IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem 07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR
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Cidade, Riso e Ensino de História
João Augusto Martin Nantes dos Santos1
Resumo
Este trabalho tem como objetivo, analisar as possibilidades de elaboração de conhecimentos históricos sobre a cidade de Londrina usando, como documento, algumas charges do artista plástico Gustavo Sandoval Dantas, conhecido do público como Sassá. Consideramos para este trabalho, que as charges trazem informações com marcas de historicidade sobre a experiência cotidiana e revelam as fissuras existentes no discurso modernizador sobre a cidade. Para realizar esta pesquisa, consideramos as inovações historiográficas, que possibilitaram o estudo do uso das charges como documento e discurso, e as novas abordagens sobre a história das cidades. Também analisamos como as charges constroem um discurso humorístico fundamental para uma experiência que dialogue com o riso. Riso este capaz de revelar conflitos e contradições da cidade moderna. Palavras-chave: Modernidade, Charges, e Ensino de História.
Abstract
City, Laughter and History Teaching
This paper is aimed at analyzing the possibilities of preparation of basic historical knowledge about the city of Londrina, using as document some political caricatures by the plastic artist Gustavo Sandoval Dantas, known by the public as Sassá. It is considered in this paper that the political caricatures bring information with historicity remarks about daily experiences and reveal the fissures existing in the modernizing discourse about the city. To carry on this research, it is considered some historiographical innovations that enable the study of using political caricatures as document and discourse, and the new approaches in the cities histories. It is also analyzed how the political caricatures build a fundamental humoristic discourse to an experience that dialogue with laughter. This laughter, able to reveal conflicts and contradictions of the modern city. Key-words: Modernity; Political Caricature; and History Teaching.
1. Introdução
Para Walter Benjamin, a narrativa tem origens remotas e corresponde a um tipo de
experiência que só se realiza com dificuldade no mundo atual. Para ele, a fonte da narração se
encontra nas experiências que podem ser passadas de pessoa a pessoa e isto se tornou quase
1 Graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected] Orientadora: Cláudia Fortuna.
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impossível nas práticas contemporâneas marcadas pelo sempre novo. Comovido pelas
considerações de Benjamin sobre a extinção do narrador (BENJAMIN, 1985), em um mundo
empobrecido de experiências comunicáveis, começarei esse trabalho narrando uma
experiência vivida em minha infância para que a luz tênue de minha narração possa dar início
à construção dos sentidos da minha pesquisa.
Lembro-me com detalhes de um caso que aconteceu comigo e com minha irmã mais
nova, Célia Cristina. Na época, ela era recém-alfabetizada. Então, ela lia tudo o que via em
sua frente, assim como nós também fazíamos nessa fase.
Na cidade de Apucarana, norte do Paraná, participávamos de uma festa junina em uma
escola em que eu havia estudado quando criança. Em um dado momento da festa, fomos
guardar as prendas, arrecadadas na pescaria, no carro dos meus pais.
O carro estava estacionado próximo a uma igreja, o Santuário São José, que passava por
reformas na época. Em frente à igreja, minha irmã pediu para ir ao banheiro. Falei para ela
segurar a vontade, pois na rua não havia toalete. E ela, olhando-me com o olhar imaculado e
desprotegido da criança que era, disse-me: “- Como não? Olhe aquela placa... Sanitário São
José!”.
Neste momento, o riso tomou conta das minhas ações e minha irmã pouco entendia do
que eu estava rindo. Ela ficou sem reação porque não percebeu a piada herege que havia
pronunciado sem querer e pouco sabia sobre os recentes acontecimentos relacionados à
reforma da igreja.
O tal Santuário (“sanitário”) havia sido palco de recentes acontecimentos na cidade.
Durante a reforma, um determinado figurão da política (aliás, candidato a prefeito no ano de
2012) se envolveu em alguns escândalos. Algumas pessoas o acusaram de ter superfaturado a
reforma. E aqui está a maior graça do ocorrido. Os artigos superfaturados foram os “benditos”
acessórios do banheiro.
Assim que pude recuperar o fôlego e secar as lágrimas do canto dos olhos, expliquei para
minha irmã as coisas que me levaram a rir tanto sobre o que ela falou.
Bem... O leitor deve estar se perguntando. “O que isso tem a ver com esta pesquisa?”.
Tudo! A intenção desse trabalho é justamente analisar se é possível construir um
conhecimento histórico através do humor. Durante a experiência natural que passei com a
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minha irmã, foi possível construir um conhecimento histórico de forma expressiva sobre a
história política recente da cidade de Apucarana.
Na realização desta pesquisa, iremos analisar as potencialidades de construção do
conhecimento histórico sobre a as vivências urbanas contemporâneas, tendo, como recorte
metodológico, os problemas que afetam a cidade de Londrina e, como documento, as charges
que retratam alguns dos acontecimentos cotidianos da cidade. Acreditamos que as charges são
capazes de revelar um discurso alternativo (um contra-discurso) sobre a cidade e sua
modernidade e podem ajudar os alunos a refletirem sobre a realidade de maneira crítica.
As charges selecionadas para o estudo são de autoria do cartunista Gustavo Sandoval
Dantas, o Sassá, e foram produzidas entre 1999 e 2002 tendo, como tema, na sua maioria, o
cotidiano londrinense. O autor compreende as charges como “o lado irônico da própria
notícia” e, em entrevista recente contou que os temas de suas charges são escolhidos pelos
assuntos que serão manchete no dia seguinte e sempre trazem uma ideia crítica e cômica dos
principais fatos da cidade.
Sassá considera que a importância das charges está em chamar atenção para a notícia de
maneira visual e bem humorada. O artista também considera que as charges têm um papel
político importante por trazer o “grito dos inconformados”.
O trabalho está estruturado da seguinte maneira: no primeiro momento, apresentaremos
as possibilidades abertas pela nova historiografia para se refletir sobre as charges como
documentos para o ensino de História. Depois iremos localizar algumas das discussões e
abordagens trazidas pela Nova História Cultural para o estudo das cidades.
No segundo momento, faremos uma reflexão sobre as relações entre o riso e pedagogia e
localizaremos as charges no ensino de História como uma possibilidade de humor. Assim
pensaremos sobre os sentidos do riso e suas relações e possíveis colaborações com as práticas
escolares.
Na terceira ocasião, traremos o diálogo mais específico com as charges de Sassá
buscando não pelos fatos, mas pelas práticas e experiências urbanas do cotidiano londrinense.
Neste diálogo, pretendemos uma aproximação com algumas das competências fundamentais
voltadas para “o pensar historicamente” e que podem ser trabalhadas nas aulas de história.
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2. Outros documentos e novas histórias
Palimpsesto é um tipo de pergaminho que foi raspado, lavado ou riscado para se escrever
um novo texto por cima. Essa ação foi tomada em diversos momentos da História
(principalmente europeia) devido ao elevado custo do pergaminho, sobretudo entre os séculos
VII e XII. Podemos notar na historiografia, um fenômeno alegórico parecido com esse.
Buscando expandir suas áreas de estudo, os historiadores fizeram uma raspagem na
antiga vertente historiográfica e escreveram por cima novas concepções sobre a história. Essas
novas impressões no palimpsesto da História, não romperam totalmente com as antigas
escrituras, mas de maneira alguma podemos falar que a História não mudou e também o seu
ensino.
A pesquisa sobre o ensino de História hoje tem como referência importante a Escola dos
Annales, uma vertente historiográfica que propõe renovações teórico-metodológicas sob a
influência das ciências sociais (REIS, 2004, p. 15). Apesar de possuir características comuns
dentre seus historiadores, não podemos observar os Annales como um movimento
historiográfico homogêneo.
Entretanto, não nos cabe aqui analisar os movimentos que constituem a Escola dos
Annales e sim compreender algumas de suas inovações. Dentre essas inovações, temos aquela
que ficou conhecida como Revolução Documental por possibilitar a utilização de diversos
documentos historiográficos e não somente as chamadas fontes oficiais, derivadas de
documentos do Estado. Foi nesta perspectiva que Lucien Febvre defendeu a necessidade de
ampliação do “arquivo do historiador”.
A diversidade de fontes proposta pela Escola dos Annales teve como objetivo opor-se
à visão engessada da História Metódica e ampliar o quadro das pesquisas históricas, podendo,
desta forma, estudar outras atividades humanas do passado que, até então, não tinham sido
pesquisadas.
A partir desta ampliação da noção de documento, todo e qualquer vestígio do passado
passa a ser objeto de estudo do historiador. Neste sentido, entendemos que a ampliação da
noção de documento proposta pelos Annales, nos favorece, portanto, pensar sobre novas
possibilidades do uso das charges nas aulas de história.
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As pesquisas sobre as histórias das cidades também não escapam das influências das
novas historiografias. Segundo Sandra Jatahy Pesavento (2007), antes das reformulações
historiográficas, as histórias das cidades eram produzidas de uma forma diferente.
Essas histórias, anteriores a Escola dos Annales, geralmente encomendadas, buscavam
esclarecer sobre a origem da cidade, sobre as evoluções pelas quais tal município passou e as
transformações econômicas fundamentais para a sua existência. Geralmente havia um povo
fundador da cidade, que agia conforme as instruções de um líder. "Nada muito diferente,
enfim, de uma história política de viés tradicional ou de um kit identitário aplicado à evolução
de um núcleo urbano." (PESAVENTO, 2007, p. 12).
Portanto, tais histórias informativas não traziam reflexões maiores sobre esse fenômeno
cultural chamado de urbanização. Esse tipo de abordagem mais tradicional apreciava a cidade
apenas como centro dos acontecimentos políticos e espaço de acúmulo de capital.
De acordo com Peter Burke, “atravessamos hoje um período da chamada ‘virada cultural’
no estudo da humanidade e sociedade” (Burke, 2006, p.233). Segundo o historiador inglês,
estudos sobre cultura florescem em muitas instituições educacionais contemporâneas. Burke
aponta para uma grande interferência da cultura em “setores” da história da ciência, da arte,
da literatura, da educação e até da própria historiografia. O inglês chega ao ponto de se referir
a esses novos trabalhos como uma “nova história cultural”.
Para Pesavento, a partir de 1990, com as reflexões trazidas pela história cultural, há uma
significativa transformação nas abordagens historiográficas no campo das histórias das
cidades. Enfoque este que deve ser destacado, segunda a autora, nos seguintes pontos:
O que cabe destacar no viés de análise introduzido pela história cultural é que a cidade não é mais considerada só como um locus privilegiado, seja da realização da produção, seja da ação de novos atores sociais, mas, sobretudo, como um problema e um objeto de reflexão, a partir das representações sociais que produz e que se objetivam em práticas sociais. (PESAVENTO, 2007, p. 13)
De acordo com essa nova concepção, a cidade é um artefato concreto, uma espécie de
natureza, porém criada pelo homem. E esta natureza se torna palco de relações sociais, de
classes, práticas de interação e de oposição, ritos, festas, comportamentos e hábitos, ou seja,
possui marcas de sociabilidade.
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Nos processos inerentes ao ensino de História, Ana Maria Monteiro (2005) aponta as
contribuições que o instrumental teórico da história cultural pode proporcionar para o
enfrentamento dos desafios que se apresentam. Ela explica que, na época clássica, a história
era a narrativa do que aconteceu, através de uma seleção de acontecimentos que tinham
valores de cunho moral. No século XVII, há uma ruptura na relação com o passado devido
aos acontecimentos revolucionários. Então, os acontecimentos são separados da narrativa.
Já no século XIX, a História falaria por si mesma, anulando a interferência do historiador
e trazendo a História como objetiva e positiva. Com os Annales e a História cultural, a
subjetividade do historiador passou a ser levada em conta na produção do conhecimento
histórico.
A renovação teórica modificou também o campo do currículo e do ensino. Trouxe a
criação simbólica e cultural permeada por conflitos e a historicidade e a relatividade das
narrativas. No meio educacional, ajudou a estabelecer relações entre diferentes sujeitos
históricos e trouxe novas possibilidades metodológicas abertas pelas múltiplas interpretações
(MONTEIRO, 2005, p. 433).
A nosso ver, um dos mais importantes desdobramentos que essas novas historiografias
trazem para a história das cidades é a transformações de “espaços” em “lugares”. Um
determinado espaço ganha significados e também se torna portador de memórias. Portanto,
essa nova abordagem não estuda somente a política e a economia, mas também as construções
simbólicas e as diferentes representações feitas “na” e “sobre” a cidade. É, portanto, com esse
olhar diferenciado sobre a história das cidades, que acreditamos ser possível produzir outro
tipo de conhecimento histórico.
3. O riso na sala de aula
Escrevo agora de uma sala de professores. Vou descrever de forma breve este ambiente.
Abaixo do computador onde digito essas palavras, há uma mesa muito grande, rodeada de
cadeiras almofadadas. Sobre a mesa, vejo diversos materiais usados diariamente na labuta
professoral. Giz, mapas do professor de geografia, um ábaco velho da professora de
matemática, uns livros novos e bonitos sobre arte, algumas avaliações em branco, outros
livros não tão bonitos, mas bastante imponentes... Ao fundo dessa sala há um gigantesco
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armário com mais livros ainda. Creio que a diretora mandou guardar esses livros aqui, porque
não há mais espaço na pequena biblioteca abandonada.
Bem, mas além da questão espacial, há também o encanto em se ver os muitos livros
posicionados de maneira ordenada, criando uma espécie de mural intelectual. Mural que nos
separa da parede embolorada que existe atrás da estante. Perto da porta, uma bandeja sobre a
mesa. E sobre a bandeja, o tão delicioso café que conforta minha garganta nos intervalos e
horas-atividades. Sonho com o dia em que vou encontrar biscoitos junto do café. Este dia
seria o suprassumo de todo professor gordinho.
(...)
Agora fui interrompido na escrita. Um aluno veio aqui à porta para pedir giz sob a ordem
de outro professor. Infelizmente não tenho a capacidade de descrever realmente como foi essa
cena, tão engraçada. O aluno chegou envergonhado, meio trêmulo, e me tratou como um
general. Gaguejou, pediu mil desculpas por atrapalhar minha séria função e foi embora sem
agradecer. Creio que foi por vergonha, pois não me pareceu ser um aluno desrespeitoso.
Também, que aluno de quinta série você conhece não ficaria no mínimo apreensivo
diante da missão de entrar na sala dos professores? A gruta da seriedade. Onde os indivíduos
sérios falam de coisas sérias, leem livros sérios e bebem o seu café, a bebida da seriedade.
Lembro-me da minha inquietação durante os estágios que realizei no magistério e no curso de
História. Que ambiente espinhoso, árido, chato, desesperançoso... Acredito seriamente que, se
um indivíduo com séria tendência suicida entrar numa sala dessas durante a seriedade de um
período de provas, ele sairá seriamente pior. Quiçá, pronto para a morte!
Bem, chega de rodeios. Sejamos mais sérios! Neste capítulo farei um modestíssimo
ensaio refletindo sobre as possibilidades e potencialidades de se pensar o ensino pelo humor,
pois acredito que essa reflexão irá colaborar para pensarmos na charge do Sassá como
documento para o ensino de História.
Você leitor, deve ter notado acima, que o ambiente escolar é um espaço que envolve
muita pompa e seriedade. Conheço, como também o educador Larrosa, vários professores que
ministram suas aulas trajando “terno e gravata”. E nunca me deparei com nenhum professor
que dá aula “ultrajando” um chapéu esquisito. O educador acrescenta, em um interessante
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texto (LORROSA, 2003) que, às vezes, os indivíduos levam com tamanha seriedade essa
pompa da educação que começam a ficar com “cara de gravata”.
Durante a prática escolar, nós professores temos muitas característica de um pregador.
Segundo Larrosa, “o tom professoral é uma mistura de austeridade e dogmatismo”
(LARROSA, 2003, p. 168). Talvez o professor pudesse pregar o riso; entretanto, para isso,
necessitamos debruçar nossas reflexões sobre o assunto e pensar o ensino pelo humor.
Bem, se o ensino é pensado com tanta seriedade, que tipos de pensamentos podem surgir
em uma relação mais próxima com o humor? E, sobretudo, qual é o valor que esses
pensamentos podem ter? Henk Driessen, refletindo sobre o valor do conhecimento baseado no
humor, aponta para a construção e percepção de significados e funções simbólicas
relacionadas aos temas jocosos. Além disso,
Seu valor também repousa no conhecimento de que os temas do humor revelam questões importantes das sociedades envolvidas: desde os interesses dominantes, as atitudes e valores relativos à identidade (por exemplo, gênero e etnia) até seus contrapontos, contradições e ambivalências. (DRIESSEN, 2000, p. 257)
Portanto, podemos inferir que não é possível se falar do riso sem nos depararmos com a
seriedade. Toda situação cômica conversa com a seriedade. Não sei se o leitor se lembra do
meu relato na introdução deste trabalho. Aquela situação só se tornou engraçada pela
seriedade que acompanha um templo religioso e as denúncias políticas.
Também as charges do Sassá foram construídas pela materialidade de assuntos sérios. O
discurso sobre o cotidiano londrinense, através das charges, trata de maneira irônica temas
sociais e políticos de grande seriedade. Assim, falaremos
(...) desse riso que dialoga com o sério, que dança com o sério; ou melhor, desse riso que faz dialogar o sério, que o tira de seus esconderijos, que o rompe, que o dissolve, que coloca em movimento, que o faz dançar. (LARROSA, 2007, p. 169)
Entretanto, Larrosa esclarece que não podemos confundir o riso descrito acima com
aquele que existe à beira do sério. O riso que não envolve o sério é aquele geralmente
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encontrado nos espaços delimitados pelo ócio e pelo entretenimento. Esse espaço em que o
riso se coloca pode ser entendido como trivilializado e demasiadamente lúdico.
Outro tipo de riso, bastante comum, de acordo com Larrosa, é aquele riso polêmico,
ressentido, que ataca uma forma de seriedade, mas tentando construir outra forma de
seriedade. Em nome de uma crença julgada como mais valorosa, esse riso tenta construir a
seriedade absoluta sobre os escombros da outra seriedade já superada, um tipo de riso
militante. Também não é desse tipo de riso que vamos tratar aqui, pois esse riso não é capaz
de rir de si próprio. É um riso objetivo e absoluto, onde não há espaço para qualquer
questionamento ou relativização.
Portanto, o riso que nos interessa aqui é aquele componente do pensamento sério. E por
compor esse pensamento, se torna um importante elemento de aprendizagem.
Todo professor já deve ter percebido que se ri pouco na pedagogia. A descrição da sala
dos professores demonstra essa falta de risos. Dificilmente você encontra professores rindo
durante os intervalos. É mais raro ainda o riso sem pudor em sala de aula. Alunos riem por
entre os braços, como se fosse ilegal praticar o hilariante naquele ambiente. Isso porque
estamos acostumados a pensar o ensino acariciando a moral, argumentando e propondo
dogmas absolutos. Os livros que compõem o mural intelectual da sala dos professores
também seguem esses moldes. Diante dessas situações, fica a questão: por que se ri tão pouco
no magistério?
Muito disso se dá pelo caráter sagrado e sério associado aos conteúdos escolares.
Podemos então perguntar: será que na realização de estudos sobre a história de Londrina, não
tratamos alguns assuntos como sagrados? Existem discursos sacralizados sobre o cotidiano
londrinense? O que há de sagrado em Londrina? A charge do Sassá pode causar indignação
aos londrinenses “mais sérios”?
Neste sentido, acreditamos que as charges do Sassá podem ser uma alternativa aos
discursos oficiais. Já que não possuímos nenhum livro pedagógico humorístico sobre a
história da cidade, por que não podemos nos propor a tornar o livro com as charges de Sassá
um material pedagógico? De que maneira dialogar com as charges como indícios que nos
trazem um discurso díspar, que dialoga com o sério?
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4. As charges do Sassá
4.1 Potencialidades e possibilidades para o Ensino de História
Queremos sugerir, neste capítulo, o quanto a leitura das charges nos permite pensar nas
potencialidades dessa experiência metodológica “do sério que dialoga com o riso”. Ela nos
permite pensar as charges como recurso didático pedagógico para o ensino da História não
como ilustrações apenas engraçadas sobre um tema, mas como indícios capazes de nos trazer
informações com marcas de historicidade sobre a experiência cotidiana e também como
revelação das fissuras existentes no discurso modernizador sobre a cidade. Geralmente esse
objeto humorístico representa, através da cultura, acontecimentos que revelam discursos a
contrapelo dos discursos oficiais.
O uso das charges, tanto na historiografia quanto no ensino, só se tornou possível graças
às novas reflexões teóricas e possibilidades iniciadas pela Escola dos Annales, como vimos no
primeiro capitulo. Porém, por mais agradável que essas transformações possam parecer aos
nossos olhos, elas não nos colocam numa situação confortável. Elas exigem que façamos
algumas escolhas e que explicitemos alguns conceitos. Nesse trabalho, não discutiremos a
charge como fonte histórica, justamente por causa dos sentidos que esse conceito cristalizou,
de acordo com as reflexões anunciadas por Peter Burke (2004). Segundo o historiador inglês:
Tradicionalmente, os historiadores têm se referido aos seus documentos como “fontes”, como se eles estivessem enchendo os baldes no riacho da Verdade, suas histórias tornando-se cada vez mais puras, à medida que se aproximam das origens, A metáfora é vivida, mas também ilusória no sentido de implica na possibilidade de um relato do passado que não seja contaminado por intermediários. (BURKE, 2004, p. 16)
Portanto, aventurando na fuga dessa seriedade de uma História que se ensina como
verdade absoluta sobre algo, trataremos as charges do Sassá como indícios. Assim, as
seriedades podem ser convidadas a dançar; podem ser convocadas a saírem de seus
esconderijos e entrarem no movimento de uma educação histórica que permita a descoberta de
novas singularidades e experiências do viver urbano da cidade de Londrina.
Ainda hoje, as charges, assim como os outros tipos de imagens, ocupam um papel
secundário nas construções dos saberes históricos. No ensino, geralmente, elas são
apresentadas apenas como meios de ilustrar um texto, uma reportagem e não como um
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documento capaz de trazer informações sobre personagens, acontecimentos, cotidiano social,
sentimentos, entre outros.
Como afirma David Perdigão Lessa (?, p. 7), usa-se pouco as charges como recurso
pedagógico na sala de aula porque elas ainda são vistas e tratadas como subliteratura por
muitos educadores. Michele Petry, discorrendo sobre as expressões gráficas do humor, ainda
acentua que
Em um primeiro momento, observamos que por transitarem entre os domínios do visual e do escrito, as expressões gráficas de humor parecem estar situadas em um ‘entre-lugar’ nas fontes de produção do conhecimento. (PETRY, 2009, p. 844)
Além da banalização da charge como subliteratura, como algo que se situa num “entre-
lugar” na produção do conhecimento, acredita-se também que a produção dessas charges tem
como objetivo atingir somente um público atualizado do assunto e não a escola. E pior,
reforça-se, sem perceber, uma dicotomia entre cultura e educação. Segundo Almeida, “parece
que a escola está em constante desatualização, que é sublinhada pela separação entre a cultura
e educação” (ALMEIDA, 1994). Essa separação acontece, segundo Almeida, porque se
entende como cultura o “saber-fazer” e define-se como papel da escola, o “saber-usar”.
Portanto, os discursos trazidos pelas charges, que une o não verbal (desenhos) com o
verbal (as falas) podem superar esta separação e enriquecer os estudos de História. A charge
como discurso, pode proporcionar um precioso recurso didático pedagógico para o ensino,
abrindo a possibilidade de uma compreensão e interpretação deste tipo de imagem e
auxiliando no desenvolvimento do conhecimento histórico escolar.
Isso indica que a leitura das charges pressupõe uma série de procedimentos teórico-
metodologicos que devem ser ensinados. Assim, como problematiza David Perdigão Lessa,
Sendo a charge uma forma de registro crítico e opinativo da história imediata de um grupo social, a sua recepção pelo leitor depende da existência de uma memória social que é acionada no momento da leitura permitindo-lhe construir os possíveis sentidos para o discurso do qual esta é portadora. (LESSA, ?, p. 9)
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Portanto, um dos primeiros pressupostos para se trabalhar com as charges, em sala de
aula, é esclarecer que, como qualquer documento, elas representam o entendimento particular
de alguém dos acontecimentos de uma época. Neste sentido, não trazem todas as informações
necessárias para serem compreendidas e nem para que possamos compreender o tema
abordado. Por mais que a charge traga diversas informações relativas ao passado, ela sempre
traz um conhecimento parcial e muitas vezes limitado, favorecendo a discussão sobre como o
conhecimento histórico é construído.
Por outro lado, podemos notar que a escolha do desenho de humor como objeto de
leitura, permite ao aluno ampliar a sua capacidade de desenvolver a imaginação criativa, além
de permitir também ao aluno fazer um panorama social guiado pela percepção sensorial da
fantasia e da sátira. Acreditamos que as linguagens visuais e humorísticas das charges podem
favorecer tais aprendizagens.
4.2 As representações da cidade Moderna
Meus primeiros contatos com a cidade foram como criança, quando eu e minha família
íamos à “Pequena Londres” para passear no Shopping Catuaí. Não só eu, como muitas
crianças apucaranenses, víamos a cidade de Londrina com olhos de fascinação. Grandes
prédios, carros novos, diversas indústrias, ônibus ligeiros, colégios gigantes... Tudo moderno
e diferente!
Concluído o ensino médio, tive a oportunidade de estudar em Londrina, entretanto,
não era a mesma Londrina de quando eu era criança. A minha “vã filosofia” sobre essa cidade
foi abalada por uma van, na qual eu ficava confinado feito sardinha enlatada durante três
horas por dia. Pior do que a van era somente o tal “metropolitano”, um veículo coletivo
grande que passa nas principais cidades da região metropolitana. É também conhecido como
pinga-pinga, amarelinho ou navio negreiro urbano... Foi nesse meio de transporte que conheci
outra face dessa metrópole moderna chamada Londrina, mas cada experiência difícil na
cidade não fragilizava aquela ideia que eu tinha quando criança, a da “Londrina cidade
moderna”.
Em diversos momentos da história da cidade, temos o processo de construção desta
imagem de Londrina como síntese do desenvolvimento e do progresso (fato este que era mais
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assimilado por mim quando criança). Ainda hoje, é comum nas conversas informais e
reportagens jornalísticas, um discurso sério quanto a esta representação de Londrina como
cidade moderna.
Segundo Alves da Cunha (2011), as representações de Londrina como “Novo
Eldorado” começam a ser construídas nas décadas de 1920/30 e se perpetuaram nos discursos
de uma Londrina como Capital Regional, dos anos de 1960, da Metrópole que se almejava
nos anos de 1970, e nos discursos sobre região metropolitana dos anos 1990.
Segundo Adum, esse discurso do “Novo Eldorado” se encontra presente nas fontes
primárias e para muitos, assumiram um “tom” de historiografia, produzindo aquilo que ela
chama de “discurso de felicidade”.
Estas representações foram construindo a ideia de uma ocupação e construção pacífica
do território, em que o capital e seus agentes foram, naturalmente, preenchendo os espaços,
como se estes estivessem esperando ansiosamente por aqueles. Ou seja, estas representações
sempre apagaram os conflitos e contradições que existem na construção da Londrina
moderna.
Essa representação sacralizada que permanece no imaginário londrinense (e por que
não, no apucaranense também), a permanência desse discurso como unânime, abafa outros
discursos, e com isso, favorece as estruturas de dominação através de um processo
hegemônico de criação e de disseminação de uma única memória histórica. Portanto, um
discurso sacralizado e sério da história de Londrina.
4.3 O discurso das charges do Sassá e as cotradições da Londrina Moderna
Analisemos a seguinte charge:
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Figura 1. Moradores improvisam ponte sobre o Ribeirão Lindóia. FONTE: (SASSÁ 2003. p. 169)
A representação da Londrina moderna ainda é bastante presente em nosso imaginário e a
charge do Sassá podem ser uma possibilidade de discurso que oferece um importante embate
a essa percepção sacralizada. A modernização de Londrina nos últimos anos, foi
acompanhada também pelo aceleramento no crescimento populacional nas áreas urbanas.
Essa concentração populacional traz consigo a necessidade de ocupação de novos espaços
para a construção de moradias e o cumprimento de mais serviços de infraestrutura (CORRÊA,
2005, p. 47). Entretanto, não são todas as regiões de Londrina que depois de ocupadas,
recebem a implantação de serviços de infraestrutura.
Essa charge revela um discurso contrário ao da modernidade londrinense. Rindo “da
seriedade” da necessidade de uma ponte, necessidade desprezada pelo poder público, esta
charge revela as dificuldades vividas cotidianamente pelos moradores da região do Ribeirão
do Lindóia.
O que é revelado pela charge contrasta com a abundância de técnicas e recursos presente
no discurso da representação da Londrina Moderna. Na charge, há a construção de uma
pinguela (ponte improvisada, comum em pequenas propriedades rurais) com materiais
inadequados, indicando a falta de recursos (madeira, pau, caixa de papelão, galho e pneu) e
técnicas (construção apoiada em galhos e unida com pregos) esperadas em uma obra de
infraestrutura.
A pinguela causa espanto ao personagem que provavelmente representa um morador da
região. Porém, há na charge também outro personagem, que pode ser interpretado como uma
metáfora da poluição do ribeirão. Com o avanço da urbanização acentua-se também a
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poluição dos recursos naturais. As flores que margeiam o ribeirão podem representar os
problemas ambientais decorrentes dessa urbanização da Londrina Moderna. A situação dos
rios e lagos da Londrina Moderna voltam a ser assunto em várias outras charges do Sassá.
Abaixo temos mais uma criativa produção:
Figura 2. Poluição: rios e lagos da cidade apresentam altos níveis de metal pesado. FONTE: (SASSÁ 2003. p. 16).
Outro grande símbolo da modernidade londrinense é a aglomeração industrial. A
elevação do status da cidade de Capital Regional para Metrópole, levou muito em
consideração a representação de uma Londrina moderna e industrializada.
Porém, a charge acima revela outra face da industrialização londrinense - a produção
de materiais poluentes. Chamados midiaticamente de “metais pesados”, esses elementos
químicos poluidores tornaram-se cada vez mais presentes no ambiente natural de regiões
industrializadas. Sassá faz um trocadilho sagaz dispondo uma banda de rock pesado num rio
de Londrina.
Através dessa charge, o autor produz uma piada com a seriedade da contaminação dos
rios e lagos de Londrina, através da polifonia dessa metáfora. Além disso, o riso provocado
pelo discurso dessa charge abala o santificado discurso de desenvolvimento associado à
industrialização.
Quem já procurou vaga para estacionar um automóvel em uma grande cidade sabe a
dificuldade que se tem. Problema que testa a paciência até dos mais apáticos. Quem vive
numa cidade moderna é obrigado a se submeter a essas condições cotidianas de maneira
paciente.
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Na Londrina moderna, em diversos momentos, a palavra “paciente” deixa de ser um
adjetivo e passa a ser um substantivo. A charge do Sassá, observando o cotidiano dessa troca
de significados produz mais um valoroso Indício histórico.
Figura 3. Faltam leitos nos hospitais. FONTE: (SASSÁ 2003. p. 101).
A charge acima utiliza do exagero, que é característico dessa produção cultural, para
revelar um problema da Londrina moderna: a falta de leito em hospitais. O desenvolvimento
industrial e populacional não foi acompanhado pelos órgãos ligados à saúde. Entretanto, esse
tipo de problema só é percebido por aqueles indivíduos que necessitam de atendimento
urgente e que não têm plano de saúde.
Sassá usa de um problema mais ordinário (a falta de vagas de estacionamento) para
fazer uma associação com outro problema da cidade moderna, a falta de cuidados com a
saúde da população, que vive em esquecimento e abandono.
Nas charges do Sassa, o esquecimento não é regalia apenas de acontecimentos. Há
também esquecimentos de espaços. Espaços, que como vimos com Pesavento, no primeiro
capítulo, resgatam discursos, imagens e práticas sociais. E esses “espaços” que se tornam
“lugares” articulam identidades, percepções e significados.
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Figura 4. Bosque municipal precisa de manutenção. FONTE: (SASSÁ 2003. p. 130).
Descaso, abandono, insegurança, indecisão, nojo... Essas são as sensações que podem
surgir ao nos depararmos que essa charge. Indício histórico de situações que se naturalizaram
e que não nos incomodam mais em nossos percursos urbanos. Sensações antagônicas àquelas
divulgadas pela representação da Londrina moderna.
Confiança e otimismo, próprios do discurso da cidade moderna, são convidados a sair
de seus esconderijos para dançar com o abando e a insegurança representadas na charge.
Discurso sobre “lugares” esquecidos abrem espaço para as memórias e as possibilidades de
problematização do presente e do passado.
Será tudo progresso na Londrina moderna? Será só destruição? Do que mais nos
lembramos? Por quê? Será que não estamos nos esquecendo de algum “lugar”? Como se
constrói a modernidade? Como se passa a esquecer?
Sem esquecer-se do esquecimento, Sassá revela uma situação comum ao pedestre
londrinense. Ele nos lembra de que o pedestre é esquecido durando o crescimento e a
transformação do espaço, agora moderno. Veja a charge a seguir:
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Figura 5. Atravessar a BR 369 está cada vez mais perigoso. FONTE: (SASSÁ 2003. p. 6).
Já dizia Lulu Santos, “hoje o tempo voa amor; escorre pelas mãos; mesmo sem se
sentir”. Essa canção (“Tempos modernos”) revela uma tendência da cidade moderna.
Vivemos a era do fast, tudo é para o agora e o agora já passou faz dez minutos. Para viabilizar
essa lógica, inventou-se a necessidade dos meios de transporte e comunicação mais rápidos,
como é o caso da BR 369, representada na charge.
A modernidade é capaz de criar a necessidade de vias mais rápidas, mas esquece do
pedestre, que também necessita de se locomover. Aliás, além de esquecer-se da presença do
pedestre, a modernidade se esquece também da segurança. Pensar em segurança não é
concebível dentro das representações da modernidade. Na charge, o pedestre atravessa a BR
pelos fios, e é necessário ser um “super-herói” para pilotar uma motocicleta. Sassá revela a
desumanização da Londrina metrópole através do trânsito moderno.
Enfim, consideramos que seja importante que os alunos possam realizar a análise do
conteúdo dessas charges, dialogando como o visual, com o humor e com a cidade, assim
percebendo, para além da ilustração, os Indícios de narrativa sobre o viver urbano. Os alunos
podem descrever os elementos de cada charge, localizar as críticas que estão sendo feitas e, a
partir da descoberta desses Indícios, problematizar e pesquisar sobre o assunto tratado pela
charge. Sempre atribuindo significados para essas representações, mas nunca de forma finita e
conclusiva, assim como as vivências e experiências humanas. E, portanto, carregadas de
historicidade.
5. Considerações Finais
Com este trabalho, encontramos brechas na seriedade. Seriedade esta, que imobiliza o
pensamento e constrói “o discurso histórico absoluto”. Conseguimos verificar a possibilidade
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de se aprender o simbólico através da interpretação das charges. Abrindo espaço assim, para o
conhecimento histórico subjetivo e marcado por uma narrativa própria.
Este trabalho procurou mostrar que o professor, ao pensar o ensino da História da
cidade pelo humor das charges, também está contribuindo para pregar o riso. Porém, não
qualquer riso. Não o riso deslocado, que não foge do sério, ou o riso militante, que busca
substituir uma verdade absoluta por outra. Mas sim, um riso que dialoga com o sério.
Quanto às representações de Londrina, percebemos que em diversos momentos da
história da cidade, temos o processo de construção da imagem de Londrina como síntese do
desenvolvimento e do progresso. Estas representações sacralizadas, que permanecem no
imaginário londrinense, abafam outros discursos. Confirmamos através deste trabalho que as
charges do Sassá são uma possibilidade de desconstrução dessa percepção sacralizada. A
charge trouxe um riso que, por dialogar com o sério, pôde nos revelar outras Londrinas.
Confirmamos através deste trabalho que as charges do Sassá são uma possibilidade de
descontrução dessa percepção sacralizada. Analisando, embora de maneira breve, algumas
destas charges, pude acessar outras experiências que colidem com a ideia de modernidade e
progresso de Londrina. A charge trouxe, portanto, para este trabalho, um riso que, por
dialogar com o sério, pôde nos revelar outras Londrinas.
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