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    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Centro Empresarial Itaú:

    do edifício à cidade

    Jaime Cupertino

    Orientador:

    Ruth Verde Zein

    Dissertação apresentada à universidade PresbiterianaMackenzie como requisito para a obtenção do título deMestre em Arquitetura

    São PauloAgosto de 2009

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    Dedico a

    Neuza e Jairo que me deram regua e compasso

    Ti, Fabio e Teo que me deram um sentido.

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    Agradecimentos

    Nadia Somech por sutilmente me envolver na idéia.

    Ruth Verde Zein pelo continuo incentivo, orientação epaciência.

    Christina MB Cupertino por me orientar no nebulosoterritório da filosofia.

    Eduardo Martins Ferreira e Rogério Batagliese pelaindignação a cada pensamento de desistir.

    Santiago d’Ávila por sua incansável ajuda e paciência.

    Teo Menna pelo design.

    Haile Nunes, Raquel M M Pereira e Tatiana Fuentes por

    manterem as coisas andando bem.

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    Resumo

    Esta dissertação parte da análise do projeto do Centro EmpresarialItaú (CEI), de que sou co-autor, buscando configurar um caso depesquisa em projeto.

    Este projeto representa um caso particular da produção da cidade,sendo um raro exemplo de ação direta da Emurb, ou seja do Esta-do, na urbanização da cidade, onde podemos perceber suas quali-dades e limitações.

    A estrutura da dissertação tem o ponto de partida a experiência doautor, contrariando a forma convencional de passar do geral parao particular.

    Analisa o projeto do CEI, não de forma sistemática e descritiva,mas buscando retomar o processo de projeto. Segue seu desen-volvimento no tempo, identificando os pontos mais relevantese tentando esclarecer os critérios e os contextos das decisões deprojeto. O objetivo desse procedimento é permitir que as soluçõesprincipais sejam vistas e entendidas dentro do horizonte e do sen-tido que elas tinham quando foram tomadas.

    O projeto é também analisado pela ótica de sua tipologia funcion-

    al, entendendo de forma breve sua evolução histórica e comparan-do-o com outros projetos realizados dentro de contextos similares,tanto em relação ao programa, como em relação ao local: a cidadede São Paulo.

    Por último analiso o que considero seu aspecto mais relevante, suarelação com a cidade, já não mais na escala da relação do edifíciocom seu entorno imediato, mas sim como um elemento do proces-so de construção da cidade, que surge a partir de ações do Estadoquando este regulamenta sua ocupação ou executa diretamente

    edifícios, espaços públicos e obras de infra-estrutura, mas princi-palmente da ação pulverizada de milhares de pessoas ou gruposque planejam e constróem edifícios.

    Abstract

    This dissertation departs from the analysis of the project of Cen-tro Empresarial Itaú (CEI), of which I am co-author, searching toconfigure a case of research in design.

    This project represents a particular case of the development ofthe city, being an example of direct action of Emurb (meaning theState) in its urbanization, where we can perceive its qualities andlimitations.

    The structure of the dissertation has, as the starting point, theexperience of the author. It analyzes the project of the CEI, notin a systematic and descriptive form, but searching to unveil thedesigning process. It follows its development in time, identifying

    the relevant points and trying to clarify the criteria and the con-texts of the design’s decision making. The objective of this pro-cedure is to allow that the main solutions are understood insideof the horizon and in the direction that they had when they hadbeen made.

    The project also is analyzed by the optics of its functional typol-ogy, understanding its historical evolution and comparing it withother projects in similar contexts, either regarding the program, or

    the site: the city of São Paulo. Finally I analyze what I consider itsmore important aspect, its relation with the city, not only troughthe relation of the building with its immediate surroundings, butas an element of the process of construction of the city.

    This process is here considered as a result of the action of theState, when it regulates its occupation or executes buildings, pub-lic spaces and infrastructure. But also mainly as an effect of thesprayed action of thousand of individuals or groups that plan andbuild.

    Resumo / Abstract

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    Introdução  6  Justificativa 9 

    Fundamentos do Método 11  A pesquisa em projeto

    Centro Itaú Conceição- Processo de projeto Origem do projeto 19

      Precedentes 20  E3 e E4 (1982-1985) 26  Área computável e volumetria  26  Torre escritório e Pavimento Tipo   31  Arquitetura e marketing   33  Arquitetura e Arte   35  E2 - Torre Itaúsa (1985-1990) 37

      Portal de Acesso   38  Pavimento Tipo   39  Volumetria e Estrutura da torre   39  E5 – Torre Eudoro Vilela (2000 – 2005) 40  Jones Lang LaSalle   41  Forma de desenvolvimento do projeto   44  Torre e Pavimento Tipo   44

    Sumário

    Edifícios Administrativos  73  Tradição e inovação 74  A tradição americana  75  A Tradição Européia  76  Análise de projetos 77

      Precedentes 79  Localização (contexto urbano) 91  Áreas públicas, privativas e acessos 94  Área privada comum 95  Programas usos / espaços 96  Pavimento tipo 98  Estrutura e tecnologia 99

    A construção da cidade  92

      Projeto CURA 93  CURA Conceição 97  Private Owned Public Space 105

    Considerações finais 114

    Referências / Lista de imagens  116

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    Arquitetura não é uma experiência que as palavras vão traduzirposteriormente. Como o próprio poema, ela é em sua presença,que constitui os meios e os fins da experiência. No entanto,ao reconhecer que a experiência humana é sempre mediadalinguisticamente, e dado nosso contexto tecnopolítico particular,podemos perguntar: o que a arquitetura representa como estágio

    da vida cotidiana do final desse século XX ? 1

    Introdução

    A proposta de escrever um texto sobre um projeto sempre me pre-ocupou. Como esta claro no pensamento de Perez-Gomez a rela-ção da arquitetura com a palavra é uma relação indireta, que podeser significativa ou não, mas nunca a expressará completamente,portanto ao iniciar um esforço nesta direção temos que estar pre-parados para seu previsível fracasso.

    Gostaria, de inicio, para explorar melhor esta idéia, partir de umaexperiência particular, que foi entrar pela primeira vez na Casada Cascata, de Frank L. Wright, projeto largamente conhecido portodos arquitetos e que pessoalmente já conhecia a partir de variaspublicações há mais de três décadas.

    Por mais que se conheça a obra do arquiteto, que já tenham sidovistos fotos, filmes, plantas ou perspectivas, aproximar-se e estarlá deflagra uma experiência. Uma experiência particular, única,assim como a que é vivida em cada obra arquitetônica, não im-porta sua relevância ou qualidade, nem mesmo a consciência quetemos de que estamos vivendo uma experiência.

    A Casa da Cascata, devido ao seu caráter icônico no mundo da ar-quitetura, tem uma imagem específica associada a ela que é a vistaonde aparece a cascata e a casa, de forma que, sempre que nos refe-

    rirmos a esta obra é esta a imagem que virá à mente. Porem o localde onde é possível esta visão não tem uso nenhum e as pessoas nãoiriam até lá para nada, ou seja, esta é uma percepção da casa quenão existe durante seu uso e sua única função é reforçar a imageminicial da concepção de Wright.

    Surge aqui uma dificuldade adicional, já que não são somente aspalavras que tem uma relação limitada com a experiência da ar-quitetura, mas também como vemos aqui, as imagens. Talvez a

    1 HOLL, Steven; PALLASMAA; PEREZ-GOMEZ, Alberto Juhani. Question ofPerception: Phenomenology of Architecture. Tokyo: a+u Publishing, 2006.p. 8.

    Casa da cascata. Arq. Frank Lloyd Wright.

    Casa da cascata. Arq. Frank Lloyd Wright.

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    relação através das imagens seja ainda mais perigosa, pois induzà ilusão de que se está conhecendo a realidade diretamente, en-quanto que a palavra sempre aciona a mediação da imaginação. Omais impressionante neste caso é que, sendo a obra prima de umarquiteto genial, quase todas as vistas reais tem o mesmo impacto

    estético da vista oficial e seriam muito mais próximas da experi-ência “in loco”.

    O importante a assinalar aqui é que a presença física num espaçoprojetado e construído supera, em todos os sentidos, as formas derepresentação daquele projeto, que é a um só tempo processo, re-lação, conhecimento e construção (no sentido literal e no existen-cial). A representação, seja através de qualquer imagem, seja atra-vés do discurso, desencadeia sempre a constatação de sua própriaincompletude, quando falamos da questão da experiência.

    Circular pelos espaços internos e externos de uma obra revela, porum lado, os aspectos do fazer da arquitetura, que vão alem de suaexistência física, a visão de mundo, da vida e do habitar tanto domorador quanto do arquiteto, assim como a confluência dessas vi-sões. Revela também as múltiplas competências do arquiteto, ne-cessárias à conclusão do projeto e da construção, e que podemosconsiderar como mais objetivas: o conhecimento da história daarquitetura; a técnica e o uso dos elementos construtivos da obra;

    as diferentes teorias da arquitetura.

    Ao reconhecer a impossibilidade da representação da experiênciadireta do espaço arquitetônico não queremos negar a importânciade todos estes aspectos do saber arquitetônico, sem dúvida funda-mentais para a prática da arquitetura, mas deixar claro que elesnão a substituem.

    Vemos o conhecimento da arquitetura com a mesma amplitudeque Morin enxerga o problema do conhecimento humano em ge-

    ral, ao esclarecer em que consiste o pensamento complexo:

    “Não se trata de um pensamento que exclui a certeza pelaincerteza, que exclui a separação pela inseparabilidade, que excluia lógica para permitir todas as transgressões. O procedimentoconsiste, ao contrário, em fazer uma ida e vinda incessanteentre certezas e incertezas, entre o elementar e o global, entre oseparável e o inseparável. De igual modo, este utiliza a lógicaclássica e os princípios de identidade, de não contradição,de dedução, de indução, mas reconhece os seus limites, e tem

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    consciência de que, em certos casos, é necessário transgredi-los.” 2 

    Com base nesses argumentos iniciais, que afirmam as lacunasinerentes a qualquer tentativa de traduzir a experiência, é queproponho partir do conhecimento por mim adquirido, na prática

    de projeto, e a partir dessa experiência concreta tentar esclareceralguns aspectos relevantes ou mais generalizáveis que esta práticapossibilita.

    Será, portanto, a partir da análise de projetos que será desenvolvi-da esta dissertação. Não de projetos em geral, mas do projeto maissignificativo que realizei até hoje, que foi o Centro EmpresarialItaú (CEI), desenvolvido de fato por uma grande equipe da Itau-plan3, liderada pelos arquitetos João De Gennaro, Francisco Javier

    Manubens e por mim.Parto do principio, que justificarei adiante, de que este projeto temrelevância para a cidade de São Paulo, possibilitando discussõesque vão muito além do simples fato de ele ser central em minhavida profissional. E é por essa perspectiva que ele será apresenta-do, isto é, como o ponto central do qual pode derivar a discussãode uma série de desdobramentos que o projeto sugere e/ou que aele se remetem, que serão esboçados a seguir, e aprofundados aolongo da dissertação.

    Este projeto representa um caso particular de produção da cidade,pois está inserido no processo de implantação da linha Norte-Suldo Metro e está subordinado a uma lei municipal específica sobgestão da Emurb. É, portanto, um exemplo raro de ação direta daEmurb, ou seja do Estado, na urbanização da cidade, onde ficamevidentes suas qualidades e limitações.

    Uma possibilidade de pesquisa extremamente interessante é aforma de inserção urbana do projeto e sua correlação com o pro-

    jeto da Emurb para a área e para a cidade. Duas áreas, localizadasnos extremos da linha Norte Sul do metrô – Santana e Jabaqua-ra – foram objetos de projetos da Emurb com resultados bastantediversos. Esse assunto será tratado no capítulo “A construção dacidade”.

    Um segundo foco de indagações diz respeito ao desenvolvimen-to desta particular tipologia de edifício administrativo, o centro

    2 MORIN, Edgar. A necessidade do pensamento complexo. In: Mendes, Candido(org.), Representação e Complexidade. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2003 pg 75

    3 Empresa responsável pelos projetos de arquitetura do grupo Itaú

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    empresarial de grande escala, que parece ter seu ápice nas gran-des cidades brasileiras no período da década de 1970 e que sofregrandes transformações a partir do final da década de 1980. Paramelhor compreensão desta tipologia considero importante con-frontar, ainda que brevemente, o projeto do CEI com projetos que

    o antecederam e projetos desenvolvidos no mesmo período quetenham as mesmas características, principalmente a escala, masnão exclusivamente.

    Justificativa

    Como vimos anteriormente existem sérias dificuldades em abor-dar a arquitetura através das palavras, mas antes de enveredar pelaavaliação da validade metodológica deste esforço, podemos cons-

    tatar facilmente a necessidade da empreitada.

    Os programas de Arquitetura, nos moldes atualmente existentes,oferecem condições para incorporação dos novos perfis de arqui-tetos e pesquisadores, em especial aqueles voltados para a práticaprojetual, ou seja, interessados em refletir e trabalhar arquiteturano nível do projeto, seja como modo de aperfeiçoar suas ativida-des cotidianas, seja como forma de capacitação para o ensino e apesquisa na área de projeto, já que os concursos para professorestem exigido a titulação mínima de Mestre.

    “Como formar Mestres em Projeto? [...] alunos brilhantes emprojeto, e desejosos de seguir carreira acadêmica (fato poucoprovável há poucos anos atrás), são obrigados a se converteremem “cientistas”. Em seus projetos de pesquisa vêem-se obrigados adeslocar o eixo de trabalho para áreas afins (urbanismo, história,geografia), utilizando suportes teórico-metodológicos de outrasdisciplinas (psicologia ambiental, sociologia, conforto, sintaxeespacial), de forma a conferir “cientificidade” à análise do objetoarquitetônico .4

    A própria instituição acadêmica criou a necessidade do mestra-do na área de projeto ao exigir esta qualificação como requisitopara o ensino de projeto na graduação. Assim sendo, é importanteaveriguar de que maneiras poderemos registrar e principalmentetransmitir o conhecimento envolvido na produção do projeto dearquitetura.

    4 VELOSO, Maisa; ELALI, Gleice. Há lugar para o projeto de arquitetura nosestudos de pósgraduação? [S.l.]: Vitruvius, 2007, Texto especial 117. Disponível em:.

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    Ouso pensar, no entanto, que mesmo sem a exigência formal dograu de mestre, seria útil aos futuros professores de projeto explo-rar melhor a forma de transmissão deste conhecimento, sem queexclusivamente pela simbiótica forma da supervisão de estágio,ou sua pretendida contraparte acadêmica, o ensino de projeto

    através da dinâmica do ateliê. Independente das dificuldades, quesão muitas, de encontrar um novo caminho para formação de pro-fessores de projeto, não é possível ignorar sua urgência.

    Mahfuz defende que um caminho possível para alterar esta situa-ção é transformar o currículo das escolas aproximando a teoria, ahistória e crítica da arquitetura da prática do projeto:

    “Mais do que ensinar os estudantes a projetar de umadeterminada maneira, o objetivo de uma escola de arquitetura

    deve ser a preparação do espírito crítico do estudante, a qualsó pode ser alcançada de um modo: transferindo a experiênciaalheia para a própria, por meio do exame e do estudo de obrasnas quais se reconheça como dados do projeto foram entendidose valorizados pelos arquitetos, a que intenções suas decisõesse vinculavam, em um momento histórico específico. Nessaincorporação da experiência alheia tem papel preponderante asatividades vinculadas à teoria, história e crítica da arquitetura.”5

    Sem duvida a aproximação da teoria e da prática é condição fun-

    damental para uma prática criativa mas o que falta na colocaçãoacima é de que forma a “transferência da experiência alheia” ocor-reria para o fazer arquitetônico em si.

    A questão aqui é como a transferência da experiência se dá, e emque condições, e como pode ser transmitida, mas antes porem, énecessário fazer alguns esclarecimentos sobre a questão da experi-ência, já que se trata de um trabalho acadêmico onde, tradicional-mente, ela é considerada, além de irrelevante, indesejável.

    O sentido da palavra experiência, que será ampliado logo mais,quando for explicitado o método dessa pesquisa, é aqui tomado,de início, de acordo com Bondía, que a define como se segue:

    “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nostoca. Não é o que se passa, não é o que acontece, ou o que toca.[...]No saber da experiência não se trata da verdade do que são ascoisas, mas do sentido ou do sem sentido do que nos acontece. E essesaber da experiência tem algumas características essenciais que o

    5 MAHFUZ, Edson da Cunha. Teoria, história e crítica, e a prática de projeto. [S.l.]:Vitruvius, 2003, Texto especial 202. Disponível em: .

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    opõem, ponto por ponto, ao que conhecemos como conhecimento.[...]o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, relativo,contingente, pessoal.” 6 

    Como vimos anteriormente é mais seguro trilhar o caminho do

    “cientifico” mesmo que para isto tenhamos que eliminar do nossocampo possível territórios enormes da existência humana.

    Alem da questão do mestrado em projeto, compartilhar a experi-ência de projetar o CEI justifica-se, também, na medida em quea realização desse trabalho pode auxiliar futuros pesquisadores,já que o Cura Conceição é um dos poucos exemplos de reurbani-zação da cidade de São Paulo e frequentemente objeto de estudo,tanto na graduação quanto na pós graduação em Arquitetura. Deforma que, alem de registrar a visão do projeto pela ótica restrita,

    mas única, do projetista, buscamos gerar uma documentação deprojeto: plantas, cortes e um registro fotográfico que auxilie futu-ras pesquisas, já que em geral o contacto com essas grandes corpo-rações são um difícil processo para o estudante.

    Finalmente, um outro aspecto que justifica o trabalho a ser rea-lizado nessa dissertação é alimentar, como será visto na seção se-guinte, dedicada ao método, a discussão sobre o valor acadêmiconão só da pesquisa em projeto ou do projeto em pesquisa, mas da

    possibilidade de dar credibilidade às análises feitas em primeirapessoa, ou do recurso à experiência própria dentro do ambienteacadêmico.

    Fundamentos do Método

    Discutiremos de forma um pouco mais aprofundada, logo na pri-meira parte do trabalho, a questão da validade do mestrado emprojeto e suas possíveis formas. As dificuldades metodológicas,

    que não são pequenas, não devem nos impedir de enfrentar a ne-cessidade da reflexão focalizada no que constitui o conhecimentocontido especificamente no projeto de arquitetura, e não apenaspara formar alunos e professores de projeto.

    O primeiro problema enfrentado aqui diz respeito à validade deter como elemento central deflagrador da análise um projeto reali-zado sob minha coordenação. Ou seja, um projeto sobre o qual falocom um inevitável envolvimento pessoal, e, num certo sentido, apartir da minha própria experiência, sobre a qual voltamos a falar

    6 BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. RevistaBrasileira de Educação. jan/fev/mar/abr 2002. nº 19, p. 27.

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    aqui.

    Para Serres7, a experiência é, junto com a representação, um doscomponentes do conhecimento. Para ele, uma coisa é o discursosobre um bom vinho, outra é a degustação desse mesmo vinho;

    uma coisa é o mapa, outra é passar por e conviver num determi-nado território. O discurso e o mapa são a representação, pela qualnos atemos a significados já dados. A degustação e a convivênciasão a experiência.

    Estar lá, como na experiência com a Casa da Cascata descrita naintrodução, “visitar” uma obra (física ou academicamente), per-manecer, viver a experiência, é sempre um afastamento das re-presentações seguras porque pretensamente unívocas, gerandodeslocamento, exposição ao inesperado e, eventualmente, a pro-

    dução do novo, que é o que se espera de algumas modalidades detrabalho acadêmico.

    Com relação ao empreendimento científico, do qual a elaboraçãode uma dissertação de mestrado é um exemplo, as noções de ex-periência e representação apresentadas denunciam a necessidadede ampliação do âmbito acadêmico para formas de pensamentocomplementares à tradição positivista cartesiana, como afirmaMerleau-Ponty ao mencionar a importância da arte e do pensa-mento modernos para a reversão da maneira habitual de compre-ender o mundo.

    [...]a questão que o pensamento moderno coloca em relação àciência não se destina a contestar sua existência ou fechar-lhequalquer domínio.[...] Não se trata de negar ou limitar a ciência;trata-se de saber se ela tem o direito de negar ou de excluir comoilusórias todas as pesquisas que não procedam como ela pormedições [...].8 

    E, complementando:

    “É assim uma tendência bastante geral reconhecermos entre ohomem e as coisas não mais essa relação de distância e dominação[...], mas uma relação menos clara, uma proximidade vertiginosaque nos impede de nos apreendermos como um espírito puroseparado das coisas, ou de definir as coisas como puros objetos semnenhum atributo humano.” 9

    7 SERRES, M. Filosofia Mestiça. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

    8 Merleau-Ponty, Maurice. Conversas, 1948. São Paulo: Livraria Martins Fontes,2004 p. 5-6.

    9 Idem p. 27

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    estivesse apenas para servir de apoio ao que o intérprete acha, enão há acordo possível entre os diferentes intérpretes. A cada in-terpretação cria-se um novo sentido para a obra.

    Na terceira possibilidade, de interpretação como resposta, é pos-sível superar a dicotomia sujeito/objeto. Nesse caso, para que che-gue a se constituir a relação do indivíduo interpretante com a obraa ser interpretada,

    [...]a obra já deve ter feito seu próprio caminho na constituiçãodo sujeito, deve tê-lo afetado, deve ter-se imposto a ele e neleengendrado experiências novas, surpreendentes, inquietantes,estimulantes, fascinantes e sedutoras, quem sabe angustiantes.São estas experiências com a obra, anteriores a qualquerdistanciamento e a qualquer juízo, que vão exigir uma espécie de“tradução” que configurará o até então inominável e disperso naexperiência.” 12 Por essa via, a obra em si não representa nada, ela promove umarealização de sentido. Ou seja, ela repercute no intérprete, quelhe dá um sentido, que não é um sentido qualquer, no entanto.Ele surge porque se está diante daquela obra específica, e não dequalquer outra. Intérprete e obra encontram-se a meio caminho esão transformados. O observador pelas ressonâncias que a obraimprime na sua experiência, e a obra pela multiplicidades desentido que o intérprete pode vir a revelar e multiplicar.

    Essa seria, a meu ver, a condição de interpretação exigida nãosó para com o projeto que analiso aqui, mas para com todo essetrabalho acadêmico, que mais que conduzir a conclusões pretendesugerir ampliações do que pode ser entendido e aprendido com ele.

    A pesquisa em projeto

    Reafirmo, então, a partir dos esclarecimentos apresentados, quepretendo que validem esse empreendimento, que a análise de pro-jeto a que me proponho não será feita pela ótica do critico de ar-

    quitetura, e sim da do projetista. Ela não deve gerar um juízo sobresua veracidade, nem uma leitura livre e subjetiva e sim, se bemsucedida, resultar no que Figueiredo chamou acima de “realizaçãode sentido”.

    Para isso, um cuidado necessário é evitar o máximo possível a redu-ção dessa experiência ao que é geral, ou pretensamente universal,por meio do achatamento das peculiaridades do projeto analisado.Um outro é estabelecer ramificações pertinentes com outras expe-riências análogas ou semelhantes, que ampliem os horizontes do

    12 Idem p 19-20

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    conhecimento que pode ser gerado a partir de um projeto.

    Assumo, dessa forma, o contexto do projeto como uma forma depesquisa. Ou seja, apesar de não se tratar da criação de um pro-jeto com objetivo único de explorar um tema e sem contexto daprática, suas condições de validade como saber transmissível sãotomadas como equivalentes.

    Quais são, então, as condições que permitem considerar um proje-to como uma pesquisa? Ou, colocado de outra forma, como regis-trar o conhecimento arquitetônico produzido no processo do pro-jeto de forma a que possa servir não apenas à finalidade imediata(conceber e construir uma obra), mas colaborar para a ampliaçãodo campo de conhecimento da nossa disciplina?

    A primeira fonte para o entendimento deste problema pode ser oestudo da relação entre a teoria e a prática arquitetônica. A análi-se desta relação é chave para a compreensão do projeto enquantopesquisa e Montaner é enfático ao afirmar, no prefácio do livro deteoria do projeto arquitetônico de Cristian Fernandez Cox, a rele-vância do tema para o ensino.

    “O enfoque do livro que o leitor esta começando a ler é tão acertadocomo necessário. Se situa em um terreno pouco explorado: odas relações entre a teoria e o projeto arquitetônico, que em um

     futuro próximo deve ser a chave da renovação do ensino dearquitetura.” 13

    Existe um certo consenso de que a origem da teoria na arquitetu-ra é a obra arquitetônica e portanto o primeiro vinculo entre osdois campos esta ligado a própria gênese da teoria. Zein, porém,vai além ao indagar se a principal função da teoria arquitetônicanão é fundamentar e realimentar o projeto.

    “Teorizar, construir uma teoria, é tarefa que, na arquitetura, cabeprimordialmente à obra arquitetônica. Teorias arquitetônicas sãoinúteis se não forem instrumentos do fazer arquitetônico concreto;mas, paradoxalmente, a teoria nunca esta presente enquanto talno processo de projetação.” 14

    Esta visão da relação entre a teoria e o projeto que enxerga a prá-

    13 MONTANER, Josep Maria. La necessaria teoría del projeto arquitectónico. In:Cox, Cristian Fernandez. El orden complexo de la arquitectura. Santiago de Chile:Ediciones Universidad Mayor, 2004. p. 13.

    14 ZEIN, Ruth Verde. O lugar da Critica: Ensaios oportunos de arquitetura. PortoAlegre: Centro Universitário Ritter dos Reis, 2001. p. 203.

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    tica, ao mesmo tempo, como a origem e o destino da teoria é com-partilhada também por Mahfuz quando cita Helio Pinon:

    “Menos ainda se deve associar a teoria a uma atividadealternativa,à pratica do projeto, praticada por espíritos poucosinclinados ou capacitados para a concepção formal: de nadaserve a mais atilada observação teórica se não contribui para aintensificação do entendimento visual, condição necessária dacapacidade de julgar e, portanto, de conceber.” 15

    O processo de projeto não é linear e portanto as relações destasduas faces da arquitetura não é causal, mas a experiência práticadeixa evidente que a teoria é fator decisivo na ampliação da res-posta projetual, permitindo ao arquiteto ir além de seu repertórioacumulado. Esta condição é, como veremos a seguir, uma das pis-

    tas fundamentais para que possamos definir qual deve ser o for-mato de uma pesquisa em projeto, de forma a ser ao mesmo tempoválida enquanto conhecimento acadêmico e útil para a prática deprojeto.

    Vários autores tentam definir as condições para que um projetopossa ser considerado uma dissertação de mestrado. Em primeirolugar existe a questão do caráter científico deste esforço de produ-ção e transmissão do conhecimento gerado pelo projeto.

    “O projeto arquitetônico não está tão distante da investigaçãocientífica. Não lhe falta a temática, a indagação, as referênciasteóricas, as hipóteses de trabalho, a experimentação, a escolha damelhor alternativa para a sua devida otimização e, finalmente,a publicação e a discussão. Falta-lhe apenas, uma exposiçãosistematizada, uma formatação rigorosa para se enquadrar noque é exigido ao trabalho c ientífico. Mas devemos reconhecer que aarquitetura possui o seu enquadramento epistemológico próprio eas suas metodologias próprias.“A ciência, a partir do concreto historicamente determinado,

    realiza suas análises metódicas, sempre conduzidas pela razão,para chegar aos mais altos níveis de abstração e generalidadeteórica. ... A arquitetura, na sua dimensão intelectual, tambémrealiza movimentos semelhantes, mas o que melhor caracteriza aarquitetura não é a análise, mas a síntese; não é a abstração, masa concreção; não é a generalização, mas a particularização.16 

    15 MAHFUZ, Edson da Cunha. Crítica, teoria e história e a prática de projeto. In:KIEFER, Flávio; et alli. (orgs.). Crítica na Arquitetura: V Encontro de Teoria eHistória da Arquitetura. Porto Alegre: Editora UniRitter, 2005. p. 285.

    16 CAMPOS, José Carlos; ALBUQUERQUE DA SILVA, Cairo. O projeto comoinvestigação científica: educar pela pesquisa. [S.l.]: Vitruvius, 2004. Texto Especial246. Disponível em: .Em 30/9/2006.

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    A partir da compreensão dos limites, anteriormente explicitados,da definição do caráter “científico” de qualquer estudo relaciona-do ao projeto, tentarei encontrar um formato que resulte, se nãoem uma formatação rigorosa pelo menos uma exposição sistema-tizada do processo de projeto.

    Mahfuz distingue duas possibilidades distintas e válidas de dis-sertações de projeto: a pesquisa em projeto e o projeto como pes-quisa. No primeiro caso trata-se de partir da análise de projetos jáexistentes, revelando seus procedimentos internos e ampliando acompreensão dos mesmos. A segunda e mais ambiciosa possibi-lidade é a produção de projeto como método de criar o conheci-mento.

    “Neste caso, o projeto é concebido como uma reflexão a respeito

    de um tema relevante. O trabalho final consiste de um projetoarquitetônico fundamentado, isto é, os elementos gráficos habituaissão acompanhados por um texto alentado que trata dos aspectosteóricos, históricos e críticos do problema e de sua solução. Podeaté ter o formato final de uma dissertação, com a diferença de quetexto e ilustrações são da mesma autoria e se referem ao mesmotema.” 17 

    A idéia do projeto como forma de pesquisa, ainda pouco comumno Brasil, representa uma das direções mais interessantes do mes-

    trado em arquitetura, tendo grande potencial de transformação daarquitetura e do ensino de projeto no pais.

    A condição que estou aqui, é próxima do primeiro caminho, pro-pondo-me a desenvolver uma pesquisa em projeto, mas por tratar-se de um projeto em especial – o CEI – do qual tive a experiênciade ter sido um dos autores, estou ao mesmo tempo na posição dasegunda possibilidade o projeto como pesquisa. .

    De qualquer forma, o mais relevante neste caso é esclarecer asconexões com a teoria e a história da arquitetura dos projetosanalisados. Entender como o programa foi tratado e a qual tipode relação existe com o contexto físico ou social de sua realizaçãoconcreta. Não estamos no território da crítica, onde pela necessi-dade de estabelecer juízos de valor, a autoria criaria dificuldadesadicionais.

    A forma de desenvolvimento da dissertação, sua organização in-

    17 MAHFUZ, Edson da Cunha. O projeto de arquitetura e sua inserção na pós-graduação. [S.l.]: Vitruvius, 2002. Arquitextos 22. Disponível em . Acesso em 23/10/2008.

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    terna, inicialmente estava organizada de forma clássica dos temasmais gerais para os mais específicos, porém, se o ponto de parti-da é assumidamente a experiência do autor, pareceu mais lógicoinverter sua ordem de forma a iniciar com o que é mais particu-lar e a partir dai criar desdobramentos – não todos, mas os possí-

    veis numa dissertação de mestrado, estabelecendo a relação comas tais situações análogas ou semelhantes para promover visõesmais abrangentes do problema.

    Iniciarei, portanto, com a apresentação do projeto do CEI, não deforma sistemática e descritiva, mas buscando retomar o processode projeto, de forma aproximada ao seu desenvolvimento no tem-po, mas principalmente identificando os pontos mais relevantese tentando esclarecer os critérios e os contextos das decisões deprojeto. O objetivo aqui é permitir que as soluções principais se-

    jam vistas e entendidas dentro do horizonte e do sentido que elastinham quando foram tomadas. É o registro possível da experiên-cia gerada no processo de produzir um projeto que se desenvolveupor mais de uma década, retomada aqui e agora.

    A partir deste quadro, tentaremos olhar o projeto do CEI, no se-gundo capitulo, pela ótica de sua tipologia funcional, entendendode forma breve sua evolução histórica e comparando com outrosprojetos realizados dentro de contextos similares, tanto em rela-

    ção ao programa, como em relação ao local: a cidade de São Paulo.Por último analiso o que considero seu aspecto mais relevante,sua relação com a cidade, não mais na escala da relação do edifíciocom seu entorno imediato, pois isto já foi desenvolvido nos doisprimeiros capítulos, mas sim como um elemento do processo deconstrução da cidade. A cidade surge a partir de ações do Estadoquando este regulamenta sua ocupação ou executa diretamenteedifícios, espaços públicos e obras de infra-estrutura, mas princi-palmente da ação pulverizada de milhares de pessoas ou grupos

    que planejam e constroem edifícios. Este processo, que mesmopulverizado não tem, como bem coloca Bernardo Secchi18, nadade “espontâneo”, encontra aqui um momento particular em quea ação é conjunta do Estado e do individuo na produção de umespaço.

    18 SECCHI, Bernardo. Primeira Lição de Urbanismo. São Paulo: EditoraPerspectiva, 2006. p. 15-17.

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    Centro Itaú Conceição - Processo de projeto

    Origem do projeto

    O conjunto de terrenos do Itaú foi adquirido em duas etapas. Na

    primeira concorrência os lotes E2, E3 e E5 foram arrematados e nasegunda, o E2 , totalizando 20.000 metros quadrados. Os terrenosforam adquiridos pela Itaú Seguros e tinham inicialmente duasdestinações, os lotes E2 e E3 deveriam abrigar a sua sede e o E5caberia à Sulimob (empresa de desenvolvimento imobiliário doItaú) para ser utilizado no projeto de um empreendimento imobi-liário residencial.

    Durante o desenvolvimento do projeto e a construção da sede daItaú Seguros a diretoria do Itaú começou a cogitar a possibilidade

    de trazer a sede corporativa da holding Itaúsa e quando da aqui-sição do E2 já se consolidava a idéia de transferência da sede doBanco e de suas diretorias comerciais e financeiras. O Itaú se orga-nizaria do ponto de vista de suas instalações físicas em dois pólos:o Centro Empresarial Itaú (CEI) na estação Conceição do metrôabrigaria a sede do grupo e suas coligadas e o Centro Técnico Ope-racional (CTO) na Mooca centralizaria o suporte operacional dobanco, incluindo principalmente a central de processamento dedados.

    Esta tendência de concentração das empresas ligadas ao setor fi-nanceiro em grandes polos administrativos, como veremos adian-te, acompanha a tendência de concentração e consolidação do se-tor financeiro em poucas grandes empresas, iniciada na década desetenta.

    O desenvolvimento do projeto no tempo teve três etapas relacio-nadas aos lotes adquiridos, de forma que internamente semprechamamos os edifícios pelos nomes de seus lotes. Temos assim o

    E3-4, que engloba as três primeiras torres e seu respectivo emba-samento, o E2, projetado para ser a sede da Itaúsa e, mais tarde,a do Banco Itaú e, por último, o E5, que deverá acomodar a áreafinanceira do banco incluindo a mesa de operações, com projetoexecutivo desenvolvido pelo escritório Aflalo e Gasperini.

    Como entre o primeiro projeto e o último transcorreram mais devinte anos, houve grandes transformações não só entre os arquite-tos e o contexto de seu trabalho, mas inclusive na própria institui-

    ção que os acomodava, o Itaú.Dividiremos, portanto, a apresentação do processo de projeto e

    CEIC. Nomenclatura dos lotes. [3]

    sem escalaN

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    suas questões centrais nesses três momentos, pois apesar de for-marem um único conjunto arquitetônico seu contexto de produ-ção e suas equipes foram bem distintas.

    Precedentes

    A concepção do processo criativo do arquiteto que predomina des-de o início do Movimento Moderno repudia a existência de outrareferência inicial, além do próprio programa e do sítio da obra.Comas identifica em seu texto de 1985 as duas principais linhasde explicação para a criação arquitetônica que surge no modernis-mo.

    “A primeira teoria postula o partido como conseqüênciainevitável da correlação lógica entre a análise dos requerimentos

    operacionais do programa e a análise dos recursos técnicosdisponíveis. A segunda visualiza o partido como resultadode intuição do gênio criador do arquiteto, manifestando- se espontaneamente. Ambas surgem contrapostas à teoriatradicional que entendia ser a concepção de partido baseada naimitação de precedentes formais conhecidos.” 19

    Estes três mecanismos, que são concebidos como mutuamenteexclusivos, falhando em explicar de forma consistente o processode criação, ocorrem sempre e em momentos diferentes na criação

    arquitetônica. A ênfase dada a cada componente é mais fruto dasconvicções de seus autores do que evidência da prática de projeto.

    A tradição, as obras e as idéias que estão na formação do arquiteto,assim como o ambiente cultural no qual está imerso, têm signifi-cativo impacto na resposta que dá quanto às solicitações objetivasdo programa ou a relação com o local.

    “ Quando você analisa seu próprio trabalho você tem queperguntar a si mesmo o que você obteve e de quem. Pois tudo que

    você encontra vem de algum lugar.”“ Arquitetos ( não somente eles ) têm o hábito de omitir suas fontesde inspiração.” 

    “Mas fazendo isto o processo de projeto fica nebuloso, enquantoque ao esclarecer o que o motivou e estimulou você em primeirolugar, talvez você consiga explicar a si mesmo e fundamente suas

    19 COMAS, Carlos Eduardo Dias. Ideologia modernista e ensino de projetoarquitetônico: Duas proposições em conflito. In: Comas, Carlos E. D. Projetoarquitetônico disciplina em crise, disciplina em renovação. PROJETO, São Paulo,1986. p.33.

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    decisões.” 20 

    Além de permitir esclarecer quais referências o arquiteto utilizouem seu processo de criação, entendendo melhor suas decisões, aanálise dos precedentes permite também conectar os projetos

    com a história das idéias e das soluções de arquitetura.Tentarei aqui desenvolver um pouco os precedentes relevantespara o projeto do CEI, mesmo que de forma incipiente, pois consi-dero que de qualquer maneira contribuirá para a melhor compre-ensão do processo.

    Este projeto foi resultado do trabalho desenvolvido dentro de umaempresa com muitos arquitetos e, portanto, espelha um conjuntode referências arquitetônicas bastante amplo e variado. Soma-se a

    isto o fato de que o arquiteto João Eduardo De Gennaro, diretor daItauplan na época do projeto, apesar de ser um dos representantesilustres da arquitetura brutalista paulista, nunca foi dogmático epermitia grande liberdade formal aos profissionais sob sua coor-denação.

    A produção da Itauplan nessa época, início da década de oitenta,reflete a grande variedade de caminhos que o questionamento darigidez da arquitetura moderna introduziu no campo da arquite-tura. É possível conhecer melhor seu trabalho através de algunsestudos já feitos sobre seus projetos, entre os quais eu destacaria adissertação de mestrado de Julio Vieira.21

    Apesar de inseridos nessa grande equipe, a concepção inicial doprojeto do CEI foi desenvolvida pelo arquiteto Javier Judas y Ma-nubens e por mim de forma relativamente autônoma e tambémcoube a nós a coordenação de todo o processo de desenvolvimentodo projeto. Portanto somente vou detalhar as referências e prece-dentes que nos influenciaram, ao Javier e a mim, desde a formação

    na escola e durante a execução do projeto, sem ousar ir além deuma caracterização no contexto da Itauplan.

    Javier fez parte da primeira e única turma formada pela Faculda-de de Arquitetura de São José dos Campos, tendo iniciado o cur-so em 1970. Essa escola, constituída no auge da ditadura militar,

    20 HERTZBERGER, Herman. Lessons for students in Architecture. Nijmengen: 010Publishers, 2005. p. 5.

    21 VIEIRA, Julio Luiz. Arquitetura bancária e imagem corporativa no Brasil:O caso da Itauplan (1973-2000). Dissertação (Mestrado). Faculdade de Arquiteturae Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Orientador Candido MaltaCampos Neto. São Paulo, 2003.`

    Ginasio do Clube Atlético Paulistano. São Paulo, João Eduardo De Gennaro ePaulo Mendes da Rocha.

    [4]

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    incorpora uma série de professores que haviam sido expulsos daFAUUSP e da Universidade de Brasília. Sua ambição, na visão deJavier,22 era ser uma espécie de Bauhaus onde a arquitetura, o ur-banismo e o design conviveriam com as demais artes, sendo queno caso dele a principal influência era o cinema, que tinha como

    professor o importante crítico e cineasta Jean Claude Bernardet.Quanto aos arquitetos, uma presença constante apesar de não serprofessor fixo da escola, era Paulo Mendes da Rocha, mas os quese destacavam, para Javier, eram Paulo Bastos e Mayumi Watana-be de Souza Lima, que apesar de terem sido docentes da FAUUSPse vinculavam a diferentes linhas da escola. Paulo Bastos estavaligado à linha dominante da arquitetura paulista, liderada por Vi-lanova Artigas, e Mayumi, ao grupo dissidente de Sérgio Ferro eRodrigo Lefèvre. O arquiteto que mais admirava porém era Oscar

    Niemeyer, cuja liberdade formal e uso de formas mais orgânicas oaproximava, na visão de Javier, da liberdade de um escultor.

    “ Me parece que quando o Artigas ou um arquiteto paulistainicia um projeto ele sabe exatamente aonde vai chegar, a formaque será resultante, sempre um volume regular. Quando você vê filmes do Niemeyer projetando e ele inicia uma linha, a impressãoque eu tenho é que ele não sabe o que resultará no fim”.23

    Porém, as atividades dominantes de Javier na escola estão ligadasmais às artes plásticas e ao cinema e quando sai da escola se as-socia a Guto Lacaz em um pequeno escritório onde desenvolvemtrabalhos gráficos, cenográficos e até arquitetônicos.

    Neste fim da década de 1970 há também o surgimento dos arquite-tos pós-modernos nas publicações brasileiras e um, em particular,terá grande influência no trabalho e na linguagem de Javier, Mi-chael Graves. Este importante arquiteto americano cria em seustrabalhos a impressão da volumetria a partir de um tratamento

    gráfico das fachadas e seu uso de elementos históricos nunca ocor-re de forma direta, através do emprego de componentes e orna-mentos de estilos prévios, mas sim por uma leitura gráfica e estili-zada, quase uma versão bidimensional.

    O Portland Building, seu edifício mais conhecido, é na realidadeum simples cubo com janelas idênticas em sua maior parte, noqual o tratamento gráfico da fachada dá a ilusão de uma volume-tria altamente elaborada. Somente uns poucos elementos decora-

    22 Entrevista dada ao autor em 5/6/09.

    23 Entrevista dada ao autor em 5/6/09.

    Marquise da Igreja da Pampulha. Belo Horizonte, Oscar Niemeyer.

    Croqui de Oscar Niemeyer da Casa das Canoas.

    [5]

    [6]

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    tivos são tridimensionais e é o uso de recursos gráficos de contras-te e de formas bidimensionais que dá a impressão de um edifícioclássico.

    As dificuldades do início de uma carreira autônoma, somadas aoprimeiro filho, levaram Javier a entrar na Itauplan em 1978, curio-

    samente exatamente quando eu deixava a empresa, de forma quesó nos encontraremos profissionalmente em 1981 quando retor-nei à Itauplan para o projeto do CEI. Apesar da relativa liberdadeformal que os arquitetos da empresa gozavam, nesta época sobcoordenação de Perillo Alves, não havia espaço para uma arquite-tura historicista em um banco tão associado à arquitetura moder-na, que era chamado “um banco de engenheiros”. Portanto o queJavier incorporará do trabalho de Michael Graves, ao menos nostrabalhos do Itaú, será a utilização de materiais, cores e texturas

    como uma forma de desenhar, bidimensionalmente, um volumevirtual rico aplicado sobre um volume real simples.

    Porém o projeto mais relevante que ele havia desenvolvido, e quecertamente o qualificou para a equipe do CEI, foi a ampliação daagência da praça Pan-Americana, em São Paulo. O banco já tinhauma agência, afastada da praça e que fora desenhada pelo arquite-to Marcelo Dias Menezes. Com a compra do terreno em frente àpraça, quis aproximá-la da mesma. Como por restrições de zonea-mento não podia ser construída uma ampliação da agência, Javierdesenvolveu uma estrutura pergolada que partia da geometria doedifício existente e a prolongava até a rua que contorna a praça.Este projeto, até hoje um dos melhores do Itaú, demonstra, emuma visão não compartilhada por Javier, sua forte ligação com otrabalho de Niemeyer que será fundamental no desenho das lajesdo embasamento do CEI.

    Já a minha formação, na Faculdade de Arquitetura da Universi-dade de São Paulo (1972-1979), fez que as principais referências

    iniciais de minha prática profissional fossem os projetos de Vila-nova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Existe uma interessantepublicação da revista PROJETO,24 que se propõe, ao comemorar os50 anos da fundação da FAUUSP, a avaliar as evidências da suainfluência nas primeiras obras dos arquitetos de várias geraçõesformados por ela. O editor selecionou, no meu caso, como um dosrepresentantes da turma de 1979, o projeto do teatro Mars. Desen-volvido dois anos antes do início do CEI, o projeto reflete a auste-ridade e a simplicidade da volumetria da obra de meus mestres

    24 PROJETO: Revista Brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial econstrução. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda, nº 228, p. 25.

    Portland Building. Portland.

    Agência Itaú, Pça. Panamericana.

    Teatro MARS. São Paulo.

    [7]

    [8]

    [9]

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    adotivos e pode ser considerado filho legítimo da Escola BrutalistaPaulista. Talvez mais na sua estratégia compositiva e na escolhados materiais do que em suas pretensões mais abrangentes se con-siderarmos a análise precisa, porém ácida, de Ruth Verde Zein doque é especifico da escola paulista:

    “Assim sendo, talvez o que defina sua especificidade nãoseja apenas seus elementos de composição ou os materiais deeleição, mas igualmente a ênfase colocada em aspectos como aracionalidade construtiva e clareza estrutural, apontando parauma meta futura, freqüentemente simbólica, de pré-fabricação; nasua organização privilegiando espaços voltados para si mesmo,mas que se propõem como abertos para ao coletivo; na ênfase empostular-se como paradigmas de uma realidade futura mais deacordo com seus ideais sociais; e, ao se pretender exemplar, naconcepção de soluções que, sendo isoladamente de grande interesse,

    se vêem ou preferem ser vistas como protótipos ou mesmo modelosque se prestariam a ser muitas vezes repetidos, uma vez queteriam alcançado um patamar, julgado adequado por seus pares ediscípulos, de solução cabal.” 25 

    Sem dúvida poderia incluir também a clareza estrutural e certa ra-cionalidade construtiva no rol de características que vincula esteprojeto à escola paulista, mas nunca a idéia de que o verdadeirovalor do projeto não estaria em suas qualidades intrínsecas, massim em seu caráter de modelo de abordagem de determinado pro-grama.

    Porém a referência dominante para mim no desenvolvimento doprojeto do CEI foi o trabalho de Kevin Roche e John Dikenloo, jáque os mestres da arquitetura brutalista paulista, por convicçõesou falta de oportunidades, não haviam produzido até 1980 edi-fícios de escritórios. Ambos trabalharam com Eeron Saarinen, eMontaner os considera, juntamente com Cesar Pelli, seus princi-pais colaboradores. Além do icônico edifício da sede da Ford Foun-

    dation em Nova Iorque de 1963, com sua excepcional transiçãoentre o edifício e a cidade criada pelo atrium, foi o projeto da sededo College Life Insurance Company of America em Indianápolis,de 1967, a referência principal na idéia da composição volumétri-ca do conjunto. Curiosamente são estes também os projetos des-tacados por Montaner ao analisar o que ele chama de arquiteturaneoprodutivista.

    25 ZEIN, Ruth Verde. Arquitetura Brasileira, Escola Paulista e as casas de PauloMendes da Rocha. Dissertação de mestrado. Porto Alegre, PROPAR/UFRGS, 2000,p.14.

    The Ford Foundation, New York, EUA. Vista Geral.   [ 10]

    The Ford Foundation, New York, EUA. Planta tipo. [11]

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    “Uma das obras mais representativas é a citada Ford Foundationem Nova Iorque (1963-1968) projetada por Kelvin Roche e JohnDikenloo. O edifício esta marcado pela ênfase na experiência docontrole visual e ambiental, que lembra a idéia característicado século XIX do Pan-óptico; e lo desenvolvimento do conceito decomunidade trabalhadora. [...]

    De fato, ao longo dos anos 70, Roche e Dikenloo desenvolveramuma série de marcos dentro da arquitetura de escritórios quebaseiam-se no alarde tecnológico e no experimento de formasvolumétricas puras.[...] 

    O projeto para o College Life Insurance Co., em Indianápolis(1973), se baseava na repetição de nove torres idênticas, dasquais somente três foram construídas. Cada uma delas, tentandocontinuar a tradição de volumes monumentais simples dosastecas, maias e egípcios, tinha uma forma levemente piramidal,com dois muros cegos e grossos e duas cortinas de vidro

    inclinadas.[...]Neste caso, Roche e Dikenloo levam a poética dosarranha- céus a um resultado extremamente expressivo e épicoque, ao mesmo tempo, sintoniza com a nascente “minimal art”norte- americana.” 26 · 

    Não se trata, como é obvio, da replicação de uma solução e sim aadoção desta mistura de austeridade construtiva e integração coma natureza como fio condutor do projeto. O jardim interno da FordFoundation, sem dúvida, é uma referência para a tentativa de des-caracterizar como subterrâneas áreas do embasamento que estão

    10 metros abaixo do nível da rua e a composição das três torres deescritório, na concepção inicial com fachadas de vidro, sobre osespelhos d’água, com certeza, lembram a implantação do CollegeLife Insurance.

    Muitas das referências importantes para os arquitetos do projetosão às vezes eliminadas por fatores além do alcance dos mesmos. AItauplan estava instalada no edifício que Rino Levi projetou para oBanco Sul-América, que resolve de forma brilhante a iluminação

    e ventilação naturais, sem mencionar o rigor no detalhamento euso dos materiais. Porém uma das premissas que recebemos docliente era evitar o uso de brise-soleil  e a proximidade do aeroportode Congonhas tornava a questão do isolamento acústico um fatorchave no desenho da fachada.

    Na mesma quadra do edifício Sul-Americano ficava o da CaixaEconômica que com sua implantação urbana única na avenidaPaulista sempre nos estimulou a romper com os mesquinhos li-

    26 MONTANER, Josep Maria. Depois do Movimento Moderno. Barcelona:Editorial Gustavo Gili, 2002, pg.175. 

    College Life Insurance Company of America, Indianapolis, EUA. Vista geral.   [12]

    College Life Insurance Company of America. Planta do primeiro piso.   [13]

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    mites do lote urbano e a rígida separação entre o espaço público eo privado.

    E3 e E4 (1982-1985)

    Arquitetos: João Eduardo De Gennaro  Javier Judas y Manubens  Jaime Marcondes Cupertino

    Apesar de o Itaú já possuir o lote E5, a solicitação feita aos arquite-tos supunha o projeto dos lotes E3 e E4 como autônomos e, comoimaginavam outro uso para este lote, tínhamos orientação de nãoconsiderá-lo como parte da concepção global. Evidentementemesmo que não explicitamente, sempre avaliamos certas decisõesconsiderando a hipótese de unificação dos terrenos de forma queo espaço entre a torre C e a área de equipamentos, que no projetoinicial estava caracterizado como simples acesso à área de equi-pamentos, se transformasse em importante conexão de pedestresentre o E3 e E4 e o lote E5.

    No início de um projeto arquitetônico frequentemente devemosconviver com dois extremos na postura dos clientes em relação aoprograma e ao projeto. De um lado a total indefinição dos usos ea exigência de máxima flexibilidade em relação ao projeto; no ou-tro extremo e igualmente problemático, o excesso de certezas que

    impossibilita a rica evolução progressiva de definições e decisõesentre as muitas soluções possíveis para um mesmo programa.

    Área computável e volumetria

    O projeto urbanístico da Emurb pouco alterou a estrutura viária doentorno, apesar de ter aumentado de forma expressiva o coeficien-te de aproveitamento dos lotes (média de quatro vezes o terreno).Isto criou a possibilidade de existirem áreas construídas imensasligadas a ruas ainda na escala da ocupação residencial de baixadensidade que predominava na região. O mais grave, no caso dosterrenos do Itaú, é o da rua Carnaubeiras, que faz uma das divisas etem apenas 6 metros de largura mas que, na face oposta ao lote doItaú, é ocupada quase exclusivamente por pequenos sobrados.

    O primeiro problema que tivemos de resolver, ao iniciar o projeto,foi o da estratégia a adotar para compatibilizar a expressiva áreaconstruída permitida com a limitação adicional de gabarito de al-tura definido pela proximidade do aeroporto de Congonhas.

    Em função disto, a ocupação do conjunto está sujeita às limitações

    CEIC. Acesso subterraneo à torre Eudoro Villela.

    CEIC. Acesso subterraneo à torre Eudoro Villela.

    [15]

    [14]

    CEIC. Acesso subterraneo à torre Eudoro Villela.   [16]

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    de um cone de aproximação, a partir do eixo da pista do aeroporto,que define os limites de altura permitidos aos edifícios, de forma anão interferir no processo de aproximação dos aviões que pousamou decolam do aeroporto.

    Essa limitação torna ainda mais aguda a solução da grande área

    construída gerada pelo coeficiente quatro, pois na cidade este coe-ficiente está associado a um índice de ocupação de 25% da área doterreno, o que gera edifícios de no mínimo 16 andares.

    No caso do terreno do CEI, quando aplicamos as restrições do ga-barito do aeroporto, temos um edifício de no máximo 45 metrosde altura, o que se considerarmos um piso a piso de 4 metros, tí-pico de edifícios de escritórios, resulta em uma construção de 10andares mais a torre dos elevadores.

    Essa limitação, que levava a uma ocupação em projeção de quase50% do terreno, para que fosse possível a utilização da área com-putável permitida, acabou resultando em uma inovação técnicaem relação ao sistema de ar-condicionado, que foi a utilização deinsuflamento por plenum no forro. Na solução proposta, o ar-con-dicionado é insuflado no espaço entre a laje e o forro, sem a utiliza-ção de dutos, criando uma pressão positiva suficiente para garan-tir a distribuição do ar pelo ambiente de trabalho. Mais à frente,quando formos tratar dos aspectos técnicos do projeto, detalha-

    remos melhor esta importante inovação, por ora o que importa éque permitiu um piso a piso de apenas 3,35 metros , resultando emdois pavimentos adicionais na torre.

    Além da acomodação da área do programa, alguns temas concen-tram, neste início do projeto, o esforço dos arquitetos:

    - Acomodar o vasto programa sem criar uma massa constru-ída brutal em relação ao entorno ou pelo menos reduzir seuimpacto.

    - Criar maior fluidez na circulação pública sem que uma áreatão extensa construída bloqueasse a circulação de pedestres.

    - Reconstruir a paisagem de forma a integrar as áreas públicasadjacentes e valorizar o parque formado pela desapropriaçãode três grandes residências.

    A solução finalmente adotada foi dividir o programa em dois gran-des blocos (escritórios e embasamento) e enterrar parcialmente oembasamento para que se evitasse criar um obstáculo visual em

    relação ao entorno.

    N

    CEIC e Aeroporto Internacional de Congonhas.   [17]

    CEIC. Corte em perspectiva. Piso-a-piso.

    CEIC. Torres e pisos do embasamento.

    [18]

    [19]

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    O núcleo central das torres, com a circulação vertical e as pruma-das, será o elemento que dará unidade do ponto de vista funcional,permitindo que o conjunto seja percebido pelo usuário como con-tínuo, apesar de estar volumetricamente segmentado.

    A separação dos dois volumes construídos, com a penetração da

    área pública dentro do terreno do Itaú, permitiu também resolvera articulação dos espaços privativos com os públicos possibilitan-do maior fluidez, sem que a segurança do conjunto fosse prejudi-cada.

    A solução, central para a qualidade da interação do edifício comseu entorno, havia sido utilizada anteriormente no edifício-sededo BNDES no Rio de Janeiro, 27 propondo, no tratamento do planoda rua, recompor a relação da colina de Santo Antônio, onde está o

    convento de mesmo nome, com a avenida. O paisagismo de BurleMarx amplia a conexão entre os dois terrenos criando uma conti-nuidade rica e rara em nossas cidades.

    Apesar de não conhecer este projeto na época de desenvolvimen-to do CEI, eu o vi recentemente no livro do Renato Anelli sobrearquitetura brasileira e fiquei impressionado com a qualidade daarticulação do prédio com seu entorno.

    Essa estratégia de projeto é extremamente eficaz para conciliaruma maior fluidez do espaço público sem que sejam prejudicadasas exigências do uso privado. Por deixar áreas importantes de usocomum tecnicamente em subsolo, ela exige, como vemos em am-bos os projetos, a criação de vazios que permitam que a luz e osol penetrem nestes espaços, e também que o tratamento destesníveis descaracterizem a impressão de subsolo com a utilização dejardins e espelhos d’água.

    Essa permeabilidade é obtida, no caso do Itaú, sem comprometeras necessidades de segurança, pela forma como se estabeleceu aseparação entre as torres e o embasamento. Os núcleos de elevado-res e escadas das torres não têm acesso quando cruzam com os pla-nos de circulação pública. De forma que os dois níveis superiores(2º e 1º Intermediário) são de livre acesso público e os dois níveisinferiores ficam restritos aos visitantes do Itaú. A organização emplanos diferentes permitiu conciliar as exigências de segurança de

    27 Arquitetos: Alfred Willer,Ariel Stelle, Joel Ramalho Jr, José Sanchotene, LeonardoOba, Oscar Muller e Rubens Sanchotene.

    CEIC. Continuidade visual.   [20]

    Sede do BNDES, Rio de Janeiro. Corte.

    Sede do BNDES, Rio de Janeiro. Embasamento.

    [21]

    [22]

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    um banco com uma relação mais aberta e generosa com a cidade.

    “Ao fazer um aproveitamento inteligente das diferenças de alturae fontes, não houve a necessidade de cercar o banco com paredes ougrades. O complexo parece surpreendentemente acessível, segundoos padrões brasileiros, principalmente no caso de um banco. O

    arquiteto Jaime Cupertino fala de um “método medieval”, que éeficaz na São Paulo contemporânea. Vandalismo, problemas desegurança ou violência no local ainda não foram registrados. Osmoradores podem se sentir à vontade na praça. Crianças comskates, mães com filhos pequenos e os idosos aproveitam bem aoportunidade.” 28 

    O método medieval que Paul Meurs menciona é o uso de fossosem parte do perímetro do conjunto como elemento de isolamentoe limitação do acesso sem que para isto fosse necessário o surgi-

    mento de muros altos. A adequação desta solução fica muito evi-dente na rua Carnaubeiras onde, além da dimensão reduzida desua calha, as calçadas também são muito limitadas. A altura do fe-chamento visa principalmente garantir a segurança dos pedestresjá que o fosso criado entre o edifício e a rua garante a segurança.A utilidade da solução medieval, na São Paulo de hoje, não deixatambém de ser um símbolo das condições de desenvolvimento so-cial de nossa cidade.

    O desenho do embasamento era baseado em lajes ortogonais e nãohavia uma boa articulação com as áreas públicas ao redor. Parti-cularmente a praça existente entre o terreno do Itaú e avenida Ar-mando Arruda Pereira ficava em uma cota bem inferior (5 metros)e criava uma espécie de ilha rodeada de taludes com presença nulapara as pessoas que circulavam pelo terminal de ônibus. Creio queisto era resultante da localização da avenida em uma cota alta, quecriou taludes e muros de arrimo entre ela e o terreno ao lado, mastambém reflete as camadas sucessivas de projetos desde o geradopela implantação do metrô e pela intervenção direta da Emurb .

    Desde o início do projeto, portanto, existia a intenção de recons-truir, de forma levemente escalonada a ligação entre a avenida e oparque resultante da unificação de três residências existentes nolocal. O desenho mais orgânico destas lajes reflete a intenção derecriar o relevo até o parque Conceição.

    Porém uma grande área construída, relativa às partes de uso co-

    28 MEURS, Paul. O espaço democrático sob pressão em São Paulo e no Rio . Títulooriginal: Democratische ruimte in São Paulo em Rio de Janeiro onder druk, publicadoem: De Architect  1993-11, Haia, 1993-11, p. 100-109.

    CEIC. Cascata e escultura de Bruno Giorgi.   [23]

    CEIC. Solução para os muros externos.. Solução para os muros de arrimo.   [25] [26]

    CEIC. Painel de Sérgio Camargo e espelho d’água.   [24]

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    mum e os serviços de suporte de um conjunto destas proporções,ainda deveria ser acomodada em um embasamento.

    Esse embasamento criava uma grande área ocupada e formava umbloqueio às visuais ao longo das ruas e praças contíguas. Esta solu-

    ção está presente nos demais edifícios que fazem parte do plano deurbanização da Emurb, situados no outro lado da avenida.

    Resolvida a acomodação da área construída em dois grupos (em-basamento e torres) buscamos a solução da implantação das torresno terreno. A proposta inicial induzida pelos recuos e pela sim-plificação da malha estrutural dispunha as três torres resultantesparalelas à rua Carnaubeiras criando uma parede quase contínua(os prédios ficavam recuados 10 metros entre si) de 150 metros de

    largura por 45 de altura, a 5 metros dessa rua.

    Essa implantação atendia a todos os requisitos legais, mas resulta-va em uma massa construída desproporcional em relação à rua vi-zinha que, como dissemos anteriormente, tem somente 6 metrosde calha. Um problema secundário, mas também relevante, eraque as áreas de escritórios voltadas para os recuos entre os prédiosestavam distantes entre si apenas 10 metros e, portanto, sem visu-ais mais amplas.

    Iniciamos então uma série de estudos de implantação que tentavadar uma nova acomodação às três torres propostas e acabamos en-contrando uma solução a 45 graus em relação à rua Carnaubeirasque resolvia a maioria destes problemas mas, em função da formairregular do terreno, uma das arestas do edifico mais alto não res-peitava o recuo obrigatório de 5 metros.

    A nova solução, muito superior do ponto de vista da relação com a

    vizinhança e também melhor no aspecto puramente compositivo,dificilmente seria aceita dentro do processo convencional de apro-vação de projetos na cidade. Para sua viabilização seria necessáriopercorrer um longo caminho que demandaria não só um númeromaior de atores como também tempo, o que seria praticamenteimpossível pelo seu impacto no cronograma de um empreendi-mento.

    Apesar da existência de instâncias como a Ceuso (Comissão deEdificações e Uso do Solo) na cidade de São Paulo, que tem poderes

    para aprovar soluções como esta, ela possui somente sete mem-bros e se reúne duas vezes por semana com uma extensa agenda

    CEIC. Solução para os muros de arrimo.   [27]

    CEIC. Estudo de implantação em paralelo com a R. Carnaubeiras.   [28]

    CEIC. Estudo de implantação em 45º com a R. Carnaubeiras.   [29]

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    de consultas e pendências. Portanto um projeto pode aguardar atémais de um ano para que possa ser analisado, inviabilizando esterecurso para a maioria dos projetos. No entanto seria importan-te desenvolvermos novas instâncias ou ampliarmos as existentespara que os projetos pudessem ter uma avaliação mais abrangentee qualitativa, como ocorre nos países desenvolvidos.

    Isto põe em evidência as limitações do sistema de aprovação deprojetos hoje vigente, que se restringe a verificar se os índices ur-banísticos, com sua volumetria resultante, estão dentro dos indi-cados para aquela área da cidade.

    Porém no caso do CEI, por estar incluído na área definida no pro-jeto CURA Conceição, a atribuição de julgar e aprovar os índicesurbanísticos e em particular os recuos era da Emurb, que tinha

    poderes para abrir mão deste problema pontual. Estando claro aocorpo de arquitetos desta que a segunda proposta era muito me-nos impactante em relação aos vizinhos, foi aprovada a solução eviabilizada a nova implantação.

    Torre de escritórios e pavimento-tipo

    Os primeiros estudos desenvolvidos pela Itauplan propunhamdois edifícios, baseados na idéia de grandes pisos de escritóriosadotados no Centro Técnico Operacional (CTO) do Itaú na Moo-

    ca. A idéia do ponto de vista funcional dominante no Itaú nessaépoca era que as grandes lajes de pavimento-tipo geravam maiorliberdade na alocação dos departamentos e facilitavam o trabalhode layout. No caso do CTO, este raciocínio tinha certa consistên-cia, pois a utilização principal do edifício era como um grandecentro de processamento de dados do Itaú em São Paulo e as áreasde suporte administrativo estavam dispostas em departamentoscom grande número de pessoas. No início do projeto do CEI o usodominante previsto era para acomodar a sede da Itaú Seguros,

    proprietária do imóvel, que se organizava em departamentos commenor número de pessoas em relação ao CTO.

    A concepção do pavimento-tipo de um edifício de escritórios jáestá há algum tempo condicionada por uma série de critérios nu-méricos de avaliação de performance, que são estabelecidos a prio- ri  e em relação aos quais as soluções propostas serão avaliadas. Aprimeira informação que um incorporador buscará a respeito deum pavimento-tipo será a relação entre área total e área “alugável”(rentable space) o que é fácil de entender pois a primeira define o

    custo e a segunda, a renda possível, ou seja sintetiza a rentabilida-de do investimento.

    A i i d í di di i à i i ã

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    A maioria dos índices, portanto, diz respeito à maximização eco-nômica do investimento, mas alguns são qualitativos, como a dis-tância máxima entre a fachada e a mais distante estação de traba-lho ou a relação entre perímetro de fachada e área de escritório,que refletem, de certa forma, o acesso que uma pessoa pode ter aoque acontece no exterior do prédio.

    Na Europa, por exemplo, se considera 8 metros como limite má-ximo de profundidade em relação à fachada, sendo que em algunspaíses isto é regulado por lei, enquanto nos Estados Unidos e naÁsia os escritórios frequentemente têm 17 metros de profundida-de.29

    Porém mesmo considerando a importância desses parâmetros deperformance do edifício, o projeto não precisa ser elaborado de

    dentro para fora como se a forma resultante fosse delimitada pelasdecisões racionais referentes ao funcionamento do escritório.

    No caso do CEI, a principal condicionante inicial foi o desejo ar-bitrário de gerar um edifício que se aproximasse de um cubo. Afixação, para alguns freudiana, nesta forma geométrica simples, jáevidente no projeto do teatro Mars, forçou a planta a ser um qua-drado de aproximadamente 40 metros, uma vez que a proximida-de do aeroporto limitava a altura do edifício.

    Definidas a forma e as dimensões do pavimento-tipo, que geral-mente são mais influenciadas pela volumetria, legislação e desti-nação do espaço, começaram os estudos de configuração das áreasdestinadas à circulação vertical, sanitários e utilidades. Várias es-tratégias são frequentemente utilizadas para solução deste proble-ma, mais poderíamos para facilitar a compreensão, englobar trêscaminhos: o núcleo central, o núcleo periférico e os serviços dis-tribuídos.

    Vários fatores podem indicar a adequação de um ou outro cami-

    nho, mas os principais são a forma do edifício e o tipo de escritórioque queremos gerar; se o objetivo for criar pequenos conjuntossomente as circulações verticais serão centralizadas e os serviçosdispersos pelo pavimento, se ao contrário, o uso dominante for degrandes escritórios abertos (open plan) os núcleos centrais ou pe-riféricos, contendo as circulações e os serviços, permitem a otimi-zação do uso do espaço.

    29 KOHN, A. Eugene.; KATZ, Paul.Building type basics for office buildings . NewYork: John Wiley & Sons, 2000, p. 4 .

    CEIC. Pavimento tipo das torres dos lotes E3 e E4.

    CEIC. Croqui de possíveis configurações de núcleo.

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    No caso do Itaú foi definido que o uso dominante das torres seria

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    No caso do Itaú foi definido que o uso dominante das torres seriade escritórios panorâmicos e, portanto, nos concentramos em ge-rar o maior perímetro de caixilho e em tentar minimizar as áreasdestinadas à circulação criando um núcleo central.

    A partir daí, através de um processo de aproximações sucessivas,

    uma série de intenções arquitetônicas, funcionais e limitaçõestécnicas confluíram na configuração da solução de núcleo centralquadrado com uma área de layout com 11 metros de profundidademáxima.

    Partimos da idéia de um núcleo central compacto (20% da área dopavimento) e que pudesse isolar facilmente todo o andar atravésdo fechamento das duas portas de acesso ao hall. Com o cálculo detráfego, definição do número de elevadores necessários e dimen-sionamento do hall de acesso, decidimos que todos os serviços eáreas técnicas seriam acessados a partir dele evitando a obrigato-riedade de se criar uma circulação de distribuição junto ao núcleocentral, ao contrário do que se vai desenvolver na torre do lote E2(torre Itaúsa), onde os serviços e mesmo os elevadores dão acessodireto à área de layout.

    Em função da utilização do insuflamento do ar-condicionado emplenum, era importante que as casas de máquinas estivessem dis-tribuídas para minimizar a distância até os limites do pavimento

    e para isso criamos quatro casas de máquinas nos cantos do núcleocentral.

    Para avaliar a adequação da solução do pavimento-tipo, são úteistambém as simulações de layout baseadas nas premissas de ocu-pação de cada organização. No Itaú era adotada, na época, a modu-lação de 1,4 metro e tinha como meta ideal um índice de 10 metrosquadrados por pessoa o que gerava uma estação de trabalho dequatro módulos mais circulação, com um mínimo de 4,5 metrosquadrados por pessoa. A partir destas definições se elaboravam hi-póteses de layout que serviriam de guia para as aplicações especí-ficas que seriam geradas para a ocupação real.

    Arquitetura e marketing

    No início do projeto definimos que o sistema de fechamento dasfachadas seria através de uma dupla cortina de vidro separada umada outra 1,4 metro. O fechamento externo deveria ser uma cortinacontínua de vidro levemente reflexivo, que atenuasse um pouco,

    através do reflexo do entorno, a massa das três torres de escritório.O espaçamento de 1,4 metro, mais que suficiente para facilitar a

    CEIC. Pavimento tipo da torre Itaúsa.   [32]

    CEIC. Pavimento tipo das torres dos lotes E3 e E4 com layout.   [33]

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    retirada do calor absorvido pelo primeiro vidro funcionaria como

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    retirada do calor absorvido pelo primeiro vidro, funcionaria comouma espécie de chaminé, e o caixilho interno seria interrompidopor peitoris de concreto, na verdade vigas externas que teriam opapel de criar uma barreira entre dois andares contíguos, impor-tante para a redução da velocidade de propagação de incêndios.

    A partir dessa solução foi desenvolvido o projeto da estrutura deconcreto e iniciou-se a execução das fundações tornando difícil amudança da solução estrutural. Porém o Brasil estava iniciando afamosa década perdida e a Itaú Seguros decidiu fazer um anúnciode página inteira confiando que um investimento desta ordem in-dicava de que o Brasil sairia da depressão econômica.

    O efeito de marketing desse anúncio eu não saberia avaliar, masinternamente no grupo Itaú surgiu a idéia de que a imagem dosedifícios em vidro transmitia uma opulência inadequada ao mo-mento que o país passava e foi solicitado à Itauplan o desenvol-vimento de uma solução alternativa que transmitisse a imagemde um edifício mais convencional e que aparentasse menor custo.Foram estudadas várias alternativas tanto do ponto de vista for-mal como em relação ao impacto no custo operacional do siste-ma de ar-condicionado. A solução finalmente aprovada envolviaa utilização de vidro importado duplo com persiana interna aoescritório.

    O mais incompreensível para os arquitetos era que a solução de umúnico caixilho, em função da enorme carga térmica que precisavaser reduzida, equivalia, em custo, à solução inicial e aumentavaa demanda sobre o ar-condicionado. As razões técnicas e formaisforam superadas pelas de marketing já sinalizando uma mudançasignificativa no tratamento da arquitetura dentro do grupo Itaú.

    É importante aqui fazer um esclarecimento mais abrangente so-bre o papel da arquitetura na estratégia de imagem corporativa doItaú. Desde o início, a arquitetura das agências do banco se caracte-rizou por uma linguagem da arquitetura moderna, em contraposi-ção com a imagem tradicional de banco que destacaria a tradição.

    Este processo se dá em um primeiro momento sob a influência doarquiteto Jacob Ruchti, autor do projeto da sede do banco na ruaBoa Vista, mas vai se acentuar principalmente após a contrataçãodo arquiteto João Eduardo De Gennaro.

    De Gennaro, que foi sócio de Paulo Mendes da Rocha durante

    muitos anos, portanto ligado à escola paulista de arquitetura, foiprogressivamente reforçando uma linha ligada à arquitetura mo-

    CEIC. Pavimento tipo da torre Itaúsa com layout.   [34]

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    relação ao perfil dos artistas a serem chamados.

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    ç p

    Bardi tinha um explícito desprezo pela arte e pelos artistas concre-tistas brasileiros e se apegava a nomes ligados a ele pessoalmente.Resolvemos então chamar Wesley Duke Lee, que foi o mestre dageração ligada à Escola Brasil (Baravelli, Fajardo, Resende, etc.) e

    que estava há anos envolvido na construção de uma casa em Cam-pos de Jordão como seu arquiteto. A primeira reunião foi bastan-te difícil, pois Wesley não estava muito interessado inicialmentee colocou como condição para sua participação ser o curador dacoleção Itaú, o que estava totalmente fora de nosso alcance. Mes-mo assim o convidamos a visitar a obra, que estava no início daestrutura, para depois tomar uma decisão. Durante a visita ele seentusiasmou com a escala dos trabalhos que estavam sendo feitose mais tarde nos ligou para se desculpar pela arrogância de sua

    postura.A primeira solução que desenvolvemos juntos foi o projeto dailuminação e acabamentos do hall de elevadores da torre de escri-tórios. No início, ele sugeriu que adotássemos o que ele chamoude uma solução “Blade Runner”, fazendo referência ao filme deficção cientifica de Ridley Scott, onde a iluminação seria feita porluzes escondidas nos batentes dos elevadores, criando dois planosiluminados em contraste com a porta do elevador que seria emfórmica preta fosca. Como não havia nenhuma outra forma de

    iluminação no hall, a chegada do elevador e a abertura da portaem fórmica preta davam um grande destaque às pessoas e à luzinterna da cabine do elevador.

    O segundo projeto comum surgiu no desenho do acesso principaldo prédio a partir do nível do piso Guajuviras. Ele fora inicialmen-te definido no piso metrô, em nível com a saída deste e somentepara pedestres. Após a execução da estrutura destes pisos, porém,a diretoria do Itaú solicitou a criação de um acesso nobre, no nível

    do estacionamento de visitantes, que tinha um pé-direito muitobaixo para uso como acesso principal. A solução desenvolvida emconjunto com Wesley foi a criação de uma escadaria escultóricano centro do espaço que, mais do que ter a função de levar as pes-soas, atuava como um foco de atenção daqueles que adentravam ohall e olhavam para o pavimento superior, reduzindo a percepçãoda compressão do espaço que o baixo pé-direito criava.

    Esses dois exemplos apenas indicam de forma concreta como essacolaboração se desenvolveu estando longe de esgotar, pois sema-

    nalmente andávamos pelo edifício em construção apresentandoidéias que tínhamos para os diversos espaços e frequentemente

    CEIC. Escada Wesley Duke Lee.   [37]

    CEIC. Hall de elevadores.

    CEIC. Escada Wesley Duke Lee.

    [35]

    [36]

    Wesley nos indicava direções ou referências que sua grande cultu-

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    ra permitia. Foi ele também que nos indicou o trabalho de SergioCamargo para o painel do piso terraço e nos aproximou dos artis-tas concretistas, mas sua contribuição foi muito além do mundodas artes plásticas.

    E2 - Torre Itaúsa (1985-1990)

    Arquitetos: Carlos Eduardo Sguilaro  Guilherme Mendes da Rocha  Guilherme Mossa  Jaime Marcondes Cupertino  Yodo Komatsu

    A torre Itaúsa é o resultado de um processo totalmente diversodos três primeiros prédios, não só pelos seis anos de distância, mas

    principalmente pelo relativo sucesso do primeiro projeto. O im-pacto da primeira etapa na diretoria do Itaú criou condições paraque o conjunto fosse visto como a sede do grupo Itaú e todos oslotes passaram a ser estudados como um todo unificado do pontode vista arquitetônico e funcional.

    Sua dinâmica de projeto também foi nova do ponto de vista tecno-lógico, pois pela primeira vez utilizamos as ferramentas de CAD,o que em 1986 só foi possível em função de o grupo Itaú ter uma

    empresa de computadores (Itautec) que as utilizava no projeto demicroprocessadores. Para se ter uma idéia, o computador centralera o VAX PDP 11, da Digital Computers, uma máquina de quaseum metro de largura, três metros de comprimento e altura de umapessoa, que custava em torno de um milhão de dólares e cada esta-ção gráfica, cerca de cem mil dólares.

    Evidentemente, os arquitetos somente tinham acesso a esses equi-pamentos quando os engenheiros eletrônicos não estavam usan-do, o que nos levou a trabalhar, por um longo período, durante as

    madrugadas até o início do expediente da Itautec.

    Os primeiros estudos de volumetria buscavam uma composiçãodo conjunto de edifícios com duas novas torres nos lotes E2 e E5iguais entre si, mas distintas das primeiras três, pois o lote E2 nãocomportava uma construção de 40 metros de lado.

    Muitas possíveis alternativas com edifícios iguais foram estuda-das por vários arquitetos da Itauplan, porém a idéia de um prédiodiferenciado no E2, que além de acomodar a presidência da Itaú-sa deveria simbolizar seu status, foi, cada vez mais, se afirmando

    CEIC. Estudos volumétricos.

    CEIC. Estudos volumétricos.

    Foto da maquete com composição do conjunto.

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    como a direção a ser seguida.

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    A tendência inicial foi buscar soluções de grande impacto visuale estruturalmente radicais, mas progressivamente nos aproxima-mos de um edifício com uma escala mais adequada em relação aoparque Conceição, que indicava sua relevância dentro do conjun-

    to de uma forma mais sutil.

    Ao encontro desta solução veio a decisão da alta direção de insta-lar a presidência e os vices-presidentes da Itaúsa no embasamento,abaixo da avenida Armando Arruda Pereira, para usufruir a rela-ção visual com o parque Conceição, permitindo que a necessida-de de área da torre de escritórios fosse bastante reduzida e, conse-qüentemente, seu volume.

    Portal de acessoA incomum solução de colocar as áreas simbolicamente mais im-portantes do edifício nos primeiros andares se tornou mais com-plexa neste caso por estarem em posição de subsolo em relaçãoà avenida de acesso. Desde o princípio colocou-se o problema decomo gerar um acesso de visitantes direto da avenida ArmandoArruda Pereira que criasse o caráter do entrada principal do edi-fício.

    Primeiramente estudamos alternativas de rampas e escadariaspara vencer o desnível de 10 metros entre a rua e o pavimentotérreo da torre Itaúsa, porém o pequeno espaço entre a calçada eo núcleo de acesso, que forma um hall de pé-direito duplo, seriatotalmente ocupado com seu desenvolvimento. Optamos entãopor um elevador panorâmico hidráulico que, além de permitir oingresso, possibilitaria que o visitante usufruísse da cascata inter-na no hall principal.

    Essa solução, eficiente do ponto de vista funcional mas com ima-

    gem associada à entrada de garagens subterrâneas, não transmitiao caráter de acesso nobre solicitado pela diretoria. É necessáriolembrar que o presidente da Itaúsa, Olavo Egydio Setúbal, tinhasaído recentemente da função de ministro das Relações Exterio-res, ou seja, chefiara o Itamaraty e estava bastante atento às ques-tões de representação e protocolo.

    Partindo da idéia de um portal de acesso destacado da construção,comum nas construções de templos e palácios japoneses tradicio-nais, decidimos chamar um artista plástico para desenvolver umelemento escultórico, em uma escala compatível com o espaçoCEIC. Corte do hall de acesso à torre Itaúsa.   [43]

    CEIC. Portal de acesso do Ed. ITAÚSA.

    CEIC. Abaixo do portal de acesso do Ed. ITAÚSA.

    [41]

    [42]

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    utilizam um ângulo de 45 graus ou mais reduzindo bastante osf t t i lt t

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    esforços estruturais resultantes.

    Neste caso trabalhamos com um ângulo de 30 graus, que deu umaaparência muito mais sutil à transição estrutural, mas exigiu a uti-lização de outros recursos, de forma a não ter que resistir somente

    através da protensão da transição. A brilhante solução do enge-nheiro calculista Ricardo França foi desenhar a estrutura de pisodo pavimento de forma a ser mais rígida junto ao núcleo do edifí-cio fazendo com que 65% da carga dos pavimentos vá diretamentepara os pilares centrais e os restantes 35% para os da periferia e,mais tarde, para a transição.

    É importante destacar que este tipo de raciocínio estrutural holís-tico não pensa a estrutura como uma série sequencial e linear deelementos estruturais, mas usa a interação de todo este sistemapara otimizar a sua performance. Esse mesmo calculista propôs nocaso do teatro Mars, cujo principal esforço estrutural era o ventonas paredes externas, a utilização das lajes das passarelas elevadascomo vigas horizontais que transmitiam o esforço de vento paraas paredes opostas reduzindo a carga a ser resistida por pilares àmetade.

    E5 – Torre Eudoro Vilela (2000 – 2005)

    Arquitetos: Eduardo Martins Ferreira  Felipe Aflalo  Jaime Marcondes Cupertino  Javier Judas y Manubens

     O projeto da torre Eudoro Villela teve seu desenvolvimento emduas etapas muito distantes no tempo e no contexto do desenvol-vimento de projeto e da própria corporação It