C o m u n i c a ç ã o E d u c a c i o n a l
U n i v e r s i d a d e A b e r t a
S t e m b r o - 2 0 1 1
Cecília Tomás
Cognição e Colaboração em Ambiente Online
Palavras chave: Aprendizagem Colaborativa, Carga
Cognitiva, Aprendizagem Multimédia
Para uma aprendizagem efectiva em ambiente online
na qual a predominância da carga cognitiva intrínseca
e pertinente seja efectiva, aspectos como design
instrucional, metodologias de aprendizagem e
apresentação de conteúdos são fundamentais. Neste
sentido a análise da metodologia colaborativa
proporciona, por um lado, um ambiente social
conducente a um ambiente cognitivo favorável e, por
outro, a aprendizagens significativas com um
decréscimo da carga cognitiva extrínseca. Uma
aprendizagem colaborativa em ambiente formal
proporciona uma intensificação da carga cognitiva
intrínseca que pela utilização de uma aprendizagem
multimédia conduz a aprendizagens significativas.
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ina2
1. Aprendizagem e Memória
A aprendizagem é um processo que se inicia no começo da vida e que termina quando
esta finda. Enquanto processo contínuo ela implica a interacção entre a aquisição, a
retenção, a activação e a perda de informação. Por isso é tão importante adquirir e
processar informação como é esquecer informação desnecessária para a possibilidade da
retenção de nova. Compreendendo-se como processo, segundo Mayer (1982) a
aprendizagem é uma mudança relativamente estável e duradoura do comportamento e
do conhecimento, sendo que a mudança do comportamento relaciona-se com o
exercício e com a experiência, podendo ocorrer de forma consciente ou inconsciente,
num processo individual ou interpessoal.
Nascido no seio do behaviorismo, o estudo sobre a aprendizagem alargou-se
manifestando-se como uma síntese dinâmica entre as capacidades inatas e a sua
possibilidade de realização proporcionada pelo meio e por isso o estudo sobre a
aprendizagem recai sobre factores tão importantes como inteligência, motivação,
experiência anterior ou factores sociais que se manifestam como determinantes para o
desenrolar (pessoal e interpessoal) da aprendizagem, sendo através da memória
(limitada na sua capacidade de armazenamento) e do seu trabalho que o processamento
de informação se efectua.
Como elemento fundamental da
aprendizagem, a memória e o seu trabalho
são necessários à compreensão processual de
laboração sobre a informação. O processo
mnésico compreende-se nos estádios da
aquisição (antes de recordarmos algo temos
de o aprender; sem aprendizagem não há
memória), retenção (a informação é
conservada, retida por períodos mais ou
menos longos, para poder ser utilizada
quando necessário) e recordação ou activação
(quando precisamos, procuramos recuperar,
actualizar a informação armazenada) e é nele que
surgem três tipos de memória fundamentais - Memória Sensorial (onde se efectua a
entrada de informação retida por fracções de segundo), Memória de Curto Prazo ou de
Trabalho (onde se processa a informação que entrou pela memória sensorial no sentido
da criação de esquemas – construções mentais -) e Memória de Longo Prazo
(repositório de toda a informação aprendida) – que, laborando no domínio do
processamento da informação, conduzem à aprendizagem (fig. 1).
Ligada à compreensão do processo mnésico e preocupando-se com o
esclarecimento sobre a estrutura cognitiva do Homem, surge a Teoria da Carga
Cognitiva (Cognitive Load Theory – CLT -) como reflexão acerca de modelos
educativos centrados na aprendizagem através de recursos educativos disponíveis. Pelo
facto de ter em conta a estrutura cognitiva do ser humano esta teoria destaca as
limitações da memória a curto prazo (memória de trabalho ou operacional) do ser
humano e as implicações daí decorrentes para a aprendizagem. Neste sentido a CLT
mostra que a memória operacional trabalha, por um lado, com esquemas automatizados
(e daí a importância de um design instrutivo que encoraje a construção e automatização
de esquemas) e, por outro lado, que a carga operacional da memória pode ser afectada
pela natureza intrínseca das tarefas de aprendizagem (carga cognitiva intrínseca – o que
é importante para que a aprendizagem se efectue) ou pela forma como tais actividades
são apresentadas (carga cognitiva extrínseca – não necessária à aprendizagem -).
Fig. 1 In http://historiatic.yolasite.com
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2. Aprendizagem Colaborativa em Ambiente Online
Focando-se na necessidade
do trabalho efectivo e eficiente da
memória, as teorias cognitivistas
destacam a aprendizagem
colaborativa como uma forma
proficiente de evolução da
cognição. Aprendizagem
colaborativa e aprendizagem
cooperativa são tipologias de
trabalho diferentes porque enquanto
aquela consiste num esforço
contínuo do grupo (apesar de existir
esforço individual na realização de
tarefas) para aprender resolvendo
problemas em conjunto1, nesta o
esforço é individual porque passa
pela simples divisão de tarefas
relativamente a um determinado trabalho. Em ambiente online as duas tipologias são
utilizadas e em ambas existe esforço de trabalho em grupo e responsabilidade pelo
envolvimento no mesmo; apesar disso a aprendizagem colaborativa desenvolve, para
além de importantes competências cognitivas, significativas competências sociais (fig.
2). Partindo do argumento de que a cognição evolui através da comunicação entre os
indivíduos que armazenam um crescente volume de informação que se revela tanto
maior quanto maior for a troca e partilha de informação2 compreende-se também que,
implicando acção (cognitiva e social) sobre informação, este trabalho leva à construção
de um conhecimento comungado por todos que através da comunicação e coordenação
entre os diferentes membros do grupo permitindo que a informação contida numa tarefa
possa ser dividida por todos e posteriormente perfilhada por cada um.
O trabalho colaborativo poderá decorrer em
ambiente formal ou informal na medida em que a
aprendizagem tanto pode acontecer em ambiente
sistemático ou em ambiente espontâneo,
compreendendo-se que as cargas cognitivas ligadas aos
diferentes ambientes serão também diferenciadas.
Deste modo numa abordagem formal da aprendizagem
compreende-se a existência de um trabalho mais
sistematizado (informalmente a fig.3 mostra isso
mesmo) em termos temporal, apesar de a separação
espacial ser a mesma que a de uma abordagem
informal. Tal sistematização poderá mostrar-se útil
numa utilização vantajosa da carga cognitiva intrínseca na medida em que não existe
uma dispersão pela diversidade da informação existente na rede (que se constituiria
como carga cognitiva extrínseca). Por outro lado uma abordagem informal da
1 In GOMES Maria, PESTANA Filomena, BROGUEIRA João, Cognição, Colaboração e Comunicação,
três valências em Aprendizagem Colaborativa Online, Universidade Aberta, 2011 2 GOMES Maria, PESTANA Filomena, BROGUEIRA João, Cit.1
Fig. 2 In http://labspace.open.ac.uk
Fig. 3 In http://blogdaformacao.wordpress.com
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aprendizagem permite, por um lado, o multitasking3 (de forma espirituosa a fig.4 dá-nos
essa noção) o que poderá ser interessante em termos de potencialidade relativamente à
aprendizagem humana, mas dizem os diversos estudos que é pouco vantajoso em termos
de trabalho da memória (porque a memória a curto prazo
tem uma capacidade limitada e o trabalho em diferentes
tarefas que necessitam da mesma parte do cérebro
poderão ficar – pelo menos uma - comprometidos) seja
com a geração ‘net’ ou com gerações anteriores. Em
termos de ambiente informal de aprendizagem o
multitasking exigido leva a uma menor produtividade – e
também ao aparecimento de uma carga cognitiva
extrínseca - e, apesar de todas as ideias conectivistas se
mostrarem favoráveis à exclusividade da aprendizagem
informal, certamente que a orientação e
direccionamento da atenção (tarefa de um orientador,
mediador ou professor) serão mais frutuosas em termos de produtividade e de
aprendizagem (significativa). Apesar do envolvimento do aprendiz neste multitasking a
aprendizagem, que é, neste caso, quase sempre colaborativa e permite elevados níveis
de envolvimento que transformam a aprendizagem de cada um numa aprendizagem de
todos ou em rede (através das conexões estabelecidas por diversos indivíduos – sendo
por isso uma verdadeira aprendizagem social -) e permite, ainda, um feedback mais
alargado sobre a aprendizagem de cada indivíduo (porque a mesma ao estar exposta na
rede torna-se, por um lado mais transparente e, por outro mais visível).
Compreende-se, deste modo, que uma aprendizagem colaborativa em ambiente
online formal exige menos carga cognitiva extrínseca porque está sistematizado, é
mediado e leva a uma menor dispersão, permitindo também um esforço comum na
elaboração de um determinado trabalho (onde por vezes a divisão de tarefas se torna um
momento - individual - desse esforço conjunto) e, ainda, a liberdade de um trabalho
assíncrono que poderá concorrer para uma aprendizagem assente numa carga cognitiva
pertinente (precisamente pela não dispersão, por um lado, pela rede – porque é uma
aprendizagem mediada por um docente que desde logo efectua escolhas e indica
caminhos -, e por outro porque deixa espaço para a decisão individual e pessoal de
trabalhar no momento mais indicado).
3. Influências do Design instrucional e Aprendizagem Multimédia na
Carga Cognitiva
É tanto ao nível do design instrucional como dos conteúdos e da apresentação
destes, como ainda no que concerne às tarefas e prazos propostos que se joga o aumento
ou a diminuição das cargas cognitivas (extrínseca, intrínseca e pertinente). Assim a
preocupação com um design instrucional (em ambiente formal virtual) que centre as
metodologias pedagógicas em actividades colaborativas permitirá, por um lado, que o
esforço cognitivo individual seja menor pela divisão de tarefas e, por outro, que exista
um ambiente social mais exigente ao nível da cognição. Certamente que o facto de tais
3 Para mais informações ver o conceito de multitasking nas diferentes perpectivas: Human Multitasking
disponível em WWW:< URL: http://en.wikipedia.org/wiki/Human_multitasking [consult. 3 SETEMBRO 2011]; Computer Multitasking disponível em WWW:< URL:
http://en.wikipedia.org/wiki/Computer_multitasking [consult. 3 SETEMBRO 2011]; Media Multitasking
disponível em WWW:< URL: http://en.wikipedia.org/wiki/Media_multitasking [consult. 3 SETEMBRO 2011]
Fig. 4 In http://blogdaformacao.wordpress.com
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esforços cognitivos serem considerados cargas intrínseca ou extrínseca depende, ora, da
dinâmica do grupo (em que aspectos como a familiaridade entre os membros é
determinante para uma coordenação de esforços que exiga menos carga cognitiva
extrínseca ou a comunicação e os canais utilizados – e compreensão da mesma – é
fundamental), ora, das características de cada indivíduo que integra esse mesmo grupo
(sendo as capacidades de cada elemento do grupo um dos factores integrantes nesse
processo). Porém o ambiente em que a aprendizagem decorre é tão importante quanto os
esforços individual e de grupo na aprendizagem; neste sentido um ambiente que seja
propício à interacção (partilha e troca de informação) e colaboração entre as
aprendizagens é fundamental. Por isso um design instrucional online que seja concebido
de forma a ter o menor nível de carga cognitiva extrínseca (com um interface friendly e
operacional que não conjugue muitas fontes de informação que possam dispersar a
atenção dos alunos4), será mais propício à aprendizagem e, neste caso, à aprendizagem
colaborativa. Tal como o design intrucional deverá ser cuidadosamente criado para
permitir a menor entrada de carga cognitiva extrínseca na aprendizagem, o mesmo se
deverá dizer dos conteúdos, tarefas e prazos propostos, pois que sabendo-se, a priori, da
diversa dificuldade que enfrenta o trabalho colaborativo em ambiente online (devido à
distância) os conteúdos deverão ser claros, objectivos e com um grau de complexidade
compatível com o nível das competências (skills) dos alunos e o mesmo deverá ser tido
em conta relativamente às tarefas e prazos propostos. No que respeita à apresentação
dos conteúdos, pela sobrecarga da memória de trabalho que os recursos digitais
implicam, a teoria da Aprendizagem Multimédia de Richard Mayer parece ser um bom
ponto de partida a ter em conta. Este autor procura esclarecer a eficácia da
aprendizagem recorrendo a três pressupostos fundamentais: 1) existem dois canais
separados (auditivo e visual) para o processamento de informações; 2) cada canal tem
uma capacidade limitada; 3) a aprendizagem é um processo activo de filtragem,
selecção, organização e integração da informação. Segundo este autor o ‘princípio
multimédia’5 mostra-nos que as pessoas aprendem mais depressa através de palavras e
imagens do que apenas através de palavras (Mayer, 2002). Assim sendo é mais simples
efectuar aprendizagens (simples e complexas) através da interacção de palavras e
imagens do que as efectuar apenas através de palavras (sabendo-se que esta interacção
terá de ser real, isto é, não pode surgir casuisticamente). De acordo com a CLT a
capacidade da memória de trabalho para aprender pode ser efectivamente alargada se
a informação gráfica a ser aprendida for apresentada visualmente, e ser
subsequentemente processada na cache visual, e a informação textual associada ser
apresentada num formato auditivo e ser subsequentemente processada no circuito
fonético6 (fig.5); contudo a apresentação de toda a informação em formato visual ou
auditivo poderá sobrecarregar o processamento da memória de trabalho, dificultando o
seu trabalho e, consequentemente, aumentando a carga cognitiva extrínseca. Neste
sentido, e segundo a teoria de Mayer, para a existência de aprendizagens significativas
será importante tentar transmitir o conteúdo por um duplo canal porque no processo de
aprendizagem os alunos procuram e fazem sempre associações (de palavras a imagens
ou a sons). Assim o processo de aprendizagem será facilitado, diminuindo a carga
4 Segundo Jones, 1994 e Tselios et all, 2001. Para mais informações ver TOMÁS, Cecília, Concepção e
Avaliação em e-Learning, Universidade Aberta, 2010 disponível em WWW:< URL: http://cael-
ct.blogspot.com/2010/11/factores-de-qualidade-em-e-learning.html [consult. 3 SETEMBRO 2011] 5 Segundo Mayer Multimédia pode ser compreendido em três acepções: ‘os meios ou aparelhos utilizados,
os modos de apresentação ou formatos e os sentidos implicados na recepção da mensagem’. In PEREIRA,
Francisco, PÁSCOA, Rui, LAGOA, Sérgio, PATROCÍNIO, Zélia, Teoria Cognitiva da Aprendizagem
Multimédia, Universidade Aberta, 2011.
6 PEREIRA, Francisco, PÁSCOA, Rui, LAGOA, Sérgio, PATROCÍNIO, Zélia, Cit.5
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cognitiva extrínseca (o aluno não fará associações erradas ou não terá a tentação de
procurar, no caso do ensino online, informações adicionais na rede – as quais o poderão
fazer cair em erro) e permitindo aprendizagens significativas (carga cognitiva
pertinente).
Compreende-se que para um eficiente trabalho colaborativo online em
ambiente formal o trabalho efectivo da memória terá de ter sido em conta e, neste
sentido, o trabalho da memória a curto prazo será tanto mais eficaz quanto mais for
estimulado para produzir efeitos ao nível da memória a longo prazo; ora é através de
aprendizagens significativas facilitadas por uma aprendizagem multimédia que em
ambiente formal de aprendizagem aumentam a carga cognitiva intrínseca e pertinente,
diminuindo a carga cognitiva extrínseca.
Fig. 5 In http://mpel5cegb.wikispaces.com
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ALVES, Leonor, Aprendizagem formal / Aprendizagem informal em imagens,
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