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APOSTILA DE SOCIOLOGIA 2005 e APOSTILA DE SOCIOLOGIA 2005 CAPA
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Este trabalho é dedicado à memória doProf. Antônio Rubbo Müller,
antropólogo e professor de vida,
e ao
Prof. Waldemar de Gregori
fonte permanente de iluminação mental, nem sempre descobertopelos que têm responsabilidade pela condução da vida.
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SUMÁRIO
Introdução 1 In i c i a n d o a o b s e r va ç ã o s o b r e a s o c i e d a d e , s u o r g a n i z a ç ã o e s o b r e a d i n â m i c a s o c i a l
– com a utilização do referencialbaseado na Teoria da Cibernética Social 8Capítulo I. Organização social e Dinâmica social 9Capítulo II. Pelo que os seres humanos lutam 172. 1. A questão da sobrevi vência 172. 1. 1. A busca de pleniviv ência e o referencial de Maslow 182. 2. A pleniviv ência em termos de espécie humana 202. 3. A ligação do homem com a sociedade 22Capítulo III . O poder e a política – Antropologia do poder 283. 1. O jogo triádico do poder 303. 2. Hipóteses a serem empiricamente testadas 30
3. 2. 1. Primei ro conjunto de hipóte ses 303. 2. 2. Segundo conjunto de hipóteses 303. 3. Considerações gerais sobre polític a a partir das hipóteses expostas 35Capítulo IV. Sociologia da família 37ANEXO I Observações 40
Introduzindo a Sociologia Clássica 41Capítulo V. Contexto histórico do surgimento e do desenvolvimento da Sociologia 42
Desenvolvimento da tecnologia na História da Humanidade 54ANEXO II Revolução Francesa 55Capítulo VI. A abordagem positivista do sistema social 596 . 1. A relação entre renda e organização da sociedade civil brasileira 666 . 2. As leis sociais 686 . 3. A abordagem teórica da sociedade pelo positiv ismo segundo Durkhéim 69
Émile Durkhéim 73Capítulo VII. Sistema social e conflito - Hegel 767. 1. Hege l e a dialética 77
7. 1.1. Leis da dialética 797. 1.2. Hegel e o Direito 80Capítulo VIII. Sistema social e conflito – Marx 828. 1. Marx e o Direito 89
Karl Marx 91Capítulo IX. O referenc ial Weberiano - a compreensão 949. 1. A matriz de um referenc ial baseado na “c ompreensão” 989. 2. A compreensão 100
Max Weber 102ANEXO III Considerações importantes para a análise sociológi ca 104Evolução sócio-política do século XX 105Capítulo X. O século XX 10610. 1. O século XX – os nacionalismos e a vit ória do capitalismo 10710. 2. Reflexos da crise econômica 11610. 3. A Segunda guerra mundial – 1939 – 1945 - e seus reflexos 11710. 4. Uma nova regulação econômica internacional 11910. 5. Entre o fim da Segunda guerra e o ocaso do socialismo real 12010. 6. Após o fim do socialismo real111111111 124
RESUMO DAS ETAPAS DO CAPITALISMO NO SÉCULO XX 129Capítulo XI. A Escola de Frankfurt 133Capítulo XII. Ciências Sociais na perspectiva da complexidade 143BIBLIOGRAFIA 146
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PPAARRAA EESST T UUDDAARR CCIIÊÊNNCCIIAASS SSOOCCIIAAIISS NNOO BBRRAASSIILL
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INTRODUÇÃO APOSTILA DE SOCIOLOGIA 2005
A ciência é um conjunto organizado de conhecimentos
relativos a um determinado objeto, obtidos mediante observação
sistematizada, pesquisa, experimentação e com a utilização de um método
próprio. Atualmente este processo se configura pela expressão em
linguagem matemática de leis, através das quais, se podem ordenar os
fenômenos naturais, do que resulta a possibilidade de, com rigor,
classificá-los e controlá-los. O conhecimento científico é objetivo,verificável, falível, tem consistência lógica e graus variáveis de
exatidão, utiliza-se de leis para explicar os fatos e deve poder ser
refutado por outro cientista.
Para uma abordagem científica de qualquer realidade há que
se considerar a complexidade do seu objeto de estudo. Inclusive para a
classificação das ciências, um dos critérios é o da exatidão das mesmas,
ou seja, quanto mais complexo for o objeto de estudo de uma ciência
menos exata ela será.
Dentro desse critério as ciências podem ser classificadas em:
• Formais: objetos de estudo que, do ponto de vista doconhecimento, podem ser considerados independentemente doseu conteúdo, da matéria que os compõem ou da situaçãoconcreta a que se aplicam – portanto de exatidão absoluta:matemática e lógica formal.
• Fatuais: objetos de estudo que se referem a fatos, entes
efetivamente existentes, reais e que, portanto, são dimensionadosno tempo e no espaço – logo, de exatidão variável de acordo com asua complexidade. Estas ciências se classificam em:
• Exatas: mecânica, engenharia, química – objetos de estudosimples, logo, muito exatos.
• Biológicas: biologia, medicina – objetos de estudo maiscomplexos do que as exatas e, portanto, menos exatas queas anteriores.
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• Humanas e Sociais: psicologia, sociologia, pedagogia,história, direito – que têm por objetos de estudo o homem,sua história, suas relações, etc, sendo portanto de grandecomplexidade e de grau menor de exatidão.
Não significa que as ciências humanas e sociais sejam ciências
menores em relação às outras, apenas, por serem mais complexas,
exigem cuidados muito especiais para o enfrentamento do grande número
de variáveis que intervêm nos seus estudos.
Tomemos por exemplo a Sociologia.
A Sociologia tem um objeto de estudo observável fatualmente,-- o ser humano e suas relações -- fazendo parte de uma realidade
denominada sociedade, concebida sempre como um sistema organizado
que, para ser cientificamente conhecida, depende de pesquisa empírica e
envolve tentativas de formular teorias e generalizações que darão sentido
aos fatos. Como o objeto de estudo da Sociologia é extremamente
complexo dificilmente se criará uma teoria – um referencial - que o possa
explicar sob todos os seus aspectos. Assim, como nos ensina Edgar Morin,ao sociólogo cabe saber juntar o que deve estar junto num determinado
espaço e num determinado tempo, para explicar o fato social que se
deseja.
Para a compreensão da dinâmica social (âmbito da Sociologia)
temos de ter uma atenção especial para enfrentar o seu extremo grau de
complexidade, pois não há fatos sociais simples - todos são
extremamente complexos.
Assim, como afirma Edgar Morin, é praticamente impossível
criar-se um referencial teórico global, que abarque a totalidade dos
fenômenos sociais. Alguns enfocam os aspectos mensuráveis ou
verificáveis empiricamente como o positivismo, outros o conflito inerente
a eles como o marxismo, outros a estrutura e o funcionamento social,
como o estruturo-funcionalismo, e outros ainda, como o referencial
weberiano, que tenta compreender a motivação que têm as pessoas
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participantes do fenômeno social, tentando captar-lhes o sentido e o
significado de sua ação. Neste trabalho, o autor apresenta também umreferencial baseado em aspectos da Teoria da Cibernética Social de W.
Gregori.
Neste momento é importante que se recordem os
ensinamentos de Morin sobre o assunto. Ele abre o seu livro “Sociologia –
a sociologia do microssocial ao macroplanetário” com uma
consideração que poderia ser estendida a praticamente todas as ciências
humanas e sociais e que deverá se tornar parâmetro para a construçãodeste trabalho. À página 9 ele afirma:
“Há d u a s s o c io lo g ia s na sociologia: uma sociologia quese pode dizer c i e n t í f i c a e uma sociologia que se pode dizer e n s a í s t a .A primeira é considerada como a vanguarda da sociologia, a Segundacomo a retaguarda que se desligou mal da filosofia, do ensaio literário,da reflexão moralista. A primeira sociologia serve-se de um modelo queé essencialmente o da física do século passado. Este modelo émecanicista e, ao mesmo tempo, determinístico. Trata-se efetivamente
de ver quais são as leis, as regras que, em função de uma causalidadelinear e unívoca (que só comporta uma forma de interpretação), atuamsobre o objeto isolado. Nessa visão, o a m b ie n t e d o o b j e to é e l i m i n a d o. Além disso, este é concebido como se fosse totalmenteindependente das condições da sua observação. Essa visão elimina docampo sociológico toda possibilidade de conceber atores, sujeitos,responsabilidade, liberdade.”
É, por exemplo, o que nos mostra uma pesquisa
quantitativa em véspera de eleição, que constata que determinado
candidato tem 14% de vantagem sobre o outro, com margem de erro de 2%
para mais ou para menos e que, portanto, vencerá a eleição. Esta previsão
poderá estar errada se uma variável não considerada entrar em ação, como
por exemplo, um atentado contra o candidato colocado em segundo lugar
(consideração deste autor).
Mas voltemos aos ensinamentos de Morin.
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“Em contrapartida, n a s o c i o l o g i a e n s a í s t a , o a u t o r d oe n s a i o está presente: por vezes d i z e u , não se esconde, reflete,exprime aqui e ali algumas considerações morais; além disso, asociologia ensaísta concebe a sociedade como um campo onde seencontram atores e onde a própria intervenção sociológica pode ajudara tomada de consciência por parte dos atores sociais . A sociologiac i e n t í f i c a t e n ta r e c o r ta r n o c a m p o s o c ia l o b j e to s d e e s tu d oi s o lá v e i s , e p o r c o n s e g u in t e t e n d e a e l im in a r o s p r o b l e m a sg loba is . Pelo contrário, a s o c i o l o g i a e n s a í s t a t e n t a r e l a c i o n a r oo bje t o d e e s t u d o c o m o s e u a m b i en t e e , b em e n t e n d i d o , co m u mc o n j u n t o d e p r o b l e m a s g l o b a i s f u n d a m e n t a i s . Mas esta sociologiaensaísta, que põe a si própria o problema dos valores, das finalidades,
da globalidade, é totalmente desprovida de fundamento científico.Decerto que utiliza as investigações limitadas, parcelares, que lhe sãofornecidas pela sociologia científica. Mas a sociologia científica rejeitadesdenhosamente os ensaios mais ou menos moralistas dos sociólogosensaístas.”
Para melhor entendermos, vejamos o esquema que se segue
Abordando a questão das drogas.
Podemos abordá-lo sob a ótica do ensaio.
O ensaio sociológico
A questão das drogas, para ser estudada globalmente, só pode
ser feita pelo que Morin denomina Sociologia Ensaísta, em razão das
inúmeras variáveis intervenientes que cercam o assunto. Embora usando
conceitos da ciência sociológica, o ensaio carece sempre de verificação
científica, devendo ser objeto permanente de confrontação de suas
conclusões teóricas com os fatos da realidade.
Exemplo de Sociologia Ensaísta:
A questão das drogas no Brasil contemporâneo.
Para tanto, relacionaríamos diversos conhecimentos científicos
em um texto dissertativo que, embora tenha componentes de natureza
científica, jamais será plenamente confirmado a não ser pela própria
evolução dos fatos no âmbito da realidade, pois o grande número de
relações impede a sua verificação científica. Esta, apenas dar-se-á pela
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evolução dos acontecimentos, que confirmará ou rejeitará, no todo ou em
parte, o conteúdo do ensaio. Mas, é importante que fique bem claro que oensaio não é fruto de mera opinião, pois trabalho com conceitos
científicos.
A pesquisa de sociologia científ ica
Por seu lado, a Sociologia Científica (Positivista) só pode
abordar aspectos limitados do assunto, inclusive separando-os do contextoglobal do problema.
Exemplo de pesquisa de Sociologia Científica:
Qual é o percentual de portadores de neuroses graves que se tornaram
usuários de drogas, na cidade de São Paulo, na década de 90?
A exatidão da conclusão será consideravelmente maior do que
aquela do ensaio, mas poderá sofrer influências das variáveis
intervenientes não consideradas e apresentar conteúdo falho.
Em um curso de Sociologia estudam-se, principalmente:
• As teorias sociológicas que dão consistência para os referenciaisinterpretativos (na sociologia ensaísta) e operacionais (na sociologiacientífica) ;
• A pesquisa científica no campo da Sociologia;• O contexto histórico do surgimento da sociologia e suas decorrências;• A Sociologia aplicada às várias áreas do conhecimento.
Ao longo da sua história, a Sociologia reuniu uma série de
conhecimentos científicos, de métodos e técnicas de abordagem do seu
objeto de estudo. Esses conhecimentos são utilizados tanto para os
ensaios como para as pesquisas científicas.
Em Sociologia é comum confundir-se ensaio com achismo.
Este é meramente opinativo, e deve ser encarado, sempre, com cuidadosas
restrições – geralmente é conhecimento que se denomina como ‘vulgar’.
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Já os gregos identificavam a diferença entre “doxa”, opinião e
“epistheme”, conhecimento sistematizado (a ciência daquela época).É comum, entretanto, em nossos dias, que em termos de
assuntos de natureza humana ou social, a abordagem seja feita a partir de
opiniões (prática do achismo), e seja apresentado como um conhecimento
confiável, ignorando-se as bases do conhecimento científico.
A seguir, esboça-se esquematicamente a questão das drogas,
como seria abordada através de um ensaio.
DROGAS
PROBLEMASECONÔMICOS PROBLEMAS
POLÍTICOS
CORRUPÇÃO
CLASSEPOLÍTICA
C R I M E
OR GA NI Z A D O
PROBLEMASPSICOLÓGICOS
DINHEIROFÁCIL
EDUCAÇÃO FORMAÇÃO DECIDADANIA
ALUNOS
ESCOLAORGANIZAÇÕES
INTERNACIONAIS
JUSTIÇA
PROBLEMASPSICOLÓGICOS
FAMÍLIA
CULTURA
MEIOSDE
COMUNICAÇÃO
Uma descrição estruturaldo problema das drogas
no Brasil atual
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A seguir, esboça-se esquematicamente a questão das
drogas, como seria abordada através de uma pesquisa científica de caráterpositivista.
Enquanto no ensaio se faz uma abordagem global da questão,
na pesquisa denominada científica procura-se estabelecer a relação entre
dois ou pouco mais componentes da estrutura do problema.
C R I M E
OR GA NI Z A D O DROGAS
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I n i ci a n d o a obser va çã o sobr e
a soci ed a d e,
su a or g a n i za çã o
e sobr e a d i n â m i ca soci a l
COM A UTILIZAÇÃO DE REFERENCIAL BASEADO NA
TEORIA DA CIBERNÉTICA SOCIAL
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Capítulo I
ORGANIZAÇÃO SOCIAL e DINÂMICA SOCIAL
A sociedade é um ente que tem aspectos fatuais e outrosinteiramente abstratos. Isso nos possibilita dar a ela uma série dedefinições, quase todas incompletas ou não totalmente satisfatórias.
Aqui se utiliza uma definição simples de sociedade, como umconjunto de seres da mesma espécie que vivem de forma organizada ecooperativa. Mas como esse ente tem também características abstratas,tem sido não só definido de várias maneiras, mas explicado por ângulos
diferentes, como os do marxismo, a luta de classes, o do positivismo assuas regularidades empíricas, o do estruturo-funcionalismo, o da suaestrutura e funcionamento, a compreensão weberiana, que buscacompreender o sentido da ação social, além de outras explicações, as maisdiversas
Assim, neste início de trabalho, a proposta é apenas a detentar elaborar uma das explicações possíveis para a organização sociale para a dinâmica social, uma explicação que o autor foi buscar noreferencial de uma teoria brasileira denominada Cibernética Social, deautoria do cientista social Waldemar de Gregori. O autor tem consciência,entretanto, de que esta é uma boa teoria para a explicação que se propõe,
mas certamente não a única. Inicia-se por tentar explicar a dinâmicasocial, tendo ela como ponto de partida (apenas como ponto de partida) oreferencial estruturo-funcionalista.
A sociedade tem aspectos materiais visíveis e outros abstratos,que tornam complexa a sua compreensão. Daí a variedade de definiçõesque têm sido dadas para ela.
Entre seus inúmeros aspectos ressalta o fato de ela ser umsistema organizado e com uma dinâmica própria, em permanente agitaçãoe movimento.
Como partiu-se da concepção de sociedade como um conjuntode seres da mesma espécie, que vivem de forma organizada e cooperativa,inicia-se o trabalho por este capítulo, cujo objetivo é oferecer subsídiospara a compreensão da sociedade humana em dois dos seus maisimportantes aspectos:
• organização social e• dinâmica da sociedade.
Para tanto, é importante que se firmem alguns conceitosbásicos. Esses conceitos se estabelecem como premissas para que secompreendam a organização social e a dinâmica social.
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1. Na natureza existem seres orgânicos e inorgânicos. Os orgânicos são osseres vivos que constituem os reinos vegetal e animal – os sereshumanos são seres vivos e pertencem ao reino animal.
2. Todos os seres vivos se empenham para viver cada vez mais e cada vezmelhor, isto é, - lutam pela sobrevivência.
3. Os seres humanos também lutam permanentemente pelasobrevivência.
4. Os seres humanos pertencem à uma espécie social, - poisdescendem de antigos antropóides, que são todos animais sociais,programados geneticamente para serem sociais. Assim, o carátersocial da espécie humana vem do seu código genético e se expressacomo uma necessidade básica, dentro da hierarquia estabelecida por
Abraam Maslow (que será abordada em capítulo posterior).5. Como animais sociais os seres humanos vivem em sociedade ,sempre impulsionados pelo imperativo da busca de sobrevivência.
6. Na luta pela sobrevivência os seres humanos têm de satisfazernecessidades as mais variadas, necessidades essas que AbraamMaslow hierarquizou através do que se conhece como “Pirâmide deMaslow”, (que também será abordada em capítulo posterior).
7. Dentro desse contexto, de satisfação de variadas necessidades na lutapela sobrevivência, pode-se dizer que os seres humanos lutam pelaplenivivência (termo criado para significar sobrevivência plena, pelasatisfação das mais variadas necessidades).
8. A luta pela plenivivência é a mais ampla possível entre os sereshumanos, envolvendo pessoas, seus agrupamentos (grupos eorganizações), sociedades e até a própria espécie – todos lutam pelasobrevivência plena.
9. A luta pela plenivivência se expressa pela busca constante de energia ese inicia na família – um dos pilares de sustentação da sociedade (ouem um núcleo a ela correspondente), onde seus componentes (pai, mãe,irmãos etc ) são as fontes fornecedoras de energia e onde os sereshumanos aprendem os mecanismos básicos para o comportamentofuturo na vida social.
10. Os seres humanos aprendem a buscar energia no núcleo familiar e,
geralmente transferem esse aprendizado, para as etapas posteriores davida. Competição, cooperação, sedução, aliança, dominação,subserviência, fixação, rejeição, paternalismo, maternalismo, filialismo,sabotagem, imitação, guerrilha, traição, dedicação, etc, sãomecanismos de busca de energia para a plenivivência aprendidos noseio da família (como se verá na abordagem do sociograma familiar).
11. Essa luta pela plenivivência, que é uma luta pela busca de energia, vaiaos poucos dando proeminência aos aspectos econômicos, pois eles seconstituem em instrumentos de busca e de reserva de energia para aplena sobrevivência e acabam por se constituir, (como afirma Marx), noseu conjunto, a infraestrutura econômica da sociedade.
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12. Assim, a busca de sobrevivência plena passa por etapas, descritas porMaslow através do recurso didático de uma pirâmide, mas que têm nabase os aspectos fisiológico e de segurança e proteção, de naturezaessencialmente orgânica, portanto material e econômica.
13. A “Pirâmide de Maslow” está a seguir descrita, imaginando o serhumano em sua dimensão individual. Pirâmides semelhantes podemser concebidas em termos de grupos, organizações, sociedades ou atéda própria espécie, pois todos buscam a mesma coisa, comoconseqüência da unidade da espécie e da unidade da vida.
NECESSIDADE de AUTO-REALIZAÇÃOSabedoria, estética, mística, transcendência,alcance de metas, realização social e econômica.
NECESSIDADE de RECONHECIMENTOPrecedência, conhecimento, auto-imagem, justiça,
competição e poder.
NECESSIDADES SOCIAIS e AFETIVASIntegração social, integração familiar, ajuda, associação, afeto,amor, cooperação, lazer, comunicação, integração com as normassociais e auto-estima.
NECESSIDADE de SEGURANÇA e PROTEÇÃOVestuário, segurança, livre locomoção, proteção e defesa.
NECESSIDADES FISIOLÓGICASAlimentação, sexo, bens, trabalho, saúde, recursos materiais e dinheiro.
14. Após a satisfação das necessidades fisiológicas e de segurança eproteção, que estabelecem a infraestrutura básica da sobrevivência, oser humano atende ao seu apelo genético de ser social, através dabusca da satisfação das necessidades sociais e afetivas – é quando ainserção social se torna imperativa. É quando o ser humano vaibuscar outros seres humanos para satisfazer a sua característica de ser
SUPERESTRUTURA DE NATUREZA NÃO-MATERIAL
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social. Esta busca de inserção na sociedade se faz através deagrupamentos.
15. Os seres humanos assumem a sua dimensão social pela inserçãoem agrupamentos – grupos e organizações, formais e informais – Éatravés desses agrupamentos que o ser humano assume a suadimensão social, procurando a integração neles. Para tanto, utilizam-sedo aprendizado que tiveram no núcleo familiar, pois neles tambémbuscam energia para a plena sobrevivência. Dessa forma, geralmentetransferem aquele aprendizado, para essas novas etapas da vida. Ecompetição, dominação, subserviência, cooperação, sedução, aliança,fixação, rejeição, paternalismo, maternalismo, filialismo, sabotagem,imitação, guerrilha, traição, dedicação, etc, são mecanismos que serão
utilizados para a vida nesses novos agrupamentos. Daí a importânciada família e da educação como elementos configuradores dosmecanismos básicos da atuação humana nos agrupamentos sociais. Deverdadeiras células-tronco da sociedade.
16. Sob a denominação genérica de agrupamentos reúnem-se grupos eorganizações, formais e informais – família, empresa, escola, órgãopúblico, banco, movimento social, partido, igreja, etc. Enfim,agrupamento designa toda e qualquer forma de reunião de pessoasem torno de objetivos comuns.
17. Os agrupamentos humanos se distribuem de acordo com asnecessidades humanas reunindo-se em segmentos sociais que podem
ser denominados de subsistemas, já que se pode considerar asociedade como um grande sistema – o sistema social.Sistema é um conjunto de elementos que se organizam com umafinalidade comum. Neste texto, o sistema social é um conjunto desegmentos denominados subsistemas, organizados com a finalidade depropiciar ao sistema social a satisfação das necessidades das pessoasque nela vivem(ver esquema no item 19).
18. Assim, em todos os subsistemas sociais há uma reunião de grupos eorganizações (agrupamentos) que se destinam a satisfazer asnecessidades humanas. Esses agrupamentos também lutam, pelasua plenivivência e disso decorre o tipo de convivência entre eles.
Dessa forma, cada subsistema é palco dos mesmos mecanismos decomportamento que as pessoas aprenderam na família: competição,cooperação, dominação, subserviência, sedução, aliança, fixação,rejeição, paternalismo, maternalismo, filialismo, sabotagem, imitação,guerrilha, traição, dedicação, etc. Esses mecanismos utilizados pelosagrupamentos para a convivência entre si, principalmente em cadasubsistema social, apresentam a característica de uma permanentecompetição entre eles, pela conquista da hegemonia do subsistema.Exemplos: no segmento (subsistema) alimentação, verifica-se acompetição feroz entre os gigantes Pão de Açucar, Carrefour e Walmart,pela hegemonia do subsistema. Nessa competição vão eliminando os
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concorrentes. O mesmo se dá em relação às organizações que atuam nosubsistema de saúde (luta entre os planos de saúde), religioso (entreigrejas), comunicação (entre canais de tv, emissoras de rádio, jornais,revistas), esportivo (clubes), indústria textil (lançadores de moda) eassim abarcando todos os segmentos sociais relacionados com asatisfação das necessidades básicas dos seres humanos.
19. Essa luta entre os grupos e organizações pela conquista da hegemoniado subsistema passa pela conquista de adeptos: fiéis, clientes,fregueses, prosélitos, associados, torcedores, consumidores, etc. – passa pela conquista da adesão das pessoas, para a qual são usadosos métodos mais variados, dos quais o mais conhecido é a propaganda.
SOCIEDADE vista como um sistema: SISTEMA SOCIAL
Necessidadeshumanas
Cada segmento social forma umsubsistema social
Família Subsistema social reunindo famílias
Alimentação Subsistema social reunindo mercados
Proteção Subsistema social reunindo associações de ajuda
Manutenção da saúde Subsistema social reunindo organizações de saúde
Vestuário Subsistema social reunindo lojas
Segurança Sub. social reunindo polícia, exército e org. segurança
Conhecimento Subsistema social reunindo escolas
Locomoção Subsistema social reunindo empresas de viação
Trabalho Subsistema social reunindo empresas produtoras
Comunicação Subsistema social reunindo empresas de comunicação
Etc. O conjunto de subsistemas sociais forma aESTRUTURA SOCIAL
“Espinha dorsal da sociedade”
20. Os agrupamentos humanos são decorrentes das ações humanas. Osseres humanos agem sempre sob motivação – estudada por MaxWeber, que procurou descobrir o sentido da ação social - Motivados, osseres humanos agem e também se agrupam (compelidos pelo apelogenético de espécie social), formando grupos e organizações, formais einformais. Disso decorre que a ação humana isolada não faz a Históriadas sociedades humanas. A História é feita através da ação dosgrupos e organizações, que pelas diversas formas de interação(competição, cooperação, acordos, guerras, etc) dão a direção que ossistemas sociais devem percorrer.
21. Os agrupamentos vit oriosos ditam as metas para seus subsistemas,ditando caminhos para o estabelecimento de moda, programas desaúde, hábitos alimentares, crenças de todos os tipos, modelos
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educacionais e até da moral social. A sociedade trilha o caminhoestabelecido pela resultante de seus grupos vitoriosos – e é aí quese escreve a História. Veja-se, por exemplo, a invasão e ocupação doIraque pelos USA. Por trás de cada grande nome da política atual dosUSA (George W. Bush, Condoleeza Rice, Collin Powell, DonaldRumsfeld, etc.) existem grupos ligados ao aço, petróleo, armas,medicamentos, enfim, tudo o que se relaciona com a guerra e aocupação, e pode trazer lucros fabulosos através delas. As guerras doIraque e do Afeganistão, vistas sob esse ângulo, são guerraseconômicas (que, aliás, nem foram declaradas) que objetivam propiciargrandes lucros aos agrupamentos americanos e internacionaisinteressados nos seus espólios.
22. Como decorrência da luta entre os agrupamentos em todos ossubsistemas sociais, sempre há vencedores e vencidos. Estes sedistribuem pelos diversos estratos da sociedade, formando as classessociais – que são um tipo de estratificação social por critérioeconômico.
23. Nesse complexo processo é preciso que se destaque a função dotrabalho, como um pilar de sustentação da sociedade, pois é atravésdele que o ser humano transforma a natureza e se transforma, criandoa expressão cultural de cada sociedade e estabelecendo condições paraa pessoa galgar novos degraus na escala de Maslow, em busca dereconhecimento e auto-realização.
24. Na vida em sociedade a interação entre os seres humanos, e pela suaintersubjetividade, vai se constituindo a sua maneira peculiar deexpressão: usos, costumes, crenças, símbolos, valores, sanções, eaquilo que Durkhéim denomina de consciência coletiva, que é denatureza moral e que, segundo ele, dá origem ao Direito e à ordem
jurídica novo pilar de sustentação da sociedade. O Direito, entretanto,sofre profunda influência dos meios econômicos, como Marx nosensinará mais adiante.
25. Para que o sistema social se mantenha em equilíbrio é importante quehaja uma padronização dos comportamentos dos seus membros, sema qual, ela entra em processo de anomia, como acontece atualmente no
Iraque, no Timor Leste, no Haiti e no Afeganistão. Para tanto asinstituições educacionais realizam um processo de socialização,integrando os membros de uma sociedade dentro dos modelos decomportamento nela consagrados. Além das instituições educacionais,as jurídicas (que estabelecem a ordem jurídica da sociedade) e decomunicação social também colaboram na construção do processo depadronização dos comportamentos em uma sociedade. Essapadronização é controlada pelos mecanismos de controle social:
• jurídicos: lei (polícia e poderes legislativo e judiciário) e
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• não-jurídicos: usos, costumes, moral social, tradição e
opinião pública.
25. A organização da sociedade, bem como a sua dinâmica, é produtodessa teia de relações entre pessoas, grupos e organizações obedecendoum modelo institucionalizado que condiciona a padronização doscomportamentos das pessoas. Esse modelo não é estático, tem umdinamismo, a dinâmica social, que decorre do movimento, da ação daspessoas, dos grupos e das organizações na luta pela plenivivência. Essadinâmica possibilita que se conheça a História de cada sociedade.26. Pode-se dizer, em função do que foi descrito, que a sociedade se
sustenta em cinco pilares principais, como mostra o esquema abaixo, ondetambém o aparelho de Estado, regulador do poder e as crenças, sobretudoreligiosas, têm um papel fundamental.
SOCIEDADE
ESTADO CRENÇAS ORDEM FAMÍLIA CULTURA Rel ig ião JURÍDICA
INFRAESTRUTURA ECONÔMICAINFRAESTRUTURA ECONÔMICA
SOCIEDADE-
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Como a sociedade é um ente extremamente complexo e quetem um componente abstrato e que requer um referencial teórico paradescrevê-la, esta explicação é apenas UMA DAS EXPLICAÇÕESPOSSÍVEIS, podendo haver outras, desde que se mude o referencial.
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Capítulo II
PELO QUÊ OS SERES HUMANOS LUTAM.
2.1. A questão da sobrevivência.
Cada um de nós talvez tenha se perguntado pelo menos umavez: qual o sentido da vida?
E talvez tenha encontrado uma resposta em nível pessoal.- O sentido da minha vida está voltado para minha
realização pessoal; para o bem da minha família; para glória de Deus; parafazer fortuna; para o bem da humanidade; ou para ...; ou para ... etc.
Não é bem o que aqui se está querendo enfocar. Não é osentido da vida de cada um, mas da VIDA em si, enquanto patrimôniouniversal da humanidade, e mais, de todos os seres vivos do planeta,sejam eles humanos, animais chamados irracionais ou vegetais e, emtodos os tempos.
Questão difícil que, via de regra, só tem sido respondida apartir das reflexões dos teólogos, dos filósofos e dos iluminados, o que,aliás, não entra em cogitação neste texto.
Mesmo sem deixar de considerar a importância da reflexãoteológica inspirada na fé, da filosófica baseada na razão ou da dosiluminados fundamentada em algum tipo de transe ou de êxtase, talvezseja possível buscar uma pista para essa transcendental indagação.
Não que se deseje esgotar o assunto ou se pretenda atingir averdade acabada, definitiva; antes, apenas buscar um ponto referencial para entender o comportamento humano e, sobretudo, a dinâmica da vidasocial.
Se olharmos para os seres vivos em geral, sejam plantas,animais ou homens, em termos de VIDA poderemos encontrar algunspontos em comum, e mais, pelo menos dois objetivos universais: todos os
seres vivos, vegetais, animais, seres humanos e seus agrupamentos(grupos, organizações, sociedades) aspiramos viver um pouco mais e umpouco melhor.
Existe, inquestionavelmente, em todos os seres vivos, umimpulso vital, anatrópico, para melhorar, tanto a qualidade quanto aduração do tempo de vida.
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Evidentemente que esses dois aspectos não esgotam a questãoproposta de qual é o sentido da vida, mas começam a abrir um princípiode esclarecimento1 sobre a questão, que poderia ser assim resumido:
U m d o s a s p e c to s v i s í v e i s , p e r c e p t í v e i s d o s e n t i d o d a v id aé b u s c a r c a d a v e z m a i s s o b r e v i v ê n c ia e s o b r e v i v ê n c ia c a d a v e zm e l h o r . Ou seja, um dos sentidos da vida seria inerente à ela mesma, pelaexpressão do que aqui se denomina sobrevivência.
Assim, sobrev ivênc ia passa a ser a palavra-chave para estatentativa de começar a entender o íntimo do grande mistério e buscarcompreender a interação entre os seres humanos que, no seu conjunto,manifestam-se como agentes da dinâmica social. Sim, porque não sãoapenas os seres humanos que buscam para si próprios sobrevivência nos
termos aqui colocados; também os seus a g r u p a m e n t o s , sejam grupos,(como a família), organizações privadas ou públicas (como empresas,clubes, igrejas, autarquias, etc), ou instituições (como os estados),comunidades e sociedades (como municípios, estados, províncias, naçõese até blocos de nações). A busca de sobrevivência por mais tempo e emmelhores condições parece ser, efetivamente, universal – sobrevivênciaplena.
É como se todos aspirássemos um absoluto em termos dequalidade e de tempo de vida.
É claro que sobrevivência, no nível humano, difereconsideravelmente daquela que se encontra entre vegetais e animais,
devido ao superior grau de complexificação do seu grande cérebro. Paratanto, aqui se tomará a liberdade de criar um neologismo para identificaresse modelo de busca incessante de sobrevivência. Neste no texto ele jácomeçou a ser denominado p leniv ivência 2.
2.1.1. A busca de plenivivência e o referencial de Maslow.
Para explicitar o que aqui se denomina plenivivência pode-sesocorrer da proposta de Abraham H. Maslow3 que, no início da década de40, elaborou uma teoria sobre a “Hierarquia das Necessidades”, elencandoas necessidades básicas que impulsionam e motivam as pessoas asatisfazê-las durante toda vida.
Essas necessidades básicas, segundo Maslow são:• fisiológicas,• de segurança e proteção,• sociais e afetivas,
1 Esclarecimento é aqui usado no sentido de lançar luz sobre um assunto.2 O termo plenivivência é formado pela composição de plenitude com sobrevivência.3 Introdução à psicologia do ser. MASLOW, Abraham H. Rio de Janeiro, sem data.
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• de reconhecimento e• auto-realização,
seguindo sempre essa seqüência.À medida que as necessidades fisiológicas são satisfeitas as
pessoas erguem os olhos para horizontes mais amplos e procuram supriras necessidades de segurança e de proteção; depois de atingidas estassurgem outras, agora voltadas para o relacionamento com os outros, comsua posição na comunidade e conquista de afeto e amor. A partir daestima desenvolve-se a auto-estima. Uma vez a pessoa atingindo suaintegração de relacionamento com os outros, passa para níveis superioresde interesses relacionados então a conquistas, status e reconhecimento, e,no sentido mais elevado de se sentir valorizado pessoal e socialmente e,
para além disso, busca a “auto-realização”, de acordo com suas maiores emais altas aspirações pessoais.Estudos de marketing realizados com consumidores
demonstram o conteúdo de verdade da escala de Maslow (Caproni, www.caproni.com.br.20/6/2003)
Atualmente, há muitas evidências que demonstram que osconsumidores realmente seguem a seqüência estabelecida por Maslow. Porexemplo, em relação à riqueza material, hoje há diferenças relativamentepequenas entre os consumidores de alta renda e os de baixa renda, emtermos dos efeitos da busca de bens duráveis4. Isto significa que a riquezamaterial está se tornando menos suficiente para a satisfação e a felicidade
pessoal, à medida que o desejo de integração, de sentir-se aceito, de auto-estima e de auto-realização se tornam tão ou mais importantes. Assim,exige-se dos profissionais dos diversos segmentos ligados às ciênciashumanas uma mudança de comportamento, onde deve haverpreocupação também com esses aspectos, ao desenvolverem asproposições direcionadas ao seu público, incorporando a crescentenecessidade do ser humano de reconhecimento e “auto-realização”.
Desta forma, deve ficar bem claro o significado que aqui se dápara a palavra plenivivência, apenas referida no nível humano,incorporando aspectos fisiológicos, de defesa e segurança, integração,aceitação social e de amor, de reconhecimento, estima, auto-estima e
status, de desenvolvimento pessoal e conquistas e de auto-realização5.E se poderia arriscar a dizer que os seres humanos, em todas as suasdimensões (individual, grupal, social, nacional e internacional), tendem semprepara a busca incessante da plena sobrevivência: de p leniv ivência .
4 A necessidade de bens duráveis relaciona-se com o nível de renda das pessoas. Alguém da classe de baixarenda dificilmente aspirará possuir um helicóptero.5 Em uma sociedade capitalista, , os bens de consumo tendem a fazer parte de todos os degraus da escala deMaslow.
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NECESSIDADE de AUTO-REALIZAÇÃOSabedoria, estética, mística, transcendência,alcance de metas, realização social e econômica.
NECESSIDADE de RECONHECIMENTOPrecedência, conhecimento, auto-imagem, justiça,
competição e poder.
NECESSIDADES SOCIAIS e AFETIVASIntegração social, integração familiar, ajuda, associação, afeto,amor, cooperação, lazer, comunicação, integração com as normassociais e auto-estima.
NECESSIDADE de SEGURANÇA e PROTEÇÃOVestuário, segurança, livre locomoção, proteção e defesa.
NECESSIDADES FISIOLÓGICASAlimentação, sexo, bens, trabalho, saúde, recursos materiais e dinheiro.
Necessidades humanas segundo Maslow – Pirâmide de Maslow
2.2. A plenivivência em termos de espécie humana.
Pelo que até agora se expôs, a busca de plenivivência estápresente em todos os sentidos das ações de os todos os seres humanosque compõem esta espécie social.
A espécie humana é uma espécie social como todas as outrasespécies sociais, dos chimpanzés, babuínos, leões, lobos, etc. E é social,não porque nos primórdios da vida social humana foi celebrado qualquertipo de contrato, mas porque foi programada geneticamente para sersocial. Pode-se até definir a sociedade humana com as mesmas palavras
INFRAESTRUTURA ECONÔMICA de NATUREZA MATERIAL
SUPERESTRUTURA DE NATUREZA NÃO-MATERIAL
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com que o fazemos em relação às sociedades dos outros animais:Sociedade é um conjunto de indivíduos que vivem de forma organizada ecooperativa6.
Sim, cooperativamente, porque a cooperação é aspectofundamental da vida em sociedade. É semelhante ao que Durkheim, denominou solidariedade social, sempre relacionada com a divisão socialdo trabalho, mas que hoje melhor se definiria por cooperação.
Temos então, que todos os seres humanos buscam
incessantemente a plenivivência e que pertencem à uma espécie social, logo,
cooperativa.
Disso decorrem algumas conseqüências.Se todos buscam plenivivência no mesmo espaço social, à
c o o p e r a ç ã o antepõe-se a c o m p e t i ç ã o, todas as vezes em que os mesmosindivíduos aspiram a mesma coisa, num mesmo espaço e num mesmotempo, e essa coisa não for passível de ser harmonicamente divisível poreles.
Assim, cooperação (que é um imperativo da espécie social) ecompetição (que é uma exigência do indivíduo como pessoa) fazem o jogo
dialético da existência humana, onde todos têm de buscar suas sínteses – esínteses favoráveis, que lhes tragam mais e melhores condições deplenivivência.
6 Uma definição mais específica de sociedade, aplicada apenas às sociedades humanas, poderia ser a que a
consideraria um sistema estruturado em todos os níveis da vida coletiva, possibilitando a reunião de pessoas
que participam de um determinado modelo econômico de produção, distribuição e consumo, sob um
determinado regime político, e obedientes a usos, costumes, moral, leis e instituições necessárias à reprodução
do padrão estabelecido de vida social.
COMPETIÇÃOAUTO-REALIZAÇÃO
INDIVÍDUO (PESSOA)
COOPERAÇÃOINTEGRAÇÃO SOCIALESPÉCIE SOCIAL
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Outra conseqüência é o poder . Não que aqui se adote umapostura hobbesiana, mas, exatamente em virtude desse processo dialético,conflitual, inerente à própria espécie, de existência concomitante decooperação e competição, nenhum agrupamento social (humano ou nãohumano) se auto-conduz – é sempre conduzido por aqueles que assumemo poder.
Por mais que os visionários anarquistas, socialistas utópicos eutopistas de todos os matizes tenham imaginado e continuem imaginando,não se conhece criar uma sociedade sem poder. E aí surge a grande obrados contratualistas que imaginaram formas de orientar a regulamentaçãoda convivência social através do c o n t r a t o , que, no fundo, busca encontrarmeios de oferecer melhores condições para as questões do que aqui se
denomina plenivivência e do poder, dentro do contexto dialético entrecooperação e competição.
2. 3. A ligação do homem com a sociedade.
Como integrante de uma espécie social, o ser humano sozinhonão tem sentido. O solitário, o eremita, são exceções à regra no contextoda vida social humana. Como integrante de uma espécie social, sendo
programado geneticamente para viver em sociedade, o homem tendesempre a nela se integrar, e o f a z a t r a vé s d os a g r u p a m e n t o s h u m a n o s .O ser humano se integra à sociedade através dos
a g r u p a m e n t o s , reunião de pessoas que se juntam com finalidadescomuns. Sob a denominação genérica de agrupamento, aqui distinguem-seduas formas de reunião de pessoas: os grupos e as organizações.
Enquanto que os grupos são associações simples ou reuniõesde pessoas ligadas para um ou mais fins comuns, as organizações sãoassociações bem mais amplas e de configuração socialmente muito maisconsistente e, também, com objetivos mais definidos.
Dessa forma, podemos considerar os seguintes tipos de
agrupamentos:• grupos eventuais:
São aqueles que se formam a partir de acontecimentosincertos, casuais, fortuitos ou acidentais. Neles, as ligaçõesentre as pessoas são circunstanciais, durando enquantodurar o evento que as reuniu. São exemplos de gruposeventuais: turistas em excursão, passageiros de um avião,convidados de um casamento ou de um funeral, etc.
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• grupos informais:
São os que desenvolvem suas atividades, que embora serepitam em intervalos mais ou menos regulares, o fazemde forma espontânea, não atendo à rigidez de fórmulasestabelecidas ou convencionais. São exemplos de gruposinformais: um grupo que se reúne periodicamente paralazer, oração ou estudo, etc.
• grupos formais
São pequenas associações de pessoas, legalmenteconstituídas e com objetivos definidos. São exemplos degrupos formais o casal, a família, a parceria legalmente
formalizada, etc.• organizações formais
Organizações formais são associações de pessoas comobjetivos definidos; são legalmente constituídas e se atêm afórmulas estabelecidas e convencionais, sempreconsentâneas com a ordem jurídica vigente. Elas podemser:
• públicas: Secretarias de Estado, Autarquias,Ministério Público, Magistratura, etc.
• privadas: empresas, lojas, igrejas, bancos, hospitais,
etc.• organizações informais:
São também associações de pessoas com objetivosdefinidos, muitas delas até legalmente constituídas(outras não), mas que não se atêm a fórmulasestabelecidas ou convencionais e que têm atuação nemsempre consentânea com a ordem jurídica vigente. Sãoexemplos os movimentos em geral, MST, movimentos dossem-teto, torcidas organizadas, PCC, Comando Vermelho,etc.
Para que se entenda a dinâmica da sociedade é necessário quese conheça a aspiração fundamental de vida dos seres humanos, suainserção nos agrupamentos, as características e as aspirações destes(também condizentes com a Pirâmide de Maslow) e o conflito que seestabelece entre eles (conflito entre os agrupamentos – sobretudo entre asorganizações), também em busca de plenivivência no âmbito da sociedade.
Para que se tenha uma noção clara do que aqui se propõe éinteressante a contribuição de uma das vertentes descritivas das ciênciassociais denominada estruturo-funcionalismo, que visa entender a vidasocial a partir de instrumentos que descrevem a teia de relações que se
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estabelece de forma mais ou menos permanente entre os diversoscomponentes de uma sociedade (estrutura) e a sua maneira de expressãooperacional (funcionamento).
Entre as diversas correntes do estruturo funcionalismoescolheu-se a do antropólogo brasileiro Antônio Rubbo Müller7, não pelasua exatidão (as ciências sociais não são exatas), mas pelo seu caráterdidático.
A teoria de Antônio Rubbo Müller denomina-se Teoria daOrganização Humana. Segundo ela (com as modificações deste autor) asociedade, para ser compreendida, deve ser vista como um s i s t e m a 8, sejaela uma tribo, uma aldeia, uma comunidade, um município, umaprovíncia, um país, um bloco de países ou até mesmo a sociedade
planetária. E c a d a s i s t e m a é s e m p r e su b d i vi d i d o e m s u b s is t e m a s , cadaum relacionado com uma necessidade humana.Maslow deu categoria às necessidades humanas – 5 categorias
– mas o número de necessidades em cada categoria é impossível explicitar.Como a cada necessidade humana corresponde um subsistema social,também é impossível definir com exatidão o número de subsistemas quecompõem um sistema social – uma sociedade.
O quadro referencial de Rubbo Müller ampliaconsideravelmente a noção de necessidades humanas e de busca deplenivivência em relação ao de Maslow, cujo maior valor está no fato deordenar seqüencialmente essas necessidades. O quadro de Müller é mais
adequado para o estudo dos aspectos ligados à dinâmica social.Este autor modificou ligeiramente a teoria do seu mestre,concebida nos anos 40, adaptando-a aos tempos atuais, para melhorcompreensão dos seus alunos. Na teoria original Müller concebeu apenas14 subsistemas; nesta apresentação considera-se o número desubsistemas que compõem o sistema social como indefinido, e o quadrodidático de apresentação como composto por um número tambémindefinido de subsistemas.
Portanto, para a exemplificação, também será usado oesquema referencial de um número indefinido de sistemas...
Foi visto que o ser humano pertence à uma espécie social ebusca permanentemente ampliar a sua qualidade e o seu tempo de vida, oque aqui se denomina plenivivência.
Para buscar essa plenivivência ele é obrigado a se inserir emagrupamentos – grupos ou organizações. Em cada subsistema social asociedade lhe oferece uma série de agrupamentos, desde que ele tenhacondições de neles ingressar.
7 Rubbo Müller foi orientando do antropólogo Radcliff Browm, em seus estudos na Inglaterra e Diretor daEscola Pós-Graduada de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo que, dasua fundação até 1992, foi Instituto Complementar da Universidade de São Paulo.8 Sistema é um conjunto de componentes (subsistemas) ordenados com uma finalidade comum.
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SOCIEDADE vista como um sistema: SISTEMA SOCIAL
Necessidadeshumanas
Cada segmento social forma umsubsistema social
Família Subsistema social reunindo famílias
Alimentação Subsistema social reunindo mercados
Proteção Subsistema social reunindo associações de ajuda
Manutenção da saúde Subsistema social reunindo organizações de saúde
Vestuário Subsistema social reunindo lojas
Segurança Sub. social reunindo polícia, exército e org. segurançaConhecimento Subsistema social reunindo escolas
Locomoção Subsistema social reunindo empresas de viação
Trabalho Subsistema social reunindo empresas produtoras
Comunicação Subsistema social reunindo empresas de comunicação
Outras necessidades Outros subsistemas
O conjunto de subsistemas sociais forma aESTRUTURA SOCIAL
Verifiquem-se alguns exemplos:
• Quando alguém está doente recorre a um agrupamento público (serviçopúblico de saúde) ou privado (plano de saúde) – subsistema sanitário;
• Quando alguém precisa comprar roupa busca um agrupamentos dosubsistema de manutenção - loja, shopping, etc. Estes, por sua vez,vendem produtos de moda que são fabricados por agrupamentos dosubsistema de produção – fábricas de roupas.
• Quando alguém é furtado recorre a um agrupamento do subsistema desegurança – polícia e depois a outro do subsistema jurídico – poder
judiciário. Assim, para cada necessidade humana existem agrupamentos
em cada subsistema para provê-la: escola, família, igreja, clube, banco,etc.
Observe que foi usado o plural. Para cada necessidadehumana existem agrupamentos em cada subsistema.
Aí se encontra a chave para entender a dinâmica social.
Esses agrupamentos, principalmente as organizações formais einformais, lutam entre si pela conquista da hegemonia do subsistema.
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E essa luta tem por objetivo conquistar os indivíduos para asua “causa”, para suas propostas, para suas diretrizes, vale dizer, parasuas metas organizacionais.
Exemplos:Subsistema Sanitário: a luta entre os ‘planos de saúde’ pela conquista denovos usuários.Subsistema Religioso: a luta entre as igrejas para a conquista de novosfiéis.Subsistema Patrimonial: a luta entre os bancos para a conquista de novosclientes.Subsistema Pedagógico: a luta entre as universidades para a conquista denovos alunos.
Subsistema Manutenção: a luta entre as lojas, supermercados, etc para aconquista de novos fregueses.Subsistema Político: a luta entre os partidos para a conquista de novoseleitores.
E assim em todos os subsistemas, as organizações formais einformais, através da propaganda, telemarketing, pregação, indução pordiversos meios, tentam convencer as pessoas a aderir às suas propostas.
A dinâmica social é produto do conflito de grupos e organizações pelaconquista da adesão dos indivíduos
Influenciar “nossa cabeça” é o objetivo da conquista dosgrupos e organizações, na sua trajetória em busca da hegemonia e docontrole do subsistema social.
E as organizações vitoriosas, ao tornarem-se hegemônicas nosubsistema, dão-lhe a sua direção, as metas para esse subsistema, e,
principalmente, as suas características.A moda imperante em uma sociedade, o tipo de medicina que
nela se pratica, os conceitos de democracia, de liberdade, de moral, os
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preceitos religiosos, as metas individuais das pessoas, os conceitos defamília e de direitos, s ã o p r o d u z i d o s p e l a s or g a n i z a ç õe s v e n c ed o r a s . Ea reunião das diretrizes dadas pelas organizações vencedoras nos diversossubsistemas acaba por determinar os rumos que a sociedade deve seguir.
Resumindo, a dinâmica social, vista por esta relativizaçãoreferencial, depende:
• da busca incessante de plenivivência pelos seres humanos;• da sua condição de pertencentes à uma espécie social;• da necessária integração dos seres humanos em grupos e
organizações para participarem da convivência social;• da luta entre as organizações para o controle dos subsistemas
onde atuam;
• da conquista da adesão dos seres humanos à essas organizações;• da imposição à sociedade das metas das organizações vitoriosas.
Este capítulo iniciou-se com uma indagação: Por quê lutam aspessoas?
A partir do raciocínio desenvolvido pode-se concluir que aspessoas lutam pela plenivivência – l u ta m p e la V I D A . E o fazem, tantopessoalmente como coletivamente, através dos grupos e organizações aque pertencem, transferindo para eles a sua tensão. Estes, tensionadospelo imperativo da busca de plenivivência competem entre si, muitas vezesde forma ilimitada e predatória. Aos vencedores cabe o privilégio de
estabelecer as diretrizes para a sociedade seguir, impondo-lhes as metassocietárias. Aos perdedores, se conseguirem sobreviver, só resta continuarna luta.
A dinâmica social é o produto dessa luta. No fundo, uma lutade todos pela VIDA.
Para entender a organização e dinâmica social é necessárioque se leve em consideração tudo isso, além de Ter uma noção de comofuncionam as estruturas do poder social.
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CAPÍTULO II I
O PODER e a POLÍTICA ( Antropologia do poder).
Como já foi visto, os seres humanos vivem em sociedades enelas se manifestam através de agrupamentos os mais variados. Tanto associedades como os seus agrupamentos não se auto-conduzem: sãosempre conduzidos por lideranças que assumem o poder.
A condução dos agrupamentos e das sociedades porlideranças não é uma característica humana mas de todas as espéciessociais. Adquire peculiaridade nas sociedades humanas pelo fato de asquestões ligadas à conquista e ao exercício do poder constituirem umaatividade singular e específica denominada política.
A política envolve todas as atividades de cooperação e deconflito dentro e entre as sociedades, por meio das quais a espéciehumana organiza o uso, a produção e a distribuição dos recursoshumanos, os naturais e outros, no transcurso da produção e dareprodução da sua vida biológica e social (Leftwich, in Laiz e Román, 2003,p.19).
A atividade política desenvolve-se através de dois segmentos:• da luta para a conquista do poder e, após
atingido esse objetivo,• a administração dos recursos decorrentes da
ocupação da posição de poder.Através da atividade política cabe ao exercício do poder a
articulação de uma vida social equilibrada e razoável para todos, bemcomo a criação de condições de arbitragem para uma boa convivênciasocial.
Enquanto o poder é uma condição existente em todas associedades, até nas animais, a política é uma especificidade humana.
O poder decorre da situação de descompensação existenteentre a capacidade humana de desenvolver desejos e demandas emlugar da simples satisfação das necessidades fundamentais9, enquantoque os recursos para satisfazê-las são quase sempre limitados.
9 As estratégias de marketing são quase todas voltadas para o despertar de desejos a partir das necessidadesfundamentais, criando uma espiral infinita de expectativas, demandas e aspirações. Eu tenho necessidade deágua para mitigar a sede, mas o marketing me faz sentir desejo de beber determinado refrigerante para omesmo fim.
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Nessas circunstâncias, o exercício do poder está ligado àsoperações de decisão diante de alternativas. Opções que se colocam dianteda autoridade (pública ou privada) mas que, em termos de resultados,sempre produzirão beneficiados e prejudicados. Quase sempre éimpossível produzir unanimidade de resultados.
Essa situação gera a competição pois, na luta pelaplenivivência, a escalação dos níveis da Pirâmide de Maslow, seja porpessoas ou agrupamentos, exige a presença de recursos para realizá-la.Nessa competição o poder tem um papel fundamental, tanto naapropriação dos recursos quanto na sua distribuição10.
E como parece ser ilimitada a capacidade dos seres humanosde engendrar necessidades e desejos para a busca sempre maior e melhor
de condições de plenivivência, o conflito está sempre presente em todas asrelações de convivência, fazendo com que elas se expressem como relaçõesdialéticas.
Por sua vez, o poder oficial aproveita-se da situação de umarelativa quantidade de recursos quase sempre presente para fazer umaverdadeira “política da escassez”, tomando-a como justificativapermanente da alegada falta de recursos.
Isso tudo dá à manifestação do poder a característica de um jogo, dialético na sua conformação e triádico na sua expressão.
10 Este texto não leva em consideração uma das práticas mais usuais entre os seres humanos: a da corrupção –o mau uso do poder.
ESCASSEZDE
RECURSOS PARAA SATISFAÇÃO
DE DESEJOS EDEMANDAS
AUTORIDADE PÚBLICA OUPRIVADA
INESGOTÁVELCAPACIDADEHUMANA DE
DESENVOLVERDESEJOS E
DEMANDAS QUESUBSTITUEM ASSUAS PRÓPRIASNECESSIDADESFUNDAMENTAIS
Recursoslimitados
PODERPOLÍTICO
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3.1. O jogo triádico do poder.
Não há vida sem conflito. O conflito é inerente à ela, levandoao aparecimento de jogos gerados por essas oposições que,provisoriamente se resolvem em unidades. Esses processos de confrontoem busca de resoluções sempre provisórias são conhecidos peladenominação de dialética.
Não há conhecimento preciso das razões que determinam ofato de os acontecimentos grupais e sociais que envolvem jogo de poder semanifestarem dialéticamente na sua origem e triadicamente nadistribuição das posições dos elementos envolvidos, formando o que aquise denomina jogo triádico do poder.
Embora o jogo triádico do poder não tenha sua explicação deforma clara, tem seu uso generalizado em todas as situações que envolvemo poder, desde uma simples questão de liderança na dinâmica de umgrupo ou de uma organização, até nas mais influentes esferas da política,em todos os seus níveis (inclusive internacional), em diplomacia e emestratégias bélicas de todas as espécies (com ou sem armas de fogo).Diante dessa situação, a melhor forma de comprovar essas hipóteses épela via da experimentação.
3.2. Hipóteses a serem empiricamente testadas.
3.2.1. Primeiro conjunto de hipóteses.• Todas as espécies sociais são hierarquizadas.• Em todo nível hierárquico há jogo pelo poder.• Todos os grupos humanos são sistemas que explícita ou implicitamente
são hierarquizados e têm, portanto, luta pelo poder.• O jogo do poder é dialético – quando visto pelo ângulo dos segmentos
em tensão (oficial e anti-oficial) e triádico – quando se levam em contaos segmentos envolvidos, que são três, havendo, porém, um não
tensionado diretamente pela busca do poder (oscilante).• E são sempre 3 as posições possíveis.
3.2.2. Segundo conjunto de hipóteses.
• Nenhum grupo se auto-conduz. É conduzido pelo seu subgrupoOFICIAL – este tem o poder e luta para nele se manter.
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• Todo subgrupo oficial tem, implícita ou explicitamente uma oposição,que aqui se denomina subgrupo ANTI-OFICIAL – este não tem o podermas luta para conquistá-lo.
• O terceiro subgrupo não é tensionado pelo poder; raramente participadele; apenas quer que tudo funcione bem e, para tanto, ora apoia ooficial ora muda de opinião apoiando a oposição, o anti-oficial – emrazão disso é denominado subgrupo OSCILANTE.
• Pode-se dizer que em uma sociedade, o OFICIAL e o ANTI-OFICIAL constituem a quase totalidade de uma parcela que se denominaSOCIEDADE POLÍTICA (com exercício direto do poder), enquanto oOSCILANTE constitui sempre a SOCIEDADE CIVIL (sem exercíciodireto do poder), que pode ser ORGANIZADA ou NÃO-ORGANIZADA.
OFICIAL
OSCILANTE ANTI-OFICIAL
• Exercícios para que a hipótese seja empiricamente testada.
Verifique o jogo triádico que se manifesta nos seguintes gruposhumanos que, para fim de análise, devem ser concebidos como sistemas.• Sistema familiar – o primeiro de todos.• Sistema empresa.• Sistema escola.• Sistema casal.
Exemplo:Um exemplo muito claro e que explicita esta hipótese é o das eleiçõesbrasileiras de 2002.Até aquele momento o quadro político se apresentava com PSDB , PFL,PMDB e outros partidos menores na posição de apoio ao governoFernando Henrique Cardoso, portanto na posição OFICIAL.Na oposição, portanto ANTI-OFICIAL, encontravam-se o PT, PDT, PSB, PPSe outros partidos menores.Na posição OSCILANTE, o POVO BRASILEIRO, seduzido pelo governo emantendo a ele seu apoio por 8 anos, tanto assim que reelegeu FernandoHenrique Cardoso.
competição sedução
cooperação
sedução
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Com as eleições, a sedução do ANTI-OFICIAL (oposição) atingiu seuobjetivo. José Serra, o candidato OFICIAL não conseguiu seduzir o POVO,que, através de eleição, retirou seu apoio ao OFICIAL e o dirigiu para aoposição, o ANTI-OFICIAL.O resultado foi a vitória do ANTI-OFICIAL , predominantemente o PT – quepassou a ser OFICIAL , e a derrota do OFICIAL, PSDB e PFL, que hoje sãooposição, portanto ANTI-OFICIAL.A única realidade que se manteve foi a do POVO, OSCILANTE, que agoraapoia o novo OFICIAL, com todo seu conteúdo de sedução.
SOCIEDADE POLÍTICA
SOCIEDADE CIVIL
OFICIAL Governo
OSCILANTE ANTI-OFICIAL Sociedade Civil Não-Organizada Partidos de OposiçãoPovo – Massa - Galera (Oscilante/Oscilante)
Sociedade Civil Organizada – (Agrupamentos) OAB – CNBB – SRB etc (Oscilante/Oficial)
Sociedade Civil Organizada – (Agrupamentos)MSTerra – F. Sindical – MSTeto (Oscilante/Anti-oficial)
SOCIEDADE POLÍTICA: denominação dos segmentos da sociedade quedetêm poder: presidente, governadores, prefeitos, deputados, senadores,vereadores, procuradores, promotores, juizes, militares, etc.
SOCIEDADE CIVIL: denominação dos segmentos da sociedade que nãodetêm diretamente o poder, dependendo portanto do segmento político dasociedade. A sociedade civil se divide em organizada e não-organizada,em relação à tentativa de obtenção de suas reivindicações.
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À medida em que a análise do jogo se faz em sistemas maiores,mais complexos, há a necessidade de divisão em sub-sistemas, pois sãoconjuntos deles que formam os segmentos OFICIAL, ANTI-OFICIAL eOSCILANTE.• Jogo político (de poder) no sistema municipal.• Idem no sistema estadual.• Idem no sistema nacional.• Analise os jogos que estão em ação no mundo atual.
Exemplo:
O grupo que atualmente se encontra no poder, OFICIAL, sob o comando doPresidente Lula, está longe de ser monolítico. Nele há um jogo triádicoclaro:
OFICIAL/OFICIAL : “núcleo duro” , constituído por Lula, Dirceu, Palocci,Genoíno, Meirelles, Dulci, Prof. Luisinho e outros;OFICIAL/ANTI-OFICIAL : José Alencar, Paulo Paim, Bancada do PL, e os“reivindicadores” do PTB e do PMDB.OFICIAL/OSCILANTE: grande parte do Ministério e das bancadas dogoverno no Senado e na Câmara, que quase sempre o apoiam, mas que,vez por outra dão trabalho.
Subdivisão semelhante existe na oposição, no ANTI-OFICIAL, onde hágrupos radicalmente oposicionistas – ANTI-OFICIAL/ANTI-OFICIAL – outros moderados, que assumem posição ANTI-OFICIAL/OFICIAL, porque muitas vezes votam com o governo. Há ainda os que,
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positivamente, não têm vocação para oposição; são os ANTI-OFICIAIS/OSCILANTES, sempre prestes a mudar de posição, sempreinclinados a apoiar o governo.
Na massa OSCILANTE as divisões também estão presentes.
OSCILANTE/OFICIAL : revezam-se nessas posições, segundo variam seusinteresses, os agrupamentos da Sociedade Civil Organizada como: OAB,MST, FIESP, Sociedade Rural Brasileira, UDR, CUT, Força Sindical, etc.OSCILANTE/ANTI-OFICIAL : da mesma forma, também revezam-senessas posições os mesmos agrupamentos da Sociedade Civil Organizadacomo: OAB, MST, FIESP, Sociedade Rural Brasileira, UDR, CUT, Força
Sindical, etc., segundo variam seus interesses.Na posição OSCILANTE/OSCILANTE está a Sociedade Civil Não-Organizada o POVO, a MASSA, a GALERA, apenas esperando diasmelhores, reclamando, lamentando, mas sem proposta e sem ação.
Qualquer sistema, quando tomado em conjunto pode parecercomplexo, mas quando dividido em 3 subconjuntos, cada um agrupandosubconjuntos aliados ou circunstancialmente unidos, a compreensão setorna possível.
Se considerarmos que os sub-conjuntos podem se unir para
uma finalidade e competir, quando se trata de outra finalidade, pode-seaventar mais uma hipótese, a de que a História não se faz pela luta declasses como pensavam antigamente os marxistas ortodoxos, mas pelaluta de grupos, subgrupos e organizações (formais e informais), pelocontrole (poder) dos meios de plenivivência (no sentido mais amplo dotermo), que existem no planeta.
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3.3. Considerações gerais sobre política a partir das hipótesesexpostas.
As decisões políticas são propostas constantes de regulaçãodos conflitos sociais. Supõe-se que as autoridades (os subgrupos oficiais)que tomam essas decisões, pesem os prós e os contras na hora de efetuaro cálculo mais acurado de custos e benefícios, usando-se o poder comproficiência e a política como instrumento de conciliação possível, mesmoporque nunca uma decisão deixará de agradar alguns e desagradar outros.
O poder é o veículo através do qual a decisão política obtém apeça fundamental do arranjo de poder que é a obediência dos oscilantes e,
mesmo contra sua vontade, também da oposição (o subgrupo anti-oficial). A obediência é a base do compromisso político, caminho para que seacatem as decisões tomadas pelo subgrupo oficial. O poder é, assim, oinstrumento fundamental para que a autoridade possa operacionalizar seuprojeto de regulação da vida coletiva.
Em relação a isso há que se observar também a questão dalegitimidade que, na prática, tem a ver com a perspectiva subjetiva dosque obedecem sem resistência, em relação às medidas tomadas pelos queestão no exercício do poder.
Max Weber abordou a questão da legitimidade – dominaçãolegítima – a partir de três tipos ideais clássicos: o tradicional, o racional e
o carismático, tentando de forma genérica abordar a questão daobediência sem resistência. Hoje, entretanto, com o extraordináriodesenvolvimento do marketing político, carisma, razão e tradição, aosquais se pode juntar a emoção, tornaram-se ingredientes para acomposição em laboratório de novos “tipos ideais para o consumo político-eleitoral”.
Na abordagem da questão política e do uso e abuso do poder,não se pode desprezar o enfoque marxista, segundo o qual, ainfraestrutura econômica de uma sociedade determina (ou condiciona?) as superestruturas política, jurídica, ética e simbólica da mesma. Dentro dessa concepção, o poder econômico molda o aparelho político ao
seu talante – É O OFICIAL ; este, por sua vez, tendo em suas mãos oaparelho do Estado, elabora as leis OSCILANTE-OFICIAL e dá aconformação da ordem jurídica da sociedade OSCILANTE.
Devemos nos lembrar que o Estado e a ordem jurídica sãotambém dois pilares de sustentação da sociedade.
Dessa forma, a obediência ao poder constituído não sósignifica o respeito ao Direito mas, de forma indireta, aos agrupamentosvencedores dos conflitos mais significativos da infraestrutura econômica.
O Direito é o instrumento (OSCILANTE) que justifica a ação dopoder político formal e o respeito à sua obrigatoriedade é, teoricamente,absoluto. A Educação prepara o indivíduo para essa justificação. Quando
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um governo é legítimo a obrigação política de obediência tende a semaximizar, devido à convicção por parte dos governados de que devemobedecer aos governantes e à ordem jurídica institucionalizada.Entretanto, tanto o grau de obediência dos governados a um governo,como o grau de obrigação política deste para com os seus governados éproporcional ao seu nível de legitimidade.
Bibliografia.
Para maior fundamentação a respeito da Teoria do Princípio Triádico, do conflito e da vida como um jogo, há uma profusão de obras
que vão desde a Teoria dos Jogos de Neuman e Morgenstern, a Teoria daGuerra de Von Clausevitz, as obras de Waldemar de Gregori, sociólogobrasileiro, a tese de doutorado deste autor e outras.
Entretanto, ninguém pode se arvorar em autor dessa teoria,pois a mesma tem sua origem nas Escrituras Védicas, conjunto de textossagrados do hinduísmo bramânico que transmite hinos, fórmulas mágicase exposições doutrinais, escritos em sânscrito a partir do segundo milênioantes da era cristã. Nesses textos, sob o manto da mitologia, através daação dos deuses Brahma (construtor – oficial), Vishnu (conservador – oscilante) e Shiva (destruidor – anti-oficial), se explica o movimento douniverso e de toda a realidade, usando uma linguagem extremamente
semelhante à que hoje temos a ousadia de utilizar.
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CAPÍTULO IV
SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA.
É comum a expressão “a família é célula da sociedade”. Elaseria correta se a sociedade fosse formada por famílias, se a dinâmicasocial ocorresse a partir de famílias, mas não é. A dinâmica social éproduto da ação dos agrupamentos (grupos, formais e informais eorganizações formais e informais), mantendo relações entre si.
Entretanto, a família foi aqui apresentada como um dos pilaresde sustentação da sociedade. Então cabe uma explicação.
SOCIEDADE
ESTADO CRENÇAS ORDEM FAMÍLIA CULTURA Religião JURÍDICA
INFRAESTRUTURA ECONÔMICAINFRAESTRUTURA ECONÔMICA
SOCIEDADE-
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O ser humano faz parte de uma espécie social e a Pirâmide deMaslow demonstra que, em determinada fase da vida, todos somosimpulsionados para a inserção na sociedade. Essa inserção se faz atravésdos grupos e organizações, tanto formais como informais. Destes, oprincipal, o primordial é a família, agora sim, verdadeira célula-tronco dasociedade.
Quando nascemos, já somos inseridos em um grupo, quegeralmente é uma família, ou outro qualquer que a substitua com asmesmas finalidades educativas e de socialização.
Nesse grupo, passamos a conviver com outras pessoas: pai,mãe, irmãos, eventualmente empregadas, tios, avós, vizinhos, amigos, etc.
Já nessa fase primordial vida grupal se inicia nossa busca pela
sobrevivência, no início da escalação dos degraus da Pirâmide de Maslow,em busca de sobrevivência plena, começando pela busca da satisfação dasnecessidades fisiológicas, de segurança e proteção e de afeto. E como sertotalmente dependente, para a satisfação dessas necessidades, recorremosàs fontes de energia disponíveis: geralmente pai e mãe e outros adultoscomponentes do bloco familiar. Só que os outros membros da famíliatambém lutam pela sobrevivência e aí se estabelece a primeira experiênciade convivência social humana, na célula-tronco da sociedade: a família.
O jogo de poder se instala, o princípio triádico divide osmembros e se forma um sociograma familiar.
PAI MÃE
FILHOS
Desmanchando-se o mito da sacralização da família, daigualdade que nela permanentemente reina, como nos comerciais demargarina para o café da manhã, vamos encontrar um grupo social onde:
• os filhos nunca consideram que os pais tratam todos deforma igualitária; todos acham que há preferências;
• todos os membros de uma família lutam entre si pelasobrevivência plena, que vem, inicialmente e comexclusividade, da energia dos pais;
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• todos buscam escalar os degraus da Pirâmide de Maslow,cada um na etapa correspondente ao seu estágio de vida;
• todos necessitam da energia do grupo para atingir seusobjetivos;]
• todos se utilizam de mecanismos básicos para atingiresses objetivos;
• as crianças aprendem a utilizar esses mecanismos, osincorporam à sua personalidade e os projetam nas outrosgrupos e organizações de que farão parte no futuro.
Assim, em qualquer grupo há sempre um sociograma, queexpressa como as pessoas aprenderam a desenvolver todos os mecanismos
de comportamento para aquisição da energia sobrevivencial As pessoasaprendem na família: competição, cooperação, sedução, aliança, fixação,rejeição, dominação, dependência, subserviência, paternalismo,maternalismo, filialismo, sabotagem, imitação, guerrilha, traição,dedicação, etc, e tudo o mais que se necessita para a satisfação das suasnecessidades elencadas pela Pirâmide de Maslow. Escolhem os que maisse adaptam às suas condições de ganho de sobrevivência e, geralmente, osrepetem inconscientemente pela vida a fora, na sua atuação nos outrosgrupos e organizações a que venha pertencer.
Pode-se perceber facilmente que os grupos e as organizaçõesde cada subsistema da sociedade, projetam socialmente os mesmos
mecanismos de relação que existem na família. Eles relacionam-seentre si ora competindo ora cooperando com outros agrupamentos,seduzindo uns afastando outros, procurando alianças, fixando-se muitasvezes a organizações mais poderosas, rejeitando as concorrentes,paternalizando ou maternalizando pequenas organizações, dominando-asou delas dependendo, ou se filiando a outras mais poderosas, muitas vezessabotando o concorrente, espionando-o ou imitando-o, decretando-lheguerra, não raramente traindo alianças, e tudo mais que se possaimaginar como decorrência do que se aprendeu e praticou na família durante anos e anos.
A família é a célula-tronco, do ponto de vista relacional do que
existe de bom e de mau na dinâmica social, pois os grupos e organizaçõesse utilizam dos mesmos mecanismos relacionais que as pessoasaprenderam e praticaram na família.
EXERCÍCIO: Sob orientação do professor, faça o seu sociograma familiar.Depois faça o de mais algumas pessoas. Você aprenderá muito mais coisassobre a sua vida e sobre a vida social do que há neste texto.
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ANEXO I
Observações
Como a sociedade é um ente que tem também aspectosabstratos, inconscientes, ou até virtuais como se diria hoje, é semprenecessária a existência de um referencial para poder abordá-la e aosfatos que nela ocorrem. Dada a sua complexidade, nenhum referencialpode ter a pretensão de captá-la totalmente. O que não se pode,entretanto, é dissertar sobre acontecimentos sociais sem referencialexplícito, pois, quem assim o faz, envereda pelos caminhos da opinião, doachismo, da livre associação de idéias e se afasta da racionalidade do
pensamento científico.Nesta primeira parte do trabalho, nestes 4 primeiros capítulos,
o referencial exposto pode ser denominado como Referencial baseado naCibernética Social, teoria criada pelo cientista social brasileiro Waldemarde Gregori11. Sendo uma teoria bastante ampla, dela este autor retiroualguns aspectos para construir este referencial.
Junto com os demais referenciais a serem expostos:• o hegeliano,• o marxista,• o positivista e•
o weberiano,
se pretende constituir instrumentos referenciais para:• conhecimento,• análise,• interpretação e• pesquisa,
envolvendo a sociedade e as manifestações nela existentes – os fatossociais.
11 Para conhecer as obras do autor, consultar, Cibernética Social I e II, ed. Pancast. S. Paulo.
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I n t r o d u z i n d o
a
Soci o l og i a Cl á ssi ca
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Capítulo V
CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO E DODESENVOLVIMENTO DA SOCIOLOGIA
A tentativa de uma abordagem científica dos fatos sociais liga-
se originariamente à 1ª Revolução Industrial, marco de um novo ciclo
histórico no século XVIII. Com ela iniciou-se um processo de acumulação
crescente, permanente e sem precedentes de bens e serviços que, aliada a
um aumento e concentração urbana da população, acabou gerando um
fato novo denominado a questão social.
Antes do surgimento da Revolução Industrial e da questão
social, a abordagem das relações entre os homens e a constituição dos
seus agrupamentos, fazia-se por intermédio de interpretações de cunho
religioso, filosófico ou até mesmo jurídico. Até aquele momento da História
jamais havia se cogitado realizar uma abordagem científica dos fatos
sociais, o que não significa que contribuições notáveis para o pensamento
humano nesse campo não tivessem surgido. Pensadores helênicos como
Aristóteles e Platão, medievais como Agostinho e Tomás de Aquino,
renascentistas como Campanella, Maquiavel e Thomas Morus e modernos
como Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau, entre tantos outros,
deixaram contribuições notáveis a respeito do que hoje denominamos
relações sociais.Mas, com a 1ª Revolução Industrial e seu subproduto a
questão social, abriu-se uma perspectiva até então inusitada e que
escapava a todas as abordagens anteriores, criando condições para um
tratamento diferenciado dos problemas oriundos das relações entre os
homens na sociedade, vivendo agora a experiência de um novo modo de
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produção (o capitalista), que trazia algo de substancialmente novo para ser
estudado.A palavra. "revolução" aplica-se com propriedade ao fenômeno
ocorrido após a implantação das novas técnicas de produção decorrentes
do uso de máquinas. Foi o que realmente se verificou em termos de
capacidade produtiva e de acumulação de bens produzidos em curto
espaço de tempo.
Referenciada historicamente entre 1750 e 1850, a 1ª
Revolução Industrial12
teve inicio na Inglaterra, ocorrendo depois naFrança, para posteriormente espalhar-se por toda a Europa Ocidental e
Estados Unidos da América. Levando à implantação do capitalismo
industrial, ultrapassou todos os limites até então conhecidos da atividade
produtiva, constituindo-se numa verdadeira fonte de significativas
transformações econômicas que se refletiram nas estruturas
institucionais, culturais, políticas e sociais de todos os países onde ela se
efetivou.
Na apreciação do desenvolvimento da 1ª Revolução Industrial
e de suas conseqüências, deve-se considerar uma série de aspectos, todos
eles relacionados com a produção de universos teóricos que determinaram
o desenvolvimento das ciências sociais e, particularmente, o surgimento da
Sociologia.
lo A Revolução Científica, dos séculos XVI e XVII , determinou uma
abordagem experimental e racional dos fatos naturais, propiciando bases
para o desenvolvimento de toda uma nova tecnologia objetivando o
domínio da natureza e a produção de bens e serviços em grande escala.
12 Poderemos considerá-la 1ª Revolução Industrial pois, no início do século XX, nosEstados Unidos, ocorreu o que se poderia chamar de 2ª Revolução Industrial, umarevolução tecnológica caracterizada pela superação do consumo pela produção. Essasuperação levou à criação de estratégias de produção e, posteriormente, depublicidade e marketing, criando desejos em atendimento às necessidades eimplantando a sociedade de consumo, onde cada um é levado a consumir muito
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2o Os ideais de liberdade decorrentes da Revolução Francesa foram
determinantes para a justificação do novo ciclo, mas que, como revolução
que beneficiou uma única classe social – a burguesia capitalista - na
prática, direcionou a liberdade para a vida econômica - a liberdade de
enriquecer.
3a A acumulação de capital e de recursos financeiros proporcionada
pela intensificação do comércio internacional e pela política mercantilista
inglesa de épocas anteriores, preparou as bases econômicas para a eclosão
do novo ciclo. Com o enriquecimento e o fortalecimento de grandescomerciantes e de empresas comerciais, durante o período de capitalismo
mercantil, amealhou-se o capital necessário para as novas atividades
produtivas, agora industriais. Este capital transformou o setor
manufatureiro até então de natureza artesanal, doméstica e rural, por
meio de máquinas e técnicas.
4o Os detentores do capital passaram a fornecer matéria prima,
ferramentas, maquinas e locais de trabalho aos antigos artesãos, agoratransformados em operários assalariados, para que trabalhassem em
escala de produção seriada, o que proporcionou um grandioso aumento do
volume produzido de bens de diversas naturezas.
5º A Revolução Industrial não só alterou profundamente a realidade da
produção de bens, passando-a de artesanal a industrial, como também
acelerou a transformação da atividade agrícola, principalmente pela
introdução de novas técnicas que modificaram radicalmente o uso do soloe incorporaram novos recursos ao cultivo, aumentando a produtividade da
lavoura inglesa. Como decorrência dessa nova reordenação do processo
produtivo, ocorreu a transformação da estrutura do campo, com a
destruição sistemática da servidão e da organização rural centralizada na
mais do que realmente precisa. Neste momento está em curso uma 3ª Revolução“ Industrial” , baseada na supremacia da tecnolog ia sobre o ser humano.
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aldeia camponesa com a conseqüente migração de parte da sua população
para os centros urbanos - fato social conhecido como urbanização.
6o A transformação da atividade artesanal em manufatureira e desta
em atividade industrial, originou o surgimento de dois novos segmentos:
• proletariado urbano, assalariado e sem acesso pessoal aos meios
de produção e
• o empresariado capitalista que possuindo esses meios,
livremente se entregou à tarefa de organizar a atividade produtivae se tornou a classe hegemônica da sociedade.
A Revolução Industrial fez nascer o capitalismo moderno
que, revolucionando a infraestrutura econômica da sociedade, começou a
mudar a face do mundo, primeiro europeu, depois americano, finamente
espalhando-se por grande parte do planeta. Mas, com sua revolução
econômica, marcadamente produtiva, trouxe também a mudança daestrutura das sociedades onde ela se instalava, fazendo surgir o seu lado
sombrio: a questão social.
Cada passo em direção à consolidação do capitalismo
industrial representava o solapamento e a desintegração dos costumes e
das instituições existentes até então e a introdução de novas formas de
organização da vida social. A utilização da máquina a vapor na produção,
não apenas destruiu o artesão independente que possuía uma oficina ou o
camponês que tinha acesso a um pedaço de terra cultivado nos seus
momentos livres, como também submeteu-os à uma severa disciplina de
novas, penosas e mal-remuneradas formas de trabalho.
Em cerca de um século, a Inglaterra sofreu modificações
radicais, decorrentes do desenvolvimento do modo de produção capitalista
industrial. País de pequenas cidades e com população rural dispersa, em
pouco espaço de tempo passou a comportar grandes cidades, nas quais se
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concentravam suas nascentes indústrias que espalhavam produtos pelo
mundo inteiro. Taís modificações levaram à uma nova conformação social,que tinha reflexos tanto na cidade quanto no campo. Destruindo a
servidão e desmantelando a organização familiar tradicional, a 1ª
Revolução Industrial provocou maciça migração do campo para a cidade,
engajando mulheres e crianças em jornadas de trabalho de cerca de doze
horas, sem férias e feriados, com ganhos salariais em níveis abaixo do
mínimo sobrevivencial e negociados livremente no mercado como qualquer
produto, sem qualquer garantia para os trabalhadores. Em alguns setoresda indústria inglesa, mais da metade dos trabalhadores era constituída
por mulheres e crianças, que ganhavam ainda menos que os homens
adultos.
A desaparição dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos
independentes e a imposição de prolongadas horas de trabalho, fizeram
com que com que milhões de seres humanos tivessem de, radicalmente,
mudar suas formas de viver, fazendo com que a questão social se
espalhasse por todas as regiões agora tornadas fabris. Tomadas por
vertiginoso crescimento demográfico e não possuindo estrutura de
moradias, de serviços de saúde e saneamento capazes de acolher a nova
população que se deslocava do campo, cidades como Manchester (que
passou de setenta para trezentos mil habitantes em menos de cinqüenta
anos) tomaram-se palcos de vida social conturbada por mendicância,
prostituição, suicídio, alcoolismo, infanticídio e violência urbana
caracterizada por crimes das mais diversas naturezas, acompanhados de
surtos de epidemias de tifo e cólera que dizimaram grande número de
pessoas.
Embora a miséria também afetasse os trabalhadores do
campo, a questão social aparece com toda sua cruel realidade é nos
centros urbanos, onde se concentrava a maior parte da massa
trabalhadora, a nova classe: o proletariado.
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Os operários, premidos por condições miseráveis de vida, não
raro se revoltavam e, por atos de sabotagem, de destruição de máquinas ede oficinas, de roubos e crimes, expressavam seu desespero diante da vil
exploração. E das revoltas surge, como conseqüência natural, a formação
de associações e de sindicatos de trabalhadores, começando a nascer a
organização da classe operária. Esta, na medida em que se organizava e
começava a produzir seus jornais e sua literatura, criou condições para o
surgimento de pensadores que sistematizaram a crítica da sociedade
capitalista, ensejando o aparecimento das primeiras manifestaçõesmodernas de um pensamento socialista.
A questão social era um fato social inteiramente novo, pois era
conseqüência de um novo modo de produção, decorrente de nova
tecnologia, que havia gerado novas relações de produção até então
desconhecidas no planeta, abrindo perspectivas, portanto, para novas
abordagens teóricas que visavam sua interpretação. As modificações
econômicas não só determinaram transformações sociais, mas também
propiciaram a gestação de interpretações teóricas da nova realidade social.
É dentro desse contexto histórico que começam a surgir os
primeiros fundamentos do pensamento sociológico. E, desde logo,
obedecendo a duas vertentes:
• positivismo e
• socialismo.
Uma com objetivos científicos, o positivismo, que teve em
Augusto Comte (1798 -1857) sua expressão maior, procurou trazer para a
abordagem da questão social as bases de observação e experimentação,
características das ciências da natureza, tão vitoriosas nos dois séculos
anteriores de Revolução Científica. E outra, não preocupada em dar
tratamento cientifico à questão social, mas tentando criar um referencial
teórico para levar adiante as lutas em prol da classe trabalhadora, criando
uma teoria crítica da sociedade deu, por conseqüência, o socialismo, que
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encontrou em Marx (1818 -1883) e Engels (1820 -1903) sua elaboração
mais expressiva.
O positivismo, corrente que se propunha a fazer uma
"interpretação científica dos fatos sociais", tentou, através da criação de
uma "ciência da sociedade", encontrar os instrumentos e a fórmula para a
reorganização social. E o fez de forma quase messiânica na busca de leis
imutáveis que regessem os fatos sociais e que, à semelhança dos
mundos físico e biológico, constituiriam a base de uma "Física Social".
Auguso Comte, sobre o assunto assim se expressou:
"Entendo por Física Social a ciência que tem por objeto próprioo estudo dos fatos sociais, segundo o mesmo espirito com que sãoconsiderados os fatos astronômicos, físicos, químicos e f isiológicos,isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivode suas pesquisas. Os resultados de suas pesquisas tornam-se oponto de partida positivo dos trabalhos do homem de Estado, quesó tem, por assim dizer, como objetivo real, descobrir e instituir asformas práticas correspondentes a esses dados fundamentais,com a f inalidade de evitar, ou pelo menos mitigar, quanto possível,as crises mais ou menos graves que um movimento espontâneodetermina, quando não foi previsto. Numa palavra, a ciência
conduz à previdência, e a previdência permite regular a ação".
A "ciência social" nascida do positivismo é calcada no modelo
tecnicista oriundo das ciências da natureza. A função da nova ciência a
Sociologia, era a de solucionar os problemas decorrentes da questão social,
com o propósito de restabelecer o "bom funcionamento da sociedade"
legitimando intelectualmente o novo regime, e acabou por ter a
preocupação maior de manter e preservar a nova ordem capitalista.
Porém, não seria essa nova ciência, criada e moldada pelo
espírito positivista, que colocaria em questão os fundamentos da sociedade
capitalista, já então plenamente configurada. Também não seria nela que a
nova classe emergente - o proletariado - encontraria seu referencial teórico
e sua orientação para suas lutas de emancipação. Foi no pensamento
socialista, em seus diferentes matizes, que o proletariado buscou suas
bases referenciais para levar adiante suas lutas dentro da sociedade.
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Nesse contexto, uma nova corrente sociológica foi
paulatinamente se formando, não nas academias mas na agrura das lutas
políticas e sociais, formando gradativamente uma teoria critica da
sociedade capitalista.
A formação e o desenvolvimento da corrente sociológica
socialista possibilitou a formação de um referencial francamente crítico e
negador da sociedade capitalista. Seus maiores representantes, Marx e
Engels, não estavam preocupados em fundar uma ciência ou, nem mesmo,
uma disciplina específica. Sua preocupação era a transformação da
sociedade e o enfrentamento objetivo da questão social. A rigor, eantecipando-se em muito ao pensamento de sua época, não encontraram
eles fronteiras nítidas entre diferentes campos do conhecimento. Em suas
obras, Antropologia, Ciência Política, Economia e Sociologia estão
profundamente interligadas - como hoje se concebe dentro de um
paradigma complexo, procurando oferecer uma explicação da sociedade
como um todo, colocando em evidência as suas dimensões globais.
Enquanto a via positivista ia pelo caminho da ciênciaexperimental a socialista enveredava pelo ensaio crítico.
A elaboração teórica do pensamento sociológico socialista
constitui uma complexa operação intelectual, na qual são assimiladas, de
maneira crítica, as três principais correntes do pensamento europeu do
século XIX:
• o socialismo pré-marxista,
• a dialética e
• a economia política.
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O socialismo pré-marxísta, denominado socialismo utópico por
Marx e Engels caracterizava-se por idéias e propostas de reforma social de
Owen, Saint-Simon, Proudhon e Fourier, que defendiam a administração
coletiva dos meios de produção como forma de se atingir a igualdade entre
os homens.
Nele se notabilizou Proudhon, como um verdadeiro precursor
da futura proposta socialista, ao cunhar frases como “a propriedade é um
roubo” . É considerado também um precursor do anarquismo, formulado
uma doutrina segundo a qual as fábricas da nascente sociedade industrial
deveriam ser administrados por associações de trabalhadores. Estes, porsua atuação econômica mais que pela revolução violenta, transformariam
as estruturas sociais. Proudhon chamou "mutualismo" seu sistema
político.
O socialismo utópico refletia, embora ainda de maneira
incipiente, todo o conteúdo de revolta diante dos efeitos da questão social e
produzia uma nova maneira de conceber a sociedade, que reivindicava a
igualdade de todos os cidadãos, não só do ponto de vista político formal,mas também quanto às efetivas condições sociais de vida.
• Saint Simon, foi o verdadeiro precursor do socialismo,
notabilizando-se pela famosa frase "de cada um de acordo
com a sua capacidade e a cada um de acordo com a sua
necessidade", posteriormente assumida pelo movimento
marxista.
• Owen, autor de "Uma nova visão da sociedade", realizou um
trabalho pioneiro fundando as primeiras cooperativas,
tentando buscar uma alternativa para uma organização
mais justa do processo produtivo.
• Fourier, criador dos falanstérios (comunidades de produção
compostas por cerca de 1800 trabalhadores) tentou
estabelecer as relações entre os sentimentos e as
estruturas sociais.
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• Proudhon, também considerado um precursor do
anarquismo e criador do sistema mutualista, em sua obra
"O que é a propriedade'" conclui: “ a propriedade é um
roubo”.
Embora os socialistas utópicos tivessem elaborado uma crítica
da sociedade capitalista, deixaram de apresentar um diagnóstico mais
amplo ou uma teoria global que proporcionasse a criação de meios capazes
de promover as transformações radicais que sua proposta deveria conter.
Devido às limitações políticas de suas proposições, sem embasamento nos
conhecimentos de Economia Política então vigentes, e à falta de uma
concepção filosófica global para a visualização da questão, não havia como
opor reação fatual à exploração da sociedade capitalista.
Do socialismo utópico, Marx e Engels captaram
principalmente os ideais e as bases para o início de um trabalho de
magnitude muito maior, que deveria reunir Filosofia e Economia Política
numa proposta coerente.Na dialética de Hegel foram buscar os fundamentos para a
justificação de um processo evolutivo de caráter revolucionário. Mas
invertendo-a. Para Hegel, pensador idealista, a realidade era produto da
construção do pensamento, do espírito, enfim, das idéias. Para ele, as
idéias possuíam independência diante dos objetos da realidade,
acreditando que os fatos existentes eram projeções do pensamento. O
pensamento seria o motor da HistóriaMarx e Engels invertem esse processo, realizando o estudo
da sociedade a partir da sua base material: materialismo histórico A
História se produziria pela produção e reprodução da sua base material,
tendo nos conflitos e oposições entre as classes sociais o seu motor.
Para tanto, deslocaram o estudo e a investigação de todo
fenômeno social para as bases econômicas da sociedade. Para eles, era na
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infraestrutura econômica, material, da sociedade é que se deveriam apoiar
os outros níveis da realidade, como as idéias, a religião, a arte, a política e
as leis. Neste nível ocorre o encontro com a Economia Política da Escola
Clássica de Adam Smith e David Ricardo.
Analisando as idéias dessa escola, Marx e Engels formularam
criticas, no que diz respeito ao fato de os “clássicos” defenderem a idéia de
que a produção dos bens materiais da sociedade era obra de homens
isolados que perseguiam, egoisticamente, seus interesses particulares -
proposta fundamental do liberalismo.
De fato, analisavam Marx e Engels, na sociedade capitalista o
interesse econômico individual fora tomado como um verdadeiro objetivo
social, sendo a voz corrente nessa sociedade, que a melhor maneira de
garantir a felicidade de todos seria os indivíduos se entregarem à
realização de seus negócios particulares. No entanto, admitir que a base
da produção da sociedade se fundamentasse basicamente nas atividades
realizadas por indivíduos isolados uns dos outros, como imaginavam os
autores da "Escola Clássica'", consideraram eles que não passava de umagrande ficção.
Argumentando contra essa concepção extremamente
individualista, procuravam assinalar que o homem era um animal
essencialmente social. A observação histórica da vida social demonstrava
que os homens se achavam inseridos em agrupamentos que, dependendo
do período histórico, poderia ser a tribo, diferentes formas de comunidades
ou a família.A teoria social que surgiu da inspiração marxista não se
limitou a ligar Política, Filosofia e Economia. Deu um passo a mais, ao
estabelecer uma ligação entre teoria e prática, ciência e interesse de classe
social. O problema da verdade não era uma simples questão acadêmica,
distante da realidade, uma vez que o terreno da prática política é que
deveria demonstrar a verdade da teoria. Para tanto, a proposta socialista
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integrava o conhecimento da realidade com a construção de um
instrumento de ação política, capaz de orientar grupos e, sobretudo, a
classe trabalhadora, para a transformação da sociedade afetada pela
questão social - uma transformação radical.
Contrariamente á sociologia positivista, que entende a
sociedade como um fenômeno mais importante que os indivíduos que a
integram, submetendo-os e dominando-os, o socialismo a concebe como
obra da própria atividade humana. São os indivíduos que, vivendo e
trabalhando, a modificam e se modificam, dentro de determinadas
condições históricas existentes.A Sociologia atual recebeu de ambas as correntes primordiais,
o positivismo e o socialismo, contribuições apreciáveis. Hoje, no início do
século XXI, neste ciclo histórico que incorporou e relativizou
conhecimentos oriundos de ambas as correntes, e quando emerge a
formação de um novo paradigma onde o elemento constante é a
complexidade, toma-se fundamental que, de ambos referenciais se
recupere o fundamental, o útil, o necessário e que nos ajude a entender osfatos sociais neste ciclo histórico onde ocorre uma nova revolução
tecnológica da qual também decorre uma nova questão social.
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DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
1.800.000 INTRUMENTOS
700/800.000 FÔGO (Sinantropo )
500/800.000 PALAVRA
100.000 PINTURAS, SEPULTURAS (Neanderthal)
10.000 AGRICULTURA, DOMESTICAÇÃO DE ANIMAIS, 1as CIDADES.
5.000 ESCRITA-----------------------à HISTÓRIA
SÉCULO 16 MECANIZAÇÃO (Guttemberg)
SÉCULO 18 1a REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
SÉCULO 20 AUTOMAÇÃO, INFORMÁTICA, CIBERNÉTICA, INFORMÁTICA, ROBÓTICA.
ACELERAÇÃO HISTÓRICA: A velocidade de transformação histórica aumenta com uma aceleraçãoexponenciada pelo desenvolvimento tecnológico
(A) Aceleração histórica = (V) ve locidade de mudança desenvolvimento tecnológico (X)
No intervalo de tempo de uma vida atual, as condições de vida mudaram tanto quanto em 1
milhão de anos no início da humanidade. O atual desenvolvimento tecnológico apresenta um
exponencial próximo de 5.
PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (INGLATERRA 1750 1850) LIBERALISMO ECONÔMICO
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA – Séculos 16 e 17 MÁQUINAS
REVOLUÇÃO FRANCESA 1789 – LIBERALISMO POLÍTICO
EXPANSÃO DO MERCADO PRODUÇÃO DE BENS EM ESCALA
QUESTÃO SOCIAL
ABUNDÂNCIA DE PRODUTOS
NECESSIDADE DE NOVOS MERCADOS IMPERIALISMOS
SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL CRIAÇÃO DE CLIENTESNOVAS FORMAS DE PRODUÇÃO MAIS PRODUTOS QUE COMPRADORES MARKETING/PUBLICIDADE
Anúncio: Casas no Queens pelo rádio (1930)
TERCEIRA REVOLUÇÃO “INDUSTRIAL ” PAÍSES CENTRAIS E PERIFÉRICOS
GLOBALIZAÇÃO / FIM DO SOCIALISMO REAL / COMPLEXIFICAÇÃO DAS RELAÇÕES
• ENXUGAMENTO DAS MÁQUINAS ADMINISTRAT IVA E PRODUTIVA• DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO• DESEMPREGO ESTRUTURAL • SERVIÇOS EM EXPANSÃO• ESTRUTURA PRODUTIVA DOS 3 SETORES NÃO ABSORVENDO A MÃO DE OBRA
NOVA QUESTÃO SOCIAL
A = VX
ONDE “X” é próximo de 5
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ANEXO II
Revolução Francesa13
Juntamente com a revolução industrial, um outroacontecimento contribuiu para as grandes transformações do final doséculo XVIII e do XIX: a Revolução Francesa. Uma revolução política,liberal, que teve por lema: liberdade, igualdade e fraternidade edeterminou o surgimento de uma constituição, terminando com oabsolutismo real. Para conter a agitação operária, decorrente da criseeconômica e do desemprego, a Assembléia votou uma lei que proibia as
associações profissionais. Na verdade, a queda do antigo regime trouxepouca vantagem para o operariado. Nem mesmo os camponeses pobresforam beneficiados como esperavam. O resultado da Revolução Francesafoi a ascensão da burguesia em detrimento da nobreza e do clero , bemcomo a difusão de idéias liberais como o estabelecimento da igualdade deimpostos, secularização do matrimônio, o registro civil e a instruçãopública.
É claro que teve ela determinantes econômicos, como se verá aseguir.
Ascensão da burguesia.Embora a maior parte da produção industrial ainda
dependesse do artesanato, já começavam a surgir as primeiras grandesfábricas capitalistas, que empregavam maquinaria moderna.
Com o desenvolvimento do comércio, da indústria e dasfinanças, a burguesia prosperou. Tornou-se considerável o movimento dosprincipais portos franceses, enriquecidos com o comércio das Antilhas e otráfico de escravos. A indústria também se desenvolveu. Os produtosfranceses tinham fama em toda a Europa. Era igualmente notável oprogresso das indústrias têxtil, metalúrgica e de mineração. Ademais, a
má administração das finanças públicas afetava diretamente seusinteresses. Era natural, portanto, que a burguesia não se conformasse empermanecer relegada a uma posição secundária na vida política do país.
Ela ansiava por uma mudança de regime que lhepermitisse participar da administração e era, assim, a principalinteressada na revolução.
Com o progresso industrial, a classe operária cresceu e passoua reivindicar maiores salários e melhores condições de trabalho. Mas ainda
13 Baseado em texto da ©Enciclopédia Britânica do Brasil
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não era suficientemente numerosa, nem dispunha de organização paraaspirar à direção do movimento revolucionário. Mais grave, porém, era oproblema agrário. O campesinato representava nove décimos da populaçãototal. Embora a maioria dos camponeses fosse livre, somente uma pequenaparcela podia manter-se com a produção da terra e desfrutava de umpadrão de vida relativamente elevado. Os pequenos proprietários viviamesmagados pelos impostos e eram obrigados a dedicar-se à produçãoartesanal para subsistir. Os camponeses sem-terra viam-se forçados atrabalhar nas propriedades dos grandes senhores.
Enfim, também na França existia uma questão social deproporções consideráveis.
Fermentação revolucionária.
A estrutura agrária obsoleta não atendia às novas exigênciasde uma população que se expandia com o progresso industrial e mercantil.Reclamavam-se medidas capazes de aumentar a produção agrícola, quemal chegava para alimentar a população. Assim, as condições erampropícias à fermentação de idéias revolucionárias.
Era muito grande a influência de pensadores como Voltaire e,principalmente, de Jean-Jacques Rousseau, autor do livro Du contratsocial (1762; Contrato social), lido e aplaudido em praça pública.Inspirados nas idéias de Rousseau, os revolucionários defendiam oprincípio da soberania popular e da igualdade de direitos. O exemplo da
Revolução Americana (1776) também muito contribuiuA sublevação política que teve início em 1789 e se prolongouaté 1815, a Revolução Francesa, baseada em princípios liberais,democráticos e nacionalistas, foi a primeira das revoluções modernas.Por suas conseqüências e pela influência que exerceu na evolução dospaíses mais adiantados da Europa, é considerada a mais importante dociclo de revoluções burguesas da história. A independência dos EstadosUnidos e a 1ª Revolução Industrial iniciada na Grã-Bretanha são outrasduas grandes transformações que marcaram a transição da idademoderna para a idade contemporânea.
A queda da Bastilha, no dia 14 de julho de 1789, marca o
início do movimento revolucionário pelo qual a burguesia francesa,consciente de seu papel preponderante na vida econômica, tirou do podera aristocracia e a monarquia absolutista. O novo modelo de sociedade e deestado criado pelos revolucionários franceses influenciou grande parte domundo e, por isso, a revolução francesa constitui um importantemarco histórico da transição do mundo para a idade contemporânea epara a sociedade capitalista baseada na economia de mercado.
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Antecedentes.
Historiadores divergem quanto às causas da revoluçãofrancesa, mas as mais comumente citadas incluem o descontentamento dopovo francês, farto de tolerar um regime em que eram inúmeros osprivilégios e os abusos. A monarquia absolutista representava umobstáculo à ascensão da burguesia, classe mais rica e instruída danação. Os camponeses ainda viviam esmagados pelo sistema feudalimperante no campo. A nobreza e o alto clero possuíam as melhores emais extensas propriedades, enquanto o campesinato vergava sob o pesodos impostos reais, do dízimo eclesiástico e dos direitos senhoriais.
Às vésperas da revolução, agravou-se a crise econômica. Oúnico meio de estabelecer o equilíbrio seria suprimir os privilégios e
decretar a igualdade de todos diante do fisco, mas para isso era necessárioopor-se aos nobres, e o governo não tinha forças para tanto.O poder absoluto do rei não podia, pelo menos teoricamente,
sofrer limitações. Desde 1614 não eram convocados os Estados Gerais, aassembléia que representava a nação e que se compunha da nobreza, doclero e do chamado terceiro estado, ou seja, todos aqueles que nãopertenciam às duas primeiras classes. Não havia liberdade religiosa nemde imprensa. Com uma simples ordem -- a lettre de cachet -- o rei podiamandar efetuar prisões arbitrariamente. A justiça ainda adotava a tortura.O poder real apoiava-se na nobreza e no clero. O Parlamento, principalcorte de justiça, freqüentemente entrava em conflito com o soberano e,
como tinha o direito de criticar os editos reais podia mesmo recusar-se areconhecê-los. Nessas disputas, o povo punha-se ao lado do Parlamento.Uma das instituições do regime monárquico que, por sua impopularidade,muito contribuiu para a queda do regime foi a corte. De seus numerososmembros, cerca de 16.000 estavam a serviço do rei, enquanto os demaiseram cortesãos sem função definida. Outra grave falha do regime era afalta de unidade administrativa. Os impostos variavam de província paraprovíncia e cada uma delas mantinha suas próprias instituições e leis.Existiam várias organizações judiciais: além dos tribunais reais, haviaaqueles que pertenciam aos senhores de terra, às municipalidades e àigreja.
A desorganização fiscal e os gastos supérfluos tinhamdesastrosas conseqüências para as finanças. O orçamento eraconstantemente deficitário e os impostos se cobravam de maneiraarbitrária. O princípio da desigualdade imperava também nos meioseclesiásticos: o alto clero, constituído exclusivamente de nobres, possuíacerca de seis por cento das terras do país e reservava para si a maior parteda receita da igreja.
A nobreza gozava de numerosos privilégios. Somente seusmembros tinham acesso aos cargos da corte, aos comandos militares e àsdignidades eclesiásticas. Em suas propriedades prevaleciam os direitosfeudais: contribuições em gênero ou em trabalho, pagamento pelo uso dos
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moinhos, fornos etc. Entregue, porém, a uma vida de dissipação eimpedida de exercer atividades consideradas menos dignas, a nobrezaentrou em decadência. Sentindo-se ameaçada pela burguesia, suscitouum movimento de reação, a fim de conservar seus privilégios.Conseguiu excluir do alto clero, do Parlamento e dos postos maisexpressivos da carreira militar aqueles cuja nobreza não fosse superior aquatro gerações.
Durante a Revolução Francesa a França manteve-se emguerra, pois não interessava aos países europeus um país em que amonarquia se encontrava ameaçada.
Porém, não suportando mais a guerra, a Europa reconheceu arepública francesa. Mas a situação econômico-financeira da Françacontinuava caótica. Antes de desaparecer, a Convenção (poder político que
dirigia o país) definiu o novo regime. Tendo sido abolida a constituição de1793, elaborou outra, reacionária, que revogava o sufrágio universal edividia os eleitores segundo sua contribuição em impostos. Criou oDiretório, poder executivo de cinco membros, um dos quais erasubstituído anualmente. Os realistas ensaiaram uma nova reação, masforam reprimidos pelo visconde Paul-François-Jean-Nicolas Barras,auxiliado por Napoleão Bonaparte, jovem general-de-brigada. Comorecompensa, a Convenção nomeou Barras diretor e fez de Bonapartegeneral-de-divisão e comandante do exército interno. Em 26 de outubro de1795 a Convenção encerrou seus trabalhos. O Diretório durou quatroanos, no decorrer dos quais enfrentou ameaças, ora dos jacobinos, ora dos
realistas. Os primeiros agrupavam-se em torno de François-Noël Babeuf,que sonhava com um comunismo integral e fundou a Sociedade dosIguais. Sua revolta foi esmagada e Babeuf guilhotinado.
A partir de então sucederam-se os golpes de estado. O de 18frutidor (4 de setembro de 1797), dirigido por três membros do Diretório,auxiliados por Bonaparte, foi contra os realistas; o de 22 floreal (4 de maiode 1798), foi desferido contra os jacobinos.
Enquanto o Diretório se desgastava em lutas internas,Bonaparte fortalecia-se em conseqüência dos êxitos das campanhasmilitares empreendidas no exterior, e passou a ser considerado como oúnico homem capaz de restabelecer a ordem. Bonaparte teve, assim,
condições de desfechar o golpe de estado do 18 brumário (9 denovembro de 1799), por meio do qual assumiu o poder e inaugurou umanova era, encerrando-se assim o ciclo revolucionário.
Iniciava-se um novo ciclo para a França sob NapoleãoBonaparte.
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Capítulo VI
A ABORDAGEM POSITIVISTA DO SISTEMA SOCIAL
Como foi visto no capítulo "Contexto histórico do surgimento e
do desenvolvimento da Sociologia", o Positivismo foi o ponto de partida
para a formulação de uma "ciência da sociedade", na tentativa de seus
precursores de transpor para o social os mesmos métodos das ciências da
natureza, que haviam revolucionado o mundo pelo deflagrar da RevoluçãoCientífica dos séculos XVI e XVII, que determinou a Revolução Industrial
dos séculos XVIII e XIX.
O positivismo, corrente que se propõe a fazer uma
"interpretação científica dos fatos sociais", tenta, através da criação de
uma "ciência da sociedade", encontrar os instrumentos e a fórmula para a
reorganização social. E o faz de forma quase messiânica na busca de leis
imutáveis que regeriam os fatos sociais e que, à semelhança dos
mundos físico e biológico, constituiriam a base de uma "Física Social". Seu
expoente é Augusto Comte (1798 -1857).
Augusto Comte, sobre o assunto assim se expressa:
"Entendo por Física Social a ciência que tem por objeto próprioo estudo dos fatos sociais, segundo o mesmo espirito com quesão considerados os fatos astronômicos, físicos, químicos efisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja
descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Os resultados desuas pesquisas tornam-se o ponto de partida positivo dostrabalhos do homem de Estado, que só têm, por assim dizer,como objetivo real, descobrir e instituir as formas práticascorrespondentes a esses dados fundamentais, com a finalidadede evitar, ou pelo menos mitigar, quanto possível, as crises maisou menos graves que um movimento espontâneo determina,quando não foi previsto. Numa palavra, a ciência conduz àprevidência, e a previdência permite regular a ação".
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Comte ao explicitar que as leis sociais são naturais, dá à
palavra sua acepção científica, fixando para a ciência social uma realidade
concreta a conhecer: a sociedade. Concebe a sociedade como a realidade
de um organismo vivo: "reunindo-se sob uma forma definida e por laços
duráveis, os homens formam um novo ser que tem sua natureza e suas
leis próprias" (Castro e Dias, 1980). Procurou trazer para a abordagem
da Questão Social as bases de observação e experimentação,
características das ciências da natureza, tão vitoriosas nos dois séculos
anteriores de Revolução Científica. Propôs, para o estudo dos fenômenos
sociais, o método positivo, que exige a subordinação dos conceitos aosfatos e a aceitação da idéia segundo a qual os fatos sociais estão sujeitos
a leis gerais, embora admita que as leis que governam os fenômenos
sociais são menos rígidas do que as que regulamentam os universos
biológico e físico. Ele dividiu a Sociologia em duas grandes áreas:
• estática, que estuda as condições de existência da sociedade. A
principal característica da estática é a ordem harmônica, e a
• dinâmica, que estuda seu movimento contínuo. A principalcaracterística da dinâmica é o progresso, estando ambas as áreas
intimamente relacionadas. O fator preponderante do progresso é o
desenvolvimento das idéias, mas o crescimento da população e sua
densidade também são importantes.
Para evoluir, o indivíduo e a sociedade devem atravessar três
etapas, conhecida como a “Lei dos Três Estados”:
• a teológica,• a metafísica e
• a positiva.
A "ciência social" nascida do positivismo é calcada no
modelo tecnicista oriundo das ciências da natureza. Seu modelo inicial
é o biológico, influenciado pelo filósofo britânico Herbert Spencer, (1820-
1903). A obra deste autor se baseia no conceito de evolução natural como
princípio subjacente a todas as ordens da realidade. Spencer indica a
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possibilidade de, por meio do princípio da evolução, oferecer explicação
total da realidade, bem como realizar a síntese das diferentes ciências.
Com Spencer a analogia entre o biológico e o social se
converte em uma afirmação: "os seres vivos, agregando-se entre si, formam
sociedades - a sociedade é uma espécie de organismo" (Castro e Dias,
1980).
Spencer concebeu a realidade toda como produto do
desenvolvimento perpétuo de uma força de caráter incognoscível
manifestada na evolução do que é de início homogêneo, indeterminado e
simples, para a heterogeneidade, determinação e complexidade. Assim, noâmbito físico, as nebulosas dão origem aos sistemas planetários, da
mesma maneira que as formas biológicas unicelulares evoluem sempre
para organismos mais complexos e aperfeiçoados. Processo semelhante
observa-se nas sociedades humanas, as quais evoluíram das hordas
primitivas para as sociedades militares, cuja coesão se baseava na força,
até chegar às industriais, baseadas em contrato voluntário entre
indivíduos. Em conseqüência, Spencer preconizou um modelo liberalsem nenhum tipo de intervencionismo estatal como única forma de
respeito à liberdade individual. Esta, por sua vez, seria a garantia da
ordem social, posto que a moralidade é a aspiração da consciência
humana para uma harmonização cada vez mais perfeita entre homem
e sociedade. Natureza e espírito, portanto, constituem os aspectos externo
e interno da mesma realidade, que tem sua razão de ser no próprio
impulso evolutivo. Note-se que Spencer formulou sua teoria antes de
Charles Darwin (1809-1882).
Na medida em que o positivismo se afastava da Economia
Política, criando para ela um objeto autônomo - o social - tinha por
preocupação fundamental a manutenção e a preservação da nova ordem
capitalista. A função da nova ciência a Sociologia, era a de solucionar os
problemas decorrentes da questão social, com o propósito de restabelecer
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o "bom funcionamento da sociedade" legitimando intelectualmente o novo
regime.
O positivismo, em linhas gerais, se dispunha a colocar a
ciência como desempenhando a mesma função de conservação social
que a religião tivera no período feudal. Os cientistas ao estabelecerem
as verdades, que seriam aceitas por todos os seres humanos, ocupariam o
papel que possuía o clero na sociedade feudal, ao passo que os industriais,
os comerciantes e os banqueiros substituiriam os senhores feudais. Esta
elite estabeleceria os objetivos da sociedade, ocupando uma posição de
mando em relação aos trabalhadores.Entretanto, foi com Émile Durkheim (1858-1917) que a
Sociologia adquiriu sua primeira sistematização, dentro do caminho do
Positivismo.
Durkheim afirma que a divisão social do trabalho origina umaumento da solidariedade social e contribui para o aumento daintegração geral da sociedade. A solidariedade social é um f e n ô m e n o m o r a l que, por si própria, não se presta àobservação exata nem sobretudo à medida. Para proceder quer
a esta classificação, quer a esta comparação, é p r e c i s os u b s t i t u i r o f a to i n t e r io r , q u e n o s e s c a p a , p e lo e x t e r io r ,q u e o s i m b o li z a , e e s t u d a r o p r im e ir o a t r a v é s d o s e g u n d o.E esse símbolo visível é o Direito. Podemos estar certos deencontrar todas as variedades essenciais de solidariedadesocial refletidas no Direito.Para Durkheim, primeiro sistematizador da Sociologia em
bases metodológicas:
• o social se explica pelo social – o que leva à objetividade das análises
que se tornam explicativas;• a sociedade evolui da solidariedade mecânica (das sociedades simples)
para a solidariedade orgânica (à medida em que se desenvolve e se
aprofunda a divisão social do trabalho);
• o que torna a sociedade “saudável”, com suas instituições funcionando
“normalmente” é a existência de uma moral social, que decorre de
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uma consciência coletiva, que determina a organização social e cuja
função é manter a ordem;
• o fato social exerce coerção sobre o indivíduo e o Direito é o símbolo
visível dela;
• o Direito tem sempre, numa sociedade, uma conotação moral;
• a causa dos problemas sociais é de origem moral;
• a educação é um processo de preparação para o indivíduo se integrar na
sociedade e deve ser providenciada pelo Estado;
• nos estudos sociais, o fato social deve ser abordado como coisa.
Em resumo: em um grupo social estabelece-se a partilha
coletiva de uma consciência, que leva à conformação de uma moral do
grupo. A moral do grupo condiciona uma intersubjetividade entre as
pessoas que o compõem. Essa intersubjetividade determina a coerção
moral e material que o grupo exerce sobre as pessoas. A coerção, por sua
vez, reforça e amplia a formação de uma consciência coletiva decorrente
dessa moral social, e é essa consciência coletiva que determina a
organização social.Dentro dessa perspectiva é que devem ser encarados a
Educação e o Direito. A Educação prepara o indivíduo para viver de acordo
com o contexto moral de determinada sociedade e o Direito é o zelador
dessa moral.
Ao propugnar pela manutenção de uma ordem social, o
Positivismo, como conseqüência dela, acredita que se estabelecerá o
progresso, pela própria dinâmica evolutiva da sociedade. “Ordem eprogresso” é um lema familiar para nós, e foi colocado na bandeira
brasileira por influência positivista dos líderes republicanos .
Os fatos sociais expressam a intersubjetividade e são,
portanto, exteriores aos indivíduos. Daí, do ponto de vista metodológico,
deverem ser tratados como coisas.
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• Ao tratar os fatos sociais como "coisas" (e as coisas não são
penetráveis pela inteligência e sim pela observação do seu
comportamento),
• ao valorizar a observação e a experimentação,
• ao ater-se à busca das regularidades que regem os
comportamentos sociais,
• ao enfatizar a natureza orgânica dos fatos e, sobretudo,
• ao propor a ação concreta sobre os efeitos e causas dos
fatos sociais,
o positivismo contribui para a construção das ciências sociaisna medida em que nos leva a investigar diligentemente, por essavia, tudo o que possa ser
• medido,
• quantificado,
• classificado,
• expressado estatisticamente,• experimentado,
• testado,
• relacionado em forma de causa e efeito (leis sociais) e
• reduzido a expressões matemáticas.
A busca de leis sociais14 (relações constantes existentes entre
fatos), de regularidades empíricas, de tendências estatisticamente
verificáveis, de bases lógico-experimentais para testar nossosconhecimentos, só contribui para que nossas afirmativas sejam mais
científicas e menos ideologizadas.
14 Lei Jurídica é uma regra de Direito ditada pela autoridade estatal e tornada obrigatória para manter,numa comunidade, a ordem e o desenvolvimento.Lei Social é uma tendência de comportamento coletivo verificada em grupos sociais, diante de
determinadas circunstâncias.
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O resultado disso é a exclusão da ideologia da visualização do
fenômeno social e a redução da análise sociológica à uma fixação
experimentalista aliada a um ceticismo metafísico.
O Positivismo, enquanto proposta de um humanismo fundado
na ciência, torna muito úteis, para qualquer análise sociológica, o
conhecimento de tendências, de aspirações, de avaliações, de prospeções,
que só as pesquisas quantitativas nos podem oferecer. Como o trabalho é
feito pôr intermédio de amostragem, esta possibilita também a aplicação
de métodos qualitativos para a explicação dos fatos sociais.
Um exemplo tirado da realidade da cidade de São Paulomostrou, em pesquisa quantitativa, que a então prefeita Marta Suplicy
tinha menos de 40% das intenções de votos, diante do candidato José
Serra que ultrapassava 50%. Entretanto, nova pesquisa quantitativa
apontava a aprovação da atuação da prefeita pôr 48% da populaçã,
atribuindo-lhe cerca de 48% de conceitos ótimo e bom. Por quê a avaliação
da prefeita era muito inferior à avaliação da candidata? Isto as pesquisas
não respondiam. Foi necessário que nova amostragem fosse feita, não paraa coleta de números, mas de opiniões, e aí se constatou que eram questões
pessoais ligadas à imagem da prefeita que faziam com que ela fosse
aprovada como administradora mas reprovada como candidata.
Há ainda uma pesquisa qualitativa que precisa ser feita na
cidade de São Paulo, para explicar porque absolutamente todos os
prefeitos de São Paulo (Covas, Jânio, Erundina, Maluf, Pitta e Marta)
foram eleitos e, quase que imediatamente (à exceção de Maluf), derrotados
fragorosamente pelo mesmo eleitorado que os elegeu.
Utilizando-se da comparação como técnica de trabalho, o
Positivismo leva à aplicação do método indutivo: observação dos fatos
tentando captar, por indução, as leis que os regem, e delas, por
conseqüência, os fatos novos que escapam à observação direta, mas que a
experiência verificou, o Positivismo contribui para uma abordagem
realista dos fatos sociais.
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Exemplos:
A relação entre r icos e pobres no Brasil. 10% MAIS RICOS SÃO X VEZES MAIS RICOS DO QUE OS 10% MAIS POBRES
PAÍSES DO LESTE EUROPEU E URSS 3 a 7 vezesEUA e REINO UNIDO 5 a 10 vezes
JAPÃO vezesCORÉIA, HONG-KONG, TAIWAN 15 vezesPAÍSES SUBDESENVOLVIDOS DA ÁSIA 10 a 40 vezesPAÍSES SUBDESENVOLVIDOS DA ÁFRICA 10 A 40 vezesÁFRICA DO SUL 60 vezesPERU (maior concentração de renda hispanoamericana) 50 vezes
BRASIL 90 vezes
- "Relatório sobre o desenvolvimento mundial", Banco Mundial, FGV,1989.A qualidade de vida no Brasil. Fonte: ONU, Human Development Index - 1991.
6.1. A relação entre renda e organização da Sociedade Civil Brasileira
Embora datada de 1980, uma pesquisa publicada pela revista
Veja tem um caráter pedagógico. Ela estabelece um estudo comparativo
entre Renda e Organização da Sociedade Civil, em abril de 1980,
mostrando que:Quando a renda é de até 1 salário mínimo, a organização desse
contingente da população não ultrapassa a 5%.Quando a renda se situa entre 1 a 2 salários mínimos a
organização passa a 10%.
+ de 100100%
80 %
70 % MASSA 30SOCIEDADE CIVIL NÃO-ORGANIZADA a
50 % 2 a10 +100
40sm
.10 %
5 % ATÉ 1 s m
NÍVEL DEORGANIZA-
ÇÃO DASOCIEDA-DE CIVIL
NÍVEL DE RENDA DA SOCIEDADEBRASILEIRA - por salários mínimos -
1 a 2
10 a30
40
a
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Na faixa entre 2 e 7 salários mínimos a organização chega a
30%. E vai numa curva ascendente, demonstrando que a organização dos
estratos da Sociedade Civil cresce proporcionalmente com a sua renda,
chegando nos segmentos de mais alta renda, a praticamente 100%, como
se pode verificar no gráfico anterior – uma verdadeira “lei social”, bem no
espírito do que apontava Comte no século XIX.
Numa população atual de cerca de 170 milhões de habitantes,
quantos estarão satisfatoriamente organizados para defender seus direitos
básicos? Seguramente uma minoria. Quando a maioria das pessoas, dediversos segmentos de renda, têm baixo ou nenhum nível de organização,
denominamos a esse imenso contingente humano de massa.
E a massa, por ser desorganizada, tem poucas possibilidades de revertero quadro de distribuição de renda e de concentração de riqueza.
O Brasil, embora esteja entre as dez ou doze maiores
economias do planeta, construiu um modelo social em que a qualidade de
vida situa seu povo, comparativamente, em torno do 60o
lugar, de acordocom o índice HDI (ÍNDICE DE DESENVOVIMENTO HUMANO) em relação
aos outros países que têm estatísticas para apresentar.
Muitas vezes, para a análise dos fatos sociais, são criados
instrumentos, como o HDI (Human Development Index), um indicador da
qualidade de vida das sociedades, elaborado a partir de 3 índices:
• espectativa de vida ao nascer,
• porcentagem de adultos analfabetos e
• renda per capita.
A construção do HDI se faz medindo a distância entre o maior
valor atingido por cada um desses índices no mundo e no país analisado.
Os 3 valores são somados e divididos por 3, para exprimir um índice de
privação relativa de qualidade de vida, em relação aos melhores
resultados obtidos no planeta em um determinado ano.
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Mas podemos ir além, tentando, através de novos dados,
perceber algumas características dos beneficiados pela atual situação.
6.2- As "leis sociais".
Da mesma forma, também é importante a expressão dos fatos
sociais através das chamadas "leis sociais", de tendências ou até de
generalizações empíricas, como ilustram os seguintes exemplos:
• O aumento da violência urbana é diretamente proporcional ao aumento
do desemprego.
• Quando dois grupos humanos de diferentes graus de desenvolvimento
têm possibilidade de comunicação entre si, há a tendência de migração
do menos desenvolvido para o mais desenvolvido.
• Quanto mais se pressiona e oprime um grupo social, mais coeso e
determinado ele se torna, na defesa dos seus direitos e da sua
autodeterminação.
Embora o conceito de lei, em ciência, seja bem mais restrito,
principalmente quando se refere à natureza física, química ou biológica, no
âmbito sociológico há relações relativamente constantes entre
determinados elementos, que possibilitam a sua caracterização como "leis
científicas". A relação mencionada entre nível de renda e organização da
Sociedade Civil é um bom exemplo, tanto assim que poderia até seexpressar matematicamente.
- Org.Soc.Civil (f)Renda ou > Org.Soc.Civil > Renda -
É importante que, cada vez mais se estabeleçam essas
relações, essas regularidades, entre os componentes dos fatos sociais, para
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se dar, cada vez mais, um caráter científico à abordagem sociológica,
livrando-a do "achismo" proveniente do senso comum ou da ideologização.
6.3- Recordando a abordagem teórica da sociedade pelo positivismo
segundo Durkheim.
A sociedade, segundo Durkheim, apresenta uma existência
própria - o social se explica pelo social - independente das manifestações
individuais, tendo, portanto, existência própria e se expressando de
maneira coercitiva em relação aos indivíduos, pressionando-os paraexerçam determinados comportamentos, consciente ou inconscientemente.
Ela possui "leis" sociais”, que são naturais e seus fatos sociais não
podem ser explicados a não ser por outros fatos sociais.
Segundo Durkheim, os fatos sociais são coisas, pois
consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao
indivíduo, fatos estes dotados de poder de coerção sobre os indivíduos.
Estes, no nível social, têm suas consciências pessoais agregadas numanova realidade psíquica, de gênero diferente que unidas formam uma
"consciência coletiva", diferente das consciências individuais de cada
um.
A pressão da consciência coletiva é sinal característico dos
fatos sociais. É aquela que todos exercem sobre cada um. A consciência
coletiva é a consciência humana que todos devemos realizar integralmente
em nós mesmos e não é outra coisa senão a consciência coletiva do grupo
do qual fazemos parte. Cada povo cria, para si, esse tipo supostamente
humano, de uma concepção particular marcada por seu temperamento.
Para Durkheim, por essas razões, o fato social é exterior ao indivíduo,
apresentando-se como conseqüência dessa intersubjetividade decorrente
da parti lha coletiva de uma consciência e de uma determinada forma de
organização social.
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É esta "consciência coletiva" que, para Durkheim, possibilita a
organização social, e que é mantida por um poder de natureza moral, onde
o Direito tem um papel fundamental. Essa natureza moral decorre dos
direitos e deveres que vão se formando nas relações sociais na medida em
que vai se aprofundando a divisão do trabalho social entre as pessoas.
Quanto mais se amplia essa divisão, mais complexas ficam as
relações, mais os indivíduos têm de se relacionar entre si, e mais direitos e
deveres decorrem dessa intrincada teia de relações. Em decorrência disso,
ressalta a ordem moral como um imperativo da organização social.
Durkheim dá uma importância tão grande ao aspecto moralcomo fator integrador da organização social que, ao tratar da educação, em
"Educação e Sociologia", afirma: " A educação dada pelas escolas deve ficar
submetida ao controle do Estado. Não é sequer admissível que a função do
educador possa ser preenchida por alguém que não apresente garantias
especiais a respeito das quais só o Estado pode julgar. Não existe escola
que possa reivindicar o direito de dar, com toda liberdade, uma educação
anti-social".Desta forma, na medida em que dá relevo ao caráter objetivo
dos fatos sociais, o Positivismo abre perspectiva para um tratamento
metodológico empírico-indutivo, assemelhado ao dado às ciências físicas,
químicas ou biológicas, onde o relevo especial é dado a tudo o que pode ser
observado, comparado, medido e experimentado, para o estabelecimento
de relações causais relativamente permanentes. Como é decorrente das
ciências da natureza, descendente da Biologia, tem dificuldade em
trabalhar o conflito, enveredando para a analogia de normal e
patológico para tratar de situações que se afastem dos parâmetros por ele
tidos como de "saúde moral que só a ciência pode determinar com
competência" (Durkheim 1926).
Na visão positivista, a abordagem é sempre feita do social
para o individual, como o seguinte texto de Durkhéim aponta.
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"A estrutura política de uma sociedade não é mais do que o
modo pelo qual os diferentes segmentos que a compõem
tomaram o hábito de viver uns com os outros. Se suas relações
são tradicionalmente estreitas, os segmentos tendem a se
confundir; no caso contrário, tendem a se distinguir. O tipo de
habitação a nós imposto não é senão a maneira pela qual todo o
mundo, em nosso redor — e em parte as gerações anteriores —,
se acostumaram a construir as casas. As vias de comunicação
não passam de leitos que a corrente regular das trocas e das
migrações, caminhando sempre no mesmo sentido, cavou parasi própria, etc. Sem dúvida, se os fenômenos de ordem
morfológica fossem os únicos a apresentar esta fixidez, poder-
se-ia acreditar que constituem uma espécie à parte. Mas as
regras jurídicas constituem arranjos não menos permanentes do
que os tipos de arquitetura e, no entanto, são fatos fisiológicos.
A simples máxima moral é seguramente mais maleável; porém,
apresenta formas muito mais rígidas do que os meros costumesprofissionais ou do que a moda.
Existe toda uma gama de nuances que, sem solução de
continuidade, liga os fatos de estrutura mais característicos a
estas livres correntes da vida social que não estão ainda
presas a nenhum molde definido. O que quer dizer que não
existem entre eles senão diferenças no grau de consolidação
que apresentam. Uns e outros não passam de vida mais ou
menos cristalizada. Pode, sem dúvida, ser mais interessante
reservar o nome de morfológicos para os fatos sociais
concernentes ao substrato social, mas sob a condição de não
perder de vista que são da mesma natureza que os outros.
Nossa definição compreenderá, pois, todo o definido, se
dissermos: É f a t o s o ci a l t o d a m a n e ir a d e a g i r f ix a o u n ã o ,
s u s c e t í v e l d e e x e r c e r s o b r e o i n d i v íd u o u m a c o e r ç ã o
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e x t e r io r e q u e é g e r a l n a e x t e n s ã o d e u m a s o c i e d a d e
d a d a , a p r e s e n t a n d o u m a e x i s t ê n c i a p r ó p r i a ,
i n d e p e n d e n t e d a s m a n i f e s t a ç õ e s i n d i v i d u a i s q u e p o s s a
t er " .
O referencial positivista é importante, embora dentro de seus
rígidos limites, porque nos dá elementos sólidos para as análises dos fatos
sociais. E estes, muitas vezes, escapam à própria condução humana,
grupal ou das organizações. Criam certa autonomia, tornam-se "coisas",
como afirma Durkheim, como que adquirindo identidade própria,
obrigando homens, grupos e organizações a subordinarem-se à suaevolução.
O referencial positivista se comporta especificamente para a
realização das pesquisas da sociologia científica que se menciona na pg.
3 deste texto, em citação de Morin, antepondo-se à sociologia ensaísta,
que não se contenta com a constatação dos fatos mas que tenta
compreendê-los para explicá-los.
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ÉMILE DURKHEIM (1858 – 1917)
Fundador da sociologia, Durkheim combinou apesquisa empírica com a teoria sociológica. Sua
contribuição tornou-se ponto de partida do estudode fenômenos sociológicos como a natureza das
relações de trabalho, os aspectos sociais dosuicídio e as religiões primitivas.
Émile Durkheim nasceu em Épinal, Vosges,
em 15 de abril de 1858. Freqüentou a École
Normale Supérieure em Paris e interessou-
se por filosofia. Em 1887 assumiu em
Bordéus a primeira cadeira de sociologia
instituída na França. Em 1896, fundou o
periódico L'Année Sociologique e, em 1902, passou a lecionar sociologia e educação na
Sorbonne.
Quatro obras capitais. A abordagem com que Durkheim debruçou-se sobre asociologia se anuncia nas obras De la division du travail social (1893; Da divisão dotrabalho social) e Les Règles de la méthode sociologique (1895; As regras do métodosociológico). Na primeira, analisa o problema da ordem num sistema social deindividualismo econômico. Na segunda, define fato social e esquematiza a tramametodológica com que estudou os fenômenos sociais.O fato social é experimentado pelo indivíduo como uma realidade independente que
ele não criou e não pode rejeitar, como as regras morais, leis, costumes, rituais epráticas burocráticas oficiais, entre outras. Partindo da exterioridade dos fatos
sociais, Durkheim abordou a sociedade como um fato sui generis e irredutível a
outros, compreendendo-a como um conjunto de ideais constantemente alimentados
pelos indivíduos que fazem parte dela. Dessa forma, conceituou a consciência coletiva
como o "sistema das representações coletivas de uma dada sociedade". A linguagem, por
exemplo, é uma representação coletiva, assim como os sistemas jurídicos e as obras de
arte.
Para o conhecimento da obra de Durkheim é importante estudar os seguintes temas por ele enfocados:
• Suicídio;
• Processo de socialização – o menino de Aveyron;
• Morfologia social;
• Anomia social e amorfia social;
• desaparecimento das particularidades (inclusive históricas) dissolvidas pela
imposição (coerção) das forças sociais;
Revolução Científica: séc. XV e XVIRevolução Industrial: 1750 – 1850InglaterraRevolução Americana : 1776Revolução Francesa: 1789Auguste Comte: 1798 – 1857Charles Darwin: 1809 - 1882Karl Marx: 1818 – 1883Herbert Spencer: 1820 – 1903Manifesto Comunista: 1848Émile Durkheim: 1858 – 1917Max Weber: 1864 - 1920
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• Quando a anomia em que se encontram as relações sociais faz com que a
divisão do trabalho social gere conflitos ao invés de aumento da solidariedade
social;• Consciência coletiva e sua autonomia em relação às consciências individuais –
integração social;
• Organismo social – analogia biológica;
• Patologia social e normalidade social – normalidade de fato e normalidade de
direito;
• Solidariedade social;
• A divisão do trabalho social e diferenciação entre os indivíduos.
• Solidariedade mecânica e Direito repressivo;
• Solidariedade orgânica e Direito contratual;
• A crença em que o aumento da divisão social do trabalho levaria ao aumento
da solidariedade social, se tornando o fio condutor da evolução;
• Evolução social: as barreiras que separam os diversos segmentos sociais se
tornam permeáveis, possibilitando novas combinações;
• Direito em Durkheim;
• A Educação em Durkheim;
• As regras do método sociológico: aspectos gerais;
• processo evolutivo das sociedades: leis gerais da evolução;
• Padrões sociais;
• Fatos sociais como coisas exteriores ao investigador; fato social, coação
exterior ao indivíduo (espécie nova, que não se confunde nem com o orgânico
nem com o psíquico) e com existência própria e gerais numa dada sociedade e
independentes de suas expressões individuais; fatos sociais e seu apoio nas
representações coletivas; fatos sociais como constituintes da base da vida
social, como pertencentes à morfologia social – são as partes que compõem o
todo chamado sociedade; o fato social é distinto de suas repercussões
individuais;
• social se explica pelo social;
• fato social é coisa exterior ao indivíduo e sobre ele exerce coerção; como coisa é
reconhecido pelos seus aspectos exteriores, suas manifestações, sendo,
portanto, impenetrável, devendo ser observado;
• Do subjetivo para o objetivo;
• Instituições sociais;
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• Sociedade internalizada no indivíduo – os deveres estão definidos fora de mim
e de meus atos;
• Mecanismos de controle social;• Identidade e personalidade;
• Concepção mecanicista da vida social;
• Fisiologia social: normas institucionalizadas em vários graus de formalização:
morais , legais, religiosas, financeiras, etc.
• Objeto da Sociologia: a gênese e o funcionamento das instituições sociais;
• A estrutura política de uma sociedade não é mais do que o modo pelo qual os
diferentes segmentos que a compõem tomaram o hábito de viver uns com os
outros;
• A estrutura social, o funcionamento social, os papéis sociais e seus
estereótipos, a estratificação social, o sistema e os subsistemas sociais;
• Organização social;
• A influência de Comte e Spencer na obra de Durkheim.
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CAPÍTULO VII
SISTEMA SOCIAL E CONFLITO - Hegel
Se entendermos a sociedade como um sistema que, à semelhança de um
organismo, tem uma estrutura e um funcionamento que, obedecendo a regularidades,
pode ser até tratado de forma quantitativa, como o faz a corrente de pensamento
sociológico positivista, nos defrontamos com o problema do desvio do comportamento
socialmente aceito, sendo levados a caracterizar alguns comportamentos como
"patológicos" em contraposição com os que consideramos institucionalizados, aos quais
facilmente tenderemos a classificar como "normais".
Não é que não se possam considerar comportamentos como normais,
patológicos ou desviados. Isso é fácil quando nos defrontamos com uma situação-limite.
Em junho de 92, em Guaratuba, no Paraná , foi descoberta uma organização que matava
crianças para tirar-lhes os órgãos internos que eram comidos pelos seus membros em
rituais religiosos. Não é difícil a aplicação de adjetivos relacionados com desvio da
normalidade para caracterizar situações como essa. Porém, para explicar a
desestabilização permanente dos sistemas sociais há que se ir além, muito além, sob
pena de ter de se entregar a alguma pessoa com poderes absolutos ou a alguma
organização privilegiada, o direito de classificar o que é normal do que dele se desvia.
Para tanto, é fundamental que se relativize a idéia de sistema social como
algo estático, orgânico, de funcionamento repetitivo, como os objetos de estudo das
Ciências Biológicas. É preciso perceber que nos sistemas sociais há um componente
conflitual, porque a natureza humana tem, imanente, como parte dela, o conflito.
Assim, não há sociedade sem conflito, porque não há vida sem conflito. E este, embora
seja um fator de desestabilização do sistema, é também um fundamento do processo
evolutivo dele e do seu progresso e condicionador da sua historicidade.
Os que adotam o estruturo-funcionalismo ou o positivismo comoreferencial único para a análise dos fatos sociais têm dificuldade em trabalhar o conflito,
porque buscam o equilíbrio dentro de uma concepção estática, simplesmente orgânica por
analogia biológica. O equilíbrio dos sistemas humanos e sociais é um equilíbrio instável-
reajustável, tendo de ser entendido dentro desse processo dialético decorrente do conflito.
Não é possível eliminar ou curar o conflito na sociedade porque ele faz parte da natureza
humana. Há que se ter um referencial para entendê-lo e, principalmente, para saber
trabalhar com ele, aproveitando seu impulso transformador e evolutivo, minimizando
seus aspectos degradativos.
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7.1- Hegel e a dialética.
A visão dialética da sociedade não se contrapõe aos outros referenciais
sociológicos, pelo contrário, os completa. Aquele sistema social que tem uma estrutura e
um funcionamento, que se comporta obedecendo a regularidades, que pode até mesmo
ser objeto de quantificações, que apresenta-se com singularidade em cada uma das suas
manifestações mais significantes, tem, como força impulsionadora da sua evolução,
um componente conflitual, próprio da sua essência. Entender esse componente
conflitual faz parte da compreensão de como o processo social evolui. Se retirarmos o
componente conflitual não teremos outra alternativa a não ser considerar a sociedade
como uma máquina ou, no máximo, semelhante a um organismo biológico simples. O
componente conflitual, dialético, é que lhe dá o sentido de movimento, de transformação,
de evolução: de dinamismo.
Embora tenha raízes na Grécia, no século. VI a.C., quando Heráclito de
Éfeso defendia, contrariando Parmênides, a idéia de que a natureza é um perpétuo vir a
ser, isto é, um processo que envolve constantemente movimento e transformação, foi
apenas no início do século XIX, com Hegel, que a dialética começou a adquirir o sentido
mais próximo do que lhe damos hoje.
Para Hegel, compreender a natureza é representa-la como um processo.
Sendo idealista, Hegel explica a realidade como constituída pela marcha do
pensamento. O ser, o mundo, o real, decorrem da Idéia que se exterioriza, manifestando-
se nas obras que produz, e que se interioriza voltando para si e reconhecendo sua
produção. Daí a afirmativa: 'tudo o que é racional é real; e tudo o que é real é racional'. A
realidade se explica pelo movimento do Espírito, no processo de exteriorização da Idéia,
a qual se manifesta objetivamente nas instituições jurídicas, políticas e sociais. Portanto,
a Razão faz o tecido do Real, onde a Idéia não é uma criação subjetiva do sujeito, mas
a própria realidade objetiva. O movimento de exteriorização e interiorização da Idéia se faz
por contradições sempre superadas.O ponto de partida para Hegel é a Idéia (tese), que ao se desenvolver
cria, dentro de si (imanente), um objeto oposto a si própria que só vai se revelar na
Natureza (antítese), onde há um mundo alienado e privado de consciência. Da luta
desses dois elementos nasce uma síntese, o Espírito (pensamento + matéria), isto é, a
Idéia toma consciência de si mesma através da Natureza .
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IDÉIA (pensamento)X ESPÍRITO (pensamento + matéria)
NATUREZA (matéria) a Idéia consciente de si mesma
Exemplo: IDÉIA Idealização de imagem
ESPÍRITONATUREZA pensamento + matéria
Argila ESTÁTUA - Imagem de argila
Para Hegel, a contradição é a fonte de todo movimento e de toda a vida. Em
"A Grande Lógica" assim a define de forma cabal: "O ser de uma coisa finita traz em si
o germe de sua destruição; a hora de seu nascimento é também a hora da suamorte". Do ponto de vista da evolução do saber humano, o pensamento hegeliano
assume um caráter amplamente revolucionário, pois abre a perspectiva para uma visão
de Homem também como produto da História, agora concebida como uma sucessão de
fatos ordenados através de leis necessárias. E mais, onde a contradição ganha um
papel preponderante, pois passa a ser considerada um elemento necessário a todo
processo humano e social.
Como na visão de Hegel, o pensamento constrói a realidade , e esta é a
manifestação exterior da Idéia, a concepção dialética explicita a estrutura contraditória do
real, que no seu movimento constitutivo passa por 3 momentos: tese, antítese e
síntese. Assim, a construção da realidade pelo pensamento, pela Idéia, faz-se dentro de
um processo contraditório que assim se expressa:
1º. afirmação: TESE
2º. negação do que foi afirmado: ANTÍTESE.
3º. negação do foi negado: SÍNTESE
. O EU, portador da razão e da idéia (tese), dirige-se ao objeto, portador
da natureza (antítese), e o transforma em idéia como realidade objetiva (síntese). Esta,
entretanto, tem em si, imanente a contradição, gerando uma anti-idéia (nova antítese)
que, em se chocando com a anterior (primeira antítese), procurará uma nova resolução
(nova síntese).
Como a síntese é também uma tese - SÍN TESE - e o processo é contínuo,
haverá a geração de uma nova ANTÍ TESE, que fará a realidade evoluir para uma nova
SÍN TESE, que por sua vez será negada por outra ANTÍ TESE e, assim, sucessivamente.
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O elemento tese, presente também na antítese e na síntese é que contém,
imanente, o elemento contraditório, por ser racional, produto do espírito humano. É onde
reside o conflito, muitas vezes em estado latente, apenas à espera de uma situaçãopropícia para se manifestar. Quando o conflito se manifesta, a tese deixa "sair" de si o seu
contrário, a antítese. Aí ambas entram em confronto que será finalizado por uma síntese.
Na verdade, a síntese é uma nova tese, que aparentará de início a ausência de conflito.
Este apenas estará aguardando a hora de se manifestar, reiniciando um novo ciclo.
7. 1. 1- Leis da dialética.
O processo dialético expressa-se numa seqüência de três fases:
• Primeira fase: Tese - proposição afirmativa em que a contradição persiste em
estado latente (i n t e r p e n e t r a ç ã o d o s e l e m e n t o s c o n t r á r i os ), característica da
situação de identidade; provisório estado de equilíbrio entre elementos opostos.
• Antítese (ou contradição) - primeira n e g a ç ã o d a t e s e , que por sua vez é
negada, para a formação de algo novo, com o auxílio do antigo (que persiste, de
maneira recorrente, da fase anterior).
• Síntese (o terceiro termo) - negação da tese e da antítese num grau superior,
integrador, que surge como conseqüência de uma d u p l a n e g a ç ã o , e provoca,
por um salto, a m u d a n ç a d a q u a n t i d a d e e m q u a l id a d e , ou v ic e -v er s a , com
o renascimento de uma nova identidade.
IDÉIA (TESE) Traz imanente o
processocontraditório
NATUREZA(ANTÍTESE)
é onde acontradição se
manifesta
SÍNTESE onde a idéia se
manifestaconsciente de si
mesma,superando de
maneira
provisória acontradição
Aqui já há um elemento para que se tenha a idéia de ciclos.
ANTÍTESE ANTÍTESE ANTITESE ANTITESE TESE SÍNTESE SÍNTESE SINTESE
1º CICLO HISTÓRICO 2º CICLO HISTÓRICO 3º CICLOE ASSIM SUCESSIVAMENTE
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A evolução dos seres vivos e, por decorrência, de todas as realidades
humanas e sociais, não se dá linearmente, mas por ciclos evolutivos. Cada vez que há
um choque, um confronto entre tese e antítese, todo o sistema passa por um processo
evolutivo que termina com a síntese. Com ela termina um ciclo e já se inicia outro, pois o
caráter conflitual da natureza faz com que nova antítese se forme para conduzir o sistema
para uma nova síntese, que encerrará um novo ciclo. E assim sucessivamente.
1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 3º ciclo 4º ciclo 5º ciclo......
7. 1. 2 - Hegel e o Direito.
O objetivo ético também se situa no momento dialético entre o bem objetivo
(tese) e a vontade subjetiva (antítese). O caminho para a unidade de intenção e de ação é
a oposição entre moralidade (interna) e Direito (externo). A ética, como síntese da
moral e do Direito, em sua exigência histórica se define como espírito nacional.
A Moral, o Direito e a Ética estatuem-se dialeticamente em três momentos:
ÉTICASOCIEDADE (tese) A moral colocada na prática social
MORAL PESSOAL (antítese)FAMÍLIA –
O Estado passa a ser a realização da liberdade objetiva, como concretização
perfeita da idéia ética. Constituindo-se como o Espírito Absoluto, o Estado é soberano,
com autoridade ilimitada (anti-liberal), como expressão de justiça, de modo infalível e
irretorquível.
ESTADO (síntese)LEI DIREITO(ética = espírito nacional) O Estado cria a lei pararegular a prática social
Evolução permanente dentro de uma dimensão histórica finalista
em busca do Absoluto, tendo imanente a visão judáico-cristã de finalismo. Esse
Absoluto Hegel encontra no próprio Estado.
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“O Estado passa a ser visto como a suprema síntese dialética da
Idéia.” (Castro, 1995, p.50)
Na atualidade, o referencial hegeliano aplicado à análise histórica érepresentado por Francis Fukuyama que, em seu livro "O fim da História e o último
homem" afirma na pg. 95 que: "Hegel estava dizendo que os princípios de liberdade e
igualdade, bases do Estado liberal moderno, haviam sido descobertos e postos em prática
na maioria dos países adiantados e que não havia princípios ou formas de organização
social e política alternativas, superiores ao liberalismo. Em outras palavras, as
sociedades liberais estavam isentas das 'contradições' características das formas
anteriores de organização social e, portanto, poriam fim à dialética histórica. Quando
Hegel formulou seu sistema, as pessoas não se mostraram inclinadas a levar a sério a
afirmação de que a história terminava com o Estado Liberal Moderno".
Nota:
A canção de Lulu Santos “Como uma onda no mar” nos pode ajudar a entender aconcepção dialética de maneira existencial..
Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará.A vida vem em ondas como o mar...num indo e vindo infinito. Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu a uns segundos. Tudo muda o tempo todo, no mundo.
Não adianta fugir, nem mentir p’ra si mesmo,Agora, há tanta vida lá foraAqui dentro, sempre,Como uma onda no mar... (3 VEZES)
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Capítulo VIII
SISTEMA SOCIAL E CONFLITO - Marx
Marx e Engels, ainda no século XIX, dão ao processo dialético uma
concepção materialista. Para tanto, invertem o pensamento de Hegel colocando como
elemento primeiro a base material do mundo. Para eles, a contradição surge entre
homens reais, em condições históricas e sociais reais. Nessa ótica, é a realidade que
constrói o pensamento. Ou melhor, são as contradições que existem nainfraestrutura econômica da sociedade, que determinam a sua superestrutura
jurídica, política, ética e simbólica (religiosa, artística e ideológica, etc.). A maneira
como os sistemas de produção se ordenam na sociedade, gerando relações de produção
onde há sempre a existência de conflito de interesses, é que vai determinar a forma de
pensar da sociedade e toda sua ordenação jurídica e política.
Nessa concepção, ressalta como ponto central a idéia de trabalho, tornado
peça central para o entendimento das relações sociais e, sobretudo, dos seus conflitos.
O trabalho, para Marx, é a atividade pela qual o homem domina as forças
naturais, humanizando a natureza. É através dele que o homem cria e se recria,
transformando a natureza. Porém, essa atividade criadora, acabou voltando-se contra o
próprio homem, acabando por tornar-se algo penoso e submetido a um processo de
exploração.
Como causa primeira dessa realidade Marx atribui à divisão social do
trabalho, que gerou a diferenciação das atividades produtivas e a apropriação desigual
das fontes de produção, com o alargamento das diferenças entre os homens e o
surgimento da estratificação social. Alguns homens passaram a dispor de maior número
de bens, que transformaram em meios para explorar o trabalho dos outros e passaram a
impor-lhes condições de trabalho cada vez mais duras para que gerassem cada vez mais
excedentes e, consequentemente, mais lucros.
Introduziu-se, assim, um novo tipo de contradição no interior da
comunidade humana, decorrente da divisão social do trabalho, produzindo um
estranhamento entre trabalhador e trabalho, na medida em que o produto do trabalho
passa a pertencer a outra pessoa que não o trabalhador. Assim, o trabalho deixa de ser
fonte de realização para tornar-se fonte de alienação. E, ao invés de se reconhecer nas
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suas próprias ações, o ser humano se sente ameaçado por elas. Ao invés de libertar-se,
torna-se prisioneiro numa cadeia de contradições.
Nessa perspectiva, tese e antít ese passam a ser produtos das relaçõesde produção. Tese e antítese são classes sociais antagônicas que, ao entrarem em
conflito (luta de classes), poderão determinar a mudança do modo de produção da
sociedade: comunidade primitiva, patriarcal, escravista, feudal, capitalista e socialista, a
caminho de uma sociedade sem classes. Em lugar de fazer do indivíduo, do EU portador
da idéia (segundo Hegel) o elemento essencial do progresso, é a massa, A CLASSE SOCIAL
e, no regime capitalista, o proletariado, que tem o papel ativo de antítese social (da
negação hegeliana) como fator determinante da evolução da sociedade. Marx exprime a
especificidade do social através da fórmula: "Não é a consciência do homem que
determina sua existência, mas, ao contrário, sua existência social é que lhe
determina a consciência".
Em "A miséria da Filosofia", Marx afirma que, sob diferentes regimes
econômicos, a divisão do trabalho obedece a certas regras, mas acrescenta: "Terão sido
essas regras estabelecidas por um legislador? Não. São nascidas, primitivamente das
condições da produção material, e só foram elevadas à condição de leis bem mais tarde.
Na concepção marxista, a sociedade apresenta a sua estrutura dividida em
dois segmentos: infraestrutura e superestrutura. A infraestrutura, de natureza
econômica, é que determina toda mudança social pela ação das suas forças produtivas
modificando as respectivas relações de produção. Em decorrência dessas alterações na
infraestrutura econômica passam a ocorrer também modificações na superestrutura, que
são de natureza política, jurídica, ética e simbólica (religião, arte, filosofia). Essa
concepção foi muitas vezes interpretada como tendo um postulado básico: o do
determinismo econômico, dentro do qual, o fator econômico é determinante no processo
de desenvolvimento da sociedade.
Esse determinismo, entretanto, foi mais uma deturpação de um
pensamento que tinha muito mais globalidade e até, muito mais atualidade.
As teorias do século XIX estavam profundamente influenciadas peloevolucionismo e pelo paradigma tecnicista e cientificista imperante desde o século XVIII,
mas a construção teórica de Marx e Engels não é, como muitas vezes é apresentada e
defendida pelos ativistas e militantes de movimentos sociais inspirados no marxismo
como:
1º - Um economicismo exclusivo, que nega a ação de todos os outros
fatores da vida social, especialmente ignorando o papel dos fatores psíquicos e
ideológicos, reduzidos a conseqüências da infraestrutura econômica
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2º - Um fatalismo, em virtude do qual, os fatores econômicos determinam
mecanicamente a evolução, à margem de qualquer intervenção da vontade humana.
"Segundo a concepção materialista da história , o f a t or que é ,
e m ú l t i m a i n s t â n c i a , d e t e r m i n a n t e n a h i s t ó r i a , é a p r o d u ç ã o e a
r e p r od u ç ã o d a v i d a r e a l . Nem Marx, nem eu, afirmamos nada além. Mas,
se nos fazem dizer que o fator econômico é o único determinante, então fica a
primeira proposição transformada em frase oca, abstrata e absurda. A
situação econômica é a base, mas os vários fatores da superestrutura)
exercem, igualmente, sua influência no curso da lutas históricas e lhes
determinam, em muitos casos, as formas, e o fazem de modo preponderante.
Há ação e reação de todos esses fatores" - Carta de Engels a Joseph Bloch
em 21/9/1890 - (Cuvillier, 1979).
Entre esses fatores superestruturais podem-se citar:
• formas políticas da luta de classes e seus resultados;
• constituições estabelecidas, uma vez ganha a batalha pela classe vitoriosa, etc;
• formas jurídicas;
• os reflexos de todas essas lutas reais no cérebro dos participantes;
• teorias políticas, jurídicas, filosóficas, instituições religiosas e seus desdobramentos.
Embora, na prática, se tenha difundido a idéia de que o marxismo defende
um economicismo exclusivo e uma concepção unilateral da vida social, convém creditar-
lhe esse conceito de ação recíproca das interações causais, dentro do contexto
analítico dos fatos sociais.
Também no que tange às idéias, é inconseqüente a afirmação de que Marx
e Engels negaram sua eficácia. No "Manifesto comunista", insistem eles na necessidade
"de despertar, entre os operários, o mais claramente possível, a consciência da oposição
existente entre a burguesia e o proletariado". Essa frase não teria sentido se a consciência
e, por conseqüência, as idéias não passassem de conseqüências. No "Dezoito brumário",
Marx precisa que todas essas superestruturas "de impressões, ilusões, modos de pensar,
concepções de vida", erguidas sobre a base das condições sociais de existência, "é a classe
inteira que as cria e as afeiçoa". E, na "A sagrada família", acrescenta: "A história nada
faz. É o homem, o homem real, o homem vivo, que faz, possui, combate; não é a história
que utiliza o homem para realizar seus fins, como se ela fosse pessoa independente; a
história no é nada, nada mais que a ativ idade do homem na busca de seus fins".
O marxismo não ignora o lado psíquico e ideológico da vida social. Recusa-
se a ver nele o fator fundamental e, sobretudo, a tradução fiel da realidade sociológica.
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Também, como tantas vezes se disse, não possui uma visão fatalista da evolução social,
pois não nega a ação da vontade humana no processo evolutivo da sociedade.
"Nossa concepção de história é, antes de tudo, uma diretriz para estudo[...]Cumpre reestudar toda a história, submeter a investigações pormenorizadas as condições
de existência das diversas formações sociais, antes de tentar deduzir delas as formas de
concepção política, jurídica, estética, filosófica, religiosa, etc., que lhes correspondem .
Nessa matéria, pouca coisa se tem feito até hoje, porque só poucas pessoas
se tem empenhado seriamente nisso. Nesse assunto, precisamos de larga colaboração; o
campo é infinitamente vasto e, quem quiser trabalhar seriamente pode fazer muito e
distinguir-se". É o que afirma Engels em seu Anti-During. (Cuvillier, 1979).
Não só no campo da Sociologia, mas, praticamente em todas as áreas do
conhecimento, idéias, teorias, descobertas, concepções de diversas naturezas, ficaram
praticamente colocadas em plano secundário quase, ou totalmente esquecidas, desde o
final do século passado até a segunda metade deste, por falta de condições existenciais e,
sobretudo, econômicas, para serem estudadas e difundidas, dada a alta significância do
paradigma cientificista e mecanicista, então imperante. O evolucionismo linear, o
determinismo fatalista das relações de causa e efeito, a concepção do social à imagem de
uma máquina ou de um organismo vivo, distorceram idéias e deixaram para trás valiosas
contribuições que só agora podem ser resgatadas em novo ciclo histórico e com nova
infraestrutura econômica. Foi necessário que as condições do planeta se alterassem, que
sua infraestrutura econômica se transformasse, para que, pela reformulação dos
paradigmas, se pudesse realizar uma análise dos aspectos positivos e negativos da teoria
marxista, agora distanciada da perturbadora realidade do comunismo soviético.
Hoje, no início do século XXI, onde está em construção um paradigma que
tem de incluir a hipercomplexidade das manifestações do real, sobretudo do social,
deixam de ter sentido o evolucionismo linear, o "fim da História", a explicação da História
simplesmente pela ação do conflito de classes sociais, ou a questão de se é a Idéia que
constrói a Realidade ou se é a Realidade que constrói a Idéia. Hoje, a concepção é de que
tudo se liga a tudo e que as relações se dão em todas as direções esimultaneamente .
Há evolução sim, e por ciclos, mas não do pior para o melhor, do errado
para o certo ou do simples para o complexo. Evolução é a passagem de um estado para
outro, de uma situação para outra, simplesmente, que terá sempre alguns aspectos
melhores, outros piores, alguns simples e outros complexos. Deixamos o determinismo do
século passado para nos curvarmos às evidências do probabilismo e da incerteza da
hipercomplexidade dos fatos humanos e sociais da contemporaneidade.
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Há sim uma poderosa influência da infraestrutura econômica da sociedade
sobre a maneira como as pessoas pensam, julgam, agem e se ordenam política e
juridicamente. Mas há também, reciprocamente, influência do espírito humano naconstrução social da realidade. É o que Gramsci sustentava em Cartas do Cárcere, por
volta de 1930: ".. .a n e ce s s á r i a r ec i p r oc i d a d e e n t r e i n f r a e s t r u t u r a e s u p e r e s t r u t u r a
como ex press ão do processo d ia l é t i co", ressaltando a importância da superestrutura e
o poder das idéias na efetivação da mudança histórica.
Há sim conflito de classes, mas a dinâmica social é muito mais
complexa: é produzida pelo conflito de grupos, ou melhor, de organizações formais e
informais nos vários subsistemas sociais, e em todas as esferas: comunitária,
municipal, estadual, nacional e internacional, como foi apresentado pôr ocasião do
capítulo I deste texto.
A luta de classes é uma leitura especial do conflit o social, mas não "a"
leitura que, sozinha, explicite o mesmo para todos os momentos históricos.
A luta de classes talvez bastasse para a explicação de fatos sociais
relativamente simples, como o da passagem da sociedades de caçadores e coletores (onde
as propriedades eram comuns) para a sociedade patriarcal, surgida após a descoberta da
agricultura, da domesticação de animais, levando à uma diferenciação das atividades de
produção e a desigual apropriação dos bens. Ou mesmo da passagem da sociedade
feudal para a burguesa, no início da conformação capitalista. Mas, hoje, há uma
sociedade globalizada extremamente complexa, onde uma série múltipla de fatores
ocorrem e acabam por assumir nos grupos e organizações, sua forma de
operacionalização das lutas, que não são, definitivamente, restritas ao âmbito das classes
sociais.
Marx e seus sucessores acreditavam que as classes sociais constituíam
realidades mais importantes do que as nações. Achavam que o fator econômico
determinava o que o povo pensava e aquilo em que acreditava.Em 1914, entretanto, um operário alemão acreditava que tivesse mais
pontos em comum com um industrial alemão do que com um operário francês. Isso
também ocorreria em relação aos operários britânicos ou americanos. E isso fica evidente,
hoje, com os movimentos nacionalistas e separatistas que desafiam o mundo globalizado,
homogeneizado.
Há raízes antropológicas para justificar a predominância do sentimento
nacional sobre a consciência de classe. A realidade não é como a queremos mas como ela
é. E milhares de anos de civilização não destruíram o sentimento nacionalista, como a
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recente história da Europa está demonstrando com o ressurgimento de nações e de
grupos étnicos de há muito subjugados. Talvez tenha sido o nacionalismo a principal
força deflagradora de ações políticas no século XX. E deflagradora dessas ações, emfunção da fusão de interesses infraestruturais com componentes pertencentes ao
inconsciente coletivo dos povos.
Enquanto, na atualidade, pouco se conseguiu em termos de união
internacional de segmentos do proletariado, mesmo na Europa Ocidental, quem faz
essa ligação são as organizações formais capitalistas, hoje transformadas em poderosas
transnacionais atuando até no coração das antigas repúblicas socialistas, mas adaptadas
e aculturadas nacionalmente.
Daí para frente a explicação da evolução da História por um único elemento
é bastante simplificadora, atingindo níveis de absoluta incompatibilidade nos complexos
tempos atuais.
O conflito vai além das classes, está dentro delas, superando-as num
intrincado conjunto de jogos ENVOLVENDO GRUPOS E ORGANIZAÇÕES (FORMAIS E
INFORMAIS) fazendo com que os conflitos assumam aspectos multifacetares. É um
conflito horizontal e vertical tanto dentro de cada segmento étnico, nacional ou esfera
geopolítica, antepondo uma extraordinária gama de interesses de toda ordem,
representados pelos mais diversos grupos e organizações. Enquanto todos assistimos ao
desmoronamento do mundo comunista e ao esforço por estabelecer-se uma releitura que
justifique a adaptação do espírito contido nas idéias socialistas à realidade
contemporânea, estamos vendo também o fim da divisão da Europa estabelecida em Yaltaem 194515, após a segunda Guerra Mundial. E, em seu lugar, começamos a presenciar a
alteração da geografia política européia a partir do que se estabeleceu em Versailhes16 em
1919, após a Primeira Guerra Mundial.
E a força motriz dessas reformulações geopolíticas inclui uma série de
componentes, sobretudo econômicos e políticos, mas não exclui o nacionalismo. A
autodeterminação nacional continua viva, sob os anseios da subgovernabilidade. Suas
15 Conferência realizada ao final da 2ª Guerra Mundial, em 1945, em que os vencedores, EUA, França, Inglaterra eURSS, redesenharam o mapa da Europa, inclusive com a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação.
Nacionalismos existentes noinconsciente coletivo dospovos
CONDIÇÕES ECONÔMICAS infraestruturais
TRANSFORMAÇÕESDO SÉCULO XX
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raízes não podem ser ignoradas; precisam ser estudadas, inclusive nos seus aspectos
inconscientes. Catalães, bascos, curdos, quebecquoirs, armênios, palestinos e tantos
outros, são símbolos atuais da resistência cultural e nacionalista. Como fenômenos demassa também representam algo de significativa importância, pois sempre estarão
abertos para a captação da sua energia cinética por líderes carismáticos. É fundamental
que se lembre que a encarnação mais radical do nacionalismo foi Hitler, sem que se
desprezem figuras como Mussolini, Franco, Perón e o nosso Getúlio. Mesmo na esfera
socialista, é fundamental que se percebam os aspectos nacionalistas de Mao, Fidel, Ho
Chi Min e, principalmente, Stalin - um verdadeiro nacionalista russo cujo objetivo era
continuar a obra czarista de conquista do Leste Europeu.
Neste novo ciclo histórico, após a queda do Muro de Berlim, o conflito
passa por vertentes que escapam à análise pelo marxismo ortodoxo. Uma é a pressão
generalizada pelo crescimento material e econômico. Outra, a existência do ressurgimento
das tendências do nacionalismo e do populismo. Uma é o impulso por mais riqueza e a
outra por um poder de raiz tribal.
O conflito planetário atual tem de equacionar a História dos anos futuros
dentro dessas e de outras tendências que por ventura venham a se materializar.
Tendências que possam determinar caminhos nem sempre condizentes com o que seria
previsto pelas teorias tradicionais.
Robert Kurz, em artigo publicado na Folha de São Paulo em 1/2/98, faz
uma análise inversa da luta de classes diante da sociedade capitalista:
“A luta de classes pode ser compreendida de maneira totalmente
diversa : como estava longe de contribuir para a queda do capitalismo, ela
se constituiu antes o motor interno de desdobramento do próprio sistema
capitalista. O movimento operário, sempre restrito à forma fetichista de seus
interesses, representou como que o progresso do modo de produção
capitalista, contra o conservadorismo irrefletido das respectivas elites
capitalistas. Ele impôs a elevação de salários, redução da jornada de
trabalho, liberdade de associação, sufrágio universal, intervenção estatal,política industrial, e de mercado de trabalho etc., como pressupostos do
desenvolvimento e da expansão do capitalismo industrial. E o Manifesto
Comunista (1848) foi o estopim desse movimento histórico dentro do
invólucro fetichista. Se hoje esse movimento encontra-se inerte, isso se dá
porque o próprio sistema capitalista não possui mais um horizonte de
desenvolvimento”.
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Tratado de Paz que seguiu à 1ª Guerra Mundial.
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8.1. Marx e o Direito .
Celso P. Castro nos ajuda a entender a concepção de Direito para Marx.
Em sua obra Sociologia do Direito, p. 87, nos ensina:
Para Marx e Engels, o Direito é, antes de tudo, produto de forças
econômicas. A ordem política, social, religiosa e cultural de qualquer época é
determinada pelo sistema material de produção, isto é, a vida social tem suas
manifestações causada por fatos econômicos.
Daí decorrem três teses fundamentais:
• o determinismo econômico do Direito;
• o caráter classista da lei;
• o desaparecimento da lei na sociedade comunista.
O Direito é apenas uma superestrutura fundamentada nas condições
econômicas. O “progresso geral do espírito humano” não pode explicar, por si mesmo, as
relações jurídicas nem as formas de Estado. Também esses fatos não podem ser
entendidos por si, uma vez que se coligam às condições materiais da vida. Mudando-se a
infraestrutura econômica, modifica-se a superestrutura juridico-política-ético-simbólica.
O Direito tem sido estabelecido, desde os albores da humanidade, pelaclasse dominante, para manter-se no poder e conservar submissas as classes oprimidas.
Nem a ditadura do proletariado eliminará o caráter classista da lei, pois servirá para
combater os elementos hostis à causa. Instalando-se, finalmente, a sociedade comunista,
sem classes, a lei e o Estado perderão o caráter de instrumentos opressores, convertendo-
se em simples administração das coisas.
Em resumo:
• o Direito faz parte da superestrutura e se fundamenta em condições econômicas;
• Estado e Direito só podem ser entendidos como conseqüência das condições materiais
da vida;
• a Lei é instrumento de opressão e a idéia de Justiça, nas condições vigentes, é meio de
alienação das classes oprimidas;
• só uma nova ordem social, sem Estado, e sem classes, produzirá abundância material
e justiça social.
Hoje, com o fim do socialismo real mas com a manutenção de uma nova
forma de socialismo utópico e, dentro do drama social vivido nos tempos atuais, em que o
capitalismo se mostra capaz de produzir bens mas incapaz de distribuí-los de forma
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razoável, há uma busca do que se chama a 3a Via, que pode ser simplificada pelo
esquema triádico que se segue.
ESTADO FORTE
Democrático, mas
com poder de intervenção
MERCADO SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA
Participando de forma complementar e vigiandoações as governamentais e de mercado
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KARL MARX (1818 – 1883)
O pensamento de Karl Marx mudou
radicalmente a história política da
humanidade. Inspirada em suas idéias,
metade da população do mundo
empreendeu a revolução socialista, na
intenção de coletivizar as riquezas e
distribuir justiça social.
Karl Heinrich Marx nasceu em Trier, na
Renânia, então província da Prússia, em 5de maio de 1818. Primeiro dos meninos
entre os nove filhos de uma família judaico-
alemã, foi batizado numa igreja
protestante, de que o pai, advogado bem-sucedido, se tornara membro, provavelmente
para garantir respeitabilidade social. Depois de estudar em sua cidade natal, em 1835
Marx ingressou na Universidade de Bonn, onde participou da luta política estudantil.
Na Universidade de Berlim, para a qual se transferiu em 1836, começou a estudar a
filosofia de Hegel e juntou-se ao grupo dos jovens hegelianos. Tornou-se membro de uma
sociedade formada em torno do professor de teologia Bruno Bauer, que considerava os
Evangelhos narrativas fantásticas suscitadas por necessidades psicológicas.
Com uma posição política que se identificava cada vez mais com a esquerda republicana,
Marx em 1841 apresentou sua tese de doutorado, em que analisava, na perspectiva
hegeliana, as diferenças entre os sistemas filosóficos de Demócrito e de Epicuro. Nesse
mesmo ano concebeu a idéia de um sistema que combinasse o materialismo de Ludwig
Feuerbach com o idealismo de Hegel. Passou a colaborar no jornal Rheinische Zeitung, de
Colônia, cuja direção assumiu em 1842. No ano seguinte, Marx casou-se com Jenny von
Westphalen e, logo após, sua publicação foi fechada.
O casal mudou-se para Paris, onde Marx entrou em contato com os socialistas. Em 1845,
expulso da França pelo governo, estabeleceu-se em Bruxelas e iniciou a duradoura
amizade e colaboração com Friedrich Engels. Die heilige Familie (1845; A sagrada família)
e Die deutsche Ideologie (1845-1846, publicada em 1926; A ideologia alemã) foram as
primeiras obras que escreveram a quatro mãos. Nessa época, Marx trabalhou em diversos
tratados filosóficos contra as idéias de Bruno Bauer e do socialista utópico Pierre-Joseph
Proudhon, e em 1848 redigiu, com Engels, o Manifest der Kommunistischen Partei
Revoluçã o Cient í f ica : séc . XV e XVI Revolução Industrial: 1750 – 1850Inglaterra
Revo luçã o Am er i cana : 17 76 Revolução Francesa: 1789Auguste Comte: 1798 – 1857Charles Darwin: 1809 - 1882Karl Marx: 1818 – 1883Herbert Spencer: 1820 – 1903Manifesto Comunista: 1848Émile Durkheim: 1858 – 1917Max Weber: 1864 - 1920
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(Manifesto comunista), resumo do materialismo histórico, em que aparecia pela primeira
vez o famoso apelo à revolução com as palavras "Proletários de todos os países, uni-vos!"
Depois de participar do movimento revolucionário de 1848 na Alemanha, Marx regressoudefinitivamente a Londres, onde durante o resto da vida contou com a generosa ajuda
econômica de Engels para manter a família. Em 1852 escreveu Der 18 Brumaire des
Louis Bonaparte (O 18 Brumário de Luís Bonaparte), em que analisa o golpe de estado de
Napoleão III do ponto de vista do materialismo histórico. Sete anos depois, publicou Zur
Kritik der politischen Ökonomie (Contribuição à crítica da economia política), seu
primeiro tratado de teoria econômica, e em 1867 o primeiro volume de Das Kapital (O
capital), monumental análise do sistema socioeconômico capitalista, sua obra mais
importante.
Marx voltou à atividade política em 1864, quando participou da fundação
da Associação Internacional de Trabalhadores. Como líder e principal inspirador dessa
Primeira Internacional, sua presença se reafirmou em 1871, por ocasião da segunda
Comuna de Paris, movimento revolucionário de que a associação participou
ativamente e em que pereceram mais de vinte mil revoltosos. As divergências do
anarquista Mikhail Bakunin, a partir de 1872, provocaram a derrocada da Internacional.
Marx ainda participou em 1875 da fundação do Partido Social Democrata Alemão e em
seguida retirou-se da atividade política para concluir Das Kapital. Apesar de ter reunido
imensa documentação para continuar o livro, os volumes segundo e terceiro só foram
editados por Engels, em 1885 e 1894. Outros textos foram publicados por Karl Kautsky,
como quarto volume, entre 1904 e 1910. Karl Marx morreu em 14 de março de 1883, em
Londres.
Para o conhecimento da obra de Marx é importante estudar os seguintes aspectos:
• A interpretação da realidade a partir das suas bases materiais;
• O trabalho como agente construtor e reconstrutor da realidade;
• A alienação;
• A divisão social do trabalho;• Forças produtivas, técnicas de produção e relações de produção – modos de produção;
• A História como produto da luta de classes, pois só a luta classes resolve a contradição existente
entre as relações de produção e as forças produtivas em um determinado momento histórico;
• As etapas da evolução social;
• A infraestrutura econômica;
• A superestrutura jurídico, política, ética e simbólica;
• O fetichismo da propriedade;
• Marx e o Direito;
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• O socialismo;
• O socialismo pós-marxista;
• O socialismo pós-muro de Berlim;• O socialismo como teoria crítica do capitalismo – autores socialista notáveis;
• A mais-valia;
• As leis da dialética como leis do mudo material e que se o pensamento é dialético é porque os
homens fazem parte do mundo material e o movimento dialético do pensamento expressa o
movimento do mundo real que foi transportado para o cérebro humano;
• Nada existe além da natureza e dos homens, porém só o trabalho e a produção (como unidades
dialéticas) podem explicar o desenvolvimento das sociedades;
• As classes surgiram com o declínio da comuna primitiva, causado pelo desenvolvimento das forças
produtivas, que criaram novo modo de produção, com novas relações de produção; a posse dos
excedentes determinou o surgimento do capital e da divisão da sociedade;
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Capítulo IX
O REFERENCIAL WEBERIANO - a "compreensão”
Nas ciências sociais, é comum pesquisadores diversos terem
análises diferentes do mesmo fenômeno - e não raro, diametralmente diferentes
porque, nos fatos e nas relações sociais, há um componente inte ncional,
subjetivo , não-empírico, que pode escapar, e até mesmo se contrapor, aos
referenciais que fecham seu universo teórico em fórmulas consagradas.
Daí a importância que se deve dar pensamento de Max Weber.
Weber não tem um referencial global, determinista, que circunscreve
um caminho e uma proposta para todas as realidades sociais, como se vê em
Marx ou Hegel: preocupa-se com a ação social , seja pessoal ou coletiva, tentando
compreender-lhe o sentido.
Nossa ação tem sempre o outro como referencial, pois dele depende
a forma como vamos agir, visto que, ninguém vive isolado.
Considerando-se que a ação humana é a expressão de uma
consciência, busca-se pela compreensão as singularidades internas dos
comportamentos e a ótica das intenções que os motivam. Procura o significativo
dentro da singularidade, de um fato social. B u s c a e n c o n t r a r u m a p r o p o s i ç ã o
s i g n i f ic a t i va d e n t r o d e u m a r e l a ç ã o d e c a u s a e e f e i t o , p o i s n ã o b a s t a
d e s c r e v e r a r e l a ç ã o , é p r e c i s o d a r -l h e u m a s i g n i f i c a ç ã o .
Por exemplo:
Em São Paulo, em fins de 1997, houve um movimento dos chamados
“perueiros”, que tomou grandes proporções e provocou sérios desequilíbrios no
sistema viário da cidade. A simples constatação do fato e das suas
conseqüências, não basta para a análise weberiana. È necessário compreender
qual o significado dela - qual o significado de uma ação, à qual deve corresponder
a motivação que leve à uma tomada de consciência humana ou social.
A abordagem compreensiva do fato social desenvolvida por Max
Weber (1864 - 1920), visa apreender e explicitar o sentido da ação social,
individual e coletiva, enquanto realização de uma intenção, e que tem
por base uma moti vação, onde o outro é sempre o pont o de referência .
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No presente caso, provavelmente, as grandes empresas de
transporte urbano, sentindo-se ameaçadas pela concorrência dos perueiros, com
todo seu poder político e econômico, forçaram a Prefeitura a regulamentar deforma drástica a atividade dos mesmos, para diminuir a concorrência deles em
relação aos ônibus. Assim, não basta analisar a lei que regulamenta a atividade
dos perueiros, ou os movimentos de rebelião da classe em reação às proibições,
mas há que se ir mais fundo, compreendendo o verdadeiro sentido da ação social
(edição da lei e conseqüente repressão às atividades dos perueiros), que é a de
proteger o poderoso grupo dos empresários de ônibus.
Dada a complexidade dos fatos sociais, a busca do significado da
intenção como um valor que orienta a ação, leva-nos à consideração da não-
uniformidade dos fatos sociais. Por mais parecidos que sejam dois fatos sociais,
quando se procuram as intenções que os determinam sempre se encontram
diferenças entre eles que constituem a sua singularidade. Não é, por exemplo,
porque Jânio e Collor tinham muito em comum e viveram situações muito
semelhantes, deveríamos julgar um a partir do outro, ou prever a evolução de
uma situação futura a partir do modelo de uma outra ocorrida no passado. Não é
porque todos os candidatos apoiados pelos prefeitos de São Paulo perderam todas
as eleições no município desde 1982, que o próximo candidato do prefeito iria,
necessariamente também perder. E Maluf não perdeu, elegendo Pitta em 1996.
Depois, todos voltaram a perder, inclusive o próprio Maluf.
Há sempre elementos significantes e singulares em cada fato social
considerado. Portanto, há que buscá-los para se entender a significação do que
estamos analisando.. E para dar significado é necessário compreender.
Compreender é buscar o significado , e este, via de regra, nos leva
a considerar cada situação, cada fato social como único - singular - merecendo,
portanto, uma análise personalizada.
Para Weber, a Sociologia está estreitamente ligada à História,
cabendo-lhe estudar em profundidade a individualidade concreta de cadasociedade em sua evolução e em sua manifestação - e o fato histórico é único.
Mas, a Sociologia se diferencia da História, na medida em que nos faz
compreender a realidade social .
Deve-se entender por Sociologia uma ciência que trata de
compreender de modo claro a ação social. Por ação social entende-se uma ação
referente ao comportamento do outro e orientada na direção do outro, segundo o
sentido pensado pelo sujeito que age.
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Chega-se à essa Sociologia compreensiva pelo fato de tentarmos
elucidar o sentido subjetivamente pensado das formas sociais - o único que
podemos compreender. E os tipos de ação social são tipos ideais, conceitos, enão medidas empíricas” (Weber in Cuvillier, 1979, 42).
Em "A ética protestante e o espírito do capitalismo" (1904) Weber
nos dá o modelo para a compreensão do sentido para um fato social.
Estudando o capitalismo, Weber faz duas perguntas fundamentais:
- Por que foi especificamente europeu, ocidental, protestante e colonial
americano esse capitalismo industria l, de criação sem paralelo e de conseqüências
tão abrangentes?
- E por que não ocorreu o mesmo em outro país como a China, Itália,
Índia ou Peru?
E a compreensão do sentido Weber vai buscar na interligação
temporal entre capitalismo e Reforma. Para os pregadores da Reforma
protestante, do Calvinismo ao Puritanismo inglês e colonial americano, o trabalho
árduo expele os impulsos malignos, impuros, hedonistas e sensuais. O tempo, a
maior e mais breve dádiva de Deus não pode ser desperdiçado. Os frutos do
trabalho podem significar a aprovação divina, principalmente se não forem
usufruídos. São como que sinais visíveis na Terra da predestinação para a
salvação na vida eterna.
Trabalhando de forma abnegada, extenuante e ininterrupta, orando
e cultuando de forma asceta uma vida privada sem desperdícios e ostentações, os
puritanos, enquanto reforçavam por essa atitude de vida, a fé em serem eleitos
para a salvação, propiciavam uma enorme acumulação de capital.
Como ética cotidiana, essa teologia acarretou o desenvolvimento
impar do capitalismo em todas as regiões onde foi implantada, segundo a
hipótese de Max Weber.
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A unidade do social é a ação singular e deliberada de um
indivíduo ou de um grupo, dirigida de molde a afetar o
comportamento do outro (indivíduo ou grupo) e, ao mesmo tempo,
sendo orientada pelas ações alheias (os outros é que servem de
referência para a ação social).
Na sua essência, essa ação tem uma intenção compreensível em
certa medida, pois há uma unidade psíquica na humanidade e as
caract erístic as da ação social são o fundamento da organizações das relações
sociais.
Por ação social, Weber entende aquela cujo sentido pensado pelo
sujeito, ou pelos sujeitos, é referida pelo comportamentos dos outros, orientando-
se por ele o seu comportamento. O FATO SOCIAL não pode ser expli cado. como
uma relação simples de causa e efeito, como nas ciências naturais. É preciso
compreendê-lo como fato carregado de sentido.
A partir daí, Weber conclui que o capitalismo é obra de capitalistas,
e não da experiência comum de um tipo especial de sociedade. E capitalistas cuja
ação tinha, imanente, um sentido: trabalhar e só usar moderadamente o fruto do
seu trabalho para, através dessa prática, obter a salvação eterna.
As leis sociais, para Weber, estabelecem relações causais em termos
de regras de probabilidades, segundo as quais, a determinados processos, devem
seguir-se outros. Essas leis referem-se a construções de comportamentos com
sentido e servem para explicar processos particulares. Para que isso seja
possível, Weber estabelece uma metodologia de abordagem sociológica,
defendendo a utilização de tipos ideais, que representam o primeiro nível de
generalização do fenômeno que se deseja compreender.Assim, se desejarmos compreender o fenômeno da exclusão 17 na
realidade social brasileira, devemos construir o tipo ideal do excluído e, a partir
17 A exclusão social se manifesta quando um grupo social considera que um outroé constituído por “pessoas diferentes”, e que, por isso, teriam de ser separadosdos demais, os incluídos. É o caso dos homossexuais, das mulheres emsociedades machistas, dos negros em sociedades racistas, dos deficientes físicosem várias sociedades e dos judeus em sociedades anti-semitas.
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dele, iniciar o estudo, visando compreender o sentido, a intenção cognoscível, o
significado desse fato social.
9.1. A matriz de um referencial baseado na "compreensão".
Não é possível saber se a vida tem um sentido. Entretanto, percebe-se
que os seres vivos tentam sempre viver um pouco mais e um pouco melhor –
inclusive os humanos.
Talvez o sentido da vida esteja na própria vida, no viver do dia-a-dia, da
sobrevivência de cada um. E, para sobreviverem, os seres humanos têm de satisfazer
suas necessidades que, nesse nível, assumem as características mais variadas, por um
misterioso apelo que existe dentro do cérebro juvenil e inacabado da espécie, como afirma
Morin, que a impele para sempre mais, rumando até o desconhecido e o transcendente.
O social faz parte do humano e o humano contém um mistério; logo,
precisamos ir devagar, com muito respeito e cuidado, quando lidamos com o social e
temos a pretensão de interpretá-lo, pois ele é um componente indissociável do humano.
Os seres humanos têm necessidades para serem satisfeitas, que vão desde
as mais elementares, como comer, beber e proteger-se das agressões do ambiente, até
aquelas mais elaboradas como as ligadas ao exercício do poder e de ter prestígio social..
Maslow (1970) chegou a estabelecer uma escala crescente dessas necessidades, das mais
simples às mais complexas, aliás, como já foi estudado neste trabalho.
A satisfação dessas necessidades relaciona-se com o sistema de crenças de
cada ser humano, pois é este que lhe dá diretrizes para a escolha de comportamentos e
de praxes para satisfaze-las. Por sua vez, o sistema de crenças que cada ser humano
possui, relaciona-se com as ideologias que se estabeleceram no meio social onde ele vive.
Estas ideologias, direta ou indiretamente, dependem das estruturas de poder vigentes
(poderes civil e religioso), pois se trata de condicionar socialmente as pessoas e de
padronizar o seu comportamento na vida em sociedade.A partir dessa tríade, necessidades, crenças e ideologias é que formam os
valores dos seres humanos, permitindo-lhes opções de comportamento e estabelecimento
de padrões morais, sempre relacionados com a satisfação de suas necessidades. Diante
da fome um pede, outro rouba; isso tem a ver com necessidade, crença e valores de cada
um.
Tem-se aí um conjunto formado por necessidades, crenças, ideologia e
valores, que condicionam o surgimento das motivações, que são o ponto de partida para
a intenção de agir para a ação, tanto do homem como pessoa como dos grupos
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humanos. Essas motivações se formam impulsionadas pelos elementos citados, mas
também são altamente influenciadas, ou pela tradição, ou pela razão ou pela emoção,
que formam o fundo, o meio de cultura, para que a motivação seja transformada emação.
Até agora não se tratou de nada que fosse exterior aos seres humanos,
apenas ao que existe no seu interior, altamente influenciado pelo meio social onde vivem,
numa demonstração de que a sociedade não é apenas um lugar onde as pessoas vivem,
mas algo muito mais complexo que nelas penetra, modelando suas idéias, emoções,
crenças, moral, comportamento, valores e motivações para a satisfação das suas
necessidades humanas – a sociedade tem um conteúdo subjetivo que se revela por
também estar ela dentro de nós.
Quando os seres humanos estão motivados para agir, entra em ação um
novo componente: a necessidade social de integração, que é própria de toda espécie
social – e somos uma espécie programada geneticamente para ser social, como as
abelhas, os leões ou os chimpanzés. Essa necessidade social de integração leva os seres
humanos a tomar os outros como seu referencial para a ação. Uma ação que se
desenvolva fora dos padrões de comportamento usuais no meio social onde ela é
praticada causa restrições à integração social, que acabam pesando significativamente
no comportamento humano em sociedade, fazendo-o tender quase sempre para a
padronização. Mesmo quando alguém se revolta com a situação implantada socialmente,
como é o caso da distribuição de renda no Brasil atual e pretende modificá-la, embora se
disponha a pagar um preço pelo desvio da padronização, no fundo almeja uma nova
forma de integração, mas sempre de integração, pois ninguém que seja mentalmente
sadio luta por uma sociedade anômica (sem regras).
Enfim, como produto de todo esse conjunto de elementos que penetram no
indivíduo, temos a sua ação, esta sim agora visível e carregada de sentido e com uma
significação .
Para a Sociologia interessam as ações que têm repercussão social, tanto
individuais (a ação de um maníaco assassino em um cinema) como coletivas, quandopessoas se juntam deliberada ou ocasionalmente (como numa greve, numa eleição ou
numa torcida organizada), para participar de ações que configuram um fato social. Este
só será considerado pela Sociologia se tiver interferência, ocasional ou permanente,
na dinâmica da sociedade.
O fato social, entretanto, ocorre no ambiente social, que tem elementos
constituintes, próprios da sua natureza, embora eventualmente diferentes conforme o
tempo ou o lugar onde sejam considerados. Todas as sociedades têm uma constituição
universal onde se encontram elementos como:
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• Estrutura e Funcionamento;
• Tendências de comportamentos coletivos – “leis sociais”;
• Conflito entre grupos, organizações e classes;• Luta pelo poder;
• Estratificação;
• Ciclos históricos;
• etc.
O fato social (produzido pela ação social) influi e é influenciado
simultaneamente pelos elementos constituintes da sociedade, mantendo uma relação de
alta complexidade – por isso todos os fatos sociais são altamente complexos,
resistindo às análises puramente lineares ou opinativas.
Diante do fato social e da necessidade de interpretá-lo surgem três
clássicas vertentes referenciais t eóricas:
• A explicação do fato a partir das suas exterioridades; daquilo que dele se constata, se
experimenta e se pode até medir e quantificar – é a vertente do positivismo.
• A submissão do fato à interpretação através de um referencial teórico, que funciona
como um continente logicamente organizado de idéias que o enquadrarão em suas
categorias – é a vertente das teorias que se originaram de grandes pensadores como
Marx, Hegel, Durkheim e tantos outros.
• A compreensão do sentido e do significado da ação social, que é geradora do fatosocial, visto sempre na perspectiva da sua singularidade – é a vertente que decorre do
pensamento de Max Weber.
9.2. A Compreensão.
A compreensão também é um referencial teórico como os outros. Porém, é
passível de se tornar mais aberto à inclusão de elementos oriundos inclusive dos outros
referenciais. Ele é compreensivo (e não explicativo) porque leva em consideração
também os elementos não mensuráveis e não quantificáveis presentes nos fatos
sociais.
Tenta-se, para compreender o sentido e o significado da ação social
geradora do fato social, a reconstrução dos elementos constituintes dele, como crenças,
ideologia, necessidades, motivação e a sua exteriorização num meio em que existem
determinantes estruturais, conflituais, políticos, etc.
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Essa compreensão leva sempre em consideração que cada fato é singular,
embora possa ser parecido com outros; e é dotado de alta complexidade, o que o leva
sempre à uma reavaliação.A compreensão parece ser, dentro da complexidade do mundo atual, da
alta aceleração histórica com que as modificações ocorrem e dos componentes de
incerteza que cercam todas as ideologias, doutrinas e teorias, que tentam encaixar o
mundo dentro delas, um referencial adequado à análise sociológica, principalmente
quando aplicada à Sociologia Jurídica ou à Sociologia da Educação, pois possibilita a
análise de um mesmo fato, e da ação geradora deste, sob uma série de ângulos, o que
permite uma abordagem mais ampla. Mas ele caminha sempre pela Sociologia
Ensaísta e tem os inconvenientes dela – (ver Introdução deste texto).
Pelo referencial explicativo, positivista, que se atém ao que os fatos
demonstram, jamais se poderá reconhecer o que de implícito existe por trás da lei ou do
fato social. Não basta conhecê-los como causa e saber do seu efeito; é preciso saber o seu
real significado para os grupos organizados que pugnaram pela sua consecussão e o
verdadeiro sentido, a curto, médio e longo prazos, que a mesma se dispõe a dar ao
segmento social atingido ou beneficiado por eles.
Nada impede que, ao usar a compreensão como referencial para a análise
dos fatos sociais, se quantifique o que possa ser quantificado, se experimente o que puder
ser experimentado, se leve em consideração as relações estruturais, funcionais e o jogo
do poder, que nos foi ensinado por outros referenciais. O importante, como diz Edgar
Morin, “é juntar o que deve estar junto” num determinado espaço e num determinado
tempo... e tentar compreendê-lo em seu conjunto, usando a razão, a experimentação e
até a intuição. E, principalmente, considerar nossa constatação como em permanente
elaboração, sempre aberta para a percepção de novas variáveis que venham a
redirecionar o que havíamos compreendido.
Abertura e humildade devem ser as principais características do cientista
social. Abertura para aprender o novo que surge ou se manifesta e humildade para
reconhecer o caráter provisório de todo conhecimento, que inclui, inclusive, apossibilidade de erro.
O cientista social é alguém comprometido com a busca da verdade, embora
tenha de reconhecer que nem sempre é possível ter certeza dela.
A seguir apresenta-se um quadro esquemático que funciona como matriz
referencial para o estudo dos fatos sociais e jurídicos ao longo de todo o curso. Sua
elaboração apenas partiu do espírito weberiano, incorporando outros conteúdos, alheios a
ele, mas necessários para o desenvolvimento normal de um curso de Sociologia. O seu
conhecimento é fundamental para que se possam realizar as outras etapas do curso.
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MAX WEBER (1864 – 1920)
As teorias de Weber não se
identificam com nenhuma corrente de
pensamento de sua época nem se
encontram perfeitamente sistematizadas
numa grande obra. Seu pensamento, no
entanto, aparece como uma verdadeira
síntese da tradição científica e filosófica da
Alemanha moderna, pois resgata o melhor
da metodologia e dos conceitos já
formulados para propor uma ciência social em que os múltiplos fatores se encontram
relacionados e se explicam reciprocamente.
Max Weber nasceu em Erfurt, Prússia, em 21 de abril de 1864. Filho de um grande
industrial, estudou nas universidades de Heidelberg, Berlim e Göttingen. O prestígio obtido graças a
seus primeiros escritos valeu-lhe, em 1895, a nomeação como professor de economia política na
Universidade de Freiburg e, no ano seguinte, em Heidelberg. Uma doença nervosa obrigou-o a
abandonar o ensino e o manteve inativo entre 1898 e 1903.
A partir de 1904, Weber dirigiu a influente revista Archiv für
Sozialwissenschaft und Sozialpolitik (Arquivo de Sociologia e de Política Social), na qual
publicou diversos ensaios que definiam sua concepção do método sociológico como
reflexão sobre os modelos básicos, ou "idéias-tipo", que regem os comportamentos
sociais. Foi nessa revista que publicou também sua obra mais conhecida e polêmica, Die
protestantische Ethik und der Geist des Kapitalismus (1904-1905; A ética protestante e
o espírito do capitalismo), que vincula o nascimento do capitalismo à doutrina
calvinista da predestinação e à conseqüente interpretação do êxito material como
garantia da graça divina.
Essa tese seria ampliada mais tarde em Die Wirtschaftsethik der Weltreligionen (1915;A ética econômica das religiões universais), conformando o primeiro estudo interdisciplinar na história
das ciências sociais, em que Weber sintetiza pesquisas de história das religiões e história econômica.
De volta ao ensino universitário em 1918, Weber participou, depois de terminada a
primeira guerra mundial, da elaboração da constituição da república de Weimar.
A intensa atividade pública de seus últimos anos não o impediu de escrever. Entre os
seus textos de publicação póstuma destacam-se os que foram reunidos em Gesammelte Aufsätze zur
Revolução Científica: séc. XV e XVIRevolução Industrial: 1750 – 1850InglaterraRevolução Americana : 1776Revolução Francesa: 1789Auguste Comte: 1798 – 1857Charles Darwin: 1809 - 1882Karl Marx: 1818 – 1883Herbert Spencer: 1820 – 1903Manifesto Comunista: 1848Émile Durkheim: 1858 – 1917Max Weber: 1864 - 1920
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Religionssoziologie (1921; Estudos reunidos sobre a sociologia das religiões) e, sobretudo, em
Wirtschaft und Gesellschaft (1922; Economia e sociedade). Max Weber morreu em Munique, em 14 de
junhoA Alemanha se unifica e se organiza como um Estado apenas em 1871, o que atrasou
seu ingresso na corrida industrial e imperialista das nações européias da Segunda metade do século
XIX. Em tais condições desenvolveu-se o pensamento histórico e antropológico, além da tradição do
idealismo, do romantismo.
Enquanto na França e na Inglaterra, sedes do pensamento burguês (capitalista) e da Revolução
Industrial a tendência foi para o pensamento positivista, tentando criar ciências sociais baseadas nas
semelhanças e na universalidade, o pensamento alemão (sobretudo o de Max Weber, Tarde e Tonnies)
tendeu para se basear nas diferenças e na singularidade.
Para o conhecimento da obra de Weber é importante estudar os seguintes aspectos:
• A ética protestante e o espírito do capitalismo;
• A burocracia;
• Os tipos ideais como hipóteses que sintetiza aquilo que é essencial no objeto estudado;
• A ação social e seu sentido;
• A Sociologia estudada na perspectiva da diversidade: a singularidade dos fatos sociais;
• A importância da História na análise sociológica;
• O método compreensivo como esforço interpretativo do passado e de sua repercussão nas
características peculiares da sociedade contemporânea;
• A ação social como conduta humana dotada de sentido (justificativa subjetivamente elaborada); O
papel da motivação na elaboração do sentido da ação social; esta, é dada pela tradição, pela emoção
ou pela razão. O sentido, entretanto, é social porque leva sempre em conta a resposta ou reação de
outros indivíduos. A ação social gera efeitos sobe a realidade em que ocorre;
• A relação social existe quando os agentes envolvidos têm o mesmo sentido que é compartilhado em
suas ações;
• Os acontecimentos que integram o social têm origem nos indivíduos;
• Max Weber e o Direito.
• Embora os acontecimentos sociais possam, ser quantificáveis, a análise docsoscial envolve sempre
uma questão de qualidade, de interpretação, subjetividade e compreensão;
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ANEXO III
Considerações importantes para a análise sociológica.
Relembrando o que foi colocado na página 2, a Sociologia temum objeto de estudo observável fatualmente, -- o ser humano e suasrelações -- fazendo parte de uma realidade denominada sociedade,concebida sempre como um sistema organizado que, para sercientificamente conhecida, depende de pesquisa empírica e envolvetentativas de formular teorias e generalizações que darão sentido aos fatos.Como o objeto de estudo da Sociologia é extremamente complexo dificilmente se criará uma teoria – um referencial - que o possa explicarsob todos os seus aspectos. Assim, como nos ensina Edgar Morin, aosociólogo cabe saber juntar o que deve estar junto num determinado
espaço e num determinado tempo, para explicar o fato social que sedeseja.
Para a compreensão da dinâmica social (âmbito da Sociologia)temos de ter uma atenção especial para enfrentar o seu extremo grau decomplexidade, pois não há fatos sociais simples - todos sãoextremamente complexos.
Assim, como afirma Edgar Morin, é praticamente impossívelcriar-se um referencial teórico global, que abarque a totalidade dosfenômenos sociais.
Aqui foram apresentados 6 referenciais, para instrumentar osleitores para a abordagem relativamente segura dos fatos sociais.
• Positivismo: enfoca os aspectos mensuráveis ouverificáveis empiricamente.
• marxismo: aborda o aspecto conflitual dos fatos sociais edetém-se numa crítica do sistema capitalista.
• Hegel: enfoca a construção da realidade pelo pensamento eprincipalmente a construção da História pela Idéia.
• estruturo-funcionalismo: aborda os aspectos relativos àestrutura e ao funcionamento social.
• referencial weberiano: que tenta compreender a motivaçãoque têm as pessoas participantes do fenômeno social,
tentando captar o sentido e o significado de sua ação.• Teoria da Cibernética Social: referencial que tenta captar
a organização social e sua dinâmica como um todointegrado.
Com elementos oferecidos por esses referenciais acredita-se que sejapossível fazer análise e interpretação de fatos sociais dentro de parâmetrosque não sejam meramente opinativos. São subsídios para a SociologiaEnsaísta. Para a Sociologia Científ ica, além do referencial é necessário oconhecimento de Métodos Científicos aplicáveis às Ciências Sociais.
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Evo lução
sóci o -po l í t i co -soci a l
d o Sécu l o XX
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Capítulo X
O século XX
Marx e seus sucessores acreditavam que as classes sociais
constituiriam realidades mais importantes do que as nações, aliás, como já foi dito
na página 87. Achavam que o fator econômico determinava o que o povo pensava e aquilo
em que acreditava.
Em 1914, entretanto, um operário alemão acreditava que tivesse mais
pontos em comum com um industrial alemão do que com um operário francês. Isso
também ocorreria em relação aos operários britânicos ou americanos. E isso fica evidente,
hoje, com os movimentos nacionalistas e separatistas que desafiam o mundo globalizado,
homogeneizado.
Há raízes antropológicas para justificar a predominância do sentimento
nacional sobre a consciência de classe. A realidade não é como a queremos mas como ela
é. E muitos de anos de civilização não destruíram o sentimento nacionalista, como a
recente história da Europa está demonstrando com o ressurgimento de nações e de
grupos étnicos de há muito subjugados. Talvez tenha sido o nacionalismo a principal
força deflagradora de ações políticas no século XX. E deflagradora dessas ações, em
função da fusão de interesses infraestruturais econômicos com componentes étnicos,pertencentes ao inconsciente coletivo dos povos.
Enquanto, na atualidade, pouco se conseguiu em termos de uniãointernacional de segmentos do proletariado, mesmo na Europa Ocidental, quem faz
essa ligação são as organizações formais capitalistas, hoje transformadas em poderosas
transnacionais atuando até no coração das antigas repúblicas socialistas, mas adaptadas
e aculturadas nacionalmente.
Daí para frente a explicação da evolução da História por um único elemento
é bastante simplificadora, atingindo níveis de absoluta incompatibilidade nos complexos
tempos atuais.
Nacionalismos existentes noinconsciente coletivo dospovos
CONDIÇÕES ECONÔMICAS infraestruturais
TRANSFORMAÇÕESDO SÉCULO XX
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O conflito vai além das classes, está dentro delas, superando-as num
intrincado conjunto de jogos ENVOLVENDO GRUPOS E ORGANIZAÇÕES (FORMAIS E
INFORMAIS) fazendo com que os conflitos assumam aspectos multifacetares. É umconflito horizontal e vertical tanto dentro de cada segmento étnico, nacional ou esfera
geopolítica, antepondo uma extraordinária gama de interesses de toda ordem,
representados pelos mais diversos grupos e organizações. Enquanto todos assistimos ao
desmoronamento do mundo comunista e ao esforço por estabelecer-se uma releitura que
justifique a adaptação do espírito contido nas idéias socialistas à realidade
contemporânea, estamos vendo também o fim da divisão da Europa estabelecida em Yalta
em 194518, após a segunda Guerra Mundial. E, em seu lugar, começamos a presenciar a
alteração da geografia política européia a partir do que se estabeleceu em Versailhes19 em
1919, após a Primeira Guerra Mundial.
10. 1. O SÉCULO XX , os nacionalismos e a v itória do capitalismo.
Como se pode verificar nos episódios da Guerra do Ópio20 (1839-1860) e do
Bill Aberdeen21, (1845) além de outros, o mundo do século XIX – t inha no imperialismo
britânico um elemento de grande importância, que foi reforçado pela industrialização e
que cresceu até a 2ª Guerra Mundial, quando foi substituído pelo americano e mais
modestamente pelo russo, por um período em torno de 70 anos. Hoje vive-se a
hegemonia do imperialismo americano, recém afirmado no episódio do Balcãs e nas
invasões do Afeganistão e do Iraque.
O século XX recebeu do século XIX a herança da proposta socialista
que antepunha ao nacionalismo tradicional, o internacionalismo (ou supranacional) das
lutas proletárias. Marx e seus sucessores, inclusive Lenin, acreditavam que as classes
constituíam realidades mais importantes que as nações, onde o fator econômico (a
exploração dos trabalhadores em todas as nações) determinaria o pensamento do povo,
unindo os trabalhadores das nações e estabelecendo o rompimento das fronteirasnacionais (Lukacs, 1993).
18 Conferência realizada ao final da 2ª Guerra Mundial, em 1945, em que os vencedores, EUA, França, Inglaterra eURSS, redesenharam o mapa da Europa, inclusive com a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação.19 Tratado de Paz que seguiu à 1ª Guerra Mundial.20 1839-1860 – China e Reino Unido envolvem-se em dois conflitos, conhecidos como Guerra do Ópio . ACompanhia Britânica das Índias Orientais mantém intenso comércio com os chineses, comprando chá evendendo o ópio trazido da Índia. A decisão do governo imperial chinês de suspender a importação dessasubstância leva ao primeiro confronto (1839-1842). Vencida, a China é forçada a pagar indenização, abrir cincoportos para o comércio e ceder a ilha de Hong Kong aos britânicos.
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O Manifesto do Partido Comunista que Karl Marx e Friedrich Engels
publicam em 1848 passara a ser a referência para as lutas operárias de libertação diante
da Questão Social, face à exploração a que eram submetidos os trabalhadores nosperíodos que se seguiram à implantação da 1ª Revolução Industrial. No manifesto, a
História era concebida como o resultado da luta entre as classes sociais, fazendo
uma conclamação ao proletariado de todo o mundo para que se unisse afim de tomar o
poder através de uma revolução.
Com o passar do tempo, entretanto, verificou-se a supremacia do
nacionalismo sobre o internacionalismo , inclusive com o ressurgimento político de
etnias que estavam encobertas pelo manto de países como a Iugoslávia, a Espanha, a
Turquia, o Iraque, a antiga União Soviética, a Irlanda e até o superdesenvolvido Canadá.
A questão das etnias e das nacionalidades, exacerbada pelo caráter
imperialista das nações industrializadas, levaram ao estabelecimento de conflitos,
guerras, alianças no espaço geopolítico europeu, mas que se refletiramm em todas
as partes do mundo. O expansionismo russo nos Bálcãs e na região entre os mares
Negro e Mediterrâneo durante a Guerra da Criméia22, os interesses antagônicos entre os
estados do sul dos EUA (latifundiários, aristocratas e escravagistas) e os do norte
(industrializados e abolicionistas) provocando a Guerra Civil Americana (1861-1865), bem
como os acontecimentos de 1870 e 1871 que levaram, pela guerra, às unidades italiana e
alemã, são exemplos do que se preparava como conflitos de interesses que levariam a
conflitos nacionais e não supranacionais como previra Marx .
A Conferência de Berlim (1884-1885), em que se deu a partilha a África
entre as potências européias, a guerra entre Japão e China (1894-1895) pelo controle
da Coréia, que ocupa posição estratégica e possui grandes reservas minerais de carvão e
ferro, as ambições norte-americanas no mar do Caribe e no oceano Pacífico, então sob
domínio espanhol, que levaram à Guerra Hispano-Americana (1898), onde a derrota
espanhola assinalaria o início do imperialismo norte -americano no mundo, são outros
exemplos da fúria por se apoderar de mercados e territórios estratégicos sem o
mínimo escorço moral, que existia na época.
21 1845 – O Parlamento britânico aprova a lei Bill Aberdeen, que praticamente extermina o tráfico negreiro nomundo. A lei concede à Marinha de Guerra inglesa o direito de aprisionar e afundar qualquer navio negreiro nooceano Atlântico.22 1853-1856 – Reino Unido, França, Áustria, Sardenha (Itália) e Império Turco-Otomano combatem oexpansionismo russo nos Bálcãs e na região entre os mares Negro e Mediterrâneo durante a Guerra da Criméia.O conflito se desenrola na península da Criméia, no sul da Rússia, e nos Bálcãs. Vencida, a Rússia devolve o sulda Bessarábia (atual Moldávia) e a embocadura do rio Danúbio para os otomanos.
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,
Guerra do Ópio – Bill Aberdeen 1839-1860 Guerra da Criméia 1853-1856
Guerra Civil Americana 1861-1865 Guerras pelas Unidades italiana e alemã 1870 e1871
Partilha a África Conferência de Berlim 1884-1885 Guerra entre Japão e China 1894-1895
Guerra Hispano-Americana 1898
Guerra Russo- Japonesa 1904-1905
Guerras Balcânicas (países balc. X Turquia) 1912-1913
Disputa entre o Império Austro-Húngaro e Sérviaesto im da 1ª Guerra Mundial
In íc io do sécu lo XX 2ª Revolução Industrial
USA – H. Ford - 1920
REVOLUÇÃORUSSA - 1917
Emergência da Alemanha comomaior potência continental européia
1ª Guerra Mundial 1914 – 1918)
Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Turquia)
X
Tríplice Entente (Fran a, Reino Unido e Rússia)
Nações industrializadasImperialismoEtnias e nacionalidadesNovas idéias, moral, etc
PRIMEIRA REVOLUÇÃOINDUSTRIAL 1750 – 1850
INGLATERRA FRANÇA EUROPA
USA / RÚSSIA, JAPÃO etcREVOLUÇÃO
FRANCESA 1789
Período Napoleônico
Fim do Ancien Régime
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Se no Ocidente, Inglaterra, Países Europeus Continentais e Estados Unidos
promoviam seu expansionismo imperialista, no Oriente, os mesmo espírito, também
expansionista, agora japonês e russo, caracteriza o choque no extremo Oriente,provocando a guerra entre ambos (1904-1905), possibilitando à Rússia, em 1900, a
ocupação da região da Manchúria (nordeste da China) e o começo da sua penetração no
norte da Coréia. Os japoneses reagiriam em 1904 e derrotariam os russos num ataque-
surpresa. Com a vitória – a primeira de um exército asiático sobre uma potência européia,
o Japão ascenderia à condição de potência mundial , o que abriria caminho, também,
para suas já estabelecidas ambições imperialistas.
As Guerras Balcânicas (1912-1913) envolvendo países da península e a
Turquia – praticamente encerram a ocupação turco-otomana nos Bálcãs. Vitoriosa, a
Sérvia duplica seu território, anexando partes da Macedônia e de Montenegro. Mas o país
fica sem saída para o mar Adriático e reafirma suas ambições sobre os territórios a oeste
da península, sob domínio do Império Áustro-Húngaro. O agravamento das tensões na
região ajudam a compor o cenário que resulta na 1ª Guerra Mundial (1914-1918).
O choque de interesses imperialistas das nações européias aliado a anseios
nacionalistas provocam a 1ª Guerra Mundial. O conflito opõe a Tríplice Aliança
PARA ENTENDER O CAPITALISMO NA PÓS-MODERNIDADE
CAPITAL MERCADO
ESTADO
Para compreender a pós-modernidade há que se entender essa relação esituá-la no contexto da evolução do modelo capitalista de produção, hojehegemônico no planeta.
O processo histórico não linear, que, nas sociedades capitalistasavançadas desenvolveu-se apresenta 4 fases:
1ª.Hipertrofia total do mercado: capitalismo liberal – 1ª Rev. Industrial.2ª. Maior equilíbrio entre Mercado e Estado, sob pressão daComunidade: capitalismo organizado do Estado-Providência. Conquistada cidadania social pela classe operária. Do início da 1ª até depois da 2ªGuerra Mundial ( entre os anos 70 e 80)
3ª. Capitalismo desorganizado: mundial e neoliberal: reegemonizaçãodo mercado.
4ª. Busca de um modelo de “ 3ª Via” .
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(Alemanha, Império Austro-Húngaro e Turquia) e a Tríplice Entente (França, Inglaterra e
Rússia), vencedora da guerra. O estopim do confronto é uma disputa entre o Império
Austro-Húngaro e a Sérvia (aliada dos russos) na Península Balcânica. Mais de 8 milhõesde soldados e mais de 6,5 milhões de civis morrem no conflito.
Do ponto de vista tecnológico, desenvolve-se, agora nos USA a 2ª
Revolução Industrial, que contribuiria para a exacerbação dos conflitos por mercados e
pelo controle de fornecedores de matérias primas.
Em 1909 o norte-americano Henry Ford introduz em sua fábrica de
automóveis a linha de montagem, com o objetivo de racionalizar e aumentar a produção.
O novo processo produtivo – chamado de fordismo – exige a construção de grandes
fábricas e forte concentração financeira, levando à formação das sociedades anônimas.
Com esse processo desencadeia-se uma 2ª Revolução Industrial, agora
com sede nos Estados Unidos, que levaria não só a expressivas mudanças no processo
produtivo, como a criação de estratégias de expansão da produção que introduziriam
mais tarde a publicidade comercial em larga escala e o desenvolvimento de estratégias do
que hoje se denomina “marketing”.
Tomando-se como ponto de partida de um ciclo histórico a 1ª Revolução
Industrial de 1750 – 1850, teremos como ponto de finalização a 1ª Guerra Mundial de
1914 – 1918. O choque de interesses imperialistas das nações européias, aliado aoespírito nacionalista emergente, é o principal motivo do conflito.
No começo do século XX, a Alemanha se tornara o país mais poderoso
da Europa Continental após a Guerra Franco-Prussiana (1870)23 e a arrancada
23 1870-1871 – Guerra Franco-Prussiana marca o fim da hegemonia francesa na Europa. Reagindo à ambiçãode Napoleão III de conquistar a Prússia, o chanceler prussiano Otto von Bismarck derrota o Exército francês em1871 e anexa a Alsácia e a Lorena. No mesmo ano, Bismarck efetiva a unificação alemã, integrando os estadosgermânicos no II Reich (o primeiro foi o Sacro Império Romano-Germânico, instalado por Otto em 962). O
O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO EMERGENTE DA PRIMEIRAREVOLUÇÃO INDUSTRIAL ENVOLVE, PRINCIPALMENTE DURKHÉIM,MARX E WEBER e desenvolve a promessa de que a CLASSE OPERÁRIAseria PORTADORA da REVOLUÇÃO. Isso espalhou o medo entre as elites
da Europa e foi determinante para as conquistas sociais do operariado, doestabelecimento do Welfare State, do Plano Marshall e do surgimento departidos socialistas democráticos e sociais democráticos. O Estado do BemEstar produziu progressos e tirou da classe operária o caráterrevolucionário, fato denunciado pelo movimento de intelectuais eestudantes em Paris em 1968.Hipertrofia tot al do mercado: capitalismo liberal – 1ª Rev. Industrial.
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industrial propiciada pela unificação do país ocorrida em 1871. A nova potência
ameaçava os interesses econômicos do Reino Unido e os político-militares da Rússia e da
França. As diferenças entre França e Alemanha são acirradas levando a disputa até àÁfrica.
Durante a 1ª Guerra Mundial, um acontecimento marcante abala as
estruturas políticas, sociais e econômicas do mundo, com significativas repercussões no
pensamento humano dos anos que a ele se seguiriam: a Revolução Socialista Russa de
1917.
A crise econômica e política do Império Russo, agravada no início do século
XX, estimulava a propagação de idéias contra o regime czarista, abolido durante uma
revolução que conduz o proletariado ao poder, conhecida como Revolução Russa.
O movimento começa com a Revolução de Fevereiro, que força a abdicação
do czar e coloca no governo uma coalizão reunindo a burguesia liberal e os socialistas
moderados (mencheviques). No entanto, os mencheviques perdem apoio ao manter a
Rússia na 1ª Guerra Mundial. No dia 25 de outubro de 1917, a oposição socialista
radical (bolcheviques) promove uma insurreição sob o comando de Lênin, força a
abdicação do czar e instaura a ditadura do proletariado, surgindo, assim, a fase
socialista.
O novo dirigente dá aos camponeses o direito de explorar a terra e transfere
o controle das fábricas aos operários. Institui a Nova Política Econômica (NEP), que
permite a criação de empresas privadas, sob a supervisão do Estado. O governo
bolchevique só se consolida após quatro anos de guerra civil. Em 1922, nasce a União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a primeira nação socialista do mundo,
reunindo os territórios que pertenciam ao Império Russo.
Os bolcheviques iniciam a mudança do sistema político e econômico,
concedendo aos camponeses o direito exclusivo de exploração das terras. Transferem o
controle das fábricas aos operários, expropriam as indústrias e nacionalizam os bancos.
Moscou passa a ser a capital do país, em substituição a Petrogrado. Em março de 1918, o
governo assina a paz em separado com a Alemanha, aceitando entregar a Polônia, aUcrânia e a Finlândia. Sofre em seguida reação armada de ampla frente que reúne de
capitalistas a mencheviques. Os contra-revolucionários, chamados Brancos, recebem
ajuda do Reino Unido, da França, do Japão e, mais tarde, da Polônia.
Iniciava-se a primeira experiência socialista numa Europa que tentava
curar as feridas de uma conflagração que deixara tanta destruição e morte.
desenvolvimento econômico e social dos estados germânicos no século XIX estimula os ideais de unificação, àmedida que garante condições para o avanço militar.
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A experiência socialista na Rússia, embora ideologicamente
internacionalista acabou por se tornar uma experiência nacional. De início pelo
isolamento russo em relação ao resto da Europa, mas também quando, posteriormente, osocialismo se alastra pelo Leste Europeu, não em virtude de revoluções proletárias
internacionais, mas pela imposição dos exércitos soviético vencedores na 2ª Guerra
Mundial.
Além do fator econômico, foi o nacionalismo, que impulsionou a luta
entre as nações no século XX, seja através de guerras justas ou injustas, de acordos
transparentes ou nebulosos ou de tratados negociados ou impostos, tanto assim que
terminou, não com a hegemonia de uma classe, como previra Marx, mas de uma
nação: os Estados Unidos.
As nações vencedoras da 1ª Guerra Mundial estabeleceram o Tratado de
Versalhes, que determina os termos de paz com a Alemanha, impondo a esse país severas
penas. Obrigada a ratificá-lo, a Alemanha perde todas as colônias, entrega a Alsácia e a
Lorena à França, fica proibida de manter marinha e aeronáutica e limita seu exército a
100 mil homens. É forçada, ainda, a pagar uma pesada indenização aos vencedores. As
demais potências derrotadas assinam acordos em separado. Pelos tratados de Saint-
Germain e Trianon, o Império Austro-Húngaro é desmembrado e surgem a Hungria, a
Tchecoslováquia, a Polônia e a Iugoslávia. A Áustria se tornou um pequeno Estado,
sem poder significativo. A paz com o Império Turco-Otomano é selada no ano seguinte.
O Tratado de Sèvres partilha territórios do Império Turco-Otomano no
Oriente Médio entre as potências vencedoras da 1ª Guerra Mundial. O Iraque, a
Transjordânia (atual Jordânia) e a Palestina se tornam protetorados britânicos,
enquanto a Síria e o Líbano passam para o mandato francês. Três anos depois, Mustafa
Kemal – líder militar que adota o codinome Atatürk, ou "pai dos turcos" - funda a
República Turca nos domínios que restaram do Império Turco-Otomano.
O irrefreável expansionismo capitalista redesenhara a Europa e
espalhara suas conseqüências pelo resto do mundo. Enquanto as nações capitalistas
colhiam os frutos da guerra, a utopia de Marx e Engels tornara-se realidade com a
implantação do primeiro estado socialista no planeta e a ameaça de expansão dos ideais
revolucionários no seu entorno, pela proliferação de partidos de esquerda por toda a
Europa capitalista no pós-guerra de 1918.
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• 1922 – Após organizar a Marcha sobre Roma, Benito Mussolini torna-se
primeiro-ministro da Itália a convite do rei Vittòrio Emanuèle III. O dirigente
implanta o fascismo, regime político totalitário, nacionalista e corporativo.
• 1924-1953 – Stálin torna-se secretário-geral do Partido Comunista da URSS
(PCUS) e assume o comando do país. Institui um regime totalitário, conhecido
como stalinismo. Controla o Estado com poderes ditatoriais e espalha o terror:
expulsa do partido e do Exército os inimigos declarados ou potenciais. Milhões são
presos, executados ou deportados para campos de trabalho na Sibéria. No plano
econômico, implanta uma nova política econômica (gosplan), baseada em planos
qüinqüenais. Força a industrialização de base e a coletivização de terras.
• 1929 – Quebra da Bolsa de Nova York. A expansão do crédito bancário e a
especulação financeira nos Estados Unidos (EUA) gera grave crise econômica, que
atinge o limite com a quebra da Bolsa de Nova York. A crise ganha dimensãomundial com a diminuição do crédito norte-americano a outros países e a elevação
das tarifas alfandegárias dos EUA, que provocam refluxo no comércio exterior,
tornando-se marco de uma grave crise econômica que mergulha o país em uma
séria depressão.com repercussão mundial.
• 1930 - Seguido por milhares de pessoas, Mahatma Gandhi conduz a Marcha para
o Mar: uma caminhada de mais de 320 quilômetros para protestar contra os
impostos britânicos sobre o sal. Principal líder do movimento pela independência
da Índia, Gandhi prega a resistência pacífica, ou seja, a não-violência como forma
O pós-guerra não seria um período de paz, mas de transformações
políticas, econômicas, sociais e ideológicas que preparariam a 2ª Guerra Mundial
(1939 – 1945). Seriam mais de 20 anos de graves preocupações e de ditaduras:
Mussolini, Quebra da Bolsa de Nova York, socialismo, Stalin, Hitler, Ghandi,
expansionismo alemão, Guerra Civil Espanhola, New Deal1, Welfare State, crise
alemã, a exacerbação dos nacionalismos, novos meios de comunicação,
indústria cultural, ameaça de revoluções comunistas em todo solo europeu.
Escola de Frankfurt fundada em 1924, reunindo intelectuais alemães de origem
marxista, e que adotaram uma atitude crítica diante da nova configuração da
sociedade de seu tempo, onde surgiam questões novas que precisavam serdiscutidas. Início das preocupações da sociedade capitalista com a ameaça
comunista advinda da Rússia. Início do Welfare State. Vivia-se um período de
Hipertrofia do Estado.
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de luta. É preso diversas vezes por organizar campanhas de desobediência civil,
que incluem o boicote aos produtos britânicos e a recusa ao pagamento de
tributos.• 1932 – António de Oliveira Salazar torna-se primeiro-ministro de Portugal. Salazar
institui o Estado Novo, inspirado no fascismo italiano.
• 1933 – Hitler torna-se chanceler da Alemanha, assume o papel de führer (guia
do povo alemão) e instaura uma ditadura dominada pelo partido nazista. A
recessão vivida pela Alemanha no pós-guerra cria condições favoráveis ao
surgimento e à expansão do nazismo. Nacionalista, Hitler defende o racismo e a
superioridade da raça ariana; nega as instituições da democracia liberal e a
revolução socialista; e luta pelo expansionismo alemão. Transformando comícios
e manifestações de massa em espetáculos e utilizando-se dos meios de
comunicação para divulgar seus ideais de ordem e revanchismo, o partido nazista
ganha rapidamente o apoio da população, castigada pela crise e pelo desemprego.
• 1936-1939 – Guerra Civil Espanhola. Liderados pelo general Francisco Franco,
rebeldes militares da guarnição de Melilla, no Marrocos espanhol, voltam-se contra
o governo republicano e tomam as cidades de Sevilha e Cádiz, iniciando a Guerra
Civil Espanhola, conflito que deixa 1 milhão de mortos. O combate se alastra pelo
país, opondo republicanos e nacionalistas (franquistas). Do lado republicano lutam
operários, camponeses, setores da classe média e cerca de 25 mil voluntários de 53países, organizados nas Brigadas Internacionais. A União Soviética (URSS) dá
auxílio financeiro limitado aos militantes comunistas, dividindo as forças
republicanas. Com o apoio das Forças Armadas (exceto Aeronáutica), da Igreja
Católica e a ajuda da Alemanha e da Itália - que tinham afinidades ideológicas com
a direita espanhola - Franco vence a guerra em 1939 e instaura a ditadura, que se
estende até sua morte, em 1975. A Guerra Civil Espanhola tornara-se o campo de
treinamento para a 2ª Guerra Mundial
• 1936 – Início do expansionismo alemão com a invasão da Renânia, região do
oeste da Alemanha, desmilitarizada pelo Tratado de Versalhes.
• New Deal24 – No auge da crise, em 1933, Franklin Roosevelt assume a Presidência
dos EUA. Ele inicia um programa de reformas econômicas e sociais conhecido
como New Deal (Novo Acordo), influenciado pelas idéias do economista inglês John
Keynes. Roosevelt cria mecanismos de controle de crédito e um banco para
24 New Deal – Programa de reformas econômicas e sociais conhecido como New Deal (Novo Acordo), influenciadopelas idéias do economista inglês John Keynes. Roosevelt cria mecanismos de controle de crédito e um bancopara financiar as exportações. Entre outras medidas, fixa salários mínimos, limita a jornada de trabalho eamplia o sistema de previdência social. Em 1937, o número de desempregados havia sido reduzido quase àmetade, a renda nacional crescido 70% e a produção industrial, 64%.
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financiar as exportações. Entre outras medidas, fixa salários mínimos, limita a
jornada de trabalho e amplia o sistema de previdência social. Em 1937, o número
de desempregados havia sido reduzido quase à metade, a renda nacional crescido70% e a produção industrial, 64%.
10. 2. Reflexos da crise econômica
Desde o fim da I Guerra Mundial, os EUA são os maiores credores e
financiadores das nações capitalistas européias. Assim, a crise econômica alastra-se com
rapidez pelos países que dependiam fortemente do capital norte-americano. No Reino
Unido, em 1931, e na Alemanha, em 1932, o desemprego chega a atingir 25% da força de
trabalho. Para enfrentar a crise, esses dois países e a França seguem o modelo norte-
americano de interferência do Estado na economia e instituem políticas de bem-estar
social – Welfare State (Estado-Providência). Por outro lado, essa crise diminui o prestígio
da democracia em vários países e acaba por encorajar movimentos extremistas, como o
fascismo, na Itália, e o nazismo, na Alemanha. No Brasil, o corte dos empréstimos
necessários à política de valorização do café e a impossibilidade de exportar o produto
para os EUA contribuem para a derrubada da República Velha e a ascensão de Getúlio
Vargas ao poder.
O ‘Welfare State’ é conseqüência não só do ‘new deal’ americano como da
ameaça comunista nos países capitalistas da Europa, diante das reivindicações operárias
e, em decorrência disso, da instalação de partidos de esquerda em todos eles, com
propostas que iam desde a social-democracia até o comunismo revolucionário.
No período que vai do fim da 1ª Guerra Mundial até os anos que sucedem a
2ª Guerra Mundial surge uma série de questões novas que se tornam objetos de estudo
de intelectuais de todas as tendências que se dedicam às Ciências Sociais. É nesse
período que surge a Escola de Frankfurt fundada em 1924, reunindo intelectuais
alemães de origem marxista, e que adotaram uma atitude crítica diante da novaconfiguração da sociedade de seu tempo, onde surgiam questões novas como:
• a exacerbação dos nacionalismos, especialmente italiano,
japonês e alemão;
• os fascismos e suas conseqüências;
• o anti-semitismo;
• o poder e suas formas;
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• os caminhos (e a desilusão) do socialismo implantado na URSS;
• a indústria cultural, especialmente com o desenvolvimento do
cinema, do rádio e da incipiente televisão;• a perda da liderança da classe operária, em termos de
reivindicações de libertação do capitalismo, diante das
conquistas sociais derivadas do Estado-Providência;
• o feminismo;
• a questão sexual;
• os novos movimentos emergentes, como os dos estudantes na
década de 60;
• a ciência e a tecnologia - seus efeitos e limitações;
• as ideologias e o controle das massas.
10. 3. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e seus ref lexos.
Todas essas questões abordadas no item anterior apontavam para um novo
conflito de natureza preocupante. Foram o caldo de cultura para a 2ª Guerra Mundial.Após ter ocorrido a invasão nazista na Polônia, Reino Unido e França
declaram guerra à Alemanha e iniciam a 2ª Guerra Mundial. Em 1940 é formalizado o
Eixo, pacto entre Alemanha, Japão e Itália. No ano seguinte, os japoneses bombardeiam a
base naval de Pearl Harbor, no Havaí, e forçam a entrada dos Estados Unidos na guerra.
Definem-se, assim, as duas forças em conflito. De um lado, os países do Eixo e, de outro,
os Aliados (França, Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética). Quase 50 milhões de
pessoas morrem na guerra e cerca de 6 milhões de judeus são exterminados em campos
de concentração nazistas.
Na Europa a sangrenta guerra define-se em 1945, quando o Exército da
URSS ocupa Berlim em 2 de maio; cinco dias depois, ocorre a rendição da Alemanha.
Em 1945 os Estados Unidos lançam bombas atômicas sobre as cidades
japonesas de Hiroshima (6/8) e Nagasaki (9/8), matando 170 mil pessoas. Ao mesmo
tempo, tropas soviéticas expulsam os japoneses da Manchúria e da Coréia. Em 2 de
setembro, o Japão capitula, pondo fim à II Guerra Mundial.
No ano de 1945 Franklin Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, Josef
Stálin, dirigente da União Soviética, e Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino
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Unido, determinam os limites da área de influência soviética no Leste Europeu
durante a Conferência de Yalta, na Criméia.
A Conferência de Potsdam em 1945 determina a partilha da Alemanhae de Berlim em quatro zonas de ocupação (Reino Unido, EUA, França e URSS). A
Coréia é dividida entre os EUA (sul) e a URSS (norte), e o Japão permanece sob
ocupação norte-americana até 1952.
Cinqüenta países assinam em 1945 a Carta da ONU (Organização das
Nações Unidas) em 25 e 26 de abril. A organização - hoje com 185 países-membros -
nasce com a finalidade de zelar pela segurança e pela paz mundial, pela defesa dos
direitos humanos e pela melhoria do nível de vida em todo o mundo.
Tito assume em 1945 o poder na Iugoslávia e o mantém até sua morte em
1980 transformando o país numa federação de seis repúblicas – Sérvia, Croácia,
Eslovênia, Bósnia-Herzegóvina, Montenegro e Macedônia – com direitos iguais.
Consciente da tradição hegemônica da Sérvia, garante autonomia para as províncias
sérvias de Kosovo (de maioria albanesa) e Voivodina (com forte presença húngara).
Instaura um regime comunista de partido único e resiste à tentativa soviética de
transformar a Iugoslávia em Estado-satélite, como ocorreu com os demais países do Leste
Europeu. Durante seu governo, consegue neutralizar as diferenças entre as
nacionalidades iugoslavas com base nos ideais socialistas e de fraternidade entre os
povos eslavos do sul.
Em 1945 os países vencedores da guerra instituem um Tribunal Militar
Internacional de Nuremberg, na cidade de Nuremberg para julgar criminosos nazistas
acusados de conspiração, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Os
julgamentos começam no dia 20 de novembro, duram dez meses e ficam conhecidos comoOs Tribunais de Nuremberg. Doze dos acusados são condenados à morte por
enforcamento; três recebem prisão perpétua; quatro, prisão entre dez e 15 anos; e três
são inocentados. As execuções ocorrem em 16 de outubro de 1946.
O Estado de Israel é fundado oficialmente em maio de 1948, após
aprovação pela ONU (Organização das Nações Unidas) do plano de partilha da Palestina
entre árabes e judeus. Nações árabes do Oriente Médio atacam Israel para impedir sua
criação, dando início ao primeiro conflito árabe-israelense, a chamada Guerra de
Independência de Israel. A guerra termina em 1949 com a vitória de Israel, que amplia
Maior equilíbrio entre Mercado e Estado, sob pressão daComunidade ameaçada pelo perigo comunista: capitalismoorganizado do Estado-Providência. Conquista da cidadania socialpela classe operária.
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seu território além dos limites estabelecidos pela ONU. O Estado palestino desaparece do
mapa – o Egito anexa a Faixa de Gaza e a Jordânia conquista e Cisjordânia.
A divisão da Alemanha em 1949 em República Federativa da Alemanha(RFA) (Alemanha Ocidental) e República Democrática da Alemanha (RDA) (Alemanha
Oriental) sela o fechamento da cortina de ferro, expressão criada pelo primeiro-ministro
inglês Winston Churchill ao falar sobre a cisão da Europa em duas áreas geopolíticas
antagônicas.
Em 1949 os países capitalistas ocidentais formam uma aliança militar, a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), com o objetivo de conter a expansão
militar e ideológica do bloco socialista.
Os principais grupos políticos chineses em 1949, nacionalista e comunista,
intensificam uma guerra civil iniciada em 1927, provocando a Revolução Chinesa. O líder
dos nacionalistas, Chiang Kai-shek, não consegue resistir ao avanço dos guerrilheiros
camponeses comandados pelo líder comunista Mao Tsé-tung. Em 1º de outubro de 1949,
Mao proclama a República Popular da China e reorganiza o país nos moldes comunistas,
com a coletivização forçada das terras e o controle estatal da economia. Em 1958 adota o
Grande Salto para a Frente, plano de desenvolvimento em tempo recorde, cujo fracasso o
leva a ser afastado do poder pelo Partido Comunista.
Após a 2ª Guerra Mundial, entre 1949-1991, Estados Unidos (EUA) e
União Soviética (URSS) disputam a hegemonia planetária na GUERRA FRIA: intensa
batalha econômica, diplomática e tecnológica pela conquista de zonas de influência no
mundo, dividido em dois blocos, o capitalista (liderado pelos EUA) e o socialista
(comandado pela URSS). Provoca uma corrida armamentista que se estende por décadas e
coloca o mundo sob ameaça de uma guerra nuclear. O marco final da Guerra Fria é a
dissolução da URSS, em 1991.
De novo a Europa se redesenhara geopoliticamente, e as conseqüências
agora o mundo as tinham presentes nos mais diversos aspectos.
10. 4 . Uma nova regulação econômica internacional.
Em 1944, com o objetivo de facilitar as operações financeiras de venda,
troca ou compra de valores em moedas entre países, a Conferência de Bretton Woods,
realizada em New Hampshire, Estados Unidos, adota o dólar norte-americano como base
do sistema monetário mundial, em substituição ao padrão ouro. Na conferência, é criado
o Fundo Monetário Internacional (FMI).
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O FMI é uma agência especializada da ONU, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) faz parte do sistema financeiro internacional ao lado do Banco
Mundial. Fundado em 1944, na Conferência de Bretton Woods, nos EUA, dá início asuas operações no ano seguinte. Com sede em Washington, tem entre seus principais
objetivos promover a cooperação monetária internacional e favorecer a expansão
equilibrada do comércio. Também oferece ajuda financeira aos países-membros em
dificuldade econômica, emprestando recursos com prazo limitado. O Fundo tem atuado
na defesa da estabilidade do sistema financeiro das economias em crise. Sindicatos e
organizações não governamentais (ONGs), no entanto, criticam os programas de ajuste,
argumentando que estes aprofundam a pobreza ao promover cortes nos gastos sociais.
O FMI funciona como um banco cujo capital é constituído de cotas
subscritas pelos países-membros chamadas direitos especiais de saque (DES). DES é a
moeda do FMI e, a partir de 1981, seu valor é determinado pela variação média da taxa de
câmbio das moedas dos cinco maiores exportadores do mundo: França, Alemanha, Japão,
Reino Unido e EUA. Desde janeiro de 1999, o euro substitui as moedas francesa e alemã
nesse cálculo.
A porcentagem de cotas que cada país-membro detém no FMI é definida
com base em seus indicadores econômicos, entre eles o PIB, o fluxo de comércio exterior e
as reservas internacionais. As cotas determinam o acesso às reservas financeiras do
fundo e o poder de voto em decisões tomadas pela instituição. Em 2000, os cinco maiores
acionistas são EUA, Alemanha, Japão, França e Reino Unido. Cada país pode sacar 25%
de sua cota sem negociação prévia. Para saques superiores a esse percentual, é preciso
assinar uma carta de intenções, que vincula a liberação dos créditos ao cumprimento de
metas, como a redução do déficit fiscal e a estabilização monetária.
Nos anos 80, a importância do FMI como fonte de empréstimo declina e o
órgão passa a funcionar como um supervisor da dívida externa. Em 1986 cria o Plano
de Ajuste Estrutural para países de baixa renda, modificado no ano seguinte para
priorizar as nações com grande dívida externa.
10. 5. Entre o fim da 2ª Guerra Mundial e o ocaso do socialismo real.
O período que se segue ao final da 2ª Guerra Mundial é marcado pela
Guerra Fria, pela intensa competição internacional, agora também envolvendo dois
grandes blocos de nações: o capitalista e o socialista. Tendo esse conflito como pano de
fundo ocorrem fatos altamente significativos como:
• Independência dos países da África: no período entre 1950 e 1970, quase
todas as colônias africanas conquistam a independência.
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• Guerra da Coréia (1950-1953): O primeiro grande conflito da Guerra Fria é a
Guerra da Coréia. Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) haviam
estabelecido no final da II Guerra Mundial duas zonas de ocupação em solocoreano. Em 1948 foram criados dois Estados distintos: a Coréia do Norte
(socialista) e a Coréia do Sul (capitalista). Na tentativa de unificar a península
sob o regime comunista, tropas da Coréia do Norte invadem a Coréia do Sul
em 1950, provocando a reação imediata dos EUA.
• Primeira rebelião contra o poder soviético – nos países do Leste Europeu
eclode 1953 em Berlim Oriental, na República Democrática da Alemanha
(RDA). É sufocada por tropas enviadas pela União Soviética. Outros se
seguiriam em anos seguintes em países como a Hungria, a Tchecoslováquia e a
Polônia.
• 1954 – Os Acordos de Genebra encerram a Guerra da Indochina e determinam
a partilha da Indochina em quatro Estados independentes: Laos, Camboja,
Vietnã do Norte, com capital em Hanói, e Vietnã do Sul, com capital em
Saigon.
• 1959-1976 – O Vietnã do Sul, apoiado pelos Estados Unidos (EUA), e o Vietnã
do Norte, comunista, confrontam-se na Guerra do Vietnã. A guerra torna-se a
maior derrota militar da história dos EUA: o país perde mais de 45 mil
soldados, tem 800 mil feridos e quase 2 mil soldados desaparecidos em ação.
• 1961 – Começa a construção do Muro de Berlim, símbolo da divisão da
Europa e do mundo em blocos geopolíticos antagônicos durante a Guerra Fria.
• 1962 – O presidente norte-americano John Kennedy decreta bloqueio naval a
Cuba para forçar a retirada de mísseis nucleares soviéticos instalados na ilha.
• 1963 – O presidente norte-americano John Kennedy é assassinado.
• 1964 – O movimento pela criação de um Estado árabe na Palestina se onsolida
a partir da fundação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP),
• 1964 – Golpe militar no Brasil derruba o governo do presidente João Goulart e
dá início ao Regime Militar, que se mantém até 1985.
• 1966 – Mao Tsé-tung institui a Grande Revolução Cultural Proletária na
China.
• 1967 – Israel lança um ataque-surpresa contra os aeroportos militares do
Egito, da Síria e da Jordânia, arrasando suas Forças Aéreas ainda no solo. É a
Guerra dos Seis Dias. Neles, Israel conquista: Faixa de Gaza e península do
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Sinai (Egito); Cisjordânia e Jerusalém Oriental (Jordânia); e as colinas de Golã
(Síria).
• 1968 – Estudantes e operários de Paris realizam manifestações no períodoconhecido como Maio de 68.
• 1973 – No feriado judaico do Yom Kipur (Dia do Perdão), Síria e Egito atacam
as posições israelenses no deserto do Sinai e nas colinas de Golã, iniciando a
Guerra do Yom Kipur. A guerra dura 19 dias, não provoca alterações
territoriais e chega ao fim com a intervenção das potências mundiais.
• 1973 – Donos de dois terços das reservas de petróleo do mundo, países-
membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)
embargam o fornecimento de petró leo aos EUA e às potências européias,
provocando a crise do petróleo. A decisão é tomada em represália ao
consentimento norte-americano e da Europa Ocidental à ocupação israelense
de territórios árabes. Após o embargo, a Opep estabelece cotas de produção e
quadruplica os preços. Essas medidas provocam severa recessão nos EstadosUnidos e na Europa, abalando a economia mundial.
• 1973 – Com o apoio dos Estados Unidos, as Forças Armadas dão um golpe de
Estado no Chile, colocando no poder o general Augusto Pinochet. O golpe
derruba o governo de esquerda de Salvador Allende, democraticamente eleito.
• 1975 – A Indonésia invade a ex-colônia portuguesa de Timor Leste.
• 1978-1979 – Egito e Israel assinam os acordos de paz de Camp David, sob
mediação dos Estados Unidos.
A crise da cidadania social No fim dos anos 60, nos países centrais, o modelo de cidadania social passa por umatransformação devido à crise do Estado-Providência e ao impulso do movimento estudantil.- crise do regime fordista-taylorista- integração dos trabalhadores na sociedade de consumo pelos seus benefícios- crise rentabilidade do capital- internacionalização da produção e dos mercados- crise do Estado Nacional perante a globalização da economia- fim do “socialismo real”
tendo como conseqüências:- crise da revolta da subjetividade contra a cidadania – nova alienação denunciada pelaclasse estudantil no final dos anos 60
- irrelevância da representação política- fim da hegemonia operária nas lutas pela emancipação- triunfo ideológico da subjetividade sobre a cidadania- surgimento de novas formas organizativas de reivindicação, entre as quais se insere o
movimento dos trabalhadores que originou o PT no Brasil.
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• 1979 – Descontente com o governo pró-Ocidente do xá Reza Pahlevi, a maioria
xiita do Irã inicia a Revolução Islâmica.
• 1979-1989 – A União Soviética promove uma fracassada intervenção militarno Afeganistão25.
• 1980-1988 – Litígios fronteiriços no canal de Chatt-el-Arab levam o ditador
iraquiano Saddam Hussein a declarar guerra ao Irã.
• 1982 – Argentina e Reino Unido disputam o controle das ilhas Malvinas,
Geórgia e Sandwich do Sul na Guerra das Malvinas.
• 1985 – Mikhail Gorbatchov assume o poder na URSS e lança no ano seguinte
a perestroika (reestruturação econômica) e a glasnost (abertura e
transparência política). Estas reformas, aliadas à competição econômica
desencadeada pelos aliados ocidentais (USA e Inglaterra) através do Projeto
Guerra nas Estrelas, acabam pôr determinar a queda do comunismo no Leste
Europeu e a dissolução da União Soviética.
• A partir de 1985 dá-se um processo de profundas reformas políticas e
econômicas que terminam desagregando a própria União. As três repúblicas
bálticas – Lituânia, Letônia e Estônia – desligam-se em agosto de 1991, após
tentativa frustrada de golpe militar contra o governante soviético Mikhail
Gorbatchov. As demais repúblicas – Federação Russa, Ucrânia, Belarus,
Cazaquistão, Armênia, Azerbaidjão, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão – reúnem-se na Comunidade dos
Estados Independentes (CEI).
• 1989 – Símbolo do término dos regimes comunistas no Leste Europeu, a
queda do A Queda do Muro de Berlim dá início ao processo de reunificação
da Alemanha, concluído em 1990.
• Com o verdadeiro ‘desmanche’ que se segue nos demais países comunistas do
Leste Europeu, como Albânia, Hungria, Checoslováquia, Polônia, Romênia,
Iugoslávia e outros, e estabelece-se o fim do socialismo real e o predomínio
global do capitalismo.
• Início da Intifada, rebelião palestina nos territórios ocupados por Israel
25 1979-1989 – A intervenção no Afeganistão deu-se para garantir a influência soviética no país. Apesar de seupoderio, as forças soviéticas não conseguem vencer os grupos guerrilheiros islâmicos (mujahedin), apoiados porEstados Unidos, Irã e Paquistão.
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A partir desse período o capitalismo torna-se hegemônico facilitando o
processo de globalização dos pontos de vista político e econômico. Esse período leva a
análise social para o que se denomina Pós-Socialismo, fazendo com que o marxismo deixe
de ser uma proposta revolucionária para se tornar uma Teoria Crítica do Capitalismo,
ainda hoje de grande valor.
Como nos ex-países comunistas a propriedade dos meios de produção era
do Estado, ficava quase impossível ao cidadão comum enriquecer, ter capital. Com a
implantação do capitalismo nesses países o capital ou veio de fora, através de empresas
estrangeiras, ou veio dos que praticavam irregularidades no antigo regime: contrabando,
corrupção, tráfico, etc. Em outras palavras, hoje são as ‘máfias locais’ que detêm o capitale os poderes econômico e político nesses países.
10 . 6. Após o fim do socialismo real.
Com o fim do conflito entre capitalismo e socialismo, com a vitória absoluta
do segundo, espalho-se pelo mundo o modelo capitalista, produzindo os efeitos que
A difusão social da produção e o isolamento polít ico do trabalhoComo resposta à crise dos anos 60 ocorre a reação sistema capitalista:- conversão do sistema mundial em espaço global de acumulação- experimentação social- revalidação do capitalismo como único sistema hegemônico- transnacionalização da produção- fragmentação geográfica e social do processo de trabalho- desindustrialização dos países centrais e industrialização dos periféricos- primazia das multinacionais no comando da economia, à revelia dos estados- imperativos multinacionais categóricos- globalização imperativa- isolamento do operariado, enfraquecido, como força reivindicadora- feminização e flexibilização das relações de trabalho- desintegração do movimento operário- apresentação da ideologia única, como única maneira de explicar e de seguir- desmantelação do Estado-Providência e colonização do Estado pelo Mercado
- apelo ao princípio de comunidade – Estado fraco precisa auxílio da Sociedade Civil- ideologia que leva à compulsão consumista- cidadania social substituída pela cidadania do valor, do individualismo, do possuir: do ter em
lugar do serenfim:- subjetividade com esse modelo de cidadania conduz ao narcisismo e ao autismo
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sempre produziu: geração de bens e dinheiro mas não a sua distribuição. Com isso, em
10 anos o número de pobres do mundo aumentou em 200 milhões e a questão social
estendeu-se a todos os países.Neste início de século colocam-se para a humanidade, entre outras,
algumas questões fundamentais como:
• a hegemonia de uma única potência e suas conseqüências;
• a guerra diante das novas tecnologias;
• os impactos pessoal, social e ambiental das novas tecnologias;
• o desenvolvimento sustentável;
• as novas formas de organização social – ONGs, movimentos, etc;
• o terrorismo;
• a bioética;
• o ambientalismo e a ecologia;
• os direitos humanos;
• o desemprego estrutural;
• o comportamento das massas e seu controle;
• os novos meios de comunicação;
• a crise do Welfare State nos Países Centrais;
• a água, os resíduos tóxicos e a reciclagem;
• a agricultura produtora dos transgênicos;
• a fome no mundo;
• a violência;
• a corrupção;
• a qualidade de v ida;
Algumas dessas questões se refletem dos principais acontecimentos deste
período:
• 1990-1991 – O presidente do Iraque, Saddam Hussein, ordena a invasão
do Kuweit em 2 de agosto de 1990 deflagrando a 1ª Guerra do Golfo. O líder
iraquiano responsabiliza o Kuweit pela baixa no preço do petróleo no mercado
externo.
• O Tratado de Maastricht prevê a criação da União Européia (UE). Criada em
1992, com a assinatura do Tratado de Maastricht, a União Européia (UE) é a
sucessora da Comunidade Econômica Européia (CEE), instituída em 1957 pelo
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Tratado de Roma. Maastricht concretiza o antigo sonho europeu de criar um
bloco de nações livre de barreiras à circulação de mercadorias, capitais,
serviços e pessoas. Depois do tratado, os• Em 1992 Eleitores da África do Sul aprovam em plebiscito o fim do
apartheid.
• Tem Início em 1992 a Guerra da Bósnia, conflito de desintegração da
Iugoslávia. Nas áreas ocupadas, os sérvios da Bósnia fazem a chamada
limpeza étnica: expulsão dos não sérvios, massacre de civis, prisão da
população de outras etnias e reutilização dos campos de concentração da 2ª
Guerra Mundial. A Bósnia-Herzegóvina pede a intervenção militar
internacional, mas só recebe ajuda humanitária, como alimento e
medicamentos. A Croácia entra no conflito. No primeiro momento reivindica
parte do território bósnio e, em uma segunda etapa, volta-se contra a Sérvia.
• Camponeses indígenas iniciam uma rebelião armada em Chiapas em 1994,
no México.
• Exército russo invade a Chechênia em 1994.
• Os EUA realizam uma intervenção militar no Haiti em 1994 com permissão
da ONU
• Nelson Mandela é eleito presidente da África do Sul em 1994.
• Em 1994 a Operação Mãos Limpas condena ex-primeiro-ministro Betino
Craxi
• Em 1994 Começa a circular o real, a nova moeda brasileira
• Entra em vigor em 1994 o acordo de livre comércio entre o Canadá, os
Estados Unidos e o México – NAFTA.
• A Otan ataca alvos sérvios na Bósnia-Herzegóvina em 1995.
• No ano de 1995 o Tribunal da ONU, em Haia, Holanda (Países Baixos), julga
crimes de guerra na ex-Iugoslávia.
• Bósnia-Herzegóvina, Croácia e Sérvia assinam acordo que põe fim à Guerra da
Bósnia em 1995.
• Entra em vigor em 1995 o Mercosul, bloco econômico formado por Argentina,
Brasil, Paraguai e Uruguai
• Em 1996 A milícia Taliban toma a capital do Afeganistão e declara o país um
Estado islâmico
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• Em 1997 A Federação Russa é admitida como membro do Grupo dos Sete
(G-7) que passa a ser chamado de G8. O Grupo dos Oito (G-8) é formado pelos
sete países mais industrializados do mundo (Estados Unidos, Japão,Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá) e pela Federação Russa . É
um fórum de discussões econômicas e políticas dos países que estão entre os
principais acionistas dos grandes organismos financeiros do planeta – o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Por isso, suas deliberações
influem na orientação desses órgãos.
• A milícia fundamentalista Taliban conquista 90% do território do Afeganistão
em 1998
• Índia e Paquistão em 1998 passam a integrar o grupo das potências
nucleares declaradas do mundo
• A Iugoslávia aumenta a repressão contra os albaneses de Kosovo em 1998.
• Os EUA em 1998bombardeiam o Iraque sem autorização da ONU
• Em 1999 A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) bombardeia a
Iugoslávia durante 78 dias em represália pela ocupação de Kosovo
SÉCULO XXI
• processo de paz entre palestinos e israelenses no Oriente Médio é paralisado
em 2000
• diante da eclosão de nova onda de violência• Em 2000 Manifestações populares em Belgrado derrubam o governo do
sérvio Slobodan Milosevic , o último ditador comunista da Europa
• Reformistas vencem as eleições parlamentares no Irã, reforçando o processo
de liberalização do regime liderado pelo presidente Khatami em 2000.
• Partido da Liberdade, simpático ao nazismo, forma um governo de coalizão na
Áustria, o que gera protestos em toda a Europa em 2000.
• Organização da Unidade Africana decide transformar-se no bloco econômico
a União Africana, com Parlamento, Banco Central e moeda comum em 2001.
• Em 2001 a polícia prende o ex-presidente da Iugoslávia Slobodan Milosevic,
indiciado pelo Tribunal de Haia por contra a humanidade.
• Aviões seqüestrados atingem o World Trade Center em 2001, em Nova York.
Cerca de 5 mil pessoas são mortas. O responsável é Osama bin Laden, apoiado
pelo Afeganistão.
• Estados Unidos bombardeiam Afeganistão após atentados terrorista em Nova
York e Washington em 2001.
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• George W. Bush torna público em 2002o documento com as orientações da
política externa dos EUA - a Doutrina Bush - considerado o mais hostil desde
o governo Reagan.• O euro começa a circular em 2002 e 304 milhões de europeus de 12 países
deixam de usar suas antigas moedas. Três países não aderem: Reino Unido,
Suécia e Dinamarca.
• 2001 – Estados Unidos sofrem atentado no WTC
• Em 2002 e 2003 os USA invadem e ocupam o Afeganistão e o Iraque.
• Recrudescem as tensões entre palestinos e israelenses em 2002 e 2003.
• 2004 - Bush se reelege presidente dos USA
• 2004 – Morre Yasser Arafat – líder da autoridade palestina.
Seguramente, este capítulo não estará terminado tão cedo!
Continua a busca pela terceira via
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RESUMO DAS ETAPAS DO CAPITALISMO NO SÉCULO XX
,
Guerra do Ópio – Bill Aberdeen 1839-1860 Guerra da Criméia 1853-1856
Guerra Civil Americana 1861-1865 Guerras pelas Unidades italiana e alemã 1870 e1871
Partilha a África Conferência de Berlim 1884-1885 Guerra entre Japão e China 1894-1895
Guerra Hispano-Americana 1898
Guerra Russo- Japonesa 1904-1905
Guerras Balcânicas (países balc. X Turquia) 1912-1913
Disputa entre o Império Austro-Húngaro e Sérviaesto im da 1ª Guerra Mundial
In íc io do sécu lo XX 2ª Revolução Industrial
USA – H. Ford - 1920
REVOLUÇÃORUSSA - 1917
Emergência da Alemanha comomaior potência continental européia
1ª Guerra Mundial 1914 – 1918)
Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Turquia)
X Tríplice Entente Fran a, Reino Unido e Rússia
Nações industrializadasImperialismoEtnias e nacionalidadesNovas idéias, moral, etc
PRIMEIRA REVOLUÇÃOINDUSTRIAL 1750 – 1850
INGLATERRA FRANÇA EUROPA
USA / RÚSSIA, JAPÃO etcREVOLUÇÃO
FRANCESA 1789
Período NapoleônicoFim do Ancien Régime
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O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO EMERGENTE DA PRIMEIRAREVOLUÇÃO INDUSTRIAL ENVOLVE, PRINCIPALMENTE DURKHÉIM,MARX E WEBER e à indução da promessa de que a CLASSE OPERÁRIAseria PORTADORA da REVOLUÇÃO. Isso espalhou o medo entre aselites da Europa e foi determinante para as conquistas sociais do
operariado, do estabelecimento do Welfare State, do Plano Marshall e dosurgimento de partidos socialistas democráticos e sociais democráticos. OEstado do Bem Estar produziu progressos e tirou da classe operária ocaráter revolucionário, fato denunciado pelo movimento de intelectuais eestudantes em Paris em 1968.Hipertrofia total do mercado: capitalismo liberal – 1ª Rev. Industrial.
PARA ENTENDER O CAPITALISMO NA PÓS-MODERNIDADE
CAPITAL MERCADO
ESTADO
Para compreender a pós-modernidade há que se entender essarelação e situá-la no contexto da evolução do modelo capitalistade produção, hoje hegemônico no planeta.
O processo histórico não linear, que, nas sociedadescapitalistas avançadas desenvolveu-se apresenta 4 fases:
1ª.Hipertrofia total do mercado: capitalismo liberal – 1ªRev. Industrial.
2ª. Maior equilíbrio entre Mercado e Estado, sob pressão daComunidade: capitalismo organizado do Estado-Providência. Conquista da cidadania social pela classeoperária. Do início da 1ª até depois da 2ª Guerra Mundial (entre os anos 70 e 80)
3ª. Capitalismo desorganizado: mundial e neoliberal:reegemonização do mercado.
4ª. Busca de um modelo de “3ª Via”.
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O pós-guerra da 1ª Guerra Mundial não seria um período de paz, mas
de transformações políticas, econômicas, sociais e ideológicas que preparariam a 2ª
Guerra Mundial (1939 – 1945). Seriam mais de 20 anos de graves preocupações e
de ditaduras: Mussolini, Quebra da Bolsa de Nova York, socialismo, Stalin,
Hitler, Ghandi, expansionismo alemão, Guerra Civil Espanhola, New Deal1,
Welfare State, crise alemã, a exacerbação dos nacionalismos, novos meios de
comunicação, indústria cultural, ameaça de revoluções comunistas em todo
solo europeu. Escola de Frankfurt fundada em 1924, reunindo intelectuais
alemães de origem marxista, e que adotaram uma atitude crítica diante da nova
configuração da sociedade de seu tempo, onde surgiam questões novas que
precisavam ser discutidas. Início das preocupações da sociedade capitalista com a
ameaça comunista advinda da Rússia. Início do Welfare State. Vivia-se um período
de Hipertrofia do Estado.
Maior equilíbrio entre Mercado e Estado, sob pressão daComunidade ameaçada pelo perigo comunista: capitalismoorganizado do Estado-Providência. Conquista da cidadania socialpela classe operária.
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A difusão social da produção e o isolamento polít ico do trabalhoComo resposta à crise dos anos 60 ocorre a reação sistema capitalista:- conversão do sistema mundial em espaço global de acumulação
-
experimentação social- revalidação do capitalismo como único sistema hegemônico- transnacionalização da produção- fragmentação geográfica e social do processo de trabalho- desindustrialização dos países centrais e industrialização dos periféricos- primazia das multinacionais no comando da economia, à revelia dos estados- imperativos multinacionais categóricos- globalização imperativa- isolamento do operariado, enfraquecido, como força reivindicadora- feminização e flexibilização das relações de trabalho- desintegração do movimento operário- apresentação da ideologia única, como única maneira de explicar e de seguir- desmantelação do Estado-Providência e colonização do Estado pelo Mercado- apelo ao princípio de comunidade – Estado fraco precisa auxílio da Sociedade Civil- ideologia que leva à compulsão consumista- cidadania social substituída pela cidadania do valor, do individualismo, do possuir: do ter em
lugar do serenfim:- subjetividade com esse modelo de cidadania conduz ao narcisismo e ao autismo
A crise da cidadania social
No fim dos anos 60, nos países centrais, o modelo de cidadania social passa por umatransformação devido à crise do Estado-Providência e ao impulso do movimento estudantil.- crise do regime fordista-taylorista- integração dos trabalhadores na sociedade de consumo pelos seus benefícios- crise rentabilidade do capital- internacionalização da produção e dos mercados- crise do Estado Nacional perante a globalização da economia- fim do “socialismo real”tendo como conseqüências:- crise da revolta da subjetividade contra a cidadania – nova alienação denunciada pela
classe estudantil no final dos anos 60- irrelevância da representação política- fim da hegemonia operária nas lutas pela emancipação
- triunfo ideológico da subjetividade sobre a cidadania- surgimento de novas formas organizativas de reivindicação, entre as quais se insere omovimento dos trabalhadores que originou o PT no Brasil.
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Capítulo XI
Escola de Frankfurt
Grupo de filósofos e pesquisadores alemães que, a partir
das décadas de 20 e 30 se dedica a reflexões e críticas sobre
• a razão,
• a ciência e
• avanço do capitalismo.
O mentor do Instituto de Pesquisas Sociais (fundado em
1924), conhecido pelo nome de Escola de Frankfurt, foi seu diretor, Max
Horkheimer. À sua volta reuniram-se professores de diversas disciplinas:
filósofos, sociólogos, psicólogos e economistas. Horkheimer era partidário
de uma filosofia crítica baseada no marxismo e na psicanálise.
Max Horkheimer nasceu em Stuttgart, Alemanha, em 14 de
fevereiro de 1895. Filho de um abastado fabricante de têxteis, preferiu
dedicar-se à filosofia, sua vocação desde a mocidade. Em 1930 tornou-seprofessor em Frankfurt, onde fundou, juntamente com Theodor Adorno, o
Instituto de Pesquisas Sociais, dedicado à pesquisa interdisciplinar entre
filósofos, sociólogos, estetas, economistas e psicólogos, que ficou conhecido
pelo nome de Escola de Frankfurt.
A Escola de Frankfurt lançou os fundamentos da Teoria
Crítica, expressão que designa um conjunto de idéias sobre a cultura
contemporânea, baseadas no marxismo mas abertas para as influênciasque o pensamento em movimento exerce sobre as premissas teóricas.
Principal pensador da "teoria crítica" na década de 1930, Horkheimer
voltou a ficar em evidência no final dos anos 1960 como um dos
inspiradores do movimento estudantil que abalou a França e boa parte
do mundo.
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O grupo desenvolveu várias teorias e conceitos, como a
Teoria da Manipulação, elaborada para explicitar os mecanismos de
dominação na Alemanha. Influenciado pelas idéias de Karl Marx (1818
– 1883) e Max Weber (1864-1920), contrapõe-se ao Iluminismo e ao
Positivismo de Émile Durkheim (1858-1917), que concebe a sociedade
como um organismo com funções específicas, desconsiderando o
processo histórico.
C o n s i d e r a m a r a c i o n a l i d a d e t e c n o l ó g i c a
d o m u n d o m o d e r n o u m a n o v a f o r m a d e
d o m i n a ç ã o c u l t u r a l .
Expressão da crise teórica e política da primeira metade do
século XX, a Escola de Frankfurt está inserida na conjuntura políticados anos 30, quando surgem a República de Weimar (1919 – 1933), o
Nazismo (1933/1934) e o Stalinismo (1924).
Com a ascensão do nazismo na Alemanha (1933), a Escola de
Frankfurt muda-se para Genebra, depois para Paris e, finalmente, para
Nova York. Após a vitória dos aliados na II Guerra Mundial (1939 –
1945), os principais filósofos retornam à Alemanha.
A idéia de deixar a ciência mais acessível à sociedade e,assim, favorecer a reflexão coletiva marca o trabalho desses filósofos. O
exame crítico que esse grupo fez das sociedades desenvolvidas exerceu
poderosa influência sobre os movimentos de contestação da segunda
metade do século XX, particularmente as manifestações estudantis de
maio de 1968 na França.
Entre os pensadores vinculados ao grupo de Frankfurt
destacam-se:
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Walter Benjamin (1892-1940),
Theodor Adorno (1903-1969),
Max Horkheimer (1895-1973). Junta-se a eles, mais tarde,
Jürgen Habermas (1929- ),
Wiliam Reich (1897 – 1947),
Herbert Marcuse (1898 – 1979).
1. Max Horkheimer (1895-1973)
Horkheimer expôs em diversos ensaios um pensamentomultidisciplinar, que:
• em filosofia era antimetafísico e antipositivista e,
• sob o aspecto social, anticapitalista e
• valorizador do processo histórico.
• Para ele, o progresso econômico tinha como contrapartida a
massificação e a perda da individualidade.
Horkheimer propunha a transformação da sociedadecapitalista num socialismo fundado na razão e na liberdade, que
assegurasse o bem-estar de todos os cidadãos.
Uma segunda fase desse pensamento, mais pessimista, veio
depois da segunda guerra mundial. Com a ascensão do nazismo, os
principais representantes da escola refugiaram-se nos Estados Unidos,
entre eles Horkheimer, que lecionou na Universidade de Colúmbia, em
Nova York, até 1949, quando regressou a Frankfurt. Esse pessimismo sebaseava nos seguintes fatos:
• para derrotar o fascismo não bastou uma revolução: foi
preciso uma guerra, e
• o terror stalinista deixara profundas marcas no
pensamento marxista.
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O capitalismo demonstrava uma notável capacidade para
assumir suas próprias contradições, mas também, graças a sua "indústria
cultural", para anular todo o pensamento crítico e todo movimento de
transformação do regime.
Horkheimer volta-se para a investigação das
características da sociedade capitalista e para as questões como a
legitimidade do Estado e a luta de classes. Entre seus escritos estão
Um Novo Conceit o de Ideologia e Teoria Tradicional e Teoria Crítica.
2. Theodor Adorno (1903-1969)
O jazz, a música dodecafônica, o teatro engajado e a literatura
realista foram alguns dos objetos de reflexão escolhidos por Adorno para
denunciar a mercantilização que atingia a arte contemporânea.
Theodor Wiesengrund Adorno nasceu em 11 de setembro de
1906 em Frankfurt-sobre-o-Meno, Alemanha. Filósofo e crítico musical,
estudou composição em Viena com Alban Berg, uma das figuras que mais
contribuíram para o amadurecimento da música atonal. Foi professor emFrankfurt, em cuja universidade doutorou-se, e nessa cidade participou,
em 1924, da fundação do Instituto de Pesquisas Sociais. Emigrou para
a Inglaterra em 1933, a fim de escapar à perseguição movida contra
judeus pelo nacional-socialismo, e em 1937 foi para os Estados Unidos,
onde colaborou decisivamente com o Instituto, reconstituído por seus
fundadores na Universidade de Columbia.
O Instituto de Pesquisas Sociais, mais conhecido como Escola
de Frankfurt, constituiu o núcleo de uma linha original de pensamento
filosófico-político desenvolvido por Walter Benjamim, Max Horkheimer,
Herbert Marcuse, Wilhelm Reich, Jürgen Habermas e Adorno. A teoria
crítica proposta por esses pensadores se opõe à teoria tradicional, que se
pretende neutra quanto às relações sociais. Ela toma a própria sociedade
como objeto e rejeita a idéia de produção cultural independente da
ordem social em vigor.
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O conceito de "indústria cultural" foi criado por Adorno para
designar a exploração sistemática e programada dos bens culturais com
finalidade de lucro. A obra de arte produzida e consumida segundo os
critérios da sociedade capitalista se rebaixa ao nível de mercadoria e
perde sua potencialidade de crítica e contestação.
Fundamentado na dialética de Hegel, Adorno imprimiu um
conteúdo sociológico a seus escritos filosóficos e musicais. Dessa forma,
produziu algumas das obras capitais do pensamento estético, como a
Dialética do esclarecimento (1947), em colaboração com Horkheimer, a
Philosophie der neuen Musik (1949; Filosofia da nova música) e ainacabada Ästhetische Theorie (1970; Teoria estética), na qual trabalhou
até a morte.
Adorno regressou à Alemanha em 1949, retomou a atividade
docente e participou intensamente da vida política e cultural do país.
Antes de sua morte em Visp, Suíça, em 6 de agosto de 1969, teve
destacada e polêmica participação nos movimentos estudantis que
sacudiram a Europa a partir de maio de 1968.Adorno é autor de Idéias para a Sociologia da Música,
dissemina o conceito de indústria cultural, que diz respeito aos bens
(produtos) culturais difundidos pelos meios de comunicação de massa,
que impõem formas de comportamento e consumo. Segundo Adorno, a
indústria cultural caracteriza-se pela exploração comercial e pela
vulgarização da cultura, produzindo entretenimento e não reflexão.
Uma de suas principais obras é Dialética do Esclarecimento, em co-
autoria com Horkheimer. Adorno é o principal representante da
terceira fase da Escola de Frankfurt.
O pensamento de Adorno, foge a toda afirmação positiva. Toda
solução fica em aberto, inconclusa diante da realidade histórica. Com
o progresso e o avanço da razão, o homem conseguiu emancipar-se da
natureza, mas teve de pagar um preço muito alto: f icou subordinado a
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uma situação para a Qual não havia saída. Para Adorno, o progresso
traz em seu bojo uma regressão, pois conduz a um "mundo
administrado".
A única solução diante do impasse de seu tempo é a
reconciliação com a natureza, mediante uma ruptura total que torne
possível a utopia e permita uma abertura para algo totalmente
diverso. A alternativa proposta por Adorno era a defesa do individual e do
particular, que escapam à violência da dominação, e a arte, que, em
seu hermetismo, permite escapar à uniformização e aos
convencionalismos sociais.
A tese de Adorno opõe-se à de Jürgen Habermas, que junto
com Herbert Marcuse é outro dos principais membros da escola de
Frankfurt.
3. Jürgen Habermas (1929- )
Jürgen Habermas nasceu em Dusseldorf, em 1929. Graduou-
se em 1954 com uma tese sobre Schelling. De 1955 a 1959, colaborou com
Theodor Adorno no Instituto de Pesquisas Sociais, conhecido como Escola
de Frankfurt. Em 1961 iniciou a carreira docente em Heidelberg e dois
anos depois publicou Theorie und Praxis (1963; Teoria e práxis), em que
critica:
• o espírito positivista e
• a consciência tecnocrática das ciências sociais.
Inicialmente próximo às lideranças do movimento estudantil, a
partir de 1967 tornou-se um de seus adversários. Sua principal tese
política é a luta pelo restabelecimento de uma opinião pública
democrática e crítica. Responsável pela difusão da Teoria Crítica
(conjunto de textos dos principais filósofos frankfurtianos).
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Crítico da doutrina positivista e da ideologia dela
resultante, o tecnicismo, o filósofo alemão Jürgen Habermas é um dos
mais ilustres representantes da segunda geração da Escola de
Frankfurt.
Analisou as relações existentes entre o saber e os interesses
das classes dominantes em Conhecimento e interesse (1968), obra ao
mesmo tempo histórica e sistemática em que combate a neutralidade
pretendida pelo tecnicismo e denuncia o caráter ideológico da ciência e da
técnica. Mais tarde, declarou que seus trabalhos publicados eram
estágios preliminares de uma teoria que anunciou sob o título Teoriada Ação Comunicativa.
Habermas criticou a "ortodoxia latente" de seus mestres e
recusou, como saída para o misticismo, a reconciliação com a
natureza proposta por Adorno. Buscou também renovar o pensamento
da Escola à luz da epistemologia contemporânea e considerou
necessária uma renovação do marxismo.
4. Walter Benjamin (1892-1940)
Benjamin discute a arte e a cultura do século XX. Em A Obra
de Arte na Época de Sua Reprodutibilidade Técnica reflete sobre a
perda da aura, aquilo que faz do objeto de arte algo único e
irreproduzível.
Ao filosofar contra a filosofia, tentando subtrair-se ao
pensamento classificatório, o pensador alemão Walter Benjamin não
alcançou repercussão em vida, apesar do estímulo que recebeu de homens
como Theodor Adorno e Ernst Bloch. Depois de sua morte, passou a ser
apontado como um dos mais argutos críticos de idéias e fatos da
primeira metade do século XX.
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Os textos de Benjamin, sobre literatura, arte, técnicas ou vida
social, ficaram em sua maioria esparsos em periódicos. Em vida, além da
tese sobre a tragédia alemã, publicou apenas outros dois livros: O conceito
de crítica de arte no romantismo alemão e Rua de mão única, coletânea de
ensaios e reflexões.
A obra de arte na época de sua reprodução mecânica foi uma
obra das mais representativas da conversão ideológica do autor ao
marxismo.
Com a ascensão do nazismo ao poder, Benjamin, já abalado
por dificuldades materiais, exilou-se em 1935 em Paris. Após a invasão daFrança pelos alemães, em 1940, juntou-se a um grupo de refugiados que
tentava escapar pelos Pireneus. Detido pela polícia espanhola, que
ameaçou entregar o grupo à Gestapo, Benjamin suicidou-se em Port Bou,
na fronteira franco-espanhola, em 26 de setembro de 1940. As
autoridades, depois disso, permitiram que os fugitivos passassem.
5. Herbert Marcuse (1898 – 1979)
Marcuse veio a ser a figura mais conhecida da escola de
Frankfurt.
O pensamento de Marcuse, divulgado em versões
simplificadoras que enfatizavam a liberdade sexual como complemento
indispensável da emancipação econômica e política, contribuiu para
que se desencadeasse a rebelião estudantil de 1968.
No capitalismo avançado, segundo ele, a sociedade é decerto
capaz de assegurar o bem-estar e a plena realização de todos os seus
membros ou, em termos freudianos, de substituir o princípio da realidade
pelo princípio do prazer. Não obstante, a sociedade capitalista anularia o
indivíduo, sua criatividade e sua capacidade para transformar o meio.
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A doutrina de Marcuse teve como ponto de partida a dialética
de Hegel e a filosofia de Heidegger. Em política, condenou o marxismo
soviético que, a seu ver, se inclinava para o determinismo e o
oportunismo, sem se deter na interpretação básica das contradições.
Denunciou o caráter repressivo da sociedade industrial e pregou
transformações revolucionárias tanto nas instituições sociais como
nas atitudes do homem, que a seu ver se deve libertar, inclusive pela
sexualidade, das convenções e condicionamentos que o escravizam.
Acusou a sociedade capitalista de criar necessidades de consumo
artificiais e incessantemente renovadas, mediante a manipulação dasconsciências pelos meios de comunicação de massa, fonte de um estilo de
vida que chamou "unidimensional" -- o conformismo.
Eros e civilização (1955) e Ideologia da sociedade industrial
(1964), estão entre seus livros principais. Em Contra-revolução e revolta
(1972), preconizou a renovação da esquerda a partir de premissas
marxistas. Marcuse morreu em Starnberg, Alemanha, em 29 de julho de
1979.
6. Wilhelm Reich (1897 – 1947)
Iconoclasta e revolucionário, Reich foi o primeiro a entender a
sexualidade como um direito e o primeiro a defender a educação
sexual. Marxista e psicanalista, mas renegado igualmente pelos adeptos de
Marx e de Freud, teve sua obra queimada ou proibida por comunistas,
nazistas e americanos.
Wilhelm Reich nasceu em Dobrzcynica, região da Galícia (hoje
na Polônia), em 24 de março de 1897. Cursou medicina na Universidade
de Viena e, em 1920, tornou-se membro da Sociedade Psicanalítica.
Rompeu com Freud por considerar a psicanálise socialmente
reacionária: enquanto que para Freud a civilização é necessariamente
repressiva e a sublimação é indispensável para que a energia humana se
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volte para o trabalho, para Reich é indispensável reconhecer o direito
humano a uma sexualidade saudável. Sem pôr em dúvida a origem
sexual das neuroses, interessou-se pelas condições sociais dos pacientes.
Acreditava que as emoções reprimidas manifestavam-se também como
tensões musculares e que tal armadura mental e física podia ser desfeita
por meio de manipulações diretas e por um processo de conscientização, o
que expôs em A função do orgasmo (1927).
Em 1929, expôs conceitos verdadeiramente revolucionários
numa conferência, que assumiu proporções de provocação quando afirmou
que a educação e a moral do sistema capitalista eram responsáveispelas neuroses. No ano seguinte, radicou-se em Berlim, onde o ambiente
científico era mais aberto e, no mesmo ano, publicou Maturidade sexual,
abstinência e moral conjugal, primeira versão do livro que seria editado em
1945 com o nome de A revolução sexual, uma de suas obras mais
conhecidas. Contracepção, aborto e prazer eram temas de suas audaciosas
palestras. A partir de 1934, dedicou-se à disciplina que ele chamou
orgonomia, ou estudo dos "orgônios", que ele descreveu como unidades deenergia cósmica dotadas da propriedade de estimular o sistema nervoso.
Expulso do Partido Comunista e da Sociedade Psicanalítica, iniciou um
longo périplo por várias cidades européias até que, finalmente, em 1939,
radicou-se nos Estados Unidos.
Foi professor da New School for Social Research, em Nova
York, e inaugurou em 1941 o Orgone Institute. Criou a "caixa de orgônio",
cabine especial destinada a curar impotência, câncer e outros males, que
obteve grande sucesso comercial e motivou contra ele uma acusação de
fraude. Condenado à revelia, foi diagnosticado como paranóico e
encarcerado na prisão de Lewisburg, onde morreu oito meses depois, em 3
de novembro de 1947.
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Capítulo XII
Ciências Sociais na perspect iva da Complexidade. Milton Greco
A grande dificuldade de se abordarem aspectos relativos aos
fenômeno humanos e sociais é o conteúdo de alta complexidade que
apresentam. E a impossibilidade de se criar um referencial que alcance
todos os aspectos da realidade social e, principalmente, os apresente de
forma integrada. Isso parece ser impossível no cenário de
hipercomplexidade com se apresentam esses os fenômenos à observação
mais acurada.
Há cerca de dez anos, participando de um projeto de pesquisa
interdisciplinar – Projeto Plural - na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA), onde partilho a coordenação com a
jornalista Cremilda Medina, temos verificado as dificuldades da
construção de uma Epistemologia da Complexidade.
Embora todos saibamos e sintamos que o mundo é uma realidadeintegrada, global, onde cada elemento constituinte, nos limites da sua
dimensão e do seu grau de complexidade, repete essa globalidade e essa
integração, descobrimos que é muito mais fácil falar sobre complexidade
do que pensar e, principalmente, agir dentro dessa perspectiva, tanto
assim que nos consideramos aprendizes de um ensaio permanente da
Epistemologia da Complexidade. E talvez o sejamos até o fim dos nossos
dias.É que não fomos preparados para captar essa globalidade e muito
menos a complexidade que a envolve.
Somos produtos do império dos velhos paradigmas mítico-
religioso , que tem origens medievais e científico-tecnicista, oriundo da
revolução científica dos séculos XVI e XVII, e reafirmados pelo Positivismo
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do século XIX, que modelaram nossa maneira de pensar, de agir e até de
sentir.
O mundo que nos ensinaram a ver, e esse ensinamento não se
esgota no âmbito do consciente pois se enraíza na esfera do inconsciente,
tem uma ótica positivista, simplificadora, pelo ênfase que dá às relações
entre causa e efeito e sujeito e predicado. Nos ensinaram a descrever o
mundo através de relações lineares, diretas, finalistas, explicativas,
direcionadas, carregadas de “certeza”, definitivas, moralistas,
padronizadas, que construíram as bases da perpetuação do saber atual,
impregnado de etnocentrismo, de preconceito, de ideologização, de repúdioàs minorias, aos desiguais e aos excluídos, de alienação frente às atuais
estruturas de poder e de contribuição para a sua perpetuação, mesmo
quando está claro que infelicitam a maioria dos seres humanos do planeta.
O mundo que nos ensinaram a ver tem um conteúdo conformista,
determinista, finalista, dualista, onde se espera que a justiça divina
substitua a humana, mesmo que seja depois da morte, praticamente
institucionalizando o abuso terreno dos seres humanos.Esses paradigmas, na medida em que refletem trezentos anos de
império da ciência e milhares de outros de influência mítico-religiosa,
usada não para libertar o homem ou para elevá-lo à transcendência da
ligação com o divino, mas para enquadrá-lo na lógica dos sistemas
implantados – e de todos os sistemas – encontram campo fértil para se
recondicionarem nesses tempos de globalização, de incerteza, de
comunicação instantânea, de altíssima aceleração histórica, de
contestação de valores e de perplexidade generalizada.
O mundo que nos ensinaram a ver precisa de intérpretes, de sábios
e de doutores que nos indiquem o caminho. E todo dia eles estão presentes
nos livros, nas escolas, nos meios de comunicação e nos templos. E como
são simples, como explicam claramente o que para nós é obscuro! E como
nos fazem esquecer o que nos ensinaram no passado!
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Tomemos o exemplo do que nos ensinaram em termos de economia e
sociologia.
Disseram que o desemprego no campo seria absorvido pelas
cidades: não foi.
Disseram que o desemprego na indústria seria absorvido pelo
setor de serviços: não foi.
Disseram que o desemprego no setor de serviços seria
absorvido pelos setores informais e autônomos da economia: não foi.
Só falta dizerem a verdade: que o desemprego nos setores
informais e autônomos está sendo absorvido pelo crime organizado e pelapor níveis de pobreza nunca vistos e que isso faz parte da lógica do
sistema.
Filhos dos mesmos paradigmas, o conformismo mítico-religioso,
comunismo que enterrou os mais belos ideais de igualdade humana e o
capitalismo que libera o lado insano do cérebro humano, mostraram sua
face cruel; o comunismo levou sessenta anos para desestruturar seus
impérios; o capitalismo em dez anos de hegemonia desestruturou o mundoem termos sociais, espalhando a degradação humana até pelos países
centrais.
Dentro desse contexto são necessárias forças para construir um
paradigma baseado não em ideologias, mas no confronto do que se estuda
com o que a realidade demonstra com toda sua complexidade, para que se
veja o mundo por uma outra ótica: o mundo como ele é.
É o que se tentou despertar durante este curso.
5/9/2018 apostiladesociologia1 - slidepdf.com
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