ARQUEOLOGIA DE CARAJÁS:
A GRUTA DO PEQUIÁ
E A GRUTA DO RATO Caçadores-coletores na Amazônia: O Padrão Arqueológico Carajás.
Por Marcos Pereira Magalhães Museu Paraense Emílio Goeldi
1
RESUMO:
O objetivo deste artigo é levar para a comunidade científica os resultados dos estudos
efetuados pela equipe de arqueologia do Museu Paraense Emílio Goeldi em Carajás.
Pesquisas recentes sobre os caçadores-coletores de Carajás têm revelado como eles
exploravam os recursos naturais e ocuparam as grutas da região. Os resultados aqui
apresentados certamente contribuirão para um melhor conhecimento a respeito da ocupação
pré-histórica da Amazônia.
PALAVRAS CHAVE:
Caçadores-coletores, Amazônia, arqueologia, pré-história.
WORDS KEY: Hunter-collectors, Amazônia, archaeology, prehistory.
ABSTRACT:
The objective of paper is to provide the scientific community with the results of
studies conducted by the archaeology team of the Goeldi Museum in Carajás. Recent
researches on hunter-gatherers in Carajás have revealed how the explored natural resoursces
and occupied the caves of the region. The results presented here will certainly contribute to a
better understanding of Amazon pre-historic occupation.
2
Sumário Introdução..............................................................................03
Especulações mais recentes.....................................................04
Carajás...................................................................................05
Gruta da Guarita....................................................................08
Gruta do Mapinguari.............................................................16
Gruta do Rato.......................................................................16
Platô N5................................................................................26
A Gruta do Pequiá.................................................................27
Comentários finais.................................................................46
Referências bibliográficas.......................................................54
3
Introdução Se a questão da antigüidade humana na Amazônia tivesse sido apresentada há apenas
dez anos, apesar de todas as evidências acumuladas até então1, ela seria completamente
desprovida de fundamento teórico. Isto porque a idéia de uma ocupação precoce do homem
na Amazônia, até a década de 1990, ainda era considerada, no mínimo, de comprovação
difícil. Sem dúvida, duas das premissas que justificavam esta afirmação era a dificuldade de
acesso aos locais prováveis de ocorrência e a dúvida sobre quais locais seriam esses.
Entretanto, apesar de Simões (1976) já ter apresentado indícios da existência de caçadores-
coletores na Amazônia desde os anos de 1970, até a década seguinte era bastante comum a
idéia apresentada por Schmitz de que os “recursos para a sobrevivência humana parecem mais
ligados ao cerrado que à caatinga e à mata”(1984: 03).
De fato, continuava predominando uma das idéias cara ao determinismo ecológico e
importante entre os pressupostos básicos do PRONAPABA2, de que a ocupação humana da
Amazônia fora bastante breve, esparsa e móvel; que caçadores-coletores mais antigos, “paleo-
índios” migrantes do norte, por serem adaptados à caça de grande porte de áreas temperadas
abertas, nunca teriam se fixado ou se adaptado à floresta quente e úmida amazônica; que
caçadores-coletores tardios e mais sedentários, seriam provenientes de outras áreas
periféricas, mas não teriam logrado sucesso na exploração dos supostos parcos recursos
disponíveis, amargando uma estagnação sociocultural prolongada.
Somente com as descobertas dos sítios no rio Jamarí, na bacia do Alto Madeira (RO),
da Gruta do Gavião na serra de Carajás e, posteriormente, da Caverna da Pedra Pintada em
Monte Alegre, ambas no Pará, que teve início, enfim, o estudo e ou a busca sistemática de
evidências de caçadores-coletores na Amazônia brasileira. Entretanto, o avanço tem sido
lento. Até hoje, pesquisas mais completas só foram realizadas nos citados locais, sendo que
em Carajás (PA), quinze sítios foram localizados e desses, até o momento, somente quatro
foram bem estudados: a Gruta do Gavião, a Gruta do Pequiá (com 9.000 anos AP.), a Gruta
1 A Gruta do Gavião, só para citar um exemplo de pesquisas objetivas sobre caçadores-coletores efetuadas por arqueólogos do Museu Goeldi, foi descoberta em Carajás no ano de 1985 e estudada por Daniel Lopes, Klaus Hilbert, Maura I. da Silveira e Marcos P. Magalhães, até sua destruição no ano de 1991. 2 PRONAPABA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na bacia Amazônica) foi uma expansão do PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas) iniciado em 1965 e concluído em 1970, que reuniu pesquisadores de diversos Estados do Brasil. Teve patrocínio do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico e da Smithsonian Institution, contando com o aval da, então, SPHAN (Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Coordenado no Brasil por Mário Simões do Museu Goeldi, o Programa tinha a coordenação geral de Betty Meggers.
4
do Rato e a Gruta da Guarita. Por outro lado, a expansão da mineração em Carajás está
levando a descobertas de novas grutas, atualmente em estudo. Outros sítios atribuídos aos
caçadores-coletores têm sido encontrados, inclusive em áreas abertas, como em Rondônia, no
Pará e no Amazonas. Em breve esses estudos deverão estar apresentando novos resultados.
Mas, por enquanto, temos que nos contentar com os resultados dos estudos pioneiros.
Especulações mais recentes
Apesar do estudo incipiente e fragmentado disponível atualmente, uma coisa é certa: a
Amazônia foi habitada por caçadores-coletores não especializados, no mínimo, desde o final
do Pleistoceno, talvez uns 12.000 anos atrás.
Os primeiros esboços teóricos sobre a ocupação, por ancestrais caçadores-coletores, da
Amazônia começam a ser elaborados. A nossa opção foi a construção de uma teoria pautada
em nossos próprios estudos e baseada no pré-suposto de que as experiências práticas
humanas, na exploração dos diversos ecossistemas amazônicos, teriam gerado relações
socioculturais originais, as quais só podem ser compreendidas segundo um olhar voltado para
a interpretação dessas mesmas experiências. Portanto, antes da importação de elementos
teóricos baseados na observação de outros espaços geográficos optamos pela observação do
espaço regional. Para tanto focamos as questões sobre a ocupação humana da Amazônia,
relacionadas ao desenvolvimento local de suas manifestações socioculturais. Com isso
entendemos que apesar dos primeiros caçadores-coletores na Amazônia serem,
provavelmente, provenientes de áreas periféricas e inicialmente adaptados aos recursos de
savana, eles se adaptam aos recursos da floresta e elaboram, a partir daí, suas orientações
culturais e sociais.
Segundo as evidências observadas em Carajás (SILVEIRA, 1995; MAGALHÃES,
1998, 2005), o conhecimento sobre os recursos tropicais já estava sendo forjado há milhares
de anos, provavelmente desde a chegada do homem no início do Holoceno. A questão
principal é, enfim, entender quais processos históricos foram desencadeados, para que grupos
de caçadores-coletores, adaptados aos recursos de savana (BARBOSA, 2002) chegassem à
Amazônia e obtivessem sucesso na exploração dos seus diversos ecossistemas e mais tarde
tivessem dado origem às sociedades de floresta tropical, altamente complexas, que
dominaram a Amazônia até a chegada do colonizador português.
A idéia de que, evolutivamente falando, o ponto de partida não é tão importante
quanto o ponto do destino, força a revisão do atual paradigma, resultado da leitura linear da
5
história mundial, que tem gerado seqüências regularmente provisórias a respeito da pré-
história sul americana. Aqui, a nossa preocupação não será com a gênese precisa de uma
duração (a sua origem primeira única e universal), mas sim, com os eventos que deram início
aos acontecimentos no lugar próprio de suas manifestações. De fato, a arqueologia tem
mostrado a inexistência de um começo absoluto, que os acontecimentos só podem ser
observados na duração e que na longa duração, os acontecimentos tomam sentidos diversos e
graus de intensidades socioculturais variáveis e particulares, segundo a posição e o momento
dos eventos a eles relacionados (MAGALHÃES, 2005).
Carajás
Localizada a 500 km no Sudeste do Pará, no município de Parauapebas, entre os
paralelos 50 54’S - 60 33’S e os meridianos 490 53’W - 500 34’W, Carajás é uma área
montanhosa compreendida por três serras descontínuas, com cotas entre 400 e 850 metros
acima do nível do mar. São elas: Serra Norte (rica em ferro, manganês e outros minerais),
Serra Sul (idem) e Serra Leste (Serra Pelada) (SILVA, 1991:81). O maciço de Carajás é o que
resta de uma paleocordilheira arrasada, cujas rochas são pré-cambrianas. O seu aplainamento
configurou-se entre os fins do Mesozóico e a primeira parte do Terciário, mas sua província
mineral desenvolveu-se sobre metavulcanitos básicos e formações ferríferas do Arqueano
(AB’SABER, 1986; MAURITY & KOTSCHOUBEY, 1995). Ao final do Terciário Inferior a
crosta litificada ou laterítica sofreu uma progressiva degradação causada por variações
climáticas e por um lento e progressivo soerguimento regional, que causou o rebaixamento do
nível de base.
A evolução posterior, no Quaternário, resultou em zonas de baixa densidade na crosta
laterítica, fazendo surgir depressões doliniformes, bordas de relevos tubulares, cavidades
subterrâneas e numerosas cavernas. A crosta laterítica, ou ainda de canga hematítica,
especialmente nas Serras Norte e Sul, é muito impermeável. Ela, além de sustentar as bordas
escarpadas permitiu, nas zonas de baixa densidade, a formação de lagos nos platôs aplainados
das serras. Alguns desses lagos são perenes e outros são pluviais, mas o regime deles ainda
permanece desconhecido. Enfim, as Serras Norte, Sul e Leste comportam uma cobertura de
canga laterítica que exibe feições de degradação, resultado de uma evolução geologicamente
recente (Quaternário), que formou platôs aplainados, lagos, depressões, dolinas, bordas
escarpadas e cavernas.
6
As cavernas desenvolveram-se onde a crosta, permanecendo estável, tornou possível a
evolução das zonas de baixa densidade para cavidades maiores através da dissolução de
minerais, da remoção de produtos sólidos por água corrente e do abatimento de blocos do teto
(MAURITY, KOTSCHOUBEY, ibid.). Elas apresentam formas e tamanhos bem variados.
Algumas possuem apenas uma entrada e outras, várias. Situando-se tanto no topo do platô
quanto nas suas encostas escarpadas. Algumas se resumem a simples clarabóias de 1m de
diâmetro, enquanto noutras a entrada é uma ampla abertura de até 30m de largura (Abrigo da
Ferradura). Há cavernas compostas de vários salões com galerias interligadas e outras
compostas de apenas um salão.
A província mineral representada pela Serra Norte, subdivide-se em cinco platôs. Foi
no Platô N4, cujo minério de ferro já era explorado pela CVRD, que a equipe do Museu
Goeldi, então liderada por Daniel Lopes encontrou a Gruta do Gavião em 1986. A Gruta do
Gavião acabou por tornar-se um importante marco nas pesquisas arqueológicas da Amazônia,
especialmente por ter sido o local onde foram encontrados vestígios de caçadores-coletores
muito antigos, praticamente ignorados na região. Outro marco fundamental é que a Gruta do
Gavião foi o primeiro sítio arqueológico na Amazônia, reconhecidamente importante, a ser
destruído pela implantação de um projeto econômico. Por conta do impacto causado pela
destruição do sítio, a medida mitigadora foi o levantamento completo da ocorrência de sítios
em todos os demais platôs da Serra Norte: N1, N2, N3 e N5. O resultado da prospecção no
platô N5, ocorrida em 1994, foi a descoberta, entre outros, do sítio arqueológico Gruta do
Pequiá. Já no Platô N1, que afortunadamente encontrava-se inalterado, foram encontrados
outros oito sítios, todos em grutas ou abrigos.
Os principais dados a serem apresentados são provenientes das análises morfológicas
e tipológicas do material lítico e cerâmico coletado das Grutas do Pequiá, Guarita,
Mapinguarí e Rato. Mas também foram analisados restos de matéria orgânica (Pequiá), além
de amostras de carvão vegetal que nos forneceram as datações absolutas.
Abaixo segue a lista dos sítios, segundo suas coordenadas (Figura 1):
SÍTIOS
COORDENADAS
Latitude Longitude
Gruta da Lua 6o01’10’’S 50o17’03’’W
CP IV 6o01’59’’S 50o16’18’’W
7
Gruta do Grilo 6o02’09’’S 50o17’03’’W
Gruta da Guarita 6o02’25’’S 50o16’15’’W
Gruta do Mapinguari 6o02’25’’S 50o16’12’’W
Gruta do Rato 6o02’25’’S 50o16’12’’W
Abrigo da Queixada I 6o02’01’’S 50o16’18’’W
Abrigo da Queixada II 6o02’00’’S 50o16’18’’W
Gruta do Pequiá 6o05’15’’S 50o07’13’’W
Abrigo do Cupim 6o05’05” S 50o07’30” W
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Figura 1: Serra Norte, Carajás, Localização dos Sítios.
Gruta da Guarita (Figura 02)
Características:
A gruta apresenta dois salões individuais que se interligam ao fundo, o
desenvolvimento do principal é de 65,4 m por 3,2 m de altura. Ele é ainda é bem iluminado
(no inverno pela manhã e no verão à tarde) e relativamente seco no verão. No período de
chuvas (Janeiro/abril), porém, apresenta muito gotejamento, especialmente momentos depois
de enxurradas, com poucos trechos protegidos. Nesta época também é comum a presença de
neblina, às vezes bastante espessa. Os salões permitem a caminhada sem riscos de bater com a
cabeça no teto. Não há obstáculos impedindo a circulação de pessoas.
O solo apresentou muitas raízes e é extremamente ácido, dificultando a preservação de
matéria orgânica. O carvão era escasso (apenas algumas concentrações associadas a restos da
cultura material) e a presença de estrutura (fogueira) foi de dificílima evidência, talvez devido
essa acidez. A ocorrência principal foi uma grande quantidade de material lítico, composto,
basicamente, por quartzo (de origem externa). Também ocorreram raros fragmentos de
cerâmica (que não foi estudada pela baixa quantidade).
Escavações e material:
Este sítio foi apenas parcialmente escavado. As características do solo da gruta
impediram que pudéssemos definir as camadas com precisão, a partir da ação antrópica. Com
isto a estratigrafia foi definida, associando ao resultado da ação antrópica antiga, a
compactação e a granulação do solo. Como a cor do solo era praticamente a mesma em todos
os níveis optamos pela definição granulométrica, associado-a à qualidade do material
arqueológico identificado por nível.
Foram abertos oito quadrantes de 1m2 cada, distribuídos em duas trincheiras. A
primeira trincheira de 2 por 4 m, foi aberta perpendicularmente à entrada da gruta principal.
Os quadrantes escavados foram alternados com outros não escavados, formando um tabuleiro.
Na segunda trincheira foram abertos os outros quatro quadrantes, alinhados paralelamente à
entrada da gruta e perpendiculares à parede lateral direita dela. A profundidade máxima
alcançada foi de 70 cm, no quadrante A8 da trincheira 1. Neste quadrante obtivemos a única
datação absoluta confiável do sítio: 8.260 anos AP. (+/- 50, Beta - 110703), na camada II,
nível 45cm. Ele fica próximo à entrada da gruta, onde o solo arqueológico apresentou-se mais
profundo, porém no nível citado, sem tantas raízes quanto nos demais.
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A observação de mudanças nas camadas ocupacionais, era dificultada pela química do
solo. Mas, por outro lado ficaram evidentes dois momentos distintos de ocupação. Os dois
momentos estão divididos por uma linha de rochas, resultado de violenta enxurrada agindo no
interior da gruta (conclusão chegada após estudo geofísico do solo da gruta). Assim, a
concentração delas (rochas) em determinados níveis indica uma provável maior umidade do
clima, com acentuada queda de chuvas.
Os dois distintos momentos (do nível superior para o inferior) se dividem do seguinte
modo: o último é composto pelas camadas I, II e o segundo pela camada III. A ocorrência de
material no primeiro momento (camadas I e II) não se diferenciou muito daquilo que
esperávamos tendo por base a Gruta do Gavião. Isto é, era esperada a presença de lascas de
quartzo e de raros fragmentos de cerâmica. De fato, a cerâmica ocorreu de modo disperso,
desde a superfície até a base da camada II, que na trincheira 2 alcançou 25 cm de
profundidade. Além dela tivemos a presença do material lítico (ocorrendo em todos os níveis)
cuja matéria-prima era caracterizada por vários tipos de quartzo. O primeiro momento
(Camada III) só apresentou lítico. Desses dois momentos só o último foi datado. Ainda não
conseguimos obter uma datação absoluta confiável da terceira camada de ocupação definida,
inserida na base de primeiro momento.
O Lítico (Figura 3):
O estudo do material lítico foi levado adiante por Rosângela Menezes, coordenadora
do Setor de Material Lítico do Instituto de Arqueologia Brasileira e pela sua assistente Kátia
das Graças da Silva Diniz. Cada peça lítica foi lida segundo suas características tecno-
morfológicas, visando esclarecer os aspectos de aproveitamento das matérias-primas
utilizadas. Para a padronização, seguiu-se uma classificação que incluiu grupos (significando
as formas pelas quais as matérias-primas foram manipuladas _ peças brutas e peças lascadas)
e subgrupos (peças utilizadas e não utilizadas; produtos de lascamento: núcleo, lascas
unipolares3, produtos bipolares4 e resíduos de debitagem5; peças com microlascamento e
peças retocadas). A análise foi feita segundo esquema proposto por Tixier, Inizam & Roche
(1980: 68-69). A terminologia empregada foi baseada na tecno-tipologia lítica apresentada
por Laming-Emperaire (1967), Brézillon (1977) Prous (op. cit.) e Morais (1983, 1987).
3 Unipolar: técnica de lascamento que consiste em segurar a peça alvo com uma das mãos e com a outra um percutor, com o qual bate na peça para retirar a lasca (PROUS, 1986/1990). 4 Bipolar: técnica de lascamento que consiste na colocação da peça alvo sobre uma bigorna de pedra e bater com um percutor (CRABTREE, 1982). 5 Debitagem: operação que consiste em destacar uma lasca do seu núcleo por meio de uma percussão ou pressão.
10
Figura 02: Planta Baixa da Gruta da Guarita
11
12
Da Gruta da Guarita foram analisadas 3.120 peças, sendo que 25 (0,8%) eram brutas e
3.095 (99,2%) eram lascadas. A matéria-prima manipulada, predominante, foi o quartzo.
Entre os vários tipos de quartzo ali encontrados, o incolor, com 1012 peças na forma
transparente (hialino) e 449 na forma translúcida (47% do total), foi o de maior popularidade.
Em seguida vem o citrino com 723 exemplares (23%), a opala com 559 (18%), a ametista
com 290 (9%), o quartzo leitoso com 72 (2%) e por último o acinzentado com apenas seis
exemplares (0,2%). As demais peças estão representadas por outras matérias-primas
especificadas no grupo Peças Brutas, com cerca de 0,3% do total.
A distribuição da matéria-prima lítica por camada demonstrou que o período de maior
atividade ocorreu durante a formação da camada I, especialmente pela enorme popularidade
do quartzo incolor.
INCOLOR LEITOSO ACINZENTADO AMETISTA CITRINO OPALA OUTRAS
SUPERFÍCIE 59 9 6 35 31 11 5 CAMADA I 1202 61 228 628 502 4 CAMADA II 150 2 22 59 42 CAMADA III 50 5 5 4
DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA POR CAMADA.
1
10
100
1000
10000
SUPERFÍCIE CAMADA I CAMADA II CAMADA III
INCOLORLEITOSOACINZENTADOAMETISTACITRINOOPALAOUTRAS
13
TOTAIS DE PEÇAS LÍTICAS POR CAMADA.
156
2625
27564
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
SUPERFÍCIE CAMADA I CAMADA II CAMADA III
TOTAIS POR TIPO DE MATÉRIA-PRIMA.
1461
72 6
290
723559
90
200
400600
8001000
12001400
1600
INCOLO
R
LEITO
SO
ACINZENTADO
AMETISTA
CITRINO
OPALA
OUTRAS
Classificação Geral:
As peças lascadas bipolares com 994 unidades (32% do total) foram aquelas que
ocorreram em maior quantidade. Sendo que destas, 442 exemplares eram em quartzo incolor
(44%), 276 em citrino (27%), 135 em opala (13%), 127 em ametista (13%), 11 em leitoso
(1,1%) e três em quartzo acinzentado (0,3%).
Em seguida vieram as lascas unipolares com 394 peças (13% do total), entre as quais
predominou o quartzo citrino com 156 exemplares (40%), seguido do incolor com 142
unidades ou 36%, os demais perfizeram 48 peças em opala, 42 em ametista e apenas seis em
quartzo leitoso. Os resíduos de lascamento6 são produtos tanto da redução unipolar quanto da
bipolar. No caso, a maioria está relacionada à técnica bipolar. Eles apresentaram 1680 peças
6 Resíduo de lascamento refere-se, especificamente, aos fragmentos maciços irregulares de tendência poliédrica, sem face interna, nem gumes agudos; fragmentos pequenos de lascas, ou lasquinhas inteiras com menos de 5 mm de comprimento, presentes tanto no refugo de lascamento bipolar como unipolar (MENEZES, 1998).
14
(53% do total), sendo que 877 eram de quartzo incolor, 176 em opala, 291 em citrino, 121 em
ametista, 53 em leitoso e três em acinzentado.
Distribuição do lítico, por camada, conforme classificação geral:
Legenda da tabela: PB. = peça bruta; PB.N. = peça bruta não; PL. = peça lascada; PL.C/ =
peça lascada com.
PB.
UTILIZADA PB. N.
UTILIZADA PL.
UNIPOLARPL. BIPOLAR PL. RESÍDUO PL.C/
MICROL. PL/
RETOCADASUPERFÍCIE 1 13 29 58 52 3 CAMADA I 11 330 808 1453 15 8 CAMADA II 30 105 139 1 CAMADA III 5 23 36
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
SUPERFÍCIE CAMADA I CAMADA II CAMADA III
DISTRIBUIÇÃO DO LÍTICO CONFORME CLASSIFICAÇÃO GERAL.
PB. UTILIZADA
PB. N. UTILIZADA
PL. UNIPOLAR
PL. BIPOLAR
PL. RESÍDUO
PL.C/ MICROL.
PL/RETOCADA
DISTRIBUIÇÃO GERAL.
PB. UTILIZADA 0,01%
PB. N. UTILIZADA 0,8%
PL. UNIPOLAR 12 %
PL. BIPOLAR 32%
PL. RESÍDUO 54%
PL. C/ MICROL. 0,6%
PL. RETOCADA 0,3%
15
DISTRIBUIÇÃO DA DEBITAGEM BIPOLAR.
14
82
1314
444
501730
282
426
050
100150200250300350400450500
SUPERFÍCIE CAMADA I CAMADA II CAMADA III
NUCLEIFORME
LASCA
FRAGMENTO
DISTRIBUIÇÃO DA DEBITAGEM UNIPOLAR (LASCAS).
19
207
1819
87
7 31
36
5 10
50
100
150
200
250
SUPERFÍCIE CAMADA I CAMADA II CAMADA III
INTEIRAS
FRAGMENTADAS
FRAGMENTOS
TOTAL DOS PRODUTOS DEBITADOS.
58
808
10523
994
29
330
30 5
394
0
200
400
600
800
1000
1200
SUPERFÍCIE
CAMADA I
CAMADA II
CAMADA III
TOTAL
BIPOLAR
UNIPOLAR
16
Com este quadro podemos ver que a técnica de lascamento predominante em todos os
períodos de ocupação foi a bipolar. A técnica de redução unipolar ou bipolar está relacionada
a fatores locais. Assim como ocorreu na Gruta do Gavião (HILBERT, K., 1993), a técnica de
lascamento bipolar não pôde servir como elemento diagnóstico, já que resulta da adaptação
técnica à forma de ocorrência do quartzo local, de pequena dimensão. Deste modo, a sua
manipulação não permitia o emprego de muitos recursos técnicos, e nem necessitava de
retoques ou de grandes investimentos tecnológicos para a obtenção de instrumentos aptos
para atender às práticas cotidianas como cortar, raspar, perfurar e etc. (MENEZES, R. 1998:
30). O resultado da qualidade do trabalho desse tipo de quartzo é de difícil controle, não se
sabendo, em geral, que resultado será obtido. Entretanto, os instrumentos obtidos com a
técnica bipolar, quando portam reentrâncias, como foi o caso de alguns, são geralmente
associados à raspagem de hastes de madeira de secção circular e, mesmo, ao seu corte
(MORAIS, 1982).
Gruta do Mapinguari (Figura 04).
Características:
Com 52,4 m de desenvolvimento e 5 m de altura no ponto mais alto do teto, a gruta
tinha pouca extensão de solo arqueológico e pouca profundidade. O solo muito úmido e com
muitos obstáculos dificultava a circulação e tornava a gruta desfavorável à ocupação regular.
Escavações e material:
Foram abertos dois quadrantes para nos certificarmos das condições arqueológicas do
sítio. Confirmamos que ele não era adequado para a ocupação humana, porém, o que
caracterizou a gruta como sítio, e a colocou como parte de um conjunto, foi a ocorrência de
fragmentos de cerâmica espalhados em sua superfície. Vale observar que este sítio não está
distante mais de 50 metros da Gruta da Guarita e encontra-se apenas a 10 metros atrás e acima
da Gruta do Rato. Estas três grutas formam um mesmo conjunto, não só espeleológico, como
arqueológico, importante para compreendermos a organização do espaço social nas antigas
ocupações humanas de Carajás.
Gruta do Rato (Figuras 04 e 05)
Características:
Com 16,4 metros de desenvolvimento e altura máxima de 2,45, a gruta era pequena e
bem acabada, com ampla vista para o horizonte (desde que a vegetação em frente seja
17
derrubada), bem iluminada e seca. Possui duas entradas, a principal e outra ao fundo muito
estreita, mas que permite a entrada de ar e luz. A gruta não abriga um número muito grande
de pessoas. Quando a equipe se reunia dentro dela (sete pessoas) a movimentação ficava
seriamente comprometida. Entretanto, ela é aconchegante e confortável.
O solo arqueológico atingiu a profundidade de até 1m no quadrante C7 e apresentou
uma pequena variação de tonalidade, na qual pudemos identificar três momentos climáticos
distintos que incluíam cinco camadas (níveis) de ocupação. Observou-se uma alternância
entre uma faixa de solo mais granulado e com menor quantidade de material, e outra menos
granulada e com mais material. Esta alternância, assim como na Gruta da Guarita, estaria
relacionada com a variação entre climas úmidos e secos, respectivamente. Rico em raízes, o
solo aqui também é muito ácido, porém bem mais seco que o da Guarita. Mesmo com
enxurrada a gruta apresentou áreas protegidas da umidade.
Escavações e material:
Foram escavados 23 quadrantes paralelos à entrada principal da gruta. Isto representou
quase a totalidade da área arqueológica da gruta. A escavação foi feita segundo o plano geral
estabelecido, em níveis artificiais de 5 cm. Os níveis tiveram a cor do solo identificada. O
nível superficial estava com sinais de revolvimento por causa das intempéries e circulação de
animais. Foram definidas cinco camadas arqueológicas, tendo por base a ocorrência de
material e mudanças estratigráficas evidentes (Figura05). O material, tal como na Gruta da
Guarita, era representado, fundamentalmente, por lascas de quartzo. O mais significativo foi a
diferença na popularidade do tipo de quartzo ali encontrado.
Em todos os níveis surpreendeu a grande quantidade de peças em quartzo leitoso. O
lascamento não foi muito esmerado, revelando uma preocupação maior com o uso cotidiano
do que com a estética das peças, repetindo o mesmo padrão de lascamento bipolar
identificado na Guarita. Foram encontradas cerâmicas na superfície e em alguns quadrantes,
em até 10 cm de profundidade, mas em quantidade irrisória.
Conseguimos duas datações absolutas. As amostras de carvão foram coletadas de
concentrações que não evidenciavam estrutura. As datações obtidas foram as seguintes: 7.040
AP. (+/- 50, Beta 110705) para a camada III, quadrante E2, nível 40 cm; 8.470 AP. (+/- 50,
Beta110706) para a camada IV, quadrante C4, nível 55 cm.
A cerâmica não foi analisada porque não apresentou quantidade e nem variação
significativa. E, apesar da maior área escavada e do número maior de camadas identificadas, o
18
material lítico analisado foi em menor número do que o da Guarita. Para esse material,
procedeu-se a mesma técnica de análise já mencionada.
O Lítico.
Foram analisadas 2.321 peças, sendo que 47 (2%) eram peças brutas e 2.274 (98%)
eram peças lascadas. A matéria-prima predominante foi o quartzo leitoso com cerca de 1.073
exemplares (46% do total); logo após veio o quartzo incolor com 673 peças transparentes e
374 translúcidos, totalizando 1.047 exemplares (45%). As demais variedades de quartzo
tiveram pouca representatividade: opala, com 78 peças (3%); citrino, com 44 (2%); ametista
com 22 (1%); acinzentado, com 18 (0,8%) e um exemplar de variedade criptocristalina com
menos de 0,1%. Outras matérias-primas com 38 exemplares (1,6%) estão incluídas no grupo
de peças brutas.
Distribuição da matéria-prima por camada:
INCOLOR LEITOSO ACINZEN-
TADO AMETISTA CITRINO OPALA CRIPTO-
CRISTALINA OUTRAS
SUPERFÍCIE 12 6 1 1 11 1 CAMADA I 555 503 2 10 20 48 24 CAMADA II 243 312 10 7 13 17 1 10 CAMADA III 177 179 3 8 11 2 CAMADA IV 51 53 5 2 2 1 CAMADA V 9 21 1 1
DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA POR CAMADA.
1
10
100
1000
SUPERFÍCIE
CAMADA I
CAMADA II
CAMADA III
CAMADA IV
CAMADA V
INCOLOR
LEITOSO
ACINZENTADO
AMETISTA
CITRINO
OPALA
CRIPTOCRISTALINA
OUTRAS
19
TOTAL DE PEÇAS LÍTICAS POR CAMADA.
21
1161
612
381
114 320
200400600800
100012001400
SUPERFÍCIE
CAMADA I
CAMADA II
CAMADA III
CAMADA IV
CAMADA V
Classificação Geral:
Das peças lascadas o produto bipolar compreendeu a maioria, com cerca de 518 peças
ou 22% do total. Dessas, foram identificadas 79 nucleiformes, 206 lascas bipolares e 233
fragmentos (incluindo 20 na forma de agulha). Quanto à matéria-prima, 244 peças são em
quartzo incolor, 218 em quartzo leitoso, 18 em opala, 14 em acinzentado, 14 em citrino e 10
em ametista. Os resíduos de lascamento totalizaram 1.724 peças ou 74% do total, sendo que
835 são em quartzo leitoso, 787 em incolor, 58 em opala, 28 em citrino, 12 em ametista e
quatro em acinzentado.
As lascas bipolares apresentaram duas com córtex de seixo (camadas I e III); duas
com debitagem transversal ao eixo do cristal (camada I); em geral elas eram essencialmente
bem delgadas, retilíneas, com extremidades lineares esmagadas ou puntiformes e com a
forma, predominantemente, trapezoidal e alongada estreita.
Entre as peças retocadas, ocorreram dois raspadores laterais, duas peças com
microlascamento, duas denticuladas e um exemplar de quartzo leitoso unipolar com retoque.
As peças unipolares foram representadas por 20 exemplares ou 1% do total. Do conjunto, 12
são em quartzo incolor, quatro em quartzo leitoso, três em citrino e uma em opala.
Distribuição do lítico, por camada, conforme classificação geral:
PB. UTILIZADA PB. N. UTILIZADA
NÚCLEO LASCA PL. BIPOLAR
PL. RESÍDUO
PL.C/ MICROL.
PL/ RETOCADA
SUPER- FÍCIE
1 6 13 1
CAMADA I 2 30 2 14 286 826 4 CAMADA II 1 9 6 156 438 2 CAMADA III 2 59 317 3 CAMADA IV 2 10 102 CAMADA V 1 31
20
Figura 04: Planta baixa da Gruta Mapinguari e Gruta do Rato.
21
22
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
SUPERFÍCIE CAMADA II CAMADA IV
DISTRIBUIÇÃO DO LÍTICO CONFORME CLASSIFICAÇÃO GERAL.
PB. UTILIZADAPB. N. UTILIZADANÚCLEOLASCAPL. BIPOLARPL. RESÍDUOPL.C/ MICROL.PL/RETOCADA
Distribuição geral:
TOTAL
PB. UTILIZADA 0,1%
PB. N. UTILIZADA 1,9%
NÚCLEO 0,01
LASCA 1,0%
PL. BIPOLAR 22%
PL. RESÍDUO 74%
PL.C/ MICROL. 0,01
PL/RETOCADA 0,3%
DISTRIBUIÇÃO DA DEBITAGEM BIPOLAR.
1
2938
8 33
113
55
31
42
144
63
203 1
0
20
40
60
80
100
120
140
160
SUPERFÍCIE
CAMADA I
CAMADA II
CAMADA III
CAMADA IV
CAMADA V
NUCLEIFORME
LASCA
FRAGMENTO
23
DISTRIBUIÇÃO DA DEBITAGEM UNIPOLAR (LASCAS).
2
12
5
1 1 1
0
2
4
6
8
10
12
14
CAMADA I CAMADAII
CAMADAIII
CAMADAIV
CAMADAV
NÚCLEOS
INTEIRAS
FRAGMENTADAS
FRAGMENTOS
TOTAL DOS PRODUTOS DEBITADOS.
6
286
15659
10 1
518
16 6 220
100
200300
400
500
600
SUPERFÍCIE
CAMADA I
CAMADA III
CAMADA III
CAMADA IV
CAMADA V
TOTAL
BIPOLAR
UNIPOLAR
Nesse sítio, percebe-se através dos gráficos que houve um gradual aumento de
atividade no interior da gruta ao longo do tempo. Com substancial atividade no período
definido pela camada I, é interessante notar que a evolução da ocupação da gruta foi constante
desde a primeira camada de ocupação (V). Ao contrário da Gruta da Guarita, na qual o
quartzo leitoso só teve uma pequena incidência na Camada I, na Gruta do Rato ele não só é a
matéria-prima predominante, como também está presente em grande quantidade (relativa) em
todas as camadas.
Quando observamos a distribuição espacial do material lítico constatamos uma
evolução quanto às áreas privilegiadas de lascamento (MAGALHÃES, 2005). Na camada V
ainda não é possível observar qualquer área de concentração, que só se manifesta na camada
seguinte, a IV. Nela há uma pequena concentração de resíduos de lascamento de produto
bipolar no quadrante E3, bem no interior da gruta. Na camada seguinte, III, a concentração
aumenta e desloca-se para os quadrantes E2 e D2; com maior quantidade de produto bipolar
nos quadrantes E2 e E3; e grande concentração de resíduos no quadrante D2, todos na mesma
24
área. Na camada II há um radical deslocamento da concentração principal, que passa a ocupar
a área do quadrante C7, composta também por resíduos de lascamento e produtos bipolares.
Entretanto, pela primeira vez observa-se, nesta camada, a ocorrência de lascas unipolares. A
antiga área de concentração ainda mantém uma boa média de ocorrência, mas uma outra
divide com ela o segundo lugar: a do quadrante D9. Por fim, na camada I, novo deslocamento
é observado quando se definem duas áreas principais, nos quadrantes E2 e C2, e uma outra
não tão significativa no quadrante D8, todas compostas de resíduos e produtos bipolares. As
lascas unipolares continuam a ocorrer em pouca quantidade e espalhadas pelo sítio.
Quanto à matéria-prima7, além de podermos constatar que ao longo do tempo houve
uma mudança na preferência pelo tipo de quartzo, também observamos que na mesma camada
de ocupação, cada concentração privilegiou um tipo diferente. Isto é mais evidente nas
camadas II e I, que possuem mais de uma concentração cada.
Este sítio não pode ser considerado isoladamente. Apesar da grande área escavada, ele
apresentou um número inferior de peças à Gruta da Guarita, que teve um menor número de
quadrantes escavados. Isto é mais um indicativo que estas três grutas (Guarita, Mapinguari e
Rato) constituem um mesmo conjunto de ocupação, o qual foi organizado, paralelamente,
segundo costumes e tradições que ainda não podemos inferir. Diferente do que ocorreu na
Gruta do Gavião, onde a área externa foi a que apresentou maior concentração de material
lítico, o interior destas foi a área privilegiada da atividade artesanal. A datação alcançada na
Gruta da Guarita de 8.260 anos AP. está inserida dentro daquelas alcançadas na Gruta do
Rato, entre 8.470 e 7.040 anos AP. Diga-se de passagem, datações estas que estão de acordo
com as da Gruta do Gavião, entre 3.000 e 8.000 anos AP.
SÍTIO DATAÇÃO REFERÊNCIA QUADRANTE NÍVEL(cm) CAMADA
Rato 7.040 AP. Beta 110705 E2 20 II
Guarita 8.260 AP. Beta 110703 A8 25 II
Rato 8.470 AP. Beta 110706 C4 40 III
Dessas três grutas, a Gruta da Guarita é a principal, a do Mapinguari talvez tenha sido
ocupada em momentos especiais e a do Rato, pelo seu reduzido tamanho, com equilibrada
distribuição da cultura material lítica ao longo do tempo, cumpriu importante papel na
7 Na distribuição gráfica da matéria-prima, optei por separar o quartzo translúcido do transparente (hialino) com a intenção de verificar se haveria diferença na distribuição dos mesmos. Mas como se pode observar, não houve diferença significativa.
25
organização social dos homens que por ali passaram. Cada uma das grutas foi ocupada
segundo determinados fins, certamente complementares. A base da organização social teria
sido, possivelmente, familiar.
Pela análise do material lítico, não foi detectado sinal de ação de fogo sobre as peças.
Podemos inferir, em princípio, que o calor não foi empregado no processo de lascamento, já
que, efetivamente, não contribui para a melhora da lascabilidade do quartzo. Mas, poder-se-ia
ter encontrado sinais de causas indiretas, devido ao descarte de peças em áreas de fogueira ou
por terem armado fogueiras sobre antigas áreas de descarte. Mesmo assim nada de
significante foi constatado. Tirando-se desta conclusão a Gruta da Guarita _ pela pouca área
escavada e também pela localização das duas trincheiras dentro da gruta _ podemos inferir,
igualmente, que a ausência de estruturas de fogueira na Gruta do Rato não foi causada pela
ação das intempéries ou da acidez do solo, mas sim pela inexistência delas no passado. Ou
seja, a Gruta do Rato teria sido uma área privilegiada para o trabalho artesanal do lascamento
lítico, simultaneamente à ocupação da Gruta da Guarita e da Mapinguari.
Durante o lascamento no interior da Gruta do Rato, cada área de trabalho poderia
suportar até duas pessoas. É possível que grupos de até seis pessoas a ocupassem nos
momentos de maior atividade. Pela distribuição diferenciada da matéria-prima, essas pessoas
poderiam ser divididas em dois subgrupos, com status ou níveis de parentesco também
diferenciados. Assim, a organização social do espaço em Carajás, não só se dava entre as
grutas como inclusive no interior delas, segundo usos e status particulares. Porém, devido à
falta de quaisquer outras evidências, não foi possível inferir o nível do status que cada área
gozava dentro da organização geral do espaço social. Entretanto, isso evidencia um controle
qualquer do trabalho. Assim, seguindo a sugestão de Arnold (1996b:59), sobre uma possível
relação entre o desenvolvimento sócio-político de sociedades intermediárias e as formas pelas
quais ele está organizado, em Carajás parece ter havido uma relação regular e previsível
incipiente, entre o controle do trabalho nas unidades domésticas da comunidade e a
constituição de lideranças institucionalizadas. Ou seja, a evidência do primeiro caso, o
controle do trabalho a nível mais ritualístico do que moral ou político, nos permite supor a
existência de uma institucionalização qualquer de liderança.
De qualquer modo, tais grutas, como inclusive todas as demais encontradas em
Carajás, não serviam de residência permanente, nem mesmo por uma suposta troca de gruta
ao longo do tempo. O grau de umidade que algumas atingem seria insuportável para a saúde
humana. Quando o pessoal do GEP encontrou a Gruta da Guarita, parte do solo dela estava,
26
literalmente, submerso. Durante a nossa etapa de campo, que devido às circunstâncias ocorreu
em pleno período de chuvas, fomos testemunhas do desconforto que era permanecer dentro
dela, debaixo de incessante gotejamento, durante e após grandes enxurradas _ já não tão
intensas quanto às que poderiam ter ocorrido em certas épocas, no passado.
A ocupação das grutas era, possivelmente, sazonal e outras áreas, não serranas, seriam
ocupadas alternadamente, já que conheciam e aproveitavam os diferentes recursos do espaço
regional. A própria matéria-prima principal, o quartzo, não é encontrada na serra, mas como
constatamos, em distantes veios identificados nos vales e morros mais baixos em distâncias
que alcançam de 10 a 50 quilômetros em linha reta (um garimpo de ametista por nós visitado
está localizado a 100 km, por estrada, do platô N5), muito provavelmente deveriam
desenvolver estratégias de ocupação e táticas de exploração dos recursos naturais, não só
complexas como também bastante diversificadas.
Os pequenos igarapés com nascentes nos platôs de Carajás eram caminhos naturais
não só de chegada como também de partida. E todos eles fazem parte da bacia do Itacaiúnas
sendo ou tributário deste, ou do rio Parauapebas, seu principal afluente, que juntos, cortam
grandes extensões territoriais até que o Itacaiúnas deságüe no Tocantins. Para atingir as fontes
de matéria-prima, as sociedades humanas que ocuparam Carajás, passavam por diferentes
domínios ecológicos, tais como campos, savanas, florestas de terra firme e várzeas. Com isto,
o lugar de ocupação íntimo e familiar representado pelas grutas possuía, em contrapartida, o
grande espaço exterior representado pelos vales, rios, fontes de matéria-prima e recursos
naturais complementares.
Platô N5
O platô N5, assim como aconteceu com o platô N4 (onde estava localizada a Gruta do
Gavião), atualmente é a área de expansão da exploração do minério de ferro. Como
conseqüência, tivemos que privilegiar a escavação da gruta ali encontrada com potencial
arqueológico, antes que as atividades de mineração a comprometessem. Assim tivemos
contato com todo o complexo arqueológico guardado pela Gruta do Pequiá; em muitos
aspectos, bem mais rica do que a Gruta do Gavião, que não estaria distante dela mais de 2 km.
Além desse sítio, encontramos mais dois em N5: A Gruta do Mocotó e o Abrigo da
Tortura, porém, eram arqueológica e tecnicamente, insignificantes.
27
A Gruta do Pequiá
As escavações na Gruta do Pequiá revelaram ser ela um sítio de fundamental
contribuição para a compreensão do modo de vida das antigas populações humanas que
habitaram Carajás. A variedade, quantidade e conservação dos restos materiais e orgânicos
encontrados vieram de encontro com aqueles levantados, até então, apenas na Gruta do
Gavião, mas suplantando em muito, em termos de qualidade, as ocorrências nesta última.
A opção pela escavação total do solo arqueológico do sítio foi conseqüência da sua
eminente exploração mineral, mas tivemos tempo suficiente para executá-la até o fim, sem
qualquer comprometimento para a qualidade científica necessária. O total da área do refugo
arqueológico da Gruta do Pequiá escavada alcançou um percentual de 89%. Graças às
técnicas empregadas foi possível apreender a distribuição espacial do material e até
evidências de organização social do espaço.
1.1 Características Gerais
Localização: Carajás, jazida N5, (60 05’15’’S de latitude por 500 07’13’’W de longitude).
Características: Esta gruta possui 72m de desenvolvimento e três salões. O salão principal tem
o teto bem acabado com altura média de 3,5m e uma marquise de 28,5m de comprimento.
Não havia blocos de rocha atrapalhando a circulação. A iluminação era boa tanto pela manhã
como à tarde, especialmente até às 16h. O declive do salão principal era bem suave e
contrastava com um pequeno salão com entrada na parede lateral direita, cujo solo
apresentava elevada inclinação e muitos blocos, devido a desmoronamentos relativamente
recentes. Ao fundo, tinha-se acesso a um salão menor, escuro, muito úmido e inabitável, (mas
repleto de morcegos) tanto no presente quanto no passado.
Havia ao lado do sítio uma outra gruta bem menor e sem vestígios arqueológicos,
provavelmente por causa da presença de grandes blocos de rocha pelo caminho e ao evidente
mau acabamento do seu teto. As duas formavam um mesmo conjunto espeleológico. O
principal elemento componente da rocha das grutas era o ferro. O nome do sítio foi inspirado
na presença marcante de três enormes e antigos pés de pequiá, posicionados frontalmente.
1.2 Técnicas de Escavação:
A técnica de escavação empregada foi aquela conhecida como decapagem, cujo
procedimento obedece a variação natural do solo, através de níveis artificiais (no máximo) de
cinco cm até (eventualmente) 10 cm, segundo a espessura das camadas e dos seus estratos
(Figura 16). Considerou-se camada a variação estratigráfica determinada pelas características
do material arqueológico presente, associado à cor, granulometria e compactação do solo. Ou
28
seja, além das características físicas, a ação antrópica também foi considerada na formação do
solo. As lâminas de estratos encontradas não foram determinantes no registro arqueológico do
material encontrado, mas sim para a identificação de estruturas como as das fogueiras, por
exemplo.
A área do refugo arqueológico (+/- 80m2) foi subdividida em 71 quadrados de 1m2
orientados perpendicularmente a um ponto fixo externo, tendo todo ele ficado dentro de um
mesmo quadrante do eixo cartesiano estabelecido. Os quadrados de 1m2, identificados por
uma letra (linha vertical) e um número (linha horizontal) sucessivos, foram subdivididos em
quadrículas de 50cm2. O material coletado ‘in sito’ e na peneira foi separado e guardado por
quadrícula, quadrado, camada, nível e qualidade. Foram feitas coletas de carvão para C14, de
cerâmica para termoluminiscência e de solo, além, é claro, da cultura material de restos
orgânicos.
Conforme os níveis iam baixando a área escavada foi diminuindo já que
prosseguíamos conforme a ocorrência do material. Por outro lado, em certos quadrados onde
ocorreram estruturas significativas, achamos por bem mantê-las para comparação com outras
semelhantes encontradas em níveis e quadrados diferentes.
1.3 Escavação:
Da área total do sítio havia uma interferência recente que comprometeu quase 1,5m2.
Essa interferência foi obra, provável, de garimpeiros clandestinos que montaram uma
estrutura apoiada por quatro estacas com a qual fizeram um buraco quase no centro do sítio.
Dos garimpeiros encontramos ainda duas pilhas (sem data de fabricação) e uma pá
enferrujada com o cabo partido. Possivelmente eles não passaram mais de dois dias ali. Outra
área do sítio, a galeria lateral direita, estava comprometida por desmoronamentos, mas
posteriores à última ocupação “pré-histórica”. O entulho acumulado pelos desmoronamentos
não permitiu que escavássemos esta área. Entretanto, através dos quadrantes periféricos e de
testes realizados, certificamo-nos da presença de material arqueológico ali também (cerâmica,
lítico e sementes). Em cerca de 26m2 da área trabalhada fomos até à base do sítio, onde o
material desapareceu sem, necessariamente, termos atingido em todos os quadrantes a rocha
base da gruta.
Durante a escavação foram peneiradas mais de 1240 baldes de terra, em peneiras de
malha fina (1/2 polegada), totalizando mais de 12 toneladas. Destes, foram coletados mais de
4000 peças líticas em quartzo, dezenas de artefatos, mais de um milhar de fragmentos de
29
ossos animais e alguns humanos, um milhar de sementes calcinadas; e dos milhares de restos
de malacofauna, coletamos algumas centenas para a identificação das espécies presentes.
Com a técnica de escavação empregada conseguimos identificar desde o último até o
primeiro (passando pelos intermediários) solos arqueológicos ali formados. Foram quatro
níveis de ocupação distintos entre cinco camadas identificadas e denominadas de I, II, III, IV
e V, sucessivamente. Exceto a camada V (base do sítio) as demais apresentaram espessura
que variou de 10 a 17 cm. Em cada uma delas observamos alteração na distribuição da cultura
material ao longo da área, durante o tempo de ocupação.
A camada I abrangia desde o solo da última ocupação pré-histórica (exceto os 3 cm
superficiais sujeitos a influências atuais), até aquele cuja atividade antrópica teve início há
8119 AP. (+/- 50; Beta 110700), tal como foi datado a quadrícula B, do quadrante I8, aos
20cm de nível (início da camada II). Concluímos que o acúmulo de matéria orgânica e
mineral, assim como, aliás, na Gruta do Gavião, foi muito lento.
A camada II que em alguns pontos alcançou 30 cm de profundidade, no nível 25 da
quadrícula C do quadrante M8, obteve a datação de 8340 AP. (+/- 50; Beta 110702). Na
seqüência a camada III atingiu 8520 AP. (+/- 50; Beta 110701) aos 40 cm na quadrícula A do
quadrante O9. Por fim a datação mais antiga foi alcançada no nível de 50 cm da quadrícula A
do quadrante N5, que atingiu 9000 AP. (+/- 50; Beta 110699). As camadas I, II e III foram as
camadas arqueológicas principais - pela quantidade e riqueza de material - mas a camada IV
também apresentou farta evidência de ação humana pré-histórica. Já a camada V, que
correspondeu à base de ocupação do sítio, era composta pela rocha base da gruta e por um
solo muito compactado e arqueologicamente estéril nos níveis imediatamente inferiores. Ela
foi alcançada entre 30 e 55 cm de profundidade. Nesta camada foi feito um teste com mais 50
cm de profundidade e nada foi encontrado.
DATAÇÃO REFERÊNCIA QUADRANTE NÍVEL (cm) CAMADA
8.119 AP. Beta 110700 I8 20 II
8.340 AP. Beta 110702 M8 25 II
8.520 AP. Beta 110701 O9 40 III
9.000 AP. Beta 110699 N5 50 IV
Entre as três camadas principais, a II e a III foram as que apresentaram as evidências
arqueológicas mais ricas, tanto em qualidade (de restos alimentares e de cultura material,
30
estruturas e distribuição espacial) quanto em quantidade, especialmente de líticos e restos
orgânicos.
31
Figura 15: Gruta do Pequiá
32
Figura 16
33
1.4 Material:
O material predominante era composto de lascas de quartzo hialino, leitoso, opala e
ametista e outras rochas, que incluíam inclusive, uma rodela de fuso feita de arenito. Também
foram encontrados batedores e até um polidor, mais comuns na camada I. A cerâmica ocorreu
desde a superfície até 35 cm (quadrantes N3 e O1). Por questões de ordem técnica (pelo modo
como eles foram coletadas, favorecendo a contaminação) as datações absolutas para as
cerâmicas podem ser mais antigas do que aquelas que obtivemos pela termoluminiscência.
Entretanto, as datações obtidas variaram entre 607 e 1510 anos antes do presente.
A datação mais recuada foi obtida em fragmento de cerâmica coletado na Camada 2
do quadrado N2, datado de 359 DC. (Séc. IV). Outras dois fragmentos do Século VI foram
obtidos nos quadrados N9 e N1, também na Camada 2. As mais recentes, encontradas na
Camada 1, datam do Século XIV (com 1351 e 1362 anos de idade). Convém observar, que
apesar dos fragmentos de cerâmica datados não terem sido coletados numa quadrícula datada
por C14, foi coletada cerâmica na camada III, cuja idade atingiu 8520 anos AP. Como será
exposto adiante, a ausência de cerâmica nos níveis datados por C14, deveu-se ao fato das
amostras de carvão vegetal analisadas, terem sido recolhidas de fogueiras, estruturas às quais
as cerâmicas não estavam associadas. Deste modo, as cerâmicas datadas não estão
relacionadas às estruturas das fogueiras encontradas.
Graças à natureza fisico-química do solo foi preservada uma grande variedade de
matéria orgânica ligada aos hábitos alimentares dos grupos humanos que habitaram a Gruta
do Pequiá. Com isto pudemos coletar retos de malacofauna terrestre e fluvial; ossos de vários
animais e muitas sementes, geralmente calcinadas e provenientes de fogueiras.
Evidência significativa foram as estruturas de fogueiras, das quais se conseguiu,
inclusive, identificar a sua forma e a técnica de preparo do alimento ao fogo. Associada a elas
muitas sementes calcinadas estavam misturadas ao carvão de madeira, especialmente nas
camadas IV e III. A fogueira era preparada reunindo algumas pedras pequenas dispostas uma
ao lado das outras, formando um círculo ao redor do qual se fazia o fogo. Sobre as pedras
deviam colocar o alimento a ser assado, como, por sinal, ainda é feito pelos Xikrin de Carajás
e por alguns caboclos no litoral do Pará. Fogueiras com estas características foram
encontradas em todas as camadas (exceto na V), demonstrando uma longa persistência técnica
no preparo do alimento.
A presença de ossos humanos fez-se evidente quando apareceu entre os quadrantes N3
e N4, o que provavelmente teria sido um sepultamento feito a partir da camada III (de 20 a 35
34
cm de profundidade). Os ossos extremamente frágeis não permitiram a identificação da
técnica empregada na preparação do morto, mas pelo tamanho da cova, possivelmente o
corpo foi depositado em sepultamento primário. No quadrante N3 havia cerâmica no nível 25
cm (607 anos AP), provavelmente associada ao enterramento. Alguns ossos encontrados em
outros quadrantes também pareciam ser de origem humana, mas não foi possível estabelecer
qualquer relação com um enterramento.
Associadas às fogueiras e à manipulação dos restos orgânicos, especialmente da
malacofauna, formaram-se grandes manchas mais claras (manchas de cinza) no solo, que
mudavam de tamanho e forma, conforme mudava o nível de ocupação. Essas manchas
mantiveram-se constantes durante quase toda a ocupação, exceto no início, quando
praticamente inexistiram. Elas eram ricas em restos de ossos animais e, principalmente, de
material malacológico. Esses restos, uma vez estando queimados, preservaram elementos
importantes para a identificação de vários fragmentos de esqueletos e carapaças animais.
Como estavam associadas às fogueiras, pode-se com isto observar a organização social do
espaço, uma vez que havia fogueiras, em outras áreas do sítio, onde não ocorriam manchas,
ou seja, concentração de restos orgânicos.
1.5 A CERÂMICA
Figura 23: Perfil Estratigráfico
35
Foram coletados 404 fragmentos de cerâmica, encontrados na superfície e nas
camadas I, II e III do sítio. Como de regra, a seqüência das amostras foi organizada segundo a
distribuição dela por nível, camada, quadrícula e quadrante, dando ênfase à distribuição nas
camadas. No início, durante a análise foi considerada, inclusive, a queima como um fator de
diferenciação. Mas este item foi posteriormente eliminado pelo fato dele ser insignificante
dentro da seqüência estabelecida, já que a oxidação incompleta tinha larga predominância em
todos os tipos. Com isto o tempero ou antiplástico passou a ter o peso principal.
A superfície dos fragmentos, tanto interna quanto externamente, apresenta-se bem lisa.
A técnica de confecção foi o roletado (cilindros de argila ou pasta), aparecendo em alguns
exemplares a marca da junção dos roletes. Muito significativos foram os antiplásticos
utilizados.
Pela binocular foi observada uma diferença na granulação e na origem dos temperos.
Foi considerado Areia os roletes que apresentam grãos de areia e quartzo triturado
(especialmente o hialino), misturados na pasta. Já a Rocha Triturada, apresenta a mistura de
diferentes quartzos (transparente, leitoso e ametista) junto com hematita, óxido de ferro e
outras rochas. Tais temperos estão perfeitamente de acordo com a matéria-prima manipulada
pelos antigos habitantes de Carajás, desde 9000 mil anos atrás, quer para a confecção de
artefatos líticos, quanto, inclusive mais tarde, para a produção da cerâmica.
A análise apresentou os seguintes resultados:
Por Tipos Estabelecidos:
CAMADA I
45%
36%
5%4% 4% 2% 2% 2%
R. trit.,46%Areia, 36%Rasp.AR 5%Rasp.RT 4%Pol.RT 4%Pol. AR 2%Verm.AR 2%OUTROS 2%
36
Tabelas quantitativas estabelecidas a partir da freqüência de cada tipo pelo número
total de cacos. O simples corresponde àqueles fragmentos que não apresentaram qualquer
evidência de tratamento estético na superfície. Os decorados, ao contrário, são aqueles que
apresentaram algum tratamento estético.
Por tempero predominante:
SIMPLES
ROCHA TRITURADA 46%
AREIA 36%
DECORADOS
RASPADO/AREIA (Rasp.AR) 5%
RASPADO/ROCHA TRITURADA (Rasp.RT) 4%
POLIDO/ROCHA TRITURADA (Pol.RT) 4%
POLIDO/AREIA (Pol.AR) 2%
VERMELHO/AREIA (Verm.AR) 2%
OUTROS
POLIDO/PRETO/ROCHA TRITURADA (POL/PR.RT) 0,3%
POLIDO/PRETO/AREIA (POL/PR.AR) 0,3%
PRETO/ROCHA TRITURADA (Pr/RT) 0,3%
PRETO/AREIA (Pr/AR) 0,3%
INCISO PONTEADO C/APLIQUE R.T. (In/pon/APRT) 0,3%
INCISO LARGO/ROCHA TRITURADA (In/lar.RT) 0,3%
INCISO LARGO/AREIA (In/lar.AR) 0,3%
Na camada I percebe-se que o tempero preferido para os tipos simples foi a rocha
triturada e a decoração foi o raspado seguido do polido.
CAMADA II.
37
64%17%
7%5% 5% 2%
Areia 64%Rocha trit. 17%Pol. AR 7%Rasp.AR 5%In/lar.AR 5%Pol.RT 2%
SIMPLES
AREIA 64%
ROCHA TRITURADA (Rocha tri.) 17%
DECORADOS
POLIDO/AREIA (Pol.AR) 7%
INCISO LARGO/AREIA (In/lar. AR) 5%
RASPADO/AREIA (Rasp.AR) 5%
POLIDO/ROCHA TRITURADA (Pol.RT) 2%
Camada III
SIMPLES
AREIA 58%
ROCHA TRITURADA 42%
Num primeiro momento podemos observar que o tempero definido como Areia
estabelece um tipo que vai perdendo a preferência conforme o tempo avança. Nas camadas II
e III ele predomina, mas na I perde popularidade. Por outro lado também podemos constatar
uma mudança na estética da cerâmica, que começa sem qualquer tratamento na superfície
para, em seguida, apresentar três tipos de decoração: polido, inciso e raspado. Nesta fase
(camada II), o polido é o tratamento estético preferido, sendo, posteriormente, suplantado
38
pelo raspado (camada I). Tanto estes dois tipos quanto o inciso ocorrem nestas duas camadas.
Contudo é bem provável que o inciso com aplique seja uma introdução tardia e talvez de
origem estranha. De qualquer modo é significativa a ocorrência dos tipos Polido e Raspado,
que podem, de fato, significar traços diagnósticos para uma fase8, se persistirem ocorrendo
nos demais sítios serranos de Carajás.
Ocorrência dos tipos simples (Areia e Rocha Triturada) por camada (CI, CII e CIII):
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Quantidade
Areia CIII
RT CIII
Areia CII
RT CII
Areia CI
RT CI
Tipo
s
Sequência de simples por camada:
Preferência de tempero nas peças decoradas, por camada:
CII/AR
CII/TR
CI/AR
CI/RT
0 5 10 15 20 25 30 35
Quantidade
CII/AR
CII/TR
CI/AR
CI/RT
Tem
pero
s
Tipos de tempero por camada:
CAMADA I
8 Fase: qualquer complexo arqueológico (lítico, cerâmico e etc.) relacionado no tempo e no espaço, num ou mais sítios.
39
AREIA (CI/AR) 53%
ROCHA TRITURADA (CI/RT) 47%
CAMADA II
AREIA (CII/AR) 87%
ROCHA TRITURADA (CII/RT) 13%
Nestas tabelas e gráficos observamos que apesar da Rocha Triturada apresentar uma
presença equilibrada (ainda que inferior) na camada III, quando surgem os tipos decorados ela
é significativamente substituída pela Areia como o antiplástico preferido para o tratamento
estético da cerâmica. Inclusive na camada I, onde a Rocha Triturada é, entre as peças simples
(que ocorrem em maior número), o tempero predominante, nas peças decoradas, mais uma
vez, é a Areia quem mais tempera a argila a ser trabalhada.
0 5 10 15 20 25 30
Quantidade
Raspados CII
Polidos CII
Incisos CII
Raspados CI
Polidos CI
Vermelhos CI
Incisos CI
Pretos CI
Tipo
s
Seqüência de decorados por camada.
TIPOS DECORADOS NA CAMADA I (CI)
RASPADO 47%
POLIDO 37%
VERMELHO 8%
INCISO 5%
PRETO 3%
DECORADOS NA CAMADA II (CII)
40
POLIDO 50%
INCISO 25%
RASPADO 25%
Com estas últimas tabelas e gráficos podemos observar uma importante diferença no
tratamento da cerâmica ao longo do tempo. A camada III, mais antiga, que não apresentou
peças decoradas, representa uma fase bem distinta das outras duas posteriores, nas quais
existe certa preocupação estética com a cerâmica. Mas entre as camadas II e I há uma nítida
diferença na preferência da decoração. O polido, inicialmente mais popular, cede lugar ao
raspado. E o inciso, comum na camada II, torna-se insignificante na camada posterior mais
recente. Nesta camada aparece o tipo pintado, tanto o vermelho quanto o preto, superando
largamente o inciso. Entretanto, o mais importante nisto é a constatação de fases temporais
diferentes no uso da cerâmica na Gruta do Pequiá.
Quanto às formas, surpreendeu o número de variações. De 47 bordas, 42 puderam ser
reconstituídas. O número de bases foi insignificante, por isto optou-se em desenhar a maioria
das vasilhas com base côncava, que é o mais comum. Baseadas nos fragmentos maiores, dos
quais foi possível observar o perfil, foram definidas oito formas (Figuras de 24 a 30). Cada
forma apresenta duas ou mais opções, exceto uma (a sete). Elas foram identificadas e
desenhadas de 1 a 8, conforme seu aparecimento a partir da camada inferior (III). Na camada
III foram identificadas duas formas (1 e 2), cuja abertura da boca tinha em média 20cm de
diâmetro. Na camada II foram definidas quatro formas (1, 3, 4 e 5) com média de 22cm de
diâmetro. Na camada I foram oito (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8) com diâmetro médio de 17cm. A
variação de forma cresceu conforme o tempo, entretanto, o tamanho diminui
significativamente na camada final de ocupação (I). Pouquíssimos fragmentos apresentaram
sinais de uso para o processamento de alimentos, isto é, fuligem (somente dois fragmentos,
encontrados na camada I). Na camada I também foi encontrado um fuso de cerâmica
reaproveitada (Figura 31).
A distribuição espacial da cerâmica confirma que o uso dela não estava relacionado ao
preparo de alimentos. A maior parte dos fragmentos foi encontrada em locais afastados das
diversas fogueiras identificadas. A própria estrutura das fogueiras já indica o modo como o
fogo era usado no processamento dos alimentos, e inclusive, a ausência de necessidade do uso
de vasilhames. Na camada I observa-se que a maior concentração de fragmentos de cerâmica
ocorreu nas partes mais iluminadas da gruta. Mas no período inicial do uso da cerâmica, nas
camadas III e II, a concentração de fragmentos cerâmicos além de coincidir, ocorre num local
41
onde a luz natural não o alcança com muita facilidade. Isto denota uma clara diferença na
importância da cerâmica ao longo do tempo, com possível uso diferenciado da mesma.
Talvez os raros ossos humanos encontrados justamente nas proximidades dos
quadrantes onde os fragmentos cerâmicos das camadas III e II ocorreram, possam permitir
uma associação inicial da cerâmica com ritos funerários. Associação essa que, por sua vez,
não encontra qualquer respaldo na camada I. Assim, é possível que o uso inicial da cerâmica
tenha sido ritualístico para, posteriormente, embrenhar-se mais no cotidiano das pessoas.
Observa-se que a cerâmica decorada, na camada II, ocorre justamente na área do antigo
sepultamento. Mas com o tempo, a cerâmica sai do plano sagrado e entra para o plano do
utilitário, aumentando a variedade delas, que por outro lado, foram diminuindo de tamanho.
Porém, até onde pudemos perceber a diferença entre o sagrado e o profano não seria muito
profunda, principalmente pelo fato dela ficar restrita ao armazenamento, provavelmente de
água, objetos e até mesmo de sementes e frutos. De qualquer modo, os vasilhames de
cerâmica da Gruta do Pequiá não foram utilizados para o processamento de alimentos e
também está descarta a sua associação com práticas agrícolas.
A ocorrência, entretanto, do fuso de cerâmica e outro feito de arenito (camada I), na
fase final da ocupação da gruta, indica uma evolução no domínio e manipulação de recursos
da flora, então suficientemente desenvolvida. Por último, a presença de cerâmica na camada
III, associada aos ossos humanos nela encontrada, permite-nos concluir que os caçadores-
coletores de Carajás só foram pré-ceramistas até mais ou menos, os primeiros 6000 anos de
ocupação das grutas quando, a partir de então, tornaram-se efetivamente, caçadores-coletores
ceramistas. Inclusive seria plausível admitir, pela presença dos fusos e outros artefatos
associados, que no período final de ocupação das grutas de Carajás, os antigos habitantes
daquela região já dominavam ou pelo menos conheciam técnicas relacionadas ao cultivo.
Como conseqüência, por não ter sido nas serras de Carajás que eles desenvolveram tais
técnicas, podemos defini-los como caçadores-coletores tropicais pré-agricultores. Porém,
não está descartada a hipótese de que, bem mais posteriormente, como atesta a cerâmica de
607 anos e a presença de peças com decoração elaborada, outros grupos humanos,
possivelmente agricultores, teriam usado as grutas em excursões de caça.
1.5 A Arqueofauna:
A grande quantidade de restos alimentares, com a presença de inúmeros fragmentos de
ossos, permitiu o estudo arqueofaunístico da gruta do Pequiá, derivando daí uma lista. A
análise e a lista foram elaboradas por Cláudia Cristina de Sousa de Melo e Heloísa Maria
42
Moraes dos Santos do PCI/DEL/Museu Goeldi, que contaram com a colaboração de Suely A.
Marques-Aguiar do DZO/Museu Goeldi e de Castor Cartelle da UFMG.
Organizei os espécimes identificados segundo a camada onde ocorreram. Nas tabelas a
seguir, os espécimes (que puderam ser mais precisamente identificados) estão listados
conforme o nome popular para mais fácil identificação. Desta tabela excluí aqueles que são
habitantes naturais de caverna ou foram introduzidos pelo homem moderno.
SUPERFÍCIE. Espécimes: Hábitat: Lagarto..(Lacertilia).......................................................... Floresta. Jabuti e cágado. (gochelone)........................................... Áreas de campo e savana próxima à floresta. Jacaré (Alligatoridae)....................................................... Alagados. Didelphidae ind., Didelphis sp., Monodelphis sp........... Floresta. Tatu e preguiça (Dasypodidae/ Bradypodidade).............. Floresta Macaco (Ateles ).......................................................... Floresta densa. Onça, maracajá e cachorro do mato................................ Floresta e floresta densa. Veado (Mazama, Ozotocerus bezoarticus), queixada (Pecari tajacu)................................................................
Áreas de campo próxima à florestas e áreas abertas.
Rato silvestre, paca e cutia............................................. Áreas de campo, cerrado e borda de floresta Jibóia............................................................................. Floresta.
CAMADA I Espécimes: Hábitat: Lagarto.......................................................................... Floresta Sucuri e Jibóia............................................................... Alagados e floresta. Jabuti............................................................................. Savana próxima à floresta. Didelphidae ind............................................................. Floresta Tatu............................................................................... Floresta Macaco (Ateles)............................................................. Floresta densa Queixada, Pecari Tajacu................................................. Florestas com charco. Cutia, rato silvestre. ...................................................... Área de campo e cerrado.
CAMADA II Espécimes: Hábitat: Jibóia e sucuri................................................................ Floresta e alagados. Tatu e preguiça.............................................................. Floresta. Macaco (Ateles)............................................................. Floresta densa. Queixada....................................................................... Florestas úmidas e secas, região de charco. Cutia e paca................................................................... Áreas de campo, savana e borda de floresta.
43
Figura 29
44
CAMADA III Espécimes: Hábitat: Lagarto.......................................................................... Floresta. Cobra (jibóia ou sucuri).................................................. Floresta e charco. Jabuti............................................................................. Campo e savana próxima à floresta. Didelphidae ind............................................................. Floresta. Tatu............................................................................... Floresta. Macaco (Ateles)............................................................. Floresta densa. Leopardus wiedii............................................................ Floresta sempre verde. Queixada, veado (Mazano), pecari tajacu....................... Floresta com charco, campo próximo de floresta. Cutia.............................................................................. Área de campo e borda de floresta. Jacaré............................................................................. Alagados. CAMADA IV Espécimes: Hábitat: Cobra (sucuri ou jibóia).................................................. Alagado e floresta. Jabuti....(Geochelone).................................................... Campo e serrado próximos a floresta. Veado (Mazana)............................................................ Áreas de campo próximos a florestas. Preguiça (Bradypodidae).................................................. Floresta.
Estas tabelas mostram bem que durante os milênios que os homens de Carajás ali
viveram não houve qualquer alteração significativa na caça voltada para a dieta alimentar.
Entre as camadas I e IV, apesar das centenas de séculos que separam a formação antrópica de
cada uma delas, as camadas listadas indicam que os vários ecossistemas que dominam a
paisagem de Carajás já eram igualmente explorados. Não há evidências marcantes de que
mudanças climáticas radicais teriam agido sobre as espécies, uma vez que animais de áreas
alagadas, de floresta, de campo e de savana ocorrem em todas as camadas, desde a superfície
do solo do sítio. Talvez, por exceção, a camada IV apresente um número relativamente maior
de espécies de savana, mas mesmo aí animais de floresta e de áreas alagadas se fazem
presentes. Este último dado pode sugerir mudanças climáticas passadas com expansão da taxa
de animais adaptados a ambientes mais abertos e áridos. Porém, antes mesmo do aumento da
umidade no clima o ambiente de floresta já era explorado.
Moluscos:
Foi encontrada uma grande quantidade de carapaça de moluscos, especialmente nas
camadas II e III, mas deles só restou um pequeno número de espécimes identificáveis. A
maior quantidade era representada por Gastrópodas terrestres e aquáticos como o Pulmonata,
o Stylommatophora, o Systrophiidae, o Mull (oblongus) e, principalmente, o Strophocheilus.
Foram encontrados também Bivalves de água doce. Sem dúvida que eles fizeram parte da
dieta alimentar e nos pontos onde mais se concentravam dentro do sítio, em geral, estavam
misturados com cinza, carvão (havia muitas conchas queimadas) e sempre próximos às
45
fogueiras (especialmente as mais internas). Foi graças à grande ocorrência deles no solo do
sítio, que foram conservados os ossos estudados.
Tais animais podem ser utilizados como indicadores climáticos, detectando períodos
de maior umidade, como inclusive foi atestado nas linhas de pedras encontradas entre as
camadas identificadas nas Grutas da Guarita e do Rato. Entretanto, a posterior queda da
umidade na região, parece só ter afetado os moluscos, já que a fauna maior permaneceu
estável.
1.6 Restos Vegetais:
Os restos vegetais foram caracterizados pela grande quantidade de sementes
calcinadas, entre os quais predominaram as de Palmae. Sementes como as de Bacaba e Virola,
ricas em gordura, encontradas em grande abundância, especialmente na base da camada IV,
geralmente estavam associadas às fogueiras e podem ter servido de combustível. A Bacaba, o
Inajá e o Pequiá (cujas sementes foram encontradas nas camadas III, II e I), presentes nas
proximidades da Gruta, especialmente os três pés de Pequiá, mais as sementes de Manihot sp.
indicam manipulação antropogênica da vegetação, através de cultivares seletivos e
especialmente preservados pela milenar atividade humana.
Em N5, quando realizamos as prospecções, encontramos em áreas próximas às grutas,
mas suficientemente distantes do alcance da vista, ilhas de vegetação onde predominavam
frutíferas. Em uma área em particular, havia uma concentração de pequenos “oásis”, repletos
de plantas ricas para a dieta alimentar do homem e de animais que para lá eram atraídos, a
ponto de termos encontrados vários (queixadas, antas, pássaros). Tais ilhas, possivelmente, de
origem antropogênica, além de garantir uma dieta rica em alimentos de origem vegetal, era
uma importante fonte de caça (como é até hoje).
Nos primeiros níveis de ocupação da Gruta do Pequiá, as fogueiras concentravam uma
quantidade enorme de sementes de Virola, rica em óleo. Provavelmente, porque as primeiras
pessoas que ali chegaram não tinham uma boa técnica para acender o fogo ou a umidade
excessiva não permitia encontrar madeira apropriada para a queima e assim, tinham que
mantê-lo aceso com certos artifícios. Mas entre as camadas VI e I, estas sementes vão
diminuindo gradativamente, enquanto vai aumentando a variabilidade delas: Manihot sp,
Duck, Couepia, Copaibera, Hymenaea, Astrocaryum sp e outras. Isto parece indicar um
gradual domínio na técnica de se acender o fogo (ou diminuição da umidade [?]), sem a
necessidade de mantê-lo o tempo todo aceso, além de um progressivo domínio dos recursos
da flora, inclusive de cultivo (Manihot sp). Quanto a esta última planta, é de se supor que a
46
utilização inicial de seus produtos fosse derivada da folha, já que não foi encontrada qualquer
evidência de que seus tubérculos fossem manipulados ou consumidos.
Diretamente associadas aos restos vegetais estavam as fogueiras identificadas. Na
camada I foram quatro; na camada II outras quatro; na camada III foram três; e na camada IV,
duas. Destas, apenas uma manteve persistência temporal, justamente a que se encontrava mais
próxima da entrada da gruta, que ocorreu desde a camada III. Entre as camadas II e I, uma
outra também persistiu. De todo modo, ainda que persistissem elas não permaneceram
exatamente no mesmo lugar. Apenas a área da fogueira é que era a mesma.
Essas fogueiras delimitavam diferentes áreas de atividades na gruta, já que na maior
parte das vezes, não havia coincidência no tipo de ocorrência material. A periferia das
fogueiras localizadas mais no interior da gruta, era rica em restos alimentares; já a periferia
daquelas localizadas mais perto da entrada e próxima à parede lateral direita, muito bem
iluminada, era pobre em restos alimentares, mas repleta de cultura material. Com isto temos
uma evidente organização social do espaço, que indica uma divisão doméstica entre as
atividades de processamento alimentar (mulheres?) e de produção artesanal (homens?). E
também, um número pequeno de famílias agrupadas por gruta: até quatro. O material lítico
apresentou as mesmas características tipológicas constantes nas demais grutas estudadas,
predominado produtos derivados da ametista.
Comentários finais
Os caçadores-coltores de Carajás ocuparam uma área ecologicamente diversificada e
com ambientes contrastantes os quais foram estrategicamente explorados e, inclusive,
possivelmente manipulados (especialmente para o cultivo ainda incipiente da mandioca9). Os
experimentos com plantas podem ter direcionado a economia de subsistência rumo à
agricultura incipiente. Antes disso, porém, a economia de consumo incluía cristais de quartzo
(como o principal material lítico utilizado), frutos de palmeiras, castanhas, leguminosas e
raízes, pequenos animais (macacos, roedores, répteis, anfíbios e peixes), grandes mamíferos
(veados, antas e onças) e moluscos; sendo que os animais de pequeno porte, peixes e
moluscos constituíam o alimento mais comum. A manufatura da cerâmica, bem mais tarde,
passa a fazer parte da cultura material. Todas essas características imprimem nas populações
que ocuparam Carajás, um padrão arqueológico. Tal economia é típica da floresta tropical
9 Embora espécies cultivadas ainda gerem sementes, o cultivo delas há muito tempo que não é mais feito por semeadura. Mas não se sabe quando teria ocorrido a mudança da técnica de cultivo.
47
amazônica, se considerarmos as outras evidências encontradas na região, tal como as
localizadas na Caverna da Pedra Pintada e descrita por Roosevelt em 1999.
Porém, a inclusão desse padrão dentro de um contexto histórico mais amplo, qualquer
que seja o modelo proposto, sempre será polêmico. Isto porque o uso repetido dos modelos
neo-evolucionistas deixou marcas profundas na arqueologia e os arqueólogos acostumaram-se
com a discussão da natureza dos seus sistemas de classificação. Com isso, o paleoíndio na
Amazônia seria apenas o marco da presença do paleoíndio norte-americano na nova realidade
da floresta úmida. Mas com o que se sabe hoje, sobre a evolução social do homem nas
florestas úmidas, e sobre a antigüidade da presença humana na América do Sul, esta hipótese
não encontra respaldo nas evidências observadas. Como disse Andrade Lima (2001:9) “entre
as grandes transições e as grandes mudanças na trajetória da humanidade estudadas pela
arqueologia, o surgimento da desigualdade – e por extensão da complexidade – é uma das
mais fundamentais”. E qualquer sistema complexo adaptativo, como é o caso das sociedades
humanas, tem uma “criticalidade” auto-organizada em constante evolução que favorece a
diferenciação (NUSSENZVEIG, 1999).
Entretanto há outras opções filosóficas para se explicar a diversidade cultural. De fato,
nos processos acumulativos de conhecimento, a diferenciação cultural, que é finita, mas
específica de cada sociedade, implica na combinação ou recombinação variada das relações
sociais e das atividades culturais e técnicas, tendo por base a sua posição geográfica e o seu
momento histórico. Para ocorrer mudanças socioculturais e tecnológicas, as sociedades
necessitam do amadurecimento consciente de seus próprios processos, que, só assim,
estabelecem novas conexões comportamentais. Mas esses processos são meio estocásticos,
meio imprevisíveis porque, se por um lado, eles são amalgamados pela sua história passada
original, por outro, um estado em instante futuro depende do seu estado presente. Portanto,
não é um mero processo estatístico ou markoviano, onde cada símbolo é determinado pelo
que o precede, já que esta determinação é intermediada pelo estado presente de sua natureza
original.
As diferenças socioculturais são construídas cooperativamente, já que na inteiração
entre o homem, a sociedade e a natureza, é formado um complexo sistema de coevolução que,
ao longo do tempo, acaba por constituir, gradualmente, a “paisagem de aptidão cultural”
particular das sociedades, que mudam quando esses processos esgotam todas suas
possibilidades, ao gerar novas necessidades históricas. É a inteiração das práticas e/ou dos
usos que caracterizam certas experiências, com as demais experiências práticas e sensíveis,
48
que altera as relações sociais, políticas, econômicas, técnicas e etc. e favorece a geração de
novas necessidades. São essas novas necessidades que forçam a reorganização dos
conhecimentos previamente adquiridos, porém, a partir de raízes e eventos essencialmente
locais.
Fundamentalmente, as evidências arqueológicas encontradas em Carajás e em Monte
Alegre, especialmente no que se refere à cultura material, implicam em práticas e costumes
sociais que em nada lembram aqueles relacionados às culturas pleistocênicas clássicas. Isto
porque, a meu ver, elas não representariam uma passagem do Pleistoceno para o Holoceno,
porém um período do próprio Holoceno, inicial, porém suficientemente adaptado à floresta
tropical com a qual interagiam. Baseado nos estudos de Neves (NEVES,W. 1999, 2000), isto
pode significar que num passado mais recuado, ainda no Pleistoceno e avançando até o início
do Holoceno teríamos tido dois povos com origens diferentes, os quais teriam compartilhado
o mesmo espaço ao longo de certo tempo. O primeiro seria aquele, possivelmente de etnia não
mongolóide, que deu início a adaptação à floresta tropical e que conviveu com a megafauna
pleistocênica, fazendo certo uso econômico dela, como em Lagoa Santa. O segundo, de
origem mongolóide, já perfeitamente integrado ao ambiente da floresta tropical, mas ainda na
fase das experiências inter-espaciais (estágio no qual a sociedade tem noção das suas
especificidades étnicas e culturais, mas cujas práticas ainda não foram sintetizadas em
esquemas institucionais) e que teria desenvolvido a cultura ancestral das populações
indígenas tropicais atuais. Entretanto, as pesquisas em andamento indicam várias “populações
fundadoras” com origens diferentes, entrando no continente em diferentes períodos, trazendo
diferentes hábitos, tecnologias e ideologias.
O fato significante é que houve uma mudança na passagem do Pleistoceno para o
Holoceno, quando uma ou mais populações com etnias (entendida não apenas como entidade
meramente cultural, mas também biológica) e hábitos bastante particulares foi substituída por
outra (s) com etnia (s) e hábitos distintos, mas já integrada (s) ao clima quente e úmido. Entre
as possíveis deferentes populações, parece que apenas as de origem mongolóide obtiveram
sucesso na inteiração com a floresta e, por sua vez, são os ancestrais das culturas típicas das
populações ameríndias. Embora até agora ainda não tenham sido achados vestígios
comprobatórios, mas considerando esta possibilidade, é possível que o divisor entre a
população não mongolóide e a mongolóide fosse a capacidade desta última de inteirar-se à
floresta tropical.
49
Assim, compreendo que em termos cronológicos teríamos tido três diferentes períodos
históricos na Amazônia antiga, relacionados a processos civilizadores particulares: um Pré-
tropical, associado às características naturais do final do Pleistoceno, de clima menos úmido e
menos quente e com grandes extensões de cerrado, cujas técnicas de exploração dos recursos,
conseqüentemente, não se adequavam eficientemente aos produtos tropicais posteriores;
outro, Tropical, que vem dos primórdios do Holoceno (em alguns casos talvez até bem antes),
e que embora tenha iniciado junto com o homem chegado à Amazônia através dos espaços
abertos dos cerrados, corresponde ao período de exploração adequada dos recursos da floresta
por este mesmo homem. Por último, o Neotropical, relativo às sociedades posteriores com
forte predominância de manipulação agrícola, mas herdeira dos tropicais pioneiros.
As possibilidades múltiplas permitidas pela exploração dos diferentes ecossistemas de
Carajás oferecem subsídios para supormos que, apesar da aparente invariabilidade dos hábitos
e costumes constatados, as grutas e os aspectos culturais encontrados nelas eram apenas uma
das variáveis do modo de vida dos habitantes da região, que deveriam possuir estratégias
amplas de exploração dos recursos naturais e táticas diversas de ocupação territorial. Ou seja,
em Carajás, por exemplo, talvez os recursos serranos fossem importantes fontes para suprir as
necessidades de subsistência. Dentro do seu universo cultural, as grutas se destacavam na
cosmogonia da sociedade. Entretanto, possivelmente não era a única fonte de recursos
naturais e de relações sociais. As atividades ligadas às grutas eram apenas um dos produtos
resultante das relações socioeconômicas desenvolvidas. Assim, haveria um horizonte bem
mais amplo ligado ao espaço exterior, que teria permitido experiências bem diferentes
daquelas vivenciadas no lugar familiar das grutas.
A cerâmica não foi desenvolvida nas grutas, ela já chega lá pronta e acabada.
Conseqüentemente, ela foi produzida em outro local, provavelmente ribeirinho. O solo
serrano, dominado pela canga incultivável e pela floresta em declive, era facilmente preterido
em favor dos solos mais férteis dos vales que afloram ao longo dos rios da região. Como
resultado, podemos supor que o salto histórico cultural - resultado dos milhares de anos de
exploração dos recursos naturais e da manipulação deles - não poderia dar-se na serra, mas
nos vales, em outros locais do espaço exterior por eles conhecidos. Esses locais exteriores
inclusive, talvez fossem compartilhados por outras etnias com comportamentos e práticas
particulares mais adequadas para o universo agrícola.
O padrão arqueológico de Carajás nos permite concluir, que, ali, as estratégias de
ocupação e de exploração dos ecossistemas serranos permaneceram inalteradas durante
50
milhares de anos, sem que inovações tecnológicas (introdução e uso da cerâmica) alterassem
os seus tradicionais modos de uso. Paralelamente, nas áreas em que eram exigidas outras
estratégias ocupacionais, com o passar do tempo, essas mesmas tecnologias resultaram em
inovações que acabaram por alterar o padrão tradicional, fazendo as sociedades serranas
abandonarem um modo de vida já não mais satisfatório. Este é o salto histórico,
provavelmente realizado pelos antigos habitantes das grutas de Carajás, quando finalmente as
abandonaram, talvez há uns dois mil anos atrás, reorganizando a sociedade a partir das suas
próprias origens, em favor da construção de novas necessidades: possivelmente agrícolas;
possivelmente tribais. Ingressando, assim, numa nova “Idade” histórica.
Sabe-se que diversos objetos, especialmente os destinados a complementar atividades
sociais específicas, como aqueles relacionados aos rituais e aqueles relacionados aos sistemas
de subsistência, ou aos sistemas espirituais têm, nas sociedades indígenas, importante função
social. Eles são produzidos de acordo com expectativas sociais específicas, que uma vez
combinadas (conexão de seguimentos práticos e sensíveis até então autônomos) podem alterar
os símbolos dos sistemas de comunicação.
De fato, num primeiro momento, ela (a cerâmica) se integra, simbolicamente, ao
contexto cosmogônico social dos caçadores-coletores e só depois que a sua releitura está
concluída, é que ela passa a representar uma nova realidade. Assim, a evolução do uso da
cerâmica parece ter partido de uma posição especial no seio da sociedade, quando
possivelmente só alguns poucos privilegiados dominavam seus processos de produção ou
aquisição e relacionavam-na a ritos funerários de pessoas especiais dentro da comunidade.
Posteriormente, ela se populariza e torna-se de domínio do cotidiano, entretanto, sem conexão
com práticas relacionadas à agricultura, como o processamento de tubérculos. Além disso,
também não foram usadas para o preparo de alimentos, resumindo-se, ao que tudo indica, no
armazenamento de água, objetos, sementes e frutos.
Possivelmente, foi a reestruturação histórica das experiências cognitivas acumuladas
através de práticas precedentes recombinadas, que alterou os padrões de comportamento
tradicionais dos caçadores-coletores de Carajás. Certamente, não é a introdução isolada de
novas técnicas, recursos materiais ou conflitos sociais que leva à transformação. Tão somente
quando os recursos tecnológicos introduzidos e as técnicas de exploração dos recursos
naturais foram recombinados e plenamente dominados pelas experiências práticas e sensíveis
dos habitantes de Carajás, que a cultura deles se transforma, levando-os a novas e
51
imprevisíveis vivências, para o espaço mais amplo da sua existência, exterior à intimidade das
grutas.
Referências bibliográficas
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