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tiago custódiotiago rocha
Art.sy #06
junho 2013
roberto leandro | portugal dos pequeninos
4/5
Meu Portugal, pequenino…
que destino te calhou?
Cada vez estás mais franzino,
triste fado te encarnou…
Sempre te vi pelejando
nos sete mares desta Terra
Indo ao mundo, conquistando,
Senhor da Paz e da Guerra
Quanta destreza mostraste
nas artes de navegar,
Quanta riqueza juntaste
num império por findar?
Quantos povos abraçaste
com tuas naus lusitanas,
Quantas pátrias tu fundaste
entre praias e savanas?
Quantos homens por ti foram
ao mais fundo dos infernos,
Quantas lágrimas se choram
por esses heróis eternos?
Oh Portugal, pequenino…
Que vento te fez perder
o norte, a fé, o querer,
o teu lugar de Senhor;
Tanto vivido saber
e não mostras já poder
derrubar o Adamastor…
In Poesia em Combustão, de Roberto Leandro (Chiado editora,2012)
Oh Portugal, pequenino…
Por que esperas, afinal?
Para que olhas o oceano?
Já provaste do seu sal,
não repitas esse engano…
Meu Portugal sem tino
não temas superstições,
Sempre traçaste o destino
marchando contra canhões!
Abandona essa carcaça
de mesquinhez pestilenta,
Dá provas da tua raça
ganha pêlo nessa venta!
Anda, Portugal, não quedes,
que o mundo por ti se não queda
Fecha essa mão com que pedes
como o pobre, uma moeda
Não contes com pena alheia
que nada é gratuito por cá,
Sai-me da cauda europeia
acorda, pequeno; ACORDA JÁ!!!
Meu Portugal, pequenino,
não estás na luta sozinho!
Tens um povo peregrino
a trilhar o teu caminho!
Tens uma nação lutando
que nenhum cansaço vence,
Não te percas admirando
o que ao passado pertence…
6/7
Anda, Portugalinho,
mostra lá de que és tu feito…
Diz-me cá, mesmo baixinho,
que orgulho trazes no peito
Diz-me que chão é o meu
que ondas me beijam os pés
Diz-me que não! Não morreu
este país que ainda és.
Neste recanto plantado
não és pátria clandestina,
Tens nome há muito gravado
nas lições que a História ensina
Eu quero ver, sem igual,
verde e vermelho hasteados,
Do cume da serra ao leito areal
os barões assinalados,
Da província à capital
agricultores e soldados,
Velha quimera Imperial
Novos mundos conquistados,
Novas rotas, novo sal
E outros campos são plantados
E outros mares são navegados…
Em nome de Portugal!
8/9
charlie holt | untitled
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luis nunes alberto | chegada na praia
12/13luis nunes alberto | chegada na praia renato costa sobre as suas palavras
luis nunes alberto | renato costa pelas suas palavras
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joana de melo sampaio | caderno de areia, quinhentos mil esboços
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telma guita | sem título
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tiago rocha | carnificina no jardim de orquídeas
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isa mestre | analogia do sorriso
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A mulher senta-se. Não sorri. Sabe, afinal que os sorrisos atrapalham sempre um
bocadinho. Apercebe-se que ninguém à sua volta sorriu. Sente-se feliz por não
ter sorrido. Por momentos tem a sensação de que se sorrisse seria vista como
algo ridículo. E se há coisa que tem medo é de ser vista como tal.
Sento-me também. Não na mesma mesa, mas no mesmo palco. Também eu
com medo de ser visto como algo ridículo. Venho sozinho. Pergunto-me se haverá
no mundo alguma fórmula capaz de anular o factor pergunta. Anular de uma
vez por todas a velha que se senta diante de mim a conjecturar se sou paneleiro
ou se me morreu a mulher.
Visto-me de preto. Um ponto a favor do luto. Se calhar até tem pena de mim.
Nem uma coisa nem outra. Sou alérgico à mentira. Sou alérgico, portanto, a
casamentos.
Os outros menos alérgicos que eu, mais enérgicos na farsa, mais poderosos na
personagem que vestem para se esquecerem de quem são. Não que eu não me
esqueça também por vezes. Mas não sou tão bom actor.
A minha mãe pergunta-me,
- És feliz?
E eu penso que a felicidade é apenas a mulher que se senta sem sorrir com
medo que o seu sorriso possa parecer ridículo.
É isso a felicidade. A ilusão de sermos perfeitos aos olhos dos outros.
Respondo-lhe que sim. Ainda que nunca consiga pôr os lençóis direitos quando
faço a cama, ainda que me sente sozinho, ainda que me sinta pressionado pelos
olhos de qualquer uma mulher a encontrar um destino. Mesmo que eu não queira
tê-lo, mesmo que ele não me faça falta nenhuma.
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tiago custódio | untitled
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tiago custódio | sardinha tuga
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tiago custódio | untitled
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fernando ribeiro| everlasting
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isa mestre | eco
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Eu queria ler-te Lobo Antunes antes de dizer-te qualquer outra coisa. Queria entrar
e ler. Alheio a tudo e a todos. Mesmo que me chamassem louco, mesmo que
me pusessem porta fora. Eu queria que se fizesse silêncio e que as pessoas que
te olhavam com ar de pena por momentos se suspendessem no pensamento
ridículo de ver-me por ali.
Eu queria que as pessoas me olhassem perplexas enquanto sem usar quaisquer
palavras diriam,
- o joão,
E o nome soar-te-ia estranho, como se fingisses nunca ter-me conhecido. Mas eu
não me importaria. Nunca me fez confusão a ausência com que nos entregamos
ao mundo.
Tu ficarias séria. E essa seriedade far-me-ia acreditar que nada mudou. Não que
eu tenha vindo por mais alguma razão. Como te disse, queria apenas ler-te Lobo
Antunes. Sim, quem sabe devolver-te um pouco à realidade, desanestesiar-te
desse aglomerado de gente que te rodeia com o pensamento cego que, mais
dia, menos dia, vais morrer.
Ignorando que morremos todos um bocadinho.
Não te faria perguntas. De que nos servem as perguntas senão para nos inquietar
o pensamento?
Depois de ler, ficaria em silêncio. E mesmo que não tivesses ouvido nada
respiraríamos os dois a doçura cruel de cada palavra. Cada parágrafo derramado
sobre a tua pele, um tratamento urgente para o amor (ou quem sabe para a
falta dele).
Confesso que talvez sentisse a tua mão carinhosamente pousada sobre o meu
cabelo. A saudade do tempo em que tudo era perfeito – se é que os amantes
não baniram já a perfeição do dicionário do amor.
Não tenhas medo. Se eu viesse não falaria sobre o passado. Ignoraríamos que
existe futuro. Fechados na esfera da nossa solidão olharíamos apenas o presente,
como se o hoje fosse um retrato adulterado do que foi o ontem, ou do que virá a
ser o amanhã.
Não te preocupes. Não precisarias de fingir. Seríamos afinal os mesmos.
Trago a folha na mão. Os dedos tremem-me. O texto não. Continua firme, ávido
para que os meus olhos se fixem nele, sem me distrair, sem me arrepender, sem
dar um passo atrás. Pergunto-te,
Posso entrar?
E a minha voz faz eco na sala.
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raquel mouro | viagem I
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marta cascalheira | pedro e inês
Eram seis da tarde, os carros subiam e desciam a avenida sempre num ritmo
frenético. Formavam-se filas enormes como já era habitual. Os condutores
apertavam a buzina com grande raiva e irritação e, mesmo sem os conhecer,
conseguíamos perceber o desejo e ansiedade que tinham por chegar a casa.
Foi um dia complicado. Todos tiveram muito que fazer, por isso, descarregavam
a sua raiva na buzina do carro. Uns sentiam-se cansados por trabalhar demais,
outros sentiam a fadiga de mais um dia em que o seu único trabalho foi procurar
um verdadeiro emprego. Estavam impacientes e, enquanto buzinavam quase
involuntariamente, as suas cabeças vagueavam por outros lugares. Só queriam
poder teletransportar-se para as suas casas para poder tomar um belo banho e
enroscarem-se no sofá, esquecendo o mundo que existe fora das quatro paredes.
Pedro conduzia para casa e, ao contrário dos outros, não queria chegar depressa.
A ideia de chegar a casa e encontra-la vazia e em silêncio assustava-o. Pedro
não gostava da solidão. Todos os dias aquele homem sentia o mesmo: sentia
medo, angústia e dor por não ter ninguém que o esperasse de braços abertos
quando chegasse a casa.
Todos aqueles pensamentos negativos distraíram-no e, sem noção, avançou
com o carro, provocando um ligeiro acidente. Quando saiu do carro para falar
com o condutor do outro veículo envolvido, sentia-se envergonhado, mas Inês, a
condutora do outro carro, acalmou-o e disse-lhe para não se preocupar.
Aquele sorriso brilhante deixou-o relaxado e fê-lo esquecer todos os seus
pessimismos. Foi assim, por um mero acaso, sem ninguém esperar, que Pedro
conheceu Inês, a mulher que iria mudar para sempre a vida daquele homem
amargurado.
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jorge mestre simão | sem título
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jorge mestre simão | sem título
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milita doré | flores íntimas
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Roberto LeandroPágs. 5 à 7
Marta cascalheiraPágs. 59
Telma GuitaPágs. 25
Charlie HoltPágs. 8 à 11
Jorge Mestre SimãoPágs. 60 à 63
Tiago RochaPágs. 26
Luis Alberto NunesPágs. 12 à 15
Milita DoréPágs. 64 à 67
Isa MestrePágs. 29 e 45
Fernando RibeiroPágs. 41 à 43
Joana de Melo SampaioPágs. 16 à 23
Tiago CustódioPágs. 1 e 30 à 39
Raquel MouroPágs. 46 à 57
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Edição #06
EditorJorge Mestre Simão
PaginaçãoJorge Mestre Simão
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