OS EFEITOS DOS VAZIOS URBANOS NO CUSTO DE URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE PALMAS - TO.
João Aparecido Bazolli 1
RESUMO:
A cidade de Palmas, embora planejada e com apenas dezessete anos de fundação, apresenta
problemas de vazios urbanos e elevado Custo de Urbanização. Justificou-se o estudo pela
observação dos vazios urbanos na região central e pela baixa densidade populacional da
cidade, comparativamente ao seu plano original. O estudo objetivou analisar os efeitos dos
vazios urbanos no Custo de Urbanização da cidade. Foi utilizado no estudo o método do
Custo Médio das redes urbanas em função da densidade (MASCARÓ, 1987a) desenvolvido
por meio de levantamento de dados secundários. Desta maneira foi proposto no estudo a
contenção da expansão da cidade pela redução do perímetro urbano atual de 28.415 hectares
para 16.000 hectares e a criação de políticas públicas voltadas para o adensamento da região
central da cidade, com a ocupação dos vazios urbanos existentes nesta região, que estão
dotados de infra-estrutura.
PALAVRA CHAVE: Cidade, Urbanização, Expansão urbana, Densidade urbana,
Infra-estrutura.
1 Mestre em Ciências do Ambiente pela Universidade Federal do Tocantins. Professor de Direito no Centro Universitário
Luterano de Palmas e na Universidade Federal do Tocantins. Q. 1006 Sul, Al. 2, casa 116, Palmas-TO, CEP. 77.023-543. Email: [email protected]
2
ABSTRACT:
Palmas city, even so it is planned and it is only seventeen years old, presenting problems of
urban emptiness and raised urbanization cost. Justified study of a observation of urban
emptiness in the central region followed for its low city population density, in relation to the
original urban plan. The study objectived to analyze the effect of the urban emptiness in the
city urbanization cost. It was used in the study the urban nets Average Cost method in
function of the density (MASCARÓ, 1987) developed by means of secondary data-collecting.
In this way it is recommended in the study the containment of the city expansion through the
reduction of the current urban perimeter from 28.415 hectares to 16.000 hectares and the
creation of public politics toward the occupancy of the city downtown, with the occupation of
the existing urban emptiness in this region, that are endowed with infrastructure.
Key-words: City, Urbanization, urban expansion, urban density, infrastructure.
INTRODUÇÃO
O crescimento da cidade foi gerado por programas de incentivo do governo estadual
que atraíram consideráveis fluxos migratórios oriundos das mais diversas regiões do país,
estimulados pelas facilidades na aquisição de lotes, muitos deles doados. Por essa razão se
verificou considerável crescimento populacional, registrado principalmente nos primeiros dez
anos da sua fundação, que foi acompanhado pela implantação de infra-estrutura urbana na
região central da cidade e pelo fomento dos meios produtivos. Essas transformações levaram
a uma expressiva valorização do mercado imobiliário.
O estudo se propôs a contribuir com a investigação dos efeitos dos vazios urbanos
sobre o custo de urbanização da cidade de Palmas - TO. Com essa proposta, foi estabelecida a
relação entre os vazios urbanos e o custo de urbanização da cidade, considerando a densidade
demográfica local.
A investigação no estudo teve a finalidade de responder à questão: Quais os efeitos
dos vazios urbanos no custo de urbanização da cidade de Palmas - TO?
3 Justificou-se o estudo pela observação da vasta área de vazios urbanos na região
central da cidade, seguida por sua baixa densidade populacional, em relação ao seu plano
original de implantação.
Segundo dados do IBGE, projeção para o ano de 2005, a densidade populacional
urbana de Palmas era de 7,3 habitantes por hectare, muito abaixo da mínima suportável
prevista por Mascaró (1987c) de 40 pessoas por hectare, e com distância ainda maior do seu
plano original de implantação, que previa a densidade de 300 pessoas por hectare.
Com relação ao mercado imobiliário da cidade, verifica-se a retenção de terras
providas de infra-estrutura na sua região central, com fins especulativos, considerada indutora
do crescimento descontínuo da mancha urbana. Os vazios urbanos gerados nesse processo
dificultam e encarecem a urbanização da cidade.
A dinâmica desencadeada pelo mercado imobiliário provocada pela retenção de terra
pode ser verificada pela existência de áreas ociosas dentro do perímetro urbano,
principalmente na sua região central, sejam lotes ou glebas, que ocasionam a diminuição da
oferta de terra urbanizada e resultam na elevação artificial do seu valor. Como conseqüência
desse processo, as pessoas menos providas de recursos são empurradas para as áreas
periféricas da cidade. Esses locais periféricos na maioria das vezes são constituídos por
loteamentos clandestinos, descontínuos e longe do aglomerado central, fator que torna a
cidade cada vez mais espraiada e reforça o avanço do urbano sobre o rural, ampliando a
degradação do ambiente que, embora não avaliado neste estudo, se dá em razão desse avanço
pela própria ocupação do espaço.
A proposta da pesquisa decorreu pela preocupação de que a cidade, mesmo com a
existência de vazios urbanos na sua região central, apresenta de maneira desordenada e
contínua uma expansão periférica.
Dessa maneira, pretendeu-se possibilitar a formulação de novas propostas de estudos
do gênero, principalmente por tratar do espaço urbano, do meio ambiente construído e do
custo de urbanização, com o intuito de estabelecer a sustentabilidade da cidade.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado a partir de consultas preliminares com subsídios teóricos
multidisciplinar, seguidos por levantamento de dados históricos da cidade de Palmas, bem como, pela
identificação e quantificação dos vazios urbanos na região central cidade. Foram analisados as formas
de expansão e de ocupação urbana desde a sua implantação, o mercado imobiliário, os indicadores de
4 crescimento, de densidade e econômicos e a base cartográfica para identificação dos espaços na
cidade. Foi realizada a projeção de cenários com base nos resultados encontrados na pesquisa.
O parâmetro para a análise foi o perímetro urbano da cidade, seguido do levantamento de
dados do Custo de Urbanização por meio do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil, para a aplicação do Método de Custo Médio das redes em função da densidade
(MASCARÓ, 1987d), com a finalidade de comprovar os efeitos dos vazios urbanos no Custo de
Urbanização da cidade.
ABORDAGEM ESTRUTURAL DOS VAZIOS URBANOS
Para este estudo, determinou-se como ponto de partida a identificação dos vazios
urbanos os terrenos vagos encontrados na cidade, que devem ser considerados como
referência da existência do fenômeno, no que concerne a sua individualidade. Sabe-se que a
somatória dos terrenos vagos resulta na quantificação dos espaços vazios. Assim, os terrenos
vagos são uma modalidade de uso do solo, quantificáveis e elementos comensuráveis da
paisagem. Portanto, o caminho básico para estruturar o estudo foi identificar o vazio urbano
enquanto terreno, lote e gleba sem construção.
Por outro lado, a abordagem dos vazios urbanos não se restringe aos aspectos
quantitativos. Por sua amplitude e complexidade, estão inseridos na dinâmica da produção e
da reprodução dos espaços na cidade, em dado momento, desse processo emerge a forma de
representação dos terrenos vagos na paisagem (ALVAREZ, 1994a).
O contraste entre a concentração urbana e os terrenos vagos, estabelece a dimensão
estruturada e dialética da realidade para a compreensão dos processos de constituição do
espaço urbano. Nos terrenos vagos que podem ser quantificáveis e descritíveis, em relação a
esse contraponto, respeitados os contrastes, encontra-se uma característica comum, a
possibilidade da concentração urbana que também poder ser quantificada (ALVAREZ,
1994b).
Embora os terrenos vagos sejam quantificáveis, a dinâmica da produção de espaço, no
processo de estruturação da mancha urbana da cidade, não representa dado estático diante da
lógica do mercado de solos. Os terrenos vagos surgem e desaparecem a partir e diante de um
processo incessante de produção e consumo, considerando que essa condição é indutora da
descontinuidade territorial que ocorre devido a duas dimensões contraditórias: a espontânea e
a institucional (ALVAREZ, 1994c).
5 A concepção da lógica dos vazios urbanos nas cidades não pode ser estruturada em
modelo comum. Para o aprofundamento da análise, faz-se necessário considerar diversas
variáveis, entre outras o porte, adensamento e a região geográfica onde a cidade está inserida.
A relação entre terrenos vagos, os vazios urbanos e a urbanização fica clara a partir da
constatação de que os terrenos vagos sugerem uma negação ao processo de adensamento,
considerando-se que as cidades se constituem a partir da tendência de maximização do
adensamento. Nesse viés os terrenos vagos se apresentam como contraponto e contraste, por
constituírem-se como meio de investimento financeiro e de valorização patrimonial.
A OCUPAÇÃO DO SOLO E OS ELEMENTOS DA SUA DINÂMICA: ESPAÇO URBANO, PREÇO E URBANIZAÇÃO.
Historicamente as cidades tiveram papel significativo nas relações humanas, mas a sua
marca profunda e definitiva emerge na civilização contemporânea. O crescimento urbano é
justificado principalmente pela migração rural-urbana (SPOSITO, 2005).
Especificamente o fenômeno da diversidade espacial, objeto de demanda urbana e
matéria antagônica, com o reforço do paradigma de que “a cidade é para todos”, deslocou as
discussões para eixos mais amplos. As demandas estão sendo debatidas com o uso de canais
participativos, a exemplo do Plano Diretor Participativo, possibilitando, assim, reunir, os
construtores e os usuários (SOUZA, 1985).
O efeito da variação da renda da terra urbana se estende ao aumento ou a redução da
capacidade de apropriação privada sobre o lucro imobiliário. Como resultado desse processo,
há um caminho natural para as divergências, conflitos e contradições, pela própria condição
inerente ao Estado, no papel de indutor do crescimento urbano (CARLOS, 1994a).
O espaço urbano reúne os interesses dos agentes privados, do poder público, dos
movimentos sociais, como forma de resistência contra a segregação do espaço residencial,
visto na abordagem deste estudo pelo viés do preço da terra e pelo direito à cidade
(CAVALCANTE, 1972).
O espaço urbano convertido em lotes retidos para a especulação imobiliária se
transforma em imensos vazios em meio à região central das cidades, normalmente dotados de
infra-estrutura, sendo detectado na maioria das cidades brasileiras como causadores de efeitos
no custo da cidade, conforme debate amplo neste estudo.
A dinâmica espacial que origina as cidades está representada pelo processo contínuo
de alocação de formas construídas, espaços adaptados e atividades sociais sobre um
6 determinado lócus. O ajuste espacial é decorrente das forças, dos contrastes e dos privilégios,
determinantes na diferenciação da maneira de ocupação, coordenadas pelos atores sociais, que
agem sobre os elementos urbanos, ora provocando aglomeração de pessoas e concentração de
atividades, ora dispersando as pessoas e descentralizando as atividades, estabelecendo, assim,
a cada ação de transformação, um novo mapa de acessibilidade com seu quadro de
beneficiários (PALMA; KRAFTA, 2003).
No tratamento da dinâmica espacial da cidade, sob a ótica e perspectiva da economia
urbana, os vazios urbanos são decorrentes de fatores estruturais e da apropriação da renda da
terra urbana. Aos fatores estruturais se atribuí a polarização espacial inerente ao capital e a
apropriação da renda da terra, pela retenção de porções do território pelo Estado ou por
agentes privados. Essas condições justificam o crescimento da periferia, pela inacessibilidade
ao solo urbano, principalmente nas áreas centrais, pela prática imobiliária de preços elevados.
Pelo foco deste estudo, a temática fundiária e valor imobiliário mereceram abordagem
em face da discussão sobre os problemas urbanos convergirem para a contradição decorrente
de modificações imposta pela sociedade e imprimida no espaço geográfico. Essas
modificações estão relacionadas à produção e reprodução do espaço, que na realidade,
ocorrem, pelo fato do espaço urbano se vincular a compra ou aluguel do “pedaço de terra”
com a finalidade de uso para a moradia (OLIVEIRA, 1978).
Nesse viés e considerando que a questão central do debate se estabelece a partir da
falta de acesso a terra com infra-estrutura, em virtude do seu elevado preço, não se pode
deixar de trazer à colação o fato da unidade espaço-sociedade reproduzir a desigualdade
materializada, pela divisão do trabalho, entre as “parcelas” do espaço e em cada uma delas.
Devido a esse contexto e com foco na maximização dos lucros imobiliários, os
proprietários fundiários com o uso da influência e do poder pressionam a municipalidade,
procurando intervir nas questões locais de uso e ocupação do solo, do zoneamento urbano e
outros aspectos primordiais na urbanização das cidades (CORRÊA, 1995).
É salutar apontar entre diversos aspectos relevantes, que emergem do debate, aquele
que converge diretamente para a proposta deste estudo, consubstanciando pela dinâmica do
preço praticado pelo mercado imobiliário, que é a dialética representada pela busca do acesso
à terra urbana com infra-estrutura e na sua contraposição a especulação imobiliária. Ressalta-
se, portanto, que agregado a outros fatores, também primordiais, este é o parâmetro para a
compreensão da presença de extensas regiões vazias encontradas nas cidades, principalmente,
as dos países do bloco latino-americano.
7 De maneira geral as vendas de lotes urbanos, que são originalmente realizadas em
função da ideologia da casa própria para a classe trabalhadora, revelam surpresas, quanto às
promessas realizadas, por ocasião da compra. Constata-se na ocasião da posse do lote que as
promessas, na maioria das vezes, não são cumpridas. O adquirente percebe que além da
inexistência da infra-estrutura prometida, se não lutar para a solução do problema, não verá
ele solucionado em curto prazo (CARLOS, 1994b).
No Brasil, especialmente, até pelo déficit habitacional estar instalado na população de
baixa renda, faixa de até três salários mínimos, e devido à manutenção do atual modelo latino-
americano de crescimento das cidades, a população de baixa renda, independentemente do
aumento de oferta, ficará à margem, sem a possibilidade do acesso a terra, principalmente a
urbanizada.
Em se tratando especificamente do mercado de solo urbano, pode-se afirmar que
possui oscilações importantes, principalmente quando comparado com a sua prática na
Europa e nos países norte-americanos, em relação aos países latino-americanos. Estudos
realizados mostram, que o metro quadrado de terrenos na periferia de cidades norte-
americanas tem um intervalo de US$ 28 a US$ 145, nas cidades alemãs a variação é de US$
61 a US$ 124 e nas cidades latino-americanas, essa variação vai de US$ 32 ao surpreendente
US$ 172 (SMOLKA, 2003a). Evidente, há de se considerar, ainda, que os rendimentos da
população nas cidades norte-americanas são de sete a dez vezes maiores aos da população
latino-americana.
No mesmo estudo foi constatado que o cidadão norte-americano com o salário mínimo
de aproximadamente US$ 950 poderia comprar de sete metros quadrados a trinta e quatro
metros quadrados, na periferia de Boston (Estados Unidos da América), enquanto na cidade
de Palmas, Estado do Tocantins, poderia comprar apenas de oitenta centímetros quadrados a
quatro metros quadrados (SMOLKA, 2003b). Considerando que o salário mínimo brasileiro
na época do estudo era de US$ 130, portanto, seriam necessários de doze a quinze anos de
trabalho para uma família, com renda média de três salários mínimos, pudesse adquirir um
terreno urbanizado padrão de duzentos metros quadrados, no Brasil (SMOLKA, 2003c).
As características que reproduzem essa realidade se retro-reproduzem, além do seu
crescimento sistêmico em face do próprio crescimento urbano. Nessa ampliação complexa,
encontramos identificações comuns para problemas como: as cidades são grandes devido à
especulação, ou vice-versa; há especulação devido aos vazios urbanos, ou vice-versa; há
vazios urbanos, porque as cidades são grandes, ou vice-versa (SANTOS, 2005).
8
DESENHO URBANO, DENSIDADE E O CUSTO DE
URBANIZAÇÃO.
A abordagem do desenho urbano, no contexto deste estudo, serve para respaldar o
debate sobre a expansão desordenada das cidades. Como evidenciado na seqüência do texto, o
tratamento do assunto não tem o caráter meramente técnico. Por sua amplitude e pela
proximidade ao debate sobre o planejamento urbano, a discussão assume importante papel
para o estabelecimento de uma visão sistêmica espacial das cidades.
Relacionado com a maximização da qualidade de vida no uso dos espaços públicos,
levando-se em conta tanto o aspecto físico e o sócio-cultural, aparece na década de cinqüenta
o termo desenho urbano. No desmembramento do termo, o urbano retrata a cidade, com
abrangência de todo o seu espaço, enquanto o termo desenho retrata efetivamente a produção
e organização dos espaços (CARMONA et al., 2003).
Contextualizando, o desenho urbano contemporâneo, na busca da criação de espaços
urbanos de sucesso, inserido na dinâmica da cidade em razão da sua diversidade de
atividades, não tem a preocupação com a formulação de espaços somente enquanto entidades
estéticas, mas também se preocupa com a relação comportamental no interior dos espaços
criados e com a dimensão da sua intervenção na produção dos espaços.
A noção de desenho urbano pressupõe um caminho para cidades mais seguras e
humanas, por meio da produção e inclusão social dos espaços urbanos de maneira
participativa. Existe uma relação estabelecida entre a formulação de idéias, conceitos e
projetos com as diretrizes de intervenção e gestão do espaço urbano, contemplados pelos
princípios do planejamento participativo, que são normalmente estabelecidos em normas
legais.
É nesse viés que acontece a busca da identidade espacial, em que a atitude
comportamental do indivíduo transcende o sentimento da propriedade privada individualizada
e passa a ter um sentimento de comprometimento com o espaço em que vive. Enfim, a
comunidade se sente responsável e se orgulha por conviver em determinado espaço. Esse
sentimento de propriedade é adquirido quando existe uma clara delimitação espacial entre os
espaços públicos, semipúblicos e privados (ZELINKA; BRENNAN, 2001).
Neste estudo, a densidade urbana é um elemento essencial para o debate. Não se
pode falar em “cidade sustentável”, tema de capítulo específico, sem integrar a questão do
adensamento na configuração do espaço urbano. O instigante do tema é não haver respostas
9 para a questão da densidade ideal, haja vista que, para estabelecer a relação espacial da cidade
com a densidade urbana, devem ser consideradas desde as origens sociais e étnicas da
população até aspectos econômicos locais.
Nesse contexto, ao se obter opinião de um planejador sobre o uso de um lote de cem
metros quadrados, constata-se que para o indiano a área é demasiadamente grande, portanto
inacessível financeiramente à população, enquanto que para um africano (oriental cone sul) o
lote é demasiadamente pequeno, portanto inaceitável por parte da população, denota-se,
assim, que as considerações locais, no planejamento, são extremamente importantes,
principalmente na relação espacial das cidades (ACIOLY; DAVIDSON, 1998a).
A infra-estrutura e a densidade urbana estão diretamente relacionadas, haja vista o
elevado custo para a implantação de equipamentos e de serviços públicos nas diversas
localidades. Portanto o número de pessoas beneficiadas pela implantação de infra-estrutura
deve estar proporcionalmente condizente ao investimento realizado pelo gestor público.
A questão central do debate é o estabelecimento da densidade ideal para as
localidades, de 300 habitantes por hectare, mas a literatura é unânime em afirmar que não
existe um modelo pronto. A construção do modelo local, para a determinação da densidade
urbana, que traduza a sua eficiência, deve levar em conta aspectos como: as origens sociais e
étnicas da população e não deve abandonar os aspectos econômicos locais (ACIOLY;
DAVIDSON, 1998b).
O grau de eficiência da gestão é estabelecido pela identificação da densidade urbana
máxima, suportável pela cidade. Estudos constatam que o excesso de população provoca
tensões ambientais como: delinqüência; stress; distúrbios nervosos e outros sintomas inerentes
e relacionados à superlotação da habitação, o que reflete diretamente na qualidade de vida das
pessoas (ACIOLY; DAVIDSON, 1998c).
O problema da densidade em relação à qualidade de vida é complexo, portanto
qualquer julgamento definitivo sobre a temática induz ao equívoco. É necessária profunda
análise à adequação da tipologia da urbanização à cultura local. Curiosamente a cidade de
mais alta densidade ocupacional do mundo, Nova Iorque, Estados Unidos, é uma cidade
agradável e com uma boa qualidade de vida (MASCARÓ, 1987a).
Mascaró (1987b), com o uso do método de Custo Médio das Redes Urbanas em
Função da Densidade, analisa diversos níveis de densidades em relação aos custos para a
implantação de infra-estrutura urbana.
Com o uso da (Tabela 1), verifica-se que o custo por hectare para a implantação de
infra-estrutura para uma densidade de 75 habitantes por hectare custa 33.642 mil dólares,
10 representando 2.230 mil dólares por domicílio. Já a implantação para 600 habitantes por
hectare custa 43.339 mil dólares, representando 358 dólares por domicílio.
Em análise a este contexto, verifica-se que ao dobrar a densidade de 75 para 150
habitantes por hectare o adicional no custo equivale a 6,8%, de 150 para 300 habitantes por
hectare o adicional no custo equivale a 10,8%, e finalmente de 300 para 600 habitantes por
hectare o adicional no custo equivale a 8,8%, enquanto a redução do custo por domicílio
encontra fatores representativos, até atingir os 523% na relação de atendimento a 120
domicílios.
Tabela 1: Custo médio das redes urbanas em função da densidade
CIDADES SUSTENTÁVEIS
A origem da cidade é a aldeia, mas a cidade não pode ser considerada, de maneira
simples, como apenas uma aldeia que cresceu. Com a implantação da indústria, do comércio e
serviço, acontece a mudança na força de trabalho. As pessoas, que cultivavam a terra, mantém
com o excedente da produção agrícola as pessoas que não têm essa obrigação (BENEVOLO,
2005).
Portanto as cidades surgiram em decorrência do comércio de produtos excedentes, em
função da reunião de pessoas e aglomerações humanas. A sua maior característica é a
11 concentração populacional (RIBEIRO, 2004a). Elas tiveram a sua origem na divisão do
trabalho, os produtores rurais continuaram a produzir, mas os encontros para a transação dos
produtos aconteciam nas cidades (RIBEIRO, 2004b).
As cidades, que são vistas como um resultado das formas urbanas construídas para
abrigar as pessoas, revela a complexidade na sua expressão de equacionar tecnologia, cultura,
religiosidade, temporalidades e domínio espacial.
Com o foco específico no tema deste estudo, destaca-se o raciocínio da dicotomia
cidade-campo, tendo o município como ente sistêmico dividido em área rural e urbana. Com
base nesse pressuposto, considerando o constante avanço do urbano sobre o rural, observa-se,
de certa maneira, que a manutenção da organização discricionária feudal consubstanciada nos
muros sociais, estão caracterizadas pela segregação espacial. Embora haja prescrição
constitucional do princípio democrático da igualdade, a cidade não é acessível a todos, até
porque a própria busca da lógica da igualdade tem produzido a discriminação.
Com o enfoque no desenvolvimento sustentável e na dinâmica da cidade, a cidade
sustentável é o local de onde emerge a participação do cidadão, na sua relação de prover o seu
sustento baseado em ações que objetivem o bem estar da comunidade, que deve estar
condicionada à defesa do meio ambiente natural, enfim, o conceito vem consolidado na
dicotomia, cidade-cidadão, enquanto a existência da garantia do exercício da cidadania plena
(VIEIRA, 2004). Cidade sustentável é o local onde a população e os empresários se
empenham na melhoraria do ambiente natural, construído e cultural, em nível local e regional,
objetivando o desenvolvimento sustentável global (BARNETT, 1993).
Quando se fala em cidade sustentável não pode ser considerado somente o bem-estar
social dos habitantes, o planejamento urbano e a gestão do meio ambiente urbano. Devem-se
levar em consideração também aspectos econômicos e financeiros intrínsecos às morfologias
e tipologias das cidades (ACIOLY; DAVIDSON, 1998a).
De maneira geral, parece relativamente simples atingir a condição proposta, mas, na
verdade, a aplicação ampla do conceito sustentabilidade urbana é extremamente complexo e a
sua aceitação ainda mais controvertida. A principal fundamentação para aplicabilidade
conceitual da sustentabilidade se encontra na mudança de comportamento das comunidades
locais.
A sustentabilidade urbana, no contexto deste estudo, debate a capacidade de suporte
do meio ambiente construído. Não há, portanto, um aprofundamento da temática ecológica. O
estudo, desta maneira, trata da dicotomia: meio biótico-abiótico, em relação à intensa
intervenção antrópica ocorrida pelo avanço da urbanização sobre as áreas rurais, cada vez
12 mais constantes. Também, debate sobre o sistema linear de crescimento das cidades. O
avanço da urbanização sobre a área rural, sem qualquer preocupação de resguardar as fontes
ambientais primárias, como água e terras agricultáveis, promove o desmatamento e ocupa
áreas sensíveis. A expansão urbana, nas cidades, deve ser contida, ou seja, a reversão dessa
linearidade, com a introdução do processo de crescimento urbano que respeite o ciclo
ambiental, evitando assim a predação do ambiente natural.
LEGISLAÇÃO URBANA
Destaca-se que o marco regulatório urbanístico brasileiro surge com a Constituição do
Império, de 1824, século XIX, que ameniza o tratamento do direito de propriedade, antes com
caráter quase que absolutista. A Carta Política de 1824 dispõe por previsão legal do instituto
da desapropriação, autêntica intervenção estatal. Esse instrumento possibilitava ao Estado
lançar mão de áreas de seu interesse, com a retenção de propriedade privada, contrariando
assim o dito princípio absolutista (DI SARNO, 2004).
A legislação urbanística brasileira, no período dos anos 1970, permaneceu dentro da
cultura de restrições às atividades e ao uso do solo, sob o auspício do princípio do “poder de
polícia”. Com essa concepção, a cidade assume o papel de reserva de valor de terras, motivo
do desenvolvimento de mecanismos de preservação e de regulação do mercado de solos,
voltados aos empreendimentos imobiliários e não à regulação social da produção da cidade
(DIAS, 2000).
A partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a
política urbana assumiu um papel relevante, por esse diploma legal trazer pela primeira vez
dispositivos específicos sobre a temática urbanística.
O artigo 182 da Carta Política estabelece que o Plano Diretor é o instrumento técnico
legal definidor de cada municipalidade. Esse instrumento tem o objetivo de orientar toda a
atividade da administração e dos administrados nas realizações públicas e particulares que
interessem ou afetem a coletividade.
O mesmo artigo estabelece, ainda, que a propriedade urbana deva cumprir o princípio
da função social2 e atenda às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no
Plano Diretor.
2 La función social es ni más ni menos que el reconocimiento de todo o titular del domínio, de que por ser um miembro de la
comunidad tiene derechos y obligaciones com relación a los demás miembros de ella, de manera que si él ha podido elegar
13 O Plano Diretor é considerado como um instrumento básico da política de
desenvolvimento urbano e deve ser executado pelo poder público municipal, com o objetivo
de garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade.
A função social da propriedade, quando expressa no Plano Diretor, evita a especulação
imobiliária e possibilita a aplicação das medidas previstas no artigo 182 da Constituição
Federal, regulamentado pela Lei 10.257, de 2001, Estatuto da Cidade (HARADA, 2004).
O artigo 183 da Carta Magna reforça e consolida a questão do princípio da função
social da propriedade, quando institui a chamada reforma urbana. Cria-se a figura da
usucapião especial que possibilita a pessoa que detém a posse de imóvel urbano, com área de
até duzentos e cinqüenta metros quadrados, pelo período de cinco anos ininterruptos sem ser
molestado em adquirir o seu domínio por desta figura jurídica. A usucapião especial é a
aquisição de imóvel pela posse e uso de forma pacífica (MUKAI, 2001).
O Estatuto da Cidade coloca à disposição, no capítulo segundo, ferramentas de Política
Urbana para uso contra os abusos ao direito à propriedade, como a especulação imobiliária
derivada da retenção fundiária. A especulação imobiliária objetiva a valorização viciosa do
imóvel e em regra é provocadora dos vazios urbanos nas regiões centrais das cidades. Este
procedimento de retenção fundiária, pela nova Lei, pode ser punido com o Imposto Predial
Territorial Urbano progressivo, em face da propriedade não cumprir a função social.
A velocidade do crescimento das cidades resultou na falta da acomodação espacial da
população. A solução para a questão espacial com o uso de processos arcaicos, como os
planejamentos de gabinete e decisões às custas de interesses da classe dominante, se
mostraram ineficazes. Percebe-se neste contexto que há indicação da construção de um novo
paradigma, com base no planejamento urbano que objetive o desenvolvimento sustentável das
cidades.
O Plano Diretor efetivamente criado pela Constituição Federal, de 1988, emergiu da
dialética “ocupação do espaço e indissociabilidade entre o urbano e rural”. Conhecido como
plano estratégico, por traçar os objetivos e fixar seus prazos, estabelecer as atividades e
definir sua execução, e como diretor por fixar as diretrizes do desenvolvimento urbano do
Município (SILVA, 1997).
A cidade, afinal, atinge ao patamar constitucional, a Carta Magna de 1988, prevê em
seu capítulo que trata da política urbana a obrigatoriedade da elaboração, pelos municípios, do
a ser titular del domínio, tiene la obligacion de cumplir com el derecho de los demás sujeitos, que consiste en no realizar acto alguno que pueda impedir u obstaculizar el bien de dichos sujetos, o sea, la comunidad. (BORGES, 1994).
14 Plano Diretor Participativo e a sua remessa à casa legislativa municipal, para a aprovação,
efetivamente se transformando em Lei Urbanística Municipal. (LIRA, 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo inicial da ocupação de Palmas se deu por doações e leilões de áreas
públicas, realizados pelo governo estadual, com titulação provisória baseada no princípio
legal da retrovenda3, que estabelecia prazo de três anos para parcelar ou construir, sob pena da
retomada do bem pelo Estado (MORAES, 2003). Como princípio teórico e se respeitada, a
iniciativa é uma medida salutar, pois a retrovenda contempla no seu bojo a função social da
propriedade, porém, no caso de Palmas, ainda existem, dessa época, imóveis que não foram
ocupados e não sofreram processo de retomada.
Esse foi um dos fatores pela ocupação desordenada da cidade, entre outros como o
abandono do planejamento urbanístico pelos governantes, que adotaram uma política de
reserva de terra na sua região central. Desta maneira no ano de 1991, dois após sua fundação,
foi iniciada a expansão da cidade para fora do seu plano original, a partir da criação dos
Bairros Jardins Aurenys.
Segundo os planejadores da cidade, Grupo Quatro, a previsão para a ocupação da
cidade, a partir de 1989 e conforme o projeto original de 9.369 hectares, era de urbanização de
1.624 hectares, área suficiente para acolher uma população de 120 mil habitantes até o 5º ano
da fundação, com a média de adensamento entre 300 a 350 habitantes por hectare.
Mas a ocupação não ocorreu conforme previsão dos planejadores. Basta verificar a
excessiva mancha urbana da cidade que apresenta 35,63 quilômetros de dimensão, os
4.127,81 hectares de espaços vazios detectados no perímetro urbano, que equivale a 2,5 vezes
do espaço destinado originalmente para ocupação, de 1.624 hectares, a reduzida população
atual da cidade de 208.165 mil habitantes, segundo projeção do IBGE, 2005, e principalmente
a densidade populacional do município de 0,84 habitante por hectare, e da atual área urbana,
7,3 habitantes por hectare.
Essa ocupação da periferia na região Sul da cidade, detectada em 1991, se estendeu
por uma área de 11.743 hectares, espaço urbano maior que os 9.369 hectares, do plano
3 Retrovenda é uma cláusula especial num contrato de compra e venda na qual se estipula que o vendedor poderá resgatar a
coisa vendida, dentro de um prazo determinado, pagando o mesmo preço ou diverso, previamente convencionado (incluindo, por exemplo, as despesas investidas na melhoria do imóvel). A retrovenda, aplicável somente aos imóveis, não é considerada nova venda. Seu prazo máximo é de três anos, ou seja, o vendedor só poderá reaver o imóvel por meio da retrovenda durante esse período. Para ser exercido este direito, deverá constar expressamente no contrato.
15 original de Palmas, enfim no contexto, surge uma nova cidade, que se torna maior do que a
original planejada.
O mercado imobiliário e o Estado determinaram e continuam a determinar a forma do
crescimento da cidade por diversos caminhos, entre eles, com a criação de loteamentos que
são implantados de acordo com interesses: político, social e especulativo.
Essa constatação se confirma pela verificação de que o Estado que tem destinado áreas
sem infra-estrutura básica para habitações populares, distantes da região central, como o
bairro do Taquari, promove licitação, como a ocorrida no ano de 2006, de área com
quantidade restrita de lotes, localizada na Arso 31, dotada de toda infra-estrutura e na região
central, 3,6 quilômetros do marco zero, a preços proibitivos, de 100 reais o metro quadrado,
destinados à classe média.
Outro aspecto de abordagem no estudo é o avanço do urbano sobre o rural, em Palmas
– TO, esse modelo pode ser constatado, pela aquisição de áreas rurais por empreendedores
que são divididas em lotes urbanos e garante a esses proprietários de empreendimentos um
elevado ganho monetário por longos anos, devido inicialmente à alta remuneração pela
simples transformação de rural em urbano, seguida pela retenção da terra na espera de sua
valorização em face ao recebimento da infra-estrutura, equipamentos e serviços públicos,
normalmente implantados pela municipalidade, por pressão da comunidade local.
Conforme demonstrado pelo estudo, verifica-se que o mercado imobiliário contribui
tanto para a retenção de terras quanto para a expansão desordenada da cidade, quando torna
inacessível a região central para a classe de baixa renda.
Com os dados produzidos no estudo, pode-se deduzir que aos menos favorecidos resta
a periferia da cidade, pela inacessibilidade dos preços da região central. Os locais afastados
são negociados a valores módicos, além de possibilitar o parcelamento. Dessa maneira, parte
da população recorre a locais mais distantes, como os lotes do Jardim Aeroporto e Jardim
Santa Helena, originários da Fazenda Santa Bárbara que são vendidos de maneira parcelada.
Evidente que, além da distância de dezoito quilômetros da região central, o comprador, destes
loteamentos, terá que enfrentar problemas como transporte urbano, escola, creche, segurança,
saneamento e outras necessidades inerentes à qualidade de vida.
O estudo detecta, também, que mesmo ainda não esgotado o avanço para a região sul
da cidade, surge o avanço em direção a região norte, em face dos grandes investidores em
terra, que já haviam migrado para aquela região, onde adquiriram terrenos quando ainda as
áreas eram consideradas rurais, pela potencial valorização devido a formação do lado da
16 Usina do Lajeado, registra definitivamente o avanço da área urbana sobre a área rural, com
pedido à prefeitura de aprovação de novas áreas de loteamento.
Esse avanço foi legalizado pela Lei Complementar de Nº 58, de 16 de setembro de
2002, que instituiu o Macrozoneamento Territorial do Município de Palmas. A Lei, embora
tenha o seu mérito primeiramente por reconhecer a região Sul da cidade (fora do plano
original), até então sem leis urbanas, com a criação da região Palmas-Sul, comete importante
equívoco possibilitando a criação desnecessária de uma área de expansão urbana na região
Norte, fora do plano original, denominada Palmas-Norte, que estendeu a cidade por mais 12
quilômetros, além do plano original. Essa medida certamente comprometeu a sustentabilidade
da cidade, pois, além da expansão já existente na região Sul de 11.743 hectares, o avanço para
a região Norte agregou uma nova área urbana, de 5.742 hectares, totalizando, portanto, a área
de 17.495 hectares de expansão, existente fora do plano original de Palmas de 9.369 hectares.
A valorização da região Norte teve como indutora da especulação imobiliária o
próprio governo estadual, ao reter glebas nesta região, pois é detentor de parte das glebas
vazias existentes próximas ao lago. O estado exerce o papel de especulador quando licita pelo
Projeto Orla lotes a valores proibitivos. Assim sendo, ao invés de estar coibindo as ações
especulativas, no mercado imobiliário, participa como parte integrante deste processo.
Em análise aos vazios urbanos da região central se verifica que representa a área de
2.383 hectares, destes 1.913,1 hectares, na região (Área Residencial Sudoeste- ARSO),
equivalente a 46% do total dos vazios urbanos da cidade. Essa área contém quarenta e quatro
quadras padrão vazias, destas quadras, apenas duas com loteamentos aprovados, que equivale
a 2% do total dos vazios urbanos. Segundo dados levantados pela SEDUH em 2006, dez
quadras desta região são de propriedade privada. Evidencia-se, neste contexto, que 44% das
áreas vazias deste local sequer foram parceladas, o equivalente a 841,76 hectares, que
possibilita a instalação de quinze mil domicílios, população de setenta e cinco mil pessoas.
Esses lotes se parcelados e vendidos a uma media de doze mil reais, valor atual no mercado
imobiliário, renderão aos proprietários cento e oitenta milhões de reais.
Para se ter um contexto macro dos efeitos dos vazios urbanos na cidade, ainda na
questão econômica financeira, foram levantados os Custos de Urbanismo de Palmas do
período de 2002 a 2005 e atualizados pelo IGPM – Índice Geral de Preço ao Consumidor.
Detectou-se que, nesse período, foram liquidadas, pela prefeitura municipal, com base nos
registros contábeis das despesas relativas às rubricas infra-estrutura, equipamentos e serviços
públicos, o importe de 193.579.107 milhões de reais, com média anual de despesas com
urbanismo, nesse período, de 48.394.777 milhões de reais anuais.
17 Também para contextualizar a relação “passado-futuro” foi procedido levantamento
do Plano Plurianual4 da Prefeitura de Palmas. Este documento apresenta a previsão para gasto
em urbanismo na cidade para o período 2006 a 2009, na ordem de 216,7 milhões de reais,
com média anual de despesas com urbanismo, nesse período, de 54.175 milhões de reais
anuais.
A previsão dos gastos se encontra dividida em 22% do valor orçado para uso na área
da Palmas-Sul, fora do plano original, e 78%, para a região central da cidade. Isso significa
que a zona Sul periférica de Palmas continuará com os problemas atuais e, com a agravante
do crescimento periférico, a tendência dos problemas na região é aumentar, detectado,
também, que não há previsão para a rubrica de iluminação pública e galerias de escoamento
de águas pluviais para a região Sul, assim esta região não receberá esses benefícios pelo
menos até 2009. (Tabela 2).
Tabela 2: Quadro de Obras de Infra-Estrutura Urbana – PPA 2006/2009
Fonte: Secretaria Municipal de Infra-Estrutura – PMP Valores em milhões de reais
No estudo foram analisados o custo de urbanismo das capitais brasileiras e sua relação
de gasto por habitante, constatou-se que Palmas-TO apresenta o maior valor desta relação, de
216,79 reais por habitante, em despesas com urbanismo, no ano de 2005.
Desta maneira, com a finalidade de estabelecer um comparativo entre a densidade
urbana, pela área total do município e o Custo de Urbanismo per capita, foram destacadas as
cidades de Goiânia – GO, com um custo de urbanismo por habitante de 67,72 reais, Belém -
4 O Plano Plurianual é o instrumento pelo qual a administração pública irá orientar o planejamento e a gestão da
administração pública para os próximos quatro anos. No Plano Plurianual, estarão definidas as metas físicas e financeiras para fins do detalhamento dos orçamentos anuais. De acordo com a Constituição Federal, o Projeto de Lei do PPA deve conter "as diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada".
18 PA, de 84,27 reais e Palmas – TO, de 216,79 reais (Gráfico 1). Demonstrando que os locais
com maior adensamento na região central da cidade apresentam menor custo de urbanismo
per capita.
Gráfico 1: Relação entre densidade demográfica e custo de urbanismo per capita em capitais
selecionadas - em reais (R$) 2005.
Fonte: (IBGE e EMBRAPA) Dados trabalhados pelo autor.
Conforme enfoque da questão central do estudo foi analisado o custo de urbanização
da cidade, considerando uma quadra padrão a um custo de 4.484.303 milhões de reais,
estimado com o uso do SINAP5, que resulta no custo de urbanização de 91.516 mil reais por
hectare. Foi considerado no estudo o projeto original de Palmas, com quadras de 49 hectares e
densidade de 300 habitantes por hectare, 60 domicílios por hectare, finalmente considerada a
área atual do perímetro urbano de Palmas de 28.415 hectares.
Com base no resultado obtido com a elaboração da tabela de Custo Médio das redes
em função da densidade, observa-se que a instalação de uma quadra para atender a demanda
de 15 domicílios tem o custo por hectare de 77.043 mil reais. Se nas mesmas condições a
demanda fosse ampliada de 15 para 120 domicílios, haveria um acréscimo no custo por
hectare, de 30%, ou seja, o custo por hectare acresce de 77.043 mil reais para 100.276 mil
5 Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil – SINAP, utilizado pelo setor de Desenvolvimento
Urbano e Habitação da Unidade da Caixa Econômica Federal de Palmas – TO.
19 reais. Por outro lado, observadas as mesmas condições, ao analisar o custo/benefício dessa
implantação, ou seja, custo por habitação, verifica-se grande desproporção, enquanto o valor
para atender a demanda de 15 para 120 domicílios representa um acréscimo no custo de
apenas 30 %, o custo/benefício, em relação inversa, representa 580% menor, ou seja, passa de
5.136 mil reais, 15 domicílios, para 763 reais, 120 domicílios.
Essa relação é observada no custo de pavimentação (Gráfico 2), que de 1.748 reais
para demanda de 75 habitantes, 15 domicílios, cai para 260 reais, para demanda de 600
habitantes, 120 domicílios. A drenagem pluvial varia de 878 reais para demanda de 75
habitantes, 15 domicílios, para 130 reais, para demanda de 600 habitantes, 120 domicílios. O
esgoto sanitário varia de 815 reais para demanda de 75 habitantes, 15 domicílios, para 121
reais, para demanda de 600 habitantes, 120 domicílios. Assim, procede-se os demais itens de
custo de urbanização, comprovando que a região adensada, desde que observados os
parâmetros locais, torna o custo de urbanização, considerando o custo/benefício, menos
oneroso.
20 Gráfico 2: Relação do custo da rede com a densidade urbana
Fonte: (mascaro, 1987). A relação entre o Custo de Urbanização e a densidade urbana tem extrema importância
para a administração municipal e o planejamento da cidade, que deve ser norteado com o
objetivo da busca da eficiência dessa relação. A ineficiência da relação reflete não só na
economia urbana, mas também na questão da expansão desordenada, no descontrole dos
vazios urbanos e na qualidade de vida da população.
Para o estabelecimento de uma visão futura da cidade e com base nos levantamentos
realizados pelo estudo, consubstanciados nos debates propostos, foram criados cenários com
parâmetros para a projeção de Palmas para os próximos dez anos, no que tange a ocupação
urbana, tempo em que será revisto o Plano Diretor da cidade, conforme estabelece o “Estatuto
da cidade”.
Inicialmente para estabelecer os parâmetros dos cenários foi realizada uma projeção
do crescimento populacional, para os próximos dez anos (Gráfico 3), sendo utilizado o
Método de Incremento (PUPPI, 1981).
21
Gráfico 3: Projeção de crescimento populacional de Palmas-TO
Fonte: ( PUPPI, 1981)
No estudo se constatou que em Palmas, os vazios urbanos ocupam, somente na zona
central, a área de 2.383 hectares. Caso essa área seja convertida em quadras padrão de 49
hectares, seriam formadas 50 quadras, que poderiam abrigar, com base no projeto original da
cidade, 735 mil pessoas. Portanto, a cidade teria suporte, caso fosse utilizada somente as suas
áreas centrais, de abrigar, o crescimento da população de maneira confortável, até o ano de
2016 e se considerada a área de 16.000 hectares, proposta pelo estudo, a cidade comportaria o
crescimento populacional de maneira confortável, de 42,2 habitantes por hectare (Gráfico 4),
pelo menos pelo dobro do tempo estimado, considerando as expectativas otimistas.
22
Gráfico 4: Densidade por hectare – Projeção 10 anos
Fonte: Dados trabalhados pelo autor
Detecta-se, porém se a cidade continuar com o mesmo perímetro urbano, de 28.415
ha, e houver incentivo para o crescimento da cidade a partir da expansão norte, local onde já
existem alguns loteamentos aprovados, haverá a ocupação de mais 5.700 hectares atualmente
vazios na cidade. Assim o estudo sugere que esta região retorne a sua condição de área rural,
haja vista, que mesmo com a sua ocupação atual, ainda pequena, existe a possibilidade de
recuperação da área. Caso isso não ocorra e o local permaneça como área urbana possibilitaria
a produção de 80 novas quadras padrão na região, que se fossem urbanizadas a 4.484.303
milhões de reais por quadra, custaria ao erário municipal 358.744.240 milhões, a
custo/benefício de 55.030 mil reais por domicílio, prática insustentável.
CONCLUSÕES
Atualmente, a cidade demonstra, conforme análise prévia, haver considerável retenção
fundiária, aliada à expansão urbana fundada, eminentemente, nos vazios urbanos. Firmou-se,
pois, um procedimento essencialmente especulativo, a valorização da terra por si só. Essa
prática improdutiva induz a valorização exorbitante do solo e é benéfica apenas ao
proprietário da área, em detrimento aos interesses públicos e da comunidade.
23 No estudo foi proposto o adensamento das áreas urbanizadas, em face de haver infra-
estrutura implantada e um reduzido índice de adensamento. A ocupação dos espaços vazios da
zona central de Palmas poderá, conforme demonstrou a pesquisa, reduzir substancialmente o
Custo de Urbanização da cidade.
Constatou-se, com o estudo, que a região central da cidade tem densidade
extremamente baixa, a ocupação da cidade tem sido desordenada e existem vazios urbanos em
excesso na cidade, que resulta na especulação imobiliária. Os vazios urbanos são causadores
do elevado Custo de Urbanização da cidade pela necessidade de implantação e manutenção da
infra-estrutura, equipamentos e serviços públicos, em locais distantes, devido à cidade se
encontrar espraiada.
Verifica-se, também, que a expansão urbana desnecessária e com interesses apenas
políticos provoca custos adicionais ao erário municipal, pela implantação e manutenção de
infra-estrutura básica, em locais distantes, a um custo estimado de 4 milhões de reais, relativo
à implantação de uma quadra padrão. Outra medida necessária é a criação de espaços
destinados à habitação popular, no Plano Diretor, que possibilitaria a inclusão social e melhor
qualidade de vida aos munícipes, assim haveria significativa redução da segregação social.
A delimitação do perímetro urbano permite: possibilitar parcelamento para fins
urbanos dimensionada pelo Planejamento Urbano; estabelecer uma política de dotação de
infra-estrutura urbana organizada; estabelecer política de controle da expansão, do uso e da
ocupação do solo urbano ordenada; evitar a expansão urbana sobre áreas inadequadas; evitar
vazios urbanos e especulação imobiliária; e possibilitar melhor controle sobre a tributação
imobiliária.
Conclui-se, portanto, com o estudo que a retenção da expansão urbana e a diminuição
do perímetro urbano vigente de 28.415 hectares para 16.000 hectares são medidas de
racionalização de custos da cidade, devido à baixa densidade atual na região central da cidade.
REFERÊNCIAS
ACIOLY JUNIOR, Cláudio; DAVIDSON, Forbes. Densidade Urbana: um instrumento de planejamento e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. ALVAREZ, Ricardo. Os Vazios Urbanos e o Processo de Produção da Cidade. 1994. 146 f. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas de Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994.
24 BARNETT, J. Sustanaible Development: How to Make In Work. Architectural Record. Disponível em: <http://habitare.infohab.org.br/publicacoes_relacionadas.aspx>. Acesso em: 30 jul. 2006. BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 2005. BORGES, Paulo Torminn. Institutos Básicos do Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, 1994. CARLOS, Ana F. Os caminhos da reflexão sobre a cidade e o urbano. São Paulo: Edusp, 1994. CARMONA, Matthew; HEATH, Taner; TIESDELL, Steven; OC, T. Public Places Urban Spaces: the Dimensions of Urban Design. Los Angeles: Oxford, 2003. CAVALCANTE, Tércia Correa. Barueri e sua participação no conjunto metropolitano na faixa periférica da metrópole paulistana. 1972. 155 f. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas de Universidade de São Paulo, São Paulo, 1972. CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995. DI SARNO, Daniela Campos Libório. Elementos do direito urbanístico. Barueri: Manole, 2004. DIAS, Maurício Leal. Notas sobre o direito urbanístico: a "cidade sustentável". Jus Navigandi, Teresina, 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id= 1692>. Acesso em: 25 out 2006. HARADA, Kiyoshi. Direito Urbanístico: Estatuto da Cidade: Plano Diretor Estratégico. São Paulo: Ndj, 2004. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Org.). Censo 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 13 out. 2006. LIRA, Ricardo Pereira. Elementos de direito urbanístico. Rio de Janeiro: Renovar, 1997. MASCARÓ , Juan Luis. Desenho Urbano e Custo de Urbanização. Brasília: MHU/SAM, 1987. MORAES, Maria Lúcia. A segregação planejada: Goiânia, Brasília e Palmas. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 2003. MUKAI, Toshio. O Estatuto da Cidade: anotações à Lei. São Paulo: Saraiva, 2001.
25 OLIVEIRA, Ariovaldo V. A lógica da Especulação Imobiliária. Geografia, Teoria e Critica, São Paulo, v. 01, n. 26, p.131-146, 1978. PALMA, Niara Clara; KRAFTA, Romulo. Centralidades Específicas: estudo da configuração espacial ligada as complementariedades sócio-econômicas entre espaços urbanos. Urbanismo Municipal , São Paulo, n., p.353-374, 02 maio 2003. PUPPI, Idelfonso C. Estruturação sanitária das cidades. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1981. RIBEIRO, Wagner Costa. Cidades ou sociedades sustentáveis? In: CONGRESSO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS DA ENGENHARIA, DA ARQUITETURA E DA AGRONOMIA, 5., 2004, São Luís. Artigo. São Luís: Confea, 2004. v. 1, p. 83 - 91. SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 2005. SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997. SMOLKA, Martin. Informalidad, pobreza urbana Y precios de la tierra. Land Lines, Cambridge, v. 15, n. , p.14-19, 2003. SOUZA, M A de. Metropolização e Estudo do Cotidiano. In: ENCONTRO COTIDIANO, CULTURA POPULAR E PLANEJAMENTO URBANO, 3., 1985, São Paulo. Anais resumo expandido. São Paulo: Faculdade de Arquitetura/Usp, 1985. v. 1, p. 115 - 117. SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. São Paulo: Contexto, 2005. VIEIRA, Ruy Carlos de Camargo. Sistema educacional e profissional: integração necessária em busca da sustentabilidade. In: CONGRESSO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS DA ENGENHARIA, DA ARQUITETURA E DA AGRONOMIA, 5., 2004, São Luís. Artigo. São Luís: Confea, 2004. v. 1, p. 37 - 45. ZELINKA, A.; BRENNAN, D. Safe Scape: Creating Safer, More Livable Communities Through Planning and Design. Chicago: American Planning Association, 2001.
Top Related