ANDANÇAS
Sérgio Clos
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obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou
qualquer fim comercial.
Publicação digital
ÍNDICE
INTRODUÇÃO - 5
TERCEIRA IDADE - 6
CENTENÁRIOS - 7
É SÓ UM CAFEZINHO - 8
LÁGRIMAS - 9
CARTA RESPOSTA - 10
INEXORABILIDADE - 12
TEORIA DO NÃO TEMPO - 13
AOS AMIGOS REFAPIANOS - 14
APESAR - 15
BRIGADEIRO “CINCO ESTRELAS” - 16
CIÊNCIAS EXATAS - 17
CRUZADA PARA SALVAR O BRASIL - 18
ENCANTO - 20
ENTRE ACERTOS E EQUÍVOCOS - 21
FELICIDADE - 22
E O VENTO LEVOU! - 25
TRES PONTINHOS - 27
NOSSA TABA - 28
O MONGE, A VACA E OS VELHINHOS - 30
SEMPRE FUI UM PAI “AUSENTE” - 31
SE FOR PARA AMAR, QUE AME ATÉ O FIM - 32
AOS AMIGOS QUE PARTEM ANTES DE NÓS - 33
VIDA SOFRIDA DE ADOLESCENTE NA DÉCADA DE 60 – PARTE UM - 34
VIDA SOFRIDA DE ADOLESCENTE NA DÉCADA DE 60 – PARTE DOIS - 36
Trecho do livro “A MALEABILIDADE DO TEMPO” (SÉRGIO CLOS) - 38
SERES HUMANOS - 39
REBELIÃO DAS BENGALAS - 41
MAS BAH! TÔ TRI INVOCADO! - 43
MUSOS E MUSAS - 44
IDOSO PARA ADOÇÃO - 45
FAXINA MENTAL - 46
A IMAGEM - 47
ENTRE GUARANÁS E GRAPETTES - 49
CUIDADOS PALIATIVOS - 51
ATENA E NÓS - 52
ATÉ QUANDO EU VIVEREI? - 54
PORQUE A AMIZADE É MAIS IMPORTANTE QUE O AMOR? - 56
A TEORIA E A PRÁTICA - 58
DO OUTRO LADO DA VIDRAÇA - 60
AMOR PLATÔNICO - 61
HUMANOS-RATOS DE LABORATÓRIO - 62
EU GOSTARIA - 64
O QUINTAL DA CASA GRANDE - 66
O AMOR NA ENVELHESCÊNCIA - 68
HOLOCAUSTO BRASILEIRO (VERSÃO MODERNA) - 69
RESPOSTA À CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA - 71
EU NÃO ACREDITO NAS NOTÍCIAS! - 73
PRÁTICAS DELITIVAS, IMORALIDADES E MENTIRAS - 75
ENTRE O MAR E O ROCHEDO - 77
PACATO CIDADÃO E AS COISAS MIÚDAS - 79
MEMÓRIA - 81
COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA - 82
CTI - 83
CUIDEM DOS SEUS IDOSOS - 84
MEU RETORNO - 86
PEQUENO MANIFESTO - 88
DIA DO IDOSO - 90
A ÉTICA E O CARÁTER - 92
DEPRESSÃO - 94
O RELÓGIO DA VIDA - 96
TROCANDO EM MIÚDOS - 98
INTRODUÇÃO
Vivo andando pelas letras e tentando domar as palavras.
Neste caminhar as coisas vão se ajeitando e as opiniões se firmando.
Talvez desgoste alguns, mas tenho a convicção de que os parceiros são
muitos. É assim a vida.
Opinião sobre tudo é sempre positiva e vai-se quebrando um
paradigma aqui e outro ali.
Se milhões pensam diferente de ti, pode ser que tu estejas certo. Afinal,
pensar é uma prerrogativa que não podemos dispensar.
Minhas crônicas são simples e mostram o dia a dia comum a todos, não
tenho dúvidas.
TERCEIRA IDADE
O que é a terceira idade?
Como somos deterministas de carteirinha, fomos logo estipulando que é
a partir dos sessenta anos.
Se estivéssemos lá em 1900, certamente seria depois dos quarenta, pois
a expectativa de vida era muito baixa.
Morríamos de doenças que hoje já foram debeladas. E, é certo também
que, a demência, o Alzheimer, câncer e outras doenças ditas modernas, não
nos atingiam e nem sequer eram tão conhecidas. O fenecimento chegava
primeiro.
A qualidade de vida dos velhos (que eram novos) era razoável porque
ainda eram ativos integralmente. Boa parte pelo menos.
Einstein morreu produzindo; Mozart morreu compondo assim como
Beethoven. Edison ainda trabalhava.
E, é o que, no frigir dos ovos, dá sentido à vida: a atividade.
E, a vida longeva também é vida!
Somos idosos a partir dos sessenta para efeitos mais legais do que reais.
Os sessentões são guris enrugados!
As sessentonas são gurias cheias de vida! Imaginem uma sessentona no
século dezenove?
Não imaginem, não havia. Envelheciam aos quarenta.
Então, para celebrar a velhice, vamos nos divertir.
CENTENÁRIOS
Deus foi bom com a gente. Nos fez viver por apenas cem anos, no
máximo.
Se Ele nos tivesse dado a condição de vivermos quatrocentos anos ou
mais, ou sofreríamos em demasia ou viveríamos numa eterna paz por comprender melhor os fatos históricos. Certo é que não cometeríamos sempre
os mesmos erros.
Quando a Europa invadiu a África, há poucas décadas, deveria prever o
que aconteceria mais tarde. As crueldades praticadas pelos franceses não seriam esquecidas tão facilmente.
Quando a Europa escravisou os africanos numa escala desenfreiada e os
vendeu para a América, certamente colheria os frutos mais tarde. Um, dois ou três séculos são muito pouco na trajetória humana.
Há bem pouco tempo os EUA invadiram o Iraque e Afeganistão. Foi
mostrado ao vivo na televisão. Tudo que se movia no solo foi
bombardeado(crianças, mulheres, idosos,etc.) A carnificina veio pelo ar e por terra. O mesmo que fizeram no Vietnam e na Coréia, mas foram derrotados.
Esses dois países foram divididos e a questão encerrou-se.
Diferente do Oriente Médio, a questão não foi resolvida. Pior, é um povo milenar e acostumado aos conflitos eternos.
Os EUA são uma nação nova e neste rítmo, o de correr extremos riscos,
jamais se tornará uma grande Roma, Império Persa, Império Otomano ou
Império Chinês. Todo o predador em algum momento se torna a presa. A França, historicamente, sempre adorou cortar cabeças e foi a que
mais as cortou!
A Inglaterra as decepava com um machado. A Espanha aplicava o garrote e mais antigamente queimava pessoas em
grandes fogueiras.
Os EUA em toda a sua história adorava pendurar corpos,
principalmente dos negros, aqueles mesmos que ajudaram a construir a grande nação.
A Igreja praticava horríveis torturas entes de queimar na fogueira, tudo
em nome de Deus. Para os “brancos” e a Igreja, os negros não tinham alma e, por isso, não
eram considerados pessoas.
Se consultarmos as estatísticas, constataremos que os ocidentais
também não respeitam as mulheres. A cada dia são assassinadas 11 mulheres no Brasil. O número de agressões são incontáveis!
Eis a razão pela qual Deus nos deu no máximo um século de vida: Para
poupar-nos de sofrimentos.
É SÓ UM CAFEZINHO!
Quando um corpo rejeita um novo órgão é para preservar a si.
É uma sábia defesa.
Quando a rejeição é emocional, ela é insensata, pois se baseia em
premissa falsa. As pessoas entendem que se preservam, mas não sabem
exatamente do que é. Os rejeitados imaginam mil conjecturas e nenhuma
abarca qualquer razão.
Os amigos são joias raras. Rejeitar é abrir mão da convivência, do bom
papo, do ombro amigo, do companheirismo e principalmente da lealdade(algo
raro hoje em dia).
Se escolhermos amigos pela idade, pelo sexo, pela estética e pela
condição social, certamente, perdemos a noção do que é amizade.
O amigo é uma marca indelével na trajetória humana.
A civilização evoluiu porque as relações humanas foram de amizade.
Povos que tiveram relações por interesse, a maioria sucumbiu.
Então, quando algum amigo lhe convidar para um cafezinho, aceite.
Um cafezinho com um amigo é mais que um banquete, é um evento!
LÁGRIMAS
Em que pese toda a parafernália tecnológica para observar o
comportamento do cérebro nos eventos de grandes emoções, os resultados
nem se comparam a lágrima. Ela é uma manifestação simples e
inquestionável, graças à sabedoria da natureza.
Este líquido cristalino, nem doce e nem salgado, nos denuncia sempre.
Alguns dizem que os olhos são a janela da alma, e o são na prática. Os
olhos demonstram a nossa alegria, tristeza, depressão, felicidade, saudade,
verdade e mentira.
Olhar nos olhos é perscrutar o interno das pessoas. Não há como
disfarçar.
Quando encontramos um amigo que há muito não víamos, nossos olhos
marejam.
Quando atingimos o objetivo por qual tanto lutamos, nossos olhos
fulgem de satisfação.
Quando a música é bonita e nos leva ao passado, nossos olhos
lacrimejam.
Quando perdemos um ente querido, o choro a cântaros nos lava a alma
literalmente.
Os olhos denunciam o medo e o pavor. Denunciam a esperança e falta
dela.
Todos os meios inventados pelo homem e todos os conhecimentos
adquiridos, ainda não foram capazes de explicar as reações cerebrais
mostradas na tela do olho humano.
É a prova definitiva de que a subjetividade emocional influi
sobremaneira sobre o corpo físico.
As lágrimas explanadas sob o ponto de vista puramente biológico e
científico não tem graça nenhuma. A lágrima é a certeza de que somos muito
mais do que uma máquina de carne a produzir células.
QUANDO TRISTES EVENTOS ACONTECEM NO MUNDO, NÓS
DERRAMAMOS MUITAS LÁGRIMAS.
O brilho, o marejar e a lágrima são expressões máximas de
humanidade.
O choro alivia. O não chorar sentencia. As lágrimas são a
materialização dos sentimentos.
CARTA RESPOSTA
Caro Senhor:
Sobre o texto que o senhor apresentou-me com o intuito, talvez de
doutrinar-me, cabe uma reflexão particular:
Quem somos nós, ou, aliás, quem sou eu para discordar de tão
importante figura nas suas manifestações (Kardec), pois, ao contrário do que
possa parecer, ainda sigo a risca o seu conselho de sempre estudar e ter uma
postura crítica a respeito de tudo.
Na afirmação:
“Quando Francisco Cândido Xavier desencarnou, JESUS veio buscá-lo
pessoalmente e que o maior sensitivo que habitava entre nós e Allan Kardec é
a mesma personalidade”, tenho algo a dizer:
Kardec e Chico viveram em momentos diferentes, e poderiam,
discordando do seu texto, terem personalidades similares, não iguais. A
personalidade é construída ao longo da vivência física como mais um fator da
individualidade. Ela é única e pertence ao mundo físico.
Kardec viveu num país de cultura diversa a nossa e, alguns aspectos
culturais nos são muito estranhos.
Pelo que consta, o ilustre personagem nunca teve a real preocupação
com a política colonizadora e exploradora do seu país. A França foi um algoz
cruel principalmente com os irmãos africanos.
Nessa época a submissão feminina era cultural.
Estávamos em plena escravidão enquanto o eminente escritor montava
seus escritos. Não nos consta que a tenha combatido.
Tal comportamento também é igual aos antigos budistas que
consideravam a mulher inferior e aceitavam a cultura da servidão.
Chico era mais evoluído, pois o momento era outro, logo as suas
personalidades jamais poderiam ser iguais.
Kardec usou como argamassa o catolicismo para construir as bases do
espiritismo.
Chico continuou nessa linha.
O texto afirma que Kardec e Chico eram “um só espírito”.
Tal tese corrobora com a minha tese da fragmentação do espírito, mas
não entendo que um possa ser o outro na sua plenitude. NÃO MESMO!
Estamos no século 21 e ainda não definimos se o Espiritismo é ciência,
doutrina ou filosofia. Falarmos em espiritismo científico é muito para o meu
entendimento.
Não há como tratar o que é físico de maneira espiritual e o que é
subjetivo de maneira física.
Os espaços são diferentes. Os tempos são diferentes. As dimensões são
diferentes.
Neste caminhar, tudo é uma incógnita e devemos ter muito cuidado
com os dogmas. Nosso cérebro só percebe o que pertence a nossa dimensão.
Quando o senhor afirma que Jesus veio buscar o maior sensitivo
brasileiro, comprova-se de maneira contundente o quanto o Espiritismo é
enraizado no Catolicismo.
Se Jesus é o ícone mais importante do Espiritismo, estamos tratando de
uma religião, doutrina ou filosofia sectária. Ou, O ESPIRITISMO É O FILHO
REBELDE DO CATOLICISMO.
Quanto às psicografias, bem, isto merece outra reflexão...
Grande abraço!
INEXORABILIDADE
Eles se foram...
Parece que foi ontem, nem vi o tempo passar.
Voltei no tempo quando pegava a lista de material escolar, era uma
aventura. As livrarias eram poucas, mas era grande o prazer de comprar tudo novinho para eles. Tinha até uniforme.
Entre idas e vindas os anos correram com uma pressa cruel. Quando
acordei já estavam barbudos e passando as noites fora.
Fui me acomodando, acho que até acomodei-me em demasia. Abalei-me quando saíram de casa, quase não acreditei.
Eu queria que eles fossem doutores, mas eles escolheram outros
caminhos, todos nobres. Eduquei bem. A rabugice e a artrite tomaram conta da minha vivência, mas não estou
me queixando. O corpo é assim mesmo.
Às vezes falo com as paredes, as mesmas que um dia assistiram comigo
o alvoroço infantil deles. Foi um longo caminho num curto espaço de tempo.
Vieram os netos. Nasci de novo.
Esses eu vou estragar, pois não tenho mais a responsabilidade de prepará-los para o mundo. Será a minha peraltice de avó. Os pais que os
consertem!
Os amores incondicionais voltam à tona.
Quero aproveitar esses momentos com intensidade, pois sei que um dia eles irão também. Sou egoísta e os quero só para mim, enquanto puder.
Os fantasmas da partida estão à espreita.
Netos são diferentes, nunca partem. Alguns se tornam ausentes quando crescem. Faz parte. Já estou preparada.
Quando eles vierem visitar-me, farei um gostoso bolo de chocolate,
farei agrados mil, enquanto puder.
Cumpri bem a minha etapa de mãe e estou indo bem como avó. Entretanto, tem uma pessoa que precisa muito de mim, e há muito tempo ela
me acena querendo ter uma conversinha no pé do ouvido comigo. Até então
não havia dado importância. Mas ela insiste. É o meu lado Eu Só, a Esquecida, a Verdadeira, a Eusinha, Eu no meu espelho:
- Cumpriste bem a parte em um dos acordos que fizemos juntas.
Parabéns. E o outro combinado?
- Como assim? - Talvez tenhas esquecido, combinamos que jamais iria esquecer-se de
mim...
Assinado: Avó.
TEORIA DO NÃO TEMPO
MESMO QUE MIL PESSOAS PENSEM DIFERENTE DE VOCÊ, VOCÊ PODE ESTAR CERTO.
MESMOS QUE UM MILHÃO DE PESSOAS PENSEM AO
CONTRÁRIO DE VOCÊ, VOCÊ PODE ESTAR CERTO.
MUITAS VEZES VOCÊ ESTÁ CERTO. ESTE É O LADO BOM DA CONVIVÊNCIA HUMANA. NÃO
PERCAMOS A ESPERANÇA.
Mesmo que milhões de pessoas sigam uma mesma crença, recheada de
dogmas e fantasias surreais, não esmoreça. Não é o seu papel convencê-las de que estão equivocadas. Viverão e morrerão nessa ilusão e não lhe afetará.
Siga o seu caminho.
O tempo é uma criação humana. É absurdamente fantástica esta afirmação, mas o homem teve a ousadia
de solucionar o porquê dos eventos que se repetiam na natureza.
Os animais não percebem além dos eventos, e não os coloca em ordem.
A mente humana criou o tempo para poder entender os eventos. O tempo é uma ferramenta.
E é tão maleável que muitas vezes dizemos não ter tempo; o tempo
passa depressa; o tempo se arrasta; já foi o tempo; tempos bons. Etc. É uma “entidade” criada pela mente humana.
Quando estudamos a relação tempo-espaço e inferimos inúmeras
teorias, literalmente damos um nó no cérebro dos menos avisados.
Criamos algo e este ficou indomável. O dividimos em três partes, das quais também não conseguimos exercer o poder. Olhamos para o passado e o
repaginamos ao nosso bel prazer. Não temos a certeza do futuro, mas,
também não percebemos o presente, pois estamos eternamente construindo um passado.
Atribuímos números, que também inventamos para organizar as coisas
do mundo físico, para calcular o espaço e o tempo. Fomos mais além.
Entendemos que tais invenções fossem atribuídas a outros mundos subjetivos, que também conjecturamos, concluímos que assim fosse.
São mares desconhecidos, que podem (quase certo) não obedecerem às
mesmas “regras”. Cantamos aos quatro cantos sobre a grandeza da Criação, mas
esquecemos da grandeza do ser humano, principalmente com relação ao seu
cérebro. Este sim é um mar desconhecido.
Enquanto não desvendarmos por completo o cérebro humano, tudo é teoria.
Por isso, pensar e refletir sobre o tempo e o cérebro nos trará mais luz e
muitas muralhas irão ruir.
AOS AMIGOS REFAPIANOS
Foi realmente um tempo bom.
Entrei na Refinaria Alberto Pasqualini da Petrobrás em 1974 e me
aposentei em 1993.
Foram 20 anos de uma carreira exitosa. Fiz amigos, e, como o tempo e as distâncias inexistem quando há amizade, os vejo hoje com a mesma
amizade, mesmo no mundo virtual. Claro que, assim como em mim, o tempo
fez alguns estragos, tanto que um dos amigos não me reconheceu. Tudo bem.
Faz parte. Têm alguns que já não reconheço mais também. E jamais vou dizer-lhes pessoalmente, pois eu tenho espelho em casa. E a minha alegria é
ver que muitos foram bem sucedidos em suas carreiras. Mas a minha maior
alegria é ver que os meus “chegados” com os quais trabalhei estes vinte anos, obtiveram sucesso, graças as suas competências e o amor pelo que faziam. E
passou. Agora são outros quinhentos. Já não estão mais na empresa e vejo
que ainda conservam o amor por ela. É natural e patriótico. Sempre houve
orgulho em trabalhar no “Petróleo Brasileiro SA.” FORAM OUTROS TEMPOS!
Não havia computadores e a instrumentação era toda pneumática. Os
mais novos vão rir disso. E era isto mesmo. Os bits de hoje eram o ar soprando nos tubinhos de cobre e que fazia funcionar aquela fábrica de
gasolina. Riem a vontade. O que controlava tudo eram bico soprando ar sobre
uma palheta, diafragmas, molas e a mão firme dos operadores.
O compressor de ar era o coração da Unidade. E a nafta, querosene e outros, saiam de lá com ótima qualidade.
Nas paradas programadas de manutenção, todos pegavam juntos dia e
noite para cumprir os prazos. Os Técnicos eram todos competentes.
Todos eram unidos para um mesmo objetivo: cumprir as metas de
produção. Do montador de andaime até o Superintendente.
Não havia contratados de empreiteiras fazendo o nosso trabalho. Até nem sei se foi uma boa ideia adotar esse sistema.
Era um tempo em que não havia celular, computador e muito menos
Facebook. Quem imaginaria tudo isto que aconteceu com a tecnologia. Nos meados da década de 80, em uma das reuniões com o chefe do
setor, ele falou-nos dessa tal de internet. A gente achava que ele estava
delirando. Mas como era o chefe, tivemos que acreditar.
Deu no que deu. Que bom! Bico e palheta pertencem agora ao museu. Espero que a competência
dos Técnicos não tenha ficado obsoleta também.
Até tenho medo de perguntar como está lá hoje. Entretanto, espero que amizade jamais acabe em um museu.
Abraços aos antigos colegas.
APESAR
Apesar dos pesares, a vida continua.
Apesar de eu ter acordado com os “bofes azedos”, a vida continua.
Apesar da guarda da cama do vizinho bater na minha parede e sua
mulher ficar gritando durante toda a noite: Vai, vai, agora, não para! A vida
continua.
Apesar de o telefone tocar todos os dias e lá do outro lado, uma moça
com sotaque estranho dizer que não acusou nenhum recebimento de uma
conta que atrasei, a vida continua.
Apesar de eu ter pagado uma internet rápida e ela continuar lenta, a
vida continua.
Apesar de eu estufar o peito e encolher a barriga quando entro no
elevador com a gostosa do apto 405 para que ela me note e ao se despedir ela
diz: Tchau vovô! A vida continua.
Apesar de eu ir pra fila dos idosos lá no banco e ela demorar mais do
que a outra fila, a vida continua.
Apesar de que nas duas vezes que faço sexo no ano, na primeira fico
com os pés gelados e na segunda eu tomo um baita suador, e não tenha
reparado que a primeira é no inverno e segunda é no verão, a vida continua.
Apesar de eu ir ao supermercado e esquecer a metade das compras que
minha mulher pediu, a vida continua.
Apesar de tudo isto e muito mais, a vida continua.
E eu nada tenho a ver com isto, a vida continua e me leva para onde ela
quiser. Eu sou apenas uma parasita dela.
BRIGADEIRO “CINCO ESTRELAS”
Pois não é que me incomodei!
Foi numa quinta feira, dia 30 de Julho. Estava eu em Cidreira, a melhor
praia do Rio Grande do Sul. Era perto ao meio dia e havia uns jatos da FAB
sobrevoando a área. Podia ser algum exercício, talvez.
Era hora do almoço e aquela barulheira estava deixando-me nervoso.
Sentei a mesa e ao me servir, de novo, iam e voltavam, e eu comecei ficar
irritado.
Levantei-me e fui para o pátio e olhava o céu, só ouvia o barulho, meio
“cegueta” não conseguia enxergar as máquinas.
Pensei cá com os meus botões: será que esse pessoal não tem hora de
almoço ou o fuso horário deles entre Canoas e Cidreira é diferente. Peguei o
celular e liguei pra Base Aérea de Canoas: - Alô! É da Base?
- Sim.
- Quero falar com o comandante.
- Um momentinho.
- Comandante, aqui é o 70-120 Clos, estou aqui em Cidreira tentando
almoçar em paz e tem um pessoal teu fazendo barulho na minha cabeça. Pede
para dar um tempo, não é hora para operações, comandante!
Do outro lado da linha foi um silêncio estarrecedor de meia dúzia de
segundos, até imagino o que o comandante estaria pensando: Esse cara ou é
louco ou “está-me zuando”. Pois, também por esse número, que só pode ser
da Escola de Cadetes, o cara já é Tenente-Brigadeiro ou mais. Na dúvida...
- Tudo bem senhor, vou mandar os meninos de volta.
- Obrigado comandante.
Minha mulher estava me fitando e de queixo caído disse:
- Eu não acredito que tu fizeste isto! Quando a gente voltar para Porto
Alegre, vamos direto ao Geriatra trocar a tua medicação por uma mais
potente!
Passaram alguns minutos, um barulho foi crescendo, crescendo, um dos
jatos deu um rasante que estremeceu a cidade. Corri lá fora pra mostrar o
dedo médio em riste, mas já era tarde, ele tinha sumido no horizonte.
Depois disto almocei em paz, tomei meu remedinho de tarja preta e fui
tirar a soneca da tarde.
CIÊNCIAS EXATAS
Há quem diga que a matemática seja uma ciência exata.
Discordo veementemente!
Na operação de soma e multiplicação, tudo bem: dois mais dois são
quatro, quatro vezes dois são oito. Sempre dá tudo certinho.
Quando chegamos à divisão, onde dez divididos por três dá três, uma
vírgula e um número infinito de três, entramos numa seara diferente. A coisa
fica ainda mais difícil para a exatidão da matemática quando entramos nos
números imaginários, racionais e por aí vai. Integração, derivadas e outros,
pertencem à filosofia matemática.
Babaus para a exatidão.
Neste quesito as relações humanas são exatas.
Contrariando a muitos, esta certeza nas relações entre pessoas causa
inveja à matemática.
Quando somamos AMOR com RAZÃO o resultado é sempre nulo.
Quando uma mãe divide o seu AMOR entre os seus filhos, o resultado
é sempre AMOR INTEIRO.
Quando se soma AMIZADE com AMOR, o resultado será sempre um
número inexistente, pois é impossível fazer essa soma. E, também não há
como subtrair, dividir e multiplicar, por que são de naturezas diferentes.
A AMIZADE é um número exato e quando somado a outra
AMIZADE, o resultado sempre será o mesmo: AMIZADE.
O ÓDIO é o AMOR ao contrário.
Quando somamos os dois, o resultado será sempre AMOR.
Nunca ocupam o mesmo lugar!
AS CIÊNCIAS HUMANAS SÃO EXATAS.
AS CIÊNCIAS EXATAS SÃO “MAIS OU MENOS”.
CRUZADA ESPIRITUAL PARA SALVAR O
BRASIL
Eu, em nome de todas as crianças, de todos os homens bons e de bons
costumes, de todas as mulheres e de todos os idosos, convoco todas as
falanges do bem que por ventura estiverem no campo mental da pátria
brasileira.
Para que façam um chamamento entre vós no mundo espiritual,
independente da “cor” religiosa, e intercedam urgentemente nos desígnios da
nossa nação.
Que os Exus redobrem esforços no envio de nossas demandas a quem
de direito e poder.
Que os anjos e arcanjos desçam de seus pedestais e partam para uma
empreitada ainda maior, que é a de ajudar o povo brasileiro.
Que Oxalá, junto com Cristo, não nos desampare nesta triste hora.
Que Oxossi guarneça nossas florestas contra os desmandos dos maus.
Que Iansã varra com seus ventos todas as iniquidades dos malfeitores.
Que Iemanjá proteja o nosso mar, pois ele é a nossa reserva de alimento
para o futuro.
Que Ogum nos dê coragem para enfrentar o que de muito ruim nos
aguarda.
Que Iara e Oxum cuidem bem dos lagos e dos rios para que não mais
soframos com a sede.
Que o Santo Padre Cícero, junte-se aos orixás da Bahia e a Nossa
Senhora Aparecida, e, todos nos envolvam com um manto de proteção.
Que Santo Antônio, São Miguel, Erês, São Cosme e São Damião,
unam-se para proteger todas as crianças, o nosso maior patrimônio.
Que a Santa Maria Eufrásia olhe com mais carinho as mulheres
desrespeitadas.
Que Olorum e o Grande Arquiteto parem o Universo por algum tempo
para que os orixás façam uma faxina espiritual e material na nossa pátria.
Não economizaremos nas oferendas, pontos, cânticos e rezas.
Nossos altares e congás estarão iluminados.
Acenderemos muitas velas, incensos e despacharemos muitos ebós.
Nossos templos farão cultos todos os dias.
Que os Babalorixás, Sacerdotes, Pastores e Clérigos, unam-se para uma
causa comum.
Que os Xamãs e Budistas nos dê incentivo com seus cantos.
Entre Colunas estarão também os filhos da Viúva nesta obra.
Que Xangô, o Senhor da Justiça, imponha uma penitência aos culpados
na mesma proporção pelo malfeito, ainda nesta encarnação. E, que Tupã
distribua raios e trovões sobre eles.
Deus, Jeová e Olorum irão nos perdoar. Não daremos a outra face, não
mesmo. E, não nos resignaremos com a desculpa do Carma.
Que o profeta Abraão seja solidário com a nossa causa.
Que nas sinagogas junto com o Torá, sejam feitas as preces para o
bem do Brasil.
Não poderemos ser complacentes. Que se cumpra a Lei da Ação e
Reação, nesta vida.
Rezaremos dia e noite. Recitaremos Mantras e Salmos.
“Om Mani Padme Hum” nos dará o discernimento nesta Grande Tarefa.
Faremos muitas Sutras Sagradas, bateremos muitos atabaques,
tocaremos muitos sinos, rezaremos muitos terços, dançaremos e invocaremos
nossos ancestrais para que nos ajudem. Não descansaremos enquanto a nossa
Pátria não estiver livre destes Juruparis!
Que assim seja. Amém.
ENCANTO
Quando eu era jovem, há bem pouco tempo, encantei-me com a música “Summer Breeze” e isso foi lá em 1973. Estudava eu no antigo “Centro de
Formação de Pilotos Militares” em Natal, Rio Grande do Norte. Essa música
entrou na minha cabeça de tal maneira que, passados mais de quatro décadas,
não me canso de encantar-me com ela. Alem da beleza da música, as circunstâncias fizeram o resto do serviço do encantamento: a juventude, os
sonhos e o lugar paradisíaco.
Nessa época de ouro de nossa vida havia outros encantamentos, novos
amigos, escola, formação, emprego. Por tudo isso nós festejávamos muito. Vieram outras músicas.
Nós encantávamos com pessoas, coisas e fatos.
As coisas foram mudando. Os fatos foram mudando e as pessoas foram se somando à medida que
os anos acumulavam-se sobre os nossos ombros.
Os encantamentos já não eram tão frequentes. Os fatos repetiam-se
teimosamente. As circunstâncias já nem eram tão favoráveis e rareavam. Percebi que o encantamento se dá quando acontece o alinhamento dos
astros, metaforicamente. É àquela hora determinada, naquele lugar especial e
no momento em que a mente está conectada naquele agente, que pode ser pessoa, coisa ou fato. Como os fatos se repetem e as coisas hoje não tem tanto
glamour, restam às pessoas para se encantar.
Nesta altura da vida, são as pessoas que mais nos encantam: os filhos,
os netos e os amigos. Para eles é um “querer bem” incondicional. O encanto é neles, mas não é deles, pertence a nós.
O encanto é uma emoção que tem substância, e, sendo nosso, podemos
fazer dele o que quisermos. Podemos citá-lo, exaltá-lo, brindá-lo, festejá-lo, curti-lo e GUARDÁ-LO. É nosso!
Não raramente o encantamento passa despercebido pela pessoa que é a
razão do encantamento, mas isso não o diminui.
Voltando lá em 73, percebi que as pessoas, coisas e fatos tinham mais intensidade, pois era a época das descobertas.
Hoje, quais são as descobertas? Quais são as novidades? Qual é o
pioneirismo? Existe algo de novo? E é aí que Deus nos surpreende: Ainda existe o tempo de encantar-se, e, essa descoberta é um dos encantos, e o
maior deles é o encanto pelas pessoas.
Por isso que os pais se encantam pelos filhos que nascem; os avós se
encantam pelos netos que nascem; as pessoas encantam-se pelos novos amigos que fazem.
Nessa dinâmica, não são as coisas e fatos que curam as pessoas, são as
pessoas que curam as pessoas. O encanto é unidirecional e não requer reciprocidade, ele é o que é. É
da natureza humana.
ENTRE ACERTOS E EQUÍVOCOS
Estamos no ano de 2015, da Era Vulgar, da Graça, etc.
Foi um ano de diversas descobertas no campo da ciência.
Os empolgados, no calor do proselitismo, estão misturando afoitamente
espiritualidade com nano tubos de carbono que retém a alma nas células
cerebrais, e, quando o corpo morre esta alma é absorvida pelo Universo.
A NASA revelou que em poucos anos teremos contato com alienígenas.
Alguns cientistas ferraram com a Teoria de Einstein quando inferiram
que partículas mudam de comportamento quando observadas.
Outros cientistas que trabalham no Grande Colisor de Hádrons,
disseram estar prestes a atingir outra dimensão naquele experimento.
Tudo isto me faz lembrar a afirmação de Bill Gates em 1982 que: “O
mundo teria somente seis grandes computadores no futuro e que, uma família
precisaria no máximo 700K de capacidade no seu computador”.
Os cientistas da época em que inventaram o automóvel afirmaram com
veemência que “um homem viajando a 30 km/h seria esmagado pela massa de
ar”.
Quem se lembra da Teoria da Geração Espontânea?
Que a Terra era plana?
Que o Sol girava em torno Terra, etc., etc.
Muito cuidado!
Não acreditem imediatamente em tudo o que os cientistas falam. Eles
são assim mesmo e, alguns são movidos pelo ego.
Questione sempre. Reflitam antes de aceitar de pronto.
É provável que eles estejam enganados.
Antes de aventurarem-se na senda da espiritualidade, eles nos devem
uma explicação completa sobre o funcionamento do cérebro.
Senhores! Esqueçam os espíritos e deixem a religião cuidar disto por
enquanto. Não dói nada e nem desmerecerá a capacidade científica atual.
Ainda é cedo.
Muito temos que percorrer.
Não resolvemos a fome no planeta e não erradicamos a miséria. Não
ceifamos de vez o preconceito racial.
Ainda não persuadimos os fundamentalistas sobre a liberdade religiosa.
Não acabamos com a ganância humana.
Não aprendemos a respeitar as mulheres, crianças e velhos.
Temos uma bola azul enorme para explorar e consertar. Temos que
distribuir as riquezas de maneira mais justa.
Nem sequer conseguimos conquistar nossos oceanos!
A alma humana é tão grandiosa que não poderia em nenhuma hipótese
estar dentro de um nano tubo de carbono. Poupe-nos, senhores!
A febre quântica não poderá explicar o espírito. Poupe-nos mais uma
vez!
Hoje, quando saboreava um bom chocolate, de súbito veio na minha
mente de onde poderia ter vindo aquela iguaria. Pela marca, descobri que
vinha das plantações na Costa do Marfim, na África. Pesquisei o assunto e
deparei-me, estarrecido, com rumores de que o cultivo utilizava mão de obra
infantil em regime de quase escravidão. Parei de comer e fitei o horizonte
num devaneio cheio de culpa.
Lembrei-me que a roupa que vestia era oriunda de mão de obra quase
escrava de bolivianos lá em São Paulo.
A picanha que comi ontem foi produto de sofrimento de um animal... O
leite que tomei no café da manhã era de gado confinado.
Essas são equações não resolvidas na existência humana.
O que fazer?
Por enquanto muito pouco...
FELICIDADE
O que torna as pessoas infelizes? Ou, melhor: porque as pessoas são
infelizes?
Para começar, o que é felicidade?
Para uma pessoa tornar-se feliz é de se supor que antes estivesse infeliz
ou indiferente. Entretanto, o conceito de felicidade muitas vezes se confunde
com alegria e satisfação. Vamos ao dicionário: Felicidade é um estado de bem
estar e contentamento. E, para atingir esse estado, uma ação efetivou-se ou
por nossa iniciativa ou por iniciativa de outrem.
Todavia, existem aqueles momentos prazerosos como contemplar o por
do Sol no rio Guaíba, na praia de Ipanema ou na Usina do Gasômetro aqui em
Porto Alegre. É lindo de se ver. Sorvendo um bom chimarrão e admirando o
Sol se pôr lentamente no horizonte. É um bem estar e um estado de
contentamento. É o que a natureza nos oferece: um maravilhoso por do Sol.
Mas, o Sol se põe todos os dias durante a eternidade. Não o vemos
quando está nublado, mas a rotina é eterna.
Toda essa contemplação é sinônima de felicidade, então.
Outro estado de contentamento e bem estar é quando estamos
saboreando um bom churrasco.
Certa vez um vizinho e amigo chegou feliz da vida depois de um fim de
semana de caça. Havia abatido marrecos e perdizes. Mostrou-me o produto da
aventura com o sorriso lá nas orelhas, cheio de orgulho.
Ele estava feliz da vida.
Por um momento senti pena daqueles bichinhos mortos. Que culpas
tiveram para ter uma morte tão triste?
Nós, gaúchos, adoramos churrasco. O gado morre para nos dar alegria.
É assim que funciona.
A mãe onça, quando abate um antílope para dar de comer aos filhotes e
para seu bando deve entrar também num estado de contentamento e bem
estar. O mesmo não acontecerá para a família do animal abatido. É uma triste
perda.
Entretanto, está gravado no tecido espiritual dos seres vivos de todas as
espécies, que a predação é um ato natural e por isso o mecanismo de alerta e
defesa são inerentes a todos eles.
Após um breve lamento, a vida segue e a natureza reestabelece o
equilíbrio.
Nessa dinâmica, a felicidade tem um componente de tristeza.
A mãe leoa sabe que, quando tem um novo chefe no bando, seus
filhotes correm perigo. E, por mais que ela os esconda, o novo macho os
encontrará e irá matá-los. Após um breve lamento ela entrará no cio e
acasalará com o novo macho para ter sua outra prole.
Para os seres vivos e para o ser humano a felicidade não é contínua.
Nunca se é feliz o tempo todo. E esta falta de entendimento é que causa a
infelicidade.
Entretanto, essa contenda de procurar o bem-estar e o estado de
contentamento tem um componente sombrio. É como dizer que a nossa
felicidade depende da infelicidade de outro. Será mesmo?
Dá para concluir que a felicidade não pode ser sinônima de bem estar
ou contentamento, pois, ela, a felicidade, é muita mais sublime que isto.
A FELICIDADE SÓ É REAL SE PROPORCIONAR O BEM A DOIS
AGENTES.
Ajudar alguém que necessita, o deixa feliz e nos deixa feliz também.
Isto é felicidade!
Então, devemos mudar os conceitos: Felicidade, bem-estar e
contentamento não pode ser a mesma coisa!
O SER HUMANO, PARA SER FELIZ, TEM QUE SERVIR E NÃO
“SE” SERVIR.
Pela dinâmica da Criação, é humano SERVIR para ser FELIZ.
E O VENTO LEVOU!
Até que enfim, minha mulher deixou-me ir para balada.
Resumiu tudo. Disse, se eu quiser “cair na gandaia”(como eu fazia
antigamente) ou ir pra esbórnia, problema meu. Ela disse que não está nem aí.
Ufa! Até que enfim!
Vou fazer e acontecer!
A primeira coisa que fiz foi procurar a minha antiga agenda, que
escondi com carinho até hoje. Estava meio amarelada, mas dava para ler os
nomes e telefones. Como hoje tem um dígito a mais, acrescentei o número 3 e
fui ligando. Na primeira ligação que fiz, atendeu uma jovem e perguntou
quem eu era e chamou a Mariazinha:
- Vó, tem “um tal” de Sérgio querendo falar com a senhora.
E a velha gritou lá de longe:
- Mas esse canalha tá vivo ainda?
Aí eu lembrei que há quarenta anos eu a deixei esperando no altar.
Tinha esquecido este detalhe. Mancada minha. (E ela continua me odiando!)
Liguei para outro número:
- Olha “seu Sérgio”, ela não mora mais aqui, a última notícia que tive
dela foi que ela foi para um asilo.
Putz! Mas eu vou conseguir. Alguém vai ter que aceitar sair comigo:
- Alô! Quero falar com a Consuelo! É o Sérgio.
- Oi Sérgio, estava esperando tu ligar, compraste a minha bonequinha?
- Como assim?
- Minha bonequinha de pano para eu brincar.
Desliguei imediatamente. A Consuelo ficou tantã. Que azar o meu!
Estou ficando irritado! Vou conversar com um amigo:
- Oh Cara, tu sabes se o “Encouraçado” funciona ainda?
- Ih rapaz, fechou faz muito tempo.
- E o “Chão de Estrelas”?
- Já fechou também!
- Não me diga que o “Água na Boca” também fechou?
- Pô cara, em que século tu vives? Tá doentinho?
- Sabe o que é: minha mulher liberou-me neste sábado para sair e estou
procurando as amigas e os lugares, mas parece que a cidade está deserta, não
tem mais nada!
- Como, deserta? A cidade está fervendo!
Ainda insisti:
- E a “Taba” lá em Ipanema? Não me diga que fechou também?
- Olha aqui, meu grande amigo ancião, já foi, já deu, é tudo passado.
Fica em casa, senão amanhã tu vai incomodar a tua mulher, com dor na
coluna e nas juntas. Baixa um filme da internet e sossega o facho, criatura.
Vai ser bom para ti. Dou-te uma dica, assiste “E o Vento Levou”, é da tua
época e tu vais gostar... ´
Tá difícil!
TRES PONTINHOS
Há quem diga que os três pontinhos quando colocado no final de uma
frase queira dizer esperança ou algo que ainda não tenha terminado. Pode ser.
Os três pontinhos no final de uma assinatura quer dizer que o detentor
da mesma é um “ocultista”. Pode ser.
Há quem diga que uma base sobre três pontos equilibra-se
perfeitamente como, por exemplo, uma banqueta sobre três pés, não há
superfície irregular que a desequilibre.
E é assim mesmo.
Dá para inferir que três pontos denotam equilíbrio ou algo inacabado,
ao mesmo tempo. É um paradoxo.
E mesmo um paradoxo tem o seu equilíbrio e, é o que o identifica. Três
pontos, quando chamado de reticências, oculta uma clareza de propósitos.
Esse é o lado oculto do paradoxo.
Mandei um e-mail para uma amiga minha:
- Vamos sair esta noite...
Ela escreveu:
- Posso levar o meu marido junto...
NOSSA TABA
Diante de tantas mazelas que o mundo civilizado está enfrentando,
decidi voltar a ser índio.
Embrenhar-me-ei na floresta e não terei mais contato com os brancos.
Tomarei banho no rio.
Andarei pelado.
Colherei remédio na floresta.
Casarei com uma bonita índia. Teremos nossos indiosinhos.
Ela irá para roça e eu irei caçar. Teremos comida em abundância.
Dançaremos, riremos e cantaremos para Tupã.
Homenagearemos os espíritos da floresta. Fumaremos e beberemos.
Quando um índio morrer, ficaremos tristes. Aceitaremos e seguiremos
nossas vidas.
Preocupar-nos-emos quando alguém da tribo adoecer.
Na maior parte do tempo viveremos felizes.
Quando morrermos, iremos para a “Nossa Taba” lá no céu.
Lá, os nossos que morreram antes de nós, estarão nos esperando.
Cantarão para nós. Talvez até dancem o Quarup.
Presentear-nos-ão com penas coloridas e na grande oca haverá redes
confortáveis.
Muitos de outras tribos estarão também.
Não precisaremos mais plantar mandioca, haverá um estoque
interminável de farinha.
Nossa caça será abundante e não precisaremos mais adentrar na floresta
para buscá-la. Não precisaremos mais de flechas e nem zarabatanas, pois
bastará apontarmos o dedo que a caça virá até nós.
O rio será sempre limpo, a nossa canoa será transparente e não
precisaremos mais de remos.
Nossa vida será um paraíso, assim como aqui na floresta.
Aqui sempre vivemos felizes e nada nos falta.
A “Grande Taba”, lá no céu, deve ser a porteira que nos levará pra
junto de Tupã.
Nas nossas conversas de fim de tarde a beira do riacho, o nosso cacique
falou que os brancos talvez não sejam gente, pois quando morrem não vão pra
“Nossa Taba”. Deve ser castigo ou coisa parecida. Aqui embaixo eles
destroem as florestas, contaminam os rios, não respeitam os mais velhos e as
crianças. No passado mataram muitos índios e os obrigavam a adotar sua
religião e cultura. Por onde o branco passa deixa um rastro de destruição.
E é por isso que eles têm que reencarnar para consertar esses malfeitos.
Eles creem em anjos, deuses, demônios, santos e cidades espirituais.
São chamados de crentes, religiosos ou espiritualistas.
Nós, índios, cremos nos espíritos da floresta e em Tupã. E, por isso, os
brancos nos denominam de supersticiosos.
Os brancos destroem a mãe natureza e nós cuidamos dela. É por isso
que Tupã nos escolheu.
Nosso pajé falou certa vez que branco não é gente porque não tem
alma, e, vendo a devastação que ele promoveu, estou quase acreditando.
O MONGE, A VACA E OS VELHINHOS.
Um monge em uma de suas peregrinações chegou a uma casa humilde
onde residia um casal de idosos. Os velhinhos o atenderam com toda atenção
e gentilezas, como era de costume naquelas redondezas, principalmente
quando se tratava de religiosos. Após uma boa conversa e uma farta refeição o
monge despediu-se fazendo reverências como todo budista agradecido.
ATENÇÃO: NÃO PARE DE LER, POIS NÃO SE TRATA
DAQUELA FÁBULA DO MONGE E DA VACA, NA QUAL O MONGE
PARA ENSINAR O DISCÍPULO, EMPURRA A ÚNICA VAQUINHA NO
BARRANCO, OBRIGANDO A FAMÍLIA A TRABALHAR MAIS E
MELHORAR SUA CONDIÇÃO DE VIDA.
Continuando.
O religioso havia observado bem a fazenda, além de uma pequena
horta, enxergou uma vaca. Já com segundas intenções, pensou em como
mudar a situação do lugar e dar uma melhorada na vida daqueles simpáticos
velhinhos. Como já havia feito em outras ocasiões, foi direto ao encontro do
animal. Ao aproximar-se, constatou que na verdade era uma vaca empalhada
e que ostentava um cartaz com os seguintes dizeres:
“Senhor monge, se o senhor pensou em jogar a nossa vaca no barranco,
para depois sair por aí contando que havia feito uma grande coisa nos
obrigando a trabalhar mais para melhorar a nossa condição de vida, enganou-
se redondamente. Primeiro: Tomamos leite de cabra e elas estão espalhadas
por aí. Segundo: Somos felizes com a nossa vidinha e não precisamos de
nenhum monge intrometido! Então, senhor monge, pare de andar por aí
pedindo comida, arrume um emprego e não apareça mais aqui. E, se
aparecer, irá nos encontrar na mesma vida, felizes e satisfeitos.”
SEMPRE FUI UM PAI “AUSENTE”
Pois então, hoje é dia dos pais. E aí lembrei.
O que é ser ausente? A palavra significa afastada, distante e alheia. É
isto.
Sempre fui um pai afastado, distante e alheio. Tenho orgulho disto.
Afastei-me do medo.
Fiquei alheio ao cansaço enquanto trabalhava mais para dar o conforto
aos filhos.
Fiquei alheio à falta de tempo, e sempre acudi quando de mim
precisavam.
Fiquei distante da falta de perspectiva. Ensinei a ter confiança.
Fiquei alheio ao fricote enquanto trocava as fraldas.
Afastei-me da ideia de não dar apoio na escola. Sempre fui o primeiro a
incentivar.
Distanciei-me do temor para aconselhar da maneira adequada. Sempre
dei bons conselhos.
Ausentei-me da ideia de não fazer companhia nas horas boas e ruins.
Estive sempre presente.
E esta “ausência” é bem presente na minha mente. Por isto orgulho-me
de mim mesmo.
Se alguém quiser orgulhar-se de mim também, sintam-se a vontade,
pois ao ego não sou ausente.
E não me mande poesia. Envia-me um engradado de Skol, um pedaço
de picanha assada e a foto da daquela senhora idosa, a dona Bruna Lombardi,
autografada, mandando-me abraços!
E não adianta reclamar. Quando foi o dia da mulher e das mães, vocês
colocaram na internet a foto daquele velhinho, o Richard Gere, segurando
uma rosa vermelha na mão, e ainda suspiravam!
Assinado: Um pai metido e exibido!
SE FOR PARA AMAR, AME ATÉ O FIM.
A velhice é uma doença.
É chocante, mas é a verdade.
Se não é a doença em si, ela é cercada de.
Os telefones não mais tocam, a não ser os urubus de plantão para saber
se alguma desgraceira efetivou-se. É sempre uma curiosidade mórbida.
Quando algum mal se abate sobre a cabeça do velho, todos dizem: Coitado!
Mas não era isto que esperavam depois de tantos telefonemas perguntando se
o fulano está bem?
Quando desencarna, eles (os urubus de plantão) dizem: Estava tão
lúcido e cheio de saúde ainda! Hipocrisia...
Quando está acamado e fenece, dizem: Morreu lutando. Mentira! Os
médicos o dopavam contra a sua vontade, seu desejo era o de ter partido há
algum tempo.
E é sempre assim. Já estava invisível há muito tempo. Estava fora de
moda.
Vê se pode, o velho não sabe usar o computador, não tem facebook e
“uatzap”. Não vai mais ao shopping e nem gosta de funk. Ultrapassado!
Seus netos quando o visitam não puxam mais conversa, pois estão
ocupados nos seus modernos celulares comunicando-se com outros. O velho
está ali observando, mas é como se não estivesse. Para que visitar então?
E aí o velho quer ficar só, mesmo parecendo ranzinza.
O velho parou no tempo e esse lhe pesa.
A “deprê” bate e ele tenta disfarçar.
Já notou que os netos já crescidos e encaminhados na vida, raream nas
visitas. Conforma-se.
Nota que os filhos, já bem maduros e quase idosos, estão cansando ao
lhe cuidar, e já o fazem mais por obrigação do que por amor. É um tiro no
peito perceber isto. Então só lhe resta um caminho: Demenciar. É pirando de
vez que a dor acaba, a dor da alma.
E aí fica tudo bem, é como tomar dez “rivotril” por dia, nada mais lhe
afeta.
Viverá mais feliz, perguntando repetidamente que dia é hoje, quem é
você.
Você ficará triste por que o velho não te reconhece, ele não.
Mas aí já é tarde.
Para você...
AOS AMIGOS QUE PARTEM ANTES DE NÓS:
Talvez eles não saibam da tristeza que nos toca quando partem.
Sabemos da implacável finitude de todos, mas sempre negamos com
ardor.
Achamos que eles partem prematuramente, como saber?
Se possível fosse que eles nos mandassem um recado, como este que
estou mandando para eles, o foco seria diferente. Não é demais dizer que os
amigos sigam em paz. Afinal, cumpriram bem as suas tarefas, senão porque
viriam para este plano?
Talvez o seu recado para nós que ficamos seja o seguinte:
“Caro amigo que aí ficaste ainda. Estou noutra, e podes acreditar, não é
melhor nem pior. Aquelas “coisas” de saúde que tanto me incomodaram, já
nem me pertencem mais. Talvez tenha sido uma prova. Na verdade foi muito
incômoda a minha doença, mas ficou para trás. Tu que achas que vais viver
para sempre, pode tirar o cavalinho da chuva, não irás mesmo! Logo, logo se
juntará a mim. Sei que é ruim para quem fica. Com o tempo estaremos juntos
novamente”.
Que os amigos sigam em paz, especialmente o meu amigão que partiu
recentemente. Grande no tamanho e grande na bondade.
Siga em paz amigo.
VIDA SOFRIDA DE ADOLESCENTE NA
DÉCADA DE 60 – PARTE UM
Ele estava entrando na adolescência, 13 anos, será que era adolescente?
Mas então, os hormônios estavam transbordando. A vontade era
demais, quase uma tortura. As incursões solitárias estavam a causar efeitos.
Não era espinha no rosto e nem calos nas mãos, era algo bem mais mental do
que físico. Quando conseguia alguns trocados, comprava aqueles
“catecismos”, que somente eles daquela geração sabem o que foram:
pequenas revistas em quadrinhos. Acho que até eram clandestinas, sobre
conquistas amorosas e muita ação mesmo, era o filme pornô da época.
Passavam de mão em mão, era uma festa para a gurizada. Nem pensar em
mostrar para as gurias, era exclusivo de “macho”. Depois de uma sessão de
leitura no banheiro, olhavam as meninas de soslaio, imaginando a vida real...
Eles não se cansavam, era muita energia!
Mas o tempo e a idade cobravam uma ação mais contundente e digna.
Estava na hora de colocar em prática todo aquele conhecimento teórico. Até
que apareceu uma alma caridosa e vendo todo aquele seu sofrimento, um
senhor de meia idade o convidou para fazer uma visita numa de suas
conhecidas. Disse que iria levá-lo à casa da tia Maria. (Desculpem-me as
“Marias”, mas é este o nome que eu lembro). Era perto da sua casa, no mesmo
bairro, era discreta, talvez.
Durante aquele dia, que eles combinaram o evento, a expectativa era
imensa. Recordava as revistinhas e pensava ele: - Vou fazer de tudo naquela
mulher, farei isto, farei aquilo!
Para sair de casa teve de dar uma desculpa esfarrapada. Lá chegando,
início da noite, o tio estava lhe aguardando: - Vamos lá guri, vamos botar
esse pinto para funcionar de verdade!
Seu sorriso foi amarelo.
Estava escuro lá dentro, o cheiro era estranho. Perfume forte, dos
baratos, só podia ser. O tio lhe mandou sentar na sala e esperar.
Ele tremia “feito vara verde”! Olhou em volta, o ambiente era bem
pobre, a lâmpada no teto daquela pequena sala era bem fraquinha. O tio tinha
ido lá aos fundos da casa fazer não sabe o quê. De vez em quando ele, o piá,
escutava uns gemidos e gritos! Meu Deus! O guri estava em pânico.
Passado algum tempo, para ele uma eternidade, abriu-se uma porta, que
ele nem tinha notado que existia, saiu um mulato bem maior e muito mais
forte que ele e atrás, ela, a contratada do tio aparece. Olhou-lhe de cima a
baixo e falou: - Então és tu? (Ele estava cristalizado). - Oh Fulano, é esse o
guri? O tio respondeu lá dos fundos: - Isso mesmo! Trata bem, é a primeira
vez!
Deve ter morrido de vergonha, só pode!
Ela agarrou-lhe pelo braço e o arrastou para o quarto, sentou na cama e
colocou os “tetões” à mostra, o pivete quase desmaiou! Não era desenho,
eram de carne! Não sabia se os agarrava ou só olhava. Vendo a sua hesitação,
a experiente mulher pegou as suas mãos e as colocou sobre eles. O guri teve
um frio na espinha e na barriga. A parte de baixo automaticamente despertou!
- Tira a roupa guri! – disse ela comandando a ação.
Foi um horror! Sessão pastelão! Então ela abriu o roupão, já estava em
pêlo, deitou, e lhe mandou deitar sobre ela. Deve ter pensado: - É hoje!
Foi um fiasco! Foi um vexame total, e ainda mais com fimose! Triste
lembrança! Ficou marcado na sua memória nas últimas décadas. Foi um
espetáculo degradante!
Sinceramente, ele não sabe se foi aos “finalmente”, a única coisa que
lembra, foi ela perguntando: - Deu guri? Ele não lembra o que respondeu.
Talvez nem tenha se despedido, foi direto apressado para casa.
No trajeto, sua cabeça estava embaralhada, uma mistura de satisfação e
frustração ao mesmo tempo. Mas uma coisa ele tinha certeza, agora era
homem, já tinha estado com uma mulher de verdade! Na sua cabeça estava
matutando como iria contar essa saga para os seus amigos: “ Vocês são uns
piás, eu já sou um conquistador, macho atuante, terror das mulheres. Eu faço
e aconteço!”
Pouco tempo depois, ele se perguntava: - Tá, e agora, vai ficar só nisso?
Voltar lá, sozinho, a vergonha e a timidez não deixavam. Teria que ir a
luta!
A partir de então, todas as fêmeas tornaram-se alvos. E foi uma longa
epopeia!
VIDA SOFRIDA DE ADOLESCENTE NA
DÉCADA DE 60-PARTE DOIS
Nos bailes de domingo à tarde, lá estavam elas! As gurias! Com suas
mães protetoras, sentadas todas em volta do salão. Apreensivas e
esperançosas.
Os guris chegavam ao baile e faziam um rastreamento com o olhar,
algumas desviavam os olhos, outras correspondiam.
Como de praxe, deveriam convidá-las para dançar e cadê a coragem?
Sobretudo esse era o objetivo do evento, o de proporcionar encontros e
relacionamentos e esses começavam com a dança, é claro. A mãe tinha que
autorizar.
Já nem lembra o tipo de música, mas a dança era “juntos”. Dançar
sozinho, nem pensar! Um absurdo! Alegria em excesso não era vista com
bons olhos. A coisa era séria.
Num ritmo às vezes sonolento e obedecendo a uma distância segura
entre os corpos, configurava-se o padrão. Os passos e tropeços seguiam e sem
rosto colado!
Perguntava o nome para a menina numa conversa truncada. E a mãe de
olho. Em poucos minutos, já com o calor dos corpos interagindo, a mão
descia até a altura do cóccix. Se ela aceitasse, os rostos encostavam e os púbis
aproximavam-se ainda mais. Estava criado o clima. Puxava o corpo da
menina até dar a tão esperada roçadinha. Uma felicidade! Ela apertava a sua
mão em agradecimento ou querendo mais.
A mãe lá no canto começava a preocupar-se e se remexia na cadeira. A
situação ficava cada vez mais perigosa. Entretanto, os malditos hormônios
inebriavam a sensatez. A manifestação inferior era evidente saltando a calça
de tergal. Que medo, e agora? O que poderia fazer? Ela sentia e apreciava.
Suas mãos estavam suadas e sua respiração meio ofegante. Havia tensão e
apreensão no ar.
Terminou a música. Sentia a mãe fulminar-lhe com os olhos. Pedia
licença e ia ao banheiro para ver a extensão do estrago. Era o que ele previa.
Tinha que se acalmar. A “dorzinha” veio à tona, aquela, da coisa mal
terminada. Dava um tempo e voltava ao salão. Tomava uma “Mirinda” num
gole só e procurava a criatura. Já não estava mais.
A vida seguia. Ele só pensava naquilo. Até a professora gostosa não
escapava dos olhares e desejos da adolescência. As vizinhas, essas sim, eram
os alvos preferidos dos adolescentes da época.
Lembrou-se de conversar com uma vizinha já “coroa”(vinte anos de
idade!) e quem sabe se chegando aos poucos ela cederia. Era uma presunção
juvenil. Sabia que as mais “velhas” gostavam quando eles as paqueravam. Ele
só “achava” que tinha coragem e não era bem assim! Talvez elas fossem mais
malandras e ele só era um saco ambulante de hormônios.
O universo feminino estava a sua disposição, era só pegar o jeitinho.
Mas estava demorando!
Os mais velhos e experientes(17 e 18 anos), além de se vangloriar
caçoavam dele: Pô guri, tem que botar uma mulher nesse corpo, senão a tua
mão vai ficar cheia de calos!
Que vergonha!
Tomara que chegassem logo seus dezoito anos, ser adolescente era
sofrer demais!
Para aumentar a sua apreensão, quando foi fazer exame médico, o
doutor ficou surpreso que ele ainda tinha fimose: - Meu rapaz, tu ainda tens
fimose, temos que resolver isto aí, e logo! Vamos lá ao ambulatório, é
rapidinho. Vamos liberar por inteiro este pinto.
A anestesia foi local, cortado e suturado, estava lá ele por completo, um
lindo pinto! Talvez conserve a beleza até hoje, não com a mesma disposição,
pois a culpa não é dele. Os verdadeiros culpados são os hormônios que agora
lhe está abandonando, seus ingratos.
Foi uma fase boa, meio dificultosa, mas promissora.
Trecho do livro “A Maleabilidade do Tempo”
(Sérgio Clos)
E se aventarmos a hipótese de que Deus seja uma criação mental do
homem para resolver todos os seus questionamentos, não teríamos exagerado.
Alguém mais atento diria que desta vez eu extrapolei, e mais, que eu pirei de
vez!
Sim, se Deus for uma síntese de todas as criações mentais do homem
através dos tempos, parte de nossas questões estarão resolvidas, graças a Ele.
Pode ser uma brincadeirinha filosófica, porque eu estou falando, mas se
é dito por um monge oriental o seguinte:
“Tudo é uma ilusão e nada existe de fato.”
Todos diriam: - Oh! Que profundo!
Eu não vou por este caminho, eu insisto que as coisas existem porque
dependem da nossa percepção.
No conceito espiritualista o corpo físico é uma pequena parte do corpo
espiritual. Faço uma associação com o que percebemos na natureza. O que
percebemos é apenas o comportamento da matéria. Então o corpo físico é o
comportamento do corpo espiritual na natureza.
Na verdade nós nem somos o que pensamos ser, apenas aparentamos
ser o que somos. Somos como o elétron que se comporta como partícula e às
vezes como uma onda. Provavelmente o homem seja uma “onda” que se
comporta como “partícula”.
Se não conseguimos medir a essência das coisas, é muito difícil saber
se no fundo são as coisas o que realmente cremos!
SERES HUMANOS
O Facebook é a maravilha que está a nossa disposição. É o lugar onde
encontramos velhos amigos e trocamos mensagens. Grande parte de nossas
manifestações são para lá de positivas.
Não há discussões, mas, às vezes, alguns deixam escapar a sua opinião
a respeito de algo. É um pecadinho à toa. O espaço é democrático e não deixa
de ser um lugar virtual de lazer.
É um grande quiosque virtual dentro desse condomínio conturbado que
é o planeta.
Não é a nossa vida real, não é mesmo. E nem poderia! Nossas mazelas
ficam lá no mundo real do qual a gente dá um tempo.
Algumas vezes encontramos um papo estranho entre duas pessoas, dá a
impressão que estão trocando farpas, mas faz parte do debate.
Têm pessoas que talvez eu nunca veja pessoalmente, mas é parte do
esquema também.
O próprio “face” instiga a gente a bisbilhotar o que o outro está
postando. Será enxerimento? Pode ser. Somos assim mesmo.
Têm pessoas que são “seguidas” e outras pedem que curtamos coisas
que nem sempre é do nosso interesse. Tudo bem, às vezes a gente pede umas
bobagens mesmo.
Mas de qualquer sorte, aprendemos muito e vemos que o mundo está
“bombando”.
Esta dinâmica, guardadas as devidas proporções, sempre houve e num
ritmo aparentemente menor. Agora compartilhamos e sabemos de tudo numa
louca velocidade.
Se o mundo soubesse o que a Rússia fez com a Ucrânia em 1932 nesta
mesma velocidade;
Se o mundo soubesse o que acontecia em Ruanda em 1994 nesta
mesma velocidade;
Se o mundo soubesse do massacre dos Armênios.
Se o mundo soubesse nesta velocidade o que os colonizadores
impuseram aos índios americanos;
Se o mundo soubesse as barbaridades que o Japão fez quando invadiu a
China, na mesma velocidade;
Talvez este mundo veloz que conhecemos hoje não fosse o mesmo.
Talvez fosse pior, ou melhor. Não sabemos. O que sabemos é que nuvens
negras pairam sobre o planeta.
E, se olharmos com atenção, nós ainda não sabemos o que é paz plena
no planeta Terra. Nem conhecemos o real significado da palavra paz. A paz
parece ser uma ilusão.
Os europeus sempre exploraram a África e agora os explorados fogem
para a Europa sem dar-se conta que a Europa sempre foi o seu algoz. Alguns
fogem de seus países e querem impor suas regras nos países que os acolhe.
Estranho, não é mesmo? Fico em dúvida se, nós humanos, somos todos
iguais. Paira uma dúvida.
Quando foi que nos desigualamos?
Tenho a nítida impressão que os interesses desigualaram o ser humano.
Lutas étnicas e limpeza étnica a princípio soam estranhas pra nós
ocidentais.
Entretanto, na guerra do Paraguai cometemos os mesmos pecados. Na
escravidão mostramos o nosso lado perverso. O lado ruim do ser humano é
comum a todos os seres humanos. Não restam dúvidas. E sempre há um
interesse maior acima das vidas tiradas sem a menor cerimônia. Assim é o
Planeta.
Por enquanto, no Facebook recheamos com mensagens positivas e
animadoras. A nossa parte, mesmo que aparentemente inócua, é uma
semeadura. Tal plantio urge que se faça com bastante intensidade. O ser
humano um dia haverá de aprender.
Hitler foi demonizado pela loucura que fez. Stalin, apesar de ter feito
uma loucura bem maior, ainda é idolatrado. Mao Tse Tung superou Stalin na
desgraceira. Pol pot dizimou parte da população do seu país em nome do
mesmo regime de Stalin e Mao. Os interesses fazem com que heróis tornem-
se bandidos e bandidos tornem-se heróis.
Somos seres humanos iguais?
Talvez não sejamos ainda, mas um dia quem sabe...
REBELIÃO DAS BENGALAS
Basta de tanta indiferença!
Basta de tanta falta de respeito!
Basta de abandono!
Formaremos um contingente grande como nunca havia feito neste país.
Tomaremos as avenidas.
Junto com nossas enfermeiras e cuidadoras, tomaremos as ruas e
faremos uma grande passeata.
Obstruiremos as vias públicas com nossas cadeiras, andadores e
bengalas.
Sairemos em caminhada pacífica pelas cidades.
Estamos cansados de tanta discriminação. Mesmo com pouco fôlego e
vozes roucas, gritaremos as palavras de ordem:
BENGALAS UNIDAS, JAMAIS SERÃO VENCIDAS!
BENGALAS UNIDAS, JAMAIS SERÃO VENCIDAS!
Convocaremos todos os idosos de todos os cantos.
Nos guetos asilares, nós estudaremos estratégias de lutas para atingir os
nossos objetivos.
Faremos protestos em frente aos órgãos da previdência, bateremos
penicos e jogaremos fraldas geriátricas nas suas portas:
IDOSOS UNIDOS, JAMAIS SERÃO VENCIDOS!
IDOSOS UNIDOS, JAMAIS SERÃO VENCIDOS!
UM, DOIS, TRÊS, QUATRO, CINCO, MIL!
QUEREMOS QUE OS IDOSOS TOMEM CONTA DO BRASIL!
Protestaremos junto às filas de hospitais.
Tomaremos os nossos destinos em nossas mãos.
Não mais aceitaremos que nos faltem remédios.
Não mais aceitaremos que não tenhamos transporte adequado.
Não mais aceitaremos que nossas aposentadorias sejam corroídas.
Construímos este país e não aceitaremos mais que sejamos
descartados!
Não descansaremos em paz enquanto não houver paz no nosso
descanso!
IDOSOS, UNI-VOS!
MAS BAH! QUE INDIADA!
TÔ TRI INVOCADO!
Hoje acordei com os bofes azedos. Tô me sentindo esgualepado!
Deve ser problema nas juntas: “Junta tudo e joga fora.”
Deve ser a idade, não sei... Mas uma coisa é certa, o troço tá feio.
Os graxains de fatiota do Planalto estão em polvorosa.
Os da situação estão mais perdidos que cusco em dia de mudança.
Tem gente com as guaiacas cheias e não querem largar o osso.
Bem capaz!
Estão trocando desaforos e tem até tapa nas fuças!
Deveria ser briga de foice ou de facão, coisa pra macho.
É tudo cachorro ovelheiro.
Matar, não adianta, eles morrem com a cara de revesgueio pras ovelhas.
O Patrão Velho tá de olho.
O que falta nesta terra é um caudilho de respeito e colhudo!
Pra botar ordem, só mesmo uns relhaços nos lombos desses cupinchas!
Democracia é pra frouxo. Tem que chamar-lhes na chincha!
Quando eles falam, os butiás me caem do bolso. Fico azucrinado.
Mas que barbaridade, tchê!
Tem cachorro na cancha de osso.
Tá tudo entreverado e a Mulher já tá com o pé no estribo.
É tudo maleva e nós somos todos lasqueados.
Os paisanos que se cuidem, tem muito tramposo de olho na tapera
verde amarela!
MUSAS E MUSOS
Por que razão nós elegemos nossas musas?
Difícil saber.
Talvez a mídia tenha a ver um pouco com isto.
Para os mais antigos, Ava Gardner, Gina Lollobrigida, Sofia Loren,
Raquel Welch, Marilyn Monroe, Brigitte Bardot, etc. foram protagonistas de
muitos suspiros masculinos.
Os musos, bem, nem vou citar o nome deles, por pura inveja mesmo.
Os atuais, nem se fala, além de bonitos são muito mais jovens que eu.
Então, como ainda não estamos mortos, elegemos as nossas musas
também, mas com uma particularidade: as semelhanças.
É evidente que, como toda a musa, nossa distância é infinita, são
inacessíveis pra nós mortais simplórios e, é bom que assim permaneça, senão
não seriam musas e nem musos.
Tem um pessoal da ala feminina que elegeu o Richard Gere, que mau
gosto. Tudo bem, gosto é gosto...
Eu, particularmente, elegi uma musa, fiquem com inveja ou não. Claro
que ela é inacessível a mim e nem poderia ser diferente.
Que fique assim.
É uma bonita atriz e é competente no que faz. O nome dela é Maggi
Gyllenhaal.
E este é o lado bom da vida, enquanto o Alzheimer não pegar-nos de
jeito vamos elegendo nossas musas e nossos musos.
E está tudo bem!
IDOSO PARA ADOÇÃO
Tenho pouco mais de sessenta anos. Podem chamar-me de idoso, tudo
bem.
Resolvi colocar-me para adoção.
Minhas características são:
Tenho cabelos brancos e a pele com algumas rugas.
Tenho boa saúde e o meu plano cobre todas as despesas se por ventura
houver.
Sirvo o café da manhã na cama.
Dou abraços e carinho.
Não tenho o hábito de roer os móveis.
Faço o almoço e a janta.
Recebo sempre com sorrisos.
Faço massagem nos pés e nos ombros.
Leio histórias e ainda faço poesias.
Conto piadas.
Dou o ombro quando precisar.
Dou conselhos e ouço confidências.
Dou conforto emocional.
Acompanho em festas e eventos.
Levo e busco no trabalho.
Dirijo automóvel e uso computador.
Posso passar roupa e preparar o banho.
Não me incomodo com roncos e puns.
Sou companheiro para todas as horas.
Se beber demais, darei banho e colocarei na cama.
Guardo todos os segredos, os mais cabeludos.
Estarei sempre disposto quando precisar de mim.
Ainda estou firme e forte.
Quem tiver interesse, favor entrar em contato comigo.
Endereço: Asilo
Obs.: Se não houver interesse em mim e no meu currículo, tenho um
cachorro para adoção também, mas ele é muito exigente.
FAXINA MENTAL
Estima-se que a causa do Alzheimer seja o acúmulo das proteínas beta-
amilóide e tau no cérebro associada à diminuição do neurotransmissor
acetilcolina. Entretanto suas causas ainda não são totalmente esclarecidas,
mas sabe-se que ela pode estar relacionada a alguns fatores de risco tais
como:
Influência genética;
Contaminação com metais como mercúrio e alumínio;
Traumatismo craniano;
Aterosclerose;
Idade;
Baixa escolaridade.
Fonte: Dr Ivan Aprahamian (Médico internista e geriatra. Tem
mestrado em Gerontologia pela Faculdade de Ciências Médicas da
UNICAMP e doutorando em Psiquiatria pela FMUSP).
Dito isto, difícil contestar o eminente médico, pois seu árduo trabalho
de pesquisa esclareceu alguma coisa. Entretanto, nos itens cima, um é
subjetivo, a baixa escolaridade. Tal constatação abre um campo enorme na
área da subjetividade. Sabemos, e é fato, que estresse e depressão são
causadores de muitas doenças físicas. Que essas duas doenças afetam o corpo
físico é algo que os médicos e cientistas são categóricos em afirmar. Eles têm
compromisso com as pessoas ao inferir tal assertiva. Eu não tenho. Sou um
observacionista apenas. Longe de comparar-me a eles. Entretanto tenho a
convicção que essa doença, que afeta o cérebro, tem muito a ver com o
acúmulo de “poluição”, tais como: rancores, tristezas, desavenças, ingratidão,
negligências, maus amores, frustrações, sofrimentos, intolerância e outros
dissabores. Tudo isso polui o cérebro, não diretamente, mas provoca
distúrbios no funcionamento do mesmo. Viver uma vida saudável para
prevenir o Alzheimer, é a mesma coisa que dizer que, alimentar-se de forma
saudável previne o infarto, e muitos deles se dão por outros fatores subjetivos,
o principal: o estresse. Para prevenir o mau funcionamento do cérebro, o
melhor caminho é a “faxina”: Livrar-se de todos os rancores; cultuar a alegria
de viver; agradecer aos antepassados; agradecer sempre; resolver todas as
desavenças; perdoar; ser tolerante; manter sempre o bom astral; manter
sempre o bom humor. Com certeza seu cérebro não errará na dose de
proteínas e não acumulará metais.
A IMAGEM
Resolvi comunicar-me direto com Deus.
Não quis saber de nenhum intermediário, pois é comum eles
distorcerem tudo.
Tem uns que imploram para que eu aceite esse tal de Jesus nesta
intermediação.
Até conheço a história dele quando ele, durante um curto espaço de
tempo, fez suas pregações. Até que um dia ele foi pregado na cruz. Coitado.
Suas palavras calam fundo em nós até hoje. Só não entendo o que
muitos dizem: que ele morreu por nós. Estranho, parece-me que ele defendia
uma causa e pagou o preço.
Hoje as pessoas falam em nome dele, mas defendem outras causas bem
diferentes.
Era um humilde homem que não ligava para os bens materiais,
entretanto muito se reza para ele para obter os mesmos bens materiais que ele
negava.
E também é sabido e notório que a Igreja, poderosamente rica, prega a
humildade. Estranho não é mesmo.
Então, já que não quero nenhum intermediário, que me perdoe Sr Jesus,
mas quero falar com Deus diretamente.
Depois de muitas tentativas, não obtive êxito. Resolvi observar todos os
detalhes das coisas e fatos, pois desconfiei que Ele não falasse a nossa língua,
a dos homens.
Ele se comunica pelos sinais percebíveis aos nossos sentidos.
Só pode ser assim!
E como perceber os sinais?
Somente condicionando a nossa mente.
Tenho a convicção que as respostas para todas as perguntas Deus
colocou na natureza, como sempre foi e sempre será. E, quando falo na
natureza, estou englobando todas as coisas e fatos.
O que nos cabe é decifrar as mensagens. Foi pra isso que Deus nos deu
um cérebro tão poderoso.
Aí então, aguardei. Alguma dica iria aparecer e se eu observasse
melhor.
E aconteceu.
Na tela do meu computador apareceu uma foto. Foi à margem do rio
Guaíba.
Havia uma imagem de uma mulher sobreposta à imagem do por do sol.
Não pude definir se o por do sol emoldurava a imagem daquela mulher
ou se essa embelezava o sol poente. Era o que faltava para que eu tivesse um
alento e uma alegria.
Os sinais estavam claros e dirimiram as minhas dúvidas. Meu encanto
continuava o mesmo, embora eu me afastasse.
Sei que o acaso é apenas um eufemismo de Deus.
Se essa mulher surgiu no meu caminho é porque assim deveria ser.
Continuo com o mesmo encanto, e os fatos desenrolar-se-ão conforme
Deus quiser.
Quando as pessoas gostam de você, é muito bom.
Mas é bem melhor quando você gosta das pessoas, pois o sentimento
está dentro de você.
ENTRE GUARANÁS E GRAPETTES
Sou do tempo que no feriado entrava num Simca Chambord e lançava-
me na aventura de ir até o Belém Novo ou Lami para deliciar-me nas praias
não poluídas do Guaíba. O mesmo rio (os estudiosos dizem que é lago,
mentira, eles não sabem de nada.) que eu e meu avô pescávamos baldes e
baldes de lambaris e depois fritávamos em banha de porco. Colesterol?
Triglicerídeos? Que nada! Isso é invenção moderna para enricar os
laboratórios!
Sou do tempo que comer torresmo não fazia mal a saúde.
Sou do tempo, que a maior alegria era assistir na televisão o Rin-tin-tin.
Que cachorro legal! E a Lassie então?
E aquela novela do rádio: “ O Direito de nascer”? Não acabava nunca!
Mas tinha coisa ruim também: O Repórter Esso anunciava a Guerra da
Coréia, que medo! Mais tarde veio a Guerra do Vietnam. Muito Triste.
E os Beatles, que maravilha! Juntávamos alguns guris e gurias e na
garagem, colocávamos o Long Play na vitrola e sorvíamos muitos Guaranás e
Grapettes. Era uma festa de arromba. Aliás, festa de arromba veio depois com
o Erasmo Carlos; o Roberto Carlos com o seu “Calhambeque” era uma “brasa
mora”. Quem não se lembra? Os sessentões lembram bem.
Tinha a tal de ditadura militar, já nem lembrava isto. Ah! Agora
lembrei: quando eu fazia ginásio industrial no Parobé, muitas vezes no
intervalo do almoço íamos até a Borges de Medeiros. Alguns colegas
carregavam um saquinho de bolinhas de gude pra jogar na rua e ver os milicos
a cavalo se estatelarem no chão. Coitados dos cavalos. Quando passava uma
viatura do Exército, a gente gritava: Abacate do governo! (Bem baixinho, é
claro.) Afinal guerra é guerra. Depois fui ser milico e esse negócio de política
eu deixei para os civis.
Sou do tempo que, quando a deprê baixava, ouvia o Tim Maia: “É
primavera...” Hoje quando baixa a deprê, também escuto o Tim Maia: “Pede a
ela pra ligar pra mim.” Ou senão: “Eu preciso de falar. Te encontrar de
qualquer jeito.” Mas, as minhas musas não entendem.
Foi um tempo bom.
Usava Conga e sapato Vulcabrás(chique). Meu sonho era ter uma calça
Lee e um rádio gravador Phillips. Consegui.
Jogava bola num campinho perto da minha casa, descalço, e quando
me machucava nos pés de guanxuma, a dor era terrível, entretanto, mais
dolorida era a bronca da minha mãe. Blusa Banlon, camisa “volta ao mundo”,
calça “boca de sino” e perfume Lancaster, era tudo o que eu queria. Afinal,
moda é moda. Mas, a moda do cabelo na testa igual ao do Ronnie Von, eu não
gostava muito.
Meus amigos Black Power faziam sucesso com as suas cabeleiras. Eu
os chamava de “negrão” e eles nem brabos ficavam. Tinha uma boate aqui na
cidade, a Flowers, só de gays, e todos respeitavam. Esta coisa de discriminar
parece ser coisa moderna.
Sou do tempo que o Brizola incitava os gaúchos a lutarem pela posse
do Jango. Era o movimento “Legalidade”, que tinha até hino, e toda hora
tocava na rádio Guaíba. A princípio deu certo, mas depois ele teve que fugir.
Veio a tal de Ditadura.
Sou do tempo que no colégio tinha aula de música e eu pertencia ao
Coral. Apresentamo-nos uma ocasião no Teatro São Pedro. Foi muito bom.
Sou do tempo que as bandas do Colégio das Dores, do Rosário e do
Parobé eram famosas e disputavam a preferência durante o desfile de 7 de
Setembro.
Sou do tempo que pai, mãe e professor eram entidades sagradas.
Sou do tempo que, para vencer na vida deveria estudar, e muito.
Agora eu sou do tempo que consegue rememorar tudo isso, pois ainda
estou bem vivo. E gostaria que os jovens de hoje, daqui muitas décadas
dissessem o seguinte:
“Sou do tempo que tinha uma mulher na presidência e que as coisas não
andavam muito bem no país. Sou do tempo que as pessoas andavam muito
sós, pois tinha uma rede social virtual que tomava todo o seu tempo. Sou do
tempo que os valores morais tinha se alterado por conta de um regime político
equivocado.”
E, eu também quero fazer parte desta leva, pois aí então eu saberei que
vivi muito.
CUIDADOS PALIATIVOS
“Bora ser feliz” foi o que dizia Rosa em seu leito. O Câncer lhe
consumia o corpo e enaltecia a alma. O nome realmente era Rosa, o hospital
fica em São Paulo, o desencarne foi em 2014. A reportagem foi feita por um
canal aberto de televisão e o repórter já é consagrado pela sua competência. A
médica responsável pelos Cuidados Paliativos sempre repetia que o objetivo
era dar vida aos dias e não dias à vida da paciente. Rosa era bem humorada.
Estava muito debilitada pelo avanço da doença. Precisava de ajuda para
mover-se na cama. A equipe a acompanhava dia e noite com a mesma atenção
e carinho. Havia diálogos entre Rosa e a equipe. Precisava de conforto e tinha.
Contou para o marido, que casou com ele pra sair de casa, ela era muito nova.
Pediu perdão ao marido. Disse que se tivesse que voltar atrás no tempo, faria
tudo diferente. A primeira coisa seria tirar os filhos da creche para viver mais
tempo com eles. Não trabalharia tanto, pois a maior parte do tanto que
trabalhou não valeu a pena. Riria mais, perdoaria mais, abraçaria mais e
amaria mais. Disse que a vida é muito curta para que as pessoas fiquem com
“coisinhas”. Rosa era jovem, tinha um pouco mais de trinta anos. E era
bonita. Rosa tinha um casal de adolescentes e nos últimos dias não cansou de
dizer todo o tempo que amava os filhos, e que eles estão aqui para serem
felizes. Repetia sempre: “Bora ser Feliz, pois a gente tá nesta vida pra isto.”
Rosa emocionou a todos, repórter e a equipe do hospital. E também a todos
nós. Foi uma lição de vida na sua hora derradeira. Seu marido a perdoou, seus
filhos a perdoaram, sua família a perdoou e os amigos a perdoaram também,
muito embora não houvesse muito a ser perdoado. Rosa quis assim. Fez as
pazes com a vida quando a sua finitude estava cada vez mais perto.
Aconselhou todos a fazer o bem sem olhar a quem. Seu desejo era comer uma
feijoada, o repórter com a anuência da equipe trouxe a iguaria. Rosa,
enquanto saboreava o prato, disse que a felicidade é feita de pequenas coisas.
Faleceu no décimo dia de reportagem. Antes de ir fez um sinal de OK e abriu
um baita sorriso. Feneceu serena.
Sem os Cuidados Paliativos como seria a vida de Rosa nos seus últimos
dias? A médica afirmou que esses últimos momentos podem ser os melhores,
o de agradecer, perdoar, agregar e sonhar até o último minuto.
Bora ser feliz então!
ATENAS E NÓS
Sócrates questionou, questionou, questionou...
Seu colega Platão conjecturou, conjecturou, conjecturou...
Estas formas de vislumbrar o mundo abriu uma janela enorme para o
pensamento humano. Sócrates incomodou a aristocracia e questionou a
existência dos deuses da Grécia. A democracia ateniense o condenou a morte
por isso. Coisas da História. Entretanto o que me chama a atenção foi o fato
de a democracia ateniense conviver com a religião e tendo esta como
parâmetro para condenar o pensador. É certo que, aqueles que julgaram e
condenaram Sócrates, tiveram sobre suas cabeças a força do lobby, coação ou
coisa similar. E, veja que interessante: Cristo também foi julgado e condenado
“democraticamente”, onde o povo escolheu o bandido Barrabás para ser
salvo da cruz.
Sócrates incomodava.
Jesus incomodava.
As conjecturas de Platão provaram, nem todas, que eram razoáveis. Os
ensinamentos sim, estes eram relevantes e avançados para a época.
Sócrates morreu questionando. A partir de então o mundo foi inundado
por centenas de filósofos ao longo destes dois milênios, repetindo, floreando,
sofisticando e parafraseando estes dois pensadores.
Se todos os seres humanos tivessem a oportunidade de dizer o que
pensam, na esmagadora maioria seus dizeres se aproximariam do
comportamento socrático.
Talvez as pessoas vivessem bem naquela época, pois tinham pouca
informação e uma base religiosa bem sólida. Havia muitos deuses e cada deus
cuidava de uma tarefa, tudo teoricamente bem organizado.
Foi uma democracia que durou aproximadamente um século e meio.
Em que pese ser o berço da cultura, os gregos faziam de conta que tinham
uma democracia e jamais sonhariam que este capricho seria a base para outras
nações dois mil anos mais tarde.
Sócrates, Platão e Atenas, muito nos ensinaram, mas nós não
aprendemos.
Eliminamos os deuses e ficamos somente com um Deus. E aí então
cada povo elegeu o seu e fizemos as guerras por eles.
Sócrates nos ensinou a questionar, entretanto, de que maneira
questionamos? Se é que questionamos alguma coisa.
Platão nos abriu uma fresta para pensarmos adiante, e, será que
pensamos no nosso futuro ou no futuro dos nossos filhos?
Atenas nos mostrou a incipiente democracia, entretanto, copiamos
somente o lado perverso: a força da aristocracia, o lobby e a coação.
E ainda mais: Nós inovamos. Na nossa democracia elegemos os nossos
representantes para decidir por nós, mas eles inventaram o regimento interno,
o voto de liderança, o apoio partidário, a sustentação política, o acordo, a
barganha, a pressão entre os poderes, etc.
Se os gregos sonhassem o que faríamos com a democracia que eles
inventaram, ficariam horrorizados e convocariam todos os seus deuses contra
nós!
ATÉ QUANDO EU VIVEREI?
Até quando eu vou viver?
É uma pergunta que não quer calar.
Se a resposta houvesse, o que fazer?
Se o tempo que resta é longo, algumas decisões seriam adiadas.
Entretanto, se o fim está próximo, convém acelerar as ações.
Digamos que a final nos alcance em trinta dias. Quais as ações a
tomar?
Tenho a certeza que tal inexorabilidade nos tranquilizaria. Talvez a
primeira reação fosse a de revolta. O que nada adiantaria. E depois de
admitida a inevitabilidade é hora de colocar a mão na massa. No princípio
faríamos um balanço. A mente ficaria mais clara e perceberíamos o real valor
das coisas: Quanta diferença e que mudança radical nos conceitos! Aquele
trabalho que muitas vezes exerci a exaustão, com certeza não valeu a pena.
Deveria ter ocupado o tempo com coisas mais úteis. Certamente perceberia
que esta história de que o trabalho enobrece o homem é uma grande
enganação do sistema capitalista. O que enobrece o homem são as boas ações.
Tão simples!
Gostaria de não ter tido aquele ataque de violência verbal quando meu
filho derramou refrigerante no banco do meu carro novinho, que agora, está
num ferro velho. Sei que o guri não esqueceu. O carro novo enferrujou e o
meu filho guardou a mágoa. Que horror! Eu fiz isto.
Não deveria me preocupar tanto para investir no meu futuro, ele chegou
e, com cara de finitude.
Queria muito ter viajado, mas hoje já não quero mais. Seria muito
cansativo e eu tenho que dosar as minhas energias.
Aquela baita pescaria que sempre sonhei em fazer, não quero mais,
tenho dó de ver morrerem os peixes para atender a um capricho meu.
Agora que tenho pouco tempo, queria mais, para curtir meus filhos e
netos. Sei que deveria ter feito antes. Talvez ainda tenha tempo para pedir
perdão.
Para minha mãe e meu pai, que deram parte de suas vidas e muito suor
para que eu chegasse aonde cheguei, eu nunca agradeci. Que mancada. É o
que farei.
Mas, eu não posso ficar “na sala do meu apartamento, com a boca
escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar.” (valeu, Raul Seixas).
Tenho que agir. Aprendi que, se eu me movo, o Universo se move.
A primeira coisa a fazer é agradecer ao meu travesseiro. Foi o que mais
se aproximou dos meus pensamentos durante a minha jornada. Ele sabe de
todos os meus segredos, os piores, e nunca contou para ninguém. Graças a
Deus. Mas, é hora de revelar alguns antes de partir:
Nunca gostei de trabalhar e Deus sempre soube, por isso fez-me
trabalhar muito mais. Foi uma vingança divina, e eu tirei de letra.
Nunca tive uma religião em particular e Deus direcionou-me para
várias.
Sempre tive dúvida sobre a existência de Deus, e Ele orientou-me a não
dar bolas para essa questão, pois no final tudo se resolve. Graças a Deus.
Sempre achei que, ou o capitalismo, ou o comunismo fossem a solução
e no final das contas os dois me deixaram mais pobre.
Sempre achei que os filhos fossem propriedade minha. E, não são!
Se, eu enfrentei o mundo e venci, é certo que os meus filhos também
enfrentarão e vencerão. “Pai é tudo cagão!” Preocupam-se a toa!
Mas, se Deus equivocou-se, e você ainda terá muitos anos de vida,
voltaria aos conceitos anteriores ou tomaria os novos como uma lição?
É claro que optaria pelos novos conceitos, aliás, muito mais
verdadeiros.
É justo, talvez sensato, que o amanhã, se chegar, pode ser o último dia.
O “hoje” pode ser o último!
Então não há tempo a perder.
Antes que a Dama da Foice te convoque, dê mais valor à família e aos
amigos. O resto é pura retórica.
E não esqueça:
“É preciso amar as pessoas”.
“Como se não houvesse amanhã”. (Legião Urbana)
Ah, tenho outro segredo para contar:
Tem uma mulher...
Deixa para lá, não vou causar tumulto no final.
PORQUE A AMIZADE É MAIS IMPORTANTE
QUE O AMOR?
Eis um tema recorrente.
Dizemos que amamos tudo e a todos.
Impossível! Aliás, é humanamente impossível!
No campo da poesia filosófica e utópica, pode ser, pois assim soa
bonito.
Tornamo-nos iguais a todos que teimam em afirmar que tudo amam.
Loucura! Insanidade!
Quando amamos, não quer dizer que o tal Amor seja recíproco.
Amamos mesmo assim.
Todavia, quando somos amigos, a Amizade é sempre recíproca. Os
olhos brilham tal qual no Amor.
No Amor que não é correspondido somente brilha os olhos daquele que
ama. O que é amado não mareja os olhos.
A Amizade é atemporal.
O Amor é temporal.
O Amor exagerado é uma paixão; O Amor pequeno é só um amorzinho.
A Amizade tem a dose certa. Não existe Amizade exagerada ou
amizadezinha. É o que é.
O tempo e a distância não corroem a Amizade.
O tempo e as distâncias corroem o Amor, mesmo que ele tenha sido
verdadeiro.
O Amor tem o viés da posse.
A Amizade tem o viés da liberdade.
O Amor gera outros sentimentos: apego, ciúme, inveja, etc.
A Amizade não tem efeito colateral, faz bem ao corpo e a alma.
O Amor correspondido faz bem ao coração. É a contrapartida de amar.
Na Amizade não há exigências.
No Amor parece haver regras. Até o Amor incondicional tem um
manual de instrução.
A Amizade constrói alicerces e é base para a solidariedade.
Amar é bom. Amar a si é muito melhor, é um ideal a ser perseguido.
A Amizade pode ser compartilhada com todos.
O Amor é restrito e circunscrito. Muitas vezes se vai. O tempo
desgasta.
A Amizade? Esta sim é eterna.
Há quem diga que quando termina o Amor, permanece a Amizade. Se
ela ocorreu antes de haver o Amor, é certo que permanecerá.
O Amor acaba. A Amizade não. Ela adormece.
O Amor é um “ente subjetivo” travestido de materialidade.
A Amizade é um “ente objetivo” travestido de solidariedade.
É tão fácil verificar:
Na nossa atual civilização foi o Amor à religião e ao poder econômico
que gerou as guerras.
A TEORIA E A PRÁTICA
Estava vendo um filme na televisão onde havia um diálogo entre dois
jovens de aproximadamente 20 anos. A menina era linda e bem objetiva. O
rapaz era um cara legal, ele mesmo se autodenominava assim, mas já estava
cansado de o ser. Ela, mais direta, com interesse nele, dizia que ele deveria ser
mais agressivo. Claro que estava explícito o que ela queria e ele, também
querendo, não tomava iniciativa. Lembrei-me do meu tempo, quando tinha
vinte anos. Talvez eu tenha sido um guri legal também, não tenho certeza,
mas sabia identificar bem os sinais femininos durante o flerte. Abusado, ia
para cima com tudo. Não deixava pedra sobre pedra! Era só “rolo” aqui e ali.
De enrosco então, minha vida era repleta. Haja saúde!
Uma mexida de cabelo, um olhar de soslaio, uma mordidinha no canto
da boca, pronto, o predador ia para cima delas. Às vezes dava errado, mas
quando dava certo era aquele conluio de safadeza, no bom sentido é claro. E o
tempo passou.
Já com trinta e com todo o gás ainda, era mais discreto.
Aos quarenta, já com cabelos grisalhos, encantava uma aqui outra ali, e
nunca morria de “sede”.
Aos cinquenta, bem, aí o peso da idade já se fazia sentir. Os
encantamentos eram menos frequentes, mas sempre dava uma beliscada aqui
e outra ali, e tocava a vida. Afinal não era só isso que importava.
E aí veio os sessenta. Bem irmão, a coisa mudou de figura.
Aparentemente ninguém encanta mais ninguém. A velharada se recolhe, acha
que já deu o que tinha que dar.
Mas, eu não aceito isto!
Já nem lembro mais como fazia aos vinte anos. Às vezes a gente acha
que a mulher quer, e quer mesmo, mas na prática não é mais como antes. Fica
com medo disso, com medo daquilo e a coisa não flui.
Aí, me lembrei do filme onde a guria falava sobre ser mais agressivo. É
isto! É esse o caminho!
Chega de filosofia e nhem nhem nhem. Seja o que Deus quiser, vai ser
do meu jeito!
Pois então, quando encontrei uma de minhas amigas, mulher muito
bonita, eu não tive dúvida, tasquei logo um beijo, um beijo não, Ô beijo! Por
frações de segundos ela não resistiu e ao desvencilhar-se de mim, deu-me
uma de direita que deslocou a minha ponte, e ainda gritou:
- Velho tarado e sem vergonha! O que tu estás pensando?
A minha primeira reação for cair na gargalhada e ela:
- E ainda ri. Tá rindo de que velho abusado?
- Sabe amiga, vi num filme que o jovem tem que ser mais agressivo, e
eu sinto que sou jovem ainda!
- Mas tu és cara de pau mesmo! E por que eu?
- Por que eu sou encantado em ti guria!
Disto isto, eu tasquei outro beijão nela. Resultado: Entramos num motel
às três da tarde e saímos de lá a meia-noite.
É o que eu digo cambada de sessentões, ainda não acabou!
ANCIÕES, UNI-VOS!
TÊM MUITAS PRECISANDO DE CARINHO.
TIREM ESSA BUNDA GORDA DO SOFÁ E VAMOS À LUTA!
LARGUEM ESSE FUTEBOL NA TELEVISÃO!
NÃO ME DEIXE SÓ!
NUNCA PERGUNTE O QUE ELAS PODEM FAZER POR VOCÊ E
SIM O QUE VOCÊ PODE FAZER POR ELAS!
MORREREMOS LUTANDO E SEMPRE ERGUIDOS!
QUEM FOR ANCIÃO QUE ME SIGA!
AVANTE TERCEIRA IDADE!
Aí então minha mulher me acordou: - SONHANDO COM AQUELAS
COISAS DE NOVO, MEU VELHO?
DO OUTRO LADO DA VIDRAÇA
Não é de hoje que questiono os porquês de perdermos os nossos,
principalmente quando os nossos nos são muito queridos. Numa certa altura
da vida, já nem lembramos quando perdemos os nossos avós, foi há muito
tempo, ainda éramos crianças. Talvez.
Alguns têm o privilégio de serem avós e ainda terem os seus avós. Não
é comum.
Comum é, que, quando avançamos na estrada da vida as “perdas” são
inevitáveis. São sucessivas separações, não importando de que maneira elas
aconteçam.
Teimosos somos nós em pensar que, porque ficamos, sejamos eternos.
A longa estrada da vida desembocará numa enorme vidraça. É lá que os
que foram antes, estão olhando e torcendo por nós. Como se fosse a vidraça
do berçário, onde, sorridentes e esperançosos, os olhares dos parentes
admiram a nova vida que está iniciando.
Do outro lado da vidraça da vida estão eles, nossos entes que nos foram
caros, nos aguardando, também sorrindo e esperançosos. Não numa corrente
para que cheguemos logo, e sim, para que suportemos com serenidade se
algum sofrimento físico houver. Sim, pois tais sofrimentos, físicos ou não,
pertencem ao mundo terreno.
Do outro lado da vidraça, seremos perdoados e perdoaremos, pois o
verdadeiro perdão não pertence ao mundo terreno.
Do outro lado da vidraça entenderemos as coisas que no mundo terreno
ainda são incompreensíveis.
Que fiquemos mais um pouco, ou mais um “muito”.
Não queiramos saber o que tem do outro lado da vidraça, ainda.
Mas é certo que do outro lado da vidraça os nossos estão bem, todos, e
sorridentes para nós.
E podem ter a certeza, eles estão rezando por nós.
Somos nós que precisamos.
AMOR PLATÔNICO
Há quem diga que o idealismo seja uma forma de amor platônico. Não
o é.
O idealismo tem componentes sociais relevantes. Os que têm amor pelo comunismo, os antigos, sempre imaginavam pequenas sociedades de
agricultores semelhantes aos Sovkhoz ou Kolkhoz, moldes da antiga Rússia.
Aqui no Brasil surgiu algo semelhante, não que fossem idealistas comunistas, mas, havia muito de prático nesse sistema: as pequenas
comunidades produtoras e organizadas. Nesse caminhar surgiu cooperativas,
agricultura de subsistência, agricultura familiar, etc.
Bem longe do viés político, tais projetos em curso realmente deram resultados.
Na verdade, o capitalismo não desperta paixões, mas o comunismo sim.
Ninguém sai às ruas com a foto da Bolsa de Valores, gritando: Viva o
capitalismo! Seria ridículo. Entretanto, alguns idealistas saem às ruas gritando: Viva o comunismo!
É a paixão insensata, como toda a paixão assim o é. E, por isso, por estarem
dentro do terreno da emoção, os conflitos passionais logo imperam. O desenrolar é imprevisível.
O amor platônico nada tem de idealismo, pois ele é muito mais
insensato!
Ele, por si só, é incontrolável! Não obedece a nenhuma regra, não tem cunho social. É bem particular.
Sempre ficamos a distância observando e imaginando, sem nunca tomar
qualquer atitude mais aguerrida para não quebrar o encanto. Quantas supostas loucuras são feitas (pequenas) para, pelo menos olhar
ou dar um alô, o suficiente para manter acesa a chama desse furor platônico
que, de perigoso nada há.
O destinatário ou a destinatária dessa investida, nem imagina a ginástica que os admiradores fazem para ter apenas um momento visual.
Assim é. Pelo menos para que os velhos se sintam novos ou para que os
novos se sintam experientes. A vida é assim. Muitos ideais nós alcançamos e cessa a paixão.
O amor platônico está destinado a ser somente ele mesmo e sempre tem
um endereço certo.
Ah! O comunismo. Esqueça, ele não existe. Era somente um sonho mirabolante de século passado.
HUMANOS-RATOS DE LABORATÓRIO
Lembro, e não faz muito tempo, quando íamos pescar no açude durante a noite. Os pernilongos faziam festa nos nossos corpos. Não havia repelente
de farmácia. A gente acendia uma fogueira e tomava umas pingas.
Nos piqueniques, eventualmente a gente se machucava. Lavava, secava e colocava mertiolate. Ardia pra burro, mas era um santo remédio.
Pegava uma gripe, era caldo de galinha e inalação. Em dois dias já estava bom.
Problemas estomacais frequentes? Bastava um sal amargo e tudo se
resolvia.
Cobreiro? A benzedura curava.
Fraqueza? Biotônico solucionava.
Bastante arroz e feijão, carne de porco, banha de porco, leite direto da
teta da vaca, pão assado no forno de barro.
Sobrevivemos, e com saúde!
De repente, passamos a ter colesterol e triglicerídeos altos. Enfartamos,
tivemos derrames, cânceres diversos. E não me digam que é pelo fato de vivermos mais.
As crianças são hiperativas, autistas, nascendo com má formação e, em
número assustador.
As gripes que antes matavam somente os índios passaram a nos matar
também.
O certo é que os laboratórios estrangeiros cresceram exponencialmente
e a quantidade de “novos” medicamentos aumentaram na mesma ordem.
Somos um dos maiores consumidores no mundo de Clonazepan,
Estatinas e Levotiroxina Sódica.
Existem enormes suspeitas de que a África seja um quintal de experiências com medicamentos. Não bastasse ser espoliada de suas riquezas.
Talvez a América Latina seja muito negligente com relação aos
remédios que, em seus países de origem são proibidos. Vide a fluoretação da água, já proibida em alguns países do primeiro mundo.
Quantos dos nossos adquiriram câncer pelo uso indiscriminado de
herbicidas, vetados nos países produtores.
De repente passamos a consumir antioxidante, acidulante,
emulsificante, estabilizante, espessante, umectante, antiumectante, corante,
flavorizante e edulcorante.
Mexemos na genética dos animais. Nossos frangos têm peitos grandes e
grandes coxas! Os comemos no natal. Os embutidos? Sabe lá o que é
adicionado, aliás, desconfiamos. Um horror!
Até o mosquito foi modificado. Agora ele não mais só nos suga o
sangue, ele nos infecta com doenças e quem nos suga são os grandes laboratórios com seus supostos remédios miraculosos e caríssimos.
Os alimentos foram modificados.
Passamos a morrer aos borbotões.
As demências estão cada vez mais precoces.
Ficamos preguiçosos.
Ficamos em depressão.
Os cânceres estão aí.
Emburrecemos de vez e ficamos apáticos.
Será mesmo que nos transformamos em homens-ratos de laboratório?
Se a química medicamentosa e alimentar nada tem a ver com isso, não
sabemos. Mas, merece uma reflexão.
EU GOSTARIA
Que nessa mudança de rumo da nossa pátria as nossas crianças saibam
de uma vez por todas de fatos reais e incontestáveis da história moderna.
Gostaria que todas as escolas brasileiras falassem sobre o que é o
regime comunista e o que eles fizeram.
Para começar voltemos um pouco no tempo e lembremos-nos da
Albânia, referência de socialismo para os apaixonados comunistas brasileiros.
Sob a regência do Ditador Enver Hoxha, inchou o país com mudanças sociais
e o transformou no mais pobre da Europa.
Perseguiu todos os religiosos e declarou estado ateu. Aprisionou e
assassinou seus cidadãos como tática de limpeza ideológica. Durante a
Ditadura no Brasil, os nossos comunistas ouviam a rádio de Tirana( capital da
Albânia) para obter informações relevantes. O mesmo acontecia com a Voz
de Moscou, que transmitia em português durante uma determinada hora do
dia.
Era uma guerra de informações importantes. João Amazonas, nosso
líder comunista era ouvinte assíduo. Eu também sintonizei muito a Rádio de
Moscou, como a emissora da Albânia, era em Ondas Curtas. O que me deixa
mais triste é que João Amazonas faleceu em 2002 sem reconhecer o fracasso
do comunismo na Albânia. E mais, sem fazer mea culpa sobre o quanto de
ruim o comunismo trouxe para o mundo civilizado.
Não vou referir-me ao Che, pois é mais do que sabido da sua crueldade
com aqueles que não compactuavam com suas ideias. Quando discursou na
ONU, disse que fuzilava e continuaria fuzilando. Falou a verdade.
A situação da Coreia do Norte e de Cuba nos remete para uma situação
preocupante se tal ideologia se firme no nosso país.
A Venezuela de Chaves e Maduro está em bancarrota. Se em um país
falta até papel higiênico é por que a indignidade comunista bate à porta.
O mais estarrecedor é o fato de que os nossos políticos comunistas,
agraciados com polpudas verbas públicas, defendam na tribuna tal ideologia!
O Brasil é um país relativamente jovem e não se firmou nessa questão.
Não sabemos se iremos totalmente para a direita ou ficaremos no
centro. O certo é que, para a esquerda será um caos anunciado. Não temos
esse perfil.
Somos alegres e aceitamos no lombo as vicissitudes, mas jamais
acataremos a falta de liberdade de expressão.
Não se deixem enganar pelo canto da sereia, o comunismo é um
retrocesso na cultura humana. Marx teve o seu tempo que não é o nosso
tempo. Ele estava errado por uma simples razão: O ser humano é livre para
pensar e mudar seu destino particular, por isso os povos avançam.
O que a humanidade não pode esquecer jamais é que o comunismo
matou de 1917 até hoje cem milhões de seres humanos!
QUALQUER FUNDAMENTALISMO ENGESSA O CÉREBRO E
ESSE É PASSÍVEL DE MANIPULAÇÃO.
O QUINTAL DA CASA GRANDE
Não é de hoje que a América Latina se constitui de um grande cadinho
de manobras econômicas orquestrado pelo Grande Capital.
Não é de hoje que o manobrar das massas sempre teve o objetivo de
manter intactas as grandes e poderosas “Famílias” que dominam o ocidente.
Tudo através de golpes e contra golpes.
Não é pequeno afirmar que a América Latina foi e ainda é comandada
por forças muito além da nossa compreensão. Getúlio e Juscelino sempre
disso souberam e pagaram o preço. A questão não é política. Nunca foi!
Jango, com suas Reformas de Base, abria um novo leque nestas
relações de maneira mais precoce. O que, provado está, ainda não era o
ingrediente faltante nessas “relações”. Pagou o preço. O povo pagou também.
Era premente que se instalasse uma reestruturação no país rapidamente
com investimento maciço na infraestrutura para o que estava por vir: Foram
obras “faraônicas” que de certa forma fez o Brasil avançar, vide Itaipu,
Eletrobrás, Petrobrás, etc.
Brizola sempre denunciou os “interésses” e a constante espoliação do
povo brasileiro, mas sempre foi ridicularizado. Lá atrás quando ele, o Brizola,
encampou a empresa de telefonia aqui no Rio Grande, todos nós aplaudimos.
Ele tinha um objetivo e sabia o porquê fazia isso. Quando ele construiu
centenas de escolas Rio Grande a fora, ele sabia que a única salvação seria a
Educação. O futuro demonstrou que ele estava certo. A Coréia do Sul foi
assim, o Japão foi assim e Israel também. A Educação alavancou essas
nações. O maior investimento de um país tem que ser a Educação! Isto é
básico.
A Ditadura Militar preparou o caminho para o que estava nos bastidores
aguardando a entrada triunfal: O Grande Capital.
Agora, com toda a infraestrutura montada, que venham os Bancos
estrangeiros e as multinacionais. E, que as grandes empreiteiras transformem
esta terra num grande canteiro de obras. Que os especuladores (os que mais
ganham sem nada produzir) aportem aqui e faça deste quintal um paraíso do
dinheiro fácil à custa do suor de cada um de nós brasileiros!
É prova cabal que nenhum governo mexeu com os bancos.
Até as pedras sabem que a caixa preta das multinacionais nunca foi
aberta.
Por causa de antigos acordos, ainda pagamos pesados royalties para
Inglaterra e outros.
Nossas dívidas internas e externas tornaram-se impagáveis.
Para que tudo isto acontecesse o Grande Capital sempre produziu
Sarneys, Collors, FHCs, Lulas, Dilmas, Temers, tudo de caso pensado.
Coadjuvantes não menos importantes, sempre tivemos ao longo do tempo, os
nossos Cunhas, Renans, frutos de um mesmo Capital Cruelmente Selvagem!
Sempre pagamos o preço.
Em breve pagaremos outra cota maldita desse acordo que fizemos com
as “Grandes Famílias” de continuar fazendo da América Latina o Grande
Quintal da Casa Grande.
Eles te fizeram pensar que esquerda e direita realmente existe.
Somos o que somos.
E assim seremos.
Em algum momento da História deveremos dar um basta!
O AMOR NA ENVELHESCÊNCIA
Falar de amor na idade provecta soaria como o amor incondicional dos
pais e avós. Esses são de fácil constatação.
Refiro-me, com propriedade, ao amor mesmo, aquele que treme a
perninha, bate a ansiedade, e se satisfaz com um sorriso, abraço ou uma breve
conversa.
Partindo de quem seja semiprovecto, pareceria, para os mais jovens,
algo fora da casinha. Não é.
Ele tem o arroubo infantil e fica alheio aos apelos hormonais.
É a vontade incontida de uma companhia serena e perene bem
contrastante com a odisseia jovial, onde os relacionamentos são céleres e
turbulentos.
Uma casinha branca e um quintal de mato verde diz tudo. É bem assim.
Passaria toda a vida, ou o que restasse, na janela olhando e admirando
sem que nada lhe quebrasse o encanto.
Não há coração partido, pois esse é um sentimento de classe especial.
Há quem diga que o amor não tem idade. Este tem.
É aquele que não se aquebranta se não for correspondido.
Ele é o alimento da alma de quem é mais vivido.
É o que lhe faz mais vivo.
O amor na envelhescência torna leve o fardo tempo.
É o coroar de glória uma longa vida exitosa.
É uma dádiva que Deus dá para poucos.
HOLOCAUSTO BRASILEIRO (VERSÃO
MODERNA)
Já tivemos o nosso holocausto, sim, é verdade e aconteceu em
Barbacena, Minas Gerais.
Estive lá, não no hospital psiquiátrico, mas na escola militar daquela
cidade de 1970 até 1972.
Ouvi falar muito a respeito e até chamávamos a cidade de, além de
“Cidade das Rosas”, também de “Cidade dos Loucos”. Hoje eu peço perdão
aos barbacenenses. Foi assim, infelizmente. Fiz muitas amizades na cidade e
eles contavam-me por alto o que lá acontecia. Eu não imaginava a extensão
do horror. A história não tardou em denunciar para o mundo o que houve no
interior dos pavilhões do Hospital Colônia de Barbacena. Foi muito triste.
Sempre tive “on my mind” que a barbárie fica a espreita e
seguidamente dá as caras. Uma prova de que ainda não evoluímos.
Não aprendemos a consternarmos e indignarmos. Parece que a apatia
que nos acompanha não dá lugar a outro comportamento, o da revolta.
Não é admissível que as coisas aconteçam nas nossas barbas e
comportamo-nos como zumbis amestrados. Não é possível!
O mais intrigante é que sabemos quem são os culpados pelo caos na
Saúde!
O mais revoltante é que sabemos quem ou o que desviou o dinheiro que
amenizaria o agonizar da Saúde.
E o que é mais chocante: os responsáveis são aqueles, muitas vezes
endeusados pelos mesmos que estão jogados nos corredores dos hospitais.
Não servem mais as desculpas, promessas e discursos protelatórios.
Nem quero falar das escolas feitas de barro e sem carteiras, banheiro e
água potável. No interior do Brasil elas são muitas, parece coisa do século
dezenove. É um espetáculo degradante. O que pode ser o atendimento à saúde
então? Não é mais péssimo, chega ser surreal e bizarro. Inferno de Dante é
pouco.
Uma nação com um mínimo de sensibilidade com a dignidade humana
não chegaria a tal ponto!
Somos apáticos e aceitamos passivamente o que dizem as autoridades:
Falta verba.
Salta aos olhos que as verbas estão em outros lugares com menor
prioridade. Já estamos carecas de saber. E nada fazemos para mudar tal
situação.
Há quarenta anos aqui em Porto Alegre o secretário da saúde recém-
empossado prometeu resolver o problema da saúde no município. Nunca me
esqueço do seu discurso.
Sentimos o verdadeiro caos na saúde na nossa pele, no nosso corpo, etc.
Não é humano ser atendido(quando é atendido) no chão de um corredor
de hospital.
Não estamos em guerra.
Talvez seja mesmo um holocausto...
QUAL SERÁ O NOSSO LEGADO? VER QUE TODAS ESSAS
DESUMANIDADES ACONTECERAM DIANTE DOS NOSSOS OLHOS E
NADA FIZEMOS.
RESPOSTA À CARTA DE PERO VAZ DE
CAMINHA
A carta de Pero Vaz de Caminha foi o primeiro documento oficial do
Brasil. Estudei minuciosamente tal documento para encontrar algo que me
explicasse que terra é essa que os europeus portugueses fizeram o
“achamento”, conforme escrito em português do século dezesseis. Pero Vaz
narrou os últimos dias de abril de 1500 na terra achada. Alem da descrição da
beleza dos índios e índias, a maior preocupação era o que a nova terra pudesse
oferecer de riquezas para a coroa portuguesa. Dois grumetes fugiram da nau e
se embrenharam na mata. Ficaram poucos degredados em terra firme. Mas o
que mais chamou a atenção foi a missa rezada por Frei Henrique, cercada de
algum requinte possível, simbolizando a posse da nova terra e instituindo para
o futuro um novo mundo de explorações, sejam elas quais fossem. Foram
esses os alicerces em que se firmou Brasil: Exploração de riquezas.
Na carta, Pero Vaz ressaltou a inocência daquela gente que não cobria
as suas vergonhas e que seria terreno fértil para a palavra do Evangelho. Pediu
ao rei, que enviasse um clérigo para a evangelização.
A INOCÊNCIA DOS ÍNDIOS E A PASSIVIDADE É A NOSSA
MAIOR HERANÇA!
Os séculos vieram e com eles a espoliação das nossas riquezas não teve
mais fim.
Tudo começou com o pau-brasil, depois vieram o ouro, diamante e
pedras preciosas. Passamos pelas riquezas cultivadas, café, açúcar, algodão,
etc. Entregamos o nosso látex. Nosso mogno está indo embora. Nosso
petróleo, bem, é um capítulo a parte.
A mesma inocência que Cabral encontrou lá em 1500 é a mesma hoje.
Somos castos demais!
É uma ganância desenfreada, igual ao século 16 e 17 nas minas gerais,
e para essa inventamos diversas desculpas: globalização, livre mercado,
royalties, privatização, ideologia política. A entrega de nossas riquezas é
amparada por políticos generosamente agraciados independentemente da cor
partidária.
Nós, democraticamente elegemos um parlamento, que, como disse um
palestrante da ONU: “Por favor”!
Literalmente estamos no mato sem cachorro!
Os dois grumetes que sumiram no mato, fugindo da frota de Cabral, são
os culpados. Ou talvez os degredados o sejam. Ainda não sabemos.
PASSADOS CINCO SÉCULOS, CONTINUAMOS ETERNOS
TUPINIQUINS ACREDITANDO EM TUDO QUE NOS DIZEM!
A espoliação das nossas riquezas está de vento em popa. Quando
lembro que fui às ruas gritar que o petróleo era nosso, me sinto um idiota.
Fomos às ruas pedir que a camarilha saísse do governo, entrou outra
mais nefasta ainda e, que age nas sombras. Pobre Brasil! Nem lutarei pelo
Nióbio ou outro mineral raro. Poderei, de novo, fazer um papelão.
Escreverei ao Pero Vaz de Caminha para que reveja a sua posição e
deixe em sigilo o achamento da terra de Santa Cruz. Sua Alteza não precisa
saber dessa terra e, por favor, não deixe nenhum degredado aqui. Encontre os
grumetes que fugiram e os levem, todos, para as Índias. Afinal, não é para lá
que frota estava viajando?
Ah, se fosse possível!
EU NÃO ACREDITO NAS NOTÍCIAS!
Não me venham com fotos da Venezuela onde o povo está nas ruas
pedindo a saída do presidente. É mentira! E aquelas fotos das carências em
hospitais, é montagem. Foi tudo editado. Deveria ser em outro país. Disseram
que falta até papel higiênico! Tudo intriga da imprensa de direita. O povo está
feliz, afinal, ser socialista é um estado de felicidade impar. Aquelas imagens
sobre a pobreza em Cuba? Balela. É tudo fotoshop!
Eu não conheço Cuba e nunca fui à Venezuela. Muitas vezes aparecem
fotos desses dois povos na minha internet. Devem ser vírus ou notícias falsas.
Eu mesmo minto na internet, digo pra todo mundo que sou bonito e coloco
uma foto bem antiga. Eu conheço o Brasil. Ah, se conheço! Ali, ao vivo e a
cores, vi a miséria e a pobreza.
Numa desses exercícios militares que fiz no interiorzão de Barbacena,
lá em minas quando eu era aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, eu
vi a pobreza das famílias, era início da década de setenta. Aquela gente pobre
nem sabia o que estava acontecendo no Brasil, mas tocavam as suas vidas
plantando uma rocinha aqui, outra ali. Tal situação não lhes tirava o sorriso. O
brio não lhes faltava e a esperança de dias melhores também. Na sequência da
minha preparação militar fui para Natal, no Rio Grande do Norte. Numa
andança que fiz ao interior na cidade de Mossoró, vi algo que chamou minha
atenção: a miséria, algo que até então não havia visto. Muito jovem ainda, não
entendia direito como as pessoas conseguiam viver daquela maneira. Nunca
mais esqueci o cheiro dos lugares, sim, pois miséria tem um odor
característico. Olhei nos olhares e só enxerguei desesperança. Muito triste.
De volta ao Rio Grande do Sul, terra da abundância, eu fiquei feliz.
Mesmo na pobreza eu manteria firme a ideia de progredir, e assim foi.
Entretanto, nem tudo eram flores. Nos anos oitenta deparei-me com uma
situação estarrecedora numa das ilhas aqui no nosso rio Guaíba, onde pessoas
catavam comida no lixão. Era uma mistura de pobreza, miséria e indignidade.
E tudo diante das minhas barbas!
Eu gostaria de ter mudado essa história, mas não saberia como fazer.
Todavia, por essas obras do destino, surgiu na história do país uma
distinta senhora cujo nome era Ruth Vilaça Correia Leite Cardoso, hoje
falecida. Era formada em antropologia e, como primeira dama, criou o
Programa Comunidade Solidária. Alheia as maracutaias do marido com as
nossas estatais, dona Ruth foi precursora de um dos maiores programas
sociais da história brasileira: A Bolsa Família. Bingo! Era isso que eu
imaginava, para dar um alento e esperança para esse povo tão sofrido que ela
viu, e, que eu também presenciei. Infelizmente, a fome e a miséria eram
nossas companheiras frequentes em todo o canto do território.
Dona Ruth, indubitavelmente era sensível para esses problemas. A
experiência deu certo durante a década de noventa.
Nos anos dois mil, o novo governo da esquerda intitulou-se pai do
programa e fez o que de pior a natureza humana seria capaz de fazer: usou o
programa em benefício próprio para curralização e instrumento de poder.
E, de todas as misérias e pobrezas que vi, essa que se apresentou diante
de nossos olhos foi a pior: a miséria de caráter. O de usar a dificuldade
humana para se autopromover.
Digo sempre: enquanto eu enxergar miséria e pobreza, eu terei a certeza
de que os dirigentes não cumpriram com o seu dever.
PRÁTICAS DELITIVAS, IMORALIDADES E
MENTIRAS
Nas guerras as pessoas morrem cumprindo o dever.
Na miséria as pessoas morrem porque alguém não cumpriu o dever.
As armas matam pessoas, mas não destroem sonhos. A má política
destrói os dois.
(IMPÉRIO DO CINISMO - Sérgio Clos - 2001)
Não é de hoje que nós, cidadãos, assistimos diuturnamente os
desmandos de uma administração pública viciada e mal-intencionada.
Nossa memória encurta-se na mesma medida em que os fatos se
sucedem.
A CPMF( Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o
maior engodo pelo qual passamos não disse a que veio e até as pedras das
calçadas dos hospitais sabem para onde foi o dinheiro.
Os quatro ventos estão carecas de saber também, pois foi dito a eles,
que o caos na saúde tornou-se um caos maior. Lembro-me dos discursos
inflamados na tribuna do parlamento ao aprovarem esse imposto. Gostaria de
esquecer, mas não consigo.
Temos uma alta carga de juros bancários(o maior do planeta) e os
nossos gestores nem ousam em mudar o quadro. Não raramente, colocam para
cuidar da nossa economia um diretor de banco privado com a desculpa de que
o mesmo é um especialista. Jamais ele proporá medidas que diminua os lucros
astronômicos do sistema bancário. ARRISCO A DIZER QUE ESTE TIPO
DE EXECUTIVO NÃO É PATRIOTA. UM EMPRESÁRIO CAPITALISTA
AINDA É MAIS CONFIÁVEL.
Recordo da implantação da tomada de três pinos, algo tão simples, mas
que nos incomoda sobremaneira. Na copa de 2014 os estrangeiros ficaram em
papos de aranha para carregar seus celulares e notes. Foi vergonhoso. Agora
têm as Olimpíadas, pobres estrangeiros...
E o kit de primeiros socorros obrigatório. Outra vergonha!
A novela dos extintores de automóveis mostra o quanto estamos na
contra mão da história.
O recente episódio dos radares meteorológicos desligados por falta de
verba. O absurdo dos absurdos!
Escolas de taipa com telhados de capim, sem energia elétrica e água
potável, são o cenário do interior do Brasil.
Estrada mal feita, viaduto mal construído, ponte mal planejada, ciclovia
que cai e prédios que racham, são o nosso dia a dia.
As obras antigas duram mil anos, as obras modernas no Brasil duram
mil horas!
SOMOS UM PAÍS GRANDE, MAS PEQUENO NA GRANDEZA.
Somos trabalhadores e não merecemos os gestores que temos.
Não merecemos o parlamento que temos.
Nossos vereadores, deputados, senadores, nos enganaram literalmente!
A ganância não tem limite!
ENTRE O MAR E O ROCHEDO
Não é de hoje que nossa pátria passa por perrengue.
Talvez seja um ciclo que se encerre, e, foi um longo caminho até aqui.
Tudo começou lá com Getúlio, que, sob pressão, não aguentou todo o
rebosteio.
A questão das conquistas trabalhistas seria o curso natural da história,
pois a reorganização do país assim exigia, era relevante para o tipo de nação
industrializada que ora se almejava. Para isso a reestruturação seria necessária
e não encaixava o modelo socialista, que nivela por baixo. Havia sim que
tomarem-se medidas extremas, assim as castas exigiam e os maiores
“interessados” assim determinavam. Os militares cumpriram a sua parte e
duas décadas depois entregaram um novo país nas mãos daqueles que antes
foram os algozes da população.
Pelo jeito, não aprenderam.
Nem eles e nem nós, os atingidos.
A mesma casta espoliante e gananciosa, como sempre o é, fez da nação
um cadinho de experiências econômicas, na maior parte delas, desastrosas.
Mas, nunca, em nenhum momento, tais castas tiveram abstraídas dos seus
ganhos. Vide bancos e multinacionais.
E para que se mantivessem intocáveis os maiores exploradores da raça
brasileira, os políticos, na esmagadora maioria, protegeram o grande capital
sob o manto da democracia e do livre mercado.
Estamos sim entre o mar e o rochedo, e, tristemente, não será desta vez
que nos livraremos do grande capital que nos faz suar e esperançar.
Economia e Política são irmãs siamesas.
Neste pensar é fácil inferir que o comunismo seja o filho rebelde e
parasita do capitalismo, pois dele sempre obteve mesada. E mais, ele, o
comunismo, não sobrevive pelos seus meios, nunca. A história é a maior
testemunha.
Alguns políticos comunistas brasileiros associam justiça social com a
ideologia do partido. A confusão é intencional, e, isso causa espanto, para não
dizer estarrecimento! Para algum desavisado é perdoável, mas, para alguém
que tem mediano esclarecimento, é má intenção!
Na ponta, temos nós, os cidadãos, que no final das contas é o pagador
de todas essas mudanças de rumo.
CABE AO POVO QUE CADA VEZ MAIS SE POLITIZA, EM QUE
PESE ÀS DIVERGÊNCIAS DE IDEOLOGIAS, TOMAR AS RÉDEAS
DESSA BAGAÇA.
Getúlio talvez estivesse certo.
Brizola talvez estivesse certo.
Os militares, os de antes, talvez estivessem certos.
Nunca saberemos.
E também não sabemos qual o futuro nos aguarda.
Se os homens de bem não tomarem as rédeas, OS MAUS DE SEMPRE
DARÃO AS CARTAS.
PACATO CIDADÃO E AS COISAS MIÚDAS
Por uma destas ideias inusitadas resolvi medir o comprimento do papel
higiênico. Para minha surpresa no mesmo, com o rótulo de “60 metros”,
faltavam 20 metros. Coisa pouca, afinal é somente um papel higiênico!
Lembrei-me da velocidade da minha internet e resolvi medi-la – era
mais devagar do que meu contrato dizia.
Meu celular recebe mensagens “interativas”, que não pedi e come os
meus créditos. Coisa pouca, afinal são apenas 5 reais!
O meu gás está durando menos, acredito eu, seja pela quantidade que
vem dentro do bujão. Não me arrisquei em pesar. Pode ser que faltem alguns
quilinhos. Coisa pouca.
A gasolina, bem, aí a coisa complica, talvez tenha mais álcool ou
alguma água, ou querosene, como saber. E como medir?
A carne embalada a vácuo, quando aberta a embalagem, surpresa! Uma
capa de gordura oculta que de repente possa servir para alguma coisa. E pode:
fazer sabão!
O peixe congelado que comprei lá na Semana Santa tinha um nome
estranho, soube depois, veio da Ásia, criado em rios extremamente poluídos.
Uma nojeira, o gosto disse tudo.
O cartão de crédito tem uma armadilha: quando você ultrapassa o seu
limite em 1 real, o “caixa” aceita e a operadora te cobra depois na fatura o
valor de 20 reais pela análise de crédito e por ter liberado automaticamente o
valor de 1 real além do teu limite. Coisa pouca, afinal o que são 20 reais?
Você toma alguns remédios de uso contínuo e o posto de saúde não têm
todos, às vezes faltam um ou dois. Coisa pouca, afinal o que são um ou dois
remedinhos.
Você espera quase um ano para ser atendido por especialista na rede
pública de saúde. No dia da consulta o médico falta por alguma razão e o
sistema não coloca outro para atender. Você remarca a consulta para daqui
outros meses. Coisa pouca, afinal o que é esperar mais um ano?
Seu filho vai à escola, mas deve levar também o lanche e o papel
higiênico, pois a merenda escolar junto com a verba foi desviada por algum
político “honesto”. Coisa pouca, afinal são coisas miúdas.
Você vai ao supermercado, vê um preço, passa no caixa, o preço é
maior. Coisa pouca, afinal são só alguns reais.
Você se aposenta e descobre que o seu patrão passou anos fraudando os
teus ganhos. E aí, você passa anos da sua aposentadoria esperando que a
“Justiça Trabalhista” faça justiça.
O seu trabalho é feito de maneira integral, mas por algum erro de
gestão feito por político “honesto”, o teu ganho é parcelado ou atrasado. Coisa
pouca, afinal são só algumas semanas. Os teus credores não irão reclamar.
Não bastasse tudo isso, teu plano de saúde caríssimo te nega algum
procedimento na hora em que você mais necessita. Coisa pouca, afinal é só
um cancersinho, e está no início ainda.
Tua caderneta de poupança te dá seis por cento ao ano e o cartão de
crédito te cobra 500% ao ano, juros sobre juros. Coisa pouca, afinal você
precisou e eles têm que sobreviver.
O juiz da tua comarca tem auxílio moradia e você paga aluguel, embora
ele ganhe trinta vezes mais que você, more ao lado do foro e tem casa própria.
Coisa pouca, é apenas uma morada modesta de classe media alta.
Sou um pacato cidadão e não ligo para coisas miúdas.
Quando o seu deputado votou numa pauta de extrema relevância, ele
foi bem claro: Votou por ele e pela família dele, por você não! Você é uma
coisa miúda.
MEMÓRIA
O prêmio Nobel da Medicina Susumu Tonegawa diz que memória
perdida por Alzheimer pode ser recuperada.
Em estudos os resultados fornecem algumas das primeiras evidências
de que a doença de Alzheimer não destrói por completo as memórias
específicas, torna-as “apenas inacessíveis”. (2016)
(Susumu Tonegawa é um cientista japonês, laureado com o Nobel de
Medicina em 1987.).
Sempre tive a curiosidade de saber onde fica a memória.
Muitas vezes a observação e a intuição nos mostra o caminho para
decifrar ou responder tal questão. A ciência está no caminho.
Embora não seja estudioso da área, fiz um ensaio espiritualista a
respeito do assunto, baseado apenas nas minhas observações, onde afirmei
que a memória não está dentro do cérebro fisicamente:
Do livro, “Premissas”, editado em 2013 – Página 69.
O corpo mental é o nosso guardião da memória.
“O cérebro é um órgão ativo e não passivo. Quando se fala em centro
da memória, nos dá impressão que se trata de um grande arquivo de dados
instalado dentro do cérebro. E não é. Crer que o nosso cérebro é quem guarda
as informações de toda uma vida é acreditar que, quando se morre, perde-se
tudo. Não tem sentido e não é lógico. Colide frontalmente com a objetividade
da vida, confirma a Teoria do Acaso e alimenta a Ciência da Incerteza. Um
dos caminhos para provar a existência do corpo mental é a impossibilidade de
encontrar a memória dentro do cérebro.”
Cumpre salientar que esta é uma afirmação espiritualista e mostra certa
coerência com os estudos do nobre cientista.
COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA
Faz frio e muito frio.
Entretanto, mais frio do que o próprio frio é a frieza com que tratamos
os nossos velhos.
É certo que nos asilos durante o inverno eles têm pneumonia e morrem
mais que nos outros meses do ano, pois levantam cedo e tomam banho frio ou
quase isso.
Jamais entendi o porquê dos filhos abandonarem os velhos nos asilos.
Jamais entendi o porquê das crianças serem jogadas nas creches.
Talvez seja uma cultura do troco: “Você me coloca na creche e mais
tarde eu te coloco no asilo.”.
Se as crianças não correm mais no pátio da casa porque estão na creche;
se os velhos não precisam da cadeira de balanço na varanda, então a moradia
dispensa o pátio e a varanda. Moraremos em pombais e cubículos sem
crianças e velhos, e sem calor humano. Ficaremos frios de alma com a
resignação de que assim deve ser. Passaremos a vida inteira tentando
encaminhar os filhos e netos para uma vida profissional de sucesso e
ficaremos tristes quando eles forem embora, voltando bem mais tarde para
nos depositar em asilos.
Esquecemos que o maior investimento que devemos fazer durante a
vida é investimento emocional, para que o frio de todos os invernos seja mais
quente e humano.
Que os velhos tenham a sua varanda e sua cadeira de balanço e,
enrolados num cobertor de lã, possam contemplar a gurizada brincando na
geada dos invernos da vida.
Todavia, parece que o lar acabou, temos só o comprovante de
residência.
CTI
Foram poucos dias na CTI do Instituto de Cardiologia aqui em Porto
Alegre. Para que fique bem claro foi apenas uma “oclusão da ponte para
ACX-Mm, e lesão subjacente em ACx com lesão grave. ACTP com stent
eluído sem intercorrências”. Fica óbvio que todos entenderam o meu
piripaque, acho que até uma criancinha de cinco anos entenderia. Mas não é
pra falar deste meu queixume. É pra falar que a técnica de enfermagem meu
deu banho! Meu Deus, que pobre mortal me tornei. Do alto da minha
soberba, ela virou-me e lavou minhas “partes”, inclusive a “parte” pequena!
Lembrei-me que há 20 anos, enquanto eu era atendido por uma delas, veio sua
colega e lhe falou alto: “Chegou um guri bem novinho, vou lá correndo pra
dar banho nele!” Naquela época senti-me ofendido. Também estava na CTI
do mesmo hospital, sentindo-me um velho sem grande importância(e eu
achava que naquela época eu era um garanhão). Hoje, já ancião, tremi na base
quando ela disse que iria me dar banho. Foi lamentável: Apanhou uma bacia,
encharcou um pano ensaboado e tacou no meu peito, esfregando-me com se
limpa uma mesa, pia ou qualquer coisa. Minha dignidade começou a ruir
quando ela disse pra eu pegar o pano molhado e limpar os meus acessórios
masculinos. Eu disse não, naquela altura abri a guarda e deixei-a fazer o
serviço. Minha dignidade desmaterializou-se. A última pessoa(não eu) que fez
isso comigo foi minha mãe há mais de seis décadas. Pra completar a triste
contenda, mandou-me virar e limpou-me o traseiro. Já não era mais eu. Eu
era uma coisa de carne, e por mais que filosofasse, não passava de uma “coisa
de carne”, com pés, braços, tronco e bunda. Estava limpo, olhei pro
”documento” higienizado e para não deixa-lo acabrunhado falei em voz baixa
pra ele: Não te preocupa gurizinho, ela não sabe que tu geraste três filhas e tu
deste muitas felicidades pra tua parceira nas últimas quatro décadas; quando
ela (a enfermeira) nasceu há muito tu já estava na lida. Depois do banho,
trocou a roupa de cama e me disse: Pronto, agora tá limpinho! Graças a Deus,
foi a primeira palavra positiva que recebi na semana. Até então o
Cardiologista falou mais de uma vez que eu iria morrer se continuasse a
fumar. Quando ela falou a palavra “limpinho” quase me apaixonei. Mas não
durou muito, pois na cama da CTI do lado da minha, entrou um gurizão de
porte atlético e deveria estar “muito” sujo, pois as enfermeiras estavam
sorteando quem seria a felizarda para dar-lhe um banho. Eu odeio CTI!
CUIDEM DOS SEUS IDOSOS
A Instituição que visito regularmente abriga 160 idosos e desse
universo, 22 asilados não recebem nenhuma visita. É um percentual
preocupante. Uma estagiária do Serviço Social lançou um projeto que se
denomina “Padrinho Afetivo”. Infelizmente ela conseguiu que apenas duas
pessoas se dispusessem a visitar estes idosos. Não vem ao caso neste instante,
pois todos têm lá suas razões. Mas, é uma triste realidade.
A adoção de idoso, ao qual me referi no texto “IDOSO PARA
ADOÇÃO”, é um alerta para o problema.
Vivemos numa sociedade(talvez imatura), na qual eu me incluo, onde o
padrão aceito é o da jovialidade e o da estética. Os que não se encaixam são
sumariamente alijados. Não é a toa que as Instituições de Longa Permanência
estejam proliferando e não dão conta da demanda. Talvez sejamos uma
sociedade hipócrita, e, eu também me incluo. O culto a beleza e a forma
deixam os idosos em segundo plano, quiçá em terceiro. A sociedade
capitalista consumista tem esse defeito, infelizmente.
É uma cultura tão enraizada que os próprios velhos afirmam que o
mundo é dos jovens. Engano, O MUNDO É DE TODOS!
As políticas públicas têm evoluído no sentido de amenizar esta
problemática, ainda assim não toca no fator cultural. E mais ainda, não atinge
o foco principal que é o seio familiar.
E é no conjunto da família que o idoso deve ter a sua finitude digna.
Não há complexidade nisto! O Asilo deveria ser a última alternativa. É
simples!
Adotar um idoso? Não seria uma ideia tão louca. Todavia, o velho tem
suas manias, suas determinações e seus vícios. Não há como mudá-lo. Pode
sim adaptar-se a uma nova situação, por que isso é humano. Moldá-los, sim,
seria uma pretensão desumana. E ainda correria o risco de ser devolvido.
Ação mais desumana ainda. Logo, adoção de idosos é apenas uma maneira de
chamar a atenção para esta chaga social. Ela é impraticável!
Não precisamos ir longe para melhorar o nosso entendimento a respeito
deste assunto. O Estado, com a sua política de defasagem das aposentadorias,
com o aumento da idade para se aposentar, com as filas intermináveis nos
hospitais e com a falta sistemática de remédios, é o principal protagonista
daquilo que estou referindo. Idosos são descartáveis. Idosos dão despesa.
Quando não são mais produtivos, (os que podem) irão para os asilos
particulares, onde se tornarão mercadorias valiosas.
Cuide do seu Idoso.
Um dia, se Deus lhe der muitos anos de vida, você será um.
E quando puderes, visite um idoso asilado.
MEU RETORNO
Lembro vagamente, devagar na minha mente. Havia muitos matos e
serenguetis. Muitos animais vinham até onde eu estava de tempos em tempos.
Sei que era uma vida difícil. Às vezes mudávamos de lugar para ficar perto da
água. Minha família era numerosa e trabalhava muito. Os caminhos eram
muitos. Não dava para medir o quanto nós viajávamos. Havia poucas aldeias e
ficavam muitos dias de distância umas das outras. Tenho certeza que em tudo
o que conheci a quantidade de pessoas não era lá muito grande. Para nós o
mundo era grande demais, não acabava nunca. Durante a minha vida conheci
povos estranhos, mas tínhamos boas relações. Eu era muito curioso e passava
o tempo todo fazendo perguntas para os meus pais. Nem sempre conseguia
respostas. Quando adulto e depois ancião tentei responder as perguntas que eu
mesmo fizera no passado. Sobre muitas coisas fiquei sem saber. Num
determinado dia lá no longínquo passado eu apaguei de vez, não lembro
direito o que havia acontecido. Sei que passaram milhares de anos, e cá estou
novamente.
É um mundo estranho, talvez eu tenha caído aqui por acaso, não sei.
Tem muita gente. Estou impressionado. E a pergunta que não quer calar: De
onde veio toda essa gente?
Por diversas razões ou pelos meus constantes questionamentos não
demorou muito para eu debandar para o espiritualismo.
Em que pese algumas divergências da minha parte, pois continuo com o
mesmo espírito crítico de sempre, encontrei muitas coerências e algumas
explicações para as minhas demandas na corrente espiritualista. Não muitas.
Quando é abordado o tema reencarnação, aceito sem parcimônia, pois
eu sou a prova.
Fui para os livros e constatei que na minha época o planeta tinha
poucos milhões de gentes. É teoria. Na realidade era bem menor, entretanto,
não há como provar. Elaborei algumas teses sobre o tema e creio que esta
desproporção tem lá suas razões. O que me preocupa mesmo é fato de eu estar
aqui de novo. Não sei sequer o propósito de tudo isto. Aventei a possibilidade
de um “tecido espiritual” que forneça “matéria prima” para este monte de
gente que chega todos os dias. Serão os mesmos espíritos de antes? A conta
não fecha. Pode ser um planeta de expiação, para onde migram espíritos de
outras paragens para reabilitação. Talvez nesses outros lugares tenha muita
gente ruim que vem para cá burilar-se. Será?
É provável que as verdadeiras vidas nem sejam aqui no plano físico e
neste sentido explicaria tal desproporção. Ah, então o Budismo acertou em
cheio sobre a ilusão da vida. O Catolicismo embolou o meio de campo e o
Espiritismo ocultou-nos muitas coisas e revelou algumas. O nosso
entendimento é nulo com relação ao segredo da vida. Não captamos a
essência, não por comodismo, e sim por incapacidade cerebral. Este é o maior
de nossos defeitos. Esqueçamos a religião e os falsos conhecimentos ocultos.
Não há nada nesses que não nos seja novidade. Contudo, o fato de alguma
maneira nós professarmos determinada religião, nos eleva e nos aproxima um
pouco dessas questões. Mas não esclarece. Só nos tranquiliza. Que bom.
Poupem esforços, pois o que sei hoje é mesmo que eu já sabia há
milhares de anos. Nada mudou.
A luta pela sobrevivência ainda é a mesma. O desejo de aceitação pelos
grupos de gentes é o mesmo. A vontade de melhorar as condições de vida é
sempre a mesma. O ego é o mesmo. Para falar a verdade não encontrei nada
nesse mundo que eu já não conhecesse. Posso garantir: Pioramos, apesar de
toda a tecnologia.
PEQUENO MANIFESTO
Não! Mil vezes não. O Brasil não tem vocação para o comunismo. Por
razões diversas.
Há que se pensar que, diferente do que muitos afirmam, não somos uma
nação tão jovem. Também não somos uma nação onde a cultura tenha se
sedimentado. Caminhamos num ritmo próprio, muito embora, e muitas vezes,
nos comparemos aos países contemporâneos. Vide América Latina e América
do Norte.
Vivemos em etapas, e muitas delas parecem serem demoradamente
perversas. Sob a identidade de um “não país”, vivemos como colônia mais de
duzentos anos. Sob a cultura imperialista foram quase quatrocentos anos.
Importamos escravos aos borbotões durante mais de três séculos. Somos
república há apenas 127 anos! Nossos escravos foram libertos há apenas 128
anos! Nossas bisavós foram escravas!
Misturamo-nos, como poucas nações do mundo. Arrisco a dizer que
sejamos a única. Somos negros, cafuzos, mamelucos, mulatos, brancos,
sararás, nisseis e até os “não sei”! Nossas raízes têm pensamentos diversos. E,
nessa miscigenação de raças e ideias não perpassa mais a imposição
ideológica. Lutamos para que a expressão se espraiasse em terreno livre e será
impossível retroceder.
Nosso país ultrapassa ciclos, sempre avançando.
Depois do remédio amargo da repressão pré-democrática adentramos
numa seara que há muito nos foi esquecida e aprendemos e apreendemos o
quão valioso era. Reformulamos a política no período Sarney, que, no
princípio não se mostrara eficaz, e, mesmo assim fomos às ruas respirando
novos ares para impor nossas insatisfações. No período FHC, em que pese o
viés maldito da desestatização, conseguimos estabilizar a economia. Nesses
dois períodos o ruidoso PT clamava por justiça social, e nós também. No
período petista, com a economia mais ou menos arrumada, os avanços sociais
foram inequívocos. Mas o preço foi grande ou a fórmula estava
desbalanceada. Tais avanços, sob a égide da esquerda, tinha um claro
objetivo: A curralização. Essa foi grande farsa do comunismo!
A luta do proletariado pelo poder cria, inevitavelmente, uma pequena
casta que, sob o manto do “socialismo”, impõe sobremaneira a mão pesada
sobre os mesmos proletários que os beneficiaram com o poder. Quando os
dirigentes comunistas se apropriam dos meios de produção, aprisionam os
cidadãos.
Uma das retóricas do socialismo é o tudo igual para todos. Eu queria
que todos comessem caviar! Ora, não haverá caviar para todos. Então neste
caso, daremos um pãozinho para todos. E, é o que faz o socialismo: sempre
nivela por baixo.
O capitalismo irresponsável cria bolsões de miséria. Mas, sempre
haverá uma porta aberta para a mudança do status quo. A miséria no lado
comunista é fruto do controle do estado. Você é prisioneiro da ideologia e o
seu pensar fica restrito ao sobreviver. Na propaganda cubana sempre é
exaltado o avanço na medicina, na erradicação do analfabetismo. Estamos
falando de duas Cubas: a Cuba real e a que nos mostram. Prisioneiros
mentais, a atual terceira geração de cubanos ainda fala em revolução, como se
a mesma ainda estivesse em curso. São zumbis ideológicos.
A cantilena da justiça social dos comunistas é uma armadilha. A
verdadeira justiça social é aquela que é aliada ao livre pensamento. O resto é
pura retórica.
Os socialistas afirmam com veemência que Marx previu o esgotamento
do capitalismo. Tal ideologia (capitalismo) tem diversos caminhos,
diferentemente do comunismo que por si só é restrito em sua própria
ideologia. O socialismo praticado pelos antigos vizinhos da Sibéria, não nos
cabe, pois desde 1822 juramos no nosso hino: Ou ficar a pátria livre, ou
morrer pelo Brasil!
E a mesma pátria também é livre no pensamento.
Saímos das mãos dos coronéis e caímos nas mãos dos militares. Depois
caímos nas mãos de aproveitadores e sabotadores da nação. Está mais do que
na hora de ter aprendido. Creio que em breve percorreremos um novo ciclo na
política brasileira: o de rever conceitos éticos e reforçar os fundamentos
econômicos, mesmo que seja na mesma economia de livre mercado sem
concentração de renda e injustiça social. Claro que é possível.
O ranço marxista e o ranço do capitalismo selvagem ficarão somente na
história, ou deveriam!
Grandes filósofos, grandes pensadores e grandes economistas também
erram fragorosamente! Eles vivem o seu tempo, que não é o nosso!
SE O COMUNISMO FOSSE TÃO BOM, NÃO PRECISARIA DE
DITADORES!
DIA DO IDOSO
“Senhor Sérgio, estou reformulando a minha vida, pois há três anos
perdi minha esposa com a qual convivi durante 61 anos. Foi a minha primeira
namorada, e, senti muito a perda. Aqui, com a ajuda das pessoas estou
encontrando-me, graças a Deus.”
Esta foi a declaração inicial do senhor Alberto de 84 anos. Homem de
boa educação e bem articulado, contou-me sobre as suas viagens pelo mundo
e pelo país em função de sua atividade profissional. Disse pertencer a
Maçonaria, pois o indaguei a respeito ao ver pendurado junto a sua cama um
prumo e em sua biblioteca particular alguns livros com a capa estampando um
esquadro e um compasso. Disse também não poder mais participar das
sessões de sua antiga loja maçônica por causa de sua debilidade física.
Entretanto, seus pares o visitam regularmente. Soube (através dos
profissionais da Casa)que ele tem uma filha e uma neta, mas não tocava nesse
assunto, pois havia um estremecimento entre eles. Educadamente também não
quis falar a respeito.
Seu Alberto será meu futuro apadrinhado dentro do projeto “Padrinho
Afetivo” desenvolvido pelo Serviço Social. Foram convidadas diversas
pessoas, mas somente uma estagiária e eu nos propusemos participar dessa
importante iniciativa. Na Casa existe mais de vinte idosos que não recebem
visitas e esta é razão do Projeto.
Procurei informar-me melhor a respeito do caso do senhor Alberto e me
foi relatado que logo após morte da sua esposa, sua única filha requisitou a
moradia para abrigar a neta. Já em processo de depressão pelo falecimento da
esposa, ao perceber a atitude da sua filha, caiu em depressão profunda e foi
asilado na Casa. Não sei exatamente como foi o desenrolar desse processo,
mas não vem ao caso, por enquanto, e nem sequer entrarei no mérito.
Esta é a realidade nua e crua, e acontece muito mais do que se imagina:
O abandono dos seus.
Tal fato remeteu-me ao passado, lá pelo início dos anos setenta,
quando fui acolhido por uma família na cidade de Barbacena, Minas Gerais.
Havia um idoso, o patriarca da família, era bem velhinho. Morreu em casa e
de velhice. Não se imaginava naquela família a hipótese de tirá-lo do convívio
familiar, mesmo apresentando uma irreversível debilidade física.
Meus avós também ficaram no convívio familiar até o fenecimento.
Criei-me com essa cultura de que o velho da casa fica em casa, exceto é
claro no caso de grave doença. A morte digna deve ser no seio familiar e não
no abandono do asilo. E, deveria ter um decreto governamental que obrigasse
as famílias a proceder desta maneira. Mas, a nossa cultura mudou muito.
Talvez o aumento na nossa expectativa de vida tenha nos feito cair
numa cilada. O número de idosos aumentou sensivelmente e em paralelo, o
número de Instituições de Longa permanência aumentou também. Poderia ser
um cálculo simples, mas não é.
O que falta na nossa cultura louca pelo consumismo, culto a
produtividade e estética, são: GRATIDÃO E MAIS AMOR.
Nenhum Estatuto ou Política Pública suprirá esta lacuna.
A ÉTICA E O CARÁTER
A ética norteia o comportamento no lugar, na época e no grupo a qual
ela é inserida e praticada. Talvez seja isso mesmo, ou tenha uma gama
enorme de interpretações. Os filósofos têm a capacidade de discorrer sobre o
tema indefinidamente, mas agora não é o caso. Para nós humanos mortais de
pouca sapiência, a ética é a coisa coerente dentro de um contexto. Pronto.
E o caráter? Bem, aí tudo muda de figura. Dá para resumir que o
mesmo é a manifestação da índole, bons ou maus fazeres e talvez alguns
vícios. Não concordo com o termo vício, pois sou fumante e nem por isso eu
seja um mau-caráter. Deixemos assim.
Entretanto, ética e caráter são subjetividades que têm que amoldar-se no
tempo. As definições antigas não podem ser aplicadas no atual momento da
civilização. Alguns filósofos atuais, estudados em boas universidades (a
maioria com dinheiro público) não raramente falam sobre esses temas apenas
como professores e não como pensadores e questionadores. Repetem o que
leem. Verdade. Vá aos livros, está lá exatamente o que eles te ensinaram.
Discordam eles em algum momento? Claro que não.
Mas, eu ouso discordar!
A ética é maleável! Sempre será!
O caráter deve ter um componente agregado de relevância: a justiça.
Quem não pratica a justiça, apesar de outras boas coisas que possa ter
feito, será sempre um mau-caráter. Não falo da justiça trabalhista, penal ou
civil. Refiro-me a justiça social. E, quando me reporto à justiça social,
perpasso solenemente pelas atitudes políticas e pelos políticos! Sim, pois eles
são nossos gestores.
Quando assisto algum eminente filósofo sendo entrevistado na mídia
falando que os políticos que elegemos são o nosso retrato ou, a corrupção que
enlameia o nosso congresso é por culpa da nossa cultura, do nosso jeitinho,
etc., fico indignado!
Quando eu jogo uma bituca de cigarro no chão, não separo o meu lixo,
uso o meu carro e poluo o ar, sou um cidadão relapso, não corrupto.
Mudanças de atitudes para conservar a cidade limpa deve ser uma
conscientização permanente. Nada tem a ver com a corrupção dos políticos.
Eles o são por questão de caráter.
As suas corrupções não podem ser desculpadas por eu ter furado a fila
do banco, não mesmo. É uma inversão descabida!
Alguns filósofos afirmam que a cultura do jeitinho brasileiro produziu
esta corja de políticos de mau-caráter e é o fruto das nossas atitudes. Não
mesmo! Esses doutos filósofos lançam a culpa sobre os nossos ombros e são
reverenciados por isso!
A corrupção desenfreada é o desenrolar da cultura de impunidade
causada pelos mesmos políticos que a praticam. Foi uma decisão
corporativista em detrimento de nossa vontade. Não somos culpados. Eles
são.
Nos países ditos certinhos, onde as ruas são limpas, ninguém fura a fila,
ninguém cola na prova, todos pedem licença e, por favor, a classe política tem
lá os seus corruptos. São punidos com presteza. (Quase sempre).
Enquanto os formadores de opinião continuar a dizer que somos
culpados pelos políticos que temos, podem ter a certeza, eles estão a serviço
do sistema que deixarão impunes os de mau-caráter. E nós nos sentiremos
culpados e o perdoaremos nas urnas, de novo!
DEPRESSÃO
Vamos falar sobre a depressão, sinceramente?
O que é a depressão? Uma tristeza profunda? Talvez.
Chegue mais perto: Você sente ser uma pessoa deprimida mesmo, ou
alguém soprou no seu ouvido que estás com depressão?
Não me venham com ilações de doutos profissionais proselitistas que te
induzem a uma situação que podes contornar facilmente. Se acreditares que
essa situação lhe abarcou irremediavelmente, aí sim você estará sujeito a
aprofundar-se num estado até então desconhecido. A depressão é um mar
ilusório para onde rios de doenças teóricas desembocam.
Ficamos tristes sim, às vezes extremamente tristes por diversas razões.
Isso sim merece reflexão. Para a tristeza não há remédio farmacológico, não
mesmo. Isso é uma invenção, e por que não dizer, intencional. Todas as
tristezas são passageiras. Todas as tristezas são resultados de nossas posturas
diante dos fatos que aparentemente nos propiciaram a ficarmos tristes. Na
maioria das vezes sempre é um mal entendido de nossa parte. É duro dizer
isso, mas é a mais pura verdade.
Tristeza tem a ver com frustração, amor não correspondido, perda de
ente querido, perda material, preconceito e não aceitação em grupo familiar
ou não. A baixa autoestima também é motivo. Entretanto tudo pode ser
trabalhado e entendido quando se muda o foco sobre as coisas, pessoas e
fatos.
Tenho visto e ouvido com muita frequência pessoas de minhas relações
manifestarem-se sobre esta questão e o quanto ficaram dependentes em
remédios para curar ou amenizar uma suposta depressão. Durante muito anos
passaram entre episódios “depressivos” quando estão sem os comprimidos e
outros momentos de normalidade. Em que pese o tratamento continuado e a
eterna dependência, noto que seus hábitos e suas posturas permaneceram
imutáveis.
Sem medo de errar, afirmo com veemência que a depressão tornou-se
um grande negócio, aliás, um bilionário negócio.
Aceito sem parcimônia as depressões conhecidas e reais que devem sim
ser tratadas com fármacos, contudo, é mais comum qualquer abalo emocional
ou uma tristeza passageira serem promovidas a depressão sem a menor
cerimônia por médicos preguiçosos que não ousam em aprofundar-se
conhecer melhor o seu paciente.
Culturamente falando, não raras às vezes o paciente encontra-se diante
de alguns profissionais afirmando algum desconforto, imediatamente, sem
qualquer exame mais apurado, o médico lhe atribui uma virose. Em muitas
ocasiões o estresse é o vilão. Em outras a tristeza é depressão. Em todas as
ocasiões a receita farmacológica é prescrita indiscriminadamente. Estamos ou
não reféns da indústria farmacológica?
Você está triste? Tens certeza que é depressão?
Reze, passeie, mude seus hábitos, pense positivo, ame mais, tenha
amigos, ajude as pessoas, faça caridade e trabalho voluntário. No final, verás
que o mundo não gira em sua volta e o foco será outro.
Visite um asilo; visite um hospital de câncer infantil; visite uma APAE.
Depois procure a sua depressão.
O RELÓGIO DA VIDA
Subitamente veio na minha mente a curiosidade de olhar para o relógio
da vida. Mirei o cronômetro e quase tive um chilique. Haviam passados
21.900 dias. Fiquei nervoso, agora sei que é uma questão de tempo mesmo.
Se tudo correr bem ainda faltam aproximadamente 7.300 dias para romper a
faixa de chegada. O mais triste é que, ao invés de correr mais forte, tenho que
desacelerar e tentar chegar por último. Ilusão minha, não é por ordem de
chegada é pelo número de dias. Ontem mesmo eu achava que seria eterno,
mas hoje descobri que o segredo é o tempo.
Para aqueles mais apavoradinhos é sempre o que resta. Confesso que
estou nervoso, principalmente por que amanhã faltarão 7.299 dias.
Dei uma espiada no passado para ver se eu tinha feito alguma cacaca.
Ih! Foram muitas! Agora é tarde. O que está feito, está feito.
Meus ídolos se foram todos. Nelson Gonçalves, Francisco Alves,
Dolores Duran, Inezita Barroso, Vinicius de Morais, Clara Nunes, Elvis
Presley, Elis Regina, Gonzaguinha, Tim Maia, Cauby Peixoto e muitos
outros. Até o Renato Russo era meu ídolo. Todos eles em algum momento de
suas jornadas julgaram-se eternos. Seus legados ficaram na nossa memória.
Sou um cidadão comum e lá no fundo gostaria de construir um legado
para os que ficassem. Coisa de ego mesmo, mais para me exibir do que outro
sentido prático.
Arrumar minha casa interna para chegar lá no paraíso todo certinho é
fora de propósito. Lá deve ser muito monótono.
Esses sete mil dias, que ainda tenho como presente de Deus, eu
utilizarei da maneira mais tranquila possível. Não contarei mais os dias que
faltam, ficarei nervoso, é certo. Contarei um dia de cada vez. Chico Xavier,
outro ídolo meu, dizia: a vida é uma página em branco para ser escrita. Eu
digo: Cada dia é uma página em branco para ser escrita. E vai ser assim. Não
perdoarei ninguém e não pedirei perdão para ninguém. Não há razão na minha
jornada para pedir perdão e ninguém me fez mal algum para ser perdoado.
Sou abençoado, pois passei incólume por essas questões, já está tudo preto no
branco.
Sentarei à beira da sanga para prosear mais comigo, aquele eu
esquecido que foi por mim. Escutarei o meu silêncio e filosofarei para os
galhos e as areias da orla.
Desvencilhar-me-ei dos ranços que adquiri ao longo do caminho e que
me fizeram mal, principalmente aqueles ideológicos. Colocarei mais vida nos
sete mil dias seguintes.
Reavaliarei as minhas pequenas hipocrisias. Jogarei fora o meu
ceticismo. Darei uma reformulada no meu ego, ele às vezes incomoda. Darei
um choque de gestão nos meus valores há muito descontrolados. Quero ficar
em paz. Entretanto, não virarei monge, não mesmo. E nem casto.
Se pudesse voltar no tempo para fazer diferente, é certo que erraria de
novo. Na vida é assim. Vivemos o tempo de errar e acertar. O acertar será
sempre para o futuro.
Abandonarei o Budismo. Esse tal de caminho do meio soa como
fundamentalismo.
Abandonarei o Catolicismo, pois tenho muito pecado e não quero ser
salvo.
Abandonarei o Espiritismo, pois ele fala muito em reencarnação e
resgate cármico.
Não quero saber de reencarnação e nem sequer de resgate. Uma só
jornada já está de bom tamanho.
Continuarei o meu caminho solito arrecadando bons amigos para essa
etapa derradeira. Afinal de contas o que é realmente importante são as boas
relações que fizemos durante a vida. E é isso.
Depois de amanhã faltarão 7.998 dias...
TROCANDO EM MIÚDOS
Talvez eu esteja ficando exigente demais, pois vejo as coisas sem me
sentir envergonhado. Sim, envergonhado como pessoa humana. E, quando
descubro que fui um dos milhares que deixou acontecer tudo que acontece
diante dos nossos olhos, culpo-me.
Sou um sexagenário e quando eu era criança fiquei na fila da Santa
Casa de Porto Alegre para consultar. Cheguei durante a noite para ser
atendido no outro dia pela manhã. O ano era 1960. Ficamos no interior do
Hospital, abrigados das intempéries dormindo em cadeiras e bancos, sem
reclamar, pois sabíamos que a consulta seria certa. E assim foi. O tempo
passou a galope, o progresso chegou; milhares de hospitais e clínicas foram
construídos; dezenas de milhares de médicos formaram-se; a tecnologia veio a
mil.
Estamos em 2016, eu vi pessoas idosas na fila de um Posto de Saúde
durante a noite fria do inverno gaúcho. Estavam sentadas ao relento envoltas
em cobertores no início da noite para pegar uma ficha que lhe desse direito de
consultar um médico no outro dia. Fiquei triste, envergonhado, revoltado,
enraivecido, frustrado e todos “ados” e “idos” eu senti.
Não culpo os gestores, pois de gestão pouco sabem. Culpo os políticos
corruptos e aqueles que os colocaram em seus mandatos.
Os políticos corruptos não têm alma e nem humanidade em seus
corações, pois matam as pessoas por um bom percentual em obras públicas e
caçoam de nós ao falar em democracia e crise que eles mesmos criaram.
É triste e desanimador quando pessoas defendem esses seres diabólicos
que os fazem andar pelas ruas sem saneamento e a amargarem suas doenças
sem atendimento digno e humano.
O que há com essa gente, pelo amor de Deus! Até quando?
Lembro-me das palavras daquela senhora que estava na fila: É um
absurdo, mas tenho que tentar sobreviver...
Estamos em 2016. Passou mais de meio século e nada mudou. Muito
triste.
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