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CENTRO UNIVERSITRIO ASSUNO
PONTIFCIA FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA
SENHORA DA ASSUNO
LUIS MARA MAESTRO GARCA
MISSO AD GENTES E GLOBALIZAO:
DESAFIOS PARA A IGREJA NO BRASIL
SO PAULO 2006
Livros Grtis
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CENTRO UNIVERSITRIO ASSUNO
PONTIFCIA FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA
SENHORA DA ASSUNO
LUIS MARA MAESTRO GARCA
MISSO AD GENTES E GLOBALIZAO:
DESAFIOS PARA A IGREJA NO BRASIL
Dissertao de mestrado em Teologia
Sistemtica (Missiologia) apresentada
como exigncia parcial para obteno
do ttulo de Mestre em Teologia
Banca Examinadora da Pontifcia
Faculdade de Teologia Nossa Senhora
da Assuno, sob a orientao do
Professor Pe. Pedro Kuniharu Iwashita,
Doutor em Teologia Dogmtica.
SO PAULO 2006
2
Banca Examinadora
______________________
______________________
______________________
3
minha famlia:
aos meus pais, Flix e Elena,
minha esposa Neire
e minha filha Sofia.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeo a todas as pessoas que, de forma direta ou indireta, contriburam para a
realizao deste trabalho.
Agradeo especialmente :
Ao Instituto Espanhol de Misses Estrangeiras (I.E.M.E.) com sede em Madri
(Espanha), pela contribuio econmica para realizao do primeiro ano do curso de
mestrado.
Pontifcia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assuno, pela contribuio
econmica em forma de meia bolsa de estudos para realizao do segundo ano do curso de
mestrado.
Ao professor Padre Pedro Kuniharu Iwashita, Doutor em Teologia Dogmtica e
orientador de minha dissertao. Agradeo sua dedicao, orientao e encaminhamentos.
A todos os professores e companheiros de aula da Pontifcia Faculdade de Teologia
Nossa Senhora da Assuno.
Neire, minha esposa, pela reviso do idioma portugus e pelas orientaes
metodolgicas.
Minha gratido a todos.
LUIS MARA
5
RELAO DE QUADROS, GRFICOS E TABELAS
APNDICE
TABELAS
I Relatrio sobre os missionrios brasileiros alm fronteiras......................................... 91
ANEXOS
QUADROS
I Populao residente por religio. Censo 1991. Brasil.................................................. 93
II Populao residente por religio. Censo 2000. Brasil.................................................. 94
III Populao residente por religio. Dados comparativos dos censos de 1991 e 2000.
Brasil............................................................................................................................. 95
IV Nmero de presbteros brasileiros e estrangeiros no Brasil. 1970-2000....................... 96
V Movimento anual do contingente presbiteral diocesano. Brasil 1964-2000................. 97
VI Movimento anual do contingente presbiteral dos institutos. Brasil 1964-2000............ 98
VII Movimento anual do contingente de irmos professos dos institutos religiosos laicais.
Brasil 1964-2000........................................................................................................... 99
VIII Dados dos continentes...................................................................................................100
GRFICOS
I Totais de participantes do CENFI 1960-2003.............................................................. 104
II Evoluo por continentes dos missionrios/as do curso do CENFI. 1963-2005.......... 105
III Paises com maior nmero de missionrios/as nos cursos do CENFI. 1967-2005........ 106
IV Destino dos missionrios/as estrangeiros/as que fizeram o curso do CENFI.
1963-2001..................................................................................................................... 107
V Organizao missionria no Brasil............................................................................... 108
6
ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
AG Ad Gentes
AT Antigo Testamento
C Captulo
CAM Congresso Americano Missionrio
CEHILA Comisso de Estudos de Histria da Igreja na Amrica Latina
CELAM Conselho Episcopal Latino-americano
CENFI Centro de Formao Intercultural
CCM Centro Cultural Missionrio
CIMI Conselho Indigenista Missionrio
COMINA Conselho Missionrio Nacional
COMIDIs Conselhos Missionrios Diocesanos
COMIPAs Conselhos Missionrios Paroquiais
COMIREs Conselhos Missionrios Regionais
COMLAs Congressos Missionrios Latino-americanos
CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil
CRB Conferncia dos Religiosos do Brasil
CEV II Conclio Ecumnico Vaticano II
DP Documento de Puebla
DSD Documento de Santo Domingos
EA Eclessia in America
EN Evangelii Nuntiandi
LG Lumem Gentium
N Nmero
7
NT Novo Testamento
P Pgina
PBE Pastoral dos Brasileiros no Exterior
POM Pontifcias Obras Missionrias
RMi Redemptoris Missio
SCAI Servio de Cooperao Internacional
SS Seguintes
ABREVIATURAS DOS LIVROS BBLICOS1
Ab Abdias Ef Efsios
Ag Ageu Esd Esdras
Am Ams Est Ester
Ap Apocalipse Ex xodo
At Atos Ez Ezequiel
Br Baruc Fl Filipenses
Cl Colossenses Fm Filemon
1Cor, 2Cor Corntios Gl Glatas
1Cr, 2Cr Crnicas Gn Gnesis
Ct Cntico dos cnticos Hab Habacuc
Dn Daniel Hb Hebreus
Dt Deuteronmio Is Isaas
Ecl Eclesiastes Jd Judas
Eclo Eclesistico Jl Joel 1 As abreviaturas bblicas so retiradas da Bblia de Jerusalm: nova edio, revisada e ampliada. Paulus: So Paulo, 2002.P. 15
8
Jn Jonas Rt Rute
J J Sb Sabedoria
Jo Evangelho segundo Joo Sf Sofonias
1Jo 1Joo Sl Salmos
2Jo 2Joo 1Sm,2Sm Samuel
3Jo 3Joo Tb Tobias
Jr Jeremias Tg Tiago
Js Josu 1Tm, 2Tm Timteo
Jt Judite 1Ts, 2Ts Tessalonicenses
Jz Juzes Tt Tito
Lc Evangelho segundo Lucas Zc Zacarias
Lv Levtico
Mc Evangelho segundo Marcos
1Mc, 2Mc Macabeus
Ml Malaquias
Mq Miquias
Mt Evangelho segundo Mateus
Na Naum
Ne Neemias
Nm Nmeros
Os Osias
1Pd, 2Pd Pedro
Pr Provrbios
Rm Romanos
1Rs, 2Rs Reis
9
SUMRIO
INTRODUO.................................................................................................................... 13
CAPTULO I
FUNDAMENTOS E SENTIDO DA MISSO AD GENTES......................................... 17
1. Os fundamentos bblicos da misso.............................................................................. 18
1.1A misso no Antigo Testamento..................................................................................... 18
1.1.1 Histria da salvao e misso universal...................................................................... 18
1.1.2 A eleio de Israel e sua misso universal.................................................................. 19
1.2 A misso alm fronteiras no Novo Testamento............................................................. 20
1.2.1 Jesus e a misso da Igreja............................................................................................ 21
1.2.2 A teologia da misso em So Paulo............................................................................. 23
1.2.3 A teologia da misso nos evangelhos e Atos.............................................................. 25
2. Os fundamentos teolgicos da Misso ad gentes.......................................................... 25
2.1 Fundamento trinitrio da misso.................................................................................... 25
2.2 Fundamento cristolgico da misso............................................................................... 26
2.3 Fundamento pneumatolgico da misso........................................................................ 28
2.4 Fundamento eclesiolgico da misso............................................................................. 29
3. A misso ad gentes nos documentos da igreja anteriores ao Conclio Vaticano II.. 30
4. A misso ad gentes nos documentos recentes da Igreja.............................................. 31
4.1 O decreto conciliar Ad Gentes....................................................................................... 31
4.2 A exortao apostlica Evangelii Nuntiandi.................................................................. 34
4.3 A carta encclica Redemptoris Mssio............................................................................ 36
4.4 Medelln, Puebla, Santo Domingos e a misso ad gentes............................................ 39
10
CAPTULO II
A MISSO AD GENTES NA IGREJA NO BRASIL...................................................... 42
1. Urgncia e prioridade da misso ad gentes.................................................................. 42
1.1 Evangelizao e misso.................................................................................................. 45
1.2 Misso ad gentes............................................................................................................ 47
1.3 Atividade pastoral.......................................................................................................... 48
1.4 Nova evangelizao....................................................................................................... 48
1.5 Interdependncia das atividades evangelizadoras.......................................................... 48
2. Brasil: quinhentos anos de evangelizao.................................................................... 50
2.1 Notas histricas.............................................................................................................. 50
2.1.1. Os movimentos missionrios..................................................................................... 50
2.1.1.1 Ciclo do litoral brasileiro......................................................................................... 50
2.1.1.2 Ciclo do serto ou do rio So Francisco.................................................................. 51
2.1.1.3 Ciclo maranhense..................................................................................................... 51
2.1.1.4 Ciclo mineiro............................................................................................................ 51
2.2 Objeto da misso............................................................................................................ 52
2.3 Missionrios estrangeiros no Brasil............................................................................... 52
3. Brasil alm fronteiras.................................................................................................... 53
3.2.1 Dar de nossa pobreza.................................................................................................. 53
3.2.2 Servio e empenho missionrio das igrejas particulares............................................ 55
3.2.2.1 Organizao missionria.......................................................................................... 55
3.2.2.2 Atividades e projetos missionrios ......................................................................... 57
3.2.3 Os missionrios brasileiros.......................................................................................... 57
3.2.3.1 Nmero, gnero e identidade..................................................................................... 58
3.2.3.2 Origem e formao.................................................................................................... 58
11
3.2.3.3 Presena e atividades................................................................................................ 59
CAPTULO III
A GLOBALIZAO E A EVANGELIZAO. DESAFIOS E CAMINHOS
PARA A AMISSO AD GENTES ................................................................................... 61
1. O fenmeno da Globalizao......................................................................................... 61
11Globalizao:caractersticas e manifestaes................................................................... 61
1.2Razes histricas na Amrica Latina e no Brasil............................................................. 64
2. A globalizao e a misso ad gentes ............................................................................. 66
2.1 Novas fronteiras para a misso ad gentes...................................................................... 66
2.2 Desafios da realidade global ......................................................................................... 67
2.2.1 A economia excludente.............................................................................................. 68
2.2.2 O fundamentalismo do mercado................................................................................. 68
2.2.3 A cultura do consumo................................................................................................. 69
2.2.4 A mudana tecnolgica............................................................................................... 70
2.2.5 A destruio do meio ambiente................................................................................... 70
2.2.6 A diminuio da funo do Estado.............................................................................. 71
2.2.7 O pluralismo religioso.................................................................................................. 72
2.3 A globalizao: lugar para Deus?.................................................................................... 73
3.Caminhos e atitudes da misso ad gentes num mundo globalizado............................ 75
3.1 Ler os sinais dos tempos................................................................................................. 76
3.2 Mostrar Deus com o testemunho.................................................................................... 76
3.3 Inculturar o Evangelho................................................................................................... 77
3.4 Valorizar a sociedade plural........................................................................................... 79
3.5 Ser Igreja solidria com os pobres.................................................................................. 80
12
3.6 Trabalhar o ecumenismo e o dilogo inter-religioso...................................................... 82
4. Perspectivas do Brasil missionrio............................................................................... 84
CONCLUSO..................................................................................................................... 87
APNDICE.......................................................................................................................... 91
Tabelas.................................................................................................................................. 91
ANEXO................................................................................................................................ 93
Quadros................................................................................................................................. 93
Grficos................................................................................................................................ 104
FUNDAMENTAO TERICA E BIBLIOGRFICA............................................... 109
FONTES.............................................................................................................................. 109
Documentos do magistrio da Igreja.................................................................................... 109
Literatura.............................................................................................................................. 111
Internet................................................................................................................................. 112
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................. 113
Documentos do magistrio da Igreja.................................................................................... 113
Literatura.............................................................................................................................. 116
Internet................................................................................................................................. 124
13
INTRODUO
Este trabalho um estudo da misso ad gentes, a misso alm fronteiras, da Igreja
Catlica. Portanto, aprofunda uma parte concreta da evangelizao na Igreja, no Brasil, e
contextualizado considerando os desafios da globalizao
A escolha do tema de pesquisa deve-se primeiramente relevncia que a misso ad
gentes tem tido sempre, e continua tendo atualmente no contexto da evangelizao, sendo
destaque e prioridade.
A globalizao, elemento tambm de pesquisa, como cenrio do desenvolvimento da
misso da Igreja, um tema atual e de suma importncia para saber qual e como o papel da
evangelizao e da Igreja na atualidade. um fenmeno complexo que representa um grande
desafio para a sociedade e para a Igreja do terceiro milnio, e portanto para a misso ad
gentes, a misso da Igreja alm-fronteiras.
Pesquisar a misso ad gentes neste contexto, na Igreja no Brasil, constitui um desafio,
pois mesmo sendo um tema to relevante, no existem muitos estudos e pesquisas sobre o
assunto, no Brasil, e no contexto da globalizao. Ao mesmo tempo isso constitui tambm
um motivo importante para pesquisar e sinalizar as perspectivas da misso hoje, numa
sociedade globalizada.
A escolha do tema deve-se tambm a uma motivao pessoal, j que o pesquisador
missionrio alm fronteiras neste pas, e quer analisar a partir do mtodo cientfico e o de
pesquisa, o que ele j experimentou na vida pessoal, missionria e pastoral.
O objetivo descobrir e analisar estes desafios, no contexto da misso ad gentes,
possibilitando sinalizar os caminhos, os rumos e as perspectivas, que a misso ad gentes pode
tomar neste terceiro milnio, marcado pela globalizao e outros temas desafiadores.
14
Pretende-se verificar se possvel realizar a misso ad gentes mesmo em meio s
mudanas e aos desafios que a globalizao est exercendo, na sociedade e na Igreja do
terceiro milnio. Descobrir e sinalizar, qual hoje o papel da ao missionria da Igreja no
mundo globalizado. A misso que a Igreja faz hoje adequada nova sociedade nascida da
globalizao? Os questionamentos, as aspiraes do homem e da mulher atuais, a realidade da
sociedade atual, fazem parte das respostas e atuaes da evangelizao da Igreja? Responder a
estas perguntas tambm objetivo do trabalho.
Esta pesquisa tambm quer verificar o estado atual da misso ad gentes, na Igreja no
Brasil, e confirmar se existe resposta missionria aos desafios da sociedade e da Igreja, no
contexto da globalizao. Ao mesmo tempo, objetiva investigar se possvel apontar e
sinalizar caminhos para a realizao da misso ad gentes no contexto atual da globalizao e
das mudanas scio-culturais, na Igreja e na sociedade brasileira.
Expem-se ainda, alguns dados sobre o nmero de missionrios brasileiros e
estrangeiros, sobre os programas missionrios da Igreja no Brasil, e sobre outros temas e
dados relacionados com a misso ad gentes que a Igreja realiza atualmente.
Quanto metodologia, este trabalho fundamenta-se na anlise e estudo bibliogrficos. A
base terica perpassa diferentes autores que debatem a misso ad gentes e o impacto da
globalizao na sociedade. Isto foi feito atravs da leitura, compreenso de textos e
fichamentos das fontes e da bibliografia em geral.
Primeiramente, houve uma coleta de dados para compor uma anlise de conjuntura da
situao social e eclesial no Brasil. Os principais ncleos de pesquisa so em torno dos temas
globalizao e misso ad gentes, e tem como objetivo descobrir qual a situao atual da
globalizao e da misso ad gentes no Brasil. Como isso est ou no influenciando na ao e
resposta missionria e evangelizadora da igreja.
15
O trabalho compe-se de trs captulos. O primeiro, faz um estudo dos fundamentos
bblicos e teolgicos da misso ad gentes, assim como um percurso pelos principais
documentos do Magistrio da Igreja em relao misso. Este captulo expe as bases
teolgicas para a realizao desta pesquisa, e ao mesmo tempo demonstra as mudanas
teolgicas que a misso ad gentes teve, sobretudo nestes ltimos cinqenta anos.
O segundo captulo, aborda a misso ad gentes, na Igreja no Brasil. Pode-se observar
neste captulo, que a misso abrange dois sentidos, o caminho de ida e o de volta. Com
outras palavras, a Igreja no Brasil como objeto da misso, que recebe missionrios, projetos,
recursos humanos e econmicos, e ao mesmo tempo, como sujeito da misso, que oferece da
prpria pobreza, como sugere o Documento de Puebla, doando missionrios, projetos,
recursos, religiosidade, teologia e maneiras de entender a evangelizao. Nesta parte so
utilizadas e elaboradas tabelas de dados.
Finalmente, o terceiro captulo, aprofunda a realidade da globalizao. Estuda esse
fenmeno, suas caractersticas e manifestaes, assim como sua relao com a misso da
Igreja. Demonstra tambm quais os desafios mais pertinentes da globalizao, a fim de
apontar os caminhos que a Igreja deve enfatizar neste momento atual da sociedade, para
melhor responder as expectativas e aspiraes do homem e da mulher atuais.
Os critrios para a seleo e coleta de informaes foram, primeiramente que os dados
fizessem referncia direta aos temas e objetivos tratados na pesquisa como misso ad gentes,
globalizao e evangelizao. Segundo, que as fontes e a bibliografia fossem as mais atuais
possveis. No caso das fontes, que no ultrapasse cinco anos de sua publicao (excetuando os
documentos oficiais da Igreja) desde o incio da pesquisa, que foi em julho de 2004 . Outro
critrio foi, que as fontes e a bibliografia em geral estejam escritas ou traduzidas nos idiomas
espanhol, portugus ou francs. E por ltimo, que a localizao das fontes de informao seja
de fcil acesso e de baixo custo econmico. Neste sentido, para a coleta de informaes
16
foram utilizados os servios das bibliotecas da prpria Faculdade de Teologia, assim como
outras de So Paulo, do prprio pesquisador e dos meios virtuais especializados na Internet.
Quanto forma de citao da bibliografia, usado o mtodo de Normas Tcnicas
aprovado pela Pontifcia Faculdade de Teologia Nossa senhora da Assuno e com base nas
regras da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT).
17
CAPTULO I
FUNDAMENTOS E SENTIDO DA MISSO AD GENTES
Inicia-se este trabalho de dissertao com a fundamentao bblico-teolgica da misso
ad gentes. Este primeiro captulo quer mostrar as bases bblicas, teolgicas, e os textos mais
importantes do magistrio em relao misso da Igreja.
Em 20 sculos de existncia, a igreja tem sido fiel ao mandato de Jesus Cristo : Ide,
portanto, e fazei que todas as naes se tornem discpulos, batizando-as em nome do Pai, do
Filho e do Esprito Santo[...] (Mt 28,19). Ao longo destes 20 sculos, missionrios e
missionrias tm levado a Boa Notcia do Evangelho aos povos do mundo inteiro. Em cada
poca histrica tem se usado diferentes mtodos, meios e teologias para a misso ad gentes.
At o sentido que se dava misso ad gentes tem mudado ao longo da histria da Igreja. Mas
mesmo assim, com luzes e sombras, acertos e erros, o mandato do Senhor Jesus, o de anunciar
o Evangelho, sempre esteve no corao da Igreja e de seus missionrios e missionrias.
Este captulo faz uma sntese do que significa a misso, na Bblia, e quais so os
fundamentos que criam uma teologia da misso ad gentes. Finalmente, analisa sucintamente
os grandes trs documentos missionrios do sculo XX: o Decreto Conciliar Ad Gentes, a
exortao apostlica de Paulo VI Evangelii Nuntiandi e a carta encclica de Joo Paulo II
Redemptoris Missio. Junto com estes documentos, no captulo apresenta-se um resumo da
relao da misso ad gentes com as II, III e IV Conferncias Gerais do Episcopado Latino-
americano.
18
1.Os fundamentos bblicos da misso
1.1 A misso no Antigo Testamento.
primeira vista, o movimento da histria de Israel e das suas Escrituras, revela-se
centrpeto, ou para dentro. No entanto, uma anlise cuidadosa das tradies bblicas descobre
poderosas correntes que redemoinham na direo oposta.
Mesmo que Israel apreciasse muito a sua identidade como o povo eleito de Deus,
reconheceu outros sinais de profunda solidariedade com as naes no-eleitas, e com a
dinmica da histria secular fora dos anais da sua aliana.
1.1.1 Histria da salvao e misso universal.
A convico de que o Deus de Israel era soberano sobre todos os povos, e de que ele era
um Deus Salvador, fundamental para as Sagradas Escrituras.
Esta convico facilmente visvel no Antigo Testamento. O Deus que resgata Israel do
Egito tinha poder absoluto sobre o fara. O Deus que molda o mundo e faz a pessoa humana
sua imagem o senhor de toda a criao.
Esta imagem profunda de Deus universal e salvador, encontra-se igual no Novo
Testamento, e finalmente se torna a fora propulsora da misso da igreja.
A crena de que Deus atua na historia e atravs dela, uma convico bsica que palpita
por todas as Sagradas Escrituras.
O Deus Bblico descoberto no cotidiano, nos acontecimentos histricos e nas
instituies humanas.2
2 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin: fundamentos bblicos de la misin. Traduo : Constantino Ruiz-Garrido. Estella : Editorial Verbo Divino, 1985. (The biblical foundations for mission). P.437. Una caracterstica importante de esta revelacin en la historia es que dicha revelacin no se limita a acontecimientos y estructuras explcitamente religiosos.
19
A descoberta do sagrado no secular tende a quebrar a muralha entre eles. Isto pode ser a
conseqncia mais importante para a teologia da misso.3
1.1.2 A eleio de Israel e sua misso universal4
O tema da eleio do povo de Israel, como povo escolhido por Deus, tema chave de
toda a Bblia.5
Dizer que Israel o povo escolhido por Deus, pode constituir um obstculo para tratar
o tema da misso universal. Se Israel o povo escolhido por Deus, como formular uma
teologia missionria em favor dos no escolhidos? Por isso, a eleio de Israel
freqentemente tem sido vista em conflito com a misso universal.
A eleio de Israel deve se entender como a escolha por um Deus amoroso em favor de
um povo sofredor. Deus d para este povo as promessas e ddivas como esperana de um
futuro melhor. Mas o povo devia receber isto de Deus como emprstimo, e no como posse,
como sinais de amor e no como de poder, como bens que tem que se partilhar e no como
tesouros, que tem que se defender.
Esta manifestao divina para com o povo de Israel, a Bblia a expressa com o termo
hebraico - bhar (ele escolheu).
Primeiro temos a realidade das coisas; s depois vem a sua elaborao
teolgica. Assim ocorreu no AT com a eleio. Primeiro acontece a eleio
do povo, do rei, de Jerusalm, etc., e s mais tarde a escola deuteronmica
elabora a teologia da eleio. Os autores do Dt cunharam inclusive uma
3 Ib.p.438: Si se puede detectar la presencia de Dios en los acontecimientos seculares y en la historia de los pueblos, ms all de la zona de lo sagrado o de los confines de Israel o de la Iglesia, entonces hay que dilatar el pueblo de Dios. 4 Ib. Cf. p. 116 -149. 5 Pois tu s um povo consagrado a Iahweh teu Deus; foi a ti que Iahweh teu Deus escolheu para que pertenas a ele como seu povo prprio, dentre todos os povos que existem sobre a face da terra (Dt 7,6). S a vs eu conheci de todas as famlias da terra, por isso eu vos castigarei por todas as vossas faltas (Am 3,2).
20
terminologia teolgica prpria para falar da eleio: o grupo lingstico
bahar.6
O Segundo Isaias ampliou e resgatou a doutrina bblica sobre a eleio de Israel, para
que inclusse a salvao universal.7 Foi por causa do meu servo Jac , por causa de Israel,
meu escolhido, que eu te chamei pelo teu nome, e te dou um nome ilustre, embora no me
conhecesses. (Is 45,4)
1.2 A misso alm fronteiras no Novo Testamento
O relacionamento de Jesus e da misso da igreja aos gentios ainda um problema, um
fato complexo. Os evangelhos lembram que Jesus no se empenhou numa misso em escala
natural para os no-judeus. Ao invs disso ele limitou o seu ministrio a restaurar a
comunidade de Israel. Porm, aspectos fundamentais da misso de Jesus tornaram-se
inspirao e fonte para a misso universal da comunidade ps-pascal.
Embora seu ministrio estivesse limitado Palestina, Jesus com sua morte e ressurreio
e com a fora do Esprito Santo, encarregar a seus apstolos e discpulos de levar o
ministrio e o anncio do Reino ao mundo fora.8
5 GONZLEZ LAMADRID, Antonio. As tradies histricas de Israel: Introduo histria do Antigo Testamento. Traduo: Jos Maria de Almeida. Petrpolis: Vozes, 1999. (Las tradiciones histricas de Israel. Estella: Verbo Divino,1993). P. 41. 7 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin: fundamentos bblicos de la misin. Traduo : Constantino Ruiz-Garrido. Estella : Editorial Verbo Divino, 1985. (The biblical foundations for mission). P.148: Al principio, el Segundo Isaas las aplic a Israel [los temas de las tradiciones bblicas que acentuaban el amor personal de Dios para con Israel como pueblo escogido], que a la sazn se hallaba en el destierro babilnico, exhortndolo a un nuevo xodo, a apartarse de los gentiles y a regresar a su propia tierra prometida. Pero las perspectivas eran muy amplias: abarcaban el cielo y la tierra, la poltica mundial, una nueva creacin, alianzas como las concertadas con No y con Abraham, que tenan por objeto a toda la humanidad. El Segundo Isaas implic ntimamente al gran mundo, al mundo secular, en la salvacin de Israel[]. 8 KAROTEMPREL, Sebastin (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P.48: La muerte y resurreccin salvficas de Jesucristo poseen un significado universal. Con su Encarnacin, el Hijo de Dios se ha solidarizado profundamente con la raza humana, tanto en el plano ontolgico al aceptar rebajarse hasta su nivel como en el plano existencial al experimentar en s mismo la trgica situacin humana del pecado. l mismo, el Hijo de Dios, con su Encarnacin, se ha unido, en cierto modo, con todo hombre. Trabaj con manos de hombre, pens con inteligencia de hombre, obr con voluntad de hombre, am con corazn de hombre(GS,n.22). De esta manera, ha experimentado en s mismo el pasado y el futuro de toda la humanidad.
21
O anncio vindouro de Deus e de seu Reino, atravs das palavras, ditos, pregaes,
curas e milagres de Jesus, de capital importncia para o sentido da misso do Novo
Testamento.
1.2.1 Jesus e a misso da Igreja
A pessoa e o ministrio de Jesus foram o catalisador que provocou o impulso cristo
para a misso no Novo Testamento e na igreja primitiva. Nele tem sua fonte a perspectiva
universalista do cristianismo primitivo . Mas, olhando cuidadosamente para os dados bblicos,
estes revelam que o impulso missionrio no procedeu de Jesus na forma de um programa
missionrio explcito, preciso e imediato.9
Dois fatos ajudam a pensar que Jesus no foi missionrio enviado aos gentios. Primeiro,
os relatos sobre os encontros de Jesus com os gentios so relativamente escassos, e h provas
de que a sua misso concentrou-se na comunidade de Israel.10 Segundo, quase todos os
encargos de misso universal dados por Jesus, que se encontram nos evangelhos, apresentam-
se no contexto ps-pascal.11
Portanto, os evangelhos no oferecem provas firmes de que Jesus, durante a sua vida,
tenha se dedicado misso universal em sentido explcito, nem que ordenara a seus discpulos
faz-lo assim12
9 Esta a hiptese que afirma Donal Senior no captulo II Los fundamentos de la misin en el Nuevo Testamento em seu livro Bblia y Misin ( Ttulo em portugus:Os fundamentos bblicos da misso) de sua autoria junto com Carroll Stuhlmueller Op.cit.p.19. 10 Jesus enviou esses Doze com estas recomendaes: No tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Dirigi-vos, antes, s ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10,5-6)Jesus respondeu: Eu no fui enviado seno s ovelhas perdidas da casa de Israel. (Mt 15,24) 11 Os Onze discpulos caminharam para a Galilea, montanha que Jesus lhes determinara. Ao v-lo, postraram-se diante dele. Alguns, porem, duvidaram. Jesus aproximando-se deles, falou : Todo poder foi me dado no cu e sobre a terra. Ide, portanto, e fazei que todas as naes se tornem discpulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, at a consumao dos sculos. (Mt 28,16-20) Outros textos de mandatos de misso alm fronteiras no contexto ps-pascal so: Mc 16,14-20 ; Lc24,47 e J 20,21.Textos como Mc 13,10, Mt 24,14 y 26,13 referem-se a atividade ps-pascal da comunidade primitiva. 12 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin....La evolucin gradual y a veces penosa de la conciencia global de la iglesia, tal como aparece en los Hechos y en las cartas paulinas, confirma esta idea. Si Jess hubiera iniciado una misin entre los gentiles y hubiera dado instrucciones en este sentido a sus
22
Os estudiosos do tema esto divididos sobre a maneira de avaliar estas provas, e
sobretudo sobre a forma de relacion-las com a misso ps-pascal da comunidade. F. Hahn
recolheu quatro hipteses de vrios especialistas.13
A primeira soluo afirma que Jesus, na realidade, foi um missionrio entre os gentios.
Os relatos sobre os gentios, sua atitude aberta para com eles e as exortaes universalistas que
Ele faz aos seus apstolos, confirmariam esta tese.14
Uma segunda posio, afirma que Jesus no inaugurou durante a sua vida uma misso
entre os gentios, mas teria no seu pensamento tal programa e, depois da ressurreio instruiu a
seus discpulos nesse sentido.15
A terceira postura, representada por A. Harnack junto com outros telogos protestantes
liberais do sculo XIX, achava que a misso entre os gentios era produto das reflexes da
igreja primitiva sobre as dimenses universais do ensinamento de Jesus. Jesus no teria
iniciado ele mesmo tal misso, mas foi a igreja primitiva que percebeu as implicaes da
mensagem de Jesus.
Uma quarta hiptese est na obra de Joaquim Jeremias.16Argumenta que Jesus no teria
inaugurado ele mesmo uma misso entre os gentios, nem a Igreja a deduziu simplesmente dos
aspectos do ensino de Jesus. Longe disso, a ressurreio dentre os mortos convenceu
comunidade primitiva de que tinha chegado a era final da salvao. Um dos acontecimentos
discpulos, entonces no se comprendera la repugnancia de la comunidad palestina primitiva a llevar a cabo esta misin. P.191-192 13 Estas idias esto recolhidas em: HAHN,F. Mission in the New Testament,26-41, apud SENIOR, Donald;STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin....P.192. 14 Ib. p. 192 : Pero, como hemos sugerido ya anteriormente, aunque tiene razn al afirmar la apertura de Jess hacia los gentiles, pasa por alto la faceta negativa de los testimonios y no tiene en cuenta la naturaleza pospascual de los testimonios de los textos relativos a la misin. 15 Ib. p. 192: Esta solucin dala importancia que se merece a la naturaleza pospascual de los textos relativos a la misin, pero formula algunas hiptesis discutibles acerca de la conciencia histrica de Jess. Imaginarse a Jess de Nazaret acariciando-en su conciencia humana- la misin de grandes vuelos que tendra lugar ms tarde entre los gentiles, pudiera no tomar debidamente en serio la humanidad de Jess y el papel de la historia en el desarrollo de la identidad propia de la iglesia con respecto a la admisin de los gentiles. 16 JEREMIAS, Joachim. JesusPromise to the Nations. P. 55-73, apud SENIOR, Donald;STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin....
23
esperados no fim dos tempos era a peregrinao das naes a Sio. Esta convico
desencadeou a atividade missionria da Igreja.17
A unio destas quatro hipteses ajuda a esclarecer os pontos de conexo que se deve ter
ao relacionar a histria de Jesus com as atividades missionrias da Igreja primitiva.18
Sintetizando este item sobre Jesus e a misso, pode-se dizer que Jesus e sua misso so
decisivos para o carter, alcance, urgncia e autoridade da misso crist da igreja primitiva.19
1.2.2 A teologia da misso em So Paulo
A partir da sua prpria experincia de converso, Paulo esteve convencido de que o
Deus de Israel exerce sua soberania sobre a criao e sobre todos os povos, chamando a todos
salvao por meio de Jesus Cristo. Este o ponto principal da teologia paulina sobre a
misso. Ou acaso ele Deus s dos judeus? No tambm das naes? certo que tambm
das naes, pois h um s Deus, que justificar os circuncisos pela f e tambm os
incircuncisos atravs da f. ( Rom 3,29-30)
A pessoa de Jesus, seu impacto na vida de Paulo, depois de seu encontro com Ele, um
outro elemento importante para entender a teologia paulina sobre a misso. Para Paulo, era
mais importante saber quem era Jesus que saber o que Ele fez.
17 Ib.p.193: La solucin de Jeremas concede su valor debido, qu duda cabe! al elemento escatolgico, pero- como han sealado algunos crticos- no logra explicar el dinamismo de la misin. Para decirlo con otras palabras, si Dios conduce a los gentiles hacia Sin, por qu los cristianos se sentan impulsados a salir y hacer una proclamacin? Tal solucin ofrece poca reflexin sobre la relacin interna entre el mensaje de Jess y la proclamacin misionera efectuada por la iglesia. 18 Ib. p. 193: Debemos respetar la conexin interna entre el mensaje de Jess tal como se proclam en su da ante oyentes que eran principalmente judos, y el mensaje que la iglesia primitiva proclam ltimamente entre judos y gentiles. 19 Ib. p.214.: El carcter: la perspectiva pospascual de la iglesia primitiva y las circunstancias particulares de los escritores del Nuevo Testamento y de sus comunidades reinterpretaran la tradicin histrica enraizada en Jess.[...]El alcance:[...]La lucha de la iglesia primitiva para sobrepasar los confines de Israel, para estar abierta a los gentiles, fue tema importante de las cartas paulinas y de buena parte de la tradicin evanglica[...] La urgencia: la comunidad primitiva tena plena atmsfera escatolgica.[...]Posea evidente esperanza del triunfo futuro.[...]La autoridad: una evaluacin atenta de los lazos entre Jess y la misin de la iglesia primitiva podra sacar rectamente la conclusin de que, en ltimo trmino, lo que constitua la diferencia no era lo que Jess haba dicho o hecho, sino quin haba sido Jess.
24
A convico de Paulo acerca da identidade de Jesus como Messias exaltado outra
chave de leitura para descobrir a teologia paulina sobre a misso. Jesus Cristo exercia sua
funo messinica por meio da sua morte e ressurreio. A misso redentora de Jesus Cristo
tinha o mesmo alcance que o dom gratuito que Deus faz da salvao. A morte salvadora de
Jesus para todos por igual, tanto para judeus que para gentios.
Agora, porm, independentemente da Lei, se manifestou a justia de
Deus, testemunhada pela Lei e pelos profetas, justia de Deus que opera pela
f em Jesus Cristo, em favor de todos os que crem pois no h diferena,
visto que todos pecaram e todos esto privados da glria de Deus- e so
justificados gratuitamente, por sua graa, em virtude da redeno realizada em
Cristo Jesus. (Rom 3, 21-24)
As cartas de Colossenses e Efsios afirmam o senhorio de Cristo sobre todo o universo.
Por meio de Cristo, o poder salvador de Deus supera qualquer dos destinos ameaadores do
cosmos. 20 Assim, a mesma Igreja est chamada a ser instrumento e modelo de reconciliao
universal entre todos os povos. A prpria misso de Paulo consiste em unir judeus e gentios,
numa s Igreja.
A teologia missionria das cartas aos Colossenses e aos Efsios constitui uma das mais
poderosas declaraes no Novo Testamento no que diz respeito natureza missionria
universal da Igreja.
Paulo foi apstolo dos gentios e evangelizador alm-fronteiras. Seu trabalho missionrio
estendeu-se pela sia Menor, Grcia e Roma.21A raiz central de sua misso universal era a f
20 SENIOR, Donald; STUHLMUELLER, Carroll. Biblia y misin..P. 431: Esta cristologa csmica, a su vez, permite a la carta deutero-paulina de Efesios revelar la perspectiva misionera de la iglesia. El Cristo csmico ha sido dado como cabeza que est sobre el cuerpo de la iglesia, al que llena de las dimensiones universales de Cristo. 21 Ib. p. 254: Su impulso para hacer llegar rpidamente su labor evangelizadota a todo el mundo, abarcando Asia Menor, Grecia y Roma, y sobrepasando tale regiones, era un impulso que se nutra del encargo que Pablo haba recibido de predicar a los gentiles, y de su conviccin acerca de las repercusiones escatolgicas de la misin.
25
pessoal em Jesus Cristo como salvador do mundo. Uma f baseada na sua prpria experincia
de converso.
1.2.3 A teologia da misso nos evangelhos e Atos
Os evangelhos sinticos utilizam as palavras e vida de Jesus para proporcionar
orientao misso da Igreja. Marcos pe o ministrio de Jesus na Galilia de maneira que
ambas as margens do lago - judaica e gentia - sentem o impacto da proclamao do Reino. E
depois da morte e ressurreio de Jesus, os discpulos compreendem o alcance da sua misso
e so levados a proclamar o Evangelho a todos os povos.
Mateus oferece direo sua comunidade judaico-crist na luta dela com o problema do
universalismo.
Lucas-Atos quem proporciona as reflexes mais inclusivas sobre a misso universal
em todo o conjunto do Novo Testamento. A misso da comunidade de ir at os confins do
mundo o resultado final da obra da salvao prometida pelas escrituras e inaugurada por
Jesus. Mas recebereis uma fora, a do Esprito Santo que descer sobre vs, e sereis minhas
testemunhas em Jerusalm, em toda a Judia e Samaria, e at os confins da terra (At 1,8)
No Evangelho de Joo o problema da misso universal continua. O uso de tradies da
sabedoria e sensibilidade se manifesta perante a cultura helenista e proporcionam perspectiva
csmica prpria misso de Jesus, enquanto apresentado por Joo.
2. Os fundamentos teolgicos da Misso ad gentes
2.1 Fundamento trinitrio da misso
Como base fundamental da natureza missionria da Igreja est Deus, que tem se
revelado e doado humanidade como Pai, Filho e Esprito Santo, dizer, como a Santssima
Trindade . No decreto AG do Conclio Vaticano II declarada esta verdade. A Igreja
26
peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a sua origem, segundo o desgnio de
Deus Pai, na misso do Filho e do Esprito Santo.22
Vinte e cinco anos depois Joo Paulo II na RMi lembra o texto da AG. O Conclio
Vaticano II pretendeu renovar a vida e a atividade da Igreja, de acordo com as necessidades
do mundo contemporneo; assim sublinhou o seu carter missionrio, fundamentando-o
dinamicamente na prpria misso trinitria. 23
a partir do Conclio Vaticano II que tem se tentado unir a missionariedade da Igreja
com a Santssima Trindade. Tem se afirmado que a natureza missionria da igreja depende da
Trindade Santa.24 At o Conclio Vaticano II, este nexo no se tinha dado a importncia
suficiente. A base teolgica da atividade missionria da igreja at ento era o mandato do
Senhor ressuscitado: Ide, portanto, e fazei que todas as naes se tornem discpulos,
batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo
quanto vos ordenei (Mt 28,19-20). A Trindade Santa constitui o fundamento primeiro e
ltimo da natureza missionria da Igreja.25
2.2 Fundamento cristolgico da misso
A misso crist encontra-se essencialmente unida compreenso que a Igreja tem de
Jesus Cristo e do valor salvfico de sua morte-ressurreio. Seus mtodos e contedos tm
como fundamento a f em Jesus Cristo Ressuscitado, o Filho de Deus feito homem, que
22 AG 2. 23 RMi 1. 24 Cf. Wolanin, Adam. Fundamento trinitario de la misin. In: KAROTEMPREL, Sebastin (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 31-42. 25 Ib. p. 33. Reconociendo la validez teolgica y prctica de tal acercamiento a la naturaleza misionera de la Iglesia, resulta oportuno poner de relieve el hecho de que este mandato misionero y la misin misma de Cristo tienen su origen y fundamento en la Santsima Trinidad. Es de ah de donde parte la misin, y es ah donde encuentra su cumplimiento definitivo (cf.Ef1,3-14; 2,18; LG,nn.4, 48; AG,n. 2) .
27
morreu e ressuscitou para a salvao de todos, e que enviou o Esprito Santo a seus discpulos
para que anunciassem sua Palavra.26
No debate missiolgico atual, existe um problema central em relao a Jesus Cristo
como salvador de todo o mundo. Segundo o pluralismo religioso radical, qualquer coisa que
faa de intermedirio entre o Divino absoluto para a salvao da humanidade. Por isso no
se pode aceitar uma nica mediao ou mediador. O telogo Sebastian Karotemprel faz
referncia deste problema expondo algumas teorias de vrios autores, como W.Cantwell
Smith, G. Kaufman, D. Eck e P.Knitter, que sustentam esta tese.27
A misso crist se baseia na f em Jesus Cristo. Renunciar misso por um falso
pluralismo religioso seria renunciar a nossa f em Jesus cristo.
A misso universal da Igreja nasce da f em Jesus Cristo, como se
declara no Credo: Creio em um s Senhor, Jesus Cristo, Filho Unignito de
Deus, nascido do Pai antes de todos os sculos (...) E por ns homens, e
para nossa salvao, desceu dos cus. E se encarnou, pelo Esprito Santo, no
seio da Virgem Maria, e se fez homem.28
Para a teologia catlica tradicional, no pode existir uma misso evangelizadora crist
sem proclamar a Jesus Cristo morto e ressuscitado. O que faz que a misso da igreja seja
nica Jesus Cristo.29
26 Cf. kAROTEMPREL, Sebastin. Fundamentos cristolgicos y soteriolgicos de la misin. In: Idem (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 43-55. 27 Ib.p.44.Algunos sostienen que todas las religiones son slo variantes culturales de experiencias ordinarias y msticas de lo Transcendente que puede ser un l, una Ella o un Eso.[]El carcter absoluto, nico, universal y normativo de la redencin-salvacin en Jesucristo es slo una experiencia subjetiva sin un fundamento objetivo en la realidad y en la historia. 28 RMi 4. 29 Ib. p.55.No proclamarlo por razones sociolgicas, culturales o polticas, o por conveniencia, es vaciar la misin de su verdadero contenido.
28
2.3 Fundamento pneumatolgico da misso
Pode-se dizer que a partir do Conclio Vaticano II, que o Esprito Santo aparece com
maior nfase como protagonista da vida da igreja e de sua misso. No captulo primeiro da
Lumem Gentium apresentada uma sntese da ao do Esprito Santo.30 No captulo quarto do
documento Ad Gentes apresenta-se uma sntese da misso do Esprito Santo.31
Em outros documentos ps-conciliares como a Evangelii Nuntiandi32 e a Redemptoris
Missio33 o Esprito Santo chave e protagonista da vida da Igreja e de sua misso.34
O captulo III da Encclica RMi dedicado ao Esprito Santo como protagonista da
misso. Ele mostra que a misso de Jesus Cristo est sempre unida ao Esprito Santo.35
A prpria existncia da Igreja e sua misso depende da efuso do Esprito Santo no dia
de Pentecostes. este mesmo Esprito que conduziu aos apstolos a estender a Palavra de
Deus e a Igreja at os confins do mundo. Mas recebereis uma fora, a do Esprito Santo que
descer sobre vs, e sereis meus testemunhas em Jerusalm, em toda a Judia e a Samaria, e
at os confins da terra. ( At 1,8)
Igual a Cisto, o Esprito santo precede e acompanha a toda a Igreja na sua misso.36O
esprito faz missionrios aos apstolos, testemunhas da ressurreio de Cristo.37 Ser
missionrio, comprometido com a misso de Jesus aceitar o dom do Esprito Santo como
30 Cf. LG 1. 31 Cf. AG 4. 32 Cf. EN captulo 7: El espritu de la evangelizacin. 33 Cf. RMi captulo III : O esprito Santo protagonista da misso. 34 Cf. EN 75. No habr nunca evangelizacin posible sin la accin del Espritu Santo. 35 Cf. RMi 26. 36 Cf. BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.110-125 37Cf. FEDERICI, Tommaso. Fundamento pneumatolgico de la misin. In KAROTEMPREL, Sebastin (Org.). Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino. P. 56-65.
29
dom de vida, dom que transforma o mundo.38 o Esprito Santo que semeia as sementes do
Verbo39, presentes j nas culturas e nos povos.
2.4 Fundamento eclesiolgico da misso
Igreja e misso esto intimamente unidas. A Igreja nasce e para ser instrumento da
misso, sua vocao40 a misso. A misso nasce com a Igreja para ser instrumento do Reino
de Deus anunciado por Jesus Cristo.41
A Igreja peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a sua origem,
segundo o desgnio de Deus Pai, na missodo Filho e do Esprito Santo42
Esta vocao missionria da Igreja vem desde o mandato de Cristo de anunciar sua Boa
Notcia de Salvao a todos os povos e naes. Os quatro evangelhos e o livro dos Atos dos
Apstolos recolhem este mandato missionrio de Jesus.
Ide, por tanto e fazei que todas as naes se tornem discpulos, batizando-as em Nome
do Pai, do Filho e do Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis
que eu estou convosco todos os dias, at a consumao dos sculos! (Mt 28,19-20).43
O mandato missionrio de Jesus Cristo e o fato de todos os evangelhos e o livro dos
Atos recolherem este mandato, indicam a profunda convico que a Igreja primitiva tinha
38 Cf. MASSERDOTTI, Gianfranco. Misioneros por el Reino: meditaciones de espiritualidad misionera. Traduo: Jos Manuel Gonzlez. Madrid: Mundo Negro, 1989. P.86. As pues, para quien se compromete con la misin, aceptar el don Del Espritu significa acoger el dinamismo de Dios para realizar su Reino que es vida plena. 39 Cf. AG 11 40 EN 14. Evangelizar constituye, en efecto, la dicha y vocacin propia de la iglesia, su identidad ms profunda. Ella existe para evangelizar, es decir, para predicar y ensear, ser canal del don de la gracia, reconciliar a los pecadores con Dios, perpetuar el sacrificio de Cristo en la santa misa, memorial de su muerte y resurreccin gloriosa. 41 VADAKUMPADAM, Paul. Fundamento eclesiolgico de la misin. in: KAROTEMPREL, Sebastin. Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 66-78. Hoy la eclesiologa confiere una particular importancia a la misin de la Iglesia mientras acenta la naturaleza eclesial de la misin. Las dos se encuentran estrechamente ligadas de manera que no es posible pensar en una sin la otra.[] Jess manda a la Iglesia a continuar su misin. La comunidad se encuentra al servicio de la misin.[]Cristo ha inagurado el reino de Dios sobre la tierra. Quien acepta a Jess se rene en su nombre para buscar juntos el reino, construirlo, vivirlo (EN n.13). La Iglesia en misin es siempre un instrumento del reino. 42 AG 2. 43 Cf. tambm: Mc 16,15-16; Lc 24,45-49 ; Jn 20,21 ; At 1,8 .
30
como movimento missionrio. Tinha recebido de Jesus Cristo o mandato de proclamar o
Reino de Deus, que Ele j tinha instaurado e de fazer discpulos em seu nome.44
Um outro fundamento eclesiolgico que a evangelizao sempre um ato eclesial e
no individual. A Igreja envia e enviada. No nmero 60 da EN, Paulo VI faz essa
constatao.45
3. A misso ad gentes nos documentos da igreja anteriores ao Conclio Vaticano II
As principais encclicas pontifcias e exortaes apostlicas sobre o tema da misso
anteriores ao Conclio Vaticano II so as seguintes.46
Probe Nobis (1840) de Gregrio XVI. Fala das misses e da obra da Propagao da
F.
Quanto Conficiamur (1863) de Pio IX. Aborda a relao existente entre Igreja e
misses.
Santa Dei Civitas de Leo XIII. Foi publicada em 3 de dezembro de 1880, e trata-se da
ajuda material s obras das misses.
44 Vadakumpadan, Paul. Fundamento eclesiolgico de la misin. In: Seguir a Cristo en la misin: manual de misionologa. Estella: Verbo Divino, 1998. P. 67-78. La Iglesia tiene significado nicamente en esta perspectiva dinmica. La evangelizacin es la vocacin y la identidad de la Iglesia (cf. EN,n.14). La Iglesia no es un fin en si misma. 45 EN n.60. La constatacin de que la Iglesia es enviada y tiene el mandato de evangelizar a todo el mundo, debera despertar en nosotros una doble conviccin: primera: evangelizar no es para nadie un acto individual y aislado, sino profundamente eclesial.[]De ah la segunda conviccin: si cada cual evangeliza en nombre de la iglesia, que a su vez lo hace en virtud de un mandato del Seor, ningn evangelizador es el dueo absoluto de su accin evangelizadora, con un poder discrecional para cumplirla segn los criterios y perspectivas individualistas, sino en comunin con la Iglesia y sus pastores. 46 Para documentao deste item foram seguidos os resumos feitos por estas fontes: COPPI, Paulo de. Por uma Igreja toda missionria: breve curso de missiologia. 2 ed. So Paulo: Paulus, 1994.P. 38 e 39. PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso a luz do magistrio da Igreja. Disponvel em:< http://pom.org.br/Aprofunda/luzdomagisterio.htm.> . Acesso em 26 maro 2005, 18:01:22. P.1-4. BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.76-78.
31
Catholicae Eclesiae (1890) de Leo XIII. Condena a escravatura e exorta a contribuir,
na festa da Epifania, para a obra da infncia Missionria .
Maximum Illud de Bento XV, foi publicada em 30 de novembro de 1919. sobre a
promoo do clero indgena, o abandono do esprito nacionalista por parte dos missionrios e
sobre o reconhecimento do valor das culturas indgenas. Esta carta apostlica foi chamada de
a carta magna das misses. Foi o primeiro documento do sculo XX especfico sobre o
tema. Neste documento j se encontra um esboo de missiologia.
Rerum Ecclesiae de Pio XI, foi publicada em 28 de fevereiro de 1926. Ressalta a
importncia dos apstolos nativos.
Evangelii Precones de Pio XII, foi publicada em 2 de junho de 1951. O Papa pede que
se acelere a formao do clero nativo, e indica a urgncia de adaptar-se s culturas e costumes
locais.
Fidei Donum de Pio XII, foi publicada em 21 de abril de 1957. Nesta Carta Encclica, o
Papa convida os sacerdotes diocesanos e os leigos a colaborar de maneira direta nas misses.
Princiceps Pastorum (1959) de Joo XXIII. Esta carta encclica foi escrita para
comemorar o 40 aniversrio da encclica Maximum Illud. Faz avaliao da ao missionria
da Igreja.
4. A misso ad gentes nos documentos recentes da Igreja
4.1 O decreto conciliar Ad Gentes
O Decreto Ad Gentes (sobre a atividade missionria da igreja) foi o ltimo documento
do Conclio Vaticano II, publicado na vspera do encerramento do Conclio, em 7 de
32
dezembro de 1965. Este documento encontrou mais dificuldades para ser aprovado. Foram
elaboradas sete redaes para se chegar sua aprovao final.47
Este documento precisa ser visto no contexto de todos os documentos conciliares,
especialmente das quatro constituies dogmticas: Lmen Gentium, Dei Verbum,,
Sacrosanctum Concilium e Gaudium et Spes.
O Decreto Conciliar Missionrio Ad Gentes enquadra-se, pois, nesta
rica perspectiva dos documentos conciliares, e, de modo especial, a partir da
Lmen Gentium e do tema Igreja sacramento universal de salvao.48
Ainda que o Conclio tenha dedicado um documento especial
misso, o Decreto Ad Gentes, no se deve reduzir a ele toda a conscincia
missionria do Conclio. Cada documento conciliar est impregnado da
dimenso missionria, tendo esta como tema transversal de todo o
Conclio.49
O Documento AG aproveita a herana das encclicas anteriores, mas d uns passos
firmes para uma evangelizao mais eficaz e adequada realidade atual.
O Conclio, ao determinar que a Igreja por natureza missionria, vinculou
definitivamente os dois termos. Por isso podemos dizer que no h Igreja sem misso e esta se
realiza plenamente se for em nome de aquela.
A Igreja peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a sua origem,
segundo o desgnio de Deus Pai, na missodo Filho e do Esprito Santo.50
A salvao um dos pontos principais do Documento AG. A Igreja sacramento de
salvao para todo o mundo atravs da misso e do trabalho missionrio. 47 OLIVEIRA, Ednilson Turozi de; MURA, Francesca. A misso alm-fronteiras: um estudo a partir dos documentos do Conclio Vaticano II. So Paulo: Centro Xaveriano de Animao Missionria, 2005.P.21.. 48 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja. Disponvel em:< http://pom.org.br/Aprofunda/luzdomagisterio.htm.> . Acesso em 26 maro 2005, 18:01:22. P.6 49 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida. Revista Teocomunicao, Rio Grande do Sul, v.34, n.143, 2004.P. 3. 50 AG 2.
33
A misso da Igreja a mesma misso de Cristo, que deriva da Trindade e dos planos
salvficos do Pai e que se realiza sob a ao do Esprito Santo.51
Outro dos pontos abordados no documento AG, sobre a conscincia missionria das
Igrejas locais. As Igrejas jovens so convidadas a assumirem tambm o compromisso
missionrio, e a abrir-se ao mundo inteiro.
O Documento AG consta de um promio e seis captulos. Cada captulo trata de um
tema principal relacionado com a misso. So estes os ttulos dos captulos:
[...] CAP. I - Princpios doutrinais; CAP.II - A obra missionria ; CAP. III - As Igrejas
particulares; CAP. IV- Os missionrios; CAP. V - A organizao da atividade missionria;
CAP. VI - A cooperao. [...]52
O Decreto Ad Gentes mudou a idia que se tinha de misso atravs de princpios
renovadores da eclesiologia missionria. Observa-se a seguir algumas opinies de vrios
telogos.53
O termo misso adquiriu um sentido mais amplo. Todos os cristos,
como membros do corpo mstico, tm sua responsabilidade na
evangelizao do mundo. A misso no s um problema do Papa ou dos
institutos missionrios, mas de todo o povo de Deus[...] A misso no s
incumbncia das igrejas europias ou de Amrica do Norte, mas de todas as
igrejas, tambm das recm fundadas.[...] 54
51 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja.... P.6 52 CONCLIO VATICANO II. Documentos do Conclio Ecumnico Vaticano II (1962-1965). 2 ed. So Paulo: Paulus, 1997, p.730. 53 BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.142: Es, decimos, punto de transicin en la misiologa catlica. Pero no slo porque intenta una sntesis entre las escuelas dominantes en la misiologa catlica: incluye como finalidad de la actividad misionera tanto la predicacin como la plantacin de la Iglesia. Realiza as una integracin conveniente y positiva.[...] Es punto de transicin sobre todo si se considera desde el debate actual: testimonia el paso desde las misiones hacia la misin para desembocar en la evangelizacin. ste es su significado histrico: la misin asume la preeminencia respecto a las misiones (aunque stas como veremos, no desaparecern, lo que tiene tambin un significado histrico). 54 COPPI, Paulo de. Por uma Igreja toda missionria: breve curso de missiologia. 2 ed. So Paulo: Paulus, 1994. P.49.
34
Alm de associar Igreja e misso, misso e anncio de Jesus Cristo e
seu Reino, o Conclio associou tambm misso cultura. Talvez , esteja
aqui um dos pontos mais instigantes da ao missionria da Igreja.55
Ad Gentes significa aos povos. Antigamente, o termo ad gentes era
usado para significar terras longnquas e povos pagos e incivilizados.
Esse tipo de mentalidade deu margem a um casamento entre poderes
coloniais e missionrios, que durou muito tempo. A partir do Vaticano II,
porm, o termo adquire um sentido de anncio do Evangelho de Jesus
Cristo e do seu Reino atravs da Igreja que envia missionrios a todos os
povos. Alm disso, o documento muda a fisionomia dos missionrios e
missionrias: no mais donos da situao, organizadores da misso, mas
servos.[...]56
4.2 A exortao apostlica Evangelii Nuntiandi
A exortao apostlica Evangelii Nuntiandi (A evangelizao no mundo
contemporneo), foi escrita pelo Papa Paulo VI e publicada em 8 de dezembro de 1975, por
ocasio do dcimo aniversrio do encerramento do Conclio Vaticano II, e um ano depois da
3 Assemblia Geral dos Bispos do mundo inteiro.
O objetivo principal da Evangelii Nuntiandi era a evangelizao a todos os homens e
mulheres do mundo contemporneo. Um ano antes, na 3 Assemblia Geral dos Bispos, estes
estavam preocupados com a evangelizao. Ao terminar a Assemblia Geral (1974) pediram
ao Papa que desse um novo impulso aos novos caminhos da evangelizao.
55 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida. Revista Teocomunicao, Rio Grande do Sul, v.34, n.143, 2004.P.4. 56 OLIVEIRA, Ednilson Turozi de; MURA, Francesca. A misso alm-fronteiras: um estudo a partir dos documentos do Conclio Vaticano II. So Paulo: Centro Xaveriano de Animao Missionria, 2005. P.21.
35
Em continuidade com o Snodo dos Bispos (1974), via-se a urgncia
de dar respostas s inquietaes que a Igreja estava vivendo naquela poca
ps-conciliar. Por isso, com essa exortao apostlica, o Papa quis convidar
todo o povo de Deus a uma sria reflexo sobre a evangelizao[...]57
A preocupao do Papa na Evangelii Nuntiandi com a evangelizao no mundo
moderno e contemporneo, e o contedo deve alcanar a toda a humanidade.58 Com poucas
palavras define a misso da Igreja.59
A Evangelii Nuntiandi opta por uma terminologia nova. No Decreto Ad Gentes do
Conclio Vaticano II, a palavra misses foi integrada na palavra misso e atividade
missionria. Agora misso vai ser integrada na palavra evangelizao.60
A Evangelii Nuntiandi preferiu o termo evangelizao misso,
evitando uma srie de polmicas as quais a palavra misso suscitava
(colonialismo, desprezo das culturas, autoritarismo dos missionrios, falta
de sensibilidade...).[...] Ainda assim, a EN no deixava de destacar que
evangelizao tem como seu ncleo duro o trabalho missionrio.61
A estrutura do documento consta de um prembulo, sete captulos e uma concluso. Os
trs primeiros captulos abordam o tema da evangelizao, partindo da pessoa de Jesus Cristo.
57 Ib. p.31. 58 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi: la evangelizacin del mundo contemporneo. Madrid: Editorial San Pablo, 1995. N. 5. Una exhortacin en este sentido nos ha parecido de importancia capital, ya que la presentacin del mensaje evanglico no constituye para la Iglesia algo de orden facultativo, est de por medio el deber que le incumbe, por mandato del Seor, con vistas a que los hombres crean y se salven. S, este mensaje es necesario. Es nico. De ningn modo podra ser reemplazado. 59 EN 14. Nosotros queremos confirmar, una vez ms, que la tarea de la evangelizacin de todos los hombres constituye la misin esencial de la Iglesia[...]Evangelizar constituye, en efecto, la dicha y la vocacin propia de la Iglesia, su identidad ms profunda. Ella existe para evangelizar, es decir, para predicar y ensear, ser canal del don de la gracia, reconciliar a los pecadores con Dios, perpetuar el sacrificio de Cristo en la santa misa, memorial de su muerte y resurreccin gloriosa. 60 BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999. P.144:La evangelizacin pasa a ser categora englobante de la comprensin de la Iglesia.[...]Por eso se va a optar por una terminologa nueva. Este paso va a ser consagrado por EN, el documento ms importante del magisterio de Pablo VI y que ms incidencia ha tenido en la Iglesia postconciliar. No podemos olvidar que es fruto de un snodo de los obispos que tuvo gran repercusin en la autoconciencia eclesial. 61 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida. Revista Teocomunicao, Rio Grande do Sul, v.34, n.143, 2004.P. 5.
36
Nos outros quatro captulos, so apresentadas pistas concretas para o trabalho evangelizador.
V-se na nota de rodap os ttulos de cada captulo.62
A Evangelii Nuntiandi teve e continua tendo grande importncia para a reflexo
teolgica sobre a misso e evangelizao da Igreja.63 Entre ns, importncia fundamental
teve e tem a Exortao Apostlica de Paulo VI-Evangelii Nuntiandi.64
um dos documentos mais citados e apreciados do perodo ps-
conciliar. Seu foco , como indica o ttulo, A Evangelizao do Mundo
Contemporneo, e no s a evangelizao ad gentes. De fato, trata
argumentos parecidos com os do Ad Gentes e da Gadium et Spes; porm
apresenta novos aspectos com relao ao tema da evangelizao.65
4.3 A carta encclica Redemptoris Mssio
A encclica Redemptoris Missio (A Validade Permanente do Mandato Missionrio) do
Papa Joo Paulo II, foi publicada em 7 de dezembro de 1990, no 25 aniversrio do decreto
conciliar AG, e no 15 da publicao da encclica EN de Paulo VI.
O objetivo da encclica convocar os cristos a uma renovao da f e da vida crist,
atravs do empenho pela misso universal.
distncia de 25 anos da concluso do Conclio Vaticano e da
publicao do Decreto sobre a atividade missionria Ad gentes, a 15 anos da
Exortao apostlica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, de venerada
memria, desejo convidar a Igreja a um renovado empenho missionrio,
62 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi: la evangelizacin del mundo contemporneo. Madrid: Editorial San Pablo, 1995. P.105: Prembulo. Cap.1. Del Cristo evangelizador a la Iglesia evangelizadora. Cap.2. Qu es evangelizar? Cap.3. Contenido de la evangelizacin. Cap.4. Medios de evangelizacin. Cap.5. Los destinatarios de la evangelizacin. Cap.6. Agentes de la evangelizacin.Cap.7 El espritu de la evangelizacin. Conclusin. 63 BUENO DE LA FUENTE, Eloy. La Iglesia en la encrucijada de la Misin. Estella: Verbo Divino, 1999.P. 146.sta es la situacin que hereda, asume y organiza la encclica EN. Significa un avance respeto a AG: profundiza de modo ms consecuente en la vida de la vida de la Iglesia desde su dimensin evangelizadora y enriquece notablemente la concepcin teolgica. Pero EN conserva la dialctica esencia/circunstancias, lo que permite graduar y articular las situaciones de los destinatarios. 64 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.4. 65 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja. Disponvel em:< http://pom.org.br/Aprofunda/luzdomagisterio.htm.> . Acesso em 26 maro 2005, 18:01:22. P.7.
37
dando, neste assunto, continuao ao Magistrio dos meus predecessores. O
presente documento tem uma finalidade interna: a renovao da f e da vida
crist.66
Duas so as formas para empenharmos na misso universal: com a misso ad gentes e
com a nova evangelizao. O Papa quer clarear a identidade e a necessidade prioritria da
misso ad gentes . Por isso fala de trs situaes.67
um chamado urgncia e responsabilidade da evangelizao
universal.[...] Em notveis orientaes, a encclica diz que a Igreja deve
distinguir trs situaes na sua atuao evangelizadora: a situao ad
gentes, ou seja, ir ao encontro dos que ainda no receberam o anncio do
Evangelho; a situao pastoral, no sentido de orientar os que j receberam o
Evangelho e devem aprofund-lo em suas vidas; a nova Evangelizao, em
que se vai atrs dos que j ouviram e receberam a mensagem da Salvao,
mas no a assimilaram na sua vida ou se encontram afastados da vida da
Igreja.68
Na encclica afirma-se a importncia vital da Santssima Trindade como base e
fundamento da misso universal. A encclica Redemptoris Missio afirma, de maneira muito
clara, que a origem da misso est no seio da Santssima Trindade. [...] E a misso continua
hoje com o mesmo dinamismo trinitrio, apesar dos desafios e obstculos que encontramos ao
longo da caminhada.69
Segundo os estudiosos do tema, a Redemptoris Missio d continuidade linha
reformista missionria iniciada com o documento conciliar AG. Em alguns casos concretos
tenta super-lo.
66 RMi 2. 67 Cf RMi 33. 68 PONTIFCIAS OBRAS MISSIONRIAS. A misso luz do magistrio da Igreja.... P.9. 69 OLIVEIRA, Ednilson Turozi de; MURA, Francesca. A misso alm-fronteiras: um estudo a partir dos documentos do Conclio Vaticano II. So Paulo: Centro Xaveriano de Animao Missionria, 2005. P.46.
38
A encclica d continuidade sensibilidade missionria que foi a
tonalidade marcante do Vaticano II. Redemptoris Missio intenta sintonizar-
se com o mundo contemporneo maneira do Vaticano II, isto , no
rejeitando alguns aspectos da modernidade, mas, ao mesmo tempo,
fundamentando o carter missionrio dessa sintonia na misso trinitria.70
A RMi supera a perspectiva conciliar acerca da possibilidade da
salvao fora da Igreja, expressando a universal vontade salvfica de Deus
em toda sua profundidade, intensidade e largura.[...] A encclica fez o que
era necessrio: destacar a natureza missionria da Igreja, fugindo do mtodo
proselitista e abrindo a Igreja para o dilogo no contexto do mundo
pluralista. Ela inspiradora! Posiciona-se em p de igualdade com os
anteriores documentos missionrios da Igreja e ultrapassa a maioria deles,
sob o ponto de vista missionrio. A misso, acima de tudo, questo da f e
da graa.71
A encclica trata de maneira positiva a encarnao do Evangelho nas culturas dos
povos.72 A estrutura da encclica consta de uma introduo, oito captulos e uma concluso.
Captulo I: Jesus Cristo, nico Salvador ; Captulo II: O reino de
Deus; Captulo III: O Esprito Santo, protagonista da misso ; Captulo IV:
Os imensos horizontes da misso ad gentes; Captulo V: Os caminhos da
misso ; Captulo VI: Os responsveis e os agentes da pastoral missionria;
Captulo VII: A cooperao na atividade missionria; Captulo VIII: A
espiritualidade missionria.73
70 Ib. p. 45 71 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.15 72 Cf. RMi c. V . Especialmente os nmeros 52; 53 ; 54 ; 55 ; 56 ; 57. 73 RMi p.145.
39
4.4 Medelln, Puebla, Santo Domingos e a misso ad gentes
Os documentos do Episcopado Latino-Americano em suas Conferncias Gerais de
Medelln (Colmbia,1968), Puebla (Mxico,1979) e Santo Domingo (Repblica Dominicana,
1992) tiveram repercusso universal. Para ns, na Amrica Latina, Medelln, Puebla e Santo
Domingo reforam a perspectiva de uma evangelizao centrada em Jesus Cristo, com o
protagonismo do Esprito Santo, entendendo a Igreja como sinal do Reino pregado e vivido
por Jesus Cristo74
O aggiornamento, desejado e incentivado por Joo XXIII, e pelo
Conclio Vaticano II, engendraram a Conferncia de Medelln. A
maravilhosa Exortao Apostlica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI
latino-americanizou-se em Puebla. O ardor missionrio de Joo Paulo II
o pano de fundo de So Domingos. O snodo para a Amrica uniu o norte
com o sul do Continente, para discutir, junto com o Sucessor de Pedro, as
problemticas da Nova Evangelizao nas duas partes do mesmo
Continente (EA2).75
Em Medelln, a postura da igreja foi a do mergulho na realidade latino-americana,
consciente de que, conhecendo essa realidade, no estaria desviando da misso de anunciar
Jesus Cristo, pois sabe que, para conhecer Deus, necessrio conhecer o
homem(introduo).76
A III Conferncia Geral do Episcopado Latino-Americano celebrou-se em Puebla
(Mexico), em 1979 com o ttulo de A evangelizao no presente e no futuro de Amrica-
Latina. A expresso: misso evangelizadora, utilizada em Puebla, atribuda a todo o povo
de Deus.
74 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.5. 75 KRUTLER, Erwi. Experincia evangelizadora no continente americano. Disponvel em: Acesso em :08 fevereiro 2005, 10:50:17. P. 4. 76 GODOY, Manoel. Evangelizao: processo sempre novo de tornar ...P.6.
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Retomou a preocupao da Evangelii Nuntiandi, onde explicitado
bem o ncleo do kerigma que deve ser central na misso: numa
preocupao clara de que em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem,
morto e ressuscitado, se oferece a salvao a todos os homens, como dom
da graa e misericrdia de Deus(EN 27)77
Grande importncia teve e tem o nmero 368 78 do documento final de Puebla, no seu
contedo missionrio ad gentes (3 CELAM).
Neste primeiro captulo mostrou-se que a Bblia expe os fundamentos nos quais apia-
se a misso, no s atravs do Novo Testamento, mas tambm do Antigo Testamento.
Ao longo destes 2000 anos de cristianismo, a misso tem sido a caracterstica principal
duma Igreja peregrina, em movimento, evangelizadora, no s para ela mesma, mas para
todos os povos e culturas.
Os fundamentos teolgicos, que vo dando forma e contedo missiologia, tem-se
configurado, de uma maneira ou de outra, atravs da histria da Igreja. Atualmente, como se
tem visto, o relacionamento entre a Santssima Trindade e a misso ad gentes mais forte e
mais importante que antes do Conclio Vaticano II. O mesmo acontece com o a identidade
que se d entre Igreja e misso.
Outras concluses deste captulo so relativas ao sentido teolgico da misso ad gentes,
77 Ib. P.6. 78 CONSEJO EPISCOPAL LATINOAMERICANO. Puebla: la evangelizacin en el presente y en el futuro de Amrica Latina: III conferencia general del episcopado latinoamericano. 2 ed. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos.,1985. N. 368 : Finalmente ha llegado para Amrica Latina la hora de intensificar los servicios mutuos entre las Iglesias particulares y de proyectarse ms all de sus propias fronteras ad gentes Es verdad que nosotros mismos necesitamos misioneros. Pero debemos dar desde nuestra pobreza. Por otra parte, nuestras Iglesias pueden ofrecer algo original e importante; su sentido de la salvacin y de la liberacin, la riqueza de su religiosidad popular, la experiencia de las Comunidades Eclesiales de Base, la floracin de sus ministerios, su esperanza y la alegra de su fe. Hemos realizado ya esfuerzos misioneros que pueden profundizarse y deben extenderse.
41
antes e depois do conclio Vaticano II. Para muitos missilogos, o documento conciliar AG
mudou radicalmente a percepo que se tinha da misso alm fronteiras, muitas vezes,
unida ao colonialismo, desprezo s culturas e imposio duma religio. De misses comeou-
se a falar de misso. Mais tarde, com as encclicas EN e RMi, os termos evangelizao, ad
gentes, nova evangelizao, daria novas dimenses formao da teologia da misso; abriria
novos horizontes para unir misso ad gentes e mundo contemporneo, outras culturas,
dilogo inter-religioso, etc; desafios que ainda esto desenvolvendo a teologia e a prtica da
misso ad gentes.
42
CAPTULO II
A MISSO AD GENTES NA IGREJA NO BRASIL
Este captulo quer mostrar a realidade missionria ad gentes no Brasil. O caminho
missionrio tem dois sentidos ou momentos, que podem ser feitos separadamente ou
simultaneamente. So as realidades da Igreja missionria, que recebe agentes, missionrios,
projetos, recursos; a Igreja missionria que d, mesmo de sua pobreza, missionrios,
projetos, recursos para outras igrejas. a riqueza de sentir-se Igreja universal, em comunho
com todo o Povo de Deus.
Durante quase 500 anos, a Igreja no Brasil foi objeto da misso, recebendo
contribuies em recursos humanos e materiais. A partir da poca pr-conciliar, nos anos 50,
a igreja no Brasil, junto com outras Igrejas latino-Americanas, inicia uma nova trajetria
missionria, sendo ela mesma, Igreja missionria alm-fronteiras.
importante destacar tambm, quais so os projetos, realizaes e dados desta nova
perspectiva missionria da Igreja no Brasil.
1.Urgncia e prioridade da misso ad gentes.
H dezesseis anos, Joo Paulo II escreveu na sua encclica missionria Redemptoris
Missio:
A misso de Cristo Redentor, confiada Igreja, est ainda bem longe
do seu pleno cumprimento. No termo do segundo milnio, aps sua vinda,
uma viso de conjunto da humanidade mostra que tal misso est ainda no
43
comeo, e que devemos emprenhar-nos com todas as foras no seu
servio.79
Segundo os dados estatsticos,80 os cristos so no mundo cerca de 2 bilhes, ou seja,
33% da populao total. Os no cristos, os que no conhecem Jesus Cristo, e no so
batizados, chegam a ser mais de 4 bilhes, o que corresponde a 67% da humanidade. Desse
modo, de cada trs pessoas no mundo, somente uma conhece Jesus Cristo.
Os catlicos so apenas pouco mais de 1 bilho, sendo aproximadamente 17 % da
populao mundial.
Esses dados estatsticos ajudam a se situar diante da realidade, e a tomar conscincia de
como est composta a casa grande da famlia dos filhos e filhas de Deus, na qual todos so
chamados a viver como irmos e irms. Diante desta realidade, o Papa Joo Paulo II disse:
O nmero daqueles que ignoram Cristo, e no fazem parte da Igreja, est em contnuo
aumento; mais ainda: quase duplicou, desde o final do Conclio. A favor desta imensa
humanidade, amada pelo Pai a ponto de lhe enviar o seu Filho, evidente a urgncia da
misso.81
Por isso, o Papa faz uma chamada a todos: Sinto chegado o momento de empenhar
todas as foras eclesiais na nova evangelizao e na misso ad gentes. Nenhum crente,
nenhuma instituio da Igreja pode esquivar-se deste dever supremo: anunciar Cristo a todos
os povos.82
Estas chamadas sobre a urgncia da misso ad gentes so influenciadas pela fase de
afrouxamento, que est passando a misso alm fronteiras, segundo as prprias palavras do
Papa Joo Paulo II:
79 JOAO PAULO II. Redemptoris Missio: carta encclica sobre a validade permanente do mandato missionrio. (A voz do Papa n 125). 6 ed. So Paulo: Paulinas, 2003, P.1. 80 Cf. nos anexos o quadro VIII p.100. POM (Pontifcias Obras Missionrias). Dados dos continentes. Disponvel em: .Acesso em: 26 maro 2005,18:05:35.Cf. Quadro VII p.100 81 RMi 3 b. 82 RMi 3 d.
44
No entanto, nesta nova primavera do cristianismo, no podemos
ocultar uma tendncia negativa, que alis, este documento quer ajudar a
superar: a misso especfica ad gentes parece estar numa fase de
afrouxamento, contra todas as indicaes do Conclio e do Magistrio
posterior.83
Para outros,84 este afrouxamento, porm, sobretudo verificvel no volume da prtica
missionria e na diminuio da figura do missionrio clssico. Entretanto, o mesmo no se
pode dizer do imenso cuidado, na qualidade da misso, em muitas dioceses, e do grande
desenvolvimento atual da reflexo teolgica sobre a misso.
Entre as mltiplas causas, que esto na origem deste afrouxamento missionrio, destaca-
se relativa confuso no vocabulrio teolgico das dimenses da tarefa evangelizadora. O que
efetivamente misso? O que se entende por evangelizao e por misso ad gentes? O que
pastoral?
Nesse sentido, so as palavras de abertura do Congresso Nacional de Misses em
Burgos - Espanha em 2003, pelo Secretrio da Congregao para a Evangelizao dos povos,
Monsenhor Robert Sarah.85
Para missilogos86 e pastoralistas,87 importante esclarecer os termos teolgicos sobre
evangelizao e misso, para que a ao missionria ad gentes no continue provocando
certas desmobilizaes.
83 RMi 2 84NUNES, Jos. Perspectivas atuais da misso ad gentes. Disponvel em: . Acesso em : 08/02/2005, 10:36:34. 85 SARAH, Robert. La Iglesia ante el reto de la misin, hoy. Misiones extranjeras, Madrid, n. 198, p. 5-22, 2004. [...] en algunos ambientes eclesiales se ha producido cierta confusin de ideas [...] sobre la salvacin de los pueblos y el servicio de la misin ad gentes. Decir que la misin est en todas partes, o que todo es misin, son expresiones ambiguas que perjudican la misin prioritaria de la Iglesia y el crecimiento de las vocaciones misioneras ad gentes. 86 O Frei Jos Nunes no seu artigo j citado na nota 34 faz uma explicao dos termos evangelizao, misso e misso ad gentes. Monsenhor Robert Sarah em seu artigo j citado na nota 7, explica tambm os termos misso ad gentes, atividade pastoral e nova evangelizao a partir da RMi. 87 O padre Manoel Godoy em seu artigo Evangelizao: processo sempre novo de tornar a boa nova conhecida, esclarece os termos misso, evangelizao e nova evangelizao.Cf. cita completa do artigo na nota 13.
45
O prprio Joo Paulo II, na sua encclica Redemptoris Missio, distingue trs situaes
distintas que nascem da evangelizao da igreja: a misso ad gentes, a atividade pastoral e a
nova evangelizao.88
1.1Evangelizao e misso.
Sem deixar de considerar a concreta atividade missionria ad gentes, o Conclio
Vaticano II, privilegia uma reflexo teolgica de fundo sobre a misso da Igreja no seu
conjunto. Nesse sentido, importante ressaltar algumas afirmaes do decreto Ad Gentes:
A Igreja peregrina , por sua natureza, missionria, visto que tem a
sua origem, segundo o desgnio de Deus Pai, na misso do Filho e do
Esprito Santo.89
A atividade missionria no outra coisa, nem mais nem menos, que
a manifestao ou epifania dos desgnios de Deus e a sua realizao no
mundo e na sua histria, na qual Deus, pela misso, atua manifestamente na
histria da salvao.90
O Conclio, ao definir que a Igreja por natureza missionria, vinculou definitivamente
os dois termos: Igreja e misso. No h Igreja sem misso, e esta se realiza plenamente, s se
for em nome daquela.
A renovada missiologia dos Padres conciliares provocou uma certa mudana no
vocabulrio da missiologia. De modo geral, passou a empregar-se misso no singular , em vez
de misses, no plural.
88 RMi 33. 89 AG 2. 90 AG 9.
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Dez anos depois do Conclio Vaticano II, o Papa Paulo VI escreveu a exortao
apostlica Evangelii Nuntiandi. Este documento privilegiou outro vocbulo: a
evangelizao.91
A Evangelii Nuntiandi preferiu o termo evangelizao misso, evitando uma srie de
polmicas, s quais a palavra misso suscitava (colonialismo, desprezo das culturas,
autoritarismo dos missionrios, falta de sensibilidade...).92
Entretanto, por outro lado, a impreciso no vocabulrio, usando-se muitas vezes
distintos termos para falar da mesma realidade, provocou pronunciamentos como estes: Tudo
misso[...] pode e deve ser missionrio em qualquer lugar[...], todos os cristos so
missionrios; os missionrios estrangeiros devem at demitir-se (abandonar as terras de
misso)[...]. No difcil imaginar que tudo possa ter contribudo para um afrouxamento da
tarefa missionria ad gentes.93
A Evangelii Nuntiandi, no deixava de destacar que evangelizao tem como seu ncleo
duro, o trabalho missionrio.
Quinze anos depois da Evangelii Nuntiandi, a Encclica Redemptoris Missio, de Joo
Paulo II, retoma a expresso misso, e enfrenta as dificuldades que lhe esto associadas.
A Encclica Redemptoris Missio quer clarear a identidade e a necessidade prioritria da
misso ad gentes, e o faz, falando de trs situaes da evangelizao: a misso ad gentes, a
pastoral e a nova evangelizao.
Assim, verificamos que evangelizao algo de mais abrangente que
misso ad gentes, sendo esta uma das reas importantes da tarefa