MENSAGEM, Fernando Pessoa (1934)
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Fernando Pessoa, um supra-Camões?
Desejo ser um criador de mitos, que é a tarefa
mais alta que pode obrar alguém na
humanidade.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Algumas notas
Mensagem é o único livro publicado em vida.
É o livro de toda uma vida, escrito entre 1913 e 1934.
Ganhou o 2º prémio do SPN.*
Foi posto à venda no dia 1 de Dezembro de 1934. **
É uma obra mítica e simbólica de 44 poemas épico-líricos,
onde paira um sopro de patriotismo e um misto de tristeza
e de esperança.
Recorre ao esoterismo, ao ocultismo através do mito do
Encoberto, do mito de D. Sebastião.
*Secretariado de Propaganda Nacional. Perdeu por falta de páginas (o mínimo eram 100 e o seu livro
tem cerca de 55. O prémio foi ganho por Romaria do padre Vasco Reis que ilustra a fé popular, tanto
do agrado do poder.
**Importância simbólica da data: a Restauração portuguesa; o fim do jugo castelhano; Portugal renasce
e volta a seguir o seu destino.Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Algumas notas (cont.)
Fernando Pessoa serviu-se dos seus conhecimentos
profundos de astrologia, de numerologia* e do
ocultismo (maçonaria, rosacrucianismo) que foram
traduzidos em diversas marcas e símbolos ao longo
do poema…
É um livro misterioso e que pressupõe uma leitura a
que nem todos têm acesso, a tal leitura oculta que só
alguns privilegiados poderão desvendar…
* Os números: 3, 5,7,12…
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
-----
Note-se que o ocultismo remete para um sentimento de
mistério, de algo indecifrável para a maioria dos mortais.
Assim, só o detentor do privilégio esotérico (oculto,
secreto) se encontra legitimado para realizar o sonho do
Quinto Império.
Para Fernando Pessoa, só alguns aparecem predestinados a
decifrar o sentido das sombras do mundo sensível (influência
platónica). O nosso mundo sensível e Portugal só se
cumprirão por força e vontade criadora do mundo inteligível,
onde está a ideia como verdadeira realidade perpétua e
essencial.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Um título perfeito
Era para ter sido Portugal, mas foi alterado
para Mensagem, por conselho de amigos. A
obra ganhou com a alteração, porque é, de
facto, uma mensagem que o poeta pretende
transmitir.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Que mensagem?
Mensagem é como que uma religião...
A Mensagem pretende apresentar a História de Portugale dos seus heróis a nível do mito e do símbolo. Não setrata , como fez Camões, da epopeia do feito heróico,mas sim da epopeia do significado mítico esimbólico desse feito, o que irá permitir descobrir ocaminho, o destino de Portugal no mundo. A mensagemque o poeta pretende transmitir é a de que Portugal estápronto e preparado para cumprir uma missão espirituala nível universal:
Portugal criará o Quinto Império!
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Quinto Império ver texto do blog
Já referido nas trovas de Bandarra* e
pelo padre António Vieira, o Quinto
Império é um império espiritual e cultural,
um império de fraternidade e de paz.
*O sapateiro de Trancoso
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Quinto Império é português
1.º império grego
2.º império romano
3.º império cristão
4.º império europeu
5.º império imaterial português
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Quinto Império - O supra-Camões
Portugal será o criador de um império espiritual.
Portugal irá em busca de uma Índia nova que não
há, em naus construídas daquilo de que os
sonhos são feitos.*
Virá um supra-Camões para realizar esse feito.
(mito messiânico do sebastianismo)
Será o império da língua portuguesa
Minha pátria é a língua portuguesa*
* in Nova Poesia Portuguesa
* Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Notas sobre o Quinto Império -
É um império espiritual que irá criar uma nova civilização espiritual.
O Portugal que o poeta antevê no futuro situa-se para além do
material. Não terá um domínio territorial, mas dominará em valores
espirituais e morais. Desta vez irá em busca de uma Índia nova que
não há em naus construídas daquilo de que os sonhos são feitos.
(Nova Poesia Portuguesa)
Assim construir-se-á uma nova civilização, um novo império
espiritual e cultural que será talvez o império da língua portuguesa
(Minha pátria é a língua portuguesa, Bernardo Soares.)
Para realizar esse sonho, Pessoa refere a vinda de um outro
Camões, um supra-Camões, que seria, por certo, ele próprio.
Pessoa assume-se como o cantor do fim do império português,
assim como Camões se tinha imortalizado como cantor do seu início.
Pessoa considera-se o profeta anunciador de um novo império, o
Quinto império de que já haviam falado Bandarra e o Padre António
Vieira.Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Estilo
As mesmas características do
Cancioneiro.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Estrutura (simbologia) ver manual
BRASÃO
MAR PORTUGUÊS
ENCOBERTO
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
MENSAGEMBENEDICTUS DOMINUS DEUS NOSTER QUI DEDIT NOBIS SIGNUM
(Bendito seja Deus nosso senhor que nos deu o sinal)
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Primeira parte
BRASÃO
BELLUM SINE BELLO (Guerra sem guerra)
A primeira parte de
Mensagem é curiosíssima
na ideia que a estruturou:
considera uma versão do
brasão real português
utilizado no século XV e a
cada uma das suas
partes relevantes associa
um poema relativo a
Portugal.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Dos CastelosA Europa jaz, posta nos cotovelos:
A Europa, José de Almada Negreiros
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Lenda da Europa
EUROPA – No mito grego, era filha do rei Agenor de tiro e irmã de
Cadmo. Suscitou a paixão de Zeus, que para a possuir se transformou
num touro branco. Um dia, quando a princesa passeava fora da cidade,
viu aquele touro branco e aproximou-se do animal. O touro, que era Zeus
assim transformado, permitiu mansamente que ela o acariciasse e até se
deixou cavalgar. Quando sentiu a princesa no seu dorso, raptou-a a
grande velocidade, atravessou o mar e trouxe-a da Ásia para outro
continente, que passou, por isso a chamar-se Europa.Deuses, Mitos e Lendas, Jorge Campos Tavares
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Museu de Pesto, ItáliaMuseu de Beirute, Líbano
Onde a terra se acaba e o mar começa, Os Lusíadas, canto III
Aqui onde o mar se acaba e a terra principia, O Ano da Morte de Ricardo Reis
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Cabo da Roca
Intertextualidade
Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Luís de Camões, Os Lusíadas, canto III
Aqui o mar acaba e a terra principia.
Chove sobre a cidade pálida, as águas
do rio correm turvas de barro, há cheia
nas lezírias. Um barco escuro sobe o
fluxo soturno, é o Highland Brigade
que vem atracar ao cais de Alcântara.
José Saramago, Ano da Morte de Ricardo Reis
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Das QuinasOs Deuses vendem quando dão.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
UlissesO mito é o nada que é tudo,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
UlissesO mito é o nada que é tudo,
Os paradoxos como forma de exprimir o
quão indefinível é o mito.
O mito cria a realidade.
É irrelevante a existência real, o que
importa é a existência mítica.
Portugal é um país de origem mítica.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
ViriatoSe a alma que sente e faz conhece
Morte de Viriato, José Madrago y Agudo
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Conde D.HenriqueTodo começo é involuntário.
D. Henrique da Borgonha, Conde de Portugal. Bandeira de D. Henrique, mais tarde a primeira
bandeira do Reino de Portugal
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D. TarejaAs nações todas são mistérios.
Teresa de Leão
Condessa (com o título de Rainha) de Portucale
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D. Afonso HenriquesPai, foste cavaleiro.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D.DinisNa noite escreve um seu Cantar de Amigo
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D.João O PrimeiroO homem e a hora são um só
Casamento de D.João I e D.Filipa de Lencastre na Sé do Porto.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D.Filipa de LencastreQue enigma havia em teu seio
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D. Duarte, Rei de PortugalMeu dever fez-me, como Deus ao mundo.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D. Fernando, Infante de PortugalDeu-me Deus o seu gládio, por que faça
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D.Pedro, Regente de PortugalClaro em pensar, e claro no sentir,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D.João, Infante de PortugalNão fui alguém. Minha alma estava estreita
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D. Sebastião, Rei de PortugalLouco, sim, louco, porque quis grandeza
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Nun’Álvares PereiraQue auréola te cerca?
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Infante D. HenriqueEm seu trono entre o brilho das esferas,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Infante D. Henrique é o patrono da Confraria do Vinho do
Porto, que usa o seu chapéu, e assim pretende homenagear
o seu espírito universal que é também apanágio do Vinho do
Porto.
( A ironia é que ele era um homem muito comedido que nem
sequer bebia vinho…)
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D. João O SegundoBraços cruzados, fita além do mar.
Património de S.Julião
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Afonso de AlbuquerqueDe pé, sobre os países conquistados
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Segunda parte
MAR PORTUGUÊS
POSSESSIO MARIS (Posse do mar)
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O InfanteDeus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
HorizonteÓ mar anterior a nós, teus medos
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
PadrãoO esforço é grande e o homem é pequeno.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Diogo Cão foi o primeiro navegador a
usar um padrão de pedra, substituindo
as cruzes de madeira.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O MostrengoO mostrengo que está no fim do mar
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Epitáfio de Bartolomeu DiasJaz aqui, na pequena praia extrema,
Estátua de Bartolomeu Dias na Cidade do Cabo
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Os ColombosOutros haverão de ter
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
OcidenteCom duas mãos - O Acto e o Destino -
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Fernão de MagalhãesNo vale clareia uma fogueira.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Ascensão de Vasco da GamaOs Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Mar PortuguêsÓ mar salgado, quanto do teu sal
Niterói, BrasilProf. Arminda Gonçalves - ESAG
A Última NauLevando a bordo El-Rei D. Sebastião,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
PreceSenhor, a noite veio e a alma é vil.
Dürer
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Terceira parte
O ENCOBERTO
PAX IN EXCELSIS (Paz nas alturas)
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
D. SebastiãoEsperai! Caí no areal e na hora adversa
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O Quinto ImpérioTriste de quem vive em casa,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Intertextualidade
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
25 de Abril, Sophia de Mello Breyner Andresen
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O DesejadoOnde quer que , entre sombras e dizeres,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
As Ilhas AfortunadasQue voz vem no som das ondas
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O EncobertoQue símbolo fecundo
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
O BandarraSonhava, anónimo e disperso,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
António VieiraO céu ‘strela o azul e tem grandeza.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Escrevo o meu livro à beira-mágoa.
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
NoiteA nau de um deles tinha-se perdido
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
TormentaQue jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
CalmaQue costa é que as ondas contam
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
AntemanhãO mostrengo que está no fim do mar
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
NevoeiroNem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Prof. Arminda Gonçalves - ESAG
Top Related