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ISBN 978-65-86753-06-6
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EIXO TEMÁTICO: ( ) Biogeografia e a Paisagem ( ) Biogeografia e as Mudanças Climáticas ( ) Biogeografia e a Educação Ambiental (X) Biogeografia e Saúde ( ) Biogeografia Histórica ( ) Biogeografia e Conservação ( ) Biogeografia e Agronegócio ( ) Biogeografia e Agroecologia ( ) Biogeografia e SAFs
Antropização, sinantropia das espécies Columba livia e Musca domestica e possíveis implicações na saúde pública
Anthropization, synanthropy of the species Columba livia and Musca domestica and
possible implications for public health
Antropización, sinantropía de las especies Columba livia y Musca domestica y posibles implicaciones para la salud pública
Marcelo Tenório Crepaldi
Doutorando em Geografia, PPGG FCT - UNESP, Brasil [email protected]
Lucas de Castro Faria
Bacharel e Licenciado em Geografia, FCT - UNESP, Brasil. [email protected]
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RESUMO O presente artigo emerge do esforço reflexivo acerca da relação entre a Biogeografia e a saúde e busca entender as relações entre os seres humanos, suas ações antropogênicas e seus desequilíbrios nas paisagens que tendem por gerar alterações na relação sociedade e natureza. Como metodologia foi realizada uma revisão narrativa de literatura relativa às paisagens, ações antrópicas, bem como a adaptabilidade da fauna, afim de engendrar uma discussão concisa sobre as temáticas expostas. Por se tratar de animais que se beneficiam da atividade humana no processo de urbanização, o objetivo central é estabelecer as implicações provenientes dos hábitos sinatrópicos de duas espécies animais: a Columba livia (pombo-doméstico) e a Musca domestica (mosca-doméstica). Concluímos, portanto, que ambas espécies detêm grande adaptabilidade sinantrópica, corroborando consequentemente com a disseminação de patogênicos para o ser humano e implicando problemáticas à saúde pública. Por fim, essas considerações apontam para questões que envolvem cuidados necessários e formas adequadas de manejo visando, assim, o convívio harmônico entre animais e humanos. PALAVRAS-CHAVE: Antropização; Fauna Sinantrópica; Saúde Pública. ABSTRACT This article emerges from the reflective effort about the relationship between Biogeography and health and seeks to understand the relationships between human beings, their anthropogenic actions and their imbalances in the landscapes that tend to generate changes in the relationship between society and nature. As a methodology, a narrative review of the literature related to landscapes, anthropic actions, as well as the adaptability of fauna was carried out, in order to generate a concise discussion on the themes exposed. As they are animals that benefit from human activity in the urbanization process, the central objective is to establish the implications arising from the synatropic habits of two animal species: Columba livia (domestic pigeon) and Musca domestica (house fly). We conclude, therefore, that both species have great synanthropic adaptability, consequently corroborating the spread of pathogens for humans and implying public health problems. Finally, these considerations point to issues that involve necessary care and adequate forms of management, thus aiming at harmonious coexistence between animals and humans. KEY WORDS: Anthropization; Synanthropic fauna; Public health. RESUMEN Este artículo surge del esfuerzo reflexivo sobre la relación entre Biogeografía y salud y busca comprender las relaciones entre los seres humanos, sus acciones antropogénicas y sus desequilibrios en los paisajes que tienden a generar cambios en la relación entre la sociedad y la naturaleza. Como metodología, se realizó una revisión narrativa de la literatura relacionada con paisajes, acciones antrópicas, así como la adaptabilidad de la fauna, con el fin de generar una discusión concisa sobre los temas expuestos. Al ser animales que se benefician de la actividad humana en el proceso de urbanización, el objetivo central es establecer las implicaciones derivadas de los hábitos sinatrópicos de dos especies animales: Columba livia (paloma doméstica) y Musca domestica (mosca doméstica). Concluimos, por tanto, que ambas especies tienen una gran adaptabilidad sinantrópica, corroborando consecuentemente la propagación de patógenos para el ser humano e implicando problemas de salud pública. Finalmente, estas consideraciones apuntan a cuestiones que involucran cuidados necesarios y formas adecuadas de manejo, apuntando así a la convivencia armónica entre animales y humanos. PALABRAS CLAVE: Antropización; Fauna sinantrópica; Salud pública.
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INTRODUÇÃO
Devido a demanda por crescimento econômico - pautada em sua grande maioria pelos
fundamentos do sistema capitalista - procuramos avançar como sociedade, embora em
desarmonia com a natureza a nossa volta e utilizando recursos naturais sem a preocupação com
a posterioridade e, assim, tentamos “progredir”.
Temos de ter em mente que o ser humano em sua construção como sociedade vem alterando
diversas paisagens, sendo que essas se constituem a partir de uma visão macro de tudo aquilo
que podemos observar (SANTOS, 1998). Destarte, enquanto seres humanos, ao desenvolver
nossas atividades agrícolas, montar parques industriais e estabelecer infraestruturas,
antropizamos e degradamos.
Nesse sentido, nos colocamos como agentes transformadores instrísecos às paisagens,
promovendo ao longo do tempo constantes modificações metamorfoseando as mesmas, como
ressalta Bertrand (2004). A partir dessa ótica de análise, depreendemos aqui que nossas ações
geram desequilíbrios e impactos diversos, alterando então uma dinâmica relacional prévia no
que diz respeito a fauna e flora.
Seguindo esse contexto, a biodiversidade responde a nossas ações. Espécies animais se adaptam
a ambientes transfigurados, seja por uma diminuição do seu hábitat1 ou pela reestruturação do
mesmo a partir de desmatamentos que visam suprir uma necessidade de ampliação de centros
urbanos, dentre outros atividades decorrentes das dinâmicas humanas.
Por conseguinte, em decorrência de ações antropogênicas, procuramos estabelecer uma
relação da capacidade sinantrópica de duas espécies do reino animal, uma pertencente a classe
das aves, a Columba livia (pombo-doméstico), e, a outra, uma espécie da classe dos insetos, a
Musca domestica (mosca-doméstica).
Nesse nexo, Gomes (1986) ressalta que a capacidade supracitada é resultado de um fenômeno
da ecologia que tem em seu cerne a biocenose2, especialmente no que tange a relação das
populações de espécies com o ser humano e independente da vontade do mesmo.
Portanto, é válida a menção acerca do potencial de disseminação de patógenos por parte das
espécies aqui trabalhadas, levando em consideração a possibilidade do estabelecimento de
grandes populações3 das mesmas e seu convívio direto com o ser humano, mantendo relações
diretas com os indivíduos que habitam as paisagens urbanas.
Por fim, a possível contração de agentes patogênicos veiculadas por esses animais pode levar a
sérias implicações na saúde pública, colocando nossos olhares no cerne dessa questão para que
1 Espaço de relação entre elementos biológicos e físicos que se relacionam e que por consequência geram um equilíbrio de diversos organismos, sendo que o termo pode variar segundo a escala, do micro ao macro (GRISI, 2000, p.125). 2 Segundo Grisi (2000, p. 37) é um termo que se refere a comunidade, que significa o montante de populações distintas que que habitam a mesma localidade e possuem interações distintas. 3 Conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que habitam a mesma localidade e tempo, e que tem a capacidade de produzirem descendentes férteis (GRISI, 2000, p.187).
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possamos pensar em medidas mitigadoras e preventivas afim de evitar determinada
problemática.
OBJETIVOS
O presente trabalho tem como escopo a realização de uma análise dos desequilíbrios causados
pela ação antrópica nas paisagens para que seja possível, em uma segunda instância,
estabelecer os reflexos dos distúrbios causados pelos seres humanos nas mesmas, tendo em
mente o fato de que nossas intervenções no âmbito paisagístico podem gerar revérberos
positivos e negativos no ponto de vista da adaptação de espécies do reino animal e vegetal.
Nesse nexo, tomamos como objetos de estudo duas espécies animais, analisando seus hábitos
e a capacidade adaptativa de convivência com os seres humanos para, por fim, estabelecer uma
relação sobre o potencial da disseminação de patógenos e as possíveis implicações na saúde
pública.
METODOLOGIA
O presente estudo possui como metodologia central uma revisão narrativa de literatura acerca
do estado da arte das distintas temáticas aqui trabalhadas e que, quando relacionadas, se
colocaram como fundamentais para a formação deste trabalho. Tendo como finalidade o
aprofundamento das discussões que envolvem os temas anteriormente citados, a revisão
proposta foi essencial, já que os trabalhos selecionados serviram de arcabouço teórico para a
realização das discussões e reflexões pertinentes a esse estudo e que corroboraram com os
resultados e conclusões apresentados no mesmo.
DISCUSSÕES E RESULTADOS PAISAGENS, AÇÕES ANTRÓPICAS E SINANTROPIA
A ação humana na paisagem evoluiu a mesma maneira que nos edificamos como sociedade. Ao
passo que desenvolvemos novos métodos, técnicas e tecnologias, exploramos distintos recursos
em nosso planeta, a nossa maneira, sem mensurar o impacto gerado por nossas ações, ainda
mais se colocado em contexto o atual momento técnico-científico-informacional, sua demanda
por velocidade, produção, mais-valia e lucro em detrimento ao meio natural (SANTOS, 2006).
Nesse sentido, sendo a ação do ser humano no ambiente sinônimo ao processo de antropização,
nos colocamos com promotores de alterações em diversas paisagens visando o crescimento
econômico.
À vista disso, Bertrand (2004) sinaliza que as paisagens se colocam como porções do espaço,
derivadas de uma relação sinérgica e consequentemente perceptível de componentes
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biológicos, físicos e antrópicos que em interação, fazem das mesmas um conjunto singular e
indivisível que se encontra em constante desenvolvimento.
É factível que o elemento humano é agente de transformação, tendo em vista que o mesmo se
constitui como elemento que compõe uma paisagem, o que reafirma Gomes (1986, p. 385)
quando nos coloca que “A população humana é parte integrante da paisagem geográfica, uma
vez que está submetida a determinadas condições, representadas pelos tipos de relações que
mantém com o ambiente”.
Vivemos em um país que possui 8,5 milhões de km², com um território de dimensões
continentais e detentor de diversos biomas (Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Amazônia,
Pantanal e Pampas). Os mesmos abrigam a maior biodiversidade do mundo, acolhendo cerca de
20% de espécies relativas a flora e fauna de todo planeta, sendo que muitas dessas são
endêmicas4 (MMA, 2020).
Nesse nexo, de acordo com Biasi et al., (2015), ao mesmo tempo que desenvolvemos novas
técnicas e tecnologias e expandimos nossos centros urbanos e atividades agropecuárias, a flora
e fauna ficam cada vez mais banalizadas aos olhares da sociedade. Portanto, quando nos
referimos a desequilíbrios severos nas paisagens, as ações antropogênicas se colocam como o
epicentro de diversas problemáticas.
Em concordância com o raciocínio supracitado, Schier (2003) e Venter et al., (2016) ressaltam
que as metamorfoses geradas pela ação humana ocasionam revérberos tanto no reino animal
quanto vegetal. Por conseguinte, quando colocado em foco o reino animal, nossas práticas
geram reflexos diretos na alteração de variados habitat’s, fazendo então com que espécies
animais respondam de maneiras heterogêneas a novas dinâmicas impostas, levando em conta
que cada uma detém distintas especificidades fisiológicas, morfológicas e potenciais de
adaptação.
Sendo assim, a capacidade adaptativa dos animais varia de acordo com o ambiente em que
estão inseridos. É nesse sentido que Zorzen (2002) ressalta que diversos animais como pombos,
ratos e morcegos têm de maneira corriqueira ocupado espaços em localidades em que o ser
humano habita, isso acontece devido ao seu grande potencial adaptativo, reprodutivo e oferta
de abrigo e alimentos.
Seguindo essa lógica, animais que se instalam em nossos centros urbanos e usufruem das
características anteriormente mencionadas são chamados de sinantrópicos, constituindo uma
fauna que se utiliza dos recursos que encontram nas cidades de diversas maneiras, sejam elas
transitórias ou permanentes, fazendo das urbes um local de subsistência (BRASIL, 2006; SOARES
et al., 2011).
Dentre a fauna sinantrópica estão inseridas diversas espécies do reino Animalia. Nesse sentido,
no presente trabalho destacamos dois animais que compõe esse grupo e que por vezes podem
suscitar problemáticas estando em convívio com o ser humano, se colocando como nocivos,
4 Segundo Brown e Lomolino (2006, p. 628) é a espécie que se insere em determinado táxon sendo que o mesmo pertence a uma área geográfica em específico.
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mantendo relações negativas podendo causar transtornos de diversas ordens, sejam eles
econômicos, ambientais ou no âmbito da saúde pública (BRASIL, 2006).
As espécies aqui trabalhadas se inserem dentro do reino animal, mas se distinguem a partir do
filo e da classe das mesmas. Uma delas pertence ao filo Chordatha (vertebrados) e a classe das
aves, a espécie é o pombo-doméstico (Columba livia). Já a outra se insere no filo Arthropoda
(artrópodes) e a classe isecta (insetos), a mosca-doméstica (Musca domestica).
Para um maior nível de detalhamento o Quadro 1 esboça a taxonomia das duas espécies.
Quadro 1: Classificação taxonômica das espécies
Classificação Taxônomia - Columba
livia Taxônomia - Musca
domestica
Reino Animalia Animalia
Filo Chordata Arthropoda
Classe Aves Insecta
Ordem Columbiformes Díptera
Família Columbidae Muscidae
Gênero Columba Musca
Espécie Columba livia Musca domestica Fonte: Elaborado pelos autores, 2020
ECOLOGIA DAS ESPÉCIES, SINANTROPISMO E AGENTES PATOGÊNICOS
Columba livia (Pombo-doméstico) A Columba livia (Figura 1) foi introduzida em nosso país em meados do século XVI, durante o
processo de ocupação e colonização realizado pelos europeus (SICK, 2001). A ave em questão
se constitui como uma espécie sinantrópica que tem como origem o continente europeu e
asiático, abrangendo um espaço que se estende do sudoeste asiático, norte da África e Europa
(CHIAPPE; DYKE, 2002). Portando, em nosso país se coloca como uma espécie exótica5.
Figura 1: Columba livia (pombo-doméstico)
5 Espécie que está fora de sua área geográfica natural, o oposto de espécie endêmica.
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Fonte: Acervo dos autores, 2013.
A espécie avícola pode chegar a ter cerca de 38 centímetros e detém plumagens e colorações
diversas, comumente são monogâmicos e vivem em bando. A fêmea realiza uma postura de dois
ovos de duas a três vezes durante o ano, sendo que sua cria é alimentada com leite de papo
(SICK, 2001; NUNES, 2003). No que tange a sua reprodução, destaca-se ainda que a mesma é
condicionada também a partir da oferta de alimentos, ou seja, se alocados em centros urbanos
onde essa oferta é maior, a ave se reproduz praticamente durante todo o ano (NUNES, 2003).
Possuem uma dieta natural baseada em grãos e sementes, podendo consumir resquícios de
alimentos, tais como os fornecidos pela população em locais como praças, residências e
parques, o que pode ocasionar um aumento considerável no número dessas aves. Vale ressaltar
que existe uma facilidade de fixação e nidificação desses animais, tendo em vista que os mesmos
visam se estabelecer nas cidades através de sua fácil alocação na arquitetura urbana, tais como
marquises e parapeitos (NUNES, 2003; SCHULLER, 2005; SÃO PAULO, 2020).
Nesse sentido, devido a sua alimentação ampla e variada, a Columba livia possui um grande nível
de adaptabilidade sendo perceptível sua característica sinantrópica, principalmente se
observarmos a convivência dos mesmos com o ser humano em áreas urbanas, alterando seus
hábitos alimentares naturais para uma dieta mais ampla (CREPALDI; PEDROSO; FERREIRA, 2018).
Em consonância a esse pensamento, é de se destacar que aves que colonizam6 centros urbanos
possuem um grande poder adaptativo as características impostas pelo mesmo.
Assim sendo, Mckinney e Lockwood (1999) ressaltam que espécies que acabam por colonizar
centros urbanos possuem alto grau de dispersão7, sendo contrárias àquelas que apresentam
reprodução lenta, baixo poder de difusão e características alimentares muito particulares
gerando uma propensão a sofrer mais com distúrbios causados nas cidades.
6 De acordo com Brown e Lomolino (2006, p. 626), o termo colonização diz respeito ao descolamento de determinada espécie para um novo habitat, onde determinada população se estabelece de maneira bem-sucedida. 7 Segundo Brown e Lomolino (2006, p. 628), dispersão se constituiu no ato de deslocação de organismos para além do seu local de proveniência.
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Por conseguinte, podemos inferir que quanto maior a abundância de alimentos, existe a
possibilidade de um aumento significativo de indivíduos da espécie em questão.
Outro de destaque com relação ao estabelecimento de grandes populações é a falta de
predadores naturais dos pombos, nesse caso, aves de rapina, que tiveram seu número reduzido
drasticamente em decorrência da perda de seus habitat’s de origem em por consequência de
processos de antropização. Se ainda estivessem presentes em um número consubstancial,
auxiliariam diretamente na amortização quantitativa das populações do pombo-doméstico.
Em conformidade com o pensamento esboçado, se existe a presença de uma quantidade maior
de pombos, consequentemente há uma maior relação e interação desses animais com as
pessoas já que habitam os mesmos espaço.
Nesse sentido, destacamos que o pombo-doméstico, nesse contexto, se coloca como
reservatório de agentes patogênicos que podem contaminar o ambiente através da inalação de
seus excrementos ressecados no solo (Figura 2) bem como infectar alimentos destinados ao
consumo humano (SCHULLER, 2004; SCHULLER, 2005).
Figura 2: Dejetos de pombo no calçamento
Fonte: Acervo dos autores, 2013.
Em linha a esse pensamento Silva e Capoano (2008) afirmam que
As aves domésticas como os pombos urbanos têm sido considerados reservatórios de agentes infecciosos de importância em saúde pública. Do ponto de vista epidemiológico, os pombos têm um papel importante na contaminação do meio ambiente e na dispersão de patógenos através da deposição de seus excretas. O comportamento de frequentes e intensas aproximações à população, devido à busca
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de alimento e abrigo, contribui para a transmissão humana de agentes patogênicos, como fungos e parasitos (SILVA; CAPOANO, 2008, p. 138).
Em consonância ao raciocínio supracitado, Haag-Wackernagel e Moch (2004) ressaltam que
pombos e - dentre eles a espécie aqui analisada - configuram-se como potencial risco a saúde
pública pelo fato de abrigarem cerca de setenta patógenos diferentes que podem ser
transmitidos para a população.
Portanto, os diversos fatores supracitados corroboram com a manutenção e aumento das
populações de Columba livia, fazendo com que a espécie se torne um problema se coloca em
foco a saúde pública, visto que essas aves podem provocar a disseminação de agentes
patogênicos (VÁSQUEZ et al., 2010; HIDASHI, 2013), e a transmissão de zoonoses para as pessoas
que vivem nas cidades (CREPALDI, 2014).
É fato que essas aves podem transmitir enfermidades, como é o caso da cripotocose,
salmonelose, ornitose, histoplasmose, dermatites e salmonelose sendo que algumas delas
acometem com maior facilidade indivíduos imunossupressores8 (como é o caso da criptococose)
mas também indivíduos sadios que estão expostos com maior frequência ao contato com esses
animais e seus excrementos podendo inalar a “poeira” suspensa no ar gerada pelas suas dejetos
secos (BRASIL, 2010; CREPALDI, 2014). É importante ressaltar, que a criptococose possui como
agente patogênico um fungo saprófito encontrado nas fezes dos pombos conhecido como
Cryptococcus neofarmans, sendo que a mesma ainda sucinta a problemática com relação a
questão diagnósticos diferenciais, podendo ser frequentemente confundida com uma meningite
e uma meningocefalite por exemplo (BRASIL, 2010; COTIN et al., 2011).
Por fim, medidas preventivas de manejo se colocam como as melhores opções para prevenir o
estabelecimento dessas populações, desde medidas que visem promover a limpeza adequada
de centros urbanos, coleta de resíduos sólidos realizada de maneira adequada, a
conscientização da população com relação a alimentação desses animais e o potencial dos
mesmos como veiculadores de patógenos, até ações de controle dessas populações em lugares
com grande concentração de pessoas como, por exemplo, a instalação de sonorizadores em
praças e parques.
Musca domestica (Mosca-doméstica) A espécie Musca domestica, pertencente à família Muscidae, é um dos insetos mais importantes
devido a seu caráter sinantrópico, abundância na região urbana, capacidade de se desenvolver
em vários substratos, alto poder reprodutivo e de ser apontada como veiculadora de patógenos
ao homem e aos animais domésticos (NAKANO; LEITE, 2000).
É uma espécie que tem sua origem nas estepes da Ásia Central, mas atualmente sua presença
se faz em todos continentes habitados, nos mais diversos climas, de tropical a temperado, e em
8 Indivíduos que possuem SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), insuficiência no que diz respeito a imunidade das células (FILIÚ et al., 2002).
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uma variedade de ambientes que se estendem de áreas rurais aos centros urbanos (CAPINERA,
2010).
A fêmea (Figura 3A) adulta de Musca domestica possui 6-8 mm de comprimento. Já o macho
adulto (Figura 3B) tem 5-6 mm, embora o tamanho dependa dos substratos, agrupamento e
umidade no habitat no qual a larva se desenvolve. A fêmea é distinguida do macho pelo espaço
relativamente largo entre os olhos (nos machos, os olhos quase se tocam) (LARRAÍN; SALAS,
2008; TAYLOR; COOP; WALL, 2007).
Nesse nexo, destacamos que o corpo da mosca é dividido em cabeça, tórax e abdômen,
revestidos por um exoesqueleto quitinoso (polissacarídeo), resistente, com funções que vão
desde sua proteção à sustentação (LARA, 1979). A cabeça, em forma de cápsula endurecida,
possui nas laterais dois olhos avermelhados, duas antenas receptoras e o aparelho bucal
lambedor (probóscide), do tipo esponja, que lhe permite absorver alimentos líquidos.
A espécie em questão pode ingerir também alimentos sólidos, alterando-os em líquido por meio
do processo de regurgitação (vomitação), dissolvendo-o por meio das secreções das glândulas
salivares para que possa ser liquefeito e ingerido (CAPINERA, 2008; KEIDING, 1986).
Figura 3: Fêmea e Macho adultos de Musca domestica
Fonte: A) http://www.icb.usp.br/~marcelcp/Imagens/musc5.jpg e B) https://www.mundoecologia.com.br/wp-
content/uploads/2019/10/Mosca-Domestica-2.jpg
Por conseguinte, Greenberg (1973) e Furlanetto et al., (1984) nos elucidam que dípteros
muscóides constituem um grupo importante entre os animais sinantrópicos devido ao potencial
de carrearem agentes patógenos ainda mais se levarmos em conta a dispersão das moscas
através do voo.
Posto isso, é importante ressaltar que a mosca-doméstica é um vetor mecânico de diversos
patógenos responsáveis por causar graves doenças nos seres humanos e animais domésticos
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(GRACZYK et al., 2001; GREENBERG, 1971), tanto indivíduos machos quanto as fêmeas abrigam
mais de 100 espécies diferentes de patógenos, em diversas partes do corpo, podendo ter o
poder de transmissibilidade de mais de 65 tipos doenças infecciosas (GREENBERG, 1965).
Sob a ótica desse pensamento, a espécie destacada pode transportar microrganismos
causadores de febre tifóide, disenteria, cólera, mastite bovina, protozoários como Entamoeba
spp, Giárdia duodenalis e helmintos como Taenia spp e Dipylidium caninum (BARRIGA, 2002),
que podem permanecer viáveis por vários dias na prosbócida e no intestino das moscas, sendo
transmitidos no ato da alimentação e/ou defecção desses insetos (LOPES, 1999).
Em congruência com o raciocínio anteriormente exposto, é importante evidenciar o
desenvolvimento biológico destes insetos devido a diversidade de substratos encontrados,
ainda mais se colocarmos em foco sua grande adaptabilidade nas áreas urbanas.
Nesse sentido, a quantidade e disponibilidade de resíduos orgânicos e qualidade de seu manejo
favorecem a capacidade de adaptação das espécies de moscas nativas e/ou exóticas ao
ambiente transformado pelo homem (ambiente antrópico ou ecossistema artificial) (RIBACK,
2009). Dessa forma, a ausência de saneamento básico e a ineficiência no gerenciamento dos
resíduos orgânicos que são produzidos em grandes quantidades em áreas rurais e urbanas,
fazem com que eles sejam acumulados de forma inadequada, aumentando o foco de atração
para as moscas sinantrópicas, seja pela disponibilidade de alimentos e abrigos, o que contribui
para o aumento da ocorrência de doenças.
Por conseguinte, Forattini (1992) nos esclarece que em decorrência do convívio de diversas
espécies com o ser humano, animais adquiriram a capacidade adaptativa em viver em locais
artificiais sem a intencionalidade ou iniciativa humana, fazendo com que muitas vezes se
coloquem como espécies indesejáveis, se tornando então a partir disso animais sinantrópicos,
já que se beneficiam de condições artificiais resultantes do desconformidades causadas pelos
humanos, ações antropogênicas nos habitat’s dessas espécies.
A elevada densidade de Musca domestica em muitas cidades brasileiras e em diversas regiões
do mundo tem contribuído como fator determinante de aumento da incidência e prevalência
de doenças entéricas.
Existe, portanto, a predominância de agrupamentos de populações humanas e de animais
domésticos mais vulneráveis a doenças entéricas, devido às condições insuficientes e
inadequadas de alimentação e de higiene individual/domiciliar que acabam propiciando a
disseminação de vários dos agentes infecciosos adquiridos por meio de transmissão fecal-oral,
resultante da contaminação (direta ou indireta) de água e de alimentos veiculados pelas moscas
sinantrópicas nocivas (GREENBERG, 1971; 1973; KEIDING, 1986; 1991; MARICONI et al., 1999;
QUEIROZ, 1986; SANTOS, 2005; 2006).
Destacamos que a excessiva produção de resíduos sólidos nas cidades é inevitável e ocorre diariamente em quantidades e diferenciadas composições que variam de acordo com o grau de desenvolvimento econômico, os diferentes níveis sociais e o tamanho da população,
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representando um dos graves problemas a ser enfrentado pelos administradores públicos. Os resíduos sólidos, na zona urbana, produzidos pelas atividades humanas são representados, em sua grande maioria, por restos alimentares diversos provenientes do homem e animais e que com manejo inadequado e falta de tratamento, contribuem à organização de ecossistemas que possibilitam o aparecimento de criadouros de insetos, especialmente dípteros muscóides (moscas) que normalmente convivem com o homem (SEOLIN DIAS; SANTANA; GUIMARÃES, 2012, p. 209).
Do ponto de vista preventivo, inúmeras atitudes devem ser tomadas no sentido de evitar a
proliferação destes insetos no meio urbano. Considerando que acúmulos de matéria orgânica
são criadouros de moscas, intenso trabalho de manejo destes locais deve ser empreendido a
nível doméstico, comercial e industrial, com participação das autoridades governamentais.
Sendo ainda necessário um trabalho de educação sanitária em todos os níveis de escolaridade
de tal forma a minimizar os efeitos nocivos trazidos por esses insetos (SMG-RIO/SCZ, 2001).
CONCLUSÃO
A partir da realização do presente estudo, da metodologia aqui exposta e objetivos traçados,
concluímos que a relação entre o ser humano e a maneira com que o mesmo altera as distintas
paisagens presentes em seu entorno podem gerar ou agravar desequilíbrios.
Nesse sentido, depreendemos que a interferência humana ocasiona alterações que tendem a
reverberar de maneira direta na fauna e flora, e que espécies animais reagem de distintas
maneiras às ações antropogênicas provenientes de um modelo predatório.
Isto posto, concluímos que essas desconformidades alteram o comportamento das espécies que
foram objetos desse estudo (Columba livia e Musca domestica), demonstrando sua capacidade
de adaptação a uma nova realidade imposta, visto que tiveram seus habitat’s destruídos e
desenvolveram hábitos sinantrópicos.
Em consequência desses fatos, vimos que as relações entre humanos e os animais entram em
conflito a medida que se cristalizam distintas dinâmicas e interações que podem suscitar
problemas como o contágio por agentes patogênicos abrindo a possibilidade da contração de
enfermidades por parte da população.
Portanto, temos de ter a compreensão que vivemos uma relação entre sociedade e natureza
como elementos distintos, mas que compõem a mesma paisagem. Temos de ficar atentos a
possíveis problemáticas em relação a saúde pública, que decorrem de um aumento de
populações de espécies que passamos a conviver em decorrência de nossas atividades.
Por fim, é importante destacar que almejamos um convívio sintônico com as espécies aqui
trabalhadas, desenvolvendo diferentes tipos de manejos para trabalhar com situações que nos
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coloque em um possível equilíbrio, para que finalmente possamos manter uma relação ao
menos controlada entre o ser humano e a fauna presente nas paisagens em que ambos habitam.
AGRADECIMENTOS
Deixamos aqui nosso agradecimento a Faculdade de Ciência e Tecnologia – FCT/UNESP, campus
Presidente Prudente – SP, e ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da mesma, pela
dedicação e auxílio na construção da ciência geográfica. Não obstante é de nosso
reconhecimento e gratidão a agência de fomento que nos auxiliaram na viabilização desse
trabalho, nosso muito obrigado à CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Processo nº 88887.340700/2019-00).
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