THIAGO DHARLAN COELHO
A NATUREZA REPRESENTADA ATRAVÉS DA GEOMETRIA: UMA PROPOSTA DE VÍDEOINSTALAÇÃO
ARTÍSTICA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE ARTES VISUAIS – BACHARELADO
Campo Grande 2010
THIAGO DHARLAN COELHO
A NATUREZA REPRESENTADA ATRAVÉS DA GEOMETRIA: UMA PROPOSTA DE VÍDEOINSTALAÇÃO
ARTÍSTICA
Relatório apresentado como exigência final para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientadora: Profª. Esp. Marília da Costa Terra. Co-Orientadora: Profª. Mª. Venise Paschoal de Melo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE ARTES VISUAIS – BACHARELADO
Campo Grande 2010
THIAGO DHARLAN COELHO
A NATUREZA REPRESENTADA ATRAVÉS DA GEOMETRIA: UMA PROPOSTA DE VÍDEOINSTALAÇÃO
ARTÍSTICA
Relatório apresentado como exigência final para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Campo Grande, MS, ____ de ____________________ de 2010.
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________________ Profª. Esp. Marília da Costa Terra Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
________________________________________ Profª. Mª. Venise Paschoal de Melo Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
________________________________________ Prof. Me. Darwin Antonio Longo de Oliveira Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
À minha mãe Cleodete que sempre acreditou em mim, incentivando e criticando
sempre que necessário, para que eu pudesse crescer artisticamente.
À minha avó Erenice (in memoriam) que sempre elogiava e fazia questão de divulgar
meus trabalhos a todos os amigos e familiares.
A meu irmão Marcos que me deu apoio, mesmo morando distante.
Ao meu primo Lincoln que foi o grande incetivador para que eu seguisse o caminho
das Artes Visuais.
Às minhas tias Ereonice, Cleonice e Eronilde que a todo momento acreditaram em
meu potencial artístico, investindo em mim sempre.
Todos são fundamentais em meu crescimento espiritual e intelectual, bem como
para a execução deste trabalho.
Obrigado.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os mestres que passaram por minha vida: desde a infância à
universidade; por sempre dividirem comigo seu conhecimento. Obrigado por ter-me
tornado uma pessoa rica em conhecimento, conquistas que por sempre carregarei
comigo.
À minha orientadora Marília Terra, por sua sabedoria, apoio, dedicação e idéias
magníficas, que, se eu pudesse, usaria todas. Afinal, foi com ela que aprendi na
geometria a exergar a arte.
À professora Venise Melo, que a todo instante estava disposta a me auxiliar. E
graças a sua visão tecnológica, pude achar a minha linguagem para este trabalho.
À professora Carla de Cápua, que mesmo diante de tantas orientações, ainda
encontrava tempo para poder me auxiliar, esclarecendo sempre dúvidas minhas.
Ao professor Darwin Longo, que sempre enxergou em mim o sucesso e a sabedoria.
À professora Maria Alice, que por três anos me proporcionou instruções , boas
conversas e risos.
Ao técnico Juscelino Cândido que me ajudou sempre que precisei, e tantas foram
essas vezes. Acredito que minha concepção concretizou-se graças a ele.
Obrigado.
Agradeço a todos os novos amigos que fiz durante esses 4 anos.
A Paula Garde que soube através de sua presença, dar o apoio que tanto precisava.
A Marina Torrecilha que soube sempre me trazer alegria em momentos tristes.
Ao Otávio Guimarães que chegava a se preocupar mais com meu trabalho do que
eu mesmo, sempre disposto a ajudar.
A Iara Corte que através de sua imensa ajuda, pude realizar meu projeto.
Aos amigos que fiz graças às monitorias, veteranos e calouros.
A Deus por me permitir esta reencarnação de aprendizado.
Obrigado.
"E assim as artes estão invadindo umas às outras, e de um uso apropriado dessa invasão
surgirá a arte que é verdadeiramente monumental."
Wassily Kandinsky
RESUMO
O presente trabalho mostra a aplicação de estudos sobre a geometria sob a forma de elementos gráficos da animação 3D em uma vídeoinstalação artística. Como base teórica, a pesquisa se embasou na arte de Malevich, Kandinsky e Mondrian, que utilizavam a geometria como elemento principal. Tendo como proposta temática os elementos naturais: terra, ar, fogo e água são abordados de uma maneira onde discuto sobre a inserção das mídias na arte. André Parente é um dos autores que aborda sobre a era das tecnologias do virtual, e junto com Niko Stangos que discute os conceitos da arte moderna, a idéia da Instalação é embasada para ser o meio de apresentação da obra. Não obstante, a importância do estudo está no fato de que, apesar da grande mudança dos processos de inovação tecnológica cabe ao homem que o processo artístico seja concluído. Palavras-chave: Malevich. mídias. vídeoinstalação.
ABSTRACT
This paper shows the application of studies on the geometry in the form of graphics, 3D animation in a video installation art. The theoretical base of the research was grounded in the art of Malevich, Kandinsky and Mondrian, who used geometry as the main element. Having proposed as thematic natural elements: earth, air, fire and water are addressed in a way where I discuss the inclusion of media in art. André Parente is one of the authors was that focuses on the technologies of the virtual, and along with Niko Stangos which discusses the concepts of modern art, the idea is based setup to be the means of presentation of the work. Nevertheless, the importance of the study is the fact that despite the major shift of technological innovation processes lies with the man's artistic process is completed. Keywords: Malevich. media. Video installation.
LISTA DE FIGURAS Fig. 01 – Proposta de Platão sobre os Sólidos.................................................. Fig. 02 – Sólidos Platônicos............................................................................... Fig. 03 – Malevich. Suprematismo..................................................................... Fig. 04 – Kandinsky. Composição VIII............................................................... Fig. 05 – Mondrian. Composition with yellow, blue and red……………………. Fig. 06 – Malevich. Composição Suprematista.................................................. Fig. 07 – Carl Andre, Equivalent VIII.................................................................. Fig. 08 – Donald Judd. Sem título...................................................................... Fig. 09 – Robert Smithson. Lago Utah……………………………………………..Fig. 10 – Marcel Duchamp. Fonte...................................................................... Fig. 11 – Floco de neve de Koch....................................................................... Fig. 12 - Joe Clarck. Cores................................................................................ Fig. 13 – Recortes no software Corel Draw....................................................... Fig. 14 – 3D Studio Max – 12 Dodecaedros...................................................... Fig. 15 – 3D Studio Max – Ico, Hexa, Tetra, Octa............................................. Fig. 16 – 3D Studio Max – 12 Dodecaedros já manipulados............................. Fig. 17 – 3D Studio Max – Ico, Hexa, Tetra, Octa............................................. Fig. 18 – 3D Studio Max – Timeline……………………………………………….. Fig. 19 – 3D Studio Max – Botões de comando.................................................Fig. 20 – Sound Forge Pro 10 – Editando audios………………………………... Fig. 21 – Windows Live Movie Maker – Adicionando vídeo e áudio.................. Fig. 22 – Windows Live Movie Maker – Adicionando vídeo e áudio.................. Fig. 23 – Modelo do Pentágono......................................................................... Fig. 24 – Modelo do Pentágano soldado........................................................... Fig. 25 – Modelo do Dodecaedro visto de frente............................................... Fig. 26 – Modelo do Dodecaedro visto de trás.................................................. Fig. 27 – Modelo do Dodecaedro....................................................................... Fig. 28 – Modelo do Dodecaedro....................................................................... Fig. 29 – Modelo do Dodecaedro externamente................................................ Fig. 30 – Trecho vídeo – Elemento Terra.......................................................... Fig. 31 – Trecho vídeo – Elemento Ar............................................................... Fig. 32 – Trecho vídeo – Elemento Fogo........................................................... Fig. 33 – Trecho vídeo – Elemento Água...........................................................Fig. 34 – Trecho vídeo – Elemento Universo..................................................... Fig. 35 – Thiago Dharlan. Dodecaedro.............................................................. Fig. 36 – Thiago Dharlan. Dodecaedro..............................................................
PG 15 16 17 18 18 23 26 26 28 29 31 32 36 36 37 37 38 39 39 39 40 40 41 42 43 43 44 44 45 47 48 49 50 51 57 58
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 2 GEOMETRIZANDO A ARTE.............................................................................2.1 Os Sólidos Platônicos..................................................................................... 2.2 Relações Matemáticas na Arte....................................................................... 3 ARTE E TECNOLOGIA..................................................................................... 3.1 Princípios Tecnológicos.................................................................................. 3.2 As Instalações.................................................................................................3.3 Fractal............................................................................................................ 3.4 As Mudanças Tecnológicas........................................................................... 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS......................................................... 4.1 Produção Artística.......................................................................................... 4.1.1 Produção dos Vídeos.................................................................................. 4.1.2 Produção da Instalação...............................................................................4.1.3 Resultados Práticos.................................................................................... 4.1.3.1 Terra......................................................................................................... 4.1.3.2 Ar.............................................................................................................. 4.1.3.3 Fogo......................................................................................................... 4.1.3.4 Água......................................................................................................... 4.1.3.4 Universo................................................................................................... CONCLUSÃO....................................................................................................... REFERÊNCIAS.................................................................................................... PORTIFÓLIO........................................................................................................ CURRICULUM.....................................................................................................
PG 12 14 14 16 25 25 26 31 32 35 35 35 41 45 47 48 49 50 51 52 53 55 59
12
1 INTRODUÇÃO
Ao analisar as aulas da disciplina de Fundamentos do Desenho
Geométrico do curso de Artes Visuais, oferecido pela Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, o artista depara-se com indagações de como a geometria participa
na arte, e também como utilizá-la de forma artística, sendo assim, busca neste
trabalho de conclusão de curso esclarecer através de uma pesquisa teórica como
isso é possível.
A proposta é explorar a geometria platônica de modo artístico
através de uma vídeoinstalação, onde o elemento principal é um Dodecaedro e a
partir dele se é discutido sobre as novas mídias inclusas na arte contemporânea
através das projeções externa e interna de vídeos dos poliedros em 3D. O novo
perfil do artista articula a prática criativa a um pensamento que lhe permite a
experimentação e a criatividade no campo da arte com o uso de dispositivos
técnicos.
No primeiro capítulo é realizada a pesquisa através de um
levantamento teórico sobre os cinco sólidos platônicos, onde Platão os relaciona
com os quatro elementos naturais (terra, fogo, ar e água) e mais tarde, Pitágoras
enumera o quinto elemento, o Cosmo.
Em seguida vem a abordagem de como a geometria sempre esteve
incluso nas belas artes, são exemplos Malevich, Kandinsky e Mondrian, pintores que
se utilizavam de teorias de cunho esotérico ou metafísico em suas obras. No caso
de Malevich, ele seguia a teosofia de Helena P. Blavatsky; Kandinsky, tanto a
teosofia quanto a antroposofia de Rudolf Steiner; já Mondrian, a Teosofia, e depois o
neoplatonismo de Schoenmakers. Todos os três artistas tratavam-se da tentativa de
descobrir a essência e o sentido da vida do homem em pleno contexto do
individualismo moderno.
No segundo capítulo é feito um levantamento teórico sobre as novas
mídias inclusas na arte contemporânea. De como e evolução tecnológica ajudou
para que suportes artísticos também evoluíssem, saindo da tela para a instalação.
Meio este, que faz com o que o observador torne-se participante da obra,
interagindo e manipulando-a. Nesta nova realidade digital, os artistas buscam
13
desenvolver propostas visuais que sejam significativas para as experiências
humanas com relação às novas técnicas.
No terceiro capítulo cada momento da criação da obra é descrito.
Passando pela análise de imagens, pelas manipulações e a criação de vídeos em
3D dos sólidos platônicos. Por ser uma vídeoinstalação, o áudio tende a ser algo
muito presente, portanto houve a inserção de uma trilha sonora para o vídeo, sendo
que em cada momento havia uma música simbolizando um elemento natural.
Por conseguinte, através de um projeto, são relatadas as etapas da
construção de um Dodecaedro, desde a criação dos pentágonos em ferro até o
momento de sua montagem final.
Na conclusão deste capítulo, cada momento do vídeo é analisado;
sendo este dividido em quatro partes referentes aos quatro elementos naturais
representado, sendo que todos expõem o olhar do artista.
Nas considerações finais são apresentados os resultados obtidos
durante a pesquisa e desenvolvimento deste trabalho de conclusão; a busca do
interpretar a geometria de forma artística para que assim novas idéias sejam criadas.
14
2 GEOMETRIZANDO A ARTE
Neste capítulo, inicialmente são apresentados assuntos
fundamentais para a construção da temática deste trabalho. Primeiramente os
sólidos platônicos são abordados a ponto de esclarecer as principais teorias de
Platão. Também são apresentados estudos sobre a correlação entre arte e
matemática, união que artistas utilizaram por momentos diferentes da história.
2.1 Os Sólidos Platônicos
Os sólidos platônicos são sólidos com polígonos1 regulares como
lados, repetidos simetricamente (CONTADOR, 2007, p. 71). Os gregos antigos
estudaram os sólidos platônicos exaustivamente. Algumas fontes, como Proclo (410
— 485) em seu Memoranda, 440, atribuem a descoberta destes sólidos a Pitágoras
(572 a.C. — 497 a.C.). Outras evidências, contudo, sugerem que Pitágoras conhecia
apenas o tetraedro, o cubo e o dodecaedro, enquanto que a descoberta do octaedro
e do icosaedro é atribuída a Teeteto (417 a.C.-369 a.C.), que também conduziu um
estudo mais aprofundado dos cinco sólidos regulares, incluindo a primeira
demonstração conhecida de que existem somente cinco destes sólidos (SPINELLI,
2003).
O nome sólidos platônicos ou corpos cósmicos foi dado devido à
forma pela qual Platão (427 a.C. - 34 a.C.), em um diálogo intitulado Timeu, os
empregou para explicar a natureza. Não se sabe se Timeu realmente existiu ou se
Platão o inventou como um personagem para desenvolver suas idéias. Em Timeu,
Platão associa cada um dos elementos clássicos (terra, ar, água e fogo) com um
poliedro regular. Terra é associada com o cubo, ar com o octaedro, água com o
icosaedro e fogo com o tetraedro. Com relação ao quinto sólido platônico, o
dodecaedro, Platão descrevia que faltava ainda uma quinta construção que o deus
utilizou para organizar todas as constelações do céu. (FIGUEIREDO, 2004). 1 Polígono é uma figura geométrica plana limitada por uma linha poligonal fechada. Disponível em: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Poligono)
15
Aristóteles introduziu um quinto elemento, éter, e postulou que os céus eram feitos
deste elemento, mas ele não teve interesse em associá-lo com o quinto sólido de
Platão (Fig 1).
Fig. 1 – Proposta de Platão sobre os Sólidos in Timeu, 440.
Para a construção desses sólidos, por definição, apenas podemos
utilizar polígonos regulares congruentes. Comecemos por considerar o triângulo
eqüilátero, que é o polígono regular com menos lados:
Se três triângulos eqüiláteros possuírem um vértice comum, dobrados de maneira que seus lados se toquem dois a dois, ao adicionar um quarto triângulo igual aos anteriores, formarão um tetraedro regular. Quatro triângulos eqüiláteros iguais, unidos pelo vértice, de forma que seus lados se toquem dois a dois, unidos com outros quatro nas mesmas condições, formarão um octaedro regular. Com cinco triângulos e o mesmo conceito podemos formar um sólido de vinte faces ou um icosaedro. Seis triângulos eqüiláteros, unidos por um dos vértices, encherão todo o espaço angular em torno desse vértice e não será possível formar um poliedro regular. Usando quadrados ao invés de triângulos só conseguiremos o cubo ou hexaedro regular. Usando pentágonos (ângulo interior de 108º), obtemos um sólido de doze faces ou o dodecaedro regular (Fig. 2). (CONTADOR, 2007. p. 72)
16
Fig. 2 – Sólidos platônicos (CONTADOR, 2007, p. 72)
2.2 Relações Matemáticas na Arte
Após a introdução sobre a geometria de Platão, vemos que adiante
artistas se utilizam dessa geometria como elemento principal. O pintor
ucraniano Kasimir Malevich (1878-1935) é, antes de qualquer outra
consideração, o criador e o único representante autêntico do Suprematismo,
corrente artística do início do século XX definida pela intenção de transmitir a
idéia da supremacia do espírito sobre a matéria, por meio das formas
geométricas (Fig. 3). A arte abstrata de cunho geométrico do período, no
entanto, não aparece exclusivamente na obra de Malevich (STANGOS, 1991,
p. 33).
17
Fig. 3 – Malevich. Suprematismo. Óleo sobre tela, 101,5cm x 62cm, 1915.
Fonte: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Kazimir_Malevich)
Surge, também, na obra investigativa do russo Wasily Kandinsky
(1866-1944), primeiro artista a trabalhar com abstração geométrica pura (sem a
referência visual da realidade) (Fig. 4) e entre os artistas do Neoplasticismo ou De
Stijl, notadamente no trabalho de seu maior e mais conhecido expoente, o pintor
holandês Piet Mondrian (1872-1944).
18
Fig. 4 – Kandinsky. Composição VIII. Óleo sobre tela, 140 x 201 cm, 1923.
Fonte: (http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/kandinsky/)
Fig. 5 – Mondrian. Composition with yellow, blue and red. Óleo sobre tela, 72.5 x 69 cm, 1937-42
Fonte: (http://en.wikipedia.org/wiki/Piet_Mondrian)
As obras e o pensamento de Malevich, de Kandinsky e de Mondrian
(Fig. 5), a despeito de sua origem, conceitos e história diversos, têm por base
comum, além da utilização sistemática da pura geometria, a utilização de teorias de
cunho esotérico ou metafísico. No caso de Malevich, a Teosofia de Helena P.
Blavatsky; em Kandinsky, tanto a Teosofia quanto a Antroposofia de Rudolf Steiner;
no caso de Mondrian, inicialmente inclinado à Teosofia, o Neoplatonismo do
matemático Schoenmakers, que, por sua vez, foi fortemente influenciado pelo autor
de “Life, art and mysticism”, o matemático L. E. J. Brouwer (STANGOS, 1991, p. 101
19
e 105). Apesar da aparente distância entre as formas de interpretação e utilização
dessas teorias, nos três casos a busca empreendida pelos artistas é praticamente a
mesma: sua intenção era lançar a possibilidade de um novo homem e de um novo
mundo, de forma a eliminar sua imperfeição e a estabelecer nova ordem, tanto
espiritual quanto social, onde reinasse uma harmonia ideal.
O surgimento das expressões artísticas de Malevich, Kandinsky e
Mondrian não é um acaso, nem é somente uma reação artística à invenção da
fotografia, em 1839, fato que explica em termos tecnológicos, o banimento da
figuração, do realismo e da tematização das obras das vanguardas modernas. A
busca comum aos três artistas dizia antes respeito ao período de crise representado
pelo fim do século XIX e início do século XX, já que “períodos de crise, em especial,
parecem produzir artistas que canalizam as ansiedades de seu tempo para suas
obras” (LYNTON, 1991, p. 24) tratava-se da tentativa de descobrir a essência e o
sentido da vida do homem em pleno contexto do individualismo moderno. Tratava-se
de produzir arte logo após a apresentação, por Nietzsche, de um mundo sem Deus,
onde e segundo o qual aquele que seria um criador devia ser, primeiro, um
destruidor, devia despedaçar os valores. Tratava-se de criar em um mundo onde,
segundo Horkheimer e Adorno (1985, p. 23), “os mitos caem vítimas do
esclarecimento”; onde cai aquilo que nada mais era que "produto do próprio
esclarecimento”, formas de “relatar, denominar, dizer a origem, mas também expor,
fixar, explicar” e que, cedo, deixaram de ser relato para se tornarem doutrina. O
homem moderno, a despeito de sua modernidade, não podia abrir mão de uma
doutrina; no máximo, poderia criar outra, onde o valor doutrinário repousava fora dos
limites da razão instrumental.
As crenças teosóficas vinham ao encontro do sonho moderno de um
futuro ideal: os segredos do mundo, da mente humana e desse próprio futuro
pareciam estar em vias de desvendamento pelas ciências de ordem positiva.
Restava então, o mistério da transcendência ou, por outro lado, da profundeza
incompreensível do inconsciente, aquela que a recém-criada psicanálise ainda
buscava alcançar. A arte representava a possibilidade de acesso ao que se
apresentava indizível; representava a porta mágica por onde entrar em um mundo
onde os limites do conhecimento, da natureza e da finitude humana e dos conflitos
inerentes à sociedade apresentavam-se como mero desafio para que se alcançasse
um momento de pura perfeição.
20
Dos três artistas, será Mondrian quem levará sua busca mais longe;
segundo sua utopia, no futuro a arte se tornaria desnecessária, já que a realidade
em si seria a mais pura expressão plástica. A arte abstrata era o caminho por meio
do qual o homem se libertaria da opressão que a natureza lhe impunha. Transposto
esse obstáculo, ele estaria preparado para viver em estado de pura arte, sem
necessidade da pintura, da escultura ou de qualquer outra forma de expressão
artística.
A produção artística de Mondrian abandona o figurativismo na busca
do que seriam as estruturas do mundo. Essas estruturas traduziam o mais essencial
e fundante aspecto da realidade visual, nas primeiras obras, e mental, nas mais
maduras. Seguiam o ideal do teósofo Schoenmakers, segundo o qual as linhas retas
ortogonais e as cores aceitas leigamente como primárias (amarelo, azul e vermelho)
constituíam os componentes de toda ordem universal. Schoenmakers exerceu
influência predominante na construção da imagem do De Stijl, ele sustentava o
pensamento neoplasticista na matemática, ou seja, em ato de converter a realidade
em construções controladas por nossas razões, para recuperar mais tarde essas
construções na natureza. Assim, ao impregnar a matéria como visão plástica –
levando-a um sistema de “purificação” da natureza que se baseava num processo
de redução radical da mesma em formas ortogonais de cores primárias – se chega a
essa nova expressão plástica de abstracionismo da natureza. Assim, a imagem
resultante, abstraída da natureza, tem o intuito de ser ressoada, de modo implícito,
pelo observador. Mondrian, ao final de sua vida, em New York, vivia literalmente
imerso em suas formas; seu estúdio-apartamento era decorado e ocupado com os
elementos presentes em sua obra desde que adotou as formas geométricas como
expressão da estrutura do mundo e da vida.
Apesar da coerência entre vida e arte vivenciada por Mondrian, será
Malevich quem deixará clara, em sua produção, a notável angústia espiritual do
homem moderno. Ele o expressará por meio de sua arte abstrata. O próprio
Kandinsky, responsável pela legitimação da arte abstrata na Europa e, sobretudo, na
Bauhaus – a inovadora escola de artes e ofícios criada pelo grupo liderado por
Walter Gropius (1883-1969) –, só se voltará para a abstração após conhecer o
trabalho de Malevich, no período em que retornou à Rússia, entre 1914 e 1921, em
decorrência da Primeira Guerra Mundial. Um elo comum aos dois é a preocupação
com a reforma social, segundo Argan, Malevich:
21
é um teórico; não se ocupa da exaltação e da propaganda dos ideais revolucionários, mas da rigorosa formação intelectual das gerações que irão construir o socialismo. A concepção de um mundo ‘sem objetos’ é, para ele, uma concepção proletária porque implica a não-propriedade das coisas e noções. Sua utopia urbanística-arquitetônica também se inspira nesse princípio: a ordem da sociedade futura será a de uma cidade onde ‘objetos’ e ‘sujeitos’ se exprimem numa única forma. O programa, que não terá sequência na Rússia, exercerá, por outro lado, notável influência na Alemanha, na formação do método didático da Bauhaus. (ARGAN, 1996, p. 325).
Malevich e Kandisnky viram o socialismo iniciar sua história na
Rússia, mas esse mesmo socialismo que os permitia sonhar com uma sociedade
perfeita também passou a exercer controle político sobre a arte, destituindo-a de seu
papel revelador. A utopia de ordem social, aparentemente distante da angústia
espiritual, será apenas mais um caminho buscado na tentativa de colocar em ordem
o novo mundo sem base transcendente; o mundo da modernidade. Aliás, pode-se
ressaltar o progressivo encaminhamento da Bauhaus em direção a um misticismo
eclético, sob a liderança do artista suíço Johannes Itten (1888-1967), à medida que
a situação política da Europa se complexificava, até a ascensão do Nacional-
Socialismo, o qual encerrou as atividades da escola que se tornava, aparentemente
e a partir de desvinculação política, um reduto da esquerda.
O caráter esotérico, apesar do vínculo político da obra de Malevich,
será o aspecto mais importante a ser verificado em suas pinturas. A atemporalidade
de sua obra se encontra não em seus ideais sociais, mas no ideal de um mundo
perfeito para o sujeito que ousa sonhar. Esse sonho, na pintura e na teoria de
Malevich, se fundamenta no sistema fechado e sem arestas proposto por Madame
Blavatsky. O processo de formação e de consolidação da obra de Malevich passará
por intenso e extenso caminho até atingir a maturidade; o Suprematismo.
22
Malevich estudou artes no Instituto Moscovita de Pintura, Escultura e
Arquitetura, no ano de 1903, tendo a partir daí se aventurado em diversas correntes
da arte de vanguarda, participando de grupos, exposições e de um salão; percorreu
desde o primitivismo2, passando pelo cubismo3 e por um futurismo4 incipiente, pelos
quais será fortemente influenciado, até finalmente chegar, na Última Exposição
Futurista (Petrogrado, 1915), a suas pinturas geométricas não-objetivas, ou
abstratas e não figurativas. Em 1919, sua experimentação levou essas formas,
então já chamadas de suprematistas, à sua aplicação em três dimensões, em
modelos arquitetônicos. O fato de fazer considerações sobre a forma arquitetural e
urbanística dá a perceber o âmbito do pensamento do artista: preocupava-o não só
a arte, mas a vida, a cidade. Engajado na Revolução Russa de 1917, juntamente
com outros artistas – especificamente do Construtivismo –, será encorajado a
desenvolver a arte de vanguarda que caracterizará a modernidade do Estado Russo.
Devido ao apoio do estado, esses artistas ocuparão importantes postos de ensino e
de administração.
Malevich chegou a ocupar o cargo de diretor da Escola de Arte
Popular de Vitebsk, ganhando proeminência e reconhecimento a partir de então.
Entre 1919 e 1920 fez uma exposição individual na XVIª Exibição Nacional de Artes,
em Moscou, onde o Suprematismo (Fig. 6) foi o foco das atenções. Funda, então,
com seus alunos de Vitebsk, o grupo suprematista UNOVIS. As idéias e os ideais do
suprematismo rapidamente se disseminam na Rússia e, em seguida, na Alemanha
onde, em Berlim, em 1927, participa da Grande Exposição Artística Berlinense. Na
Alemanha, entra em contato com diversos artistas da modernidade européia e,
sobretudo com Walter Gropius que, nesse momento, ainda dirigia a Bauhaus, a
escola que definiria rumos do design e da arquitetura do século XX. Devido a suas
relações com artistas e arquitetos alemães, Malevich será preso em 1930, um ano
2 O Primitismo prima pela simplicidade e pela ausência de algumas virtudes encontradas na arte erudita, sendo assim denominado em contraposição ao estilo artístico mais acadêmico. Disponível em: (http://www.infoescola.com/movimentos-artisticos/primitivismo/) 3 O Cubismo é um movimento artístico que ocorreu entre 1907 e 1914, tratava as formas da natureza por meio de figuras geométricas, representando todas as partes de um objeto no mesmo plano. A representação do mundo passava a não ter nenhum compromisso com a aparência real das coisas. Disponível em: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cubismo) 4 O Futurismo é um movimento artístico que rejeitava o moralismo e o passado, e suas obras baseavam-se fortemente na velocidade e nos desenvolvimentos tecnológicos do final do século XIX. Disponível em: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Futurismo)
23
após ser homenageado com uma exposição individual na Galeria Tretiakov, em
Moscou. A maior parte de seus manuscritos e estudos teóricos será destruída e a
última fase de sua pintura representará uma volta conformista ao figurativismo
temático, ao agrado do Estado Russo (NERET, 2001, p. 191 a 193). O
Suprematismo, no entanto, permanecerá na história.
Fig. 6 - Malevich. Composição Suprematista: Quadrado Negro Sobre
Fundo Branco. Óleo sobre tela. 106 x 106 cm. 1913. Fonte: (http://digitalarts.ucsd.edu/)
Com o Suprematismo, a idéia, o projeto de Malevich era pintar a
ausência. O Quadrado Negro sobre Fundo Branco é uma ausência de objeto
materializada como uma ontologia negativa; a ontologia da ausência e da falta. Mas
a ausência, ali, não funciona como tema da obra, não funciona como algo pintado
como símbolo ou signo que se deve interpretar como ausência. O quadrado negro,
sua onipresença massiva é e representa a pintura. Sua função é confrontar a
pintura, seu criador e seu observador com a experiência da ausência; uma
experiência real, materializada no vazio do negro, na espessura do negro, que é a
própria ausência de objeto, de tema, de pintura como era conhecida até então.
Dessa forma, negando o objeto e a pintura, Malevich pinta o “nada”; dá imagem,
forma e matéria ao nada sem, entretanto, limitá-lo, já que a forma quadrada nada
mais é do que um eco da forma da tela. Tendo recebido forma, esse vazio, essa
ausência, esse nada ganha, na pintura de Malevich, objetividade. A presença da
ausência, então, se materializa como objeto dado; como a morte se materializa
quando está próxima. A idéia da morte e mesmo a da transcendência não são temas
24
dessa pintura; não estão presentes na tela. Mas a presença da ausência,
manifestada por Malevich, vai buscar eco no inconsciente humano: ali, vai encontrar
imagens arquetípicas do fim – e também do início (NERET, 2001, p. 93). A cor
negra, sua presença absoluta, diz respeito àquilo sobre o que não há nada a falar;
sobre o que está além do mundo material regido pela consciência, sobre o que está
além da razão que tudo explica, mas que religiões e seitas procuraram explicar até
que o homem iniciou sua busca pela compreensão racional do mundo; busca que se
inicia, com maior vigor, no Renascimento e que tem sua apoteose na modernidade,
onde ainda permanece a dialética entre o científico e o mitológico, entre o racional e
o irracional.
Malevich apreendeu o mundo destruído em que vivia e ousou buscar
uma utopia. Como Kandinsky, que buscou romper as amarras do real, expressando
a pura relação de formas que remete as sensações e a mente para mais além do
acabrunhamento de um mundo então sem sentido, ou como Mondrian, que ousou
dar os primeiros passos em direção a um novo mundo pleno de ordem, o artista
ucraniano permitiu-se sonhar com uma harmonia que só se realizava na arte. Para
Malevich, provavelmente, a harmonia que conseguia atingir em suas telas era o
espelho daquela apregoada por Blavatsky: a harmonia que evoca a abertura de
mundo que só uma obra de arte é capaz de operar no espírito do homem. A
geometria representava, ao mesmo tempo, a ausência e a presença do humano: em
um resgate da lógica clássica, era a linguagem de um demiurgo cuja obra se
mostrava tão irrepreensível quanto à matemática, afastada do erro da mão do
homem. Por outro lado, era o apelo deste homem despido de Deus, do ser que
operava máquinas e dominava a natureza, mas que se via carente de algo maior, de
um lugar aonde chegar, já que a história parecia ter chegado ao fim.
25
3 ARTE E TECNOLOGIA
Neste capítulo é apresentado uma breve história dos meios
tecnológicos, sua relação com a arte e a busca de técnicas que pudessem unir
ambos de forma plena. Aborda como as instalações ganharam campo no meio das
artes e como a mistura de suportes e materiais junto à tecnologia, pode gerar
grandes trabalhos. No decorrer deste capítulo haverá um paralelo com a obra
apresentada neste trabalho.
3.1 Princípios Tecnológicos
O trajeto seguido pela arte contemporânea tem sido o de se conduzir
à vida, negando gradativamente tudo aquilo que se relaciona de forma mais direta
aos conceitos da estética tradicional: a moldura da pintura e o pedestal da escultura,
a utilização do suporte de representação, a exposição em espaços convencionais,
como museus e galerias de artes, a dicotomia obra/público. Nessa perspectiva,
evidencia-se o emprego de materiais industriais e de uso cotidiano. Tijolos, placas
de alumínio ou acrílico e tubos de luz fluorescente são fontes de experimentação
estética na arte minimalista5 de Carl André (Fig. 07) e Donald Judd (Figura 08).
5 O minimalismo procurava através da redução formal e da produção de objetos em série, que se transmitisse ao observador uma percepção fenomenológica nova do ambiente onde se inseriam. Disponível em: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Minimalismo)
26
Fig. 07 - Carl Andre, Equivalent VIII. Tijolos. 12,7 x 68,6 x 229.2 cm. 1966
Fonte: (http://www.tate.org.uk/tateetc/issue7/carlandre.htm)
Fig. 08 – Donald Judd. Sem título. Acrílico e Alumínio. Dimensão variável. 1990
Fonte: (http://www.juddfoundation.org/)
3.2 As Instalações
A arte povera faz uso de materiais “desprovidos de valor”, como
terra, areia ou detritos. Bem como a utilização de paisagens e ambientes naturais.
Acrescente-se a esse repertório o fato de que os meios de comunicação e os
27
suportes tecnológicos, como vídeo, computador ou “televisão de varredura lenta”,
começam a fazer parte do cenário artístico. Para alguns, esse itinerário seguido pela
arte evidencia sua sentença de morte, como se pode ser analisado pela filosofia em
A arte na era da reprodutibilidade técnica (BENJAMIM, 1986), onde o autor
questiona a tecnologia inclusa na arte, deteriorando as vanguardas.
É indispensável levar em conta essas relações em um estudo que se propõe estudar a arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porque elas preparam o caminho para a descoberta decisiva: com a reprodutibilidade técnica, a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história, de sua existência parasitária, destacando-se do ritual. A obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução de uma obra de arte criada para ser reproduzida. (...) Mas, no momento em que o critério da autenticidade deixa de aplicar-se à produção artística, toda a função social da arte se transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra práxis: a política (BENJAMIN, 1985, p. 171 e 172).
Como muito utilizada na arte povera, a Instalação é um fazer
artístico muito utilizado no panorama das artes no século XX e início do XXI. Embora
já bastante discutida, conta ainda com frágil definição e com muitos pontos a serem
pesquisados de forma incisiva.
Como boa parte da produção artística contemporânea a Instalação
não permite rotulação única, por seu princípio experimental. O conceito, a intenção
do artista ao formular seu trabalho é em grande parte a essência da própria obra, na
medida em que a instalação emerge no contexto da Arte Conceitual.
A arte conceitual é o ápice do radicalismo da proposta estética da modernidade cultural. [...] a rápida e sinuosa trajetória de inovações e novidades da arte no século 20, a partir da crise do século 19, concluiu-se, de certa forma, na arte conceitual. [...] O objeto estético, que na história da arte quase sempre havia coincidido com alguma corporificação material, na arte conceitual desmaterializa-se. Sem um corpo físico, o objeto estético da arte conceitual abre um vácuo, preenchido por outras instâncias da criação, em alguns casos revelando novas dimensões do fazer artístico. [...] Paradoxo da arte conceitual, como de resto da arte moderna, é a sua dupla condição de existência: por um lado é herdeira de uma sucessão de propostas estéticas, cubismo, dadaísmo6, land-art7 (Fig. 09), arte povera,
6 Dadaísmo foi uma vanguarda moderna iniciada em Zurique, em 1916, por um grupo de escritores e artistas plásticos. Sua tendência extravagante e baseada no acaso serviu de base para o surgimento de inúmeros outros movimentos artísticos do século XX. Disponível em: (http://www.historiadaarte.com.br/dadaismo.html)
7 Land Art é o tipo de arte em que o terreno natural, em vez de prover o ambiente para uma obra de arte, é ele próprio trabalhado de modo a integrar-se à obra. Disponível em: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Land_Art)
28
etc., por outro lado, nega a possibilidade da arte enquanto instituição sócio-cultural, enquanto tradição. Assume o ideário antiarte, contestatório, típico das décadas de 60 e 70. (WERNER, 1991, p. 4)
Fig. 09 - Robert Smithson. Lago Utah. 1970. Fonte: (http://blog.greenmuseum.org/blog/?m=200802)
A Instalação, enquanto poética artística permite uma grande
possibilidade de suportes, a gama variada de possibilidades, em sua realização
pode integrar recursos de multimeios, por exemplo, videoarte, caracterizando-se em
uma videoinstalação. Esta ultima sendo a linguagem que utilizei através das Caves8
que surgem mais tarde a partir de pesquisas na Universidade de Illinois, são
ambientes que respondem às ações do corpo inteiro, num espaço imersivo de um
ambiente com imagens projetadas, o que permite a sensação de habitar o ambiente
virtual que está aberto à interação. As projeções permitem que o participante se
desloque podendo recuar, olhar para cima, para o chão, movimentando-se dentro do
ambiente. Afinal, o participante sente-se totalmente imerso no ambiente.
8 O termo “CAVE (Cave Automatic Virtual Environment) é uma marca que se refere a um ambiente de realidade virtual imersiva, patenteado pela University of Illinois, Board of Trustees e da qual Fakespace Systems Inc. é seu explorador exclusivo” (DOMINGUES, 2004, p. 44).
29
Esta abertura de formatos e meios faz com que esta modalidade se
situe de forma totalmente híbrida9 na produção artística contemporânea, exemplo
disso é o seu precursor Marcel Duchamp. A verdadeira celeuma surgiu alguns anos mais tarde com a Fonte de Duchamp (Fig. 10). A história é conhecida de todos. [...] Ele comprou um urinol em uma loja de ferragens e o submeteu como escultura — assinada com o pseudônimo "R. Mutt" — aos outros membros do comitê. (WOOD, 2002, p. 12)
Fig. 10 - Marcel Duchamp. Fonte. Porcelana. 30 x 48 x 61 cm. 1917, réplica 1964.
A obra contemporânea é volátil, efêmera, absorve e constrói o
espaço à sua volta, ao mesmo tempo, que o desconstrói. A desconstrução de
espaços, de conceitos e idéias está dentro da práxis artística da qual a Instalação se
apropria para se afirmar enquanto obra.
Essencialmente é a construção de uma verdade espacial em lugar e
tempo determinado. É passageira, é presença efêmera que se materializa de forma
definitiva apenas na memória. O sentido de tempo, no caso da fruição estética da
9 Utiliza-se de mídias diferentes para sua produção. Nas instalações, por exemplo, utilizam-se do vídeo, internet, som, projeções entre outras que têm seus significados unidos na proposta de tal manifestação artística.
30
Instalação é o não-tempo, onde esta fruição se dá de forma imediata ao apreciar a
obra in loco, mas permanece em sua fruição plena como recordação.
Essa questão do tempo é crucial na Instalação, fazendo com que o
homem questione a respeito desse tempo e sua interação com a própria obra. Nesta
condição pode-se indicar algumas características próprias das Instalações da
década de 70.
Na década de 60, os artistas passaram a questionar os suportes
tradicionais da arte e fazer trabalhos que mais tarde ficaram conhecidos como
Instalações, por exemplo, Hélio Oiticica. Seus trabalhos tinham em comum a
apropriação de espaços e o questionamento da arte em suas modalidades
convencionais, pintura e escultura, apoiando-se na Arte Conceitual e nos meios
artísticos.
Que estamos agora em outro ciclo, que não é mais puramente artístico, mais cultural... a esse novo ciclo de vocação antiarte chamaria de arte pós-moderna.[...] A beleza, o pecado, a revolta, o amor dão a arte desse rapaz um acento novo na arte brasileira. Não adiantam admoestações morais. Se querem antecedentes, talvez este seja um: Hélio é neto de anarquista. (PEDROSA, 1996)
A utilização da Instalação é um fenômeno destacável na Arte
Contemporânea, sendo uma das mais importantes tendências atuais. A instalação,
na Contemporaneidade tornou-se mais complexa e multimidiática, enfatizando a
interatividade com o público. As combinações com várias linguagens como vídeos,
filmes, esculturas, performances e a computação gráfica, fazem com que o público
se surpreenda e participe da obra de forma mais ativa, pois ele é o objeto último da
própria obra, sem a presença do qual a mesma não existiria em sua plenitude.
Esta participação ativa em relação à obra faz com que a fruição da
mesma se dê de forma plena e arrebatadora, o que em muitos casos pode até
mesmo tornar esta experiência incômoda e perturbadora.
A necessidade de mexer com os sentidos do público, de instigá-lo,
quase obrigá-lo, a experimentar sensações, sejam agradáveis ou incômodas, faz da
Instalação um espelho de nosso tempo. Pode-se dizer de fato que a Instalação é
uma obra a qual só faz sentido se vista e analisada em seu tempo-espaço.
31
3.3 Fractal
Os artistas sempre se influenciaram por diferentes ramos das
ciências em todas as épocas. Exemplo disso na nossa época vem ser a geometria
fractal. Um exemplo de um fractal é a curva do floco de neve construída pegando um
triângulo eqüilátero e construindo assim outros triângulos menores repetidamente
(fig. 11).
Fig. 11 – Floco de neve de Koch
Fonte: (http://tatooine.fortunecity.com/stephenson/51/matematica/geofractal.html)
O Fractal é uma das áreas da matemática que vem ganhando
atenção nos últimos anos. Desenvolvida e sistematizada por Benoit Mandelbrot, ela
coloca em xeque o sistema euclidiano de representação, ao desenvolver um novo
tipo de geometria, diferente da geometria clássica. A utilização desta arte (fig. 12)
em auxílio à ciência não pode ser dissociado do computador e não teria sido
possível sem o desenvolvimento do hardware e do software.
Na geometria fractal o esforço é, habitualmente, tão extraordinariamente simples a ponto de parecer bobo. O resultado, ao contrário, pode ser maravilhoso. (Mandelbrot, in PARENTE, 1993, p. 196)
32
Fig. 12 – Joe Clarck. Cores
Fonte: (http://entertainment.webshots.com/album/560250549zGGqtV?start=0)
Assim, fórmulas matemáticas podem dar origem a uma quantidade
de estruturas gráficas. E com o fractal muitas pessoas podem ser criadoras de
obras-de-arte, através da utilização da informática.
3.4 As Mudanças Tecnológicas
Depois do registro da imagem pela fotografia e pelo cinema, as
investigações sobre o assunto progrediram muito, e com o trabalho de engenheiros
e técnicos, surgiu a televisão. Desta forma, foram desenvolvidas técnicas de
representação numérica, que podem controlar as imagens automáticas (fotografia,
cinema, televisão), as quais são transmutadas em números para serem tratadas, e
manipuladas. Hoje, os artistas devem se utilizar das novas tecnologias, para que
estas trabalhem a seu favor.
Na visão de Derrik de Kerckhove “o mundo das interfaces é o reino
privilegiado da nova arte, não somente porque ele constitui um ambiente acessível à
pesquisa, mas porque representa uma metáfora tecnológica dos sentidos.” (In
PARENTE, 1993).
33
Mudanças tecnológicas e a crença de que os artistas são os que
melhor convivem com tais mudanças, sendo eles, os possíveis elos do sujeito
comum com este novo mundo.
falar de uma arte da tecnociência, de uma arte em que intenções estéticas e pesquisas tecnológicas fundadas cientificamente parecem ligadas indissoluvelmente, e em todo caso, se influenciam reciprocamente (Frank Popper in PARENTE, 1993, p. 203).
O novo perfil do artista articula a prática criativa a um pensamento
técnico-científico que lhe permite a experimentação e a criatividade no campo da
arte com o uso de dispositivos técnicos. O desenvolvimento tecnológico e o seu uso
pela prática artística mantêm uma relação de influência mútua: novas possibilidades
desenvolvidas em laboratórios pela ciência permitem novos horizontes de expressão
e novas formas de percepção ao mesmo tempo em que demandas da tecnologia
surgidas no campo da arte puderam ser incorporadas pela utilização industrial dos
dispositivos técnicos. Essas transformações, ocorridas a partir do início do séc. XX
atingiram também o âmbito da fruição estética, pois a percepção também se
modificou devido às novas modalidades de apresentação a partir das máquinas e
dos recursos expressivos contidos em seus programas, que deram outra dimensão à
representação imagética.
As instalações, mais tarde, vieram a ser a arte mais participativa
nesse meio durante um tempo. A escultura que até então era para ser vista,
começou a ser participativa com o público. Podia-se percorrê-la, vesti-la, cheirá-la e
senti-la.
Simultaneamente ao processo de aproximação entre arte e
tecnologia, observa-se também, desde o início do século XX, uma nova ligação
entre a arte e os diversos ramos das ciências. Importante ressaltar que a relação
das artes com o mundo das ciências não é recente e muito menos fruto do século
XX.
Já no renascimento os artistas utilizavam uma série de preceitos
científicos – da geometria, anatomia, dissecação, óptica, teoria das cores, etc. –
para desenvolver suas propostas estéticas. Foi a partir do século XX que essa
interface ganhou maior amplitude e complexidade.
34
Antes o homem era governado por uma subjetividade inconsciente,
hoje quem faz isso é a máquina. Claro que não de uma subjetividade humana, mas
maquínica (MACHADO, 1996). Hoje as mídias e telecomunicações tendem a
duplicar as antigas relações orais e escritas, as matérias-primas naturais vão dando
espaço a novos materiais, com a velocidade das máquinas, milhares de dados
podem ser tratados em pouquíssimo tempo e a engenharia biológica busca novas
modelações de formas vivas.
Há tecnologia onde quer que um dispositivo, aparelho ou máquina for capaz de encarar, fora do corpo humano, um saber técnico, um conhecimento científico acerca de habilidades técnicas específicas. (SANTAELLA, 2003, p, 152)
Nesta nova realidade digital, os artistas buscam desenvolver
propostas visuais que sejam significativas para as experiências humanas com
relação às novas técnicas.
Essas mudanças da cultura dizem respeito ao mesmo tempo à
criação da imagem, sua percepção e sua socialização. O novo estatuto do artista, da
obra e do espectador se define a partir da situação do hoje. Nesta nova era, o
pensamento técnico e o pensamento simbólico se encontram, modificando o pensar
e fazer dos artistas.
35
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo é apresentada toda a produção artística deste
trabalho. Aborda primeiramente todos os passos para se criar a proposta virtual. Em
seguida todo o projeto da instalação é demonstrado a fim de esclarecer como tal
proposta pode ser trabalhada em outros locais também. Por fim, é feita a análise da
obra como um todo, abordando como as imagens e sons fazem um paralelo com
todo o trabalho teórico aqui apresentado.
4.1 Produção Artística
A etapa de criação artística do trabalho foi produzida por meio de uma
instalação desenvolvida em duas etapas. A primeira consiste no projeto da
instalação da obra, em seus problemas técnicos, os vídeos, as imagens, os
aparelhos a serem utilizados, bem como a quantidade. Já num segundo momento, a
obra entra em execução e parte-se para a montagem da instalação.
4.1.1 Produção dos Vídeos
O primeiro passo para o desenvolvimento da produção foi a escolha
das fotografias referente aos quatros elementos naturais e do cosmo, para poder
relacioná-las com os poliedros de Platão. Cada imagem escolhida, vem de
coletâneas de banco de imagens (http://www.olhares.com, http://www.corbis.com.br).
Após a aplicação das imagens no software Corel Draw X3, muitas
foram descartadas. Das restantes, todas foram redimensionadas para um tamanho
quadrangular, pois assim facilitaria na aplicação das faces em outro programa a ser
utilizado (Fig 13).
36
Fig. 13 – Recortes no software Corel Draw
O software para criação de imagens e vídeos em 3D, foi o programa
3D Studio Max 2010, que possui funções de projetar poliedros e várias faces, incluse
os poliedros de Platão. Portanto, no caso do Dodecaedro foram criados 12 poliedros,
já que este possui o mesmo número de faces (Fig. 14). O mesmo aconteceu com os
outros 4 sólidos platônicos (Fig. 15).
Fig. 14 – 3D Studio Max – 12 Dodecaedros
37
Fig. 15 – 3D Studio Max – Ico, Hexa, Tetra, Octa
Após a criação dos cinco poliedros, foi necessário anexar cada
fotografia, já editada antes, em suas respectivas faces. O programa 3DS Max
permite mapear um poliedro e em cada face, colocar uma figura diferente. O plano
do Dodecaedro resultou em 12 poliedros com 12 imagens de cosmos (Fig. 16)
Fig. 16 – 3D Studio Max – 12 Dodecaedros já manipulados
38
O mesmo procedimento teve que ser efetuado nos outros quatro
planos. No plano do Cubo foram utilizadas apenas imagens do elemento terra, tendo
em destaque a cor verde.
A cor tem uma grande importância no resultado final do trabalho,
afinal, serão as projeções coloridas responsáveis pela cor na cave, já que este será
todo revestido de malha branca.
No Tetraedro foram aplicadas imagens relacionadas ao fogo, onde o
preto, laranja, amarelo e vermelho predominam. No Octaedro, que representa o
elemento ar, foram usadas as imagens relacionadas a esse tema, porém suas cores
foram mais difíceis de serem definidas pelo fato do elemento ser gasoso. Logo
houve o uso dos tons de cinza, branco e azul. Por fim, e não menos importante, no
Icosaedro, o elemento água entra em destaque possibilitando o uso da cor azul (Fig.
17).
Fig. 17 – 3D Studio Max – Ico, Hexa, Tetra, Octa
Após todos os cinco poliedros já estarem com suas faces
modificadas pelas fotografias, resta animar cada plano. No próprio 3DS Max é
possível fazer tais animações, onde em sua timeline (Fig. 18) determina-se a
quantidade de frames e assim chaves coloridas são aplicadas de acordo com os
movimentos como direção e sentido, que podem ser aplicados pelos botões
disponíveis na barra de propriedades do programa (Fig. 19).
39
Fig. 18 – 3D Studio Max – Timeline
Fig. 19 – 3D Studio Max – Botões de comando
O resultado final dessas animações foram cinco vídeos distintos,
exportados em alta qualidade para a inserção de áudio em outro programa.
Pela obra resultar numa vídeointalação, o áudio assume grande
importância diante o participante. Pois é através do som e seu volume que o permite
sentir a obra, explicando assim o porquê da intitulação de cave.
Para cada elemento foi escolhido um áudio que melhor casaria com
as imagens, com os movimentos e com o elemento natural em si. Através do
software Sound Forge Pro 10 (Fig. 20) cada áudio escolhido precisou ser editado.
Foi necessário cortes das músicas, bem como a alteração do volume e tempo de
percurso.
Fig. 20 – Sound Forge Pro 10 – Editando áudios
40
Como procedimento final do vídeo, com a ajuda do programa
Windows Live Movie Maker, que é um software de edição de vídeo bem simples, os
áudios foram adicionados aos vídeos (Fig. 21).
. Fig. 21 – Windows Live Movie Maker – Adicionando vídeo e áudio
Após a inserção dos áudios e vídeos, foi necessário a repetição da
animação para que o tempo do vídeo aumentasse e casasse perfeitamente com o
áudio (Fig. 22). Para cada vídeo inserido foram necessário efeitos como
aparecimento e desaparecimento do vídeo gradualmente.
Fig. 22 – Windows Live Movie Maker – Adicionando vídeo e áudio
41
4.1.2 Produção da Instalação
Para a montagem de um Dodecaedro como cave, foi necessário a
confecção de dozes pentágonos, cada um possuindo 2,45m da altura, 2,30m de
diagonal e 1,50m de lado. Sendo assim, o melhor material para se utilizar foram
barras de ferro 5/16 de 8mm de espessura para que a estrutura fosse forte e
resistente.
A confecção dos pentágonos foi feita por meio de solda. Devido ao
tamanho exorbitante foi preciso a recriação (desenho) de um pentágono no chão,
para que o tamanho dos lados e do ângulo interno de cada vértice fossem todos
exatos (Fig. 23).
Fig. 23 – Modelo do Pentágono de lado 1,5m e 108º de cada ângulo interno
Após o corte das barras de ferro, foi feita a solda de cinco arestas
para formar o pentágono, dez destes, tiveram mais dois pedaços da barra de ferro
soldados nos meios, assim, a estrutura teria melhor sustentabilidade (Fig 24). Dois
pentágonos não precisaram desse reforço, pois seriam a entrada da cave do
Dodecaedro e o chão do mesmo.
42
Fig. 24 – Modelo do Pentágono soldado
Após todos os 12 pentágonos de ferro terem sidos unidos por
abraçadeiras, foi necessário revestir cada lado do dodecaedro com uma malha
específica para backlights, a helanquinha, de cor branca. Todo o Dodecaedro foi
revestido internamente e externamente.
Em seu interior foi estendido um pedaço da malha, de 4,00m, sendo
que é nessa malha que será feita a projeção do vídeo da proposta. Na ilustração
abaixo, a malha está sendo demonstrado em cinza (Fig. 25). A pessoa situada à
frente, serve para demonstrar sua relação de tamanho e de observação da obra, ou
seja, não será necessário que ela entre por completo na cave para a visualização
das projeções.
43
Fig. 25 – Modelo do Dodecaedro visto de frente
A projeção interna será feita ao estilo backlight, portanto tudo será
feito no fundo da cave em formato de Dodecaedro (fig. 26).
Fig. 26 – Modelo do Dodecaedro visto de trás
Para a realização da projeção é necessário um data-show conectado
com um dispositivo, como exemplo, um notebook. Por ser uma projeção ao estilo
44
backlight, o data-show (B) será posicionado atrás da malha estendida no interior do
Dodecaedro. A projeção (C) será direcionada a priori em um espelho (A), pois este
será o responsável pelo aumento da imagem (Fig. 27).
Fig. 27 – Modelo do Dodecaedro
Após o vídeo projetado no espelho, a imagem será direcionada para
a malha (Fig. 28). A área projetada tomará as cores do vídeo, como na ilustração
abaixo, onde o elemento terra tem o verde como cor principal.
Fig. 28 – Modelo do Dodecaedro
45
Em seu exterior será feita uma projeção vertical em cima do
Dodecaedro (Fig. 29). O vídeo projetado será a animação dos dodecaedros, que tem
como elemento o cosmo, o universo, e suas cores são o roxo, o lilás e suas outras
variações. Cabe a esta projeção o colorido externo da cave.
Fig. 29 – Modelo do Dodecaedro externamente
4.1.3 Resultados Práticos
Após todos os trabalhos práticos do curso de graduação e o
aprofundamento na geometria e nos novos meios tecnológicos durante os anos, a
produção artística da presente pesquisa dá continuidade ao assunto. O trabalho
46
abaixo está embasado em toda teoria explanada anteriormente, detalhando cada
assunto trabalhado.
A fim de responder questões como “Onde vou utilizar isso?” e “Para
que estou aprendendo isso?”, decidi me dedicar a uma obra onde a geometria
pudesse ser o ponto central de todo o trabalho. Durante meses de análises,
precisava criar algo novo, artístico-tecnológico, que no entanto envolvesse a
geometria.
Após os estudos com os sólidos platônicos e as analogias que
Platão fez com os elementos naturais, percebi que poderia abordar artisticamente
esse assunto. Surgiu nesse momento a idéia de uma Instalação, tendo em destaque
os elementos naturais: terra, fogo, agua e ar.
Busquei indargar-me qual poliedro seria escolhido como principal,
para tornar-se a cave. Porém nada mais justo ter um Dodecaedro, já que este
representa o universo e o cosmo, portanto abrangeria todos os outros quatros
poliedros de uma forma geral. Estes poderiam ser representados virtualmente,
através da projeção do vídeo. Tudo isso acabou resultando numa vídeoinstalação,
linguaguem a ser bem utilizada na arte contemporânea.
Sendo assim, em seguida faço uma análise de cada momento do
vídeo, bem como a trilha sonora escolhida.
47
3.1.1.1 Terra
O Hexaedro (ou cubo) se relaciona com a terra por causa da
estabilidade que o cubo traz, devido ao seu peso e à sua incapacidade de
movimento. O vídeo mostra seis cubos em movimento. Essa quantidade é devido ao
número de seus lados (Fig. 30).
Fig. 30 – Trecho vídeo – Elemento Terra
Para a trilha sonora do vídeo, a música escolhida foi: Presence –
Guem/ Claire de Lune, onde batuques simbolizam tribos, terra, mato.
48
3.1.1.2 Ar
O Octaedro se relaciona com o ar por causa da instabilidade. Essa
instabilidade é causada pelo fato que esse poliedro só fica estável segurado por dois
vértices opostos, já que possui apenas oito lados (Fig. 31).
Fig. 31 – Trecho vídeo – Elemento Ar
A trilha sonora escolhida foi: Adágio-Concerto no. 4 Brandenburg –
Bach. Os sons dos violinos trazem a sensação de tranqüilidade que os sons do ar
possuem.
49
3.1.1.3 Fogo
O Tetraedro se relaciona com o fogo, pois dos quatro elementos ele
é o mais seco. Isso é causado pelo fato de possuir apenas quatro lados. No vídeo,
quatro poliedros interagem-se entre si (Fig. 32).
Fig. 32 – Trecho vídeo – Elemento Fogo
Devido à agressividade que o fogo possui, sua trilha sonora é
composta pela música Tempestade (Sinfonia Pastoral Nº 6) – Beethoven. Onde o
som imponente se alinha com a animação do vídeo.
50
3.1.1.4 Água
O poliedro Icosaedro é relacionado com a água por ser o elemento
mais úmido. Essa umidade causada é devido a quantidade de lados que tem,
totalizando vinte, o que resultou em vinte poliedros animados no vídeo (Fig 33).
Fig. 33 – Trecho vídeo – Elemento Água
A Place Among The Stones – Maire Brennan/Misty Eyed Adventures
foi a música escolhida para ser a trilha sonora do vídeo. A água por ser um elemento
que nos traz a sensação de paz, o som da música é bem calmo, casando certo com
a animação um pouco mais lenta que as outras.
51
3.1.1.5 Universo
O dodecaedro é representado pelo universo, pois tem doze faces e o
universo possui doze zodíacos (Fig. 34). O vídeo tem doze dodecaedros animados,
porém sem trilha sonora, já que este vídeo apenas será apresentado externamente
à cave, pois esse dá abertura a todos os elementos encontrados na natureza: terra,
ar, fogo e água.
Fig. 34 – Trecho vídeo – Cosmos
52
CONCLUSÃO
Este trabalho é marcado pela busca de como mostrar a geometria
de uma forma artística que atraia olhares e desperte interesse às pessoas pela
matemática.
A busca foi conquistada a partir do momento em que a obra
apresentada causou indagações ao público de como se era possível a realização de
tal feito. O observador ao se deparar com a vídeoinstalação tinha a curiosidade de
saber o motivo da cave ser no formato de um dodecaedro, bem como tocar, sentir a
obra. Isso tudo obedecendo a uma linguagem artística em que depois de muito
estudo e aprofundamento teórico, o artista soube conduzir.
Um ponto muito importante para a conclusão da obra foi o fato de
ser preciso um projeto teórico, para saber qual caminho percorrer por várias técnicas
e materiais diferentes. E logo após estudar cada situação, saber ao certo como
realização a montagem.
O tema, o estudo sobre a linguagem, técnica, tema e o
amadurecimento de uma expressão artística, foram estudos realizados através de
dois anos a fim de contribuir para a ampliação do saber do artista, que se dá
satisfeito ao ver todo seu trabalho e esforços, concluídos.
53
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
ARGAN. Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo; Cia. das Letras, 1986.
BENJAMIM, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. (Versão original, 1935). Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1986.
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2004.
CARVALHO, Benjamin de A. Desenho Geométrico. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1986.
CONTADOR, Paulo Roberto Martins. A matemática na arte e na vida. São Paulo: Editadora Livraria da Física, 2007.
DOMINGUES, Diana. Realidade virtual e a imersão em caves. Conexão – comunicação e cultura UCS, Caxias do Sul, v.3, n. 6, p. 35-50, jul.-dez./2004.
FIGUEIREDO, Maria José. Platão: Timeu. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.
LYNTON, Norbert. Futurismo. In: STANGOS, Nikos (org.). Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
MACHADO, Arlindo. Máquina e imaginário. O desafio das poéticas tecnológicas. São Paulo, EDUSP, 1996.
NERET, Giles. Malevich. London: Taschen, 2001.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Martim Claret, 2004.
54
PARENTE, André. Imagem e Máquina: A era das tecnologias do virtual. Rio de. Janeiro: Editora 34, 1993.
PEDROSA, Mário. Arte ambiental, arte pósmoderna, Hélio Oiticica. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 26 de junho de 1966.
RICKEY, George. Construtivismo: origens e evolução. São Paulo: CosaC e Naify, 2002.
SANTAELLA, Lúcia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. 2ª Ed., Porto Alegre: Edipucrs, 2003.
STANGOS, Nikos (org.). Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
WERNER, João. Folha de Londrina, Caderno 2. Página 4. 1991
WOOD, Paul. Arte conceitual. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
Sítios Consultados: Robert Smithson. <http://www.robertsmithson.com/> acessado em: 10 de Ago. 2010. UOL Educação. <http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u464.jhtm> acessado em: 10 de Ago. 2010.
MAC USP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. <http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo5/instalacao.html> acessado: em 20 de Jul. 2010.
55
56
APRESENTAÇÃO
A obra aqui apresentada afirma a questão de como a tecnologia
envolvida à arte, pode trazer bons resultados. A obra possui o nome de
Dodecaedro, uma vídeoinstalação que tem a dimensão de 430x430cm.
O resultado final, fora um dodecaedro de grandes proporções,
revestido de malha, tanto em seu interior quanto no exterior, onde a projeção
exterior era um vídeo mudo com imagens do elemento cosmo, universo. Em seu
interior, a projeção era de um vídeo com os quatro elementos naturais, possuindo
uma trilha sonora para cada elemento.
A primeira imagem é a obra vista de fora, a cave num formato de
dodecaedro. A segunda imagem é a obra vista de dentro, no instante que o vídeo
retrata o elemento ar (octaedros).
A obra faz com o que o observador torne-se participante, através
das sensações causadas pelas imagens, pelos sons e também devido ao toque em
todo o momento na obra, através da curiosidade que cada um carrega em si.
A apresentação da vídeoinstalação fora realizada no Teatro Glauce
Rocha, sito em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no campus da Universidade de
Mato Grosso do Sul, no dia 14 de setembro do ano de 2010.
57
Fig. 35
Dodecaedro Thiago Dharlan
Vídeoinstalação 420x420x420 cm
Fonte: Acervo Pessoal 2010
58
Fig. 36
Dodecaedro, Thiago Dharlan
Vídeoinstalação 420x420x420 cm
Fonte: Acervo Pessoal 2010
59
CURRICULUM
1. Dados Pessoais
Thiago Dharlan Coelho. RG 862167 – SSP/MS. Nascimento em 07 de outubro de 1988. Avenida Tiradentes, 1579, Bairro Vila Bandeirantes, Campo Grande – MS. Contato: (67) 3331-0683 – (67) 9232-8231 – (67) 8146-3645
2. Escolaridade
Ensino Médio: cursado no Colégio Nova Geração de Campo Grande, MS
3. Experiência Profissional
MICROLINS: Jan/2010 à Out/2010. Instrutor de Informática (Operador de Computador e Excel Avançado). Campo Grande, MS.
TREINACON INFORMÁTICA: Jan/2006 à Jul/2010. Instrutor de Informática (Curso Básico). Campo Grande, MS.
Serviços “On Demand” para empresas. Clientes: Banco do Brasil, Escola O Casulo, UBSSFA, UFMS.
4. Cursos (Extra Curricular)
Curso Básico (Windows, Word, Excel, Internet) – Treinacon Informática, Campo Grande, MS.
Design Gráfico (Escaneamento, Photoshop, CorelDraw) – Treinacon Informática, Campo Grande, MS.
WebDesign (Fireworks, Flash, Dreamweaver) – Treinacon Informática, Campo Grande, MS.
60
5. Palestras e Exposições
Exposição Coletiva de escultura Cabeças, realizada no saguão da Unidade VIII da UFMS, no ano de 2008.
Exposição Coletiva de escultura Luz e Sombra, realizada no saguão da Unidade VIII da UFMS, no ano de 2008.
Exposição Coletiva de escultura Produção Seriada, realizada no saguão da Unidade VIII da UFMS, no ano de 2008.
Exposição Coletiva de escultura Assemblage, realizada no saguão da Unidade VIII da UFMS, no ano de 2008.
Exposição Coletiva de cerâmica Sapatos, realizada no saguão da Unidade VIII da UFMS no ano de 2009.
Exposição Coletiva de escultura com a obra Espiral, realizada no saguão do Hotel Concord em Campo Grande, MS no ano de 2009.
Exposição da obra 4 estações, realizada no SESC/MS unidade Horto no I Festival de Arte e Tecnologia, no ano de 2009.
Exposição Coletiva de escultura com a obra Espiral, realizada no corredor central da UFMS, no ano de 2010.
Exposição da obra Natureza Morta: Novos Olhares, realizada no SESC/MS unidade Horto no II Festival de Arte e Tecnologia, no ano de 2010.
Exposição do TCC A natureza representada através da geometria: uma proposta de vídeoinstalação artística, realizada no Tetro Glauce Rocha da UFMS, no ano de 2010.
Participação do ciclo de debates oferecido pelo Arte Agora de Campo Grande – MS, realizada no SESC/MS, no ano de 2009.
Participação de Conferências e Palestras do I Festival de Arte e Tecnologia de Campo Grande – MS, realizada no SESC/MS nos dias 21, 22 e 23 de outubro, no ano de 2009.
Participação de Conferências e Palestras do II Festival de Arte e Tecnologia de Campo Grande – MS, realizada no SESC/MS nos dias 29 e 30 de setembro e 1º de outubro, no ano de 2010.
61
6. Enriquecimento curricular
Monitoria Voluntária da disciplina Fundamentos do Desenho Técnico do curso de Artes Visuais da UFMS, no ano de 2008.
Monitor Voluntário da disciplina Fundamentos do Desenho Técnico do curso de Artes Visuais da UFMS, no ano de 2009.
Monitor Bolsista da disciplina Fundamentos do Desenho Técnico do curso de Artes Visuais da UFMS, no ano de 2009.
Monitor Voluntário da disciplina Oficina de Cerâmica do curso de Artes Visuais da UFMS, no ano de 2009.
Monitor Bolsista da disciplina Fundamentos do Desenho Técnico I do curso de Artes Visuais da UFMS, no ano de 2010.
Monitor Voluntário da disciplina Desenho V do curso de Artes Visuais da UFMS, no ano de 2010.
Monitor Voluntário da disciplina Desenho VI do curso de Artes Visuais da UFMS, no ano de 2010.
Organização voluntária do II Festival de Arte e Tecnologia de Campo Grande – MS, realizada no SESC/MS nos dias 29 e 30 de setembro e 1º de outubro, no ano de 2010.
Top Related