, feita pra nós
mesmos, sem pedir precisamente uma resposta. Ela aparece e não permite
gradação. Não tem como ter mais ou menos dúvida: tem-se a dúvida. Podemos
ainda pensar na dúvida como a ausência da certeza.
Ao levantar essas questões buscamos ressaltar essas diferenças que podem ser
percebidas ao analisarmos mais cuidadosamente uma expressão oral. Nas análises
realizadas nesse estudo não será considerada diferença entre dúvida e incerteza,
apesar de que em determinados momentos, ao escutar as expressões realizadas
pelos informantes conseguimos perceber as diferenças discutidas acima.
41
3 METODOLOGIA
O desenvolvimento de uma metodologia para o estudo da expressão de atitudes tem
sido uma busca constante da equipe do Laboratório de Fonética da FALE/ UFMG.
Várias tentativas foram feitas, como é possível observar nos trabalhos de Alves (2002);
Queiroz (2004); Azevedo (2007); Antunes (2007). Neste trabalho procuramos superar
as dificuldades encontradas em tentativas anteriores propondo uma nova forma para a
obtenção dos dados.
O projeto dessa pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da
UFMG e aprovado sob parecer número ETIC 507/07 em 14 de fevereiro de 2008.
Anteriormente à coleta de dados aqui relatada, foi realizado um projeto piloto, no qual
algumas questões foram observadas e modificadas, possibilitando adequar alguns
aspectos que poderiam influenciar negativamente na análise.
3.1 Piloto
Antes de iniciarmos a pesquisa optamos por realizar um estudo piloto. Foram pensadas
e formuladas situações para a produção das atitudes de certeza e dúvida de maneira
que o diálogo formulado induzisse o informante a expressar as atitudes em estudo. As
situações formuladas como diálogo tiveram como objetivo situar o falante para que ele
produzisse as atitudes de certeza e dúvida. Um exemplo de situação formulada pode
ser observado abaixo:
42
O gerente de uma loja discute com você a contratação de um funcionário para ocupar
um cargo que está vago na empresa.
I6: Estou pensando em contratar o Paulo para ocupar o cargo vago na empresa
Ele perece ter qualificação adequada para ocupar o cargo
P7: Será que ele conhece as regras do mercado
I: Ele conhece
P: Ele se formou há um ano
I: Ele conhece as regras
P: É importante que o novo funcionário conheça bem essas regras
I: Ele conhece
Assim como a situação acima foram formuladas outras quatro situações (Anexo 1).
Para gravação dessas situações optamos por selecionar atores, pois tínhamos em
mente que devido a experiência em realizar uma situação “imaginária” eles
conseguiriam abstrair e emitir a expressão dessas atitudes com mais facilidade que um
falante não ator. Além disso, eles estariam mais acostumados com situações de
gravação, microfone, entre outros, de maneira que esses aspectos não influenciariam
na naturalidade da emissão no momento da gravação.
Participaram do estudo piloto dois informantes, homens, estudantes de teatro da
Faculdade de Belas Artes – UFMG. Eles receberam as cinco situações impressas e
foram orientados de que deveriam expressar as atitudes em questão na parte
destacada em negrito, enquanto que o resto do enunciado seria pronunciado pela
pesquisadora. A gravação foi realizada em uma cabine acusticamente tratada,
localizada no Laboratório de Fonética da FALE/UFMG, situado no Campus Pampulha.
6 Abreviação correspondente ao informante 7 Abreviação correspondente à pesquisadora
43
Foi utilizado um gravador digital, microfone de pedestal posicionado a 10 cm da boca
do informante.
Cada informante foi orientado a realizar três “interpretações”8 diferentes das situações,
sendo que a primeira foi uma interpretação livre, isto é, interpretar o diálogo da maneira
que achasse adequado; a segunda interpretar a mostrando certeza do que está falando
e a terceira interpretar a situação mostrando dúvida. As três gravações foram realizadas
no mesmo dia, uma após a outra.
Para avaliarmos a percepção dessas atitudes fora do contexto de produção aplicamos
dois testes de reação subjetiva: um teste aberto, no qual o juiz ouviu o enunciado e
identificou em uma folha (Anexo 2) qual atitude foi percebida no enunciado emitido, e
um teste fechado, no qual o juiz ouviu o enunciado produzido e marcou em um
protocolo específico (Anexo 3) qual atitude foi percebida. No teste aberto as frases
foram numeradas de acordo com a edição do material, enquanto que no teste fechado
optamos por escolher letras para nomear as frases de maneira que fosse possível
ordená-las no programa de som utilizado para apresentá-las aos ouvintes. Os juízes
foram selecionados entre alunos de duas turmas do primeiro período do curso de Letras
e os testes foram aplicados em um local silencioso, em todos os juízes ao mesmo
tempo utilizando som ambiente (computador com caixa que permitiu amplificação do
som). Ao todo participaram do teste aberto 14 juízes e do teste fechado 16 juízes.
A realização desse estudo piloto nos levou a observar alguns aspectos que
necessitavam ser modificados na metodologia do trabalho de maneira a promover
melhores resultados. Em primeiro lugar, as situações formuladas para a expressão das
atitudes foram modificadas. Observamos que a repetição do enunciado no qual a
8 Apesar da escolha pela palavra “interpretar”, os falantes foram orientados a produzir as frases da maneira mais natural possível.
44
atitude seria expressa fazia com que outros aspectos também fossem expressos, como
por exemplo, irritação. Desta maneira optamos então por formular situações mais
simples, na qual o enunciado que carregaria a atitude fosse falado apenas uma vez.
Outra modificação realizada foi em relação à interpretação livre da situação. Essa
ordem foi retirada e optamos por realizar uma leitura dos enunciados que representaria
a expressão neutra dos informantes, oferecendo assim uma base para comparação.
Uma terceira modificação realizada foi em relação à ordem das gravações. Observamos
que o fato de gravar certeza e dúvida no mesmo dia, uma logo após a outra, influenciou
negativamente nos dados coletados, visto que em algumas expressões essa atitudes
se confundiam. Diante desse fato optamos por realizar a gravação das atitudes de
certeza e dúvida em dias separados.
A última modificação foi em relação ao microfone utilizado. Para a gravação das
amostras de fala que corresponderão ao corpus da pesquisa optamos por utilizar
microfone de cabeça para promover um maior controle da intensidade de fala. Levando-
se em conta essa modificações apresentamos abaixo a metodologia utilizada no
desenvolvimento dessa pesquisa.
3. 2 Informantes
Os informantes dessa pesquisa foram alunos da graduação do Curso de Teatro da
Faculdade de Belas Artes da UFMG, que já tivessem atuado profissionalmente,
selecionados aleatoriamente. O grupo foi formado por 10 alunos do sexo masculino,
com idade mínima de 20 e máxima de 35 anos. A escolha de informantes apenas do
sexo masculino teve como objetivo eliminar a variável sexo da pesquisa.
45
Os informantes foram selecionados por meio de um e-mail enviado aos endereços
fornecidos por um professor da Faculdade de Belas Artes. Ao responder esse e-mail o
aluno foi convidado a comparecer ao Labfon, onde a pesquisadora explicou os
procedimentos que seriam realizados para a gravação dos dados. Entretanto, nesse
primeiro momento não foi mencionado aos informantes quais atitudes seriam estudadas
pela pesquisadora, pois isso poderia ter efeito sobre o experimento.
Os alunos que aceitaram participar como informantes da pesquisa assinaram um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 4). Foi repassada uma ajuda de custo no
valor de R$75,00 a cada um dos 10 informantes9, visto que precisávamos de atores
com experiência de atuação profissional, ou seja, os informantes selecionados atuavam
profissionalmente no teatro.
3.3 Corpus
A principal preocupação ao desenvolver a metodologia foi a de fornecer ao informante,
de forma clara e concisa, o contexto necessário à expressão de uma atitude. Tendo em
vista esse objetivo, foram formuladas dez frases (nas quais foram expressas as atitudes
de certeza e dúvida), introduzidas por um parágrafo que teve como objetivo fornecer ao
falante, de forma simples e concisa, o contexto necessário à expressão de uma atitude
(Anexo 5). Cada frase foi pronunciada em forma de pergunta e resposta, sendo que a
pergunta foi produzida pela pesquisadora e a frase com a atitude (certeza ou dúvida) foi
produzida pelo informante. As situações que introduziam a expressão da dúvida e
certeza foram preparadas de maneira a induzir a expressão de cada uma dessas
atitudes.
9 A verba para o pagamento dos atores que participaram da pesquisa foi fornecida pela Câmara de Pesquisa da faculdade de Letras da UFMG
46
Para ilustrar a explicação acima, segue um exemplo de uma situação induzindo certeza
e outra induzindo dúvida, sendo que ambas apresentam como resposta a ser produzida
pelo ouvinte a mesma frase: “Eu entreguei o documento”. Todas as frases formuladas
para a pesquisa foram produzidas de três maneiras por cada informante: leitura, certeza
e dúvida.
Certeza: 1) João é um funcionário muito eficiente, sempre cumpre o que foi pedido. Seu
chefe não está encontrando um documento e pergunta: 10P: João, você me entregou o documento na segunda-feira? 11 I: Eu entreguei o documento.
Dúvida:
1) João é um funcionário muito desatento. Seu chefe não está encontrando um documento e pergunta:
P: João, você me entregou o documento na segunda? I: Eu entreguei o documento.
3.4 Coleta dos dados
As situações formuladas foram gravadas em uma cabine acusticamente tratada,
localizada no Laboratório de Fonética da FALE/UFMG, situado no Campus Pampulha.
A realização da gravação em cabine teve como objetivo eliminar ruídos que poderiam
influenciar na análise dos dados.
10 Abreviação correspondente à pesquisadora 11 Abreviação correspondente ao informante
47
As gravações foram realizadas em dois dias diferentes e ordenadas da seguinte
maneira: no primeiro dia foram gravadas leitura e certeza e no segundo dia a expressão
da dúvida. A gravação da leitura foi realizada antes da expressão da certeza. Os
informantes só ficaram sabendo as atitudes que deveriam expressar no dia da
gravação. Cada informante compareceu ao Labfon em um momento diferente para
realizar a gravação individualmente com a pesquisadora. O processo dividiu-se em três
etapas, aplicadas em dois dias diferentes:
Primeira e segunda etapas:
1) Realização de leitura das frases
Primeira gravação a ser realizada. As frases foram retiradas das situações
mencionadas anteriormente e apresentadas isoladamente ao informante, uma de cada
vez. Ele foi orientado a realizar a leitura das frases.
2) Expressão de certeza
Após a leitura das frases isoladas, foi apresentada ao informante uma folha contendo a
seguinte instrução a ser seguida: “Você irá receber um grupo de situações, as quais irá
interpretar juntamente com a pesquisadora, sendo que a parte que cabe a você está
destacada em negrito. As frases devem ser faladas da maneira mais natural possível,
não deve ser utilizada fala impostada”.
48
Uma segunda folha foi apresentada contendo a instrução em relação à atitude que seria
expressa, nesse caso, certeza, e um pequeno texto contendo a definição de certeza:
“Qualidade do que é certo ou considerado como certo, afirmação clara, definida, algo
que não oferece dúvida”.
Cada informante foi orientado a ler em silêncio a introdução da situação, prestando
muita atenção no contexto da mesma. Foram preparadas duas situações para treino,
com objetivo de analisar se o informante compreendeu as ordens dadas. Após o treino,
o informante recebeu um bloco de folhas contendo as dez situações, uma situação por
folha, que foram “interpretadas” juntamente com a pesquisadora. O informante produziu
a frase em negrito expressando certeza, nas dez situações apresentadas.
Terceira etapa (realizada um dia após as duas primeiras etapas)
3) Expressão de dúvida
Assim como foi realizado para expressão da certeza, o informante recebeu uma folha
contendo a seguinte instrução a ser seguida – “Você irá receber um grupo de situações,
as quais irá interpretar juntamente com a pesquisadora, sendo que a parte que cabe a
você está destacada em negrito. As frases devem ser faladas da maneira mais natural
possível, não deve ser utilizada fala impostada”.
Uma segunda folha foi apresentada contendo a instrução em relação à atitude que seria
expressa, nesse caso, a dúvida, e um pequeno texto contendo a definição de dúvida:
“Ação, estado ou efeito duvidar, hesitação, incerteza.”
49
O informante foi orientado a ler em silêncio a introdução da situação, prestando muita
atenção no contexto da mesma. Também foram formuladas duas situações para treino.
Após o treino, o informante recebeu o bloco de folhas contendo as dez situações, sendo
uma situação por folha, para que interpretasse juntamente como a pesquisadora.
As frases em negrito, nas quais as atitudes foram expressas, assim como as frases
isoladas apresentadas para leitura, não apresentavam pontuação. A decisão por esse
modo de apresentação teve como objetivo não influenciar o informante na realização da
leitura e na produção das atitudes.
Para gravação dos dados foi utilizado microfone Digital Plantronics DSP-400, de
cabeça, com entrada USB. O microfone foi posicionado a uma distância de
aproximadamente 7 cm da boca do informante. Os dados foram gravados diretamente
no programa Praat, versão 4.4.07, disponível no site www.praat.org.
Para as análises desse estudo apenas os dados correspondentes a nove informantes
gravados foram utilizados. Os dados do informante de número 10 não foram utilizados
nas análises, pois esse informante pareceu não entender a instrução dada, já que os
enunciados produzidos apresentaram, auditivamente, a mesma variação melódica.
50
3.5 Análise dos dados
3.5.1 Filtragem
Os dados gravados no Praat, versão 4.4.07, foram editados no próprio programa,
retirando-se apenas as frases que continham a expressão das atitudes. Foram
produzidas 270 expressões, sendo 90 de certeza, 90 de dúvida e 90 de leitura.
Ao abrir as frases no Praat observou-se uma perturbação de baixa freqüência que dava
um aspecto ondulado ao nível de fala.
FIGURA 2 - Sinal de fala correspondente à “ Eu deixei o recado”
Levantamos como hipótese para o aparecimento de tais ondulações algum ruído
elétrico ou então ao fato de o microfone que foi utilizado para gravação possuir fone de
ouvido que, com movimento da mandíbula durante a fala pode ter originado algum ruído
que levou ao aparecimento dessas ondulações. Para esclarecermos nossas
suposições, decidimos enviar um e-mail a três pesquisadores, engenheiros,
questionando sobre o que poderia ter causado essas ondulações e se elas
influenciariam na análise acústica dos dados. Todos os três estudiosos questionados
responderam que as ondulações podem ter sido causadas por ruído de baixa
freqüência, captados devido à sensibilidade do microfone. Um deles mencionou que
essas ondulações podem ter sido causadas por uma trepidação, o que foi ao encontro
da hipótese que levantamos, em relação ao movimento da mandíbula durante a fala.
51
Entretanto, um dos estudiosos questionados aplicou no exemplo enviado uma filtragem,
utilizando um filtro passa-baixa (filtro cuja freqüência de corte é de 60 Hz) e enviou os
resultados para que fossem analisados.
No exemplo que recebeu a filtragem observamos e desaparecimento das ondulações
no sinal de fala e também uma melhor representação da curva de F0. Decidiu-se então
por realizar a filtragem dos dados. Entrando em contato novamente com o pesquisador
que sugeriu a filtragem, o mesmo enviou um script ( Fig. 3) que deveria ser utilizado
junto ao programa MATLAB.
fs = 10000;
[b,a]=butter(4,60/(fs/2),'high');
figure(1)
[x1,fs1] = wavread('Eu_deixei_o_recado_C_E');
x1 = resample(x1,fs,fs1);
x1 = filtfilt(b,a,x1);
spcgrm(x1,fs/1000,45,42,40,2,5,1);
title('Eu_deixei_o_recado_C_Ed')
wavwrite(x1,fs,'Eu_deixei_o_recado_C_E');
print -dpng duvida
figure(2)
[x2,fs2] = wavread('certeza');
x2 = resample(x2,fs,fs2);
x2 = filtfilt(b,a,x2);
spcgrm(x2,fs/1000,45,42,40,2,5,1);
title('Certeza')
wavwrite(x2,fs,'certeza_filtrado');
print -dpng certeza
FIGURA 3 - Script para realização da filtragem do som desenvolvido por Hani Camille Yehia (CEFALA – UFMG)
Utilizando o script fornecido todos os 270 dados foram filtrados no programa MATLAB
R12, versão 6.0.0.88 release12.
52
FIGURA 4 - Sinal de fala com representação da curva de freqüência antes da filtragem
FIGURA 5 - Sinal de fala com representação da curva de freqüência após a fil- tragem
53
3.5.2 Teste de reação subjetiva
Sabe-se que não existe uma correspondência biunívoca entre aspectos prosódicos e a
produção de determinada atitude, mas a prosódia influencia na percepção de algumas
atitudes, possibilitando até mesmo que a atitude seja percebida fora de um contexto
determinado. Entretanto, é fato que a aplicação de testes perceptivos levanta muitas
questões, principalmente em relação à escolha dos estímulos e ao controle necessário
durante a apresentação desses estímulos. Considerando essas dificuldades em relação
à aplicação de testes perceptivos, optamos por aplicar um teste que avaliou a reação
subjetiva de um grupo de juízes (ouvintes) em relação aos enunciados produzidos.
Todos os juízes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 6). A
aplicação dos testes teve como objetivo analisar qual a importância da prosódia na
percepção das atitudes de certeza e dúvida. Isto é, ao aplicar os testes, buscamos
saber se os ouvintes perceberiam pelo enunciado descontextualizado a expressão das
atitudes estudadas. Para obtermos essa resposta, optamos pela aplicação de dois
testes: a) o juiz ouve um enunciado e identifica em uma folha qual atitude lhe parece
estar sendo veiculada pelo enunciado; b) o juiz ouve um enunciado e escolhe entre
quatro opções de atitude que lhe são ofertadas a que, segundo ele, poderia estar
relacionada ao enunciado que acaba de ouvir.
O teste aberto foi organizado da seguinte maneira:
Com auxílio de um estatístico, foi realizado um cálculo de amostragem para saber qual
quantidade de dados representaria a amostra total dos enunciados que foram
produzidos contendo a expressão da certeza e da dúvida (90 enunciados de certeza e
90 enunciados de dúvida). O nosso objetivo ao realizar esse cálculo foi encontrar um
número de enunciados para serem apresentados que melhor representassem a
amostra total produzida e que fornecessem uma margem menor de erro de acordo com
o número de juízes que participaram do teste. O valor encontrado após esse cálculo foi
54
equivalente a 40 enunciados de dúvida e 40 de certeza. Entre esses enunciados
optamos por colocar 20 enunciados correspondentes à leitura, totalizando uma amostra
de 100 enunciados que seriam apresentados ao ouvinte. Entretanto, apenas a
percepção da certeza e da dúvida foram consideradas para análise.
Os enunciados foram numerados e organizados aleatoriamente para a apresentação
aos ouvintes. Participaram do teste 10 ouvintes, estudantes do curso de Letras da
UFMG e profissionais da área de saúde. O teste foi realizado individualmente e cada
ouvinte recebeu uma folha de marcação (Anexo 7) com a seguinte instrução: “ Cada
enunciado que você escutará foi extraído de uma situação. Coloque-se no lugar da
pessoa que os produziu e me diga o que você quis dizer com cada um dos
enunciados”. Foi orientado que se ele não conseguisse relatar o que havia percebido
com uma única palavra, poderia explicar. O teste foi aplicado em um mesmo dia e a
análise das respostas obtidas será descrita posteriormente, no capítulo específico.
Para a análise do teste levamos em consideração outras expressões que não “certeza”
e “dúvida” que foram utilizadas pelos juízes para nomear essas atitudes. Para a atitude
de certeza foram consideradas como acerto definições como afirmação veemente,
confirmação, razão, ênfase, segurança, confirmação com ênfase, entre outras. Já na
análise da atitude de dúvida foram consideradas como acertos definições como não
certeza, hesitação, imprecisão, questionamento, falta de convicção, insegurança, entre
outras. Essa análise dos termos que seriam considerados como corretos na
identificação da certeza e da dúvida foi realizada pela pesquisadora juntamente com o
orientador do trabalho.
55
O teste fechado foi organizado da seguinte maneira:
Assim como no teste aberto foi realizado um cálculo de amostragem para saber qual a
quantidade de dados representaria a amostra total. O teste fechado dividiu-se em dois
testes: um para analisar o reconhecimento da certeza e outro para analisar o
reconhecimento da dúvida quando eram fornecidas ao juiz as opções de atitudes a
serem marcadas. Quando pensamos em aplicar um teste fechado o nosso objetivo foi
saber o quanto as atitudes estudadas seriam identificadas em um conjunto pré-
determinado de opções a serem marcadas. Em momento algum quisemos saber se os
juízes conseguiam diferenciar a expressão da certeza da expressão da dúvida, mas sim
se eles conseguiam identificar a expressão dessas atitudes. Por isso os testes foram
feitos separadamente para certeza e dúvida, isto é, no teste que avalia a expressão da
certeza a atitude de dúvida não se encontra entre as opções a serem marcadas e vice-
versa. Ao escolher as atitudes para compor a marcação dos testes buscamos
selecionar uma atitude que se aproximava mais da expressão de certeza e dúvida e
outra que se aproximava menos. No teste que analisava a expressão da certeza as
atitudes escolhidas para compor o conjunto de possibilidades a serem marcadas pelos
juízes foram: certeza / autoridade / desinteresse. Já no teste de dúvida optamos por
dúvida / surpresa / interesse, pois percebemos serem essas, atitudes que mais se
aproximavam e menos se aproximavam da certeza e da dúvida.
Os estímulos sonoros apresentados aos juízes continham frases que expressavam
certeza, dúvida (totalizando 32 frases) e autoridade, surpresa, interesse e desinteresse
(totalizando oito frases). Essas frases foram produzidas aleatoriamente pelos
informantes para compor o teste. Para a aplicação do teste fechado foram selecionados
40 juízes (20 homens e 20 mulheres), entretanto apenas 32 compareceram para a
realização do teste, sendo que 16 analisaram o teste que avaliava a expressão de
certeza e 16 analisaram o teste que avaliava a expressão de dúvida. Esses juízes
foram selecionados entre alunos do primeiro período do Curso de Letras da FALE e
56
nenhum deles teve contato anteriormente com o tema desse trabalho. Os testes foram
aplicados aos 32 juízes ao mesmo tempo, no Laboratório de Línguas da FALE, de
maneira que cada juiz tinha um fone, ligado a um gravador que permitia a apresentação
dos enunciados produzidos e um protocolo (Anexos 8 e 9) correspondente ao teste que
estava sendo realizado para fazer a marcação. Os enunciados apresentados aos
juízes foram previamente inseridos no gravador, por meio de um programa específico.
Cada enunciado foi gravado três vezes para ser apresentado ao juiz que tinha um
tempo equivalente a 10 segundos para marcar a opção correspondente antes de ser
apresentado um novo enunciado. Foi dada uma instrução aos juízes de como proceder
em relação à utilização do material para realização do teste.
3.5.3 Análise Acústica
Assim como a coleta e edição, a análise dos dados também foi realizada no Praat,
versão 4.4.07. Os dados foram analisados levando-se em consideração as
características prosódicas, buscando-se um padrão para os enunciados produzidos. Os
enunciados foram transcritos ortograficamente e posteriormente foi feita uma divisão
silábica fonética de cada enunciado.
Os parâmetros listados abaixo e a maneira escolhida para analisá-los deveu-se a
observações realizadas no dia a dia, quando na presença da expressão de atitudes.
Buscamos então realizar uma análise levando em consideração principalmente partes
do enunciado que carregavam maior informação, entre elas a sílaba proeminente. O
corpus de fala foi composto por enunciados muito pequenos e que correspondiam a um
grupo tonal (Halliday, 1970).
A análise foi realizada também nas duas primeiras sílabas que se encontravam antes
da proeminente (SPre1 e SPre2) e nas duas primeiras localizadas após a proeminente
57
(SPos1 e SPos2), buscando encontrar características semelhantes na expressão da
certeza e da dúvida. A escolha pelas duas sílabas anteriores e pelas duas posteriores
ocorreu devido a essas serem as mais comuns em todos os enunciados produzidos
pelos informantes. Nem todos os informantes produziram enunciados com o mesmo
número de sílabas, e para ser possível uma análise da parte inicial e da parte final do
enunciado optamos por escolher essas sílabas. Vejamos o exemplo abaixo, para que
fique mais claro o que foi feito:
Exemplo: E. le . co . nhe . ce as . re . gras Spre2 SPre1 SPos1 SPos2
3.5.3.1 Parâmetros analisados
Valores de F0 inicial e final
Foram extraídos, no centro da sílaba, os valores de F0 inicial e F0 final de cada
enunciado.
Amplitude melódica da sílaba proeminente
A diferença entre o valor máximo e mínimo de F0 foi calculada na sílaba proeminente,
segundo Halliday(1970), assim como nas duas primeiras sílabas posicionadas
anteriormente e posteriormente à proeminente.
58
Tessitura
A medida de tessitura foi considerada como a diferença entre o maior valor e o menor
valor de F0 (F0 máx –F0 min) do enunciado.
Duração
Mediu-se a duração dos enunciados e também a duração da sílaba desses enunciados,
sendo consideradas a sílaba proeminente assim como as duas primeiras sílabas
posicionadas anteriormente e posteriormente à ela.
Intensidade
Foi calculado o valor médio da intensidade do enunciado, a partir dos valores obtidos
no pico máximo de intensidade de cada sílaba.
Pausa
Pausas silenciosas foram identificadas auditivamente, confirmadas por meio do
espectrograma e medidas em segundos. Quando as pausas ocorreram antes de uma
consoante oclusiva, foi realizada uma medição do tempo de oclusiva realizado na
leitura por falante e retirada uma média, que foi descontada do tempo de silêncio.
59
FIGURA 6 - Sinal de fala com curva de F0 mostrando a pausa durante a expressão
de dúvida retirando o tempo de oclusiva
As pausas foram classificadas em breves (até 120 ms), médias (121 a 700 ms), longas
(de 701 a 1300 ms) e muito longas (acima de 1301 ms), mesmo critério utilizado por
Valente (2003), ao pesquisar a leitura de indivíduos adultos.
3.6 Análise estatística
A análise estatística foi realizada com o auxílio dos programas Minitab versão 15 e
Microsoft Excel ® 2000. Os dados coletados foram analisados em conjunto e
separadamente para cada falante. O teste utilizado foi o teste F (ou Análise de
Variância) para comparação das médias de dúvida, certeza e leitura. As comparações
foram agrupadas da seguinte maneira: certeza e dúvida; certeza e leitura e dúvida e
leitura. Para cada par de “atitudes” obteve-se um valor-p.
60
A Análise de Variância com blocos aleatorizados foi feita para todos os informantes e foi
processada tomando em bloco o informante, ou seja, ela procurou minimizar os efeitos
individuais. Também foram calculados valores de médias e desvio padrão no geral e
para cada sujeito separadamente. O nível de significância estabelecido foi de 0,05.
Na análise dos testes de reação subjetiva foi realizado um cálculo de porcentagens que
levava em conta o intervalo de confiança para porcentagens de acerto. Foi considerado
como capazes de acertar a atitude corretamente todos os juízes que apresentaram
porcentagem de acertos igual ou superior a 50% considerando um intervalo de
confiança equivalente a 50% ou mais em relação ao limite de confiança inferior.
61
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo serão apresentados e discutidos os resultados encontrados após a
análise das expressões de certeza, de dúvida e leitura produzidas pelos informantes
após as instruções recebidas, conforme explicado no capítulo Metodologia.
Importante relembrar que os dados aqui analisados representam a expressão das
atitudes estudadas do ponto de vista do que foi produzido pelo informante, após
receber as devidas orientações, no momento da gravação. Foi realizada a análise
dos dados separadamente de acordo com cada tipo de atitude, bem como uma
comparação entre as expressões de certeza/leitura; dúvida/certeza e dúvida/leitura.
Dessa maneira foi possível encontrar no grupo estudado, aspectos prosódicos
comuns na expressão das atitudes solicitadas. A análise referente ao teste de
reação subjetiva será discutida de maneira qualitativa e quantitativa. Os dados
apresentados foram tratados estatisticamente.
4.1 Estudo piloto
No estudo piloto foi realizada uma análise em relação à percepção das atitudes. Os
resultados apresentados em relação ao teste aberto não mostraram um bom
reconhecimento das atitudes expressas, entretanto observou-se que os juízes
conseguiram perceber em alguns momentos a expressão da certeza e da dúvida.
Entre as palavras utilizadas na identificação das atitudes observamos certeza,
segurança, convicção, afirmativa incisiva, assertiva para a atitude de certeza e
dúvida e insegurança para a atitude de dúvida. Além desses, os juízes utilizaram
termos como indignação, súplica, impaciência, aviso, tranqüilidade, ironia, raiva,
timidez, entre outros.
Em relação ao teste fechado observou-se que a atitude de certeza foi reconhecida
em 58,86% das vezes em que apareceu e a atitude de dúvida em 61,44%. Foi
realizada uma análise de concordância por meio de valores da estatística K, tendo o
62
resultado apresentado um valor kappa equivalente à 0,33 (valor este que remete a
uma concordância média. O quadro abaixo nos mostra os intervalos considerados
nessa análise:
QUADRO 2 Valores kappa considerados na análise estatística e seu significado
Valor de Kappa Concordância
0 0 – 0,20
0,21 – 0,40 0,41 – 0,60 0,61 – 0,80
0,81 - 1
Pobre Ligeira Médio
Moderada Substancial Excelente
4.2 Análise Acústica
4.2.2 F0 inicial e F0 final
Em relação ao F0 inicial, ao analisarmos cada informante separadamente, pudemos
observar que seis dos nove informantes apresentaram valores mais elevados de F0
inicial na atitude de dúvida, quando comparados aos apresentados na atitude de
certeza e na leitura. A atitude de certeza apresentou valores maiores que a leitura
para oito dos noves informantes e a leitura apresentou, em todos os casos, valores
de F0 inicial menores que a atitude de dúvida. A tabela abaixo apresenta os valores
de F0 inicial referentes à produção das atitudes estudas de acordo com cada
informante.
63
TABELA 1 Valores médios de F0 inicial por falante
Ao observarmos a significância, entretanto, apenas quatro informantes
apresentaram valores estatisticamente significativos, ao compararmos a atitude de
certeza com a atitude de dúvida. Esse fato nos mostra que apesar de seis
informantes apresentarem valores de F0 inicial maiores para a atitude de dúvida,
apenas para quatro desses seis informantes, os valores referentes a esse parâmetro
representaram uma característica que diferenciou a expressão da certeza da
expressão da dúvida.
Essa diferença entre os valores de F0 inicial também pode ser representada nas
curvas de freqüência das três expressões em questão. Para exemplificar essa
relação, selecionamos um enunciado produzido pelo informante número seis (IN 6).
A seguir, a F0 inicial na curva de freqüência do enunciado nas atitudes de certeza e
dúvida e na leitura:
64
D = dúvida C = certeza L = leitura
FIGURA 7: Representação dos valores de F0 inicial nas curvas de F0 correspondentes à expressão da dúvida (tracejado), da certeza (pontilhado) e leitura(contínuo) do enunciado “Eu devolvi o livro”, pronunciado pelo IN 6.
De cima para baixo, temos a representação da curva de F0 correspondente à atitude
de dúvida, à atitude de certeza e à leitura. Assim como discutido acima, observamos
valores maiores de F0 inicial na expressão da dúvida, seguida pela expressão da
certeza e pela leitura.
A análise do valor de F0 inicial também foi realizada no geral, retirando-se uma
média dos valores obtidos em todos os informantes nos enunciados solicitados,
permitindo assim analisar como esse valor se comportou no grupo em relação à
atitude produzida. O gráfico abaixo mostra a relação entre as atitudes:
65
GRÁFICO 1 Representação dos valores médios de F0 inicial na expressão da certeza, dúvida e
leitura
Ao observamos a representação do gráfico percebemos que, assim como na análise
individual, a atitude de dúvida apresentou valores de F0 inicial maiores quando
comparados à atitude de certeza e à leitura. Ao expressar dúvida, os informantes
apresentaram um valor médio de F0 inicial correspondente à 13,52 Hz maior do que
o apresentado para a atitude de certeza e 22,36 Hz maior que o apresentado para a
leitura. Ao realizarmos a análise estatística desses dados, encontramos valores
estatisticamente significativos em todas as comparações realizadas, sendo a
freqüência inicial um aspecto que influenciou na diferenciação das atitudes
estudadas. A tabela abaixo retrata os valores encontrados após essa análise:
66
TABELA 2 Média, desvio padrão e significância de F0 inicial da certeza, da dúvida e da leitura
Ao compararmos a expressão da certeza com a de dúvida, observamos uma
diferença estatisticamente significativa entre os valores encontrados, indicando que
os valores de F0 inicial da dúvida utilizados pelo grupo foram maiores que os valores
de F0 inicial da certeza e que essa foi uma característica que influenciou na
diferenciação entre essas duas atitudes.
Em relação aos valores de F0 final, ao observarmos os informantes individualmente,
vimos que os noves informantes que participaram do estudo apresentaram maior
valor de F0 final para a atitude de dúvida, quando comparados à certeza e a leitura.
Os valores produzidos na atitude de certeza foram maiores que na leitura em cinco
dos nove informantes gravados. Já em relação à dúvida, a leitura sempre
apresentou menores valores de F0 final. A tabela abaixo apresenta os valores
obtidos na análise:
TABELA 3 Valores médios de F0 final por informante
67
Valores estatisticamente significativos são observados, ao compararmos a
expressão de certeza com a de dúvida, apenas para dois dos nove informantes. A
maior parte dos informantes não apresentou diferenças estatisticamente
significativas para os valores de F0 final, comparando-se as atitudes de certeza e de
dúvida. Para exemplificar essa relação de F0 final nas atitudes e na leitura, a figura
abaixo mostra como a F0 final se comporta nessas produções. Assim como na
representação do F0 inicial, os mesmo enunciados são mostrados, mas com
destaque nos valores de F0 final, sendo que a expressão da dúvida apresenta maior
valor de F0 quando comparada à expressão da certeza e à leitura.
D = dúvida C = certeza L = leitura
FIGURA 8: Representação dos valores de F0 final nas curvas de F0 correspondentes à expressão da dúvida (tracejado), da certeza (pontilhado) e na leitura (contínuo), do enunciado “Eu devolvi o livro”, pronunciado pelo IN 6.
68
Ao analisarmos os valores médios de F0 final produzidos por todos os informantes
nas atitudes de certeza, de dúvida e na leitura, observamos que, assim como o
resultado da análise individual, a expressão da dúvida apresentou valores mais
elevados, seguida pela atitude de certeza e por último pela leitura. Assim nos mostra
o gráfico abaixo:
GRÁFICO 2 Representação dos valores médios de F0 inicial na expressão da certeza, da dúvida
e leitura
Ao observamos a representação do gráfico, percebemos que a atitude de dúvida
apresentou valores de F0 final maiores, quando comparados à atitude de certeza e à
leitura. Ao expressar dúvida, os informantes apresentaram um valor médio de F0
final correspondente a 5,46 Hz maior que o apresentado para a atitude de certeza e
correspondente a 9,42 Hz maior que o apresentado para a leitura. Tais valores
apresentaram uma diferença bem menor quando comparados aos valores de F0
inicial. Ao realizarmos a análise estatística, vimos que ocorreu uma diferença entre
o valor de F0 final nas produções solicitadas, mas apenas na comparação entre
69
dúvida e leitura o resultado foi estatisticamente significativo (p≤ 0,05). Para certeza e
dúvida não se pode dizer que realmente houve uma diferença entre o valor de F0
final. A tabela abaixo apresenta os valores da análise estatística:
TABELA 4 Média, desvio padrão e significância de F0 final da certeza, da dúvida e da leitura
Assim como o valor de F0 inicial, o valor de F0 final também se mostrou mais
elevado na produção da dúvida. No entanto, esse último não apresentou uma
diferença estatisticamente significativa quando comparadas as atitudes de dúvida e
certeza. Podemos, portanto, afirmar que o uso do F0 inicial mais elevado na atitude
de dúvida é um dos aspectos que diferenciam essa produção da atitude de certeza,
na qual o F0 inicial utilizado é mais baixo. Em relação ao F0 final, tenta-se promover
uma elevação do seu valor na expressão da dúvida, porém, essa não foi uma
estratégia que se mostrou satisfatória na produção dessa atitude quando comparada
à produção da certeza.
4.2.3 Amplitude melódica das sílabas
A diferença entre o valor máximo e mínimo de freqüência fundamental foi calculada
nas sílabas proeminentes dos enunciados e nas duas sílabas anteriores e
posteriores à proeminente, conforme mencionado no capítulo Metodologia. Esse
sub-tópico será dividido para que seja realizada uma melhor apresentação dos
resultados obtidos.
70
4.2.3.1 Sílaba proeminente
Os valores relacionados à análise da amplitude melódica na sílaba proeminente
serão primeiros discutidos em relação a cada informante e posteriormente em
relação às atitudes estudadas. Vejamos a tabela abaixo:
TABELA 5 Valores referentes à amplitude melódica na sílaba proeminente, por informante
De acordo com a análise dos valores listados, podemos observar que sete dos nove
informantes apresentaram valores de amplitude maiores para a expressão da dúvida
quando comparados à atitude de certeza e à leitura. Apenas dois informantes
apresentaram valores mais elevados na expressão da certeza. A leitura sempre
obteve valores menores quando comparada à certeza e à dúvida. Entretanto, para
apenas três dos nove informantes, a diferença entre a expressão da certeza e da
dúvida apresentou resultados estatisticamente significativos (p≤0,05), ou seja, a
utilização de uma maior amplitude melódica na expressão da certeza foi uma das
estratégias utilizadas com resultados significativos para três dos nove informantes
que participaram da pesquisa.
71
Levando-se em consideração a expressão da certeza, da dúvida e na leitura, e não
mais sendo feita uma análise por informante, temos a dúvida como a atitude que
apresentou maior amplitude melódica da sílaba proeminente, seguida pela atitude de
certeza e posteriormente pela leitura.
GRÁFICO 3
Representação dos valores médios da amplitude da sílaba proeminente na expressão da certeza, da dúvida e na leitura
Os dados referentes à análise estatística realizada são apresentados na tabela
abaixo:
TABELA 6 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na sílaba proeminente
na atitude de certeza, de dúvida e na leitura
Quando comparamos as atitudes de certeza e de dúvida, observamos valores
estatisticamente significativos para a amplitude melódica. Este fato indica que esse
72
parâmetro, que foi uma das estratégias utilizada pelos informantes na produção das
atitudes em questão, foi eficaz para diferenciar a atitude de certeza da atitude de
dúvida, visto que a certeza apresenta valores menores de amplitude melódica na
sílaba proeminente quando comparada com a atitude de dúvida. As expressões da
certeza e da dúvida também diferem da leitura em relação aos valores de amplitude
melódica da sílaba proeminente.
4.2.3.2 Sílabas que antecedem a sílaba proeminente
Foram analisadas as duas sílabas imediatamente anteriores à sílaba proeminente,
com o objetivo de procurar características da curva de F0 na parte inicial do
enunciado que poderiam ser comuns a alguma das atitudes estudas. Primeiramente
os valores foram analisados individualmente, levando-se em consideração o
informante.
A tabela 7 nos mostra os achados referentes à sílaba SPre1, imediatamente anterior
à proeminente. Ao analisá-la, observamos que em relação à amplitude melódica
dessa sílaba, quatro informantes apresentaram valores maiores na expressão da
certeza, quatro na expressão da dúvida e um na leitura. Ao compararmos a
expressão da certeza com a da dúvida nenhum dos informantes apresentou valor
estatisticamente significativo.
73
TABELA 7 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na sílaba imediatamente
anterior à proeminente na atitude de certeza, de dúvida e leitura, por informante
Em relação ao valor da amplitude na segunda sílaba antecedente à proeminente
(SPre2), podemos ver que apenas um informante apresentou valores mais elevados
para a expressão da certeza enquanto que os outros oito informantes apresentaram
valor de amplitude na SPre2 maiores para a expressão da dúvida. Entretanto, ao
comparamos a atitude de certeza com dúvida, o resultado foi estatisticamente
significativo apenas para o informante de número 5. A tabela abaixo apresenta
esses valores.
TABELA 8 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba que
antecede a proeminente por informante
74
Ao realizarmos uma análise levando-se em consideração as atitudes de certeza e de
dúvida e a na leitura, observamos que a amplitude de SPre1 apresentou valores
elevados tanto para a expressão da certeza como para a expressão da dúvida,
seguidas pela leitura, enquanto que a Spre2 apresentou valores mais elevados na
expressão da dúvida, seguida pela expressão da certeza e por último na leitura.
Podemos observar os gráficos abaixo:
GRÁFICO 4 Representação dos valores médios da amplitude melódica da primeira sílaba que
antecede a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura
75
GRÁFICO 5 Representação dos valores médios da amplitude melódica da segunda sílaba que
antecede a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura
Ao compararmos as atitudes de certeza e de dúvida, não obtivemos valores
estatisticamente significativos, ou seja, a estratégia de utilização de maior variação
de F0 na SPre1 para expressão de dúvida não proporcionou a diferenciação desta
atitude em relação à atitude de certeza. Valor de p≤0,05 foi encontrado apenas na
comparação entre a dúvida e a leitura, indicando que essa duas produções são
diferentes entre si. A tabela 9 ilustra essa discussão.
TABELA 9 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na primeira sílaba que
antecede a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura
Já em relação à Spre2 observamos valor estatisticamente significativo em relação à
amplitude melódica ao comparamos a expressão da certeza com a expressão da
dúvida, indicando que a maior amplitude para a expressão da dúvida é uma
característica que influencia na diferenciação entre essas atitudes. Observe a tabela
76
abaixo, que apresenta os valores de Spre2 referentes às atitudes de certeza, dúvida
e leitura.
TABELA 10 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba que
antecede a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura
Em resumo, podemos dizer que a amplitude da Spre2, que se encontra mais
afastada da sílaba proeminente, apresenta maior influência na diferenciação entre
as atitudes de certeza e de dúvida, sendo que um maior valor de amplitude refere-se
à expressão da dúvida.
4.2.3.3 Amplitude melódica das sílabas localizadas posteriormente à sílaba proeminente
Assim como foi feito em relação às sílabas anteriores, foram analisados os valores
de amplitude das duas sílabas localizadas logo após a sílaba proeminente. Essa
análise foi realizada levando-se em consideração o informante e também as
expressões de certeza, dúvida e a leitura. A primeira sílaba após a proeminente foi
denominada SPos1 e a segunda sílaba SPos2.
A tabela abaixo apresenta os valores de SPos1 listados de acordo com cada
informante:
77
TABELA 11 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na primeira sílaba localizada logo após à proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura, por
informante
Podemos observar que cinco dos nove informantes apresentaram maior amplitude
melódica na sílaba localizada logo após a proeminente na expressão da atitude de
certeza. Na atitude de dúvida quatro informantes apresentaram valores mais
elevados de amplitude melódica. Ao compararmos as produções entre si não foi
observado valor estatisticamente significativo para nenhuma das comparações
realizadas.
Quando essa análise foi feita em relação à atitude produzida, a partir da média dos
valores obtidos pelos informantes, observamos um valor de amplitude na expressão
da certeza muito próximo ao apresentado na expressão da dúvida. O valor referente
à leitura encontra-se abaixo do encontrado para a expressão das atitudes. O gráfico
abaixo representa os valores de amplitude da SPos1 na expressão da certeza, da
dúvida e na leitura.
78
GRÁFICO 6 Representação dos valores médios da amplitude da primeira sílaba localizada após
a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura
Observe que os valores da certeza e da dúvida estão muito próximos sendo que o
de certeza encontra-se um pouco acima da dúvida. A tabela abaixo lista os valores
encontrados na expressão dessas atitudes.
TABELA 12 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na primeira sílaba
localizada logo após a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura
Ao compararmos a expressão de certeza com a expressão da dúvida não foram
observados valores estatisticamente significativos, isto é, amplitude da SPos1 não
foi uma característica que influenciou na diferenciação da atitude de certeza quando
comparada com a atitude de dúvida. Ao compararmos as atitudes em questão com a
leitura, foi observado que tanto a expressão da certeza como a expressão da dúvida
apresentam valores de amplitude de SPos1 maiores que a leitura.
79
Em relação aos valores de SPos2, seis dos noves informantes apresentaram valores
maiores de amplitude para a expressão da dúvida, dois para a expressão da certeza
e um para a leitura. Na comparação entre dúvida e certeza apenas o informante de
número três apresentou diferença estatisticamente significativa para a amplitude de
SPos2.
TABELA 13 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba localizada logo após a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura, por
indivíduo
Ao levarmos em consideração a expressão das atitudes e a leitura, no geral, temos
a expressão da dúvida com valores de amplitude mais elevados, seguido da atitude
de certeza e de leitura. O gráfico abaixo representa os valores encontrados para
cada produção.
80
GRÁFICO 7 Representação dos valores médios da amplitude da segunda sílaba localizada após
a proeminente na expressão da certeza, dúvida e leitura
A tabela abaixo nos mostra os valores encontrados para a amplitude de SPos1 em
cada uma das atitudes produzidas e na leitura.
TABELA 14 Média, desvio padrão e significância da amplitude melódica na segunda sílaba
localizada logo após a proeminente na atitude de certeza, dúvida e leitura
Ao observamos o valor de significância percebemos que não foi encontrado um valor
estatisticamente significativo quando a expressão da certeza foi comparada à
expressão da dúvida. A amplitude da segunda sílaba localizada logo após a
proeminente não foi um aspecto que influenciou na caracterização das atitudes em
questão, visto que a comparação entre a certeza e a dúvida não obteve resultado
estatisticamente significativo.
81
Em relação aos valores de amplitude podemos afirmar que na expressão da dúvida
os informantes apresentaram maior valor de amplitude tanto para a sílaba
proeminente quanto para sílabas localizadas anteriormente e posteriormente a esta.
Entretanto, apenas na sílaba proeminente (SP) e na segunda sílaba localizada antes
da proeminente (SPre2), a expressão da dúvida apresentou valores estatisticamente
significativos em relação à amplitude, quando comparada a expressão da certeza.
Podemos então dizer que o aumento da amplitude melódica em SP e em Spre2 foi
uma das estratégias utilizada pelos informantes, que proporcionou uma
diferenciação entre a atitude de dúvida e de certeza. Outro dado importante que
pode ser presumido com essa análise é que, ao expressar a dúvida, o informante
prende-se mais a parte inicial do enunciado, visto que os valores que mais
contribuíram na diferenciação entre as atitudes em questão foram apresentados na
parte inicial do enunciado.
4.2.4 Tessitura
O valor de tessitura foi calculado subtraindo o valor máximo de F0 do enunciado
pelo valor mínimo de F0.
TABELA 15 Valor médio da tessitura por informante
82
Foi observada uma maior tessitura na expressão da atitude de dúvida para sete dos
nove informantes. Os menores valores de tessitura foram encontrados durante a
leitura em todos os informantes gravados. Após comparar estatisticamente as
expressões estudadas, foi encontrado valor estatisticamente significativo (p ≤ 0,05)
apenas para o IN1 e IN5, na comparação entre certeza e dúvida; para IN1, IN6, IN5,
IN8 e IN9, na comparação entre certeza e leitura e para IN2, IN4, IN5, IN6, IN8 e IN9
na comparação entre dúvida e leitura. Apenas o informante de número 5
apresentou valores estatisticamente significativos na comparação entre os três tipos
de expressão solicitados. Desta maneira, podemos dizer que apenas o IN1 e o IN5
utilizaram a tessitura proporcionando uma diferenciação entre a expressão da
certeza e da dúvida.
Quando observamos os valores de tessitura nas expressões de certeza, de dúvida e
na leitura, retirando-se uma média dos valores obtidos pelos informantes, temos os
seguinte resultado:
GRÁFICO 8 Representação da tessitura referente na expressão de certeza, de dúvida e na
leitura
83
A atitude de dúvida foi a que apresentou maior valor de tessitura quando comparada
à expressão da certeza e leitura. O valor de p foi estatisticamente significativo em
todas as comparações realizadas, inclusive na comparação entre certeza e dúvida.
Essa comparação mostra que o maior valor de tessitura para a expressão da atitude
de dúvida foi um dos parâmetros utilizado com sucesso, principalmente na
diferenciação com a atitude de certeza, uma vez que a última apresenta um menor
valor de tessitura quando comparada à primeira. A tabela abaixo apresenta o valor
médio dos nove informantes após tratamento estatístico.
TABELA 16 Média, desvio padrão e significância da tessitura na certeza, na dúvida e na leitura
Os valores encontrados comprovam uma das hipóteses levantadas no início deste
trabalho: a atitude de dúvida apresentaria maior tessitura quando comparada à
expressão da certeza. Assim, a tessitura também foi um fator que influenciou na
diferenciação da certeza e da dúvida. Observamos que a maior tessitura definiu a
expressão da atitude de dúvida e que a certeza, diferentemente dessa, apresentou
menor variação melódica ao longo do enunciado, ao ser expressa.
4.2.5 Duração
O valor da duração foi primeiramente calculado em cada sílaba proeminente, assim
como nas duas sílabas imediatamente anteriores à proeminente e nas duas sílabas
imediatamente posteriores a ela. Além dessa análise, que levou em consideração as
sílabas isoladamente, foi analisado o valor da duração referente ao enunciado.
84
4.2.5.1 Sílaba proeminente
Assim como as análises anteriores, os valores relacionados à análise da duração na
sílaba proeminente (SP) serão primeiramente discutidos em relação a cada
informante e posteriormente em relação às atitudes estudadas. Vejamos a tabela
abaixo:
TABELA 17 Valores referentes à duração, em segundos, na sílaba proeminente, por informante
Dos nove informantes, sete apresentaram maior duração da sílaba proeminente na
expressão da dúvida e dois na expressão da certeza. Ao observarmos a
comparação entre a expressão da certeza e da dúvida, apenas dois apresentaram
valor de significância estatística, ou seja, para apenas dois informantes o valor de
duração de SP maior na dúvida que na certeza foi estatisticamente significativo.
Ao realizarmos uma análise levando-se em consideração a expressão das atitudes e
a leitura, temos o seguinte resultado:
85
GRÁFICO 9
Representação da duração na SP na expressão de certeza, de dúvida e na leitura
Como podemos observar, a atitude de dúvida apresentou maior duração de SP,
seguida da expressão da certeza e da leitura. Ao analisarmos esses dados
estatisticamente, obtivemos os valores abaixo:
TABELA 18
Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na sílaba proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura
Apenas a comparação entre a expressão da certeza e da dúvida e na expressão da
dúvida e na leitura o valor de p foi estatisticamente significativo. Isso significa que o
aumento da duração da sílaba proeminente observado na expressão da dúvida é
uma das características que diferencia essa atitude da atitude de certeza, ou seja, a
aumento da duração da sílaba proeminente foi uma estratégia utilizada que
proporcionou a diferenciação entre as atitudes estudadas.
86
4.2.5.2 Duração das sílabas localizadas anteriormente à sílaba proeminente
Em relação às sílabas localizadas anteriormente à proeminente, foram analisadas a
primeira e a segunda sílaba localizadas anteriormente à SP (SPre1 e SPre2,
respectivamente). As tabelas abaixo apresentam os valores referentes à duração em
ambas as sílabas, levando-se em conta cada informante gravado.
TABELA 19
Valores referentes à duração, em segundos, na primeira sílaba anterior à proeminente, por informante
TABELA 20
Valores referentes à duração, em segundos, na segunda sílaba anterior à proeminente, por informante
87
Observamos que, em relação à SPre1, sete dos nove informantes apresentaram
maior duração na expressão da atitude de dúvida: um apresentou maior duração na
certeza e um na leitura. Entretanto, na comparação dessa expressão com a atitude
de certeza, não foram observados valores estatisticamente significativos. Em relação
aos valores referentes à duração de SPre2, observamos que, assim como em
SPre1, a maioria dos informantes apresentou maior valor de duração na expressão
da atitude de dúvida. Porém, na comparação com a atitude de certeza, não foi
observada diferença estatisticamente significativa para nenhum dos nove
informantes.
Ao realizarmos uma análise levando-se em consideração a atitude produzida
observamos os seguintes resultados:
GRAFICO 10 Representação da duração da primeira sílaba anterior à sílaba proeminente nas
atitudes de certeza e dúvida e na leitura
88
GRAFICO 11
Representação da duração da segunda sílaba anterior à sílaba proeminente nas atitudes de certeza e de dúvida e na leitura
Ao analisarmos a expressão das atitudes e a leitura, vimos que tanto SPre1 quanto
SPre2 apresentam maiores valores na expressão da atitude de dúvida, seguida pela
leitura e posteriormente pela atitude de certeza. Na análise estatística, verificamos
que o valor de p foi significativo na comparação com a expressão da atitude de
certeza para SPre1 e para SPre2. Vejamos as tabelas abaixo:
TABELA 21 Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na primeira
sílaba anterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura
89
TABELA 22 Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na
segunda sílaba anterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura
Os dados expostos acima nos permitem afirmar que a duração de SPre1 e SPre2 foi
um dos parâmetros que variou na expressão das atitudes de dúvida e de certeza,
sendo que a atitude de dúvida apresentou maior valor de duração de SPre1 e
SPre2. Esse aumento de duração dessas sílabas foi uma das estratégias utilizadas
na expressão da dúvida, que a diferenciou da expressão da certeza.
4.2.5.3 Duração das sílabas localizadas posteriormente à sílaba proeminente
Uma análise levando-se em consideração as sílabas localizadas após a proeminente
também foi realizada, sendo consideradas as duas sílabas após a proeminente
(SPos1 e SPos2 respectivamente). As duas tabelas abaixo apresentam os valores
de duração dessas sílabas, considerando-se a produção de cada informante.
TABELA 23
Valores referentes à duração, em segundos, na primeira sílaba posterior à proeminente, por informante
90
TABELA 24 Valores referentes à duração, em segundos, na segunda sílaba posterior à
proeminente, por informante
Ao analisarmos a tabela 23, observamos que para sete dos nove informantes a
expressão da dúvida apresentou maior duração de SPos1. Apenas um informante
apresentou maior duração na expressão da certeza e outro na leitura. Entretanto,
para nenhuma das comparações realizadas foi encontrado valor estatisticamente
significativo.
Em relação aos valores de SPos2 (TAB. 24) observamos que oito dos nove
informantes apresentaram maior duração na expressão da dúvida e apenas um
apresentou maior duração na expressão da certeza. Somente um dos informantes
apresentou valor estatisticamente significativo na comparação entre a expressão da
certeza e da dúvida. Para todos os outros não foi observado valor estatisticamente
significativo nas comparações realizadas.
Ao analisarmos a relação da duração de SPos1 e SPos2, levando-se em
consideração a expressão das atitudes e a leitura, temos os seguintes resultados:
91
GRAFICO 12
Representação da duração da primeira sílaba posterior à proeminente nas atitudes de certeza, de dúvida e na leitura
GRAFICO 13
Representação da duração da segunda sílaba posterior à proeminente nas atitudes de certeza, de dúvida e na leitura
92
A sílaba SPos1, assim como a SPos2, apresentaram maior duração na expressão
da atitude de dúvida, seguida pela leitura e por último pela certeza. Ao realizarmos a
análise estatística, verificamos que apenas para a duração de SPos2 o valor de p foi
estatisticamente significativo, na comparação realizada entre certeza e dúvida. As
tabelas abaixo apresentam esse valores:
TABELA 25
Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na primeira sílaba posterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura
TABELA 26 Valores analisados estatisticamente referentes à duração, em segundos, na
segunda sílaba posterior à proeminente na expressão da certeza, na dúvida e na leitura
Diante do exposto acima, temos que a duração de SPos2 foi um parâmetro que
variou nas expressões realizadas. A maior duração dessa sílaba foi uma
característica apresentada pela expressão da dúvida que a diferenciou da expressão
da certeza.
4.2.5.4 Duração do enunciado
A tabela abaixo mostra a média dos valores de duração dos enunciados
(representados em segundos), apresentados pelos nove informantes durante a
expressão da certeza, da dúvida e da leitura:
93
TABELA 27 Valor médio, em segundos, por informante, da duração do enunciado
Os nove informantes apresentaram maior valor de duração na expressão da dúvida,
seguida pela leitura e por último da certeza. Ao compararmos a expressão da
certeza com a de dúvida, observamos que sete dos nove informantes gravados
apresentaram valor estatisticamente significativo (p≤0,05).
Quando analisamos o valor referente à duração do enunciado levando-se em
consideração a expressão das atitudes e a leitura, temos, assim como em relação
aos valores individuais, a dúvida apresentando maior duração, seguida pela leitura e
por último a certeza. Vejamos o gráfico abaixo:
94
GRÁFICO 14
Representação dos valores de duração nas atitudes de certeza, de dúvida e leitura.
A tabela abaixo apresenta os valores referentes à média, desvio padrão e
significância. Ao observamos os valores de significância, temos valores
estatisticamente significativos para todas as comparações realizadas:
TABELA 28
Média, desvio padrão e significância do enunciado nas atitudes de certeza e de dúvida e na leitura
Sendo assim, é possível afirmar que a duração do enunciado é um aspecto que
apresentou características específicas de acordo com a atitude, mostrando-se maior
durante a expressão da dúvida e menor durante a expressão da certeza. O valor
significativo encontrado na comparação entre essas atitudes também nos permite
95
afirmar que esse aspecto contribuiu para a diferenciação entre a expressão da
certeza e a expressão da dúvida.
O valor referente à duração do enunciado foi utilizado em um estudo realizado por
Dubost e SU (2008), ao comparar a expressão da dúvida com a surpresa com frases
declarativas e interrogativas, no francês e no mandarim. No francês, a atitude de
dúvida apresentou o maior valor de duração após a expressão da surpresa, contudo,
esses valores não foram apresentados numericamente. Em relação à expressão da
certeza, não encontramos trabalhos que discutiram a duração na expressão dessa
atitude.
Observamos que na expressão da dúvida o aumento de duração parece estar
relacionado à utilização de estratégias como prolongamentos, pausas e, em alguns
casos, repetição de palavras, utilizadas pelos informantes na expressão dessa
atitude. Essas características foram observadas apenas na expressão da dúvida,
não sendo encontradas na certeza e na leitura.
4.2.5.4.1 Prolongamento silábico
O prolongamento, ou aumento da duração de algumas sílabas específicas do
enunciado, foi utilizado como estratégia na expressão da dúvida por sete dos nove
informantes gravados, sendo que alguns deles sempre apresentaram essa
estratégia na expressão da dúvida.
Entre os enunciados produzidos com a atitude de dúvida, retiramos um exemplo do
que foi descrito acima. O gráfico abaixo representa a ocorrência de prolongamento
nas duas últimas sílabas do enunciado “Eu paguei a conta”, produzido pelo IN 2,
com a atitude de certeza, de dúvida e leitura.
96
GRÁFICO 15 Representação dos valores de duração nas duas últimas sílabas do enunciado “Eu
paguei a conta”, na expressão da certeza, na dúvida e na leitura.
0,241
0,245
0,319
0,176
0,139
0,436
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
Leitura
Certeza
Dúvida
CON
TA
Vale ressaltar que a duração das duas últimas sílabas na expressão da dúvida é
maior que na expressão da certeza e na leitura. Em relação à leitura, a expressão da
dúvida apresentou um aumento de 0, 078 segundos na penúltima sílaba e de 0, 260
segundos na última sílaba. Já em relação à expressão da certeza, a produção da
dúvida apresentou um aumento de 0, 074 segundos na penúltima sílaba e de 0, 297
na última sílaba.
Outra característica que também foi observada em relação aos prolongamentos
realizados refere-se à localização dos mesmos no enunciado. Quando presentes,
eles foram produzidos pela maioria dos informantes no início do enunciado, no
sujeito da frase. Apenas o IN 2 produziu a maior parte dos prolongamentos na parte
final do enunciado. O gráfico abaixo representa um exemplo de prolongamento na
parte inicial do enunciado:
97
GRÁFICO 16 Representação dos valores de duração da primeira sílaba do enunciado “Eu
desliguei o fogão”, na expressão da certeza, da dúvida e na leitura.
0,15
0,109
0,579
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Leitura
Certeza
Dúvida
Eu
Assim como o exemplo anterior, percebemos uma maior duração da sílaba inicial na
expressão da atitude de dúvida, seguida pela leitura e posteriormente pela
expressão da certeza.
4.2.5.4.2 Pausas
A presença de pausas também foi observada apenas durante a expressão da
dúvida. Como mencionado no capítulo de metodologia, as pausas foram
classificadas de acordo com o critério utilizado por Valente (2003). Dos nove
informantes que participaram da pesquisa, cinco utilizaram a pausa durante a
expressão da dúvida e dois apresentaram pausas durante a leitura. Na expressão da
dúvida foram produzidas pausas breves, médias e longas. Quanto à localização, a
maioria das pausas ocorreu no início do enunciado, após a primeira sílaba
98
QUADRO 3
Características das pausas por informante na expressão da atitude de dúvida
O uso da pausa parece ter sido uma estratégia utilizada pelos informantes com o
objetivo de diferenciar essa atitude da expressão da certeza visto que essa foi uma
característica apresentada apenas na expressão da dúvida.
4.2.6 Intensidade
A intensidade foi outro aspecto prosódico que apresentou uma variação significativa
entre as atitudes produzidas. Ao observarmos os valores médios de intensidade
apresentados pelos informantes ao longo do enunciado, observamos que oito dos
nove informantes apresentaram valores maiores na produção da certeza. Vejamos
na tabela abaixo:
99
TABELA 29 Valor médio por informante da intensidade do enunciado
Todos os oito informantes que apresentaram maiores valores de intensidade do
enunciado para a expressão da certeza, apresentaram valores estatisticamente
significativos quando comparada a expressão da certeza com a dúvida, ou seja, a
maior intensidade produzida na certeza a diferenciou da expressão de dúvida. Ao
compararmos a intensidade na expressão das atitudes sem considerar valores
individuais, temos o seguinte gráfico:
GRAFICO 17 Representação dos valores médios de intensidade de acordo com as atitudes
expressas
100
Assim como encontrado na análise individual, a expressão da atitude de certeza foi
a que apresentou maior valor de intensidade, seguida pela leitura e pela expressão
da dúvida. A tabela abaixo apresenta os valores de significância observados nas
comparações realizadas:
TABELA 30
Média, desvio padrão e significância da intensidade do enunciado nas atitudes de certeza, dúvida e leitura
Para todas as comparações realizadas, o valor de p foi ≤ 0,05. Em resumo, podemos
dizer que uma maior intensidade do enunciado foi uma estratégia utilizada para a
expressão da certeza. Já a expressão da atitude de dúvida foi produzida com uma
menor intensidade do enunciado. Ao compararmos essa duas atitudes, vimos que o
valor de intensidade foi um aspecto que variou e contribuiu para a diferenciação
entre as atitudes de certeza e de dúvida.
4.3 Análise perceptiva
Para avaliar a percepção dos ouvintes em relação às atitudes produzidas, foram
aplicados dois testes de reação subjetiva, conforme descrito no capítulo de
Metodologia.
4.3.1 Teste aberto
Primeiramente foi aplicado um teste aberto (Anexo 7) a 10 juízes que identificaram
por escrito as atitudes utilizando o nome da atitude ou uma expressão equivalente
ao que foi escutado. As respostas apresentadas quanto à percepção das atitudes foi
101
realizada levando-se em consideração apenas os relatos referentes às atitudes de
certeza e de dúvida, objetos de estudo desta pesquisa. A colocação da leitura no
“teste” aplicado funcionou como distrator, de maneira que as respostas referentes à
sua percepção não serão analisadas.
Conforme mencionado anteriormente em Metodologia, a realização de um teste
perceptivo propriamente dito envolve inúmeras variáveis a serem controladas, sendo
esse tipo de teste considerado como de difícil aplicação. O nosso objetivo ao
questionar a percepção da expressividade dos enunciados selecionados foi o de
averiguar se no grupo estudado foi possível ao ouvinte perceber a expressão das
atitudes de certeza e de dúvida. Foi aplicado um teste de reação subjetiva para
analisar essa questão.
Dos 10 juízes que participaram do teste, apenas cinco apresentaram respostas
superiores a 50% em pelo menos uma atitude analisada (certeza ou dúvida). Desses
cinco, apenas três apresentaram valores maiores que 50% tanto para certeza
quanto para dúvida (TAB 31).
TABELA 31 Porcentagem de acertos em relação às atitudes produzidas
102
A análise estatística foi realizada por meio do cálculo de porcentagens. Foi
estabelecido um intervalo de confiança para a porcentagem de acertos.
Consideramos como capazes de acertar a atitude corretamente todos os juízes que
apresentaram porcentagem de acertos igual ou superior a 50%, com limite inferior
do intervalo de confiança igual ou acima de 50% (valores ditados pelo teste
estatístico aplicado). Os valores apresentados encontram-se nas tabelas abaixo:
TABELA 32 Apresentação dos acertos referentes à expressão da certeza, após tratamento
estatístico
TABELA 33 Apresentação dos acertos referentes à expressão da dúvida, após tratamento
estatístico
103
Ao analisar a TAB.32, que apresenta os dados referentes à atitude de certeza,
observamos que apenas três dos dez juízes obtiveram uma porcentagem de acerto
superior a 50%, ou seja, conseguiram identificar adequadamente a atitude de
certeza. Entretanto, apesar desses três juízes apresentarem resultados acima de
50%, o limite inferior do intervalo de confiança se encontrou abaixo de 50%, ou seja,
não temos evidências suficientes para dizer que estes juízes perceberiam a atitude
de certeza em qualquer enunciado.
Quanto à percepção da atitude de dúvida (TAB. 33), metade dos juízes avaliados
apresentaram porcentagem de acerto maior ou igual a 50%. Desses, três
apresentaram valores confiáveis (maior ou igual a 50%) em relação ao limite inferior
do intervalo de confiança. Isto significa que apresentaram margens seguras de que
conseguiriam identificar corretamente a atitude de dúvida sempre que a mesma
fosse apresentada em um enunciado. Os resultados equivalentes a esses três juízes
encontram-se destacados na tabela. Em comparação com os resultados relativos à
expressão da certeza, a atitude de dúvida foi mais facilmente reconhecida pelos
juízes.
Por se tratar de um teste aberto, no qual os juízes identificavam as atitudes ouvidas
sem ter um modelo pré-estabelecido para realizar essa identificação, observamos
que uma grande variedade de rótulos foi utilizada. A dificuldade em se estabelecer
rótulos para nomear a fala expressiva, tanto em relação à expressão de atitudes
quanto de emoções, foi relatada em Wichmann (2002), que abordou a dificuldade
apresentada por leigos que, ao descreverem a fala expressiva, utilizam termos que
muitas vezes são de difícil tradução pelos foneticistas. Eles tentam descrever a fala
acusticamente, utilizando termos como “rápido” e “dinâmico”, por exemplo.
Mozziconacci (2001) acredita que a grande variedade de rótulos encontrados nos
estudos que abordam a entonação na expressão de atitudes/emoções seja uma
dificuldade encontrada na realização dos mesmos.
104
Vejamos abaixo as respostas apresentadas por quatro dos dez juízes que
participaram do teste. Optamos para uma melhor apresentação expor o resultado
referente a esses quatro juízes, mas os resultados referentes aos seis juízes
restantes encontram-se em anexo (Anexo 10).
105
QUADRO 4 Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à certeza
(Juiz 1 ao juiz 4)
FRASE Juiz 1 Juiz 2 Juiz 3 Juiz 4
4 certeza Certeza Certeza certeza
7 Afirmação Certeza Raiva certeza
9 Afirmação Certeza dando satisfação certeza
12 Afirmação Afirmação Comunicado certeza
13 Certeza Afirmação descaso duvida
14 Raiva Certeza raiva certeza
16 Impulso certeza/autoridade certeza certeza
21 Aviso resposta/afirmação resposta à uma cobrança certeza
23 certeza Certeza impaciência certeza
27 Raiva Certeza impaciência firmeza
30 Certeza Dúvida explicação irritação
33 Afirmação simples Certeza explicação firmeza
37 certeza Certeza comunicado certeza
40 certeza Certeza otimismo certeza
42 afirmação simples Certeza explicação certeza
48 certeza Afirmação afirmação raiva
49 certeza Suposição afirmação certeza
51 dúvida Certeza certeza conformismo
53 certeza Certeza comunicado alegria
54 afirmação simples Dúvida dando satisfação certeza
58 certeza certeza/mentira explicação indignação
61 exclamação Afirmação explicação indignação
62 certeza Suposição emocionado despreocupação
64 certeza Certeza certeza certeza
68 certeza/raiva reafirmação/certeza impaciência raiva
70 afirmação Afirmação explicação impaciência
71 certeza Reafirmação ***** raiva
73 exclamação Mentira explicação defesa
74 afirmação Afirmação desobediência certeza
76 aviso/confirmação Afirmação explicação certeza
77 afirmação Reafirmação certeza impaciência
79 certeza Certeza entusiasmo certeza
81 afirmação Afirmação insatisfação indiferença
85 confirmação Dúvida medo insegurança
88 certeza/decisão Certeza esperança certeza
90 afirmação Certeza explicação certeza
93 certeza Dúvida descaso certeza
95 afirmação Suposição indignação despreocupação
96 certeza Certeza dando satisfação certeza
98 certeza Certeza afirmação certeza
106
QUADRO 5 Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à dúvida
(Juiz 1 ao Juiz 4)
FRASE Juiz 1 Juiz 2 Juiz 3 Juiz 4
2 afirmação Dúvida explicação afirmação
3 afirmação Dúvida segredo desinteresse
6 incerteza Incerteza incerteza dúvida
11 afirmação dúvida/medo segredo dúvida
15 afirmação Certeza condição certeza
17 dúvida Explicação tranqüilizando alguém dúvida
18 certeza Incerteza otimismo certeza
19 certeza reafirmação/resposta dando satisfação impaciência
22 afirmação Dúvida incerteza insegurança
25 incerteza dúvida/medo incerteza incerteza
26 incerteza Dúvida incerteza espanto
28 dúvida Dúvida dúvida dúvida
29 certeza Certeza dúvida seguida de certeza dúvida seguida de certeza
31 sentimento Dúvida condição certeza
32 dúvida Dúvida incerteza dúvida
34 afirmação Dúvida dúvida desinteresse
36 afirmação Dúvida incerteza dúvida
38 afirmação Dúvida explicação dúvida
39 afirmação Dúvida dando satisfação opinião
43 afirmação Mentira **** insegurança
44 pergunta pergunta/dúvida indagação dúvida
46 afirmação Afirmação **** contentamento
47 afirmação Incerteza dando satisfação tristeza
52 dúvida Dúvida dúvida dúvida/questionamento
55 pergunta Dúvida confiante dúvida/questionamento
56 afirmação Incerteza comunicado certeza
60 dúvida Certeza duvida dúvida
63 dúvida Dúvida incerteza dúvida
65 incerteza Dúvida incerteza descaso
67 exclamação Suposição certeza impaciência
75 afirmação dúvida/mentira descompromissado certeza
78 afirmação Dúvida incerteza dúvida
80 incerteza Dúvida incerteza dúvida
82 exclamação Dúvida duvida decepção
84 afirmação Suposição certeza espanto
86 certeza Dúvida incerteza certeza
89 dúvida Dúvida incerteza dúvida/insegurança
91 dúvida Dúvida incerteza dúvida
97 dúvida Dúvida incerteza insegurança
100 dúvida Dúvida incerteza dúvida
107
Ao observamos os termos utilizados pelos 10 juízes, vimos que diferentes respostas
ocorreram diante dos enunciados expressivos que foram apresentados
isoladamente, ou seja, fora de contexto de expressão e que continham as atitudes
de certeza e dúvida. Na nossa análise, optamos por agrupar os termos que
consideramos sinônimos das atitudes em questão.
Na identificação da atitude de certeza foram considerados termos indicativos da
expressão dessa atitude como firmeza, reafirmação, reiteração após dúvida,
afirmativa reforçada, deixa claro que não esqueceu, razão, justificativa, afirmação
diante de uma dúvida, ênfase, precisão, confirmação, firmeza para não deixar
dúvidas, reforço a afirmação, indicação segura e confirmação com ênfase. A palavra
“afirmação” não foi considerada como sinônimo de certeza, pois a mesma foi
utilizada pelos juízes, na maioria das vezes, para nomear os enunciados que
continham a leitura.
Em relação à identificação da atitude de dúvida foram considerados termos como
pergunta, indagação, suposição, insegurança, tentativa de recordar algo, incerteza,
imprecisão, declara tentando se lembrar, pergunta receosa sobre a resposta,
questionamento, incredulidade, hesitação e pensando em algo que veio à mente.
Observando as respostas apresentadas, vemos que vários juízes conseguiram
identificar corretamente as atitudes de certeza e de dúvida, mostrando que
características da produção dessas atitudes permitiram que elas fossem
reconhecidas, mesmo fora do contexto de produção. Outra observação realizada,
após análise dos quadros acima, é que os juízes utilizaram tanto a palavra dúvida
quanto incerteza quando foi apresentado um enunciado contendo a atitude de
dúvida. Durante a realização dessa pesquisa começamos a pensar que a dúvida e a
incerteza não seriam sinônimas, e que existiria uma diferença entre os aspectos
prosódicos utilizados na produção dessas atitudes. Ao observarmos ora a utilização
do termo incerteza e ora do termo dúvida, acreditamos que uma diferença entre
essas atitudes também foi percebida pelos juízes. Entretanto, na realização deste
108
trabalho, a incerteza foi considerada como sinônimo da dúvida para a análise dos
resultados.
Tendo em vista o número reduzido de acertos, tanto para os enunciados de dúvida
quanto para os enunciados de certeza, optamos por realizar uma comparação entre
o enunciado de certeza que apresentou maior número de acertos (+C) e o que
apresentou o maior número de erros (-C), na tentativa de visualizar o que pode ter
causado essa dificuldade de discriminação pelos juízes. A mesma análise foi feita
em relação à dúvida. Vejamos as figuras abaixo:
FIGURA 9: Representação da curva de F0 correspondentes à expressão da certeza com maior número de acertos, no enunciado “Eu gosto da Carol”, pronunciado pelo IN 1 (Faixa 1).
FIGURA 10: Representação da curva de F0 correspondentes à expressão da certeza com menor número de acertos, no enunciado “Eu entreguei o documento”, pronunciado pelo IN 4 (Faixa 2).
A FIG. 9 e a FIG. 10 representam os enunciados de certeza com maior e menor
número de acertos, respectivamente. O enunciado que obteve maior número de
acertos foi classificado adequadamente por nove dos 10 juízes avaliados. Já o que
109
obteve o menor número de acertos foi classificado adequadamente por um entre os
10 juízes.
Ao observarmos as curvas de F0 de ambas as expressões, notamos que além da
configuração de F0 ser diferente, os dois enunciados acima apresentaram
diferenças quanto aos outros aspectos prosódicos, que podem ter contribuído para o
resultado apresentado. Vejamos o quadro abaixo:
QUADRO 6
Apresentação dos valores referentes aos enunciados de certeza que apresentaram maior e menor número de acertos
Ao compararmos os valores apresentados acima, observamos que, assim como
descrito anteriormente para certeza, o enunciado +C apresentou menor valor de F0
final, menor duração e maior valor de intensidade quando comparado ao enunciado
-C. Este apresentou valor elevado de F0 final, característica comum nos enunciados
que expressaram dúvida. Acreditamos que esse aspecto possa ter influenciado os
juízes na avaliação do enunciado e contribuído para o número elevado de erros.
Em relação aos enunciados correspondentes à expressão da dúvida, as seguintes
configurações foram observadas:
110
FIGURA 11: Representação da curva de F0 correspondente à expressão da dúvida com maior número de acertos, no enunciado “Eu tomei o remédio”, pronunciado pelo IN 7 (Faixa 3).
FIGURA 12: Representação da curva de F0 correspondente à expressão da dúvida com menor número de acertos, no enunciado “Eu paguei a conta”, pronunciado pelo IN 8 (Faixa 4).
O enunciado com a expressão de dúvida que obteve maior número de acertos (+D)
foi classificado adequadamente pelos 10 juízes avaliados. Já o que obteve menor
número de acertos (-D), não foi classificado adequadamente nenhuma vez, ou seja,
nenhum dos juízes avaliados considerou esse enunciado como transmitindo dúvida.
Vejamos no quadro abaixo os parâmetros que se encontram diferentes nesses dois
enunciados:
111
QUADRO 7
Apresentação dos valores referentes aos enunciados de certeza que apresentaram maior e menor número de acertos
Ao analisarmos os valores descritos acima, observamos que o enunciado com maior
número de acertos apresentou valores de tessitura e de F0 inicial e final menores
que os apresentados pelo enunciado com maior número de erros. Em relação à
intensidade e duração o enunciado, +D apresentou menor intensidade e maior
duração, características comumente encontradas na expressão da atitude de dúvida.
A diferente combinação das características prosódicas utilizadas na expressão
desses dois enunciados contribuiu para o resultado apresentado na análise dos
juízes, visto que na produção do enunciado –D as estratégias utilizadas não
permitiram que o mesmo fosse reconhecido como expressão da atitude de dúvida.
Em resumo, os resultados apresentados em resposta ao teste aberto aplicado não
foram resultados satisfatórios na maioria das vezes, visto que poucos juízes
apresentaram uma porcentagem de acerto considerada significativa em relação aos
enunciados apresentados. Começamos então a nos perguntar o porquê de um
resultado não significativo, e levantamos as seguintes hipóteses: a) entre os
estímulos oferecidos para identificação no teste aberto, encontravam-se enunciados
lidos, além de enunciados contendo e expressão da certeza e contendo a expressão
da dúvida. A produção da leitura e a expressão da certeza se aproximaram muito em
relação aos parâmetros utilizados na suas produções, o que parece ter causado
dificuldade na identificação realizada pelos juízes, visto que muitas vezes a atitude
de certeza foi classificada como uma simples afirmação; b) outra questão diz
respeito à apresentação dos enunciados. Eles foram apresentados aos juízes de
maneira isolada, fora de um contexto de comunicação, fato que dificulta a
identificação, visto que apenas questões referentes a aspectos suprassegmentais
são utilizados para a identificação dos mesmos. Essa característica pode ter
112
influenciado nos resultados. No entanto, esse tipo de apresentação se fez
necessária na medida em que um dos objetivos do teste proposto foi se os juízes
reconheceriam as atitudes estudadas em um grupo de enunciados apresentados
fora do contexto de produção (apesar de terem sido produzidas em um contexto
específico).
Embora o teste não tenha apresentado resultados tão significativos, o objetivo de
mostrar que a identificação de atitudes era possível por meio de aspectos
prosódicos da fala foi alcançado, visto que a maior parte dos juízes conseguiu, em
algum momento, identificar as atitudes estudadas no teste realizado.
4.3.2 Teste fechado
Após realizadas as análises do teste aberto e considerando quais fatores poderiam
ter levado a um baixo desempenho por parte dos juízes, resolvemos aplicar outro
teste, agora contendo opções a serem marcadas pelos juízes. Conforme explicado
no capítulo Metodologia, as atitudes colocadas juntamente com a dúvida e a certeza
foram escolhidas buscando-se oferecer nas opções a serem marcadas quatro
possibilidades de marcação (entre elas a dúvida ou a certeza, as atitudes escolhidas
para contrapor as atitudes estudadas e uma quarta opção, nenhuma das
alternativas, caso o juiz achasse que nenhuma das atitudes listadas foi expressa no
enunciado), intencionando um melhor direcionamento do testes. As opções foram
escolhidas por meio da observação das respostas apresentadas no teste aberto.
Buscamos escolher atitudes que se aproximassem das expressões estudadas.
113
TABELA 34
Porcentagens de acerto referente à atitude de certeza encontrada na aplicação do teste fechado
Ao observar a tabela acima, percebemos que 12 juízes apresentaram porcentagem
de acerto igual ou maior que 50%. Desses 12, seis apresentaram margens seguras
de que conseguem identificar corretamente a atitude de certeza em um enunciado
apresentado. Assim como no teste aberto, essa margem de segurança foi
considerada como uma porcentagem igual ou maior a 50% em relação ao limite
inferior.
Em relação à expressão da dúvida, os resultados obtidos não foram tão significativos
quanto os apresentados para a atitude de certeza. Vejamos a tabela abaixo:
114
TABELA 35 Porcentagens de acerto referente à atitude de dúvida encontrada na aplicação do
teste fechado
Ao observarmos a tabela, percebemos que praticamente nenhum dos juízes
avaliados conseguiu identificar com clareza as opções de dúvida. As porcentagens
encontradas foram muito baixas e apenas em uma avaliação a porcentagem de
acertos foi maior que a de erros. Entretanto, nesse caso, o resultado apresentado
não ofereceu margem segura em relação ao limite inferior.
Comparando os resultados apresentados, vê-se que os juízes apresentaram maior
facilidade em perceber a atitude de certeza. Os resultados obtidos em relação à
atitude de dúvida ficaram muito abaixo do esperado. Acreditávamos que ao oferecer
opções a serem marcadas, o número de acertos iria aumentar para ambas as
atitudes estudadas. Entretanto essa melhora não foi obtida para a dúvida.
Diante do resultado obtido, começamos a divagar sobre qual o motivo desse baixo
índice de reconhecimento, assim como ocorreu no teste aberto. Escutando
novamente os enunciados utilizados, percebemos que em alguns deles,
115
exclusivamente os que correspondiam à expressão da dúvida, algumas vezes o
informante variou apenas um parâmetro, podendo não escolhido a melhor estratégia
que possibilitasse o reconhecimento da atitude expressa. Resolvemos então retirar
esses enunciados e aplicar novamente o teste em um grupo menor de juízes para
confirmar os resultados obtidos. Esse novo teste fechado foi aplicado em apenas
seis juízes, estudantes universitários, para verificarmos a hipótese de que esses
enunciados retirados poderiam ter influenciado negativamente no resultado do
primeiro teste. Os resultados encontrados seguem abaixo.
TABELA 36 Resultado do teste fechado aplicado em um menor número de juízes após a
modificação dos enunciados apresentados
Participaram deste teste seis juízes, sendo que três responderam ao teste que
avaliava a expressão da certeza e três responderam ao teste que avaliava a
expressão da dúvida. Observamos que a expressão da certeza foi identificada
corretamente em 50% das vezes em que foi produzida pelo juiz de número 2 e em
100% pelo juiz de número 3. Já a expressão da dúvida foi identificada corretamente
em 60% das vezes apenas pelo juiz 6. Os outros dois juízes que participaram do
teste não apresentaram número de acertos igual ou maior que 50%. Assim como no
teste anterior, a certeza apresentou maior índice de reconhecimento em relação à
dúvida. Ao compararmos os resultados desse segundo teste, fechado, com o
primeiro, aberto, observamos que não ocorreu uma mudança significativa quanto
aos resultados apresentados.
Como pode ser observado na discussão acima, nos resultados obtidos com a
aplicação dos testes de reação subjetiva, tanto o teste aberto quanto o fechado, as
116
atitudes pesquisadas foram reconhecidas pelos ouvintes apesar desse nível de
reconhecimento não ter atingido um grau de significância. Acreditamos que o
problema possa estar na aplicação dos testes. Sabemos que aplicação de testes
que avaliam a percepção do ouvinte em relação a aspectos expressivos da fala é
muito complicada, mas tentamos criar condições que causassem a menor
interferência possível.
Os enunciados foram produzidos em um contexto, mas apresentados aos juízes fora
do mesmo. Este pode ser um fator que contribui para dificultar a identificação das
expressões, embora este fosse um dos objetivos do teste: analisar o
reconhecimento fora do contexto, enfatizando os aspectos prosódicos envolvidos na
expressão da certeza e da dúvida.
Outro fator que pode ter colaborado para os resultados obtidos, relaciona-se à coleta
dos dados. Na gravação de uma amostra de fala em situação real de produção a
relação sinal/ruído não é favorável para a análise acústica. Considerando-se esse
ponto de vista, a gravação em cabine seria mais indicada para preservar o sinal de
fala. Entretanto, outro aspecto entra em questão: a dificuldade do locutor em
produzir uma fala natural diante de uma situação hipotética. Alguns informantes
pareceram apresentar dificuldade em expressar claramente a atitude solicitada, fato
que também pode ter influenciado no resultado apresentado.
Em relação às características dos testes, o número de juízes testados e o número
de estímulos aplicados também podem ter sido um fator negativo. Talvez fosse
interessante diminuir o número de enunciados a serem apresentados e aumentar o
número de juízes a serem testados.
Também foi possível perceber em ambos os testes aplicados, que alguns juízes
apresentaram muito mais facilidade em reconhecer e identificar uma atitude que
117
outros. Pode ser que assim como na produção, algumas pessoas apresentem uma
habilidade mais desenvolvida na percepção de aspectos expressivos da fala.
Enfim, são muitos os fatores que podem ter influenciado no baixo índice de
reconhecimento. Não obstante, alcançamos nosso objetivo: saber se seria possível
a identificação da atitude de certeza e de dúvida, levando-se em consideração
apenas os aspectos prosódicos. Ambas as atitudes foram identificadas e
reconhecidas.
Durante a realização da análise, várias questões importantes foram levantadas,
principalmente no que diz respeito à expressão da atitude de dúvida. O próximo
capítulo abordará considerações importantes sobre a expressão dessa atitude, além
de realizar uma discussão sobre a expressão da incerteza nesse trabalho.
118
5 ATITUDE DE DÚVIDA OU DE INCERTEZA
Durante a análise dos dados, ao desenvolvermos melhor os conceitos
referentes à dúvida e incerteza, observamos questões importantes que
mereciam uma discussão à parte. Os conceitos de dúvida e incerteza,
conforme registrados no dicionário consideram essas duas expressões como
sinônimas. Entretanto, no uso da língua portuguesa parece haver uma
diferenciação entre essas duas atitudes. Tal diferença pode ser observada
durante a utilização de ambas em nosso cotidiano, visto que as palavras dúvida
e incerteza não são utilizadas para denominar a mesma coisa em nosso dia a
dia.
Uma breve discussão sobre os conceitos referentes a essas atitudes foi
realizada no capítulo Fundamentação teórica. Acrescentando ao que foi dito
anteriormente, podemos ver a dúvida relacionada a um questionamento
individual, buscando uma resposta a uma questão com a qual o locutor se
confronta. Ela nos passa uma idéia de busca por algo na mente, isto é, como
se estivéssemos buscando na memória informação sobre uma ação que não
temos de imediato na mente. É uma pergunta feita para o locutor por ele
mesmo, e corresponde a enunciados iniciados por “será”. Já a incerteza está
presente sempre quando respondemos a uma solicitação, ou seja, quando
respondemos a um questionamento colocado por outra pessoa, por um
interlocutor. Ela está relacionada com o que é perguntado pelo outro e
corresponde a anunciados que apresentam o performativo “eu acho”, que em
vez da prosódia ou juntamente com essa, pode ser utilizado para transmitir o
fato de não estar certo em relação a algo.
Diante das definições acima e tendo em vista as situações que compõem a
coleta de dados desse trabalho, podemos dizer que, na verdade, essa
pesquisa relaciona-se à expressão da incerteza, e não à expressão da dúvida.
Todos os dados coletados nesse trabalho foram produzidos mediante as
119
situações colocadas para o informante, as quais ele deveria interpretar
juntamente com a pesquisadora e responder ao questionamento feito por ela.
Essa coleta de dados realizada induziu à expressão da incerteza (visto que é
essa atitude que vem em resposta ao questionamento colocado pelo
interlocutor). Quando solicitado a produzir a atitude de dúvida, as situações
formuladas direcionavam a produção da incerteza, visto que era necessário um
conhecimento prévio do assunto para responder aos questionamentos. Vamos,
então, considerar que os resultados apresentados no capítulo Resultados e
Discussões são referentes à incerteza. Entretanto, nos enunciados, foram
produzidas algumas expressões do que entendemos por atitude de dúvida. Os
dados referentes à expressão da dúvida serão analisados no decorrer deste
capítulo, assim como será realizada também uma discussão em relação às
características encontradas na expressão da incerteza e que a diferenciam da
expressão da dúvida.
5.1 Expressão da dúvida
Dentro da nossa análise, apenas nove enunciados representaram a expressão
da atitude de dúvida, levando-se em consideração os conceitos discutidos
anteriormente. Desses nove enunciados, selecionamos três para descrevermos
características encontradas em sua produção, buscando definir melhor os
parâmetros utilizados na expressão dessa atitude. Os enunciados selecionados
serão comparados com a expressão da certeza, para que as características
apresentadas na produção da dúvida sejam mais bem evidenciadas. Vejamos
os enunciados abaixo:
120
Figura 13: “Eu devolvi o livro”, enunciado produzido com atitude de certeza pelo IN 1 (Faixa 5).
Figura 14: “Eu devolvi o livro”, enunciado produzido com atitude de dúvida pelo IN 1 (Faixa 6).
Figura 15: “Eu desliguei o fogão”, produzido com atitude de certeza pelo IN 7 (Faixa 7).
121
Figura 16: “Eu desliguei o fogão”, produzido com atitude de dúvida pelo IN 7 (Faixa 8).
Figura 17: “Ele volta a jogar”, produzido com atitude de certeza pelo IN 7 (Faixa 9).
Figura 18: “Ele volta a jogar”, produzido com atitude de dúvida pelo IN 7 (Faixa 10).
122
Nos enunciados representados, encontramos destacados valores de F0 ao
longo da curva melódica, além da freqüência média da produção de cada
enunciado, aspecto que pareceu influenciar na diferenciação das atitudes em
questão. O valor de F0 média foi calculado no Programa de análise acústica
Praat.
Ao observarmos os três enunciados selecionados e que representam a
expressão da dúvida comparada à expressão da certeza, notamos que tanto o
IN 1 quanto o IN 7, ao expressar a dúvida, utilizaram como estratégias,
principalmente, o prolongamento das últimas sílabas, além de uma menor
variação melódica e diminuição de F0 média ao longo do enunciado. Foram
calculados a tessitura e os valores de amplitude da sílaba proeminente. Nos
quadros abaixo se encontram os valores referentes a cada atitude:
QUADRO 8 Amplitude de SP em IN 1 e IN 7 na expressão da atitude de certeza e na
expressão da atitude de dúvida
QUADRO 9 Amplitude de SP em IN 1 e IN 7 na expressão da atitude de certeza e na
expressão da atitude de dúvida
Ao analisarmos os quadros acima, percebemos que a amplitude da SP foi
maior na atitude de certeza que na atitude de dúvida em dois dos três
123
exemplos selecionados. Em relação ao valor da tessitura, a atitude de certeza
apresentou valores mais elevados que a atitude de dúvida. Outro parâmetro
apresentado nessas produções e que foi utilizado de maneira diferente na
expressão das duas atitudes, foi a intensidade, sendo que a atitude de dúvida
foi produzida com menores valores de intensidade que a atitude de certeza.
Vejamos o quadro abaixo:
QUADRO 10
Valores de intensidade média de IN 1 e IN 7 na comparação entre certeza e dúvida
Esses três enunciados analisados acima representam a expressão do que
denominamos atitude de dúvida, considerando que esta difere da expressão da
atitude de incerteza. Mais adiante discutiremos a expressão da incerteza e
quais os aspectos a diferenciam do que consideramos como atitude de dúvida.
5.2 Expressão da incerteza
Como já mencionado, a atitude de incerteza foi produzida na maioria dos
enunciados gravados. Auditivamente, essa expressão apresenta-se bem
diferente da expressão da dúvida, fato que também deve ser observado na
análise dos parâmetros prosódicos. Primeiramente, a expressão da incerteza
será discutida por meio de uma comparação entre os parâmetros encontrados
na sua produção e na produção da certeza. Os enunciados aqui descritos
foram retirados do grupo que representa a expressão da dúvida, mas serão
nomeados com a atitude de incerteza, visto que é essa a atitude produzida.
Vejamos os enunciados abaixo:
124
Figura 19: “Eu deixei o recado”, produzido com atitude de certeza pelo IN 9 (Faixa 11).
Figura 20: “Eu deixei o recado”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 9 (Faixa 12).
Figura 21: “Eu gosto da Carol”, produzido com atitude de certeza pelo IN 4 (Faixa 13).
125
Figura 22: “Eu gosto da Carol”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 4 (Faixa 14).
Figura 23: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de certeza pelo IN 6 (Faixa 15).
Figura 24: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 6 (Faixa 16).
126
Nos três enunciados descritos acima, os informantes utilizaram prolongamento
de sílabas, maior variação melódica na sílaba proeminente (variação
descendente), além de um valor de F0 médio mais elevado na produção da
incerteza quando comparada à certeza. Os valores da amplitude melódica na
sílaba proeminente e da tessitura do enunciado podem ser observados nos
quadros abaixo:
QUADRO 11 Amplitude de SP de IN 9, IN 4 e IN 6 na expressão da atitude de certeza e na
expressão da atitude de incerteza
QUADRO 12 Tessitura de IN 9, IN 4 e IN 6 na expressão da atitude de certeza e na
expressão da atitude de incerteza
Em relação à amplitude da sílaba proeminente podemos observar que a atitude
de certeza apresentou menor amplitude melódica que a atitude de incerteza.
Quanto aos valores de tessitura em dois dos três enunciados selecionados a
expressão da certeza apresentou menores valores quando comparada à
expressão da incerteza.
Além das variações referentes à freqüência fundamental, percebe-se também a
utilização da pausa como uma estratégias na expressão da incerteza, utilizada
pelo IN 6 (FIG.24). A intensidade foi outro parâmetro que se mostrou diferente
127
na expressão dessas duas atitudes, sendo que na expressão da incerteza foi
utilizada menor intensidade do que a utilizada na expressão da certeza. O
quadro abaixo retrata esses valores:
QUADRO 13
Valores de intensidade média de IN 9, IN 4 e IN 6 na comparação entre certeza e incerteza
Outro fato interessante percebido durante a análise dos dados foi que, algumas
vezes, a produção da incerteza ocorreu apenas no início do enunciado, sendo
que o restante do mesmo não transmitiu ao ouvinte idéia semelhante. Essa
observação também foi percebida por alguns juízes, visto que, na aplicação do
teste de reação subjetiva a atitude de incerteza (que foi na verdade a atitude
induzida pelo tipo de enunciado formulado) foi identificada em alguns casos
como “dúvida seguida de certeza” (observe Quadro 4, suj. 3 e suj. 4, frase 29.
Lembramos que nessa análise subjetiva não levamos em consideração a
diferença entre incerteza e dúvida). Vejamos os enunciados abaixo:
Figura 25: “Eu desliguei o fogão”, produzido com atitude de certeza pelo IN 5 (Fixa 17).
128
Figura 26: “Eu desliguei o fogão”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 5 (Faixa 18). A FIG. 26 retrata a expressão de certeza e a FIG. 27 a expressão da incerteza.
Ao analisarmos a expressão da incerteza, percebemos um aumento da
duração da sílaba inicial, além de observamos na curva de F0 um aumento da
freqüência equivalente a 139,82 Hz. Ao compararmos a incerteza ao enunciado
que contém a expressão da certeza, observamos esse aumento de duração da
primeira sílaba e a maior amplitude da mesma como sendo as principais
estratégias utilizadas para expressar a incerteza. Essas estratégias se
concentraram no início do enunciado e transmitiram a impressão de uma
incerteza inicial seguida por certeza, ou seja, à expressão da incerteza ficou
restrita apenas à parte inicial da mensagem. No restante do enunciado o que
percebemos é a atitude de certeza.
Esse tipo de expressão foi apresentado por alguns dos informantes gravados e
foi freqüentemente encontrado nos dados referentes ao IN 5. Começamos a
nos perguntar o que poderia ter causado esse tipo de expressão. Acreditamos
que, ao dar as instruções no momento da gravação, apenas falamos com o
informante que ele deveria interpretar o enunciado expressando a atitude de
“dúvida” e não deixamos claro que o enunciado como um todo deveria
transmitir essa idéia. Sendo assim, cada informante parece ter expressado a
“dúvida” da maneira que achou conveniente, utilizando estratégias que para ele
eram condizentes à expressão dessa atitude.
129
5.3 Dúvida x incerteza
Durante o desenvolvimento deste trabalho, tornou-se mais evidente a diferença
existente entre a expressão de uma dúvida e da incerteza e desenvolvemos
conceitos que propiciaram diferenciar essas duas atitudes, apesar de serem
consideradas como sinônimas nas definições fornecidas pelos dicionários.
Vimos também que as situações de fala formuladas para a gravação dos dados
induziam à expressão de uma incerteza, apesar de termos solicitado a
expressão da dúvida (esses conceitos se clarearam no desenrolar da análise
dos dados e somente após essa análise foi possível reconhecer claramente as
diferenças apresentadas entre essas duas atitudes). Ou seja, toda a análise
realizada dizia respeito a características da incerteza e retrataram a expressão
dessa atitude. Mas e a dúvida? O que podemos dizer sobre a atitude de
dúvida, baseado nas análises? Sendo ela diferente da incerteza, como se dá
essa diferenciação?
Para que possamos melhor visualizar a expressão da dúvida e da incerteza,
observemos os enunciados abaixo. O enunciado correspondente à expressão
da incerteza corresponde às figuras 24 e 28, que serão repetidas aqui para
facilitar a visualização dos aspectos modificados na expressão dessas duas
atitudes:
Figura 27: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de dúvida pelo IN 7 (Faixa 19).
130
Figura 24: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 6 (Faixa 16).
Ao compararmos a expressão da dúvida com a expressão da incerteza,
percebemos algumas características semelhantes e outras diferentes,
permitindo, assim, a diferenciação entre essas duas expressões. Para que
nossa comparação seja mais coerente, segue abaixo a representação desses
enunciados, correspondente à expressão da certeza. A comparação será
sempre realizada considerando-se a expressão da certeza, pois, por se tratar
de informantes diferentes, as variações ocorridas poderiam ter sua causa em
decorrência desse aspecto. Vejamos:
Figura 28: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de incerteza pelo IN 7 (Faixa 20).
131
Figura 29: “Eu devolvi o livro”, produzido com atitude de certeza pelo IN 6 (Faixa 15).
Ao observarmos a expressão da dúvida e da incerteza, comparadas à
expressão da certeza em seus respectivos enunciados, vimos que o informante
se utilizou de prolongamentos, tanto na produção da dúvida, quanto na da
incerteza. Outro aspecto comum a essas duas expressões foi a diminuição da
intensidade em relação à expressão da certeza. A utilização da pausa foi uma
estratégia utilizada apenas na atitude de incerteza. O quadro abaixo apresenta
os valores de intensidade observados em ambos os enunciados:
QUADRO 14
Valores de intensidade média de IN 7 e IN 6 na comparação entre dúvida e incerteza
Em relação à freqüência fundamental, observamos que a expressão da dúvida
apresenta valor médio de F0 menor que o apresentado na expressão da
certeza, ao contrário da incerteza, que comparada à certeza, apresenta valores
médios mais elevados de F0. Além disso, a atitude de incerteza apresentou
maior tessitura e maior amplitude melódica de SP que a expressão da dúvida,
quando comparada à expressão da certeza.
132
Estendendo nossa observação para além desses exemplos e observando os
aspectos já descritos anteriormente para a expressão da dúvida e da incerteza,
observamos que a dúvida se define praticamente por presença de
prolongamentos, pouca variação melódica, isto é, valores baixos para a
tessitura e amplitude melódica de SP, quando comparados à expressão da
incerteza; além de valores menores de freqüência nos enunciados. Em
nenhuma das expressões de dúvida foi observada a presença de pausa,
apesar de terem sido realizadas poucas expressões de dúvida. A intensidade
do enunciado também apresentou valores mais baixos.
Já na expressão da incerteza, os enunciados apresentaram valores baixos de
intensidade, assim como na dúvida. Entretanto, observamos a presença de
pausas além dos prolongamentos, a elevação de F0 média, maior variação
melódica ao longo do enunciado e valores maiores referentes a tessitura e
amplitude melódica de SP, quando comparados à expressão da dúvida.
Diante dessas características, podemos dizer que, ao expressar a incerteza, o
informante utilizou a combinação de diferentes estratégias, sendo que a maior
variação melódica é uma das principais características que difere essa atitude
da atitude de dúvida.
133
6 CONCLUSÕES
Neste capítulo serão apresentadas as principais conclusões deste trabalho,
levando-se em consideração questões referentes à análise e discussão da
expressão das atitudes estudadas.
6.1 Dos resultados e discussões
Sabemos da dificuldade em realizar um estudo que aborde questões referentes
à coleta de dados de uma emissão espontânea, realizada em uma situação
real de interação. Essa dificuldade advém principalmente de vários fatores que
influenciam a espontaneidade na produção de enunciados e a relação
sinal/ruído dos mesmos. Diante disso, nossa primeira tarefa foi encontrar a
metodologia adequada que pudesse garantir certa naturalidade na produção
dos enunciados a serem analisados e, ao mesmo tempo, uma boa relação
sinal/ruído. Conforme explicado no capítulo Metodologia, optamos por
desenvolver situações de fala que seriam “interpretadas” juntamente com a
pesquisadora, apresentando uma situação de interação entre dois falantes e
buscando uma aproximação com a realidade.
Foram formulados enunciados inseridos em uma situação de fala que induzia à
expressão das atitudes estudadas. Para a gravação foram escolhidos atores,
pois tínhamos em mente que devido à experiência em realizar uma situação
“imaginária” eles conseguiriam abstrair e emitir a expressão dessas atitudes
com mais facilidade que um falante não ator. Além disso, eles estariam mais
acostumados com situações de gravação, microfone, entre outros, de maneira
que esses aspectos não influenciariam na naturalidade da emissão no
momento da gravação.
134
Ao formularmos as situações o principal objetivo foi induzir a expressão dessas
atitudes. Os enunciados que continham a expressão da atitude foram
analisados e apresentados a ouvintes para que fosse realizada uma
identificação fora de um contexto, visto que nosso principal objetivo ao realizar
o teste de reação subjetiva foi o de verificar se era possível o reconhecimento
da atitude baseando-se apenas nos aspectos prosódicos.
Ao realizarmos uma escuta dos dados coletados começamos a questionar se
dúvida e incerteza seria a mesma coisa. Uma breve discussão sobre esse
assunto foi realizada no momento da Revisão de Literatura. Começamos a
pensar sobre esse assunto e a questionar diferenças existentes na produção
de cada uma delas. Ao realizarmos o teste de reação subjetiva observamos
que os juízes selecionados percebiam a dúvida e a incerteza como emissões
diferentes, ou seja, não representavam a mesma atitude. Tendo em mãos os
resultados dos testes de reação subjetiva, realizamos uma escuta atenta dos
dados coletados procurando uma justificativa para os baixos valores de
reconhecimento, e percebemos que, de acordo com o que consideramos como
sendo dúvida e incerteza na grande maioria das vezes foi a incerteza a atitude
produzida pelos informantes. Além disso, percebemos também que nem todos
os informantes conseguiram expressar claramente a atitude de incerteza, fato
este que influenciou nos resultados dos testes. A atitude de dúvida, solicitada
no momento da gravação, foi produzida por alguns informantes, apesar das
situações formuladas induzirem à expressão da incerteza. Em relação à atitude
de certeza, os informantes apresentaram menor dificuldade de expressão.
Observamos que todos os informantes gravados procuraram expressar as
atitudes solicitadas, apesar de que algumas vezes não conseguiram transmitir
a incerteza/dúvida. Observamos que os enunciados analisados apresentavam
pelo menos um dos parâmetros que permitem a identificação da atitude de
certeza ou dúvida como pausa, prolongamento de sílabas, maior variação
melódica, maior valor médio de F0 do enunciado e diminuição da intensidade
foram sempre utilizados na expressão da incerteza. Entretanto nos pareceu
135
que alguns informantes apresentaram maior habilidade para combinar esses
parâmetros conseguindo expressar claramente as atitudes solicitadas.
Ainda em relação ao informante, foram produzidos primeiramente dados
individuais e que posteriormente foram agrupados permitindo assim uma
comparação entre as características apresentadas em cada atitude. Ao
examinarmos esses dados individualmente, foi possível observar que algumas
vezes um ou outro informante apresentou maneiras diferentes de expressar
cada atitude, isto é, alguns utilizaram uma maior variação de F0, alguns
utilizaram pausas, outros prolongamentos, sendo que algumas vezes os
parâmetros escolhidos não foram combinados de maneira a causar o
reconhecimento da atitude produzida.
6.2 Das atitudes de certeza, incerteza e dúvida
Em relação às atitudes estudadas, podemos dizer que os aspectos prosódicos
apresentaram influência na expressão de cada uma delas, contribuindo
inclusive para a diferenciação entre elas. Parâmetros como freqüência, duração
e intensidade apresentaram valores diferentes na expressão de cada uma
dessas atitudes, alguns desses significativos, e que se combinaram na
expressão da certeza, da dúvida e da incerteza.
Em relação à expressão da certeza, os informantes utilizaram maiores valores
de intensidade e menor duração do enunciado, parâmetros esses que
apresentaram diferença estatisticamente significativa ao serem comparados à
expressão da incerteza. Em nenhum desses enunciados foi observada a
realização de pausas e nem a realização de prolongamentos. Quanto aos
valores de freqüência, observamos menores valores de F0 inicial, menor
variação melódica na sílaba proeminente e menor variação melódica ao longo
do enunciado (baixo valor de tessitura). Em relação à expressão da dúvida, a
136
certeza apresentou valores mais altos de freqüência média de emissão. Já em
relação à incerteza, foi observado valor médio mais baixo.
Na expressão da incerteza foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas em relação aos valores de intensidade, de duração do enunciado
e de freqüência fundamental. A incerteza apresentou valores mais baixos de
intensidade, maior duração do enunciado, tendo sido produzidas pausas e
prolongamentos e maiores valores de freqüência (F0 inicial e final, tessitura,
maior variação melódica na sílaba proeminente e na segunda sílaba que
antecede a proeminente). Além desses, foi observado que a atitude de
incerteza foi produzida com F0 média maior que a atitude de certeza.
Já a expressão da dúvida, que era inicialmente a atitude pretendida nesse
estudo, mas que devido às situações formuladas foi produzida apenas algumas
vezes (nove vezes), foi possível observar características prosódicas que a
diferenciaram da atitude de certeza, mas principalmente da atitude de
incerteza. Na expressão da dúvida os informantes se utilizaram, assim como na
incerteza, de menor valor de intensidade quando comparada à certeza.
Diferentemente da expressão da incerteza, na atitude de dúvida não foi
observada ocorrência de pausas. A duração dos enunciados também foi maior
que a utilizada na expressão da certeza, mas o principal recurso utilizado foi a
realização de prolongamentos. Diferentemente da incerteza, a expressão da
dúvida contou com valores mais baixos de Fo média quando comparada à
expressão da certeza, além de menor variação melódica na sílaba proeminente
e ao longo do enunciado.
O quadro abaixo retrata uma comparação entre a expressão da incerteza e da
dúvida em relação à certeza, levando-se em consideração os valores mais
gerais de freqüência, duração e intensidade. Vejamos:
137
QUADRO 15 Características presentes na expressão de incerteza e dúvida comparadas a
atitude de certeza
Retomando as hipóteses listadas no capítulo Introdução, percebemos que além
da entonação, parâmetros como a duração e a intensidade exercem influência
na expressão das atitudes estudadas. Esses parâmetros contribuíram para
diferenciar a expressão da certeza da expressão da incerteza, que na verdade
foi a atitude produzida nos dados coletados, além de proporcionarem também a
diferenciação entre a incerteza e a dúvida.
Diante do exposto acima podemos concluir que os parâmetros prosódicos
utilizados na expressão da certeza, da dúvida e da incerteza foram diferentes
entre si e contribuíram para uma diferenciação entre essas três atitudes. Foi
possível comprovar a existência de diferenças estatisticamente significativas
em relação à intensidade, duração e valores de F0 que proporcionaram a
distinção entre certeza, dúvida e incerteza.
Na expressão dessas atitudes ocorreram variações ao longo de diferentes
parâmetros e combinações que adequadamente feitas proporcionaram a
expressão das atitudes estudadas. Foi possível perceber que não basta
apenas conhecer quais os parâmetros estão presentes na expressão dessas
atitudes, mas é necessário também adequá-los em conjunto para que a atitude
seja expressa com clareza. Além do conhecimento desses parâmetros, a
habilidade individual do falante pareceu ser um fator que influenciou tanto na
138
expressão quanto na identificação das atitudes, visto que alguns informantes
conseguiram expressar mais claramente a atitude solicitada e alguns juízes
conseguiram perceber com mais facilidade essas atitudes.
Podemos concluir que esse estudo atingiu os objetivos pretendidos e
apresentou uma contribuição para o estudo da prosódia na expressão das
atitudes no português brasileiro, visto que apresentou uma proposta de
metodologia para o estudo da expressão das atitudes, além de ter
proporcionado uma descrição dos parâmetros prosódicos na expressão da
certeza, dúvida e incerteza. Entretanto, podemos concluir também que
pesquisas futuras são necessárias para se elucidar o complexo papel da
prosódia na expressão de atitudes.
Pesquisas futuras poderão tratar não apenas das características prosódicas de
atitudes específicas, mas também do comportamento prosódico no caso de
fusão de várias atitudes ou de atitude e emoção. Além disso, é importante o
desenvolvimento de metodologias para o estudo das atitudes, na verdade,
metodologias que possibilitem a expressão da atitude estudada da forma mais
natural possível. A metodologia utilizada para esse estudo obteve um resultado
positivo, pois conseguiu direcionar o informante a produzir as atitudes de
certeza e de incerteza (apesar de que o objetivo inicial era obter a expressão
da dúvida, mas essa questão foi explicada anteriormente). Há, também, a
necessidade de se aperfeiçoar metodologia na verificação do papel da prosódia
na expressão de atitudes, através de testes perceptivos.
Outro trabalho interessante a ser desenvolvido seria em relação a expressão
da atitude de dúvida, que foi o nosso objetivo, mas na verdade foi produzida
poucas vezes nos dados coletados. A metodologia do estudo prosódico na
expressão de atitudes ganharia com a busca da forma apropriada para
obtenção dessa atitude, permitindo assim uma comparação com maior número
de dados em relação à expressão da incerteza. Ainda é possível realizar
139
estudos que abordem a gradação da atitude de incerteza, tentando obter um
limite dessa atitude para com a certeza e a dúvida.
140
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146
Anexos ANEXO 1 1
Você chega em casa com sua irmã e encontra a porta aberta:
(F1)_ A porta está aberta e foi você que saiu por último E se entrou alguém
em casa
(F2)_ Eu tranquei a porta
(F1)_Você trancou mesmo
(F2)_ Eu tranquei
2
Você fez uma prova e obteve um resultado abaixo do esperado. Em
discussão com o professor ele justificou sua nota baixa em decorrência de uma
questão que você esqueceu de marcar.
(F1)_ Professor, minha nota foi muito baixa, não posso ter ido tão ruim
na prova
(F2)_ Sua nota está de acordo com o número de questões que você
marcou
(F1)_ Mas eu marquei todas as questões
(F2)_ Não, havia três questões sem resposta
(F1)_Eu marquei todas
3
O gerente de uma loja discute com você a contratação de um funcionário
para ocupar um cargo que está vago na empresa.
(F1)_ Estou pensando em contratar o Paulo para ocupar o cargo vago
na empresa Ele perece ter qualificação adequada para ocupar o cargo
(F2)_ Será que ele conhece as regras do mercado
(F1)_ Ele conhece
147
(F2)_ Ele se formou há um ano
(F1)_ Ele conhece as regras
(F2)_ É importante que o novo funcionário conheça bem essas regras
(F1)_ Ele conhece
4
Você recebe um e-mail da biblioteca da faculdade cobrando a devolução de
um livro e vai até a biblioteca para esclarecer o ocorrido:
(F1)_ Vim por causa de um e-mail que recebi, cobrando a devolução de
um livro
(F2)_ Consta em nosso sistema que você pegou esse livro há seis meses,
mas não o devolveu
(F1)_ Eu devolvi o livro
(F2)_ Mas não consta no sistema essa devolução Você terá que pagar uma multa
(F1)_ Eu devolvi o livro
5
Você faz uso de um remédio controlado, que tem que ser tomado diariamente. Sua mãe sempre está atenta a esse fato e o indaga quanto ao remédio:
(F1)_ João, você tomou o remédio ontem
(F2)_ Eu tomei
(F1)_ Não lembro de ter visto você tomando esse remédio e você sabe que
não pode deixar de tomar
(F2)_ Eu tomei
148
ANEXO 2 Teste perceptivo Escute atentamente as frases e escreva qual atitude percebeu: Frase 23 ________________________ Frase 24 ________________________ Frase 25 ________________________ Frase 26 ________________________ Frase 27 _________________________ Frase 28 _________________________ Frase 29 _________________________ Frase 30 _________________________ Frase 31 _________________________ Frase 32 _________________________ Frase 33 _________________________ Frase 34 _________________________
149
ANEXO 3 Teste perceptivo Escute atentamente e marque a alternativa que achar adequada: Frase A ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase B ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase C ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase D ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase E ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase F ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase G ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase H ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase I ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase J ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra
150
Frase K ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase L ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase M ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase N ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase O ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase P ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase Q ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase R ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase S ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase T ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase U ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase V ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra
151
Frase X ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase Z ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZA ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZB ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZC ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZD ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZE ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZF ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZG ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZH ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra Frase ZI ( ) dúvida ( )certeza ( ) neutra
152
ANEXO 4
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1996 – CNS 196/96)
Prezado (a) Senhor (a),
Eu, Juliana Preisser de Godoy e Silva, mestranda pela Faculdade de Letras da UFMG, vou
realizar uma pesquisa com objetivo de analisar a prosódia na expressão de atitudes no português
brasileiro. A pesquisa pretende analisar como os aspectos prosódicos se comportam na expressão
de determinadas atitudes e ainda se as atitudes produzidas pelos informantes da pesquisa são
percebidas por ouvintes não treinados.
Para isso solicito a autorização dos senhores para participarem da gravação das situações
específicas que possibilitam as análises citadas acima. A gravação será realizada no Laboratório
de Fonética (Labfon), sala 4008, na Faculdade de Letras da UFMG em um único dia. Vocês
deverão interpretar as situações juntamente com a pesquisadora responsável pela pesquisa.
Sua participação é voluntária e você poderá retirar seu consentimento a qualquer momento,
sem qualquer tipo de prejuízo. O seu nome não será divulgado, manteremos em sigilo a identidade
de todos os participantes. Você não terá qualquer gasto para participar desse estudo e poderá ter
acesso aos resultados e tirar qualquer dúvida sobre as análises. Também não será realizado
nenhum pagamento por parte dos pesquisadores ou da instituição aos senhores.
Asseguro, também, que os dados coletados serão utilizados com finalidade única de
pesquisa.
Em caso de dúvidas, poderá entrar em contato com Juliana através dos telefones 9181-
9425 ou 3773-4901; com o Prof. César Augusto da Conceição Reis (orientador da dissertação)
pelo telefone 3409 – 5152 ou entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (Av
Antônio Carlos, 6627. Pampulha, Unidade Administrativa II – 2º andar. Sala 2005 / Telefone:
(31)3409-4592).
Diante dos esclarecimentos sobre os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa, concordo
em participar desse estudo e consinto que seja realizada a gravação da minha voz e também que
os dados obtidos através desta sejam apresentados e publicados em revistas científicas.
Belo Horizonte, _____ de __________________ de _______.
_______________________________________________
Assinatura do participante
_________________________________________________
Juliana Preisser de Godoy e Silva
(Mestranda em Estudos Lingüísticos UFMG)
153
ANEXO 5 Dúvida:
2) João é um funcionário muito desatento. Seu chefe não está encontrando um documento e pergunta:
P : João, você me entregou o documento na segunda? I: Eu entreguei o documento. 3) Joaquim sempre esquece as coisas. Chegando em casa com sua irmã ela
percebe que a porta está destrancada e pergunta: P: Joaquim, você trancou a porta? I: Eu tranquei a porta.
4) Marina conversa com seu chefe e indica uma pessoa que não conhece muito bem para ocupar um cargo na empresa. O chefe pergunta à Marina:
P: Ele conhece as regras do mercado? I: Ele conhece as regras. 5) Lia é secretária do Dr Noel há um ano e se esquece de entregar alguns
recados. Uma paciente do doutor reclama sobre um recado que não foi passado. O médico então pergunta:
P: Lia, eu não vi o recado na minha mesa. Você o entregou? I: Eu deixei o recado.
6) João faz uso de um remédio controlado, mas não segue adequadamente as prescrições do médico. Sua mãe sempre tem que ficar perguntando:
P: João, você tomou o remédio hoje? I: Eu tomei o remédio.
154
7) O médico e o técnico de um time de futebol conversam sobre a volta de um jogador que se machucou e ainda não está totalmente recuperado. O técnico pergunta:
P: Você acha que o Caio volta a jogar esse mês? I: Ele volta a jogar. 8) Leandro é muito esquecido e ficou responsável por pagar a conta de luz.
Quando chega seu pai pergunta:
P: Estamos sem luz. Você pagou a conta? I: Eu paguei a conta. 9) João está muito confuso em relação ao seu namoro com Carol. Um amigo
pergunta:
P: João, você ainda gosta da Carol? I: Eu gosto da Carol. 10) Luis é um tanto desatento. Sua mãe pediu para ele devolver um livro na
biblioteca e pergunta: P: Luis, você devolveu o livro na biblioteca? I: Eu devolvi o livro. 11) Joaquim saiu de casa apressado com sua mulher. No caminho ela
pergunta: P: Joaquim, você desligou o fogão? I: Eu desliguei o fogão. Certeza: 4) João é um funcionário muito eficiente, sempre cumpre o que foi pedido. Seu
chefe não está encontrando um documento e pergunta: P : João, você me entregou o documento na segunda? I: Eu entreguei o documento.
155
5) Joaquim é sempre muito atento, nunca se esquece de cumprir suas obrigações. Chegando em casa com sua irmã ela percebe que a porta está destrancada e pergunta:
P: Joaquim, você trancou a porta? I: Eu tranquei a porta.
6) Marina conversa com seu chefe e indica seu irmão para ocupar um cargo na empresa. O chefe pergunta à Marina:
P: Ele conhece as regras do mercado? I: Ele conhece as regras. 7) Lia é secretária do Dr Noel há um ano, nunca se esquece de entregar os
recados. Uma paciente do doutor reclama sobre um recado que não foi respondido. O médico então pergunta:
P: Lia, eu não vi o recado na minha mesa. Você o entregou? I: Eu deixei o recado.
8) João faz uso de um remédio controlado e segue adequadamente as prescrições do médico. Ainda assim sua mãe sempre pergunta:
P: João, você tomou o remédio hoje? I: Eu tomei o remédio. 9) O médico e o técnico de um time de futebol conversam sobre a volta de um
jogador que se machucou mas já está recuperado. O técnico pergunta: P: Você acha que o Caio volta a jogar esse mês? I: Ele volta a jogar. 10) Leandro é muito atento e sempre paga todas as contas. Quando chega em
casa seu pai pergunta:
156
P: Estamos sem luz. Você pagou a conta? I: Eu paguei a conta. 11) João e Carol são namorados. Um amigo pergunta:
P: João, você gosta mesmo da Carol? I: Eu gosto da Carol. 12) Luis é muito responsável. Sua mãe pediu para ele devolver um livro na
biblioteca e pergunta: P: Luis, você devolveu o livro na biblioteca? I: Eu devolvi o livro. 13) Todos os dias, ao sair de casa, Joaquim confere se tudo está em ordem.
Sua esposa desconfiada sempre pergunta:
P: Joaquim, você desligou o fogão? I: Eu desliguei o fogão.
157
ANEXO 6
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1996 – CNS 196/96)
Prezado (a) Senhor (a),
Eu, Juliana Preisser de Godoy e Silva, mestranda pela Faculdade de Letras da UFMG, vou
realizar uma pesquisa com objetivo de analisar a prosódia na expressão de atitudes no português
brasileiro. A pesquisa pretende analisar como os aspectos prosódicos se comportam na expressão
de determinadas atitudes e ainda se as atitudes produzidas pelos informantes da pesquisa são
percebidas por ouvintes não treinados.
Para isso solicito a autorização dos senhores para aplicação de um protocolo de análise
perceptiva assim como para a utilização das respostas apresentadas nesse protocolo no estudo e
ser desenvolvido. Esse protocolo será aplicado na Faculdade de Letras da UFMG, Campus
Pampulha, local ainda a ser definido. Para preenchimento desse protocolo você deverá escutar
uma seqüência de frases e preencher adequadamente o protocolo pré-estabelecido.
Sua participação é voluntária e você poderá retirar seu consentimento a qualquer momento,
sem qualquer tipo de prejuízo na sua atividade estudantil. O seu nome não será divulgado,
manteremos em sigilo a identidade de todos os participantes. Você não terá qualquer gasto para
participar desse estudo e poderá ter acesso aos resultados e tirar qualquer dúvida sobre as
análises.
Asseguro, também, que os dados coletados serão utilizados com finalidade única de
pesquisa.
Em caso de dúvidas, poderá entrar em contato com Juliana através dos telefones 9181-
9425 ou 3773-4901; com o Prof. César Augusto da Conceição Reis (orientador da dissertação)
pelo telefone 3409 – 5152 ou entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (Av
Antônio Carlos, 6627. Pampulha, Unidade Administrativa II – 2º andar. Sala 2005 / Telefone:
(31)3409-4592).
Diante dos esclarecimentos sobre os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa, concordo
em participar desse estudo e consinto em responder ao protocolo de análise perceptiva e também
que os dados obtidos sejam apresentados e publicados em revistas científicas.
Belo Horizonte, _____ de __________________ de _______.
_______________________________________________ Assinatura do participante ______________________________________________ Juliana Preisser de Godoy e Silva (Mestranda em Estudos Linguísticos)
158
ANEXO 7 Cada enunciado que você escutará foi extraído de uma situação. Coloque-se no lugar da pessoa que os produziu e me diga o que você quis dizer com cada um dos enunciados. Frase 001 ________________________ Frase 002 ________________________ Frase 003 ________________________ Frase 004 ________________________ Frase 005 _________________________ Frase 006 _________________________ Frase 007 _________________________ Frase 008 _________________________ Frase 009 _________________________ Frase 010 _________________________ Frase 011 _________________________ Frase 012 _________________________
Frase 013 ________________________ Frase 014 ________________________ Frase 015 ________________________ Frase 016 ________________________ Frase 017 _________________________ Frase 018 _________________________ Frase 019 _________________________ Frase 020 _________________________ Frase 021 _________________________ Frase 022 _________________________ Frase 023 _________________________ Frase 024 _________________________ Frase 025 ________________________ Frase 026 ________________________ Frase 027 ________________________
159
Frase 028 ________________________ Frase 029 _________________________ Frase 030 _________________________ Frase 031 _________________________ Frase 032 _________________________ Frase 033 _________________________ Frase 034 _________________________ Frase 035 _________________________ Frase 036 _________________________ Frase 037 ________________________ Frase 038 ________________________ Frase 039 ________________________ Frase 040 ________________________ Frase 041 _________________________ Frase 042 _________________________ Frase 043 _________________________
Frase 044 _________________________ Frase 045 _________________________ Frase 046 _________________________ Frase 047 _________________________ Frase 048 _________________________ Frase 049 ________________________ Frase 050 ________________________ Frase 051 ________________________ Frase 052 ________________________ Frase 053 _________________________ Frase 054 _________________________ Frase 055 _________________________ Frase 056 _________________________ Frase 057 _________________________ Frase 058 _________________________
160
Frase 059 _________________________
Frase 060 _________________________
Frase 061 _________________________ Frase 062 _________________________ Frase 063 _________________________ Frase 064 _________________________ Frase 065 _________________________ Frase 066 _________________________ Frase 067 _________________________ Frase 068 ________________________ Frase 069 ________________________ Frase 070 ________________________ Frase 071 ________________________ Frase 072 _________________________ Frase 073 _________________________ Frase 074 _________________________
Frase 075 _________________________ Frase 076 _________________________ Frase 077 _________________________ Frase 078 _________________________ Frase 079 _________________________ Frase 080 ________________________ Frase 081 ________________________ Frase 082 ________________________ Frase 083 ________________________ Frase 084 _________________________ Frase 085 _________________________ Frase 086 _________________________ Frase 087 _________________________ Frase 088 _________________________
161
Frase 089 _________________________
Frase 090 _________________________ Frase 091 _________________________ Frase 092 _________________________ Frase 093 _________________________ Frase 094 _________________________ Frase 095 _________________________ Frase 096 _________________________ Frase 097 _________________________ Frase 098 _________________________ Frase 099 ________________________ Frase 100 ________________________
162
ANEXO 8
Escute atentamente os enunciados e marque um “x” na opção que você achar
mais adequada:
Frase 001
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 002
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 003
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 004
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 005
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 006
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 007
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 008
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 009
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 010
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 011
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 012
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 013
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
163
Frase 014
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 015
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 016
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 017
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 018
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 019
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 020
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 021
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 022
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 023
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 024
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 025
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 026
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 027
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 028
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
164
Frase 029
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 030
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 031
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 032
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 033
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 034
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 035
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 036
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 037
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 038
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 039
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
Frase 040
( ) dúvida ( ) surpresa ( ) interesse ( ) N.D.A
165
ANEXO 9
Escute atentamente os enunciados e marque um “x” na opção que você achar
mais adequada:
Frase 001
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 002
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 003
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 004
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 005
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 006
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 007
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 008
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 009
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 010
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 011
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 012
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
166
Frase 013
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 014
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 015
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 016
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 017
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 018
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 019
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 020
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 021
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 022
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 023
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 024
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 025
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 026
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 027
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
167
Frase 028
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 029
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 030
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 031
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 032
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 033
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 034
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 035
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 036
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 037
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 038
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 039
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
Frase 040
( ) autoridade ( )certeza ( ) desinteresse ( ) N.D.A
168
ANEXO 10 Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à certeza (Juiz 5 ao Juiz 8)
FRASE Juiz 5 Juiz 6 Juiz 7 Juiz 8
4 certeza afirmação veemente certeza afirmação
7 certeza afirmação afirmação afirmação
9 **** afirmação justificativa incerteza
12 pressa/certeza afirmação afirmação afirmação
13 certeza razão justificativa incerteza
14 raiva indignação nervosismo raiva/indignação
16 autoridade ameaça punição ênfase
21 certeza culpa justificativa afirmação
23 precisão afirmação afirmação afirmação
27 certeza afirmação veemente afirmação raiva
30 certeza afirmação justificativa afirmação
33 certeza afirmação afirmação afirmação
37 certeza certeza afirmação afirmação
40 narração certeza com pesar esperança incerteza
42 raiva/autoridade indignação afirmação indignação
48 precisão certeza certeza/sinceridade dúvida
49 narração alegre certeza certeza afirmação
51 carinho afirmação paixão incerteza
53 certeza certeza justificativa afirmação
54 incerteza afirmação justificativa afirmação
58 indignação indignação justificativa indignação
61 indignação certeza justificativa afirmação
62 incerteza certeza certeza afirmação
64 certeza certeza afirmação incerteza
68 afirmação afirmação bravo certeza
70 afirmação afirmação impaciência afirmação
71 autoridade certeza afirmação certeza
73 certeza **** justificativa indignação
74 certeza afirmação punição afirmação
76 certeza certeza justificativa afirmação
77 certeza indignação impaciência incerteza
79 afirmação afirmação afirmação afirmação
81 reforço à afirmação afirmação pena certeza
85 incerteza certeza afirmação certeza
88 finalização certeza certeza ênfase
90 certeza certeza afirmação certeza
93 certeza **** justificativa afirmação
95 afirmação despreocupação indignação dúvida
96 firmeza certeza afirmação afirmação
98 certeza certeza afirmação afirmação
169
Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à dúvida (Juiz 5 ao Juiz 8)
FRASE Juiz 5 Juiz 6 Juiz 7 Juiz 8
2 **** afirmação/indignação justificativa incerteza
3 incerteza Afirmação confidência dúvida
6 incerteza Descaso incerteza incerteza
11 incerteza/tristeza Mentira ansiedade raiva
15 certeza Afirmação indiferença afirmação
17 dúvida Afirmação afirmação incerteza
18 imprecisão Certeza certeza incerteza
19 fraqueza Afirmação justificativa incerteza
22 dúvida Recordação mentira dúvida
25 dúvida Afirmação medo incerteza
26 certeza afirmação justificativa incerteza
28 dúvida dúvida dúvida dúvida
29 incerteza seguida de certeza afirmação mentira afirmação
31 certeza/calma afirmação certeza incerteza
32 dúvida/tristeza incerteza dúvida dúvida
34 incerteza afirmação justificativa indiferença
36 dúvida incerteza dúvida dúvida
38 dúvida dúvida justificativa dúvida
39 incerteza afirmação certeza afirmação
43 dúvida/tristeza afirmação timidez incerteza
44 dúvida pergunta dúvida dúvida
46 certeza certeza justificativa afirmação
47 inferioridade Pesar justificativa indignação
52 dúvida dúvida dúvida dúvida
55 continuidade pergunta questionamento incerteza
56 certeza/alegria certeza afirmação afirmação
60 dúvida dúvida/pergunta dúvida dúvida
63 dúvida dúvida dúvida dúvida/indignação
65 falta de convicção incerteza incerteza mentira
67 esclarecendo certeza punição certeza
75 certeza dúvida afirmação incerteza
78 certeza incerteza justificativa afirmação
80 incerteza incerteza mentira dúvida
82 incerteza dúvida justificativa indiferença
84 contrariedade certeza justificativa certeza
86 afirmação afirmação afirmação afirmação
89 incerteza mentira ansiedade medo
91 incerteza incerteza medo insegurança
97 imprecisão mentira nervosismo incerteza
100 imprecisão incerteza incerteza incerteza
170
Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à certeza (Juízes 9 e 10)
FRASE Juiz 9 Juiz 10
4 reiteração após dúvida certeza
7 certeza afirmação
9 afirmativa reforçada deixa claro que não se esqueceu
12 descompromisso como se perguntasse a outro se viu o que foi feito
13 mostrar que fez o que tinha pra fazer afirmando que fez como se algo tivesse dado errado
14 nervosismo suspeito afirmação diante de uma dúvida
16 crítica tranqüilizando alguém
21 fuga da responsabilidade alguém declarando não ser culpado por algo acontecido
23 impaciência resposta frente a uma dúvida
27 certeza certeza
30 fuga da responsabilidade indignação
33 fuga da responsabilidade ****
37 convencimento afirmação
40 decepção certeza
42 nervosismo certeza
48 raiva certeza
49 dando noticias tranqüilizando alguém
51 resposta normal serenidade
53 impaciência comunicado
54 resposta a um superior declaração
58 nervosismo afirmação frente a uma dúvida
61 indicação segura que não foi o motivo do problema afirmação frente a uma dúvida
62 **** confirmação
64 firmeza para não deixar dúvidas confirmação
68 impaciência impaciência por repetição de resposta
70 mostra a conclusão lógica da própria argumentação expressando não poder fazer mais nada além do que já fez
71 impaciência por estar sendo colocado em dúvida ênfase
73 inseguro por estar sendo acusado afirmação frente a uma dúvida
74 fuga da responsabilidade afirmação simples
76 eximindo-se da culpa certeza
77 medo da acusação impaciência
79 envergonhado declaração tranqüila/segura
81 discordância com o interlocutor segurança
85 Pressão medo
88 Tranqüilizador confirmação
90 indicação segura que não foi o motivo do problema afirmação
93 indicação segura que não foi o motivo do problema eximindo-se da culpa
95 Impaciência tranqüilidade
96 Impaciência afirmação
98 culpando um terceiro confirmação com ênfase
171
Descrições apresentadas para os enunciados correspondentes à dúvida (Juízes 9 e 10)
FRASE Juiz 9 Juiz 10
2 resposta sob pressão declara com medo , como se houvesse desconfiança do outro
3 tentativa de recordar-se se fez ou não Dúvida
6 amenizando a crítica declaração sem entusiasmo
11 Mentira parece mentira
15 esclarecimento de fato imprevisto declaração seguida de incerteza
17 **** Dúvida
18 Incerteza opinião própria
19 **** ***
22 resposta sob pressão resposta frente a uma acusação
25 tentativa de recordar-se se fez ou não receio de ter feito errado
26 resposta sob pressão incerteza
28 forte dúvida sobre se fez ou não pergunta a alguém como se não se lembrasse
29 dúvida seguida de certeza declara tentando se lembrar
31 **** afirma com sentimento real
32 Incerteza fez algo que não devia ter feito
34 fala intimidada ****
36 não quer se comprometer afirma em segredo
38 Assustado timidez/medo
39 dando más noticias pedido de confirmação
43 Medo como se não acreditasse no que fez e não se lembra
44 pergunta receosa sobre resposta Dúvida
46 tentativa leve de convencer Certeza
47 auto defesa/intimidada Timidez
52 pensando alto sobre algo que veio à mente Dúvida
55 pergunta impaciente Dúvida
56 Resposta comunicado
60 incerteza leve Dúvida
63 Cautela Dúvida
65 não quer se comprometer desinteresse
67 Ironia incredulidade
75 Certeza Dúvida
78 Inseguro Mentira
80 pego de surpresa com a pergunta Dúvida
82 Tranqüilidade dúvida/estranheza
84 Medo Dúvida
86 aflição leve afirmação frente a negação
89 Hesitação incerteza
91 Inseguro nervosismo/apreensão
97 Medo preguiça
100 Hesitação incerteza
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