Recife, 24 de Maio de 2017
Análise, Desafios e Perspectivas da Economia do Nordeste
Jorge Jatobá
Roteiro
1. NORDESTE: TENDÊNCIAS RECENTES
2. A CRISE NACIONAL E A REGIÃO
3. DESAFIOS PARA AVANÇAR NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
INTRODUÇÃO
1. Estruturalmente o Nordeste participa com cerca de 13,9% da economia nacional (2014) e detém cerca de 28% da população brasileira (2015). As desigualdades regionais ainda são muito acentuadas ;
2. Nos primeiros quatorze anos deste século a região conseguiu crescer discretamente acima da média nacional. Levou mais de 10 anos para elevar em perto de 1% sua participação no PIB brasileiro;
3. Boa parte da pobreza e da desigualdade brasileira está na Região; 4. A região está vivendo seis anos de seca; 5. A crise brasileira impactou o nordeste de três formas; i) exposição pelo sistema de vasos comunicantes da economia; ii) coincidência entre o inicio do ciclo recessivo e o fim de um boom de investimentos produtivos e em infraestrutura, e; iii) efeitos das operações de combate à corrupção; 6. A crise econômica tem origem na crise fiscal da União e dos estados; 7. A crise politica realimenta a crise econômica;
1. Nordeste: tendências recentes
O Modelo virtuoso de crescimento
Elevação da renda
das famílias
Aumento da demanda popular
por bens dos setores modernos
Elevação da produtividade
da competitividade e das exportações
Investimentos (inclusive em inovação)
Gráfico baseado em Ricardo Bielshowsky em estudo para CGEE( ADAPTADO)
POLÍTICAS SOCIAIS + SM
POLÍTICAS ECONÔMICAS
CRÉDITO
BRASIL: evolução do salário mínimo real de 1995 a 2017 (ano-base 1995 = 100)
Fonte: Dieese. Deflator: INPC.
10
0,0
98
,4
97
,9
10
1,3
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4,6
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3,3
14
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0,3
16
7,5
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8,7
20
3,4
20
8,7
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6,3
21
7,1
21
6,9
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
NE atraiu importante bloco de investimentos
Termoelétricas
Hidroelétricas
Plantas eólicas
Refinarias
Estaleiros
Petroquimica
Siderúrgicas
Indústria de Celulose
Indústria Automotiva
Indústria Petroquímica
Legenda:
Fonte: BNDES
Nordeste: projetos em infraestrutura econômica
Nordeste: projetos de infraestrutura econômica (planejados ,executados e paralisados)
Fonte: BNDES ( 2014)
Nordeste: Avanços no quadro social
• Melhoria dos níveis de renda da população, com crescimento acima da média nacional, e significativa redução da pobreza absoluta, inclusive no meio rural ( impacto positivo do aumento real do salário mínimo e das políticas sociais).
• Melhoria dos indicadores sociais, em especial o IDH e a mortalidade infantil
• Elevação da esperança média de vida
• Melhoria da escolaridade média da população
Mudanças na dinâmica demográfica
• Queda forte na natalidade com redução do tamanho das famílias, inclusive no meio rural.
• Aumento da esperança média de vida ( se aproxima da média nacional) com ampliação do contingente de idosos
RESULTADO: redefinição da pirâmide etária
• Crescente urbanização (ritmo maior que média nacional e regional) com forte dinamismo das cidades medias
• Redução significativa da emigração para fora da região com aumento da migração intraregional
O Nordeste vinha de um bom momento na sua economia, tendo crescido acima da média nacional até 2014
Brasil e Nordeste: série encadeada (2000=100) e taxas anuais de crescimento (%) do PIB, 2000-2010
Fonte: Contas Regionais/IBGE. Elaboração Ceplan.
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
90,0
100,0
110,0
120,0
130,0
140,0
150,0
160,0
170,0
180,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Variação
anu
al (% a.a.)
Índ
ice
do
vo
lum
e (2
00
00
= 1
00
)
Brasil (% a.a.) Nordeste (% a.a.) Brasil (2002 = 100) Nordeste (2002 = 100)
2. A crise nacional e a Região
Brasil: a política econômica nos últimos cinco anos (uma gangorra)
Queda forçada da SELIC entre 2012 e 2013 (12,5% para 7,25%) com rápida
subida nos anos seguintes (e respectivo impacto fiscal);
Redução artificial da tarifa de energia elétrica e de outros preços administrados
(combustíveis e transportes) para controlar a inflação;
Inconsistência entre politicas monetária e fiscal: tibieza do Banco Central
Desonerações tributárias até 2014 para estimular consumo e estimular investimentos
com significativa renúncia fiscal;
Ampliação de financiamento subsidiado via bancos públicos até 2014 para estimular
investimento (impacto na dívida pública);
Mais recentemente: ajuste fiscal, queda da inflação e dos juros com sinais tímidos de
recuperação até a crise da semana passada que lançou novas incertezas sobre a
economia;
BRASIL: Evolução favorável do PIB até 2013 e depois estagnação e recessão
Variação anual (%)
Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/IBGE. Elaboração Ceplan. 14
4,2
2,2
3,4
0,3 0,5
4,4
1,4
3,1
1,1
5,8
3,2 4,0
6,1
5,1
-0,1
7,5
4,0
1,9
3,0
0,5
-3,8 -3,6
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Consumo das famílias declina e taxa de investimento cai
fortemente (20,9% em 2013 para 16,4% do PIB em 2016)
Brasil: taxa de variação real do PIB por componentes, em % 2013 a 2016
Componentes 2013 2014 2015 2016
Agropecuária 8,4 2,8 3,6 -6,6
Indústria 2,2 -1,5 -6,3 -3,8
Serviços 2,8 1,0 -2,7 -2,7
Imposto 3,7 0,8 -7,0 -6,4
PIB 3,0 0,5 -3,8 -3,6
Consumo das Famílias 3,5 2,3 -3,9 -4,2
Consumo do Governo 1,5 0,8 -1,1 -0,6
Investimento (FBCF) 5,8 -4,2 -13,9 -10,2
Exportação 2,4 -1,1 6,3 1,9
Importação (-) 7,2 -1,9 -14,1 -10,3
Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/IBGE. Elaboração Ceplan.
Brasil: trajetória do endividamento público Elevação pós 2013
Fonte: "Dívida Pública: a experiência brasileira" (Tesouro Nacional/MF) e Banco Central do Brasil. Elaboração Ceplan. Nota: * % PIB acumulado em 12 meses. ** De 2000 a 2005, indicador recalculado pelo Tesouro Nacional, considerando nova metodologia do Banco Central. A partir de 2006, dados divulgados pelo Banco Central.
Brasil: Estoque da dívida bruta do Governo Geral, em % do PIB acumulado em 12 meses (dezembro/2000 a março/2017)
50,3 50,8 53,1
58,4
53,5
56,3 55,5 56,7 56,0
59,2
51,8 51,3
53,8 51,7
57,2
66,5
69,9 71,6
50,0
55,0
60,0
65,0
70,0
75,0
Brasil: o comportamento do juro básico
Brasil: metas da taxa de juros Selic definidas pelo Copom, em % a.a. 2000 a 2017
Fonte: Banco Central do Brasil.
19,00
15,25
26,50
16,00
19,75
11,25
13,75
8,75
12,50
7,25
14,25
11,25
0
5
10
15
20
25
30
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
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06
20
07
20
08
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09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
20
16
20
17
Brasil: despesas com juros crescem muito
pós 2013 e em especial em 2015
Fonte: Banco Central do Brasil.
Brasil: despesas com juros do setor público consolidado (NFSP), em R$ bilhões 1
13
,3
14
4,6
12
8,5
15
8,1
16
1,9
16
2,5
16
5,5
17
1,0
19
5,4
23
6,7
21
3,9
24
8,9
31
1,4
50
1,8
40
7,0
0,0
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
600,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Déficit primário e nominal elevados indicando
agravamento da situação fiscal
Brasil: Resultados fiscais consolidados do setor público - 2013 a 2016
Descrição Dezembro/2013 Dezembro/2014 Dezembro/2015 Dezembro/2016
R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB
Resultado Nominal 158 2,96 344 5,95 613 10,22 563 8,98
Juros nominais 249 4,67 311 5,39 502 8,36 407 6,49
Resultado Primário -91 -1,71 33 0,56 111 1,85 156 2,49
PIB 5.332 100,00 5.779 100,00 6.001 100,00 6.267 100,00
Fonte: Banco Central do Brasil.
Brasil: taxa de desocupação das pessoas com 14 anos ou mais de idade (trimestre móvel), em % - março/2016 a março/2017
Fonte: PNAD-Contínua/IBGE. Elaboração Ceplan. Nota: Considera o universo das pessoas de 14 anos ou mais. O mês de referência para divulgação é utilizado como limite superior do trimestre.
BRASIL: desemprego cresce muito e se mantém elevado, em patamar superior a 13%
10,9 11,2 11,2 11,3
11,6 11,8 11,8 11,8 11,9 12,0
12,6
13,2
13,7
10,0
10,5
11,0
11,5
12,0
12,5
13,0
13,5
14,0
14,5
15,0
Pessoas Ocupadas Mar/16: 90,6 milhões Mar/17: 88,9 milhões
↓ 1,7 milhões a menos
Pessoas Desocupadas Mar/16: 11,1 milhões Mar/17: 14,2 milhões ↑ 3,1 milhões a mais
Força de Trabalho (PEA) Mar/16: 101,7 milhões Mar/17: 103,1 milhões
↑ 1,4 milhão a mais
BRASIL: massa de rendimentos declina em ritmo menor
Brasil: variação real da massa de rendimentos do trabalho, em % março/2016 a março/2017
Fonte: PNAD-Contínua/IBGE. Elaboração Ceplan Nota: Utiliza a média móvel trimestral da massa de rendimentos recebida em todos os trabalhos pelas pessoas de 14 anos ou mais ocupadas e com rendimento de trabalho. A média calculada considera o mês de referência, em cada divulgação, como limite superior. Os valores da série são corrigidos mensalmente utilizando-se o deflator do mês intermediário.
-4,1 -4,3
-3,3
-4,9
-4,0
-3,0
-3,8 -3,2
-2,0
-1,3 -1,2
-0,2
0,7
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
Trimestral (base: mesmo trimestre móvel do ano anterior)
12 meses (base: 12 meses imediatamente anteriores)
em 12 meses
MAR/16: -1,4%
MAR/17: -2,3%
Crise atinge região até 2015 com menos intensidade. Em 2016 , ocorre o inverso
Brasil e Nordeste: variação anual do índice de atividade econômica, em % 2010 a 2016
8,6
3,2
0,9
2,9
-0,3
-4,2 -4,2
7,5
2,7
2,0
2,1
2,5
-2,3
-4,3
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Brasil Nordeste
Fonte: Banco Central. Elaboração Ceplan.
BR e NE: produção industrial cai mais no país
Brasil e Nordeste: variação anual da produção física industrial, em % 2010 a 2016
Fonte: IBGE. Produção industrial.
10,2
0,4
-2,3
2,1
-3,0
-8,3 -6,6
8,6
-4,6
1,6 3,4
0,2
-3,0 -3,0
-10,0
-5,0
0,0
5,0
10,0
15,0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Brasil Nordeste
PE responde por 1/3 da queima de postos de trabalho do NE.
Brasil, Nordeste e Estados: saldo da criação de emprego formal¹ - Acumulado janeiro-abril/2017
NE 2017: geração líquida de empregos é ponto crítico
Fonte: Cageg/MTE. Elaboração Ceplan * Série ajustada, incorpora as informações declaradas fora do prazo de janeiro a março de 2017.
Área geográfica Saldo
Brasil -933
Nordeste -106.997
Pernambuco -34.543
Alagoas -32.489
Ceará -12.170
Paraíba -9.873
Maranhão -7.243
Sergipe -6.576
Rio Grande do Norte -5.502
Piaui -756
Bahia 2.155
Brasil e Nordeste: variação da massa de rendimentos do trabalho, em % 1° trimestre de 2016 a 1° trimestre de 2017
(base: mesmo período no ano anterior)
NE: forte queda na massa de rendimentos (muito superior à media nacional)
Fonte: PNAD Contínua/IBGE. Elaboração Ceplan.
-4,1 -4,9
-3,8
-1,3
0,7
-6,8 -6,3
-8,4
-3,5
-0,3
-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
1°T 2016 2°T 2016 3°T 2016 4°T 2016 1°T 2017
Brasil Nordeste
2017-2016: impacto da crise sobre o comércio foi diferenciado. PE sofreu menos neste ano passado
Brasil, PE, BA e CE: variação acumulada no ano do volume de vendas do Varejo, em % - janeiro-março/2017 (base: janeiro-março/2016)
Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio/IBGE. Elaboração Ceplan Multi.
-2,5
-1,2
-4,5 -3,9
-3,0
-0,8
-4,9
-7,0 -8
-6
-4
-2
0
BRASIL PERNAMBUCO BAHIA CEARÁ
Comércio Varejista Ampliado Comércio Varejista
NE : nos serviços impacto é também diferenciado com PE pior do que a média
Fonte: Pesquisa Mensal de Serviços/IBGE. Elaboração Ceplan.
Brasil, Pernambuco, Bahia e Ceará: variação acumulada no ano do volume de Serviços, em % - janeiro-março/2017 (base: janeiro-março/2016)
-4,6 -4,9
-3,8
-0,2
-6,0
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
BRASIL PERNAMBUCO BAHIA CEARÁ
LOGO 1 LOGO 2
2. Desafios para avançar no desenvolvimento
sustentável
Eixos de Ação para o desenvolvimento sustentável
Ampliação e redefinição da
inserção externa
Consolidação das transformações
econômicas recentes
Fortalecimento do sistema de CT&I
Avanços no mercado de trabalho
Priorização da educação de
qualidade
Fortalecimento da gestão ambiental
Minimização das pressões antrópicas
Melhorias nas condições de vida,
com redução da pobreza e
desigualdade
Diversificação e Ampliação da base
produtiva
Elevação da Competitividade
Ampliação dos Avanços Sociais
Promoção da Sustentabilidade
Ambiental
Enfretamento das mudanças climáticas
Ampliação e melhoria da
infraestrutura econômica e da macrologística
1 2 3 4
NORDESTE: potencial para energias renováveis.
Desafio de abrigar indústrias de equipamentos
Brasil: : Velocidade média anual
do vento a 50m de altura
Fonte: Feitosa, E. A. N. et al. Panorama do Potencial Eólico no Brasil. Brasília: Dupligráfica, 2003. (adaptado) apud ANEEL.
Brasil: mapa do potencial de
energia solar
Desafios para sustentabilidade ambiental
• Recorrência de secas severas, agora com impactos essencialmente
econômicos, com crescente influência das mudanças climáticas no avanço da desertificação e da ocorrência de inundações
• Agravamento da degradação ambiental nos aglomerados urbanos
em especial pelos reduzidos investimentos em saneamento básico, pelo padrão de ocupação movido pelo mercado imobiliário e pela presença dos portos nas suas proximidades
Considerações Finais
1. Nordeste pode se recuperar mais rapidamente do que a economia nacional por causa do recente e substantivo pacote de investimentos que atracou na região;
2. Precisamos de uma politica instrumentalizada de desenvolvimento regional que foi abandonada pelos governos recentes. Atenção para os APLs e para o semiárido que continua sendo fonte de muitos desafios para o desenvolvimento regional sustentável;
3. Tivemos politicas implícitas de desenvolvimento regional, mas precisamos de politicas regionalizadas de desenvolvimento nacional;
4. União e estados precisam avançar com política de investimentos via PPPs e Concessões. Os déficits de infraestrutura são acentuados e continuamos patinando na educação, ou seja, gastamos muito dinheiro mas progredimos muito pouco;
5. Energia renovável constitui-se em importante oportunidade de investimento (energia solar e eólica). Internalizar a produção dos componentes da cadeia produtiva;
6. Os estados têm que conter os desequilibro fiscais decorrentes de crescimento acentuado no pagamento dos inativos. Vão ter que fazer reforma previdenciária;
7. Sem o ajuste nas contas públicas e sem reformas estruturais, especialmente a fiscal e tributária, o país e a região terão muitas dificuldades de recontar uma trajetória ascendente e sustentável de desenvolvimento econômico;
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