1
CONEXÃO PERIFERIA ANTEPROJETO DE UM ESPAÇO CULTURAL JOVEM
ALLINE SILVA DO VALE
NATAL | RN
JUNHO | 2016
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
ALLINE SILVA DO VALE
CONEXÃO PERIFERIA ANTEPROJETO DE UM ESPAÇO CULTURAL JOVEM
Natal – RN
2016
3
ALLINE SILVA DO VALE
CONEXÃO PERIFERIA ANTEPROJETO DE UM ESPAÇO CULTURAL JOVEM
Trabalho Final de Graduação
apresentado ao Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte como requisito
para obtenção do grau de Arquiteta e
Urbanista.
Orientador: Prof.º José Augusto de
Oliveira Carvalho.
Natal – RN
2016
4
5
ALLINE SILVA DO VALE
CONEXÃO PERIFERIA ANTEPROJETO DE UM ESPAÇO CULTURAL JOVEM
Trabalho Final de Graduação
apresentado ao Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte como requisito
para obtenção do grau de Arquiteta e
Urbanista.
Aprovação em 13 de junho de 2016.
BANCA EXAMINADORA
José Augusto de Oliveira Carvalho
Professor orientador – UFRN
___________________________________________________________________________ Fernando José de Medeiros Costa
Membro interno – UFRN
Karenine Dantas Monteiro
Membro externo - SEMURB
6
Aos meus pais, Ana e Marcelino.
7
AGRADECIMENTOS
Finalmente é chegado o momento da conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo
e com ele chega também as memórias que remetem ao começo de tudo. Não o começo de seis
anos atrás, mas antes disso, quando optei por fazer um curso de nível básico na área de
construção civil em Felipe Camarão. De lá para cá muita coisa já aconteceu, muitas pessoas já
cruzaram o meu caminho com seus ensinamentos e apoio sempre que necessário.
Agradeço a Deus e a Nossa Senhora por terem me mantido na fé e nunca terem
desistido de mim.
Ao meu pai Marcelino agradeço por todo o esforço realizado, apesar de todas as
dificuldades, para sempre proporcionar, a mim e ao meu irmão, a melhor educação que
poderíamos ter. Quero te dizer que deu certo.
A minha mãe Ana por toda a dedicação e pelo exemplo de ser humano que tenho
dentro de casa. Por tudo que ela fez e faz diariamente para me ajudar nas atribuições do dia a
dia. Eu sei que seu amor é incondicional. Eu sinto isso todos os dias.
Ao meu irmão Allan pelas conversas, pelo apoio e por sempre me ajudar quando
preciso.
Ao meu namorado Randerson por todo apoio, carinho, compreensão e amizade.
Tenho certeza que nosso reencontro não é coincidência do acaso.
A minha família em geral que sempre torce por mim.
As minhas amigas mais que especiais Elaine, Ivania e Paulinha.
Aos amigos que IFRN me deu por todas as conversas e risadas compartilhadas.
Aos amigos da faculdade, em especial aos boêmios, minha turma original de 2010.2,
que sempre se mantiveram unidos e fez essa trajetória parecer mais leve.
A Karina, amiga que a faculdade me deu e que foi de fundamental importância nessa
reta final.
A Alinne Alessandra, Less, por ter compartilhado comigo um dos momentos mais
inesquecíveis da minha vida que foi a experiência do intercâmbio. Ali foi apenas o começo de
uma amizade que tenho certeza que durará.
A Mateus Medeiros pela amizade que desde sempre aconteceu e por tantos
momentos juntos durante o curso, entre eles, trabalhos em dupla, intercâmbio e orientações do
trabalho final de graduação.
8
A Rhenyara, que também está nessa leva de formandos dos boêmios, pelo bom
humor no nosso grupo dos laureados. Desabafar com vocês muitas vezes foi o que me
manteve forte.
A todos os professores do departamento de Arquitetura e Urbanismo pelos
ensinamentos, em especial ao meu orientador José Augusto por ter aceitado trabalhar comigo
e ter compartilhado seus conhecimentos e opiniões.
A todos muito obrigado.
9
RESUMO
Este trabalho final de graduação consiste na elaboração de um anteprojeto de um
espaço cultural voltado para os jovens no bairro de Felipe Camarão, localizado em Natal/RN.
O interesse pelo tema surgiu a partir da observação dos acontecimentos cotidianos no bairro
em estudo. Muitos jovens são vítimas da violência que ocorrem nas periferias e a carência de
políticas públicas voltadas para essa classe diminuem as chances de reversão dessa situação.
Embora os problemas sociais existam, o presente trabalho também mostra uma outra realidade
da comunidade: a tradição cultural popular. A ideia foi unir os dois condicionantes e propor
uma solução. Para a concretização do trabalho foram abordados alguns aspectos conceituais
relacionados ao tema em questão. Em geral, a proposta se insere em um contexto de
considerada importância, que é a discussão de medidas para se combater a violência.
Palavras-chave: jovem; periferia; violência; cultura; desenvolvimento social.
10
ABSTRACT
This final work is the development of a pre-project of a cultural space focused for
young people in the Felipe Camarão neighborhood, located in Natal/RN. The interest in the
subject arose from the observation of everyday events in the neighborhood in study. Many
young people are victims of violence occurring in the suburbs and the lack of public policies
for this class decrease the chances of reversing this situation. Although social problems exist,
this study also shows another community reality: a popular cultural tradition. The idea was to
unite the two conditions and propose a solution. For the implementation of the work some
conceptual aspects related to the issue have been discussed. Overall, the proposal is part of a
context considered important, which is the discussion of measures to combat violence.
Keywords: young; periphery; violence; culture; social development.
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: NAM - Núcleo de Amparo ao Menor .................................................................... 29
Figura 2: Maquete do NAM ................................................................................................. 29
Figura 3: Localização do Núcleo de Amparo ao Menor ........................................................ 30
Figura 4: Planta baixa - setor administrativo e de serviços .................................................... 31
Figura 5: Circulação coberta do bloco administrativo ........................................................... 31
Figura 6: Quadra de esportes ................................................................................................ 32
Figura 7: Sala de aula ........................................................................................................... 32
Figura 8: Sala de música ...................................................................................................... 33
Figura 9: Refeitório .............................................................................................................. 34
Figura 10: Rampas ............................................................................................................... 34
Figura 11: Horta comunitária ............................................................................................... 35
Figura 12 Centro de Cultura Max Feffer:.............................................................................. 36
Figura 13: Localização do Centro de Cultura Max Feffer ..................................................... 37
Figura 14: Vista do palco ..................................................................................................... 37
Figura 15: Vista interna do pavimento superior .................................................................... 38
Figura 16: Vista da cobertura ............................................................................................... 39
Figura 17: Vista interna – aproveitamento da luz natural ...................................................... 40
Figura 18: Fachada do Centro de Cultura Max Feffer ........................................................... 41
Figura 19: Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso ........................................................ 42
Figura 20: Localização do Centro Cultural da Juventude ...................................................... 42
Figura 21: Átrio central ........................................................................................................ 43
Figura 22: Vista interna do Centro Cultural da Juventude ..................................................... 44
Figura 23: Planta pavimento térreo – Centro Cultural da Juventude ...................................... 44
Figura 24: Vista interna do Centro Cultural da Juventude ..................................................... 45
Figura 25: Planta segundo subsolo – Centro Cultural da Juventude ...................................... 45
Figura 26: Fachadas - Centro Cultural da Juventude ............................................................. 46
Figura 27: Corte tranversal - Centro Cultural da Juventude .................................................. 46
Figura 28: Fachada lateral - Centro Cultural da Juventude .................................................... 47
Figura 29: Loteamento Reforma ........................................................................................... 50
Figura 30: Chico Daniel e um dos seus personagens ............................................................. 53
Figura 31: Mestre Manoel Marinheiro .................................................................................. 54
12
Figura 32: Casa de Cultura do Mestre Manoel Marinheiro ................................................... 55
Figura 33: Odaísa Galvão ..................................................................................................... 55
Figura 34: Localização do bairro de Felipe Camarão dentro do município de Natal .............. 57
Figura 35: Localização do bairro de Felipe Camarão dentro da região administrativa Oeste . 57
Figura 36: Localização do terreno ........................................................................................ 58
Figura 37: O terreno e as vias de acesso ............................................................................... 58
Figura 38: O terreno ............................................................................................................. 59
Figura 39: Vista do terreno a partir da Rua Mira Mangue ..................................................... 59
Figura 40: Topografia esquemática do terreno ...................................................................... 60
Figura 41: Zoneamento Bioclimático Brasileiro ................................................................... 68
Figura 42: Estratégias de conforto ambiental ........................................................................ 69
Figura 43: Carta solar de Natal/RN - Fachada Leste ............................................................. 70
Figura 44: Carta solar de Natal/RN - Fachada Oeste ............................................................. 70
Figura 45: Rosa dos Ventos de Natal/RN ............................................................................. 71
Figura 46: Carta solar sobre o terreno ................................................................................... 71
Figura 47: Figura do galante................................................................................................. 73
Figura 48: Evolução do conceito e do partido arquitetônico.................................................. 74
Figura 49: Primeira proposta de zoneamento ........................................................................ 77
Figura 50: Segunda proposta de zoneamento ........................................................................ 77
Figura 51: Corte esquemático ............................................................................................... 78
Figura 52: Primeira proposta de implantação - Acessos ........................................................ 78
Figura 53: Proposta do pavimento térreo .............................................................................. 79
Figura 54: Proposta do pavimento superior .......................................................................... 80
Figura 55: Proposta do pavimento inferior 01 ....................................................................... 80
Figura 56: Proposta do pavimento inferior 02 ....................................................................... 81
Figura 57: Implantação ........................................................................................................ 83
Figura 58: Esquema volumétrico .......................................................................................... 84
Figura 59: Proposta final do pavimento térreo ...................................................................... 84
Figura 60: Proposta final do pavimento superior .................................................................. 85
Figura 61: Proposta final do pavimento inferior 01 ............................................................... 86
Figura 62: Proposta final do pavimento inferior 02 ............................................................... 87
Figura 63: Implantação ........................................................................................................ 88
Figura 64: Laje nervurada .................................................................................................... 89
Figura 65: Laje treliçada com bloco de EPS ......................................................................... 89
13
Figura 66: Estrutura da cobertura ......................................................................................... 90
Figura 67: Telha sanduíche .................................................................................................. 90
Figura 68: Área de estacionamento ...................................................................................... 92
Figura 69: Jasmim manga .................................................................................................... 93
Figura 70: Ipê amarelo ......................................................................................................... 93
Figura 71: Quaresmeira ........................................................................................................ 93
Figura 72: Areca bambu ....................................................................................................... 94
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resumo dos estudos de referência ......................................................................... 47
Tabela 2: Quadro resumo das prescrições urbanísticas ......................................................... 61
Tabela 3: Relação das edificações que geram tráfego ........................................................... 62
Tabela 4: Quadro resumo - NBR 9050 (2015) ...................................................................... 64
Tabela 5: Programa de necessidades e pré-dimensionamento ............................................... 75
Tabela 6: Indicações paisagísticas ........................................................................................ 93
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................17
1. CAMINHOS E CONCEITOS .............................................................................................................21
1.1REALIDADE DOS JOVENS DA PERIFERIA.....................................................................................21
1.2CULTURA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL ..................................................................................24
2. ESTUDOS DE REFERÊNCIA .............................................................................................................28
2.1 ESTUDO DIRETO ......................................................................................................................28
2.1.1 NAM – NÚCLEO DE AMPARO AO MENOR .........................................................................28
2.2 ESTUDOS INDIRETOS ...............................................................................................................35
2.2.1 CENTRO DE CULTURA MAX FEFFER ...................................................................................35
2.2.2 CENTRO CULTURAL DA JUVENTUDE RUTH CARDOSO ........................................................41
2.3 QUADRO RESUMO...................................................................................................................47
3. CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO DE ESTUDO: O BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO ..........................49
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ............................................................................................................49
3.2 PROBLEMAS SOCIAIS ...............................................................................................................52
3.3 EXPRESSÕES CULTURAIS ..........................................................................................................53
4. ÁREA DE INTERVENÇÃO ................................................................................................................57
4.1 ASPECTOS GEOGRÁFICOS DO BAIRRO ......................................................................................57
4.2 O TERRENO .............................................................................................................................58
4.3 CONDICIONANTES FÍSICAS .......................................................................................................59
4.4 CONDICIONANTES LEGAIS .......................................................................................................60
4.5 CONDICIONANTES AMBIENTAIS...............................................................................................68
5. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA ARQUITETÔNICA .................................................................73
5.1 ESTUDOS PRELIMINARES .........................................................................................................73
5.1.1 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO ............................................................................73
5.1.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO .............................................74
5.1.3 ZONEAMENTO ..................................................................................................................76
5.2 EVOLUÇÃO DA PROPOSTA .......................................................................................................78
5.3 O PRODUTO ............................................................................................................................82
16
5.3.1 INSERÇÃO URBANÍSTICA ...................................................................................................82
5.3.2 SOLUÇÕES FUNCIONAIS ....................................................................................................83
5.3.3 ESTRATÉGIAS DE CONFORTO AMBIENTAL .........................................................................87
5.3.4 CONCEPÇÃO ESTRUTURAL ................................................................................................88
5.3.5 RESERVATÓRIO DE ÁGUA ..................................................................................................91
5.3.6 ESTACIONAMENTO ...........................................................................................................91
5.3.7 RECOMENDAÇÕES PAISAGÍSTICAS ....................................................................................92
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................................................96
17
INTRODUÇÃO
Partindo das premissas de abordagem do tema geral dos Equipamentos Comunitários
de Lazer, este trabalho final de graduação (TFG) se propõe à elaboração de um projeto
arquitetônico de um Espaço Cultural no bairro de Felipe Camarão, Zona Oeste de Natal/RN.
A motivação para a elaboração deste projeto surgiu a partir das minhas experiências vividas
no bairro, visto que, como moradora da localidade há 6 anos e autora deste produto,
acompanho de perto os acontecimentos cotidianos do mesmo, infelizmente em números
negativos maiores do que positivos. O presente trabalho não pretende justificar os atos
cometidos por jovens infratores ou como eles entraram nesse mundo da criminalidade.
Pretende-se aqui mostrar que um amparo sociocultural diário, representado por um espaço
físico com caraterísticas voltadas a este fim, pode ser elemento norteador na vida desses
jovens que muitas vezes apresentam problemas sociais desde sempre, sejam de ordem
familiar, econômica e/ou moral.
A cidade de Natal em sua totalidade é carente de políticas que assegurem o bem-estar
e a qualidade de vida das crianças e adolescentes das periferias, à exceção de ações pontuais.
Ao caminhar pelas ruas do bairro de Felipe Camarão, área de abrangência deste estudo,
sempre senti a necessidade de que houvessem mais espaços públicos e/ou equipamentos de
lazer na comunidade a fim de atender a uma população geral bastante numerosa, em especial
à população juvenil. Esta impressão pessoal fora comprovada posteriormente em trabalho de
pesquisa1 realizado no bairro sobre a relação dos jovens e os espaços públicos da comunidade,
evidenciando a carência de espaços de lazer na mesma. Os resultados obtidos naquela
pesquisa contribuíram de forma substancial para a predisposição da realização do atual
estudo.
Felipe Camarão é conhecido por estampar noticiários escritos e televisivos
mostrando a violência e a criminalidade existentes em sua área. Na grande maioria das
reportagens vemos jovens envolvidos com o mundo do crime e o estado de violência
instaurado está diretamente ligado, dentre outros condicionantes, à situação do lugar. Tais
problemas são evidenciados na taxa de homicídios do bairro. De acordo com o panorama
apresentado na publicação “Redesenhando o mapa da violência homicida potiguar”, elaborada
por Ivenio Hermes, Marcos Caldas e Thadeu Brandão (2014), a partir dos dados estatísticos
1 Trabalho desenvolvido na disciplina de Planejamento e Projeto Urbano e Regional 06, no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no período 2015.1.
18
referentes ao primeiro semestre de 20142, Natal encerrou o período com 298 homicídios e
uma taxa de 36,45 homicídios por 100 mil habitantes. O bairro de Felipe Camarão apresentou
uma média maior do que a capital. Foram 57,55 homicídios por cada 100 mil habitantes. O
estudo ainda mostra que a concentração de homicídios entre a população jovem foi alta não
somente no bairro compreendido nesta pesquisa, mas nas 4 zonas de Natal, ficando claro que
a atenção ao tema da violência por parte do Estado deve ser vigente em todas as áreas da
cidade, em ações não apenas de repressão mas, principalmente, de educação, cultura e lazer
como meios de prevenção dos avanços desses índices.
Dentre as ações de atuação do Estado caberia atenção particular aos espaços
adequados para a prática de lazer da população, inexistentes ou inapropriados não somente na
região em foco, mas também em outras periferias de Natal. De acordo com o relatório da
SEMURB intitulado “Equipamentos Urbanos”3 (2009), pode-se observar que a Zona Sul de
Natal possui 87 praças, enquanto que a Zona Leste apresenta 74, seguido da Zona Norte com
58 e por último a Zona Oeste, onde se insere a área de estudo deste trabalho, com 27 praças.
O bairro em análise apresenta apenas uma praça segundo a publicação. Cíntia Liberalino
(2006) afirma que, além dessa praça, também existe uma quadra de esportes e um campo de
futebol como equipamentos de esporte e lazer comunitários. Em complementação à isso, o
que vê-se atualmente em Felipe Camarão são espaços pouco qualificados, que não estimulam
a integração social e nem atendem as expectativas da população e dos visitantes.
Apesar dos problemas sociais enumerados anteriormente, o bairro tem enraizado na
sua história uma forte tradição cultural, cujos ensinamentos são passados de geração em
geração. Felipe Camarão foi local de moradia de dois grandes nomes da cultura popular: o
Mestre Manoel Marinheiro, que com o seu Boi de Reis foi considerado patrimônio cultural
imaterial pelo Ministério da Cultura em 2006 e o Mestre Chico Daniel, com seu teatro de
bonecos “João Redondo”. Ambos deixaram um legado que luta para resistir à passagem do
tempo e não cair no esquecimento.
A área em estudo apresenta algumas iniciativas de atenção social voltadas para
crianças e adolescentes do bairro como, por exemplo, o projeto “Conexão Felipe Camarão” e
o NAM (Núcleo de Amparo ao Menor). O projeto “Conexão Felipe Camarão” tem o objetivo
de fortalecer a identidade cultural local4, contribuindo com a sua preservação, ao mesmo
2 Mapeamento de crimes violentos letais intencionais – 2014 | Natal: a violência por zonas (1º semestre). 3 Equipamentos Urbanos é um capítulo integrante do livro “Natal em Detalhes”. 4 O bairro apresenta uma forte expressão cultural: o Auto do Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro, o teatro de bonecos João Redondo do Mestre Chico de Daniel, a rabeca do Mestre Cícero da Rabeca e a capoeira do Mestre Marcos.
19
tempo em que trabalha o potencial artístico dos jovens da comunidade. O NAM tem por
missão complementar e promover atividades nas áreas de educação, saúde, esporte, lazer, arte
e cultura para crianças, adolescentes, jovens e adultos. Apesar de serem iniciativas de impacto
positivo, ambas têm o desenvolvimento do trabalho limitado pelo espaço que podem oferecer
à comunidade. As atuais instalações do NAM não tiveram todo o seu programa de
necessidades previsto em projeto executado devido à falta de verba e o “Conexão Felipe
Camarão” funciona atualmente em um galpão que foi adaptado para as necessidades do
projeto. O produto a ser elaborado neste TFG busca criar um espaço que possa também servir
de apoio ao trabalho social já desenvolvido por esses dois grupos.
Felipe Camarão apresenta uma grande contradição: uma riqueza cultural inestimável
e uma pobreza econômica/social evidentes. Embora o bairro já apresente alguns trabalhos
voltados para crianças e adolescentes, sabe-se que ainda é pouco perto do que poderia ser
feito caso houvesse um maior interesse do poder público e de iniciativas privadas. Tanto a
experiência pessoal quanto a acadêmica me fizeram constatar que não há uma preocupação
constante com os jovens da comunidade, apesar dos dados alarmantes de violência que os
atinge e dos poucos projetos sociais voltados aos mesmos.
É nesse contexto sócio espacial que o presente trabalho se desenvolve. Visto a
carência de espaços de lazer e de áreas adequadas para o desenvolvimento da produção
cultural no bairro, a ideia é elaborar um projeto arquitetônico de um espaço físico que dê esse
suporte. O objetivo principal desse estudo é projetar uma edificação adequada para a
realização das manifestações artísticas e culturais do bairro de Felipe Camarão, contribuindo
com a formação dos jovens da comunidade, dando-lhes um direcionamento e uma
oportunidade de resgatá-los das dificuldades que permeiam a periferia.
No que diz respeito à estrutura do trabalho tem-se a divisão em três partes: (I)
Referencial teórico-metodológico, (II) Análise da área e (III) A proposta. Na primeira parte
serão apresentados os referenciais teórico-metodológicos necessários ao entendimento das
questões levantadas. Primeiramente haverá uma caracterização das periferias urbanas para que
se possa compreender o meio em que o estudo está inserido. Em seguida será abordado o
público-alvo: os jovens. Será discutida a relação entre esses, os espaços públicos e os índices
sociais, apresentando dados estatísticos da violência neste meio. Também será exposta a
importância de ações e iniciativas que se preocupam com essa parcela da população. Em
seguida, haverá uma discussão a respeito de como a prática de atividades culturais pode
contribuir com o desenvolvimento social do cidadão. Por fim, serão apresentados os estudos
de referência e as suas análises.
20
Na segunda parte será apresentado uma caracterização da área de estudo e uma
explanação sobre a área de intervenção. A fim de compreendermos o bairro, veremos algumas
questões que vão desde o histórico da comunidade, passando pontualmente pelos problemas
sociais e pelas expressões culturais existentes. Em seguida, será apontado o local específico
para a elaboração da proposta arquitetônica. Aqui será apresentado o terreno, seu entorno,
seus respectivos condicionantes legais e tudo que seja imprescindível para a realização do
trabalho.
A terceira e última parte trará a proposta em si. Serão apresentados dados que
caracterizam o estudo preliminar: conceito, partido, programa de necessidades, pré-
dimensionamento e zoneamento. Logo após, será mostrada a evolução da proposta e os seus
desdobramentos até chegar ao produto final.
21
1. CAMINHOS E CONCEITOS
Pretende-se aqui tecer algumas considerações acerca do tema em questão com a
finalidade de dar embasamento teórico e direcionamento prático a este trabalho final de
graduação. Sendo assim, o capítulo abordará os referenciais teóricos-metodológicos de dois
tópicos específicos: o universo dos jovens da periferia e a questão da cultura atrelada ao
desenvolvimento social.
1.1 REALIDADE DOS JOVENS DA PERIFERIA
Ao analisar-se um panorama geral sobre os jovens, no Brasil em especial, observa-se
que existem várias questões que permeiam esse universo. A publicação do IBGE, intitulada
População jovem no Brasil: a dimensão demográfica5 (1999) ressalta a importância dos
jovens como a classe que pressiona a economia para a geração de novos postos de trabalho.
No entanto, coloca ainda que estes mesmos jovens são os entes que mais estão expostos às
elevadas taxas de mortalidade por causas externas6.
Acerca do tema, Márcio Amaral (2011), em sua dissertação de mestrado na área de
educação, faz as seguintes considerações sobre o universo dos jovens: “Quando se aborda o conceito de juventude, duas definições se destacam nesta construção: uma noção etária e uma construção social e histórica. Quando abordada de forma apressada e superficial, em geral, a noção de juventude remete a uma caracterização etária, vinculada à biologia e demais ciências médicas, concebida como uma fase de transição, uma passagem da infância para a idade adulta, caracterizada pelas transformações do corpo biológico. Entretanto, este processo de transição acontece num contexto social com significados diferentes, específicos para este período da vida, alterando-se conforme o contexto histórico, social, econômico e cultural. O aprofundamento da reflexão acerca do conceito de juventude conduz à percepção de que este conceito se revela complexo, propenso a ambiguidades e, em alguns casos, simplificações” (AMARAL, 2011, p. 18-19).
Ser jovem traz consigo um mundo de descobertas e novidades. É uma das fases da
vida que mais estamos dispostos a lutar por ideais. No entanto, essa parcela da população
acaba por sofrer com as poucas ações de políticas públicas dispostas a ajudá-los e ampará-
los quando inseridos em realidades sociais de carência. Para Gilnadson Bertuleza (2014,
p.46), “durante décadas a preocupação com a população jovem no Brasil foi relegada a
segundo plano, uma vez que este contingente populacional nem sempre teve os seus direitos
5 Este é um capítulo integrante da publicação “População Jovem no Brasil”. 6 Mortes por violência, acidentes, etc.
22
amparados pela lei, e no mais, não era dada a atenção devida às questões relacionadas a
eles”. No entanto, podemos observar que o cenário vem mudando aos poucos. O autor
coloca que o fato do jovem ser visto como potencial colaborador para o crescimento e
desenvolvimento da sociedade tem feito com que inúmeras ações pelo mundo tenham sido
pensadas de forma a atender e orientar as pessoas sobre os direitos da juventude.
Com o passar do tempo, alguns direitos foram sendo conquistados por essa parcela
da população, tal como a inserção da palavra “juventude” à Constituição Federal Brasileira
através da Emenda Constitucional nº 65, bem como a sanção da Lei nº 12.852/2013, a qual
trata dos direitos dos jovens no Brasil.
Antes de entrarmos na questão relacionada aos jovens da periferia em si, faz-se
necessário a apresentação da definição de periferias urbanas. Desse modo, temos que “As periferias urbanas constituem-se em um lugar físico e social onde se acham cristalizados os problemas de exclusão, de violência e de sofrimentos sociais, engendrados pelo processo exacerbado de uma certa racionalidade capitalista com um modo de funcionamento paradoxal, isto é, a riqueza é gerada na medida em que se produz, ao mesmo tempo, a pobreza, a miséria e a exclusão maciça de pessoas do mercado de trabalho e de consumo” (TAKEUTI, 2006 apud LIBERALINO, 2006, p.9-10).
Dália Lima (2002, p. 38) complementa a definição afirmando que “socialmente, as
periferias urbanas são áreas de baixa renda, carentes dos serviços básicos e de longos
deslocamentos para o trabalho, o consumo e o lazer”. Esta definição se aplica ao bairro de
Felipe Camarão, por exemplo, sendo um dos bairros mais populosos de Natal7 e um dos mais
carentes quanto à aspectos de infraestrutura. Há problemas com iluminação pública,
manutenção de pavimentação de ruas, carência nos serviços de saúde e educação, deficiência
na segurança pública, entre outros aspectos negativos. São nas periferias onde vivem boa
parte da classe dos trabalhadores “braçais” e/ou aqueles que não necessitam de um alto grau
de escolaridade para desenvolver suas funções. São motoristas, operários da construção civil,
babás, vendedores, empregadas domésticas, feirantes, etc.
Ser jovem e morador de periferia no Brasil traz consigo um estigma social muito
forte. A respeito disso, Candida de Souza (2012) coloca que “(...) grande parcela da população juvenil apresenta reais dificuldades de concretização de seus projetos de vida, visto que a sua esfera social determina os limites até onde esse jovem pode ir na sociedade e contribui para a marginalização dos setores mais pobres, em que o acesso a políticas de educação, segurança, bem como ao mercado de trabalho formal apresentam-se de maneira escassa” (SOUZA, 2012, p. 47).
Sobre as várias categorias que os jovens podem assumir na periferia, Norma Missae
Takeuti (2002) afirma que um só jovem da periferia pode assumir diversas classes. Ele pode 7 O bairro, com 50.997 habitantes, ocupa a 5ª posição de acordo com o Censo 2010 realizado pelo IBGE.
23
ser um trabalhador formal ou informal, um membro de algum movimento juvenil, participante
de algum programa social, membro de uma organização de tráfico de drogas e ainda membro
de uma família, enquanto pai, filho ou neto. A autora mostra como é extenso o leque de
opções e de relações que podem existir.
Atualmente a violência é seguramente um dos problemas que mais afligem a
sociedade brasileira. A população fica cada vez mais assustada com o que vive diariamente,
sem falar na sensação de impotência diante de tais situações. Enquanto agente causador de
ações negativas, a violência traz uma má reputação para determinada localidade ou região.
Sabe-se que pobreza não é sinônimo de violência. No entanto, são em áreas desestabilizadas
econômica e socialmente que ocorrem os maiores índices relativos à essa questão. Problemas
com estrutura familiar, evasão escolar, uso de drogas, entre outras coisas, acabam por
contribuir com a formação desse quadro.
As estatísticas nos mostram que a violência se transformou em uma das principais
causas de morte de jovens. Segundo o Atlas da Violência 2016, divulgado no mês de março
do corrente ano com elaboração pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em
parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a morte violenta de jovens no
Brasil cresce em um rápido ritmo desde os anos 1980. Ainda de acordo com os dados
disponíveis é possível ver que a partir de 2008 o número de mortes tem evoluído de maneira
bastante desigual no país, atingindo principalmente os moradores de cidades menores no
interior do Brasil e no Nordeste, sendo as principais vítimas jovens e negros.
Segundo o estudo, o Rio Grande do Norte foi o estado brasileiro que registrou o
maior crescimento na taxa de homicídios. No período entre 2004 e 2014, a variação da taxa de
homicídios por 100 mil habitantes foi de mais de 308,1%, agregando-se a isso a variação no
número de assassinatos que foi de 360,8% de aumento. Em 2004, 342 pessoas foram
assassinadas no RN, enquanto que em 2014, foram 1.576 vítimas.
Como já comentado, em se tratando de violência nas periferias, sabe-se que esse
problema atinge de maneira mais impactante a faixa etária juvenil. Souza (2012, p.66) afirma
que “os jovens que residem em locais com altos índices de criminalidade têm maior chance de
se envolverem em atos violentos do que os que vivem em outros locais”. A autora reconhece a
participação dos jovens em práticas delituosas, no entanto chama atenção para que o tema das
discussões não seja a criminalização em si, mas sim a compreensão dos fatores que permeiam
a juventude pobre, com a finalidade de se encontrar alternativas à violência.
Amaral (2011, p. 61) traz para a discussão um outro olhar sobre esse tema ao afirmar
que “habitar a periferia significa estar sujeito a estas condições e seus antagonismos e
24
contradições, mas também representa resistência e oposição”. O autor nos apresenta a questão
das “culturas juvenis”. Ele defende que existem diferenças no modo de ser dos jovens da
periferia e é exatamente isso, a diversidade, que faz surgir tal expressão. Ele coloca que não é
possível falar em cultura juvenil, mas em “culturas juvenis”, uma vez que várias identidades
próprias são criadas em tais espaços.
Sabemos dos problemas que existem nesses espaços, principalmente no que diz
respeito à violência urbana e ao tráfico de drogas. Acerca desse assunto, Amaral (2011, p. 61)
coloca que “um erro seria generalizar estas situações a todas as famílias e sujeitos que moram
neste lugar, ignorando as especificidades construídas por cada sujeito, as formas como
experiência e reflexiona sobre essas relações”. É fato que cada indivíduo carrega com si uma
história e é responsável por suas escolhas. Assim como existem indivíduos envolvidos com o
mundo do crime nas periferias, também existem jovens estudantes e/ou trabalhadores que não
praticam delitos. Ambos vivem em um meio de dificuldades mas procuram sobreviver
diariamente, cada um à sua maneira. Em relação a isso, Cíntia Liberalino (2006, p.10) afirma
que “os jovens que vivem em periferias urbanas não podem ser estereotipados”. Apesar deles
viverem em um contexto social desfavorecido, se levarmos em consideração alguns aspectos,
tais como violência urbana, dificuldade no acesso ao estudo e trabalho, baixa renda familiar,
entre outros, eles ainda conseguem produzir experiências significativas em seu meio.
Uma das formas de enfrentamento à violência na juventude é o fortalecimento das
famílias e das relações de comunidade, atrelados à educação e ao estímulo do
desenvolvimento social e pessoal do indivíduo.
1.2 CULTURA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
A palavra cultura é de origem latina e em seu significado original está ligada às
atividades agrícolas. Vem do verbo latino colere, que quer dizer cultivar (SANTOS, 1994).
No contexto desse trabalho cultura pode ser entendida como um produto coletivo da
existência humana. José dos Santos (1994, p. 07) afirma que “cultura é uma preocupação
contemporânea, bem viva nos tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos
caminhos que conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas
de futuro”. Podemos entende-la como resultado de uma construção histórica ao longo do
tempo. Um processo contínuo que conduz o ser humano no mundo objetivo e subjetivo.
25
Segundo Elena Fioretti e Stefano Florissi (2011) a relação entre cultura e
desenvolvimento foi expressa pela primeira vez, na Conferência Mundial sobre Políticas
Culturais, conhecida como “Mondiacult”, que ocorreu no México em 1982. Essa Conferência
além de produzir um documento reconhecendo as transformações que vinham ocorrendo no
mundo provenientes dos avanços tecnológicos e científicos, também definiu alguns
princípios, tais como, a cultura e a democracia, a criação artística e intelectual, as relações
entre cultura, educação, ciência e comunicação, a administração e o financiamento das
atividades culturais, além das políticas culturais voltadas para a Identidade Cultural. O
documento ainda afirmou o papel da UNESCO (Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura) nessa conjuntura, que é o de colocar a cultura no centro das
políticas de desenvolvimento, constituindo assim num investimento essencial para o futuro
global.
O “Mondiacult” é uma referência no que diz respeito aos direitos culturais já que foi
ali que foi esboçado pela primeira vez o princípio de uma política cultural baseada no respeito
à diversidade cultural. Bruno Wanderley Junior e Carla Volpini (2007) afirmam que após o
“Mondiacult” algumas outras convenções surgiram com o intuito de proteger e desenvolver as
questões relativas à diversidade cultural da humanidade.
A cultura não é algo independente da vida social. Pelo contrário, é algo que está
extremamente ligado a realidade onde existe. O contexto sempre deve ser levado em
consideração no entendimento da variedade de expressões culturais que existem mundo afora.
A produção cultural de um determinado grupo da sociedade cria uma identidade, um marco,
que reforçam os laços existentes. Acerca disso, Santos (1994, p. 08) nos diz que “cada
realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam
sentido as suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam”.
Ao relacionar a produção cultural com o meio no qual se está inserido, fica mais fácil
combater preconceitos e compreender as relações humanas criadas de tal interação.
No Brasil temos o Plano Nacional de Cultura (PNC), o qual é um conjunto de
princípios, objetivos, diretrizes, estratégias e metas que devem orientar o poder público na
formulação de políticas culturais. Seu principal objetivo é orientar o desenvolvimento de
programas, projetos e ações culturais que garantam a valorização, o reconhecimento, a
promoção e a preservação da diversidade cultural existente no Brasil através da
implementação de políticas públicas de longo prazo (até 2020).
O Plano baseia-se em três dimensões de cultura que se complementam:
26
A cultura como expressão simbólica, em que a identidade de uma nação pode
ser representada pelas suas ações e costumes;
A cultura como direito de cidadania, que consiste na realização de ações que
proporcionem ao cidadão o sentimento de pertencimento à sociedade;
A cultura como potencial para o desenvolvimento econômico, onde várias
relações podem ser construídas e proporcionar uma ascensão social e um
consequente melhoramento econômico para a população.
Dito isso, vê-se que uma das maneiras de se promover o acesso à cultura consiste na
criação de espaços que possibilitem a participação da população em ações culturais ativas e
passivas. Nesse contexto se insere a importância dos centros culturais, bem como dos teatros,
museus, entre outros. Com relação a isso, Karen Pinto (2009, p.10) nos diz que “nesses
centros (culturais), a integração entre arte, cultura e educação permite à comunidade o acesso
ao conhecimento, contribuindo para a sua formação e desenvolvimento humano”. Vale
reforçar que não basta a criação de tais espaços. É preciso que haja um esforço contínuo na
apropriação e uso dos equipamentos de lazer, fazendo com que a população usufrua de fato
dos benefícios que podem ser gerados.
O desenvolvimento de atividades culturais também pode gerar emprego e renda,
além de promover a inclusão social. A implantação de programações culturais no cotidiano
dos moradores de periferia pode ser estimulante e divisor de águas na realidade de vários
jovens que sofrem com a questão da vulnerabilidade social.
De fato, a cultura tem esse potencial de transformação social. Pinto (2009) nos diz
que “No Brasil, assim como na maioria dos países, é de competência do Estado promover meios de acesso à cultura, bem como à educação e à ciência, segundo os artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988, garantindo o exercício dos direitos culturais do cidadão. Num processo de democratização cultural esse acesso deve ser igualitário para todos os indivíduos e grupos e deve-se procurar incentivar a participação popular na criação cultural procurando respeitar as diferenças reais existentes entre os sujeitos em suas dimensões social e cultural, contribuindo dessa forma para a superação da desigualdade social (...)” (PINTO, 2009, p. 19-20).
Acerca dessa temática, Santos (1994) concorda que a promoção da cultura pode ser
um aliado na diminuição da desigualdade social. O autor afirma que a cultura é como um
agente das lutas sociais por um destino melhor. É algo que precisa ser apropriado em favor do
progresso social, em favor da superação, da opressão e da desigualdade.
No Brasil, inúmeros grupos culturais trabalham com o intuito de integrar segmentos
marginalizados à sociedade. A cultura acaba por se tornar uma forma de enfrentamento à
27
violência, combatendo os problemas socioeconômicos do país na medida em que atribui
identidade, disciplina e desejo de superação na vida das pessoas. Ela é responsável também
por proporcionar bem-estar aos indivíduos, já que o mesmo tem o sentimento de “utilidade”.
O fato de participar de um determinado grupo e a possibilidade de compartilhar conhecimento
com outras pessoas faz com que haja essa noção de pertencimento à sociedade.
Frente a uma manifestação cultural, as diferenças entre as pessoas parecem ser
diminuídas. Não importa se é negro ou branco, rico ou pobre, rural ou urbano. Há um elo
invisível entre os membros de um determinado grupo, um consenso silencioso que os torna
iguais e capazes de partilhar conhecimentos.
A cultura funciona como um forte agente de criação de identidade na medida em que
integra segmentos sociais e gerações. A identidade cultural criada vai formando a consciência
do povo. Ela também contribui na promoção da saúde mental e física do indivíduo uma vez
que o mesmo se mantém em constante movimento, além de ter a oportunidade de expandir
suas potencialidades.
Pelo exposto acima, vemos que a cultura, em todos os seus aspectos, tem como
produto o fortalecimento da identidade pessoal e consequentemente a integração entre os
membros de um determinado grupo. O bem-estar é sentido nas pequenas ações cotidianas. A
vida adquire um sentido, uma utilidade. Isso deveria ser a meta da sociedade como um todo:
uma qualidade de vida alicerçada no bem-estar de cada um. Pensar em espaços adequados que
auxiliem nesse processo é um ponto de partida para se chegar ao resultado almejado.
28
2. ESTUDOS DE REFERÊNCIA
Neste capítulo são apresentados os estudos de referência realizados em projetos com
funções similares ao projeto da edificação desenvolvido neste trabalho. O objetivo é buscar
auxílio que se aplique ao caso proposto, através da análise de aspectos formais e funcionais,
concepção arquitetônica, soluções de conforto ambiental e estrutural. Os estudos estão
divididos em duas categorias: direto (realizado in loco) e indiretos (realizados através de
pesquisas em fontes confiáveis). Para o estudo direto foi escolhido o Núcleo de Amparo ao
Menor (NAM), localizado em Natal/RN. Para os estudos indiretos foram escolhidos o Centro
de Cultura Max Feffer, localizado em Pardinho/São Paulo e o Centro Cultural da Juventude
Ruth Cardoso, localizado em São Paulo/SP.
Ao final do capítulo será apresentado um quadro-resumo. Uma perspectiva geral irá
expor os pontos de maior relevância de cada projeto que foram absorvidos para utilização na
proposta em andamento.
2.1 ESTUDO DIRETO
O estudo de referência direto é caracterizado por ser realizado através de visita ao
local. Foram observadas características tais como zoneamento funcional, inserção no contexto
urbano, programa de necessidades, soluções de conforto, materiais construtivos e técnicas
utilizadas, dentre outros.
2.1.1 NAM – NÚCLEO DE AMPARO AO MENOR
O Núcleo de Amparo ao Menor (NAM), localizado no bairro de Felipe Camarão em
Natal/RN, é uma instituição que, desde 2008, cria, desenvolve e executa projetos na área de
educação, esporte e cultura para melhoria da qualidade de vida de crianças, adolescentes e
jovens da comunidade. O Núcleo tem como foco promover o processo de educação e inclusão
social de indivíduos em situação de vulnerabilidade social.
29
Figura 1: NAM - Núcleo de Amparo ao Menor
Fonte: Acervo da autora
O projeto arquitetônico original não foi totalmente executado devido à falta de
recursos. Podemos ver na imagem a seguir como era a implantação inicial.
Figura 2: Maquete do NAM
Fonte: www.nam.org.br/site/
30
A implantação atual é apresentada na figura a seguir. O único acesso a edificação se
dá pela Rua Manoel Machado. A mesma interliga-se com a Avenida Presidente Raniere
Mazili – BR 226, que por sua vez interliga Natal e Macaíba.
Figura 3: Localização do Núcleo de Amparo ao Menor
Fonte: www.google.com.br/maps/
Nota: Editado pela autora
A instituição filantrópica, que se mantém através de parcerias e doações, abre suas
portas de segunda a sexta nos turnos da manhã e tarde. Atualmente o núcleo atende uma
média de 350 crianças e adolescentes, além de 15 adultos. A faixa etária dos participantes do
projeto varia de 6 a 65 anos. Especificamente nas aulas de música e cidadania há uma
restrição na faixa etária que é de 10 a 21 anos. Aos participantes do projeto são oferecidos
lanches nos intervalos das aulas. Os únicos requisitos para a participação em algum projeto
são: ser morador do bairro de Felipe Camarão e estar matriculado no ensino fundamental ou
médio. O rendimento escolar é acompanhado pela instituição.
Atualmente o projeto apresenta as seguintes atividades: PHE (Projeto Habilidade de
Estudo), Orquestra Ubaldo de Medeiros, aulas de judô, ioga, fisioterapia preventiva, cursos de
informática e artesanato. O Núcleo possui 16 funcionários entre professores do PHE, maestro,
cozinheira, auxiliar de serviços gerais, bibliotecária, secretária, gestora, coordenadora,
porteiro e vigias. Ele ainda oferece atendimento médico gratuito à população na área de
clínica geral, onde uma vez por mês, aos sábados, 25 fichas são distribuídas para a
comunidade.
A instituição é dividida em quatro setores: setor administrativo (administração, apoio
didático e serviços), setor de salas de aula, setor de oficinas e setor esportivo, totalizando uma
31
área construída8 de 2.884,80 m². Todos os blocos são térreos e foram concebidos de forma a
aproveitar o desnível do terreno. A seguir a imagem dos três primeiros blocos da entrada.
Figura 4: Planta baixa - setor administrativo e de serviços
Fonte: Acervo da autora
Ao entrar na instituição, após passar pela guarita, chega-se no bloco da administração
(bloco do meio). Existe uma circulação coberta nessa área e a partir daí o aluno ou visitante
destina-se para onde queira ir. Seguindo em frente tem a quadra de esportes, na direção
inferior tem-se o refeitório e na direção superior tem-se a biblioteca e as salas de aula.
Figura 5: Circulação coberta do bloco administrativo
Fonte: Acervo da autora
8 A área construída apresentada refere-se ao que consta no quadro de áreas, considerando a execução do projeto completo.
32
A recreação dos alunos ocorre na quadra poliesportiva e no campo de areia, os quais
estão situados lado a lado. A quadra de esportes não apresenta as dimensões de uma quadra
oficial. A construção de arquibancadas havia sido prevista, porém não chegou a ser executada.
Figura 6: Quadra de esportes
Fonte: Acervo da autora
As salas de aulas atendem uma média de 25 alunos. Elas apresentam uma boa
iluminação natural, além de uma integração visual com o entorno. A ventilação natural é
auxiliada por ventiladores para gerar maior conforto térmico aos usuários. A cobertura, que
apresenta um considerável beiral, criando uma generosa área de sombreamento, é composta
por uma estrutura de madeira recoberta com telha cerâmica colonial. Utiliza-se forro de
lambri nas salas de aula.
Figura 7: Sala de aula
Fonte: Acervo da autora
33
A sala de música não possui grandes dimensões. A iluminação e ventilação natural
estão um pouco prejudicadas nesse setor, uma vez que as janelas não parecem estar
dimensionadas com o tamanho adequado. Os alunos normalmente utilizam o refeitório e os
bancos das circulações para ensaiar. Além desses espaços, existe uma área específica por trás
do refeitório que também é utilizada para os ensaios. Uma sala para guarda de instrumentos
musicais dá suporte à sala principal. Para o tratamento de acústica da sala, foi criada uma
maneira improvisada de solução: caixas de ovos foram coladas nas paredes e no teto.
Figura 8: Sala de música
Fonte: Acervo da autora
O refeitório, que possui uma cozinha de apoio e uma sala de pré-preparo, comporta
em torno de 120 alunos. Ele é vazado dos lados, proporcionando iluminação e ventilação
natural, além de integração visual com o entorno.
34
Figura 9: Refeitório
Fonte: Acervo da autora
Embora a edificação não atenda a todos os quesitos de acessibilidade, eles
apresentam uma certa preocupação com aqueles que tem dificuldade na locomoção. O projeto
“Rampas de Acessibilidade”, em conjunto com algumas empresas parceiras, construiu uma
parte das rampas que ligam os diferentes níveis de implantação dos blocos.
Figura 10: Rampas
Fonte: Acervo da autora
Uma horta comunitária plantada ao lado do refeitório é cultivada pelos alunos. Tem
plantação de couve, coentro, salsa, pimentão, entre outros.
35
Figura 11: Horta comunitária
Fonte: Acervo da autora
2.2 ESTUDOS INDIRETOS
O estudo de referência indireto é caracterizado por analisar as mesmas características
do estudo direto (zoneamento, contexto urbano, programa de necessidades, soluções
arquitetônicas, etc.), com a diferença de não ser realizado através de visita in loco, sendo este
realizado através de pesquisas em fontes confiáveis e endereços eletrônicos (sites).
2.2.1 CENTRO DE CULTURA MAX FEFFER
A cidade de Pardinho, localizada no interior do estado de São Paulo, sempre
promoveu eventos ligados à música caipira de raiz, uma tradição que faz parte da história do
lugar. No entanto, não havia no município nenhum espaço adequado para apresentações
musicais ou teatrais. Outros importantes espaços culturais como biblioteca, cinema, centro de
informações turísticas, entre outros, também eram escassos na região. Para que pudessem ter
acesso à programas culturais, os habitantes de Pardinho precisavam se deslocar até uma
cidade vizinha chamada Botucatu.
A partir da compreensão de que investir em cultura significa promover o
desenvolvimento social de uma comunidade, em 2006, o Instituto Jatobás9 se dispôs a
contribuir para que a ideia de um Centro de Cultura em Pardinho tomasse forma.
9O Instituto Jatobás é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, cuja missão é influir para a ampliação da consciência e oferecer conhecimento para a construção de um caminho coletivo solidário e sustentável.
36
O Centro de Cultura Max Feffer, criado em 2008, em Pardinho, foi construído em
uma praça pública cedida pela Prefeitura Municipal. O edifício traz, em sua concepção, uma
série de técnicas inovadoras dos chamados “edifícios verdes” e destaca-se por suas linhas
diferenciadas e sua cobertura totalmente desenvolvida com bambu.
Figura 12 Centro de Cultura Max Feffer:
Fonte: arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/amima-arquitetura-centro-cultural-28-07-2009
Com um terreno de 7.130 metros quadrados, apenas algo em torno de 15% foi
utilizado em sua construção. A área construída de 1.651 metros quadrados, dividida em dois
pavimentos, promove o convívio e a interação das pessoas, por meio de atividades artísticas,
inclusão digital, espetáculos, entre outros. Segundo a autora do projeto, Leiko Motomura10,
titular do escritório Amima Arquitetura, o Centro “é um lugar de lazer, aprendizado e
convivência para crianças frequentadoras da praça, vizinhos e moradores próximos, baseado
nas melhores práticas ambientais”.
O acesso ao Centro, cujo entorno é predominantemente residencial, ocorre por três
formas: a principal, pela Estrada Boiadeira, feito por uma escadaria generosa e as outras duas,
pela Rua Augusto Cesar. Uma delas está no nível da rua, com ligação direta ao salão do térreo
e a outra é acessada por meio de uma rampa ligada diretamente ao piso superior, no qual
acontecem os shows e eventos.
10 Em matéria publicada no site arcoweb, 2009.
37
Figura 13: Localização do Centro de Cultura Max Feffer
Fonte: www.google.com.br/maps/
Nota: Editado pela autora
Na antiga praça antes havia um palco elevado e sob esse palco havia uma pequena
quantidade de sanitários públicos. A partir dessa estrutura existente, a arquiteta desenvolveu a
nova proposta de uso. As intervenções começaram pela reversão do palco, agora aberto para o
centro da praça, onde a topografia do terreno é aproveitada para acomodar 510 pessoas na
plateia descoberta. O público deve sentar-se no gramado. No entanto, foram colocados alguns
bancos fixos no meio da plateia a fim de atender às pessoas da terceira idade ou com
dificuldade de locomoção.
Figura 14: Vista do palco
Fonte: arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/amima-arquitetura-centro-cultural-28-07-2009
38
A área livre atrás do palco é reservada para atividades da comunidade. Onde antes
haviam os sanitários agora estão localizados a biblioteca, salas de leitura e de inclusão digital,
área multiuso, sala para reuniões da comunidade, escritório, depósito de lixo reciclável e
espaços de apoio para eventos. A estrutura combina concreto nas lajes e alvenaria nos
fechamentos. Figura 15: Vista interna do pavimento superior
Fonte: arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/amima-arquitetura-centro-cultural-28-07-2009
Um dos tripés da sustentabilidade é a responsabilidade ambiental. O projeto e a obra
foram pautados para empregar o máximo de soluções sustentáveis e obter a certificação Leed,
concedida pelo United States Green Building Council. Entre os recursos adotados estão
soluções de baixo consumo de água e de energia elétrica, tratamento de esgoto e
aproveitamento de materiais reciclados. A pequena infraestrutura do prédio existente no local
foi reaproveitada. A fim de estimular o uso do transporte não poluente foi construído um
bicicletário no local. Além da baixa ocupação, a permeabilidade do solo foi mantida pelo uso
de pisos externos 100% drenantes.
Entre os materiais sustentáveis utilizados o bambu se destaca. Ele toma toda a
estrutura de cobertura da construção. A cobertura apoiada em vigas e pilares de eucalipto é o
elemento que dá personalidade ao projeto. Ela combina áreas vazadas que possibilitam a
entrada de luz natural pelas duas laterais e partes opacas com telhas de fibra vegetal pintadas
de branco recobrindo o bambu.
39
Figura 16: Vista da cobertura
Fonte: arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/amima-arquitetura-centro-cultural-28-07-2009
Tanto o bambu quanto o eucalipto são fibras vegetais rapidamente renováveis. O
cuidado na escolha de materiais de baixo impacto levou à opção da telha de fibra vegetal, cuja
composição traz 42% de papelão reciclado.
Também foram aplicados seladores, colas, tintas e vernizes à base de água. Eles
apresentam baixo nível de emissão de compostos orgânicos voláteis, o que reduz a
probabilidade de problemas respiratórios entre os usuários. Além disso, a reutilização de
materiais é uma prática observada na construção. A madeira dos caixilhos e os tijolos são de
demolição, o gradil tem origem nos resíduos industriais, os corrimãos são de ônibus
desmanchados e os bancos e bebedouros são provenientes de materiais descartados.
No projeto paisagístico, a arquiteta utilizou plantas nativas já adaptadas ao meio
ambiente local. A estratégia é uma forma eficiente de minimizar o consumo de água potável.
A utilização da cor branca na cobertura, que favorece o aumento da reflexão solar, foi
empregada a fim de se melhorar o conforto térmico da edificação.
O sistema de ventilação natural adotado também auxilia no conforto térmico da
edificação. As janelas operáveis possibilitam o ajuste necessário da ventilação natural, que é
feito pelos usuários. A maior parte da iluminação do Centro é feita por luz natural. Sensores
de presença nos banheiros, células fotoelétricas na iluminação externa e iluminação zenital
também contribuem para a redução do consumo de energia.
40
Figura 17: Vista interna – aproveitamento da luz natural
Fonte: www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-
sustentabilidade/1695
Para economizar água, foi implantado um sistema de captação de água das chuvas
que segue para o reservatório com a finalidade de ser utilizada nos banheiros, para descargas,
e em um eventual incêndio. Segundo a arquiteta, as águas cinzas passam por um processo de
filtragem física em brita e areia, além de um biofiltro, composto por plantas.
Para ajudar na redução do consumo de água outras estratégias foram utilizadas. As
válvulas de descarga com acionamento duplo e as torneiras com fechamento automático
diminuem o gasto e evitam o desperdício de água potável.
41
Figura 18: Fachada do Centro de Cultura Max Feffer
Fonte: www.centromaxfeffer.com.br/conheca.php
Hoje, o projeto do Centro de Cultura Max Feffer é reconhecido mundialmente como
exemplo de construção sustentável: recebeu a certificação Leadership in Energy and
Environmental Design - LEED, concedida pela United States Green Building Council.
Recebeu ainda uma menção honrosa na 8º Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo,
realizada em 2009.
2.2.2 CENTRO CULTURAL DA JUVENTUDE RUTH CARDOSO
O CCJ – Centro Cultural da Juventude, equipamento da Secretaria Municipal de
Cultura, é o maior centro público dedicado aos interesses da juventude da cidade de São
Paulo. Inaugurado em 27 de março de 2006, fruto da mobilização da comunidade, ele inspira
outros centros de referência de juventude pelo Brasil e pelo mundo.
42
Figura 19: Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso
Fonte: mural.blogfolha.uol.com.br/2014/01/16/estudio-de-animacao-na-v-n-cachoeirinha-deve-deixar-
o-bairro/
Localizado na Zona Norte de São Paulo, junto ao Terminal de Ônibus Vila Nova
Cachoeirinha, ele é, atualmente, o único centro de referência de Cultura e Juventude na cidade
de São Paulo. Pelo Decreto 50.121/2008, o CCJ ficou denominado como Centro Cultural da
Juventude Ruth Cardoso.
Figura 20: Localização do Centro Cultural da Juventude
Fonte: www.google.com.br/maps/ Nota: Editado pela autora
43
O projeto arquitetônico foi elaborado pela Prefeitura de São Paulo em 2002. Ele é
resultado da revitalização de uma estrutura de concreto existente no terreno que seria
destinada a um mercado. Tal estrutura de concreto foi mantida e a cobertura de estrutura
metálica foi substituída. O esqueleto disposto em pórticos e lajes ganhou um corte central, de
onde surge um átrio. Dessa forma, o prédio possui três partidos principais:
1) O átrio central, onde o observador pode orientar sua leitura espacial (entendimento do
espaço como elemento norteador).
2) Os terraços-varanda, que trazem iluminação e ventilação natural para o edifício e
configuram espaços de convivência, onde a apropriação do espaço se dá de forma espontânea
pelos usuários, sendo a sua maioria para atividades de grupos de dança.
3) A estrutura aparente, característica importante para um equipamento com espaços
multiusos e flexíveis, em função de orientar as programações e modificações no espaço.
Figura 21: Átrio central
Fonte: cultura.culturamix.com/curiosidades/centro-cultural-da-juventude
O CCJ aborda diversas temáticas relativas à vivência da condição juvenil por meio
da cultura, buscando o protagonismo da juventude a partir de uma programação cultural
diversificada, tendo o jovem não somente como espectador, mas como sujeito promotor,
organizador e realizador dos programas e projetos realizados tanto no espaço como difundidos
pela cidade.
44
Figura 22: Vista interna do Centro Cultural da Juventude
Fonte: www.namu.com.br/guias/centro-cultural-da-juventude-ccj
O CCJ tem 8.000 m² de arquitetura moderna e arejada distribuída em quatro
pavimentos. Ele reúne biblioteca, anfiteatro, teatro de arena, sala de projetos, laboratório de
idiomas, laboratório de pesquisas, estúdio para gravações musicais, ilhas de edição de vídeo e
de áudio, ateliê de artes plásticas, sala de oficinas e galeria para exposições, além de uma
ampla área de convivência e computadores com acesso à internet.
No pavimento térreo encontra-se o teatro de arena (lado esquerdo), salas técnicas,
anfiteatro (lado direito), espaço multiuso e estacionamento.
Figura 23: Planta pavimento térreo – Centro Cultural da Juventude
Fonte: Material disponibilizado pela arquiteta Natasha Tsiftzoglou do CCJ
45
No mezanino há uma estrutura metálica suspensa que conecta a arquibancada do
teatro de arena (lado esquerdo) com as áreas de foyers superiores do anfiteatro (lado direito).
No piso do mezanino também encontram-se os camarins e as salas técnicas do anfiteatro.
Figura 24: Vista interna do Centro Cultural da Juventude
Fonte: www.cadernosp.com.br/galeria-de-fotos/52/Pontos-Culturais/
No primeiro subsolo há salas técnicas e administrativas, salão de jogos e
convivência, salas das equipes de programação, brinquedoteca, espaço de eventos e
biblioteca, que abrange os programas de internet livre.
No segundo subsolo encontram-se os estúdios de música (gravação e edição), horta
comunitária e o setor administrativo. Jardins e passeios percorrem toda a fachada do prédio.
Figura 25: Planta segundo subsolo – Centro Cultural da Juventude
Fonte: Material disponibilizado pela arquiteta Natasha Tsiftzoglou do CCJ
46
O projeto apresenta modulação conforme pode ser visto nas pranchas da fachada do
projeto arquitetônico. O desnível do terreno, que foi aproveitado, também pode ser observado
a seguir. Os pavimentos possuem sanitários adaptados para deficientes físicos e possuem
elevador que atende a todos os níveis.
Figura 26: Fachadas - Centro Cultural da Juventude
Fonte: Material disponibilizado pela arquiteta Natasha Tsiftzoglou do CCJ
Na cobertura foi utilizada a estrutura metálica. O fechamento se deu através de vidro
e alvenaria. As fachadas apresentam-se coloridas e com movimento através de pinturas.
Figura 27: Corte tranversal - Centro Cultural da Juventude
Fonte: Material disponibilizado pela arquiteta Natasha Tsiftzoglou do CCJ
47
Figura 28: Fachada lateral - Centro Cultural da Juventude
Fonte: www.ceert.org.br/noticias/participacao-popular/10539/
2.3 QUADRO RESUMO
A tabela a seguir apresenta um resumo das principais características observadas nas
referências projetuais analisadas.
Tabela 1: Resumo dos estudos de referência
Estudo de
referência
Localização Área
construída
Programa Solução espacial
e formal
Solução
estrutural
Estratégias
de conforto
ambiental
NAM Natal /RN 2.884,80 m² Dividido por
setores:
administrativo,
salas de aula,
oficinas e
esportivo
Setorização Cobertura de
madeira +
telha cerâmica
colonial
Uso de
grandes
beirais
Integração visual Fechamento
em alvenaria
convencional
Uso de
vegetação
Aproveitamento
do desnível do
terreno
Uso de
caixas de
ovos
48
CCMF Pardinho/SP 1.651,00 m² Biblioteca, salas
de leitura,
inclusão digital,
área multiuso,
sala para reuniões
da comunidade,
escritório,
depósito de lixo
reciclável, palco e
espaços de apoio
para eventos
Aproveitamento
do desnível do
terreno
Concreto nas
lajes e
alvenaria nos
fechamentos
Sistema de
ventilação
natural
Estratégias de
sustentabilidade:
redução no
consumo de água
e energia
Cobertura de
bambu
apoiada em
vigas e pilares
de eucalipto
Uso de
grandes
beirais
CCJ São Paulo/SP 8.000,00 m² Dividido em
quatro
pavimentos, ele
apresenta os
seguintes espaços:
biblioteca,
anfiteatro, teatro
de arena, sala de
projetos,
laboratório de
idiomas,
laboratório de
pesquisas, estúdio
para gravações
musicais, ilhas de
edição, ateliê de
artes, oficinas,
galeria para
exposições e área
de convivência
Átrio central
como elemento
norteador
Pórticos e
lajes de
concreto
Uso de
terraços-
varanda
(iluminação
e ventilação
natural)
Uso de terraços-
varanda (espaços
de convivência)
Estrutura
metálica na
cobertura
Estrutura aparente
como
delimitadora de
espaços
Fechamento
em vidro e
alvenaria
Projeto modulado
Aproveitamento
do desnível do
terreno
Fonte: Elaborado pela autora com base nas referências apresentadas
Legenda:
NAM – Núcleo de Amparo ao Menor
CCMF – Centro de Cultura Max Feffer
CCJ – Centro Cultural da Juventude
49
3. CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO DE ESTUDO: O BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS
Segundo Itamar de Souza (2008) o nome primitivo do bairro de Felipe Camarão era
“Peixe-Boi”. A denominação era originária de uma lenda contada na região por antigos
moradores, segundo a qual esse tipo de peixe teria sido visto nas redondezas, mais
especificamente nos manguezais do rio Potengi. Candida de Souza (2012) nos diz que Felipe
Camarão era povoado por colônias de pescadores e a sua ocupação se delimitava apenas a
uma pequena vila às margens do rio Potengi.
Souza (2008) esclarece que as terras onde hoje é o bairro pertenciam ao rico
comerciante português Manoel Duarte Machado, o qual tinha o hábito de adquirir
propriedades afastadas do centro da cidade. Após a morte do comerciante, sua esposa, dona
Amélia Machado, a lendária Viúva Machado, herdou todos os bens do marido. Vendo que os
terrenos daquela região próxima ao manguezal seriam inevitavelmente invadidos por
migrantes pobres vindos do interior do estado, a viúva resolveu vende-los em 1962. O crescimento demográfico da comunidade Peixe-Boi remonta à época da Segunda Guerra Mundial. Nesse período, o solo das áreas mais centrais da cidade já tinha um valor maior, de modo que a segregação socioespacial por meio da concentração de pessoas por nível econômico em regiões específicas da cidade começava a configurar o que viria a se caracterizar a periferia natalense (BEZERRIL, 2006 apud SOUZA, 2012, p. 103).
Ainda segundo Souza (2008) uma parte dos terrenos foi adquirida pelo empresário
potiguar Raimundo Paiva e a outra parte foi comprada pelo alemão Gerold Geppert, o qual
criou o Loteamento Reforma a fim de revender esses terrenos.
50
Figura 29: Loteamento Reforma
Fonte: CAVALCANTE e LIMA, 1995, p. 38
De acordo com Eunádia Cavalcante e Verônica Lima (1995, p.38), o loteamento,
cujo registro ocorreu em novembro de 1963, apresentava “8.782 lotes, dispostos em 506
quadras, compreendendo a área que engloba, hoje, grande parte do bairro de Felipe Camarão e
o bairro de Guarapes”. Embora o projeto possuísse ruas largas, não foram previstas áreas
destinadas ao lazer da população.
O projeto do Loteamento Reforma teve a mesma proposta idealizada para o bairro de
Petrópolis, fundamentada em “grandes lotes destinados, principalmente, à moradia de uma
população de alto poder aquisitivo, chácaras e granjas” (CAVALCANTE e LIMA, 1995, p.
38). No entanto, a proposta não obteve o aceite almejado: (...) as mudanças no crescimento da cidade – a tendência da população de melhor poder aquisitivo em buscar terrenos próximos ao mar, a falta de infra-estrutura, a distância do centro urbano, a proximidade da área do conjunto habitacional Cidade da Esperança, destinado à população de baixa renda, contribuíram para que a procura dos lotes fosse pequena e o plano malograsse (CAVALCANTE e LIMA, 1995, p. 39).
A fim de solucionar esse problema, no governo do Monsenhor Walfredo Gurgel
(1966-1968), a empresa Gerna Agro-industrial S/A11, juntamente com a prefeitura e o cartório
de registros, “lançou uma campanha no sentido de baratear o custo dos terrenos, visando
atingir uma faixa de população de renda mais baixa. Devido a esta iniciativa, muitos lotes
11 Proprietária do Loteamento Reforma.
51
foram negociados e boa parte deles foi desmembrada e desdobrada” (CAVALCANTE e
LIMA, 1995, p. 39-40).
“Em 1968, o prefeito Agnelo Alves publicou a Lei nº 1.760 mudando o nome do
bairro, de “Peixe-Boi” para Felipe Camarão, em justa homenagem ao índio norte-rio-
grandense que notabilizou-se na luta contra os holandeses, no século XVII” (SOUZA, 2008,
p. 750). De acordo com Cavalcante e Lima (1995) o ápice da ocupação do bairro se deu na
década de 1970.
O bairro atualmente configura-se como predominantemente residencial, possuindo
pequenos estabelecimentos comerciais que atendem as necessidades básicas de consumo dos
moradores. Algumas escolas municipais e estaduais fazem parte do cenário, bem como
algumas privadas. As escolas públicas, no geral, apresentam instalações físicas precárias. A
comunidade possui posto de saúde, maternidade e delegacia. No bairro está localizado o
terminal da empresa de ônibus “Conceição”, de onde partem linhas para diversos destinos da
cidade. A Igreja Matriz de Nossa Senhora Auxiliadora, construída no ano de 1991, recebe
fiéis do próprio bairro e de comunidades vizinhas.
O Conselho Comunitário do bairro foi fundado em 15 de maio de 1976. Ele atua
juntos aos órgãos públicos buscando melhorias para a comunidade, além de oferecer cursos
para a população. Ele também possui uma parceria com a SEMUL (Secretaria Municipal de
Políticas para as Mulheres) na luta contra a violência doméstica. O Conselho é responsável
por receber denúncias e encaminhar para a Secretaria alguns casos após esses passarem por
uma triagem.
Além disso, a entidade luta por reivindicações da comunidade como um todo, como a
questão da mobilidade dentro do próprio bairro, a instalação de uma mini UPP (Unidade de
Polícia Pacificadora) e a construção de outra Unidade de Saúde. Com relação aos jovens e
espaços de lazer, o Conselho também apresenta algumas ações. Existe no bairro um espaço
onde funcionava a Escola União, a qual foi construída pela própria comunidade. Atualmente o
espaço está sem uso. A ideia é, junto com a Secretária da Juventude, conseguir um “Espaço
para Juventude” nessa área, com oferta de cursos e atividades relacionadas com arte e cultura.
Outra reivindicação é a reforma da única praça do bairro. O Conselho também está envolvido
numa luta que diz respeito a construção de mais duas praças na comunidade.
52
3.2 PROBLEMAS SOCIAIS
A carência de políticas públicas que garanta cidadania à população de Felipe Camarão
e as dificuldades na luta diária pela sobrevivência contribuem com a formação de um cenário
social de aspectos negativos. Tal “pano de fundo” dá margem às mais diversas formas de
expressão da violência.
A “rua” na periferia apresenta-se com dois sentidos distintos. De um lado oferece
espaço para o lazer e a sociabilidade, já que é pequeno o número de locais na comunidade
para esse fim, por outro, no entanto, apresenta riscos e perigos. E em grande parte esses
perigos estão relacionados com um dos maiores problemas sociais que existem: o
envolvimento com drogas.
Mary Castro (2001, p. 80) acerca disso nos diz que “no Brasil, como em diversos
outros países, o consumo de drogas lícitas e ilícitas pelos jovens vem exibindo uma tendência
ascendente”. Ao andar pelo bairro, em pontos específicos, é possível presenciar o uso e o
comércio de drogas livremente, em plena luz do dia. O tráfico de drogas é uma realidade do
bairro. Ele está presente e define territórios. Muitas famílias são afetadas por esse problema
mesmo quando não há um envolvimento direto com essa atividade. Relações são desfeitas e
geram mais violência dentro da comunidade. Além disso, a facilidade em adquirir armas de
fogo em bairros mais carentes também contribui para o aumento da criminalidade. Tal cenário
faz parte do cotidiano do bairro e está inserido nas relações de sociabilidade que compõe a
periferia.
Ao fazer buscas sobre Felipe Camarão em sites de jornais da cidade não é difícil
encontrar matérias que mostram a realidade que permeia o bairro. “O problema mais
preocupante em Felipe Camarão é a onda de assassinatos recorrentes na comunidade, que
deixa em alerta também a Polícia Militar” (VIOLÊNCIA..., 2013). Segundo o Tenente
Abdenago Dias, “as constantes ocorrências na região são motivadas pelo tráfico de drogas. Os
outros casos de assassinatos são oriundos de brigas e de populares que reagem aos assaltos
(VIOLÊNCIA..., 2013). As reportagens nos mostram que a faixa etária juvenil é a que mais se
envolve com a criminalidade, seguindo as estatísticas já apresentadas anteriormente.
53
3.3 EXPRESSÕES CULTURAIS
Normalmente as periferias urbanas são associadas à aspectos negativos tais como
pobreza, violência e desigualdade social. O que na realidade não deixa de ser verdade. No
entanto, pouco ouvimos falar dos seus aspectos positivos. Acerca disso, Liberalino (2007)
afirma que há outros aspectos nessas áreas que precisam ser mais explorados.
Angelo Serpa (2007, p. 143) coloca que “(...) nos bairros populares da cidade, muitas
vezes à margem de qualquer subsídio ou lei de apoio à cultura, manifestações populares
“alternativas” vão surgindo ou “teimosamente” persistindo”. São manifestações como a
capoeira, as costuras artesanais, as festas de padroeiro, carnavais de bairros, os grupos de
teatro popular, as danças afro, entre tantos outros. São em espaços muitas vezes inapropriados
em termos de dimensões que tais manifestações ocorrem. Ainda segundo o autor, o qual
afirma que a cultura popular não é melhor nem pior que a cultura “erudita”, muitas delas vão
desaparecendo com o passar do tempo, permanecendo vivas apenas na memória de alguns
moradores.
Santos (1994) nos diz que entende-se por cultura popular as manifestações culturais
produzidas pelas classes mais pobres de uma sociedade. São manifestações diferentes
daquelas produzidas pela classe dominante, mas nem por isso menos importantes. O bairro de
Felipe Camarão possui em seu histórico dois grandes exemplares da cultura popular potiguar.
Mestre Chico Daniel, potiguar de Assu, era descendente de uma linhagem de mestres
mamulengueiros. Sapateiro e artista, ele foi adotado pelo bairro de Felipe Camarão, em Natal,
onde morou por 15 anos. O mestre fazia apresentações em festivais, praças e feiras. Bastava
ter um lugar onde pudesse ser montado o “paninho do palco”.
Figura 30: Chico Daniel e um dos seus personagens
Fonte: www.overmundo.com.br/overblog/chico-daniel-saudades-do-mestre-mamulengueiro
54
Com histórias de temática religiosa e piadas populares, Chico Daniel entretia pessoas
de todas as idades. Ele possuía uma mala com vários bonecos (fantoches, mamulengos), cerca
de 40 personagens, dispostos a fazer a diversão da plateia.
Cantor, compositor e mestre de boi-de-reis. Esse era Manoel Marinheiro. Nascido na
fazenda Morena na cidade interiorana de Goianinha, a 60 quilômetros de Natal e de família
muito pobre, ele foi criado em Natal pelo padrinho, também no bairro de Felipe Camarão. O
título de mestre veio do seu irmão mais velho. Passou a ser conhecido desde então como
Mestre Manoel Marinheiro.
Figura 31: Mestre Manoel Marinheiro
Fonte: www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/
Atualmente, Felipe Camarão possui a “Casa de Cultura do Mestre Manoel
Marinheiro”, a qual tem a frente a senhora Odaísa Galvão, viúva do mestre. Com mais de 60
anos de existência, o espaço luta para manter viva as tradições culturais do Boi de Reis.
55
Figura 32: Casa de Cultura do Mestre Manoel Marinheiro
Fonte: companhiadanoticia.com.br/heranca-cultural-do-mestre-manoel-marinheiro-nao-tem-apoio-do-
poder-publico/
Na casa são expostos os figurinos e os elementos que compõe a dança/encenação.
Segundo reportagem publicada por João Ricardo Correia no site Companhia da Notícia em
setembro de 2015, a viúva reclamava da falta de apoio dos órgãos públicos, os quais não dão
uma assistência a um dos mais importantes legados da cultura popular norte-rio-grandense.
Figura 33: Odaísa Galvão
Fonte: companhiadanoticia.com.br/heranca-cultural-do-mestre-manoel-marinheiro-nao-tem-apoio-do-
poder-publico/
56
Apesar da idade já avançada, dona Odaísa é participante ativa na luta pela
sobrevivência da memória cultural do bairro. Ela faz ensaios com os jovens da comunidade,
compra e costura os figurinos dos participantes, divulga o projeto e ainda faz parte do grupo
de dança. São pessoas como ela que garantem a manutenção e preservação da cultura popular.
O desenvolvimento dessas atividades relacionadas com a memória viva do bairro age
como atenuador da violência social que acomete os jovens da comunidade. Enquanto
participantes de um grupo cultural, os jovens ficam ocupados com as atividades e a sensação
de utilidade perante a sociedade passa a fazer parte do cotidiano.
57
4. ÁREA DE INTERVENÇÃO
4.1 ASPECTOS GEOGRÁFICOS DO BAIRRO
Felipe Camarão está localizado na Zona Oeste da cidade de Natal. O bairro limita-se
com o bairro do Bom Pastor ao Norte, com o bairro dos Guarapes ao Sul, com os bairros da
Cidade da Esperança e Cidade Nova a Leste e com o município de São Gonçalo do Amarante
a Oeste. Ele possui duas Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) em sua área: a ZPA-4, a qual
apresenta parte dos cordões dunares e a ZPA-8, que compreende o Rio Potengi e o
manguezal. Figura 34: Localização do bairro de Felipe Camarão dentro do município de Natal
Fonte: SEMURB, 2009
Figura 35: Localização do bairro de Felipe Camarão dentro da região administrativa Oeste
Fonte: SEMURB, 2009
Nota: Editado pela autora
58
4.2 O TERRENO
Como recorte espacial temos o terreno localizado no encontro de três ruas de nível
hierárquico local: Rua Arco-Íris, Rua Mira Mangue e Rua Pastor Josino Galvão.
Figura 36: Localização do terreno
Fonte: Google Earth, 2016 Nota: Editado pela autora
Trata-se de uma região de fácil acesso. A mobilidade para quem mora no próprio
bairro ocorre através das vias locais. Para quem vem externo a ele, basta vir pela via arterial
BR 226 – Avenida Presidente Ranieri Mazzili, entrar na via coletora Rua Rainha do Mar e
seguir até chegar na Rua Arco-Íris, que é umas das vias locais do terreno.
Figura 37: O terreno e as vias de acesso
Fonte: Google Earth, 2016 Nota: Editado pela autora
59
4.3 CONDICIONANTES FÍSICAS
O terreno, circundado por três logradouros, possui formato em “L” e uma área de
11.942,63 m². O entorno imediato é essencialmente residencial.
Figura 38: O terreno
Fonte: natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-106.html
Nota: Editado pela autora
Figura 39: Vista do terreno a partir da Rua Mira Mangue
Fonte: natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-106.html e acervo da autora
Nota: Editado pela autora
60
A topografia do lote é bastante acentuada, apresentando desnível em torno de 10
metros. As cotas de níveis apresentam variação de 1 metro.
Figura 40: Topografia esquemática do terreno
Fonte: natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-106.html
Nota: Editado pela autora
4.4 CONDICIONANTES LEGAIS
Todo projeto de arquitetura deve atender as exigências legais existentes, tanto no
âmbito municipal, quanto estadual e federal. Para tanto, alguns documentos precisam ser
consultados. Para o caso em questão aplica-se a legislação vigente: Plano Diretor de Natal
(Lei Complementar nº 082 de 21 de Junho de 2007), Código de Obras e Edificações do
Município de Natal (Lei Complementar nº 055 de 27 de Janeiro de 2004), Código de
Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte e ABNT
NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos
(2015).
O Plano Diretor de Natal (2007) é o instrumento básico da política de
desenvolvimento urbano sustentável do Município e tem como objetivo orientar aqueles que
atuam na produção e gestão do espaço urbano.
Todo o território municipal de Natal é considerado Zona Urbana. O
macrozoneamento presente na Lei divide o município em três zonas: Zona de Adensamento
61
Básico, Zona Adensável e Zona de Proteção Ambiental. O bairro de Felipe Camarão está
inserido na Zona de Adensamento Básico e o seu coeficiente de aproveitamento corresponde a
1,2.
A fim de garantir a ocupação do solo de forma adequada assim como o equilíbrio
climático da cidade, outras normas urbanísticas devem ser observadas. São elas: taxa de
ocupação, taxa de impermeabilização, recuos e gabarito. A taxa de ocupação é o índice obtido
pela razão da área de projeção horizontal da construção pela área do terreno. Já a taxa de
impermeabilização é expressa pela relação entre a área do lote que não permite a infiltração
de água e a área total do terreno. Os recuos são os espaçamentos mínimos necessários entre a
divisa do terreno e o limite externo da projeção horizontal da edificação. O gabarito
corresponde à distância vertical medida entre o meio fio e um plano horizontal tangente ao
mais elevado elemento construtivo da edificação.
A tabela abaixo resume os índices que devem ser adotados para o terreno em
questão.
Tabela 2: Quadro resumo das prescrições urbanísticas
Bairro de Felipe Camarão – Zona de Adensamento Básico
Coeficiente de aproveitamento Máximo: 1,2
Taxa de ocupação Máxima: 80%
Taxa de impermeabilização Máxima: 80%
Recuos Frontal: 3,00 m
Lateral: 1,50 m em ambas as
laterais do lote
Posterior: 1,50 m
Gabarito Máximo: 65,00 m
Fonte: Plano Diretor de Natal, 2007
O Código de Obras e Edificações do Município de Natal (2004) visa garantir que o
espaço edificado siga padrões de qualidade que satisfaçam as condições mínimas de conforto
dos usuários. Ele determina as dimensões e áreas mínimas de cada compartimento de uma
edificação, seja ela de uso residencial, comercial ou de serviços.
Quanto à quantidade de vagas de estacionamento necessárias, a previsão é feita de
acordo com a área construída da edificação. Por se tratar de um edifício de uso educacional
deve-se obter a quantidade de vagas conforme a tabela a seguir.
62
Tabela 3: Relação das edificações que geram tráfego
Empreendimento Via arterial Via coletora Via local Exigências
13 – Serviço de
educação em
geral, incluindo
escolas de artes,
dança, idiomas,
academias de
ginástica e de
esportes, etc
1 vaga / 40 m²
1 vaga / 50 m²
1 vaga / 60 m²
Embarque e
desembarque,
lixo
Fonte: Código de Obras e Edificações do Município de Natal, 2004
Quanto à insolação, iluminação e ventilação o Código afirma que todo
compartimento da edificação deve ter dimensões e formas adequadas, de modo a proporcionar
condições de higiene, salubridade e conforto ambiental aos seus usuários. Ele ainda traz que a
edificação deve ser projetada observando os pontos cardeais, atendendo sempre que possível,
aos critérios mais favoráveis quanto aos condicionantes ambientais. Todos os compartimentos
devem dispor de aberturas para o logradouro, pátio ou recuo. As superfícies de abertura não
podem ser inferiores a um sexto (1/6) da área do compartimento quando se tratarem de
ambientes de uso prolongado e um oitavo (1/8) quando se tratarem de ambientes de uso
transitório.
O Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio
Grande do Norte tem como objetivo estabelecer critérios básicos indispensáveis à segurança
contra incêndio nas edificações de todo o estado, visando garantir os meios necessários de
combate a incêndio, evitar ou minimizar a propagação do fogo, facilitar as ações de socorro e
assegurar a evacuação segura dos usuários das edificações.
Segundo o Art. 6º do Código, um “Espaço Cultural” pode ser classificado como
Ocupação de Reunião Pública, devendo atender às exigências de acordo com a área
construída e altura da edificação, conforme disposto no Art. 8º. Prevendo-se que a edificação
apresentará uma altura entre seis e quinze metros, com área construída superior a 750 m², as
seguintes exigências de dispositivos de proteção contra incêndio devem ser observadas:
prevenção fixa (hidrantes), prevenção móvel (extintores de incêndio), chuveiros automáticos
(sprinkler) nas circulações e área comuns e nas dependências de risco “C”, iluminação de
emergência, sinalização, escada convencional e instalação de hidrante público.
63
Além disso, segundo o Art. 12º, tais edificações também devem atender aos
seguintes requisitos:
Os espetáculos deverão ter a presença de pessoal habilitado nas técnicas de
prevenção e combate a incêndio e controle de pânico, devidamente
reconhecido pelo Corpo de Bombeiros Militar;
Todas as peças de decoração confeccionadas em material de fácil combustão,
deverão ser tratadas com proteção retardante à ação do calor (ignifugação);
Deverá dispor de renovação de ar ambiente através de ventilação natural;
Deverá dispor de sistema de iluminação de emergência;
As portas de saída de emergência deverão ter abertura no sentido de saída e
destravamento por barra anti-pânico;
Ambientes com mais de 100 lugares, além das aberturas normais de entrada,
deverão dispor de saídas de emergência com largura mínima de dois metros e
vinte centímetros (2,20m), acrescendo-se uma unidade de passagem
(cinqüenta e cinco centímetros) para excedentes de 100 pessoas;
Edificações com mais de um pavimento terão escadas com largura mínima de
um metro e sessenta centímetros (1,60m), para público de até 200 pessoas,
acrescendo-se uma unidade de passagem de cinqüenta e cinco centímetros
(0,55 m), para excedentes de 200 pessoas;
Nos cinemas, auditórios e demais locais onde as cadeiras estejam dispostas
em fileiras e colunas, os assentos obedecerão aos seguintes requisitos:
a) distância mínima de 90cm (noventa centímetros) de encosto a
encosto;
b) número máximo de 15 assentos por fila e de 20 assentos por coluna;
c) distância mínima de 1,20 m entre séries de assentos;
d) Não é permitido assentos junto à parede, devendo-se distanciar-se
desta de, no mínimo, um metro e vinte centímetros (1,20m).
Deverão dispor de locais de espera com área obedecendo a proporção de doze
metros quadrados (12 m²) para público de 200 pessoas, acrescendo-se dois
metros quadrados (2m²) para excedentes de 100 pessoas;
É obrigatória a utilização de guarda-corpo nas sacadas, rampas e escadas, em
material resistente, evitando-se quedas acidentais;
64
A lotação máxima será calculada de acordo com a tabela constante do Anexo
“A” do presente código, seguindo ainda os seguintes parâmetros:
a) pessoas sentadas: uma pessoa para cada 0,70 m²;
b) pessoas em pé: uma pessoa para cada 0,50 m²;
c) nas arquibancadas: para cada 1m², duas pessoas sentadas ou três
pessoas em pé;
d) não serão considerados no cálculo a área de circulação e “halls”.
A norma de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos
(NBR 9050, 2015) estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao
projeto, construção, instalação e adaptação de edificações às condições de acessibilidade. Tal
norma visa proporcionar a utilização de espaços de maneira autônoma à maior quantidade
possível de pessoas, independente de idade, estatura, limitação de mobilidade ou percepção. O
quadro a seguir mostra alguns dos parâmetros utilizados na elaboração do anteprojeto.
Tabela 4: Quadro resumo - NBR 9050 (2015)
Norma de Acessibilidade
Parâmetros
antropométricos
Considera-se o módulo de referência a projeção de 0,80 m por 1,20 m no
piso, ocupada por uma pessoa utilizando cadeira de rodas motorizadas ou
não
A largura para deslocamento em linha reta de pessoas em cadeira de rodas
deve ser de:
- 0,90 m para uma pessoa em cadeira de rodas
- 1,20 a 1,50 m para uma pessoa em cadeira de rodas e um pedestre
- 1,50 a 1,80 m para duas pessoas em cadeiras de rodas
Área para manobra de cadeiras de rodas sem deslocamento:
- Para rotação de 90° = 1,20 m × 1,20 m
- Para rotação de 180° = 1,50 m × 1,20 m
- Para rotação de 360° = círculo com diâmetro de 1,50 m
Informação e
sinalização
A sinalização deve ser autoexplicativa, perceptível e legível para todos,
inclusive às pessoas com deficiência
A sinalização tátil e visual direcional no piso deve ser instalada no sentido
do deslocamento das pessoas, quando da ausência ou descontinuidade de
linha-guia identificável, em ambientes internos ou externos, para indicar
65
caminhos preferenciais de circulação
Acessos Nas edificações e equipamentos urbanos, todas as entradas, bem como as
rotas de interligação às funções do edifício, devem ser acessíveis
Os acessos devem ser vinculados através de rota acessível à circulação
principal e às circulações de emergência. Os acessos devem permanecer
livres de quaisquer obstáculos de forma permanente
O percurso entre o estacionamento de veículos e os acessos deve compor
uma rota acessível. Quando da impraticabilidade de se executar rota
acessível entre o estacionamento e acessos, devem ser previstas, em outro
local, vagas de estacionamento para pessoas com deficiência e para
pessoas idosas, a uma distância máxima de 50 m até um acesso acessível
Circulação A circulação pode ser horizontal e vertical. A circulação vertical pode ser
realizada por escadas, rampas ou equipamentos eletromecânicos e é
considerada acessível quando atender no mínimo a duas formas de
deslocamento vertical
Rampas São consideradas rampas às superfícies de piso com declividade igual ou
superior a 5%
Para inclinação entre 6,25 % e 8,33 %, é recomendado criar áreas de
descanso nos patamares, a cada 50 m de percurso
A largura das rampas deve ser estabelecida de acordo com o fluxo de
pessoas. A largura livre mínima recomendável para as rampas em rotas
acessíveis é de 1,50 m, sendo o mínimo admissível de 1,20 m
Toda rampa deve possuir corrimão de duas alturas em cada lado
A projeção dos corrimãos pode incidir dentro da largura mínima
admissível da rampa em até 10 cm de cada lado
Os patamares no início e no término das rampas devem ter dimensão
longitudinal mínima de 1,20 m. Entre os segmentos de rampa devem ser
previstos patamares intermediários com dimensão longitudinal mínima de
1,20 m. Os patamares situados em mudanças de direção devem ter
dimensões iguais à largura da rampa
A guia de balizamento pode ser de alvenaria ou outro material alternativo,
com a mesma finalidade, com altura mínima de 5 cm. Deve atender às
especificações da figura presente na norma e ser garantida em rampas e
66
em escadas
Escadas As dimensões dos pisos e espelhos devem ser constantes em toda a escada
ou degraus isolados. Para o dimensionamento, devem ser atendidas as
seguintes condições
- 0,63 m ≤ p + 2e ≤ 0,65 m
- pisos (p): 0,28 m ≤ p ≤ 0,32 m
- espelhos (e): 0,16 m ≤ e ≤ 0,18 m
A largura mínima para escadas em rotas acessíveis é de 1,20 m e deve
dispor de guia de balizamento
Em construções novas, o primeiro e o último degraus de um lance de
escada devem distar no mínimo 0,30 m da área de circulação adjacente e
devem estar sinalizados
Rebaixamento
de calçadas
Os rebaixamentos de calçadas devem ser construídos na direção do fluxo
da travessia de pedestres. A inclinação deve ser constante e não superior a
8,33 % no sentido longitudinal da rampa central e na rampa das abas
laterais. A largura mínima do rebaixamento é de 1,50 m. O rebaixamento
não pode diminuir a faixa livre de circulação, de no mínimo 1,20 m, da
calçada
Vagas
reservadas para
veículos
Há dois tipos de vagas reservadas:
- Para os veículos que conduzam ou sejam conduzidos por idosos
- Para os veículos que conduzam ou sejam conduzidos por pessoas com
deficiência
As vagas de estacionamento para idosos devem ser posicionadas próximas
das entradas, garantindo o menor percurso de deslocamento
As vagas de estacionamento de veículos que conduzam ou sejam
conduzidos por pessoas com deficiência devem:
- Contar com um espaço adicional de circulação com no mínimo 1,20 m
de largura, quando afastadas da faixa de travessia de pedestres. Esse
espaço pode ser compartilhado por duas vagas, no caso de estacionamento
paralelo, perpendicular ou oblíquo ao meio fio
- Estar vinculadas à rota acessível que as interligue aos polos de atração
Nos estacionamentos externos ou internos das edificações de uso público
ou coletivo, ou naqueles localizados nas vias públicas, devem ser
67
reservadas vagas para pessoas idosas e com deficiência. Os percentuais
das diferentes vagas estão definidos em legislação específica
Sanitários,
banheiros e
vestiários
Os sanitários, banheiros e vestiários acessíveis devem localizar-se em
rotas acessíveis, próximas à circulação principal, próximas ou integradas
às demais instalações sanitárias, evitando estar em locais isolados para
situações de emergências ou auxílio e devem ser devidamente sinalizados
Recomenda-se que a distância máxima a ser percorrida de qualquer ponto
da edificação até o sanitário ou banheiro acessível seja de até 50 m
Os sanitários, banheiros e vestiários acessíveis devem possuir entrada
independente, de modo a possibilitar que a pessoa com deficiência possa
utilizar a instalação sanitária acompanhada de uma pessoa do sexo oposto
Sanitário
coletivo
Nos boxes comuns, as portas devem ter vão livre mínimo de 0,80 m e
conter uma área livre com no mínimo 0,60 m de diâmetro. Recomenda-se
que as portas abram para fora, para facilitar o socorro à pessoa, se
necessário
Vestiários
Os vestiários em cabinas individuais acessíveis com uma superfície para
troca de roupas na posição deitada devem atender às dimensões da figura
presente na norma. A área de transferência deve ser garantida, podendo as
áreas de circulação e manobra estar externas às cabinas
As cabinas individuais devem ser providas de duas barras de apoio
horizontais, na parede frontal e na parede lateral oposta à porta
Cinemas,
teatros,
auditórios e
similares
Os cinemas, teatros, auditórios e similares, incluindo locais de eventos
temporários, mesmo que para público em pé, devem possuir, na área
destinada ao público, espaços reservados para pessoa com deficiência ou
com mobilidade reduzida, atendendo às seguintes condições:
- Estar localizados em uma rota acessível vinculada a uma rota de fuga
- Estar distribuídos pelo recinto, recomendando-se que seja nos diferentes
setores e com as mesmas condições de serviços, conforto, segurança, boa
visibilidade e acústica
- Estar instalados em local de piso plano horizontal
Plateia, palco e
bastidores –
Circulação
Os corredores de circulação da plateia devem ser livres de obstáculos.
Quando apresentarem rampa ou degrau, deve ser instalado pelo menos um
corrimão na altura de 0,70 m, instalado de um só lado ou no meio da
68
circulação. Admite-se que os corredores de circulação que compõem as
rotas acessíveis aos lugares da plateia possuam inclinação máxima de
rampa de até 12 %;
Quando houver desnível entre o palco e a plateia, este pode ser vencido
através de rampa com as seguintes características:
- Largura de no mínimo 0,90 m
- Inclinação máxima de 1:10 (10 %) para vencer alturas superiores a 0,60
m
- Ter guia de balizamento, não sendo necessária a instalação de guarda-
corpo e corrimão
Fonte: NBR 9050, 2015
Nota: Elaboração da autora com base na fonte
4.5 CONDICIONANTES AMBIENTAIS
Segundo a NBR 15220, a qual trata sobre o Desempenho Térmico de Edificações, a
cidade de Natal, caracterizada por apresentar um clima quente e úmido, está situada na Zona
Bioclimática 08.
Figura 41: Zoneamento Bioclimático Brasileiro
Fonte: NBR 15220, 2003
69
As diretrizes recomendadas para esta Zona são:
Uso de grandes aberturas para a ventilação;
Sombreamento das aberturas;
Cuidado nas escolhas das vedações externas (paredes/coberturas: leve e
refletora);
Ventilação cruzada.
A figura a seguir ilustra algumas das recomendações para a Zona Bioclimática 08.
Figura 42: Estratégias de conforto ambiental
Fonte: MARANHÃO, 2012 apud JONAS JUNIOR, 2015, p. 72
70
A partir da análise da carta solar de Natal percebe-se que as fachadas Leste e Oeste
são as que mais necessitam de proteções, respectivamente nos períodos da manhã e da tarde.
A fachada Leste recebe sol durante toda a manhã até meio-dia tanto no verão, quanto no
equinócio e no inverno. Já a fachada Oeste recebe sol somente no período da tarde durante o
verão, equinócio e inverno.
Figura 43: Carta solar de Natal/RN - Fachada Leste
Fonte: LEITE, 2003
Figura 44: Carta solar de Natal/RN - Fachada Oeste
Fonte: LEITE, 2003
71
As fachadas Norte e Sul recebem incidência solar durante todo o dia. Durante o
solstício de verão, a fachada Sul está mais exposta. Já durante o solstício de inverno, a
fachada Norte é a mais exposta. Tais análises servem como diretrizes para o controle da
iluminação direta.
Com relação a ventilação natural, a rosa dos ventos de Natal/RN nos mostra que a
ventilação predominante é originária das direções Leste e Sul, com maior intensidade e
velocidade vinda da direção Sudeste. Dessa forma, as fachadas nessas direções devem possuir
aberturas que permitam a circulação do vento.
Figura 45: Rosa dos Ventos de Natal/RN
Fonte: MELO, 2015
Estes dois sistemas de análise permitem ao projetista fazer escolhas adequadas
relativas aos aspectos ambientais. A figura a seguir mostra a sobreposição da carta solar de
Natal/RN no terreno.
Figura 46: Carta solar sobre o terreno
Fonte: http://www.sunearthtools.com/dp/tools/pos_sun
72
É possível verificar que a fachada voltada para o Sudoeste, durante o verão recebe
incidência solar direta desde o final da manhã até o final da tarde e durante o inverno, a
incidência solar se inicia por volta das 14:00 horas até o final da tarde. Já a fachada voltada
para o Norte, não recebe incidência solar direta no verão. Já no inverno, ela recebe sol durante
todo o dia. A fachada voltada para o Sul, recebe sol durante todo o dia no verão e não recebe
incidência solar direta no inverno.
73
5. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA ARQUITETÔNICA
5.1 ESTUDOS PRELIMINARES
5.1.1 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO
Todo projeto de arquitetura possui, ou deveria possuir, dois princípios básicos:
conceito e partido arquitetônico. O conceito está relacionado a essência do projeto. Ele é algo
abstrato e envolve a criatividade do arquiteto e urbanista. Já o partido está relacionado com as
soluções formais adotadas a fim de se alcançar o objetivo do conceito.
Ao iniciar as pesquisas para esse trabalho final de graduação, percebi o quão forte é a
tradição da cultura popular no bairro de Felipe Camarão. Dessa forma, busquei elementos nas
manifestações populares do bairro a fim de se alcançar um conceito.
Escolhi a dança folclórica “Boi de Reis” como elemento norteador. Procurei nos
personagens que compõem a dança algo que pudesse guiar o projeto. Dessa forma cheguei no
galante, o qual é um dos mais conhecidos brincantes do Boi de Reis. Seu traje decorado com
espelhinhos e fitas coloridas foi escolhido como elemento base do conceito projetual.
Figura 47: Figura do galante
Fonte: www.pontodevistaonline.com.br/boi-de-reis-de-extremoz-3a-colocacao-festival-de-danca-
folclorica-contemporanea-da-fiart/
74
Segundo Laert Neves (1998), o partido arquitetônico se constitui na representação
gráfica da ideia preliminar do edifício. Partindo-se da imagem do figurino do galante, alguns
predicados foram enumerados: colorido, movimento, maleabilidade, uniformidade, simetria e
permeabilidade. Tais predicados deram suporte à definição do partido arquitetônico através de
uma analogia direta. Imaginou-se, em um primeiro momento, as fitas paradas e logo após,
com o início da dança, as fitas coloridas passando a entrar em movimento a partir dos passos
coreografados dos personagens.
Figura 48: Evolução do conceito e do partido arquitetônico
Fonte: diariodosol.com.br/noticias/2013/08/boi-de-reis-e-o-coco-de-roda-em-mipibu/ e acervo da
autora
A partir do figurino do galante, soluções formais começaram a ser pensadas:
estruturas delgadas, presença de um elemento central, modulação, continuidade visual e base
do edifício branca ou neutra com elementos coloridos.
5.1.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO
O programa de necessidades e o pré-dimensionamento foram feitos com base nas
análises dos estudos de referência e em pesquisas de outros trabalhos com a mesma temática.
O programa foi dividido em 05 eixos: cultural, educacional, convivência,
lazer/esporte e apoio/serviços.
75
Tabela 5: Programa de necessidades e pré-dimensionamento
PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO
ESPAÇOS CULTURAIS
AMBIENTE QUANTIDADE ÁREA
Espaço de exposição 02 200,00 m²
Auditório 01 350,00 m²
Anfiteatro 01 300,00 m²
Biblioteca 01 150,00 m²
Banheiros 04 60,00 m²
ESPAÇOS EDUCACIONAIS
AMBIENTE QUANTIDADE ÁREA
Oficinas de atividades manuais 04 200,00 m²
Oficinas de atividades corporais 02 150,00 m²
Laboratório de informática 01 60,00 m²
Sala de aula 03 150,00 m²
Banheiros 04 60,00 m²
ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA
AMBIENTE QUANTIDADE ÁREA
Mirante para o Rio Potengi 01 150,00 m²
Lanchonete 01 150,00 m²
Banheiros 04 60,00 m²
ESPAÇOS DE LAZER/ESPORTE
AMBIENTE QUANTIDADE ÁREA
Quadra poliesportiva 01 900,00 m²
Playground 01 100,00 m²
Pátio coberto (dança, capoeira, etc) 01 150,00 m²
Vestiários 04 100,00 m²
76
ESPAÇOS DE APOIO/SERVIÇOS
AMBIENTE QUANTIDADE ÁREA
Sala de professores/reuniões 02 30,00 m²
Direção 01 15,00 m²
Coordenação 01 15,00 m²
Enfermaria 01 15,00 m²
Departamento pessoal 01 15,00 m²
Copa 01 12,00 m²
Reprografia 01 12,00 m²
Serviço social 01 15,00 m²
Psicologia 01 15,00 m²
Banheiros administração 04 60,00 m²
Almoxarifado 01 30,00 m²
Depósitos gerais 03 150,00 m²
Estar funcionários 01 60,00 m²
Vestiário funcionários 04 100,00 m²
Depósitos oficinas 04 120,00 m²
Casa de lixo 01 10,00 m²
Bicicletário 01 60,00 m²
Estacionamento 01 2.000,00 m²
Fonte: Elaborado pela autora
5.1.3 ZONEAMENTO
Nos primeiros estudos de zoneamento buscou-se interligar os blocos de acordo com
as suas funções. Como o terreno oferece três vias de acesso, procurou-se aproveitar essa
facilidade.
77
Figura 49: Primeira proposta de zoneamento
Fonte: Elaborado pela autora
Após a elaboração do programa de necessidades e do pré-dimensionamento, viu-se a
necessidade de fazer alguns ajustes. Dessa forma, houveram alterações no bloco
cultural/educacional, que precisou ser aumentado, no bloco de apoio/serviços, que precisou
ser diminuído e no espaço de convivência.
Figura 50: Segunda proposta de zoneamento
Fonte: Elaborado pela autora
78
5.2 EVOLUÇÃO DA PROPOSTA
A proposta começou a ser desenvolvida a partir do zoneamento e do programa de
necessidades. Agregando-se a isso o conceito de aproveitamento do desnível natural do
terreno, o projeto foi dividido em quatro pavimentos distintos onde distribuir-se-ia o
programa.
Figura 51: Corte esquemático
Fonte: Elaborado pela autora
As três ruas de contorno do lote teriam acesso direto ao conjunto edificado, ficando a
entrada principal localizada na parte mais alta do terreno, na Rua Mira Mangue. Os setores
cultural e educacional ficariam localizados junto à entrada principal do prédio; o setor de
convivência e de lazer/esporte teria acesso direto pela Rua Arco Íris; e o setor de
apoio/serviços teria acesso pela Rua Pastor Josino Galvão. O estacionamento foi pensado de
forma a estar circundando o terreno nos três acessos.
Figura 52: Primeira proposta de implantação - Acessos
Fonte: Elaborado pela autora
79
No pavimento térreo, a recepção apresentaria um grande hall de espera, que
funcionaria também como espaço de exposição, sendo esse um elemento de acesso e destaque
central para quem chega pela Rua Mira Mangue. A partir da recepção é possível deslocar-se
para o auditório, para a área de convivência e para o setor cultural/educacional. Nesse
pavimento encontram-se salas destinadas a atividades corporais e manuais, biblioteca e
laboratório de informática (setor cultural/educacional), além de lanchonete e mirante para o
Rio Potengi (setor de convivência). Entre os blocos do setor cultural/educacional foi colocado
um pátio descoberto que busca de maneira lúdica fazer a ligação entre os dois prédios.
Figura 53: Proposta do pavimento térreo
Fonte: Elaborado pela autora
No pavimento superior, acima da recepção, ficaria toda a parte administrativa. O
acesso à administração, nessa etapa do processo, se daria apenas através de escada e de
plataforma vertical, o que foi alterado na proposta final.
O setor educacional, com salas de oficinas de atividades manuais e corporais, estaria
conectado ao setor de apoio/serviços por circulação direta, tendo ambos os blocos dois
pavimentos. Uma escada e uma plataforma vertical locada em ponto intermediário do bloco
do setor educacional faria a ligação entre os pavimentos deste, tal como naquele.
80
Figura 54: Proposta do pavimento superior
Fonte: Elaborado pela autora
No pavimento inferior 01, abaixo da recepção, seria colocada a parte complementar
do setor de apoio/serviços (almoxarifado, depósito, vestiário dos funcionários e
estar/funcionários), bem como a outra parte do setor educacional (salas de aula); além do setor
de lazer/esporte. Conectando os pavimentos inferiores ficaria locada uma rampa acessível
para deficientes. A quadra de esportes foi pensada de forma a ter dois acessos: um pelo
pavimento inferior 01 e outro pelo pavimento inferior 02. No pavimento inferior 01, o acesso
se daria através do prolongamento da circulação das salas de aulas.
Figura 55: Proposta do pavimento inferior 01
Fonte: Elaborado pela autora
81
No pavimento inferior 02, além da circulação vertical por rampa e escada, estariam
localizados o setor de lazer/esporte (espaço multiuso - dança, capoeira, etc - abaixo do
auditório, vestiários e quadra de esportes) e o setor de convivência (lanchonete e pátio
coberto). Entre os setores foi pensado um pátio descoberto como elo de ligação entre os
blocos, que poderia desempenhar diversas outras opções de convivência.
Figura 56: Proposta do pavimento inferior 02
Fonte: Elaborado pela autora
Optou-se por utilizar treliças planas de madeira na estrutura de cobertura do bloco
principal (recepção/exposição) com recobrimento de telhas “sanduíches”, que diminuem a
absorção de radiação solar. Para criar uma mesma linguagem, a cobertura da quadra também
foi pensada seguindo essa mesma proposta. Os outros blocos também fazem uso da cobertura
com recobrimento de telha tipo “sanduíche”, porém com estrutura convencional em madeira e
utilização da platibanda como recurso para dar continuidade visual do bloco. Até esse
momento, pensava-se em utilizar laje treliçada convencional em todos os blocos. Na proposta
final veremos que outro tipo de laje foi sugerido como alternativa a grandes vãos.
Após a apresentação dessa primeira proposta à pré banca, foram sugeridas algumas
modificações no projeto com o intuito de melhor definir questões formais e funcionais que
ainda estavam pendentes.
82
5.3 O PRODUTO
O Conexão Periferia consiste em um projeto de cunho cultural/educacional voltado
para o público jovem do bairro de Felipe Camarão, localizado em Natal/RN. O nome da
edificação faz alusão a rede de relacionamentos que pode ser gerada pelos jovens usuários do
espaço.
Este tópico abordará uma síntese dos aspectos técnicos do projeto. Aqui serão
reunidas as justificativas que embasaram as decisões projetuais. Serão apresentadas a inserção
urbanística, as soluções funcionais, as estratégias de conforto ambiental, a concepção
estrutural, o cálculo da quantidade de água necessária à edificação, o cálculo da quantidade de
vagas de estacionamento e por fim as recomendações paisagísticas.
5.3.1 INSERÇÃO URBANÍSTICA
A edificação foi implantada de forma a aproveitar os três possíveis acessos. A
fachada frontal ficou voltada para a Rua Mira Mangue, a qual possui uma área de embarque e
desembarque de visitantes por veículos de passeio; a Rua Arco Íris, que possibilita um acesso
pela lateral do conjunto tanto para pedestres quanto para veículos, possui além destas uma
área de embarque e desembarque de usuários vindos de ônibus (transporte escolar) e um
acesso para o estacionamento geral de veículos leves; por fim a Rua Pastor Josino Galvão,
que apresenta menor testada das disponíveis pelo terreno, possui uma entrada de serviços para
pedestres. A casa de lixo está voltada para essa rua de menor fluxo, bem como as áreas
destinadas aos marcadores de consumo de água e energia. As três fachadas voltadas para as
ruas possuem vagas de estacionamento.
83
Figura 57: Implantação
Fonte: Elaborado pela autora
Em relação a topografia do terreno, a edificação foi pensada de forma a estar situada
acima do nível da rua Mira Mangue12. A calçada é acessível para deficientes e as vagas
exclusivas destinadas a pessoas com dificuldade de locomoção estão localizadas próximas a
entrada principal da edificação.
5.3.2 SOLUÇÕES FUNCIONAIS
Os setores já estabelecidos anteriormente (cultural, educacional, convivência,
lazer/esporte e apoio/serviços) foram determinantes na disposição dos ambientes. As relações
entre tais setores também contribuíram para o arranjo final do projeto. A edificação foi
dividida em quatro pavimentos (térreo, superior, inferior 01 e inferior 02).
12 Convencionou-se que a Rua Mira Mangue possui o nível 0.00.
84
Figura 58: Esquema volumétrico
Fonte: Elaborado pela autora
O pavimento térreo é composto por recepção/exposição, auditório, lanchonete,
cozinha de apoio, oficina de teatro, depósito da oficina de teatro, oficina de artesanato, oficina
de pintura, banheiros femininos e masculinos, inclusive banheiros acessíveis independentes,
laboratório de informática e biblioteca. A circulação vertical pode ser feita pelo uso da rampa
a partir da recepção, a qual liga os quatro pavimentos, além das caixas de escada e das
plataformas elevatórias.
Figura 59: Proposta final do pavimento térreo
Fonte: Elaborado pela autora
A área da recepção/exposição funciona como elemento central dos setores. É ela que
determina os caminhos a serem seguidos. Sua ampla área permite seu funcionamento como
85
espaço de exposições e como foyer do auditório. O auditório não possui uma entrada
independente. Seu acesso deve ser feito através da passagem pela recepção. No entanto, ele
possui saídas de emergências voltadas para a Rua Mira Mangue e para a Rua Arco Íris. O
bloco do auditório foi concebido como um bloco único, sem aberturas nas laterais, com
exceção apenas das portas de emergência. A iluminação natural dos banheiros de suporte ao
auditório ocorre por iluminação indireta através de abertura zenital, como forma de garantir os
aspectos de conforto e permitir fachadas quase que absolutamente cegas (sem aberturas).
O setor cultural/educacional apresenta salas de oficinas, laboratório de informática e
biblioteca, e está concentrado ao lado da recepção a fim de facilitar o acesso de todos.
Pensando no conforto dos usuários, os banheiros desse setor, que apresentam atividades
corporais, foram projetados com chuveiros. Entre os blocos desse setor foi pensado um pátio
que funcione como integração dos ambientes. A lanchonete (setor de convivência) foi
localizada de forma a permitir uma centralidade em relação a edificação e de maneira tal que
pudesse servir de mirante para o Rio Potengi, que se encontra ao Norte.
O pavimento superior é composto por sala de professores/reuniões, sala de
psicologia, sala de serviço social, reprografia, copa, departamento pessoal, enfermaria,
coordenação, direção, oficina de dança, depósito da oficina de dança, oficinas de música e
banheiros. As salas referentes ao apoio/serviços são ambientes de fácil acesso aos usuários da
edificação. A circulação vertical pode ser feita pelo uso da rampa, pela escada ou pela
plataforma vertical.
Figura 60: Proposta final do pavimento superior
Fonte: Elaborado pela autora
86
O pavimento inferior 01 é composto por sala de estar/descanso dos funcionários,
vestiários masculino e feminino, almoxarifado, depósito, sala de catalogação, salas de aula,
banheiros e quadra de esportes (ginásio). Esse último ambiente, que possui dimensões oficiais
de quadra poliesportiva, possui acessos por dois locais: pelo pavimento inferior 01 e pelo
pavimento inferior 02. No pavimento em questão o acesso se dá através do prolongamento da
circulação das salas de aulas.
Figura 61: Proposta final do pavimento inferior 01
Fonte: Elaborado pela autora
O pavimento inferior 02 é composto por “espaço e memória 01”, “espaço e memória
02”, salas de apoio, bicicletário, depósitos para os espaços de memória, quadra de esportes,
vestiários e depósitos para o material esportivo. Abaixo do auditório, está localizado o espaço
e memória 01. Tal ambiente, que possui 02 salas de apoio com banheiros acessíveis, tem a
finalidade de um espaço multiuso: podem ocorrer apresentações musicais, teatrais, exposições
que remetam as questões culturais do bairro, além de servir também como um espaço coberto
para atividades como capoeira ou dança. O espaço e memória 02 apresenta a mesma função
do ambiente anterior, apenas com a diferença de possuir dimensões menores. Na rua Arco Íris
existem uma rampa e uma escada que permitem a chegada até o pátio que serve como “espaço
de plateia” dos espaços de memória. O pátio promove a integração entre os setores e funciona
como área de convivência dos usuários O outro acesso a quadra de esportes ocorre através
desse pátio. Ao lado da quadra está localizado os vestiários masculino e feminino. Abaixo das
arquibancadas da quadra encontram-se depósitos para material esportivo.
87
Figura 62: Proposta final do pavimento inferior 02
Fonte: Elaborado pela autora
É grande o número de depósitos nos pavimentos, uma vez que as atividades culturais
demandam muito espaço, seja por material reciclado, por cenografia ou mesmo por produção
própria. A quadra de esportes foi pensada de forma a sediar jogos oficiais, sendo assim uma
forma de atrair usuários de outros bairros da Zona Oeste de Natal.
5.3.3 ESTRATÉGIAS DE CONFORTO AMBIENTAL
As estratégias de conforto ambiental para a zona ‘bioclimática 08’ foram aplicadas
no desenvolvimento do projeto, desde quando possível. Medidas como sombreamento,
ventilação cruzada, uso da vegetação, uso de material leve e modulação foram trabalhadas de
forma a garantir um bom desempenho à edificação. As esquadrias foram pensadas de forma a
garantir a entrada e a saída de ar através da ventilação cruzada. O uso de um sistema
construtivo leve auxilia na não absorção de calor durante o dia. A modulação do projeto
diminui a quantidade de resíduos gerados na obra. Nesse projeto foi usada uma modulação de
1.20 m entre os eixos.
A fachada da Rua Arco Íris, voltada para Noroeste, recebe uma grande incidência
solar. Por isso, para atenuar um pouco os raios solares diretos, foi prevista criação de um
“corredor” verde entre a calçada e o pátio.
88
Figura 63: Implantação
Fonte: Elaborado pela autora
O uso do sombreamento melhora o desempenho térmico da edificação. Sendo assim,
foram utilizados beirais com o intuito de proteger as paredes da insolação. Outro elemento
importante que gera sombreamento e que permite a passagem do ar é o cobogó. Ele foi
utilizado na quadra de esportes e na fachada frontal da edificação, a qual está voltada para o
Sudoeste, criando um painel na entrada do prédio. O cobogó também serviu como marco
visual das rampas de acessibilidade.
5.3.4 CONCEPÇÃO ESTRUTURAL
A estrutura é basicamente formada por pilares, vigas e lajes de concreto armado. Na
área da recepção/exposição, devido ao uso do ambiente, optou-se pela laje nervurada, que
permite maiores vãos livres, além de rapidez na execução. Pilares de seção circular foram
posicionados no ambiente de forma a atender as distâncias exigidas. No encontro da laje com
os pilares há a utilização capitel sólido de concreto.
89
Figura 64: Laje nervurada
Fonte: www.panoramio.com/user/4132358/tags/laje%20nervurada
No restante da edificação foi indicado o uso da laje treliçada com blocos de EPS. A
mesma deve ser aplicada de forma unidirecional ao ambiente e no sentido do menor vão. A
escolha desse tipo de laje visou suas vantagens tais como, estrutura mais leve e uma maior
eficiência em relação ao conforto térmico, já que o bloco de EPS possui um baixo coeficiente
de condutividade térmica. Os pilares foram locados de acordo com a modulação e o pé-
esquerdo adotado foi de 3.15 m.
Figura 65: Laje treliçada com bloco de EPS
Fonte: http://www.lapremoldados.com/products/produto-1/
90
A estrutura que sustenta a cobertura do bloco administrativo e da quadra de esportes
consiste em uma composição de treliças planas de madeira distribuídas nas duas direções. As
treliças estão dispostas a cada 5,00 m, sendo sua espessura de 0,070 m e sua altura de 1,20 m.
Figura 66: Estrutura da cobertura
Fonte: Elaborado pela autora
Em relação a envoltória de fechamento da edificação, é indicado o uso da alvenaria
convencional nas vedações internas e externas. No entanto, por se tratar de um projeto
modulado, outros tipos de vedações, tais como dry wall e placa cimentícia, podem ser
adotados, bastando se adequar ao módulo proposto. Na cobertura optou-se pelo uso da telha
tipo sanduíche. O tipo de cobertura foi escolhido em função dos seus benefícios: ser um
material leve, poder ser utilizado em grandes vãos e possuir características de isolamento
térmico.
Figura 67: Telha sanduíche
Fonte: http://telhasguabiruba.com.br/
91
5.3.5 RESERVATÓRIO DE ÁGUA
Os banheiros dos diferentes pavimentos foram alinhados verticalmente de modo a
facilitar as prumadas hidrossanitárias. O cálculo da capacidade do reservatório considerou a
relação de 50 litros/pessoa para edificações públicas ou comerciais.
Considerando que o Espaço Cultural atenderá uma média de 400 usuários por dia e
que o reservatório deve suprir 02 dias de falta d’água, tem o seguinte cálculo:
400 pessoas x 50 litros = 20000 litros/dia x 2 dias = 40000 litros
Reserva de incêndio (20% da capacidade do reservatório) = 8000 litros
Capacidade total de 48000 litros
Optou-se pela criação de um castelo d’água localizado próximo ao setor de
apoio/serviços.
5.3.6 ESTACIONAMENTO
De acordo com o Código de Obras de Natal, como já exposto em capítulos
anteriores, a previsão da quantidade de vagas de estacionamento é feita de acordo a área
construída da edificação. A relação de vagas e área construída em vias locais para Serviços de
educação em geral apontam a quantidade de 1 vaga/60 m², mais embarque, desembarque e
lixo. Dessa forma, temos o seguinte cálculo:
Área construída do pavimento inferior 01 = 1.070,65 m²;
Área construída do pavimento inferior 02 = 2.782,50 m²;
Área construída do pavimento térreo = 2.112,32 m²;
Área construída do pavimento superior = 855,53 m²
ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL = 6.821,00 m²
Fazendo a relação tem-se que é necessário 113,6 vagas, ou seja, 114 vagas no total.
De acordo com o artigo 41 da Lei 10.741/2003 do Estatuto do Idoso, da quantidade total de
vagas, 5% deve ser destinado aos idosos (5,7 vagas, o que totaliza 6 vagas) e de acordo com o
artigo 7 – parágrafo único da Lei 10.098/2000 das Normas Gerais de Acessibilidade, 2% deve
ser destinado para pessoas com deficiência (2,28 vagas, o que totaliza 3 vagas). As vagas
92
exclusivas estão localizadas próximas a entrada principal da edificação, na Rua Mira Mangue.
As outras estão circundando o terreno nas três vias e localizadas também na área ao lado da
quadra de esportes.
Figura 68: Área de estacionamento
Fonte: Elaborado pela autora
5.3.7 RECOMENDAÇÕES PAISAGÍSTICAS
Nesse último tópico é apresentado algumas recomendações paisagísticas para o
projeto. Para o estacionamento ao lado da quadra de esportes indica-se a utilização de árvores
de pequeno e médio porte. Para o pátio acessado pela Rua Arco Íris indica-se a utilização de
árvores de médio porte que, além de gerar sombreamento, devem possuir copas coloridas a
fim de contribuir com o espaço lúdico criado. Para o jardim lateral da Rua Arco Íris indica-se
a utilização de árvores ornamentais.
O quadro a seguir apresenta algumas espécies e suas principais características.
93
Tabela 6: Indicações paisagísticas
Espécie Dados Local de implantação
Figura 69: Jasmim manga
Fonte: www.panoramio.com/photo/
Nome científico:
Plumeria rubra
Nome popular: Jasmim
manga
Porte máximo: 6 m
Luminosidade: Sol pleno
Estacionamento
Figura 70: Ipê amarelo
Fonte:naterradoipe.wordpress.com/
Nome científico:
Tabebuia chrysotricha
Nome popular: Ipê
amarelo
Porte máximo: 8 m
Luminosidade: Sol pleno
Pátio
Figura 71: Quaresmeira
Fonte: www.calendariodojardim.com.br/
Nome científico:
Tibouchina granulosa
Nome popular:
Quaresmeira
Porte máximo: 9 a 12 m
e acima de 12 m
Luminosidade: Sol pleno
Jardim lateral da Rua
Arco Íris
94
Figura 72: Areca bambu
Fonte: rcfertil.com.br/palmeira-areca-bambu/
Nome científico: Dypsis
lutescens
Nome popular: Areca
bambu
Porte máximo: 9 m
Luminosidade: Meia
sombra e sol pleno
Fachada principal
Fonte: www.jardineiro.net/plantas/chapeu-de-sol-terminalia-catappa.html
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho final de graduação procurou mostrar não somente o que já conhecemos
das periferias urbanas, mas principalmente o que não conhecemos. Apesar dos problemas
sociais expostos, foi possível ver um outro lado da periferia e perceber que o bairro por si só,
através das tradições de cultura popular, tem potencial para o desenvolvimento de atividades
artísticas e culturais, o que lhes falta na maioria das vezes é uma oportunidade de demonstrar
do que é capaz.
Um outro ponto considerado nesse trabalho foi a questão da cultura como atenuador
dos problemas sociais enfrentados pelos jovens A criação de espaços que promovam a
integração social entre os indivíduos pode gerar uma melhor qualidade de vida e a formação
de uma identidade social.
O Conexão Periferia foi concebido baseado em estudos teóricos referentes aos
conceitos que permeiam o tema em questão: jovens, cultura e desenvolvimento social.
Buscou-se com essa proposta aliar todos os aspectos vistos na fundamentação teórica com os
condicionantes existentes. A divisão do trabalho em três partes contribuiu com a linha de
raciocínio do produto que estava para ser desenvolvido.
O processo projetual procurou compilar todos os aspectos inerentes a produção da
proposta arquitetônica. As ideias preliminares de conceito e partido foram determinantes na
evolução da proposta.
Vale ressaltar que uma das dificuldades encontradas nas etapas iniciais do projeto foi
pensar em como seriam as relações entre os setores de diferentes pavimentos, uma vez que o
terreno apresenta um acentuado desnível. Após os primeiros estudos e análise dos
condicionantes foi possível apresentar uma proposta que se mostrasse acessível para a maior
quantidade possível de pessoas.
De maneira geral, entende-se que os objetivos propostos no início do trabalho foram
alcançados.
96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT. NBR 5626: Instalações Prediais de Água Fria, Rio de Janeiro, 1998.
ABNT. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos. Rio de Janeiro, 2015.
ABNT. NBR 15220: Desempenho térmico de edificações. Rio de Janeiro, 2003.
AMARAL, Márcio de Freitas do. Culturas juvenis e experiência social: modos de ser
jovem na periferia. Porto Alegre – 2011. Dissertação (mestrado em Educação). Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
BERTULEZA, Gilnadson da Silva. O espaço da conversa: anteprojeto de reestruturação de
um espaço público de esporte, cultura e lazer no bairro da Cidade da Esperança. Natal, RN,
2014.
CASTRO, Mary Garcia. Cultivando vida, desarmando violências: experiências em
educação, cultura, lazer, esporte e cidadania com jovens em situação de pobreza. Brasília:
Unesco, 2001.
CAVALCANTE, Eunádia Silva; LIMA, Verônica Maria Fernandes de. Construindo o seu
lugar. Natal: UFRN. Ed. Universitária, 1995.
CENTRO DE CULTURA MAX FEFFER. Disponível em:
<https://arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/amima-arquitetura-centro-cultural-28-07-
2009>. Acesso em 18 de Fevereiro. 2016.
CENTRO DE CULTURA MAX FEFFER. Disponível em: <
http://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-
sustentabilidade/1695>. Acesso em 18 de Fevereiro. 2016.
Código contra incêndio e pânico do Estado do Rio Grande do Norte. Natal: Governo do
Estado do Rio Grande do Norte, 2002.
97
FIORETTI, Elena Campo, FLORISSI, Stefano. Políticas culturais e desenvolvimento
socioeconômico: alternativas de produtores e articuladores culturais em Boa Vista, no estado
de Roraima - Fundação Casa de Rui Barbosa, 2011. Disponível em:
<www.casaruibarbosa.gov.br>. Acesso em: 02 de Março. 2016.
HERMES, Ivenio, BRANDÃO, Thadeu de Sousa e CALDAS, Marcos Dionísio Medeiros. A
metrópole da Insegurança e as Desculpas Estatais: Redesenhando o Mapa da Violência
Homicida Potiguar (2). Disponível em: <http://j.mp/1mXyGtQ>. Acesso em 12 de Março.
2016.
JONAS JUNIOR, Lenilson Miranda. Ateliê Ricardo Tinôco: anteprojeto arquitetônico de
uma escola de desenho modelo. Natal, RN, 2015.
LEITE, Juliano Silva de V. Análises de elementos arquitetônicos de proteção solar em
edificações institucionais na cidade de Natal/RN – Diretrizes projetuais. Natal: UFRN,
2003. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo (PPGAU). Centro de Tecnologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
RN.
LIBERALINO, Cíntia Camilo. Adolescentes e periferia: cenários de lazer, esporte e cultura
na Zona Oeste de Natal. Relatório Final. Natal, 2006. Trabalho acadêmico apresentado à
disciplina Planejamento e Projeto Urbano e Regional 04 do curso de Arquitetura e Urbanismo
/ UFRN.
LIBERALINO, Cíntia Camilo. Kurumí – Espaço da Cultura Jovem da Zona Oeste de
Natal/RN. Natal, RN, 2007.
LIMA, Dália Maria Maia Cavalcanti de. Nos caminhos do lazer: a infra-estrutura urbana e o
espaço do lazer norte-rio-grandense. / Dália Maria Maia Cavalcanti de Lima. Natal (RN):
Edição Independente, 2002.
MANOEL MARINHEIRO. Disponível em: <
http://companhiadanoticia.com.br/tag/manoel-marinheiro/>. Acesso em 22 de Abril. 2016.
98
MELO, Maria Helena Andrade Ferreira de. Pop rua: espaço de referência em assistência
social para pessoas em situação de rua. Natal, RN, 2015
NATAL. Câmara Municipal. Lei Complementar nº 055, de 27 de Janeiro de 2004. Dispõe
sobre o Código de Obras de Natal. Natal, 2004.
NATAL. Câmara Municipal. Lei Complementar nº 082, de 21 de junho de 2007. Dispõe
sobre o Plano Diretor de Natal e dá outras providências. Natal, 2007
NEVES, Laert Pedreira. Adoção do Partido na Arquitetura. Salvador: Editora da
Universidade Federal da Bahia, 1998.
PINTO, Karen Álvares. Centro Cultural Bom Pastor: Arquitetura, Sociabilidade, Arte e
Educação. Natal, RN, 2009.
POPULAÇÃO DOS BAIRROS DE NATAL. Disponível em: < http://populacao.net.br/os-
maiores-bairros-natal_rn.html>. Acesso em 21 de Abril. 2016.
POPULAÇÃO JOVEM NO BRASIL / IBGE, Departamento de População e Indicadores
Sociais. – Rio de Janeiro: IBGE, 1999.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
SEMURB. Prefeitura Municipal de Natal. Equipamentos Urbanos In Natal em Detalhes.
2009. Disponível em: <http://www.natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-102.html>. Acesso em
17 de Março. 2016.
SERPA, Angelo. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo: Contexto, 2007.
SOUZA, Candida de. Na fronteira da exclusão: ações de enfrentamento à violência na
juventude. Natal, 2012. Dissertação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
SOUZA, Itamar de. Nova história de Natal. Natal: Departamento Estadual de Imprensa,
2008.
99
TAKEUTI, Norma Missae. No outro lado do espelho: a fratura social e as pulsões juvenis.
Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
VAGAS PARA IDOSOS. Disponível em:
<http://www.denatran.gov.br/download/resolucoes/republicacao_resolucao_contran_303_08.
pdf>. Acesso em 28 de Maio. 2016.
VAGAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Disponível em:
<http://www.denatran.gov.br/download/resolucoes/resolucao_contran_304.pdf>. Acesso em
28 de Maio. 2016.
VIOLÊNCIA NA JUVENTUDE. ATLAS DA VIOLÊNCIA 2016. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=27406&Ite
mid=6>. Acesso em 21 de Abril. 2016.
VIOLÊNCIA PREOCUPA OS MORADORES DE FELIPE CAMARÃO, EM NATAL.
2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/rn-
movel/noticia/2013/03/violencia-preocupa-os-moradores-de-felipe-camarao-em-natal.html>.
Acesso em: 04 de Abril. 2016.
WANDERLEY JUNIOR, Bruno.; VOLPINI, C. R. . A Cultura como Dimensão dos
Direitos Humanos. In: XVI CONPEDI, 2007, Belo Horizonte. XVI Congresso Nacional.
Florianóplis: Buateux, 2007. p. 1-12.
Top Related