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ANO IV—#45 Vitória/ES Setembro de 2018
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Editor
Raphael Faé Baptista
Editoração:
Felipe Sellin
Colaboram nessa Edição:
Felipe Sellin
Raphael Faé Baptista
Interaja conosco, sua opinião
é muito importante para nós:
Edição n° 44—Agosto de 2018
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Editorial Fechamos esta edição em mais um mo-
mento conturbado da história política
brasileira. Há uma semana da eleição, o
movimento social feminista convocou e
recebeu a adesão de milhares de pessoas,
no Brasil e no mundo, para repudiar a
candidatura do capitão da reserva, Jair
Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-
sas de intenção de votos para presidente.
Defensor do uso político da intolerância
e da violência, o repúdio ao candidato se
deve às suas inúmeras declarações racis-
tas, machistas e homofóbicas, além de
sua defesa pública da ditadura militar e
da atuação do torturador, Carlos Alberto
Brilhante Ustra.
Em meio a este cenário, nós, editores do
Jornal Crítica Espírita, assinamos e reco-
mendamos o documento de “espíritas
progressistas contra Bolsonaro” e repli-
camos em nossa página no facebook. Por
isso, fomos alvo de inúmeras agressões
de pessoas que se declaravam espíritas e
eleitores do Bolsonaro, alegando o uso
do livre arbítrio e a defesa da família, da
vida e/ou contra a corrupção, dentro da
postura “se não está comigo, está contra
mim”.
Todos que acompanham o Jornal Crítica
Espírita sabem que defendemos a livre
expressão entre os adeptos do paradig-
ma do espírito, o que não nos impede de
tomarmos posição frente ao que conside-
ramos contrário à maneira como conce-
bemos a filosofia e a prática espíritas.
Neste sentido, já publicamos inúmeros
textos sobre direitos humanos, emanci-
pação feminina, patriarcado, diversidade
sexual, racismo, combate ao patrimonia-
lismo e à corrupção, para citar alguns
temas relevantes no diálogo entre filoso-
fia espírita e sociedade.
Portanto, apesar de sermos comumente
atacados por defendermos temas óbvios,
como direitos humanos ou justiça social,
ainda sobrou perplexidade diante dos
ataques recebidos e pelo nível dos posici-
onamentos. Acreditamos que a identifi-
cação que muitos espíritas possuem com
um homem, branco, intolerante, machis-
ta e que defende o uso de violência pode
contar muitas coisas sobre o movimento
espírita brasileiro (não sobre a filosofia
espírita). E seguiremos trabalhando na
defesa da diversidade e da tolerância
como expressões do amor e da caridade.
Nesta edição, entrevistamos os candida-
tos à presidência que consideramos pos-
suir um olhar social mais amplo e que se
combinam, ao menos em parte, com a
visão de mundo do Jornal Crítica Espíri-
ta. Conversamos com as assessorias dos
candidatos Ciro Gomes (PDT), Fernando
Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL),
Vera Lúcia (PSTU), e tentamos, mas não
obtivemos sucesso, no contato com Ma-
rina Silva (REDE). Enviamos as mesmas
perguntas para os quatro candidatos e
recebemos respostas de Ciro e Boulos,
que replicamos, na íntegra, nesta edição
(não obtivemos justificativa dos demais
candidatos). Nosso objetivo é contribuir
para sua escolha através destas entrevis-
tas.
Antes das entrevistas, publicamos uma
análise de conjuntura de nosso editor
Raphael Faé, que reflete sobre o momen-
to em que, em meio às eleições, precisa-
mos elevar a qualidade das discussões e
dos posicionamentos políticos e morais,
especialmente quando consideramos a
nossa sobrevivência frente a um sombrio
crescimento de ideias fascistas. A luta
por um mundo melhor não se encerra
nas eleições, pelo contrário.
Tenham uma excelente leitura!
Os editores, Felipe Sellin e Raphael Faé
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POLÍTICA
Há poucos dias de mais uma eleição, preci-
samos contextualizar o momento que esta-
mos vivendo e refletir sobre chegarmos ao
ponto de ter um candidato como Jair Bol-
sonaro, de extrema-direita, como líder das
pesquisas de intenção de votos no 1º turno,
e possível Presidente da República, apoiado
por um número expressivo de espíritas.
Extrema-direita ainda é um elogio. Porque
ele é um personagem que espezinha qual-
quer tipo de conquista civilizatória dos
últimos séculos, e representa um elevado
grau de bestialidade no sentido moral –
pois idolatra torturadores sádicos, toma a
intolerância, o ódio e o assassinato como
política de governo, pajeia ditadores, om-
breia com religiosos fanáticos, desmerece
trabalhadores, mulheres e negros, e espezi-
nha o básico em direitos humanos – e no
sentido intelectual – pois, a cada fala se
mostra incapaz de concatenar soluções
minimamente plausíveis aos graves proble-
mas que enfrentamos.
E em total dissonância com os princípios
espíritas e de Jesus – não-violência, frater-
nidade e amor ao próximo –, exalando uma
hipocrisia farisaica das mais perigosas,
ainda defende as propostas de governo
mais antirrepublicanas e antissociais, com
um tratamento mais dadivoso aos ricos e
mais gravoso às classes média e baixa.
Portanto, não está em jogo apenas uma
questão eleitoral, e nem é nosso propósito
falar “vote em fulano, não vote em ciclano”,
pois cada candidato e partido têm suas
mazelas. Isso é pessoal e respeitamos a
vontade de cada um. Estamos falando de
postura política e de posicionamento moral
diante do mundo. O problema não é
“Bolsonaro”, mas o que ele defende e o que
ele representa, especialmente quando ve-
mos as pautas anticivilizatórias que estão
em curso, no Brasil e no mundo, como res-
postas aos problemas de nosso tempo
(imigração, crise econômica, pobreza, con-
centração de renda, violência, desemprego,
questões de gênero, problemas ambientais,
etc.).
Aqui, os espíritas mornos – que esquecem
que ficar em cima do muro já é tomar posi-
ção – se levantam para exigir que não se
julgue. Esses apaziguam suas consciências
pela inação e, achando-se acima do bem e
do mal, acreditam que sua omissão é posi-
tiva. Mas ignoram que a capacidade de
julgar – avaliar o que é bom ou mau, certo
ou errado, digno ou degradante – é ineren-
te à condição humana. Quem não julga são
os animais. E que Jesus se levantou contra
os desmandos de seu tempo, chamando
víboras de víboras e hipócritas de hipócri-
tas, mas deixou o critério do julgamento:
estar atento à trave no nosso olho antes de
ver o argueiro no outro; que ao me atentar
às deficiências morais alheias, devo me
lembrar das minhas. Isso significa que o
julgamento moral é intrínseco ao agir hu-
mano, e que o rigor do meu julgamento
deve levar em conta as minhas atitudes.
Sem isso, o que sobra é hipocrisia.
Logo, posicionar-se moralmente é um de-
ver moral, especialmente quando estamos
num mundo de provas e expiações, cerca-
dos de mal por todos os lados, dentro e fora
de nós. Mas há posições e posições. Duran-
te a escravidão negra, no Brasil, muitos
achavam melhor mantê-la e obrigar os se-
nhores a tratar bem os escravos do que
libertá-los e deixá-los à própria sorte. Sem
dúvidas, isso é melhor do que defender a
escravidão para massacrar o negro. Mas,
AINDA, SOBRE POLÍTICA E ESPIRITISMO
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melhor ainda, seria reconhecer o caráter
essencialmente antifraterno da escravidão e
se levantar contra ela como um todo.
Com isso, vemos que o posicionamento
mais correto com relação ao que nos rodeia
– dentro da cosmovisão cristã e espírita – é
o que leve os valores da justiça, do amor e
da caridade ao grau mais elevado. Se existi-
rem duas respostas boas, o espírita tem o
dever moral de escolher a melhor entre
elas. E se as respostas forem péssimas, é
também seu dever colocar no mundo res-
postas melhores.
Assim, o Brasil está cheio de demandas
políticas: combater a corrupção, fortalecer
a democracia, lutar contra o uso político da
religião, buscar a eficiência nas políticas
públicas de saúde e de educação, melhorar
as condições de vida, combater as desigual-
dades e a violência urbana e rural, etc.
Quais os melhores caminhos a seguir? Per-
guntei os melhores, não os mais fáceis.
O problema é que o lado dessas reflexões
estão uma grave crise econômica e a legíti-
ma desilusão do brasileiro com a classe
política. E aqui são criadas as condições
para que surjam “Bolsonaros” da vida.
Primeiro, como em outros setores da vida
humana, a política não é só razão. Isso é
fundamental para compreendermos o que
fez a Alemanha de 1930
ovacionar Hitler, e que
faz agora o Brasil possi-
velmente ter um projeto
mal-acabado de neona-
zista no comando do Exe-
cutivo federal (com as
devidas diferenças, pois
precisamos reconhecer
que Hitler, malgrado sua
deformação moral, era
muito inteligente). A boca
fala do que está cheio o
coração e vazio o cérebro,
e nossas posturas repre-
sentam o que somos co-
mo um todo, incluindo nossas incoerências.
Porque é incoerente defender o amor ao
próximo em palestras, ou se emocionar
com as passagens evangélicas, ou ajudar
pessoas com necessidades materiais e apoi-
ar posicionamentos como “bandido bom é
bandido morto”, “prefiro um filho morto a
um filho gay”, “pobre tem que se ferrar”,
etc. Encontramos coerência quando nos
propomos uma corajosa autoanálise entre o
que somos e o que afirmamos acreditar. Se
sinto satisfação com a morte e o infortúnio
alheio, a coerência com Jesus e o espiritis-
mo é buscar superar esse sentimento, e não
usá-lo para justi-
ficar uma política
de segurança pú-
blica que mate à
vontade. Se sinto
desprezo pelo
pobre, se desejo
um escravo em
lugar de um tra-
balhador, a coe-
rência com Jesus
e o espiritismo,
novamente, é
tentar ver em
cada pessoa um
semelhante, e não
dar vazão ao meu
egoísmo e ódio.
Segundo, os mo-
mentos de incer-
teza e de insegurança aumentam exponen-
cialmente os nossos medos – da privação,
da fome, da morte, etc. Por isso, são férteis
para surgir salvadores da pátria. O mais
hábil em dar forma aos medos sociais leva a
parada. E, mais uma vez, a caricatura fan-
tasmagórica do “comunismo” está a todo o
vapor. Já fez estragos na Europa quando
era uma ameaça real, e continua eficiente
para mobilizar parcela significativa do povo
brasileiro. Parece mesmo uma fixação de
cunho sexual, como a compensar deficiên-
cias cognitivas. E até um personagem limi-
tado como Bolsonaro consegue adeptos ao
simplificar os problemas e as soluções com
a retórica do comunismo que, aliado a um
deturpado e apelativo discurso moral, dá
novas cores ao messianismo político brasi-
leiro.
Portanto, Bolsonaro é um fenômeno, antes
de tudo, moral. Fala o que querem ouvir, e
defende o que já está nas pessoas. Seus
discursos odientos, violentos e segregado-
res integram o repertório moral de seus
seguidores. E ao jogar suas crenças morais
na esfera pública, os estragos vão aparecen-
do no plano político, agora, com sérias
ameaças aos valores básicos da democracia
e da república, como tolerância, respeito
mútuo, igualdade de oportunidades e laici-
dade.
Chegados até aqui, volto a insistir num
ponto. Mais do que eleições e voto, o espiri-
tismo nos chama à tarefa da regeneração,
Fonte: G1/DATAFOLHA 2 DE 0UTUBRO DE 2018
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que é parir uma nova civilização, diferen-
te desta, pois não se coloca remendo novo
em pano velho. E a regeneração é um
projeto político – entendido de forma
ampla, como formas de organização soci-
al em torno dos temas que afetam a todos
– que se realiza na existência material,
nos planos individual e social, visando
construir uma sociedade justa, amorosa,
fraterna. E o espiritismo nos permite pen-
sar uma humanidade a partir de novas
referências morais de Jesus, da imortali-
dade e da reencarnação.
Nessa tarefa, precisamos nos autocom-
preender a partir de novos horizontes
morais. As identidades devem ser cons-
truídas tendo o amor, a abnegação, a hu-
mildade, a fraternidade como valores
inegociáveis. Precisamos repensar uma
sociedade que tome o compartilhar como
imprescindível a qualquer futuro imagi-
nável. Precisamos refletir sobre uma polí-
tica e uma economia que compreendam o
mundo como um todo e superem as dis-
putas egóicas entre pessoas e povos. Pre-
cisamos, ainda, redefinir o sagrado, e
encontrar referências mais sublimes para
que possamos nos reconciliar com nossas
capacidades de pensar e de amar. O
“Deus judaico-cristão” parece já ter cum-
prido sua missão civilizacional.
Bolsonaro – não a
pessoa, mas o
personagem e o
atraso que ele
representa – é o
oposto a esse ca-
minho. É tudo o
que um seguidor
de Jesus e do es-
piritismo não
pode ser: hipócri-
ta, intolerante,
misógino, homo-
fóbico, incitador
da violência, ad-
mirador de tortu-
radores, lambedor de bota de poderosos.
E nem o estado deplorável da política
brasileira deve justificar a ascensão políti-
ca de pessoas como ele. Há outros cami-
nhos, infinitamente melhores.
O que as pessoas de bem e os espíritas
estão sendo chamados é mais do que à
resistência num tempo de trevas, em que
nem mesmo valores básicos de humani-
dade estão sendo respeitados. Mais que
resistir – contra a vontade de poder e
dominação, contra o despotismo que ha-
bita nossos corações –, estamos sendo
chamados à criação e à regeneração, de
articular o futuro, de dar forma ao que
ainda não existe, de cuidar do que ainda
não é, e de amar o que ainda não nasceu.
E tal qual um medieval teria dificuldades
em imaginar e conceber uma sociedade
democrática, hoje temos a dificuldade de
imaginar e conceber uma sociedade em-
basada no amor amplo, na caridade irres-
trita e nos afetos verdadeiros.
Mas essa é a tarefa que nos cabe. Não
podemos subestimar o poder do mal.
Menos ainda, o poder do amor.
Raphael Faé, editor do Jornal Crítica
Espírita
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ELEIÇÕES
GUILHERME BOULOS
Jornal Crítica Espírita - O Brasil é
um dos países mais desiguais do
mundo. Itens como moradia, renda,
escolaridade, meio ambiente, saú-
de, segurança, etc., mostram-nos as
disparidades da sociedade brasilei-
ra. E a perspectiva é de agravamen-
to dessa situação com o congela-
mento dos investimentos sociais
pelos próximos 20 anos. Como Pre-
sidente da República, o que pode-
mos esperar de melhorias na quali-
dade de vida de todos os brasileiros
e na redução das desigualdades so-
ciais?
Guilherme Boulos - Onde a desigualdade
se expressa de forma mais cruel é no sis-
tema tributário brasileiro. Quem sustenta
o Estado é pobre e classe média, que é
quem paga imposto de verdade. Defende-
mos uma Reforma Tributária progressiva,
com elevação da tributação sobre renda,
patrimônio, lucros e dividendos. Temos
que tributar mais renda e patrimônio para
criar condições para a redução gradual da
tributação sobre consumo e produção.
Vamos aplicar o Imposto sobre Grandes
Fortunas (IGF), um tributo já previsto na
Constituição Brasileira. Também, criar
uma nova faixa de Imposto de Renda,
passando de 27,5% para 35% de alíquota.
Finalmente, vamos voltar a tributar lucro
e dividendo, algo que parou de ser cobra-
do durante o governo FHC.
Faz parte do nosso plano colocar um fim
às desonerações fiscais, a famigerada
“bolsa empresário”, reduzir os juros e
regular o fluxo de capitais, buscando me-
nos gasto com a rolagem da dívida e con-
sequentemente menos vulnerabilidade às
especulações cambiais.
Justiça social também é a universalização
dos serviços de saúde e educação, para
que os cidadãos não precisem gastar a
maior parte de seus salários na garantia
de atendimento médico e em escolas e
universidades particulares. Igualmente
importante nossa aposta na ampliação de
programas de transferência direta de ren-
da, como o Bolsa Família, e de financia-
mento popular de moradia.
JCE- Um dos maiores entraves ao
desenvolvimento socioeconômico
do Brasil é a educação pública defi-
ciente. Os problemas são variados, e
parece que se agravam a cada ano.
Mesmo sabendo que o maior garga-
lo da educação está na infância e
nos ensinos fundamental e médio,
de responsabilidade dos Municípios
e dos Estados, como Presidente da
República, quais são suas propostas
para a educação em seu conjunto,
da infância à pós-graduação?
GB-O governo federal não pode dar às
costas para uma área tão fundamental
como é a educação. Hoje, dos 5,5% do PIB
destinado à Educação, só 1% é da União.
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Vamos assumir nossa responsabilidade,
aumentar o orçamento, desenvolver um
plano nacional para o ensino básico e am-
pliar o ensino superior público.
Mas, é preciso, em primeiro lugar, revogar
a Emenda Constitucional 95, que conge-
lou todos os gastos em Educação para os
próximos 20 anos. Sem isso, não é possí-
vel fazer nenhum plano para uma educa-
ção pública de qualidade.
Eu sou professor e já dei aula na rede pú-
blica. Hoje, os altos índices de reprovação
e evasão escolar refletem que a sala de
aula está muito distante da realidade dos
alunos. Nós vamos mudar isso com um
Sistema Nacional de Educação que ao
invés de padronização curricular, respeite
as particularidades de cada contexto e
prepare o jovem para a vida e não para
provas. Por isso, vamos revogar a Refor-
ma do Ensino Médio e a Base Nacional
Comum Curricular promovida pelo gover-
no de Temer.
As creches e escolas serão de tempo inte-
gral. Isso passa também por uma necessá-
ria valorização dos professores. Vamos
garantir o piso nacional e dar início a um
plano de carreira.
No ensino superior, iremos criar 1 milhão
de novas vagas em universidades públi-
cas, ampliar o sistema de cotas e o finan-
ciamento para pesquisa. Atualmente, se
gasta 817 milhões em auxílio-moradia a
juízes enquanto 580 milhões podem ser
cortados da Capes. Para quem já está cur-
sando a faculdade em instituições priva-
das com a ajuda do FIES, vamos oferecer
1 ano de suspensão das dívidas.
JCE-O Sistema Único de Saúde é
uma das conquistas mais importan-
tes da Constituição de 1988 e, ape-
sar das críticas, traz muitos benefí-
cios à população brasileira. Porém,
incomoda não somente as já rotinei-
ras deficiências estruturais – falta
de vagas em hospitais, superlota-
ção, falta de valorização dos profis-
sionais da saúde, falta de remédios,
falta de gestão, etc. –, mas também
os ataques que o SUS vem sofrendo
em prol dos interesses financeiros
dos planos de saúde. Nesse sentido,
que SUS podemos esperar de sua
eventual gestão?
GB-O SUS é uma referência internacional
em saúde pública. O problema é que falta
investimento para seu funcionamento
adequado. A população sabe muito bem
disso. Mas, com a Emenda Constitucional
95 que impôs um congelamento de 20
anos nos gastos sociais, a tendência é que
esse cenário piore ainda mais: segundo o
Ipea, R$ 743 bilhões vão desaparecer do
orçamento da Saúde.
Hoje, o Brasil investe apenas 3,8% do PIB,
a metade do orçamento de países como
Inglaterra e Canadá. São, atualmente, 40
mil equipes de saúde da família que co-
brem apenas 60% do território nacional.
Vamos revogar a PEC dos gastos de Mi-
chel Temer e dobrar o orçamento da saú-
de. Vamos dobrar as equipes de Saúde da
Família, que acompanham as comunida-
des de perto para prevenir doenças e im-
pedir o agravamento de casos mais sim-
ples que podem ser tratados. Isso contri-
bui para que os hospitais e postos de saú-
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de não superlotem, mas melhora a quali-
dade de vida da população.
Também vamos criar a UBS Completa
com horário de funcionamento estendido
e aberta aos finais de semana. A unidade
de saúde não será apenas básica, mas
completa porque reúne todos os serviços:
consulta, exame, diagnóstico e remédio
no mesmo endereço, sem encaminhamen-
tos. O programa Farmácia Popular será
ampliado para possibilitar o acesso a me-
dicamentos e vamos criar um prazo limite
de espera para a realização de exames.
JCE-Estamos vivendo uma violência
alarmante. Foram mais de 67 mil
assassinatos em 2017. No dia a dia,
alguns bairros são dominados por
criminosos e, em todo o lugar, os
direitos fundamentais, à vida e de ir
e vir, estão na berlinda. Com isso,
quais medidas serão implementa-
das na área da Segurança Pública
em seu eventual governo? E, especi-
ficamente, qual seu posicionamento
quanto ao ciclo completo de polícia
e à regulamentação do uso de dro-
gas?
GB-Investir em cadeia, armamento e re-
pressão não funcionou. Os números com-
provam isso: segundo o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, em 2017, o Brasil
gastou quase 85 bilhões, o equivalente a
1,3% do PIB, em segurança pública. Mas,
no mesmo ano, registrou sete mortes por
hora - um recorde de violência, que atin-
ge, sobretudo, jovens, negros, pobres.
Esse modelo tem que mudar.
Segurança pública se resolve com inteli-
gência e prevenção, combatendo o mal na
raiz. Vamos investir em um sistema de
informação para mapear o dinheiro sujo,
desmantelar os esquemas de lavagem de
dinheiro e colocar fim ao tráfico de armas.
Esse investimento é mais baixo e produz
resultados diretos, sobretudo na otimiza-
ção do trabalho das forças de segurança.
Vamos desmilitarizar a polícia, com a
fusão dos corpos policiais em torno de um
só ente policial, civil, criando o chamado
“ciclo completo” de atuação que já é ado-
tado em muitos países.
Diminuir a criminalidade violenta envolve
também rever nossa política de guerra às
drogas. Conforme diversos países já reco-
nheceram, esse modelo não funcionou,
mas só aumentou o ciclo de violência. A
partir de experiências internacionais, já
está comprovado que descriminalizar o
uso não significa aumentar o consumo,
mas diminuir a violência e abrir espaço
para campanhas de prevenção.
JCE-É lugar-comum dizer que o
Brasil precisa investir em infraes-
trutura, o que engloba portos, aero-
portos, rodovias, energia, estoca-
gem, facilidades de alfândega e o
famoso “custo Brasil”. Ao lado dis-
so, há ainda a discussão do modelo
de implementação dessa infraestru-
tura, se privatizado ou público. Que-
remos saber quais são as suas pro-
postas para a infraestrutura brasi-
leira, e o modelo que pretende ado-
tar.
GB-Vamos associar o investimento públi-
co em infraestrutura com geração de em-
pregos no programa Levanta Brasil. Com
o dinheiro gerado na reforma tributária e
revisão de renúncias fiscais, teremos cerca
de 180 bilhões nos cofres da União para
obras de infraestrutura viária, logística e
social, sobretudo nas regiões mais atingi-
das pela crise ou com carência de infraes-
trutura. Assim, vamos gerar cerca de 6
milhões de empregos e ainda, melhorar a
vida da população que contará com mais
mobilidade e mais equipamentos e servi-
ços públicos.
Serão investimentos públicos diretos, mas
que terão como efeito a expansão de em-
presas de pequeno e médio portes, res-
ponsáveis por fornecer bens e serviços
para as obras. Nosso projeto de governo é
para o 99% da população e não para al-
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guns poucos que lucram com a crise.
JCE-Nos últimos anos, duas altera-
ções legislativas tomaram conta do
cenário político brasileiro: as refor-
mas trabalhista e previdenciária.
Adicionamos a questão tributária e
as injustiças estruturais que ela pro-
voca. Enquanto candidato(a), qual a
sua visão sobre a reforma trabalhista
aprovada pelo governo Temer? Você
pretende revogá-la, alterá-la ou man-
tê-la? Com relação à previdência,
podemos esperar alguma reforma e,
se sim, como ela seria? E como pre-
tende lidar com o sistema tributário
em seu possível governo?
GB-Nossa primeira medida vai ser chamar
um plebiscito para que o povo possa deci-
dir se quer manter ou revogar as medidas
do governo Michel Temer. Entre elas, a
Reforma Trabalhista que alterou mais de
100 pontos da CLT e retirou direitos dura-
mente conquistados pela classe trabalha-
dora. Além de contribuir para o aumento
do desemprego, precarizou as vagas e dimi-
nuiu os salários.
Sobre a Previdência, o problema está no
financiamento do sistema. Temos R$ 450
bilhões de estoque de dívida de grandes
empresas com a Previdência no Brasil.
Além disso, hoje, 30% do total da arrecada-
ção por meio da DRU (Desvinculação das
Receitas da União) é desviado de sua finali-
dade original para pagar juros da dívida
pública. É muito fácil apontar o déficit da
Previdência quando o dinheiro que deveria
ir para ela está sendo retirado e direciona-
do para os mais ricos.
Não podemos aceitar uma reforma da Pre-
vidência que tenha como efeitos o aumento
da pobreza, sobretudo entre os idosos, e o
esvaziamento econômico dos pequenos
municípios nas regiões mais afastadas.
Mas, é no sistema tributário que a desi-
gualdade social do Brasil se expressa de
forma mais cruel. São os pobres e a classe
média que sustentam o Estado. Hoje, um
professor universitário paga a mesma
quantidade de imposto que o Neymar. Nós
defendemos uma Reforma Tributária pro-
gressiva, com elevação da tributação sobre
renda, patrimônio, lucros e dividendos
para a redução gradual da tributação sobre
consumo e produção. Vamos aplicar o Im-
posto sobre Grandes Fortunas (IGF), um
tributo já previsto na Constituição Brasilei-
ra. Também, criar uma nova faixa de Im-
posto de Renda, passando de 27,5% para
35% de alíquota. Finalmente, vamos voltar
a tributar lucro e dividendo, algo que parou
de ser cobrado durante o governo FHC.
JCE-Um dos temas fundamentais da
sociedade brasileira, sem sombras
de dúvidas, é o combate à corrupção.
E adicionamos, nessa temática da
corrupção, o problema do patrimo-
nialismo, aquela corrupção instituci-
onalizada, feita dentro da legalidade,
que cria uma série de mordomias
como auxílios, pensões, aposentado-
rias, penduricalhos, etc., para uma
casta de servidores públicos e políti-
cos. O(A) senhor(a) propõe que me-
didas para o combate à corrupção e
ao patrimonialismo que atravancam
o desenvolvimento socioeconômico
brasileiro?
GB-Primeiro, é preciso reconhecer que a
corrupção começa com o financiamento
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privado de campanha eleitoral. Grandes
empresários, do ramo da construção civil,
do agronegócio, de bancos, pagam as
campanhas de vereadores à presidente da
República. Os vencedores vão atender aos
interesses de quem lhes financiou e não
de quem votou. Assim, se formam máfias
no Congresso: é a bancada da bala, do boi,
entre outros, que defendem interesses
privados e corporativos. A política virou
um balcão de negócios, onde troca-se
votos e negociam-se programas.
Nós já estamos mudando o jeito de fazer
política no Brasil. Só assim vamos acabar
com a raiz da corrupção, combater privi-
légios e colocar os mais pobres e a classe
média como prioridade. Vamos governar
junto com o povo por meio de referendos,
plebiscitos e conselhos comunitários. Nós
somos ideológicos, e não fisiológicos.
Mais que ideologias, nós somos fieis a
ideias, a princípios que não estão à venda
no balcão de negócios das alianças.
JCE-Agradecendo a sua importante
participação nessa entrevista, dei-
xamos aberto o espaço para suas
considerações finais.
GB-Gostaria de agradecer o espaço cedido
e cumprimentar os leitores e leitoras do
Jornal Crítica Espírita. Faço um convite
para que conheçam nossas propostas,
visitando nossas redes sociais
(www.vamoscomboulosesonia.com.br) e
acompanhando as visitas que farei a di-
versas cidades do Brasil.
Essa é a primeira vez que concorro à Pre-
sidência da República. Tenho 36 anos,
sou professor e milito há 17 anos ao lado
de quem luta por moradia digna. Decidi
aceitar esse desafio porque quero, assim
como a maioria dos brasileiros, mudar a
realidade da política atual. Nós defende-
mos uma democracia em que o povo par-
ticipe das decisões mais importantes,
aproximando o poder das pessoas.
É por isso que propomos um novo jeito de
fazer política e não apenas uma reforma.
Um jeito de governar que dê ao cidadão
voz ativa por meio de plebiscitos, referen-
dos e conselhos populares. É o povo quem
irá decidir aquilo que afeta a sua vida.
Como primeira medida, vamos propor um
referendo popular para desfazer todas as
medidas maléficas de Michel Temer, re-
vertendo a reforma trabalhista e acaban-
do com o congelamento dos gastos em
saúde e educação.
Vamos ampliar o Bolsa Família, construir
mais creches, escolas em tempo integral,
universidades públicas, saúde preventiva
e hospitais de qualidade, além de uma
política de segurança pública que invista
em inteligência e prevenção dos crimes.
Para gerar mais empregos e renda, vamos
criar o programa Levanta Brasil, que in-
vestirá em áreas de saneamento, educa-
ção, infraestrutura, moradia e que vai
criar 6 milhões de empregos em dois
anos.
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Jornal Crítica Espírita—O Brasil é um
dos países mais desiguais do mun-
do. Itens como moradia, renda, es-
colaridade, meio ambiente, saúde,
segurança, etc., mostram-nos as
disparidades da sociedade brasilei-
ra. E a perspectiva é de agravamen-
to dessa situação com o congela-
mento dos investimentos sociais
pelos próximos 20 anos. Como Pre-
sidente da República, o que pode-
mos esperar de melhorias na quali-
dade de vida de todos os brasileiros
e na redução das desigualdades so-
ciais?
Ciro Gomes—Precisamos rever de imedia-
to a PEC 95 que congelou os investimen-
tos sociais. Não se pode conceber que, em
um País onde nascem mais de dois mi-
lhões de bebês todos os anos, durante os
próximos 20 anos o Governo fique impe-
dido de ampliar os investimentos em
áreas fundamentais para que possamos
virar o jogo da desigualdade, da violência
e do desemprego, como educação, saúde e
segurança pública.
JCE-Um dos maiores entraves ao
desenvolvimento socioeconômico
do Brasil é a educação pública defi-
ciente. Os problemas são variados, e
parece que se agravam a cada ano.
Mesmo sabendo que o maior garga-
lo da educação está na infância e
nos ensinos fundamental e médio,
de responsabilidade dos Municípios
e dos Estados, como Presidente da
República, quais são suas propostas
para a educação em seu conjunto,
da infância à pós-graduação?
CG-Só o investimento maciço na educação
poderá fazer do Brasil um país justo e
desenvolvido, com oportunidades iguais
para todos os seus cidadãos. Investir na
melhoria da qualidade da Educação Públi-
ca será uma das nossas principais priori-
dades. E esta prioridade já começa na
Educação Infantil, com a implantação
paulatina de Creches de Tempo Integral
para as crianças de 0 a 3 anos. É nesse
período que se formam as aptidões mais
sofisticadas do ser humano. Vamos criar
um programa específico para cuidar de
todas as crianças nessa faixa etária. Em
relação ao Ensino Fundamental, nosso
problema não é o acesso e sim a qualida-
de. Vamos investir fortemente em sua
melhoria. Almejamos obter no Ensino
Fundamental do Brasil os mesmos resul-
tados alcançados no Ceará, que com 77
das 100 melhoras escolas públicas do En-
sino Fundamental brasileiro, tornou-se
hoje referência nacional. Outra meta é
elevar a média de anos de estudo da popu-
lação, introduzindo a Educação de Tempo
Integral desde o Ensino Fundamental II
até o Ensino Médio e fazendo da escola
um local de aprendizado, desenvolvimen-
to esportivo, artístico e social, diversão e
lazer, reduzindo assim a grave evasão que
existe hoje, premiando as escolas em que
a evasão for reduzida e o desempenho dos
alunos tenha melhorado. A política educa-
cional vai reconhecer e valorizar o profes-
sor e os gestores escolares. As universida-
des públicas deverão, além de ampliar a
oferta de vagas e prosseguir com as políti-
cas de cotas, estreitar seus laços com as
políticas e ações no campo da educação
básica e ciência, tecnologia e inovação.
Como objetivo geral, vamos caminhar na
direção do alcance das metas de desenvol-
vimento sustentável da ONU no tocante à
Educação e persistir na aplicação das me-
tas estabelecidas no Plano Nacional da
Educação (PNE). Vamos eliminar o subfi-
nanciamento das despesas com educação
causado pela Emenda do Teto de Gastos.
JCE-O Sistema Único de Saúde é
uma das conquistas mais importan-
tes da Constituição de 1988 e, ape-
sar das críticas, traz muitos benefí-
cios à população brasileira. Porém,
incomoda não somente as já rotinei-
ras deficiências estruturais – falta
de vagas em hospitais, superlota-
ção, falta de valorização dos profis-
sionais da saúde, falta de remédios,
falta de gestão, etc. –, mas também
os ataques que o SUS vem sofrendo
em prol dos interesses financeiros
dos planos de saúde. Nesse sentido,
que SUS podemos esperar de sua
eventual gestão?
CG-O povo brasileiro, já tão carente de
oportunidades e de bons serviços públi-
cos, merece receber o melhor atendimen-
ELEIÇÕES
CIRO GOMES
12
to de saúde possível. Merece e precisa,
uma vez que mais de 80% da população,
em média, não possui recursos para alter-
nativas fora da saúde pública. A concep-
ção generosa e o desenho do Sistema Úni-
co de Saúde (SUS) são exemplares. Ao
completar 30 anos de sua criação, o SUS
precisa ser fortalecido e aperfeiçoado, em
busca de melhores resultados para a po-
pulação brasileira. É necessário aprimorar
a organização, supervisão, avaliação e
controle do Sistema, eliminando também,
como na Educação, o subfinanciamento
causado pela Emenda do Teto de Gastos.
Só assim será possível ampliar a qualida-
de e a resolutividade da atenção primária,
que ainda hoje é objeto de insatisfação da
população. Outro ponto a ser trabalhado é
a redução da espera para os atendimentos
ambulatoriais, as consultas especializadas
e a realização de exames, bem como a
diminuição da espera para as cirurgias
eletivas. Para isso, é necessário investir na
rede de atendimento, nas campanhas de
prevenção e de vacinação, na formação de
médicos generalistas, na melhoria dos
sistemas de informação, na coordenação
entre as diversas esferas de atendimento,
incluindo o pacto federativo, e na premia-
ção do bom desempenho.
JCE-Estamos vivendo uma violência
alarmante. Foram mais de 67 mil
assassinatos em 2017. No dia a dia,
alguns bairros são dominados por
criminosos e, em todo o lugar, os
direitos fundamentais, à vida e de ir
e vir, estão na berlinda. Com isso,
quais medidas serão implementa-
das na área da Segurança Pública
em seu eventual governo? E, especi-
ficamente, qual seu posicionamento
quanto ao ciclo completo de polícia
e à regulamentação do uso de dro-
gas?
CG-A solução para a questão da violência,
como prova o fracasso generalizado da
Segurança Pública em todo o Brasil, não é
despejar nas ruas ainda mais armas.
Quanto mais armas, mais violência e mais
mortes. Para mudar esse quadro, proteger
a população e conter a criminalidade, é
necessário aumentar a presença do Gover-
no Federal na Segurança. As medidas que
iremos implementar têm por objetivo
desenhar um novo modelo, em que a Uni-
ão participe mais da prevenção e repres-
são à criminalidade violenta. E isso signi-
fica melhorar as formas de financiamento
das políticas de segurança, coordenar os
esforços dos estados para conter o crime,
direcionar as polícias federais para o com-
bate às organizações criminosas violentas,
controlar o tráfico de armas e drogas, cri-
ar uma Polícia de Fronteiras, organizar os
esforços na repressão e prevenção ao ho-
micídio, e implementar um sistema nacio-
nal de inteligência em segurança pública.
As medidas que iremos implementar têm
por objetivo desenhar um novo modelo,
em que a União coordene um esforço na-
cional para a prevenção e repressão à cri-
minalidade violenta. Ao mesmo tempo,
como já dissemos, vamos investir maciça-
mente em educação, em escolas de tempo
integral que eduquem e protejam nossa
juventude do perigo das ruas, oferecendo-
lhes ocupações alternativas e cursos pro-
fissionalizantes. Em relação ao controle
do uso de drogas, precisamos em primeiro
lugar ampliar o atendimento aos usuários
e avaliar experiências bem sucedidas em
outros países, propondo um debate trans-
parente com a população, para verificar a
viabilidade de implantação no Brasil.
JCE-É lugar-comum dizer que o
Brasil precisa investir em infraes-
trutura, o que engloba portos, aero-
portos, rodovias, energia, estoca-
gem, facilidades de alfândega e o
famoso “custo Brasil”. Ao lado dis-
so, há ainda a discussão do modelo
de implementação dessa infraestru-
tura, se privatizado ou público. Que-
remos saber quais são as suas pro-
postas para a infraestrutura brasi-
leira, e o modelo que pretende ado-
tar.
CG-A infraestrutura de nosso país é velha,
insuficiente e carece de manutenção. Nas
2 cidades, sejam elas no meio urbano ou
no meio rural, faltam habitações, sanea-
mento e transporte público de qualidade,
assim como precisamos de ferrovias, es-
tradas, portos, aeroportos e energia. Por-
tanto, recuperar e modernizar a nossa
infraestrutura é outro passo decisivo para
gerar imediatamente milhares de empre-
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gos em todo o país, melhorar a qualidade
de vida da população e aumentar a com-
petitividade do Brasil que produz. Para
isso, é necessário um setor público com
boa saúde fiscal para participar, junta-
mente com o setor privado, desse investi-
mento maciço. Pretendemos investir nes-
tas obras cerca de R$ 300 bilhões por
ano, através de investimento público ou
estimulando o setor privado a fazê-lo,
para superar as deficiências e gargalos
que encarecem e limitam nossa capacida-
de de produção. Estimamos que somente
as obras atualmente paralisadas podem
gerar cerca de 350 mil novos empregos.
JCE-Nos últimos anos, duas altera-
ções legislativas tomaram conta do
cenário político brasileiro: as refor-
mas trabalhista e previdenciária.
Adicionamos a questão tributária e
as injustiças estruturais que ela
provoca. Enquanto candidato(a),
qual a sua visão sobre a reforma
trabalhista aprovada pelo governo
Temer? Você pretende revogá-la,
alterá-la ou mantê-la? Com relação
à previdência, podemos esperar al-
guma reforma e, se sim, como ela
seria? E como pretende lidar com o
sistema tributário em seu possível
governo?
CG-Com relação à Reforma da Previdên-
cia, precisamos propor com clareza, con-
versando com a população e sem sustos,
um novo modelo previdenciário e cuidar
especialmente do processo de transição
entre o regime de repartição para o regi-
me de capitalização público. Estamos com
uma equipe muito grande de especialistas
estudando, fazendo cálculos atuariais e
estamos chegando conceitualmente a uma
transição que vai marcar, por um período
de tempo que também está em avaliação,
alguns pontos principais.
O primeiro é tirar do ônus do financia-
mento previdenciário todos os benefícios
que foram legalmente criados, de forma
justa, mas para trabalhadores que nunca
contribuíram. Esses trabalhadores, como
é o caso dos trabalhadores rurais, vão
continuar recebendo, mas serão pagos por
recursos do Tesouro, como hoje acaba já
sendo feito, mas agora com transparência
absoluta no orçamento da Previdência
Então vamos propor uma renda mínima
de cidadania de um salário mínimo para
todos os que cumprirem as condições de
idade mínima, com critérios diferenciados
a partir de dados relacionados à região e
ao tipo das atividades.
O segundo ponto é migrar do regime de
repartição para um regime de capitaliza-
ção público, gerido por um coletivo de
trabalhadores e vigiado por agências de
risco e encaminhar essa transição entre os
dois regimes. Se conseguirmos fazer isso,
o País reverte expectativas porque o défi-
cit fica declinante e fica sinalizado para o
futuro a sustentabilidade do endivida-
mento público, que é o que temos que
buscar.
Com relação à Reforma Trabalhista, essa
reforma que foi aprovada pelo governo
Temer precisa ser revista, vamos recolo-
car a questão em pauta, dialogando de
forma transparente com trabalhadores e
com o setor produtivo para encontrar
soluções que sejam mais justas para todos
os segmentos. É preciso deixar claro que
não sou contra fazer reforma, precisamos
reformar o País.
Quanto ao sistema tributário, precisamos
torná-lo mais progressivo, ou seja, cobrar
mais de quem pode pagar mais e menos
de quem pode pagar menos.
JCE-Um dos temas fundamentais da
sociedade brasileira, sem sombras
de dúvidas, é o combate à corrup-
ção. E adicionamos, nessa temática
da corrupção, o problema do patri-
monialismo, aquela corrupção ins-
titucionalizada, feita dentro da lega-
lidade, que cria uma série de mor-
domias como auxílios, pensões,
aposentadorias, penduricalhos,
etc., para uma casta de servidores
públicos e políticos. O(A) senhor(a)
propõe que medidas para o combate
à corrupção e ao patrimonialismo
que atravancam o desenvolvimento
socioeconômico brasileiro?
A corrupção, infelizmente, é uma praga da
política brasileira e como tal deve ser du-
ramente combatida. Somos contrários a
qualquer atitude ilícita e condenamos as
práticas corruptas e os desvios de conduta
na função pública. Defendemos o fortale-
cimento dos mecanismos de transparên-
cia e do chamado controle social, bem
como os órgãos que fiscalizam o setor
público, como a Controladoria Geral da
União (CGU) e o Tribunal de Contas da
União (TCU). Somos favoráveis também
ao mecanismo do acordo de leniência com
empresas envolvidas em casos de corrup-
ção, pois ele é a maneira mais saudável de
separar o joio do trigo, punindo os diri-
gentes e funcionários implicados em prá-
ticas ilícitas, mas preservando as empre-
sas e os empregos daqueles que não tem
envolvimento com corrupção. No Gover-
no, a corrupção deve ser enfrentada com o
exemplo e vigilância permanente .
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