UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
APOSENTADORIA: UM PROJETO DE VIDA BEM SUCEDIDO
Christiane Teixeira Ciuffo
Orientadora: Ana Cristina Guimarães
Niterói
Março/2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
APOSENTADORIA: UM PROJETO DE VIDA BEM SUCEDIDO
Objetivos:
Esta publicação atende a complementação didático-
pedagógica de metodologia da pesquisa e a
produção e desenvolvimento de monografia, para o
curso de Pós-Graduação em Gestão de Recursos
Humanos.
Pela autora: Christiane Teixeira Ciuffo
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AGRADECIMENTOS
Aos amigos de jornada, que sempre generosos me
conduzem na caminhada...
À Sebastião Iglesias que me ajudou na elaboração
deste e de tantos outros projetos de vida ...
À minha filha Mariana que a cada dia me ensina
mais a amar.
Valeu !!!
Christiane.
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RESUMO
Esta monografia propõe uma reflexão sobre aposentadoria e qualidade
de vida, e as estratégias adotadas por empresas para tornar possível este
projeto de vida.
Aborda as dificuldades enfrentadas pelos pré-aposentados e a
importância de se prepararem para este momento, assim como a convivência
social, os aspectos psicológicos e econômicos que este grupo de terceira idade
enfrenta, fazendo uma relação entre trabalho e saúde.
No entanto, enfatiza a necessidade da participação desses indivíduos
em programas que preparam para a aposentadoria, por proporcionar
oportunidades de consciência do trabalhador para a chegada deste momento.
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METODOLOGIA
Para elaboração deste trabalho, primeiramente foi realizada uma
pesquisa bibliográfica e documental em livros, revistas, dissertações e teses,
além de consulta em bases de dados, que versem sobre o tema aposentadoria.
Destaco algumas principais bibliografias que foram consultadas, e que
colaboraram com a formulação das bases teóricas desta monografia: Estatuto
do Idoso, sites do IBGE e da Previdência Social, Dicionários, assuntos na área
de metodologia da pesquisa, gestão de pessoas, terceira idade, psicologia,
trabalho e aposentadoria, entre outros.
É uma monografia de análise teórica, através de avaliação crítica e
comparativa de idéias já existentes, e método histórico, pois investiga
acontecimentos, processos e instituições do passado, verificando sua influência
na sociedade de hoje.
É um estudo de abordagem qualitativa, que se aprofunda no mundo dos
significados, crenças, valores, aspirações e relações humanas.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6
CAPÍTULO 1 7
1.1 Um breve histórico 7
1.2 - Conceitos 9
1.2.1 - Aposentadoria 9
1.2.2 - Trabalho 10
CAPÍTULO 2 11
2.1 Aposentadoria, Qualidade de vida e Envelhecimento 11
2.2 - Stress e Aposentadoria 19
CAPÍTULO 3 23
3.1 - Preparar-se é importante 23
3.2 - O papel das empresas 26
CONCLUSÃO 28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29
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INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como objetivo uma reflexão mais ampla
sobre os problemas que envolvem a aposentadoria, identificando as
repercussões e dificuldades vivenciadas pelos indivíduos, com maior enfoque
em seus aspectos psicológicos e também avaliar o papel que tem as empresas
na contribuição de uma melhor qualidade de vida nesta nova fase de seus
funcionários.
O interesse por este tema surgiu durante minha experiência como
funcionária de uma Instituição Pública de Ensino Superior, onde deparei-me
com vários colegas em idade de se aposentarem e em quase todos eles se
mantinha um sentimento de insegurança e uma grande dificuldade em lidar
com este momento.
Neste sentido, ao se falar em aposentadoria, não podemos deixar de
abordar também a temática envelhecimento, que está vinculada a esta fase de
vida do pré-aposentado.
Para tanto, se faz necessária a abordagem de teorias que envolvem o
processo de envelhecimento, relações de trabalho e um breve histórico sobre a
aposentadoria no Brasil.
Esperamos que nossas reflexões possam contribuir de alguma forma,
tanto para aumentar o volume do debate em torno deste tema, quanto para a
realização humana e social que todos esperamos alcançar um dia.
7
CAPÍTULO 1
1.1 Um breve histórico
O tema aposentadoria está muito em evidência no Brasil, não só pelas
últimas reformas da previdência social, mas também pelo crescente aumento
da expectativa de vida no país.
Conforme pesquisa no site da Previdência Social, as aposentadorias
eram organizadas somente pelas empresas, e a partir de 1933 passaram a ter
uma abrangência nacional através da criação dos Institutos de Aposentadorias
e Pensões, fazendo-se então necessária a uniformização da legislação e uma
unificação administrativa.
Em 1960, com a lei orgânica da Previdência Social (LOPS), incluiu-se
benefícios como: auxílio reclusão, auxílio funeral e auxílio natalidade. Em 1966,
por meio do decreto lei nº. 72, aconteceu a segunda unificação administrativa,
originando o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e também neste
mesmo ano, o fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS).
Em 1990 foi criado o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), tendo
como atribuições: arrecadar, fiscalizar e cobrar as contribuições sociais
destinadas ao financiamento da Previdência Social, e nesta mesma década foi
instituído o Fundo de Aposentadoria Programada Individual (FAPI) e o plano de
incentivo a essa aposentadoria.
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A Previdência teve sua reforma estabelecida pela emenda
constitucional, e assim muitas mudanças foram implementadas:
• O limite de idade;
• A regra do cálculo do benefício e novas exigências para
aposentadorias especiais.
Nos dias de hoje, de acordo com o site do Ministério, são esses os
seguintes benefícios segurados:
• Aposentadoria por idade: homens 65 e mulheres 60 anos;
• Aposentadoria por invalidez: concedida aos trabalhadores que por
doença ou acidente, são considerados pela perícia médica como
“incapacitados” para exercerem suas atividades;
• Aposentadoria por tempo de contribuição, sendo integral ou
proporcional, devendo haver uma combinação entre o tempo de
contribuição e a idade mínima;
• Aposentadoria especial: concedidos àqueles que trabalham em
condições prejudiciais à saúde ou à integridade física.
Este foi um breve histórico da aposentadoria no Brasil, em sua evolução
até os dias de hoje. No sentido mais amplo, a nossa pesquisa vai abordar nos
capítulos seguintes, alguns conceitos com fundamentação teórica, que vieram
somar a experiência na prática vivenciada.
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1.2 - Conceitos
1.2.1 - Aposentadoria
Ao buscar pelo sinônimo de aposentadoria no Dicionário da Língua
Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1993, p.38):
• Ato ou efeito de aposentar-se;
• Vencimento ou proventos de aposentado;
• Deixar o serviço ou atividade, conservando o ordenado ou parte
dele;
• Estado de inatividade de funcionário público ou de empresa
particular, ao fim de certo tempo de serviço, com determinado
vencimento.
Já no Dicionário da Língua Portuguesa de Silveira Bueno (2000, p.76),
aposentadoria significa:
• Ato de aposentar;
• Pensão, descanso, cessação.
No Michaelis (1998, p.130) aposentadoria significa:
• Direito que tem o empregado, depois de certo número de anos de
atividade ou por invalidez, de retirar-se do serviço, recebendo
uma mensalidade.
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1.2.2 - Trabalho
Aurélio (1993, p.381):
• Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um
determinado fim;
• Ação contínua e progressiva de uma força natural, e o resultado
desta ação;
• Atividade humana realizada ou não com auxílio de máquinas e
destinada a produção de bens e serviços;
• Atividade coordenada de caráter físico e/ou intelectual, necessária
à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento.
Michaelis (1998, p.132):
• Aplicação da atividade humana a qualquer exercício de caráter
físico ou intelectual.
Silveira Bueno (2000, p.762):
• Tarefa; aplicação da atividade física ou intelectual;
• Serviço, esforço, fadiga;
• Ocupação, emprego.
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CAPÍTULO 2
2.1 Aposentadoria, Qualidade de vida e Envelhecimento
Normalmente a atividade de trabalho é distinguida com nitidez da
atividade humana em geral. Nos formulários administrativos as mulheres sem
atividade remunerada são obrigadas a se declararem sem profissão. Aquele
que não trabalha, que não consegue encontrar trabalho, é um desempregado.
Diz-se habitualmente de um estudante, que ele nunca trabalhou e de um
aposentado que ele parou de trabalhar. Em suma, o trabalho é uma atividade
específica inerente à “vida ativa”, expressão significativa que, tomada ao pé da
letra, implica que o estudante, a dona-de-casa, o aposentado não tem
atividade. Consequentemente, não é a atividade em si, mas sua finalidade, que
caracteriza o trabalho.
Há todo um processo de “desconstrução” do ambiente organizacional
que envolve a questão da aposentadoria, que torna mais difícil a quebra dos
laços laborativos do indivíduo com a organização a qual ele pertence.
Assim, as pessoas que mais sofrem com a perda do trabalho são as
pessoas altamente envolvidas com a organização, que estabelecem com ela
uma relação de dependência. Os vínculos entre os indivíduos e a organização
vão além do simples vínculo econômico e empregatício: quando o indivíduo
perde o emprego ele perde parte da sua identidade.
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Quando estes vínculos são rompidos, é como se o indivíduo perdesse as
referências de sua própria vida, referências estas que ele levou a vida inteira
para construir e que, às vezes, de uma hora pra outra, lhe são tomadas.
Segundo José Carlos Ferrigno (1989, p.9), a aposentadoria pode ser
entendida como uma conquista da classe trabalhadora:
“Essa conquista assim como uma série de outras
vitórias trabalhistas, contribuiu para amenizar as
condições humanas do trabalho, herdadas da revolução
industrial”.
Apesar desta visão, muitos que vivenciam a aposentadoria não a
consideram como uma conquista, mas sim como um momento de perdas, não
só sociais e emocionais, como também financeiras.
Sobre o significado da aposentadoria, Assis (2004, p.12) destaca:
“A aposentadoria significa o fechamento do ciclo
do trabalho e retira do indivíduo aquilo que foi sua marca
ao longo dos anos. Não há mais diferenciação e papéis e
status pelas profissões, mas um rótulo “aposentados”
que retira do indivíduo o sentido de pertencimento à
engrenagem social, podendo gerar questionamento
sobre sentir-se útil fora do mercado de trabalho.”
A aposentadoria tem sido através dos anos, o selo da velhice e da
inutilidade social. É a mudança de uma fase de intensa atividade para uma
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decadência de padrão de vida, desestimulação e perda do reconhecimento
social (Veras, 1999).
A aposentadoria requer um condicionamento mental e social que a
maioria das pessoas não tem, isso porque a cessação da atividade profissional
constitui uma exclusão do mundo produtivo, que é a base da sociedade
moderna (Rodrigues e Rauth, 2002).
Para França (1999), o afastamento do trabalho provocado pela
aposentadoria talvez seja a perda mais importante da vida social das pessoas.
Fato que acarreta conflitos e quadros depressivos.
Percebe-se então que a aposentadoria não se restringe à saída do
sujeito do mercado de trabalho, é algo muito mais complexo e representativo.
Veras (1999, p.9) neste sentido destaca:
“A aposentadoria significa, no mínimo, um
momento de mudança concreta e real na vida dos
sujeitos. Ela é a interrupção de um certo ritmo de vida
que se prolonga por quase quatro décadas.”
Como dito anteriormente, a aposentadoria é uma conquista, uma
conquista do trabalhador. Não um benefício, mas um direito que deve
assegurar aos indivíduos uma renda permanente para uma vida digna.
É sabido que a aposentadoria implica em uma série de mudanças de
natureza biopsicossocial, entretanto, não se pode negar que a aposentadoria é
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para alguns um momento muito almejado. Neste sentido Adler (1999, p.143)
relata:
“Após muitos anos de trabalho, a aproximação da
aposentadoria pode ser vivida como assustadora por
uns, na medida em que o que vislumbram é o tédio, a
inutilidade, o isolamento, a depressão e a proximidade da
morte. Para outros, é o início de uma nova fase que
permitirá a realização de projetos adiados, de prazeres
não vividos, de novas trocas afetivas.”
Nos últimos tempos, muito tem-se falado em qualidade de vida,
entretanto, conceituar qualidade de vida não é uma tarefa fácil. Ela é uma
busca incessante do ser humano, principalmente quando alcançamos a idade
da maturidade, onde as dificuldades são grandes e precisamos buscar novas
alternativas, com a saúde em sua definição integral, envolvendo a educação,
política, corpo, mente, sociedade e espiritualidade. O tempo possui várias
dimensões e pode ser conceituado por diversos pontos de vista, ou seja, cada
um planeja o seu próprio caminho, tendo como objetivo único uma vida
saudável. Neste sentido, Pacheco (1999, p.84) diz:
“Os pesquisadores que se dedicam a investigar
“Qualidade de vida e Envelhecimento”, tem nos levado a
uma série de descobertas que lançam algumas luzes ao
problema: grande parte deles tem apontado que
“Qualidade de vida” é um conceito subjetivo e que, assim
cada um constrói seu caminho. Apontam que não há
determinantes que definam indicadores de qualidade de
vida de uma forma universal.”
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Ainda neste sentido, Carvalho e Pereira (1999, p.112) ressaltam:
“As condições econômicas, o meio ambiente, a
capacidade laborativa das pessoas, a estrutura familiar e
respectiva ajuda mútua e a disponibilidade de serviços de
saúde e outras formas de apoio institucional, exercem
influência na criação e manutenção de uma vida com
qualidade.”
França (1999) atenta para o afastamento do trabalho por conseqüência
da aposentadoria. Muitos gostam das tarefas que assumem no trabalho e das
relações sociais estabelecidas, de forma que esse ambiente possa ser além de
uma forma de sobrevivência, mas um local de prazer. Por isso muitas pessoas
não desejam se aposentar. Com isso a aposentadoria pode ser uma das
perdas mais importantes na vida das pessoas.
Nas grandes cidades o afastamento do trabalho tem como sua principal
repercussão psicológica o sentimento de solidão e isolamento (Lopez, 1999).
Da mesma forma, a chegada da aposentadoria pode acarretar uma
grande sensação de inutilidade (Adler, 2000).
Segundo Veras (1999), a aposentadoria vem sendo considerada como o
selo da velhice e da inutilidade social, caracterizada pelo período decadente da
vida.
De acordo com estudiosos, o envelhecimento pode ser considerado um
processo socialmente construído, adotando significados particulares em
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épocas, contextos históricos, sociais e culturais distintos, e compreender a
velhice torna-se fundamental no processo de aposentadoria.
A velhice é uma etapa de perdas, improdutividade, doença, solidão e
proximidade da morte; e como a fase do aposentado ativo, do “jovem” da
terceira idade, onde a idade avançada concorre para um momento de maior
lucidez, maturidade, atividade e possibilidades, principalmente para as
camadas médias assalariadas como novos padrões de aposentadoria.
Na literatura atual, poucos autores abordam a temática envelhecimento
e hoje os idosos representam o grupo populacional que mais cresce no Brasil e
no mundo e um dos grandes acontecimentos na vida do idoso é a
aposentadoria, que pode ser considerada um fator que influencia seu dia-a-dia.
À partir da análise de dados estatísticos brasileiros e mundiais, a
questão do envelhecimento populacional evidencia para o futuro, uma
superpopulação idosa. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), estima-se que no ano de 2025 o Brasil contará com mais de
32 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, ou seja, 15% da
população do país (Barcelar, 2002).
É comum as pessoas que atuam no campo do envelhecimento se
reportarem à Classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que
sugere dois cortes cronológicos para caracterizar a entrada da velhice: 60 anos
para os países em desenvolvimento e 65 anos para os países considerados
desenvolvidos.
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A Lei 8.842 de 04 de janeiro de 1994, trata dos direitos do idoso, bem
como o Estatuto do Idoso, onde registra-se o direito de todos ao lazer, visando
à promoção da saúde.
“O idoso possui direito à liberdade, à dignidade, à
integralidade, à educação, à saúde, a um meio ambiente
de qualidade, entre outros direitos fundamentais
(individuais, sociais, difusos e coletivos), cabendo ao
Estado, à sociedade e a família, a responsabilidade pela
proteção e garantia desses direitos”.
O Estatuto em seu 28º artigo declara:
“O poder público criará e estimulará programas de:
I- Profissionalização especializada para os
idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para
atividades regulares e remuneradas;
II- Preparação dos trabalhadores para a
aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano,
por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme
seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos
sociais e de cidadania;
III- Estímulo às empresas privadas para a
admissão de idosos ao trabalho”.
De acordo com Antunes (2002), para cada idoso aposentado existem
dois adultos em idade produtiva, ao passo que na década de 60, este
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percentual era de oito trabalhadores para cada aposentado, fato que gera
grandes preocupações.
Esta nova realidade, onde é crescente o número da população idosa, e
consequentemente da população denominada “improdutiva”, acaba gerando
sobrecarga à população economicamente ativa e um aumento dos gastos com
a previdência social. Isto mostra a urgência em rever questões econômicas e
sociais, atestando despreparo das Instituições em lidar com este fato.
De acordo com o Estatuto do Idoso, é também de responsabilidade dos
órgãos públicos pensar em políticas públicas destinadas a oportunizar a
inserção social deste grupo. Este é um desafio que os aposentados precisam
enfrentar, quer através dos movimentos sociais organizados, quer através do
nível de consciência e de responsabilidade individuais.
Ser velho ou idoso? Velhice ou terceira idade? Existe diferença? Não
nos cabe a pretensão de fazer definições, mas sim de propor diferentes
possibilidades, afastando a imagem negativa do envelhecimento que associa
esta fase a um momento de perdas e doenças. A mudança de paradigma e as
novas terminologias, como “melhor idade”, caracterizam o surgimento de uma
nova visão e uma nova forma de vivenciar a velhice, e a aposentadoria está
vinculada a esta fase, como um direito social, em busca de uma melhor
qualidade de vida.
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2.2 - Stress e Aposentadoria
A chegada da aposentadoria para muitas pessoas vem acompanhada de
um sentimento de ambigüidade, ou seja, ao mesmo tempo em que é um
desejo, é também um medo. Este tempo que antecede a aposentadoria, esta
situação nova identificada como estressante, é ao mesmo tempo uma
conquista, direito e prêmio, mas também um momento de passagem, de
desligamento, e de perda de identidade laborativa travada através do contato
do homem com diferentes grupos sociais, ao longo de sua vida, entre eles, o
grupo de trabalho. Esta perda significa a perda de um dos muitos papéis que
representamos: a perda do papel profissional.
Outro fato gerador de stress é que se aposentar hoje representa para a
grande maioria dos brasileiros um momento de angústia em virtude da nossa
realidade econômica, devido à necessidade de sustentar a família mantendo
um padrão similar a qualidade de vida anterior à aposentadoria.
Segundo Seyle (1965, p.33):
”Estar estressado é um estado do organismo após
o esforço de adaptação, que pode produzir deformações
na capacidade de resposta, atingindo o comportamento
mental e afetivo, o estado físico e o relacionamento com
as pessoas”.
De acordo com França e Rodrigues (2007), as crenças, convicções e
premissas que existem nas pessoas sobre as mais diferentes circunstâncias da
realidade, surgem ou estão presentes em relação à determinada situação antes
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delas acontecerem e influenciam em suas percepções sobre a situação que
estão vivendo.
A aposentadoria é temida por muitas pessoas e vista como ameaça, por
acontecerem sucessivos casos de trabalhadores que se aposentam e
adoecem, entram em depressão, e até morrem.
Alguns danos que podem ocorrer no trabalho e gerar um desempenho
insuficiente nesta fase de pré-aposentadoria, de acordo com França e
Rodrigues (2007, p.50):
• “Queda da eficiência;
• Ausências;
• Insegurança nas decisões;
• Protelação de tomada de decisão;
• Uso abusivo de medicamentos;
• Irritabilidade;
• Sobrecarga voluntária de trabalho;
• Explosão emocional fácil;
• Grande nível de tensão;
• Sentimento de frustração;
• Sentimento de onipotência;
• Desconfiança;
• Eclosão ou agravamento de doenças.”
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Ainda de acordo com os autores acima, pode também ocorrer a SGA
(Síndrome Geral de Adaptação) que é facilmente comprovada naquelas
doenças onde notoriamente há um componente de esforço, de adaptação,
como por exemplo, nas gastrites e úlceras digestivas resultantes de stress,
crises de hemorróidas, alterações da pressão arterial, artrites reumáticas e
reumatóides, doenças renais, afecções dermatológicas de cunho inflamatório,
dificuldades emocionais, alterações metabólicas, perturbações sexuais,
alergias, infecções, entre outras.
A Síndrome Geral de Adaptação é um conceito que foi desenvolvido por
Seyle (1965): um conjunto de respostas inespecíficas que surgem no
organismo diante de qualquer situação que exija da pessoa esforço para
adaptação, inclusive psicossociais.
Não podemos desconsiderar que o ser humano não adoece somente
devido problemas orgânicos: ele adoece de solidão, de tristeza, de desamparo,
ou simplesmente pela falta de comunicação.
A OMS em um relatório datado de 1986, afirma que há uma
multiplicação de manifestações de doenças, decorrentes de desequilíbrios
psicossociais. Estima-se que elas chegariam a 50% nas regiões mais
desenvolvidas, afetando as mais várias classes sociais - tanto o operário como
o executivo são passíveis de apresentar alterações.
Assim sendo, a maioria das pessoas não aceita a aposentadoria por
acreditar que está ligada a palavras como “inativo” e “ociosidade”, ou seja, a
algo sem função na sociedade, além do fato de estar presente em dados
estatísticos como atividade não geradora de renda. As pessoas não são
estimuladas a pensar sobre o seu desligamento da empresa, e quando este
acontece, pode vir a ocasionar grandes crises pessoais.
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Avaliando-se a literatura acerca dos temas qualidade de vida,
aposentadoria e envelhecimento, é possível constatar que há muita ansiedade
em relação a essa nova fase de vida retratada através do medo do
desconhecido. Sendo assim, pode-se supor que parte desse medo vem da
estrutura que há hoje no mercado que faz as pessoas organizarem suas vidas
em torno de suas relações de trabalho.
23
CAPÍTULO 3
3.1 - Preparar-se é importante
A preparação para a aposentadoria é uma proposta prevista pelo
estatuto do idoso, que é de responsabilidade Institucional e voltada para
funcionários que estejam a dois anos de requererem a aposentadoria.
Tem como objetivo minimizar o impacto que o fim da relação de trabalho
causa na vida dos trabalhadores, estimulando a busca de alternativas e novas
perspectivas para a fase pós-carreira; possibilitar a sua reinclusão na
sociedade e na vida familiar e promover a reestruturação de metas a partir dos
anseios e valores individuais, bem como dissipar ansiedades, mitos,
preconceitos e medos com a chegada da aposentadoria.
Segundo Teixeira (2002, p.593),
”Com o aumento da longevidade do brasileiro, a
fase do pós-carreira tornou-se o tema da preparação
para a aposentadoria alta prioridade entre os executivos,
pois eles não se preparam, e não reservam espaço em
suas agendas para deixar seus postos e assumir sua
identidade pessoal, muitas vezes com foco na
organização sem possibilidade de desenvolver outra
identidade. Não raro os executivos passam tanto tempo
buscando alcançar seus objetivos profissionais que
relegam a segundo plano sua família, amigos e toda sua
vida fora da organização. Eles consolidam seus nomes
aos nomes da empresa e, quando percebem que na
aposentadoria, eles são eles mesmos, muitos entram em
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colapso, pois passaram muito tempo abrindo mão de
realizações pessoais e familiares, adiando para um futuro
incerto seus planos de desfrutar a vida, pressupondo que
o sucesso no mundo da organização fosse suficiente
para satisfazê-los integralmente.”
Ainda Teixeira (2002, p.596), o objetivo do planejamento pós-carreira
deve ser o de encontrar um novo interesse que valorize ou intensifique sua
capacidade de “desfrutar”: desfrutar a vida, desfrutar o produto do seu trabalho,
desfrutar seu tempo livre.
“Nosso processo educacional não nos prepara
para o uso do tempo livre. Somos educados dentro de
uma cultura que valoriza o trabalho”.
Embora exista uma legislação específica para a preparação da
aposentadoria, pouco se faz em relação à mesma. Após 35 anos para homens
e 30 anos para mulheres, em uma rotina diária, de um trabalho nem sempre
gratificante e humano, essa preparação é de extrema importância para que se
possa estabelecer um processo de aposentadoria, envelhecimento e qualidade
de vida bem sucedidos.
Conforme dados da pesquisa SESC/FPA, foram revelados que:
“De modo geral, as pessoas não recebem
preparação específica para a aposentadoria – 95% dos
idosos aposentados declaram não ter tido essa
oportunidade. Dentre os idosos que obtiveram, 2% das
oportunidades ocorreram em empresas privadas em que
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trabalhavam, e 3% em empresas do governo” (Néri,
2007, p.96).
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3.2 - O papel das empresas
Assim como o governo deve se preocupar em desenvolver políticas que
garantam o acesso à população que envelhece, as empresas também devem
abrir espaços para a participação de seus empregados em projetos, ofertando
possibilidades àqueles que estão a caminho da aposentadoria. Este é um
benefício ao trabalhador, entretanto, a empresa ao auxiliar seus empregados a
aumentar os seus conhecimentos, ampliando seus horizontes e planejando seu
futuro, estará investindo nela mesma.
Os Programas de Preparação para Aposentadoria foram desenvolvidos
no Brasil, inicialmente, por empresas multinacionais e organizações bancárias.
Por todo impacto criado pela aposentadoria, este tema vem ganhando espaço
nas Universidades, que segundo Faury (1996), tem como papel importante se
organizar para:
• Incluir o tema terceira idade nos currículos de graduação;
• Estabelecer linhas de pesquisa que contemplem esse tema;
• Estimular publicações;
• Promover eventos dirigidos aos especialistas, mas abertos à
sociedade;
• Montar parcerias com empresas que desenvolvam PPA para
troca de experiências, trabalhos em cooperação;
• Trabalhar junto aos Sindicatos/Associações para mostrar a
importância da Preparação para a Aposentadoria, para melhor
qualidade de vida;
• Montar, desenvolver e ampliar programas específicos para esses
grupos.
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As empresas podem e devem estabelecer parcerias em projetos,
inserindo os pré-aposentados nesses projetos sociais. O importante é ofertar
possibilidade, descobrindo ou redescobrindo os seus desejos, vontades,
anseios, sonhos adormecidos, para ele mesmo buscar o seu projeto de vida,
seja através do trabalho voluntário, da dedicação à família ou de qualquer outra
atividade.
Não basta que a empresa crie o Programa, é necessário primeiro
despertar o pré-aposentado para que este possa tornar-se capaz de construir o
seu próprio projeto, ofertando caminhos, trabalhando a auto-estima, auto-
confiança, as relações interpessoais, dando suporte psicológico às pessoas
que se encontram próximas a se aposentarem para auxiliá-las a decidirem o
momento certo.
Como alternativa viável, consideramos de extrema importância a
implantação do PPA, funcionando como um espaço de encontros com equipes
e temas multidisciplinares ligados à geriatria, cardiologia, fisioterapia,
psicologia, nutrição, atividade física, aposentadoria, RH, INSS, finanças,
legislação.
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CONCLUSÃO
Refletir sobre aposentadoria, é olhá-la em sua ambigüidade. Se por um
lado ela representa a conquista da liberdade, fonte de prazer e realização, por
outro, pode representar um vazio, uma tristeza ou também um sentimento de
inutilidade, caracterizada como sinônimo de exclusão social.
Sugeriu-se então, a participação em PPA’s por acreditar ser de extrema
importância àqueles que pretendem se aposentar, se prepararem para este
momento, pois, além de promover a satisfação e uma melhor qualidade de
vida, criam novas perspectivas que lhes permitam transformar a aposentadoria
numa etapa de vida em que se possa efetivamente dela usufruir, com
dignidade e com novas possibilidades de realização humana e social.
Falou-se também na importância das empresas voltarem seus olhares
para esses funcionários que tanto produziram e se dedicaram por tantos anos,
auxiliando-os a planejarem o seu futuro.
A busca em bibliografias permitiu-nos concluir que a produção teórica
sobre este tema é muito escassa, mas mesmo assim, conseguimos trabalhar
com a concepção de uma aposentadoria bem sucedida, verificando assim, a
importância que a elaboração de um projeto de vida tem na hora em que o
indivíduo vai se aposentar.
Esperamos que este estudo traga contribuições para estudantes,
empresas, associações e grupos, à elaboração e realização de outros projetos,
pesquisas e trabalhos sobre esse tema. Aos futuros aposentados, esperamos
que nossas reflexões possam contribuir de alguma forma, servindo de incentivo
para que sigam em frente em busca da realização pessoal.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADLER, Elisabeth. Aspectos emocionais da aposentadoria. In: VERAS, Renato
Peixoto (org.). Terceira idade: alternativas para uma sociedade em transição. Rio
de Janeiro: Relume-Dumará; UERJ: UnATI, 1999. cap.9, p.143-148.
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Apicuri, 2009. 314p. (Coleção vida e tempo).
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