UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DGE - UFV
Banco de materiais como subsidio a aplicação
de aulas práticas de Geografia na Escola
Estadual Capitão Arnaldo Dias de Andrade,
Cajuri – MG.
Viçosa, 05 de julho de 2010.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E CULTURA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA - PIBEX
Banco de Materiais
(Escola Estadual Capitão Arnaldo Dias de Andrade).
Banco de Materiais apresentada à Escola
Estadual Capitão Arnaldo Dias de Andrade,
como uma das exigências do Projeto de Extensão: CO-FORMAÇÃO DE
PROFESSORES E O ENSINO DE
GEOGRAFIA NO CAMPO(US). Acadêmico:
Maurílio de Amaral Silva. Orientadora: Ulysses da Cunha Baggio.
Viçosa, 05 de julho de 2010.
Sumário:
1. Apresentação....................................................................................................................
2. A leitura da paisagem como subsídio ao ensino de Geografia nas escolas..................
3. Objetivos.................................................................................................................... .......
4. Metodologia.......................................................................................................................
5. Temas abordados em Aula..............................................................................................
5.1 Relação Homem – Meio.....................................................................................................
5.1.2 Aula de Campo na Pequena Central Hidreletrica..............................................
5.3 Hidrografia.........................................................................................................................
5.4 Tipos de rochas e formação do solo........................................................................
5.5 Como é o relevo em nossa cidade...........................................................................
6. Educação Ambiental............................................................................................. ..........
Exercícios propostos de Educação Ambiental..................................................................
7. Anexos....................................................................................................................
Apresentação:
Atualmente o professor recebe uma cobrança progressiva pela inserção de métodos
significativos de ensino, no intuito de formar alunos conscientes e detentores do conhecimento a
par dos conteúdos propostos pelos CBC`s e Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, no
entanto, o mesmo não possui elementos didáticos, além dos usuais1, que os propiciem
disponibilizar esse aprendizado ao aluno.
Certamente há um impasse entre aquilo que se denomina Geografia e as práticas de
ensino que são utilizadas nas escolas, pois, se a ciência em questão tem como objeto de estudo o
espaço, o mínimo que se espera é que o aluno tenha compreensão senão do todo, pelo menos do
espaço à sua volta, e, as aulas de campo se configuram como elemento-base para o estudo do
lugar, quando considera entre outros, relações de afetividade entre o indivíduo e seu espaço
(LEITE, 1998, p.9).
Em virtude do imediatismo e da sobrecarga de funções atreladas à prática docente na
atualidade, o material proposto se resume em um conteúdo que reúne informações do entorno da
Escola Estadual Capitão Arnaldo Dias de Andrade, que, sistematizadas e organizadas podem
auxiliar os professores no desenvolvimento de aulas práticas da disciplina de Geografia, e
outras.
O desenvolvimento das aulas práticas, bem como o desenvolvimento desse Banco de
Materiais, pode colaborar no processo de formação de uma consciência espacial a nível local
por parte dos alunos, quando:
Espera-se, em uma prática de ensino mais dinâmica, que o aluno possa não só
dar significado, mas compreender o que está sendo ensinado. Optando por
uma metodologia de ensino que envolva o aluno na construção do
conhecimento, espera-se que ele estude a partir de situações do cotidiano e
relacione o conhecimento aprendido para analisar a realidade, que pode ser a
local ou a global (CASTELLAR e VILHENA, 2010)
A leitura da paisagem como subsídio ao ensino de Geografia nas escolas:
A Geografia, a saber, é uma ciência que estuda o espaço, seja humano ou natural. A
partir disso é importante que o professor ao efetuar a leitura da paisagem e o levantamento dos
1 Técnicas comuns à pratica docente, como quadro, livro didático, giz, e outros.
geoambientes potencialmente utilizáveis às aulas práticas que considere/utilize ambos os
espaços, naturais ou antrópicos. Sendo assim o professor estará utilizando da paisagem total, ou
integrada, de modo que a combinação dinâmica que a paisagem expressa seja mais bem
assimilada pelos alunos.
Essa relação é uma forma de superar a velha ordem de uma geografia dicotômica e
fragmentada, onde o professor trabalha de forma separada conceitos que são extremamente
relacionáveis, tais como: relevo e ocupação urbana; impermeabilização e hidrografia, dentre
outros. A necessidade de uma integração para um maior entendimento por parte dos alunos pode
ser percebida nas aferições de (Lopes, 2009, p. 4), onde:
Prioriza-se compreender a relação sociedade-natureza numa
perspectiva de integração, acentuando não somente os aspectos naturais em
detrimento dos sociais ou vice versa. Evitando-se assim, incorrer em erros
dicotômicos. Destarte, as relações dinâmicas entre os processos sociais e
naturais deve ser pautada [sic] numa perspectiva dinâmica, que envolva
relações dialéticas entre natureza, sociedade e estruturas sócio espaciais
temporalmente determinadas.
Esse material tem como objeto de estudo o espaço de entorno da Escola Estadual
Capitão Arnaldo Dias de Andrade (EECADA), situada no município de Cajuri-MG, que goza de
espaços naturais e modificados que apresentam grande potencial ao desenvolvimento de aulas
de campo, expressando em loco os conceitos discutidos em sala.
Figura 1: Localização da Escola Estadual Capitão Arnaldo Dias de Andrade
Objetivos:
A criação deste banco de materiais tem como objetivo propor aos professores de
geografia um material acessível e claro, que dê suporte para que possam aplicar aulas práticas
de Geografia, tendo como objeto de análise o próprio ambiente do entorno escolar. Para tanto
serão feitos levantamentos dos geoambientes propícios à essa prática disciplinar, bem como
alguns conceitos de Educação Ambiental que poderão ser abordados nas aulas práticas.
Nosso intuito com esse banco de materiais é relacionar teoria e prática no ensino da
Geografia, não desenvolvendo uma atitude de contentamento frente à aprendizagem tradicional,
que nem sempre é tão significativa para o aluno. Quando o professor utiliza de processos
pedagógicos que motivem a curiosidade, a criatividade, o pensamento crítico e o raciocínio do
aluno, o ensino é mais bem assimilado e aumenta a capacidade de abstração dos alunos.
Este material poderá ser utilizado de forma permanente durante o ano, ou mesmo para
uma consulta para representação de um determinado assunto em especifico.
Metodologia:
A organização desse banco deu-se a partir do planejamento escolar da Escola Estadual
Capitão Arnaldo Dias de Andrade para o ano de 2010, onde foi feito uma sistematização das
temáticas abordadas durante o ano letivo, e a partir de observações do entorno escolar buscou-se
elementos que demonstrassem na prática, ou em campo, aquilo que está sendo abordado durante
as aulas.
Indicadores Geoambientais do entorno da Escola Estadual Capitão Arnaldo Dias
de Andrade.
A cidade de Cajuri-Mg encontra-se na latitude 200 47``26 e longitude 42
0 47` 48``,
presente na folha SF-23-X-B-V-3. Limitando-se com os municípios de Viçosa, Ervália,
Coimbra, e São Miguel do Anta. A economia se baseia, em principal, pela atividade
agropecuária, sua população é estimada em torno de 4.106 habitantes, e área de
aproximadamente 83,6 Km2. (IBGE, 2010)
Levantamento Cartográfico:
A Escola Estadual Capitão Arnaldo Dias de Andrade se localiza no centro da cidade,
sendo que a poucos metros é possível perceber a conformação hídrica, vegetal, uso do solo,
entre outros. No entanto é preciso fazer uma leitura do ambiente, o que não se caracteriza como
uma tarefa das mais fáceis, pois o ambiente pode ser visualizado, mas nem sempre é percebido.
Primeiramente reunimos o máximo de informações cartográficas acessíveis da área e
previamente fizemos uma análise, dentre os materiais destacam-se:
- Carta topográfica na escala de 1:50.000;
- Imagens de satélites (Google Earth2, Ikonos
3, Landsat);
- Fotografias aéreas.
Com esses materiais é possível delimitar e inferir o que poderá ser visualizado em
campo e as temáticas que poderão ser exploradas, como a forma dos rios, o relevo próximo da
escola, o trajeto a ser percorrido, e outros. Esse material, se possível, deve ser impresso e
arquivado pelo professor para que o mesmo possa apresentar durante as aulas essas informações
circunscritas no mapa aos alunos.
Levantamento fotográfico:
Após o levantamento cartográfico e as primeiras aferições fomos a campo, e
registramos por meio de fotos ou vídeos elementos para compor o banco de materiais tais como:
- Perfis de solo (em geral cortes de estradas), variação de cor, erosão, taludeamentos, e demais;
- Vegetação, e se possível representar a relação homem-natureza (queimadas, roçagem,
plantações, e etc.);
- Formato do relevo (côncavos, convexos terraço), se possível relacionar o formato do relevo e o
tipo de solo,
- Rochas expostas, em virtude do embasamento que se encontra a cidade em questão, na maioria
das vezes são os gnaisses ou mesmo intrusões de diabásio.
- Uso e ocupação do solo, tanto na área rural quanto na urbana;
- Hidrografia, contemplar o formato dos rios e a relação que a população mantém com a bacia;
Localização dos espaços selecionados
Para uma melhor espacialização e organização das informações, de forma que possam
ser vistas em um mapa, facilitando a compreensão por parte do professor, criamos um mapa dos
pontos a serem visitados durante as aulas.
2 Essas imagens atendem de forma satisfatória uma primeira visualização do local, e podem ser facilmente adquiridas
através do programa Google Earth, no site: http://earth.google.com/intl/pt/. 3 As imagens Ikonos e Landsat podem ser conseguidas em prefeituras ou órgãos que trabalham com elementos de
geoprocessamento. No entanto, são imagens custeadas, o que nem sempre significam acessibilidade ao professor.
Alguns dos locais selecionados se orientaram a partir da proximidade com a escola, caso
o professor não tenha o transporte o mesmo não impeça que as aulas ocorram. Os locais podem
ser visualizados abaixo:
Figura 2: Locais propícios ao desenvolvimento das aulas práticas.
Relação Homem – Meio:
Esse tema de acordo com o planejamento escolar, é abordado nos 60 8
0 e 1
0 ano.
Podendo o professor utilizar os mesmos ambientes alterando apenas a linguagem, ou mesmo
adicionando conteúdos de acordo com a serie trabalhada.
Após a realização da aula que aborda essa relação, podemos aplicar as aulas, em virtude
da proximidade aos locais selecionados para lecionar as aulas, o percurso pode ser feito a pé,
através do auxilio dos professores e colaboradores do projeto.
O primeiro local a ser ministrado o conteúdo é o cafezal próximo a estrada que dá
acesso ao sapé4, distante cerca de 500 metros da escola. Nesse espaço podemos perceber que a
ocupação e as culturas agrícolas se deram nas partes mais baixas, e com isso, abordar tipos de
relevo e sua relação com as praticas agrícolas. O local em questão pode ser visualizado na figura
abaixo:
4 Sapé: Vilarejo pertencente ao município de Cajuri-MG, próximo ao distrito de São José do Triunfo.
Acima temos diversos tipos de culturas e suas caracteristicas, o professor pode cultivo
do café é a principal atividade agricola, hoje, da região, seu cultivo se da em nivel o que diminui
os processos erosivos. Os processos de formação das cidades mineiras podem ser trabalhados a
partir da cultura do café, a combinação com a pecuária semeou diversas redes de vilas e
pequenas cidades distribuidas no território mineiro.
A pastagem na maioria das vezes se apresenta em locais de dificil implantação de
culturas perenes, como: feijão, café, milho, e outros. Essa utilizacao da terra agrícola acarreta
grande impacto ao meio ambiente, pois, em geral, é feita a remoção da vegetação nativa para a
formação dessas pastagens. Com isso, o solo fica descoberto aumentando a erosão, pois a
vegetação não mais atuara como obstáculo as gotas de chuvas. O gado promove grande
compactação ao solo pelo pisoteio, e, ao criar caminhos preferenciais, converge a água da chuva
a pontos específicos do terreno, aumentando assim, os processos erosivos.
Figura 3: Escola Estadual Capitão Arnaldo Dias de Andrade
O domínio no qual se insere a cidade de Cajuri – MG é denominado como Mares de
Morros5 (Ab`Saber, 1970), o embasamento rochoso é composto em sua maioria por rochas
cristalinas do Pré Cambriano6. A região foi formada sob clima seco e posteriormente um clima
úmido, o que contribuiu para o dissecamento do relevo, ou seja, a formação dos morros e
baixadas.
Os terraços como exemplificado abaixo, localizam-se nas partes baixas do relevo, em
geral são os espaços utilizados para habitação e plantio de algumas culturas perenes, tais como
milho, feijão, arroz e outros. A sua formação se deu a partir da deposição de materiais pré-
intemperizados, advindo de encostas a montante removidos pela força da gravidade, vento e
água.
5 Mares de Morros: apresentam paisagem típica com relevo forte ondulado e montanhoso. 6 Pré Cambriano: divisão do tempo geológico, desde a formação da terra (cerca de 4,5 bilhões de anos atrás) até o
início do período Cambriano da Era Paleozóica (cerca de 600 milhões de anos atrás).
Figura 4: Terraço
Dentre os principais fatores de desequilíbrio das encostas, temos as chuvas como as
principais, associadas a fortes declividades, solo, tipo de uso e outros, podem potencializar
fenômenos erosivos, como o descrito na figura abaixo. Importante que seja considerado é que a
encosta quando degradada será uma fornecedora de sedimentos que terão como destino o leito
dos rios, contribuindo com processos de assoreamento, picos de cheia, e em ambientes urbanos
podem contribuir com as inundações.
Processos Erosivos no solo:
Existem alguns fatores que controlam as taxas de erosão das encostas, sendo os
principais: propriedades do solo, erosividade da chuva e a cobertura vegetal. Aos solos as
propriedades que mais afetam a erosão são o teor de matéria orgânica que contribui para agregar
o solo, e a textura que é o tamanho das partículas, sendo que as muito pequenas – em virtude do
seu peso – e aquelas muito grandes - devido à sua menor capacidade de agregação - são levadas
com maior facilidade.
A cobertura é responsável pela proteção ao solo, portanto, mantê-lo coberto e, de
preferência com vegetação de maior porte, para interceptação das gotas da chuva é sempre o
mais recomendado. Devemos salientar que a intervenção humana pode retardar ou potencializar
os processos erosivos, tais como remoção da vegetação ou cortes nas estradas que podem expor
o solo. A encosta abaixo pode ser usada pelo professor para exemplificar a textura e o teor de
matéria orgânica, e se possível, com um pouco de solo apresentar a diferença textural no
mesmo.
Figura 5: Encosta degradada
Hidrografia:
O formato e a dinâmica dos rios é um tema que nos esclarece diversos outros conceitos
da Geografia enquadram-se nisso processos de sedimentação, tipos de rochas existentes, perfil
do uso que se faz na bacia, e outros.
O tema hidrografia é tratado nas escolas de forma desconexa e como elemento
constituinte do “meio natural e sociedade”, abordado nas propostas curriculares. No entanto, o
tema água é tido como central em tais propostas, e, o estudo das bacias hidrográficas adquire
grande importância, podendo de forma integrada trabalhar conceitos atuais, tais como:
preservação dos rios, alterações antrópicas, disponibilidade hídrica, dentre outros.
Os grandes rios sempre foram muito importantes às civilizações desde a antiguidade, a
agricultura, o saneamento, a piscicultura, são algumas das atividades humanas que dependem
desse recurso. Sendo assim praticas de conservação e relações menos impactantes são muito
importantes para a qualidade dos recursos hídricos, e devem ser a todo instante lembrados pelo
professor.
Próximo a fazenda “Nô da Silva” encontra-se de forma bastante visível a conformação
do meandro7 do Rio Turvo, nesse local com os alunos podemos fazer uma estratificação
hidromorfológica, ou seja, apresentar os compartimentos do relevo hídrico. Os principais
componentes da fisiografia hídrica são: leito menor que corresponde ao espaço do curso do rio;
leito maior que significa uma área de inundação sazonal, em épocas de cheias; os terraços são
7 Descrevem curvas sinuosas, harmoniosas e semelhantes entre si (Guerra e Cunha, 1996)
enquadrados como um espaço delimitado por dois flancos, um superior e inferior, em picos de
cheias podem ser submersos.
Figura 6: Meandro do rio Turvo
A maioria dos cursos hídricos da região estão organizados em canais meandrantes, que
são formados em áreas úmidas cobertas por vegetação ciliar8, e tem como característica uma
sinuosidade acentuada, pois o rio tenta encontrar as partes mais frágeis da rocha. Esses rios
drenam uma área que é conhecida como bacia de drenagem que depende do regime de
precipitações, solo, rocha, declividade e cobertura vegetal.
Os rios espelham de forma direta as atividades humanas presentes em seu curso, a
variação da qualidade da água, quantidade de sedimentos carreados, fauna aquática, poluição,
são alguns dos elementos que podem ser alterados a partir do mau uso do solo urbano e rural.
Nos últimos anos as atividades humanas estão alterando por sobremaneira as bacias de
drenagem da região, a antiga usina de Cajuri demonstra com bastante propriedade tais
influencias, como pode ser demonstrado abaixo:
8 Mata que cresce ao longo ou nos fundos de vales. Quando é preservada evita que a erosão do local acabe
por provocar um acentuado assoreamento nos cursos de água.
Figura 7: Pequena Central Hidrelétrica - Cajuri-MG
Como podemos perceber as culturas agrícolas e a falta de manutenção nas áreas de
entorno à lagoa, causam diversos impactos ao meio ambiente, tais como processos de
assoreamentos, eutrofização, poluição, diminuição do potencial paisagístico, dentre vários
outros.
Figura 8: Barragem da pequena central hidrelétrica de Cajuri-MG.
Nos textos de (Guerra e Cunha, XX apud Park, 1981), os autores ressaltam dois grupos
de mudanças fluviais induzidas pelo homem, as diretas que ocorrem incidentes no canal para
controlar sua vazão, tais como: criação de reservatório ou desvios; tem-se também as atividades
indiretas que resultam de ações fora da área dos canais, e estão ligadas a remoção da vegetação,
praticas agrícolas indevidas e urbanização.
A figura XX apresenta diversos impactos gerados a partir a construção da barragem, a
saber: assoreamentos, redução da vegetação, alteração da biota fluvial, erosão das margens e
deposição a jusante. É perceptível como a natureza vem “re-naturalizando” o reservatório, ou
seja, vegetando as margens e refazendo o canal, visto abaixo:
Figura 9: Processos de Eutrofização da Lagoa.
5.1.2 Aula de Campo na Pequena Central Hidrelétrica de Cajuri – MG
Objetivo Geral: Compreender as alterações humanas sobre a natureza e seus impactos,
demonstrar como o meio físico se restabelece nesses locais, apresentar a necessidade
atual de se preservar o meio, sobretudo nesses locais impactados com presença de
barragens.
Objetivo específico: A partir da relação direta com esse ambiente, os alunos poderão
perceber o potencial de alteração que algumas intervenções humanas podem acometer
ao meio ambiente, tais como: processos de assoreamento, eutrofização, alteração da
biota do rio, e outros.
Conteúdo: O Homem e o Meio.
Desenvolvimento metodológico:
Apontar para os alunos as alterações mais expressivas sobre a lagoa, como:
a retirada da vegetação para a criação do reservatório;
a vegetação crescendo sobre a lagoa;
aumento das doenças;
a impossibilidade dos peixes realizarem a piracema;
as culturas agrícolas nas proximidades da PCH, dentre outros;
perdas de heranças históricas e culturais, alterações em atividades econômicas e
usos tradicionais da terra;
Os impactos positivos na criação de uma PCH, o aumento do numero de
empregos; criação de renda e impostos para a cidade, e, sobretudo, a geração de energia
para o município.
A atividade proposta aos alunos se resume em pesquisas com a população local
buscando relatos da paisagem da usina em tempos anteriores, para uma compreensão da
magnitude das relações realizadas.
Materiais Utilizados:
Utilizaremos para a localização da bacia uma carta planialtimétrica do IBGE
para a evidenciação da Bacia e nos localizarmos. Usamos também um mapa do (IGAM,
1982) o mesmo contem informações da historia da cidade, aspectos físicos do relevo,
hidrografia e ate eventos políticos do município. Para uma melhor extração de
informações contidas no mapa utilizaremos um GPS (Global Positioning System).
Justificativa sobre o tema:
É vigente a necessidade de se preservar o meio ambiente, mas só conseguimos
almejar uma relação saudável com o mesmo, a partir do momento em que
compreendemos os processos vigentes de alteração do mesmo. A influência do homem
sobre a natureza tem na PCH9 de Cajuri-MG, um exemplo bastante notório, sendo assim
esse espaço dispõe de uma potencialidade pedagógica bastante próxima ao professor.
Atividade Proposta:
Pedir aos alunos que façam uma entrevista com moradores locais que
presenciaram a mudança natural ocorrida no espaço, a sala pode ser dividida em grupo,
que devem fomentar um mínimo de 10 questões, é aconselhável que o questionário não
9 Pequena Central Hidreletrica
seja dirigido para que os alunos tenham maior liberdade para criar as questões pautados na
discussão feita na aula. Com as questões em sala o professor pode suscitar uma discussão de
como se deu a dinâmica na Usina, certamente ocorrerá um dialogo na aula, tendo em vista que
os alunos possuem argumentos após conversas com moradores.
Um bom exercício de visualização da relação homem-meio pode ser feita próximo à
ponte que dá acesso ao distrito de Paraguai (Cajuri), onde é possível perceber que a população
descarta seus resíduos no rio, através do descarte de esgotos domésticos, lixo, e outros.
Visualiza-se também a ocupação desordenada nos fundos de vale e encostas, e mesmo a
remoção da vegetação ciliar desse curso.
A vegetação ciliar possui funções muito importantes que são desconhecidas pela
população, sendo assim o professor deve apresentá-las aos alunos para que possam atuar como
“vetores” de tais informações, e as transmitam aos mais próximos. De acordo com (Cunha e
Guerra apud Lima e Zakia, 2000) ao se preservar as matas ciliares garantimos a sua:
- função protetora (diminui a erosão das margens e seus impactos, permite uma maior infiltração
e recarga dos aqüíferos);
- influencia no manejo da água dentro da bacia, ao manter a água no sistema por mais tempo;
- evita o assoreamento do canal;
- reduz a chegada de produtos químicos; e
- mantém o fornecimento de alimentos a fauna local (aves e peixes).
Entendendo o solo:
O solo pode ser compreendido como um sistema trifasico, composto por minerais, agua
e/ou ar. Há também organismos,
Um perfil de solo pode se configurar como um elemento bastante didático que
possibilita a compreensão dos processos de formação dos solos, incluindo rochas magmáticas,
metamorficas e sedimentares. O solo é dividido por diversos horizontes: A, B, C e R, o primeiro
se caracteriza por apresentar coloração escura, em virtude da matéria orgânica, e mais
superficial; o horizonte B possui coloração amarelada pela presença do mineral Goethita
(FeOOH); abaixo tem-se o horizonte C muito profundo e de coloracoloração rósea graças a
presença da hematita (Fe2O3), dentre os horizontes, esse é mais susceptível à erosão; e por fim a
rocha em decomposição expressa na figura do horizonte R.
O entorno escolar apresenta diversas rochas expostas que possibilitam ao professor,
ministrar o processo de formação das mesmas e dos solos. Sabe-se que as rochas são divididas
em Igneas, Metamórficas e Sedimentares, e que os agentes de intemperismo são: o clima, os
organismos, o relevo, o tempo e o Material de Origem.
Figura 10: Processos de formação dos solos.
Proximo a ponte do sapé temos a exposição de um granito-gnaissico, com esfoliação
esferoidal10
, assemelha-se a uma cebola que vai descamando as suas partes externas. Esse
evento ocorre preferencialmente em climas umidos com maior disponibilidade de água, bem
como às rochas que apresentam minerais de cor escura, pois se dilatam mais e com isso exercem
uma força mecanica sobre as rochas e consequentemente auxiliam no processo de
intemperismo.
Figura 11: Saprolito apresentando esfoliação esferoidal
10 O intemperismo atuando de fora para dentro, provoca o surgimento de várias crostas em diversos graus
de alteração.
Figura 12: Ao fundo os veios de extração de calcário.
Como é o relevo em nossa cidade:
O relevo da cidade de Cajuri – MG como proposto por Ab’Saber é conhecido como
mares de morros, ou seja, bastante ondulado com drenagem bem definidas sempre convergindo
para as partes mais baixas. Conhecido também por “meias laranjas”, em virtude do seu
formato arredondado. O professor ao visitar os pontos propostos pode demonstrar essa variação
de altitude em campo, os locais a visitar na região do sapé podem expressar a variação de
altitude, assim:
Figura 13: Variação do relevo próximo ao sapé (Cajuri-Mg)
Educação Ambiental
Sabemos que os recursos naturais estão cada vez mais escassos, e que a racionalização
dos mesmos é cada vez mais importante, sobretudo no mundo consumista que vivemos hoje. A
partir da Lei no9795, de 27 de abril de 1999, decreta-se a Política Nacional de Educação
Ambiental, que se objetiva conscientizas a população sobre a importância de se preservar o
meio ambiente, delegando aos futuros um mundo ecologicamente mais equilibrado.
A definição da Educação Ambiental é dada no artigo em questão, como:
“os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial
à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
A Educação Ambiental é proposta para ser trabalhada nas escolas como um tema
transversal em todos os níveis de ensino11
, entretanto, os professores não recebem instruções ou
equipamentos suficientes para trabalhar essa temática. As aulas práticas de Geografia podem se
configurar como uma ferramenta importante no desenvolvimento da consciência ambiental por
parte dos alunos, pois há o contato direto com a natureza e suas alterações. Em campo os alunos
11
Ver (BRASIL. MEC. SEF, 1997, 1998a).
poderão presenciar os impactos ambientais que as práticas humanas podem realizar na paisagem
natural. A conscientização/relação do meio natural e social é uma das funções da Geografia
quando:
“o ensino de Geografia deve priorizar os momentos para análise da
(re)organização espacial, bem como as transformações concretas e visíveis
produzidas no meio ambiente, tais como crescimento acelerado,
desorganizado das cidades, ampliação das fronteiras agrícolas,
desmatamentos, enfim todas as modificações provocadas por uma sociedade
(Bernardes, 2004).
A Educação Ambiental deve ser utilizada para contribuir com a formação de cidadãos
conscientes e atuantes, a escola enquanto instituição de ensino deve proporcionar e motivar os
professores a desempenhar tais práticas.
Os locais selecionados na cidade de Cajuri-Mg apresentam grande potencial para
demonstrar os impactos humanos na natureza, sendo inseridos em cada temática listada acima,
além desse trabalho de demonstração dessas alterações antrópicas, deve também ser feito o
trabalho de conscientização dos alunos em sala.
Exercícios Propostos de Educação Ambiental:
Ao se trabalhar com os alunos os conteúdos de geografia, e, abordando as questões
ambientais, o professor poderá utilizar alguns exercícios que possibilite o estudante desenvolver
práticas criativas e diferentes das atuais, podendo com isso assimilar melhor o conteúdo além
importância de se preservar o meio ambiente.
Cabe ao professor ao trabalhar os conteúdos referentes à Educação Ambiental com os
alunos em campo, que mantenha nas aulas uma relação dialética com os alunos, possibilitando
que os mesmos possam externar e contribuir a partir das experiências vivenciadas pelo aluno em
seu local de estudo, moradia e trabalho, destacando-se assim a diversidade cultural presente em
todas as instituições de ensino, e, que por vezes é mascarada.
As atividades podem se basear em:
- Brainstorming (mutirão de idéias), deve envolver pequenos grupos aos quais se pede para que
busquem soluções a um problema ambiental proposto pelo professor;
- O professor pode dividir a sala em três grupos onde dois debatem as vantagens e desvantagens
de se morar no campo e na cidade, e o terceiro faria a avaliação. O decente pode apresentar
algumas sugestões de elementos encontrados no campo ou na cidade, tais como: qualidade do
ar, níveis de ruído, serviços, empregos, dentre vários outros. É importante que a cada elemento
apresentado que o professor dê um viés ambiental;
- Questionários, desenvolver junto aos alunos um conjunto de questões que possam ser
respondidas pela população local, no qual seja possível no processo de sistematização perceber
como a população se relaciona com o meio ambiente, perguntas essas como:
Onde se presencia mais ruídos, na área central ou no seu bairro?
( )Centro ( )Bairro.
Há coleta de lixo no seu bairro? E a coleta seletiva também existe? Se sim, como.
( )Sim ( )Não ( )_______
No seu bairro há esgotos jogados nos rios?
( )Sim ( )Não ( )Não sei.
- Projetos, os alunos planejam, executam e avaliam um projeto ambiental que possa melhorar as
condições de vida da população, fica mais importante quando feito em grupos;
- Solução de problemas, o professor se encarrega de formular problemas ambientais e os alunos
de resolvê-los;
- Levantamento de dados/informações em órgãos públicos e privados, instituições de pesquisa,
organizações não-governamentais, internet etc. (análise de documentos);
- Conversas informais com antigos moradores (história de vida), visando entender “como era e
como está hoje o local” e identificar lideranças comunitárias e, desta forma, também valorizar o
conhecimento popular.
Buscamos com isso visualizar os problemas ambientais do entorno da escola, e,
posteriormente através de um trabalho conjunto da escola com a sociedade realizar práticas de
intervenção, identificadas por (Paulo Freire, 1984) como “temas geradores12
” fundamentados
12 Temas concretos da vida que espontaneamente aparecem quando se fala sobre ela, obre seus caminhos,
remetem a questões que sempre são as das relações do homem: com o seu meio ambiente, a natureza,
através do trabalho; com a ordem social da produção de bens sobre a natureza; com as pessoas e grupos
de pessoas dentro e fora dos limites das comunidades, da vizinhança, do município, da região; com os
valores, símbolos, idéias (Cunha, 2010 apud Brandão, 1985).
em uma prática local que faz parte do ambiente do aluno, esse trabalho certamente irá despertar
um interesse maior por parte dos alunos.
Este material foi elaborado como um dos propostos ao projeto de extensão
6,27
8,23
Bibliografia Utilizada:
CASTELLAR, Sônia. Um breve referencial teórico. pp. 1-23 In: Ensino de Geografia. . São
Paulo. Cengage Learning, 2010.
DIAS, Genebaldo Freire. Subsídios para prática da Educação Ambiental. pp: In: Educação
Ambiental: princípios e práticas. 8 ed. São Paulo: Gaia, 2003.
CUNHA, Sandra Baptista. Canais Fluviais e a Questão Ambiental. pp. 219-237. In: CUNHA,
Sandra Baptista e GUERRA, Antonio José Teixeira. (organizadores)[...]. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares nacionais – primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental: tema transversal
meio ambiente e saúde. Brasília: MEC.SEF, 1997
LEITE, Adriana Filgueira. O Lugar: Duas Acepções Geográficas. In: Anuário do
Instituto de Geociências – UFRJ. Rio de Janeiro: 1998, volume 21, p. 9-20.
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