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Associação entre parasitoses intestinais e alterações do hemograma
Débora Liliane Walcher1
Débora Pedroso2 Matias Nunes Frizzo3
Resumo: As infecções parasitárias são caracterizadas como um dos graves problemas de saúde pública, afetando crianças em idade escolar que vive em áreas pobres dos centros urbanos, sujeitando-as a quadros anêmicos e desnutrição. Com base nisso foi feita uma breve revisão literária na qual as informações encontradas confirmam os resultados achados. O objetivo do estudo foi realizar uma pesquisa com crianças de 5 a 13 anos estudantes da escola municipal Miguel Bosniak no bairro Colméia na cidade de Santo Ângelo – RS, que realizaram exames laboratoriais no LAC/IESA no período de março a julho de 2011. Foi realizada uma coleta de dados através dos resultados de Hemogramas e Exame Parasitológico de Fezes. Foram avaliados os exames de 102 crianças, verificando-se a prevalência de 65% de infecções por parasitoses intestinais, 37% de crianças anêmicas, 41% de eosinofilia. Os resultados encontrados devem-se as precárias condições de vida que acabam por expor as infecções parasitárias, carências nutricionais, falta de ferro entre outros. Com os dados obtidos ficou registrada a prevalência de parasitoses intestinais, anemia e eosinofilia. Chamamos a atenção para elaboração de medidas que possam ajudar no controle e combate destes achados, a fim de melhorar a saúde pública, através da melhoria em condições de saúde e impedir que dados como estes cresçam cada vez mais. Palavras-chave: anemia ferropriva - eosinofilia sanguínea - parasitoses intestinais. Abstract: Parasitic infections are characterized as one of the serious public health problems affecting
school age children living in poor areas of urban centers, subjecting them to conditions anemia and malnutrition. Based on this was a brief literature review in which the information found confirm the results found. The aim of the study was a survey of children aged 5 to 13 years of public school students in the district Miguel Bosniak Beehive in Santo Angelo - RS, who performed laboratory tests in LAC / IESA in the period from March to July 2011. We performed a data collection through the results of blood counts and parasitologic. Tests were evaluated 102 children, verifying the prevalence of 65% of infections by intestinal parasites, 36% of anemic children, 41% eosinophilia. The results are due to the precarious conditions of life that eventually expose the parasitic infections, nutritional deficiencies, lack of iron among others. With the data obtained was recorded the prevalence of intestinal parasites, anemia and eosinophilia. We call attention to developing measures that can help control and combat these findings in order to improve public health by improving health conditions and prevent data as they grow more and more. Keywords: iron deficiency anemia - blood eosinophilia - intestinal parasites.
1
Acadêmica concluinte do curso de Biomedicina-2011, Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo-RS - CNEC/IESA . 2 Doutoranda em Parasitologia-UFPel, Docente do Curso de Biomedicina-CNEC/IESA.
3 Doutor em Biologia Molecular e Celular - PUCRS, Docente do Curso de Biomedicina CNEC/IESA.
Laboratório Escola de Biomedicina CNEC/IESA–Santo Ângelo/RS. Rua Dr. João Augusto Rodrigues, 471. E-mail: [email protected] - Contato: (53) 8413 9771
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Introdução
As parasitoses intestinais ou enteroparasitoses, decorrentes de protozoários e/ou
helmintos, representam um grave problema de saúde pública particularmente nos
países subdesenvolvidos onde se apresentam bastante disseminadas e com alta
prevalência, decorrente das más condições de vida (BENCKE, 2006).
De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde, as geohelmintoses
são altamente frequentes na América Latina, com prevalência estimada de 30%, mas
alcançando 50% em comunidades vulneráveis e até 95% em algumas tribos
indígenas (CORDÓN e col., 2008).
O dimensionamento da prevalência das parasitoses intestinais no Brasil tem sido
buscado desde a década de 40 (BASSO e col., 2008). Dentre os helmintos, os mais
frequentes são os nematelmintos Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura e os
ancilostomídeos Necator americanus e Ancylostoma duodenale. Dentre os
protozoários, destacam-se Entamoeba histolytica e Giardia lamblia (FERREIRA,
2000). Estima-se que cerca de um bilhão de indivíduos em todo mundo foram
infestados por Ascaris lumbricoides, sendo apenas pouco menor o contingente
infestado por Trichuris trichiura e pelos ancilostomídeos. Estima-se, também, que
200 e 400 milhões de indivíduos, respectivamente, estão infectados por Giardia
duodenalis e Entamoeba histolytica. Os danos que os enteroparasitas podem causar
ao seus portadores incluem, entre outros agravos, a obstrução intestinal (Ascaris
lumbricoides), a desnutrição (Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura), a anemia por
deficiência de ferro (ancilostomídeos) e quadros de diarréia e de má absorção
(Entamoeba histolytica e Giadia duodenalis), sendo que as manifestações clínicas
são usualmente proporcionais ao nível de infestação parasitária albergada pelo
indivíduo (FERREIRA, 2000).
A Organizção Mundial de Saúde (OMS) (2004) referenciou, ainda, que as
enteroparasitoses estão entre os agravos infecciosos mais frequentes no mundo. A
cada ano ocorrem cerca de 65.000 óbitos em decorrência de ancilostomídeos,
60.000 por Ascaris lumbricoides e 70.000 por Entamoeba histolytica. Além disso,
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pode-se referenciar importante déficit nutricional e de aprendizagem, contribuindo
para o baixo rendimento escolar das crianças, podendo determinar acometimentos
orgânicos capazes, às vezes, de incapacitarem os indivíduos atingidos (CORREA,
1994).
Sabe-se que a prevalência dessas parasitoses está intimamente ligada às condições
sócio-ambientais em que o indivíduo vive, principalmente as condições de
alimentação, de abastecimento de água e de destinação do esgoto e do lixo
(BUSNELLO, 2009). O problema do saneamento básico no Brasil é alarmante.
Dados do IBGE de 1999, segundo Passeto (2001) apontavam que mais de 50% dos
domicílios não tinham acesso a sistema de esgoto sanitário e apenas 15% do esgoto
sanitário coletado recebia tratamento.
Aproximadamente, um terço da população das cidades dos países subdesenvolvidos
vive em condições ambientais propícias à disseminação das infecções parasitárias
(HARPHAM E STEPHENS, 1991). Embora apresentem baixas taxas de mortalidade,
as parasitoses intestinais ainda continuam representando um significativo problema
de saúde pública, haja vista o grande número de indivíduos afetados e as várias
alterações orgânicas que podem provocar, inclusive sobre o estado nutricional
(PRADO, 2001). No entanto, infecções causadas por parasitas intestinais são,
sem dúvida, das doenças mais comuns e mais negligenciadas, afetando mais de
30% da população mundial (UNICEF, 1998).
Uma das ocorrências mais comuns em virtude das infecções parasitárias são as
anemias que, atualmente, afetam metade dos escolares e adolescentes nos países
subdesenvolvidos (SILVA, 2011). A anemia é considerada a doença mais prevalente
em todo o mundo, especialmente é caracterizada por carência de ferro, que chega a
ser responsável por 95% das anemias (TORRES, 1994). Ocorre com maior
frequência entre a população infantil de países em desenvolvimento, mas também,
em menores proporções, nos países desenvolvidos. A Organização Mundial da
Saúde estima que metade da população de crianças com idade inferior a quatro
anos, nos países em desenvolvimento, sofre de anemia (UNICEF, 1998). Na América
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Latina, as estimativas, na década de 80, eram de 13,7 milhões de crianças anêmicas,
com uma prevalência de 26% (HORVITZ, 1989).
A anemia está caracterizada com a deficiência de alguns micronutrientes, sendo eles
o ferro, vitamina B12 e/ou ácido fólico, causada pela fase de crescimento, pela
diminuição da absorção dos mesmos, ou pela infecção parasitária (DANI, 2008). É
comum se observar à associação entre a presença de parasitas e o aparecimento de
anemias carenciais, como a anemia ferropriva. Isto se explica pela capacidade
espoliativa que os parasitos podem exercer em seus hospedeiros, geralmente
crianças em estados nutricionais já comprometidos. Dessa forma, existem várias
causas para um estado anêmico, e também pela anemia ferropriva, que pode ocorrer
na fase de crescimento, devido à exigência da fase de crescimento (SILVA e col.,
2011).
No leucograma, a contagem de eosinófilo sanguíneo e o nível sérico de IgE podem
estar elevados em várias afecções, sendo a parasitose intestinal uma das mais
importantes. Os eosinófilos são leucócitos granulócitos presentes no sangue em
pequena quantidade, com média de aproximadamente 3%. É uma célula binucleada
e seu citoplasma possui grânulos específicos que se coram pela eosina (acidófilos).
Tais grânulos são lisossomas ricos em fosfatases ácidas. As nucleases presentes
são as ribonucleases e as desoxiribonucleases que digerem o RNA e o DNA,
respectivamente (REIS e col., 2007).
A vida média é de aproximadamente 18 horas no sangue, mas após sinais
apropriados envolvendo citosinas e moléculas de adesão, migram para os tecidos,
nos quais podem durar semanas. Estima-se que para cada eosinófilo na corrente
sanguínea existam cerca de 200 na medula óssea e 500 em nível tecidual
(O’BYRME, 2001). Considera-se eosinofilia a contagem sérica de eosinófilos acima
de 500 células/mm. Pode ser classificada em: Leve – 500 a 1500 células/mm3;
Moderada – 1501 a 5000 células/mm3; Intensa – acima de 5000 células/mm3
(LINDEN, 1999).
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A eosinofilia ocorre em um grande número de doenças como leucemia, Síndrome de
Wiskot-Aldrich, hipersensibilidade a drogas, gastrenterite eosinofílica e parasitoses
intestinais (PEIXOTO, 2004). Nem todos os parasitos são capazes de induzir a
eosinofilia principalmente àqueles que se encontram na luz do intestino, e sim
quando ocorre uma invasão tecidual (RUE, 2001). Dentre as parasitoses mais
comuns encontradas em crianças destaca-se a giardíase, provocada pela Giardia
lamblia, parasita do intestino delgado, causador de diarréia e má absorção. A
principal função do eosinófilo não é a fagocitose, mas sim a exocitose da PBM
(proteína básica maior), que é tóxica para parasitas, causando a sua morte (REIS e
col., 2007).
Nas infecções parasitárias, a eosinofilia costuma ser constante e proporcional à
infestação. Existe aumento de eosinófilos em infecções por helmintos e protozoários.
Existem graus diferentes de eosinofilia, dependendo do agente etiológico, do nível de
infestação e da fase em que se encontra a patologia. As infecções por parasitas
ocorrem geralmente em crianças e adultos jovens, o que pode provocar redução do
estado nutricional, retardo no crescimento e baixo aproveitamento escolar, sendo a
anemia um achado frequente (SANTOS e col., 2011).
Contudo, de uma forma geral, a resposta imunológica alergênica às parasitoses
intestinais é variável e pode ser caracterizada em aguda e crônica (SOUZA e col.,
2009). Na fase aguda síndromes alérgicas podem estar presentes como reações
urticariformes ou quadros de bronco espasmo causado pela migração larvária em
tecido pulmonar. A eosinofilia presente nesta fase não é apenas sanguínea, mas
também tecidual, na tentativa de imobilizar ou mesmo aniquilar o parasito, assim
como os altos níveis de IgE específica agem como fator importante no recrutamento
de eosinófilos para o local da agressão (SOUZA e col., 2009). A IgE sérica, do tipo
policlonal só elevaria, e muito, em uma fase mais remota, após diversos períodos de
agressão ao hospedeiro (COOPER, 2002), onde há uma acomodação do
relacionamento entre o hospedeiro e o parasita, onde não deixa de existir a
infestação parasitária, mas a migração larvária é mínima. Nesta fase parece haver a
produção de citosinas imunossupressoras como a IL-10 e TGF-B, que atuam
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promovendo uma regulação para baixo do número de eosinófilos sanguíneos
(COOPER, 2002; KLION, 2004).
A resposta imune aos helmintos vai depender da cronicidade da infestação, do ciclo
de vida do parasito, do local aonde o parasito irá se localizar como verme adulto e
até da condição nutricional do hospedeiro, pois como demonstrado por (HAGEL e
col., 2003), em crianças mal nutridas existiria imunossupressão, fazendo com que
houvesse baixa produção de IgE específica para o parasito com a possibilidade de
existir maior carga parasitária nestes indivíduos. Portanto, nível de IgE sérica total
bastante elevado, ao invés de indicar maior hipersensibilidade e gravidade da doença
alérgica, pode refletir algum fator associado como, por exemplo, a presença de
parasitose intestinal atual ou passada, na qual haveria aumento policlonal da mesma
(PEIXOTO, 2004). No entanto, a parasitose intestinal não somente estimula a
produção de IgE antiparasitária, mas também pode induzir a produção de IgE
policlonal havendo como resultado altos níveis de IgE sérica total (PEIXOTO, 2004).
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo avaliar a associação das
parasitoses intestinais com as possíveis alterações que podem ocorrer no
hemograma, onde serão avaliados o eritrograma e o leucograma dos pacientes
participantes do estudo com o propósito de um melhor entendimento sobre o
assunto, pois estudos relacionados disponíveis, ainda são escassos.
Materiais e métodos
Delineamento do universo da pesquisa. Trata-se de um estudo analítico e
retrospectivo, que avaliou os resultados do hemograma e exame parasitológico de
fezes de alunos de uma Escola Municipal de Santo Ângelo, que participaram do
projeto de extensão do Laboratório Escola de Biomedicina do Instituto Cenecista de
Ensino Superior de Santo Ângelo (LAC-IESA), Rio Grande do Sul no período de
março a junho de 2011.
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População e Amostra
Alunos da Escola Municipal Miguel Bosniak, localizada no bairro Colméia, zona leste
da cidade de Santo Ângelo que se encontravam na faixa etária de 5 a 13 anos.
Análise estatística
As variáveis analisadas foram obtidas no banco de dados do software do laboratório
escola de Análises Clínicas.
Os resultados do hemograma e exame parasitológico de fezes de cada paciente
foram analisando de forma descritiva e matemático-estatística, utilizando frequência
absoluta e porcentagem do programa Microsoft Excel 2007.
Aspectos éticos
A pesquisa foi desenvolvida a partir do que preconiza a Resolução 196/1996 do
Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 1996), visto que as informações obtidas foram
utilizadas apenas para fins deste estudo. Os dados foram coletados somente após a
assinatura dos termos de consentimento e autorização da Instituição. Sendo assim, o
sigilo das informações concedidas será garantido, permanecendo-as sob-
responsabilidade dos pesquisadores, conforme o termo de compromisso assinado
pelos pesquisadores responsáveis por este estudo.
Resultados
Foram avaliados os resultados de EPF’s e hemogramas de 102 alunos. Sendo que
57% (58/102) eram do sexo feminino e 45% (44/102) do sexo masculino. A faixa
etária dos alunos variou entre 5 a 13 anos. Com idade média de nove anos e desvio
padrão ± 2,19 anos.
A prevalência de enteroparasitos na população de estudo foi de 65% (64/102) dos
alunos estavam parasitados por algum tipo de parasito. Em relação ao gênero dos
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alunos com resultado positivos constata-se 70% (39/ 64) eram meninas e 54%
(25/64) eram meninos. A tabela I apresenta o número de alunos que apresentaram
infecções por helmintos e, ou protozoários.
TABELA I. Comparativo das crianças parasitadas e não parasitadas.
Feminino (%)
Masculino (%) Total (%)
Sem parasitose Parasitadas Helmintos Protozoários Helmintos e Protozoários Infecções Múltiplas de Helmintos Infecções Múltiplas de Protozoários
17 (30%) 39 (70%)
04 (7%) 19 (34%) 04 (7%)
03 (5%)
09 (16%)
21 (46%) 38 (37%) 25 (54%) 64 (65%) 03 (6%) 07 (6%) 15 (32%) 34 (33%) 03 (6%) 07 (7%) - 03 (3%) 04 (9%) 13 (13%)
Fonte: Dados do LAC/IESA 2011.
Na tabela II observa-se a descrição dos agentes etiológicos observados nos exames
coproparasitológico realizados dos alunos. O parasito que apresentou maior infecção
em ambos os sexos foi Endolimax nana, parasito não patogênico. Dentre os
resultados destacam-se os parasitos com capacidade espoliativa e patogênica
Ascaris lumbricóides, Trichuris trichiura e Giardia lamblia.
TABELA II. Demonstrativo das parasitoses intestinais dos alunos infectados.
Feminino Masculino Total
Helmintos Strongiloides stercoralis Hymenolepis diminuta Hymenolepis nana Enterobius vermicularis Ascaris lumbricoides Trichiuris trichura Protozoários Endolimax nana Entamoeba coli Entamoeba histolystica Entamoeba dispar
01 02 03 03 04 02
18 09 02 01 12
- 01 03 01 01 -
13 06 - -
11
01 03 06 04 05 02 31 15 02 01 23
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Giardia lamblia
Fonte: Dados do LAC/IESA 2011.
Com relação a incidência de anemia na população de alunos os critérios para
avalição foram os valores de hemoglobina inferiores a 12 g/dL (Hb ≤ a 12) nos
hemogramas avaliados de acordo com preconniza a OMS. Encontrou-se uma
prevalência de anemia de 37 (36%) alunos, independente destes apresentarem ou
não alguma infestação parasitária ou eosinofila. No entanto, analisando apenas os
alunos com parasitoses a incidência de anemia foi de 11 (17%) alunos. Enquanto
que a incidência de anemia em crianças que apresentavam eosinofilia no leucograma
foi 4 alunos (4%).
Na análise do leucograma o valor limítrofe para eosinofilia foi de ≥ 6 células/mm3.
Avaliando-se a presença de eosinofilia nos alunos encontrou-se uma prevalência de
42 (41%) na população avaliada. Analisando apenas os alunos com parasitoses a
incidência de eosinofilia foi de 13 (20%) alunos. Na tabela II, observamos a
incidência de alunos que apresentaram alguma infestação parasitária, anemia
concomitante a parasitose e eosinofilia, como pode ser observado na tabela III.
TABELA III. Demonstrativo de alterações encontradas.
Feminino % Masculino % Total %
Parasitose/Anemia/Eosinofilia Parasitose/Eosinofilia Parasitose/Anemia Eosinofilia/Anemia Eosinofilia Parasitose Anemia
08 (14%)
07 (12%)
07 (12%)
-
05 (9%)
18 (32%)
04 (7%)
09 (16%)
05 (11%) 13 (13%) 08 (17%) 15 (15%) 04 (9%) 11 (11%) 04 (9%) 04 (4%) 05 (11%) 10 (10%) 07 (15%) 25 (25%) 04 (9%) 08 (8%) 07 (15%) 16 (16%)
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Sem alteração Total :
58 (%) 44 (%) 102 (%)
Fonte: Dados do LAC/IESA 2011.
Dos 102 alunos estudados, os 13 alunos que apresentaram parasitose intestinal,
anemia e eosinofilia, 04 apresentaram infecções pelo protozoário giardia lamblia que
é patogênico, 10 apresentaram apenas eosinofilia sem qualquer outra manifestação
clínica, 29 (28%) alunos apresentaram alguma infecção parasitária seguida de
eosinofilia, 19 (18%) alunos por protozoários e apenas 07 (6%) por helmintos, e 3
(2%) alunos por ambas classes. Contatou-se que 25 alunos tiveram apenas
infecções parasitárias, enquanto que 16 alunos não apresentaram nenhuma
manifestação clínica. Dos 07 alunos que tiveram infecções por helmintos e
protozoários concomitantemente 03 apresentaram eosinofilia, e 04 não apresentaram
sendo que apenas 01 apresentou anemia.
Discussão
Com o estudo realizado observou que as parasitoses intestinais afetam 6 em cada 10
crianças, nas quais os protozoários Endolimax nana, Giardia lamblia e Entamoeba
coli ,respectivamente são os parasitos mais encontrados nos alunos que fizeram
parte da pesquisa. Destacam-se os parasitos com capacidade obstrutiva e ou
espoliativa, encontrados nos alunos, Giardia lamblia, Trichuris trichiura e Ascaris
lumbricoides, de acordo com Neves (1991), são capazes de absorverem nutrientes e
sangue do hospedeiro, podendo deixar pontos hemorrágicos na mucosa quando
abandonam o local de sucção. O Ascaris lumbricoides, além da ação espoliativa
pode vir a causar ação tóxica, devido algumas espécies produzirem enzimas ou
metabólicos que podem lesar o hospedeiro, podendo também causar ação mecânica
e irritativa. Enquanto, a Giardia lamblia pode vir a causar a ação mecânica, e o
Trichiuris trichura pode provocar além da ação espoliativa, ação traumática.
A prevalência de Trichiuris trichiura é mais dependente de fatores genéticos do que
de fatores ambientais. Por outro lado, a ausência de Enterobius vermicularis pode ser
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justificada pelo método diagnóstico empregado, que não é apropriado para identificar
esse helminto. Além disso, esse parasito é predominantemente urbano e está
associado a condições satisfatórias de habitação, sendo menos associado às más
condições de higiene devido às peculiaridades de sua transmissão (PRADO, 2010).
Na pesquisa realizada a presença de ambos parasitos, foi relativamente baixa, o que
pode ser entendido conforme o citado acima.
Já em estudos relacionados no sudeste brasileiro, observou-se que as crianças do
sexo feminino são as mais acometidas pelos parasitos enquanto crianças do sexo
masculino são menos acometidos pelos parasitos. Parasitos que já apresentavam
baixa prevalência em 1984/85, como Strongiloides stercoralis e os ancilostomídeos,
não mais foram encontrados em 1995/96 (FERREIRA e col., 2000). No estudo
realizado foi encontrado apenas um caso por Strongiloides stercoralis não havendo a
presença de ancilostomídeos que segundo registros é causador de milhares de
óbitos e maior responsável pela ação espoliativa nas parasitoses. Tratando-se ainda
do estudo relacionado observou-se uma redução dramaticamente entre os inquéritos
à proporção de crianças parasitadas por duas ou mais espécies de parasitas (de
13,1% para 0,5%) comparando os anos de 84/85 para 95/96 e deixou de haver
crianças parasitadas por três ou mais espécies de parasitas, as quais representavam
4,8% das crianças estudadas em 1984/85 (FERREIRA e col., 2000). No estudo
realizado o percentual de alunos com parasitoses intestinais por uma ou duas
espécies independente da classe parasitária foi de 34% enquanto 4% com
poliparasitismo, sendo que a grande maioria destas infecções ocorreu em alunos
com idade ≥ de 9 anos.
Para uma população como a estudada, onde são extremamente raras as formas
severas de desnutrição, a ocorrência da enfermidade depende essencialmente do
grau de exposição da criança a formas infectantes dos parasitos (cistos, ovos ou
larvas). O grau de exposição a formas infectantes dos parasitos intestinais está
condicionado por uma série de fatores, nos quais se destacam as condições de
moradia, características do saneamento do meio e cuidados higiênicos e de saúde
(FERREIRA et al., 2000).
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Estudos realizados por Saturnino e col. (2003), em crianças de Natal (RN)
encontraram a prevalência de 76,0%, Prado e col., (2001) encontraram em escolares
de Salvador (BA) 66,1% de positividade e Marinho e colaboradores (2002) encontrou
em alunos de Seropédica (RJ,) uma prevalência total de 33,88% (CASTRO, 2004).
Quando comparado a estes estudos, pode se observar que os resultados
encontrados no estudo realizado com a escola municipal Miguel Bosniak de Santo
Ângelo-RS foi relativamente alta, sendo de 65,0% de parasitismo dos alunos.
A prevalência de parasitoses em nosso estudo deve-se as péssimas condições de
vida destas famílias. Deste modo, alunos que apresentaram contaminação
parasitária podem estar relacionados ao fato de as crianças não ter condições
higiênicas adequadas, uma vez que a maioria das infestações parasitárias se dá pela
contaminação fecal-oral, como é o caso do parasito Giardia lamblia, que foi o
segundo parasito mais encontrado nos alunos estudados. A contaminação fecal é o
fator mais importante da disseminação das parasitoses intestinais. A contaminação
fecal da terra ou da água é frequente nas regiões pobres onde não existem serviços
sanitários e a defecação se faz no solo, o que possibilita que os ovos e as larvas de
helmintos eliminados nas fezes se desenvolvam e cheguem a ser infectantes. Os
protozoários intestinais transmitem-se principalmente pela contaminação fecal
através das mãos, da água ou dos alimentos (PRADO, 2010).
Com o resultado encontrado evidencia-se a necessidade de adotar medidas
adequadas para o controle e combate das parasitoses intestinais. A elevada
freqüência de Endolimax nana (parasito não patogênico) e Giardia Lamblia nos faz
perceber a necessidade do cuidado que se deve haver em relação ao preparo dos
alimentos, e ingesta de água, questões de saneamento, pois estas seriam as
principais vias de transmissão destes parasitos. Segundo Fortattini (1992),
comportamentos humanos são fundamentais para a transmissão de parasitoses,
uma vez que determinam os níveis de exposição às fontes de infecção. Outro
aspecto tão importante quanto o comportamento é representado pelo nível de
informação que as populações de risco possuem sobre essas parasitoses (DIAS,
2005).
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A questão que envolve as parasitoses intestinais em nosso país torna-se ainda mais
acentuada, uma vez que, lamentavelmente, não há uma política séria para controle
desses parasitos como melhorias das condições sócio-econômicas, saneamento
básico, educação sanitária, além de mudanças de alguns hábitos culturais; dessa
forma, a educação e o tratamento individual só resultarão em controle definitivo de
medidas preventivas e melhoria dos padrões sanitários se forem concomitantemente
implementados (DIAS, 2005). Outro aspecto importante é que a ocorrência de
diarréias recorrentes e má absorção conseqüente à presença de parasitos intestinais
são freqüentes e responsáveis por agravos nutricionais, principalmente na população
menos favorecida (PEDRAZZANI e col., 1988).
Muitas crianças, por adquirirem hábitos alimentares pouco saudáveis em suas
famílias, acabam por não consumir alimentos ricos em ferro, talvez por não haver
disponibilidade de uma dieta adequada. Outro importante fator a ser considerado é a
baixa inserção socioeconômica das crianças que freqüentam as escolas públicas, a
qual impõe condições de vida que as tornam mais vulneráveis à diarréia, às
infecções respiratórias e às parasitoses intestinais, podendo comprometer, de forma
marcante, o consumo de alimentos por redução do apetite e por diminuição da
absorção de nutrientes, entre eles o ferro (SILVA e col., 2001) o que só faz aumentar
o número de crianças com quadro anêmico.
O presente trabalho confirma ainda a incidência de anemia em crianças com idade
de 5 a 13 anos. Analisando trabalhos sobre anemia em gestantes e crianças do país,
citaram os baixos salários como um dos fatores determinantes de anemia. Mesmo
em países desenvolvidos, com baixa prevalência de anemia como nos Estados
Unidos, há uma prevalência maior de anemia em crianças de famílias de menor
renda (SILVA, 2001).
A incidência da anemia pode estar relacionada justamente pelas precárias condições
em que se vive se tratando de famílias em condições muito precárias, que acabam
por afetar justamente a questão nutricional da criança devido à população estudada
não ter acesso a uma boa alimentação rica em proteínas e ferro, os dados
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encontrados já eram esperados, justamente pelo fato da escola ser localizada em
uma região carente da cidade, e os alunos de famílias com nível sócio econômico
muito baixo. Por consequência, a família não tem como oferecer uma alimentação
rica em nutrientes e proteínas que são necessários para o crescimento adequado
para a criança. Um aspecto que deve ser considerado, ainda que não interfira na
comparação entre os diferentes estudos, é o ponto de corte utilizado para o
diagnóstico de anemia. Embora adotado internacionalmente, esse ponto de corte tem
sido questionado (SILVA, 2001). Outro fator que pode ser avaliado, é que o número
de crianças anêmicas com idade inferior a 10 anos é maior que o número de crianças
com idade maior de 10 anos. Isso pode ser explicado pela maior velocidade de
crescimento nessa faixa etária, pelo atraso na introdução de alimentos ricos em ferro
na dieta da criança e pela maior prevalência de doenças como diarréia e infecções
respiratórias nos primeiros anos de vida (SILVA, 2001).
Segundo revisão de Demaeyer e col., (1085), com base em estudos em informações
disponíveis na OMS e em centros de documentação para estimar a prevalência de
anemia por sexo, idade e país na década de 80 mostrou prevalência de anemia para
a faixa etária de 5 a 12 anos, de aproximadamente 49% na África, 13% na America
do Norte, 26% na America Latina, 22% na Ásia Oriental, 50% na Ásia Meridional, 5%
na Europa e 15% na Oceania (STEFANINI, 1998).
No presente estudo encontrou a prevalência para a população estudada de idade de
5 a 13 anos dos escolares, de 37% considerando o nível de hemoglobina conforme a
OMS. Outros estudos relacionados, com crianças de 6 a 10 anos, de escolas
públicas da grande São Paulo, foi de 51%. A amostra apresentou diferenças nas
prevalências de anemia segundo a localização geográfica. A região periférica
apresentou níveis de prevalência superiores (56,9%) aos encontrados nas escolas da
região central (41,7%) o que evidência que as populações residentes na periferia do
município cujas características socioeconômicas são piores que a da população
central (STEFANINI e col., 1995). Além disso, cabe ressaltar, a precariedade de
informações na literatura relacionados com anemia em crianças na faixa etária
maiores de 5 anos, nas quais a maioria dos estudos estão relacionados a gestantes,
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crianças com idade inferior a 24 meses, os quais estão mais propícios a um quadro
anêmico.
Já a associação das parasitoses intestinais e presença de eosinofilia dependem de
uma resposta imunológica, caracterizadas em aguda e crônica. Normalmente, na
fase aguda, há o desenvolvimento de uma resposta específica ao parasito, é
caracterizada por marcada eosinofilia e altos níveis de IgE específica (KLION e col.,
2004). Os helmintos, além de estimular o anticorpo específico, também induzem, de
forma inespecífica, uma síntese exagerada e policlonal da IgE (COOPER, e col.,
2003). Em decorrência desse fato, esses parasitas encontram-se associados a altos
níveis circulantes de IgE total, o que constitui um mecanismo de evasão, pois resulta
em saturação dos receptores Fc épsilon dos mastócitos e inibição de reatividade
alergênica e de qualquer ação de defesa oriunda da IgE específica contra o próprio
parasita (SALES e col., 2002).
As eosinofilias induzidas por helmintos são bem estudadas, mas poucos trabalhos
têm demonstrado que a Giardia lamblia também e capaz de induzir eosinofilia no
hospedeiro (LERTANEKAWATTANA e col., 2005; ROITT e col., 2001). No estudo
realizado constatou se que a correlação entre eosinofilia é relativamente alta, pois do
número de alunos que apresentaram infestações por Giardia lamblia, 39%
apresentaram eosinofilia, enquanto que 13% dos alunos tiveram infestações por mais
de uma espécie além da infestação por Giardia lamblia apresentando eosinofilia.
Já a relação entre eosinofilia e protozoários é pouco descrita na literatura cientifica. É
importante assinalar que nem todos os parasitos intestinais, principalmente aqueles
que estão na luz do intestino, são capazes de induzir eosinofilia, entretanto é
pronunciada quando há invasão tecidual (RUE, 2001). No nosso estudo essa relação
foi significativa, pois se obteve 18% com infestações por protozoários com apenas
7% para helmintos. O que pode ser um achado novo na literatura, pois estudos
relacionados citam não haver muita relação entre eosinofilia e protozoários.
Segundo Jiménez (2004) a Giardia lamblia causa um processo inflamatório no
intestino e induz a formação de imunoglobulinas das classes IgA e IgE, que
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propiciam a identificação e ativação das células efetoras (no caso, os eosinófilos),
promovendo assim um processo lítico do parasito que e denominado citotoxicidade
mediada por células dependente de anticorpo. Portanto, a eosinofilia é um parâmetro
hematológico muito importante, devendo ser considerada na abordagem e na
avaliação do paciente que a apresenta, pois pode sugerir a existência de
protoparasitose intestinal por Giardia lamblia. Além disso, pode ser um indicativo,
com valor preditivo para a incorporação no tratamento conjunto com as doenças
causadas por protozoários intestinais, entre outras parasitoses, bem como nos
processos alérgicos (MENDES e col., 2000; JIMÉNEZ e col.; 2004).
Outro fator analisado foi à presença de eosinofilia em algumas crianças, sem a
presença de parasitoses. Sabe-se que a presença de eosinófilos aumentados pode
estar relacionada a outras doenças. Entre eles destacam-se as doenças alérgicas
(asma brônquica, febre do feno e urticária), distúrbios gastrintestinais (gastroenterite
eosinofílica, colite ulcerativa, enteropatia com perda de proteínas), hematológicas
(doença de Hodgkin, recuperação de linfocitose), pulmão (eosinofilia pulmonar) ,
eosinofilia e herdou da família infecção bacteriana (estreptococcias), viral (hepatite e
mononucleose infecciosa), e após o uso de certos medicamentos como a penicilina,
fenobarbital, e em certos irradiação mesenquimopatías (HAUCK, 1999).
Considerações finais
Com este estudo, fica registrado o levantamento de parasitoses intestinais na escola
municipal Miguel Bosniak na cidade de Santo Ângelo – RS, tendo em vista a não
existência de dados anteriores a estes. Chamamos a atenção para necessidade da
implantação de medidas para o controle e combate a estes achados pelo fato de ter
uma grande prevalência em parasitoses intestinais e a associação desta com a
anemia, fato que se deve as precárias condições que o grupo estudado vive, tanto
em questões de saneamento como da questão sócio-econômica, que por sua vez
colabora para um quadro anêmico devido à falta de nutrientes, principalmente o ferro.
Cabe destacar que nesta população determinou-se uma incidência de anemia 37%
considerada elevada frente a muitos outros estudos o que corrobora com a tese de
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que as baixas condições sócio-econômicas além de predispor para uma prevalência
de anemia predispõem também para uma prevalência de anemias ferroprivas, típicas
por redução de ferro na alimentação.
Damos ênfase também a um novo achado na literatura, que é a questão das
infecções parasitárias por protozoários, e estes associados com a eosinofilia.
Lembrando que estudos relacionados sempre mencionaram associações de
helmintos com eosinofilia. Por fim, tentando diminuir a disseminação destas, seria
necessária a implantação de projetos de educação sanitária, palestras educativas, de
prevenção, com o intuito de reduzir estes índices, para enfim proporcionar uma
melhor qualidade de vida.
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