DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL
1- INTRODUÇÃO
A drenagem linfática manual é um dos recursos terapêuticos mais utilizados atualmente por
profissionais de saúde e estética. Inúmeras foram as técnicas desenvolvidas a partir da técnica original
do Dr. Emil Vodder, sendo reconhecidas e aplicadas proporcionando melhores resultados em diversos
procedimentos envolvidos na reabilitação de afecções estéticas, angiológicas, metabólicas, traumáticas,
cirúrgicas e outras. Para tanto, precisamos inicialmente conhecer e entender os conceitos de anatomia e
fisiologia do sistema linfático.
2- SISTEMA CIRCULATÓRIO
O estudo do sistema sanguíneo teve início bem mais cedo que o do sistema linfático. Na Grécia,
por volta do ano de 460 a.C, já existiriam relatos sobre a circulação sanguínea, além do conhecimento
de várias citações sobre os componentes deste sistema através dos séculos.
Leduc e Leduc acreditam que o aspecto incolor da linfa certamente contribuiu para que lhe fosse
atribuído um papel discreto, que teve de esperar por muito tempo até que os pesquisadores se
interessassem pelo sistema linfático.
Winiwarter descreveu o sistema linfático em 1892. Desde então, o estudo do sistema linfático
evoluiu de forma lenta até 1912, quando o Prêmio Nobel foi oferecido ao Dr. Alex Carrel por ter
conseguido manter vivo, durante um mês, tecido de frango ao realizar diariamente a troca da linfa. Daí
em diante, Dr. Emil Vodder iniciou seus estudos sobre drenagem linfática e em 1936 lançou a técnica
de massagem mundialmente conhecida para estimular a drenagem linfática. Leduc e Foldii também
pesquisaram a técnica de drenagem e a aperfeiçoaram.
Hoje, a massagem de drenagem linfática é conhecida e reconhecida internacionalmente pelas
comunidades científicas e tem sua aplicabilidade não somente para tratamentos estéticos, mas também
em diversas terapêuticas como nas afecções de origem traumáticas, neurológicas, cirúrgicas etc.
É bem verdade que o sistema linfático tem sua função iniciada no final de um processo que
começa no sistema sanguíneo. Portanto é necessário o estudo do sistema arterial e venoso.
2.1- Circulação Sanguínea
O sistema sanguíneo é dividido em arterial e venoso. Participa, em conjunto com o sistema
linfático, da nutrição tecidual de todo o organismo. De acordo com Guyton, estes sistemas atuam de
maneira integrada e simultânea: sangue arterial chega às células proporcionando sua nutrição e
oxigenação, e retorna para o sistema venoso; uma pequena parte deste sangue não consegue ultrapassar
a membrana dos capilares venosos. Essa porção de líquido intersticial, juntamente com as proteínas, é
removida do meio intercelular através do sistema linfático.
As artérias são constituídas por três camadas: a íntima, a média e a adventícia, dispostas do
interior para o exterior respectivamente. Vale ressaltar que é a camada média que confere à artéria seu
componente elástico, importante na manutenção da homeostasia.
O sistema arterial é composto por artérias que são responsáveis por carrear o sangue rico em
nutrientes e oxigênio a todos os tecidos e órgãos do corpo humano. Parte do coração em direção à
circulação periférica.
Já o sistema venoso é responsável por captar os produtos do catabolismo celular, moléculas de
proteínas e dejetos. O sangue que antes era arterial, agora passa a se chamar sangue venoso. Cerca de
90% desse sangue retorna ao coração através do sistema venoso. Guyton afirma que aproximadamente
10% não conseguem transpor a membrana dos vasos e são transportados ao sistema sanguíneo pelo
sistema linfático.
Figura 1- Sistema Sanguíneo e Linfático
3- SISTEMA LINFÁTICO
Os vasos linfáticos são frágeis e possuem coloração esbranquiçada, isso dificultou, durante muito
tempo, a visualização e compreensão do funcionamento desse sistema.
Em homens adultos cerca de 60% a 70% do peso corporal consiste em água, e esta água está
distribuída em três compartimentos diferentes. Dois terços estão dentro das células e um terço fora
delas, sendo que desse, 1/5 está no sangue e 4/5 está no líquido intersticial, conforme Borges.
O sistema linfático funciona como uma via acessória por onde o líquido pode fluir dos espaços
intersticiais para a circulação sanguínea, transportando proteínas e macromoléculas para fora do meio
intercelular; função que o sistema sanguíneo é incapaz de desenvolver uma vez que a membrana do
capilar sanguíneo não fornece passagem a moléculas de grandes tamanhos. Guyton referiu-se ao sistema
linfático como um “lixeiro” que remove do meio intersticial excesso de líquido, proteínas e detritos
celulares. Ele ainda ressalta que, caso o sistema linfático pare de funcionar por 24 horas pode haver
morte. Tal sistema executa a função de manter o equilíbrio hídrico e proteico nos tecidos.
Guirro e Guirro relata que o sistema linfático desempenha várias funções importantes, como
promover o retorno do líquido intersticial para a circulação sanguínea, destruir microrganismos e
partículas estranhas presentes na linfa, e participar de respostas imunes específicas como a produção de
anticorpos.
Figura 2 - Interação do capilares linfáticos com o sistema sanguíneo e tecidos.
3.1- Anatomia
Apesar da dificuldade, devido ao seu aspecto delicado e translucido, a anatomia desse sistema vem
sendo pesquisada desde os nossos antepassados. Os vasos linfáticos, assim como a linfa, são claros e
transparentes.
Conforme Leduc, o sistema linfático é composto de: capilares linfáticos, vasos pré-coletores,
coletores, troncos linfáticos, ducto linfático, linfonodos e linfa. Guirro e Guirro cita ainda o baço, timo e
tonsilas.
O sistema linfático é uma via de transporte de líquidos unidirecional, carrega a linfa da periferia
para o centro. Por esta razão é mais sensato chamá-lo de transporte linfático e não de circulação
linfática. Diferentemente do sistema sanguíneo, o sistema linfático não possui um órgão central
bombeador, a parede de seus vasos é mais fina, apesar de ser formada por células maiores.
Guyton afirma que quase todos os tecidos corporais tem canais linfáticos especiais responsáveis
por drenar o excesso de líquido diretamente do meio intersticial. As exceções incluem o endomísio dos
músculos, ossos, porção superficial da pele e sistema nervoso central. No entanto, descreve que tais
tecidos tem pequenos canais chamados de pré-linfáticos por onde o líquido intersticial pode fluir.
Picard, citado por Borges, descorda e descreve em estudo que, no tecido nervoso de animais vivos
e em humanos entre 12 e 36 horas após a morte, foram encontrados vasos linfáticos com comprovação
histológica. Garrido, também citado por Borges, relatou a inexistência de do sistema linfático no humor
vítreo, na placenta, na esclerótica e no tecido cartilaginoso.
Existem no sistema linfáticos vasos superficiais e profundos. Os vasos superficiais são bastante
numerosos e possuem grande quantidade de ramificações e anastomoses. Acompanham o trajeto das
veias e seu conteúdo é encaminhado para os linfonodos superficiais. Estão localizados sobre a fáscia
muscular e drenam os tecidos superficiais. Os vasos linfáticos profundos não aparecem em grande
número, possuem poucas ramificações e seguem ao lado dos vasos sanguíneos profundos. Localizam-se
embaixo da fáscia muscular, conduzem seu conteúdo aos linfonodos profundos e são responsáveis por
captar o líquido intersticial dos músculos, órgãos viscerais e cavidades articulares.
Os vasos linfáticos são classificados hierarquicamente em capilares linfáticos, pré-coletores, vasos
coletores e troncos linfáticos. Sendo que os dois primeiros são chamados de linfáticos iniciais.
3.1.1- Capilares linfáticos
A principal função dos capilares linfáticos é a absorção de macromoléculas. Constituem os vasos
iniciais do sistema linfático, tem início em fundo cego e assemelham-se a “dedos de luva”. Como
particularidade anatômica, percebemos a presença de filamentos de ancoragem, prolongamentos de
células endoteliais que se fixam às fibras de colágeno e elastina do tecido conjuntivo do interstício. Tais
filamentos têm a função de controlar a entrada de líquido através da abertura e fechamento do orifício
chamado zonulae. Este arranjo estrutural forma uma válvula funcional em sentido único. A pressão
exercida pelo líquido intersticial fora do capilar linfático empurra as células endoteliais que abrem a
zonulae e permite a entrada do líquido no capilar. Em contrapartida, a pressão exercida pelo líquido
dentro do capilar força as bordas das células endoteliais a se juntarem e fecharem o orifício. Isso impede
que o líquido, uma vez dentro do capilar, retorne ao meio intersticial. [4] Esse dispositivo impede o
refluxo da linfa para o interstício, pois quando esta penetra no capilar, o orifício se fecha.[3,4]
A B
Figura 3 A e B - Filamentos nas bordas são os filamentos de ancoragem ou filamentos de Casley-Smith.
Figura 4 – Filamentos de ancoragem e orfício de entrada do líquido intersticial para dentro do capilar
linfático.
3.1.2- Vasos pré-coletores
Possuem um diâmetro maior que o dos capilares e são repletos de válvulas. O espaço que
compreende uma válvula e outra é denominado linfangion. Próximo às válvulas, o diâmetro do vaso é
reduzido e por isso tem aparência de “contas de um rosário”. São essas válvulas que asseguram o fluxo
da linfa em uma única direção. É constituído internamente de fibras de colágeno, elementos elásticos e
musculares que lhe conferem maior contratilidade e alongamento. Ferrandez, citado por Borges, relata
que estes vasos possuem inervação, e isso dá garantia ao fluxo unidirecional da linfa. Uma vez que o
linfangion se distende, em resposta, ele se contrai e expulsa a linfa em direção ao próximo linfangion.
A B
Figura 5 – A: Estrutura interna do linfangion mostrando zonulae e válvulas. B: Corte do capilar linfático
mostrando uma válvula (setas menores). A seta longa e descontínua indica o sentido do fluxo da linfa na luz
deste capilar.
3.1.3- Vasos coletores
Sua estrutura é muito parecida com a das veias. São vasos de linfáticos de maior calibre e como
as veias possuem também três camadas, a túnica íntima, a túnica média e a túnica adventícia. Porém sua
espessura é mais delgada e a separação é menos nítida que a das veias. São valvulados e suas válvulas
se projetam no sentido da corrente linfática, evitando o retorno da linfa.
3.1.4- Troncos linfáticos
Os troncos linfáticos são encontrados em número de onze, e são denominados de: troncos
lombares, tronco intestinal, troncos broncomediastinais, troncos subclávios, troncos jugulares e troncos
descendentes intercostais. Todos, exceto o tronco intestinal, aparecem em pares. [3]
Ainda conforme o mesmo autor, os troncos lombares são constituídos pelos vasos linfáticos que
drenam os membros inferiores, regiões urinária e genital, estruturas irrigadas pela artéria mesentérica
inferior e parede abdominal infra-umbilical. O tronco intestinal é formado pelos linfáticos eferentes dos
linfonodos mesentéricos superiores. Os broncomediastinais são formados por vasos linfáticos que
drenam as regiões ântero-superiores profunda do tórax e abdome, região anterior do diafragma, pulmão,
coração e lobo direito do fígado. Os troncos subclávios constituem-se dos vasos linfáticos que drenam
os membros superiores, a face anterior do tórax e a parede abdominal supra-umbilical. Os troncos
jugulares formam-se pelos vasos linfáticos que drenam a cabeça, face, pescoço e região posterior da
coluna cervical. E por fim, os troncos descendentes são formados pelos vasos linfáticos que drenam a
região profunda da parte posterior do tórax.
3.1.5- Ductos linfáticos
Os ductos linfáticos são os vasos responsáveis por terminar a drenagem linfática. Desemboca seu
conteúdo no sistema venoso, no nível da junção subclávio-jugular, região denominada términus.
Existem dois ductos e são chamados de ducto linfático direito e ducto torácico. O primeiro é constituído
pelos troncos jugular direito, subclávio e broncomediastinal direitos e desembocam na junção
subclávio-jugular direita. O ducto torácico é formado pelos troncos descendentes intercostais, lombares
e intestinal que formam uma dilatação entre T12 e L2, chamada cisterna do quilo. Daí segue
cranialmente pelo hiato aórtico até chegar à junção subclávio-jugular esquerda, onde desemboca seu
conteúdo.
Figura 6 – Representação esquemática dos troncos e ductos linfáticos.
Figura 7- Cisterna do quilo, ducto torácico e
términus.
3.1.6- Linfonodos
São agrupamentos de linfócitos encapsulados localizados ao longo do trajeto linfático. Guirro e
Guirro afirma que os linfonodos são em número de 600 a 700 em todo corpo. Têm a função de filtrar a
linfa e de resposta imune do organismo. Desempenham importante papel impedindo que processos
infecciosos locais disseminem ou provoque algum dano em outros segmentos corporais.
Microrganismos e detritos celulares são destruídos no linfonodo por fagocitose. Também atuam na
identificação de células tumorais e na tentativa de frear uma possível disseminação e metástases.
Os linfonodos são classificados quanto a sua localização em profundos e superficiais. Os
linfonodos profundos se encontram embaixo da fáscia muscular, nas cavidades abdominais e torácicas,
e os linfonodos superficiais estão presentes no tecido celular subcutâneo. Geralmente estão agrupados
em um número razoável de linfonodos. As principais cadeias linfonodais são: linfonodos subclávios,
axilares, abdominais, inguinais, poplíteos e maleolares. Pode-se citar também os linfonodos da região de
pescoço, retroauricular, cervical e os localizados no cotovelo.
Figura 8 – Cadeia de linfonodos axilares e inguinais.
O orifício de entrada e saída dos vasos sanguíneos e de saída dos vasos linfáticos é chamado de
hilo. Os vasos linfáticos que penetram no linfonodo pelo lado convexo são chamados de vasos
aferentes, e os vaso linfáticos que saem do linfonodo, transportando linfa filtrada e rica em células de
defesa, são denominados de vasos eferente.
É nos linfonodos que ocorre a filtração da linfa, onde eventuais partículas estranhas são eliminadas
e tal líquido é enriquecido por células linfóides ou células de defesa. Também é onde ocorre a ativação e
liberação dos linfócitos T, caso sejam detectados pelo linfonodo.
Figura 9 – Estrutura do linfonodo
3.1.6.1- Linfonodos da cabeça e do pescoço
São divididos em superficiais e profundos:
1. Superficiais:
• occipitais
• retroauriculares
• parotídeos superficiais
• submandibulares
• submentonianos
• cervicais superiores
2. Profundos
• cervicais profundos
• supraclaviculares
3.1.6.2- Linfonodos do membro superior
• supratrocleares
• deltopeitorais
• axilares
3.1.6.3- Linfonodos do tórax, abdome e pelve.
• torácico: pulmonares, broncopulmonares, traqueais, mediastinais e frênico.
3.1.6.4- Linfonodos do membro inferior
• inguinais
• poplíteos
• tibiais anteriores
3.1.7- Linfa
Quando o líquido presente no meio intersticial passa para dentro do capilar linfático, recebe o
nome de linfa. Apresenta coloração esbranquiçada, límpida ou amarelo limão. Juntamente com o líquido
céfalo-raquidiano é considerada o líquido mais nobre do organismo. É composta por aproximadamente
96% de água. É formada por uma parte plasmática, constituída de elementos como sódio, potássio,
dióxido de carbono, glicose, enzimas, etc, e uma parte celular constituída de linfócitos, macrófagos,
eritrócitos. Conforme Guyton, a linfa torácica, que é a união de todas as linfas do corpo, possui cerca de
3 e 5g/dl de proteínas. É uma das principais vias de absorção de nutrientes pelo trato gastrointestinal,
especialmente de gorduras, podendo conter até 1 a 2% de gordura, além de bactérias que por ventura
passem por entre as células.
A linfa também é composta de restos celulares que devem ser retirados do interstício para
manutenção da homeostasia.
Cerca de 2 a 3 litros de linfa circulam por dia no organismo, podendo chegar até a 20 litros
dependendo das necessidades orgânicas.
3.2- Fisiologia do Fluxo Linfático
O sistema linfático é uma via de drenagem unidirecional que tem a função de “limpar” os tecidos
de substâncias indesejáveis e de excesso de líquidos. É uma via de alto fluxo que tem por finalidade
devolver substâncias relativamente grandes, coloides e proteínas ao sistema sanguíneo.
A maioria dos tecidos do corpo drenam o excesso de líquido diretamente do meio intersticial para
o sistema linfático, com exceção do sistema nervoso central e parte mais profunda dos nervos
periféricos, a epiderme e o endomísio dos músculos e ossos, que o fazem por intermédio de minúsculos
canais intersticiais denominados vasos pré-linfáticos. Dali seguem para os capilares linfáticos seguindo
fisiologicamente o sistema linfático. Toda a linfa que é drenada do interstício desagua no sistema
venoso.
O líquido rico em oxigênio e nutrientes, depois de cumprir sua função de alimentar as células,
retorna ao espaço intersticial, onde é captado pelos capilares venosos.
Aproximadamente 10% deste líquido, que não conseguiu penetrar nos capilares venosos, retorna à
circulação sanguínea com ajuda do transporte linfático, evento denominado de equilíbrio de Srtaling.
Em condições normais este volume varia entre 2 a 3 litros por dia. Isso acontece porque a membrana
dos capilares venosos é incapaz de captar elementos de peso molecular relativamente alto, como é o
caso das proteínas. Já os vasos linfáticos são mais permeáveis às proteínas graças ao mecanismo de
fixação desses, que se fixam aos tecidos adjacentes por meio de filamentos de ancoragem ou filamentos
de Casley Smith (nome do pesquisador que os descobriram), que funcionam como válvulas, controlando
a abertura e fechamento dos capilares linfáticos. À medida que o interstício recebe uma quantidade de
líquido capaz de movimentá-los, estes filamentos tracionam microválvulas existentes na parede do
linfático abrindo-as e permitindo a passagem de fluido intersticial para dentro do capilar linfático, que
por sua vez, ao encher-se de líquido, comprime as paredes, fechando as válvulas e impedindo o refluxo
de linfa.
Atividade física, a respiração, as compressões externas e os movimentos articulares são fatores
que contribuem com a aceleração do fluxo linfático, assim como a inatividade torna o fluxo de linfa
mais lento. Isso é fator contribuinte para o aparecimento de edema de membros inferiores e
consequentemente de paniculopatia edemato fibro esclerótica (celulite) e telangiectasias em pessoas que
passam períodos prolongados em uma mesmo posição.
Para que o líquido intersticial se mova em direção ao capilar linfático alguns fatores são
importantes. O fluxo de linfa dentro e ao longo dos linfáticos iniciais se dá devido às trocas
intermitentes nas pressões capilares e oncóticas locais. A movimentação dos tecidos através de
aplicação de uma pressão superficial, contrações musculares ou contrações das arteríolas causa
compressão e descompressão dos linfáticos iniciais. Além destas, a pressão osmótica e a pressão
coloidal ou coloidosmótica podem interferir na formação e movimentação do líquido intracelular. Tais
pressões se referem à pressão que as moléculas de proteínas exercem na membrana do capilar. Sendo
que a pressão osmótica é determinada pela quantidade de moléculas dissolvidas no líquido.
Alguns fatores contribuem para movimentação do líquido através da membrana celular.
Quando estamos em repouso, o linfangion se contrai de 5 a 15 vezes por minuto, podendo sofrer
alteração em decorrência de estresse. Durante o sono, contrai-se de 5 a 10 vezes; caso haja aumento na
pulsação, contrai-se de 16 a 17 vezes; e em algumas situações, chega a 100 contrações por minuto.
Contração da musculatura corporal, movimentos articulares e de segmentos corporais,
pulsação arterial e compressão tecidual exercida por objetos externos ao corpo são fatores importantes
no aumento da circulação linfática e consequentemente na drenagem do líquido intersticial.
A linfa originada nos membros inferiores, abaixo da linha do umbigo, na metade esquerda
do tórax, no membro superior esquerdo e na metade esquerda da cabeça e pescoço, é drenada pelo ducto
torácico e deságua na junção das veias jugular e subclávia esquerda. Em contrapartida, a linfa
proveniente do membro superior direito, metade direita do tórax e da metade direita da cabeça e
pescoço é drenada pelo ducto linfático direito e deságua na junção das veias jugular e subclávia direita.
Figura 10 - Região de drenagem dos ductos linfáticos. Em vermelho: região drenada pelo ducto
linfático direito. Em azul: região drenada pelo ducto torácico.
3.2.1- Troca de nutrientes e de outras substâncias entre o sangue e o líquido intersticial
Difusão através da membrana capilar
O meio mais importante pelo qual as substâncias são transferidas do capilar para o líquido
intersticial é por difusão. À medida que o sangue cursa pelo capilar, um grande número de moléculas de
água e partículas dissolvidas se difundem de um lado para outro, através da parede capilar resultando
em uma mistura contínua entre o plasma e o líquido intersticial.
As substâncias lipossolúveis podem difundir-se diretamente através das paredes dos capilares
sanguíneos, sem ter de passar pelos poros. Essas substâncias incluem o oxigênio e o dióxido de carbono.
Visto que essas substâncias podem permear todas as áreas da membrana capilar, sua intensidade de
transporte é muito maior que a intensidade para a maioria das moléculas não lipossolúveis, como a
glicose, por exemplo.
As substâncias hidrossolúveis só podem difundir-se pelos “poros” intercelulares da membrana
capilar, como as próprias moléculas de água e a glicose.
O interstício e o líquido intersticial
Aproximadamente um sexto do corpo consiste em espaços entre as células, que em seu conjunto
formam o interstício. O líquido nesses espaços é chamado líquido intersticial.
O interstício apresenta dois tipos principais de estruturas sólidas: os feixes de fibras colágenas e os
filamentos de proteoglicanos. Os feixes de fibras colágenas estendem-se por longas distâncias pelo
interstício, são extremamente fortes e respondem pela maior parte da força tensional do tecidos. Os
filamentos de proteoglicanos são moléculas espiraladas, muito delgadas e formam uma malha de
filamentos reticulares.
O líquido no interstício é derivado dos capilares por filtração e difusão. Contém quase que os
mesmos constituintes do plasma, porém em concentrações muito inferiores. Tal líquido fica em grande
parte sequestrado nos pequenos espaços entre os filamentos de proteoglicanos.
Figura 11 – Feixes de fibras colágenas, filamentos de proteoglicanos, vesículas de líquido livre.
Movimento do líquido através da membrana capilar
Quatro forças primárias determinam qual vai ser a direção do fluxo de líquido, se do sangue para o
meio intersticial ou se na direção oposta; são chamadas de “forças de Starling”, em homenagem ao
fisiologista que denominou sua importância, segundo Guyton.
A pressão capilar, tende a forçar o líquido para fora, através da membrana capilar. A pressão do
líquido intersticial, tende a forçar o líquido para o interior do capilar, quando esta for positiva, e para
fora do capilar quando for negativa. A pressão coloidosmótica do plasma, tende a provocar osmose do
líquido para o interior do capilar. E a pressão coloidosmótica intersticial, que tende a provocar osmose
do líquido para o espaço intersticial. São essas pressões que determinam, em grande parte o volume de
plasma e de líquido intersticial.
As diferenças de pressão existentes no nível tecidual fazem que a circulação de retorno possa
existir. Na força de efluxo, a pressão capilar média é de 17mmHg, a pressão negativa do líquido
intersticial livre é de 3,0mmHg e a pressão coloidosmótica do líquido intersticial é 8,0mmHg,
resultando em um total de 28,3mmHg, conforme Guyton.
Já nas forças de influxo, a pressão coloidosmótica do plasma é de 28mmHg. O desequilíbrio entre
as forças (0,3mmHg) provoca maior filtração de líquido para o interstício que reabsorção. Esse pequeno
excesso de filtração que é a causa do retorno de líquido para o sistema sanguíneo por meio do sistema
linfático.
Figura 12 – Sistema linfático.
3.3 - Fisiopatologia do Edema
O edema é resultado do desequilíbrio verificado entre o aporte de líquido retirado dos capilares
sanguíneos pela filtragem e a drenagem deste líquido.
O estado fisiológico é alcançado quando as vias de drenagem são suficientes para evacuar o
líquido proveniente da filtragem. Há uma constante renovação de líquido intersticial no qual as células
do corpo podem retirar os elementos necessários ao seu funcionamento. Se não houver interrupção, não
haverá edema.
Quando o aporte de líquido filtrado se torna mais importante e o sistema de drenagem não
aumenta sua atividade em função disso, ocorre desequilíbrio entre a filtragem e a evacuação. Os tecidos
se encharcam de líquido, a pressão intratecidual aumenta e a pele distende. O tecido incha e ocorre o
edema.
Esse edema relacionado ao excesso de aporte líquido é de origem vascular. Clinicamente ele
apresenta o sinal de Godet, ou seja, ao se aplicar uma pressão com o dedo no local edemaciado, a pele é
deprimida e, ao interromper esta pressão, a depressão persiste.
Um outro tipo de edema aparece quando a rede de evacuação mostra-se insuficiente, enquanto o
aporte por filtragem é normal. Leduc afirma que o sistema linfático possui uma alta capacidade de
adaptação, podendo drenar em média 24 a 30 litros de linfa por dia. Ocorre que em determinadas
situações a rede é insuficiente. O edema se instala, se organiza e se torna fibroso. Clinicamente, ele não
apresenta sinal de Godet.
O edema de origem vascular pode aparecer em consequência do aumento da pressão hidrostática,
varizes, flebites, insuficiência cardíaca, diminuição da pressão oncótica e alteração da parede vascular.
As varizes são importante obstáculo à circulação venosa. Elas são dilatações dos vasos, as paredes
distendem-se e compromete o funcionamento das válvulas provocando o refluxo. A estase do sangue
não oxigenado torna a parede do vaso mais permeável. Com isso as proteínas atravessam a membrana
capilar e se acumulam no interstício. Caso o sistema linfático não aumente sua atividade a fim de
controlar a falha do sistema sanguíneo, poderá ocorrer edema. É o que também acontece nas situações
de flebite.
A insuficiência cardíaca aumenta a pressão nos grandes troncos venosos, enfraquecendo a corrente
de retorno. A pressão venosa excessiva dificulta o retorno de linfa à circulação sanguínea, ocasionando
edema.
As proteínas sanguíneas se opõem à filtragem, retendo água na luz do capilar. Uma diminuição da
pressão oncótica, por redução na concentração de proteínas, facilitará o extravasamento de líquido do
capilar para o interstício, uma vez que não há proteína suficiente para funcionar como barreira ao
líquido.
O edema de origem linfática, ou linfedema acontece devido a um defeito de drenagem. A agenesia
(defeito de desenvolvimento) ou a hipoplasia (diminuição da atividade), de origem hereditária ou
adquirida, são fatores que explicam a formação do edema.
A incontinência valvular, com estase ou refluxo de linfa, torna a rede linfática insuficiente para
drenagem de líquido intersticial provocando edema.
A obstrução linfática de origem infecciosa, neoplásica, pós-cirúrgica, ou de outra origem,
representa uma barreira à evacuação normal da linfa e está diretamente ligada à formação do edema.
3.4- Funções do Sistema Linfático
O sistema linfático desempenha inúmeras funções no organismo. No entanto, talvez a principal
função deste sistema seja a de manter a homeostasia, ou seja, garantir a cada célula um ambiente
adequado para que elas possam desempenhar suas atividades. Isso é conseguido através da eliminação
de parte das substâncias oriundas do metabolismo celular, restos celulares e microrganismos.
Outra função deste sistema é a imunológica, uma vez que vírus e bactérias nocivos ao organismo,
ao entrar em contato com células de defesa são identificados por estas que os destrói e produz células de
memória para o agente agressor.
É uma das vias principais de absorção de nutrientes no trato gastrointestinal, especialmente das
gorduras. Segundo Borges, pacientes que por ventura incorram em lesão de ducto torácico, faz-se
necessária introdução de lipídios na dieta parenteral, a fim de nutrir o organismo, já que a gordura
absorvida no intestino não chegaria ao seu destino final. Após uma refeição rica em gorduras, a linfa do
ducto torácico chega a conter até 1 a 2% de lipídios. E com relação às proteínas, sua concentração na
linfa do ducto torácico chega em valores de 3 a 5g/dL. [2]
Guyton, acrescenta ainda como função do sistema linfático, o equilíbrio do volume de líquidos
existentes no organismo, da concentração de proteínas nos tecidos e da pressão do líquido intersticial.
É importante lembrar que quando o volume de líquido filtrado excede o volume de líquido que é
absorvido, o sistema linfático aumenta sua capacidade de absorção, na tentativa de normalizar a pressão
intersticial. No entanto, caso esta situação persista por determinado período de tempo, se a causa do
problema não for resolvida, ocorre a falência linfática.
4.0 - DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL
A técnica introduzida por Vodder e recentemente recolocada por Leduc, a drenagem
linfática tem como finalidade esvaziar os líquidos exsudados e os resíduos metabólicos pelas vias
linfáticas. Sua nomenclatura correta seria “manobras para aceleração da drenagem linfática”, já que a
drenagem linfática ocorre normalmente com ou sem estímulo externo.
A drenagem linfática manual é conhecida desde l892, quando Winiwarter a descreveu. Em
1912, a drenagem linfática foi mostrada por Dr. Aléxis Carrel, que na ocasião recebeu um Prêmio
Nobel, e em 1969 StillWell citou a massagem como uma das terapias para tratamento do linfedema,
porém o estudo sempre foi muito difícil devido a serem estruturas transparentes onde circula líquido
claro.
Em 1932 Emil Vodder, juntamente com sua esposa interessou-se pelo assunto e iniciou
suas experiências. Em 1936, divulgou seu estudo completo e original: “a drenagem linfática”. O casal
Vodder começou experimentalmente a tratar pacientes acometidos de gripes e resfriados por massagem,
manipulando os gânglios linfáticos do pescoço com movimentos rotatórios suaves.
A drenagem linfática manual foi então alvo de estudos por muitos pesquisadores, como
Leduc, Foldii, Cluzan, Casley e Judith Smith, entre outros, que em busca de um tratamento eficiente
para o linfedema apoiaram, aperfeiçoaram, modificaram e comprovaram sua eficácia .
Em nosso país os Drs Godoy vem desenvolvendo estudos e novos conceitos sobre
drenagem linfática manual.
Vodder desenvolveu a técnica de Drenagem Linfática Manual empiricamente, utilizando
sua sensibilidade e instinto e após tornar a técnica pública, estes pesquisadores deram um cunho
científico à técnica desenvolvendo pesquisas científicas e promovendo sua divulgação.
4.1- Definição
Drenagem linfática quer dizer coletar líquido excedente dos espaços intercelulares pelos
vasos linfáticos até os vasos de maior calibre e daí aos vasos venosos, encontrando-se no ângulo
venolinfático, também chamado terminus. Tal estrutura está localizada na região supraclavicular com as
veias subclávias direita e esquerda e jugulares direita e esquerda. Vodder deu o nome de drenagem
linfática à massagem leve feita nos casos de estase.
A drenagem linfática manual atua de forma preventiva ou como tratamento, na estética e
na terapêutica. Na estética, por favorecer o escoamento do líquido intersticial excedente, produzindo
indiretamente uma melhor troca de materiais entre capilares sanguíneos e as células dos tecidos e em
cirurgias promove alívio causado pelo desconforto do edema pós cirúrgico . Na terapêutica, ao provocar
mudança favorável em todos os sintomas de doenças que implicam edema, mediante benéfica evacuação
pelas vias sanguíneas e linfáticas.
4.2- Efeitos da Drenagem Linfática
A drenagem linfática manual pode influenciar direta ou indiretamente alguns sistemas do corpo.
Influência direta
• Respostas imunes: a estimulação dos capilares linfáticos estimula a produção e renovação de
células de defesa. Lembrando que a massagem de drenagem linfática foi desenvolvida pelo casal
Vodder, realizando a massagem dos linfonodos cervicais no tratamento de afecções do sistema
respiratório alto, obtendo grande melhora das condições patológicas em que seus pacientes se
encontravam.
• Velocidade de filtração da linfa: a estimulação do sistema linfático aumenta o fluxo linfático,
aumentando consequentemente a velocidade com que a linfa passa pelo linfonodo onde ocorre a
filtração.
• Filtração e absorção dos capilares sanguíneos: a pressão exercida nos capilares linfáticos durante
a fase de captação, além de atuar no sistema linfático, atua também no sistema sanguíneo
acelerando a filtração e absorção para este sistema.
• Volume de linfa processada nos linfonodos: o aumento do fluxo linfático pode provocar um
aumento na quantidade de linfa circulante em até cinco vezes, com isso o volume de linfa
processada nos linfonodos será maior.
• Musculatura lisa dos vasos sanguíneos e linfáticos: Mislin, citado por Borges, assegura que a
drenagem linfática provoca efeito tônico na musculatura lisa dos vasos sanguíneos, pois
promove a redução da pressão exercida nos capilares venosos, já que o volume de líquido
transportado por esses será diminuído em função do estímulo aos capilares linfáticos.
• Motricidade do intestino: a massagem realizada no abdome no trajeto do intestino produz efeitos
na evacuação, uma vez que aumentam a motricidade do intestino.
• Sistema nervoso autônomo: a monotonia da massagem provoca efeitos de relaxamento por
influenciar a liberação de substâncias específicas no organismo.
Influência indireta
• Quantidade de líquido excretado: a drenagem linfática realiza a eliminação de líquidos que
estejam congestionando os tecidos encaminhando-os à circulação, esse líquido é filtrado nos rins
e o excesso eliminado.
• Melhora da nutrição celular: a permeabilidade dos tecidos é reduzida por excesso de líquido nos
tecidos, isso dificulta a passagem de nutrientes para as células. A realização da drenagem
linfática retira o excesso de líquido do interstício, fornecendo melhores condições de irrigação
sanguínea e melhor nutrição tecidual.
• Melhora da oxigenação dos tecidos: a drenagem linfática tem ação direta na redução de edema,
facilitando o aporte de sangue rico em oxigênio.
• Desintoxicação dos líquidos intersticiais: a eliminação de líquido intersticial rico em toxinas,
restos celulares e pobre em nutrientes, facilita o aporte de substâncias importantes para o corpo,
possibilitando a constante renovação de líquido intersticial nos tecidos que sofreram influência
da drenagem linfática.
• Eliminação de ácido lático da musculatura esquelética: o ácido lático é proveniente de reações
químicas que ocorre, entre outras situações, na fadiga muscular, que tem como conseqüência dor
e espasmo muscular, conforme Guyton. A drenagem linfática manual acelera o fluxo linfático,
potencializando a eliminação do ácido lático, reduzindo o tempo de dor e de inatividade do
músculo afetado.
• Absorção dos nutrientes pelo trato digestivo: os alimentos ingeridos processados passam pelo
processo de reabsorção de gorduras através do sistema linfático.
4.3 - Indicações da Drenagem Linfática
Edemas e linfedemas
De um modo geral, o edema e linfedema aparecem mediante uma alteração no volume de líquido
que entra e que sai do interstício. Existem duas causas, as primárias, também chamadas de congênitas (o
indivíduo já nasce com ela) e as secundárias ou adquiridas. Dentre as causas secundárias, o câncer além
de poder desenvolver o linfedema, seu tratamento também pode favorecer seu aparecimento. A
quimioterapia e a radioterapia são terapêuticas fortes para o tratamento de câncer, “matam” as células
tumorais, mas também enfraquece o organismo incluindo o sistema linfático.
A drenagem linfática manual tem ação sobre o transporte linfático, ativando-o, propiciando a
redução do linfedema e recuperação do sistema linfático. Entretanto, é muito importante que o
profissional que irá realizar a drenagem linfática tenha conhecimento sobre a patologia e o estágio em
que ela se encontra, bem como do tratamento a que o paciente foi submetido.
Paniculopatia edemato fibro esclerótica
Comumente chamada de celulite, a paniculopatia edemato fibro esclerótica, é uma patologia da
área estética, mais encontrada em mulheres principalmente na região de nádegas, coxa e abdome. Pode
ser classificada quanto a gravidade, do grau um ao grau quatro, sendo este último o que mais agride os
tecidos. A drenagem linfática auxilia a evacuação do líquido intersticial rico em proteínas e toxinas que
tornam o tecido cutâneo edemaciado e com aderências teciduais, favorecendo a nutrição e oxigenação
tissular.
Pós-cirurgia plástica
As cirurgias plásticas estéticas ou as reparadoras são caracterizadas pela grande destruição de
vasos e nervos causadas pela maioria desses procedimentos, gerando dor, edema, redução de
sensibilidade cutânea provocando desconforto ao paciente. Desta forma, a drenagem linfática manual é,
sem dúvida, um dos recursos terapêuticos mais indicados no tratamento de pacientes em pós-operatório
de cirurgia plástica. Tal recurso, se realizado precocemente, promove um grande alívio do desconforto e
dor por melhorar a congestão tecidual. Atua também no retorno da sensibilidade cutânea do local
acometido.
A drenagem linfática é indicada para maioria dos procedimentos cirúrgicos, como,
abdominoplastia, ritidoplastia, mamoplastia, rinoplastia, lipoaspiração, etc.
Para a realização da drenagem nestes procedimentos cirúrgicos, é muito importante o
conhecimento da anatomia e fisiologia do sistema linfático, assim como do conhecimento das linhas de
drenagem e da técnica cirúrgica
Insuficiência Venosa Crônica
A massagem de drenagem linfática pode ser de grande ajuda no tratamento de insuficiência
venosa profunda associada ao uso de medicamento. Porém se a causa primária da doença não for
resolvida o edema apresentará recidiva.
Obesidade
Conforme Borges, a drenagem linfática pode melhorar o tônus da pele e potencializar o transporte
de metabólitos, promovendo maior turgor tissular.
Mastodinia
É uma tensão nas mamas que pode ser sentida no período da ovulação. Às vezes é dolorosa, mas
pode ser aliviada realizando a massagem de drenagem linfática.
Destacam-se ainda várias afecções onde a drenagem linfática poderia proporcionar benefícios:
cicatrizes, estresse, telangiectasias, ansiedade, dores musculares em atletas, irritabilidade, depressão,
asma, bronquite, sinusite, rinite, Síndrome da Tensão Pré-Menstrual, etc.
Alguns autores relataram que, com o uso da drenagem linfática em patologias respiratórias
alérgicas, o resultado do tratamento alcançou melhora dos sintomas, observados após o término da
primeira sessão.
As patologias que justificam a utilização da drenagem linfática podem ter como causa um período
prolongado de enfraquecimento do sistema de defesa, que pode levar à redução do metabolismo
causado pelo estresse, deficiência nutricional, ausência de exercícios, cirurgia, poluição e acidentes. Um
metabolismo retardado ocasiona aumento de resíduos metabólicos nos tecidos. Se houver uma
interferência no fluxo linfático, haverá o inicio de uma condição crônica.
4.4 - Contraindicações
Absolutas
Tumores malignos, devido ao risco de disseminação das células cancerosas. Tuberculose, o bacilo
de Koch aloja-se e encapsula-se nos linfonodos, podendo voltar a atividade através da drenagem
linfática. Infecções agudas e reações alérgicas agudas, com o aumento da velocidade do fluxo linfático,
vírus, bactérias, alérgenos e restos metabólicos transportados pelos vasos linfáticos, não sendo drenados
pelos linfonodos, podem se disseminar pelo organismo.
Edema sistêmico de origem cardíaca ou renal: o músculo cardíaco nestes casos encontra-se
enfraquecido, devido a difícil condição de bombear sangue. A drenagem linfática sobrecarregará o
coração provocando um edema agudo de pulmão.
Insuficiência renal: A drenagem linfática aumenta o aporte de líquido a ser filtrado pelo sistema
renal, com isso pode ocorrer congestão, podendo acarretar complicações cardíaca e/ou pulmonares. A
realização de drenagem linfática manual na Trombose Venosa provoca risco de embolismo.
Relativas
Hipertireoidismo: a drenagem pode ser utilizada sem a manipulação da área da tireóide.
Menstruação abundante: nos casos de fluxo menstrual muito intenso, não realizar a drenagem na região
abdominal durante o período menstrual.
Asma e bronquite: durante as crises a drenagem pode ser realizada, mas deve-se evitar a
região do esterno para não potencializar a crise. Hipotensão arterial: não se deve realizar drenagem
linfática no corpo inteiro em pacientes portadores de hipotensão arterial em início de tratamento; deve-
se iniciar em pequenas áreas e acompanhar os níveis pressóricos antes e depois do atendimento.
Também é contraindicada nas afecções de pele.
4.5 - Massagem de Drenagem Linfática
Na utilização da drenagem linfática manual, além da mobilização do líquido intersticial, o fator
principal é a potencialização da ativação do linfangion que aumenta a motricidade dos vasos linfáticos.
Existem vários métodos de drenagem linfática, mas todos eles têm em comum a estimulação de
receptores específicos através do contato com a pele, onde dependendo do toque, efeitos
correspondentes serão alcançados.
A eficácia da massagem de drenagem linfática está diretamente relacionada com o conhecimento
da anatomia e fisiologia do sistema linfático, bem como, do conhecimento das linhas divisórias
utilizadas para o direcionamento do fluxo linfático.
Método Vodder
Vodder nomeou duas linhas de delimitação de áreas corporais. A linha de sandwish divide os
membros superiores. O braço é dividido em face ântero-medial e póstero-medial e o antebraço é
dividido em face anterior e posterior. Já nos membros inferiores observa-se a linha da ferradura que
está traçada da região poplítea, ascendendo pela coxa passando pelo glúteo, onde desce até a região
infrapoplítea do outro membro. No tronco, existem a linha média, que divide o corpo em face direita e
esquerda, e a linha da cintura, que divide o abdome e tronco em superior e inferior.
Na massagem pelo método Vodder a drenagem consiste de pressão suave, lenta e repetitiva. O
sentido da drenagem depende sempre do sentido fisiológico do fluxo linfático. Vale ressaltar que para
se obter o efeito relaxante, é importante a manutenção do ritmo e da velocidade, visto que é a monotonia
que “sedará” o sistema nervoso.
Nesta técnica a massagem de drenagem linfática sempre se inicia de distalmente ao segmento, por
exemplo, se a região a ser drenada for a coxa, a manobra se inicia na região próxima aos côndilos
femurais, ou seja, perto do joelho.
A técnica compreende dois procedimentos básicos: a manobra de captação, que visa captar a linfa
do interstício para dentro dos capilares linfáticos; e a manobra de evacuação, que consiste em
transportar a linfa que está dentro dos vasos linfáticos para a região linfonodal distante da região de
edema, na direção do fluxo linfático.
Primeiramente a técnica de effleurage é aplicada nos locais específicos que serão tratados. A
palavra effelurage deriva do francês “effleurer”, que significa tocar suavemente, com o objetivo de
estabelecer um primeiro contato com a pele do paciente e promover efeito de relaxamento. Esta técnica
consiste de um deslizamento muito superficial, onde a pressão existente na pele é quase nula.
Figura 13 – Linhas de divisão do fluxo linfático.
Método Leduc
Leduc e Leduc, descreveram manobras específicas para a realização de sua técnica onde os
movimentos sempre começam na região proximal do segmento a ser drenado. Usando o mesmo
exemplo da drenagem da coxa, a massagem é iniciada na região da raiz da coxa ( próximo à virilha).
A manobras consistem em círculos com os dedos, círculos com o polegar, movimento combinado,
pressões em bracelete e drenagem dos linfonodos.
Método Godoy
Foi desenvolvido pelo casal Godoy e consiste no uso de rolinhos, denominados de “roletes”, onde
é empregada uma leve pressão no trajeto dos linfáticos. Pressões nos linfonodos do pescoço são
realizadas com o objetivo de acelerar o fluxo linfático. Apesar de ter sido comprovado cientificamente,
a eficácia é controversa quando o método é empregado sobre regiões irregulares, pois não haveria
pressão suficiente na área, comprometendo a qualidade da drenagem.
4.6- Utilização Prática da Drenagem Linfática
Alguns autores descrevem o início da técnica de drenagem linfática fazendo apenas a
estimulação do términus, enquanto outros preconizam que todos os linfocentros e o términos devam ser
estimulados. Vodder preconiza-se um trabalho inicial que denominamos de trabalho de base, que
compreende a estimulação da região de términus, a drenagem linfática da região lateral do pescoço
(bilateral) e a drenagem linfática da região posterior do pescoço.
O início da massagem, dependendo do local e da técnica a ser utilizada, se dá através da: -
estimulação da região súpero clavicular no ângulo júgulo-subclávio ou términus e ou a drenagem da
região lateral e posterior do pescoço. - compressão das cadeias ganglionares correspondentes À partir
daí, inicia-se a massagem propriamente dita, utilizando-se a técnica de afloramento ou ”effleurage” ,
com a qual faz-se um ligeiro aquecimento da pele e direcionamento da linfa, para após utilizar-se das
manobras de drenagem linfática.
Ao realizar a técnica correta de DLM alguns benefícios são alcançados, entre eles
podemos destacar a indução ao relaxamento e ao sono, pois a monotonia dos movimentos faz com que
sistema parassimpático seja acionado e passe a funcionar.
Abertura ou esvaziamento dos linfonodos (comum para drenagem de qualquer região corpórea)
1. Effleurage inicial na face e no pescoço: primeiro contato entre terapeuta e paciente;
2. Bombeamento inicial do términus
3. Bombeamento dos linfonodos: profundus, cervical e términus
4. Bombeamento de occipital, cervical posterior e trapézio
5. Submandibular no sentido de medial para lateral
6. Têmpora, parótida e ângulo da mandíbula
7. Profundo, cervical e términus
Drenagem da face
Deve ser dividida em boxes. O primeiro box corresponde a região entre o maxilar inferior e a
mandíbula. O segundo box, corresponde a região contida entre o nariz e a sobrancelha. E o terceiro box
está contida a região da testa.
A drenagem inicia-se pelo primeiro box, sendo que cada box só poderá ser drenado quando o
anterior a ele estiver vazio. A drenagem da face é realizada com movimentos em círculos estacionários,
com exceção da testa onde são utilizados movimentos de bombeamento.
Figura 14 - Representação esquemática da delimitação dos boxes para drenagem facial.
1. Mento em direção ao ângulo da mandíbula (Início do primeiro box)
2. Lábio superior
3. Nariz ( Início do segundo box)
4. Longa Viagem: região da maçã do rosto
5. Pálpebra inferior
6. Pálpebra superior
7. Sobrancelha
8. Frontal: medial para lateral (Terceiro box)
9. Garfo na orelha
10. Couro cabeludo
11. Bombeamento de têmpora, parótida e ângulo da mandíbula
12. Profundus, cervical e términus
13. Effleurage na face e pescoço.
Drenagem superficial do abdome
Deve-se respeitar a fisiologia do fluxo linfático. Então, o abdome superior direito é drenado para
região axilar direita e o abdome superior esquerdo é drenado para a região axilar esquerda. O abdome
inferior direito é drenado para região inguinal direita e o abdome inferior esquerdo é drenado para a
região inguinal esquerda.
1. Bombeamento das axilas
2. Bombeamento dos linfonodos inguinais
3. Bombeamento em direção à axila (região superior à linha da cintura)
4. Bombeamento em direção à virilha (região inferior à linha da cintura)
5. Effleurage final.
Drenagem profunda do abdome
Esta técnica tem a finalidade de melhorar o trânsito intestinal e deve ser realizada aplicando-se
uma pressão considerável.
1. Effleurage inicial;
2. Plexo solar
3. Cólon descendente
4. Cisterna de Pequet
5. Cólon descendente, ascendente, transverso
6. a) cólon descendente, movimento em espiral
b) cólon ascendente, pinçamento
c) cólon transverso, pinçamento
7. Cólon transverso: pinçamento, movimento de um flanco ao outro
8. Bombeamento da fossa suprailíaca
9. Respiração abdominal + vibração ao expirar;
10. Effleurage final.
Mama
A drenagem da mama é realizada de forma centrípeta. Da aréola medialmente, drena-se para linfonodos esternais. Superiormente à aréola drena-se no sentido clavicular. Lateralmente à aréola, drena-se para região axilar.
1- Términus 2- Bombeamento Linfonodos axilares 3- Bombeamento Linfonodos esternais 4- Segue com a drenagem de forma centrípeta
Drenagem de membros superiores
Tomando-se por base a linha do sandwish, a linfa que está na face anterior é drenada
anteriormente em direção a região medial e a linfa que está na face posterior, é drenada posteriormente
em direção a região medial. Seguindo em direção axilar.
1. Bombeamento axila
2. Effleurage e movimentos alternados ou bombeamento em braço
3. Movimentos alternados em antebraço
4. Bombeamento na mão
5. Deslizamento nos dedos
6. Effleurage final.
Drenagem de membros inferiores
Coxa
É dividida anteriormente em face anterior, medial e lateral. A drenagem inicia-se pela face medial,
utilizando-se o movimento de bombeamento, que deverá ser repetido de 3 a 5 vezes no mesmo ponto,
massageando cerca de 3 pontos em cada face, conforme o comprimento do membro. Iniciando pela
região dos côndilos femorais em direção à região inguinal. Em seguida repetir na face anterior e depois
lateral.
Na face posterior, a linha da ferradura serve para orientar a drenagem linfática da região.
Figura 15 - Linha da ferradura – linhas de drenagem.
1. Effleurage inicial
2. Movimentos de bombeamento
3. Bombeamento linfonodos.
Joelho
1. Bombeamento poplíteo (região medial de joelho)
2. Bombeamento poplíteo posterior – (joelho anterior e posterior);
3. Ao redor da patela
4. Bombeamento anterior de joelho
5. Bombeamento tíbia
Perna
Utiliza-se a técnica rotatória, posicionado uma mão na face medial e outra na lateral da perna. A
mão lateral bombeia suavemente em direção à região medial do joelho, através de um movimento
helicoidal. A mão da região lateral bombeia em direção à fossa poplítea.
1. Effleurage – (perna anterior e posterior);
2. Movimento helicoidal
3. Estimula linfonodos poplíteos.
Tornozelo e Pé
A região anterior do tornozelo é dividida em 3 linhas, que são drenadas com movimentos de
bombeamento no sentido distal para proximal. Estas linhas se estendem até o médio pé, que também são
drenados por movimentos de bombeamento.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- LEDUC e LEDUC. Drenagem Linfática: teoria e prática. Rio de Janeiro: Manole, 2007.
2- GUYTON, Arthur C. e HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica.11ed. Rio de Janeiro:
Elsevier,2006.
3- BORGES, Fábio dos Santos. Modalidades Terapêuticas nas Disfunções Estéticas. São Paulo:
Phorte, 2006.
4- GUIRRO, Elaine e GUIRRO, Rinaldo. Fisioterapia Dermato-Funcional: fundamentos,
patologias, recursos. 3 ed. São Paulo: Manole.
Top Related