Pamela Dominique de OliveiraRenato Massaharu Hassunuma
Patrícia Carvalho GarciaSandra Heloísa Nunes Messias
Antraz Estrutura Bioquímica e Patogenia das Toxinas
Pamela Dominique de OliveiraAluna de Graduação do Curso de Biomedicina da
Universidade Paulista - UNIP, campus Bauru
Renato Massaharu HassunumaProfessor Titular do Curso de Biomedicina daUniversidade Paulista - UNIP, campus Bauru
Patrícia Carvalho GarciaCoordenadora Auxiliar do Curso de Biomedicina da
Universidade Paulista - UNIP, campus Bauru
Sandra Heloísa Nunes Messias Coordenadora Geral do Curso de Biomedicina da
Universidade Paulista – UNIP
1ª. Edição / 2020Bauru, SP
Antraz Estrutura Bioquímica e Patogenia das Toxinas
© Renato Massaharu Hassunuma.
Conselho Editorial:
PROFA. DRA. DANIELA PEREIRA CATANZARO
Doutora em Ciências, área de concentração: Biologia Oral pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) - Universidade de São Paulo (USP)
PROFA. DRA. MICHELE JANEGITZ ACORCI-VALÉRIO
Universidade Paulista – UNIP, campus Bauru
Design:
Renato Massaharu Hassunuma.
Créditos das figuras da capa e contracapa:
Figura desenvolvida a partir do arquivo 1tzo.pdb referente ao heptâmero do antígeno protetor do Bacillus anthracis determinado por técnica de difração de raios-X em resolução de 3,6Å, sendo utilizado o
software RasMol 2.7.5.2.
CIP – Brasil. Catalogação na Publicação
O482aAntraz: Estrutura bioquímica e patogenia
das toxinas. / Pamela Dominique de Oliveira,Renato Massaharu Hassunuma, Patrícia CarvalhoGarcia, Sandra Heloísa Nunes Messias. – Bauru.Canal 6, 2020.37 f. : color.
ISBN 978-65-86030-12-9
1. Antraz. 2. Toxinas bacterianas. 3.Bioquímica. I. Oliveira, Pamela Dominique de. II.Hassunuma, Renato Massaharu. III. Garcia,Patrícia Carvalho. IV. Messias, Sandra HeloísaNunes. V. Título
CDU: 616.002.35:577.1
Nossos sinceros agradecimentos ao Prof. Aziz Kalaf Filho, Diretor da Universidade Paulista - UNIP, campus Bauru e Prof. Dr.
Paschoal Laércio Armonia, Diretor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Paulista - UNIP, pelo apoio fornecido ao Curso
de Biomedicina da Universidade Paulista - UNIP, campus Bauru no desenvolvimento de eventos, publicações e projetos de extensão.
Pamela Dominique de Oliveira
Prof. Dr. Renato Massaharu Hassunuma
Profa. Dra. Patrícia Carvalho Garcia
Profa. Dra. Sandra Heloísa Nunes Messias
Agradecimentos
Sumário1. Bacillus anthracis ...................................................................................................................................................................................... 07
2. Antraz ....................................................................................................................................................................................................... 10
3. Diagnóstico do antraz .............................................................................................................................................................................. 13
4. Antraz e o bioterrorismo .......................................................................................................................................................................... 17
5. Toxinas do Bacillus anthracis ................................................................................................................................................................... 20
6. Antígeno protetor .................................................................................................................................................................................... 21
7. Heptâmero do antígeno protetor ............................................................................................................................................................. 23
8. Fator edema .............................................................................................................................................................................................. 25
9. Fator letal ................................................................................................................................................................................................. 27
10. Patogenia ................................................................................................................................................................................................ 29
Bibliografia e sugestões de leitura .............................................................................................................................................................. 32
Anexo 1: padrão de cores ............................................................................................................................................................................. 35
Anexo 2: scripts desenvolvidos para as figuras ........................................................................................................................................... 36
Antraz Estrutura Bioquímica e Patogenia das Toxinas
1. Bacillus anthracisO Bacillus anthracis é uma bactéria anaeróbica facultativa, em forma de bastonete, Gram positiva, de 1-1,5 x 3-10 μm de tamanho(figura 1) e formadora de esporos (figura 2). São patógenos comuns em animais de fazenda (por exemplo, cabritos, gados, carneiros ecavalos) e silvestres (como hipopótamos, elefantes e búfalo do Cabo) em contato com solo contaminado com a forma de esporo. É raroem seres humanos, ocorrendo principalmente por exposição à produtos animais (por exemplo, couro, carcaças e pelos) (Bacillus, 2019;Bush; Perez, 2017; McAdam, Sharpe, 2010).
O termo antraz, a doença causada pela bactéria, deriva da palavra grega para carvão, devido à formação de uma escara enegrecida emsua forma cutânea. A virulência do B. anthracis deve-se a presença dos plasmídeos pXO1 e pXO2. O plasmídeo pXO1 codifica asexotoxinas: antígeno protetor (codificado pelo gene pag), fator letal (codificado pelo gene lef) e fator de edema (codificado pelo genecya). Estas três proteínas organizam-se combinando antígeno protetor e fator edema ou antígeno protetor e fator letal, sendo que oantígeno protetor é o elemento que permite a entrada das demais toxinas nas células do hospedeiro (Spencer, 2003).
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
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Figura 1 – Bacillus anthracis
Fonte: U.S. Army Medical Research Institute of Infectious Diseases photo. File:Anthrax cells.jpg. 2009 jul 08 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthrax_cells.jpg. Imagem registrada em domínio público.
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
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Figura 2 – Esporos do Bacillus anthracis
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention. File:Anthrax spores (5940425745).jpg. 2016 sep 07 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthrax_spores_(5940425745).jpg. Imagem registrada em domínio público.
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
2. AntrazO Bacillus anthracis causa uma doença denominada antraz ou carbúnculo, que pode ocorrer em três formas diferentes:
A. Antraz cutâneo: corresponde a 95% das infecções.
▪ O período de incubação dura de um a sete dias, podendo se estender por até 60 dias. Caracteriza-se pela formação inicial de umapápula indolor ou pruriginosa.
▪ O período prodrômico é caracterizado por uma pápula inflamatória que evolui em 48 horas para uma vesícula, que em seguidatransforma-se em uma pústula com centro amarelado.
▪ No período de estado, dois a três dias após a formação da lesão, forma-se a lesão característica da doença com úlcera com centroenegrecido e borda edemaciada e inflamada (figuras 3 e 4), acompanhada de linfadenipatia, febre discreta e bom estado geral.
▪ A evolução geralmente é espontânea com cicatrização e cura, com mortalidade de 10 a 20%. Raramente evolui para bacteremia;
B. Antraz inalado: os esporos inalados são levados por fagócitos até linfonodos causando mediastinite hemorrágica:
▪ O período prodrômico dura 1 a 6 dias, e se assemelha com uma infecção comum de vias aéreas superiores, com febre, tosse e dortorácica ou abdominal.
▪ No período de estado, ocorre início abrupto de febre elevada, hipóxia, sudorese e insuficiência respiratória.
▪ Frequentemente na evolução da doença, ocorre bacteremia, choque séptico e morte em 1 a 2 dias em 100% dos casos;
C. Antraz gastrointestinal: ocorre devido à ingestão de carne mal cozida contaminada. Ocorrem náuseas, febre, dor abdominal,vômito, diarreia sanguinolenta intensa. A mortalidade é de 50% (Brasil, 2005; Bush; Perez, 2017; McAdam, Sharpe, 2010).
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Figura 3 – Lesão cutânea
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention. File:Anthrax PHIL 2033.png. 2009 mar 30 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthrax_PHIL_2033.png. Imagem registrada em domínio público.
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Figura 4 – Lesão cutânea no pescoço
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention. File:Cutaneous anthrax lesion on the neck. PHIL 1934 lores.jpg. 2009 mar 30 [Acesso 2019 nov 28].Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cutaneous_anthrax_lesion_on_the_neck._PHIL_1934_lores.jpg. Imagem registrada em domíniopúblico.
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
3. Diagnóstico do antrazO diagnóstico do Bacillus anthracis pode ser feito por meio de :
▪ Anamnese: verificar história ocupacional e fatores de exposição;
▪ Coloração de Gram e cultura (figura 5): podem ser realizadas a partir de amostras de lesões cutâneas, líquido pleural, líquidocefalorraquidiano ou fezes;
▪ Biópsia (figura 6): de forma geral, as lesões por antraz são caracterizadas por áreas de necrose e inflamação exsudativa rica emneutrófilos e macrófagos. O diagnóstico é confirmado pela presença de cadeias de bactérias Gram-positivas de tamanho grande,localizadas no meio extracelular;
▪ Radiografia torácica (figura 7) ou tomografia computadorizada: o antraz inalado causa focos hemorrágicos na região domediastino, causando seu alargamento. Observa-se também a presença de linfonodos hilares e peribrônquicos hemorrágicos eaumentados;
▪ Punção lombar: em casos de sinais meníngeos ou de alterações no estado mental;
▪ Teste de anticorpos por imunofluorescência e reação em cadeia da polimerase (PCR) (Bush; Perez, 2017; McAdam, Sharpe, 2010).
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Figura 5 – Cultura do Bacillus anthracis
Fonte: U.S. Army Medical Research Institute of Infectious Diseases photo. File:Anthrax culture.jpg. 2009 jun 20 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthrax_culture.jpg. Imagem registrada em domínio público.
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Figura 6 – Bacillus anthracis no liquor. Coloração de Gram.
Fonte: File:Gram Stain Anthrax.jpg. 2005 nov 25 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gram_Stain_Anthrax.jpg.apud Jernigan JA et al. Bioterrorism-related inhalational anthrax: the first 10 cases reported in the United States. Emerg Infect Dis. 2001 Nov-Dec;7(6):933-44. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2631903/. Imagem registrada em domínio público.
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Figura 7 – Radiografia de paciente infectado pelo Bacillus anthracis. As setas pretas apontam focos hemorrágicos no mediastino.
Fonte: File:Anthrax - inhalational.jpg. 2005 feb 19 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthrax_-_inhalational.jpg. Imagem registrada em domínio público.
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
4. Antraz e o bioterrorismoO antraz ganhou repercussão na mídia devido aos ataques bioterroristas que ocorreram nos Estados Unidos em 2001. Inicialmente, trêscartas contaminadas com a bactéria foram enviadas pelo correio a um membro do congresso americano e duas para representantes demeios de comunicação. As três cartas estavam com datas de 11 de setembro de 2001, a mesma dos atentados contra alvos emWashington e Nova York. A primeira carta chegou ao âncora da NBC Tom Brokaw (Figura 8), que fez com que sua assistente ErinO’Connor de 38 anos contraísse a forma cutânea da doença (FBI, 2001).
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) classifica o antraz como um agente de bioterrorismo de categoria A, pois é de maiorrisco, pode ser rapidamente disseminado e transmitido, pode causar alta mortalidade, causar pânico público e necessita de açãoespecial para atendimento público, como vacinação em massa (figura 9). Nas práticas de bioterrorismo, os esporos são moídos em umpó fino, que os tornam uma potente arma biológica (McAdam, Sharpe, 2010).
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Figura 8 – Primeira carta contaminada pelo Bacillus anthracis enviada por bioterroristas em 2001
Fonte: U.S. Army Medical Research Institute of Infectious Diseases photo. File:Anthrax cells.jpg. 2009 jul 08 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthrax_cells.jpg. Imagem registrada em domínio público.
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Figura 9 – Vacina contra o Bacillus anthracis
Fonte: Wood D. File:Anthrax vaccine for Airmen assigned to high-threat areas.jpg. 2017 jan 03 [Acesso 2019 nov 28]. Disponível em:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anthrax_vaccine_for_Airmen_assigned_to_high-threat_areas.jpg. Imagem registrada em domínio público.
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5. Toxinas do Bacillus anthracisExistem duas toxinas principais do B. anthracis, denominadas toxina edemaciante (EdTx) e toxina letal (LeTx). Cada uma delas éconstituída por duas subunidades proteicas A e B, que devem estar ligadas para exercer sua função. Na toxina edemaciante (EdTx), asubunidade A é constituída pelo fator edema (EF) e a subunidade B pelo antígeno protetor (PA). O EF corresponde à subunidade ativada EdTx, sendo responsável por induzir o acúmulo intracelular de adenosina monofosfato cíclico (cAMP), o qual provocaextravasamento de líquido para o meio extracelular. Esta saída de líquidos causa o edema característico da lesão do carbúnculo (Prince,2003).
Na toxina letal (LeTx), a subunidade A é composta por uma proteína denominada fator letal (LF) e a subunidade B pelo antígenoprotetor (PA) (Prince, 2003). A LeTx interage diretamente com células do sistema imunológico, principalmente macrófagos, induzindo aliberação de mediadores pró-inflamatórios, tais como o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e a interleucina-1β (IL-1β), desencadeandouma intensa resposta inflamatória. O LF corresponde à subunidade ativa da LeTX, sendo capaz de clivar peptídeos como as proteínas-cinase ativadas por mitógenos (MAPKK). A inativação das MAPKKs levam à inibição da proliferação e diferenciação celular das células-alvo, além de estímulo à apoptose (Silva; Horta; Alencastro; Pinto, 2009).
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
6. Antígeno protetorO antígeno protetor (PA) recebe esta denominação porque anticorpos produzidos contra esta proteína protegem animais contra a toxinae também por sua utilização em vacinas (McAdam, Sharpe, 2010). A estrutura do antígeno protetor pode ser observada na figura 10,sendo formada pelos seguintes domínios:
▪ Domínio 1 (em amarelo matiz): abrange os resíduos de aminoácidos 1 a 258. É formado por uma grande área formando umsanduíche de folhas beta preguedas, algumas outras folhas beta e alfa-hélices curtas. Observa-se também a presença de um par deíons cálcio (esferas em cinza) nesta região;
▪ Domínio 2 (em rosa matiz): abrange os resíduos de aminoácidos 259-487. É formado por um barril de folhas beta com topologia dechave grega modificada, um segundo conjunto de folhas beta e duas alfa-hélices;
▪ Domínio 3 (em azul matiz): abrange os resíduos de aminoácidos 488-595. É formado por uma folha beta pregueada formada por 4fitas e quatro alfa-hélices;
▪ Domínio 4 (em verde matiz): abrange os resíduos de aminoácidos 596-735. É formado por um sanduíche de folhas betas e três alfa-hélices (Petosa, Collier, Klimpel, Leppla, Liddington, 1997);
A figura 10 foi desenvolvida a partir do arquivo 1acc.pdb referente ao antígeno protetor do Bacillus anthracis determinado por técnicade difração de raios-X em resolução de 2,1Å, sendo utilizado o software RasMol 2.7.5.2. Mais informações sobre o padrão de cores docomando Colours e do padrão CPK encontram-se no anexo 1. O script desenvolvido para esta figura está apresentado no anexo 2.
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
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Figura 10 – Antígeno protetor
Fonte: Os autores, 2019.
Domínio 1
Domínio 2
Domínio 3Domínio 4
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
7. Heptâmero do antígeno protetorApós ser ativado, sete cópias do antígeno protetor se unem para formar um heptâmero, com formato de anel, na superfície celular. Estaestrutura forma um pré-poro mediado pelo pH que permitirá a entrada dos fatores edema e letal no citoplasma da célula hospedeira(Lacy, Wigelsworth, Melnyk, Harrison, Collier, 2004; McAdam, Sharpe, 2010; Mourez et al., 2002; Nablo et al., 2013; Prince, 2003).
O heptâmero pode ser observado na figura 11, desenvolvida a partir do arquivo 1tzo.pdb referente ao heptâmero do antígeno protetordo Bacillus anthracis determinado por técnica de difração de raios-X em resolução de 3,6Å, sendo utilizado o software RasMol 2.7.5.2.Nesta figura, cada cópia do antígeno protetor encontra-se no modo spacefill e colorida em uma cor: vermelho, laranja, amarelo, verde,azul celeste, azul e púrpura. O script desenvolvido para esta figura está apresentado no anexo 2.
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
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Figura 11 – Heptâmero do antígeno protetor
Fonte: Os autores, 2019.
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
8. Fator edemaO fator edema (EF) recebe este nome devido ao fato de causar o efluxo de água das células, causando o edema intersticial. Sua ação estáexplicada no Capítulo 9 – Patogenia. O fator edema pode ser observado na figura 12, desenvolvida a partir do arquivo 1k8t.pdbreferente ao fator edema do Bacillus anthracis determinado por técnica de difração de raios-X em resolução de 2,6Å, sendo utilizado osoftware RasMol 2.7.5.2.
Nesta figura, observa-se os domínios do fator edema:
▪ Domínio CA (em vermelho alaranjado): abrange os resíduos de aminoácidos 249-349 e 490-622. É formado por nove alfa-hélices,uma folha beta pregueada e uma fita beta;
▪ Domínio CB (em azul celeste): abrange os resíduos 350-489. Possui três alfa-hélices e duas folhas beta;
▪ Domínio helicoidal (em verde mar): abrange os resíduos 660-800. É formado por um conjunto de sete alfa-hélices;
▪ Área de conexão entre o domínio CA e o domínio helicoidal (em magenta): abrange os resíduos 635-659, onde são observadas duasfitas beta (Drum et al., 2002).
O script desenvolvido para esta figura está apresentado no anexo 2.
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
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Figura 12 – Fator edema
Fonte: Os autores, 2019.
Domínio CA
Domínio CB
Domínio helicoidal
Área de conexão
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
9. Fator letalO fator letal (LF) recebe esta denominação devido ao fato de causar a morte celular por meio da destruição de proteínas-cinase ativadaspor mitógenos (MAPKK). Sua ação é melhor explicada no Capítulo 9 – Patogenia. O fator letal pode ser observado na figura 13,desenvolvida a partir do arquivo 1j7n.pdb referente ao fator letal do Bacillus anthracis determinado por técnica de difração de raios-Xem resolução de 2,3Å, sendo utilizado o software RasMol 2.7.5.2.
Nesta figura, observa-se os domínios do fator letal:
▪ Domínio I (em ciano): abrange os resíduos de aminoácidos 1-262. É formado por um conjunto de 12 alfa-hélices, 4 fitas betaformando uma folha pregueada, e mais 5 alfa-hélices e duas fitas beta espalhadas pelo domínio;
▪ Domínio II (em cinza): abrange os resíduos 263-297 e 385-550. Possui oito alfa-hélices e oito fitas beta;
▪ Domínio III (em marrom): abrange os resíduos 303-382 e é formado por um conjunto de 5 alfa-hélices;
▪ Domínio IV (em púrpura): abrange os resíduos 522-776, onde são observadas 12 alfa-hélices e quatro fitas beta (Pannifer et al.,2001).
O script desenvolvido para esta figura está apresentado no anexo 2.
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Figura 13 – Fator letal
Fonte: Os autores, 2019.
Domínio I
Domínio II
Domínio III
Domínio IV
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10. PatogeniaO processo de invasão do Bacillus anthracis em células hospedeiras está representado na figura 7:
A. O processo tem início a partir da ligação do antígeno protetor de 83 kDa (PA83) com o receptor de toxina de antraz (ATR);
B. A seguir ocorre a ligação do complexo PA83-ATR com a furina, uma protease presente na superfície celular;
C. A furina cliva a PA83, formando o fragmento PA63 que permanece ligado ao ATR e um fragmento 20kDa que é removido;
D. Ocorre a ligação de outros complexos PA63-ATR, formando um heptâmero (PA63)7;
E. Em seguida o fator edema de 89 kDa (EF) liga-se ao heptâmero (PA63)7, formando a toxina edemaciante (EdTx);
F. Esta ligação promove a endocitose, que traz a toxina para interior de um endossomo;
G. Ocorre uma redução no pH do endossomo que altera a conformação do heptâmero (PA63)7;
H. A partir dessa nova conformação o heptâmero (PA63)7 é utilizado como canal para entrada do EF no citossol;
I. No citoplasma, o EF liga-se à calmodulina (CaM) e ao íon cálcio (Ca2+);
J. O FE ativo converte a adenosina trifosfato (ATP) em monofosfato de adenosina cíclico (AMPc);
K. O AMPc é uma molécula sinalizadora que estimula o efluxo de água da célula, causando o edema intersticial;
L. O fator letal (LF) também pode-se ligar ao heptâmero (PA63)7, formando a toxina letal (LeTx)
M. Esta ligação promove a endocitose, que traz a toxina para interior de um endossomo;
N. Ocorre uma redução no pH do endossomo que altera a conformação do heptâmero (PA63)7;
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
O. A partir dessa nova conformação o heptâmero (PA63)7 é utilizado como canal para entrada do LF no citossol;
P. No citoplasma, o LF destrói as proteínas-cinase ativadas por mitógenos (MAPKK);
Q. A destruição das MAPKK promove a morte celular por mecanismos não conhecidos (McAdam, Sharpe, 2010; Mourez et al., 2002;Nablo et al., 2013; Prince, 2003).
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
Figura 7 – Patogenia das toxinas do Bacillus anthracis
Fonte: Autores, 2019. Adaptado de: Mourez M et al. 2001: a year of major advances in anthrax toxin research. Trends Microbiol [Internet]. 2002 Jun [acesso2019 nov 29];10(6):287-93. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0966842X02023697?via%3Dihub
PA83
ATR Furina
PA63
(PA63)7
EF LF
CaM Ca2+
MAPKK
31
Morte celular
ATP
AMPcEdema
H+
A
H+
B C D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
O
P Q
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
EdTx LeTx
Referências e sugestões de leituraBacillus anthracis [Internet]. 2001 out 24 [acesso 2019 out 29]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacillus_anthracis.
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
Silva BV, Horta BAC, Alencastro RB, Pinto AC. Proteínas quinases: características estruturais e inibidores químicos. Quím. Nova[Internet]. 2009 fev 5 [acesso em 2019 dez 11];32(2):453-62. Disponível em:http://quimicanova.sbq.org.br/imagebank/pdf/Vol32No2_453_31-RV08232.pdf.
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Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
Anexo 1: Padrão de cores
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CorComando
para a corAmostra Valores RGB
Amarelo Yellow [255,255,0]
Amarelo matiz Yellowtint [246,246,117]
Azul Blue [0,0,255]
Azul celeste Skyblue [58,144,255]
Azul matiz Bluetint [175,214,255]
Branco White [255,255,255]
Ciano Cyan [0,255,255]
Cinza Grey [125,125,125]
Laranja Orange [255,165,0]
Magenta Magenta [255,0,255]
Marrom Brown [175,117,89]
Ouro Gold [255,156,0]
Preto Black [0,0,0]
Púrpura Purple [160,32,240]
Rosa Pink [255,101,117]
Rosa matiz Pinktint [255,171,187]
Rosa quente Hotpink [255,0,101]
Verde Green [0,255,0]
Verde azulado Greenblue [46,139,87]
Verde mar Seagreen [0,250,109]
Verde matiz Greentint [152,255,179]
Vermelho Red [255,0,0]
Vermelho alaranjado Redorange [255,69,0]
Violeta Violet [238,130,238]
Fonte: Adaptado de Bernstein HJ, Bernstein FC. Manual RasMol 2.7.5 [Internet]. 2009 jul 17 [Acesso em 2019 nov 14]. Disponível em:http://www.rasmol.org/software/RasMol_2.7.5_Manual.html.
Quadro 1 – Padrão de cores do Comando Colours
Elemento Cor Amostra Valores RGB
Carbono Cinza claro [200,200,200]
Oxigênio Vermelho [240,0,0]
Hidrogênio Branco [255, 255,255]
Nitrogênio Azul celeste [143,143,255]
Enxofre Amarelo [255,200,50]
Fósforo, Ferro e Bário Laranja [255,165,0]
Cloro, Boro Verde [0,255,0]
Bromo, Zinco, Cobre, Níquel Marrom [165,42,42]
Sódio Azul [0,0,255]
Magnésio Verde folha [34,139,34]
Cálcio, Manganês, Cromo, Alumínio, Titânio, Prata
Cinza escuro [128,128,144]
Flúor, Silício, Ouro Dourado [218, 165, 32]
Iodo Púrpura [160, 32, 240]
Lítio Vermelho tijolo [178, 34, 34]
Hélio Rosa [255, 192, 203]
Demais átomos Rosa profundo [255,20,147]
Quadro 2 – Padrão de cores do padrão CPK
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
Anexo 2: Scripts desenvolvidos para as figuras
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Figura 10 – Antígeno protetorload 1acc.pdbwireframe offcartoonsselect 1-258colour yellowtintselect 259-487colour pinktintselect 488-595colour bluetintselect 596-735colour greentintselect caspacefill 200colour cpkrotate x 190translate y 3zoom 170
Figura 11 – Heptâmero do antígeno protetorload 1tzo.pdbwireframe offselect *a, *b, *c, *d, *e, *f, *ospacefillcolor redselect *bcolor orangeselect *ccolor yellowselect *dcolor greenselect *ecolor skyblueselect *fcolor blueselect *ocolor purplerotate y -71rotate x 13translate x 8translate y 16zoom 200
Figura 12 – Fator edemaload 1k8t.pdbwireframe offcartoonsselect 294-349, 490-622colour redorangeselect 350-489colour skyblueselect 660-800colour seagreenselect 623-659colour magentarotate x 90zoom 130
Figura 13 – Fator letalload 1j7n.pdbwireframe offselect 1-262cartoonscolour cyanselect 263-302, 385-551cartoonscolour greyselect 303-384cartoonscolour brownselect 552-776cartoonscolour purpleselect *bcartoons offrotate z 50rotate y 230translate x -5zoom 130
Antraz: estrutura bioquímica e patogenia das toxinas
Em 2001, houve ataques de bioterrorismo que assustarama população dos Estados Unidos. Cartas anônimas eramenviadas pelo correio, contendo um misterioso póbranco. Descobriu-se que as cartas continham as toxinasdo bacilo do antraz, que quando inaladas, causavam umaforma pulmonar letal da doença. Este livro apresenta astoxinas do antraz, apresentado sua estrutura bioquímicae explicando como elas atuam na célula do indivíduohospedeiro.
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