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# 0 0 2 8JUNE/2015
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O Brasil E Os BilhõEs dE PEqUim
CaEtaNO E Gil dE vOlta à tErra da raiNha
EdUardO CUNha NO COmaNdO
NEGÓCIO DA CHINA
LONDRES, LONDRES
CONTRARREFORMA
4 brasilobserver.co.uk | June 2015
SUMÁRIO6
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em Foco Os argumentos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy
coneXão br-uK Startups brasileiras em Londres para missão internacional
PerFilA street art de Fábio Oliveira, mais conhecido como Crânio
conecTAndoConheça as ideias que movem o projeto Escola de Notícias
colunisTA conVidAdo Nildo Ouriques escreve sobre a crise econômica brasileira
brAsiliAnceA reforma política de Eduardo Cunha atropela o Congresso
brAsiliAnceFutebol na berlinda; Internet.org; e professores em greve
brAsil GlobAlBrasil receberá investimentos bilionários da China, mas...
GuiAEntrevista exclusiva com Caetano Veloso e Gilberto Gil
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WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 6APRIL/2015GUILHERME ARANEGA / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)
PEDALADAOS ESFORÇOS E DESAFIOS DE SÃO PAULO E LONDRES PARA
TRANSFORMAR A MOBILIDADE URBANA PELO USO DAS BICICLETAS
ECONOMIA ESTAGNADA Para voltar a crescer, Brasil precisa recuperar investimentos
EMICIDA EXCLUSIVORapper brasileiro vem a Londres e fala ao Brasil Observer
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WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 4FEBRUARY/2015BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)
ELEIÇÃOGERAL E O VOTO BRASILEIRONO REINO UNIDO
ARTE DE PERNAMBUCOEmbaixada do Brasil em Londres apresenta nova exposição
SAUDADES DO VERÃOUm tour pela praia de Jericoacoara para esquecer o frio
DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO
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WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 5MARCH/2015GUILHERME ARANEGA / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)
ESTADO DA ARTE INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS VISITAM CENTRO AVANÇADO
DE PESQUISA NO REINO UNIDO E COGITAM PARCERIAS
QUEBRA-CABEÇA BRASILNas ruas, população reage ao ajuste fiscal e à corrupção
FUTEBOL MOLEQUEUma visão bem humorada para o jogo entre Brasil e Chile
ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL RAFAEL RIBEIRO/CBF
ESTADO DA ARTE
6 brasilobserver.co.uk | June 2015
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EM FOCO
A desaceleração da economia é tempo-rária; o Brasil está fazendo a “lição de casa”; a nova classe média trouxe oportu-nidades; o setor de infraestrutura vai de-mandar investimento privado; o país está criando mais segurança para negócios e reduzindo a burocracia. Estes foram os argumentos do ministro da Fazenda, Jo-aquim Levy, em evento inédito realizado na Bolsa de Valores de Londres, dia 13 de maio, para incentivar investimentos no país, de acordo com a BBC Brasil.
O ministro se mostrou confiante de que os resultados do ajuste fiscal coloca-do em prática pelo governo da presidente Dilma Rousseff já serão vistos no ano que vem. “Esperamos que a atual desacelera-ção do ritmo da economia seja temporá-ria”, afirmou. Para ele, essa desaceleração se deve em parte à incerteza dos últimos resultados econômicos, mas o nível de confiança já começa a se estabilizar.
A economia brasileira recuou 0,2% no primeiro trimestre, em relação ao o trimestre anterior (outubro, novembro e dezembro de 2014), quando houve crescimento de 0,3%. Nos três primei-ros meses do ano, o Produto Inter-no Bruto (PIB) caiu 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado, a maior queda desde o segundo trimestre de 2009 (-2,3%). Em 12 meses, o PIB acumula queda de 0,9%.
Joaquim Levy afirmou que, com a nova política de ajuste fiscal, espera uma mudança de sentimento econômi-co. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma contração de 1% na economia brasileira em 2015 – com re-tomada do crescimento em 2016.
O ministro explicou ainda aos in-
vestidores estrangeiros as principais medidas do ajuste econômico. O go-verno federal decidiu cortar 69,946 bi-lhões de reais do Orçamento Geral da União como parte do ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas do país. O objetivo do governo é atingir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB nes-te ano, que é a economia para o paga-mento de juros da dívida pública.
Também fazem parte do ajuste as medidas provisórias 664 e 665, aprova-das no Senado, que restringem o acesso a benefícios trabalhistas e a pensões por morte, além do aumento da taxação dos lucros dos bancos, que renderá de 3 bi-lhões a 4 bilhões de reais.
Segundo o ministro, esta disciplina é es-
sencial para proteger a economia dos efei-tos inflacionários da depreciação do real.
Sobre a chamada “nova classe média”, Levy destacou que mais de 30 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza no Brasil nos últimos anos, por meio de pro-gramas como o Bolsa Família. “Inclusão social para a classe média significa mais oportunidades”, disse o ministro.
A inclusão social facilitou o acesso à educação, na opinião de Levy, o que pode influenciar na produtividade. De acordo com o ministro, o aumento da produti-vidade pode fazer os salários do Brasil crescerem, já que profissionais mais qua-lificados costumam ganhar mais.
Já no quesito infraestrutura, ele afir-mou que a área precisa do apoio do setor
privado e que o mercado de capitais pode ter um papel fundamental neste momen-to. Levy destacou que o Brasil tem um his-tórico de concessões – disse que telecomu-nicações, energia, rodovias e aeroportos são geridos pelo setor privado. Um novo pacote de concessões estava previsto para ser lançado no dia 9 de junho.
Por fim, o ministro Joaquim Levy afirmou que o governo está preparando o ambiente para investimentos. “Reduzir riscos agregados é essencial para motivar pessoas a tomarem riscos idiossincráti-cos”, disse. “Simplificar todo o processo é importante para aumentar os negócios no Brasil. Temos que fazer ajustes para aumentar a segurança dos negócios”, completou durante a palestra.
Os preços mais baixos do petróleo são um grande desafio para os planos brasileiros de vender dezenas de cam-pos de petróleo e gás, segundo avalia-ção feita pela diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Cham-briard, em evento realizado dia 2 de junho na Embaixada do Brasil em Lon-dres. Para uma plateia formada por cerca de 60 investidores estrangeiros, ela explicou que o país foi obrigado a “ajustar todos os cálculos” da próxima licitação, prevista para o final do ano.
“As empresas estão nos dizendo que estão mais conservadoras por causa dos preços do petróleo. De agosto a feverei-ro, os preços caíram de 110 dólares por barril para 48 dólares [hoje estão em aproximadamente 65 dólares]. E essa é a diferença real para toda a indústria”,
disse Chambriard. “Isso foi algo que nos fez ajustar todos os cálculos relativos a esta rodada de licitações que estavam prontos em 2014”, completou sem espe-cificar o que foi preciso ajustar.
Sobre os casos de corrupção en-volvendo a Petrobras, ela acredita que não devem afetar o resultado do leilão. “Todo país tem bons e maus momentos, mas o porte do setor de petróleo é mui-to grande. O interesse dos investidores continua”, afirmou, considerando que 60% das descobertas recentes em águas profundas estão no Brasil.
A 13ª Rodada de Licitações da ANP, prevista para 7 de outubro, oferecerá 269 blocos em 22 setores de 10 bacias sedimentares. As regras definitivas se-riam anunciadas em uma resolução do Conselho Nacional de Politica Energé-tica (CNPE), no dia 12 de junho.
Chambriard admitiu que ajustes pontuais nas regras para os contratos poderiam ser feitos, mas deu a entender que não havia previsão de mudança nos percentuais para conteúdo local, o que garantiu ser política prioritária do gover-no. “Meu conselho para as companhias é: não ofereçam um valor que não seja fac-tível, porque, em algum momento, elas terão de pagar”, afirmou a diretora-geral.
A 13ª rodada será realizada sob o regime de concessão e não irá incluir áreas do pré-sal, que só podem ser ofertadas sob o regime de partilha. Um novo leilão específico de áreas do pré-sal pode ser realizado no ano que vem ou no início de 2017. Anunciadas em 2007, as descobertas do pré-sal estão entre as maiores do mundo. As estima-tivas variam de 30 bilhões a 100 bilhões de barris de petróleo.
Os ArguMEntOs dE JOAquiM LEvy pArA ‘vEndEr’ O BrAsiL
Os dEsAFiOs pArA O nOvO
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O ministro da Fazenda participou de evento inédito da Bolsa de Valores de Londres, o Brazil Capital Markets Day
7brasilobserver.co.uk | June 2015
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8 brasilobserver.co.uk | June 2015
COLUNISTA CONVIDADO
Por Nildo Ouriques g
AA classe dominante brasileira produziu um consenso perigoso para o país: segun-do afirmam os principais jornais, TVs, rádios, deputados e senadores (dos prin-cipais partidos), professores de economia e governadores, o país vive uma grave crise fiscal. A produção ideológica deste consenso recusa ver a causa fundamental de todos nossos males atuais: a imensa crise financeira do estado, produto do mega endividamento público (interno e externo) organizado desde 1994, quando entrou em vigor o Plano Real.
Em junho de 1994, quando o ex-pre-sidente Itamar Franco anunciou o Plano Real, a dívida interna não superava os 64 bilhões de reais. Fernando Henrique Car-doso venceu as eleições naquele ano e ao término de seu segundo mandato, a dívida alcançou 720 bilhões de reais. A multipli-cação da dívida não tem segredo: os eco-nomistas decidiram controlar a inflação com a brusca elevação da taxa de juros em patamares superiores aos 50%! Nas duas últimas décadas o Brasil foi quase sempre o campeão mundial de juros, alimentando inédita república rentista, onde todas as frações de capitais (multinacionais, ban-queiros, latifundiários, comerciantes e fun-dos de pensão) alimentam-se a custa da dí-vida pública. O governo Lula (2003-2010) dobrou a aposta, razão pela qual a dívida chegou a 1,5 trilhão de reais. O governo pe-tista de Dilma Rouseff não amoleceu na ge-nerosidade ao rentismo: a dívida alcançou a estratosférica cifra de 3 trilhões de reais.
Qual a consequência mais importan-te do fenômeno? O governo destina a metade do orçamento público, ou seja, quase a metade de tudo que arrecada em impostos para o pagamento dos juros da dívida que, não obstante, segue crescen-do em ritmo vertiginoso. Em 2014, por exemplo, o governo destinou 45,11% de toda a arrecadação fiscal para o paga-mento de juros e amortização parcial da dívida. É como se o país funcionasse no ritmo de uma economia de guerra, tal como Nicarágua nos anos 1980. No en-tanto, a dívida segue crescendo todos os meses, alimentando o rentismo dos de-tentores dos títulos da dívida pública.
Os números deixam claro que não so-fremos uma crise fiscal, ou seja, originado pelo suposto de que o “governo arrecada muito e gasta pior”. De fato, existe superá-vit fiscal se excetuamos da conta o gasto financeiro do governo com os juros da dívida. A constituição de 1988 em vigor prevê a auditoria da dívida, mas a maioria parlamentar composta pelos dois princi-pais partidos do país (o governista PT e o oposicionista PSDB) impede qualquer
movimento nesta direção. Assim, os par-tidos se digladiam em questões menores (redução da maioridade penal, sistema de cotas, etc.) enquanto mantém sólida aliança nas questões econômicas de fun-do. Da mesma forma, qualquer tentativa séria de reformar o sistema político ter-mina em pequenas alterações no sistema eleitoral que, de fato, são incapazes de outorgar representatividade ao sistema político, cada dia mais distante das maio-rias populares e ainda do eleitor médio, a caricatura moderna do cidadão.
Há que observar o essencial: o con-sórcio ‘petucano’ maneja bem a situação política. A despeito das acusações mú-tuas sobre corrupção e pequenas desa-venças no congresso, a verdade é que no terreno da economia e das questões cen-trais, tanto o PT quanto o PSDB estão ba-sicamente de acordo. É o sistema ‘petu-cano’, mistura de petistas e tucanos que, para quantidade expressiva de eleitores não possuem diferença alguma, razão pela qual entre o abstencionismo, o voto nulo e o branco, alcançou 37 milhões de pessoas no segundo turno de uma elei-ção considerada como “a mais disputa-da da democracia brasileira”. Trata-se de cifra considerável quando levamos em conta que a presidente reeleita levou 54 milhões e o senador Aécio Neves, candi-dato derrotado, chegou aos 51 milhões.
Neste contexto, mais importante que a existência dos programas sociais do petismo é a continuidade desta regra de ouro da estabilidade monetária no país: o pagamento religioso dos juros do sistema de dívida. É verdade que as últimas medi-das votadas no parlamento tiram direitos dos trabalhadores e, também neste caso, podemos ver como petistas e tucanos votam conjuntamente nas questões cen-trais. Ambos possuem o mesmo enfoque e discurso público: o país “precisa” buscar o superávit fiscal primário para honrar o custo financeiro da dívida interna e os custos adicionais da dívida externa.
No debate público, este assunto me-dular é, sempre, ocultado do grande pú-blico. A imprensa, exibindo inabalável compromisso com a liberdade de im-prensa, atua como se estivesse, de fato, submetida à ordem unida que podemos ver nos desfiles militares. Em consequên-cia, simplesmente ignoram o fenômeno como se não existisse. Ninguém escreve ou debate o mega-endividamento públi-co do Estado que garante lucros extraor-dinários para todas as frações de capitais e destina aos setores mais empobrecidos da população míseros 0,47% do PIB para o programa Bolsa Família, considerado
o principal programa social do governo. Enfim, enquanto o governo gasta quase 10% do PIB com o aumento anual da dí-vida, não reserva sequer 0,5% para o pro-grama social que tem sido considerado o mais importante da história do país.
Portanto, não podem existir dúvidas sobre o futuro imediato. As ilusões liberais segundo as quais a “questão social” estaria sendo resolvida por políticas sociais che-garam ao fim. A abissal desigualdade de renda – produto da superexploração da força de trabalho – não pode ser resolvida sem tocar na propriedade e no poder dos ricos. O sistema ‘petucano’ vivia comoda-mente mantendo os pobres na situação de pobreza sem matá-los de fome. As miga-lhas orçamentárias (0,47% do PIB) consti-tuíam caridade católica e passavam a agra-dável impressão para os ricos e poderosos de que era possível enfrentar a violência e miséria de milhões de brasileiros com programas que rapidamente encontraram o apoio dos dois principais partidos do país. A crise econômica, derivada da ação corrosiva e silenciosa dos juros da dívida e a queda dos preços dos produtos agrí-colas e minerais exportados pelo Brasil, limitou drasticamente as possibilidades do consenso e, em consequência, o sistema ‘petucano’ concordou em que o ajuste era mesmo inevitável.
Qual será o resultado da política eco-nômica aplicada no país? Será possível sair da crise econômica e política? É mui-to pouco provável. As medidas orientadas pelo Fundo Monetário Internacional – in-capazes de tirar os pequenos países perifé-ricos da Europa da violência da crise finan-ceira – tampouco funcionará na periferia capitalista latino-americana. A quantidade de pobres e miseráveis já voltou a crescer e não existe qualquer programa de priva-tização – estradas, portos, aeroportos, etc. – capaz de elevar a taxa de investimento na economia, pois a elevação continua da taxa de juros torna sempre mais atrativo o investimento rentista ao produtivo. Neste ano, há clara redução do setor industrial e o sustento de taxas de crescimento do PIB próximas ao zero somente é possível por-que a agricultura – turbinada com agro-tóxicos e destinada à exportação – segue crescendo. Em resumo, o país sofre grave regressão industrial e fortalece sua posição na divisão internacional do trabalho como mero exportador de produtos agrícolas e minerais. No entanto, os acadêmicos, o jornalismo dominante e os políticos e em-presários exitosos, seguirão afirmando seu otimismo no país enquanto o Brasil apro-funda as características essenciais de qual-quer país subdesenvolvido e dependente.
Qual será o resultado da política econômica
aplicada no país? Será possível sair da crise
econômica e política? É muito pouco provável
BrASIL:
g Nildo Ouriques é Professor do
Departamento de Economia e Relações
Internacionais da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Presidente do Instituto
de Estudos Latino-Americanos (IELA)
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9brasilobserver.co.uk | June 2015
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10 brasilobserver.co.uk | June 2015
PERFIL
“F“Faz frio em São Paulo, pra mim tá sempre bom...”.
Não estava tanto frio assim em Londres naquele final de mês de maio, mas a música dos Racionais bem que poderia embalar a caminhada ao lado de Fábio Oliveira, mais conhecido como Crânio, pelas ruas da zona leste londrina, nos arredores da Brick Lane.
“Eu tô na rua de bombeta e moleton...”.Nascido em 1982, no bairro do Tucu-
ruvi, zona norte de São Paulo, o filho dos Oliveiras recebeu o nome de Fábio, mas foi rebatizado para Crânio. Por quê? Tinha
fama de CDF na escola, diz ele orgulhoso.Nas ruas, porém, era onde ele se sen-
tia mais à vontade para fazer aquilo que mais gostava: desenhar. Ou melhor: de-senvolver seu graffiti. De 1998 a 2008, tratou a arte como curtição – tinha que trabalhar para pagar as contas, afinal. Do final da década passada para cá, no entanto, o que era passatempo virou pro-fissão. No mês passado, pela terceira vez, Crânio esteve em Londres a trabalho. E trocou uma ideia com o Brasil Observer sobre aquilo que mais gosta.
Da zona norte de São Paulo aos muros de
Londres: uma conversa com
Fábio Oliveira sobre seu graffiti
Por Guilherme Reis
A ARtE dE CRânIo
Como é que você veio parar aqui?
Desenhando... Sempre gostei muito de desenhar; desde os dois anos de idade. Mas foi em 1998 que eu comecei a desenhar na rua, fazer graffiti. Não era arte. Era uma coisa de moleque pra moleque.
Qual foi seu primeiro graffiti?
Foi meu nome, com uma letra diferente, pintado de amarelo e preto. Ficou muito feio, mas eu gostei mesmo assim. Era num muro dentro de um terreno abandonado, então pensei que não ia ter problema.
E daí...
E daí eu passei a gostar da coisa, a sair de casa sem saber exatamente onde ia pintar. En-tão comecei assim, pintando mesmo. E como era essa sensação?
É a mesma coisa de você estar jogando bola e fazer um gol de primeira. Mas é claro que, várias vezes, a bola bate na trave: você está pintando e, de repente, chega o carro da polícia, por exemplo.
Você já passou algum aperto com a polícia?
Já... Já fui detido porque estava fazendo graffiti sem autorização. Tive que pagar um salário míni-mo para uma instituição de caridade.
Você ficou puto?
Fiquei por não terminar meu graffiti e perder o domingo na delegacia.
Como era esse lance da ilegalidade?
Em 1998, se você saísse como uma lata de spray na mão em São Paulo, você era pichador. Mas de tanto a galera pintar, e isso eu falo dos caras da ‘old school’, passou a ter o reconhecimento de arte. Hoje tem o reconhecimento do artista; na época não ti-nha nada. Hoje o cara vê como um trabalho, não como algo de um criminoso. Mas isso na street art, porque o graffiti mesmo continua na cena ilegal.
Como assim?
Existe uma grande diferença entre o ‘writer’ e o cara que faz street art, o muralista. Ser grafiteiro é outra coisa, tem umas regras...
Que tipo de regras?
Quem faz mais chora menos; quem respeita é respeitado. As regras são claras. Você respeita, vai lá e faz a sua sem cobrir o de ninguém. Cada um faz o seu independentemente de qualquer coisa. É que nem você sentir sede, estar com a boca seca e tomar aquele copo d’água.
Mudando um pouco de assunto: e aqui em Londres, quem você teve oportunidade de conhecer e trocar experiências?
Conheci um monte de gente. O Fanakapan, que faz uns surrealismos e tal... O Stik, que é um cara muito gente boa, inglês educadinho...
E quais são as regras deles aqui?
É a mesma... Não pintar em cima de ninguém. E tem os grafiteiros. Eu vou te explicar: graffiti é letra, é escrever em trem, é escrever nas paredes. Às vezes tem um desenho, mas a ideia é colocar nome.
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Pose pra foto: Crânio e seu desenho na Brick Lane
11brasilobserver.co.uk | June 2015
Então você não se denomina um grafiteiro?
Também, porque eu também escrevo. O graffiti foi uma escola pra mim porque eu aprendi a domi-nar o spray. Então eu comecei a ter minhas ideias, comecei a fazer street art, algumas intervenções urbanas que eram desenhar um personagem que interagia com seu ambiente. Então não é mais uma palavra, é uma imagem.
Mas aí deixa de ser graffiti?
No meu ponto de vista sim. Graffiti é uma coisa, é um movimento. A street art é outro movimento que vem mesclando com o graffiti.
E a pichação?
A pichação é o graffiti sem cor. Mas por quê? Porque é um tipo de caligrafia ilegal que nasceu na-quele ambiente de São Paulo, com aquela arquite-tura da cidade, então é uma fusão das coisas.
E o seu estilo qual é?
Acho que o estilo da arte que eu venho fazen-do é bem representado pelo graffiti brasileiro. A gente não faz uma street art semelhante ao do americano ou do europeu. A gente tem esse lance de ser mais do rap, mais feliz. Eu tenho a impressão que a nossa criação em geral é mais feliz. Pode até ser um soco na cara da sociedade o que está desenhado, mas tem um toque de feli-cidade, realização, prazer...
Como nos seus desenhos. Num país que não respeita muito sua população indígena, você elege como personagem um índio azul que está sendo dominado. Mas, ao mesmo tempo, o próprio personagem é também um explorador. É por aí?
É. Os índios estão mais sendo dominados mes-mo. Mas o ponto de vista do meu trabalho não é enxergar o índio somente como aquele que faz par-te de uma tribo indígena da Amazônia. Ele é um reflexo da sociedade moderna das grandes cidades, que são grandes selvas de pedra. Então é uma sel-va só que não tem a árvore. Todo ser vivo nesse ambiente é uma espécie de índio no meu ponto de vista. Todos tem que matar um leão por dia, caçar para comer, se virar.
E você gosta mais de ver seu desenho no muro ou na galeria?
Dos dois. Gosto de expor meu trabalho em lugares fechados porque eu vim do oposto. Meu ateliê sempre foi a rua, nunca tive um ateliê. Hoje em dia sim, crio internamente e exponho internamente, de dentro para dentro (pode até dar nome pra exposição isso hein...). E tem minha vida que sempre foi de dentro para fora, de dizer “ah, que se dane, vou sair na rua e pintar mesmo, onde quer que seja”.
O que você acha que sua arte representa?
É um reflexo do que existe dentro de mim, mas querendo ou não a gente tem uma voz coletiva, en-tão não falo só por mim. Eu acredito que meu tra-balho representa uma nação, um reflexo não só do Brasil, mas de toda uma geração, uma coisa que to-dos nós vivemos. Hoje a gente está em Londres, mas a gente vem lá de São Paulo. Então é legal quando alguém vê meu desenho aqui em Londres e se sente de alguma forma representado, sente que faz parte daquilo também.
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12 brasilobserver.co.uk | June 2015
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NNavegar é preciso, escreveu o poeta português Fernando Pessoa sobre a condição do homem na terra e a tradição histórica dos portugueses na exploração dos mares. Para um governo com problemas políticos e econômicos no âm-bito doméstico, necessário é criar uma agenda internacional capaz de gerar boas notícias. Esta é a aposta da presidente do Brasil, Dilma Rous-seff. À frente de uma administração impopular e cercada de desconfianças, ela terá participa-do, em três meses, de encontros com líderes de três das cinco maiores economias do mundo, além de outra reunião do BRICS. Também es-tão nos planos encontros menos vistosos, mas igualmente capazes de gerar dividendos para uma economia estagnada que recuou 0,2% nos primeiros três meses do ano, na comparação com o trimestre anterior (outubro, novembro e dezembro de 2014).
Em maio, Dilma recebeu visita oficial do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, e do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, e reu-niu-se com a diretora-geral do Fundo Mone-tário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Na semana seguinte, visitou o México e o pre-sidente Enrique Peña Nieto. No fim de junho, o destino será Washington, para encontro com Barack Obama. Em julho, irá à Rússia, para a cúpula anual do BRICS, ocasião em que se es-peram novidades sobre o banco de desenvolvi-mento a ser criado pelo bloco. Em agosto, será anfitriã da chanceler alemã, Angela Merkel.
Mais promissoras, no momento, são as pos-sibilidades abertas com os chineses. Li Keqiang foi ao Brasil com propostas de investimento e empréstimos que, só no país, podem chegar a
103 bilhões de dólares. Tal anúncio está dentro do plano da China de elevar os investimentos na América Latina para 250 bilhões de dólares na próxima década.
A participação chinesa é cobiçada por Dilma Rousseff como alternativa às desconfianças dos “mercados” em relação à capacidade adminis-trativa de seu governo e também para viabilizar obras de infraestrutura e investimentos indus-triais – em um momento em que o Brasil coloca em prática diversos cortes no orçamento.
A China tornou-se a maior economia do planeta conforme dados divulgados em abril pelo FMI. Ao calcular o PIB de 2014 com base na paridade de poder de compra, o Fundo viu a China pela primeira vez à frente dos EUA: 17,6 trilhões de dólares a 17,4 trilhões. Por isso o Brasil, em sétimo com 3,2 trilhões, enxerga em um atrelamento à economia chinesa uma chance de sair do atoleiro – antes centrada na compra de commodities brasileiras e na peque-na participação de empresas chinesas na ex-ploração do megacampo de petróleo Libra, no pré-sal, agora os chineses pretendem investir de forma maciça em infraestrutura: ferrovias, portos, aeroportos, rodovias e hidrelétricas.
INVESTIMENTOS BEM VINDOS
Os negociadores de Pequim entregaram aos brasileiros uma lista de 58 obras de infraestru-tura, mineração e indústria que os interessam. A lista incluía a empresa que poderia participar dos projetos e o orçamento das obras, um total de 53 bilhões de dólares. Ofereceram também outros 50 bilhões de dólares do ICBC, banco
industrial e comercial chinês, dinheiro capaz de financiar as tais obras.
Diferentemente da China, porém, o Brasil tem uma Lei de Licitações. E não tem estrutu-ra estatal com tal capacidade de planejamento. Para entender exatamente os projetos em ques-tão e sua aderência às prioridades brasileiras, a solução foi criar um comitê conjunto de pros-pecção de oportunidades nos dois países, não somente no Brasil.
Já a oferta de 50 bilhões de dólares em cré-dito do ICBC virou um entendimento com a Caixa Econômica Federal. Nos próximos dois meses, as duas instituições financeiras discuti-rão como o dinheiro será empregado. O desti-no parece certo: infraestrutura, especialmente o programa de concessões lançado pelo gover-no federal na segunda semana de junho, habi-tação e agricultura.
Para Márcio Sette Fortes, professor de re-lações internacionais do Ibmec/RJ e ex-diretor da Câmara de Comércio Brasil-China, esse di-nheiro é essencial para contribuir com o rea-quecimento econômico. “O Custo Brasil tem a chance de diminuir com a presença do capital chinês. Contribui para reduzir custos logísticos e de infraestrutura precária,” afirmou à versão brasileira do site Deutsche Welle.
O cardápio de 35 acordos é variado – incluí, entre outros, a união entre fabricantes chine-ses de celulares e operadoras atuantes no Bra-sil para pesquisas e negócios; a renovação de uma parceria para a fabricação de um satélite sino-brasileiro de monitoramento ambiental; e o fim do embargo à carne brasileira imposto em 2012.
Em consonância com o plano
de elevar investimentos
na América Latina, China
sinaliza com aportes
bilionários à estagnada
economia brasileira
Keqiang e Dilma Rousseff assinaram 35 acordos
O ENLAcE chINêS
13brasilobserver.co.uk | June 2015
Brasil e México são as duas maiores po-tências latino-americanas. Ambos contabili-zam metade da população, do PIB e das ex-portações da região. Mesmo assim, não são grandes parceiros. Ainda que o comércio bilateral entre ambos tenha dobrado nos úl-timos dez anos, para 9,2 bilhões de dólares, nenhum dos dois está entre os sete princi-pais parceiros comerciais do outro. Mas isso pode mudar.
Os governos brasileiro e mexicano vão iniciar em julho as negociações para ampliar o acordo de complementação econômica que trata das relações comerciais entre os dois pa-íses. O anúncio foi feito pela presidente Dilma Rousseff no dia 26 de maio, na Cidade do Mé-xico, onde cumpriu agenda de visita de Estado. De acordo com a presidente, apesar do aumen-to das trocas comerciais entre empresas de am-bos os lados, os números estão “aquém do po-tencial do tamanho da economia e do tamanho dos nossos povos”.
“O acordo abrange hoje um pouco mais de 800 produtos. O que é aparentemente muito, mas, para nós, é pouco, tendo em vista os mais de 6 mil produtos que pode-mos levar a um acordo e beneficiar recipro-camente nossas economias. No menor prazo
possível, nós vamos promover o incremento e o equilíbrio do comércio bilateral, com a inclusão de setores nessa lista, que hoje es-tão fora dela”.
Em declaração à imprensa, após reunião privada com o presidente mexicano, Enri-que Peña Nieto, Dilma Rousseff celebrou o acordo de facilitação de investimentos, tam-bém firmado entre os dois países. Ela res-saltou a importância do México e do Brasil buscarem maior aproximação, já que são as maiores economias da América Latina, os países com as maiores populações e de gran-de extensão territorial.
Para Peña Nieto, a visita de Dilma é um divisor de águas com a assinatura desses dois principais acordos. As assinaturas de documentos entre os países envolvem tam-bém cooperações em turismo, meio ambien-te, pesca, agricultura e serviços aéreos.
Entre os motivos da relação fria entre Brasil e México está o fato de que o último aderiu ao Tratado Norte-Americano de Li-vre Comércio com Estados Unidos e Cana-dá, que tomou efeito em 1994 e levou o país a ficar mais focado no norte. Por outro lado, o Brasil estava mais interessado em construir tratados econômicos dentro do Mercosul.
Uma das iniciativas que mais chamou a atenção, porém, foi a decisão de conduzir um estudo de viabilidade de uma ferrovia que saia do Brasil, cruze o Peru e chegue ao Pacífico – um projeto de 10 bilhões de dólares. Os estu-dos serão pagos pelos chineses e ficarão pron-tos em um ano. O Brasil será responsável pelas análises ambientais.
Duas das maiores empresas brasileiras tam-bém fecharam acordos importantes com os chi-neses. A Petrobras, desgastada pela Operação Lava Jato e com problemas contábeis, conseguiu um empréstimo de 7 bilhões de dólares – um alívio para quem recentemente tinha tido sua nota de crédito rebaixada pela Moody’s, uma das principais agências de risco. Já a Vale, além da promessa de compras futuras pelos chineses, ob-teve mais de 4 bilhões de dólares do ICBC.
Também desembarcou no Brasil, em com-panhia da comitiva oficial, uma delegação de cerca de 200 empresários, de áreas diversas como bancos, fabricantes de máquinas e equi-pamentos e empreiteiras.
NEM TUDO QUE RELUZ...
Especialistas apontam que a generosidade financeira da China tem duas explicações. A primeira é que, graças às exportações na últi-ma década, a China tornou-se a maior reser-va de dólares do planeta – cerca de 4 trilhões, valor equivalente ao PIB do Mercosul. Outro motivo é a desaceleração da economia global desde 2008: não há tantas oportunidades de investimento nos países desenvolvidos.
Assim, para suprir as persistentes defici-ências em infraestrutura, o governo brasileiro e outros latino-americanos identificaram na China uma alternativa aos Estados Unidos e às condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Antes do Brasil, Argentina e Venezuela também corre-ram atrás do capital chinês – a primeira levou 20 bilhões de dólares e a segunda, 18 bilhões.
Para Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, “Pequim dimensio-na pragmaticamente seus interesses na região, que é fonte de matérias-primas e destino seguro para suas exportações de bens manufaturados”. “As contrapartidas exigidas vem na forma de abertura para acesso prioritário chinês a energia, mineração, transporte, agropecuária e outros se-tores-chave”, disse à DW Brasil.
O perigo, portanto, é óbvio. O aprofunda-mento de uma relação desigual: os chineses compram nossas matérias-primas e exportam seus artigos manufaturados. A China, interes-sada em reduzir os custos de suas importações, pode acabar reforçando a especialização da América Latina em commodities, o que tal-vez não seja um bom caminho para a região chegar ao crescimento sustentado. Além disso, existe o fator da degradação ambiental causada por grandes projetos como o da ferrovia que pretende ligar o Brasil ao oceano Pacífico.
O sucesso dessa nova relação vai depender da visão estratégica dos países latino-america-nos, para que não se verifique uma adesão pas-siva à China. No caso brasileiro, também está em jogo seu papel como centro irradiador de poder na região. Sem a defesa firme de seus in-teresses – como, por exemplo, o processamen-to de matérias-primas em território nacional – o Brasil corre o risco de simplesmente trocar a origem da dependência. Nesse caso, depois de portugueses, ingleses e norte-americanos, agora seria a vez dos chineses.
BRasiL E MéxicO:
Na balaNça Fonte: Conselho empresarial Brasil-China
77,9 BiLhõEs
3,2 BiLhõEs
79,8%
48,4%
de dólares foi o valor do comércio bilateral entre Brasil e China em 2014. O número reflete uma queda de 6% em relação ao ano anterior, mas representa o segundo maior resultado de toda a série histórica, iniciada em 2004.
de dólares foi o saldo positivo do Brasil. As exportações somaram 40,6 bilhões de dólares, representando um declínio de 12% em comparação com o ano de 2013. Já as importa-ções advindas do país asiático totalizaram 37,3 bilhões de dólares, refletindo um pequeno aumento de 0,1%.
de todo valor exportado para a China pelo Brasil corresponderam a três produtos: soja, minério de ferro e petróleo bruto. A redução no valor das exportações brasileiras para a China, em 2014, teve como causa principal a tendência de queda dos preços das commodi-ties exportadas pelo país.
de todo o valor importado pelo Brasil da China corresponderam aos setores de máquinas e aparelhos elétricos e mecânicos. As compras de máquinas e aparelhos elétricos encerra-ram o ano com um módico acréscimo de 0,3%, ao mesmo tempo em que se verificou uma queda de 12,1%, em dólares, no setor de máquinas e aparelhos mecânicos.
jUNTOs, afiNaL?
14 brasilobserver.co.uk | June 2015
CONEXÃO BR-UK
StaRtUpS BRaSilEiRaS à viStaIntegrantes
do programa Start-Up Brasil, empreendedores
chegam a Londres em junho para
participar de semana de tecnologia e conhecer
investidores e experiências locais
CCinco startups brasileiras desembarcam em Londres dia 15 de junho para uma missão internacional. Durante quatro dias, elas vão participar de um dos maiores eventos de em-presas nascentes no mundo, a London Tech-nology Week, e conhecer investidores locais, empreendedores e mostrar seus produtos para possíveis clientes.
Integrantes do Programa Nacional de Ace-leração de Startups, ou Start-Up Brasil, essas jovens empresas foram selecionadas a partir de um edital realizado no mês de maio pela Softex, que é a gestora da iniciativa do governo federal – levou-se em consideração o estágio mais avançado do negócio e seu potencial de internacionalização.
Realizado pela primeira vez no ano passa-do, a semana de tecnologia celebra a posição global de Londres como um viveiro de inova-ção, de oportunidades para negócios, de em-preendedorismo e de talento criativo. Na pro-gramação estão desde grandes conferências até oficinas, reuniões com investidores e agenda customizada para cada startup. Em 2014, mais de 40 mil pessoas de mais de 40 países parti-ciparam dos 203 eventos realizados em dife-rentes locais da capital da Inglaterra durante a London Technology Week.
“Essa missão é uma iniciativa do projeto de internacionalização que estamos desenhando para startups. Em Londres, nosso objetivo é apresentá-las ao inovador mercado do Reino Unido, a novos modelos de negócios e meto-dologias, bem como a novas formas de acesso ao capital, como o financiamento coletivo”, ex-plicou Ney Leal, vice-presidente executivo da Softex, ao portal E-Commerce News.
Vitor Andrade, diretor-gestor do Start-Up
Brasil, acompanhará a delegação integrada pela Convenia, plataforma de gestão de recur-sos humanos; Maxmilhas, plataforma para in-termediação da compra e venda de passagens aéreas emitidas por milhas; Emotion.me, cen-tral on-line para organização de casamentos; Sistema Hiper, sistema de ponto de venda de alta produtividade para gestão de pequenas e médias lojas de varejo; e Virtual Avionics, que projeta e desenvolve equipamentos e sistemas profissionais para simulação de voo.
Na agenda, além da participação em pa-lestras durante a semana, estão programadas reuniões com especialistas em legislação, in-centivos fiscais e impostos para orientação sobre como investir e abrir um negócio no Reino Unido; apresentação de casos de suces-so, sessões sobre acesso ao capital e pitch para potenciais investidores, além de encontros de relacionamento com players locais.
FORtalECENDO O ECOSSiStEMa
Na gestão do Start-Up Brasil desde o início, em 2012, Vitor Andrade concedeu recente-mente entrevista ao portal Pequenas Empresas & Grandes Negócios sobre os desafios e o futu-ro do programa. Para ele, é preciso “fortalecer as startups que estão conosco e aquelas que já passaram”. Até agora, ao todo quatro turmas já foram formadas.
“Como se faz isso? Melhorando continu-amente o ecossistema, ou seja, promovendo encontros de empresas com as startups, co-nectando empreendedores com investidores, conversando com as aceleradoras e, também, aprendendo com os cases de sucesso do exte-rior”, afirmou Andrade. “Temos que olhar para
fora e aprender as lições de quem já passou por todas as etapas do mundo do empreendedoris-mo. É por isso que estamos indo a Londres. A interação dos brasileiros com os estrangeiros será valiosa para avançarmos em muitos as-pectos, alguns que nem conhecemos”.
Vitor Andrade explicou que “a proposta do Start-Up Brasil é capacitar as startups para re-ceber investimento privado” e que esse objeti-vo já está sendo alcançado. “A primeira turma do programa, graduada no final de 2014, teve 8 milhões de reais de investimento público. Mas os empreendedores, com suas inovações e po-tencial, foram capazes de captar R$ 14 milhões com investidores”, contou. Trata-se, na opinião de Andrade, de “uma métrica valiosa, pois in-dica que governo, empreendedores, empresas e investidores estão ganhando”.
Sobre o futuro do programa, o diretor-ges-tor indicou que a prioridade agora é ajudar empreendedores com boas ideias que estão longe dos grandes centros do país. “Quero o Start-Up Brasil ajudando mais startups do Norte, Nordeste e Centro-Oeste brasileiro. Locais com excelentes empreendedores, mas ainda minoria no projeto”, disse.
Andrade garantiu ainda que, apesar dos ajustes fiscais promovidos pelo governo da presidente Dilma Rousseff, o programa está com o cronograma mantido. “Até o momen-to não se discutiu cortes de orçamento. Então, vamos continuar com a seleção das startups”. Para ele, “o ecossistema vê na crise uma opor-tunidade. A gente enfrenta um problema, não? Vamos ajudar as empresas a diminuírem custos, inovar e terem produtos mais baratos. Então, posso dizer, temos um bom momento para resolver as questões do país”.
O principal símbolo dos Jogos Olím-picos já faz parte da decoração da cidade para os Jogos Rio 2016. A prefeitura instalou os aros olím-picos no Parque Madureira ante-cipando aos cariocas o clima do maior evento esportivo do planeta. O símbolo, que representa a união dos cinco continentes, foi doado pelo Reino Unido. Os aros decor-aram a ponte Tyne, de Newcastle, uma das cidades onde foram dis-putadas partidas de futebol dos Jogos Olímpicos de 2012, realiza-dos em Londres. É a primeira vez que uma doação desse tipo é feita. O Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, afirmou que a che-gada dos aros sela um intercâmbio crescente entre os dois países nos últimos anos. “Estamos ‘namoran-do’ os Jogos do Rio há muito tem-po e agora estamos dando para a cidade e para o Brasil os nossos anéis de compromisso”, brincou o diplomata. “Estamos certos do sucesso dos Jogos Rio 2016 e quer-emos fazer parte dessa história.”
AROs OLíMPicOs sãO iNAUgURAdOs NO RiODivulgação
15brasilobserver.co.uk | June 2015
£10 Standard£8 Students
The Forge3-7 Delancey Street, Camden NW1 7NL
ILESSI27th JUNE 7pm
16 brasilobserver.co.uk | June 2015
BRASILIANCE
PodE fICAR PIoR
fINANCIAmENto EmPRESARIAL
dEIxA PoLítICoS REféNS do PodER
ECoNômICo
APor Wagner de Alcântara Aragão
A Câmara dos Deputados começou a votar na última semana de maio uma das maiores reivindicações da jovem democracia brasileira: a reforma polí-tica. Pelo que foi aprovado até o mo-mento, porém, há mais motivos de preocupação do que razões a serem comemoradas.
É grande o risco de o país institu-cionalizar, em vez de corrigir, vícios do sistema político-eleitoral vigente. No lugar de uma reforma fruto de discussão com a sociedade, a tendên-cia é a aprovação de regras que aten-dam aos interesses mais reacionários da política nacional.
A discussão em torno das formas de financiamento dos partidos, dos candidatos e das campanhas eleitorais é o exemplo mais relevante. Por meio de habilidosas manobras, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conseguiu fazer valer uma de suas maiores vontades, em sintonia fina com os interesses dos grupos que representa: a aprovação do financiamento empresarial.
Para entender como se deu essa manobra e como a reforma em vias de ser aprovada está longe de ser satisfa-tória, é preciso observar como o tema está sendo apreciado pela Câmara dos Deputados.
CUNHA CoNdUZ
O texto da reforma política é o da Proposta de Emenda Constitucional 182/2007, resultado da aglutinação de outras 154 propostas que tramitavam no Legislativo. É a PEC 182/2007, por-tanto, que começou a ser votada pelo plenário da Câmara, em 26 de maio. Em acordo da presidência da Câmara com as lideranças dos partidos e das bancadas, ficou decidido que a votação seria feita por temas.
O tópico financiamento eleitoral foi colocado em votação na sessão do mes-mo dia 26 de maio. Os deputados de-veriam aprovar ou rejeitar a legalização de doações de empresas e de pessoas fí-sicas às campanhas eleitorais. A medida recebeu 264 votos favoráveis, 44 menos do que os três quintos necessários para se aprovar uma PEC.
A sessão foi encerrada e, conforme estabelecia o acordo de lideranças, es-taria em pauta na sessão seguinte (27 de maio) a aprovação do financiamento exclusivamente público das campanhas ou do financiamento público combi-nado com doações de pessoas físicas. Entretanto, mobilizadas por Eduardo Cunha, lideranças aliadas ao presidente da Câmara consideraram que a votação
anterior se referia apenas ao financia-mento de candidaturas, e não de par-tidos políticos. Assim, conseguiram incluir na pauta a votação do financia-mento empresarial especificamente a partidos políticos.
Em 24 horas, os defensores do finan-ciamento empresarial conseguiram que 71 deputados mudassem de posição: 68 deles alteraram seu voto de “não” para “sim” e outros três, que tinham optado pela abstenção, resolveram migrar para o “sim”. Dessa forma, com 330 votos favoráveis (22 acima do mínimo neces-sário), ante 141 votos contrários e uma abstenção, a Câmara aprovou a inclu-são, na Constituição, do financiamento de empresas a partidos políticos.
A manobra na votação do financia-mento não foi única. A própria inclusão da PEC 182/2007 na sessão do plenário foi resultado de uma virada de mesa de últi-ma hora encabeçada por Eduardo Cunha.
Ocorre que antes de ir a plenário o relatório final da PEC deveria ter sido votado pela Comissão Especial da Re-forma Política, instituída em fevereiro. A votação, inicialmente marcada para 19 de maio, foi transferida para 25, e depois cancelada pelo presidente da Câmara.
Eduardo Cunha alegou que o relatório “engessaria” a votação e que a decisão de levar o tema direto a plenário teria sido acordada com líderes de partidos, em consonância com o regimento da Casa.
CoNtEStAÇÕES
Embora essas modificações sejam acordadas entre as lideranças, não são poucas as contestações. O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) considerou, por exemplo, que a não votação do rela-tório pela Comissão Especial da Refor-ma Politica significou um “assassinato” da mesma. O deputado Henrique Fon-tana (PT-RS) classificou a extinção do grupo como “golpe”. A mesma palavra foi utilizada pelo deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) para definir o “acordo” entre Cunha e líderes partidários que permi-tiu recolocar o financiamento empresa-rial em pauta um dia depois de ter sido rejeitado pelo mesmo plenário.
Além disso, a reforma política cami-nha sem que a população seja consulta-da. A Câmara ignora, assim, o clamor expresso em boa parte das manifestações de junho de 2013. Iniciativas como o Ple-biscito Popular, promovido em setembro último por movimentos sociais, são des-consideradas. Dessa consulta extraoficial participaram oito milhões de brasileiros: 97% deles disseram “sim” à proposta de que fosse eleita uma Assembleia Consti-tuinte para a reforma política.
Uma Assembleia Constituinte teria mais isenção e maior credibilidade para
definir novas regras do sistema políti-co-eleitoral. Como acreditar que uma Câmara dos Deputados beneficiada pelo sistema vigente iria propor altera-ções que acabassem com os vícios que garantem a manutenção do poder da maioria dos atuais parlamentares?
Outra iniciativa, encabeçada pela Conferência Nacional dos Bispos do Bra-sil (CNBB) e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com apoio de diversas outras entidades e movimentos sociais, é a Coalizão pela Reforma Política Democrá-tica e Eleições Limpas. O grupo busca 1,5 milhão de assinaturas para que seu Proje-to de Lei seja encaminhado ao Congresso – o texto propõe o fim do financiamento empresarial de campanhas políticas e o fortalecimento dos mecanismos da de-mocracia direta, entre outras propostas.
o QUE VEm
Além do financiamento empresarial a partidos políticos, na primeira sema-na de votação da reforma política a Câ-mara dos Deputados aprovou o fim da reeleição para os cargos de prefeito, go-vernador e presidente. A proibição não se aplica aos eleitos em 2014 e aos que estiverem aptos a se reeleger nas eleições municipais do ano que vem. A reeleição de senadores, deputados federais, depu-tados estaduais e vereadores está manti-da. Vale lembrar que o mecanismo da re-eleição não constava na Constituição de 1988 e foi instituída só nove anos depois, por meio da Emenda Constitucional 16/1997, aprovada pela base de apoio do governo Fernando Henrique Cardoso.
Por outro lado, a Câmara rejeitou o fim das coligações para as eleições pro-porcionais, isto é, para a Câmara Federal, Assembleias Legislativas e Câmara de Ve-readores. A manutenção das coligações para as eleições proporcionais garante a sobrevivência de partidos pequenos que, sozinhos, dificilmente alcançam número de votos suficientes para atingir o quo-ciente eleitoral e eleger parlamentares.
Em contrapartida, as legendas nanicas saíram perdendo com a limitação do aces-so ao fundo partidário e da utilização do horário eleitoral gratuito de rádio e televi-são abertas. Só terão direito aos recursos do fundo partidário e a horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão os partidos que tiverem representação no Congresso.
Os pontos da PEC 182/2007 aprova-dos pela Câmara dos Deputados ainda precisam passar pelo Senado, onde tam-bém devem ser votadas em dois turnos. Caso haja alterações pelos senadores, re-tornam à Câmara dos Deputados, e as-sim sucessivamente até que as duas casas aprovem idêntico texto. Não há previsão de quando efetivamente a reforma polí-tica será totalmente aprovada.
Habilidoso. Eduardo Cunha, ao centro, negocia com os deputados federais a votação da reforma política na Câmara
17brasilobserver.co.uk | June 2015
O preçO da demOcracia
do que estáA Câmara dos Deputados coloca em votação projeto de reforma política. Conduzida por Eduardo Cunha, tendência é a institucionalização dos vícios do atual sistema, principalmente em relação ao financiamento de campanhas eleitorais
O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar em abril de 2014 uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra as doações de empresas a candida-tos e partidos políticos. Dos 11 ministros do STF, seis já tinham votado a favor da ADI quando o ministro Gilmar Mendes pediu vistas. Passado mais de um ano, o processo continua nas mãos de Mendes, que ainda não se posicionou.
Independentemente do voto dele, os outros seis favoráveis asseguram que a inconstitucionalidade pedida pela OAB está confirmada pelo STF. Mas por que proibir empresas de doar recursos finan-ceiros a campanhas eleitorais? A razão é simples: o financiamento privado torna o detentor de cargo público eletivo refém do poder econômico. Um parlamentar ou chefe de executivo, quando tiver de tomar uma decisão em que o interesse de uma empresa doadora esteja em conflito com o interesse da sociedade, dificilmen-te terá condições de contrariar aquela que bancou sua campanha.
“A infiltração do poder econômi-co nas eleições gera graves distorções”, ressalta a OAB na ADI. “Esta dinâmica do processo eleitoral [baseada no finan-ciamento empresarial] torna a política extremamente dependente do poder econômico, o que se afigura nefasto para o funcionamento da democracia. Daí porque um dos temas centrais no desenho institucional das democracias contemporâneas é o financiamento das
campanhas eleitorais. Dita infiltração cria perniciosas vinculações entre os doadores de campanha e os políticos, que acabam sendo fonte de favoreci-mentos e de corrupção após a eleição”, argumenta a entidade.
A OAB não é contrária, porém, a doações de pessoas físicas. Primeiro porque não soa razoável que campa-nhas eleitorais sejam bancadas por di-nheiro do orçamento público, ainda mais em um país que ainda se ressente de melhor qualidade dos serviços como saúde, educação e segurança. Além dis-so, a doação de pessoa física (desde que limitada) estimula o envolvimento dos cidadãos no processo eleitoral.
A legislação hoje autoriza a doação de pessoas físicas e de empresas às legendas e às campanhas eleitorais, e prevê ainda subsídios públicos por meio do Fundo Partidário. Com a reforma política que está sendo votada pela Câmara dos De-putados, a doação de empresas estaria expressa na Constituição da República.
Assim, mesmo com o STF conside-rando inconstitucionais os dispositivos da legislação eleitoral hoje vigente, na prática essa decisão vai perder o efeito quando a emenda constitucional da reforma políti-ca for promulgada. Há a possibilidade, en-tretanto, de o financiamento empresarial aprovado pela Câmara dos Deputados ser derrubado pelo STF. Pelo menos 64 depu-tados assinaram uma ação questionando a votação duplicada da mesma regra. Para o ministro Marco Aurélio Mello, há irre-gularidade nessa manobra.
Gu
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Fonte: tribunal Superior eleitoral (tSe)
R$ 5 bilhões
360 deputados fedeRais
R$ 1,4 milhão
R$ 4,9 milhões
60%
10 empResas
foram os gastos totais da campanha eleitoral de 2014, somando todos os cargos em disputa. Tratou-se da campanha mais cara da história da democracia brasileira
de um total de 513 foram eleitos em 2014 com dinheiro de pelo menos uma das dez maiores empresas doadoras: 70% da Câmara dos Deputados
gastou, em média, um deputado federal para se eleger em 2014
foi o gasto, em média, de um senador para se eleger em 2014
do valor acima, ou R$ 2,9 bilhões, foram gastos por candidatos de apenas três partidos – PT, PSDB e PMDB – principalmente em serviços de publicidade e produção de materiais impres-
sos e com programas do horário eleitoral
foram responsáveis por abastecer as candidaturas com R$ 1 bilhão, ou seja, um quinto do total de gastos feitos nas eleições. A campeã foi a JBS, dona do frigorífico Friboi, com um investimento de R$ 391 milhões. Na sequência, tiveram destaque o grupo Odebrecht, com
R$ 111 milhões, e o Bradesco, que doou R$ 100 milhões aos partidos
18 brasilobserver.co.uk | June 2015
InvestIgação da FIFa Favorece mudanças no Futebol brasIleIroPrisão de cartolas provoca criação de nova CPI no Senado, abertura de inquérito pela Polícia Federal e dá força a medidas que pretendem melhorar a gestão do esporte pelos clubes
aA prisão de oito cartolas da Fifa – inclu-sive o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin – investigados pela participação em um esquema de extorsão, fraudes financeiras e lavagem de dinheiro en-volvendo o pagamento e o recebimento de subornos e propinas nas negociações dos direitos de transmissão e marketing das competições esportivas causou eu-foria no Brasil. Setores que há anos cri-ticam a gestão do futebol no país trata-ram a quarta-feira das prisões como um “dia histórico”.
Conforme apontado em reportagem de Renata Mendonça no site da BBC Brasil, as ações do FBI provocaram a criação de uma nova CPI do futebol no Senado, a abertura de um inquérito pela Polícia Federal por determinação
do Ministério da Justiça e deram força à aprovação da Medida Provisória (MP) 671 – que tramita no Congresso e quer melhorar a gestão do futebol pelos clu-bes, tornando-a mais rigorosa.
Apesar de no passado outras investi-gações e CPIs não terem dado em nada, jornalistas, jogadores e parlamentares têm se mostrado otimistas sobre a pos-sibilidade de mudanças no modelo de gestão e no combate à corrupção nas entidades que regem o esporte, princi-palmente porque as investigações en-volvem a polícia dos EUA.
O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu abertura de investigação sobre irregularidades cometidas por di-rigentes e ex-dirigentes do futebol bra-sileiro. No passado, outras investigações envolvendo nomes que comandavam o
futebol – como o do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira – terminaram sem punições.
Antes da nova gestão da CBF, inau-gurada em abril, veio a Medida Provi-sória 671, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em março. Vista como um possível começo no caminho para a modernização do futebol, a medida diz respeito a renegociação da dívida de 4 bilhões de reais que os clubes bra-sileiros têm com o governo. Ela propõe contrapartidas para o refinanciamento do valor em 240 meses – como a limi-tação de mandatos de presidentes de clubes e federações e o rebaixamen-to de times que não mantiverem suas contas em dia.
Enquanto os atletas do Bom Senso – grupo de jogadores fundado em 2013
para lutar por melhorias no futebol bra-sileiro – pedem medidas duras e rígidas para uma “gestão mais democrática e transparente”, a CBF alega que o texto da MP – em tramitação na Câmara – re-presenta “intervenção estatal” em uma entidade esportiva privada.
Há esperança, no entanto, que as in-vestigações da Fifa poderão ter impac-to até mesmo sobre o texto final da MP, tornando-a mais rigorosa, nos moldes da desejada pelos jogadores do Bom Senso.
Já no Congresso Nacional o envol-vimento de alguns dos principais no-mes do comando do futebol brasileiro nos últimos anos (além de Marin, os empresários J. Hawilla e José Lázaro Margulies) inspirou a criação de uma CPI, proposta pelo ex-jogador e sena-dor Romário.
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Nome do ex-presidente da CBF, Jose Maria Marin, preso na
Suíça, foi retirado da fachada do prédio no Rio de Janeiro
19brasilobserver.co.uk | June 2015
Comitê Gestor da internet questiona planos do FaCebook
ajuste FisCal e Greves põem em xeque lema ‘pátria eduCadora’Mark Zuckerberg quer oferecer acesso gratuito à web para brasileiros de baixa renda, mas plano
pode afetar direitos fundamentais estabelecidos no Marco Civil da Internet
Mark Zuckerberg anunciou em abril uma parceria com o governo brasileiro para oferecer conexão de graça para a população de bai-xa renda no país, através do proje-to Internet.org. O anúncio formal do acordo foi marcado para junho, mas o Comitê Gestor da Internet no Brasil quer saber como e por que o Facebook pretende fazer isso.
De acordo com reportagem de Rodolfo Borges no site da versão brasileira do El País, o comitê en-viou ao Facebook um questionário com perguntas sobre a parceria. Os conselheiros, afirma o texto, “que-rem saber detalhes sobre a possí-vel limitação de acesso a conteú-dos e o que estará associado a essa oferta de internet, questões que podem afetar direitos fundamen-tais estabelecidos no Marco Civil da Internet, como o direito ao fluxo livre de informações”.
Além desses, outros pontos que o comitê quer esclarecer são a privacidade do usuário e a infraes-trutura que será utilizada para via-bilizar a parceria. Para o CGI, não
está claro se haverá ou não dinhei-ro público no processo, nem a qual empresa seria beneficiada.
As críticas mais contundentes partiram da associação Proteste, que encaminhou uma carta à presi-dente Dilma Rousseff condenando o acordo com o Facebook. Segun-do a Proteste, “o projeto implemen-tado pela rede social em países da América Latina, África e Ásia viola direitos assegurados pelo Marco Civil da Internet, como a privaci-dade, a liberdade de expressão e a neutralidade da rede”.
Na opinião da associação, “ao prometer o ‘acesso gratuito e exclusivo’ a aplicativos e servi-ços, o Facebook está na verdade limitando o acesso aos demais serviços existentes na rede e ofe-recendo aos usuários de baixa renda acesso a apenas uma parte da internet”. Consultora jurídica da Proteste e conselheira do CGI, Flávia Lefèvre disse ao El País que, ao receber a carta, o Palácio do Planalto se limitou a respon-der que o assunto Internet.org
está sendo discutido no âmbito dos Ministérios das Comunica-ções e da Ciência e Tecnologia e que não há qualquer prazo de lançamento estabelecido.
O projeto Internet.org pretende oferecer internet aos 2,7 bilhões de pessoas de regiões pobres que ain-da não a acessam. De sua parte, o Facebook manifesta a intenção de proporcionar aos brasileiros que “se conectem com a economia mo-derna e acessem informações edu-cativas, informações de trabalho, informações de saúde”, nas pala-vras de Zuckerberg. Ao anunciar o acordo, junto com ele, em abril, Dilma disse que “o objetivo fun-damental é a inclusão digital, mas não é a inclusão digital pela inclu-são digital, é a inclusão digital que pode garantir acesso a educação, saúde, cultura e tecnologias”.
Principalmente depois da apro-vação do Marco Civil da Internet, no ano passado, os padrões de go-vernança defendidos pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil têm servido de referência mundial.
Professores e trabalhadores técnico-administrati-vos de instituições públicas de ensino superior entra-ram em greve no final de maio por tempo indetermi-nado. Os profissionais querem pressionar o governo federal a ampliar os investimentos na educação pú-blica. Até o fechamento desta edição, a paralisação afetava 48 das 63 universidades federais do país, de acordo com dados dos sindicatos.
Uma semana antes do início da greve, o governo anunciou contingenciamento de recursos do orça-mento federal de 2015 no valor de quase 70 bilhões de reais. Na área da educação, a mais afetada pelo ajuste fiscal, serão cortados 9,423 bilhões de reais.
A greve foi aprovada em reunião do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Su-perior (Andes-SN), em Brasília. Entre as reivindica-ções estão a reestruturação da carreira e a reposição de 27% das perdas salariais – o último reajuste foi em 2012.
“Houve uma expansão significativa das univer-sidades federais, mas as condições da expansão são precárias. Tivemos, além de dificuldades que já exis-tiam, um contingenciamento de recursos nos três primeiros meses do ano. As universidades não estão conseguindo pagar as suas contas”, disse o presidente do Andes-SN, Paulo Rizzo.
Em artigo no site da revista Carta Capital, a rei-tora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Smaili, afirmou que “existe uma enorme preocupa-ção com o acúmulo de compromissos, contratos e obras, dos quais dependem não só o funcionamento das universidades, mas a consolidação da expansão realizada nos últimos anos”. Funcionários da institui-ção também aderiram à paralisação.
“O país deve manter o crescimento de suas uni-versidades para atender mais jovens, formar mais professores e se preparar para atingir as metas do Pla-no Nacional de Educação (PNE), que depende for-temente das instituições públicas de ensino superior. O desenvolvimento destas garantirá maior produção de tecnologia, pois elas detêm a capacidade de pro-duzir os avanços das engenharias, da medicina e saú-de e do conhecimento humano”, argumentou Smaili.
As escolas estaduais paulistas também estão em greve desde 13 de março porque os professores pe-dem um reajuste de 75% para que o salário se equi-pare ao das demais categorias com nível superior, como determina a meta 17 do Plano Nacional de Educação, que vence em seis anos. A falta de reajuste salarial também é motivo de greve em outros Esta-dos, como no Paraná, onde professores foram agre-didos pela Polícia Militar em uma manifestação, no final de abril.
Pouco meses depois de Dilma Rousseff ter esco-lhido como lema do segundo mandato o slogan “Pá-tria Educadora”, a educação no país passa por difi-culdades. Até mesmo bandeiras da presidente, como os programas Pronatec e Ciência Sem Fronteiras, sofrerão cortes.
Sobre a greve nas universidades federais, O Mi-nistério da Educação publicou nota na qual critica a decisão “sem que seja precedida por um amplo diá-logo”. A pasta diz que a deflagração do movimento só faz sentido “quando estiverem esgotados os canais de negociação”.
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Presidente Dilma Rousseff durante encontro com o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, na
Cúpula das Américas
20 brasilobserver.co.uk | June 2015
HHá três anos, desde 2013, jovens mora-dores e estudantes de escolas públicas e particulares do Campo Limpo, perife-ria da zona sul de São Paulo, recebem o convite para embarcarem em uma jornada de aprendizagem. Inicialmente parece que esta caminhada irá envolver apenas técnicas de comunicação. Mas é mais que isso.
A Escola de Comunicação Comuni-tária é o principal projeto da Escola de Notícias, organização criada e gerida por jovens na região, que tem o objeti-vo de gerar transformações sociais com as Tecnologias de Informação e Comu-nicação (TICs). A ECOMCOM, como é apelidada o projeto, é o primeiro ciclo do Programa de Formação Continua-da de Jovens da Escola de Notícias, que tem duração de três anos. Uma jornada de aprendizagem em produção comu-nicativa, desenvolvimento comunitá-rio e autoconhecimento que faz uso da comunicação para investigar apreciati-vamente o que dá vida e potencializa transformações às comunidades em que estamos inseridos. A Comunica-ção, no caso, é uma desculpa.
Matheus Cardoso, 19 anos, fez par-te da primeira temporada da Escola de Comunicação Comunitária e achava que iria apenas se aprofundar em técnicas do audiovisual. “Um feliz, e até hoje o mais agradável, engano”, ele afirma. “Aprendi a olhar o mundo, principalmente as pes-soas, de uma maneira menos simplista, menos preta e branca. Usar as ferramen-tas que tanto gosto de operar para contar histórias, não apenas com o equipamen-to certo ou o enquadramento perfeito, mas com os personagens que antes, para mim, eram invisíveis.”
Durante dois dias na semana, em nove meses, uma turma de 30 jovens se divide em três linguagens diferentes – Fotografia e Vídeo, Criação Gráfica e Jornalismo e Escrita Criativa – e juntos participam da Oficina Transversal em que estudam, se relacionam e produ-zem conteúdos a respeito das quatro comunidades em que estão inseridos na adolescência e juventude.
Em toda a jornada de aprendizagem, a comunicação é uma ferramenta usada para enxergar o que há de mais posi-tivo no mundo. Desde Sessões Comu-nitárias, encontros em que os meninos e meninas apresentam suas produções para suas famílias e amigos, até insPI-RAÇÃO, quando a turma recebe um profissional da área de comunicação para um bate-papo sobre seu universo de trabalho e carreira, a ideia é gerar movimentos de fora para dentro e de dentro para fora.
Desde 2013, quando foi possível for-mar a primeira turma, com apoio do VAI – Valorização de Iniciativas Culturais da Secretaria Municipal de Cultura da Ci-dade de São Paulo, já aconteceram aulas com o jornalista Caco Barcelos, da Rede Globo, com a apresentadora da Band News FM Tatiana Vasconcellos, com o roteirista de cinema Di Moretti, com a cineasta Mara Mourão. Mas também já houve aulas com o subprefeito do Cam-po Limpo, com jovens que gerenciam o
Banco Comunitário União Sampaio, café na casa do Binho, do Sarau do Binho, e causos do contador de histórias João Luiz do Couto.
Fernanda Alves, 17 anos, que fez parte da primeira turma, em 2013, diz que na ECOMCOM ela descobriu que parte de quem ela é foi construída no bairro que mora. “A EComCom mudou o jeito como eu vejo as coisas, pois eu achava que não tinha porque ajudar o meu bairro a melhorar, que não era importante pra mim. Comecei a buscar mais sobre mim, quem eu sou e porque sou assim”, diz.
Lilian Rosa, 21 anos, também da turma de 2013, conta que passou a gos-tar mais do bairro em que vive. “Foi na ECOMCOM que comecei a dar mais valor ao lugar onde vivo. Amadureci bastante, tive um alto conhecimento, vi que o amor é importante, que as coisas só ficam bonitas se forem feitas com muito amor”.
Como descobrir que o seu vizinho é um eletricista que já lançou livros de po-esia? Como saber que existe uma moeda original do seu bairro e que seu vizinho é um banco comunitário? Como funcio-na a produção de um programa como o Profissão Repórter? E como é criar o roteiro de um filme que já ganhou prê-mios? A Escola de Notícias existe para facilitar processos em que jovens, com tanto potencial de transformação de suas vidas e de sua comunidade como qual-quer outra pessoa no mundo, possam fazer-se esse tipo de questionamento e ir atrás das respostas. “Essa trajetória foi muito importante, pois ela, de certa for-ma, me mostrou como ver o mundo com outros olhos em relação a tudo e todos, de forma crítica e cultural”, diz Gabriel Felipe, 18 anos, que fez parte da tempo-rada de 2014.
PROVOCAÇÕES
Para criar essa vivência técnica e humana de desenvolvimento, a meto-dologia foi desenvolvida baseada na Investigação Apreciativa e desenhada em cima dos quatro pilares da Unesco para a Educação e nos sete pilares para a Sustentabilidade. Camila Andrade Vaz, coordenadora técnica e educadora de Fotografia e Vídeo da ECOMCOM, acredita que o maior propósito da Es-cola de Notícias é gerar provocações, gerar movimento. “Não chego nem a dizer transformação; pra mim, estamos um passo antes. O passo de gerar um movimento interno de inquietação, de questionamento sejam eles pessoais, sejam eles estruturais ou de qualquer outra natureza”, explica ela. “Estamos o tempo todo nos fazendo como ponte. Em todos os projetos encabeçados di-retamente ou indiretamente pela Escola de Notícias, a provocação sempre tem um peso considerável”.
A terceira turma a embarcar nessa jornada, neste ano de 2015, ainda não chegou nem na metade do que ainda po-dem vivenciar neste caminho. Este ano, serão mais de 470 horas de conteúdo, com encontros semanais que acontecem
CONECTANDO
A COmuNiCAÇãO COmO DESCulPA
PARA gERAR mOVimENTOS
Conheça a Escola de Notícias, organização gerida por jovens na região do Campo Limpo, em São Paulo
Por Karol Coelho – de São Paulo g
SÃO PAULO
g Karol Coelho é jornalista e faz parte da equipe de Comunicação Institucional da Escola de Notícias
21brasilobserver.co.uk | June 2015
no Espaço Cultural CITA (Cantinho de Integração de Todas as Artes), parceiro do projeto desde a primeira temporada. O primeiro módulo acabou de acabar e ele teve uma Sessão Comunitária com a presença de mais de 60 pessoas entre família e amigos que tiveram suas histó-rias contadas pela turma até agora. Mas ainda há mais para descobrir sobre si mesma, sobre sua comunidade, sua es-cola, sobre a comunicação e claro, sobre pessoas. “Existem percalços no percur-so, mas mesmo os percalços fazem parte do nosso processo quanto uma institui-ção que se constrói com uma educação que considera as pessoas importantes”, afirma a educadora de Criação Gráfica Mariana Watanabe.
Depois de dois anos que passou pela ECOMCOM, é exatamente isso que Matheus leva e considera que sempre levará consigo. “O que aprendi nesta
jornada é que as pessoas são a parte mais importante de todo o processo”.
Após se formarem nas oficinas, os jovens integram os ciclos 2, em que são impulsionados a ampliar repertório e ter contato com profissionais da área, e 3, com oportunidades de geração de trabalho e renda usando a comuni-cação. Em 2015, cerca de 250 pessoas serão impactadas diretamente, entre jovens, profissionais da comunicação, professores, famílias e voluntários da Escola de Notícias.
Tony Marlon, gestor responsável por Projetos e Parcerias da Escola de Notícias, acha que a organização cres-ceu mais rápido do que havia sido ima-ginado. “Eu fico surpreso por a gente ter conseguido se organizar da forma como a gente se organizou nos últimos dois anos especialmente, pelo nível de maturidade de 2013 até agora de como
a gente ficou e, pelo espaço que foi con-quistado”, afirma.
A Escola de Notícias é uma iniciati-va social liderada por jovens moradores do Campo Limpo, zona sul da cidade de São Paulo, que tem o propósito de impulsionar transformações em dife-rentes tipos de Comunidades usando as Tecnologias de Informação e Comu-nicação (TIC). Legalmente constituída desde abril de 2014, a organização de-senvolve atualmente seis projetos edu-cativos especialmente focados nas áreas de Juventude, Educação e no Desenvol-vimento de Comunidades.
A iniciativa não conta com nenhum apoiador financeiro institucional. Ou seja, não tem patrocinadores diretos das atividades, o que quer dizer que todos os projetos são subsidiados pela prestação de serviço em áreas diversas na Educa-ção, Mobilização Social, Empreendedo-
rismo, Juventude, entre outras alinhadas ao trabalho ou por Apoiador de projeto específico. Na prática, a Escola de Notí-cias consegue existir no mundo a partir de uma lógica simples, subsidiando a gratuidade de parte dos clientes, que são os alunos, a partir da comercialização de produtos e serviços.
Em 2013, Tony Marlon, represen-tando a Escola de Notícias, foi reconhe-cido como um dos três empreendedores sociais mais criativos e transformado-res no Brasil no ano pelo jornal Folha de S. Paulo e a Fundação Schwab, por meio do Prêmio Empreendedor Social, que mapeia e valoriza ações e pessoas em todo o país.
Para saber mais sobre a Escola de Notícias e a Escola de Comunicação
Comunitária, acesse: www.escoladenoticias.org.
Camila Andrade Vaz, coordenadora técnica e educadora de Fotografia e Vídeo da ECOMCOM, acredita que o maior propósito da Escola de Notícias é gerar provocações, movimento
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23brasilobserver.co.uk | June 2015
B R A S I LO B S E R V E R
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DOIS AMIGOSUM SÉCULO DE MÚSICA
CAEtAnO VELOSO E GILbErtO GIL rEtOrnAM A LOnDrES
pArA COMEMOrAçãO DOS 50 AnOS DE CArrEIrA E AMIzADE.
E fALAM AO brASIL ObSErVEr.
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24 brasilobserver.co.uk | June 2015
GUIA
Caetano e Gil na bruma do tempo
Referência para diferentes gerações,
amigos falam sobre momentos importantes da
carreira e da Londres que
conheceram nos anos de exílio,
além da polêmica em torno do show
da dupla em Israel
Por Gabriela Lobianco
Na onda de artistas brasileiros que têm aterrissado em solo britânico nos últimos meses, a cidade de Londres recebe no dia 1º de julho a turnê “Dois amigos, um século de música”. Trata-se dos consagrados Cae-tano Veloso e Gilberto Gil em um concerto intimista de voz e violão que vai relembrar grandes sucessos da carreira de ambos.
Os baianos que se conheceram em 1963 na Rua do Chile, em Salvador, acei-taram convite para uma série de shows pela Europa para celebrar 50 anos de car-reira e amizade. Os dois cantores deram uma entrevista exclusiva ao Brasil Obser-ver sobre o tour no velho continente e essa nova revisitação de uma parceria artística que perdura em forma de camaradagem mesmo em projetos paralelos.
Esse presente ao público, antes de tudo, não é um evento inédito. Gil re-lembra que em 1994 os músicos fizeram uma colaboração desse tipo. “Já tinham muitos convites para nos apresentarmos juntos novamente e vimos que tínhamos essa data para celebrar.” A data, entre-tanto, não é tão redonda assim. Veloso conta que, apesar da sua primeira can-ção de sucesso, “De manhã”, ter sido gra-vada em 1965, pela cantora e irmã Maria Bethânia, sua história como músico vem de muitos anos antes. Segundo ele, se-ria preciso voltar não só aos shows do Teatro Vila Velha, em Salvador, como às apresentações no auditório do ginásio, em Santo Amaro, sua cidade natal: “Ia remontar à minha puberdade e se perder na bruma do tempo”.
A carreira de ambos deslanchou mes-mo nos primórdios da Tropicália, depois de participação nos festivais de música popular da Rede Record, na segunda me-tade da década de 1960. Esse movimento, do qual ambos foram precursores ao lado de Gal Costa, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé, entre outros, surgiu sob a influ-ência das correntes artísticas de vanguar-da e da cultura pop nacional e estrangeira, trazendo várias inovações para o cenário da música popular brasileira da época que perduram até hoje. Para essa nova turnê internacional, os artistas estão compilan-do um apanhado de canções que simboli-zam toda a jornada percorrida desde essa fase até a atualidade. Veloso acredita que “algumas sejam pouco conhecidas, como as primeiras (e definidoras do movimen-to) do tropicalismo”. “Temos ensaiado um repertório de músicas de relevância para as nossas carreiras e estamos com a ideia de uma canção nova feita especialmente para essa turnê”, complementa Gil.
Aquele abraço.Baianos se conheceram em 1963
25brasilobserver.co.uk | June 2015
SHOW EM ISRAEL
Na agenda dessa turnê internacio-nal está uma apresentação dos músicos em Tel Aviv, marcada para dia 28 de julho, o que gerou protestos nas redes sociais. Uma página no Facebook no-meada “A Tropicália não combina com Apartheid” foi criada e uma petição online reunia até o fechamento desta edição mais de 10 mil assinaturas con-tra o show dos brasileiros em território israelense.
Até o músico inglês Roger Waters, ex-baixista e cantor do grupo Pink Floyd, pediu a Veloso e Gil o cancela-mento da apresentação em Tel Aviv. “Caros Gilberto e Caetano”, diz Waters em uma carta enviada aos músicos, “os aprisionados e os mortos estendem as mãos. Por favor, unam-se a nós cance-lando seu show em Israel”. Nos últimos anos, Waters se manifestou diversas ve-zes a favor dos palestinos.
O concerto em Tel Aviv, mesmo as-sim, está mantido. “Toda vez que vou lá aparece alguém protestando”, lembra Gil. “Não considero um fato político. É uma questão de mercado. Fazer ou não fazer não significa estar ou não estar de acordo com a política daquele país. Fa-zemos shows nos Estados Unidos e nin-guém diz nada!”, completa.
Já Veloso disse que “se trata de uma questão complexa”. “Concordo com a maioria das críticas feitas à política ofi-cial israelense. Mas sempre gostei de Israel e faz muitos anos que não vou lá. A pressão para que desmarcássemos repercutiu em nós. Mas prefiro tomar atitudes muito definidas. Sinto-me quase como se fosse um israelense que discorda dos políticos reacionários que têm dominado a cena no país. Não pos-so pensar no que há de opressivo sobre o povo palestino sem revolta. Não pos-so tampouco admitir sugestões de apa-gar Israel do mapa. Mas nem Gil nem eu somos massa de manobra para gru-pos políticos”. Veloso encerra o assunto dizendo “preciso responder a ele [Wa-ters], inclusive agradecendo a atenção”.
DO PRIMEIRO LP A LONDRES
Em 1967 saiu o primeiro LP de Ca-etano Veloso, enquanto Gilberto Gil já era famoso. Caê, para os íntimos, re-lembra que era fã de Gil antes de conhe-cê-lo pessoalmente. “Conheci Gil pela TV. Ele já se apresentava na televisão baiana, de modo semiprofissional. Mi-nha mãe chamava: ‘Caetano, venha ver aquele preto que você gosta’”.
Mas foi 1968, talvez, o ano mais sig-nificativo na carreira da dupla – Velo-so, então, compõe o hino “É Proibido Proibir”. Além disso, os dois são presos em meio à efervescência tropicalista, devido ao Ato Institucional nº 5 da di-tadura civil-militar que comandava o país e que cerceava cada vez mais as li-berdades. Em 1970, os dois deixaram o Brasil rumo ao exílio. Antes de virem para Londres, realizaram um show no Teatro Castro Alves, em Salvador, para
levantar fundos para a viagem. “Foi uma lembrança forte [a despedida]”, confidencia Gil. Ao ser perguntado so-bre um momento da carreira considere mais enriquecedor, Veloso também re-memora esse espetáculo: “Gil cantando ‘Aquele Abraço’ no show que fizemos às vésperas de viajarmos para o exílio... Muitas emoções”.
A dupla completamente desconhe-cida galgou uma bela carreira interna-cional desde os tempos de expatriados. Nessa temporada, eles foram manchete do jornal britânico The Guardian como “dois brasileiros anônimos” que estrea-ram atração principal do segundo dia do evento do Festival da Ilha de Wight, em agosto de 1970.
“Terminei me afeiçoando muito a Londres. Coisa que me parecia difícil no primeiro ano de exílio”, diz Veloso, revelando que aprendeu muito duran-te essa época. Tanto Gil como Caetano produziram importantes discos nessa fase. Caetano se concentrou no traba-lho homônimo com temática melan-cólica e canções compostas em inglês endereçadas aos que ficaram no Brasil. Depois, lançou Transa, em 1972, uma ode ao retorno ao seu país de origem. Mesmo assim, confessa que não mora-ria de novo em Londres se viesse para o exterior. “Suponho que Nova York e Madri seriam opções possíveis. Gosto (e sempre gostaria) de ir a Londres de vez em quando e sentar num daqueles bancos sábios do Hyde Park e olhar a grama, pensar na tradição liberal e ver as pessoas passando”, divaga Veloso.
Gil não ficou atrás. Copacabana Mon Amour e Gilberto Gil (Nêga) foram al-gumas de suas produções no período. A cidade foi celeiro do seu terceiro filho, Pedro, em 1970. “Gosto muito de Lon-dres e desde os anos de exílio, quando aprendi muito do ponto de vista civili-zatório e musical. Tenho boa sensação cada vez que vou lá”, conclui.
Ao retornarem à terra tupiniquim, não pararam mais de produzir. Em 1972 fizeram uma parceria incrível em Barra 69: Caetano e Gil Ao Vivo na Bahia. E, como não podia deixar de ser, os dois sabem muito bem que estão entre as maiores referências da Música Popular Brasileira. “Vejo, por todo o Brasil, te-atros e ginásios cheios de gente jovem para ver meus shows”, conta Caetano. Gil também segue o mesmo raciocínio: “é interessante ver em meus shows, no Brasil e no mundo, às vezes até três ge-rações curtindo junto. Isso é motivo de contentamento”. Em Londres certamente não será diferente.
Diogo Nogueira e HamiltoN De HolaNDa abrem apreseNtação
Antes da apresentação de Caetano Veloso e Gilberto Gil, sobem ao palco Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda, dois dos mais proeminentes músicos da nova geração da música popular brasilei-ra, para o concerto do disco Bossa Negra, lançado no ano passado.
Filho de João Nogueira, um dos gran-des sambistas da história, Diogo carrega no sangue e na voz, além de sua beleza e carisma, a competência de um dos can-tores mais bem vendidos no Brasil hoje. Ele conduz também um programa na TV Brasil, o Samba na Gamboa, que faz um resgate da cultura popular brasileira com participação de músicos da velha guarda e novas vozes da música contemporânea.
Já Hamilton de Holanda é um mul-ti-instrumentista e compositor indicado diversas vezes para o Latin Grammy – e que se apresentou recentemente no Bar-bican ao lado do pianista italiano Stefano Bollani. Versado nas raízes do choro e influenciado por mestres como Villa-Lo-bos, Pixinguinha e Tom Jobim, Hamilton encanta com a tamanha facilidade com que conduz seu bandolim de dez cordas, que ele próprio inventou (o instrumento normalmente tem oito cordas).
Inspirado pelo clássico Afrossambas, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, Bossa Negra traz uma mistura de can-ções compostas por Diogo e Hamilton e versões de Ary Barroso (“Risque”), Pi-xinguinha e Vinicius de Moraes (“Mun-do Melhor”) e Caetano Veloso (“Desde que o Samba é Samba”), numa fusão que revela a música brasileira de raiz.
CAEtANO VELOSO & GILbERtO GIL HAMILtON DE HOLANDA & DIOGO NOGuEIRA
OndeEventim Apollo HammersmithQuando1º de julhoIngressoA partir de £10Infowww.serious.org.uk
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Disco Bossa Negra foi lançado no ano passado
26 brasilobserver.co.uk | June 2015
DICAS CULTURAIS
ARTE CINEMACORES DA BAHIA QUE HORAS ELA VOLTA?
A Embaixada do Brasil em Londres apresenta desde o dia 2 de junho uma coleção de 44 obras de Hector Julio Páride de Berna-bó (1911- 1997), mais conhecido como Carybé. Nascido na Argen-tina, o artista viveu por quase 50 anos na Bahia, retratando o cotidia-no e o sincretismo religioso baiano, inspirado por diferentes aspectos da cultura local, especialmente o Candomblé e suas raízes africanas.
O escritor brasileiro Jorge Amado, que conhecia Carybé muito bem, observou certa vez que a vida do artist a era tão rica e colorida como qualquer conto de ficção. Uma vida em que Carybé adquiriu conhecimento íntimo da Bahia e desenvolveu um talento especial para transmitir as cores e texturas de sua casa adotiva. A exposição combina ilustrações de Carybé com passagens do roman-ce de Jorge Amado O Compadre de Ogum, criando uma atraente narrativa visual.
A edição deste ano do Film4 Summer Screen, festi-val de cinema ao ar livre que é realizado no pátio interno da Somerset House, apresenta o filme brasileiro Que Horas Ela Volta? (The Second Mo-ther, em inglês), dirigido por Anna Muylaert e estrelado por Regina Casé. Será a es-treia do longa-metragem no Reino Unido, após ter recebi-do importantes prêmios nos festivais de cinema de Berlim e Sundance.
Regina Casé interpreta Val, que deixa uma filha pequena no Nordeste e parte em dire-ção a São Paulo, onde se em-prega na casa de uma família e acaba sendo uma “segunda mãe” do filho do casal. Treze anos depois, a sua filha Jes-sica (Camila Márdila) vai ao encontro da mãe para prestar vestibular, uma segunda chan-ce na vida das duas.
QuandoAté 17 de julho (Segunda à Sexta, das 11am às 6pm) OndeSala Brasil(14-16 Cockspur Street, SW1Y 5BL)EntradaGratuitaInfowww.culturalbrazil.org
Quando12 de agosto(Filme começa às 9pm)OndeSomerset House(Strand, WC2R 1LA)Entrada£16 + taxas de reservaInfowww.somersethouse.org.uk
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27brasilobserver.co.uk | June 2015
MÚSICA PERFORMANCEBAILA BRAZIL
Os percursionistas e dançarinos da Companhia Balé de Rua apre-sentam o espetáculo Baila Brazil, durante o mês de agosto, no Sou-thbank Centre, dentro da progra-mação do Festival of Love.
Desde seu primeiro sucesso in-ternacional, na Bienal de Dança de Lyon, em 2002, o grupo Balé de Rua já levou a exuberância e energia do Brasil para mais de 500 mil pessoas em 13 países diferentes.
No atual espetáculo – cuja turnê começou na época da Copa do Mun-do de 2014 e que continua até a Olim-píada de 2016 – os artistas da compa-nhia decidiram convidar seus amigos sambistas, capoeiristas, músicos e cantores para uma jornada emocio-nante em busca de suas raízes africa-nas. Será difícil não dançar junto!
O RAPPA Quando: 11 de julhoOnde: Electric Brixton (Town Hall Parade) Entrada: £25 Info: www.electricbrixton.uk.com
RODRIGO AMARANTEQuando: 22 de julhoOnde: Hoxton Square Bar & Kitchen (2-4 Hoxton Square) Entrada: £12 Info: www.hoxtonsquarebar.com
DONA ONETEQuando: 24 a 26 de julhoOnde: Womad Festival (Charlton Park, Malmesbury) Entrada: £165 para o fim de semana Info: www.womad.co.uk
MARCELO D2Quando: 22 de agosto Onde: Electric Brixton (Town Hall Parade) Entrada: £25Info: www.electricbrixton.uk.com
Quando: de 5 a 15 de agostoOnde: Royal Festival Hall (Belvedere Road, SE1 8XX)Entrada: a partir de £15 + taxas de reservaInfo: www.southbankcentre.co.uk
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28 brasilobserver.co.uk | June 2015
A editora Penguin Modern Classics lançou recentemente uma coleção de romances de Jor-ge Amado em inglês. Entre eles estão Capitães de Areia, A Descoberta da América pelos Turcos, Terras do Sem Fim e A Morte e a Morte de Quicas Berro D’água. Isso me levou a redescobrir a visão otimista de Amado sobre um país com profundas diferenças sociais e econômicas.
Quanto mais eu revisitava a obra de Jorge Amado, mais forte o romance Tieta do Agreste me falava. Então decidi adaptar a história para o teatro aqui no Reino Unido – e acabo de receber o aval do Arts Council para começar a desenvolver o trabalho.
Jorge Amado começou a escrever Tieta em Buraquinho, uma praia na periferia de Salvador, em 1976, e concluiu o livro em Londres – o lança-mento aconteceu em 1977, durante o regime mi-litar no Brasil. O romance, todavia, levanta ques-tões que ainda são bastante centrais na vida do país, como a preocupação com o meio-ambiente, os preconceitos sociais e a crítica às relações de poder guiadas pelo favorecimento e corrupção.
Tieta conta a história de uma mulher que re-torna à sua remota vila de Santana do Agreste, 26 anos depois de ter sido expulsa do local pela co-munidade e pela própria família. Seu retorno le-vanta questionamentos sobre o quão corruptível é a lei, a igreja e o estado a partir da perspectiva do indivíduo e sua riqueza.
O espírito questionador de Tieta brilha com perguntas do tipo: o preconceito é induzido pela igreja? O ser humano está fadado a sucumbir a atos de corrupção? O que causa isso? Necessida-de? Ganância? Quão consciente estamos a respei-to dos estragos causados por pequenas atitudes diárias?
Tieta é expulsa de sua vila na Bahia aos 17 anos por promiscuidade e volta 26 anos depois, vinda de São Paulo. Pensando que ela agora é rica e bem-sucedida, sua família e a comunida-de a recebem de braços abertos. Mas, para salvar as praias da região da poluição de um empreen-dimento terrível, ela é forçada a revelar sua ver-dadeira identidade de dona do maior bordel de São Paulo e pedir ajuda de seus clientes ricos e influentes.
Tal atitude – de pedir ajuda para pessoas ri-cas e influentes – pode ser comparada ao tal ‘jei-tinho brasileiro’, que se tornou mundialmente conhecido como uma forma de conseguir algo burlando as regras ou convenções sociais, assim como um método tipicamente brasileiro de na-vegação social no qual um indivíduo pode usar recursos emocionais, chantagem, laços de família, promessas e recompensas para obter favores ou para ganhar vantagem. Esse comportamento nor-malmente resulta em desrespeito, resentimento e frustração – menos para quem se favoreceu. Tra-ta-se de um aspecto bastante interessante da cul-
tura brasileira, ainda que não seja monopólio dos brasileiros, pois é algo que acontece no mundo inteiro em diferentes níveis. A lâmina que separa pequenos delitos de atos de corrupção é mais fina do que um fio de cabelo, por isso é muito difícil de ver e aceitar tais atitudes.
Todos nós concordamos que preconceito e corrupção são comportamentos errados. Somos os primeiros a sair às ruas protestar por mais igualdade e pela remoção dos políticos corruptos do poder. Mas condenamos o preconceito e a cor-rupção dentro de nós? Somos mesmos cidadãos puros, livres de atos preconceituosos e corruptos?
O desafio aqui é mudar os velhos hábitos que nos rodeiam. O Financial Times publicou recen-temente um artigo em que dizia que “o conceito de ‘jeitinho brasileiro’ está profundamente enrai-zado no Brasil e pode ter conotações positivas, mas também se estender para práticas ilegais. O escândalo da Petrobras mostra que é perigoso para empresas estrangeiras se deixarem levar por essa cultura de corrupção diária”. Só poderemos minimizar ou erradicar o preconceito e a corrup-ção quando decidirmos nos esforçar para mudar nossos hábitos preconceituosos e corruptos que estão dentro de nós.
Em Tieta, veremos um clássico da literatu-ra brasileira ser adaptado para o teatro no Rei-no Unido. Uma comédia dramática que levanta grandes questões, mas que também encoraja a tolerância, a inclusão social e desafia a forma que enxergamos os imigrantes.
Tieta será exibida no Great Manchester Fringe Festival, em julho.
COLUNISTAS
FRANKO FIGUEIREDO
Um clássIcO bRAsIlEIRO NO pAlcO bRItâNIcO
Quanto mais eu revisitava a obra de Jorge Amado, mais forte o romance Tieta do Agreste me falava.
Um drama que levanta grandes questões
g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs
29brasilobserver.co.uk | June 2015
AQUILES RIQUE REIS
ALICIA BASTOS
JOãO DOnATO, Um ESTILO
LOnDRES AInDA nãO vIU
ALgO ASSIm
Trata-se aqui de um dos maiores compositores brasileiros, a exata e perfeita tradução da
qualidade da nossa música
A instalação artística ‘The Waldorf Project’, de Sean Rogg, é experimental e faz parte de algo maior que
ainda está por vir
João Donato teve relançado Live Jazz In Rio, Vol. 2 - O Bicho Tá Pegando! (Discobertas). Nele, acompanhando João Donato, estão Luiz Alves (contrabaixo), Ricardo Pontes (sax e flauta) e Ro-bertinho Silva (bateria).
Ao compor, é como se ele primeiro criasse cé-lulas melódicas, cantarolasse-as sobre harmonias aparentemente simples e levadas suingadas, re-sultando não em uma mera composição, mas em música de João Donato – um estilo.
Seu piano tem jeitão inconfundível. Mesmo a sua voz, que não chega a ser a de um virtuoso do bel canto, traduz fielmente o que se passa na cabeça deste criador de requintes insofis-máveis, compositor criativo, pianista talento-so. Um cara que, expressando-se de tantas e tais formas musicais, além de ser um criador sui generis, figura entre os maiores composito-res brasileiros. João Donato é a exata e perfeita tradução da qualidade da nossa música – ele é imenso, ainda que sua personalidade o leve a quase camuflar tal predicado.
Sempre acompanhado por músicos que, além de igualmente virtuosos, sacam como poucos a sua grandeza, o palco funciona como trampolim para João Donato. E é saltando dessa plataforma mágica que mestre João Donato alça voo para prover sua genialidade musical.
O CD inicia com uma de suas composições bastante conhecida, “Minha Saudade”, de João Donato e João Gilberto – que dupla, hein?! Donato segura o solo no piano. Logo o sax de Ricardo Pontes se junta a ele para repetirem a melodia. O piano retoma o solo. A bateria de Robertinho Silva e o baixo de Luiz Alves pulsam o samba. O sax improvisa. Logo a se-
guir o piano também se esbalda numa primo-rosa sequência de compassos. Diferentemente de quando só percute as notas da melodia, o piano passa a ser ouvido com acordes soando em blocos de notas. A bateria faz um curto im-proviso, recurso este logo assumido pelo baixo. O cowbell da bateria soa, e os quatro gritam: “Alô, seu João!”. A seguir, o piano volta a tocar a melodia: na primeira vez em uníssono com o sax, a seguir, sozinho. Todos voltam a se juntar. Meu Deus!
Gravado ao vivo, escuta-se aplausos caloro-sos. Reação que acende o palco, transforman-do-o numa festa íntima, onde os convidados divertem-se tocando.
Seguem-se dois bons temas instrumentais (ao todo são quatro). “Rio Branco” (Donato), quando o piano começa e logo o baixo (suin-gado) e a bateria (de levinho) se achegam, an-tecedendo a flauta (soando bonito) e o piano “comentando” a melodia.
E “Na Barão de Mesquita” (JD e Paulo Mou-ra), um samba que tem o piano e o sax tocando células harmônicas que se repetem e contagiam o suingue de baixo e bateria.
O disco segue rolando o som em mais oito músicas de João Donato. Ao final delas, solidifi-ca-se a certeza de estarmos diante de um músico prodigioso. Um sujeito que tem a generosa capa-cidade de, mesmo produzindo obras sofisticadas, fazer com que soem simples. Assim permitindo que os fãs amem mais a sua música e possam ain-da mais curtir seu talento de mestre.
Quando o enigma desce as escadas rolantes com lábios negros, em contraste com as brancas porcelanas brilhantes refletindo luzes, o clima é de apreensão. Todos de preto, tomamos um pe-queno trago de nossas Hendricks e esperamos diante do escuro, prontos e abertos para um ex-perimento interativo.
O som é hipnótico e as luzes rolam cons-tantemente para revelar o túnel não usado de uma estação de metro. Entramos numa fila, esperando por uma puxada de braço que nos leva para diante de um bar com copos con-tendo um líquido amarelo dentro. Esperamos. Olhos asiáticos poderosos à nossa procura se aproximam. Recebemos um invólucro de plástico com partículas cor de rosa e sem pa-lavras somos convidados a misturar tais re-síduos na bebida que se transforma em um profundo oceano azul e comer o plástico que dissolve na boca.
Estamos reformulados. O espaço recebe novas formas e em nossas mãos agora estão seios de látex prateados, a serem preenchidos a partir de uma jarra preciosa que contém um líquido cremoso. A coreografia de Aoi Nakamura e Estéban Fourmi mistura a audi-ência criando novos níveis de interatividade. Famílias, amigos e casais são por vezes sepa-rados por movimentos precisos e de autorida-de, que formam novas unidades provocando olhares atentos e risos constantes. Em segun-dos, minha cabeça é colocada contra a parede e eu olho o chão tremulando em luzes, ao som de Alessio Natalizia.
Meus sentidos estão atiçados, ainda com um gosto cremoso na boca, quando um hálito quente coloca o peso de um corpo nas minhas costas, deslizando os dedos por meus braços para alcançar as minhas mãos e me mover no-vamente. Em seguida estamos todo no chão aplaudindo, brincando com balões que mu-dam de cor e dançando com a liberdade de uma criança.
O paladar flui do salgado para o efervescen-te, do quente para o frio, numa sinfonia agri-doce de sabores. Então somos direcionados para contrastes de euforia e ordem, assistindo e sendo assistidos, com o dedo enfiado na gar-ganta no sentido literal. A experiência nos leva a um pleno gozo visual, a viagens audíveis e tá-teis nunca imaginadas, deixando a concepção transformar no desenrolar dos passos.
O som para. As luzes são acesas. De vol-ta ao mundo real. A instalação “The Waldorf Project”, de Sean Rogg, é fruto de uma cola-boração entre talentosos artistas e designers. Chapter Three/Futuro foi inspirada numa casa futurística feita por Matt Suuronenn no final da década de 1960. Imersiva, a instala-ção é surpreendente e às vezes assustadora, mas extraordinariamente excitante. O projeto é experimental e faz parte de uma ideia maior que em breve será lançada. Londres nunca viu algo assim.
g Alicia Bastos é fundadora e diretora artística do Braziliarty (www.braziliarty.org)
g Aquiles Rique Reis é músico e vocalista do MPB4
30 brasilobserver.co.uk | June 2015
VIAGEM
Em apenas três dias, conheci muito mais do que imaginava ser possível. O Golden Pass Line, ou Swiss Travel Pass, permite que você aproveite o que o país tem de melhor a oferecer. Para quem mora na Europa e quer dar uma
escapada durante um fim de semana ou feriado, a Suíça é surpreendente
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PAssAPortE dourAdo
Por Ana Beatriz Freccia Rosa g
gAna Beatriz Freccia Rosa é jornalista e escreve suas histórias de viagens no blog ‘O mundo que eu vi’ (www.omundoqueeuvi.com)
31brasilobserver.co.uk | June 2015
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INTERLAKEN LUCERNE
CHATEAU D’EOX
GENEBRA
BERNA
Um dos destinos mais visita-dos da Suíça, a região fica entre três grandes montanhas: Eiger, Mönch e Jungfrau. A vista é de encher os olhos e parece que tempo nenhum é suficiente para apreciar a paisagem, realmente impressionante. Por estar loca-lizado no centro do país, é ali que começa grande parte das atividades, tanto para quem via-ja de trem e quer fazer trekking quanto para quem pretende su-bir ao topo das montanhas de bondinho ou teleférico. Para quem gosta de descobrir novos caminhos e estar em meio à na-tureza, a região de Interlaken é conhecida pela enorme quanti-dade de trilhas, que ficam cheias durante o verão. Já se você é adepto das águas, há a opção de fazer passeios de barco, incluin-do barcos a vapor que possuem rodas de pás que cruzam as águas dos lagos Thun e Brienz.
Bem perto da estação, no burburinho da cidade, você avista lojas de relógio por todos os lugares. Alguns passos adian-te e lá está a ponte que atravessa o principal rio de Lucer-ne, de onde se vê o mais conhecido cartão postal da cida-de: a Chapel Bridge. Uma das mais antigas pontes cobertas da Europa, esta foi totalmente reconstruída – mantendo-se a pintura original no teto – depois de ter sido destruída pelo fogo. Ao redor do rio você encontra bares e restau-rantes que ficam lotados durante os dias de sol. Do centri-nho de Lucerne saem os barcos para o Monte Rigi, onde vagões ou cable cars permitem que você aprecie a cidade lá de cima. Outra atração é a Museggmauer Wall, uma pa-rede preservada desde suas origens. Caminhe pelas ruas até chegar à principal praça da cidade, a Weinmarkt, onde não são permitidos carros. Lá, preste atenção à primei-ra igreja barroca construída na Suíça e às torres Hofkirche.
Não estava nos planos, mas ao passar pelos Alpes Suíços e avistar aquela paisagem, aquelas casas aos pés da mon-tanha, inclui no roteiro. A cidade tem 5.000 habitantes e qual não foi minha surpresa quando descobri que foi ali que começou a primeira volta ao mundo de balão? Em 1º de março de 1999 começou a primeira circunavegação do mundo, sem escala. Os pilotos Bertrand Piccard e Brian Jo-nes levantaram voo em um Breitling Orbiter 3 em Chate-au d’Oex, nos Alpes Suíços, e sobrevoaram Itália, Espanha, Marrocos, Argélia, Líbia, Sudão, Mar Vermelho, Arábia Sau-dita, Iêmen, Mar da Arábia, Índia, Bangladesh, Birmânia, China, Tailândia, Oceano Pacífico, México, Guatemala, Be-lize, Jamaica, Haiti, República Dominicana, Oceano Atlân-tico, deserto do Saara, Mauritânia e Níger até finalizarem o trajeto no Egito depois de 19 dias percorrendo 45.755 km. Não por acaso a cidade tem um museu de balonismo.
Conhecida como a capital da paz pela tradição humani-tária e atmosfera cosmopolita, Genebra abriga a sede europeia da ONU e o quartel general da Cruz Vermelha. Na margem direita do lago principal, você encontra ho-téis e restaurantes. Já do lado esquerdo estão a Catedral de São Pedro e a Place du Bourg-de-Four, a praça mais antiga da cidade, além de parques, bares, restauran-tes, lojas e as áreas comercial e financeira. O destaque vai para o Horloge Fleuri, grande relógio em forma de flor localizado no Jardin Anglais (Jardim Inglês) e que é um símbolo mundialmente famoso da indústria de reló-gios de Genebra. E, claro, preste atenção ao Jet d’Eau, outro símbolo da “menor metrópole do mundo” – uma fonte cujo jato d’água chega a 140 metros de altura. Passeie também pela Grand Rue, uma das ruas mais preservadas da cidade e conhecida por ser o local de nascimento do filósofo e escritor Jean-Jacques Rousseau.
Não é à toa que o centro históri-co da cidade entrou para a lista de Patrimônios da Humanidade da Unesco: a cidade mantém características históricas mui-to bem preservadas. Pegue um mapa e caminhe até o Jardim das Rosas para ter uma vista in-crível de uma das cidades mais bonitas da Europa. Outro lo-cal que pode ser explorado é a plataforma da torre da catedral em volta do qual flui o rio Aare. Grande parte da cidade pode ser percorrida a pé e, durante o caminho, vale a pena fazer uma pausa em um dos muitos ca-fés ou restaurantes localizados no centro histórico. Em Berna, o urso – o animal heráldico da cidade – está sempre presente. Por isso, a visita ao Fosso dos Ursos é parada obrigatória. A cidade foi casa de Albert Eins-tein no início do século 20, e o museu Zentrum Paul Klee, na periferia, abriga a mais comple-ta coleção de obras do artista.
32 brasilobserver.co.uk | June 2015
B R A S I LO B S E R V E RBRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK
LONDON EDITION
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