I
Avaliação das vias aéreas superiores em
telerradiografia de perfil facial
Autor: Joana Isabel Barão Faustino
Aluna 5ºAno Mestrado Integrado em Medicina Dentária
Faculdade de Medicina Dentária – Universidade do Porto
Contacto: [email protected]
Porto, 2012
III
Orientadora:
Maria Cristina Pinto Coelho Mendonça de Figueiredo Pollmann
Professora Associada na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
V
Co-orientadora
Mestre Daniela Afonso
Estudante de especialização clínica em Ortodontia da Faculdade de Medicina Dentária
da Universidade do Porto
VII
Agradecimentos
Este trabalho não teria sido realizado sem o apoio das seguintes pessoas, a
quem, desde já, agradeço o apoio prestado.
À minha orientadora, Professora Doutora Maria Cristina Pollmann, por toda a
dedicação e disponibilidade demostradas na orientação e ajuda na realização deste
trabalho.
À Mestre Daniela Afonso, minha Co-orientadora, pela ajuda na recolha de dados
e pela colaboração na sua análise.
Ao Mestre Engénio Martins pela sua preciosa ajuda na elaboração deste
trabalho.
À Dra. Catarina Moniz Alves sem a qual não seria possível terminar a análise
estatística deste trabalho.
À minha família por serem as pessoas a quem devo tudo.
À Inês Beirão, minha colega de trabalho e amiga, por partilhar comigo todos os
dias desta jornada.
À Joana Almeida, Rita Pacheco, Marta Almeida e Maria João Catita por estarem
sempre presentes.
Ao Eurico, a quem dedico este trabalho.
IX
Abreviaturas
Na – Ponto Nasion
Pog –Ponto Pogonion
Pt – Ponto Pterigoideu
Gn – Ponto Gnation
Ba – Ponto Basion
HF – Plano de Frankfurt
Me – Ponto Mentoniano
Ag – Ponto Antegonial
ENA – Ponto espinha nasal anterior
Xi – Ponto centróide mandibular
Pm – Ponto supra-pogonion
Dc – Ponto condilar
T0 – Inicio do tratamento ortodôntico
T1 – Final do tratamento ortodôntico
Ângulo ANB –Ângulo formado pela interseção do Nasion com o ponto A e o ponto B
Ângulo SNB – Ângulo formado pela interseção do Nasion com a Sela Turca e o
ponto A
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
1
ÍNDICE
Resumo .......................................................................................................................... 3
Abstract .......................................................................................................................... 5
1. Introdução ............................................................................................................... 7
2. Material e Métodos .................................................................................................. 9
2.1. Amostra ................................................................................................................. 9
2.2. Análise Cefalométrica ........................................................................................... 9
2.3. Análise estatística ............................................................................................... 12
3. Resultados ............................................................................................................. 13
3.1. Dados da amostra em estudo ............................................................................. 13
3.2. Variação da dimensão das vias aéreas superiores ............................................. 15
4. Discussão .............................................................................................................. 21
5. Conclusão .............................................................................................................. 25
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 27
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
3
Resumo
Introdução – A morfologia das vias aéreas é um dos factores que condiciona o lúmen
da região nasofaríngea e consequentemente a aptidão ou não para uma ventilação
nasal eficiente. Os aspectos funcionais das vias aéreas estão directamente
relacionados com o crescimento facial, pelo que o estudo da relação entre o espaço
das vias aéreas e os diferentes padrões de crescimento facial e relação sagital
esquelética dos maxilares constitui motivo de interesse em ortopedia dentofacial.
Objetivo – Este estudo teve como objetivo avaliar a dimensão sagital da nasofaringe
em telerradiografias de perfil facial, em pacientes com diferentes classes esqueléticas e
diferentes tipos faciais, antes e após o tratamento ortodôntico.
Materiais e Métodos – A amostra foi constituída por 28 pacientes com telerradiografias
de perfil facial realizadas antes e após tratamento ortodôntico. As vias aéreas
superiores foram medidas através do traçado cefalométrico de McNamara. A relação
estatística entre as variáveis em estudo foi obtida por aplicação de um teste t de
Student e ANOVA unilateral com um teste Tukey HSD (p<0,05).
Resultados – Os resultados obtidos indicaram um aumento significativo das
dimensões das vias aéreas entre a análise inicial e final do tratamento ortodôntico
(p<0.05). Simultaneamente, demonstrou-se uma relação estatisticamente significativa
entre a dimensão sagital das vias aéreas superiores e o tipo facial (p<0,05). Não se
encontrou relação estatisticamente significativa entre a dimensão sagital das vias
aéreas superiores e a classe esquelética ou o género dos pacientes.
Conclusão – A dimensão sagital das vias aéreas superiores dos indivíduos
dolicofaciais são menores quando comparadas com indivíduos mesofaciais e
braquifaciais.
Palavras-chave: vias aéreas superiores telerradiografias; vias aéreas cefalometrias
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
5
Abstract
Introduction – The morphology of the airways is one factor that determines the lumen
of the nasopharyngeal region and consequently the ability or not for an effective nasal
ventilation. The functional aspects of the airways are directly related to facial growth, so
the study of the relationship between the space of the airways and the different patterns
of facial growth and skeletal sagittal relationship of the jaws is an interest in dentofacial
orthopedics.
.
Objective – This study aimed at evaluating the upper airway space using lateral
cephalograms of individuals pertaining to different skeletal classes and growth patterns
before and after orthodontic treatment.
Materials and Methods – The population consisted of lateral cephalograms of 28
individuals obtained before and after orthodontic treatment. The upper airway spaces
were assessed according to McNamara’s airways analysis. Data variables were
subjected to statistical analysis by means of using Student's t-test, and one-way
ANOVA, with the Tukey test (p<0.05).
Results – The results showed a significant increase (p<0.05) of the upper airway space
before and after the orthodontic treatment. Similarly, the upper airway space
measurements were influenced by the growth pattern (p<0.05). There was no
statistically significant relationship between the sagittal dimension of the upper airways
and skeletal class or gender of patients.
Conclusion – The upper airway space decreases for vertical growth pattern when
compared to the normal and horizontal growth patterns.
Keywords: upper respiratory airway lateral cephalograms; airways cephalometrics.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
7
1. Introdução
A influência dos tecidos moles no crescimento craniofacial tem sido alvo de estudo há
já vários anos, sendo aceite nos dias de hoje que tem um papel relevante no
diagnóstico e tratamento ortodôntico.
As adenóides são uma parte do sistema linfóide associado às vias aéreas (anel de
Waldeyer) e ocupam parte do lúmen do cavum nasofaríngeo. Entre os 3 e os 5 anos de
idade a sua velocidade de crescimento ultrapassa o ritmo de crescimento das restantes
estruturas e espaço circundante.(1) Alcançam a sua máxima dimensão na infância
assistindo-se a uma diminuição progressiva de tamanho até à idade adulta, ocorrendo
em idade pré-escolar a maioria dos problemas associados à hipertrofia das adenóides.
(2) (3)
Em condições normais, as dimensões das vias aéreas tendem a aumentar na pré-
adolescência devido à regressão das adenóides e ao crescimento das estruturas
anatómicas circundantes, nomeadamente os maxilares.
Alguns fatores predisponentes, infeções repetidas ou inflamações contribuem para uma
hipertrofia das adenóides e a uma consequente redução do espaço das vias aéreas
superiores condicionando a predominância da respiração mista e/ou bucal.(4, 5) (6) (7, 8)
Nestes indivíduos para além de não se assistir à normal diminuição da dimensão das
adenóides, verifica-se o estabelecimento de condições funcionais respiratórias
anormais entre outras complicações. A apneia obstrutiva é uma das complicações que
pode resultar da obstrução crónica das vias aéreas causada por um aumento das
adenóides e cuja gravidade leva à indicação para adenoidectomia.(9)
Há muitos estudos que associam a adaptação às dificuldades respiratórias a alterações
do desenvolvimento dento-facial e outros que apontam para influência recíproca. (4, 5, 7)
Ricketts em meados dos anos 60 chamou à atenção para a importância da análise das
vias aéreas nas cefalometria quando verificou que os pacientes que possuíam
mordidas abertas ou constrição do palato apresentavam história clínica que incluía
alergias, hipertrofia das adenóides e respiração bucal. (9) (10) A dimensão relativa das adenóides e cavum nasofarínge é uma questão pertinente pois
está relacionada com a probabilidade de ocorrência de constrição das vias aéreas.(4)
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
8
Vários estudos correlacionaram as dimensões das vias aéreas em pacientes com
diferentes más oclusões (11) e em pacientes com morfologia facial alterada. (12) Alguns
autores (11) (4) defendem que indivíduos com más oclusões de classe II têm vias aéreas
menores quando comparados com indivíduos classe I e III. Contudo, noutro estudo de
Freitas et al(6) não encontraram correlação entre as dimensões das vias aéreas
superiores e as más oclusões dentárias, mas afirmam que os indivíduos com uma
classe I esquelética e padrão de crescimento vertical têm uma menor dimensão das
vias aéreas que os indivíduos com um padrão de crescimento horizontal. Em 2011,
Ucar e seus colegas (12) vieram reafirmar num estudo que há diferenças significativas
nas dimensões das vias aéreas em sujeitos com diferentes padrões de crescimento
facial.
Há autores que propõem adenoidectomias precoces como forma de amenizar o padrão
de crescimento facial hiperdivergente. (13, 14) (15) Assim, deve-se alertar o pediatra ou
otorrinolaringologista para a importância de aumentar as vias aéreas e recuperar a
respiração nasal em crianças que apresentem respiração bucal ou mista.
O objetivo deste estudo é avaliar o espaço das vias aéreas superiores, em sentido
sagital, antes e após tratamento ortodôntico, em telerradiografias do perfil facial, em
indivíduos classe I, II e III esquelética com diferentes padrões de crescimento e cotejar
diferenças significativas entre elas.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
9
2. Material e Métodos
O material bibliográfico analisado foi obtido por pesquisa electrónica na base de dados
da “Natural Library of Medicine PUBMed-Medline” e por pesquisa manual usando os
recursos da biblioteca da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto.
Os artigos revistos enquadram-se no tema do estudo das vias aéreas em
telerradiografias e da sua utilização em Ortodontia, tendo sido obtidos utilizando as
seguintes palavras-chaves: vias aéreas superiores telerradiografias e vias aéreas
cefalometrias. Neste estudo foram selecionados artigos recentes, a partir do ano 2000
e posteriores. No entanto, alguns artigos publicados anteriormente a esta data foram
também incluídos no trabalho por se tratarem de estudos de referência nesta
especialidade e que ainda são de extrema relevância em qualquer discussão do estado
da arte desta matéria.
2.1. Amostra
A amostra do estudo engloba 28 crianças com registos pré-existentes nos ficheiros
clínicos de uma clínica privada. A seleção dos pacientes foi aleatória e anónima. Os
critérios de inclusão foram: pacientes submetidos a tratamento ortodôntico intercetivo
de disjunção palatina, em cuja ficha clínica existisse uma telerradiografia de perfil facial
antes e uma telerradiografia de perfil facial após tratamento, com um período de pelo
menos um ano entre os dois registos radiográficos e tendo sido ambos efectuados com
o mesmo equipamento. Foram critérios de exclusão pacientes sindrómicos, má
qualidade dos registos, a existência de intervenções cirúrgicas na região e a
associação com outro tipo de tratamento ortodôntico, durante esse período. Para
garantir o sigilo, a identificação dos pacientes foi codificada, estando apenas visível na
radiografia a idade e o género.
2.2. Análise Cefalométrica
Todas as telerradiografias de perfil facial foram efectuadas com o mesmo equipamento
radiográfico digital (Villa Sistemi Medical®, I-MAX MS-05; dimensão do ânodo da
ampola de raios x: 0,5 mm; distância da fonte de radiação ao plano médio sagital da
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
10
cabeça: 20 cm; factor de ampliação: 1:1,1; registos: 1599 x 1537 pixéis, 8 bits gravado
em formato JPEG sem compressão).
A amostra foi submetida a dois tipos de análises cefalométricas e em registos
correspondentes a dois tempos diferentes. O tempo T0, correspondente às
telerradiografias feitas antes do tratamento ortodôntico e o tempo T1, para as
telerradiografias efetuadas pelo menos um ano após terminada a disjunção.
Todos os traçados cefalométricos e medições foram realizadas pelo mesmo
investigador utilizando o programa Digimizer® (versão 4.2.0.0, MedCalc Software). Foi
efetuada então a análise de Ricketts, apenas em T0, para categorizar os indivíduos
segundo a convexidade facial e os diferentes padrões de crescimento. A convexidade
facial foi definida, de acordo com o protocolado por Ricketts, como uma medida linear
dada pela distância horizontal do ponto A ao plano facial (N-Pog). Este parâmetro foi
utilizado para definição do tipo facial esquelético. A norma clínica deste factor
cefalométrico varia com a idade tendo sido utilizado o valor 4,4 mm uma vez que os
pacientes tinham idades compreendidas entre os 7 e 10 anos de idade. A divisão
segundo o tipo facial, baseia-se em cinco factores cefalométricos: eixo facial (Pt-
Gn/Na-Ba); ângulo facial (HF/Na-Pog); plano mandibular (HF/Me-Ag); altura facial
inferior (ENA-Xi/Pm-Xi); e arco mandibular (Pm-Xi/Dc-Xi) (Figura 1).
Figura 1. Representação dos cinco fatores cefalométricos. 1- Eixo facial; 2- Plano Mandibular;
3- Ângulo facial; 4- Altura facial inferior; 5- Arco Mandibular (retirado de Nery C.G. et al.)(16)
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
11
Numa segunda fase foram feitas as medições das vias aéreas superiores, em T0 e T1,
segundo os critérios da análise cefalométrica de McNamara em suporte digital.(17) Para
a medição linear das vias aéreas superiores foi calculada a distância entre o ponto
mais posterior do palato mole e o ponto mais próximo da parede posterior da faringe
(Figura 2). Para identificar erros associados às medições radiográficas, todas as
medições foram repetidas após duas semanas. O erro casual (Se) foi calculado
segundo a fórmula de Dahlberg (18)(equação 1):
Se2 = d2/2n, (Equação 1)
onde d é a diferença entre a primeira e a segunda medições e n é o número da
amostra. O valor do erro casual foi de 0,18mm.
Figura 2: Pontos e linha de referência usada para medição das vias aéreas: ponto mais
posterior do palato mole até ao ponto mais próximo da parede posterior da faringe.
.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
12
2.3. Análise estatística
Os resultados obtidos foram submetidos a análise estatística usando o programa
SPSS® (“Software Statistical Package for Social Science”, versão 20). Os dados
obtidos foram analisados através de estatísticas descritivas com média e desvio
padrão. A avaliação da dimensão das vias aéreas foi efetuada em dois momentos
diferentes, correspondentes ao início (T0) e ao final do tratamento ortodôntico (T1)
através do teste t de Student para amostras emparelhadas e usando um nível de
confiança de 95% (p<0,05). O teste de Tukey HSD (p<0,05, ANOVA unilateral,
PASWStatistics 20.0, SPSS, Inc.) foi usado para efetuar comparações de
multivariáveis. Este teste foi utilizado para comparar as dimensões das vias aéreas
superiores em T0 e T1, em função do tipo facial e da classe esquelética.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
13
3. Resultados
3.1. Dados da amostra em estudo
Quanto ao género, a amostra é representada por 46% de indivíduos do sexo feminino e
54% do sexo masculino, num total de 28 indivíduos (Figura 3).
Figura 3: Distribuição dos indivíduos quanto ao género.
A amostra inicial (T0) é composta por pacientes com idades compreendidas entre os 7
e 9 anos, sendo a média de idades de 8 anos. Relativamente à amostra final (T1), o
intervalo das idades variou entre os 9 e 12 anos, correspondendo a média de idades a
10 anos (Figura 4). A avaliação da dimensão das vias aéreas a partir de
telerradiografias foi efetuada em dois momentos diferentes: no inicio (T0) e no final do
tratamento ortodôntico (T1).
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
14
Figura 4: Informação dos indivíduos quanto à idade em T0 e T1.
Em relação à classe esquelética a amostra contém 15 indivíduos com classe I, 10
indivíduos com classe II e 3 indivíduos com classe III (Figura 5).
Figura 5: Informação dos indivíduos quanto às classes esqueléticas.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
15
Relativamente ao tipo facial a amostra contém 11 indivíduos dolicofaciais, 13 indivíduos
mesofaciais e 4 indivíduos braquifaciais (Figura 6).
Figura 6: Informação dos indivíduos quanto ao tipo facial.
3.2. Variação da dimensão das vias aéreas superiores
A análise da dimensão das vias aéreas superiores de T0 para T1, foi efetuada através
do teste t de Student para amostras emparelhadas. Os resultados obtidos foram
estatisticamente significativos entre T0 e T1 (p<0,05). O valor médio da dimensão das
vias aéreas foi de 9,28 ± 2,71mm e de 10,99 ± 2,61mm para T0 e T1, respectivamente
(Figura 7).
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
16
Figura 7: Distribuição dos valores da dimensão das vias aéreas em T0 e T1 (* estatisticamente
diferente; p<0.05; teste t de student).
As dimensões das vias aéreas superiores em T0 e T1 foram analisadas em função do
género, do tipo facial e da classe esquelética através do teste de Tukey HSD (p<0,05,
ANOVA unilateral).
Os resultados indicaram a existência de diferenças estatisticamente significativas tanto
em T0 como em T1 em função do tipo facial. Em T0 a dimensão média das vias aéreas
aumentou no sentido de dolicofacial para mesofacial e finalmente braquifacial, com os
valores de 7,15 ± 2,09mm, 10,49 ± 2,39mm e 11,23 ± 0,75mm, respectivamente
(Figura 8).
*
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
17
Figura 8: Distribuição dos valores da dimensão das vias aéreas em T0 para cada tipo facial (*
estatisticamente diferente; p<0.05; teste t de student).
Em T1 verificou-se uma tendência semelhante à obtida para T0. Os valores de
dimensão média das vias aéreas em T1 foram de 9,05 ± 2,23mm para dolicofaciais,
11,98 ± 2,24mm para mesofaciais e 13,10 ± 0,69mm para braquifaciais (Figura 9).
A comparação da variação entre T0 e T1, em cada tipo facial não foi possível em
função da pequena dimensão da amostra.
Figura 9: Distribuição dos valores da dimensão das vias aéreas em T1 segundo o tipo facial (*
estatisticamente diferente; p<0.05; teste t de student).
*
*
*
*
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
18
O teste de Tukey HSD (p<0,05, ANOVA unilateral) foi também utilizado para comparar
as dimensões das vias aéreas superiores em T0 e T1 em função da classe esquelética.
Os resultados não indicaram diferenças estatisticamente significativas em T0 e em T1
em função da classe esquelética. Em T0 a dimensão média das vias aéreas para a
classe I foi de 9,55 ± 2,94mm, para a classe II foi de 8,55 ± 2,66mm e para a classe III
10,37 ± 1,30mm (Figura 10).
Figura 10: Distribuição dos valores da dimensão das vias aéreas em T0 segundo a classe
esquelética.
Em T1 verificou-se a mesma tendência observada para T0. Os valores de dimensão
média das vias aéreas em T1 foram 11,06 ± 2,99mm, 10,43 ± 2,25mm e 12,50 ±
1,22mm para a classe I, II e III, respectivamente (Figura 11).
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
19
Figura 11: Distribuição dos valores da dimensão das vias aéreas em T1 segundo a classe
esquelética.
A análise da dimensão das vias aéreas superiores em T0 e em T1, em função do
género, não demonstrou significado estatístico.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
21
4. Discussão
Vários estudos indicam uma relação positiva entre as medições das vias aéreas
obtidas por telerradiografia lateral e por tomografia computorizada (CBCT), sendo este
último um exame mais invasivo e dispendioso. (19, 20), (21) Das principais limitações
inerentes ao uso de telerradiografias para medição das vias aéreas destaca-se a
dificuldade em visualizar nitidamente os limites das mesmas. Simultaneamente, surge
como desvantagem a impossibilidade de tirar conclusões sobre o fluxo respiratório, que
pode ser obtido apenas através de exames tridimensionais ou de testes(22, 23). Assim,
nas telerradiografias laterais de perfil facial apenas podemos calcular a dimensão
antero-posterior das vias aéreas. Contudo são exames protocolares para diagnóstico
ortodôntico e devido à sua simplicidade, baixo custo e baixa radiação poderão ser
também de considerável utilidade na avaliação do espaço nasofaríngeo(4).
Em relação aos condicionalismos éticos da execução dos exames radiográficos, neste
estudo apenas foram utilizadas telerradiografias pré-existentes obtidas por razões de
diagnóstico ortodôntico, não tendo sido executado nenhum exame cujo propósito fosse
a sua inclusão neste estudo. Quanto ao sigilo em relação à identidade das crianças foi
assegurado pela codificação das radiografias, como referido nos materiais e métodos.
O presente estudo revelou a existência de diferenças significativas (p<0,05) entre as
dimensões das vias aéreas antes (T0) e após (T1) a realização do tratamento
ortodôntico. Os resultados obtidos indicaram um aumento do valor médio das vias
aéreas de 9,28 ± 2,71mm para 10,99 ± 2,61mm em T0 e T1, respetivamente. Estas
observações estão de acordo com estudos que analisaram a variação da dimensão das
vias aéreas com a idade, até à puberdade, na ausência de tratamento ortodôntico e
numa perspectiva de estudo do desenvolvimento das vias aéreas.(24, 25) Devido à
inexistência de uma tabela de correcção em função da idade (correcção biológica) para
o valor em estudo, os autores do presente estudo não podem inferir sobre o efeito
direto do tratamento ortodôntico na variação da dimensão das vias aéreas. A criação
de uma amostra de controlo com esse objectivo, seria do ponto de vista ético
reprovável.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
22
No entanto, atendendo a que os indivíduos estudados tinham indicação para disjunção
maxilar, parece aceitável presumir que tivessem alguma insuficiência respiratória nasal.
A postura lingual está modificada nos respiradores bucais e o palato mole é afectado
por mudanças de posição da língua, condicionando a dimensão das vias aéreas.(24, 26,
27) Os valores encontrados neste estudo para a dimensão sagital das vias aéreas
superiores podem estar influenciados por esse condicionalismo e não representar a
dimensão normal esperada para crianças da mesma idade, sem esse tipo de patologia.
Esta situação será muito provável para os registos feitos em T0. Já no que respeita a
T1, esta circunstância poderá não se verificar uma vez que a disjunção palatina
melhora consideravelmente a capacidade ventilatória nasal. Neste contexto poderá
admitir-se que as diferenças T0-T1 em cada indivíduo sejam o somatório do
crescimento e das consequências da terapêutica ortodôntica instituída na sua provável
associação à modificação funcional respiratória.
O traçado de McNamara para avaliação da dimensão do cavum nasofaríngeo
apresenta uma outra limitação relacionada com o facto de um dos pontos de medição
das vias aéreas se situar no palato mole, uma estrutura de difícil delimitação numa
telerradiografia, que potencia o erro do examinador. Se o paciente não estiver instruído
a não deglutir no momento da realização da telerradiografia, o palato mole pode sofrer
deformações e deslocamentos que influenciam significativamente a análise das vias
aéreas por este método. Para complementar este tipo de estudo, estaria adequado a
aplicação de outras referências de análise cefalométrica.
A amostra foi caracterizada em relação aos indicadores demográficos. Quanto ao
género, a amostra em estudo incluía 54% de homens e 46% de mulheres, não se
verificando diferenças estatisticamente significativas nas dimensões da nasofaringe.
Este resultado está de acordo com o estudo de Handelman e Osborn (25) que avaliou 20
pacientes anualmente entre os 9 meses e os 18 anos de idade, não encontrando
diferenças significativas nas dimensões das vias aéreas entre homens e mulheres.
Estudos recentes realçam a importância do estudo da variação da dimensão das vias
aéreas em função do tipo facial. Segundo Ackam et al.,(27) as vias aéreas superiores
apresentam menores dimensões em indivíduos que com uma rotação posterior da
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
23
mandíbula. Num outro estudo, Ucar et al. (12) avaliou 104 teleradiografias laterais com o
objetivo de relacionar a dimensão sagital das vias aéreas como os padrões de
crescimento facial, concluindo que os indivíduos dolicofaciais apresentavam vias
aéreas superiores de menores dimensões quando comparados com indivíduos
braquifaciais e mesofaciais.(12)
No presente estudo, existem diferenças estatisticamente significativas nas dimensões
das vias aéreas de pacientes dolicofaciais relativamente a pacientes mesofaciais e
braquifaciais (p<0.05). Especificamente, verificou-se que os pacientes com padrão de
crescimento vertical (dolicofacial) possuíam vias aéreas superiores de menores
dimensões do que pacientes com padrão de crescimento normal (mesofacial) e
horizontal (braquifacial). Esta tendência verificou-se para T0 e para T1 podendo-se
inferir que a dimensão sagital das vias aéreas é influenciadas pelo padrão de
crescimento e que o tratamento ortodôntico instituído – disjunção palatina- não alterou
esta tendência de forma significativa. Contudo a análise de telerradiografias apenas
permite analisar a dimensão das vias aéreas no sentido antero-posterior, pelo que
ficam também por esclarecer as dimensões e potenciais alterações transversais ou
verticais.
A análise das vias aéreas em T0 e T1 em comparação com as diferentes classes
esqueléticas indicou a ausência de diferenças estatisticamente significativas. No
entanto, na amostra em estudo, os indivíduos com classe II apresentam vias aéreas
ligeiramente menores quando comparados com indivíduos classe I e classe III.
Num estudo realizado por El e Palomo(11), as medições das vias aéreas foram
relacionadas com o ângulo ANB, não tendo sido encontradas diferenças significativas
entre as várias classes. Contudo, na avaliação dos ângulo ANB separadamente, tendo
em maior consideração o ângulo SNB a literatura mostra resultados diferentes. Do
mesmo modo, Muto T. et al. verificou no seu estudo que as dimensões da vias aéreas
superiores alteravam em função da posição antero-posterior da mandíbula: pacientes
com retromandíbulia (SNB<76 ) apresentaram uma diminuição das dimensões da vias
aéreas quando comparados com pacientes com normomandíbulia (76 <SNB<82 ) (28).
Estes resultados parecem ir ao encontro dos resultados por nós obtidos, contudo está
evidente a influência da nomenclatura e da metodologia que não são sobreponíveis
entre eles. Daí a dificuldade em comparar estes resultados, com outros estudos
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
24
recentes como o de Alves Jr. et al. (29) Tendo então em conta as limitações inerentes
aos critérios de classificação da classe esquelética será de interesse a repetição do
estudo aplicando mais indicadores cefalométricos para além do fator convexidade facial
de Ricketts.
A complementação deste estudo, com aplicação de traçados que incluam correção
biológica assim como a utilização de mais factores cefalométricos poderá aumentar o
impacto dos resultados e conclusões.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
25
5. Conclusão
No presente estudo, com base na amostra analisada e dentro dos condicionalismos
metodológicos, verifica-se:
um aumento significativo da dimensão sagital das vias aéreas superiores entre
T0 e T1.
uma relação estatisticamente significativa entre a dimensão sagital das vias
aéreas superiores e o tipo facial: nos indivíduos dolicofaciais são menores
quando comparadas com indivíduos mesofaciais e braquifaciais. Após a
realização de disjunção maxilar não se verifica alteração desta tendência.
que a dimensão sagital das vias aéreas superiores não revelou influência pelas
variáveis classe esquelética e género dos pacientes.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
27
Referências Bibliográficas
1. Pollmann M.C. Da disfunção respiratória na estruturação craniofacial.
Dissertação de candidatura ao grau de doutor apresentada à Faculdade de medicina
dentária da universidade do Porto.
2. Pohunek P. Development, structure and function of the upper airways. Paediatric
Respiratory Reviews. 2004;5(1):2-8.
3. Valera FCP, Travitzki LVV, Mattar SEM, Matsumoto MrAN, Elias AM, Anselmo-
Lima WT. Muscular, functional and orthodontic changes in pre school children with
enlarged adenoids and tonsils. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology.
2003;67(7):761-70.
4. Oh KM, Hong JS, Kim YJ, Cevidanes LS, Park YH. Three-dimensional analysis
of pharyngeal airway form in children with anteroposterior facial patterns. Angle Orthod.
2011 Nov;81(6):1075-82.
5. Preston CB, Lampasso JD, Tobias PV. Cephalometric evaluation and
measurement of the upper airway. Seminars in Orthodontics. 2004;10(1):3-15.
6. de Freitas MR, Alcazar NM, Janson G, de Freitas KM, Henriques JF. Upper and
lower pharyngeal airways in subjects with Class I and Class II malocclusions and
different growth patterns. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2006 Dec;130(6):742-5.
7. McNamara JA, Jr. Influence of respiratory pattern on craniofacial growth. Angle
Orthod. 1981 1981;51(4).
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
28
8. Martin O, Muelas L, Vinas MJ. Nasopharyngeal cephalometric study of ideal
occlusions. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2006 Oct;130(4):436 e1-9.
9. Salem OH, Briss BS, Annino DJ. Nasorespiratory function and craniofacial
morphology—a review of the surgical management of the upper airway. Seminars in
Orthodontics. 2004;10(1):54-62.
10. Ricketts RM. Respiratory obstruction syndrome. Am J Orthod. 1968
Jul;54(7):495-507.
11. El H, Palomo JM. Airway volume for different dentofacial skeletal patterns. Am J
Orthod Dentofacial Orthop. 2011 Jun;139(6):e511-21.
12. Ucar FI, Uysal T. Orofacial airway dimensions in subjects with Class I
malocclusion and different growth patterns. Angle Orthod. 2011 May;81(3):460-8.
13. Bitar MA MA, Ghafari JG. Correspondence between subjective and linear
measurements of palatal. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2010 2010 Jan;136(1):43-
7.
14. Monroy A, Behar P, Brodsky L. Revision adenoidectomy—A retrospective study.
International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology. 2008;72(5):565-70.
15. Wysocki J, Krasny M, Skarżyński PH. Patency of nasopharynx and a
cephalometric image in the children with orthodontic problems. International Journal of
Pediatric Otorhinolaryngology. 2009;73(12):1803-9.
16. Nery Cde G, Buranello FS, Pereira C, Di Francesco RC. [Is facial pattern a
predisposing factor for otitis media with effusion in children?]. Braz J Otorhinolaryngol.
2011 Jan-Feb;77(1):84-7.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
29
17. McNamara JA, Jr. A method of cephalometric evaluation. Am J Orthod. 1984
Dec;86(6):449-69.
18. Houston WJ. The analysis of errors in orthodontic measurements. Am J Orthod.
1983 May;83(5):382-90.
19. Aboudara C, Nielsen I, Huang JC, Maki K, Miller AJ, Hatcher D. Comparison of
airway space with conventional lateral headfilms and 3-dimensional reconstruction from
cone-beam computed tomography. American Journal of Orthodontics and Dentofacial
Orthopedics. 2009;135(4):468-79.
20. Feres MFN, Hermann JS, Cappellette M, Pignatari SSN. Lateral X-ray view of the
skull for the diagnosis of adenoid hypertrophy: A systematic review. International
Journal of Pediatric Otorhinolaryngology. 2011;75(1):1-11.
21. Vizzotto MB, Liedke GS, Delamare EL, Silveira HD, Dutra V, Silveira HE. A
comparative study of lateral cephalograms and cone-beam computed tomographic
images in upper airway assessment. The European Journal of Orthodontics.
2011;34(3):390-3.
22. Stratemann S, Huang JC, Maki K, Hatcher D, Miller AJ. Three-dimensional
analysis of the airway with cone-beam computed tomography. American Journal of
Orthodontics and Dentofacial Orthopedics. 2011;140(5):607-15.
23. Lenza MG LM, Dalstra M, Melsen B, Cattaneo PM. An analysis of different
approaches to the assessment of upper airway morphology: a CBCT study. Orthod
Craniofac Res 2010 2010 May;13(2):96-105.
24. Sheng C-M, Lin L-H, Su Y, Tsai H-H. Developmental Changes in Pharyngeal
Airway Depth and Hyoid Bone Position from Childhood to Young Adulthood. The Angle
Orthodontist. 2009;79(3):484-90.
Avaliação das Vias Aéreas Superiores
30
25. Handelman CS OG. Growth of the nasopharynx an adenoid devepment from one
to eighteen years. Angle Orthod. 1976 1976 Jul;46(3):243-59.
26. Lee J-W, Park K-H, Kim S-H, Park Y-G, Kim S-J. Correlation between skeletal
changes by maxillary protraction and upper airway dimensions. The Angle Orthodontist.
2011;81(3):426-32.
27. Akcam MO TT, Wada T. Longitudinal Investigation of Soft Palate and
Nasopharyngeal Airway Relations in Different Rotation Types.
Angle Orthod. 2002 Dec;72(6):521-6.
28. Muto T, Yamazaki A, Takeda S. A cephalometric evaluation of the pharyngeal
airway space in patients with mandibular retrognathia and prognathia, and normal
subjects. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery. 2008;37(3):228-31.
29. Alves M, Franzotti ES, Baratieri C, Nunes LKF, Nojima LI, Ruellas ACO.
Evaluation of pharyngeal airway space amongst different skeletal patterns. International
Journal of Oral and Maxillofacial Surgery. 2012;41(7):814-9.
Top Related