UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - 04 E 05 DE AGOSTO DE 2016
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Boletim Apolo: Divulgando Astronomia em Alagoas antes da Era das Redes Sociais1
Pedro Barros Lima do Nascimento2
Magnolia Rejane Andrade dos Santos3
Universidade Federal de Alagoas, Maceió, AL
Resumo
Este trabalho é uma descrição do boletim mensal Apolo, publicação produzida pelo Centro
de Estudos Astronômicos de Alagoas (Ceaal) entre março de 1991 e junho de 2006. A
pesquisa foi realizada através de leitura da coleção de exemplares conservada pelo grupo e
entrevistas com colaboradores e editores do veículo. Chegando a pouco mais de 50 edições,
o boletim era veiculado, na maioria das vezes, numa folha de ofício, frente e verso. A média
de impressões por edição, segundo os colaboradores, era de 50 exemplares. O periódico
dirigia-se tanto para a comunicação interna do clube como para o público externo. Entre os
principais objetivos da publicação foram citados: divulgar e ensinar astronomia para o
público em geral; divulgar eventos e atividades desenvolvidas pelo clube para interessados;
estimular a busca de conhecimento e habilidades por parte dos membros.
Palavras-chave: história; mídia alternativa; divulgação científica; astronomia.
Introdução
A produção de publicações periódicas é uma importante ferramenta para a difusão
do conhecimento e para o próprio desenvolvimento da ciência. Vemos em BUENO (1984)
apud BRANDÃO (2006), os conceitos de disseminação e difusão científica: no primeiro
caso, falamos da troca de conhecimentos entre os próprios cientistas, especialistas e
técnicos, sejam da mesma área ou não, através de monografias, artigos científicos,
dissertações, teses, comunicações orais etc.; o segundo caso, bastante amplo, é o que inclui
a divulgação científica, que transmite o conhecimento gerado por aqueles acadêmicos para
o público em geral, seja através de educadores, jornalistas ou pelos próprios cientistas. A
peculiaridade da divulgação científica é que, diferente dos códigos técnicos usados na
disseminação científica, ela deve utilizar uma linguagem apropriada para a compreensão do
1 Trabalho apresentado no Grupo Temático Mídia Alternativa, do Encontro Nordeste de História da Mídia, em 5 de agosto
de 2016. 2 Graduado do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas, email: [email protected] 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas, email:
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público não-especializado, de forma a simplificar conceitos científicos sem tirar sua
exatidão.
No trabalho de BRANDÃO (2006), vemos uma preocupação em relação à cobertura
sobre temas científicos feita pelos jornais alagoanos e o acesso da população a esse
conhecimento. No período de sua pesquisa (setembro de 2001), a autora observou um
número considerável de matérias com temas científicos nos principais jornais alagoanos, no
entanto, apontou a necessidade de editorias especializadas no assunto e de investimento na
formação de jornalistas na área de divulgação científica. Chamou atenção ainda para as
precauções contra espetacularização (sensacionalismo) e manipulação dos fatos, para que a
ciência seja “mostrada como deve ser: patrimônio da humanidade” (p. 64).
Muitos educadores consideram que a mídia tradicional não dá o espaço merecido às
pesquisas científicas e denunciam uma série de erros, do seu ponto de vista. É de
insatisfações como essa que surgem os veículos de mídia alternativa, meios que preenchem
lacunas da grande mídia, dando espaço para assuntos ou abordagens que não são explorados
por ela, ou ainda rebatendo as informações dos veículos predominantes, numa espécie de
embate ideológico. Por outro lado, muitas vezes a mídia alternativa é vista com preconceito,
não recebendo a mesma credibilidade dos veículos tradicionais, pois estes geralmente são
socialmente legitimados por um maior tempo de história e por terem recursos mais
abundantes para a produção de informações, seja de pessoal ou material.
Os astrônomos amadores, seus clubes e publicações
A maioria dos boletins astronômicos produzidos no Brasil poderia ser passível de
um duplo preconceito, isso porque nem são produzidos por equipes de profissionais da
comunicação, como jornalistas, nem por cientistas profissionais: quem os faz, em grande
parte, são astrônomos amadores, entusiastas da ciência celeste que se dedicam ao seu estudo
e observação do céu. Neste caso, podemos caracterizá-los como mídia alternativa.
Apesar de não terem graduação na área, a atividade do astrônomo amador é muito
importante na difusão do conhecimento da astronomia para a população e também para as
pesquisas de astrônomos profissionais. Um censo realizado em 2009, durante o Ano
Internacional da Astronomia (AIA), revelou a existência de 160 clubes em quase todos os
estados do Brasil (NAPOLEÃO, 2014, p. 464). Atualmente, em Alagoas existem seis
grupos desse tipo: em Maceió, o Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas (Ceaal) e o
Clube de Astronomia de Maceió (Clam); em Rio Largo, o Clube Astronomia Isaac Newton;
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em Arapiraca, o Clube de Astronomia Eclipse (ACE); em Cacimbinhas, o Clube de
Astronomia Valentina Tereshkova (CAVT); e em Dois Riachos, o Clube de Astronomia
Galileu Galilei.
Entre as atividades realizadas por clubes de astronomia estão observações e registros
de diversos fenômenos celestes, comuns ou incomuns; divulgação e ensino de astronomia;
astrofotografia; busca por determinados objetos (como estrelas, cometas, asteroides etc.);
construção de instrumentos observacionais, auxiliares ou didáticos; participação em
programas colaborativos de pesquisas astronômicas; entre outros.
A American Association of Variable Star Observers (AAVSO)4 é um exemplo de
atividade colaborativa – da qual alguns amadores alagoanos contribuem – que qualquer
pessoa com um conhecimento em astronomia e algum treinamento pode participar: trata-se
de um banco de dados de registros sobre estrelas variáveis, onde os colaboradores enviam
seus dados observacionais e podem comparar com os de outros. Astrônomos amadores
também têm contribuído com o monitoramento de NEOs (near-Earth objects)5, objetos
como asteroides que passam próximos ao planeta Terra e podem trazer algum risco de
impacto.
Dentro do âmbito de divulgação científica, entra a produção de publicações. Entre
elas, estão principalmente as denominações de jornais, revistas ou boletins, que são usadas
tanto para a comunicação técnica entre esses pesquisadores amadores quanto para
divulgação científico-educacional. Atualmente existem três publicações mensais ativas em
Alagoas: o Boletim Mensal do Clam, o Boletim Mensal do Eclipse e a Revista
VostokNews, dos grupos Clam, ACE e CAVT, respectivamente. No Brasil, conforme dados
conseguidos com apoio da Associação Luso-Brasileira de Astronomia, há registro de pelo
menos dez publicações desenvolvidas por associações formais ou informais de astrônomos
amadores. No entanto, esses dados ainda são incipientes, pois estão em processo de
levantamento.
Segundo NAPOLEÃO (2014), os clubes de astronomia tiveram um importante
crescimento numérico entre as décadas de 50 e 90. Um dos fatores que contribui para a
produção de veículos alternativos também teve um desenvolvimento considerável nessa
época, que foi a popularização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs),
4 https://www.aavso.org/ 5 http://neo.jpl.nasa.gov/index.html
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como o maior acesso ao computador pessoal, com softwares de editoração e diagramação, e
à impressão.
Em 1986, surge o Ceaal, proveniente de atividades já realizadas informalmente por
astrônomos amadores no estado desde a década de 70, especialmente por Genival Leite
Lima. O clube é formalizado em 1989 como sociedade civil sem fins lucrativos e torna-se o
primeiro do tipo em Alagoas.
Atualmente, com apoio da Usina Ciência, órgão de divulgação científica da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o Ceaal promove observações públicas (tanto no
espaço do órgão que o sedia quanto em diversas comunidades, na capital e no interior);
promove ordinariamente palestras mensais sobre temas diversos da astronomia e, conforme
solicitado, também ministra palestras em escolas públicas e privadas; é o responsável pela
operacionalização do planetário móvel da Usina Ciência; e executa ou auxilia na promoção
de eventos ligados a astronomia no estado. Entre essas atividades, uma que marcou sua
história foi a publicação do boletim Apolo, que funcionou entre 1991 e 2006.
Como fonte de pesquisa sobre a publicação, solicitamos acesso, para leitura, à
coleção conservada no Observatório Astronômico Genival Leite Lima (OAGLL) pelo
professor Adriano Aubert Silva Barros, diretor deste e membro do Ceaal. Além disso,
entrevistamos alguns dos colaboradores e editores da publicação: o próprio Adriano Aubert,
Romildo Rodrigues da Gama e Romualdo Arthur Alencar Caldas.
O Boletim Apolo
Em março de 1991, é impresso o primeiro número do Apolo, o primeiro periódico
sobre astronomia em Alagoas que se tem conhecimento e o que teve a maior durabilidade
até hoje. O nome – que prevaleceu sobre a proposta concorrente, “Charonte” – remete à sua
periodicidade mensal: em aproximadamente um mês, o sol – venerado pelos gregos como
deus Apolo – passa por cima de uma constelação zodiacal. Para reforçar a referência, em
cada edição era colocada no cabeçalho o desenho da constelação sobre a qual o astro
transitava aquele mês (cf. Figura 2).
As edições tinham por padrão duas páginas, frente e verso, mas em alguns poucos
momentos chegaram a quatro páginas. Eram impressas em preto e branco, segundo Gama,
numa de tiragem média de 50 exemplares. Em algumas edições foi encontrado a
informação de tiragem de 30 exemplares.
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Figura 1 – Página 1 da primeira edição do Boletim Apolo (Março 1991).
Fonte: Acervo do Ceaal.
Apesar da proposta mensal, sua periodicidade foi bastante irregular. Conforme o
acervo disponibilizado, a maior parte de publicações parece ter ocorrido entre o ano de
início e 1998, com pelo menos 41 edições; é dentro desse tempo que também aparece,
dentre os registros, o maior período ininterrupto de publicações, entre abril de 1992 a julho
de 1993 (16 números). Em 1999, não há registros no acervo; produções voltam a aparecer
em 2000 e 2001, seguindo-se do maior período em hiato, retornando com publicações
somente em fevereiro de 2006, último ano em que se há registro na coleção. No total, a
coleção conserva 52 edições, mas a numeração irregular deixa dúvidas sobre se foram
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publicadas mais que essas (cf. Tabela 1). Da edição de julho de 1993, por exemplo, só estão
disponíveis as páginas 1 e 4.
Tabela 1 - Edições do Apolo.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total
1991 1 2 3 4 5 5
1992 7 2 3 4 5 6 7 8 9 10 10
1993 11 12 1 2 3 4 5 7
1994 1 1
1995 1 2 3 4 4
1996 1 2 3 4 4
1997 1 2 3 4 5 6 7 7
1998 8 9 2
2000 1 3 2
2001 1 2 3 4 5 5
2006 1 2 3 4 5 5
Total 52
Fonte: Autoria própria.
Qual era a função do Apolo?
Antes de analisar as demais características desse produto, é importante entender por
quê seus autores o produziam. O texto de apresentação publicado na primeira edição indica
o objetivo de integração do clube e contato com grupos similares:
Para que possamos realizar nossas atividades de maneira conjunta precisamos que
as informações pertinentes ao grupo fluam regularmente e de maneira clara. Com
informativos como este tentaremos atingir essa nossa meta, bem como informar a
outras associações congêneres. (Boletim Apolo, Março 1991)
Nesse sentido, o Apolo era uma espécie de “rede social” analógica entre os
membros do clube e outros clubes de astrônomos amadores, uma espécie de fórum
impresso de compartilhamento de ideias e informações. Tanto que o endereço para
correspondências era um tópico constantemente presente durante os primeiros anos.
Daí se compreende o porquê de tantos textos relacionados à rotina administrativa do
Ceaal, como veremos a seguir, e artigos de caráter mais técnicos, isto é, voltados para quem
já tinha alguma experiência com astronomia amadora. No entanto, é inegável que o perfil
de divulgação científica e educativo se manifestava frequentemente dentre o conteúdo, o
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que se verifica no formato de vários textos e pelo público ao qual acabavam chegando. Os
visitantes esporádicos das palestras e observações públicas promovidos pelo Centro
também tinham acesso ao Apolo; GAMA (2016) afirmou que professores da educação
básica usavam conteúdo do periódico como subsídio para suas aulas. Os próprios membros
liam o boletim na busca de aprendizado:
Mesmo para nós do Ceaal, nem sempre era simples ter contato com os eventos
astronômicos daquele mês, como a passagem de um cometa ou um eclipse da Lua.
[...] As revistas eram em inglês e nem todos sabiam ler o idioma. Na época do
Apolo, as únicas publicações a que tínhamos acesso eram duas revistas americanas
que chegavam importadas por uma banca de revista: a revista Astronomy e a revista
Sky&Telescope. (GAMA, 2016)
Figura 2 - Edição do Apolo de Abril de 1997.
Fonte: Acervo do Ceaal.
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Segundo BARROS (2016), também havia a preocupação de que o Apolo servisse
futuramente como guarda de memória do Ceaal. De fato, ele registra vários momentos
importantes da trajetória do clube, como mudanças de sede, parcerias com instituições,
aquisições de equipamento, projetos idealizados e concretizados. O Apolo conserva, por
exemplo, artigos do fundador do clube, Genival Leite Lima; registra o início de atividades
que existem até hoje, como os cursos de iniciação à astronomia e o Sic Itur Ad Astra
("Assim se Vai aos Astros", do latim), ação que leva telescópios às praças e outros locais
públicos ou privados.
Por fim, havia o interesse de estimular o exercício da escrita, da produção e
compartilhamento de conhecimento. Para BARROS, a elaboração do Apolo levava ao
aprendizado e desenvolvimento de habilidades na própria astronomia, na comunicação
textual e no uso do computador.
Figura 3 - Texto de Adriano A. S. Barros noticia doação de telescópio ao Ceaal
Fonte: Acervo do Ceaal.
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Conteúdo
Durante seus 15 anos de existência – incluindo os períodos de hiato –, o Apolo
sofreu mudanças em seu perfil gráfico e o foco de seu conteúdo. Ao longo do tempo, vemos
um amadurecimento na diagramação (especialmente a partir de 1995); a melhor
organização abre mais espaço para os textos, que se tornam mais extensos.
Apesar de nenhum quadro ter se fixado a ponto de aparecer, pelo menos com o
mesmo formato, em todas as edições, pudemos identificar algumas seções que se
consolidaram ao longo da trajetória do boletim. O destaque para as efemérides astronômicas
foi o aspecto mais presente de sua história, nunca deixando de aparecer: as informações
sobre fases da lua, movimento aparente do sol, ocultações, eclipses, conjunções, trânsitos,
passagens de cometas, chuvas de meteoros entre outros fenômenos são essenciais para a
rotina de observação dos astrônomos profissionais ou amadores (cf. Figura 4).
Figura 4 - Quadro de efemérides publicado no verso da primeira edição do Apolo (Março 1991)
Fonte: Acervo do Ceaal.
O título mais comum para o quadro de efemérides era “O Céu de Mês”. Outras
seções com descrições sobre o céu, estritamente ligadas à configuração da época ou não,
apareceram sob os títulos de “Para observar”, “Constelação eleita” ou “Constelação do
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mês”. Essas duas últimas também foram bastante assíduas às páginas do Apolo, durante
todas as suas fases, chegando a aparecer até na última edição, em junho de 2006. Nela, os
autores falavam sobre um determinado conjunto de estrelas, suas curiosidades e quais
objetos celestes, como nebulosas ou aglomerados estelares, podiam ser observados naquela
região com telescópios ou binóculos.
Figura 5 - Última edição do Apolo disponível na coleção (Junho 2006)
Fonte: Acervo do Ceaal.
Os artigos escritos pelos membros do Ceaal tinham temas bastante variados. Ao
contrário dos boletins dos grupos atuais, que publicam mais textos educativos e de
divulgação científica, eles davam um importante destaque às suas próprias atividades. No
âmbito da rotina administrativa, falavam da eleição de novas direções, motivavam os
colegas a participarem mais das atividades, comentavam sobre dificuldades ou
comemoravam conquistas.
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A representação do Ceaal em eventos de astronomia ou a organização de suas
próprias iniciativas tinham suas histórias contadas na página do Apolo. Isso era o conteúdo
naturalmente voltado para os próprios membros e ocasionalmente para outros clubes de
astrônomos amadores, mas também se publicavam convites para a comunidade participar
de suas sessões de observações públicas, cursos e palestras. Vemos na edição de junho de
2006 (Figura 5), por exemplo, a programação de uma série de exibições de filmes sobre
astronomia, “Cine Astro”. Nesse sentido, encontramos aspectos do gênero notícia presentes
no periódico. Comentários sobre novas descoberta, missões espaciais e fenômenos
astronômicos raros ligavam o conteúdo do boletim à realidade, ou melhor, à “atualidade”,
daquela época. Um quadro de informes curtos apareceu em várias edições com o nome de
“Breves”, “Rápidas” ou “Meteóricas”.
Os membros publicavam registros observacionais e resultados de suas próprias
pesquisas, em textos, ilustrações e gráficos. Pelo boletim, descobre-se que o Centro buscava
realizar pernoites6 mensalmente, pois estas geralmente recebiam descrições e depoimentos
no Apolo. Episódios cômicos ocorridos entre os membros eram contados na seção “Fora de
Foco”, de autoria de Romildo Rodrigues da Gama.
Os textos de divulgação científica, de caráter educativo e explicativo, abordavam
diversos conteúdos da astronomia. Uma curiosidade é que a grande influência da cultura
grega nessa ciência se reflete nas páginas do Apolo – assim como seu próprio nome: vemos
séries sobre as letras gregas, conhecimento muito útil para os astrônomos amadores, já que
as estrelas de uma constelação são ordenadas da mais brilhante para a menos brilhante de
acordo com esse alfabeto; e outro sobre lendas da mitologia grega, cujos personagens dão
nome a um grande número de corpos celestes.
A publicação de editorial torna-se habitual a partir de março de 1995, aparecendo
em todas as edições daí em diante, com um texto mais generalista e interpretativo.
6 Geralmente os astrônomos amadores chamam de “pernoite” a atividade de se reunir durante toda uma noite e
até à madrugada, em lugares com pouca poluição luminosa e condições atmosféricas favoráveis, para fazer
observações.
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O Apolo, a internet e o fim
Em 1996, a internet começa a integrar os assuntos do boletim, que começa a
estabelecer elos com essa nova mídia. O Apolo começa a direcionar seu público para os
veículos recém-criados do Ceaal na web: colocam-se pequenas quadros chamativos com
seus endereços de e-mail, site e grupo de discussões.
A questão que fica é: por que o Apolo acabou? Teria sido pelo desinteresse ou
esquecimento dos membros, por um maior direcionamento dos membros para outras
atividades ou seria porque teriam considerado a internet um meio mais eficiente de
comunicação e divulgação?
No início, ele não estava num conflito existencial tão grande quanto os impressos de
hoje. Pelo contrário, percebe-se o entusiasmo dos autores em relação às possibilidades da
rede mundial de computadores. Os veículos virtuais e o impresso do clube se
complementavam: a internet passara a enriquecer o conteúdo do impresso, ao deixar seus
autores mais informados; já o boletim impresso, por sua vez, abria as portas da internet para
seus leitores, sugerindo sites ligados à astronomia, como fazia na seção “Guia de internet”,
criada em abril de 1997, e mais tarde chamada de “e-astronomia”.
De toda forma, CALDAS (2016) revela haver o interesse de reativar o boletim
Apolo ainda em 2016, quando, em junho, completou-se 10 anos desde sua última edição. É
uma oportunidade de entender quais os novos desafios e possibilidades desse veículo na era
da internet e das redes sociais digitais.
Considerações Finais
Além de contribuir com a área de história da mídia alternativa em Alagoas, o estudo
sobre o boletim Apolo pode contribuir com o conhecimento da história da ciência e da
divulgação científica no estado. Conhecê-lo também pode ser útil para servir de inspiração
e subsídio para os novos clubes de astronomia e suas publicações. É necessário o
conhecimento da história dos processos comunicacionais da área, que não é só feita na
internet e nas redes sociais. Os meios alternativos e artesanais cumpriram e ainda cumprem
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importante papel na preservação da memória científica, especialmente no que tange aos
clubes de astronomia.
O processo de investigação deste trabalho nos mostrou a necessidade de se estudar a
ocorrência de tais veículos nacionalmente. Esse deveria ser um esforço coletivo da
comunidade de astrônomos profissionais e amadores, cujos resultados provavelmente
revelariam a riqueza dos processos de concorrência e convivência entre esses veículos,
sejam impressos ou digitais, com as novas mídias, especialmente blogs e redes sociais.
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