Ana Pereira 39300
Ana Marques 39301
Ana Lourenço 39303
Denise Horta 39310
Dina Silva 39311
Ciências da Comunicação
Teorias da Comunicação
Escola Superior de Educação e Comunicação
Cinema de Animação:
Um Formador Cívico
Ano Lectivo 2009/2010
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Índice
1. Parte pré-textual
1.1 Capa
2. Parte textual
2.1. Introdução…………………………………………………………………….2
2.2. História do filme.........................…………………………….....................3
2.2.1 Ficha técnica……………………………………………………….5
2.3. As personagens………………………………………………………..........6
2.4. Enquadramento teórico................……………………………..................10
2.5. Metodologia………………………………………………………………….13
2.5.1. Diário de Bordo……………………………………………………14
2.6. Apresentação e análise das conclusões................................................16
3. Parte pós-textual
3.1. Bibliografia...............................................................................................22
3
2.1. Introdução
No âmbito da unidade curricular de Teorias da Comunicação do curso de
licenciatura de Ciências da Comunicação da Escola Superior de Educação e
Comunicação da Universidade do Algarve surge um projecto de trabalho que
tem como objecto de estudo o filme de animação da Disney Pixar Up-
Altamente!.
Neste sentido, analisámos o filme tendo como ponto de partida o Modelo de
Lasswell. A par desta análise procurámos fazer o levantamento das principais
ideias, das que consideramos mais relevantes, que contribuem para a
mensagem que o filme, na sua globalidade, pretende transmitir.
A escolha deste objecto de estudo parte da experiência pessoal partilhada
pelos membros do grupo e do interesse mútuo em decifrar os códigos
comunicacionais utilizados neste filme de animação. Nomeadamente a inclusão
de valores éticos e morais e da sua importância para a educação e formação
das crianças.
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2.2. A História do filme
Up-Altamente! é um filme de animação realizado no ano 2009 por Pete Docter,
com argumento e co-realização de Bob Peterson. Produzido nos estúdios da
Disney Pixar, Up-Altamente! foi classificado como um filme apropriado a
crianças com mais de 6 anos de idade, inclusive. Dos mesmos criadores de À
Procura de Nemo (2003), Ratatui (2007) e Wall-e (2008), Up-Altamente! é uma
comédia de aventuras que conta a história de Carl Fredricksen, um vendedor
de balões de 78 anos, que sonha voar à descoberta da América do Sul.
Fredricksen conhece a sua esposa ainda em criança, altura em que descobrem
que partilham o gosto pela aventura e o desejo de visitar o Paraíso das
Cachoeiras. Carl e Ellie complementam-se; são o reflexo do verdadeiro amor,
aquele em que a partilha, a união e a amizade estão acima de qualquer
obrigação. Ansiavam ser pais mas, infelizmente, descobrem que lhes é
impossível. Apesar de tudo, esta não foi a única partida que a vida lhes pregou.
O sonho de visitar a América do Sul também lhes foi negado. Durante muitos
anos amealharam poupanças para essa viagem, mas outras obrigações
financeiras puseram-na em causa. Quando, finalmente, Carl decide
surpreendê-la comprando os bilhetes o pior acontece, fica sozinho e isola-se do
mundo.
Com o passar dos anos, Carl vê urbanizada a cidade em volta da sua casa
com a agravante de, a todo o custo, o empreiteiro a querer comprar para
concluir o projecto. Mas Carl não cede e a vida continua a pregar-lhe partidas.
Um dia, depois de uma desavença com um dos funcionários, descontrola-se e
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parte para a agressão. Este episódio teve como consequência uma notificação
jurídica que o obrigava a mudar-se para um Lar de idosos. No entanto, o seu
sonho fala mais alto e, cumprindo a promessa que fez à sua esposa, na noite
anterior a ser levado para o lar, Fredricksen prende milhares de balões à sua
casa e voa em direcção ao Paraíso das Cachoeiras. Mas, inesperadamente,
descobre que tem um companheiro de aventuras – Russell. Russell é um
escuteiro de 8 anos, “explorador da natureza”, super optimista. É nesta viagem
que se conhecem melhor e iniciam uma grande amizade.
Quando chegam ao destino Carl e Russell encontram uma ave rara – Kevin –
que passa a fazer parte do grupo. O que eles não sabem é que esta ave
estranha, de muitas cores, é procurada por um explorador muito ambicioso e
sem escrúpulos e pela sua matilha controlada por coleiras de última geração
que convertem os seus pensamentos em fala. Muntz, o explorador, era o herói
de infância de Carl e Ellie que impulsionou o grande gosto pela aventura que
partilhavam. Contudo, quando Carl se apercebe da ideia de Muntz capturar a
Kevin fica desiludido.
Após algumas peripécias, entre Muntz, Carl, Russell, Kevin e a matilha, Carl e
Russell tomam o dirigível e abandonam o Paraíso das Cachoeiras levando
consigo Dug, um dos cães pertencentes à matilha. Kevin encontra a paz no seu
habitat junto das suas crias.
No fim do filme, na cerimónia dos escuteiros de entrega do crachá de “ajuda
aos idosos” o pai do Russel mais uma vez não está presente, mas desta vez
ele pode contar com a presença de Carl, seu amigo e companheiro de
aventuras.
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2.2.1. Ficha Técnica
Up – Altamente! (V.O) Título original: UP
Classificação: M6
País: Estados Unidos
Ano: 2009
Género: Animação
Duração: 97m
Realização: Pete Docter; Bob Peterson
Vozes: Christopher Plummer; Edward
Asner; Delroy Lindo; Jorgan Nagai;
John Ratzenberger
Argumento: Bob Peterson
Sinopse:
Uma comédia de aventuras da Disney Pixar sobre um vendedor de balões de 78
anos, chamado Carl Fredricksen, que, finalmente, realiza o sonho da sua vida, uma
grande aventura, quando prende milhares de balões à sua casa e consegue voar à
descoberta da América do Sul. Mas ele vai descobrir, tarde demais, que o seu maior
pesadelo também embarcou nesta viagem... Um explorador da natureza, super
optimista, de 8 anos chamado Russell.
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2.3. As Personagens
Charles F. Muntz
No princípio dos anos 30, o rico, inteligente e bem-parecido Charles Muntz era
um símbolo de esperança para os Americanos. Ele inspirou os seus maiores
fãs, as crianças Carl e Ellie, a repetir o seu famoso lema “a aventura está aí”.
Depois de inúmeras viagens no enorme zepelim que concebeu, descobre o
tesouro mundial: relíquias históricas de valor incalculável, fantásticas
descobertas científicas e uma exótica fauna e flora, nunca antes vistas. Mas
quando Muntz traz da remota montanha da América do Sul uma criatura
fantástica de 4 metros, é desacreditado pelos cientistas. Para provar que estão
errados, Muntz regressa à América do Sul e promete regressar com um
espécime vivo e não vai desistir enquanto não o fizer.
Carl Fredricksen
Carl Fredricksen não é o herói típico. Ele é um vendedor de balões já
reformado que, aos 78 anos de idade, é forçado a abandonar a casa que ele e
a sua falecida esposa construíram. Mas, em vez de ir para um lar, Carl parte
para a acção. Ata milhares de balões ao telhado, faz voar a sua casa e segue
em direcção à América do Sul, cumprindo finalmente a promessa feita à sua
mulher muitos anos antes. Contudo, o grande plano de Carl é posto à prova
com a descoberta de um inesperado passageiro, o optimista e ávido pela
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aventura, Russell. A viagem de Carl testa muito mais do que a sua paciência
quando o duo luta para sobreviver ao mau tempo, aos perigos no terreno, e a
estranhos habitantes do mundo perdido – como também um ao outro.
Russell
Russell é um entusiástico e persistente escuteiro explorador de 8 anos de
idade, pertencente à Tribo 54, cabana 12. Munido com uma mochila carregada
de engenhocas dos escuteiros exploradores selvagens, Russell está preparado
para enfrentar a selva! Só existe um problema: ele na realidade nunca deixou a
cidade. Todo o seu conhecimento do exterior advém de livros e a sua única
experiência de campismo teve lugar na sua sala de estar. Russell exibe
orgulhosamente as suas medalhas de escuteiro, incluindo a de primeiros
socorros, cuidados suplementares, zoologia e mestria em camuflagem. Só lhe
falta a medalha de “ajuda a idosos” para alcançar o nível de “Escuteiro
Explorador Selvagem Senior”.
Quando decide que é Carl Fredricksen o idoso a ajudar, Russell vê-se no átrio
de Carl quando a sua casa levanta voo, e fica perante a aventura ao ar livre
com que sempre sonhou.
Dug
Dug é um adorável Golden Retriever residente na selva do Paraíso das
Cachoeiras, e pertencente a uma matilha que procura uma estranha ave, que
não voa. Tal como o resto da matilha, Dug tem ao pescoço uma coleira
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inovadora que converte os seus pensamentos em fala. Mas Dug é
ridicularizado pelo grupo. Enviado para a selva numa “missão” especial, Dug
obtém êxito acidentalmente, quando descobre que o pássaro se encontra na
companhia de Carl e Russell. À medida que são perseguidos pela sua própria
matilha, o amável, mas simples Dug, tem de decidir a qual dos grupos
pertence.
A Matilha
No interior da selva do Paraíso das Cachoeiras vive um grupo de cães, que
têm por missão a captura de um pássaro raro procurado pelo seu mestre. Tal
como o seu desprezado camarada Dug, todos os cães da matilha têm colares
de última geração que lhes atribui capacidades fora do normal, concebidas
para caçadas furtivas, incluindo detecção GPS e conversão dos pensamentos
em voz. Alpha, o líder da matilha, é um ameaçador Doberman Pinscher escuro,
com uma autoridade que lhe foi delegada pelo seu mestre, que ninguém se
atreve a questionar. Beta, um Rottweiler, é o tenente de Alpha, e Gamma,
ajudante, é um Bulldog. Nada desviará a matilha da sua missão…excepto
talvez um esquilo.
Kevin
Apelidado de Kevin por Russell, este pássaro extremamente raro com 4 metros
de altura, encontra-se escondido do mundo num remoto habitat do Paraíso das
Cachoeiras. Com penas irradiantes e coloridas e com um longo pescoço
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flexível, Kevin é excepcionalmente rápido e ágil apesar do seu tamanho. Na
verdade, o grande pássaro coloca-se em posições bastante curiosas e
aparentemente impossíveis. Poucos sabem que esta criatura de valor científico
incalculável existe, mas Carl e Russell dão de caras com ele. Russell apelida-o
de Kevin, devido ao facto de ambos serem muito gulosos. Kevin e Russell
criam um vínculo de imediato, e apesar da propensão que o pássaro tem para
engolir a muleta de Carl, junta-se ao derradeiro e mais improvável grupo de
Carl, Russell e Dug.
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2.4. Enquadramento Teórico
Segundo o modelo de Lasswell, os emissores Pete Docter e Bob Peterson
transmitem valores morais e problemáticas sociais, através do cinema, ao
público em geral, especialmente às crianças. A questão “Com que efeito?” não
é respondida nesta análise porque a sua pretensão não é a de investigar o
resultado da mensagem mas sim a generalidade do conteúdo da longa-
metragem.
A Linguagem dos Desenhos Animados
É essencial, ao analisar um filme de animação, partir do desenho animado
como pressuposto básico. Para tal, convém ter implícito que a palavra
animação deriva do verbo latino animare (“dar vida a”). Segundo Charles
Solomon (1994), só veio a ser utilizada esta designação no século XX para
descrever imagens em movimento. No entanto, para lá chegar passou-se pela
fotografia, pela lanterna mágica, pelo primeiro cinema e ainda pela evolução
tecnológica. Assim, pode-se afirmar que o desenho animado digital é um meio
de comunicação gerado a partir de outros sistemas culturais, possibilitando a
compreensão deste como uma forma de comunicação. Pode-se ainda
constatar que é uma mistura de linguagens: sonora, verbal e visual (Santaella,
1999). Assim acaba por estimular e promover mudanças na posição dos
sentidos, apropriando-se de uma linguagem própria. Essa linguagem só pode
ser compreendida através do avanço das tecnologias, o que revolucionou o
tradicionalismo dos desenhos animados.
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Com o declínio de antigos métodos e a possibilidade de chegar a novos
espectadores, o cinema de animação elabora uma estrutura narrativa mais
densa e multifacetada, com marcas intertextuais, sátiras e por um novo
panorama social que coloca a criança e o adulto dentro da mesma obra.
Umberto Eco (2003) refere na sua teoria sobre o leitor-modelo que é possível
identificar em obras narrativas, códigos direccionados às crianças e aos adultos
que intervêm na trama. Alguns desses códigos são mais perceptíveis e
destinados a determinados públicos, seleccionando o espectador; outros são
mais facilmente observáveis ao público em geral, podendo ser compartilhado.
O Double Coding na Animação
O criador de uma obra de animação produz um mundo ficcional que prevê um
leitor-modelo com o conhecimento necessário para descodificar os diversos
signos do filme. Trata-se de uma estratégia narrativa que prevê um
determinado padrão de espectadores. Para Umberto Eco (1994), um texto
prevê o seu destinatário como condição necessária para a sua significação.
Afirma ainda, que o texto é pensado para que o leitor execute a sua
interpretação, preenchendo as lacunas propositadamente deixadas pelo seu
escritor. Um texto é sempre criado prevendo as atitudes do seu leitor-modelo.
É com o Double Coding de autoria de Charles Jenks, posteriormente
apropriada por Eco (2003) que se explica a convergência de interesses de
vários públicos. “O edifício ou obra de arte pós-moderna dirigem-se
simultaneamente a um público minoritário de elite, usando códigos altos, e a
um público de massa, usando códigos populares.” (Eco 2003, p. 200)
13
O Double Coding pode-se descrever como o discurso feito para dois públicos
ao mesmo tempo, com códigos pensados para ambos. No caso específico dos
desenhos animados e do cinema de animação, é visível a atracção do público
infantil e do público adulto. Tanto para um como para outro, existe um código
em particular. Assim, o adulto está em busca de códigos mais elaborados; a
criança descodifica as mensagens simples, de acordo com a sua realidade.
A função educativa do Cinema de Animação
“Em 1906, já se discutia apaixonadamente na França o emprego do cinema
com fins educativos, e em 1910 a questão do cinema escolar foi objecto de
debates em congresso internacional de educadores realizado em Bruxelas.”
(Pfromm Neto, 2001, p.77)
Actualmente, numa sociedade de informação e comunicação, a arte do cinema
apresenta-se como um veículo rico, pois apropria-se de diversas linguagens,
tornando-se um importante recurso educacional. As narrativas fílmicas, por
associarem acção, espaço e tempo e por terem implícitos códigos bastante
complexos são importantes instrumentos para a instrução dos espectadores. O
lugar que os media ocupam hoje na vida quotidiana tornam imperativo
converter a criança/aluno, não um mero receptor, passivo, desprovido de
reflexão e crítica, mas um espectador activo, um explorador autónomo e um
actor da comunicação mediática.
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2.5. Metodologia
Ao iniciarmos o nosso projecto de trabalho definimos como objecto de estudo o
filme de animação Up-Altamente!. Como modelo de análise optámos pelo
modelo de Lasswell, componente da Teoria Crítica. Posteriormente,
estabelecemos as principais metas que pretendíamos alcançar como linhas
condutoras desta análise.
No início da fase conceptual escolhemos o tema a abordar, e os pontos que
queríamos evidenciar. Começámos por consultar alguma bibliografia relativa ao
assunto e assim enriquecer as linhas condutoras. Por fim elaborámos o
projecto de trabalho que tinha como objectivo evidenciar a questão de pesquisa
“A mensagem que o filme vincula será evidente/perceptível para as crianças,
uma vez que é para elas que se direcciona?”.
Já na fase metodológica, após o visionamento atento da longa-metragem,
definimos o problema: “Necessidade de os filmes de animação de hoje se
direccionarem não só para valores morais, como a família e a amizade, mas
também para problemáticas sociais, a urbanização, a obesidade, a poluição.”.
Fizemos em conjunto o levantamento dos valores expressos no filme e a sua
respectiva análise segundo os métodos supracitados. Essa análise foi
desenvolvida individualmente e de seguida confrontada em grupo.
O resultado deste trabalho é o conjunto de uma análise crítica e pessoal e da
aplicação do modelo de análise em questão.
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2.5.1. Diário de Bordo
12/03/10
- Escolha do tema/temática a abordar no trabalho
- Delineação do trabalho
18/03/10
- Orientação tutorial
- Exposição do tema a abordar
- Discussão dos tópicos a desenvolver
5/04/10
- Elaboração da ficha técnica do filme
- Elaboração da ficha de apresentação do enquadramento teórico
8/04/10
- Orientação tutorial
- Entrega da ficha técnica e de apresentação do enquadramento teórico
- Sugestões do professor
13/05/10
- Revisionamento do filme Up-Altamente!
- Debate das principais ideias extraídas do filme entre os elementos do grupo
20/05/10
- Pesquisa bibliográfica acerca da linguagem cinematográfica, das teorias do
cinema
- Análise, em grupo, das conclusões mais relevantes
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21/05/10
- Atendimento: esclarecimento de dúvidas; orientações pertinentes para o
trabalho
25/05/10
- Pesquisa bibliográfica
28/05/10
- Continuação da pesquisa bibliográfica
- Recolha de textos de orientação
30/05/10
- Início da redacção do trabalho escrito
8/06/10
- Conclusão da redacção do trabalho escrito
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2.6. Apresentação e análise das conclusões
o Entreajuda entre crianças e idosos
É intrínseca ao Up-Altamente! a transmissão de valores morais. Nesse sentido
é feita uma análise crítica e pessoal desses mesmos valores.
A entreajuda entre crianças e idosos tem tido ao longo dos tempos uma
evolução precária. Ajudar, no mais sincero sentido da palavra, deixou de ser
válido para as crianças. Hoje em dia uma criança não pensa em ser generosa
sem receber nada em troca; quando o faz, fá-lo porque alguém lhe disse que
devia e que ao fazer isso seria beneficiado.
“Juventude e velhice não se opõem; completam-se na harmonia universal dos
seres e das coisas.” (Júlio Dantas in Páginas de Memórias) Ao longo do filme
apercebemo-nos da veracidade desta ideia. Quando Russell, membro do grupo
de escuteiros, se disponibiliza para ajudar Carl fá-lo para ter como recompensa
o crachá que lhe falta na faixa de escuteiro. No entanto, ao longo da trama, e
sem se aperceberem, Russell e Carl criam uma ligação íntima de amizade e de
entreajuda inerente à relação, sem um propósito de recompensa.
o Protecção dos animais em vias de extinção
Na longa-metragem está evidente a necessidade da protecção dos animais em
vias de extinção. Numa análise mais profunda podíamos afirmar se está tão
evidente para as crianças, principais alvos, como está para os adultos, alvos
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secundários. Vivemos actualmente numa sociedade cada vez menos importada
com os problemas ambientais, e Up-Altamente! vem realçar a importância da
preservação dos animais raros. Subentendida na relação que Russell mantém
com Kevin, a ideia do autor do filme foi transmitir às crianças o importante
papel que podem ter no que diz respeito à protecção destes animais.
A verdade é que as crianças mantêm uma relação distante dos animais,
geralmente, selvagens/não domesticáveis e perdem um pouco a real noção da
sua origem. Apenas conhecem estes animais em jardins zoológicos, parques
aquáticos e lúdicos e através dos media por isso quase sempre não têm a
consciência de que os animais provêm de um habitat específico adequado a
cada espécie.
A personagem Russell simboliza a devida protecção aos animais, em oposição
a Muntz que surge para realçar o factor económico, de visibilidade social que
tanto caracteriza muitos dos explorados que se dedicam à pesquisa científica.
o Problemas da excessiva urbanização
A urbanização é um conceito que caracteriza o crescimento das cidades. Neste
processo ocorre a construção de casas, prédios, redes de esgoto, ruas,
avenidas, rede eléctrica, etc. Sendo a urbanização um fenómeno relativamente
recente, e cada vez mais visível e preocupante, a sua alusão é muito
importante, na medida em que é um alerta de consciências.
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A verdade é que muitas crianças não têm noção de que o crescimento
descontrolado das cidades traz inconvenientes. Mas, quando no filme Carl é
vítima desta situação a intenção do autor é alertá-las para os problemas da
urbanização.
O que acontece é que com o passar dos anos a cidade cresce em volta da
casa de Carl, que se recusa a vendê-la para a construção de um prédio. Para
ele a casa tem um grande valor sentimental, por isso não aceita vendê-la nem
por todo o dinheiro do mundo. Este é outro dos valores fortemente defendido
na longa-metragem – a primazia dos sentimentos em detrimento dos bens
materiais, porque, de facto, aquela casa simbolizava toda a sua vida. Por outro
lado, esta situação lembra como a ganância e a soberba das pessoas, dos
construtores neste caso, podem levá-las a ter acções reprováveis e
incompreensíveis como acusar um idoso e fazer com que o tribunal o expulse
da sua própria casa.
o Desvalorização dos idosos – isolamento
Uma situação enfatizada pelo filme “Up! Altamente” está em torno da questão
actual da ausência dos pais na vida dos seus filhos, situação esta personificada
por Russell, um rapaz de 8 anos que no fim da trama, ao conquistar a medalha
de “ajuda a idosos” e ao tornar-se o “Escuteiro Explorador Selvagem Sénior” -
uma conquista muito importante para este petiz – nota que não está lá o seu
pai.
Actualmente, a falta de tempo dos pais para os seus filhos tem vindo a
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aumentar, contribuindo para que os pais releguem o seu papel – o de educar –
para a escola. Além disso compromete a transmissão de valores como a
solidariedade, o respeito ao próximo, fidelidade, senso de justiça, valores cuja
responsabilidade de transmitir é dos pais. A nível emocional também se
verificam vários danos, tais como tristeza, apatia ou agressividade, sentimentos
causados devido à ausência dos pais no seu dia-a-dia.
o Amizade sobrepõe-se ao medo e à obediência (relação dos cães)
A relação que existe entre os membros da matilha de Dug é muito peculiar.
São um grupo, mas não por serem amigos ou por se relacionarem como
companheiros. A sua coesão deve-se apenas ao facto de todos obedecerem a
Muntz a troco de “mimos”, dos quais usufruem poucas ou nenhumas vezes. É
essencialmente uma relação com um alicerce veiculado pelo medo que sentem
do dono e do membro Alpha do grupo, nunca por respeito. No entanto, no fim
de tudo é Dug, com a sua essência, ingenuidade e inocência quem conquista a
amizade dos seus colegas. É esta a ideia que o autor do filme quer transmitir
às crianças: a ideia de que o medo não é o único nem sequer o melhor veículo
motivador de massas. Poderá ser o mais eficaz, mas não é o mais nobre. O
respeito pelo próximo aceitando-o como é e a amizade compartilhada devem
ser assim os principais meios de persuasão dentro de uma comunidade.
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o Importância da família
(Constituir família)
A família adquire, neste filme, um papel de grande importância devido à
mensagem que veicula. A família é, no fundo, um grupo de pessoas, maior ou
menor, que estabelece entre si uma partilha de valores. E, numa altura em que
se vivem momentos críticos, também as famílias se vêem afectadas, muitas
vezes, por graves crises de valores.
O reflexo da evolução e da mudança dos tempos é visível a vários níveis,
político, religioso, económico, tecnológico. Também a sociedade tem sido alvo
de constantes alterações de ideologias, de objectivos, de crenças. A
emancipação da mulher, por exemplo, foi um movimento de libertação que veio
condicionar em muito a forma como a família era encarada, ou a importância
que lhe era atribuída. Ao longo dos anos apercebemo-nos que o desejo de um
casal constituir família foi ultrapassado por objectivos profissionais, pessoais,
económicos. E é esta a realidade que as crianças de hoje conhecem, muito
diferente da dos seus avós que parece já tão longínqua.
Embora o receptor da mensagem se situe numa faixa etária com limite mínimo
nos 6 anos de idade, Up-Altamente! tenciona transmitir a ideia da família como
valor indispensável ao crescimento e à educação individual. É neste sentido
que o casal, Carl e Ellie, intervém no filme, espelhando a imagem do amor e do
desejo de construir uma família. Mas esta não é a única mensagem. O receptor
dá conta da força que existe entre estas duas personagens quando vêem
privado esse desejo. Nesta análise, não podemos pôr de parte o facto de os
22
filmes de animação, embora tenham como público-alvo as crianças,
pretenderem chegar também aos pais e encarregados de educação como se
complementassem o processo educacional.
o Importância da família
(Ausência dos pais)
Este valor está implícito no filme, tal como está o abandono dos idosos,
personificado por Carl Fredricksen, um vendedor de balões já reformado de 78
anos. Após uma vida ao lado da sua mulher, esta acaba por falecer e a vida do
velho Carl muda radicalmente. A sua vida é preenchida de uma rotina vazia,
em que o mundo à sua volta vai-se desmoronando pouco a pouco, tal como
acontece na realidade. Actualmente, as notícias de maus-tratos e de abandono
de idosos são cada vez mais frequentes, algo verdadeiramente preocupante.
Geralmente, os familiares responsáveis tendem a prestar uma menor atenção
ao idoso, por vezes deixando-o ao abandono em lares de 3ª idade.
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3.1. Bibliografia
Martin, Marcel,. (2006) A linguagem cinematográfica, Dinalivro
Hernández, Juan A., (2003) Cinema e Literatura – A Metáfora Visual.
Campo das Letras
Oliveira, Nuno António Grilo de,. (2003) Cinema de Animação:
Metonímia Americana. Dissertação de mestrado, Universidade Aberta
Vieira, Tatiana Cuberos,. (2008) O Potencial Educacional do Cinema de
Animação: Três Experiências na Sala de Aula. Dissertação de mestrado,
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Centro de Ciências
Sociais Aplicadas, Faculdade de Educação, Campinas
Gomes, Luciana Andrade; Santos, Laura Torres S. dos, (2007) O Double
Coding na Animação: A Construção do Desenho Animado
Contemporâneo para Adultos e Crianças. Inovcom – Revista Brasileira
de Inovação Científica em Comunicação, Vol.2, Nº2, pp.74-81
Holliss, Richard,. Sibley, Brian. (1998) The Disney Studio Story
OCTOPUS Books
Geada, Eduardo,. (1998) Os mundos do Cinema. Noticias Editorial,
14ªedição
Tudor, Andrew,.Teorias do Cinema Artes e Comunicação, edições 70
Freixo, Manuel João Vaz,. (2006) Teorias e Modelos de Comunicação,
Instituto Piaget
Fiske, John,. (2005), Introdução ao Estudo da Comunicação, Edições
ASA, 9ªedição
24
Webgrafia
http://www.scribd.com/doc/507436/A-LINGUAGEM-DO-CINEMA-
Reeditado - Consultado a 7 de Junho
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