AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL NA RETIRADA DA TABOCA PARA
CONFECÇÃO ARTESANAL DE ESPETOS DE CHURRASCO NO MUNICÍPIO DE
SANTO ANTÔNIO DO TAUÁ, PARÁ.
Ailson dos Santos Cardoso¹, Regiara Croelhas Modesto2
1Extensionista Rural II da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – EMATER/PA. Av.
Presidente Getúlio Vargas, s/n, Centro, Santo Antônio do Tauá, Pará. e-mail: [email protected] 2Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – EMATER/PA. e-mail:
RESUMO No município de Santo Antônio do Tauá, a produção de espetos de churrasco é uma alternativa em
expansão, porém a retirada de taboca para sua confecção vem sendo realizada de maneira
indiscriminada. Assim, o objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento do impacto ambiental
na retirada da taboca nas margens dos rios Rio Umbituba, Guajará Mirim e Rio Arauba. O estudo foi
desenvolvido entre os meses de julho e agosto, com 100 famílias de quatro comunidades – Trombetas,
São Tomé, Santa Maria e São Luiz da Laura – através de visitas, registro de relatos de experiência e
registro fotográfico. A extração de taboca para a confecção de espetos de churrasco complementa a
renda de agricultores familiares, porém vem causando impacto negativo nas áreas de extração.
PALAVRAS-CHAVE: Guadua paniculata; Extrativismo; Produtividade.
ABSTRACT
In the municipality of Santo Antonio do Taua, the production of skewers of barbecue is an alternative
expansion, but the removal of bamboo for its preparation has been carried out indiscriminately. The
objective of this study was to survey the environmental impact of the harvesting of bamboo on the
banks of the rivers Rio Umbituba, Guajará Mirim and Rio Arauba. The study was conducted between
the months of July and August, with 100 families from four communities- Trombetas, São Tomé,
Santa Maria e São Luiz da Laura - through visits, reports of record of experience and photographic
record. The extraction of bamboo skewers for making barbecue complements the income of farmers,
but has caused negative impact on the extraction areas.
KEYWORDS: Guadua paniculata; Extraction; Productivity.
INTRODUÇÃO
O município de Santo Antonio do Tauá está localizado no nordeste do Estado do Pará e tem na
agricultura familiar a base de sua economia. As principais culturas cultivadas no município são a
mandioca e espécies olerícolas; na pesca artesanal a principal espécie capturada é o camarão regional
(Macrobrachium amazonicum); e na atividade extrativista, a coleta do muru-muru (Astrocaryum
murumuru) recebe maior destaque. Porém, nos últimos anos, a extração de taboca para a confecção de
espetinho de churrasco vem sendo desenvolvida como uma atividade peculiar do local.
A taboca (Guadua paniculata) é comumente conhecida como bambu, nome que se dá a todas as
plantas da subfamília Bambusoideae, pertencente à família das gramíneas. A taboca é um tipo de
bambu fino, alto, oco e tem a coloração verde, sendo comum nas várzeas inundáveis com freqüência
de maré. No Brasil já foram identificadas mais de 200 espécies nativas de bambu que ocorrem de norte
ao sul do país (LOUTON, 1996).
O bambu é composto de duas partes principais: 1) a parte subterrânea, composta de rizomas, do
tipo moita (paquimorfo) ou bosque (leptomorfo) que são responsáveis pela propagação vegetativa do
bambu e, as raízes que são responsáveis pela captação de água e nutrientes; e 2) a parte aérea
composta de colmo (vara de bambu), galhos e folhas. Existem muitos tipos de colmo de bambu como,
por exemplo, grossos, finos, altos, baixos, ocos, sólidos, curvados, retos, verdes, amarelos, rajados,
manchados, compridos dentre outros. O colmo de até dois anos de idade, considerado imaturo ou
verde é bastante maleável e, por isso, é usado na fabricação de cestos, paneiros e chapéus
(VASCONCELOS, 2004). A partir dos três anos de idade, o colmo torna-se lenhoso (duro) é passa a
ser utilizado em outras atividades como, por exemplo, na fabricação de espetos de churrasco
(NOGUEIRA, 2009).
No município de Santo Antônio do Tauá, a confecção de espetos de churrasco vem se tornando
uma alternativa para a geração de postos de ocupação e renda. Porém, a taboca vem sendo retirada de
maneira indiscriminada e com ela outras plantas do habitat, por serem considerados obstáculos ao
acesso da espécie, como por exemplo, os cipós, estão sendo ignorados e devastados. O principal local
de extração são as margens do Rio Umbituba, com 10 km de extensão, mas a atividade vem se
expandindo para outros rios da região. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento
preliminar do impacto ambiental da retirada da taboca nas margens dos rios Rio Umbituba, Guajará
Mirim e Rio Arauba.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi desenvolvido entre os meses de julho e dezembro, com 100 famílias de quatro
comunidades – Trombetas, São Tomé, Santa Maria e São Luiz da Laura – pertencente ao município de
Santo Antônio do Tauá, Pará. Para a coleta de dados foram realizadas visitas, registro de relatos de
experiência e registro fotográfico.
Visitas
A primeira visita ocorreu às margens do Rio Umbituba para identificação das famílias
extrativistas da taboca. Essa visita ocorreu nas primeiras horas do dia 12 de julho de 2010, horário em
que as famílias realizam a atividade. Depois da identificação as visitas passaram a ocorrer nas
comunidades de origem das famílias.
Relatos de experiência
Os relatos foram ouvidos e transcritos. Através deles foi possível identificar o inicio e evolução
da atividade no município.
Registro fotográfico.
Os registros foram devidamente autorizados pelas famílias envolvidas na atividade e realizados
pelos extensionistas com uso de câmera digital Sony 14 Mega pixes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os relatos de experiência das famílias entrevistadas, a atividade de extração e
confecção de espetos de churrasco no município de Santo Antônio do Tauá teve inicio em 1998, com
apenas uma família, na comunidade Trombetas. A retirada da taboca era feita na própria propriedade
familiar, porém como o recurso não era abundante, no mesmo ano se esgotou. Na busca de matéria-
prima, a família passou a extrair taboca as margens do Rio Umbituba. No ano seguinte, outras dez
famílias passaram a desenvolver a extração neste mesmo local. Atualmente, cerca de 150 famílias
vivem dessa atividade nas comunidades Trombetas, São Tomé, Santa Maria e São Luiz da Laura e
cada vez mais, novos exploradores de taboca avançam para extração desse vegetal.
Segundo Salgado (2001), em uma área plantada de bambu, depois de estabelecida, a velocidade
de propagação é muito grande. O tempo de estabelecimento de uma plantação varia de cinco a sete
anos, e o amadurecimento de um bambu acontece de três a quatro anos. A partir do terceiro ou quarto
ano já se pode coletar colmos e brotos, quando a média de produção de biomassa do bambuzal chega
de 10 toneladas por hectare por ano. Não foram encontrados dados de literatura referentes à
produtividade de áreas nativas.
Segundo os dados coletados nesta pesquisa, os chamados “tiradores de taboca” cortam as
tabocas nas várzeas e repassam aos “taboqueiros” para que estes a cortem em pedaços padronizados
(25 cm de comprimento entre nós), que são vendidos aos confeccionadores de espeto. Cada exemplar
de taboca rende, em média, mil espetos.
A produção média semanal é de 10 mil espetos por família. Considerando que atualmente cerca
de 150 famílias participam da atividade, a produção anual dessas famílias está em torno de 72 milhões
espeto por ano, ou seja, a eliminação de cerca de 72 mil pés de taboca por ano ao longo dos Rios
Umbituba, Guajará Mirim e Rio Arauba. Os espetos de taboca depois de confeccionados são vendidos
em milheiro, a R$5,00 (cinco Reais) o milheiro, o que rende às 150 famílias cerca de R$ 360.000,00
ao ano, uma renda irrisória de R$ 200,00/mês/família.
Essa produção de espetos abastece o mercado de Belém, sendo utilizados na venda de churrasco
nas esquinas da cidade, no entorno dos estádios de futebol em dias de jogos ou simplesmente nas
rodadas de cerveja nos finais de semana o que vem oportunizando a geração imediata de renda às
famílias. Porém, o custo de produção tem sido elevado, pois a busca pela taboca ocorre em locais cada
vez mais distantes. O tempo gasto na atividade e o retorno semanal de renda têm levado muitos
agricultores a deixar de plantar mandioca para confeccionar os espetos.
Apesar do rápido crescimento da espécie Guadua paniculata, a forte pressão do extrativismo
vem comprometendo o período de restabelecimento desta vegetação nas matas ciliares ao redor dos
Rios Rio Umbituba, Guajará Mirim e Rio Arauba. Além disso, o desperdício de material tanto na
extração quanto na ocasião da confecção do espetinho é muito grande, o que aumenta a produção de
resíduo. Na extração, as tabocas “verdes” não aproveitadas para os espetos são abandonadas as
margens do rio e durante a confecção, os resíduos são descartados nos quintais das propriedades.
CONCLUSÃO
A extração de taboca para a confecção de espetos de churrasco complementa a renda de
agricultores familiares, porém o aumento da pressão do extrativismo pode promover risco à espécie Guadua
paniculata;
LITERATURA CITADA
LOUTON, J.; GELHAUS, J.; BOUCHARD, R. The aquatic macrofauna of water filled bamboo
(Poaceae: Bambusoideae: Guadua) internodes in a Peruvian lowland tropical forest. Biotropica,
v. 28, n.2, p. 228-242, 1996.
NOGUEIRA, F. de M. Bambucon – bambu reforçado com microconcreto armado. 2009. 42f.
Monografia (Especialização), Curso de Especialização em Construção Civil. Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte.
SALGADO, A. L. de B. Resistência a la extracción de astillas de bambu enclavadas en concreto. In:
Sustainable construction into the next millennium, João Pessoa, 2000. Anais. João Pessoa, PB, p.407-
412, 2000.
VASCONCELOS, R. M. Cartilha de fabricação de móveis. Alagoas: Instituto do bambu. 2004. 59p.
Disponível em: <http://www.permear.org.br>. Acesso em: 26 jul. 2011.
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