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Cultura Poltica e Historiografia Alem No Sculo XIX:A Escola Histrica Prussiana e a Histor ische Zeit schr ift .
Professor Adjunto de Teoria da HistriaJulio Bentivoglio
PPGHIS-UFESE-mail:[email protected]
RESUMOA constituio da cincia histrica alem no sculo XIX coincidiu com um
momento mpar da prpria histria da Alemanha o processo de unificao
poltica e de formao do Imprio no qual a investigao histrica esteve direta
ou indiretamente relacionada emergncia do nacionalismo e poltica prussiana.
Naquele perodo, duas escolas histricas se tornaram referncias aos jovens
historiadores: a escola rankeana e a escola histrica prussiana. Este artigopretende caracteriz-las e discutir a formao da cultura historiogrfica germnica
oitocentista tomando como referncia a Historische Zeitschrift.
Palavras-Chave: teoria da histria; histria intelectual; historiografia alem; sculo
XIX.
ABSTRACTThe constitution of the German historical science in the nineteenth century
coincided with an unprecedented moment of the history of Germany the processof political unification and formation of the Empire in which historical research
was directly or indirectly related to the emergence of nationalism and Prussian
policy. At that time, two schools have become historical references to young
historians: the Rankean school and the Prussian Historical Pchool. This article aims
to characterize them and discuss the formation of the 19th century Germanic
cultural historiography taking the Historische Zeitschrift like reference.
Keywords: theory of history; intellectual history; german historiography;
nineteenth century.
Tarefa difcil definir escolas histricas, delimitando-as num certo tempo e
espao, localizando suas idias de fora e os elementos que conferem identidade
aos historiadores que as compem. Um recurso que permite um primeiro passo
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nesta direo analisar seus expoentes, bem como sua produo o que,
invariavelmente, nos leva a um determinado peridico. Tal como podemos
vislumbrar uma escola dos Annalesnas pginas da revista homnima ou uma Nova
Esquerda Inglesa nos artigos da New Left seria possvel identificar uma EscolaHistrica Prussiana nas pginas da Historische Zeitschrift?
Lamentavelmente a historiografia alem durante o sculo XIX foi reduzida
a uma imagem distorcida e caricata de um historiador s: Franz Leopold von
Ranke. Como se toda a produo historiogrfica germnica adotasse a escrita
rankeana da histria. Essa imagem duradoura que surge ainda hoje em certas
interpretaes (FUNARI & SILVA, 2008) oblitera a existncia de diferentes escolas
ou movimentos em solo alemo durante o oitocentos, das quais se destacaram
de um lado Ranke e seus seguidores e de outro a Escola Histrica Prussiana, tal
como localizam os intrpretes (Iggers, 1983) (SOUTHARD, 1995). este o objeto
das linhas que se seguem, discutir a historiografia germnica em suas linhas mais
gerais e analisar o contexto histrico em que foi produzida, tomando como
referncia a Historische Zeitschrift (Revista Histrica), criada por Heinrich von
Sybel em 1859, peridico que existe at hoje e oferece um panorama bastante
sensvel da produo historiogrfica alem.
Em Michel de Certeau (2002) encontramos uma chave analtica acurada
para se pensar a operao historiogrfica e, por conseguinte, a produo individual
e coletiva dos historiadores, visto ser resultante da relao entre determinados
processos de institucionalizao os lugares , a conformao de determinadas
regras ou mtodos as prticas e, por fim, a expresso e materializao de um
saber consubstanciado em regimes de escrita. Em outras palavras, nesta operao
observa-se a reproduo de algumas estratgias funcionais: a institucionalizao e
reunio em torno de centros universitrios privilegiados, a adoo de
procedimentos metodolgicos semelhantes e o exerccio de uma forma de escrita,que, a seu modo, privilegia um peridico particular; responsvel por integrar os
sujeitos do saber, as prticas e os circuitos de circulao do conhecimento
histrico, produzindo um vnculo entre as universidades, os historiadores, as
associaes cientficas e os arquivos, garantindo a gnese e a divulgao das idias
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do grupo. Longe de querer propor um esquema, tenho me convencido de que as
escolas histricas dos sculos XIX e XX parecem seguir um certo desenho: sua
durao constituio e influncia no costuma exceder um sculo; orientam-se
a partir de um grande centro, uma universidade que se destaca e projeta suasobras histricas que so reconhecidas e traduzidas em outros pases1 e, por fim,
cujo programa e identidade do grupo cristalizado por meio de um instrumento
de difuso fundamental, uma revista, uma coleo, uma srie. Seria possvel
localizar ainda outras iniciativas que consubstanciam as escolas, relacionadas ao
acesso e controle privilegiado de certas fontes. Seno vejamos, a Escola Histrica
Prussiana sediada na Universidade de Berlim tornou-se pujante j em meados de
1840, notabilizou-se pela publicao da Monumenta Germanicae Historica e uma
das referncias centrais do grupo foi a Historische Zeitschrift , tendo seu ocaso
ocorrido em meados da virada do sculo aps a querela de Karl Lamprecht.2
O interesse por este tem surgiu-me em meados de 2003, quando me
convenci de que os historiadores alemes oitocentistas tinham sido reduzidos a
um lugar-comum. A emergncia da histria produzida na Alemanha atualmente,
que bastante conhecida pelos leitores brasileiros, a partir, sobretudo, do contato
com Gumbrecht (2003), Rsen 2001) e Koselleck (2006), conduziu-me ao
pensamento histrico germnico do sculo XIX. E revelou que ele no passava
exclusivamente pela obra de Ranke, que ainda hoje muito mal-conhecida3, mas
tambm por Niebuhr, Droysen e Gervinus, estes dois ltimos expoentes da
chamada Escola Histrica Prussiana. Da leitura destes historiadores estampou-se a
urgncia para que sua obra fosse estudada. Assim surgiram as tradues do
1 E curioso que quase todos estes historiadores iniciam sua carreira em alguma universidadeperifrica e depois migram para um plo maior e mais importante na rea. Deste centro passam aperegrinar e conferenciar em outros centros importantes, em outras universidades dentro e fora deseu pas.2A escola metdica francesa, composta por Monod, Fagniez, Langlois e Seignobos dentre outros, demodo semelhante, aglutinou-se em torno da Revue Historique de 1876 nome idntico revistaalem e da Sorbonne irradiando um tipo de escrita da histria que depois seria combatida poruma nova escola, osAnnales, que inicia suas atividades a partir de 1929 na revista homnima, Bloche Febvre tambm se deslocam de Estrasburgo para a Sorbonne e at o final do sculo XX foram umainfluente corrente historiogrfica. A micro-histria segue padro similar, nas pginas dos QuaderniStorici.3 Basta lembrar que, a rigor, existem apenas dois ensaios sobre o pensamento deste autor, oprimeiro redigido por Srgio Buarque de Holanda (1981) e o ltimo, publicado em 2010, por sinaluma anlise que nada deixa dever ao clebre historiador, de autoria de Srgio da Mata (2010).
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Manual de Droysen (2009) e dos Fundamentos de teoria da histria (2010) de
Gervinus. O despertar epistemolgico da Histria, vivido na Alemanha do sculo
XIX referenda um momento singular em que o pensamento histrico, ou suas
idias-fora parecem tomar conscincia de si, historicizando-se, situando seuslugares e sua pertena, confrontando sua prpria histria e projetando-se no
futuro. Nascia a cincia histrica. Outro detalhe importante era a convergncia
particular de cincia e poltica, visto existir um dilogo intenso entre pensamento
histrico e ao poltica, haja vista a histria subsidiar e ser subsidiada pelo debate
poltico em torno da unificao alem, dos conflitos territoriais e do nacionalismo
emergente de tal maneira que nem mesmo Ranke escapou a isso; o que por si
desmistifica a interpretao ingnua e os ataques desferidos contra seu pretenso
apartidarismo. Ao contrrio de Karl Marx, cujas obras histricas procuravam
produzir ao junto aopovo, em particular os trabalhadores, aqueles historiadores
prussianos escreviam para os prncipes e para a burguesia, embora no
desprezassem o dilogo junto opinio pblica, mas para isso se serviam da
imprensa.
Como se trata de uma pesquisa em desenvolvimento, talvez existam mais
perguntas e indcios que respostas categricas neste artigo. A meta, bastante
modesta, ser pensar a Escola Histrica Prussiana a partir da Revista Histrica,
uma das primeiras do gnero em todo o mundo. Ela foi anterior s congneres:
Revue Historique (1876) dos metdicos Monod e Fagniez, English Historical Review
(1886) fundada na Univesidade de Oxford ou osAnnales (1929) de Marc Bloch e
Lucien Febvre. E tambm relacion-la com um perfil e uma anlise sobre a
trajetria dos historiadores que a compunham. Este texto expressa, portanto, tanto
a necessidade da desfigurao de lugares-comuns da historiografia alem durante
o sculo XIX, quanto as dificuldades inerentes queles que se enveredam pelo
estudo da histria da historiografia. E vai enfatizar a convergncia entre odesenvolvimento da cincia histrica alem e o processo de unificao poltica.
Vnculo, por sinal, percebido por um dos historiadores alemes mais conhecidos do
perodo, ganhador do prmio Nobel de Literatura em 1904, Theodor Mommsen:
Eis o horizonte do futuro: organizar o Estado institucionalizado de formaque o comrcio alemo, a manufatura alem, a arte alem, a cincia
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alem, a sociedade alem e a vida alem continuem equiparadas ou seequiparem ao poder da nao. (THEODOR MOMMSEN, 1871, ApudMARTINS, 2010)
Em muitas aluses historiografia alem do sculo XIX comum referirem-
se a ela como sendo positivista, factual e conservadora (FUNARI & SILVA, 2008).
Pesa sobre aqueles historiadores e, em especial, sobre opai desta histria alem o
antema de uma condenao categrica, afinal Ranke parece ser a sntese de tudo
aquilo que no se deve fazer em Histria, algo que poderia ser resumido numa
frmula: narrar os fatos como aconteceram, ser objetivo e imparcial (Cf.
CARDOSO, 1988). Como se fosse fcil resolver estas questes em um autor cuja
obra to vasta quanto complexa1. Creio que sob esta censura ataviaram
exatamente aquilo que todo historiador deveria evitar: reproduzir acriticamente
uma mxima, incorrer em anacronismo e no tomar toda uma historiografia a
partir de apenas um representante. Esta a primeira imagem a ser desfigurada,
que elimina esta leitura reducionista, superficial e equivocada.
A complexidade da definio para o que recentemente surge sob a rubrica
de histria da historiografia exige que algumas advertncias sejam levantadas. A
primeira remete prpria historicidade do conceito de historiador, um lxico
antigo que sofreu mutaes no pensamento ocidental em meados do sculo XIX,
quando se passou a distinguir historiadores de cronistas ou de memorialistas. Asegunda ao problema da relao autor(es) e obra(s), ou ainda, num sentido mais
amplo, da construo de identidades em um grupo especfico de historiadores. De
certo modo, esta questo a mesma que ocorre nos estudos consagrados histria
intelectual, embora em outro registro. Nos estudos franceses consagrados ao tema,
destacam-se os trabalhos de Jean-Franois Sirinelli e de Michel Winock com uma
nfase sociolgica sobre as cartografias de intelectuais, suas redes de solidariedade
e de oposio, seus modos de integrao e em torno da formao de geraes
(SILVA In: LOPES, 2006:15s). A referncia maior o pensamento de Pierre
Bordieu, sobretudo em suas noes de campo e de habitus (SILVA In: LOPES,
2006:16). A esta influncia francesa existe uma outra da New Intellectual History
1 Concordo com Srgio da Mata (2010) acerca da existncia de um verdadeiro mito historiogrfico arespeito de Ranke.
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anglo-sax, que entende o texto como uma relao de foras, um nexo entre
perspectivas e nveis diversos que se configuram em determinadas obras e autores
(KIRSCHNER in: LOPES, 2006:33). Nesta tendncia temos a influncia sedutora da
hermenutica filosfica e do desconstrucionismo derridadiano e seu maiorexpoente , sem dvida Dominick La Capra (KIRSCHNER in: LOPES, 2006:34-5).
Hayden White, a meu ver, apresenta um diagnstico bastante elucidativo acerca do
campo. Ele se divide entre os analistas
que 1) assumem uma posio de acordo com uma ou mais dashermenuticas clssicas do sculo XIX (Hegel, Dilhey, Marx, Freud) ouseus herdeiros do sculo XX; 2) advogam uma teoria filolgicaneohumboldtiana da linguagem ultimamente reelaborada e refinada porGadamer e Ricoeur, ou ento 3) subscrevem abertamente a teoria ps-saussuriana do signo lingstico, dos quais so expoentes, ainda que deforma diferenciada Foucault e Derrida (WHITE, 1990:187-8).
Neste registro, pode-se ponderar que, a seu modo, Pocock e Skinner quando
subsumem as criaes individuais a um contexto maior, no deixam de ter sua
utilidade para a histria intelectual e para a prpria histria da historiografia (Cf.
JASMIN & FERES JNIOR, 2007). Evidentemente, preciso considerar as crticas de
David Harlan ao chamado contextualismo, sobretudo em Skinner, com sua
hermenutica de fundo romntico ancorada na proposta terica de resgate das
intenes originais do autor (HARLAN, 1989:585). Ponto alto das contribuies
recentes, sem dvida devem ser localizados tanto em Koselleck, quanto em JrnRsen, visto ambos terem dedicado estudos ao problema da historiografia e de
como deve ser subsumido anlise da conscincia histrica (KOSELLECK, 2003,
RSEN, 2008). Como se v, o exerccio de crtica historiogrfica a respeito da
histria da historiografia no algo fcil. Embora existam trabalhos clssicos1 a
tarefa apresenta algumas dificuldades, sobretudo acerca da melhor maneira de
avaliar o sentido e o efeito produzido pelas obras. Acrescente-se a os problemas
inerentes de crtica, ou anlise. Ou, como nas palavras de Barthes:
A crtica funciona ordinariamente (no uma censura), quer aomicroscpio (esclarecendo com pacincia cada pormenor filolgico,autobiogrfico ou psicolgico da obra), quer ao telescpio (perscrutandoo grande espao histrico que envolve o autor) (2004:27).
1A lista de autores exaustiva, mas, dentre eles se destacam Croce (1953), Momigliano (1993), Gooch(1959), Collingwood (1972) e Iggers (1983) dentre outros.
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Numa tentativa de sntese eu diria que o debate a respeito da histria da
historiografia est marcado ora pela nfase na constituio do autor (e da autoria
sua formao, mestres, conceitos-chave), ora pelo problema da publicao das
obras (e do que elas querem dizer), ora pelo do seu efeito (sua aplicao em outrasobras), ora pelo recurso contextualizao (pontos de insero e de disperso em
um determinado lugar e perodo, ou ainda face s disputas existentes). A
empreitada se torna ainda mais rdua quando, em meio s diferenas de formao
e de orientao epistemolgica se procuram identidades que configurem a
existncia de uma gerao ou de um grupo suprimindo, muitas vezes,
singularidades, quando no, elidindo a prpria autoria, dissolvendo-a em prticas
ou em iderios coletivos. O desafio, portanto, o de discutir a experincia daqueles
historiadores e sua trajetria poltica e historiogrfica para compreender seu
percurso intelectual no contexto da unificao alem, sem diluir trajetrias
individuais em uma imagem coletiva, a fim de restituir vida queles historiadores
embalsamados por clichs, trazendo ao primeiro plano da cena os que foram
eclipsados pela magnitude de Ranke. Retrat-los no como figuras ingnuas da
historiografia alem oitocentista ou meros intelectuais conservadores e
monarquistas, mas como historiadores complexos vivendo em um perodo
dramtico da histria europia. Em se tratando da apresentao de alguns
resultados preliminares creio que talvez estes pressupostos no estejam
plenamente atingidos neste artigo, pois ele apresenta um momento de uma
pesquisa em andamento, no tendo a pretenso de ser conclusivo.
O espao de tempo vivido entre 1806 e 1871 crucial para se entender a
histria alem. Entre a derrota fragorosa em Iena para Napoleo Bonaparte e a
vitria sobre a Frana e anexao dos territrios de Alscia e Lorena por Otto von
Bismarck, que marcaram a fundao do Imprio Germnico, ocorreram eventos
que distinguiram a emergncia do nacionalismo alemo e o comportamento dosestados germnicos em meio ao processo de unificao que seria capitaneado pelo
Reino da Prssia. A ocupao napolenica marcou a emergncia do nacionalismo e
o desejo de integrao alem.
Os excessos da Revoluo Francesa e de Napoleo atiaram osincipientes sentimentos nacionais das pessoas e fizeram-nos irromper
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em impiedosas labaredas. A nacionalidade tomou o lugar dahumanidade. Ao esforo para se realizar uma cultura humana de carteruniversal, seguiu-se o que visava consolidar uma cultura nacional (...). e aprpria cincia da histria nada hoje com bela desenvoltura na torrentenacional (SCHFER, 1884:I).
Vale lembrar, contudo, que em 1815 no havia instituies representativas
na Prssia, mas j as havia na Bavria, em Baden e em Wttemberg. De qualquer
modo, para a maioria dos historiadores alemes, a dominao napolenica evocou
o nacionalismo germnico. Breuilly indica que entre 1815 e 1848 teria havido uma
dominao cooperativa entre austracos e prussianos dos estados germnicos
(2002:27). No creio. A excluso da ustria do Zolllverein deixa isso muito claro.
Em termos bem simples, as elites alems em especial, a velha classeagrofeudal em declnio material, inmeros magnatas em ascenso naindstria e nos bancos, e os professores universitrios passaram a se
ver como guardies do carter especial da nao: pensavam ouimaginavam que a Alemanha estava sendo assediada por um conluio deinimigos externos e, mais importante, de inimigos internos (STERN,2004:13).
Os historiadores no poderiam fugir a estas demandas. Concomitante a
estes eventos formava-se a cincia histrica e se constitua uma esfera pblica
onde comeava a se destacar a figura do intelectual ocupando espao privilegiado
no cenrio poltico, na burocracia estatal e se projetando junto quela sociedade
aristocrtica. E muitos destes intelectuais foram, depois de Leopold von Ranke,
historiadores, tal como Georg Gervinus, Johann Gustav Droysen, Karl Wecker,
Friedrich Dahlmann, Georg Waitz, Heinrich von Sybel, Maximilian Duncker, Karl
Rotteck, Ludwig Husser, Theodor Mommsen, Rudolf Haym, Heinrich Treitschke e
Hermann Baumgarten, que pareciam ter o estudo do passado e a atuao poltica
no presente como vocaes. A atividade deles foi marcada no somente pelo vivo
sentimento de agir integrando o pensamento histrico e seus conceitos s palavras
de ordem usadas na imprensa e na luta poltica, mas tambm por um compromisso
com determinadas foras e seus projetos polticos. O objeto contemplado, portanto,
parece ilustrar um expressivo ponto de convergncia no qual histria intelectual,
histria e historiografia se articulam, numa constelao particular, que projetou
historiadores e a prpria histria, intelectual e cientificamente, influenciando
geraes de polticos na Alemanha e tambm de historiadores em toda Europa e
em vrias partes do mundo. S para se ter uma idia do destaque dos historiadores
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nesta esfera pblica em formao, basta lembrar que muitos deles foram
conselheiros polticos, editores de jornais, deputados gerais ou ministros.
O prprio Ranke no escapou a este processo, pois editou o Politisch-
historiche Zeitschriftentre 1832 e 1836 a pedido da Casa de Brandemburgo, bemcomo foi conselheiro do rei Frederico IV da Prssia e de Maximiliano I da Baviera
(BREISACH, 2007:262). O Historisch-Politische Zeitschrift foi criado a pedido do
conde de Bernstorff, o ministro dos Estrangeiros, que em 1833 tinha duas metas
claras: combater os radicais liberais de esquerda e afirmar a autoridade do
governo prussiano face s exigncias do liberalismo poltico (IGGERS, 1983:70). O
vonem seu sobrenome indica o ttulo de nobreza (baro) por ele obtido em 1865.
E vale lembrar que suas aulas eram concorridas, freqentadas no somente por
estudantes, mas tambm por autoridades, militares, polticos, profissionais liberais
e at integrantes da burocracia prussiana. Nem ele pode fugir do reflexo que as
guerras napolenicas e depois a Restaurao tiveram sobre a formao do
nacionalismo (Cf. HOBSBAWM, 1991) que ia ao encontro do interesse crescente
pelo estudo das razes histricas das diferentes naes europias, o que colocava a
histria como tematizadora do pensamento social. No por acaso este processo foi
acompanhado pela presena triunfante do historicismo como um verdadeiro
paradigma adotado em vrios saberes em formao (MEINECKE, 1997). Ao mesmo
tempo, nesta nsia pelo vivido, evidentemente que as tcnicas e a natureza da
prpria histria tambm foram revistas1, explicitando a gnese de uma nova
conscincia histrica na qual os historiadores redimensionavam suas experincias,
seus projetos e a historicidade do momento em que viviam. Assim, tanto o passado
quanto os saberes produzidos sobre ele viveram um despertar epistemolgico que
pode ser detectado em vrios momentos.
O primeiro destes momentos a referncia quase obrigatria ao
pensamento histrico de Chladenius, que em sua Algemeine Geschichtswissenchaftde 1752 havia indicado o percurso metodolgico mais adequado para se estudar o
passado. Sua obra balizou a crtica e a escrita da histria germnicas ao destacar o
ponto de vista dos sujeitos histricos e dos historiadores-narradores, revelando
1 curioso neste sentido ver a hesitao e o uso feito por Ranke do termo Historie em lugar de Geschichte(RANKE, 2010) em muitas passagens de sua obra.
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que o conhecimento histrico marcado pela crtica, tanto da perspectiva do
historiador quanto dos testemunhos. O que no significa exatamente a aceitao de
que os estudos histricos estejam contaminados pela sua subjetividade, mas o
reconhecimento da existncia da prpria subjetividade, ferramenta imprescindvelpara uma correta compreenso, outro conceito fundamental por ele empregado e
que seria fundamental na constituio do mtodo histrico posteriormente. A
crtica dos testemunhos, a compreenso do passado e a busca pela objetividade
conheceram em Chladenius um crtico veemente do ceticismo ou do relativismo na
Histria.
O segundo momento reside na obra de Barthold Niebuhr, sobretudo
sua Histria romana, na qual desenvolveu inovadoras tcnicas de crtica histrica
documental, buscando evitar tanto o anacronismo quanto a reproduo acrtica do
que diziam os documentos. Partindo dos avanos recentes tanto da filologia quanto
da hermenutica, Niebuhr indicou para os historiadores duas operaes
fundamentais da histria: a heurstica e a sistemtica. Sua contribuio enorme,
bem como a repercusso de suas pesquisas; basta ver seu reconhecimento por
Ranke e Droysen; ambos revelam sua dvida metodolgica a Niebuhr, que
realmente constituiu um momento de inflexo nas tcnicas de pesquisa histrica
na Alemanha. Essa tradio veio, sobretudo, da escola filolgica de Gttingen, que
promoveu o exame crtico e rigoroso dos clssicos antigos e das fontes,
preconizada por Wolf e Bckh. Este ltimo foi o orientador de Droysen em seu
doutorado. Junto com Wolf foram responsveis pela disseminao da filologia e
tambm expressavam a valorizao pelos Estudos Clssicos no interior do
pensamento germnico, ao lado de nomes como Schleiermacher, Schelling, Schiller
ou Humboldt.
O terceiro momento surgiu com Wilhelm von Humboldt e, para ser mais
preciso, com sua conferncia inaugural proferida em 1821 na Universidade deBerlim: A tarefa dos historiadores. Ali se encontra a agenda cientfica dos
historiadores prussianos, seu programa fundamental, adotado como referncia por
toda aquela gerao. Competiria ao historiador reunir os fatos, procurando seus
nexos, identificando suas foras motrizes e reproduzindo-os por meio de uma
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exposio narrativa. Nada poderia ser mais claro. Caberia ao historiador seguir
procedimentos cientficos e no abandonar a atividade criadora em seu ofcio.
Propagador do historicismo, Humboldt foi, ao lado de Chladenius e de Niebuhr,
uma das maiores influncias sobre o pensamento de Ranke e de sua gerao. Seunome ficou associado Universidade de Berlim, capitaneada a um dos centros
nevrlgicos do pensamento germnico, cujo programa e organizao foram por ele
reformulados tornando-se referncia para reformas universitrias posteriores.
Lecionar em Berlim era meta almejada por muitos professores de ento. Aquela
universidade, sobretudo graas a Ranke e a Hegel, tinha seus postos cobiados por
todo historiador ou filsofo que desejasse ter projeo em sua rea, tornando-se
um plo irradiador de novas doutrinas, e eles tiveram o mrito de serem
consagrados em vida no s na Alemanha, mas em toda Europa.
Um quarto momento corresponde ao desenvolvimento dos trabalhos de
Ranke e Droysen junto Universidade de Berlim: definindo a relao entre teoria e
prtica do novo saber. O modo como Ranke escolhia seus objetos de estudo, a
forma como submetia as informaes crtica, bem como suas narrativas
profundamente articuladas e expressivas conferiram-lhe uma posio de destaque.
Mas ao seu lado havia outro gigante, Droysen, responsvel por desenvolver uma
verdadeira teoria da histria que consolidou o campo epistemologicamente,
dotando-o da autonomia necessria face aos demais saberes que o destacou
perante sua gerao. Ao que tudo indica, embora cioso do mtodo, interessava
mais a Ranke a prtica, a pesquisa e a escrita da histria, ao contrrio de Droysen,
que embora tenha escrito obras histricas absolutamente rigorosas e fosse
excelente pesquisador, teve maior e notvel xito com suas reflexes de ordem
terica. Junto-os aqui, no somente porque foram contemporneos, ou porque
constituem a expresso maior do pensamento histrico germnico naquele
perodo, mas tambm porque, embora fossem rivais e no tivessem uma boaconvivncia em Berlim, suas obras se complementam e referendam os
fundamentos da operao historiogrfica de ento.
Um dos debates permanentes em relao histria prosseguia, qual seja, o
de se vincular a narrativa histrica aos domnios dos estudos literrios. E foi para
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resolver esse conflito de fronteiras que Gervinus em seu Fundamentos de teoria da
histria, redigido em 1837, analisou a potica da histria, estipulando os elementos
constitutivos da narrativa histrica, distinguindo-a das narrativas ficcionais. Para
alm disso, props um modelo sugestivo para se analisar a histria dahistoriografia ocidental bem como para se definir alguns gneros existentes na
escrita da histria. Este corresponde a um quinto momento, visto distinguir a
narrativa histrica da ficcional de uma vez por todas, e pensar a histria como um
gnero hbrido, mas especfico, conferindo assim, um modelo gentico de anlise
da historiografia. Pela primeira vez havia discutido com profundidade o problema
da escrita da histria, bem como havia exposto um novo modo de pensar a prpria
histria da histria.
O ltimo momento, a meu ver, reside na criao da revista Historische
Zeitschrift (Estudos Histricos) em 1859 por Heinrich von Sybel, pupilo e discpulo
de Ranke na Universidade de Berlim e amigo de Droysen desde as jornadas de
maio de 1848 em Frankfurt. Ali se consubstanciou o que procurarei defender como
sendo a efetivao de uma nova escola histrica e a constituio de um regime de
historicidade particular para a escrita da histria na Prssia. Ela coroa todo o
processo de formao e maturao de um tipo de histria e surge quando as
manifestaes pr-unificao alem se ampliaram, sobretudo na Prssia, contando
com a participao de muitos daqueles historiadores. Sem dvida a Historische
Zeitschrift foi um ponto de encontro, propagador das idias do grupo, projetando-o
na Alemanha e no exterior. Sua influncia explcita na Inglaterra, Itlia, Espanha e
nos Estados Unidos, foi, mais velada na Frana1. Ao lado da revista, foroso dizer
que a editora Duncker & Humblot, tornou-se tambm uma referncia para o grupo,
uma das maiores na Alemanha, cujo nascimento se deu auspiciosamente com a
criao da revista Athenaeum, publicada pelos irmos Schlegel e que depois se
projetou com a publicao das obras completas de Hegel e de Ranke. Nesta editorafiguraram grandes obras produzidas pelo grupo.
Ao tratar da Escola Histria Prussiana, Robert Southard (1995) revela que
para nascer ela teve que superar o interdito rankeano: o no-envolvimento direto
1Embora seus livros sejam sempre lidos, alguns traduzidos e seus nomes sempre lembrados porCoulanges, por Monod, por Seignobos.
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do historiador nos assuntos da poltica. Acredito, ao contrrio, que a influncia de
Ranke tinha indicado que o intelectual ou historiador no somente aquele que
precisa se envolver diretamente nos acontecimentos polticos de seu tempo, mas
cujo pensamento pode ser uma fora capaz de produzir ao poltica no presente.Seja subsidiando ou sendo subsidiado por um determinado projeto poltico, seja
imprimindo seus postulados nos acontecimentos do presente, seja agindo para
refutar projetos ou postulados existentes. preciso ainda lembrar que as
universidades alems eram instituies estatais e que os graduados comeavam a
ocupar um lugar especial naquela sociedade. O Cdigo Geral Prussiano havia
includo na sua classificao dos grupos sociais, alm das tradicionais nobreza,
burguesia e campesinato os servidores do Estado, incluindo nesta rubrica os
diplomados1. Escolas e as universidades, afirmava o Cdigo, eram instituies do
Estado e s podiam ser fundadas com autorizao oficial (RINGER, 1999, 37).
Aquelas universidades passavam por um perodo de grande renovao nos estudos
e nas disciplinas. Em Gttingen, o neohumanismo enfatizava o apreo pela cultura
clssica, pelas razes culturais germnicas e pelos estudos filolgicos. Em Halle
surgia uma nova universidade, voltada para cursos mais tcnicos e para as cincias
aplicadas, como o Direito, a Administrao e a Economia. Tratando daquelas
universidades dir Ringer que na corte de Weimar e na Universidade de Jena,
cidade vizinha, quinze anos brilhantes reuniram algumas das principais figuras do
renascimento cultural alemo (RINGER, 1999, p.35), como Schiller, Fichte, Hegel.
A prpria Universidade de Berlim, que se destacava agora como o centro
nevrlgico prussiano, superando Praga2, Frankfurt, Gttingen e Leipzig, expressava
o ideal de uma nova universidade, servindo de modelo para as futuras
universidades alems, que alterariam seus estatutos tendo-a como referncia
(Ringer, 1999, 39). Mas estas novidades se adaptavam a uma sociedade
aristocrtica, onde estes professores eram transformados em conselheiros,Geheimrte, e vistos como leais e eminentes servidores do Estado (RINGER, 1999,
1Allgemeines Landrecht fr die preussischen Staaten, parte II, tt.VII-X, 1794.2Viena e Praga foram em alguns momentos, a capital do imprio germnico. A ascenso de Berlimfoi recente e est relacionada com a ascenso dos Hohenzollern. Graas s conquistas internas eexternas e tambm habilidade diplomtica desta dinastia, Berlim se equiparou a Paris e aLondres, entre os sculos XVIII e XIX (ELIAS, 1997: 22).
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51). Penso que esta leitura desmistifica a possibilidade de uma atuao livre e
apartidria. Afinal a adeso dos docentes era obtida por meio de um instrumento:
o doloroso processo de habilitao dos candidatos a professores efetivos nas
universidades alems. Os professores tinham seu passado esquadrinhado pelosHabilitationsschrift antes de serem admitidos, sobretudo depois de 1871. Este
sistema de recrutamento permaneceu essencialmente intacto at 1945 (IGGERS,
1983:25). De qualquer modo, o interesse pelas questes do momento levaram
criao de vrias cadeiras de histria contempornea, que atraam grande pblico,
desviando os historiadores da cincia para a atuao poltica, cadeiras estas
ocupadas por historiadores como Droysen, Sybel ou Gervinus, dentre outros. E o
estudo da histria poltica conduzia cada vez mais rejeio da possibilidade de
uma tica racional de direitos e valores universais, comum a todos os homens, pois
cada vez mais era vinculada a situaes histricas especficas1. Vale lembrar que a
histria disputava com a moral, a poltica e a filosofia o papel de norteadora da
ao poltica. De qualquer modo, diz Mommsen
O intelectual alemo tambm se pode vangloriar do que a cincia trouxede benefcio do povo (...) o desempenho individual de cada um de ns,em comparao com o todo, de tal forma nfimo que aparece como umsoldado no campo da batalha em que combateu (...) Muito antes de asarmas alems ganharem nos campos de batalha, a pesquisa alem, emseus campos, conquistou o conhecimento e forou nossos vizinhos a
aprender nossa lngua. (MOMMSEN, Apud MARTINS, 2010, p.114-5).
E precisamente esta relao entre histria, filosofia e poltica que
distinguiriam as escolas histricas que se formaram na Alemanha oitocentista,
afinal elas no se limitaram Ranke ou a sua obra como querem alguns
intrpretes, tampouco constituam uma identidade absoluta entre todos aqueles
historiadores. Os prprios alemes chegam a reconhecer a existncia de vrias
escolas: a escola Rankeana e Humboldtiana, a escola de Niebuhr (que exerceu
enorme influncia na Frana e veio a se reforar com o manual de Ernst
Bernheim), a escola filolgica de Bckh e de Grimm, a escola romntica de Goethe e
Novalis, a escola histrica do Direito de von Savigny e, finalmente, a Escola
Histrica prussiana (cf. MARTINS, 2008, p.; cf GOOCH, 1959). Em que se
1 Exemplos disso seriam as justificativas dadas por Mommsen e Sybel sobre os direitos daAlemanha sobre a Alscia e Lorena, em textos onde a ao poltica era justificada pela histria.
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distinguiam? Que peculiaridades existem, por exemplo, em relao aos herdeiros
de Ranke e ao grupo dos historiadores capitaneados por Gervinus e Droysen?
Penso que foi, sobretudo, a intrnseca relao que estabeleceram entre pesquisa e
postura intelectual, entre pensamento e ao, entre cincia e poltica. At porque notvel a herana terica e metodolgica comum bem como a atmosfera de
respeito e reverncias mtuas entre os seguidores de Ranke e os integrantes da
Escola Histrica. Desafetos haviam, rivalidades tambm, como entre Ranke e
Droysen, entre Mommsen e Treitschke, ou entre Sybel e Waitz. Mas, o grupo
assentava-se sobre uma herana epistemolgica comum; foi marcado pelo
historicismo de Humboldt e de Ranke, pela reao ao idealismo hegeliano e pela
absoro de procedimentos hermenuticos e filolgicos na composio do mtodo
a crtica documental buscada em Niebuhr. Defendiam a atualidade de Aristteles
cujo pensamento visto com respeito , muitos publicaram tradues, redigiram
obras voltadas para a poltica e a histria do tempo presente, engajaram-se em
lutas na imprensa peridica, participaram diretamente na vida pblica se
envolvendo no nacionalismo emergente publicando textos de carter poltico-
nacionalista , propagando o ideal da Kleindeutsch durante e aps as jornadas de
1848 alm de preconizar um fundamento axiolgico orientado pela defesa da
objetividade. Em sua maioria eram protestantes, defensores da monarquia
constitucional, integravam-se s fileiras dos liberais moderados
constitucionalistas, no condenaram as guerras de unificao capitaneadas por
Bismarck (salvo Gervinus e Mommsen) e, por fim, escreveram obras de histria do
tempo presente. Em resumo, mantinham atmosfera de respeito s escolas
germnicas de pensamento existentes hermenutica, filolgica e filosfica , que
eram vistas como coadjutoras na fundamentao da Histria, com um esforo
terico semelhante e mediante o recurso a procedimentos metodolgicos comuns.
Para Fritz Stern,Encontramos ncleos de excelncia nas vidas de alguns de seusindivduos representativos; eram imbudos de uma f na cincia queainda era inocente, uma f semelhante a uma religio. Eram protegidospor laos de amizade, tinham o apoio de uma sociedade disciplinada,moviam-se por ambio organizada e contavam com um sistemaeducacional sem igual. A cincia alem e a sociedade alem eramprofundamente interligadas (STERN, 2004:12).
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Comprova-se assim a existncia de um processo de institucionalizao da
disciplina histrica em curso, marcado por lugares e tambm por regras que
definiam a cincia histrica exercitada. Em relao escrita da histria, maiores
estudos so ainda necessrios para aquilatar o nvel de suas semelhanas ediferenas no que concerne aos aspectos figurativos, estilsticos, retricos e
narrativos das obras.
Fortes indcios subsumem seu surgimento em meio a uma crise da
conscincia histrica europia, vivida desde a Restaurao e marcando o
pensamento e a poltica oitocentistas. No ocioso, portanto, examinar a atuao
daqueles historiadores como atores histricos. Em primeiro lugar queriam
reformas, ademais, do incio do sculo XIX at meados de 1848 buscavam algo
novo. Creio haver uma compreenso entre eles sobre a necessidade da formao
de novos homens para uma nova Alemanha, incutida no papel que muitas vezes
atribuam Bildung, embora isso no fosse algo homogneo. Esses novos homens,
singularizados na figura do intelectual, contudo, precisavam conviver com uma
velha poltica. Na crise da experincia histrica vivida, construram novos projetos
polticos alguns j haviam sido potencializados na literatura , reavaliaram suas
tradies culturais, mas encontraram muitos obstculos em relao ao poltica,
revelando uma sensvel tenso em curso entre a sociedade, a burocracia
administrativa e os governos aristocrticos germnicos. Assim, embora algumas
experincias fossem questionadas, havia dificuldade em romper determinadas
orientaes poltico-monrquicas e tambm religiosas. Nem todas as tradies,
portanto, estavam permeveis s mudanas em curso. Isto talvez explique o triunfo
da excessiva moderao, bem como, da persistncia do conservadorismo.
Do ponto de vista poltico, de modo semelhante ao Brasil, os liberais
moderados desejavam reformas, pois viam com reservas a revoluo ou o
princpio democrtico. Igualmente no defendiam a igualdade absoluta entre oshomens. Lutavam, contudo, pela consolidao de uma esfera pblica cujo debate
jornalstico bastante expressivo, mas que enfrentava o poder estatal e as
retaliaes polticas que se valia de instrumentos como a censura, a demisso ou
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a priso1. Em uma atmosfera profundamente autoritria, pouco espao era
conferido ao princpio democrtico. Assim, liberais radicais, comunistas e
socialistas eram quase sempre resumidos condio de anarquistas ou de
perturbadores da ordem vigente. Nesta condio sofriam ameaas de priso oueram forados ao exlio.
Pode-se dizer que o nascimento do historiador na Alemanha coincidiu com
a constituio deste saber e destes intelectuais, ao lado da construo do estado
Alemo, cujo passo inicial pode ser localizado na criao doZollvereinem 1834, e
depois atravs de alianas poltico-militares que viabilizaram as guerras de
unificao sob a liderana da Prssia. Durante este processo, muitos historiadores
viram-se integrados no esforo de construo do novo Estado, integrando-se
burocracia ou ao servio pblico, realizando misses diplomticas, exercendo a
docncia e a pesquisa e atuando como funcionrios ou como conselheiros. Ou seja,
foram intelectuais de projeo em sua sociedade, ao lado de juristas, economistas,
polticos e filsofos, mas que orbitavam em torno do Estado. Como foi exposto
anteriormente, nem o apartidrioRanke escapou a isso. De maneira mais explcita
os historiadores da Escola Histrica no viam problemas em integrar escritos
polticos de ocasio com estudos sobre o tempo presente ou histria do passado.
Eles percebiam uma relao intrnseca entre as motivaes do presente com a
investigao histrica, entre a compreenso terica do estudo das sociedades no
passado e a motivao para a ao poltica no presente, subsumidas a uma marcha,
ilustrada pela Histria e pela prpria trajetria nacional alem, escamoteando
pretenses universais, pois a defesa das singularidades da histria alem no
obliterava a ambio que tinham de escrever uma histria mundial, na qual a
Alemanha ocupava uma posio de destaque.
Curiosamente, os historiadores germnicos do sculo XIX pareciam inverter
a frmula de Koselleck: alimentavam muitas expectativas do passado, cujaexperincia histrica redescobriam cada vez mais graas consulta de fontes
nunca manuseadas e ao recurso crtica documental que possibilitava uma nova
1Foi o caso de Gervinus, por exemplo, que teve obra censurada e ameaa de priso, de Dahlmannque tambm foi preso, da perseguio de Droysen na Dinamarca. Ou ainda Karl Wecker que perdeusua cadeira na universidade por questionar o Parlamento de Baden.
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escrita da histria; e recorriam a esta experincia do passado a fim de encontrar
uma conexo nos eventos verificados no presente e no futuro. Ou seja, projetavam
o passado no futuro. Afinal, a histria no era mestra da vida, mas expressava
foras histricas permanentes que se configuravam de maneira singular em cadapoca e em cada povo. Nos eventos polticos verificavam uma soma em curso, cuja
tendncia e at mesmo cuja essncia era universal. Tomavam os estudos do
passado como uma referncia para pensar a atuao nos acontecimentos polticos
vivenciados no presente, vislumbravam a presena de foras histricas, de idias
que se materializavam em diferentes sociedades, que possuam um sentido que se
sentiam capazes de analisar. O que comprova a seduo do pensamento de Hegel, a
imprimir um forte teor teleolgico na leitura que muitos faziam a despeito de
resistncias. Foras histricas impeliam o agir humano e este possua uma essncia
a se realizar, materializada de maneira incompleta em diferentes experincias
histricas do passado e do presente. O sculo XIX, contudo, trazia novamente a
possibilidade de tentar concretizar esse ideal, embora soubessem, por sua prpria
experincia, que isso poderia ou no ser realizado de imediato. A seu modo
colaboraram para repensar o mito leibziniano de que viviam no melhor dos
mundos possveis, em uma poca dourada para o pensamento e para a cultura
germnica. Aps 1848 e, sobretudo, com o incio das guerras de unificao essa
imagem ganhou fora ainda maior, embora convivesse com vozes dissonantes.
Mais uma vez, revela Mommsen,
Por certo temos tambm o orgulho de ser alemes, e disso no nosencabulamos. De todas as ostentaes, nenhuma mais vazia e falsa doque a da modstia alem. Nada temos de modestos, no o queremos ser enem que se diga que o somos (...). No entanto, mesmo se nos declaramosnada modestos, no nos tornamos por isso cegos. (MOMMSEN ApudMARTINS, 2010: 113).
As manifestaes nacionalistas ganhavam mpeto e exprimiam o desejo de
formao de um Imprio Germnico, uma monarquia constitucional sob o governodos Hohenzollern, ou seja, sob a liderana da Prssia e a excluso da ustria.
Aqueles historiadores viam a histria como um processo complexo, no como uma
relao de causalidade, mas como constelaes de eventos marcados pela ao de
foras histricas, tendo um sentido: a realizao da liberdade ou ainda da
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consumao da grande obra divina. Nisso fundiam convices polticas e religiosas.
Este ltimo aspecto no ser destacado aqui. Mas, a liberdade era, para eles, um
conceito complexo. Sua idia de liberdade estava fundada sobre velhas tradies
nacionais e entendia a autoridade real e o poder estatal como historicamenteassociados e no como anttese livre poltica. Mas essa percepo tinha matizes
nos diferentes Estados 39 ao todo que compunham a Confederao Germnica.
Com a Unificao Alem liderada por Bismarck (1866-1871), novamente
potencializou-se o otimismo germnico, afinal, depois da Revoluo Francesa e das
revolues de 1820 e 1830, tambm a Alemanha parecia realizar os desgnios
histricos da humanidade. Essa impresso era sensvel em muitos daqueles
historiadores. E imprimiu neles, por conseguinte, a nfase e o engajamento nos
acontecimentos. Em 1848 era preciso agir, seja para impedir a anarquia e os
excessos, seja para dar a direo aos eventos. Mas, derrotadas em uma atmosfera
reformista a palavra de ordem para o momento foi, sem dvida, moderao. Muitos
historiadores engajaram-se na crtica da realidade poltico-social alem, tomando,
declaradamente, partido, em franca oposio ao mestre Ranke. S no pareciam se
lembrar de que, em 1792, a Prssia havia lutado contra os revolucionrios
franceses, tentando parar a revoluo. Sobre aquela sociedade diz Norbert Elias:
O Estado Hohenzollern tinha todas as caractersticas de um Estado
militar que se erguera atravs de guerras vitoriosas. Seus dirigentesreconheciam a necessidade de crescente industrializao e, lato sensu, decrescente modernizao. Mas os industriais burgueses e os donos docapital no formavam o estrato superior que governava o pas. A posioda nobreza militar e burocrtica, como o estrato mais elevado epoderoso da sociedade foi no s preservada, mas tambm fortalecidapela vitria de 1871. Uma boa parte da classe mdia, mas no toda ela,adaptou-se com relativa rapidez a estas condies. Seus membrosencaixaram-se na ordem social do Kaiserreich como representantes deuma classe de segunda categoria, como subordinados (ELIAS, 1997:26).
A seguir, vejamos um perfil geral daqueles historiadores integrantes da
Escola Histrica Prussiana e que tiveram ou exerceram alguma funo poltica
destacada no perodo entre 1848-1871 apresentado no Quadro 1 e que
colaboraram na Historische Zeitschrift. Alguns deles integraram o Partido do
Cassino, nome do hotel e restaurante onde se encontravam, onde defendiam a
Kleindeutsch, a unificao, o Estado de direito, baseado na constituio; no qual
pediam rgos representativos eleitos pelos distritos dos estados tradicionais e
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advogavam a igualdade perante a lei e o fim das restries, como por exemplo aos
judeus. Alguns deles integraram, nos anos 1860, o Partido Nacional Liberal
(IGGERS, 1983:93). De um modo geral rejeitavam a filosofia da histria de Hegel, a
teoria da lei natural, a primazia do indivduo em seu lugar colocaram as forashistricas que produziam o Estado e os indivduos. Acreditavam no progresso. E
entendiam que o poder no somente fora, mas tambm um princpio tico.
Entre os 830 deputados da Assemblia de Frankfurt em 1848-9, havia
apenas um trabalhador e um campons, 49 professores universitrios, 57
professores escolares, 157 magistrados, 66 advogados, 20 prefeitos, 118
funcionrios pblicos, 18 mdicos, 43 escritores, 16 pastores e 16 padres. No total,
pelo menos 550 tinham diplomas de curso superior, perto de 20% eram
professores universitrios, 35% funcionrios pblicos, 17% advogados (HUBER,
1960: v.2, 611). No total, 11 eram historiadores. A essncia dos trabalhos revelou-
se como a unidade pela persuaso (TAYLOR, 1945:76). Soldados do rei
protegiam os trabalhos. O nacionalismo tcheco da Bohemia conturbou a paz da
assemblia. E tambm a guerra em Schleswig-Holstein. Em 1850 a ustria
derrotou tropas bvaras e prussianas em Hesse (Olmutz), em retaliao foi
novamente recusada no Zollverein; posteriormente, a guerra com a Frana, em
1859, e a unificao italiana colocaram em xeque a hegemonia austraca. Tem
incio a expanso da supremacia prussiana, cuja hegemonia pode ser ilustrada pela
famosa frase proferida em 8 de outubro de 1862, pelo primeiro ministro
prussiano, Bismarck: os problemas atuais no sero resolvidos por maioria de
votos este foi o erro dos homens de 1848 e 1849 mas por sangue e ferro (Apud
TAYLOR, 1945:101).
O desejo de participao e de maiores liberdades polticas manifestou-se no
Parlamento de Frankfurt, mas as divises internas entre os parlamentares facilitou
a recomposio das foras aristocrticas, culminando na sua dissoluo em junhode 1849 e na recusa da coroa do Imprio por Frederico IV. Na Assemblia valores
liberais predominaram, por exemplo, a separao entre igreja e Estado, a
independncia do judicirio, a instituio do habeas corpus, a abolio da pena de
morte (BREUILLY, 2002:45). O grande dilema era entre autoridade nacional de
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base popular? e autoridade estatal, afinal os prncipes germnicos indicavam os
ministros em seus Estados. No obstante, as tendncias revolucionrias foram
esmagadas, os mpetos liberais refreados e a disputa pela hegemonia face aos
estados germnicos foi resolvida em 1866 na Guerra das Sete Semanas entrePrssia e ustria. Ali se formou a Confederao Alem do Norte, por Otto von
Bismarck, o Reichstag foi inaugurado em fevereiro de 1867 e a Guerra Franco-
Prussiana de 1870-1 selou a criao do Imprio, a integrao dos Estados do sul e,
consequentemente, a unificao.
No Quadro 1 esto relacionados alguns historiadores alemes do perodo
que, alm de obras histricas, produziram textos polticos ou exerceram alguma
atividade poltica importante no perodo estudado. Ele apresenta alguns resultados
parciais da pesquisa que desenvolvo. Nele relaciono datas de nascimento e morte,
cidade natal, curso estudado, universidades freqentadas, amigos ou mestres de
relao mais estreita, universidades onde atuaram, cargos legislativos, outros
cargos, publicaes de carter poltico e obras histricas. Encontram-se
relacionados apenas 31 historiadores; s para se ter uma idia na Historische
Zeitschrift so 273 ao todo que colaboraram enviando 783 artigos entre 1859 e
1900; mas eles permitem fazer uma radiografia elucidativa dos historiadores e da
historiografia alem oitocentista. Ao todo, 11 tinham ttulos de nobreza.
Em primeiro lugar, nem todos eram prussianos, muitos nasceram em outros
Estados germnicos. Do mesmo modo embora os protestantes fossem a maioria,
possvel localizar judeus e catlicos atuando dentro do grupo. Uma outra
caracterstica a presena de pelo menos trs geraes de historiadores: a
primeira composta por membros como Ranke, Waitz, Gervinus e Droysen; uma
segunda composta por Sybel, Mommsen, Duncker e Husser; e, a ltima, composta
pela gerao de Treitschke, Oncken, Waschsmut e outros. Esta ltima gerao
representa o arrefecimento da hegemonia historiogrfica exercida pelas duasprimeiras geraes, com um afastamento bem maior do paradigma rankeano.
Aspecto decisivo da formao revela que alguns universidades eram preferidas e
que era comum estudos desenvolvidos em mais de uma instituio. como se
buscassem em cada universidade os melhores cursos desejados, ou ainda como se
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deixassem os estudos iniciais em sua cidade natal e seguissem para outros centros
mais especializados. Histria o curso mais freqentado pelo grupo relacionado,
seguido por filologia, filosofia e direito. Berlim e Heidelberg so as universidades
mais apreciadas, seguidas por Freiburg, Gttingen, Leipzig e Bonn.Os vnculos de amizade e afinidades pessoais dentro do grupo bastante
heterogneo, embora Ranke, Sybel, Gervinus, Droysen Husser e Dahlmann fossem
figuras de destaque junto aos demais, surgindo em vrias biografias na condio de
mestres, supervisores de estudos e projetos merecedores de crdito e gratido.
Alm de algumas biografias foram consultadas enciclopdias de autores alemes
para localizar os dados apresentados no quadro. Aqueles historiadores lecionaram
em diferentes universidades, embora seja possvel verificar que os que se
destacaram no campo costumavam ocupar cadeiras em Berlim, Heidelberg, Bonn
ou Gttingen. Entre os relacionados, 11 foram deputados no Parlamento em
Frankfurt de 1849, 13 foram deputados em seus Estados e 10 foram deputados no
Parlamento Nacional aps 1871, o que indica uma intensa atividade poltica por
parte dos historiadores. No por acaso, muitos foram conselheiros de reis e
prncipes germnicos, seis foram reitores de universidades e scios ou integrantes
de academias e sociedades cientficas.
Em relao imprensa, 15 foram editores de jornais, a metade do conjunto
recortado, bem como escreviam em jornais, ao lado de outros dois que apenas
escreviam na imprensa peridica sem chegar direo. J a produo
historiogrfica do conjunto no est definidamente indicada, faltando relacionar
algumas obras, embora possa ser dito que sua principal marca so histrias
nacionais, estudos sobre a histria do tempo presente e biografias. Idade Mdia e
Era Moderna eram dois perodos bastante apreciados ao lado de histria recente.
Mas aqui ainda so necessrios maiores levantamentos para afirmaes mais
conclusivas.
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Quadro 1. Alguns Historiadores Alemes Do Sculo XIX Envolvidos Em Assuntos De Natureza Poltica.NOME VIDA CIDADE
NATAL
FORMAO UNIVERSIDADE MESTRES/
AMIGOS
LECIONOU CARGOS
LEGISLATIVOS
OUTROS CARGOS OBRAS POLTICAS OU
JORNAIS
OBRAS HISTRICAS
Karl von ROTTECK 1775-1840 Freiburg Direito Freiburg Johann Jacobi Freiburg Parlamento de
Baden
Presidente da Cmara
e Conselheiro em
Freiburg, pr-reitor da
Universidade de
Freiburg
Editor do jornal O Liberal Histria Geral, Staatslexikon
Karl Theodor Georg P.
WELCKER
1790-1869 Oberofleide
n HolbergOhm
Direito e
CinciaPoltica
Giessen e
Heidelberg
Dahlmann,
Droysene Gervinus
Giessen, Kiel,
Bonn eFreiburg
Parlamento de
Baden, Parlamentode Frankfurt
Editor do jornal
O liberal independente,
Staatslexikon
RudolfHAYM 1821-1901 Grnberg Teologia e
filologia
Halle e
Berlim
Duncker Halle Parlamento de
Frankfurt
Discursos e palestrantes
do primeiro prussiano
Unidos Diet, A Assembleia
Nacional Alem, editor do
Preuische Jahrbcher,
Hallesche Algmeneine
Literatur Zeitung,
National Zeitung
Hegel e seu tempo, A escola
romntica,
Herder e sua vida.
Georg WAITZ 1813-1886 Flensburg Filosofia e
direito
Kiel e Berlim Ranke
e Schelling
Kiel e
Gttingen
Assemblia de
Schleswig-Holstein,
Parlamento de
Frankfurt
Monumenta
Germaniae Histrica
Rotteck-Welcker-Staatslexikon,
Grundzge der Politik,
Histria constitucional alem,Forschungen zur deutschen
Geschichte, Histria de Schleswig-
Holstein.
Friedrich von
HERMANN
1795-1868 Dinkelsbhl Direito-
economia
Erlangen Ranke Munique Parlamento de
Frankfurt
Conselheiro dos reis
Maximiliano I e II da
Baviera, Conselho de
Estado da Baviera,
Academia Bvara deCincias
Estudos dos ativos estatais
econmicos, comerciais, renda e
consumo.
R einh ol d P AUL I 1823 -188 2 Be rl im F ilo lo gia e
histria
Bonn e Berlim Da hlmann e
Ranke
Bonn,
Marburg,
Gttingen
Secretaria da
embaixada emLondres
Wrttemberg e o desastre
federal
Histria dos documentos
hanseticos, Ensaios sobre a
histria da Inglaterra
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de Berlim, Sociedade
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Conde Yorck von Wartenburg
Leopold von RANKE 1795-1886 Wiehe
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Membro do Conselho
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Brandemburgo ,
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francesa, Histria Inglesa,
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Guilherme II assistiu
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Imprio: Histria da fundao do
Imprio Alemo
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Biografias de Gilherme II, duque
da Baviera, de Ludwig, de
Prederico o Piedoso, de Louise,
rainha prussiana
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Monumenta Historica
National Zeitung Frederico o Grande e Carlos
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Mendelssohn
BARTHOLDY
1838-1897 Leipzig Direito Heidelberg e
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Democrata e opositor da
Prssia
Histria da Grcia
Heinrich von SYBEL 1817-1895 Dsseldorf Historia e
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Frankfurt e
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de Erfurt e
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Nacional
Fundador com Ranke
da Comisso Histrica
da Academia de
Cincias da Bavria,
Diretor dos Arquivos
Prussianos, membro
do Instituto Histrico
de Roma,
A nao alem e o
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histrico-poltico,
Klnische Zeitung,
Autonomen, Sobre a
relao da nossa
Universidade com a vida
pblica, Os partidos
polticos do Reno
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do Cassino, Pariser
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Allgemeinen Kirchenlexikons,
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das katholische Deutschland,
Regesta Historiae Westfaliae,
Westfalia Sacra.
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Foi pro Pr-
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Welcker Staatslexikons
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de Leipzig
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Studien zu den griechischen
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Johann Friedrich
Ritter von SCHULTE
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Bonn e Praga Deputado pelo
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Die Geschichte der Quellen und
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von Gratian bis auf die Gegenwart,
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de Bonn 1871-2,
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Wilhelm von Brandenburg. 3,
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Julius Albert Georgvon HARTTUNG
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Friedrich Wilhelm
Karl von HEGEL
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Crnicas dos Estados Germnicos
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Gttingen e
Estrasburgo
Georg Waitz,
Julius
Weizscker
Greifswald Reitor da universidade
de Greifswald
Judeu que se converteu ao
protestantismo em 1886
Manual do Mtodo Histrico e da
filosofia da histria.
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A participao dos historiadores nos assuntos polticos deixava claro que
eles disputavam com os filsofos e os polticos o papel de tematizarem a liberdade,
e de refletirem sobre a poltica ou a governana. Esse envolvimento poltico
expressa um perodo decisivo da histria alem, vivido entre a derrota paraNapoleo e a vitria na Guerra Franco-Prussiana. Segundo Norbert Elias, a vitria
dos exrcitos alemes sobre a Frana foi, ao mesmo tempo, uma vitria da nobreza
alem sobre a classe mdia alem (1997: 26). Com isso, eles trocavam
decisivamente, o idealismo burgus clssico pelo manifesto realismo do poder
(ELIAS, 1997:27). De qualquer modo, a histria foi uma matriz disciplinar bem
como o pensamento historicista e um instrumento capital para a poltica no
perodo em tela. Com efeito, a histria da Alemanha e do liberalismo alemo no
poderia ser escrita sem devotar considervel espao ao papel central
desempenhado pelos historiadores (IGGERS, 1983:91). Assim, os historiadores
foram importantes atores do momento, algo que tambm ocorreu em relao
Frana, onde Thiers, Guizot e Michelet, por exemplo, no se furtaram de combater
na arena poltica e exercer cargos pblicos.
Sobre as trajetrias individuais algumas anlises podem ser feitas. Ranke,
por exemplo, era um conservador convicto, mas acompanhou a poltica de
Bismarck com pouco entusiasmo. Embora visse o chanceler com bons olhos, afinal
ele havia mantido a Prssia longe dos temores da revoluo, no o defendia
abertamente. O von em seu sobrenome, inclusive, foi um ttulo nobilirquico de
baro obtido em 1865. Ranke conclamava os historiadores a contemplar o jogo das
foras histricas, no de maneira desapaixonada apregoam como seus crticos, mas
deixando as responsabilidades do governo para os homens de Estado, ou seja,
polticos (BENTIVOGLIO, 2010).
Theodor Mommsen editou um jornal poltico em Schleswig-Holstein,
Gervinus dirigiu a Gazeta Alem. Em 1857 surgiu o peridico PreussischeJahrbcher (Anais Prussianos), criado quando Guilherme assumiu o governo
devido aos problemas mentais de Frederico IV, para apoiar a causa da unificao
alem e do governo constitucional sob a liderana da Prssia. A sua frente
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estiveram Sybel, Treitschke, Baumgarten e Dilthey (IGGERS, 1983:91) todos
historiadores.
Da queda de Napoleo e da Restaurao em 1815 at 1857 existiu a
Confederao Germnica formada por 39 Estados independentes e cujas deciseseram compartilhadas por Prssia e ustria, sob a hegemonia desta ltima. O clima
reacionrio fez com ambas resistissem a formas mais amplas de representao
poltica, gerando movimentos em 1820 e 1830; sem contar as ingerncias nas
constantes intromisses polticas da Santa Aliana. ustria e Prssia se uniram na
represso, os decretos de Karlsbad revelam isso, sobretudo para conter
conspiraes estudantis, motivadas pelas sociedades de estudantes, as
Burschenschafts. Foram elas que organizaram os famosos festivais de Wartburg em
1817 e de Hambach em 1832, emblemticos para se compreender o nacionalismo
germnico. Ambos foram gestados pelas Burschenschaften. O festival de Wartburg
celebrou o tricentenrio de Lutero e o 4 aniversrio da Batalha de Leipzig (HAHN,
2001:27). J o festival de Hambach tinha como mote a censura da imprensa e a
defesa do princpio democrtico (HAHN, 2001:29). Mais de 30 mil pessoas ligadas
a estes eventos foram perseguidas pela polcia secreta de Metternich. A
radicalizao dos movimentos estudantis teve seu ponto alto no surgimento dA
Gazeta Renanade Karl Marx, que comeou a circular em 1842, e, em escala menor
com a Gazeta Alemde Gervinus, surgida em 1845.
Embora depois da derrota em Iena as aspiraes liberais tivessem sofrido
duro golpe, paradoxalmente o controle francs sob territrios germnicos animou
certos atores polticos em relao ao iderio liberal e teve importncia decisiva na
emergncia do nacionalismo. A atmosfera reacionria ps-Restaurao tambm
contribuiu para a expanso das reivindicaes de liberdade e de direitos
democrticos, alm de motivar outros movimentos mais radicais, ilustrados pela
esquerda hegeliana e tambm pela liga dos comunistas. Os historiadores alemestendiam
a acreditar que a monarquia Hohenzollern, com seus aspectosautoritrios e aristocrticos e seu ethos burocrtico nico, garantiriamelhor caminho para a defesa das liberdades individuais e seguranajurdica que uma democracia em que poltica pode ser mais reativa aosanseios da opinio pblica que s consideraes e razoes de Estado(IGGERS, 1983:15).
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Nas frmulas polticas de ento nutriam admirao pelo federalismo norte-
americano, ainda que no vissem com bons olhos o princpio democrtico que lhe
inspirava; pelo liberalismo ingls sobretudo de Mill e de Bentham cuja
monarquia constitucional bicameral era admirada, ao lado do pensamento poltico
francs oriundo de Montesquieu e de Benjamin Constant. Mas esses iderios eram
assimilados criticamente e adaptados s prticas polticas vivenciadas em solo
germnico. Desse modo tradicionalismo, autoritarismo e protecionismo eram
foras que no universo das prticas polticas moldavam compreenses de
liberdade e de representao poltica. Historiadores liberais, como Dahlmann ou
Droysen, no defendiam uma monarquia parlamentarista, como a inglesa ou a
brasileira, mas uma monarquia constitucional em que rei e administradores daburocracia deveriam respeitar as liberdades civis e serem coadjuvados por
instituies representativas eleitas para a Cmara Baixa o Parlamento , visto
justificarem a existncia de uma Cmara Alta, formada pela aristocracia
tradicional.
At o Vormrz(Pr-Maro) em 1848, um otimismo reinava entre os crculos
polticos e intelectuais. Vislumbrava-se a possibilidade do surgimento de um
Estado alemo unificado, com instituies representativas e governo
constitucional. A despeito da represso reinante, da censura e das restries
polticas a intelligentsia germnica acreditava no triunfo do liberalismo. Afinal
viviam um momento de rpido desenvolvimento econmico, cultural e cientfico
que alimentava sentimentos patriticos de integrao, sedimentados no
pressuposto de uma identidade histrica e cultural comum acompanhada pelas
alianas econmica o Zollverein e poltica a Deutschesbund. O dualismo foi
rompido apenas em 1849, quando, o impacto da revoluo definiu melhor os
projetos polticos existentes e ampliou a rejeio monarquia austraca,
prenunciando a ascenso da Prssia. Se os episdios de 1848 em Frankfurt, Berlim,
Bohemia e Schleswig-Holstein haviam demonstrado queles polticos a
necessidade do uso de tropas, austracas ou alems, para garantirem as reformas e
evitarem aes polticas de uma esquerda radical (IGGERS, 1983:22), nos conflitos
do norte ficou patente que a ustria no desejava a expanso do poder prussiano.
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A ao do exrcito prussiano contra a reivindicao da Dinamarca por Holstein
indicou para a Prssia que somente a fora militar no seria suficiente para
conquistar a liderana frente aos territrios germnicos1. Seria preciso adotar o
caminho constitucional a fim de manter sua liderana sobre a ConfederaoGermnica e fazer alianas com os Estados germnicos mais fortes excluindo-se a
ustria projeto que ganhou at mesmo a adeso homens como Welcker e
Gervinus. Agora no se tratava somente de evitar conflitos sociais internos, como a
atuao de Metternich havia priorizado ao lado da expanso e domnio sobre seus
territrios no leste, mas, sobretudo, conseguir alianas polticas externas. De incio,
havia o desejo de integrao de todos os estados germnicos, com o passar do
tempo viu-se que a ustria no poderia integrar a confederao.
Assim, at 1848 os intelectuais alemes desejavam a liberalizao e a
unificao nacionais, face ao temor diante dos conflitos que colocavam em risco a
ordem, em crescente radicalizao poltica, que fizeram com que, salvo poucas
excees, apoiassem o governo prussiano de Frederico IV; depois, durante a crise
constitucional de 1862 e 1866 no apoiassem a poltica de Bismarck, mas, enfim,
que se comprometessem com ela a partir de 1867. Quando Bismarck reformou o
exrcito violando a constituio em 1862, o Preussische Jahrbcherprotestou, mas
depois das vitrias de 1866 todos reataram com Bismarck, com exceo de
Gervinus.
Para Taylor, at 1848 os escritores alemes escreviam para si e para os
prncipes, estavam longe da realidade. No tinham pblico (TAYLOR, 1945: 54). E
seria inimaginvel pensar o equilbrio germnico sem Metternich, mas depois
daquele ano a posio da ustria tornou-se um problema. A expanso dos jornais
mudou este panorama, indcio de ampliao da esfera pblica e da constituio de
foras disputando a arena poltica. O interesse crescente pelas questes do
momento levaram criao de vrias cadeiras de histria contempornea, queatraam grande pblico, e acabavam por deslocar muitos historiadores da cincia
para a atuao poltica, como foi o caso das aulas de Droysen em Kiel.
1Dahlmann publicou seuPoltica reduzida ao grau e medida das condies existentes para tratar destaquesto e foi um orador ativo dos direitos dos Schleswig-Holsteiners germnicos contra a monarquiadinamarquesa, ao lado de Droysen, que inclusive teria que deixar a Universidade de Kiel por conta disso.
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Quando em 1849 a contra-revoluo destruiu os parlamentos eleitos
democraticamente e muitas das liberdades criadas pela revoluo (BREUILLY,
2002:55) e em 1850 Saxnia, Hannover, Bavria e Wttemberg decidiram criar
uma nova liga de reinos, em oposio Confederao Germnica, sendo realizadaseleies para o parlamento de Erfurt votar uma constituio para esta liga, que foi
derrotada pelas tropas austracos, preservando a Confederao (Bund), ficou
evidente a impossibilidade de transformaes mais radicais ou democrticas para
o futuro da Alemanha. Este episdio, chamado tambm de humilhao de Olmtz,
contudo, apenas abreviou a franca ascenso da Prssia como liderana poltica.
Nas palavras de Von den Pfordten, primeiro ministro bvaro, a luta pela
hegemonia germnica havia sido selada e a ustria perdeu (Apud, BREUILLY
2002:58).
Ao contrrio de Georg Iggers que v na chamada Escola Histrica Prussiana
a expresso de um otimismo poltico ingnuo face a estes acontecimentos, penso,
que poderiam ser otimistas, mas no eram ingnuos. Mommsen, Gervinus e
Droysen, por exemplo, no acreditavam na existncia de um aperfeioamento
espontneo realizado pela histria que tornaria as instituies melhores ou mais
justas, como produtos necessrios do desenvolvimento histrico. Igualmente, para
eles, o poder no poderia ser somente o uso da fora, mas o exerccio de princpios
ticos. Ou seja, ao contrrio dos franceses que aps a Revoluo procuraram
aplicar a lei natural poltica ou, ou de Hegel que colocava a supremacia da razo
sobre a histria ou sobre os direitos individuais, revelam um entendimento
poltico diverso ancorado no princpio constitucional. Droysen, por exemplo,
escreveu as Guerras de Libertaoentre 1842-3 e a Histria da Poltica Prussiana,
em 1855, obras que tiveram forte impacto naquele contexto. Para ele a lei muito,
mas no tudo e o grande erro do liberalismo vulgar foi ter insistido no governo
baseado na soberania popular e por direitos individuais garantidos (...) e averdadeira essncia do constitucionalismo consiste em o Estado remover de sua
competncia tudo aquilo que no propriamente pertence a ele (IGGERS,
1983:107). Nacionalidade, portanto, deveria ser mais importante do que liberdade.
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A identidade entre os historiadores prussianos no pode ser pensada sem
reservas, tanto do ponto de vista poltico, quanto do ponto de vista epistemolgico.
Embora surgissem em um contexto comum e de uma mesma base, no so poucas
as diferenas existentes. Na Comisso Constitucional durante o Parlamento deFrankfurt em 1849, Dahlmann e Droysen se opuseram ao voto universal, algo que
Mommsen e Gervinus defendiam. Com o tempo, todos perceberam que a
Unificao no poderia ser feita a partir de Frankfurt, mas de Berlim. Outro
exemplo ocorreu
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