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Revista de EducaoVol. XI, N. 11, Ano 2008
Andria Arruda Guidetti
Faculdade Anhanguera de Jundia
Aline dos Santos Pereira
Faculdade Anhanguera de Jundia
A IMPORTNCIA DA COMUNICAO NASOCIALIZAO DOS IDOSOS
RESUMO
Este trabalho relata a experincia de um estgio supervisionadorealizado em uma instituio de longa permanncia e visa obser-var como se d a comunicao entre os idosos institucionalizados,buscando a estimulao e melhoria da comunicao entre eles pormeio da insero de atividades educativas e de abordagem grupalnesse ambiente que destaca a comunicao como estratgia para asocializao do idoso. Acredita-se que, por meio de uma vida ativabaseada na comunicao e no entretenimento, o idoso pode me-
lhorar sua qualidade de vida dentro da instituio, visto que porestar longe de sua famlia e do contato social, tende a se isolar, oque muitas vezes acarreta falta de vontade de se comunicar com osoutros.
Palavras-Chave: Comunicao, socializao, idosos, institucionalizao.
ABSTRACT
This paper reports the experience of a supervised period of train-ing held in a long-term care institution for elderly people. The aimof that training was to observe the communication process involv-ing those elderly people and the stimulation and improving com-munication among them through the insertion of educational ac-tivities and group approach in this environment, highlighting thecommunication as a strategy for their socialization. The authorbelieves elderly people can improve their quality of life within theinstitution through an active life based on communication and en-tertainment, considering that in this age people tends to isolatefrom other due to living far from the family and social contact,resulting sometimes in a lack of communication.
Keywords: Communication, socialization, elderly, institutionalization.
Anhanguera Educacional S.A.
Correspondncia/ContatoAlameda Maria Tereza, 2000Valinhos, So PauloCEP. [email protected]
Coordenao
Instituto de Pesquisas Acadmicas eDesenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo OriginalRecebido em: 30/06/2008Avaliado em: 27/07/2008
Publicao: 13 de outubro de 2008
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1. INTRODUO
Sabe-se que a populao idosa no Brasil tem mostrado um crescente aumento, com es-
timativas que indicam uma elevao desses ndices para as prximas dcadas. Em con-
traposio, percebe-se que nossa sociedade confunde a imagem do envelhecer e da ve-
lhice, como uma fase da vida em declnio, tanto no aspecto fsico, psquico, quanto nas
relaes sociais.
Os idosos so hoje 8,6% da populao total de nosso pas, ou seja, aproxima-
damente 14,5 milhes de pessoas, segundo o Censo demogrfico do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatstica IBGE (2000). O Instituto considera idosas as pessoas com 60
anos ou mais e enfatiza que em uma dcada o nmero de idosos no Brasil cresceu 17%,
pois em 1991 ele correspondia a 7,3% da populao. Destaca ainda que, no Brasil, atransio demogrfica incontestvel. At o ano 2025, possivelmente o pas ocupar o
sexto lugar da populao de idosos do planeta, com 31,8 milhes de indivduos com 60
anos ou mais.
Lorda e Sanchez (2001) afirmam que a velhice inevitvel e que o envelheci-
mento, portanto, um processo natural inerente condio humana, caracterizada
como um processo dinmico, irreversvel, lento e gradual, que envolve diversos fato-
res, entre eles os aspectos biopsicossociais. Neste mesmo sentido, Menezes e Vicente(2007), evidenciam que o termo envelhecer se remete condio de tornar-se velho,
com muito tempo de existncia. Entretanto, o envelhecer no apenas um processo bi-
olgico individual pelo qual os seres vivos passam naturalmente, ele tambm traz con-
sigo mudanas de carter social e demogrfico.
importante destacar que ningum envelhece da mesma maneira, nem no
mesmo ritmo. As modalidades de senescncia variam imensamente de uma populao
para outra e at dentro de uma mesma populao. Assim, para Lima e Viegas (1988),os indivduos apresentam um caminhar varivel no horrio do envelhecimento e, por-
tanto, considera-se o envelhecimento um processo biolgico, conceptualizado cultu-
ralmente, socialmente construdo e conjunturalmente definido, conduzindo-nos idia
fundamental de que, se a velhice o destino biolgico do homem, ela vivida de for-
ma muito varivel consoante o contexto em que se insere.
Segundo Paul (1991), no existem receitas universais para tratar o envelheci-
mento e, apesar de errada, verifica-se uma tendncia para perspectivar o envelheci-mento de modo uniforme, em parte por se inscrever no ciclo universal de vida. Afirma
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tambm que o envelhecimento no ocorre de forma estanque em todos os indivduos,
podendo as diferenas serem explicadas luz de fatores genticos, pessoais e ambien-
tais, em que o envelhecimento surge enquanto processo inserido no contnuo da vida,
em que as definies de idade no so estabelecidas pela idade cronolgica, mas pela
compreenso dos processos biolgicos, psicolgicos e sociais inerentes ao processo de
envelhecimento.
Com o aumento da longevidade e certa fragilidade atribuda ao envelheci-
mento, observa-se um aumento de cuidados intensivos e contnuos com os idosos. A
necessidade de assistncia na vida diria torna-o um indivduo dependente para man-
ter sua autonomia em algumas atividades do cotidiano como na locomoo, alimenta-
o, higiene, entre outras (MENEZES; VICENTE, 2007). ntido que ao envelhecer o
ser humano necessita de alguns cuidados especficos e individualizados, pois com odeclnio progressivo de suas aptides fsicas e capacidades funcionais, torna-se mais
dependente de ajuda externa, que algumas vezes pode vir da famlia, mas outras no.
Segundo Herdia, Corteletti e Casara (2005), o idoso espera que sua famlia o
mantenha e cumpra com o papel estabelecido pela sociedade, mesmo que conhea sua
famlia e saiba de seus limites. Almeja ainda, que ela possa lhe dar a ateno necessria
para enfrentar as dificuldades que a vida impe, fortalecendo suas expectativas com a
intensidade das relaes pessoais estabelecidas no grupo familiar. Entretanto, quandoo idoso no conta com o apoio da famlia, uma das opes de cuidados a internao
nas chamadas Instituies de Longa Permanncia para Idosos ou Asilos, como so co-
nhecidas, e este processo quase sempre muito doloroso.
A institucionalizao constitui quase sempre um grupo privado de seus proje-
tos, pois se encontra afastado da famlia, da casa, dos amigos, das relaes nas quais
sua histria de vida foi construda. Segundo Born (2002), muitos idosos encaram este
processo de institucionalizao como perda de liberdade, abandono pelos filhos, apro-ximao da morte, alm da ansiedade quanto conduo do tratamento feito pelos
funcionrios, entendida como perda da qualidade de vida na velhice.
Diante destas consideraes, tem-se observado um aumento significativo do
nmero de idosos asilados, j que difcil que um membro da famlia possa absorver
os cuidados com o idoso, por considerar-se muito ocupado com sua vida, o trabalho e
seus compromissos. Para Mendes et al. (2005), as situaes que levam os idosos aos asi-
los so provocadas pelas condies de fragilidade dos mesmos, que passam a depen-
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der de outras pessoas, pela perda da autonomia, da independncia, pelo esfriamento
dos vnculos afetivos com o grupo social e pela ausncia e auto-isolamento.
De acordo com Born (2002), o Brasil no est preparado para os problemas de-
correntes do envelhecimento. Em virtude da inexistncia de programas focalizados pa-
ra os idosos que habitam em instituies asilares, este fato prejudica a promoo em
sade para tal contingente populacional. Tendo em vista a falta desses programas e a
precariedade de rede de assistncia social, verifica-se o encaminhamento freqente de
idosos para asilos, que se transformam em depsitos de velhos.
Dessa forma, o impacto causado pelo envelhecimento tem alterado os hbitos
e o cotidiano do idoso na sociedade, principalmente nas questes relacionadas con-
vivncia em asilos e abrigos, onde muitos idosos vivem juntos, mas no se comunicam,
no interagem, ou seja, no h socializao e convivncia. Se o envelhecimento da po-
pulao uma aspirao natural de qualquer sociedade, ento oferecer condies ade-
quadas aos idosos para viverem com bem-estar um importante desafio que se impe
a toda a sociedade. Importa que vivam com autonomia, integrados na sociedade com o
aproveitamento de todas as suas capacidades, com garantia dos meios de subsistncia,
apoios e cuidados de sade necessrios.
Levando em considerao os argumentos apresentados anteriormente, sabe-
mos que a comunicao um instrumento fundamental para a convivncia do ser hu-
mano, seja ele idoso ou no, e nesse contexto que se busca pensar condies para me-
lhoria da qualidade de vida do idoso institucionalizado. Segundo Bock (2003), a lin-
guagem no somente um instrumento de comunicao, ela um instrumento sociali-
zador, um mediador das relaes entre o ser humano e o mundo.
Com base no Dicionrio de psicologia, comunicao o processo de transmisso
e recepo de informaes, mensagens, sinais ou cdigos, de um organismo para outro,
mediante palavras, gestos ou outros smbolos, Para que haja comunicao, os meios de
transmisso tm que ser entendidos para ambos os organismos, o emissor e o receptor.
Esse entendimento garantido pelo uso de um cdigo (MESQUITA; DUARTE, 1996).
Independente de idade, para que a comunicao se torne efetiva precisa-se de
habilidade, sensibilidade, ateno, pacincia, interesse e amor, para se perceber e en-
tender a necessidade de se comunicar, principalmente quando nos referimos a uma
pessoa idosa. A comunicao um processo que envolve codificao e decodificao
de mensagens, permitindo a troca de informaes entre os indivduos, no sendo cons-
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tituda apenas de cdigo verbal, mas tambm de expresses de rosto, gestos, movimen-
tos, desenhos e sinais.
A psicologia estudou o processo de interdependncia e influncia entre as
pessoas que se comunicam; como aumentar o poder de persuaso por meio da comu-
nicao e quais os processos psicolgicos nela envolvidos na comunicao (BOCK,
2003). Entretanto, so poucas as pesquisas nesta rea de conhecimento e quase inexis-
tentes dentro da perspectiva da psicologia.
Entre as pesquisas encontradas destaca-se a de Santos e Silva (2003), que estu-
daram a percepo da comunicao verbal e no-verbal com a equipe de sade em
uma instituio hospitalar de pacientes idosos, com os objetivos de verificar como os
idosos percebem a comunicao verbal e no-verbal mantida com a equipe e como esta
ocorre dentro do hospital.
Nessa mesma direo, Santana (2007) estudou a comunicao entre cuidado-
res principais e idosos com demncia, com implicaes para o cuidado de enfermagem.
A autora teve como objetivo descrever como se d a comunicao entre cuidadores e
idosos com demncia, quais as estratgias de comunicao utilizadas pelo cuidador
principal junto ao idoso com demncia e os resultados obtidos na utilizao de tais es-
tratgias; e analisar que fatores influenciam o estabelecimento e os resultados dessa
comunicao.
J o estudo de Domingues, Derntl e Ourique (2005) aborda a importncia em
se conhecer a rede de suporte social do indivduo idoso, por representar a base de as-
sistncia informal a ele prestada. Participaram da pesquisa 30 idosos divididos em dois
grupos etrios: com idades variando de 60 a 75 anos e de 75 anos ou mais. Os resulta-
dos evidenciam que o instrumento utilizado, Mapa Mnimo de Relaes, mostrou-se
til na identificao do universo de relacionamentos interpessoais na chamada terceira
idade, oportunizando o conhecimento da composio e funo de cada um dos envol-
vidos, facilitando a comunicao e o exerccio profissional no cuidado com a sade do
idoso.
Por outro lado, a pesquisa de Creutzberg, Gonalves, Sobottka, Santos (2007)
teve como objetivo analisar os acoplamentos estruturais e as comunicaes entre a ins-
tituio de longa permanncia para idosos (ILPI) e a famlia. A coleta de dados foi rea-
lizada por meio de entrevista com dirigentes e idosos e de observao das comunica-
es nas ILPIs estudadas. Os resultados mostram que a famlia, ao acoplar-se ILPI,
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busca uma parceira no cuidado do idoso, e a instituio, por sua vez, espera da famlia
a contrapartida no cuidado.
O estudo destaca que a ILPI tenta assumir o papel de manuteno dos laos
afetivos; entretanto h dificuldade de se considerar a famlia como cliente. Por falta de
estratgias de incluso, acaba-se por excluir a famlia do cotidiano das aes da institu-
io. Conclui-se, ento, sobre a necessidade de as ILPIs favorecerem vnculos mais sig-
nificativos das famlias e de se estabelecerem sistemas interacionais mais efetivos.
Diante das pesquisas encontradas, observa-se que a nfase dos estudos do i-
doso institucionalizado com relao comunicao recai na rea das cincias mdicas,
e estudos que considerem os aspectos psicolgicos e sociais envolvidos nesta temtica
so escassos. No entanto, para melhorar a qualidade de vida de idosos institucionali-
zados, o trabalho jamais pode ser isolado, ou seja, necessita da colaborao da socieda-
de e dos profissionais que trabalham com o processo de envelhecimento nas mais di-
versas reas do saber.
De fato, para evitar que as perdas desenvolvimentais sejam a norma para essa
clientela, necessrio recorrer a medidas preventivas no sentido do seu controle e re-
duo, promovendo o desenvolvimento psicolgico dos indivduos idosos e criando
condies sociais e comunitrias para que esse desenvolvimento possa ganhar expres-
so visvel, contrariando os esteretipos ligados ao envelhecimento.
Em face do negativismo, tanto tempo partilhado social e culturalmente, pre-
ciso pensar que, quando envelhece, o ser humano pode tirar partido das suas vivncias
passadas, bem como das capacidades e conhecimentos adquiridos, de forma a enrique-
cer as suas experincias, manter certas atividades e fazer uma boa utilizao das fun-
es intelectuais, apostando no estabelecimento de relaes mais prximas e satisfat-
rias com os outros e na realizao de atividades que proporcionem bem-estar e desen-
volvimento psicolgico.
Levanta-se ento a questo do suporte social como fator positivo e protetor,
sendo que os relacionamentos com outros significativos esto associados com sade f-
sica e mental. O envelhecimento bem - sucedido parece, ento, ser aquele em que a
pessoa, em estado de experimentao, continua a fazer escolhas e a ocupar um lugar
na sociedade. fundamental permitir aos idosos serem bem sucedidos, favorecendo o
reconstruir da sua vida social (SILVA, 2001).
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Refletindo sobre essas colocaes, no existe interao social sem comunica-
o, da mesma forma que no existe comunicao sem representao. As representa-
es preenchem a lacuna entre o objeto real e o mental, permitindo que o grupo possa
compartilhar idias e pensamentos atravs da linguagem. A representao no a c-
pia da realidade, mas a forma como o grupo compreende a realidade, e com base
nessa realidade representada que ele fundamenta suas prticas (MOSCOVICI, 2004).
no processo de socializao que so coletadas e processadas as informaes
e se chega a julgamentos. No contato com o ambiente social se formam as idias e ten-
de-se a melhorar o ambiente e o convvio interpessoal, de forma a tornar mais fcil o
relacionamento com as pessoas (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2005).
Para que tudo isso seja realizado com sucesso, necessria a participao de
todos que estejam envolvidos com idosos, motivando-os mediante atividades educati-
vas para que se mostrem mais ativos e sejam excludos os fatores das alteraes no
processo de envelhecimento, sendo a comunicao imprescindvel neste processo. A
pessoa idosa precisa ser motivada para que possa se socializar, j que isso influencia na
disposio do idoso para realizar as atividades ou no.
Uma vida ativa baseada na comunicao e no entretenimento pode evitar no
idoso a depresso, o aparecimento de doenas fsicas e mentais, a carncia afetiva e
emocional. Nesse sentido, Moscovici (2004) destaca que o homem como um ser social,
como um ser de relaes sociais, est em permanente movimento. Estamos sempre nos
transformando, apesar de aparentemente nos mantermos iguais. Isso porque nosso
mundo interno se alimenta dos contedos que vm do mundo externo e, como nossa
relao com esse mundo externo no cessa, estamos sempre em movimento, em pro-
cesso de transformao.
Sendo assim, o acelerado ritmo de envelhecimento no Brasil cria novos desa-
fios para a sociedade brasileira contempornea, onde esse processo ocorre num cenrio
de profundas transformaes sociais, urbanas, industriais e familiares. E nesse cenrio,
o presente trabalho tem por objetivo relatar a experincia vivenciada com idosos insti-
tucionalizados, visando observar como se d comunicao entre eles.
Objetiva, ainda, buscar a estimulao e melhoria da comunicao por meio da
insero de atividades educativas e de abordagem grupal nesse ambiente, destacando
esta varivel como estratgia para a socializao do idoso. Alm disso, pretende apre-
sentar alguns dados que mostram o perfil do idoso residente na instituio e que de-
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monstram a importncia da comunicao para garantir a integrao e melhor convvio
entre os mesmos.
2. METODOLOGIA
2.1. Participantes
Participaram deste estudo um total de 28 idosos, com idades compreendidas entre 55 e
95 anos, sendo 60,7% mulheres e 39,3% homens, moradores da Instituio Cidade Vi-
centina, localizada em uma cidade do interior do estado de So Paulo e que foi a esco-
lhida por fazer um trabalho reconhecido por toda a populao da cidade desde 1939,
cuidando de idosos em um espao amplo, permitindo assim uma vida sem isolamento.
A finalidade principal da instituio a assistncia ao idoso carente de recursos socio-
econmico-familiar.
2.2. Tcnicas e procedimentos para a coleta de dados
O trabalho de coleta de dados e aplicao de dinmicas foi realizado entre os meses de
fevereiro a maio de 2008 dentro da instituio. Para inici-lo foi necessrio conhecer ainstituio, suas caractersticas e o que oferece para os idosos que nela residem. Esses
dados foram levantados atravs de documentos sobre o histrico da instituio, dispo-
nibilizados pela assistente social, e de entrevistas no formais com os funcionrios do
local.
Com este trabalho foi possvel levantar o histrico da instituio, nmero e
faixa etria de idosos residentes, servios prestados a eles, atividades existentes e o
nmero e especialidade dos funcionrios e tcnicos da instituio. Esta primeira etapa
foi importante para conhecer o espao fsico da instituio, com o objetivo de avaliar os
lugares que poderiam ser utilizados para a apresentao das atividades que posterior-
mente foram desenvolvidas.
A seguir foi realizada uma entrevista com os idosos, utilizando um question-
rio estruturado para levantar dados sobre o perfil do idoso que vive na instituio es-
colhida para o desenvolvimento do estudo. Este questionrio foi aplicado individual-
mente, pelas prprias pesquisadoras, individualmente, em local apropriado. Estas en-
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trevistas tambm avaliaram o desejo dos idosos em participar ou no de oficinas, cujo
enfoque era a comunicao.
Por meio dessas informaes foi desenvolvido um planejamento de trabalho
onde foram aplicadas varias tcnicas grupais visando atingir o objetivo do trabalho.
Com a perspectiva de que os idosos exercitassem a comunicao, realizaram-se sema-
nalmente oficinas utilizando dinmicas de grupo e rodas de leituras com o objetivo de
motivar os idosos, como uma estratgia para a socializao.
As oficinas tiveram carter educativo e possibilitaram aos idosos adquirirem
um maior conhecimento das pessoas com as quais convivem mostrando-se, portanto,
estimulados a melhorar a comunicao. Para iniciar a aplicao das atividades foi esco-
lhida a realizao de uma tarde de leitura com o nome de Momento da Auto-
Estima. Nesse dia foram abordados conceitos sobre o que auto-estima e como se
comporta uma pessoa com alta e baixa auto-estima. Aps a leitura os idosos tiveram a
oportunidade de discutir sobre o assunto e de exercitar a comunicao e o relaciona-
mento interpessoal com o grupo.
A segunda atividade foi a aplicao de uma dinmica chamada Auto-retrato
desenhado. Com essa atividade buscou-se incentivar os idosos a interagirem entre si,
fazendo apresentaes e falando sobre seus valores e experincias. Foram disponibili-
zados diversos desenhos impressos em folhas de papel sulfite branco, lpis de cor e
canetinhas para que pudessem colori-los.
Enquanto faziam a primeira parte da atividade, os idosos deveriam pensar e
indicar trs dos seus valores, que seriam escritos na prpria folha, e por que escolhe-
ram determinado desenho. Antes de iniciar a atividade, procurou-se falar um pouco
sobre o que eram valores e como so adquiridos. Tambm se ficou atento possibili-
dade de algum idoso no saber escrever e assim os pesquisadores os ajudariam.
Foi desenvolvida tambm uma atividade voltada conscientizao da sade
na terceira idade, visando ao estabelecimento de uma comunicao clara sobre a pre-
veno e identificao de possveis problemas nessa fase da vida. Utilizou-se a sala de
aula da instituio e fez-se a leitura de um texto chamado Ser possvel envelhecer
com sade?.
Durante a atividade, foi levantada a importncia dos idosos cuidarem de sua
sade fsica e mental, zelando por seu bem-estar pessoal e coletivo. Durante o bate-
papo, foram comentados meios de combater o sedentarismo, com a participao efeti-
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va dos idosos nas oficinas, na ginstica laboral e nas caminhadas que acontecem na
instituio, o que exercita o corpo e estimula o contato social entre eles.
Em outro momento, foi realizada a roda da conversa com a leitura de um tex-
to chamado Pequeno dicionrio humano. Dessa vez foram abordados assuntos sobre
famlia, religio, amor, unio, entre outros. A cada letra falada, os idosos deveriam di-
zer uma palavra que os fizesse relembrar algo de suas histrias. Durante a atividade, o
tema mais comentado foi a famlia. Nesse momento, todos queriam dividir suas hist-
rias, e a troca de experincias fez com que a comunicao fosse bastante ativa.
Realizou-se tambm uma tarde de relaxamento, na qual foi utilizado um CD
com sons da natureza que, aps tocado por algum tempo era parado e cada um conta-
va o que tinha pensado naqueles momentos anteriores. Muitos relataram momentos de
sua infncia, j que as msicas emitiam sons de animais, gua, florestas. Dessa ativi-
dade todos os idosos participaram, e nela relataram momentos de sua vida, o que os
fez aumentar o nvel de comunicao, estimulando o uso da linguagem oral entre eles.
O encerramento das atividades foi realizado na semana do Dias das Mes. Por
se tratar de uma data especial, tanto pelo encerramento do estgio, quanto pelo que se
refere data comemorativa, foram entregues aos idosos lembranas singelas de agra-
decimento pela participao no estudo e foi feita uma breve avaliao do trabalho, des-
tacando as sugestes de oficinas e entretenimento para a instituio.
2.3. Perfil dos idosos
A seguir sero apresentados grficos com dados coletados na instituio e que repre-
sentam o perfil do idoso de uma instituio de longa permanncia, alm de destacarem
algumas questes pertinentes ao objetivo do trabalho e que possibilitaram o desenvol-
vimento de oficinas de comunicao e ainda a avaliao do estudo.
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Grfico 1. Sexo dos idosos residentes em uma instituio de longa permanncia
O Grfico 1 mostra que 60,7% dos participantes so mulheres e apenas 39,3%da populao entrevistada na instituio so homens.
Grfico 2. Idade dos idosos residentes em uma instituio de longa permanncia
Quanto idade, o Grfico 2 evidencia que 3,5% dos idosos tm entre 50 e 59
anos; 10,7% tm de 60 a 69 anos; 28,6%, de 70 a 79 anos; 39,4%, de 80 a 89 anos e 17,8%
dos entrevistados tm acima dos 90 anos.
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Sexo
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Idade
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70 79 anos
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acima 90 anos
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Grfico 3. Escolaridade dos idosos residentes em uma instituio de longa permanncia
Em relao escolaridade, o Grfico 3 mostra que 43% relataram ser analfabe-
tos, 46,4% possuem ensino fundamental completo e incompleto, 7,1%, ensino mdio
incompleto e encontramos 3,5 % que responderam ter concludo a formao tcnica.
Grfico 4. Contatos na Instituio, por meio da comunicao, dos idosos residentes em uma
instituio de longa permanncia
Com relao ao contato na instituio entre os idosos, por meio da comunica-
o, representado pelo Grfico 4, 64,3% relataram ter conversas ou contato com um ou
dois idosos na instituio. Em 21,5% dos casos os idosos mantm contato com trs a
cinco moradores, e 14,4%, com seis pessoas ou mais.
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Escolaridade
analfabeto
fundamental
(inc.)
fundamental(comp.)
mdio (inc.)
mdio (com.)
outros
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Contatos na Instituio
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trs a cincopessoas
mais de seispessoas
no tem
contato
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Grfico 5. Convivncia entre os idosos residentes em uma instituio de longa permanncia
O Grfico 5 revela que 42,9% mantm um relacionamento hostil com os com-
panheiros de instituio, ou seja, nunca se ajudam ou se importam uns com os outros.
Ao contrrio desses, 53,6% disseram ter uma relao amigvel, de harmonia com os
demais idosos no que se refere afeio, preocupao com o outro e ajuda mtua e a-
penas 3,5% disseram no se dar bem com os outros idosos e no dividir suas vidas e
histrias com eles.
Grfico 6. Comunicao entre os idosos residentes em uma instituio de longa permanncia
Sobre a comunicao, como demonstra o Grfico 6, 57,2% dos participantes re-
lataram a necessidade de mais atividades em grupo e, na opinio de 32,1%, essas ativi-
dades ajudariam a aproximar e promover uma melhor integrao entre o grupo. Ou-
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Convivncia
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estimular aproximidade
atividades emgrupo
acessibilidade
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tros 10,7% acreditam que a dificuldade de comunicao entre eles est relacionada
falta de acessibilidade entre os idosos.
Grfico 7. Atividades e Entretenimento destacados como importantes por idosos residentes
uma instituio de longa permanncia
O Grfico 7 mostra, com relao a atividades culturais e de entretenimento, que 10,7%
dos idosos destacam a importncia de palestras na instituio; 26,8% de eventos e fes-
tas; 16,1%, de oficinas com trabalhos manuais; 14,3%, de oficina de dana e 10,7% gos-
tariam de assistir a filmes e escolheram cinema. Em relao ao apoio psicolgico, 21,4%
dos participantes relataram ser algo necessrio e que poderia acontecer dentro da insti-
tuio.
3. A COMUNICAO NA MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSOINSTITUCIONALIZADO
Os dados coletados neste estudo revelam que, com institucionalizao, os idosos ten-
dem a se isolar e, segundo a literatura, vrios fatores podem estar relacionados a este
sentimento, entre eles a falta da famlia, o medo da rejeio e no aceitao pelos ou-
tros e a baixa auto-estima. (BUENO; VEGA; BUZ, 2004). Considerando estes fatores
Santana (2007), em sua pesquisa destaca a importncia da comunicao entre os fami-liares e a instituio, reafirmando a necessidade de se pensar sempre no bem estar e
qualidade de vida do idoso institucionalizado.
Apesar da escassez de pesquisa nesta rea de conhecimento, autores como
Moscovici, (2004), Bueno, Vega e Buz (2004) e Rodrigues, Assmar e Jablonski, (2005),
afirmam a importncia da comunicao na vida do ser humano e destacam que no
contato com o ambiente social que se formam as idias e tende-se a melhorar o ambi-
ente e o convvio interpessoal. Segundo esses autores, as relaes sociais afetam todos
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Atividades e Entretenimento
palestras
eventos / festasoficinas
dana
cinema
apoio psicolgico
no responderam
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os mbitos da vida das pessoas mais velhas, contribuindo para a formao de hbitos
sociais e configurao de sua personalidade.
Visto que, segundo os dados apresentados nos grficos, a convivncia entre os
idosos outro fator agravante, principalmente no que se diz respeito comunicao, as
oficinas serviram para exercitar o relacionamento interpessoal e, com isso, levar os ido-
sos a adquirir um maior conhecimento das pessoas com as quais convivem, mostran-
do-se, portanto, estimulados a melhorar a comunicao. Isso foi muito importante, pois
muitos idosos saem com pouca freqncia de suas casas, vivem bastante isolados e
preferem no ter relaes mais prximas com os demais idosos.
Diante disso, percebeu-se que a prtica de atividades em grupo apresentou
mudanas positivas na comunicao entre os idosos, melhorou a comunicao interna
na instituio, favoreceu o estabelecimento de vnculos, diminuiu o isolamento e pro-
porcionou uma melhor compreenso das necessidades individuais e do grupo. Nesse
sentido, a literatura mostra que as relaes sociais entre os mais velhos estimulam a
mente e o pensamento, tendo mltiplos efeitos benficos sobre a sade e bem-estar
(BUENO; VEJA; BUZ, 2004).
A comunicao de fundamental importncia para a socializao do ser hu-
mano e as atividades realizadas na instituio visaram facilitar a convivncia entre os
idosos, fortalecendo a comunicao, diminuindo a distncia entre eles e, conseqente-
mente, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos mesmos.
Durante a realizao do trabalho houve a participao e o empenho de muitos
idosos e somente por isso este estudo foi possvel. Entretanto, outros no se disponibi-
lizaram a participar, o que no possibilitou uma maior abrangncia de idosos nas ati-
vidades realizadas. Contudo, isso j era esperado, visto que como destacam Menezes e
Vicente (2007), com o aumento da longevidade e certa fragilidade atribuda ao enve-
lhecimento, observa-se uma necessidade de assistncia na vida diria do idoso, que
torna-se, algumas vezes, dependente para manter sua autonomia em certas atividades
do cotidiano como a locomoo, alimentao, higiene, entre outras.
Porm, mesmo com as dificuldades, pode-se perceber, por meio dos grficos,
que as oficinas tiveram boa receptividade e, portanto, atividades como as apresentadas
deveriam ser freqentes nessas instituies, j que a maioria dos idosos passam grande
parte de seu tempo ocioso isolados em sua casa ou quarto, dificultando as relaes in-
terpessoais.
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Reafirmando essas colocaes, pode-se citar Moscovici (2004), que afirma no
existir interao social sem comunicao, da mesma forma que no existe comunicao
sem representao, que no uma cpia da realidade, mas sim a forma como o grupo
compreende a realidade e atua nela.
Deve-se ressaltar que h alguns agravantes que diminuem a comunicao en-
tre os idosos, como surdez, problemas nas cordas vocais devido ao envelhecimento, fa-
tores psicolgicos, problemas de memria, entre outros, como se observa no estudo de
Soncini, Costa e Oliveira (2003).
Por outro lado, nada impede que a instituio oferea ao idoso um ambiente
que o motive, favorea a comunicao, facilite a interao, visando contribuir com seu
bem-estar pessoal, social e emocional. H a necessidade de conscientizar os cuidadores
da importncia da comunicao e das relaes interpessoais entre os idosos, o que
promove a estas pessoas uma melhor qualidade de vida e sade mental.
Com a chegada da 3 idade, muitos idosos deixam de realizar atividades que
antes realizavam. So atividades simples como cozinhar, cuidar de casa, lavar suas
roupas. Ou ento no tm incentivo para participar de caminhadas, oficinas de arte,
cinema, festas. Isso tudo acontece principalmente com idosos institucionalizados, que
se sentem rejeitados e esquecidos por todos.
Segundo Bueno, Vega e Buz (2004), as funes de apoio aos idosos, em virtude
dos fatores demogrficos de grande crescimento dessa populao e das mudanas na
famlia, com menor nmero de irmos, por exemplo, ser delegada a outros sistemas
ou organizaes que satisfaam a inevitvel necessidade de cuidar daqueles que j no
podem cuidar de si mesmos.
A experincia deste trabalho destacou, portanto, a importncia de se pensar
esta temtica, destacando a importncia da comunicao para a socializao do idoso
que vive institucionalizado. Por fim, sugere-se ainda que haja esforos para a realiza-
o de outros estudos que explorem mais amplamente este foco tendo em vista a escas-
sez de trabalhos nesta rea e tambm a grande necessidade prtica, uma vez que a po-
pulao idosa cresce consideravelmente no Brasil, como indicam os dados do Censo
demogrfico do IBGE (2000).
Ento, necessrio discutir e refletir sobre este assunto to presente em nossa
vida, pois, como destaca Ayala (1979), vive-se em conjunto, come-se e trabalha-se em
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conjunto, mas as pessoas no se comunicam e as almas mantm-se emparedadas em
sua imensa solido. O homem um ser social e necessita comunicar-se.
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