i
RAYNE BORGES TORRES
AVALIAÇÃO DO TRANSPORTE DE OXIGÊNIO E DA
CONCENTRAÇÃO DO 2,3-DPG EM PACIENTES COM
TRAUMATISMO CRANIENCEFÁLICO GRAVE SUBMETIDOS
AO CONTROLE DA HIPERTENSÃO INTRACRANIANA POR
UM PROTOCOLO DE VENTILAÇÃO OTIMIZADA
CAMPINAS
2003
iii
RAYNE BORGES TORRES
AVALIAÇÃO DO TRANSPORTE DE OXIGÊNIO E DA
CONCENTRAÇÃO DO 2,3-DPG EM PACIENTES COM
TRAUMATISMO CRANIENCEFÁLICO GRAVE SUBMETIDOS
AO CONTROLE DA HIPERTENSÃO INTRACRANIANA POR
UM PROTOCOLO DE VENTILAÇÃO OTIMIZADA
Dissertação de Mestrado apresentada à Pós-Graduação da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual
de Campinas para obtenção de título de Mestre em
Cirurgia, área de Cirurgia Experimental
ORIENTADOR: PROF. DR. RENATO GIUSEPPE GIOVANNI TERZI
CAMPINAS
2003
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
UNICAMP
Torres, Rayne Borges T636a Avaliação do transporte de oxigênio e da concentração do 2,3-DPG
em pacientes com traumatismo craniencefálico grave submetidos ao controle da hipertensão intracraniana por um protocolo de ventilação otimizada / Rayne Borges Torres. Campinas, SP : [s.n.], 2003.
Orientador : Renato Giuseppe Giovanni Terzi Dissertação ( Mestrado) Universidade Estadual de Campinas.
Faculdade de Ciências Médicas. 1. Hemoglobina. 2. *Transporte de oxigênio (fisiologia). 3.
Traumatismos da cabeça. 4. Traumatismos cerebrais. I. Renato Giuseppe Giovanni Terzi. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. III. Título.
v
BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ORIENTADOR: RENATO GIUSEPPE GIOVANNI TERZI
MEMBROS:
1. ____________________________________________________
2. ____________________________________________________
3. ____________________________________________________
Curso de Pós-Graduação do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade Estadual de Campinas.
DATA: ___________________________________.
vii
A Deus e
Aos meus pais, pelo amor, pelo carinho
e pelo incentivo dado em todos os
momentos,
dedico esta dissertação
ix
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Renato Giuseppe Giovanni Terzi, por quem tenho muita
admiração, pelos ensinamentos científicos e profissionais, pelos incentivos, pela paciência e
pela orientação deste estudo.
À Prof. Dra. Nelci Fenalti Hoehr, docente do Departamento de Patologia
Clínica, pela amizade e pela colaboração.
Ao Prof. Dr. Antônio Luis Eiras Falcão, pela amizade e pelos ensinamentos
para a realização deste estudo.
À bioquímica Miriam Danelon, pela paciência em ensinar os procedimentos de
laboratório.
À Aline Amadeu, aluna do curso de Graduação em Medicina da FCM da
Unicamp, e à Andréia dos Santos Resta, aluna do curso de aprimoramento em Patologia
Clínica do HC-Unicamp, pela ajuda dada nos procedimentos laboratoriais.
A todos os profissionais da Unidade de Terapia Intensiva do HC-Unicamp,
médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, que colaboraram para a realização deste estudo.
Aos neurocirurgiões, em especial ao Prof. Dr. Venâncio Pereira Dantas Filho, e
a todos do Laboratório de Gasometria e Bioquímica que também contribuíram para o
desenvolvimento deste trabalho.
Ao estatístico Helymar da Costa Machado, da Comissão de Pesquisa - FCM -
Unicamp, pela realização das análises estatísticas.
Ao Prof. Dr. Sebastião Araújo, pelo apoio dado a este estudo.
Ao Severino Aires de Araújo Neto, que sempre me incentivou e apoiou durante
a realização deste trabalho.
xi
À fisioterapeuta Rosana Thiesen, pela orientação na formação profissional e
pela confiança em mim depositada.
À Prof. Dra. Desanka Dragosavac, que esteve me acompanhando desde o início
deste estudo sempre me incentivando.
À Maisa Costa Santos, secretária da disciplina de Fisiologia e Metabologia
Cirúrgica, pessoa muito querida e dedicada ao curso.
A todos da Pós-graduação do Departamento de Cirurgia, em especial à
secretária Vera Maria Barbosa, sempre muito atenciosa.
Aos amigos, que me acompanharam durante a realização deste estudo, dando
apoio nos momentos difíceis e trocando experiências.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo
auxílio financeiro na execução deste estudo.
Á Diretoria de Apoio Didático, Científico e Computacional da Faculdade de
Ciências Médicas-Unicamp pela correção final e editoração.
Aos pacientes e aos seus familiares, cuja colaboração foi essencial para o
desenvolvimento deste trabalho.
MUITO OBRIGADA!
xiii
“Uma crise difícil pode ser mais prontamente suportada se
tivermos a convicção de que a nossa existência traz
consigo um propósito – uma causa para defender, uma
pessoa para amar, um alvo para alcançar”.
John Maxwell
xv
SUMÁRIO
PÁG.
RESUMO ................................................................................................................. xxxi
ABSTRACT............................................................................................................. xxxv
1- INTRODUÇÃO .................................................................................................. 39
1.1- O traumatismo craniencefálico ....................................................................... 42
1.2- Hemometabolismo cerebral ............................................................................ 43
1.3- Tratamento do TCE grave na fase aguda (aspectos relacionados à
ventilação mecânica) ....................................................................................
46
1.4- Transporte de oxigênio ................................................................................... 48
1.5- 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) ...................................................................... 52
1.5.1- Formação do 2,3-DPG nos eritrócitos .................................................. 53
1.5.2- Ação do 2,3-DPG sobre a curva de dissociação da hemoglobina......... 55
1.5.3- Fatores que levam à variação do 2,3-DPG ........................................... 56
1.6- Medida da saturação da hemoglobina e cálculo indireto da saturação da
hemoglobina a partir da pressão parcial de oxigênio no sangue ..................
58
1.7- Diferença entre a ECO2 obtida pela saturação medida e a ECO2 obtida pela
saturação calculada .........................................................................................
61
2- OBJETIVOS ....................................................................................................... 63
3- CASUÍSTICA E MÉTODOS ............................................................................ 67
3.1- Protocolo de tratamento ............................................................................... 74
3.2- Dados laboratoriais....................................................................................... 75
xvii
3.3- Padronização da medida do 2,3-DPG .......................................................... 75
3.3.1- Armazenamento ................................................................................. 76
3.3.2- Análise do 2,3-DPG ........................................................................... 76
3.3.3- Curva de calibração ............................................................................ 77
3.3.4- Controle de qualidade ........................................................................ 78
3.4- Grupo-controle ............................................................................................. 78
3.5- Análise estatística ......................................................................................... 79
4- RESULTADOS ................................................................................................... 81
4.1- Grupo-controle ............................................................................................. 83
4.2- Concentração do 2,3-DPG/Hct nos pacientes .............................................. 84
4.3- Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e a p50st ........................ 87
4.4- Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct, o pH e a PaCO2 ............ 88
4.5- Diferença entre a saturação medida e a calculada ........................................ 93
4.6- Diferença entre as ECO2 .............................................................................. 94
5- DISCUSSÃO ....................................................................................................... 97
6- CONCLUSÃO .................................................................................................... 113
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 117
8- APÊNDICES ....................................................................................................... 133
xix
LISTA DE ABREVIATURAS
ADP adenosina difosfato
ATP adenosina trifosfato
∆C(a-j)O2 diferença de conteúdos de oxigênio entre o sangue arterial e o sangue venoso
colhido em bulbo de veia jugular interna
CCO2’ consumo cerebral de oxigênio
CO2 dióxido de carbono
CPDA-1 citrato-fosfato-dextrose-adenina
CtO2 conteúdo de oxigênio
2,3-DPG 2,3-difosfoglicerato
2,3-DPG/Hct 2,3-difosfoglicerato por hematócrito
∆ECO2 (m-c) delta extração (diferença entre a extração cerebral de oxigênio obtida pela
saturação medida e a extração cerebral de oxigênio obtida pela saturação
calculada)
ECO2 extração cerebral de oxigênio
ECO2 (m) extração cerebral de oxigênio obtida da saturação da hemoglobina medida
ECO2 (c) extração cerebral de oxigênio obtida da saturação da hemoglobina calculada
FAF ferimento por arma de fogo
FSC fluxo sangüíneo cerebral
Hb hemoglobina
PaCO2 pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial
PaO2 pressão parcial de oxigênio no sangue arterial
PCO2 pressão parcial de gás carbônico
Pi fosfato inorgânico
xxi
PIC pressão intracraniana
PjO2 pressão parcial de oxigênio no sangue venoso de bulbo de veia jugular
interna
PO2 pressão parcial de oxigênio no sangue
P50 pressão parcial de oxigênio que satura 50% da hemoglobina
P50 in vivo corrigida para temperatura corporal, PCO2 e pH no sangue
P50st P50 padrão (corrigindo temperatura de 37ºC, pH de 7,4º e PaCO2 de
40mmHg)
RVC resistência vascular cerebral
SaO2 saturações da hemoglobina no sangue arterial
∆SaO2 diferença entre a saturação medida e calculada
SjO2 saturações da hemoglobina no sangue venoso do bulbo de veia jugular
interna
SO2 saturação da hemoglobina
TCCO2 taxa metabólica de consumo cerebral de oxigênio
VSC volume sangüíneo cerebral
xxiii
LISTA DE TABELAS
PÁG.
Tabela 1- Casuística................................................................................................ 70
Tabela 2- Medidas das concentrações do 2,3-DPG/Hct de todos os pacientes ...... 84
Tabela 3- Freqüência dos valores das concentrações do 2,3-DPG/Hct divididos
em subgrupos de baixos (< 3,9µmol/ml), normais (3,9-5,3µmol/ml) e
elevados (> 5,3µmol/ml) em cada tempo ...............................................
85
Tabela 4- Os valores de Z e p para a correlação entre as concentrações do 2,3-
DPG/Hct do tempo 2 ao 6, tomando como basal o valor do tempo 1 ....
85
Tabela 5- As médias das médias diárias das concentrações do 2,3-DPG/Hct e os
seus respectivos desvios-padrão (DP), das medidas não precedidas de
transfusão de sangue, nem de hipofosfatemia (NPT), das com
hipofosfatemia (P) e das com transfusão (T) ..........................................
87
Tabela 6- Freqüência das médias dos valores da PaCO2 dos pacientes divididos
em baixos (< 35mmHg), normais (35-45mmHg) e altos (> 45mmHg)
em cada tempo.........................................................................................
89
Tabela 7- Freqüência das médias dos valores do pH dos pacientes em cada
tempo.......................................................................................................
89
xxv
LISTA DE FIGURAS
PÁG.
Figura 1- Curva normal de dissociação da hemoglobina (Severinghaus,
1976)...................................................................................................
49
Figura 2- A mudança de afinidade da hemoglobina pode ser mensurada pela
P50......................................................................................................
51
Figura 3- A mudança de afinidade da hemoglobina é expressa pelo
deslocamento da curva para a direita ou para a esquerda ..................
52
Figura 4- Glicólise via Embden-Meyerhof e via pentose-fosfato mostrando o
“shunt” de Rapaport-Luebering, onde é formado o 2,3-DPG ...........
54
Figura 5- Efeito do pH e da hipóxia sobre a regulação da formação do
2,3-DPG..............................................................................................
57
Figura 6- Curva de saturação de hemoglobina demonstrando como uma
alteração da concentração do 2,3-DPG/Hct pode resultar em
diferença entre a saturação medida e a calculada ..............................
62
Figura 7- Cateter de titânio e o monitor de pressão intracraniana da
Codman...............................................................................................
71
Figura 8- Monitor de perfil respiratório CO2SMOPlus da Dixtal ..................... 72
Figura 9- Monitor da saturação contínua de sangue de bulbo de veia jugular
interna.................................................................................................
73
Figura 10- Radiografia de cateter Intracath® 16G introduzido em veia jugular
interna.................................................................................................
73
Figura 11- Curva de calibração do 2,3-DPG ....................................................... 78
Figura 12- Correlação entre a saturação medida e a saturação calculada do
grupo-controle ...................................................................................
83
xxvii
Figura 13- Médias e seus respectivos desvios-padrão da concentração do 2,3-
DPG/Hct nos tempos de evolução dos onze pacientes com TCE
grave...................................................................................................
86
Figura 14- Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e a p50st de cada
paciente medidas em tempos diferentes ............................................
88
Figura 15- Correlação entre a média diária da PaCO2 e a média diária do pH
de cada paciente medidos em tempos diferentes ...............................
90
Figura 16- Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e da média diária
do pH de cada paciente medidos em tempos diferentes ....................
91
Figura 17- Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e da média diária
da PaCO2 de cada paciente medidas em tempos diferentes ...............
92
Figura 18- Correlação entre a saturação medida e a calculada dos pacientes ..... 93
Figura 19- Correlação entre a ECO2m e a ECO2c dos pacientes ........................ 94
Figura 20- Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e o ∆ECO2 de
cada paciente medidos em tempos diferentes ....................................
95
Figura 21- Correlação entre a p50 e o ∆ECO2 de cada paciente medidos em
tempos diferentes ...............................................................................
96
Figura 22- Correlação entre a PO2 e a SO2 medida pelo hemo-oximetria do
equipamento ABL-700 ......................................................................
106
Figura 23- Correlação entre a saturação da hemoglobina calculada e a
saturação da hemoglobina medida por hemo-oximetria pelo
equipamento ABL-700.......................................................................
107
xxix
LISTA DE APÊNDICES
PÁG.
Apêndice 1- Tabela grupo-controle ..................................................................... 135
Apêndice 2- P50st do sangue venoso de cada paciente antes de cada medida do
2,3-DPG ..........................................................................................
137
Apêndice 3- Média e desvio-padrão das alterações da pressão parcial de gás
carbônico no sangue arterial de cada paciente antes de cada
medida do 2,3-DPG..........................................................................
138
Apêndice 4- Média e desvio-padrão das alterações do pH no sangue arterial de
cada paciente antes de cada medida do 2,3-DPG ............................
139
Apêndice 5- Média e desvio-padrão das alterações da diferença de base no
sangue arterial de cada paciente antes de cada medida do
2,3-DPG...........................................................................................
140
Apêndice 6- Valores da saturação arterial da hemoglobina medida (SaO2m) e
calculada (SaO2c), da saturação venosa jugular da hemoglobina
medida (SjO2m) e calculada (SjO2c), extração cerebral de
oxigênio obtida das saturações medidas (ECO2m) e calculadas
(ECO2c) e a diferença entre as extrações (∆ECO2) .........................
141
xxxi
RESUMO
Resumo
xxxiii
A ventilação otimizada é um recurso utilizado no tratamento dos pacientes com
traumatismo craniencefálico grave. Essencialmente, a ventilação alveolar é ajustada para
manter a pressão intracraniana abaixo de 20mmHg e a extração cerebral de oxigênio
(ECO2) dentro de limites recomendados (24 e 42%). A determinação da ECO2 depende da
saturação da hemoglobina. A saturação da hemoglobina, por sua vez, pode ser medida por
hemo-oximetria ou calculada a partir da pressão parcial de oxigênio do sangue arterial. A
saturação calculada não leva em consideração alterações da concentração do
2,3-difosfoglicerato nos eritrócitos (2,3-DPG/Hct). Em pacientes críticos, diversas causas
podem estar alterando a concentração do 2,3-DPG/Hct. Tem sido descrito que a alcalose
respiratória associada à hiperventilação pode induzir um aumento da concentração do
2,3-DPG/Hct. Baseado nessa resposta fisiológica, o objetivo deste estudo é identificar se há
aumento da concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos associado à hiperventilação e avaliar
as suas repercussões na saturação da hemoglobina e no cálculo da extração cerebral de
oxigênio. Entretanto, não ocorreu aumento sistemático do 2,3-DPG, associado ao tempo de
hiperventilação. Esse fato foi atribuído a vários fatores, entre os quais a hiperventilação não
sustentada, a transfusão de sangue e a hipofosfatemia. Contudo, houve alterações
individuais aleatórias da concentração do 2,3-DPG/Hct, cujos valores se correlacionaram
tanto com o pH como com a PCO2 do sangue arterial. Também ficou demonstrada uma
diferença significativa entre a ECO2 obtida pela saturação da hemoglobina medida e a
obtida a partir da saturação da hemoglobina calculada (∆ECO2). Finalmente, observou-se
correlação estatística entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e o ∆ECO2. A concentração do
2,3-DPG/Hct é um fator que interfere na acurácia do cálculo da saturação da hemoglobina e
da ECO2. Conclui-se, portanto, que para o cálculo da ECO2 deva sempre ser empregada a
saturação da hemoglobina medida por hemo-oximetria.
xxxv
ABSTRACT
Abstract xxxvii
Optimized ventilation is a therapeutic modality for severe traumatic brain injury.
Essentially, alveolar ventilation is adjusted to optimal levels in order to keep intracranial
pressure below 20mmHg and cerebral oxygen extraction (CEO2) within recommended
limits (24 to 42%). Determination of CEO2 is based on blood oxygen saturation.
Hemoglobin oxygen saturation is measured directly by blood oxymetry. Alternatively,
hemoglobin saturation may be calculated from the oxygen partial pressure of blood. In this
case, 2,3-DPG/Hct is not considered. In critical patients there are several causes that may
alter 2,3-DPG in red blood cells. Respiratory alkalosis induced by hyperventilation has
been reported to increase 2,3-DPG/Hct. Based on this physiologic response, the objective
of this investigation was to evidence a progressive increase in 2,3-DPG/Hct in association
with hyperventilation and to assess their repercussion in the hemoglobin saturation and in
the CEO2. However, a progressive increase in 2,3-DP/Hct did not happen. This apparent
inconsistency was attributed to intermittency of hyperventilation, to blood transfusions and
to hypophosphatemia. Nevertheless, individual variations of 2,3-DPG/Hct correlated with
arterial pH and PCO2. Significant individual differences between CEO2m and CEO2c
(∆CEO2) were found. The concentration of 2,3-DPG/Hct exhibited a significant statistical
correlation with ∆CEO2. In conclusion, as 2,3-DPG/Hct interferes with the accuracy of
calculated CEO2, this variable must always be derived from blood oximetry saturation.
39
1- INTRODUÇÃO
Introdução
41
O traumatismo craniencefálico (TCE) atinge principalmente indivíduos em
idade economicamente produtiva. Além de ser responsável por um alto índice de
mortalidade, pode reduzir as capacidades física, cognitiva e psicossocial da vítima. Essas
devastadoras conseqüências do TCE exigem cuidados especiais e multidisciplinares que
envolvem médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, enfermeiro, psicólogo, assistente
social e um grande apoio familiar. O atendimento na fase inicial necessita de procedimentos
e técnicas de alto custo e complexidade. A reabilitação também é onerosa para os pacientes
com seqüelas, implicando em adaptações tanto em seu meio domiciliar quanto em
ambientes públicos. Ao Estado cabe o suporte financeiro para a manutenção de centros
especializados e a execução de reformas em áreas públicas que facilitem a adaptação desses
indivíduos. Dessa forma, o TCE constitui um problema de saúde pública com amplos e
profundos efeitos sobre o meio social e econômico do país.
O tratamento agudo dos pacientes com TCE grave tem sido focalizado na
prevenção da lesão secundária, na tentativa de reduzir não só a mortalidade, mas também as
seqüelas. Atualmente, técnicas e medicamentos estão sendo desenvolvidos com o intuito de
reduzir o inchaço cerebral, assim como normalizar a hemodinâmica e o metabolismo
cerebral.
A extração cerebral de oxigênio (ECO2) tem sido empregada com o objetivo de
monitorizar e ajustar a ventilação mecânica. Essa técnica contribui para que a manipulação
dos níveis da pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial (PaCO2) seja utilizada
racionalmente na hiperemia cerebral, reduzindo o risco de isquemia cerebral oliguêmica.
De acordo com CRUZ et al. (1992a), a simples diferença entre a saturação da
hemoglobina no sangue arterial e no sangue venoso do bulbo da veia jugular interna pode
ser utilizada para calcular a ECO2. A saturação da hemoglobina (SO2) no sangue pode ser
obtida de duas maneiras: por medida direta e por cálculo a partir da pressão parcial de
oxigênio no sangue (PO2). Os aparelhos utilizados na maioria dos hospitais brasileiros
fornecem o valor da SO2 por meio de cálculos. A SO2 é calculada pela curva padrão de
dissociação de hemoglobina, utilizando algoritmos que corrigem os desvios da curva para
fatores conhecidos, como o pH, a pressão parcial de gás carbônico (PCO2) no sangue e a
temperatura do paciente. A concentração do 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) nos eritrócitos
Introdução
42
é um componente, normalmente não conhecido, que também interfere na posição da curva
de dissociação da hemoglobina. Porém, como a alteração da concentração do 2,3-DPG é
significativa somente em algumas condições clínicas específicas, geralmente não é levada
em consideração no cálculo da SO2. Pacientes com TCE grave quando hiperventilados
podem sofrer alteração do metabolismo do 2,3-DPG nos eritrócitos (por alteração do pH),
podendo resultar num cálculo incorreto da saturação da hemoglobina. Nessas
circunstâncias, resultaria num valor da ECO2 não fidedigno. Como o ajuste da ventilação
mecânica depende dos valores apurados na extração de oxigênio cerebral, indagou-se se
dados incorretos da ECO2 poderiam resultar em condutas clínicas inadequadas e,
potencialmente, de risco.
Devido a tais indagações, foram estudados pacientes com TCE grave que em
algum momento do tratamento foram hiperventilados. O propósito deste estudo foi
identificar eventuais variações da concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos associadas à
hiperventilação e suas repercussões no cálculo da extração cerebral de oxigênio.
1.1- O TRAUMATISMO CRANIENCEFÁLICO
A elevada incidência de TCE grave e as suas repercussões econômicas e sociais
justificam o investimento multidisciplinar no seu tratamento, tanto na fase aguda, visando à
redução da mortalidade e à prevenção de seqüelas, como na recuperação das vítimas
seqüeladas. O controle da hipertensão intracraniana e da pressão de perfusão cerebral e a
otimização da ventilação no TCE grave em fase aguda têm sido apontados como fatores
essenciais no manuseio destes pacientes (FALCÃO, 1996; CRUZ, 1998; FALCÃO et al.,
2000a; CRUZ, 2002). A aplicação dessas manobras depende do grau de comprometimento
do metabolismo cerebral associado ao inchaço cerebral e à hipertensão intracraniana, além
das modificações do fluxo sangüíneo cerebral associadas às variações da PaCO2.
Introdução
43
1.2- HEMOMETABOLISMO CEREBRAL
De acordo com o princípio de Fick, o fluxo sangüíneo cerebral (FSC) pode ser
calculado pela relação entre o consumo cerebral de oxigênio (CCO2’) e a diferença de
conteúdos de oxigênio entre o sangue arterial e o sangue venoso colhido em bulbo de veia
jugular interna (∆C(a-j)O2).
CCO2’
FSC = [1]
∆C(a-j)O2
Em situações de baixo FSC, mantido constante o consumo cerebral de oxigênio,
haverá, necessariamente, uma redução do conteúdo de oxigênio e da saturação no sangue
venoso colhido em bulbo de veia jugular. Em indivíduos normais, o consumo cerebral de
oxigênio é relativamente constante, variando com o estado de vigília, de sono, de
hiperatividade cerebral ou de relativo relaxamento psíquico. Pode ser significativamente
reduzido com a hipotermia, com agentes hipnóticos e anestésicos e em estados de coma
(SCANDIUCCI et al., 1979; OBRIST et al., 1984; FALCÃO et al., 2000b). Portanto, em
indivíduos normais, sem variação significativa do consumo cerebral de oxigênio, a ∆C(a-
j)O2 é inversamente proporcional ao FSC.
KETY e SCHMIDT (1945, 1948) foram os primeiros a quantificar o FSC com
medidas seriadas artério-jugulares de óxido nitroso inalado por voluntários sadios. Tais
valores foram expressos em ml/100g de tecido cerebral/min, sendo apontado um valor
médio para o FSC de 50ml/100g/min. A equação para a quantificação da taxa metabólica
de consumo cerebral de oxigênio (TCCO2) fundamentou-se no re-arranjo da equação [1],
multiplicando-se o valor do FSC pela diferença artério-jugular do conteúdo de oxigênio,
como se segue:
TCCO2 = [FSC x ∆C (a-j)O2] / 100 [2]
A ∆C (a-j)O2 é calculada com a seguinte equação:
∆C(a-j)O2= [(SaO2-SjO2) x Hb x 1,39] + [0,0031 x (PaO2-PjO2)] [3]
Introdução
44
Onde SaO2 e SjO2 significam, respectivamente, as saturações fracionárias da
hemoglobina no sangue arterial e no sangue venoso do bulbo de veia jugular; Hb é a
concentração da hemoglobina total em g% e 1,39 é a constante que expressa a quantidade
de mililitros de oxigênio transportados por um grama de hemoglobina quando
completamente saturada. O primeiro termo da equação [3] se refere à diferença artério-
jugular da quantidade de oxigênio ligada à hemoglobina. O segundo termo da equação se
refere à diferença artério-jugular da quantidade de oxigênio dissolvida no plasma. Neste
caso, a PaO2 e a PjO2 referem-se à pressão parcial de oxigênio no sangue arterial e no
sangue venoso de bulbo de veia jugular, respectivamente. A constante 0,0031 é o fator de
solubilidade do oxigênio no plasma. Como o oxigênio é um gás pouco solúvel, a
quantidade de oxigênio dissolvida é pequena, assim como a sua diferença artério-jugular.
Por esse motivo, tem sido sugerido desconsiderá-la, pois pouco influi no cálculo da ∆C(a-
j)O2 (CRUZ et al., 1992a; CRUZ et al., 1993; LE ROUX et al., 1997).
CRUZ et al. (1992a e 1993) demonstraram que o cálculo da ∆C(a-j)O2, por
levar em consideração o valor da hemoglobina no sangue, em situação de anemia aguda,
pode indicar presença de “falso” hiperfluxo. Tal situação é comum em pacientes com TCE
grave. Dessa forma, eles sugeriram a substituição do uso da ∆C(a-j)O2 pela simples
diferença entre a SaO2 e a SjO2. Esse novo parâmetro foi denominado extração cerebral de
oxigênio (ECO2).
ECO2 = SaO2 - SjO2 [4]
A partir dessas observações, para avaliar a relação entre o consumo cerebral de
oxigênio e o FSC, passou-se a adotar a ECO2 como representativa da ∆C(a-j)O2 (CRUZ
et al., 1993; CRUZ, 1997; FALCÃO et al., 1997).
O FSC, durante a fase aguda do TCE grave, apresenta grandes variações,
podendo estar aumentado ou diminuído em diferentes pacientes ou em diferentes momentos
da evolução de um mesmo paciente, demonstrando ser um fenômeno dinâmico
(BRODERSEN e JORGENSEN, 1974; FIESCHI et al., 1974; ENEVOLDSEN e JENSEN,
Introdução
45
1977; OBRIST et al., 1984). Em contraste, o consumo cerebral de oxigênio está
consistentemente diminuído na fase aguda do TCE grave, e a magnitude dessa depressão
correlaciona-se com a profundidade do coma (TABADDOR et al., 1972; BRODERSEN e
JORGENSEN, 1974; OBRIST et al., 1984; CRUZ et al., 1995). Portanto, a redução do
FSC, como dado isolado, não representa, necessariamente, isquemia cerebral. Em situações
em que consumo cerebral de oxigênio encontra-se diminuído, como no caso do coma agudo
do TCE grave, a redução do FSC é um acoplamento ao metabolismo (OBRIST et al., 1984;
UZZELL et al., 1986; CRUZ et al., 1995). Assim, a ECO2 permanece dentro dos limites da
normalidade. A variação dos valores da ECO2 determinados como seguros encontra-se
entre 24 e 42% (CRUZ, 1993; CRUZ, 1998).
Contrariamente, quando um consumo reduzido de oxigênio está associado a um
FSC normal ou aumentado, configura-se uma situação em que o FSC não está acoplado ao
metabolismo. Nesse caso, a ECO2 encontra-se abaixo dos valores seguros (<24%). Esse
desacoplamento foi descrito por LASSEN (1966) como síndrome da perfusão de luxo,
caracterizado por uma hiperemia cerebral (definido como um fluxo cerebral excessivo
relativo ao metabolismo cerebral requerido), devido à perda da autoregulação cerebral. Essa
perda da autoregulação foi justificada por Lassen como processo secundário à isquemia ou
à hipóxia, o que levaria a uma ruptura da barreira hematoencefálica e formação de edema.
LANGFITT et al. (1965 e 1966) introduziram o conceito de paralisia vasomotora para
explicar o inchaço cerebral e a hipertensão intracraniana. Eles postularam que uma redução
aguda do tônus vasomotor resulta numa vasodilatação cerebral, aumento do volume
sangüíneo cerebral (VSC) e, conseqüentemente, elevação da pressão intracraniana (PIC).
Uma saturação da hemoglobina no sangue de bulbo de veia jugular acima de 69%, ou uma
ECO2 menor que 24%, acredita-se que deva haver um estado de hiperfluxo cerebral relativo
ao metabolismo (CRUZ, 1993; CRUZ, 1998).
Em casos em que o FSC está extremamente reduzido, deixando de atender às
necessidades metabólicas do tecido cerebral, instala-se um estado de hipóxia oliguêmica.
Nesse estado, a ECO2 encontra-se elevada. Acredita-se que o valor da ECO2 maior que
42%, ou da saturação da hemoglobina de bulbo de veia jugular abaixo de 55%, já seja
encontrada uma situação de hipóxia oliguêmica (CRUZ et al., 1990; CRUZ, 1998).
Introdução
46
Confirmando esses conceitos, OBRIST et al. (1984) estudaram o FSC de 75
pacientes com TCE na fase aguda, pelo método de xenônio133 intravenoso. Foi observado
que 55% dos pacientes desenvolveram hiperemia, com duração média de três dias,
confirmada pelo estreitamento da ∆C(a-j)O2. Eles demonstraram nesse grupo de pacientes
uma forte associação entre a presença de hiperemia e hipertensão intracraniana.
Contrariamente, nos 45% dos pacientes com FSC diminuído, não foram observados dados
compatíveis com isquemia, confirmando um acoplamento entre o FSC e o consumo
cerebral de oxigênio.
1.3- TRATAMENTO DO TCE GRAVE NA FASE AGUDA (ASPECTOS
RELACIONADOS À VENTILAÇÃO MECÂNICA)
O tratamento do TCE grave na fase aguda inclui uma série de medidas como
elevação da cabeceira, uso de sedativos, de diuréticos, manutenção de níveis adequados de
pressão de perfusão cerebral (com uso de drogas vasoativas, quando necessário) e
drenagem ventricular, entre outros.
O cérebro normal responde à hiperventilação com redução do FSC. Foi
demonstrada uma correlação linear do FSC com a PaCO2 (REIVICH, 1964). A hipocapnia
altera o tônus vascular cerebral pela modificação do pH extracelular. Acredita-se que o
efeito do pH no tônus vascular cerebral é mediado pelo óxido nítrico, pelas prostaglandinas,
pelos nucleotídeos cíclicos, pelo potássio e pelo cálcio intracelular (BRAIN, 1998). A
constricção arteriolar provocada pela alcalose aumenta a resistência vascular cerebral
(RVC), reduzindo o FSC e o VSC. A redução do VSC resulta na queda da PIC, cujo efeito
é determinado pela complacência intracraniana.
WOLFF e FORBES (1928) foram os primeiros a sugerir que o aumento do
volume sangüíneo intracraniano seria responsável pelo inchaço cerebral. WOLFF e
LENNOX (1930) demonstraram em gatos que a redução da PaCO2 causa vasoconstricção
cerebral. Esse efeito foi demonstrado em seres humanos por KETY e SCHMIDT (1946 e
1948). O uso clínico da hipocapnia no tratamento do TCE ganhou credibilidade após um
Introdução
47
estudo publicado por LUNDBERG et al. (1959), que mostrou uma queda significativa na
PIC após alguns minutos de hiperventilação em pacientes com TCE. Desde então, a
hiperventilação passou a ser utilizada de forma agressiva nos pacientes com TCE grave, no
tratamento da hipertensão intracraniana.
Na década de 1980, o uso indiscriminado da hiperventilação começou a sofrer
críticas, pois a redução do FSC poderia induzir ou exacerbar a isquemia cerebral pós-
traumática (STRINGER et al., 1993; SIOUTOS et al., 1995). Essa preocupação baseava-se
em pesquisas que revelavam uma redução do FSC nas primeiras horas após o trauma
(OBRIST et al., 1984; BOUMA et al., 1991). Somando-se a isso, um estudo realizado em
animais e indivíduos sadios mostrou que o efeito da hiperventilação era temporário
(RAICHLE et al, 1970). Nesse mesmo estudo, também foi demonstrado que após um
período prolongado de hiperventilação, a normalização da PaCO2 resulta em um efeito
rebote, com aumento do FSC acima do normal. Esse efeito parece ser ocasionado por uma
redução na concentração de bicarbonato e correção do pH extracelular. O único estudo
clínico prospectivo e randomizado que avaliou o prognóstico em pacientes submetidos à
hiperventilação foi realizado por MUIZELAAR et al. (1991). Apesar de algumas críticas
metodológicas quanto ao estudo, eles relataram uma pior recuperação inicial – primeiros
seis meses – dos pacientes submetidos à hiperventilação.
Com base nesses estudos, que criticavam a hiperventilação indiscriminada,
foram lançadas diretrizes no manuseio do TCE grave, contra-indicando a hiperventilação
profilática. No entanto, a hiperventilação controlada foi recomendada para a redução da
hipertensão intracraniana persistente, com a monitorização da oxigenação cerebral por meio
do cateter de bulbo de veia jugular (GUIDELINES FOR THE MANAGEMENT OF
SEVERE HEAD INJURY..., 1996; ON GUIDELINES FOR THE MANAGEMENT OF
THE SEVERE HEAD INJURY, 1997).
A hiperventilação com a monitorização do cateter de bulbo jugular permite a
avaliação da oxigenação global do cérebro. A extração cerebral de oxigênio tem uma
relação direta com o FSC em pacientes com TCE. Como já citado anteriormente, os valores
da ECO2 entre 24 e 42% são considerados seguros. Valores abaixo ou acima desses,
representam hiperfluxo cerebral relativo ou isquemia cerebral oliguêmica, respectivamente.
Introdução
48
O ajuste da ventilação alveolar utilizado com intuito de normalização simultânea da PIC e
da ECO2 foi denominada hiperventilação otimizada por CRUZ (1993, 1998) e também
ventilação otimizada por CRUZ et al. (1992b). A PIC, o FSC e a ECO2 podem apresentar
variações durante a evolução na fase aguda do TCE grave em um mesmo paciente. Para
adequar os valores da ECO2 é necessário aumentar e reduzir a ventilação alveolar (ou seja,
a PaCO2) do paciente. Por isso, atualmente, essa técnica é denominada ventilação otimizada
(FALCÃO, 2000a).
Em estudo publicado por CRUZ (1998), foi observada uma melhor evolução
clínica e menor mortalidade em um grupo de pacientes nos quais, além da pressão de
perfusão cerebral, manteve-se a ECO2 dentro da normalidade.
Como já mencionado, o cálculo da ECO2 depende do valor da SaO2 e da SjO2.
A SO2 pode ser medida diretamente por hemo-oximetria ou por meio de cálculo. Uma
alteração da concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos pode distanciar o cálculo da SO2 do
seu valor real. A hipótese deste estudo é que a concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos
pode estar alterada nos pacientes com TCE grave, devido à ventilação mecânica. Para
melhor entendimento será realizada uma breve revisão sobre o transporte de oxigênio e o
metabolismo do 2,3-DPG.
1.4- TRANSPORTE DE OXIGÊNIO
A manutenção da homeostase de órgãos e tecidos é feita com suficiente
margem de segurança, graças ao aporte contínuo de oxigênio, para garantir um
metabolismo essencialmente aeróbico. Como o oxigênio é pouco solúvel, a quantidade
desse gás transportada de forma dissolvida é insuficiente para atender à demanda
metabólica do organismo.
A hemoglobina, presente no sangue de muitos animais, é responsável pelo
transporte da quase totalidade do oxigênio de que as células necessitam. Esse transporte se
faz pela inerente e não-linear afinidade desse pigmento com o oxigênio, o que lhe confere a
peculiar curva sigmóide de dissociação (Figura 1).
Introdução
49
PO 2 (m m Hg)0 20 40 60 80 100 120 140
0
20
40
60
80
100
Sat
uraç
ão (%
)
Figura 1 - Curva normal de dissociação da hemoglobina (SEVERINGHAUS, 1976)
As diferenças nas pressões parciais de oxigênio se refletem na saturação da
hemoglobina obedecendo à relação sigmóide que correlaciona essas duas variáveis. Ao
observar a curva de dissociação da hemoglobina, é notável a inclinação mais verticalizada
do segmento venoso da curva quando comparado com o segmento arterial.
Teleologicamente, a horizontalização do segmento arterial permite carregar
(elevar a saturação de) a hemoglobina a despeito de eventuais variações da pressão parcial
de oxigênio no capilar pulmonar, garantindo, dessa forma, a manutenção de um aporte
adequado de oxigênio, apesar da hipoxemia. Por outro lado, a verticalização da curva no
segmento venoso permite à hemoglobina descarregar (se dissociar do) oxigênio em grandes
quantidades, mesmo que a redução da pressão parcial de oxigênio nos tecidos seja muito
pequena. Essa alta sensibilidade, da liberação de oxigênio perante mínimas reduções da
pressão parcial de oxigênio, garante uma oferta de oxigênio tissular para as demandas
metabólicas, mesmo no exercício extremo ou nos estados hipercatabólicos (TERZI, 1992).
Introdução
50
A forma sigmóide é dada por uma interação cooperativa entre o oxigênio e a
proteína. A Hemoglobina (Hb) na forma desoxigenada possui uma baixa afinidade pelo O2,
dada por ligações eletrostáticas muito fortes que a mantém num estado tenso. A ligação do
oxigênio à hemoglobina impõe um estresse químico e mecânico que quebram essas
ligações eletrostáticas, convertendo a Hb do estado tenso para o relaxado. Essa mudança
conformacional aumenta a afinidade do oxigênio pela Hb. Dessa forma, a curva parte de
uma baixa afinidade para uma alta afinidade. A cooperatividade da ligação do oxigênio
com a hemoglobina é um efeito alostérico, em que a ligação de uma molécula de oxigênio à
Hb influencia a afinidade de um sítio de ligação não ocupado (DAVENPORT, 1973; HSIA,
1998).
Além da mudança conformacional ocasionada por uma ligação primária de
oxigênio (efeito homotrópico), a hemoglobina também sofre interferência de efeitos
externos (efeitos heterotrópicos) que também modificam a sua afinidade pelo oxigênio. Os
principais efeitos heterotrópicos sobre a hemoglobina são causados pelos íons hidrogênio,
pelo gás carbônico e pelo 2,3-DPG. A alteração da afinidade do oxigênio pela Hb
ocasionada por esses efeitos externos é representada pelo deslocamento da curva de
dissociação da hemoglobina para a esquerda (maior afinidade) ou para a direita (menor
afinidade). O deslocamento da curva pode ser mensurado pela medida da pressão parcial de
oxigênio que satura 50% da hemoglobina, chamada de P50. A P50 padrão (P50st) pode ser
estimada por uma equação desenvolvida por Severinghaus a partir de uma gasometria
venosa (SEVERINGHAUS, 1976), corrigindo para a condição padrão (temperatura de
37ºC, pH de 7,4 e PaCO2 de 40mmHg). A P50st da curva normal é de 26,8mmHg (HSIA,
1998). Aumentos da P50 indicam um deslocamento da curva para a direita e p50 inferiores
a 26,8mmHg indicam um deslocamento para a esquerda (Figura 2). O resultado da P50st é
usado para detectar alterações na afinidade do O2 pela hemoglobina devido à existência de
hemoglobinas variantes ou modificações na concentração do 2,3-DPG. No entanto, o
importante efeito fisiológico é determinado pela P50 in vivo, que rapidamente se modifica
para a temperatura corporal, PCO2 e pH no sangue.
Introdução
51
Figura 2 - A mudança de afinidade da hemoglobina pode ser mensurada pela P50
Chama-se efeito Bohr1 a mudança da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio
provocada pelo acréscimo ou redução de íons hidrogênios ou de dióxido de carbono (CO2).
A variação do pH pode ser induzida por alteração no CO2 com um excesso de
base constante, ou por mudança no ácido ou base fixa com uma PCO2 constante. Os termos
correspondem ao "efeito Bohr CO2" e "efeito Bohr ácido fixo", respectivamente. Assim, a
redução do pH ou o aumento da PCO2, da temperatura e do 2,3-DPG deslocam a curva para
a direita. O aumento do pH ou a redução da PCO2, da temperatura e do 2,3-DPG deslocam
a curva para a esquerda (Figura 3).
1 DUHN, 1976.
Satu
raçã
o de
hem
oglo
bina
(%)
100
50
0 100
26,8 PO2 (mmHg)
P50 normal = 26,8 mmHg
Introdução
52
Figura 3 - A mudança de afinidade da hemoglobina é expressa pelo deslocamento da
curva para a direita ou para a esquerda. A redução do pH ou o aumento da
PCO2, da temperatura e do 2,3-DPG deslocam a curva para a direita (D).
Variações em sentido contrário deslocam a curva para a esquerda.
1.5- 2,3-DIFOSFOGLICERATO (2,3-DPG)
BENESCH e BENESCH (1967) e CHANUTIN e CURNISH (1967)
observaram, independentemente, que o 2,3-DPG diminui a afinidade do oxigênio com a
hemoglobina. A partir de então, surgiram várias pesquisas sobre essa correlação e sobre o
metabolismo do 2,3-DPG.
Outros fosfatos orgânicos presentes nos eritrócitos, como adenosina trifosfato
(ATP) e adenosina difosfato (ADP), também têm o mesmo efeito sobre a curva de
dissociação da hemoglobina. Porém, a menor concentração desses fosfatos nos eritrócitos
torna-os menos importantes que o 2,3-DPG (BENESCH e BENESCH, 1969).
E
D
PO2 (mmHg)
SO2 (
%)
Introdução
53
1.5.1- Formação do 2,3-DPG nos eritrócitos
Os eritrócitos são desprovidos de mitocôndrias e, portanto, não possuem
fosforilação oxidativa. O metabolismo para a geração de energia depende da glicólise.
Noventa por cento da glicólise ocorre por via Embden-Meyerhof, onde a glicose passa a
lactato com a produção de dois moles de ATP. Uma pequena parte da energia é fornecida
via pentose-fosfato (NELSON e DAVEY, 1995a). O 2,3-DPG faz parte de um metabolismo
intermediário dessas vias, denominado de “shunt” de Rapaport-Luebering. O 1,3-DPG
sofre ação da DPG mutase, sendo convertida em 2,3-DPG, sem formação de energia
(NELSON e DAVEY, 1995a; HSIA, 1998) (Figura 4).
Introdução
54
GLICOSE 6 - FOSFOGLUCONATO Hexoquinase VIA PENTOSE-FOSFATO GLICOSE - 6 – P V PENTOSE 5 - P I FRUTOSE - 6 - P A E FRUTOSE - 1,6 - P M B D GLICERALDEÍDO - 3 - P DEHIDROXIACETONA - P E N - 1,3 - DIFOSFOGLICERATO DPG mutase SHUNT M 2,3 - DIFOSFOGLICERATO RAPAPORT-LUEBERING E Y 3 - FOSFOGLICERATO DPG fosfatase E R H 2 - FOSFOGLICERATO O F FOSFOENOL PIRUVATO PIRUVATO LACTATO
Figura 4 - Glicólise via Embden-Meyerhof e via pentose-fosfato mostrando o shunt de
Rapaport-Luebering, onde é formado o 2,3-DPG
Introdução
55
1.5.2- Ação do 2,3-DPG sobre a curva de dissociação da hemoglobina
O 2,3-DPG é um fosfato orgânico que possui concentração equimolar com a
hemoglobina nos eritrócitos humanos (BENESCH e BENESCH, 1969). O aumento da
concentração do 2,3-DPG intra-eritrocitário desvia a curva de dissociação da hemoglobina
para a direita, facilitando a liberação do oxigênio da hemoglobina. Dois são os fatores que
explicam esse efeito: 1) ação direta do 2,3-DPG nas propriedades alostéricas da
hemoglobina e 2) uma queda no pH intra-eritrocitário, causada pela elevação da
concentração do 2,3-DPG, que desvia a curva para a direita devido ao "efeito Bohr ácido
fixo".
Na ação direta, o 2,3-DPG liga-se preferencialmente à hemoglobina
desoxigenada à oxigenada. A ligação do 2,3-DPG com a hemoglobina provoca uma
mudança conformacional na hemoglobina. Essa mudança conformacional é causada por
alteração do meio químico e eletrostático do sítio de ligação do oxigênio na hemoglobina
(propriedades alostéricas), estabilizando-a energeticamente para a forma desoxigenada
(conformação-T) (DUHN, 1971; MELDON, 1985; HSIA, 1998).
O desvio da curva também se dá por via indireta, pela alteração do pH. A lei da
neutralidade elétrica (Equilíbrio de Donnan) das soluções se aplica ao conteúdo dos
eritrócitos. O mesmo número de cargas iônicas positivas deve ser igual ao de cargas iônicas
negativas. O 2,3-DPG é um ânion impermeável em relação à membrana eritrocitária;
portanto, o aumento desse ânion intra-eritrocitário desvia o equilíbrio de Donnan, fazendo
com que ocorra um influxo de íons hidrogênio. Isto leva a uma queda do pH intra-
eritrocitário. Desta forma, o aumento do 2,3-DPG diminui a afinidade do oxigênio pela
hemoglobina devido ao "efeito Bohr ácido fixo" (DUHN, 1971; DUHN e GERLACH,
1971; DEUTICKE et al., 1971; HLASTALA e WOODSON, 1975; MELDON, 1985;
HSIA, 1998).
Apesar do aumento nas concentrações do 2,3-DPG acentuar o "efeito Bohr
ácido fixo" como explicado acima, ele diminui o "efeito Bohr CO2". A explicação para esse
fato é que o 2,3-DPG e o CO2 competem ligando-se ao mesmo grupo amino na
hemoglobina. Assim, o 2,3-DPG diminui a magnitude do “efeito Bohr CO2” (DUHN, 1976;
HLASTALA e WOODSON, 1975; MELDON, 1985).
Introdução
56
1.5.3- Fatores que levam à variação do 2,3-DPG
Os principais fatores que regulam a concentração do 2,3-DPG dentro dos
eritrócitos são dois: a alteração do pH intra-eritrocitário e a hipóxia (Figura 5).
Pequenas alterações do pH intracelular podem interferir na glicólise e no
metabolismo do 2,3-DPG. A elevação do pH intracelular estimula a glicólise, aumenta a
atividade da DPG-mutase (enzima que converte 1,3-DPG em 2,3-DPG) e inibe a atividade
da DPG-fosfatase (enzima que decompõe o 2,3-DPG em 3-fosfoglicerato), resultando numa
maior síntese e menor degradação de 2,3-DPG. Por outro lado, a queda do pH intracelular
provoca um efeito contrário (DUHN e GERLACH, 1971; DEUTICKE et al., 1971)
(Figura 5).
A hipóxia também altera o metabolismo do 2,3-DPG. Três hipóteses buscam
explicar esse mecanismo. A primeira atribui ao eritrócito desoxigenado o desvio do pH
plasmático para o lado alcalino, visto que a hemoglobina desoxigenada é um ácido mais
fraco do que a forma oxigenada. Como dito acima, o pH intra-eritrocitário alcalino aumenta
a síntese do 2,3-DPG (DUHN e GERLACH, 1971) (Figura 5).
A segunda hipótese baseia-se no fato de o 2,3-DPG possuir maior afinidade
pela hemoglobina desoxigenada do que pela oxigenada. Em situação de hipóxia, há um
aumento da hemoglobina desoxigenada, fazendo com que o 2,3-DPG ligue-se mais
facilmente à hemoglobina. Desta forma, ocorre uma diminuição do 2,3-DPG livre. Essa
queda do 2,3-DPG livre reduz sua ação como inibidor da DPG mutase, resultando assim
num aumento da síntese do 2,3-DPG (DUHN e GERLACH, 1971; NELSON e DAVEY,
1995b) (Figura 5).
A terceira teoria atribui à hipóxia um estímulo à eritropoeiese, aumentando o
número de eritrócitos relativamente jovens. Tem sido demonstrado que os eritrócitos jovens
possuem maior concentração de 2,3-DPG que os mais velhos (SAMAJA et al, 1991).
A regulação na concentração do 2,3-DPG também é feita por mecanismo de
retroalimentação, ou seja, um aumento na concentração do 2,3-DPG, por aumento do pH ou
por hipóxia, que levará: 1) à redução do pH intra-eritrocitário, por desvio no equilíbrio de
Introdução
57
Donnan, como explicado anteriormente e 2) a um aumento o 2,3-DPG livre (DUHN e
GERLACH, 1971). Ambos os efeitos levarão a uma redução na concentração do 2,3-DPG.
↑ DO PH DO SANGUE HIPÓXIA
↑ DO PH ↓ DO 2,3-DPG LIVRE
INTRAERITROCITÁRIO POR LIGAÇÃO COM A HEMOGLOBINA
DESOXIGENADA
INIBIÇÃO DA ATIVAÇÃO DA REDUÇÃO DA INIBIÇÃO
DPG-FOSFATASE DPG-MUTASE DA DPG MUTASE
↓ DA DECOMPOSIÇÃO ↑ DA SÍNTESE
DO 2,3-DPG DO 2,3-DPG
↓ PH INTRA- ↑ NA CONCENTRAÇÃO ↑ 2,3-DPG LIVRE
ERITROCITÁRIO DO 2,3-DPG
Figura 5 - Efeito do pH e da hipóxia sobre a regulação da formação do 2,3-DPG
Os pacientes com TCE grave são intubados e ventilados mecanicamente. Como
o respirador pode oferecer uma maior concentração de oxigênio, a hipóxia não é uma
situação freqüente. Porém, a alteração do pH sangüíneo é uma situação bastante comum e
pode ser inclusive induzida pela ventilação mecânica – hiperventilação – com o objetivo de
auxiliar no tratamento. CRUZ et al. (1992b) observaram que a alcalose com pH acima de
7,6 determinava um desvio em direções opostas da saturação da hemoglobina medida por
hemo-oximetria e a correspondente pressão parcial de oxigênio no sangue colhido em bulbo
de jugular. A esse fenômeno eles denominaram de efeito Bohr acentuado. Esse desvio para
a esquerda da curva de dissociação da hemoglobina associado à alcalose respiratória
poderia ser minimizado pelo aumento da concentração de 2,3-DPG nos eritrócitos (que
desvia a curva de dissociação da hemoglobina para direita), analogamente ao que ocorre em
indivíduos que se aclimatizam a elevadas altitudes (SAMAJA, 1997).
Introdução
58
1.6- MEDIDA DA SATURAÇÃO DA HEMOGLOBINA E CÁLCULO INDIRETO
DA SATURAÇÃO DA HEMOGLOBINA A PARTIR DA PRESSÃO PARCIAL
DE OXIGÊNIO NO SANGUE
A saturação da hemoglobina foi inicialmente medida pela relação entre o
conteúdo de oxigênio de uma amostra de sangue e a sua capacidade de oxigênio. O
conteúdo de oxigênio da hemoglobina era medido, manométrica ou volumetricamente pelo
aparelho de Van Slyke (VAN SLYKE e NEILL, 1924). O oxigênio era totalmente liberado
da hemoglobina e, em seguida, o volume extraído era expresso em mililitros de oxigênio
por cem mililitros de sangue. A capacidade de oxigênio da hemoglobina era medida da
mesma forma, após saturar prévia e completamente a mesma amostra de sangue por pré-
oxigenação sob uma atmosfera com uma PO2 de 150mmHg. A saturação de oxigênio (SO2)
era obtida pela relação entre o conteúdo e a capacidade de oxigênio, conforme equação
abaixo:
Conteúdo de oxigênio (ml%)
SO2 = [5]
Capacidade de oxigênio (ml%)
O conteúdo de oxigênio é resultado da oxiemoglobina (HbO2) e a capacidade de
oxigênio corresponde à soma da HbO2 e hemoglobina desoxigenada (Hb). Convencionou-se
chamar de “saturação funcional da hemoglobina” e corresponde, em outros termos, à
seguinte relação:
HbO2 x 100
SO2 (%) = [6]
HbO2 + Hb
Esse método era considerado o padrão-ouro para medida da SO2, porém, por ser
muito trabalhoso, métodos alternativos foram sendo pesquisados.
Introdução
59
A partir da segunda metade do século XX, foi desenvolvido o hemo-oxímetro,
que passou a ser um instrumento mais prático para a medida de diversas formas de
hemoglobina. O hemo-oxímetro consiste de uma cubeta contendo uma amostra de sangue
que é atravessada por seis ou oito feixes de luz com diferentes comprimentos de onda. Os
diversos tipos de hemoglobina possuem propriedades específicas do sangue, absorvendo a
luz de forma diferenciada em cada comprimento de onda. Por algoritmos criados para
interpretar as absorções obtidas é possível detectar as seguintes frações de hemoglobina:
Hb - Deoxiemoglobina
HbO2 - Oxiemoglobina
MetHb - Metemoglobina
COHb - Carboxiemoglobina
A saturação da hemoglobina medida pelo hemo-oxímetro é denominada
“saturação fracionária da hemoglobina” e é obtida pela seguinte relação:
HbO2 x 100
SO2 (%) = [7]
HbO2 + Hb + COHb + MetHb
A saturação da hemoglobina é o fator mais importante na constituição do
conteúdo de oxigênio do sangue, visto que a quase totalidade do conteúdo de oxigênio do
sangue está ligada à hemoglobina, como pode ser observado ao se examinar a seguinte
equação:
tO2 (ml%) = [Hb (g%) * 1,39 * SO2 (%)/100] + [0,0031 * PO2 (mmHg)] [8]
Onde, CtO2 representa o conteúdo de oxigênio em mililitros porcento, 1,39 é a
constante que expressa a quantidade de mililitros de oxigênio transportados por um grama
de hemoglobina quando completamente saturada e 0,0031 o fator de solubilidade do
oxigênio no plasma.
Introdução
60
Vê-se que, com o conhecimento da concentração de hemoglobina (Hb), da sua
saturação (SO2) e da pressão parcial de oxigênio (PO2) de uma amostra de sangue, é
possível calcular o seu correspondente conteúdo de oxigênio.
Muitas formas de estimar a saturação da hemoglobina a partir da pressão parcial
de oxigênio no sangue foram apresentadas na literatura (BREUER et al., 1989). Dada a
peculiar relação sigmóide entre essas duas variáveis, uma definição matemática correta não
existe. Inicialmente tentou-se correlacionar essas variáveis de forma logarítmica. Mais
recentemente, com o desenvolvimento da computação, foi possível determinar as
constantes de uma equação polinomial que define a curva de dissociação da hemoglobina
de acordo com a curva padrão de Severinghaus (SEVERINGHAUS, 1976). O programa,
apresentado por Kelman (KELMAN, 1966 e 1968; TERZI et al., 1974), tem a vantagem de
corrigir os desvios da curva de dissociação da hemoglobina para fatores conhecidos como o
pH (efeito Bohr), a temperatura e a PCO2. Esse método calcula uma saturação da
hemoglobina próxima do real, podendo inclusive ser empregada para derivar parâmetros
hemodinâmicos (oferta e consumo de oxigênio) e respiratórios (shunt pulmonar). Contudo,
ela não considera outros fatores que influenciam no deslocamento da curva, como os níveis
de 2,3-DPG no sangue. Outras equações para determinação da SO2 foram discutidas na
literatura (BREUER et al., 1989; SIGGAARD-ANDERSEN et al., 1984; JOHNSON et al.,
1993).
Na grande maioria dos hospitais a saturação da hemoglobina é calculada com
uma das equações polinomiais, como descrito acima.
Acredita-se que possa haver diferença entre a variável medida e a calculada e
que alterações na concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos seja um fator que contribui para
essa diferença.
No tratamento de pacientes com TCE grave, a saturação é um parâmetro de
extrema importância, pois a extração cerebral de oxigênio é derivada da saturação de
oxigênio do sangue arterial e venoso de bulbo jugular. A extração cerebral de oxigênio é
utilizada para ajustar a ventilação mecânica nesses pacientes. A redução da PaCO2 –
induzida pela hiperventilação – tem efeito vasoconstrictor cerebral, promovendo redução
Introdução
61
do FSC e auxiliando na redução da pressão intracraniana. Porém, a redução extrema do
FSC pode levar a uma isquemia oliguêmica que pode ser detectada pelos valores da ECO2.
Portanto, uma saturação irreal pode induzir uma lesão secundária nesses pacientes.
1.7- DIFERENÇA ENTRE A ECO2 OBTIDA PELA SATURAÇÃO MEDIDA E A
ECO2 OBTIDA PELA SATURAÇÃO CALCULADA
Para entender melhor a conseqüência da diferença entre a saturação medida e a
calculada por uma alteração da concentração do 2,3-DPG intra-eritrocitário, exemplifica
uma situação de aumento do 2,3-DPG nos eritrócitos. A saturação de oxigênio do sangue
arterial geralmente está acima de 90%. A curva de dissociação da hemoglobina nesse
patamar é quase horizontalizada e um desvio desta (pelo aumento da concentração do 2,3-
DPG) não provocaria grandes alterações entre a saturação da hemoglobina medida e a
calculada (Figura 6, pontos am e ac respectivamente). Porém, a saturação venosa, por
possuir valores mais baixos, encontra-se num ponto onde a curva de dissociação da
hemoglobina é mais verticalizada. Um desvio dessa curva para a direita provocada pelo
aumento da concentração do 2,3-DPG resulta numa saturação calculada significativamente
maior do que a medida (Figura 6, pontos vc e vm, respectivamente).
O Delta-extração (∆ECO2) corresponde à diferença entre a ECO2 obtida pela
saturação medida (m) e a ECO2 obtida pela saturação calculada (c). No exemplo citado, o
∆ECO2 é positiva, ou seja a ECO2m é maior que a ECO2c (Figura 6).
O ∆ECO2, na verdade, representa um desvio da curva da hemoglobina análoga
à P50st. Um aumento na concentração do 2,3-DPG/Hct como no exemplo citado representa
um aumento do ∆ECO2 e um aumento da P50st.
Introdução
62
Figura 6 - Curva de saturação de hemoglobina demonstrando como uma alteração da
concentração do 2,3-DPG/Hct pode resultar em diferença entre a saturação
medida e a calculada
ac
PO2 (mmHg)
0 20 40 60 80 100 120 140 160 0
20
40
60
80
100 Sa
tura
ção
(%)
2,3-DPG
am
vc
vm
ECO2 (c)
ECO2 (m)
63
2- OBJETIVOS
Objetivos
65
Identificar se há aumento da concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos associado
à hiperventilação e avaliar as suas repercussões na saturação da hemoglobina e no cálculo
da extração cerebral de oxigênio.
67
3- CASUÍSTICA E MÉTODOS
Casuística e Métodos
69
O presente estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de
Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (UTI-HC-Unicamp) no período de março
de 2000 a dezembro de 2002. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp sob o parecer número 212/99. Termos de
consentimento livre e esclarecido (TCLE) foram obtidos, por escrito, dos familiares
responsáveis pelos pacientes.
Foram incluídos no presente projeto 11 pacientes, sendo uma mulher e dez
homens, com idade média de 25,5 ± 9,3 anos e pontuação na escala de coma de Glasgow
(TEASDALE e JENNET, 1974) de entrada média de 7,2 ± 0,9. As causas das lesões
encefálicas foram acidente automobilístico em quatro casos, atropelamento em dois,
ferimento de arma de fogo em dois e acidente motociclístico, queda e espancamento, um
caso cada. Três pacientes apresentaram lesões em outras partes do corpo associadas ao
TCE. A tomografia computadorizada de crânio foi avaliada de acordo com a classificação
de Marshall (MARSHALL et al., 1991). Em quatro pacientes prevaleceu a lesão difusa tipo
III, em três, a lesão difusa tipo IV, em um, a lesão difusa tipo II, em mais um, a lesão focal
e dois tiveram a lesão característica de ferimento por arma de fogo (FAF). O paciente com
lesão focal e um com FAF tiveram hematoma drenado cirurgicamente. Todos os pacientes
foram acompanhados por um período de cinco a seis dias, a pontuação do APACHE II na
entrada foi de 17,7 ± 4,9, com o risco de óbito calculado de 21,34% ± 11,4%. Três
pacientes faleceram no período de dez dias após a internação (Tabela 1). Foram excluídos
os pacientes que apresentaram critérios clínicos de morte encefálica durante este período.
Casuística e Métodos
70
Tabela 1- Casuística. M: sexo masculino; F: sexo feminino; ECG: escala de coma de
Glasgow; TA: tipo de acidente; MT: acidente motociclístico; FAF: ferimento por arma de
fogo; ESP: espancamento; QD: queda; AT: atropelamento; AU: acidente automobilístico;
LA: lesões associadas; TC: tomografia computadorizada (classificação de Marshall); DII:
difusa II; DIII: difusa III; DIV: difusa IV; AP II: Pontuação do APACHE II; AP II (%):
Risco de óbito do APACHE II.
Sexo Idade ECG TA LA TC AP II AP II (%) Óbitos na UTI
1 M 26 7 MT Não DIII 17 17,48 Sim
2 F 19 8 FAF Não - 23 33,72 Não
3 M 33 7 ESP Não DII 13 13,66 Não
4 M 25 6 QD Não Focal 16 12,23 Não
5 M 19 7 FAF Não - 11 10,75 Sim
6 M 28 8 AT Sim DIII 26 44,08 Não
7 M 49 6 AU Não DIV 22 30,53 Sim
8 M 23 6 AU Não DIII 17 17,48 Não
9 M 19 8 AU Não DIV 16 15,47 Não
10 M 15 8 AU Sim DIII 22 30,05 Não
11 M 25 8 AT Sim DIV 12 9,26 Não
Média 25,5 7,2 17,7 21,34
DP 9,3 0,9 4,9 11,4
Todos os pacientes receberam suporte ventilatório durante o tempo de estudo.
Um dos critérios de inclusão foi o uso de hiperventilação no controle da PIC, de acordo
com o protocolo do serviço de ventilação otimizada (FALCÃO et al., 2000a) e conduzido
pelo médico assistente. O eletrocardiograma, a pressão intracraniana, a mecânica
ventilatória, a capnografia e a oximetria de pulso foram monitorizados continuamente.
Casuística e Métodos
71
Para a monitorização da PIC, foi utilizado o cateter intraparenquimatoso de
titânio (CODMAN) (Figura 7). Foi utilizada técnica asséptica para implantação do cateter,
seguindo as orientações contidas no manual do equipamento.
Figura 7 - Cateter de titânio e o monitor de pressão intracraniana da Codman. À
esquerda observa-se a cabeça de um paciente envolvido pelo campo cirúrgico
e o cateter de titânio implantado no parênquima cerebral.
Casuística e Métodos
72
A monitorização da mecânica ventilatória, da capnografia e da oximetria de
pulso foi feita através do monitor de perfil respiratório CO2SMOPlus da Dixtal (Figura 8).
Figura 8 - Monitor de perfil respiratório CO2SMOPlus da Dixtal
A saturação da hemoglobina do bulbo da veia jugular foi monitorizada de forma
contínua, pelo cateter de fibra ótica 4F da BAXTER, e/ou de forma intermitente, pela
oximetria da amostra de sangue colhida do mesmo cateter ou de um cateter Intracath® 16G
(Figuras 9 e 10). Foi utilizada técnica asséptica para implantação do cateter de bulbo da
veia jugular interna (ANDREWS et al., 1991).
Casuística e Métodos
73
Figura 9 - Monitor da saturação contínua de sangue de bulbo de veia jugular interna
Figura 10 – Radiografia de cateter Intracath® 16G introduzido em veia jugular interna
Também foram posicionados o cateter venoso central (veia cava superior) e a
sonda vesical. As posições adequadas dos cateteres de bulbo de veia jugular e de veia cava
superior foram verificadas através de controle radiológico.
Casuística e Métodos
74
3.1- PROTOCOLO DE TRATAMENTO
Um padrão de hidratação basal com soro glicosado 5%, em dose de 30ml/kg/dia
foi estipulado, acrescido da reposição de perdas hídricas. A nutrição enteral por sonda
nasoentérica foi iniciada entre 24 a 48 horas após o trauma. A reposição de eletrólitos foi
feita de acordo com as necessidades basais, acrescida da correção de eventuais perdas.
Foi administrado bloqueador de receptor de histamina (H2), cloridrato de
ranitidina, como profilaxia de hemorragia digestiva. Antibióticos foram prescritos de
acordo com a necessidade de se tratar uma infecção existente. O uso de anticonvulsivantes
foi administrado como rotina.
Os pacientes foram posicionados de forma que a coluna cervical ficasse
retificada, para evitar compressão da veia jugular, e com elevação da cabeceira a 30 graus.
Foi seguido o protocolo de tratamento do TCE grave da Unidade de Terapia Intensiva do
HC-Unicamp, objetivando manter a pressão arterial média acima da 90mmHg e a pressão
de perfusão cerebral acima de 70mmHg, pela administração de noradrenalina, quando
necessário. Os pacientes foram sedados inicialmente com fentanila associada a midazolan
(0,5mg de fentanila e 75mg de midazolan em 250ml de soro glicosado a 5%, com
gotejamento inicial de 10 a 20microgotas/min, ou em doses suficientes para sedação, de
acordo com a resposta individual do paciente).
Em concordância com o mesmo protocolo de tratamento, quando a PIC
encontrava-se igual ou superior a 20mmHg, as seguintes medidas eram realizadas
seqüencialmente: 1 - ventilação otimizada, mantendo-se a ECO2 entre 24 - 42%; 2 –
manitol a 20%, em bolus (0,5 a 1g/kg/dose); 3 – substituição da sedação padrão pelo
tionembutal (dose inicial entre 0,5 a 2,0mg/kg/hora até um máximo de 4mg/kg/hora). Após
a realização dessas manobras, ainda não havendo redução da PIC, era indicada uma nova
tomografia para avaliar a necessidade de descompressão cirúrgica.
Quando a pressão intracraniana permanecesse inferior a 20mmHg por 48 horas,
sem qualquer tratamento específico, suspendia-se a sedação e eram removidos os cateteres
de monitorização da PIC e de monitorização da saturação da hemoglobina da veia do bulbo
Casuística e Métodos
75
da jugular. Logo que o paciente recuperava um nível de consciência, com as funções
ventilatórias e os valores gasométricos satisfatórios, a ventilação mecânica era retirada.
Com respiração espontânea e na ausência de instabilidade hemodinâmica, os pacientes
recebiam alta da UTI.
3.2- DADOS LABORATORIAIS
As coletas de sangue para gasometria arterial e venosa do bulbo da jugular
foram realizadas conforme a necessidade clínica e analisadas pelo aparelho ABL 700 da
Radiometer. A saturação da hemoglobina foi medida pelo hemo-oxímetro e calculada pelo
programa OSA idealizado por SIGGAARD-ANDERSEN (1990), ambos incorporados ao
mesmo aparelho. A P50st (pressão parcial de oxigênio que satura 50% da hemoglobina)
corrigindo para a condição padrão (temperatura de 37ºC, pH de 7,4 e PaCO2 de 40mmHg)
também foi calculada pelo mesmo equipamento e obtida a partir da gasometria venosa.
A concentração do 2,3-difosfoglicerato por hematócrito (2,3-DPG/Hct) foi
medida por espectrofotometria, utilizando os reagentes da “Sigma Diagnostics” (Catálogo
665). A primeira medida foi realizada nas primeiras 12 horas de admissão no hospital. As
demais medidas foram realizadas diariamente, sempre no período da manhã. Os quatros
primeiros pacientes tiveram a medida do 2,3-DPG realizada a partir do sangue coletado do
cateter do bulbo da veia jugular e, por dificuldade em algumas coletas, as demais coletas
foram a partir de punção arterial. Os cálculos da p50st e da saturação de hemoglobina
foram realizados a partir de gasometrias coletadas no mesmo momento da amostra de
coletas para medida da concentração do 2,3-DPG/Hct. O fosfato inorgânico (Pi) sérico
também foi medido em diversas ocasiões.
3.3- PADRONIZAÇÃO DA MEDIDA DO 2,3-DPG
Foi colhido um mililitro de sangue em uma seringa com heparina sódica
(Pico 70) e o transporte até o laboratório foi feito em um isopor com gelo. O período
máximo de realização da coleta até o armazenamento foi de duas horas.
Casuística e Métodos
76
3.3.1- Armazenamento
A amostra de sangue foi misturada ao ácido tricloroacético e homogeneizada
em um vortex durante dois segundos. Posteriormente, foram aguardados 10 minutos para
decantação das proteínas.
Após esse período de tempo, o material foi centrifugado a uma velocidade de
3000rpm durante 10 minutos. O sobrenadante foi pipetado e armazenado a uma
temperatura entre 2 e 8 o C, por um tempo máximo de duas semanas.
3.3.2- Análise do 2,3-DPG
Para a medida do 2,3-DPG, os seguintes procedimentos foram realizados:
1) O sobrenadante armazenado no refrigerador foi pipetado em dois tubos
(BRANCO e TESTE), com os seguintes reagentes: tampão trietanolamina e
fosfoglicerato mutase. Em seguida, o ácido fosfoglicólico foi adicionado
apenas no tubo 2 (TESTE).
2) Os tubos com a mistura de reação foram colocados em banho-maria a 37°C,
durante 20 minutos. A seguir, foi adicionada solução de ácido
tricloroacético em ambos os tubos.
3) Apenas no tubo 1 (BRANCO) foi acrescentada solução de ácido
fosfoglicólico.
4) Em seguida foi adicionada nos dois tubos solução de ácido molibidênico e,
por último, solução de “Fiske” e “Subbarow”. Após um período de 10
minutos para o desenvolvimento da cor, o produto da reação foi colocado em
cubetas de caminho ótico e a medida foi realizada espectrofotometricamente,
a um comprimento de onda de 660nm.
Casuística e Métodos
77
5) Os resultados da absorbância da amostra a ser testada (tubo 2) e do branco
(tubo1) foram colocados na curva de calibração para obter as respectivas
concentrações.
6) O resultado da concentração do 2,3-DPG, em µmol/ml, foi efetuada
subtraindo-se a concentração da amostra a ser testada pela concentração do
branco.
7) O valor do 2,3-DPG obtido do sangue foi dividido pelo hematócrito e
multiplicado por 100 para obtenção da concentração nas hemácias.
3.3.3- Curva de calibração
Em seis tubos de ensaio foram pipetadas quantidades diferentes de solução
padrão de fósforo e água, obtendo-se diferentes concentrações de fósforo em cada tubo,
correspondente a uma quantidade de 2,3-DPG conhecida. Em seguida, foram acrescentados
solução de ácido molibidênico e solução de “Fiske” e “Subbarow”. Aguardou-se 10
minutos para desenvolvimento da cor.
A absorbância do tubo no 2 ao tubo no 6 foi lida em cubetas de caminho ótico,
num comprimento de onda de 660nm, utilizando-se como referência o conteúdo do tubo
no 1.
A curva de calibração foi construída em um gráfico no qual, na ordenada
colocavam-se os valores das absorbâncias obtidas nos tubos e, na abscissa, as
concentrações de 2,3-DPG correspondentes para cada tubo (Figura 11).
Casuística e Métodos
78
Figura 11 - Curva de calibração do 2,3-DPG
3.3.4- Controle de qualidade
Foram utilizados os reagentes opcionais de controle de qualidade: catálogo no.
S 3006 (normal) e catálogo no. S 3005 (elevado), da “Sigma Diagnostic”. Os
procedimentos realizados com os controles foram os mesmos realizados com as amostras
de sangue, desde a separação do sobrenadante até a obtenção da concentração do 2,3-DPG,
pela leitura da absorbância dos tubos TESTE e BRANCO.
Os valores lidos com o controle elevado e o controle normal sempre estiveram
entre os limites, 3,3 a 4,3 e 1,7 a 2,5µmol/ml, respectivamente.
3.4- GRUPO-CONTROLE
Foi coletado sangue venoso periférico de voluntários (20 homens e 20
mulheres) saudáveis e não-fumantes para a obtenção dos valores de normalidade. Não foi
usado garrote para puncionar a veia desses indivíduos, para evitar grandes alterações da
Curva de Calibração do 2,3 DPG
y = 0,0683x + 0,0215R2 = 0,9837
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9concentração do 2,3-DPG
abso
rbân
cia
a 66
0nm
Casuística e Métodos
79
PaCO2. Nessas amostras foram obtidas medidas da concentração do 2,3-DPG/Hct, cálculo
da p50st e da saturação da hemoglobina, medida da saturação da hemoglobina e do fosfato
inorgânico sérico usando-se as mesmas técnicas descritas para os pacientes.
3.5- ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para analisar a relação entre as variáveis de interesse e analisar a evolução das
medidas ao longo do tempo (em vários dias de coleta no mesmo paciente) foi utilizada a
Análise das Equações de Estimação Generalizadas (GEE – Generalized Estimating
Equations), uma extensão dos Modelos Lineares Generalizados. Essa análise leva em
consideração as medidas obtidas no mesmo paciente em vários tempos (medidas
longitudinais) e analisa a mudança simultânea dos valores de diferentes variáveis no mesmo
paciente e no grupo de pacientes. Podem ser usadas nessa análise tanto as variáveis
contínuas, como as variáveis categóricas, classificadas por valores de corte.
Esse tipo de técnica é o mais indicado neste caso, porque tanto a variável
resposta (por exemplo, o DPG) quanto as variáveis independentes (por exemplo, pH,
PaCO2, entre outros), variam ao longo do tempo e são medidas em vários dias. A Análise
de Regressão Linear não seria adequada, pois tanto a variável resposta como as
independentes deveriam ser fixas e coletadas num único momento, e a variável resposta é
contínua. Da mesma forma, a Análise de Regressão Logística também não seria adequada,
pois tanto a variável resposta como as independentes são fixas e coletadas num único
momento, e a variável resposta é categórica (dicotômica ou politômica). Finalmente, a
Análise de Variância para medidas repetidas não seria adequada, pois a variável resposta é
coletada em vários momentos, podendo variar longitudinalmente, e as independentes são
fixas ao longo do tempo, sendo a variável resposta contínua.
Por esses motivos, a análise GEE (ZEGER e LIANG, 1986; LIANG e ZEGER,
1986; BAIA, 1997; FIACCONE, 1998; STOKES et al., 2000) é a mais adequada para a
análise dos dados coletados neste projeto.
81
4- RESULTADOS
Resultados
83
4.1- GRUPO-CONTROLE
A concentração de 2,3-DPG/Hct obtidos pelo grupo-controle apresentou uma
média 4,6 ± 0,7µmol/ml, a p50st teve valor médio de 26, 3 ± 1,0mmHg e as medidas do Pi
com média de 3,15 ± 0,46mg/dl. A saturação da hemoglobina venosa medida teve uma boa
correlação com a calculada (R2 = 0,995 e p < 0,001). Porém, quando essas duas variáveis
foram comparadas, pelo teste t para amostras pareadas, as médias apresentaram uma
pequena, mas significativa diferença (1,7 ± 1,8%, com valores extremos de -1,3 e 6,5%)
(Figura 12). Os dados do grupo-controle estão expostos no apêndice 1.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1000
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
R2 = 0, 995p < 0,001
Sat
uraç
ão c
alcu
lada
(%)
Saturação medida (%)
Figura 12 – Correlação entre a saturação medida e a saturação calculada do grupo-controle
Resultados
84
4.2- CONCENTRAÇÃO DO 2,3-DPG/HCT NOS PACIENTES
As seis medidas (tempo 1 – 6) das concentrações do 2,3-DPG/Hct de cada
paciente estão expostos na Tab. 2, onde pode ser observado que as alterações nas
concentrações do 2,3-DPG/Hct não foram uniformes entre os pacientes ao longo do tempo.
Tabela 2 – Medidas das concentrações do 2,3-DPG/Hct de todos os pacientes
Tempos
1 2 3 4 5 6
Paciente 1 4,0 **4,3 5,5 7,1 6,0 5,7
Paciente 2 *3,1 3,9 **4,1 2,7 3,7 *3,5
Paciente 3 6,6 6,3 6,2 6,7 4,5 5,5
Paciente 4 4,7 6,0 *5,2 6,6 4,9 6,7
Paciente 5 4,8 **6,4 6,6 5,4 **3,8 3,7
Paciente 6 4,3 6,4 *4,9 *5,4 5,7 6,9
Paciente 7 4,0 4,6 ***2,6 **4,1 *6,6 5,6
Paciente 8 **5,8 *3,6 **4,0 ***3,7 *4,6 4,9
Paciente 9 **4,7 **5,1 **4,9 4,5 3,8 4,8
Paciente 10 3,5 **3,2 5,0 4,4 4,3 5,3
Paciente 11 4,6 5,2 4,5 5,0 6,4 6,0
Média 4,6 5,1 4,9 5,0 4,6 5,5
DP 1,0 1,2 1,1 1,4 1,1 1,1
* Recebeu sangue no dia anterior
** Pi < 2,0mg/dl
***Recebeu sangue no dia anterior e Pi < 2,2mg/dl
Resultados
85
A análise estatística mostrou que as concentrações do 2,3-DPG/Hct foram
mantidas predominantemente dentro da normalidade, com uma ligeira tendência à elevação
no tempo 6 (Tabela 3). Também não houve aumento na concentração do 2,3-DPG/Hct nos
tempos 2 ao 6, tomando como referência o tempo 1, mostrando apenas um leve tendência
ao aumento no tempo 6 (Tabela 4). Na Fig. 13, pode-se visualizar melhor estes resultados.
A presença de um grande desvio-padrão demonstra a falta de uniformidade nas alterações
da concentração do 2,3-DPG de um paciente para o outro.
Tabela 3 – Freqüência dos valores das concentrações do 2,3-DPG/Hct divididos em
subgrupos de baixos (< 3,9µmol/ml), normais (3,9,-5,3µmol/ml) e elevados (> 5,3µmol/ml)
em cada tempo
Tempos
DPG/Hct
(µmol/ml) 1 2 3 4 5 *6
<3,9 2/11 3/11 1/11 2/11 3/11 2/11
3,9-5,3 7/11 4/11 7/11 4/11 4/11 3/11
>5,3 2/11 4/11 3/11 5/11 4/11 6/11
* p = 0,0905 (calculado pela EEG)
Tabela 4 – Os valores de Z e p para a correlação entre as concentrações do 2,3-DPG/Hct do
tempo 2 ao 6, tomando como basal o valor do tempo 1
Parâmetros Z p
Tempo 2/1 1,32 0,1858
Tempo 3/1 0,91 0,3600
Tempo 4/1 1,27 0,2024
Tempo 5/1 0,86 0,3917
Tempo 6/1 1,95 0,0509*
* Tendência à elevação
Resultados
86
0 1 2 3 4 5 6 7
3,5
4,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
*
Tempo
2,3-
DPG
/Hct
(µm
ol/m
l)
* p = 0,0509 (comparado com o primeiro dia) e p = 0,0905 (comparado com o grupo controle).
Figura 13 - Médias e seus respectivos desvios-padrão da concentração do 2,3-DPG/Hct
nos tempos de evolução dos onze pacientes com TCE grave A área
achuriada delimita o desvio-padrão da média (linha vermelha) da
concentração do 2,3-DPG/Hct obtida no grupo controle (4,6 ± 0,7µmol/ml).
Resultados
87
A concentração do 2,3-DPG/Hct foi mais baixa quando os pacientes haviam
recebido bolsas de concentrado de hemácias nas últimas 24 horas (Z = 3,26 e p = 0,0011)
e/ou tinham o Pi abaixo de 2,0mg/dl (Z = 2,82 e p = 0,0049) (Tabela – 5). As medidas
precedidas de transfusão de sangue e de hipofosfatemia estão na Tab. 2.
Tabela 5 – As médias das médias diárias das concentrações do 2,3-DPG/Hct e os seus
respectivos desvios-padrão (DP) das medidas não precedidas de transfusão de sangue, nem
de hipofosfatemia (NPT), das com hipofosfatemia (P) e das com tansfusão (T)
NPT P T
Média 5,2 4,3** 4,1*
DP 0,4 0,6 0,8
* Recebeu sangue no dia anterior
** Pi < 2,0 mg/dl
4.3- CORRELAÇÃO ENTRE A CONCENTRAÇÃO DO 2,3-DPG/Hct e a p50st
Houve uma correlação significativa entre a concentração do 2,3-DPG/ Hct e a
p50st (Z = 4,2903 e p = 0,0001) (Figura 14). Os valores da p50st de cada paciente estão no
apêndice 2.
Resultados
88
2,3-DPG/Hct (µmol/ml)
Z= 4,2903p= 0,0001
2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,522
23
24
25
26
27
28
29
30
31P5
0st (
mm
Hg)
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Figura 14 – Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e a p50st de cada
paciente medidas em tempos diferentes Cada cor representa um tempo
diferente. As áreas achuriada delimitam os valores normais da concentração
do 2,3-DPG/Hct (3,9-5,3µmol/mL) e/ou das p50st (25,3-27,3mmHg) pelo
grupo controle.
4.4- CORRELAÇÃO ENTRE A CONCENTRAÇÃO DO 2,3-DPG/Hct, o pH e a
PaCO2
Os dados mostram que todos os pacientes foram hiperventilados em alguma
fase do acompanhamento, como pode ser visto pelos valores médios da PaCO2 e do pH,
expostos nos apêndices 3 e 4, respectivamente. A ventilação mecânica foi conduzida pelo
médico assistente de acordo com o quadro clínico do paciente, sem qualquer interferência
do grupo de pesquisa.
Resultados
89
Os valores médios da PaCO2 permaneceram predominantemente abaixo de
35mmHg (Z = -3,18; p = 0,0015), como pode ser observado na Tab. 6. Enquanto, os
valores médios do pH permaneceram com predominância acima 7,45 (Z = 1,99;
p = 0,0467). Houve uma elevação dos valores médios do pH nos tempos 2 (p = 0,0148),
3 (p = 0,0150) e 4 (p = 0,0451) em relação ao tempo 1 (Tabela 7). Como a regulação da
PaCO2 foi ajustada de acordo com o quadro clínico do paciente, nem sempre ela foi
sustentada de forma contínua. Portanto, em alguns casos houve grande variação de desvios-
padrão, como pode ser confirmado no apêndice 3. Além disso, nem sempre os pacientes
exibiam uma alcalose respiratória pura. Como se tratavam de pacientes críticos, alguns
desenvolveram acidose metabólica concomitante, como pode ser observado pelos
resultados da diferença de base relatados no apêndice 5.
Tabela 6 - Freqüência das médias dos valores da PaCO2 dos pacientes divididos em baixos
(< 35mmHg), normais (35-45mmHg) e altos (> 45mmHg) em cada tempo
Tempos
PaCO2
(mmHg) 1 2 3 4 5 6
<35 7/11 8/11 9/11 10/11 10/11 8/11
35-45 3/11 2/11 2/11 1/11 1/11 3/11
>45 1/11 1/11 0/11 0/11 0/11 0/11
Tabela 7 – Freqüência das médias dos valores do pH dos pacientes em cada tempo
Tempos
pH 1 2 3 4 5 6
<7,35 2/11 1/11 0/11 0/11 0/11 0/11
7,35-7,45 3/11 1/11 2/11 2/11 3/11 4/11
>=7,5 6/11 9/11 9/11 9/11 8/11 7/11
Resultados
90
Como esperado, houve uma correlação positiva entre a PaCO2 e o pH
(Z = -8,86 e p = 0,0001), representada na Fig. 15. Também houve correlação entre o pH e a
concentração do 2,3-DPG/Hct (Z = 6,36 e p = 0,0001), representada na Fig. 16 e entre a
PaCO2 e a concentração do 2,3-DPG/Hct (Z = -3,75 e p = 0,0002), representada na Fig. 17.
Na Fig. 15 nota-se que, em alguns casos, apesar da PaCO2 estar abaixo de 35mmHg, o pH
encontra-se dentro da normalidade, expressando uma acidose metabólica compensatória,
como pode ser observado nos valores concomitantes de diferença de base negativos no
apêndice 5.
pH
PaCO2 (mmHg)
25 30 35 40 45 50 55 60
7,20
7,25
7,30
7,35
7,40
7,45
7,50
7,55 Z= -8,86p= 0,0001
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Figura 15 – Correlação entre a média diária da PaCO2 e a média diária do pH de cada
paciente medidos em tempos diferentes Cada cor representa um tempo
diferente. As áreas achuriadas delimitam os valores normais da PaCO2 (35-45
mmHg) e/ou do pH (7,35-7,45)
Resultados
91
pH
2,3-DPG/Hct (µmol/ml)
2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5
7,20
7,25
7,30
7,35
7,40
7,45
7,50
7,55
Z= 6,3645p= 0,0001
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Figura 16 – Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e a média diária do pH
de cada paciente medidos em tempos diferentes Cada cor representa um
tempo diferente. As áreas achuriadas delimitam os valores normais da
concentração do 2,3-DPG/Hct (3,9-5,3µmol/ml) e/ou do pH (7,35-7,45).
Resultados
92
2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5
25
30
35
40
45
50
55
60 Z= -3,75p= 0,0001
PaC
O2 (
mm
Hg)
2,3-DPG (µmol/ml)
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Figura 17 – Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e a média diária da
PaCO2 de cada paciente medidas em tempos diferentes Cada cor
representa um tempo diferente. As áreas achuriadas delimitam os valores
normais da concentração do 2,3-DPG/Hct (3,9-5,3µmol/ml) e/ou da PaCO2
(35-45mmHg).
Resultados
93
4.5- DIFERENÇA ENTRE A SATURAÇÃO MEDIDA E A CALCULADA
A saturação medida foi significativamente diferente da saturação calculada
(p < 0,0001). Quando utilizado o teste t para amostras pareadas, rejeitando a hipótese de
igualdade de médias, foi encontrada uma diferença de -0,3 ± 2,3%, com os valores
extremos de -6,2 e +5,7%. A Fig. 18 mostra a correlação entre a saturação medida e a
saturação calculada. Pode ser observado por uma reta de regressão linear que a saturação
medida (linha tracejada) foi discretamente menor que a calculada (linha vermelha) e que
quanto mais baixo o valor da saturação maior a diferença entre as variáveis. Os valores da
saturação medida e calculada estão no apêndice 6.
40 50 60 70 80 90 10040
50
60
70
80
90
100
Saturação medida (%)
Sat
uraç
ão c
alcu
lada
(%)
Figura 18 - Correlação entre a saturação medida e a calculada dos de pacientes
Resultados
94
4.6- DIFERENÇA ENTRE AS ECO2
Houve diferença significativa entre a extração cerebral de oxigênio obtida pelas
saturações medidas (ECO2m) e a extração cerebral de oxigênio obtida a partir das
saturações calculadas (ECO2c) (Z = 2,65 e p = 0,008), apesar de uma boa correlação entre
essas variáveis (Figura 19). A ECO2m foi 1,51% maior que a ECO2c. A média aritmética e
o desvio-padrão dos ∆ECO2 (delta extração- diferença entre a ECO2m e a ECO2c) foi de
1,2 ± 3,1%. Os valores da ECO2m, da ECO2c e do ∆ECO2 de cada paciente são
apresentados no apêndice 6. A variação do ∆ECO2 foi tanto negativa como positiva (-6,2 a
+6,9%). Houve uma correlação positiva entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e o ∆ECO2
(Z = 5,3629 e p = 0,0001) e entre o ∆ECO2 e a p50st (Z = 14,02 e p = 0,0001) (Figuras 20 e
21, respectivamente). Os valores da ECO2 estão no apêndice 6.
0 10 20 30 40 50 600
10
20
30
40
50
60
EC
O2c
(%)
ECO2m (%)
0 10 20 30 40 50 600
10
20
30
40
50
60
Figura 19 – Correlação entre ECO2m e ECO2c dos pacientes Os pontos abertos
representam aquelas situações onde a ECO2c está dentro de limite de
segurança (24 a 42 %) e a ECO2m está fora desse limite ou vice-versa.
Resultados
95
D
elta
EC
O2(%
)
2,3-DPG/Hct (µmol/ml)2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5
Z= 5,3629p= 0,0001
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Figura 20 – Correlação entre a concentração do 2,3-DPG/Hct e o ∆ECO2 de cada
paciente medidos em tempos diferentes Cada cor representa um tempo
diferente. A área achuriada delimita os valores normais da concentração do
2,3-DPG/Hct (3,9-5,3µmol/ml) e a linha vermelha corresponde ao ∆ECO2
igual a zero.
Resultados
96
P5
0 (m
mH
g)
DeltaECO2 (%)
-6 -4 -2 0 2 4 6 822
23
24
25
26
27
28
29
30
31
Z= 14,02p= 0,0001
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Figura 21 – Correlação entre a p50st e o ∆ECO2 de cada paciente medidos em tempos
diferentes. Cada cor representa um tempo diferente A área achuriada
delimita os valores normais da p50st (25,3-27,3mmHg) e a linha vermelha
corresponde ao ∆ECO2 igual a zero.
97
5- DISCUSSÃO
Discussão
99
A concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos tem uma importante função no
transporte de oxigênio para os tecidos. Sabe-se que, quando a concentração desse composto
fosforilado encontra-se abaixo do normal nos eritrócitos há um aumento da afinidade do
oxigênio pela hemoglobina (BENESCH e BENESCH, 1967; CHANUTIN e CURNISH,
1967). Em situações de hipóxia, foi observado um aumento da concentração do 2,3-DPG
nos eritrócitos (VANUXEM et al., 1975; HUMPELER et al., 1980; WINSLOW et al, 1981;
CARLONE et al., 1982; SAMAJA et al., 1993; SAMAJA et al., 1997). Acredita-se que,
nessa situação, o aumento na concentração do 2,3-DPG funcione como um compensador,
diminuindo a afinidade do oxigênio pela hemoglobina e, desta forma, facilitando o aporte
de oxigênio para os tecidos. A alteração do pH intra-eritrocitário é apontada como o
principal mecanismo mediador de alterações da concentração do 2,3-DPG.
No presente trabalho foi observada uma correlação entre as alterações do pH e
as concentrações do 2,3-DPG. Porém, as alterações do pH e da concentração do
2,3-DPG/Hct ocorreram de forma individual e aleatória com aumentos e reduções. Os
dados, quando avaliados agrupados e de forma longitudinal, apresentaram os valores
médios do pH predominantemente alcalinos, enquanto os valores da concentração do
2,3-DPG/Hct permaneceram predominantemente dentro da normalidade (Tabelas 7 e 3,
respectivamente).
BELLINGHAM et al. (1971) produziram situações de alcalose e acidose
metabólicas em quatro indivíduos saudáveis. Eles observaram que em situação de alcalose
metabólica havia um aumento da concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos. Fenômeno
inverso foi demonstrado em estados de acidose metabólica. CARLONE et al. (1982)
estudaram 20 pacientes com insuficiência respiratória crônica associada a distúrbio de
alcalose – respiratória ou metabólica – e observaram um aumento na concentração do
2,3-DPG nos eritrócitos. Outras pesquisas realizadas em pacientes com doenças crônicas
também identificaram alterações na concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos
correlacionadas com modificações do pH (FARBER et al, 1981; VANUXEM et al.,1975;
ESPINÓS et al., 1982). Nesses, os distúrbios respiratório ou metabólico, foram mantidos
por um período prolongado. No presente estudo, apesar de os valores médios do pH se
Discussão
100
mostrarem alcalinos, pôde ser visto, em algumas ocasiões, pelos grandes desvios-padrão
correspondentes, que esta alcalose não foi mantida constante (Apêndice 4).
O tempo necessário para que ocorra uma alteração do 2,3-DPG/Hct depois de
instalada uma situação de alcalose ou acidose não está bem determinada na literatura.
VENUXEM et al. (1975) demonstraram alteração da concentração do 2,3-DPG apenas em
distúrbios de acidose ou alcalose crônicos, pois quando esses distúrbios foram agudos
(período entre 24 a 48 horas), a concentração do 2,3-DPG estava normal. Contrariamente,
BELLINGHAM et al. (1971) revelaram que a concentração do 2,3-DPG não se alterou nas
primeiras quatro horas, porém após 48 horas já havia uma alteração significativa. Em
12 pacientes, em choque de várias etiologias, a concentração do 2,3-DPG foi medida de
seis em seis horas por CHILLAR et al. (1971). Nas primeiras 12 horas a concentração do
2,3-DPG não se alterou significativamente, mas caiu ou já estava baixa em pacientes com
acidose. A alteração na concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos de macacos foi
confirmada uma hora após a hiperventilação (VALERI et al., 1975). Diversos estudos
realizados em indivíduos vivendo em elevadas altitudes (HUMPELER et al., 1980;
WINSLOW et al, 1981; SAMAJA et al., 1993; SAMAJA et al., 1997) também observaram
um aumento na concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos. Nessa situação, outros
mecanismos em conjunto com as alterações do pH foram usados para explicar a elevação
do 2,3-DPG, tais como a policitemia. No estudo de HUMPELER et al. (1980), a alteração
do 2,3-DPG foi vista após um período de três horas. Nos realizados por SAMAJA et al.
(1993 e 1997), a medida foi realizada num período maior que uma semana. Outras
pesquisas (STAUBLI et al., 1985; PALEOLOGOS et al., 2000), provocando alcalose
respiratória em voluntários saudáveis, não conseguiram demonstrar uma variação da
concentração do 2,3-DPG nos eritrócitos. Porém, o tempo de hiperventilação promovido
nessas pesquisas era, no máximo, de vinte minutos. No presente estudo, a concentração do
2,3-DPG/Hct foi medida a cada 24 horas e o tempo em que os pacientes permaneceram
hiperventilados variou de acordo com o seu quadro clínico. Contudo, foram observados
limites da concentração do 2,3-DPG/Hct de 2,7 a 7,1µmol/ml e uma correlação dessa
variável com o pH, comprovando que ocorreram alterações de forma individual (Tabela 2 e
Figura 16, respectivamente).
Discussão
101
O motivo pelo qual os pacientes não foram hiperventilados de forma contínua
ou por um tempo predeterminado, está no fato de que o estudo foi de observação e a
condução da ventilação mecânica foi realizada pelo médico assistente e foi baseada no
quadro clínico do paciente por um protocolo de ventilação otimizada.
Durante décadas, a hiperventilação foi usada de forma indiscriminada para o
controle e a prevenção da hipertensão intracraniana em pacientes vítimas de TCE grave
(BACKER e GARDNER, 1985; HINDS, 1987). Os valores da pressão parcial de gás
carbônico no sangue arterial eram mantidos entre 20 e 30mmHg. A partir da década de
1980, o uso indiscriminado da hiperventilação passou a ser criticado, pois a redução do
FSC poderia produzir ou exacerbar uma isquemia cerebral pós-traumática. Atualmente, a
hiperventilação não é mais utilizada de forma profilática no tratamento do TCE grave.
Contudo, em casos em que a hipertensão intracraniana é refratária a outros tratamentos, a
hiperventilação é indicada desde que seja utilizado o cateter de bulbo jugular para manter a
ECO2 dentro de limites seguros (GUIDELINES FOR THE MANAGEMENT OF SEVERE
HEAD INJURY…, 1996; ON GUIDELINES FOR THE MANAGEMENT OF THE
SEVERE HEAD INJURY, 1997).
É importante lembrar que o valor do FSC, por si só, não é adequado para
determinar se a hiperventilação é deletéria. Um aumento na ECO2 pode ser suficiente para
atender à demanda metabólica do tecido nervoso cerebral. Nesse caso, a taxa metabólica do
consumo de oxigênio (TCCO2) permanece preservada. Durante a hiperventilação extrema,
o FSC pode cair a um ponto onde o aumento da ECO2 não é mais suficiente para atender ao
metabolismo cerebral e a TCCO2 fica comprometida. Nessa situação, há uma real
probabilidade de lesão tissular cerebral. O uso da ventilação mecânica para controle da
hipertensão intracraniana, mantendo-se a ECO2 dentro de limites seguros (24 a 42%), é
atualmente denominada de ventilação otimizada (CRUZ et al., 1992b; FALCÃO et al.,
2000a). Desta forma, o ajuste da ventilação mecânica desses pacientes foi feito com o
objetivo de controlar a hipertensão intracraniana e manter a ECO2 dentro de limites
seguros. Portanto, apesar das médias diárias do pH e da PCO2 apontarem para uma alcalose
respiratória nestes pacientes, essa alcalose não foi sustentada de forma permanente durante
todo o período de estudo. Isto pode ser comprovado pelas magnitudes de desvios-padrão
Discussão
102
dessas variáveis (Apêndices 3 e 4). Como se tratava de pacientes críticos, era comum
encontrar concomitantemente uma acidose metabólica, quer seja por complicação clínica
como a sepse, quer por uma compensação renal o que reduz o valor do pH.
Além de intermitência de hiperventilação norteada por protocolo e de
associação de eventual componente metabólico, outros fatores também são apontados como
importantes variáveis por manterem os valores da concentração do 2,3-DPG/Hct mais
baixos do que o esperado. Estes fatores são a transfusão sangüínea e a hipofosfatemia.
No sangue estocado há uma redução dos níveis do 2,3-DPG/Hct. Como pode
ser visto pela Tab. 2, cinco dos pacientes receberam transfusão de sangue. Ao todo, eles
receberam 18 bolsas de concentrado de hemácias. O tempo de estoque das bolsas era de
mais de seis dias, sendo que 10% tinham 18 dias e 60% tinham mais de 20 dias de
preservação no banco de sangue. Cada paciente recebeu duas ou mais unidades de
concentrado de hemácias. A substância usada para conservação foi citrato-fosfato-dextrose-
adenina (CPDA-1), que supostamente viabiliza o sangue para transfusão por 35 dias.
Estudos que mediram a concentração do 2,3-DPG em reservatórios de concentrados de
hemácias conservados com o CPDA-1 mostram que há uma degradação durante o período
de estoque. Nesses estudos existe discrepância quanto à quantidade de 2,3-DPG que se
degrada a cada semana. A degradação fica em torno de 40% e 60% na segunda semana, de
70% e 90% na terceira semana e 90% ou mais da quarta semana em diante (KREUGER
et al., 1975; MOORE et al., 1981; MOROFF e DENDE, 1983; ZELLER et al., 1985).
Pode-se atribuir a variação desses valores à diferença da metodologia utilizada para a
medida do 2,3-DPG e também ao tempo em que o sangue foi manipulado antes de ser
armazenado (MOROFF et al., 1984; MOROFF e DENDE, 1983).
HEATON et al. (1989) avaliaram a regeneração da concentração do 2,3-DPG
nos eritrócitos após a transfusão de sangue. A pesquisa foi realizada com voluntários que
receberam uma bolsa de sangue estocado por 35 dias. Quando utilizado o CPDA-1 como
substância conservadora, eles descrevem uma degradação importante da concentração do
2,3-DPG/Hb contidos nos recipientes para valores quase insignificantes. Após a transfusão,
os indivíduos também tiveram uma degradação importante dos níveis do 2,3-DPG nos
eritrócitos. Após um período de sete horas, 50% da concentração do 2,3-DPG já havia sido
Discussão
103
restaurada, mas a completa restauração só foi observada após um período de 48 horas.
TERZI (1983) também relatou redução na concentração do 2,3-DPG em pacientes no
pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca atribuída à transfusão de sangue. A queda, que
ocorre no pós-operatório imediato, teve uma tendência ao retorno à normalidade no
primeiro dia. Os dados do presente estudo mostram que as medidas da concentração da
concentração do 2,3-DPG/Hct precedidas de transfusão de sangue (até 24 horas antes)
foram mais baixas quando comparadas com as medidas não precedidas de transfusão
(Tabela 5). Isso revela que a transfusão de sangue foi provavelmente um fator contribuinte
para que a concentração do 2,3-DPG/Hct estivesse mais baixa do que o esperado.
Outro fator que também exerce influência sobre o metabolismo do 2,3-DPG é a
existência de hipofosfatemia. A redução do Pi sérico pode causar uma queda do 2,3-DPG
por diminuir a formação de seu substrato, o 1,3-DPG, e, ao mesmo tempo, por aumentar a
degradação do 2,3-DPG (LARSEN et al., 1996). Os limites da normalidade para os níveis
séricos do Pi variam entre 2,5 a 4,5mg/dl. Os níveis sangüíneos do Pi podem não refletir o
estoque do organismo e a sua interpretação se torna mais difícil porque pode apresentar
grande variação diurna, considerada normal (KEMP et al., 1992). Os sintomas clínicos da
hipofosfatemia são observados quando o Pi sérico está abaixo de 2,0mg/dl (AUBIER et al,
1985; SOLOMON e KIRBY, 1990). Porém, a hipofosfatemia só é descrita como grave
quando o Pi sérico é inferior a 1,0mg/dl (MARIK e BEDIGIAN, 1996; WEISINGER e
BELLORIN-FONT, 1998). Para a correlação dos dados, foi considerada a hipofosfatemia
quando os valores séricos estavam abaixo de 2,0mg/dl e está indicada a sua reposição
(ROSEN et al., 1995; MARIK e BEDIGIAN, 1996). A hipofosfatemia foi encontrada em
sete dos 11 pacientes (Tabela 2). PAS’KO e VOLOSHENIUK (1990) identificaram
hipofosfatemia grave em 74% dos pacientes com TCE grave, de um total de 78 pacientes
estudados. KING et al. (1971) também observaram uma alteração do Pi sérico em cinco de
sete pacientes com TCE grave. Mais recentemente, POLDERMAN et al. (2000) também
relataram a associação de hipofosfatemia em pacientes com TCE grave.
No presente estudo, quando a hipofosfatemia esteve presente, a concentração do
2,3-DPG/Hct foi mais baixa do que as medidas em que a hipofosfatemia não foi
identificada (Tabela 5). Este fato está de acordo com o encontrado por SHELDON e
Discussão
104
GRZYB (1975), em que pacientes com hipofosfatemia apresentaram os níveis de ATP e de
2,3-DPG/Hb baixos ou no nível basal. Eles também encontraram uma correlação positiva
entre o 2,3-DPG/Hb e o Pi sérico durante o pico e na recuperação da hipofosfatemia.
PAS’KO e VOLOSHENIUK (1990) também observaram que quanto menor o Pi sérico,
menor a concentração de 2,3-DPG e de ATP nos eritrócitos. Curiosamente, CLERBAUX
et al. (1992) demonstraram que o Pi tem um efeito direto sobre a curva de dissociação da
hemoglobina, independente da alteração ocasionada pelo 2,3-DPG, um fato que merece
estudos mais abrangentes.
Várias são as causas que podem levar o paciente grave a desenvolver
hipofosfatemia. Particularmente no TCE, algumas situações são citadas. A alcalose
respiratória é uma das causas apontadas (VINCENEUX, 1979; HOPPE et al., 1982;
BRAUTBAR et al., 1983; BAKER, 1985; WEISINGER e BELLORIN-FONT, 1998).
Porém, uma marcante hipofosfatemia tem sido vista somente quando a hiperventilação está
associada à administração endovenosa de glicose (MOSTELLAR e TUTTLE, 1964;
BRAUTBAR et al., 1983). O desvio do fosfato do sangue para dentro da célula é atribuído
a dois mecanismos: primeiro, ao aumento da atividade glicolítica, em resposta ao aumento
do pH intracelular induzido pela alcalose respiratória. Em segundo lugar, a uma elevação
do nível sangüíneo de insulina, pela infusão de glicose, que promove uma migração de
fósforo para dentro da célula (BRAUTBAR et al., 1983). Recentemente, em voluntários
sadios, têm-se demonstrado que quanto maior o tempo de hiperventilação (STAUBLI et al.,
1985), ou quanto mais profunda a hipocapnia, maior é a queda do fosfato inorgânico sérico,
principalmente quando associado à infusão de glicose (PALEOLOGOS et al., 2000).
HOPPE et al. (1982) observaram que, no rim, a resposta para a alcalose respiratória
consiste num aumento da reabsorção do fosfato independente da sua concentração no
plasma. Ou seja, a alcalose reduz a excreção urinária do fosfato. Em pacientes com TCE
grave, PAS’KO E VOLOSHENIUK (1990) demonstraram que o Pi sérico foi mais baixo
em pacientes com hipocapnia. A hipofosfatemia nesses pacientes também foi atribuída à
reposição insuficiente de fosfato na nutrição parenteral, assim como à perda de fosfato na
urina.
Discussão
105
O uso de diuréticos leva a um aumento da excreção renal de fosfato, podendo
levar à moderada hipofosfatemia (KNOCHEL, 1977; VINCENAUX, 1979). Esse efeito,
causado por um diurético osmótico como o manitol, é polêmico (MAESAKA et al., 1976;
VINCENAUX, 1979; DONHOWE et al., 1981). KING et al. (1971) analisaram as perdas
urinárias de eletrólitos em pacientes com TCE grave e observaram que a excreção de
fosfato é maior no primeiro dia após o trauma, com uma redução notável nos dias
seguintes, não havendo correlação entre a perda de Pi e o volume urinário. PAS’KO e
VOLOSHENIUK (1990) relataram grandes perdas de fosfato na urina em pacientes com
TCE grave, mas não fizeram correlação deste com o débito urinário. POLDERMAN et al.
(2000) apontaram a poliúria como causa da hipofosfatemia em seus pacientes, devido ao
uso de manitol, porém eles não mediram o fosfato urinário.
A expansão volêmica também é citada na literatura como fator que induz a
redução do Pi sérico por aumentar a sua excreção renal (KNOCHEL, 1977; VINCENEUX,
1979; WEISINGER e BELLORIN-FONT, 1998). A sepse também é outra causa bem
descrita na literatura como desencadeadora da hipofosfatemia, à qual foi atribuída maior
risco de óbito (BOLLAERT et al., 1995; BARAK et al., 1998).
A análise preliminar de alguns dados deste projeto (TORRES et al., 2002)
revela que em 14 pacientes com TCE grave houve uma correlação inversa entre o pH e o Pi
sérico. Porém, outros fatores, como a quantidade de manitol administrada, o balanço
hídrico, um período de jejum superior a 48 horas e a sepse, não apresentaram correlação
com os níveis de Pi sérico. O único fator que ficou evidenciado como desencadeador da
hipofosfatemia nesses pacientes foi a hiperventilação associada à infusão de glicose, já que
todos haviam recebido solução isotônica glicosada. Também foi observado nesse mesmo
estudo (TORRES et al., 2002) que o Pi sérico foi significantemente mais baixo no grupo
que faleceu quando comparado com os sobreviventes.
Em outro estudo realizado em um laboratório verificou-se a correlação entre a
SO2 e a PO2 em 11.723 amostras de sangue arterial e de sangue venoso de pacientes
internados no HC da Unicamp (TORRES et al, 2001a). Os resultados da correlação entre
essas duas variáveis resultou na figura apresentada a seguir (Figura 22).
Discussão
106
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 2200 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 2200
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Correlação de 11723 gasometrias
Pressão parcial de oxigênio (mmHg)
P50 = 27,06 mmHg
Sat
uraç
ão d
a he
mog
lobi
na
por h
emo-
oxim
etria
(%)
Figura 22 - Correlação entre a PO2 e a SO2 medida pelo hemo-oxímetro do equipamento
ABL-700
Uma curva polinomial foi ajustada aos dados obtendo-se a curva de dissociação da
hemoglobina média para todos os pacientes. A P50 in vivo foi de aproximadamente
27,06mmHg, muito próxima do normal. Como se tratava de pacientes internados que
realizaram as gasometrias por algum fator relacionado com a doença de base, a dispersão dos
dados em torno da curva média é explicada pela influência do pH, da PCO2 e da
temperatura. Para avaliar a possível influência de outros fatores que não o pH, a PCO2 e a
temperatura do paciente, na determinação do deslocamento da curva de dissociação da
hemoglobina em pacientes internados, foram realizadas gasometrias e hemo-oximetrias de
3.107 amostras de sangue arterial coletadas de outubro de 1997 a novembro de 1998
Discussão
107
(TORRES et al., 2001b). A SO2, além de medida por hemo-oximetria, também foi
calculada pela equação de Kelman (KELMAN, 1966; TERZI et al., 1974). A correlação
entre a saturação medida e a calculada foi boa (R = 0,97719). Entretanto, alguns dados
individuais apresentaram significativa dispersão, principalmente nos níveis mais baixos de
saturação do sangue. Foi observado que nos níveis mais elevados de PCO2 havia uma maior
diferença entre as duas variáveis. Assim, enquanto para amostras de sangue com PCO2
entre 30 e 50mmHg a diferença entre a saturação medida e calculada (∆SaO2) era de – 0,66
± 1,62%, com PCO2 acima de 80mmHg ela passava para 9,26 ± 1,0% (Figura 23).
Figura 23 - Correlação entre a saturação da hemoglobina calculada e a saturação da
hemoglobina medida por hemo-oximetria pelo equipamento ABL-700
0 20 40 60 80 1000
20
40
60
80
100R = 0,97719n = 3107
Sat, medida (%)
Sat.
calc
ulad
a (%
)
Discussão
108
Em pacientes críticos, nem sempre a saturação calculada a partir da PO2,
corrigida para valores de pH, PCO2 e temperatura do paciente expressa a real saturação da
hemoglobina. Outros fatores não evidentes, como alterações nos níveis sangüíneos de
2,3-DPG, podem estar atuando como mecanismos primários ou como resposta
compensadora do sangue, facilitando ou dificultando o transporte de O2.
Há evidência na literatura de que o cálculo da saturação da hemoglobina a partir
da PO2 no sangue pode ser significativamente diferente da saturação da hemoglobina
diretamente medida por hemo-oximetria. JOHNSON et al. (1993) observaram que a
discrepância entre essas variáveis exibiu limites de concordância (média ± 2DP) de -2,26%
para +0,70% para amostras de sangue arterial e de -5,52% a +4,96% para as amostras
venosas correspondentes. Da mesma forma, CIESLINSKI et al. (1995) verificaram que as
saturações calculadas eram mais elevadas que as diretamente medidas, a diferença média
estando ao redor de 5,9% (± 8,03%), com limites entre -10,4 e +37%. Também
confirmaram que as diferenças eram mais acentuadas nos níveis de saturação inferiores a
65%. Os dados dos pacientes do presente estudo revelaram uma diferença média mais
modesta entre a saturação medida e calculada, de -0,3% ± 2,3%. Porém, os valores
extremos dessa diferença se situaram entre -6,2 e +5,7% e, quanto mais baixa a saturação,
maior foi a diferença entre as variáveis (Figura 18). Dada a peculiar configuração da curva
de dissociação da hemoglobina, os valores das diferenças de saturação são maiores onde a
curva é verticalizada, correspondendo a saturações mais baixas.
Também BREUER et al. (1984) concluíram que diferenças significativas nas
medidas e cálculos da saturação de hemoglobina ocorrem principalmente em baixos níveis
de saturação, pois, a despeito de uma aceitável correlação, existem discrepâncias
individuais. Como conseqüência, os dados de consumo e extração de oxigênio sistêmico
pelo princípio de Fick têm sido criticados quando são utilizados valores de saturação da
hemoglobina calculada e não medida diretamente (CIESLINSKI et al, 1995; MYBURGH,
1992; NIERMAN e SCHECHTER, 1994). O efeito da variação da saturação da
hemoglobina se reflete em variações de até -43,2 a 36,0 ml/min no consumo sistêmico de
oxigênio, segundo JOHNSON et al. (1993). MYBURGH (1992) observou que o consumo
médio de oxigênio (VO2) obtido pelo método Fick utilizando a saturação calculada foi
Discussão
109
significativamente maior que o medido por calorimetria indireta ou o calculado pelo
método de Fick utilizando a saturação medida. A correlação foi pobre e limites amplos de
correlação (-118 a +350ml/min) ficaram demonstrados. NIERMAN e SCHECHTER (1994)
também concluíram que, se necessário o cálculo do consumo de oxigênio sistêmico, a
saturação da hemoglobina deve ser diretamente medida. Embora não existam estudos
comparando extração cerebral de oxigênio em pacientes com TCE grave, é possível inferir
que as mesmas considerações aplicadas ao consumo e extração de oxigênio sistêmico,
como relatadas na literatura, se apliquem à extração cerebral de oxigênio.
No presente estudo houve uma diferença significativa entre a ECO2m e a
ECO2c, de 1,2 ± 3,1%. Os valores extremos do ∆ECO2 foram -6,2 e +6,9 pontos
percentuais. Houve boa correlação (R = 0,90) entre o ∆ECO2 e a variação da p50st, que,
nesta casuística, variou da 22,60 a 30,47mmHg. Pela reta de regressão, a um ∆ECO2 de
zero corresponde uma p50st de 26,76mmHg, isto é, uma p50 considerada normal
(Figura 21). Essa alta correlação entre o ∆ECO2 e a P50st pode representar uma relação
matemática entre os algoritmos. Houve também uma correlação positiva entre a
concentração do 2,3-DPG/Hct e o ∆ECO2, confirmando que um dos fatores responsáveis
pela diferença entre a saturação medida e a calculada é a concentração do 2,3-DPG nos
eritrócitos Figura 20). Portanto, torna-se imperativo o uso de saturação de hemoglobina
medida diretamente por hemo-oximetria quando do cálculo da extração cerebral de
oxigênio.
Efetivamente, as variações da concentração do 2,3-DPG/Hct que ocorreram
nesta casuística tiveram uma expressão fisiológica manifesta no correspondente
deslocamento da curva de dissociação da hemoglobina, expressos tanto pela P50st como
pelo ∆ECO2. Entretanto, não foi possível associar um aumento progressivo da concentração
do 2,3-DP/Hct no curso do tratamento à suposta hiperventilação terapêutica. Decorre que,
apesar das médias diárias de todos os pacientes apontarem para uma alcalose respiratória
(pH elevado e PCO2 baixo), essa alcalose não foi sustentada de forma permanente durante
todo o período de estudo, o que pode ser comprovado pelas variações diárias desses
parâmetros expressos pelas magnitudes de seus desvios-padrão. Contudo, foi possível
demonstrar neste trabalho uma correlação entre as variações do pH e as correspondentes
Discussão
110
medidas da concentração do 2,3-DPG/Hct. Quanto maior o pH maior o nível de
2,3-DPG/Hct. Esse mecanismo de adaptação a uma variação flutuante de pH do sangue foi,
provavelmente, o fator mais importante no aumento não sustentado do 2,3-DPG/Hct
associado à ventilação otimizada. A transfusão de sangue e a hipofosfatemia também
contribuíram para que a concentração do 2,3-DPG/Hct não se elevasse de forma sustentada
durante os seis dias de avaliação.
A despeito de não ter sido demonstrado o aumento progressivo da concentração
do 2,3-DPG/Hct pelos motivos apresentados, foi possível demonstrar uma grande variação
da concentração do 2,3-DPG/Hct nos dados individuais colhidos nestes pacientes com TCE
grave. Essas variações na concentração do 2,3-DPG/Hct (baixo e alto) se correlacionaram
com a P50st (p<0,05). Essa correlação com a posição instantânea da curva de dissociação
da hemoglobina atesta a confiabilidade das medidas da concentração do 2,3-DPG/Hct.
Igual correlação foi obtida com a medida do ∆ECO2, uma variável análoga à P50st.
A importância desta observação não pode ser subestimada. Variações temporais
da concentração do 2,3-DPG/Hct influem na posição da curva de dissociação de
hemoglobina e, conseqüentemente, no cálculo da ECO2. Quando a saturação da
hemoglobina é calculada a partir da PO2 e ajustada de acordo com o pH, a PCO2 e a
temperatura do paciente, assume-se que a concentração do 2,3-DPG/Hct e a P50st sejam
normais. Isso não se mostrou verídico, pois, neste trabalho, tanto a concentração do
2,3-DPG/Hct como a P50 variaram de 2,7 a 7,1µmol/ml e de 22,60 a 30,47mmHg,
respectivamente.
Por esse motivo, o ∆ECO2 variou de -6,2 a 6,9 %. Como a ECO2 é uma
variável utilizada no protocolo terapêutico do TCE com hipertensão intracraniana para
ajustar a ventilação mecânica do paciente, é importante que a ECO2 seja um dado fiel da
real extração cerebral do oxigênio. Na hipótese de estar a ECO2c dentro de valores
considerados seguros (24-42%), porém estando, a real saturação fora desses limites,
condutas clínicas inadequadas poderão ser tomadas. Por exemplo, uma ECO2c de 39% e
uma ECO2m de 45%. Neste caso, se o terapeuta estiver se baseando pela ECO2c, nenhuma
medida necessitaria ser tomada. Contudo, com a ECO2m de 45%, uma real situação de
Discussão
111
isquemia cerebral poderia estar ocorrendo, indicando ao terapeuta a imediata redução do
volume minuto do ventilador.
Conclui-se, portanto, que para o cálculo da ECO2 deva sempre ser empregada a
saturação da hemoglobina medida por hemo-oximetria, tanto no sangue venoso como no
sangue arterial. A não observância desse princípio poderá determinar um valor da ECO2
incorreta, por não levar em consideração as variações da concentração do 2,3-DPG/Hct e da
P50st, como ficou demonstrado neste trabalho.
113
6- CONCLUSÕES
Conclusões
115
Embora não pudesse ser demonstrado um aumento sistemático do 2,3-DPG,
associado ao tempo de hiperventilação, houve variações individuais da concentração do
2,3-DPG/Hct associadas aos níveis de pH e de PaCO2 assim como a outros fatores, tais
como a hipofosfatemia e a transfusão de sangue. As variações da concentração do
2,3-DPG/Hct interferem na saturação da hemoglobina calculada e, conseqüentemente, no
cálculo da extração cerebral de oxigênio.
117
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133
8- APÊNDICES
Apêndices
135
Apêndice 1 – Tabela grupo-controle SO2 m, saturação medida, SO2c saturação calculada, ∆Sat, diferença
entre saturação medida e saturação calculada; Pi, fofato inorgânico
Idade SO2 m SO2c ∆ Sat Pi 2,3-DPG p50(st)
1 23 53,9 51,6 2,3 3,3 4,3 26,1
2 32 44,8 39,8 5 2,5 4,8 25,1
3 24 70,6 68,7 1,9 2,8 4,4 26,1
4 24 40,8 40,9 -0,1 2,7 5,2 27,2
5 28 54,3 52,9 1,4 3 5,8 26,5
6 43 57,3 57,3 0 2,6 5,4 27,0
7 25 38,6 35,9 2,7 4,1 4,0 26,0
8 25 51,7 49,1 2,6 3,6 4,5 26,0
9 27 59,2 56,9 2,3 3,4 4,9 26,1
10 32 60,2 53,7 6,5 3,5 3,2 24,5
11 23 24,2 23,8 0,4 3,9 5,0 27,0
12 25 26,1 26,4 -0,3 2,8 4,5 27,4
13 29 23 21,3 1,7 3,2 5,1 26,3
14 22 68,5 68,5 0 2,7 4,3 25,8
15 22 27,5 25,4 2,1 3,7 5,2 26,1
16 37 15,9 14,3 1,6 2,9 5,3 26,1
17 22 50 47,3 2,7 2,9 3,1 26,0
18 24 19,4 18,1 1,3 3,9 3,0 26,5
19 28 21,1 16,9 4,2 2,9 4,5 24,6
20 30 16,7 13,9 2,8 3,2 4,0 25,1
21 41 67,5 66,4 1,1 2,9 4,2 26,7
22 23 57,9 56,1 1,8 2,8 4,8 26,5
23 34 68,7 69,4 -0,7 2,9 5,8 27,6
24 34 80,2 77,9 2,3 3,2 5,1 25,7
25 30 61,8 61,4 0,4 2,5 4,6 27,0
26 38 65,1 62,4 2,7 3,2 5,2 25,9
27 25 78,4 75,3 3,1 4,1 4,6 27,4
28 40 44,0 43,1 0,9 2,8 4,8 26,1
29 40 25,6 19,2 6,4 3,1 4,1 23,6
30 33 30,5 29,9 0,6 2,6 4,1 25,5
31 31 39,6 39,1 0,5 3,4 4,6 26,5
32 25 39,8 38,9 0,9 3,0 4,5 26,7
33 37 31,7 31,5 0,2 2,9 4,4 27,2
34 22 54,6 55,1 -0,5 3,9 4,4 27,4
35 37 18,2 15,5 2,7 2,3 4,7 25,5
36 42 52,3 53,6 -1,3 3,6 5,7 27,7
Apêndices
136
37 37 35,0 31,0 4 3,0 4,2 25,5
38 21 27,8 25,9 1,9 3,1 4,6 27,3
39 23 45,0 43,5 1,5 3,6 4,8 27,7
40 37 23,1 24,2 -1,1 3,3 5,3 27,8
Média 30 44,3 42,6 1,7 3,15 4,6 26,3
DP 6,8 18,5 18,7 1,8 0,46 0,7 1,0
Apêndices
137
Apêndice 2 – P50st do sangue venoso de cada paciente antes de cada medida do 2,3-DPG
* Valor não processado por erro de coleta.
Tempos
1 2 3 4 5 6
Paciente 1 28,41 27,58 28,09 28,84 28,86 29,49
Paciente 2 22,60 26,80 25,02 24,98 24,51 26,84
Paciente 3 29,58 29,49 27,41 27,59 27,50 27,49
Paciente 4 27,50 27,05 26,18 26,90 * *
Paciente 5 27,80 28,08 27,76 26,46 23,99 25,37
Paciente 6 * * 29,16 27,59 29,37 30,47
Paciente 7 * 24,45 26,73 27,65 27,53 29,13
Paciente 8 27,84 25,27 25,93 26,35 26,90 27,51
Paciente 9 25,99 27,35 27,60 27,44 28,18 27,90
Paciente 10 25,92 24,68 27,11 26,74 27,14 28,33
Paciente 11 26 27,93 28,67 29,04 29,16 29,37
Média 26,75 27,05 27,26 27,17 27,5 27,9
DP 2,02 1,61 1,22 1,15 1,82 1,49
Apêndices
138
Apêndice 3 – Média e desvio-padrão das alterações da pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial de
cada paciente antes de cada medida do 2,3-DPG
Tempos
1 2 3 4 5 6
Paciente 1 35,7 ±3,5 35,1 ±2,1 29,8 ±5,4 25,7 ±3,0 28,7 ±3,2 27,2 ±5,1
Paciente 2 28,3 ±1,7 26,8 ±2,6 27,6 ±5,7 29,3 ±0,9 34,9 ±4,2 34,7 ±5,5
Paciente 3 27,0 30,2 ±2,9 32,0 ±1,6 29,5 ±1,0 31,0 ±2,7 32,6 ±3,5
Paciente 4 36,0 ±5,5 35,7 ±3,8 35,6 ±6,5 31,6 ±2,3 28,6 ±1,9 29,4 ±2,3
Paciente 5 34,8 ±7,1 33,4 ±7,2 26,6 ±0,9 30,7 ±3,0 42,0 ±14,5 39,8 ±7,0
Paciente 6 36,0 ±3,9 25,6 ±4,8 26,7 ±4,0 26,3 ±0,2 29,4 ±2,4 30,3 ±2,5
Paciente 7 28,9 30,4 ±4,9 32,4 ±5,3 29,4 ±5,6 30,5 ±2,5 31,7 ±4,9
Paciente 8 28,4 ±4,2 32,6 ±3,9 35,6 ±3,9 41,2 ±6,6 34,7 ±2,8 36,3 ±3,1
Paciente 9 27,0 ±6,3 30,5 ±4,6 28,0 ±5,0 30,1 ±8,2 29,2 ±6,5 28,8 ±5,9
Paciente 10 59,7 46,0 ±9,9 31,1 ±7,6 30,5 ±2,0 34,7 ±4,9 32,4 ±3,3
Paciente 11 34,4 ±2,5 32,0 ±2,3 31,4 ±2,8 31,9 ±2,3 32,8 ±2,8 35,4 ±3,5
Média 34,4 32,0 31,1 30,1 31,0 32,4
Apêndices
139
Apêndice 4 – Média e desvio-padrão das alterações do pH no sangue arterial de cada paciente antes de cada
medida do 2,3-DPG
Tempos
1 2 3 4 5 6
Paciente 1 7,45 ±0,03 7,47 ±0,02 7,52 ±0,04 7,54 ±0,03 7,50 ±0,03 7,50 ±0,06
Paciente 2 7,43 ±0,06 7,50 ±0,05 7,44 ±0,09 7,41 ±0,03 7,40 ±0,05 7,45 ±0,07
Paciente 3 7,54 7,50 ±0,04 7,45 ±0,01 7,47 ±0,01 7,47 ±0,01 7,46 ±0,03
Paciente 4 7,42 ±0,03 7,46 ±0,05 7,48 ±0,06 7,50 ±0,03 7,50 ±0,02 7,49 ±0,02
Paciente 5 7,45 ±0,06 7,47 ±0,07 7,52 ±0,03 7,47 ±0,02 7,35 ±0,11 7,35 ±0,07
Paciente 6 7,32 ±0,04 7,47 ±0,10 7,47 ±0,05 7,48 ±0,00 7,44 ±0,02 7,43 ±0,03
Paciente 7 7,38 7,39 ±0,01 7,44 ±0,07 7,48 ±0,06 7,48 ±0,04 7,43 ±0,05
Paciente 8 7,48 ±0,05 7,52 ±0,15 7,49 ±0,16 7,38 ±0,07 7,45 ±0,02 7,42 ±0,03
Paciente 9 7,52 ±0,07 7,48 ±0,05 7,50 ±0,06 7,48 ±0,09 7,46 ±0,03 7,45 ±0,03
Paciente 10 7,22 7,32 ±0,08 7,47 ±0,05 7,47 ±0,03 7,45 ±0,04 7,48 ±0,02
Paciente 11 7,45 ±0,01 7,46 ±0,02 7,47 ±0,03 7,47 ±0,03 7,47 ±0,03 7,45 ±0,02
Média 7,44 7,47 7,47 7,47 7,46 7,45
Apêndices
140
Apêndice 5 – Média e desvio-padrão das alterações da diferença de base no sangue arterial de cada paciente
antes de cada medida do 2,3-DPG
Tempos
1 2 3 4 5 6
Paciente 1 1,6 0,1 2,0 0,4 1,9 1,4 0,5 0,6 -0,1 0,3 -1,1 1,3
Paciente 2 -4,5 3,2 -1,5 2,5 -4,9 2,2 -5,3 1,2 -2,5 1,8 0,3 1,8
Paciente 3 2,2 1,3 1,3 -0,9 0,6 -1,1 0,6 -0,4 1,1 0,1 1,6
Paciente 4 -0,9 3,5 1,7 1,3 0,1 0,3 0,1 0,4 -0,2 1,1 0,1 0,8
Paciente 5 0,9 0,7 1,1 0,8 0,4 1,6 -0,4 0,9 -0,4 2,6 -2,1 4,8
Paciente 6 -8,1 3,8 -4,8 6,0 -3,3 0,4 -3,3 0,3 -3,0 0,7 -3,4 0,7
Paciente 7 -5,9 -5,7 1,8 -1,9 1,5 -0,9 1,2 0,0 1,0 -2,7 1,0
Paciente 8 -1,1 0,5 -0,9 0,5 -1,0 0,9 -1,2 1,8 0,6 0,7 -0,6 0,5
Paciente 9 -0,3 0,5 -0,2 0,5 -0,5 0,9 -0,6 1,1 -2,4 3,5 -3,4 2,9
Paciente 10 -5,1 -3,1 1,5 -0,4 3,7 -0,7 1,0 0,5 0,9 1,1 0,9
Paciente 11 0,3 0,6 -0,1 0,5 0,2 0,4 0,2 1,2 1,0 0,8 1,1 0,9
Média -1,9 -0,9 -0,9 -1,2 -0,6 -1,0
Apêndices
141
Apêndice 6 – Valores da saturação arterial da hemoglobina medida (SaO2m) e calculada (SaO2c), da
saturação venosa jugular da hemoglobina medida (SjO2m) e calculada (SjO2c), extração
cerebral de oxigênio obtida das saturações medidas (ECO2m) e calculadas (ECO2c) e a
diferença entre as extrações (∆ECO2). Os valores estão dispostos do primeiro (P1) ao décimo
primeiro paciente (P11), do tempo um a seis.
Paciente SaO2m SjO2m ECO2m SaO2c SjO2c ECO2c DeltaECO2
P1 99,1 65,9 33,2 99,1 69,5 29,6 3,6
P1 99,6 67,7 31,9 99,4 69,6 29,8 2,1
P1 99,6 64,4 35,2 99,2 67,4 31,8 3,4
P1 99,7 64,6 35,1 99,5 68,6 30,9 4,2
P1 99,3 66,2 33,1 99,3 70,5 28,8 4,3
P1 99,8 62 37,8 99 68,1 30,9 6,9
P2 98,4 80,2 18,2 99,5 75,1 24,4 -6,2
P2 99,6 65,9 33,7 99 66,4 32,6 1,1
P2 99,9 77,6 22,3 99,7 73,9 25,8 -3,5
P2 99,5 78,4 21,1 98,9 74,8 24,1 -3
P2 98,5 75,3 23,2 97 70,3 26,7 -3,5
P2 99,6 72,9 26,7 99,3 72,3 27 -0,3
P3 95,8 59,3 36,5 96,1 65,3 30,8 5,7
P3 99,7 69 30,7 99,7 73,8 25,9 4,8
P3 99,3 70,9 28,4 99,2 71,7 27,5 0,9
P3 98 71,1 26,9 97,6 72,3 25,3 1,6
P3 99 64,3 34,7 98,8 65,4 33,4 1,3
P3 98,9 73,1 25,8 98,5 74 24,5 1,3
P4 98,8 72,8 26 98,6 72,8 25,8 0,2
P4 99,1 64,9 34,2 98,9 65,7 33,2 1
P4 94 73,9 20,1 93 73,6 19,4 0,7
P4 99,5 86,7 12,8 99,4 85,6 13,8 -1
P4 * * * * * * * P4 * * * * * * * P5 99,2 57,9 41,3 98,6 58,5 40,1 1,2
P5 99,4 55,7 43,7 99 58,5 40,5 3,2
P5 98,8 65 33,8 98,5 66,8 31,7 2,1
P5 95,9 69,4 26,5 95,3 68,6 26,7 -0,2
P5 99,5 90,6 8,9 99,4 87,9 11,5 -2,6
P5 99,3 88,8 10,5 99,2 87,3 11,9 -1,4
P6 * * * * * * * P6 * * * * * * * P6 99,3 80,6 18,7 97,4 83,6 13,8 4,9
P6 96,2 72 24,2 97,8 76,6 21,2 3
P6 98,3 84 14,3 96,8 86,8 10 4,3
P6 96,4 73,8 22,6 96,6 80 16,6 6
P7 * * * * * * * P7 99,2 91,9 7,3 98,6 90,4 8,2 -0,9
P7 99,5 89,2 10,3 99,2 88 11,2 -0,9
P7 97,9 84,4 13,5 97,5 83,9 13,6 -0,1
Apêndices
142
P7 96,8 79,6 17,2 96,4 80,9 15,5 1,7
P7 98,6 75 23,6 98,6 78,3 20,3 3,3
P8 97,2 59,7 37,5 96,3 62,5 33,8 3,7
P8 97,8 57,5 40,3 96,3 53,6 42,7 -2,4
P8 99,5 77,8 21,7 99,1 76,1 23 -1,3
P8 99,8 60,9 38,9 99,6 59,7 39,9 -1
P8 99 56,2 42,8 98,5 55,3 43,2 -0,4
P8 98,6 62,7 35,9 98,3 64,1 34,2 1,7
P9 99,5 89,2 10,3 99,1 84,3 14,8 -4,5
P9 99,1 73,6 25,5 98,5 74,4 24,1 1,4
P9 99,4 53,4 46 98,9 57,8 41,1 4,9
P9 99,7 52,6 47,1 99,4 54,1 45,3 1,8
P9 99,5 60 39,5 99,4 63,1 36,3 3,2
P9 99,7 76,5 23,2 99,5 78,3 21,2 2
P10 99,4 64,6 34,8 99,3 60,6 38,7 -3,9
P10 97,3 58,7 38,6 96,7 53 43,7 -5,1
P10 99,4 57,3 42,1 99,2 57,7 41,5 0,6
P10 99,2 56,9 42,3 99 56,5 42,5 -0,2
P10 99,5 72,2 27,3 99,4 72,3 27,1 0,2
P10 98,7 60,6 38,1 98,5 63,9 34,6 3,5
P11 97,8 68,9 28,9 99 66,8 32,2 -3,3
P11 99,1 52 47,1 98,5 55,1 43,4 3,7
P11 99,1 54,2 44,9 98,6 57,3 41,3 3,6
P11 99,2 60,7 38,5 98,7 65,4 33,3 5,2
P11 99,7 46,4 53,3 99,2 51,8 47,4 5,9
P11 99 51,2 47,8 98,3 57,1 41,2 6,6 Continuação do apêndice 6 * Valor não processado por erro de coleta.
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