AS TEORIAS QUE FUNDAMENTAM A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E MUSICAL
Mirtes Antunes Locatelli Strapazzon
RESUMO São muitas as teorias que fundamentam a prática da educação infantil. Abordadas nesta pesquisa
estão algumas delas com destaque no que se refere a educação infantil e em capítulo distinto as
teorias da educação musical, algo que julgo fundamental na formação de qualquer ser humano.
Cada teoria apresentada se refere a um estudo específico em que cada educador deve se apropriar
para aperfeiçoar seus conhecimentos e colocá-los na sua prática docente. O intuito de considerar
as concepções dos educadores musicais é levar a consciência que estes não estão dissociados dos
pensadores e dos pedagogos, pois a música deve ser um meio para atingir o aluno em vivência
discente, em sua cultura e meio social, no seu aspecto cognitivo, enfim, como fonte de formação e
não mero entretenimento e canções ou apresentações para as festas escolares. Entretanto, para que
isto realmente ocorra, é necessário que os educadores estejam conscientes de que a educação
musical é parte da formação da criança, que é uma disciplina tão importante como Português ou
Matemática, e que leva a cognição, a expressão e criatividade, assim como ao raciocínio lógico e
ao afetivo.
Palavras-chave: Teorias; Educação infantil, Música. 1 INTRODUÇÃO
Segundo Wolff (2008) a Educação Infantil a criança “passa a aprender e desenvolver o seu
potencial individual com a concivência social” a partir dos cuidados e ensinamentos que recebe.
Platão já preocupava-se com a escolaridade da criança. Outros estudiosos como Comênio ( 1592-
1657); Rousseau (1712-1772); Pestalozzi (1746-1827); Fröebel (1782-1852); Dewey (1859-1952);
Montessori (1870-1952); Decroly (1871-1932); Claparède (1873-1940); Freinet (1896-
1966);Wallon (1879-1962); Piaget (1896-1980); Vygotsky (1896-1934); Ferreiro (1936) são
referência na Educaçõa Infantil e no processo de desenvolvimento no decorrer da história.
Entretanto, é sabido que algumas se destacam e embasam a Educação Infantil, sta serão tratadas no
tópico 2 (dois) deste artigo
Conhecer a criança quanto a psicologia, a sociologia e a antorpologia é parte fundamental no
processo educacional da mesma. Alinhar as concepções da Educação Infantil desde que a mesma
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foi construída é essencial para se trabalhar com a criança no contexto atual e globalizado do século
XXI.
O intuito deste estudo é aprofundar o conhecimento de teorias que possam levar a prática
docente posteriormente.
2 CONCEPÇÕES TEÓRICAS SEGUNDO MÜLLER
A pedagogia de Freinet, segundo MÜLLER (2008) está centrada que a criança possa
aprender através do contato com a terra, com a água, com os animais para que a mesma adquira
conhecimentos científicos e morais. Assim se opunha ao método tradicionais de cartilhas,
avaliações somativas e apropriação do conhecimento do professor. Seus conceitos básicos
envolviam a família e a escola, trabalho e livre expressão eram a base da construção dos
conhecimentos.
Os seguidores de Freinet no ano de 1968 redigiram a “Declaração da Escola Moderna, que
dá forças aos objetivos educacionais construídos e vivenciados por Freinet”. Elias (2002) abud
Muller (2008):
- A educação é o completo desenvolvimento e construção e não acúmulo de conhecimentos, adestramento e condicionamento. - Nós nos opomos a qualquer doutrinação. - Recusamos a ilusão de que a educação que se baste a si mesma, à margem das grandes correntes sociais e políticas que a condicionem. - A escola de amanhã será a escola do trabalho. - A escola estará centrada na criança que, com nossa ajuda, construirá sua própria personalidade. - A investigação experimental da base é, cooperativamente, a condição primeira de nosso esforço de modernização escolar. - Os educadores da Federação são os únicos responsáveis pela orientação e exploração de seus esforços cooperativos. - Nossos movimentos da Escola Moderna estão preocupados em manter relações de simpatia e colaboração com todas as organizações que atuam no mesmo sentido. - Nossas relações com as administrações são de colaboração com os colegas e de liberdade de ação no interior do movimento. - A Pedagogia Freinet é, por essência, internacional.
As idéias de Freinet estão vivas até hoje em mais de quarenta países, incluindo o Brasil,
sendo que a sede da “Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna” situa-se em
Bruxelas, Bélgica.
A escola Waldorf iniciou em 1919 quando Rudolf Steiner a criou para filhos de operários da
fábrica de cigarros Waldorf Astória, na Alemanha. Müller, (2008) aponta que a concepção desta
escola está no desenvolvimento holístico, como formação integral da criança. Considera as
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diferentes características de cada aluno, incluindo a faixa etária do mesmo. Não leva o aluno arenas
a aprender os conteúdos e sim a querer, a sentir e a pensar.
A escola Construcionista nasceu das idéias do construtivismo de Piaget, elaboradas por seu
aluno e discípulo Seymour Pepert, que adaptou um pensamento epistemológico ao cotidiano da
aprendizagem escolar. Esta escola “expressa a idéia adicional de que o aprendizado ocorre de forma
especialmente feliz, quando o(a) aprendiz está engajado na construção de algo externo ou pelo
menos compartilhável.” (Muller, 2008)
A escola Montessoriana é “biológico”, isto é, baseia todas as informações científicas sobre o
desenvolvimento infantil. “Segundo a metodologia, a evolução mental da criança acompanha seu
crescimento biológico e pode ser identificada claramente por fases bem definidas. Tem material
especifico para o trabalho pedagógico.” (Muller, 2008)
A escola Construtivista realiza o trabalho de ensino através projetos, onde a aprendizagem é
vivenciada na prática. Segundo Muller (2008) muitas escolas na atualidade se dizem construtivistas,
entretanto, a prática é outra.
O construtivismo se baseia em princípios onde:
O conhecimento não representa um saber qye “vem de fora” ou que se capta no meio e que, portatno, não se pode ser transmitido pelo porfessor através de esposições programadas para alunos imobilizados em suas carteiras. Ao contrário, o aluno efetivamente aprende a partir de experiências em sua interação com o ambiente e seus simbolismos e com os outros, em que se produza ações físicas e mentais, interagindo e construindo assimilações que se compõem com os saberes que já possui, alternando-se reciprocamente. (ANTUNES, 2004, p.87 APUD MÜLLER, 2008, p. 57)
Como as outras concepções acima estudadas, esta teoria também não é a favor de avaliações
somativas e classificatórias; permite sim que os alunos se expressem de forma criativa e distinta.
3 A EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO MUSICAL
Sabe-se que a música é fator importantíssimo na educação infantil, mas ainda se tem a
música como meio de entretenimento e lazer, e não como fonte de formação aos indivíduos.
Segundo CARVALHO (1997) A musicalização infantil desenvolve na criança os campos:
físico, mental, cognitivo e emocional. Na fase de alfabetização, a criança manifesta
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espontaneamente seu sentido rítmico da palavra e movimento. A música é capaz de imprimir no
cérebro a compreensão da melodia das próprias palavras. A música como linguagem pode
expressar idéias e sentimentos. A infância se caracteriza pela ação e pelo ato concreto. Ao pensar ou
expressar verbalmente uma idéia, a criança se encontra num processo de representação. A música
proporciona a vivência da linguagem musical como um destes meios de representação, interage com
o meio ambiente, incluindo os sons, as canções e outras manifestações, é também um excelente
meio no desenvolvimento da aptidão criativa e lúdica, que é parte integrante da infância. Tratando-
se do campo lógicos, as porções cerebrais, responsáveis pela música e pela matemática estão
próximas, no setor esquerdo do cérebro, o que oferece uma percepção espacial e matemática
adequada.
Da Europa vieram as primeiras informações sobre o ensino formal da música. Porém, mais
recentemente, um dos países que exerceram grande influência sobre o campo do ensino musical no
Brasil foram os Estados Unidos, principalmente no que diz respeito a métodos e processos, bem
como na melhor compreensão do papel da música na educação em geral. Esse país, entretanto,
também recebeu influência de origem européia a começar por Lowell Mason, que pioneiramente
aplicou, em 1829, o método pedagógico de Pestalozzi ao ensino da música. Na América do Sul,
dois países se destacaram no movimento da Educação Musical: a Argentina, onde a notável figura
de Alberto Williams (1862 – 1952) se sobrepõe às demais, não só como educador, mas
principalmente como compositor. O Chile, com os pioneiros Humberto Allende e Domingo Santa
Cruz.
O desenvolvimento musical no Brasil no que se refere ao ensino da música verifica-se que
José de Anchieta utilizava a música como veículo de educação geral e sempre houve um divórcio
entre educação e música. Quando muito, o estudo da arte musical era informativo, profissional, com
finalidade em si própria. Com o progresso da ciência psicológica e dos novos conceitos sobre
Educação, evidenciou-se o grande papel que as Artes desempenham na formação da personalidade
dos indivíduos e em seu amadurecimento emocional.
A atividade musical e as demais artes unidas ao jogo recreativo formam o alicerce sobre o
qual se apóiam as escolas infantis. A prática e utilização da música são oportuníssimas na passagem
de um estágio para outro do desenvolvimento do ser humano desde seu nascimento. A teoria de
Wallon diz que:
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“O sujeito como pessoa completa e integrada, em que os aspectos motor, afetivo e cognitivo se
constituem como conjuntos funcionais vinculados entre si, cujas intenções estão em constante
movimento. [...] Portanto, o desenvolvimento da pessoa se dá pela maturidade biológica e pela
influência do meio em que vive.” (Wallon apud Sugahara, 2006)
Segundo Sugahara (2006) o bebê quando nasce encontra-se num estágio de sincretismo com
a mãe, Wallon apud Sugahara diz que este estágio chama-se impulsivo-emocional, cuja
predominância é motora e afetiva. À medida que os movimentos da criança tornam-se intencionais,
o seu interesse pelo mundo exterior passando a investigar e explora-lo, estamos falando do estágio
sensório-motor e projetivo, o qual ocorre a aquisição da marcha e da linguagem e a cognição é
predominante. No estágio do personalismo, a criança adquire a consciência corporal e está
desenvolvendo a capacidade simbólica (adquirida nas fases anteriores) neste estágio ocorre a
formação da pessoa e construção da personalidade, volta-se a predominância afetiva. Apesar de um
ou outro aspecto (afetivo, cognitivo e motor) ficar em evidência em cada estágio do
desenvolvimento, eles se interligam e vinculam-se entre si formando um conjunto funcional. Vem
daí a importância da afetividade e da motricidade no desenvolvimento da cognição.
Para considerar pode-se pensar que mais que estratégias e métodos de ensino, volta-se a
dizer que é necessário centrar-se a educação na criança, no aspecto musical, escolhendo repertório e
atividades de acordo com as necessidades e interesses de cada momento e do seu meio cultural,
respeitando assim o seu processo de desenvolvimento. E pode-se ainda afirmar que a música é um
importante elemento na constituição da pessoa completa e integrada a que se refere Wallon.
Outra expressão de um grande educador musical é o japonês Shi-ichi Suzuki (1898-1998)
que estudou violino no Japão e na Alemanha. Em 1946, ele lançou o Movimento de Educação para
o Talento no Japão: a sua premissa é que todo indivíduo possui talentos que podem ser
desenvolvidos pela educação. O “Método Suzuki” para o ensino de violino criado por ele mesmo
nos anos 40, pouco depois da segunda guerra mundial, inspira-se na observação da maneira como as
crianças aprendem sua língua materna na primeira infância, através da habilidade de comunicação
entre os pais e a criança. “Toda criança japonesa fala japonês!”, constata Suzuki. Este é o exemplo
mais bem-sucedido de processo de aprendizagem, pois tem cem por cento de eficiência: não há
quem não aprenda (exceto raros casos excepcionalmente patológicos).
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Segundo a biblioteca virtual, Suzuki apud Goulart (2008) afirma, referindo-se ao seu
método, que não fez “nada mais do que uma adaptação dos princípios de aprendizagem da língua
materna à educação musical”. Alguns dos princípios como motivação,as crianças ficam fascinadas
ao aprender; alegria e auto-confiança; aprendizagem dentro do ritmo de cada um, respeitando as
dificuldades; aprende com o objetivo de usar, no dia-a-dia, estes conhecimentos e habilidades;
imitação dos modelos, que estão sempre disponíveis; identificação com os mestres e afeto.
A observação visual e auditiva de modelos é preferida à explicação verbal. Depois que a
criança já adquiriu as habilidades mais básicas no instrumento é que se introduz, de forma criativa e
adequada à idade e maturidade de cada um, a teoria musical e a leitura.
A participação dos pais é fundamental nesta metodologia: os pais freqüentam as aulas junto
com os filhos, recebem tarefas e instruções para melhorar sua atuação como professores em casa.
As instituições que usam o método publicam livros e apostilas com “instruções para os pais”, onde
descrevem minuciosamente atitudes e estratégias a serem adotadas.
A educação musical segundo Edgar Willens voltava-se ao estudo da psicologia como
fundamento básico de seu método.
O livro As bases psicológicas da Educação Musical, de Edgard Willens que foi referência
bibliográfica para elaboração deste artigo, mostra a “importância primeira à natureza dos elementos
fundamentais da música e às suas relações com a natureza humana, tais como eles aparecem nas
experiências musicais, particularmente no campo da educação [...]” (WILLENS, 29, p.12). Nesta
obra Willens relata o seguinte: Existem os Rudimentos, que são os princípios do ensino musical,
sem discriminação do seu valor psicológico. As bases, por sua vez, referem-se à educação, e dizem
respeito ao começo de seus princípios fundamentais, válidos desde o começo até o fim dos estudos.
Muitos professores podem dar os primeiros rudimentos da música às crianças, porém, poucos
possuem condições de enraizar as bases na vida musical. A idade de 3 ou 4 anos da criança, é ideal
para que um professor de música faça um trabalho de preparação musical. Antes disso, o papel de
atrair a atenção das crianças aos fenômenos sonoros e rítmicos e ensinar as primeiras canções é da
mãe.
“O ouvido musical, a imaginação sonora e a conseqüência directa dos dois – a melodia
devem constituir os elementos de base, o centro do desenvolvimento musical”. (WILLENS, 29,
p.28). A melodia é o elemento musical que permanecerá sempre, é essencial e o mais característico
da música para as crianças. Ritmo e som, por sua vez, estarão unidos no canto. Os pauzinhos de
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madeira são eficazes e devem ser apresentados às crianças como instrumentos rítmicos para que
elas exercitem, com este auxílio, movimentos e ritmos. Podem ser associados posteriormente ao
canto, nas canções. “É muito importante que a criança viva os factos musicais antes de tomar
consciência deles” (WILLENS, 29, p.20).
O canto precisa impreterivelmente estar presente na iniciação musical das crianças. Ele
contribui para o desenvolvimento da audição interior e, na metodologia de Willens, o papel mais
importante nesta fase da educação musical é do canto. O canto em cânone, por exemplo, prepara
para o estudo da harmonia e o canto a duas vozes. O desenvolvimento da musicalidade infantil
muito se deve ao canto.
Willens coloca, ainda, a importância das canções na aprendizagem musical. Segundo ele, as
canções populares serão instrumentos de aprendizagem musical infantil, visto que são originadas da
sua raça. É preciso, porém, ter um cuidado posterior com a escolha do repertório de canções
populares do ponto de vista musical, ou seja, a questão do ritmo, intervalos, acordes ou modos. O
instrumento eficaz – que deve ser o ponto de partida na educação musical – e que acompanhará o
aluno em seu desenvolvimento mesmo em seu estudo instrumental e de harmonia na perspectiva de
Willens, é o canto, pois, é a expressão mais natural da música.
4 CONCLUSÃO
As crianças são o maior bem que a humanidade possui. É muito importante que os
governantes do país possam dar atenção a este fato, disponibilizar verbas para a Educação.
Entretanto, os profissionais da educação, principalmente os da Educação Infantil devem aprofundar
temas relacionados a esta etapa da educação básica, podendo assim, com este conhecimento,
desempenhar seu trabalho com excelência e contribuir para a qualidade desta educação. Para tanto,
também é necessário o aprofundamento das diversas teorias pedagógicas aplicadas no decorrer da
História da Educação, uma vez que as mesmas já foram devidamente comprovadas; além é claro
das possibilidades novas de se aplicar algo atual.
É muito importante para o educador conhecer os conteúdos a serem aplicados nas séries de
Educação Infantil, mas é de suma importância que ele compreenda a criança como ser biológico,
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social e intelectual, suas fases, suas demandas, as dificuldades e os seus anseios, além do meio em
que se encontra, ou seja, na sua realidade.
A atividade musical é um dos meios para se educar e interagir com a criança nas suas
distintas fases. Assim como o educador deveria estudar os pensadores da educação, deveria também
conhecer os diversos educadores musicais e as áreas que atuaram complementando assim o
currículo do mesmo e aplicando na sua prática docente.
No mundo atual, as crianças encontram tudo pronto, virtual e artificial, muitas vezes
limitando assim sua criação. A ação criadora é própria do ser humano como resultado de uma ação
cognitiva, ou seja, da aquisição de algum conhecimento. A música deve ser um dos meios para se
alcançar esta ação; podemos oferecer à criança, através de recursos pedagógicos vivos e adequados,
para que ela possa expressar sua criatividade. Para levar essa educação musical às crianças, antes de
tudo, é preciso considerar a música como um meio de cultura humana; como meio científico, isto é,
comprovado e com estudos aprovados; e ainda enfatizar que a criança se aproxime da música com
alegria, e esta alegria poderá ser transformado em amor pela música, fazendo parte do seu cotidiano
para aprender e compreender o mundo em que vive.
5 REFERÊNCIAS
CARVALHO, Mônica Fontanari de. Pré-escola da música: musicalização infantil. Curitiba: Martins Fontes, 1997. ENCICLOPÉDIA LIVRE, Wikipedia.Disponível em <www.wikipedia.com> Acesso no dia 10 de outubro de 2008. MÜLLER, Ana Paula Pamplona da Silva. Pedagogia da Educação Infantil. Indaial: ASSELVI, 2008. SUGAHARA, Leila. Cenário Musical: educação e comércio. São Paulo: Marketing Editorial, 2006. WILLENS, Edgar. As bases psicológicas da educação musical. Suíça:Edições Pró-Música. WOLFF, Celi Terezainha. Organização do trabalho pedagógico na educação infantil. Indaial: ASSELVI, 2008.
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