ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE FELGUEIRAS
Recolha de textos tradicionais
2011 CONTOS E LENDAS COM HISTÓRIA
COMPOSIÇÃO: Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras
Casa do Curral
Rua do Curral, Margaride
4610-‐156 FELGUEIRAS
Com Histórias
Recolha de textos tradicionais
Textos produzidos pelos formandos na Acção O CONTO TRADICIONAL NO JI E NO 1º
Organização: José Alves Barroco e José Carvalho de Sousa
2011 ESTG de Felgueiras
TÍTULO:
Recolha de Contos Tradicionais
ORIENTAÇÃO:
José Alves Barroco e José Carvalho de Sousa
TEXTOS:
ILUSTRAÇÕES:
Alunos dos formandos
SUPERVISÃO:
Gabinete de Formação Contínua da ESTG de Felgueiras
ARRANJO GRÁFICO:
Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras
EDIÇÃO:
Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras
Casa do Curral
Rua do Curral, Margaride
4610-‐156 FELGUEIRAS
Maio de 2011
O mundo conheceu nos últimos anos um desenvolvimento tecnológico e
científico que não encontra paralelo noutra época da História. Grande parte desse
desenvolvimento assentou nas novas tecnologias da informação e comunicação e na
sua massificação, de que se destaca a democratização da internet que permitiu que a
globalização, de forma impetuosa, se impusesse a todos. A ubiquidade parece que de
modo paulatino vai deixando de ser uma característica do transcendente para se
converter numa competência humana, pois as TIC tornam presente os que estão
distantes fisicamente.
Com o proliferar das novas tecnologias e do seu livre acesso, o homem sente-‐se
o senhor do mundo, pois tudo está ao alcance de um simples clic. Em casa, no carro,
na praia ou na montanha as tecnologias permitem-‐nos quase tudo. Assim, neste ponto
do desenvolvimento humano, falar de contos tradicionais parece no mínimo
extemporâneo. É algo em que ninguém acredita, pois não passam de histórias. No
entanto, são histórias que fazem sonhar e que nos transportam para um tempo
distante e de magia em que tudo era possível.
À fada basta pronunciar um conjunto de palavras e a realidade circundante do
herói ou da heroína, que crê nos poderes mágicos, é transformada. A criança acredita
nas fadas, apesar de viver rodeada de tecnologia. O adulto desliga-‐se do mundo em
que vive para se deixar levar pela história de príncipes e de princesas que são vítimas
dos infortúnios da vida ou da malvadez dos homens, mas que sabe de antemão que
triunfarão com a ajuda de um ser maravilhoso ou mesmo humano. A criança identifica-‐
se com o herói e adulto compreende o valor das relações interpessoais e da amizade.
Assim, passados tantos anos desde que surgiram na memória dos homens e
através dela passando de geração em geração até à sua recolha, o conto tradicional
continua a desempenhar um papel importante na educação das crianças porque
permite incutir-‐lhes os valores em que assenta a sociedade em que vivemos.
Neste sentido, não podíamos desprezar o conto tradicional pois ele constitui-‐se
por si mesmo como um recurso pedagógico que permite diversificar as actividades
desenvolvidas nas salas dos jardins-‐de-‐infância e nas salas de aula do 1º ciclo do ensino
básico. Foi este conceito que esteve na génese da Acção de formação «O conto
tradicional no JI e no 1º ciclo».
Nesta acção demos a conhecer aos formandos o mundo da literatura de tradição
oral através da abordagem do conto tradicional. Para se conseguir tal intento, durante
as sessões foram abordadas temáticas como o mito e as suas relações com o conto.
Fez-‐se uma breve incursão sobre as diferentes teorias da origem dos contos, pois o
relevo foi dado aos diferentes modelos de leitura e análise. A tradição portuguesa não
foi esquecida, pois foram valorizadas as colectâneas de contos populares portugueses
em detrimento dos contos «clássicos».
Por fim, foi dada primazia às novas tecnologias da informação e comunicação na
abordagem do conto, pois não são antagónicos. As TIC são uma ferramenta que
permitem actualizar o suporte de fixação do conto tradicional. Por conseguinte, foi
pedido aos formandos que fizessem uma recolha de textos da tradição oral da região
de cada um e que, após a sua transcrição, construíssem um e-‐book para o utilizarem
como ferramenta de diversificação das suas actividades lectivas e de reutilização do
conto.
Os formadores
José Alves Barrôco
José Carvalho de Sousa
A Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras, do Instituto
Politécnico do Porto (ESTGF.IPP), tem por missão proporcionar formação de
nível superior, com especial relevo para o desenvolvimento socioeconómico da
região onde está inserida Vale do Sousa e Baixo Tâmega.
Na prossecução desta missão foi criado o Gabinete de Formação Contínua, no
âmbito do qual foram estabelecidos protocolos e parcerias com diversas
instituições de ensino da região.
Pretende-se com estas parcerias o benefício mútuo das instituições, quer ao
serviço das populações que em conjunto servem, quer dos profissionais que
nelas trabalham. Temos a certeza que assim aconteceu, mais uma vez, com a
O Conto Tradicional no JI e no 1.º Ciclo
de Escolas D. Manuel Faria e Sousa, Felgueiras.
Aos professores e aos formandos do curso endereçamos os nossos parabéns
pelo trabalho realizado, cujo sucesso pode ser aferido pelo prazer da leitura
desta singela publicação.
Luís da Costa Lima (Presidente ESTGF)
O CONTO TRADICIONAL NO JI E NO 1º CICLO
Trabalhos no Myebook
Nome Nome do Trabalho http://www.myebook.com/index.php?option=ebook
&id=
Alcina da Conceição Rodrigues Tradições - Canções Tradicionais 75004
Ana Maria Oliveira Ribeiro Criação do Mundo 74743
Ana Paula Bessa da Silva Lenda dos Sete Cruzeiros 74611
Ana Raquel Leite Cibrão A Lenda das Andorinhas 74602
Célia Patrícia Carvalho da Costa Dias Lendas e Orações da Minha Avó 74603
Eduarda Assunção Ribeiro Sampaio Lenda - Lenda da Vila da Sertã 74598 Elvira da Glória Costa Moreira Teles Sampaio O Rei à Procura da Felicidade 74616 / 74156
Emília Amélia Gomes Cochat Responso a Santo António 76816
Eugénia Clara Ferreira de Magalhães Lenda de São Gonçalo - S. Gonçalo vai à Feira 74605
Fausto Alberto Pereira Quintas Orações - O Penedo da Moura 74608 / 74745
Francisco José Pereira Gonçalves Uma História do Concelho de Vinhais 73915
Graça Maria Martins Rodrigues A lenda das Amendoeiras em Flor no Algarve 74350
Heliana Alexandra Sousa Silva Joaquina - Música Tradicional 74591 Ilda Maria Marinho Moreira Teles Braga Lenda de São Martinho 77612
Maria Alice Oliveira Lopes Lenda das Pegadas de São Gonçalo de Amarante 74410
Maria Amélia Brochado Marinho da Cruz A Raposa e o Lobo 74713 Maria da Conceição Fernandes Videira A Segada 74606 Maria de Lurdes de Sousa Ferreira Souto Lenda da Senhora da Aparecida 76436
Maria Elisabete Rodrigues Morais Lenda da Porca de Murça 74628
Maria Gil Pavão Gabriel Tradições - Encomendar as Almas 74612
Maria Rosa Maia Pereira de Carvalho Os Cães da Lixa 74150
Mariana Fernandes Brás A Aventura do Espantalho Firmino 77737
Sara Cristina Fernandes Ribeiro Com Fafe Ninguém Fanfe 79892
Susana Maria de Oliveira Sampaio 74599
Os Formandos
Alcina da Conceição Rodrigues
Ana Maria Oliveira Ribeiro
Ana Paula Bessa da Silva
Ana Raquel Leite Cibrão
Célia Patrícia Carvalho da Costa Dias
Eduarda Assunção Ribeiro Sampaio
Elvira da Glória Costa Moreira Teles Sampaio
Emília Amélia Gomes Cochat
Eugénia Clara Ferreira de Magalhães
Fausto Alberto Pereira Quintas
Francisco José Pereira Gonçalves
Graça Maria Martins Rodrigues
Heliana Alexandra Sousa Silva
Ilda Maria Marinho Moreira Teles Braga
Maria Alice Oliveira Lopes
Maria Amélia Brochado Marinho da Cruz
Maria da Conceição Fernandes Videira
Maria de Lurdes de Sousa Ferreira Souto
Maria Elisabete Rodrigues Morais
Maria Gil Pavão Gabriel
Maria Rosa Maia Pereira de Carvalho
Mariana Fernandes Brás
Sara Cristina Fernandes Ribeiro
Susana Maria de Oliveira Sampaio
10
O Conto
O
Conto
Contou
E
Contou
Na Humildade
Da Origem
Em
Encantou
Numa Folha Anónima, Entoada
Narrada no Papel da Vida.
Que consigo traz:
O Caminho
O Tempo
A Imaginação
A Transmissão Oral
De Geração
Em GERAÇÃO.
11
A LENDA DAS ANDORINHAS
Foi assim que nasceram as andorinhas e a sua lenda. Conta a lenda que, num campo de Nazaré, cheio da luz do sol, o Menino Jesus brincava muito entretido, amassando barro, fazendo com ele passarinhos de asas abertas que ia colocando no chão.
De repente, passou por ali um homem mau, que tentou esmagar os passarinhos de barro com os pés.
O Menino Jesus, ficou muito aflito e batendo palmas com as suas mãos pequeninas fez voar para muito longe aquelas avezinhas que, com tanto carinho moldara.
12
Um dia, vieram poisar sobre o beiral da casa onde vivia Jesus, e, do barro de que foram feitas, construíram o seu primeiro ninho.
Conta a lenda também que, quando Jesus foi crucificado, as andorinhas foram rodeá-‐lo e com os seus pequeninos bicos tiraram-‐lhe a coroa de espinhos que tanto magoavam a Sua cabeça.
Perante tanto sofrimento, as suas asas cobriram-‐se de luto e assim permaneceram para sempre.
.
Ilustração: Alunos do 4º ano do CEL
13
O LOBO
Certo dia, três senhores caminhavam numa estrada perto de um monte. A
certa altura, encontraram um lobo morto. Então, resolveram dizer uma
frase a respeito daquele lobo. Quem dissesse a melhor frase, teria um
almoço pago pelos outros dois.
Um dos homens disse:
-‐ andou, tudo comeu e nada pagou.
O outro homem afirmou:
-‐
Foi a vez do terceiro homem proferir a sua frase:
-‐
Qual dos três homens teria apresentado a melhor frase sobre o lobo? Não
sabiam. Por isso, resolveram procurar um advogado, para que este os
ajudasse a encontrar uma solução. No entanto, também o advogado ficou
aflito, pois não conseguia encontrar uma solução para este problema. E,
foi consultar os seus livros na tentativa de encontrar uma resposta.
O advogado disse que estava difícil encontrar uma solução, mas, depois de
tanto procurar, acabou por encontrar uma solução para o caso.
-‐ De facto, -‐ disse o advogado -‐ o almoço pagam vocês os três e comemos
nós os quatro.
14
O BARQUEIRO
Há muitos anos, havia um homem que tinha um barco e levava as pessoas
de um lado do rio para o outro. Era um barqueiro.
Um dia, chegaram perto desse barqueiro dois intelectuais que pediram ao
barqueiro se lhes dava um passeio no mar. O barqueiro lá os levou.
A dada altura, um deles pergunta ao barqueiro:
-‐
-‐ Não. Não conheço nada. Sou um pobre barqueiro.
-‐Então, devo dizer-‐lhe que perdeu metade da sua vida.
Continuaram a viagem e o outro passageiro interpelou o barqueiro:
-‐O senhor, conhece alguma coisa sobre a América? Sabe como é que as
coisas funcionam lá?
-‐Não. Não conheço nada. Sou um pobre barqueiro.
-‐Então, o senhor perdeu metade da sua vida.
A viagem prosseguiu e, a dada altura, o mar começou a ficar muito forte,
muito bravo, revolto. O barco começou a balançar. O barqueiro virou-‐se
para os dois intelectuais e perguntou-‐lhes:
-‐Os senhores sabem nadar?
Eles responderam:
-‐Não, não sabemos.
-‐Então, perderam a vossa vida toda.
15
ORAÇÃO A SANTA BÁRBARA (para afastar a trovoada)
Se vestiu e se calçou
E o seu caminho, caminhou.
O Senhor a encontrou
E lhe perguntou:
-‐Bárbara onde vais?
Ela respondeu:
-‐Senhor vou ao céu
Abrandar a trovoada, que anda muito brava.
O Senhor disse-‐lhe:
-‐ Vai Bárbara, vai degradar a trovoada
para o monte maninho, onde não haja pão nem vinho,
TALHAR O MEDO DE ANDAR DOS BEBÉS Ao meio dia dizer a oração, várias vezes, com o bebé agarrado pelas mãos.
Assim como o Santíssimo meio-‐dia está a dar, tire o medo a este menino
e ponha-‐o a andar
16
LENDA DE SANTA BÁRBARA
Conta a lenda que Bárbara, filha de um homem rico, foi aprisionada numa torre por seu próprio pai, que receava que a extrema beleza de sua filha fascinasse pretendentes inadequados. Encerrada, Bárbara converteu-‐se à fé cristã e escapou. Foi, no entanto, detida, julgada e castigada à morte. No momento em que o pai, com a espada, lhe cortava a cabeça, um raio atingiu-‐o. Desde esse dia, o raio tornou-‐se o elemento de devoção desta santa. Santa Bárbara é protetora daqueles que manobram armas de fogo. EM DIA DE TROVOADA É COSTUME O POVO CRENTE DIRIGIR A SANTA BÁRBARA O SEGUINTE PEDIDO:
Santa Bárbara pequenina Se vestiu e se calçou, O Senhor lhe perguntou: -‐ Onde vais, Bárbara? -‐ Vou ao céu Abrandar a trovoada Que anda muito abastada.
17
-‐ Vai, vai Bárbara. Bota pró monte Maninho, Onde não haja pão nem vinho, Nem bafo de menino, Nem gente da Cristandade. Valha-‐nos as três pessoas Da Santíssima Trindade.
LENDA DE SANTO ONOFRE
Segundo o relato de um seu aluno, que o encontrou no deserto egípcio, Onofre era monge num mosteiro nas proximidades de Tebas (uma cidade do Antigo Egito), de onde ele saiu para viver uma vida de eremita. Durante 60 a 70 anos, Onofre viveu sozinho no deserto e usava como vestuário apenas o seu cabelo, barbas e uma espécie de calça feita de folhas. Santo Onofre é considerado o padroeiro da fortuna (sorte). PARA PEDIR QUE HAJA SEMPRE PÃO, CASA E DINHEIRO PARA DISTRIBUIR
Milagroso Santo Onofre, Que ao Monte Tabor subiste; De heras verdes te vestiste, Da Santíssima Trindade chamaste, Três desejos lhe pediste.
18
Jesus Cristo te apareceu: -‐ Que queres meu filho e servo meu? -‐ Pão para comer, Casa para habitar E dinheiro para dar aos infelizes Que de mim se lembrarem.
ORAÇÃO AO ANJINHO DA GUARDA PARA PEDIR PROTEÇÃO CONTRA TODOS OS MALES E INIMIGOS: Anjinho da guarda
Semelhança do Senhor
Foste prá mim toda a vida
Haveis de ser meu emparador.
Diz o Anjo Bendito
Por vós bem-‐fazer
Do laço do inimigo
Me haveis de defender.
Meu Senhor todo-‐poderoso
Filho da Virgem Maria
Guardai-‐me hoje nesta noite
E toda a minha vida.
Meu coração não fique preso,
Minha alma não fique perdida.
Jesus, Ave-‐maria.
(No final desta oração reza-‐se a Ave Maria
19
O REI À PROCURA DA FELICIDADE
Era uma vez um rei que andava à procura da felicidade e resolveu
andar pelo mundo à procura dela. Viajou por muitas terras e passou por
muitos lavradores. Perguntou a cada lavrador:
-‐ És feliz?
Respondiam:
-‐ Não! Não sou feliz.
Todos respondiam que não eram felizes.
Um dia, ouviu um lavrador no meio do campo a cavar e a cantar. O
rei dirigiu-‐se a ele e perguntou-‐lhe:
És feliz?
E o homem respondeu:
-‐ Sim, sou feliz.
Então, o rei diz-‐lhe:
-‐ Dá-‐me a tua camisa?
O homem respondeu-‐lhe:
Ó Senhor, a minha camisa? Foi coisa que nunca tive, e sou feliz!
20
ORAÇÃO A SÃO SEBASTIÃO
Ó meu S. Sebastião bendito
Bendito seja o teu nome,
Livrai-‐nos da peste e guerra
Livrai-‐nos também da fome.
S. Sebastião bendito
S. Sebastião sagrado,
Livrai-‐nos da peste e guerra
Do que sois advogado.
S. Sebastião bendito
Bendito sempre sejais,
No céu por todos os anjos
Na terra pelos mortais
21
O REI E OS SEUS CONSELHEIROS
Era uma vez um rei que andava a passear com os seus conselheiros e chegou a um local onde encontrou um senhor idoso e disse-‐lhe:
-‐ Muita neve vai na serra! E o lavrador respondeu-‐lhe: -‐ Já senhor é tempo dela. Os conselheiros ficaram admirados porque era Verão (não havia
neve). Então o rei perguntou-‐lhe: Quantas vezes te ardeu a casa? -‐ Já senhor por duas vezes. (lavrador) -‐ E quantas contas de ser depenado? (rei) -‐ Ainda me faltam três vezes! (lavrador) -‐ Pois então, se cá vierem três patos depena-‐os tu. (rei) Respondeu o homem: -‐ Depenarei real senhor, já que assim o manda. (lavrador) O rei disse aos conselheiros: -‐ Quero que me expliquem a conversa que tive com o lavrador,
senão mando-‐vos matar! Os conselheiros vieram ter com o lavrador e deram-‐lhe muito
dinheiro para ele lhes explicar a conversa que teve com o rei. Então, o lavrador explicou-‐lhes:
-‐ sinal que tenho o cab
s. (Quem casa -‐
vocês, que me tinham de pagar quanto eu quisesse para eu lhes explicar a conversa, senão o rei mandaria matar-‐vos.
22
ORAÇÃO A SÃO BARTOLOMEU
S. Bartolomeu diz que me deite eu,
Que não tenha medo nem a bombas nem a tombas
Nem a coisas de más sombras.
Se o pesadelo me vier pesar,
Que o mande contar as areias ao mar.
Depois delas contadas que se deixe lá estar.
23
SÃO PEDRO, O SENHOR E A FERRADURA
Era uma vez o Senhor que andava pelo mundo a passear com S.
Pedro. Num certo dia chegou a uma povoação e o Senhor viu no chão uma
ferradura de um cavalo. Dirigiu-‐se para S. Pedro e disse-‐lhe:
-‐ Pedro, olha aquela ferradura e apanha-‐a.
S. Pedro virou-‐se para o Senhor e disse-‐lhe:
-‐ Ó Senhor vou tão cansado, custa-‐me tanto a baixar.
O Senhor baixou-‐se e apanhou-‐a. Chegou ao primeiro ferreiro que
encontrou e vendeu-‐a por uns reais. Na primeira loja que encontrou
c
cair ao chão uma cereja de cada vez.
S. Pedro apanhava-‐a e dizia:
-‐Que fresquinha!
O Senhor de vez em quando deixava as cair até ficar sem
nenhuma. Quando já não tinha nenhuma cereja, o Senhor virou-‐se para S.
Pedro e disse-‐lhe:
-‐ Ó Pedro não te quises-‐te baixar uma só vez por uma ferradura que
te mandei apanhar e olha as vezes que te baixas-‐te pelas cerejas.
(Moral da história, nunca devemos ter preguiça para fazer os trabalhos
que nos mandam).
24
O DIABO E O SENHOR
Era uma vez um diabo que andava pelo mundo e cortava as árvores
todas porque queria chegar ao céu, para fazer mal ao Senhor. Quantas
árvores existiam cortou-‐as todas e colocou-‐as umas em cima das outras.
Faltava-‐lhe uma para chegar ao céu e então disse:
-‐ Ó Senhor falta-‐me apenas uma árvore para chegar junto de vós.
E o Senhor respondeu-‐lhe:
-‐ Tira-‐a do fundo e coloca-‐a no cimo.
As árvores caíram todas por cima dele e o Senhor ficou a rir-‐se.
Queria aproximar-‐se do Senhor e não conseguiu.
25
A VELHA PREGUIÇOSA
Era uma vez uma velha muito preguiçosa. Deitava-‐se na cama e
morria de frio. Como sabia tecer dizia:
-‐
Vinha a manhã com um sol radioso e ela ficava ao sol e dizia:
-‐ Estende-‐te aqui minha perna, nem qual manta nem qual nada.
E, assim sucederam-‐se dias e noites até que a velha morreu de frio.
Moral da história para não trabalhar, pois sabia tecer, preferiu
morrer ao frio. A preguiça não ajuda ninguém.
26
Antigamente Figueiró possuía terras que hoje pertencem a outras
freguesias nomeadamente Santa Cristina, mas também possui
actualmente terras que outrora pertenciam a outras freguesias.
Existe até um
Conta-‐se que antigamente se faziam procissões de Figueiró a Santa
Cristina e vice-‐ versa, mas para que a Santa ao entrar na igreja de Santa
Cristina tivesse direito a sair teria de entrar de traseiras. Como o povo de
Figueiró e o de Santa Cristina não se entendiam bem, aproveitaram o
facto da Santa numa dessas procissões ter entrado virada para a frente e
então nunca mais a deixaram sair de lá, ficando Santa Cristina a ser
também uma freguesia independente de Figueiró (Santiago).
(Os Santos quando iam em procissão a outra freguesia tinham que
entrar na Igreja de costas voltadas para o altar senão não tinham direito a
sair.)
27
Responso a Santo António
Faz-‐se o sinal da cruz e diz-‐se:
Quem milagres quer achar
Contra os males e o demónio
Busque logo o Sto. António
Que aí os há-‐de encontrar.
Aplaca o frio do mar
Os doentes torna sãos
O perdido faz achar
E sem respeitar os anos
Socorre a qualquer idade
Abona esta verdade
Todos os cidadãos Padoanos
E todos os mais que o experimentam.
Glória ao Pai ao Filho e Espírito Santo
Assim como era no princípio
Agora e para sempre amén.
A primeira vez diz-‐se tudo até ao fim da Glória e logo a seguir diz-‐se a
partir de:
Aplaca o frio do mar até ao fim da Glória.
A segunda vez diz-‐se tudo até ao fim da Glória e logo a seguir diz-‐se a
partir de:
Aplaca o frio do mar até ao fim da Glória.
28
A terceira vez diz-‐se tudo até ao fim da Glória e logo a seguir diz-‐se a
partir de:
Aplaca o frio do mar até ao fim da Glória.
Só no fim das três vezes é que se reza esta oração:
Oremos ó Deus
que concedeste a graça
ao vosso Glorioso Santo
de interceder em tantas necessidades
Fazei Senhor que: (apareça.........., sare............,a tempestade.......)
Para honra e glória
Do vosso Glorioso Santo.
Glória ao Pai ao Filho e Espírito Santo
Assim como era no princípio
Agora e para sempre Amén.
Faz-‐se o Sinal da Cruz.
29
Talhar Esipela (Erisipela)
Tem que ser três dias seguidos 1º dia Tem que ser uma vez por dia, mas três vezes seguidas. Temos que ter vinte e sete carochas de sempre verde em montinhos de três (nove para o 1º dia; nove para o 2º dia e nove para o terceiro dia). Sempre verde é o sabugueiro-‐são rebentos novos pequenos do sabugueiro e segundo reza a tradição no dia em que lhe chamarem
Sinal da Cruz Pega-‐se na primeira carocha de um grupo de três e fazendo sempre o sinal da cruz com a carocha reza-‐se: Sempre verde em cruzado
Nem foste metida nem semeado
Com o poder de Deus, da Virgem Maria,
S. Pedro e S. Paulo e S. Silvestre
Nosso Senhor seja o Divino Mestre
E tudo o que eu fizer tudo preste.
Reza-‐se a seguir: um Pai Nosso e uma Salvé Rainha e pousa-‐se a 1ª carocha. Reza-‐se tudo de novo e pousa-‐se a 2ª carocha. Torna-‐se a rezar tudo de novo e pousa-‐se a 3ª carocha. Aqui termina o 1º grupo de carochas (3). Deve-‐se repetir a mesma reza com os outros 2 grupos do 1º dia. No 2º e 3º dia repete-‐se a mesma coisa. No caso de ser urgente faz-‐se tudo seguido. As vinte e sete vezes seguidas.
30
No fim de se fazer a 1ª, 2ª e 3ª vez, queimam-‐se os raminhos no fogão ou em lume que queime e a cinza deita-‐se num pouco de água corredia (ex: na banca e vai pelo esgoto).
Talhar o Fogo Lobo
O que é o Fogo Lobo?
Quando uma mulher estava grávida e via um incêndio em voz baixa ou -‐rei o fogo surgissem os
problemas na pele ao filho ou filha. Arranjar 3 molhos com três caninhos cada de leitaria (total de 9 caninhos de leitaria que são leitugas que dão uma flor amarela e quando se cortam deitam um líquido branco da cor do leite). Depois tem que preparar numa tijela o seguinte: um pouco de água fria, 3 pedrinhas de sal grosso de cozinha e 3 pingas de azeite.
1º Dia
Sinal da Cruz
Molha a 1ª leitaria na água e vai fazendo o sinal da cruz sobre a pele que parece queimada enquanto diz a reza.
Reza-‐se:
Elisa tinha um menino que no fogo ardia. Pegou nele ao colo e foi para o
monte de Alvuria. Perguntou à Virgem Maria ao seu menino o que fazia.
Vai para casa Elisa curar o teu menino com três caninhos de leitaria
(leitugas), um pouco de água fria, 3 pedrinhas de sal, 3 pingas de azeite
que o teu menino jamais sofreria.
Pelo poder de Deus e da Virgem Maria, S. Pedro, S. Paulo e S. Silvestre,
tudo o que eu fizer, tudo te preste.
Pousa a 1ª leitaria para o lado.
Sinal da Cruz
31
Faz a 2ª reza e pousa 2ª leitaria para o lado.
Sinal da Cruz
Faz a 3ª reza e pousa 3ª leitaria para o lado.
No fim de fazer isto três vezes diz uma Salvé Rainha e faz o Sinal da Cruz.
Queimam-‐se as três leiteiras em lume que queime e as cinzas deitam-‐se na água corredia (ex: na banca da cozinha).
2º Dia
Repete-‐se tudo o que foi dito antes.
3º Dia
Torna-‐se a repetir tudo o que foi dito antes.
Atenção: Não convém tomar banho nos três dias em que se faz o talhar.
32
A LENDA DE SÃO GONÇALO
Era uma vez um casal que tinha um filho chamado Gonçalo.
Um dia o pai e a mãe foram para a feira e deixaram o Gonçalo a guardar o milho que estava na eira, para que os passarinhos não o comessem.
Mas a certa altura o Gonçalo disse:
-‐ Não! Também vou à feira.
33
Então caçou os passarinhos todos, meteu-‐os dentro do beiral e pôs-‐lhes uma grade na frente. E lá foi para a feira, ao encontro dos pais.
Quando chegou à feira, os pais deram com ele e perguntaram-‐lhe:
-‐ Ó Gonçalo, então que vai ser do nosso milho? Estás aqui na feira e os passarinhos na eira a comerem o nosso milho?
-‐ Ó meu pai, ó minha mãe, cacei os passarinhos todos e meti-‐os no beiral, depois, pus uma grade na frente e eles ficaram lá presos.
-‐Ó meu filho, deus me livre! Uma grade?
-‐E para atravessares para aqui o que fizeste?
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-‐Ó minha mãe! Deitei o casaco no rio, pus-‐me em cima dele e aqui estou.
-‐Não pode ser! Mas vamos já para casa.
Quando chegaram a casa, o pai e a mãe, viram que realmente os passarinhos estavam presos no beiral, com a grade na frente.
A mãe que já tinha sentido que o seu filho tinha um dom especial, viu nesse dia, que realmente Gonçalo era santo.
Ilustrada por: Inês Pinto
35
Medicina doméstica
Laranja
Sumo de laranja verde é usado para as frieiras, chegando mesmo a cura-‐
las.
Folha de marmeleiro
O chá de folha de marmeleiro é usado para tratar da ureia.
Pinheiro (caruma)
Banho com água em que se ferveu a caruma verde é bom para curar as
hemorróides.
Cebola
A casca seca de cebola é usada para fazer chá para o estômago.
Cereja
Chá de carolos de cereja para tratar infecções urinárias.
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Cantigas populares
Tia padeira
A minha tia padeira,
Anda na praça a vender,
Vende pão e vende tudo
E tudo é de comer,
A minha tia padeira
Ela é uma grande feiticeira.
Menina da poupa alta
Menina da poupa alta
Quem a há-‐de rebaixar
Ó menina erga a poupa,
Erga a poupa lá p´ro ar
Menina da poupa alta
Siga o caminho da rusga (bis)
Agora anda na moda
Poupa alta e saia curta (bis).
37
O PENEDO DA MOURA
Na encosta poente do Monte do Castelo junto da aldeia, existe um
penedo muito especial designado por , cuja história
se perde no tempo e no espaço.
Desse penedo se conta a seguinte lenda
Quando os mouros habitaram nesta região, tinham o seu castelo no lugar
de Alfala, no cimo do Monte do Castelo e eram comandados pelo temível
chefe Almadu.
Senhor duma vasta área de terrenos (A Moirama do Castelo), que se
estendia desde a encosta norte do monte Almari até às margens do rio
Alvize.
38
Da sua vasta família fazia parte Aldina, a filha mais nova e o encanto dos
mouriscos.
Todos os dias, Aldina saía da moirama acompanhada pelas aias para se
banhar na margem esquerda do rio.
Na margem direita ficavam as terras pertencentes ao conde Mendes,
inimigo dos mouros e que nunca lhe dava tréguas para os expulsar da
região.
O filho mais novo dum dos rendeiros do condado, de nome Ramiro,
rapagão vivaço e astuto, fingia não se aperceber da presença da filha do
chefe mouro até ao rio, continuando o seu trabalho nos campos, embora
sorrateiro a fosse espreitar.
Aldina a quem o pai lhe chamava , desde logo se apercebeu da
sua presença, tendo ficado encantada com ele, depressa se enamorou.
Um dia em que o pai se teve de ausentar por vários dias, resolveu
atravessar a nado o rio e ir ter com ele, pedindo às suas aias que não
contassem nada a ninguém.
E assim durante muito tempo, sempre que se pai tinha que sair com os
seus guerreiros, Ramiro e Aldina se encontravam, umas vezes na margem
esquerda e outras na margem direita.
Certo dia o pai regressou mais cedo e chegado ao castelo não a
encontrando, foi ter com ela ao rio. Quando se aproximava, uma das suas
aias apercebendo -‐se da sua chegada, foi logo a correr avisá-‐la.
39
Ramiro nunca nadou tão depressa na sua vida. Num abrir e fechar de
olhos pôs-‐se na outra margem.
Quando Almadu chegou, logo se apercebeu que algo de estranho se
estava a passar.
No regresso ao castelo, proibiu a filha de ir com as suas aias banhar-‐se ao
rio, enquanto estivesse ausente.
Ela bem insistiu mas a resposta foi a mesma.
-‐ Enquanto eu cá não estiver, não vais.
Perante esta ordem, Aldina bem tentou arranjar argumentos, mas a
resposta foi sempre a mesma.
-‐ Só podes ir, quando eu estiver no castelo.
Ramiro ficou muito admirado com a ausência da amada, mas pensava que
se encontrava doente.
Aldina nos primeiros dias nem se quer saía do castelo, mas depois pensou
que ao menos podia avistar do penedo o seu amado.
Para lá se dirigiu acompanhada das aias e ao avistá-‐lo ficou banhada em
lágrimas. As aias ainda tentavam consolá-‐la mas de nada valia.
Numa das ausências do pai, arranjou que uma das suas aias fosse avisar
Ramiro do que se estava a suceder.
Conhecedor bem do terreno onde se encontrava o penedo, Ramiro
conseguiu passar as linhas defensivas dos mouros e ir ter com ela. Aldina
nem queria acreditar no que os seus olhos viam.
Assim continuaram de novo os encontros secretos.
Certo dia, Ramiro ouviu aos homens do conde Mendes dizer que iriam
expulsar os mouros de Alfala.
Nessa noite atravessou o rio e dirigiu-‐ se ao castelo tendo sido aprisionado
pelos mouros.
40
Quando ia ser levado à presença do chefe Almadu, Aldina soube do
sucedido, sentiu que o seu amado corria perigo de morte e foi junto do pai
contar toda a verdade e pedir clemência.
O pai ficou abismado com o que a filha lhe contara, mas não teve pena
dele e mandou-‐o matar.
Ainda a ordem estava a ser dada quando o conde Mendes com os seus
homens tomavam de assalto o castelo e a debandada era grande por
parte dos mouros.
Ramiro ainda tentou encontrar a sua amada, mas não conseguiu.
Perante aquela situação de desvastação e pranto, resolveu ir até ao
penedo lamentar o sucedido.
Quando se encostou ao penedo, ouviu do seu interior saírem murmúrios
de dor.
Numa primeira audição sentiu medo, depois voltou a colocar o ouvido e
escutou a voz da sua amada a dizer:
-‐ Estarei sempre aqui contigo, nunca te abandonarei.
E assim sucedeu desde aquele dia até hoje.
Do Ramiro nada mais se sabe.
41
Mas a partir daí os novos habitantes da aldeia começaram a chamar ao
penedo .
Quem duvidar pode ir até lá, colocar o ouvido no penedo e escutar a voz
da Aldina
Desenho: Filomena Camoesas
Fotografias: Alunos da EB 1 do Seixo, Penacova, Felgueiras
42
Oração a Santa Bárbara
-‐
Oração:
Santa Bárbara se vestiu e se calçou, por esse caminho andou e o Senhor
lhe perguntou:
-‐ Bárbara, onde vais?
-‐ Senhor, vou ver se abrando as trovoadas, que no céu andam armadas e
levá-‐las para o monte de maninho, onde não haja pão nem vinho, nem
bafinho de menino, nem gente de cristandade.
Valha-‐nos Deus e a Santíssima Trindade.
Reza-‐se o Pai Nosso, Avé Maria e Glória
43
Oração a Santo Onofre
-‐
Oração:
Santo Onofre se vestiu e se calçou, as suas santas mãos lavou, por esse
caminho andou e o Senhor lhe perguntou:
-‐ Onofre, onde vais?
-‐ Senhor, vou ver se encontro casa para viver, pão para comer e dinheiro
para gastar.
-‐ Onofre, torna atrás, que lá encontrarás, casa para viver, pão para comer,
dinheiro para gastar e de quem teu nome se lembrar.
Reza-‐se o Pai Nosso, Avé Maria e Glória
44
Responso a São Tomás de Vila Nova
Pedido:
São Tomás de Vila Nova, que foste bispo e arcebispo, fazei que apareça
(dizer o que se quer que apareça) pelas cinco chagas de Cristo.
Repetir a oração três vezes
Rezar o Pai Nosso, Avé Maria e Glória
45
Lenda das amendoeiras em flor do Algarve
Sei uma lenda do Algarve, que gosto muito, uma lenda antiga e o porquê
de se plantarem as amendoeiras no Algarve.
Era um rei Moiro, moreno, alto, de olhos negros, muito bonito, que se
enamorou perdidamente por uma princesa do norte, dos países frios.
Gabando-‐lhe tanto as belezas do seu Algarve, que tinha as areias loiras
como os cabelos dela, o céu era tão azul como os seus olhos, era quente e
ardente e tinha paisagens encantadoras, além de um belo mar; disse-‐lhe
coisas maravilhosas, e tão apaixonado estava, que a princesa enamorou-‐
se também do rei Moiro.
46
Casaram e vieram viver para o Algarve.
Eram muito felizes até que passado uns anos, a princesa começou a ficar
triste. O rei não sabia porquê mas o seu amor era tão grande que ele
começou a adivinhar o motivo da tristeza dela. A saudade da neve, dos
países do norte, onde ela tinha nascido.
A princesa continuava cada vez mais triste até que adoeceu. Ele já não
sabia o que havia de fazer, lembrou-‐
artimanhas, as artes, as maravilhas que pode fazer o amor, não é?! A
paixão que ele tinha pela princesa e o medo de a perder, fez com que
mandasse plantar os grandes amendoais pelo Algarve fora.
47
Quando as amendoeiras floriram, pegou na princesa, muito doente, nos
braços e trouxe-‐a à varanda dizendo:
-‐
maravilhada, que sorriu pela primeira vez depois de tanto tempo. E
melhorou! E então foi um milagre, um milagre de amor. É por este motivo
que há os grandes amendoais do Algarve.
E e esta é
uma delas. Aquele grande amor fez transformar em neve um sítio
Ilustradores: Turma do JI de Vilarinho, Vila Caíz, Amarante
48
Histórias do Avô
Eu tinha um avô maravilhoso que era lavrador, ia de manhã cedo lavrar a terra e quando o sol rompia na Serra da estrela, que era uma paisagem deslumbrante do nosso quintal, ele que todos os dias a via, comovia-‐se sempre. E em lágrimas tirava o chapéu da cabeça e fazia uma saudação ao sol. Eu ficava, pequenina, encantada a ver aquilo, achava lindo, ele era um poeta, um lavrador poeta, um pouco ilustrado porque ele gostava muito de ler. Ainda me recordo das palavras que ele dizia, não de todas, quando nascia o sol na montanha
, depois continuava mas eu já não me recordo porque era muito pequenina, mas achava isto tão lindo, ficava sempre maravilhada pois adorava aquele velhinho santo, que era a coisa mais linda que eu tive na minha vida de criança. Em sendo dez horas ele punha a semente à terra, achava que aquela era a hora certa para o fazer. Respeitava muito a Natureza e ensinava-‐me a respeitá-‐la e a amá-‐la, a ver as belas noites de luar, a amar as árvores em flor, as árvores com os seus frutos. Mostrava-‐me o valor enorme que tem a Natureza, eu habituei-‐me com ele a amá-‐la profundamente. As sementes também eram lançadas à terra consoante as luas, isso não me recordo, só sei que umas coisas eram semeadas na lua cheia, outras no quarto crescente, outras no quarto minguante e as pessoas davam muita atenção àquilo, principalmente o meu avô e eu achava muita piada àquilo, só que ele infelizmente faltou-‐me demasiado cedo e eu não tive tempo de aprender toda a sabedoria que ele tinha, que era muito grande e ainda hoje amo esse velhinho e o venero como se fosse um deus.
49
Lenda de São Martinho (padroeiro da freguesia de Mancelos)
Há muitos séculos atrás seguia estrada fora um mendigo. Este homem era
muito pobre por isso estava quase nú apesar do frio e chuva que estava
nesse dia.
De repente aparece um homem montado num belo cavalo pois tratava-‐se
de um homem de grandes recursos e de nome Martinho.
50
Ao aproximar-‐se do mendigo Deus tocou-‐lhe no coração e este teve
compaixão do mendigo.
Desce do cavalo, dirigiu-‐lhe a palavra e vestiu-‐o com a própria capa.
A partir desse momento sol brilhou e a chuva parou.
Ainda hoje se diz (durante o mês de Novembro) chegou o Verão de S.
Martinho, mas esta frase baseia-‐se na boa atitude.
Ilustrações: Crianças do JI de Felgueiras (sala amarela)
51
Lenda de Santa Cristina
Conta a lenda de Santa Cristina que:
Santa Cristina e São Tiago são irmãos, a sua nacionalidade é espanhola.
Vieram da Galiza no tempo da Guerra e ficaram em Figueiró.
Por tradição emprestavam o andor à freguesia vizinha. O andor de Santa
Cristina entrava de costas, reza a lenda para ela regressar a casa.
Um certo dia por engano ou manhosice das pessoas entraram com a Santa
Cristina de frente, que foi para ela entrar e não mais sair.
E assim ficou as duas freguesias vizinhas divididas. Figueiró Santiago e
Figueiró Santa Cristina contam os antigos que as pessoas diziam que a
Santa Cristina foi roubada, até havia uma certa rivalidade e inveja.
52
Encomendar as Almas
Acorda ó pecador
Desse sono em que estais
As almas se estão queixando
Que delas vos não lembrais.
Lembrai-‐vos agora delas
Com um pai-‐nosso e uma avé Maria
A virgem nossa senhora
Vá na nossa companhia.
53
Rezemos um padre-‐nosso
Ao biato Santo António
Que nos livre as nossas almas
Da tentação do demónio.
À porta das almas santas
Bate deus a toda a hora
As almas lhe estão queixando
Ó meu deus que quereis agora.
54
Vós que estais nas vossas camas
Dormindo e descansando
Ficai-‐vos com Jesus Cristo
Que eu com Deus me vou andando.
O porquê de Encomendar as Almas
Encomendar as Almas nas Sextas-‐feiras da Quaresma é pelos sacrifícios da
morte de Cristo, em lugares estratégicos (largos, encruzilhadas e pontos
altos).
Trabalho realizado na Freguesia de Ligares, Concelho de Freixo de
Espada à Cinta, Distrito de Bragança.
55
OS CÃES DA LIXA
Sobre o apodo de Cães da Lixa, muito se tem falado, mas há duas versões para justificar tal facto:
-‐ A primeira é que na Lixa, dantes chamada Serra Lisa, apenas existia, uma casa, cujo dono tinha vários cães.
Os viandantes, idos de Guimarães ou outras terras para Trás-‐os-‐Montes, ou vice-‐versa, necessariamente tinham que passar pela Serra Lisa.
Então, os ditos cães atacavam-‐nos, ladrando e mordendo, se o seu dono os não acalmasse. Daí a repugnância do povo, pelos cães da Lisa!!!
56
E quando alguém sabia que um seu familiar ou amigo vinha para estes
Porém com o decorrer do tempo, estes cães (animais) foram-‐se
Como se pode constatar, os cães da Lixa são ordeiros e bastante unidos, desde que não lhe
Adaptado do livro: Cidade Lixa de ontem e hoje 2000
Ilustração: Crianças de 5 anos do Jardim de Infância de Felgueiras (Sala Azul)
57
Conta a minha avó...
Um dia, um pai resolveu oferecer um presente a cada um dos seus três filhos.
A um deu um anel.
A outro uns brincos.
A outro uns sapatos.
olha ali um bicho
O que rece eu não o vejo
eu que o mato
E cada um à sua maneira exibia a sua vaidade.
58
Ao encontrar um grupo de pessoas que pouco faziam, dizia-‐se:
Três e um burro andam bem.
Um carrega.
Outro tem mão.
O outro olha se vai bem.
Serra-‐se a velha
E o velhão
E ao António mete-‐se o serrão. (expressão para fazer troça de alguém)
Pico, pico já piquei
Grãos de milhinho achei
Deitei-‐os a moer
Para os meus pitinhos comer. (rima)
Milhãos ao penedo e à nogueira,
Pão e vinho à igreja. (expressão utilizada para afastar as ervas daninhas das searas e das vinhas, uma vez que era necessário proteger as vinhas e as searas pois, era com os produtos que daí provinham que se pagavam as rendas).
Sola, sapato da Rainha
Foi ao mar buscar sardinha,
Para o filho de Dom Luís
Que está preso pelo nariz. (rima)
59
Lenda de São Roque
adoeceu e foi-‐se meter numa mina onde mais tarde um cão deu com ele e
começou-‐lhe a lamber as feridas. Depois foi a casa do dono e todos os dias
lhe levava um pão para ele comer. Os donos davam falta do pão e
começaram a seguir o cão. Eles deram com o S. Roque numa mina e
levaram-‐no para casa e curaram o S. Roque. Depois ele sarou e continuou
a curar as doenças do povo onde Deus ficou muito contente com a acção
que ele fez e tornou-‐o Santo. Onde agora se festeja a festa dele todos os
anos com o cão ao lado dele. É um santo milagreiro onde todos gostam
60
Sapo, sapão
Cobra ou cobrão
Aranha ou aranhão
Bicho de qualquer nação
Seco esmirrado serás como este carvão.
Depois de talhar mete-‐
61
pesada que nem sete a levavam. Encontrou Santa Maria Madalena com
um lencinho de cor na mão para limpar as cinco chagas ao nosso Senhor.
Nosso Senhor lhe disse:
-‐ Trata, trata Madalena. Não mas trates de limpar. Isto são as cinco chagas
que por mim têm de passar.
Pelo rio dá-‐me amargura, pelo rio dá-‐me tristura. Quem disser esta oração
tirará quatro almas do fogo em peno. Primeiro será sua, segundo de seu
pai, terceiro de sua mãe, quarto de quem nosso Senhor quiser.
62
Lenda de Santa Rita
ela pediu ao Senhor que lhe arranja-‐se um marido melhor. E depois ela
estava ajoelhada ao Senhor e disse ao Senhor que só queria saber as dores
que vós tiveste quando vos puseram a coroa de espinhos. E o Senhor
deixou-‐lhe cair um (espinho). (Acentua a confirmação de que S. Rita possui
uma ferida na testa, com a senhora, cunhada, que está a seu lado). E
depois ela queria ir comungar a Roma mas a ferida (aponta para a sua
testa) cheirava muito mal.
Enquanto ela foi (a Roma) sarou assim que veio voltou outra vez a abrir (a
ferida).
Depois ela teve três filhos e ela disse a Deus: -‐
(maus) que lhos leva-‐ -‐lhe um por um e ela ficou sozinha. E
depois foi quando ela foi para um convento. No convento só lhe davam
que fazer o que as outras não queriam fazer, só lhe davam de comer o que
as outras não queriam comer.
(Engana-‐se e volta a contar o inicio da lenda).
Morreu que os anjos levaram-‐
63
Lenda de Fafe
Contam as pessoas mais idosas, que esta tradição surgiu quando na Corte
do Reino, um Visconde de Moreira de Rei se atrasou para uma sessão e ao
chegar um fidalgo que assistia o insultou, julgando-‐o por um vilão.
No momento o Visconde ignorou os insultos, mas no final da sessão, o
Fidalgo continuou a censurá-‐lo, atirando-‐lhe as luvas à cara.
Então ajustou-‐se um duelo, na qual o Visconde é que escolhia as armas.
Marcou-‐se a hora, o dia e o local.
De acordo com o combinado, o Visconde escolheu as armas: dois Paus de
Marmeleiro.
64
Visto que o Fidalgo não sabia muito bem manejar o pau o Visconde deu a
primeira paulada.
A população, vendo tal "palhaçada" pois o Fidalgo limitou-‐se a defender-‐
se, o que fez com que todos desatassem às gargalhadas, proclamando:
65
HISTÓRIA DO CONCELHO DE VINHAIS
HISTÓRIA DO CONCELHO DE VINHAIS
Uma vez estava um senhor com a machada a partir um cano de um
castanheiro.
Estava no lado que o cano havia de cair.
Passou outro senhor e diz-‐lhe assim:
-‐ Então, não sabes que aí vais cair? Não podes estar desse lado. Tens de estar no outro.
66
O senhor caiu e ainda se feriu bastante.
Depois disse:
-‐ Ai, o senhor adivinha? Também lhe vou perguntar quando é que eu vou morrer?
Ele ia a cavalo de um burro e disse-‐
-‐lhe:
-‐ Meta-‐lhe uma cana, aí, no rabinho ao meu burrinho.
E ele meteu-‐lha.
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Ele disse assim:
-‐ Quando o meu burro der três estouros é quando o senhor vai morrer.
De maneira que o burro deu um estouro e ele não ligou, deu outro e não ligou.
Ao terceiro foi a cana bateu na testa, tombou-‐
Maria do Carmo Pereira
68
A Lenda da Porca de Murça
Há muitos e muitos anos conta a lenda que no séc. VIII havia nesta
povoação uma grande quantidade de ursos e javalis. Os senhores da Vila,
implorados pelo povo, tantas montarias fizeram, que extinguiram tão
daninha fera, ou a escorraçaram para muito longe.
Mas, entre esta multidão de quadrúpedes, havia uma porca (outros
diziam ursa) que se tinha tornado o terror dos povos, pela sua monstruosa
corpulência, pela sua ferocidade que comia tudo o que havia nos
arredores, e por ser tão matreira, que nunca poderia ter sido morta pelos
caçadores.
69
Em 775. o senhor de Murça, cavaleiro de grandes forças e não de
menor coragem, decidiu matar a dita porca, e tais manhas empregou que
o conseguiu; libertando a terra de tão incómodo hóspede.
Em memória desta façanha construiu-‐se tal um monumento,
comprometeram-‐se, por si e por seus sucessores, a darem ao senhor da
Terra, em reconhecimento de tão grande benefício, para ele e seus
herdeiros, até ao fim do mundo, cada fogo três arráteis de cera
anualmente, sendo pago este foro mesmo junto à porca.
As pessoas de Murça ainda hoje para elas é muito importante não
deixando sequer encostar-‐se ninguém a ela.
70
Joaquina Música Popular
Oh Joaquininha,
Oh Joaquininha
De trás do mosteiro
Está a pedir namoro
Está a pedir namora a um carpinteiro
Carpinteiro não, carpinteiro não
Que é tranca na porta
Antes soldadinho, antes soldadinho
Que marcha na tropa.
71
Soldadinho não, soldadinho não
Que ele é mandão
Antes padeirinho, antes padeirinho
Que me amassa o pão.
Padeirinho não, padeirinho não
Que come o farelo
Antes ferreirinho, antes ferreirinho
Que bate o martelo.
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Ferreirinho não ferreirinho não
Queima muito o dedo
Antes pedreirinho, antes pedreirinho
Que racha o penedo.
Pedreirinho não, pedreirinho não
Que pica na pedra
Antes lavrador, antes lavrador
Que trabalha a terra.
73
Lenda dos sete cruzeiros
Há dezenas de anos atrás havia uma tradição, maldita, espalhada por
Portugal inteiro.
Em Lustosa também acontecia o mesmo. E era assim:
Quando os pais ficavam velhos, todos os filhos levavam o seu pai ao
monte. Levando-‐lhe uma manta e uma broa de pão. Eles ficavam lá
abandonados, no monte, até que por fim acabavam por morrer.
Ora um dia, um velho, decidiu acabar com essa tradição. E, quando
chegou a hora de ele ir para o monte. O filho disse:
-‐ Pai, tens aqui a tua manta e a tua broa de pão e vamos para o monte.
Ele disse-‐lhe:
74
-‐ Meu filho, fica já com metade da manta e metade da broa de pão
porque os teus filhos, também te vão fazer igual a ti.
O filho, pensou duas vezes e não levou o seu pai ao monte e tratou-‐o,
até ele acabar a sua vida.
O pai como recompensa e porque tinha prometido levantar sete cruzeiros.
E foi isso mesmo que fez (levantou os sete cruzeiros) que são, que ainda
hoje estão aqui em pé, na freguesia de Lustosa, concelho de Lousada, que
são: lugar da Cruz de Várzea, em S. Roque, Pedregal, Covilhô, Loureiro,
Igreja e Talhos.
75
CANTIGA A SANTA HELENA
I
Ó Helena, Helena
Helena adorada,
Tu, na tua terra
Como eras chamada?
II
Eu na minha terra
era Helena fidalga
e agora na tua
serei desgraçada!
III
Pegou no alfange
e a mulher matou
coberta de ramos
no monte a deixou.
IV
Passado uns anos
ele por lá passou
coberta de rosas
no monte a encontrou!
76
CANTIGA DAS SEGADAS
O GAROTO DA RUA
I
Vendo jornais e cautelas
Não tenho quem mande em mim
Pelas ruas e vielas
Todos me encontram assim.
II
Trago a farda esfarrapada
Como o rancho dos quartéis
E com esta vida airada
Nunca me sujeito a leis.
III
Sou um guarda atravancado
Nunca tive educação
Foi assim que me criara
Sem Deus nem religião.
IV
Não conheço pai nem mãe
Meu nome não sei qual é
Ando por toda a cidade
Faço parte da ralé.
77
CANTIGA DAS SEGADAS
A FILHA DO RICO RENDEIRO
I
Existe na minha terra
Erguida no cimo da Serra
Um moinho ao abandono
Foi por destino cruel
O testemunho fiel
Do triste fim do seu dono.
II
Seu dono amara outrora
Uma jovem encantadora
Filha de um rico rendeiro
E o pai por ser um cruento
Não quis dar em casamento
A filha ao pobre moleiro.
III
A jovem morreu de dor
E o pobre louco de amor
Ao ver morrer a donzela
Enforcou-‐se no moinho
Sem amparo e sem carinho
Beijando o retrato dela.
78
IV
O moinho a cair
De manhã se faz ouvir
As aves em seus trinados
E mesmo assim cantando
Parecem estar chorando
A morte aos namorados.
79
CANTIGA DOS TOSQUIADORES
I
Laurindinha está na janela
Na janela debruçada
Passa ali um rapaz novo
Viva à minha namorada
II
Viva à minha namorada
Eu vinha para a namorar
Venho-‐lhe pedir menina
Se comigo quer casar
III
Eu consigo não caso
Que lhe não tenho amor
Você é um rapaz novo
Não sei o seu interior
IV
Laurindinha foi para o quintal
O malvado foi atrás dela
Deito-‐lhe as mãos à cintura
E ao chão atirou com ela
80
V
Não me aperte a cintura
Que eu não sou nenhum anel
Não perde você que é homem
Perco eu que sou mulher
VI
Dali foi para sua casa
À tia se foi gabar
Enganei a Laurindinha
Antes do galo cantar.
81
CANTIGA DA JUVENTUDE
(ACÇÃO CATÓLICA)-‐1950)
I
Foi cruel o meu destino
Que eu fiquei de pequenino
Sem carinho de meus pais
Sou um pobre, um desgraçado
Que vivo abandonado
À porta dos hospitais.
II
Ando ao frio e ao vento
Passo noites ao relento
No canto da rua
Até durmo ao orvalho
Sem ter outro agasalho
A não ser a luz da lua.
III
Como é triste este mundo
A vida de um vagabundo
Que não tem cama nem lar
Nem família nem abrigo
Nem conforto de um amigo
Passando a vida a chorar
82
IV
Pedi a nossa senhora
Que tem pena de quem chora
Que tenha pena de mim
Sou um pobre um desgraçado
Que vive abandonado
De pequeno sempre assim .
83
Dia de Reis em São Pedro dos Sarracenos
Como passei alguns anos da minha infância em S. Pedro, em casa da
minha avó paterna e ainda hoje a visito várias vezes pois tenho lá casa vou
recordar alguns costumes e tradições que havia naquela época na
povoação de S. Pedro de Sarracenos nomeadamente por ocasião dos Reis.
Naquela altura era hábito na terra pôr alcunhas a todas as pessoas
que nela habitassem, algumas das quais se transmitem à descendência.
Assim temos, o Jim Jim, o Chouriça, o Trinta Reis, o Totinha, o Manhanas,
o Gordinha, o Pão Mole, o Cravinho, o Cagato.
A festa dos reis era cheia de pitoresco e realizava se anualmente,
em obediência a uma tradição muito antiga. Com cerca de dois meses de
antecedência
ou no seguinte iam tirar a sorte ensaiavam sob a orientação do Sr. Manuel
spectivas músicas.
Quando chegava o dia seis de Janeiro os pauliteiros estavam muito
bem ensaiados. As raparigas da aldeia enfeitavam-‐lhes os chapéus de aba
larga que levavam no dia de Reis, durante as danças. Os chapéus eram
enfeitados com fitas de várias cores, cordões de ouro e ramalhetes de
flores.
Logo de manhã davam uma volta ao povo e à porta de cada
morador davam um laço. Dois homens vestidos de careto encarregavam-‐
se de tirar a esmola com que cada casa contribuía para a festa seguindo na
companhia dos pauliteiros.
84
É preciso dizer que os pauliteiros no dia da festa dançavam ao som
de uma gaita de fole e de um tambor tudo tocado por um homem o
tamborileiro que vinha de uma aldeia raiana espanhola porque na aldeia
não havia.
Ao mesmo tempo outras pessoas pediam castanhas aos moradores
mais ricos e coziam-‐nas num grande caldeirão para depois serem comidas
em público e outras eram dadas às pessoas que não tinham podido estar
presentes indo de casa em casa.
Ao meio dia celebravam-‐se uma missa cantada em honra de Santo
Estêvão a que ia muitas pessoas e os dançantes iam cobertos com xailes
de mulher e com paulitos. No fim da missa os pauliteiros faziam, no cabido
da igreja, um laço dedicado ao padre e por isso era chamado de laço do
padre.
Da música desta dança pouco me lembro mas consegui recordar-‐me
de parte da letra que vou passar a dizer:
Jesus Cristo , Jesus mio,
Criador Y Redentor
De los dos e de los três
En nombre de Dios Padre ámen
E de los otros dos tambien;
Pesa-‐me Señor
De todo el mu corazon,
Adorando a Dios
E besando la tierra,
Perdonaz-‐me Jesus Cristo
Daz-‐me la glória eterna.
85
Depois o padre acompanhado pelos membros da Junta de Freguesia
e pelas pessoas mais importantes da aldeia seguiam acompanhados
também pela massa do povo até ao largo da povoação junto à capela de
S.Caetano. Aí sentavam-‐se a uma mesa enorme muitas pessoas: à
cabeceira o padre, à sua direita os membros da Junta e à esquerda os
convidados de honra do povoado. Era então servido um almoço no fim do
qual o padre rezava umas orações para benzer a mesa e uns responsos
pelas almas do purgatório e pelas obrigações de todos os presentes.
Era nessa ocasião que as pessoas zangadas faziam as pazes e
ouviam umas palavras dirigidas aos desavindos pelo senhor padre. Esta
festa era muito conhecida nas redondezas e era costume aparecerem
pessoas de fora para assistirem. Os pauliteiros dançavam no largo de S.
Caetano da parte de tarde e colocavam o chapéu de dançantes na cabeça
dos visitantes em sinal de respeito. Este gesto costumava ser retribuído
com uma quantia em dinheiro que os homenageados pagavam para ajuda
das despesas.
86
A Segada
Chamava-‐se segada à ceifa dos cereais. Tinha início nos começos de
Junho na parte sul do distrito de Bragança ou seja na região conhecida por
uente 20 de Junho em diante nas regiões do distrito
Dizi egada vem pelo S.
Por este tempo os cereais encontravam-‐se prontos para serem
ceifados.
A segada era feita por segadores, homens queimados pelo sol que
em grupos de dez, quinze e vinte, chamados de camaradas vinham das
ribas do Douro e de outros lugares, primeiro para a terra quente e depois
para o vale ou terra fria onde as searas amadurecem mais tarde. O ceifeiro
vinha com a intenção de amealhar uns cobres, durante trinta ou quarenta
dias. A sua vestimenta era pobre e o físico mal cuidado mas eram
exigentes na alimentação e alguns patrões viam-‐se em dificuldades para
arranjarem alimentos e bebidas de primeira qualidade. Cada um destes
homens ficava tão caro pela alimentação como pelo salário em dinheiro e
este chegava a atingir os quarenta escudos.
O ceifeiro era uma pessoa alegre e brincalhona. Cantava, dançava e
espalhava alegria a toda a camarada. A quem os via de fora dava a
impressão que era feliz.
Algumas vezes traziam cantigas novas que a mocidade das terras
Os segadores trabalhavam mais quando cantavam por essa razão os
patrões pediam-‐lhes para cantarem algumas canções.
87
O segador era um homem feliz que munido de um saco, um bordão,
de uma ceitoura e de um chapéu de palha andava de aldeia em aldeia à
procura de patrão que precisasse de ceifar as searas amadurecidas.
E ia espalhando o seu pregão
acrescentava: Sol e vento que a segada faz-‐
E os patrões com medo que viesse uma trovoada o que causaria muito
prejuízo para a sua economia justavam a segada.
O lavrador não podia suportar os encargos da segada desde que não
colhesse mais de cinco sementes nas suas terras isto é semear um
alqueire e colher pelo menos seis.
O segador não queria saber de desgraças: Estivesse o cereal bom ou ruim
ele continuava a cantar e a andar de aldeia em aldeia à procura de patrão
durante a época das ceifas.
88
Oração para talhar o coxo
Eu te talho coxo coxão
De aranha ou aranhão
De sapo ou sapão
De cobra ou cobrão
De bicho de qualquer nação
Eu te corto pela cabeça pelo rabo e até pelo coração
Em louvor de São Ciprião
Pra trás andes tu
Pra diante não
Em louvor de São Silvestre
Pra que tudo por mezinha preste
89
Orações
1.Oração pronunciada por quem perde alguma coisa e a quer achar.
Responso a Santo António
Ó beato Santo António, em paz nasceste, em Lisboa vos criastes, no púlpito onde o senhor pregou, pregastes lá, no meio do caminho o vosso santo diário, previstes o filho da Virgem Maria, por vós 3 vezes chamou: António, António, António, volta atrás o perdido seja achado, o esquecido seja lembrado em louvor da Virgem Maria e de São Silvestre que esta oração me preste em louvor da Virgem Maria, um Pai Nosso e uma Avé Maria.
2. Orações usadas para males de pele -‐ coxos dos bichos, utilizando uma faca, para fazer cruzes no local afectado
Oração do coxo de rata
Toupa, toupinha contigo me encontrei 3 porradinhas te dei, arredadeira te matei um Pai Nosso como Avé Maria.
Oração dos bichos
Eu te corto rata, ratão, sapa, sapão, cobra, cobrão, víbora, víborão, salamandra, salamandrão, aranha, aranhão, alicante, alicantão, bicho de toda a nação, secos sejas como um cobrão.
90
3. Oração para a dor de pernas; fazem-‐se cruzes com uma faca no local da dor.
Oração da ciática
Eu te corto ciática,
Eu te torno a recortar.
Vai-‐te pr´as ondas do mar ,
Que este corpinho
Te non pode sustentar.
Em honra de Deus e da Virgem Maria
Um Padre-‐nosso e uma Ave-‐maria
91
Romance
Em certa aldeia indigente
Isto em tempos já passados
Vivam muito santamente
Dois velhinhos bem casados.
A mulher e o companheiro
Diziam juntos os dois:
-‐ Se tu morreres primeiro
Morrerei logo depois.
Mas o marido dizia:
-‐ Ai mulher escuta bem
Quando tu morreres um dia
No mesmo morrerei eu também.
Nisto uma pancada forte
À porta se faz ouvir.
-‐ Quem é? -‐ perguntam
-‐ A morte, quero entrar, venham abrir!
-‐ -‐ diz o marido.
-‐ Como há-‐de isto agora ser?
-‐ Tenho aqui um pé dorido
Vai lá tu abrir, mulher.
92
Mas ela logo se queixa
Valha-‐me Nosso Senhor
Vai lá tu se faz favor.
Então a morte enfadada
Investiu pelo postigo
Entrou assim na pousada
Levou os velhinhos consigo.
93
Poesias
Minha mãe, ó minha mãe
Não se pode ser mulher
Ser bonita agrada a todos
Ser feia ninguém a quer.
Eu amar bem te amava
Sabendo que eras para mim
Amar e lograr-‐te outro
São penas que não têm fim.
O amor e o dinheiro
Não podem andar encobertos
O dinheiro é chocalheiro
E o amor desinquieto.
O amor quando se encontra
Sobem as coras ao rosto
E alegra-‐se o coração.
O amor quando se encontra
Na rua sem ser espada
Sobem as coras ao rosto
É sinal da namorada.
94
A RAPOSA E O LOBO
Era uma vez uma raposa que andava cheia de fome e foi procurar comida. Andou, andou, andou e ao passar por uma casa cheirou-‐lhe a arroz de frango. Resolveu entrar e enfiar a cabeça na panela onde comeu quase todo o arroz. Ficou assim com a cabeça toda suja. Quando apareceu a dona da casa deu-‐lhe uma grande tareia. A raposa fugiu a gemer de dores.
O lobo perguntou-‐lhe: O que foi que te aconteceu, comadre?
-‐ Ai compadre lobo, caí por uma borda abaixo parti a minha cabecinha e até os miolos saíram! Tenho tantas dores que nem posso andar!
-‐ Coitada de ti! Tenho tanta pena!
Põe-‐te às minhas cavalitas que eu levo-‐te a casa, disse o lobo.
saltou para as costas do lobo.
Entretanto, a raposa consolada ia dizendo: Ai que rico regalo, comer arroz e andar a cavalo!
O lobo ouvindo aquilo perguntou: Tu que dizes comadre?
Nada, nada, respondeu ela.
Tantas vezes repetiu aquilo, que o lobo zangou-‐se, subiu a um grande penedo e atirou a raposa manhosa por lá abaixo.
95
NOVENA DAS ALMAS Quem quiser ir para o céu Venha comigo que eu vou Eu já tenho saudades De uma mãe que me criou Quem for devoto das almas não lhe perca a devoção Para que alcancemos todos O fruto desta missão Avé Maria, Maria José Salvai minha alma Que ela vossa é Que ela vossa é Vossa há-‐de ser Salvai minha alminha Quando eu morrer Quando eu morrer Quando eu faltar Salvai a minha alminha para algum lugar Para bom lugar Que eu lá queria ir Não sou merecedora de o senhor me ouvir nota: imagem retirada de:
http://umdeusdoimpossivel.blogspot.com/2010/10/almas-‐do-‐purgatorio-‐nossa-‐missao-‐as.html
96
SEMANA SANTA
Na quarta-‐feira de
mãe não nos deixava fiar, nem fiava. Dizia que foi no dia em que Judas fiou as cordas para prender nosso Senhor. Nessa noite tocavam as Trindades, porque era quarta-‐
Havia umas senhoras velhalto. Era no Forcado, e faziam aí uma cruz, faziam uma roda em terra e metiam-‐trindades cantavam: ó rezai rezai, um padre-‐nosso e uma ave-‐maria pelas almas que estão no fogo do purgatório. Diziam isto nove vezes, tinham um funil ou um corno para se ouvir na freguesia, ouvia-‐se no mosteiro todo e ouvia-‐se tudo por lá baixo.
Eu estava a servir na Covilhã, no Senhor Teles, novinha com 12 anos, e a senhora mandou-‐me fechar o portão. Eu ouvi uma voz e fugi. Disse assim: minha senhora não fechei o portão porque é que não fechas-‐te o portão? porque eu ouvi uma voz, -‐és palerma, é a senhora Marquinhas Lomba a botar as ave Marias. não sei o que é, sei que parecia uma voz do outro mundo e fugi.
Nota imagem retirada de: http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.equipotimondejovenes.com/wp-‐content/uploads/2010/03/semanasanta.jpg&imgrefurl=http://www.equipotimondejovenes.com/&usg=__XQ1d8PCDb6bYlSexJV6Q2qjLlCI=&h=350&w=300&sz=16&hl=pt-‐PT&start=32&zoom=1&tbnid=JzhfVpq0HNH_CM:&tbnh=160&tbnw=174&ei=IHy1TazpDc-‐Y4AaR-‐dmMDA&prev=/images%3Fq%3Dsemana%2Bsanta%26hl%3Dpt-‐PT%26sa%3DG%26biw%3D1245%26bih%3D500%26gbv%3D2%26tbm%3Disch0%2C1050&itbs=1&biw=1245&bih=500&iact=rc&dur=250&page=4&ndsp=10&ved=1t:429,r:2,s:32&tx=136&ty=89
97
O TRABALHO DO LINHO
emeava
de Junho, mais ou menos, arrancava-‐
pouco de povo para arrancar o linho. Arrancava-‐se o linho e levava-‐se para
a eira aos molhos, estava um homem na eira com um ripão de ferro para
tirara a bagarela, que era a semente. Havia uns poços de linho onde s e
punha umas tábuas e o linho por cima às camadinhas, e por cima umas
pedras pesadas e estava lá uma média de 9 dias, mais ou menos.
No fim de nove dias tirava-‐se e levava-‐se para o monte, numa
costeira onde houvesse pinheiros. De vez em quando ia-‐se lá virar com o
bico de uma foucinha ou um pau com duas ganchas. Estava lá também
prai nove dias, tinha de ser todo pernão. Depois ia-‐se lá, apanhava-‐se o
linho, botava-‐se no carro dos bois e levava-‐se para o engenho. Moía-‐se aí
o linho, trazia-‐se para casa, punha-‐se ás panadinhas em termos de as
pessoas o espaldar.
A patroa rogava umas poucas de mulheres ou de noite ou de dia
como elas pudessem, mas era quase sempre de noite. Íamos fazer aquela
espadada mas antes disso íamos ao monte ver se achávamos Carvalhas
novas com maçãs, chamávamos-‐lhe as maçãs do cuco ou escalheiros
98
bravos que davam peras pequeninas. Era para nós darmos aos rapazes
que nos vinham pedir as peras.
No fim espadavamos o linho. O lavrador tinha um assafate de pão
partido aos bocados e uma travessa de sardinhas, uma cabaça de vidro ou
cantara como ele pudesse. Comíamos e no fim fazíamos uma dança. No
fim da dança os moços levavam todos uma racha e pediam-‐nos se podiam
ir com nós. Metiam a racha dentro do cortiço, botavam o cortiço ao
ombro e iam com nós até casa.
Íamos sempre a cantar:
mondadeira do meu linho,
mondai o meu linho bem,
não olheis para o caminho
Que a merenda já lá vem.
Eu hei-‐de ir á tua arriga
Apanhar a bagarela
Depois de ela apanhadinha
Fazemos a cama nela
99
Eu hei-‐de ir à tua arriga
Do teu linho temporão
Hás-‐de ser minha cunhada
Se casares com o meu irmão
Nota: imagem retirada de http://lombadamaia.planetaclix.pt/home.html
100
REIS
Boas noites, meus senhores
Boas noites trago eu
Venho trazer a notícia
Que o Deus menino nasceu
Ele nasceu em Belém
Em Jordão foi baptizado
No monte calvário morto
Ai numa cruz crucificado
Quem diremos nos que viva
no casquinho da cebola
Viva o senhor desta casa
e mais a sua senhora
Vivam também os filhinhos
O senhor os fade bem
Para gosto da mãezinha
E do paizinho também
101
Venha o pão e venha o vinho
Cá para a nossa rapaziada
Cenho o queijo da serra da estrela
E bocados de marmelada
Se não tiver que nos dar
Dê-‐nos figos ou dinheiro
Ou castanhas o ouriço
Ou salpicão do fumeiro
Nota: imagem retirada de http://jmvalferrarede.blogspot.com/2009/01/cantar-‐os-‐reis.html
102
COSTUMES
Quando tinha os filhinhos andava com o lenço na cabeça durante
um mês, não se podia comer de tudo. Fruto que tivesse caroço não se
podia comer, figos principalmente, que tinha grainha, vinha tudo à tona
água fria.
Eu estive numa patroa que em três semanas não meteu as mãos em
água fria, não lavava os pés nem a cabeça. Eu como não me podia guardar
muito, no prazo de oito dias já ia para o tanque com uma safatão de roupa
e as minhas filhinhas a ajudar, porque tive 17 filhinhos. Eu estive numa
patroa que durante um mês comeu trinta galinhas e no fim comeu o galo
para fechar o corpo.
103
A HISTÓRIA DO PISCO
Era uma vez um piquinho que encontrou perto da eira três
greirinhos de milho e voou com eles para cima de um carvalhinho que
havia ali perto. Só que ao pousar nos ramos, os três greirinhos caíram-‐lhe
na toca do carvalhinho já velho. Ficou muito aflito porque não podia tira-‐
los de lá e foi ter com o dono e pediu-‐lhe: -‐ óh Homem corta o carvalhinho
para eu tirar os três greirinhos de milho que me sabiam tão bem. Mas o
homem que tinha um mau coração respondeu: -‐ tenho mais que fazer do
que me incomodar com os três grãos de milho ou com um pisco como tu.
E não cortou o carvalhinho.
Mas o pisco não desistiu e foi pedir ajuda à justiça. Óh justiça,
prende o homem, que o homem não cortou o carvalhinho, para eu tirar os
três greirinhos de milho que me sabiam tão bem. Mas a justiça não ligou
ao pisco, porque ele era muito pequenino.
Mas ele continuou a tentar e lembrou-‐se de um cão que o podia
ajudar, e pediu-‐lhe, óh cão: ferra na justiça porque ela não prende o
homem, e o homem não corta o carvalhinho, para eu tirara os três
greirinho de milho que me sabiam tão bem. O cão estava a dormir a sesta,
pôs-‐se a rosnar e não quis ir.
Lá foi o pisquinho, cada vez mais triste, mas sem desistir. Encontrou
um pau que estava caído no caminho, e pediu-‐lhe quase a chorar: óh pau,
bate no cão, porque o cão não ferra na justiça, a justiça não prende o
homem, e o homem não corta o carvalhinho, para eu tirar os três
greirinhos de milho que me sabiam tão bem. O pau nem sequer se mexeu,
e o pisquinho lá foi andando aos saltinhos porque as forças já lhe iam
faltando, quando viu uma fogueirinha.
104
Animou-‐se e foi pedir ao lume que queima-‐se aquele pau tão seco
que não batia no cão, e o cão não ferrava na justiça, a justiça não prendia
o homem, e o homem não cortava o carvalhinho, para ele tirar os três
greirinhos de milho que lhe sabiam tão bem. O lume também não estava
interessado em ajudar o pisco.
Lembrou-‐se de pedir à água que passava ali no ribeirinho para a
apagar o lume que não o queria ajudar. Mas a água ia muito apressada e
não o quis ouvir.
Andava ali uma vaca a pastar e o pisco foi ter com ela, pousando-‐lhe
perto das orelhas e pediu-‐lhe: óh vaca bebe a água, que não apaga o
lume, o lume não queima o pau, o pau não bate no cão, o cão não ferra na
justiça, a justiça não prende o homem, e o homem não corta o
carvalhinho, para eu tirar os três greirinhos que me sabiam tão bem.
A vaca estava com muita sede e disse que sim. Está bem, eu bebo a
água. Mas a água já quis apagar o lume, o lume já quis queimar o pau, o
pau já quis bater no cão, o cão já quis ferrar na justiça, a justiça já quis
prender o homem, o homem já quis cortar o carvalhinho e o pisco já pode
comer os três greirinhos de milho que lhe souberam tão bem.
Nota: imagens retiradas de
http://www.bigmae.com/passarinhos-‐animais-‐de-‐estimacao/ http://www.fernandorigotti.com/dia-‐da-‐arvore/ http://gadinovagabundo.blogspot.com/
105
Criação do mundo
Vou contar uma história
muito bem contada.
Deus criou o mundo
tirou-‐o do nada.
De principio nada havia,
Nem mãe, nem pai nem céus,
nada no mundo existia
Mas já existia Deus.
Só de não ter de principio,
nem tão pouco há-‐de ter fim
criou o mundo em 6 dias
eu vou contar foi assim:
106
Logo ao começar no 1º dia Deus
criou a Luz que é toda a alegria
Ao 2º dia fez o firmamento
quando o céu n esta azul esta cinzento
Ao 3º fez a terra e separou-‐a do mar,
com plantas para a cobrir e flores para enfeitar.
Fez a erva e o pinheiro,
a laranja e o limão fez o trigo e rio
para o bem e para o mal.
107
História do Joãozinho, do Toninho e da Maria
Era uma vez uma mãe que tinha três filhos, e era muito pobrezinha e
decidiu mandar os filhos buscar lenha para fazer de comer. O primeiro que
chegou como não tinha o que lhe dar de comer decidiu mata-‐los para lhe
dar de comer aos outros irmãos. Matou-‐o chamou por ele e disse:
-‐ O Toninho traz-‐me aquele alguidar e a faca que é para te lavar o cabelo,
mas primeiro vou-‐te catar um piolho, e assenta-‐te aqui no meu regaço.
E matou-‐o e escondeu o corpo dele aos bocados de baixo da cama, atrás
da lareira e começou a fazer o jantar, os outros irmãos quando chegaram
perguntaram pelo Toninho. Eles não sabiam dele, não sabiam que ela o
tinha matado. A Maria chorava muito, ia pelos campos a chorar à procura
do irmão. Encontrou uma velhinha que se fez passar por velhinha mas era
Nossa Senhora. E perguntou-‐lhe:
-‐ O que tens menina?
-‐ Foi a minha mãe que matou o meu irmão.
-‐ Amanhã traz os ossinhos todos que eu vou trazer-‐te o teu irmão de volta.
A menina assim o fez, e levou à velhinha que era Nossa Senhora. Quando
chegou com os ossos todos ela transformou-‐os no irmão.
Vieram ao encontro da irmã, a mãe e o Joãozinho. O Toninho trazia no
regaço uma cesta com maçãs de ouro. E então o irmão disse:
-‐ ó Toninho dá-‐me uma maçã de ouro.
-‐ Não dou porque me comeste.
E a mãe disse:
-‐ ó Toninho dá-‐me uma maçã de ouro.
-‐ Não dou porque me mataste.
E a Maria disse:
108
-‐ ó Toninho dá-‐me uma maçã de ouro.
-‐ Dou que me salvaste.
E então descobriram que foi a mãe que o matou, o menino ficou
transformado e a história é contada.
Provérbios
O Janeiro é geadeiro.
O Fevereiro é chuvoso.
O Março frio e ventoso.
Maio pardo.
São João claro.
Junho e Julho águas de Santa Marinha, até na arca faz farinha.
Agosto amadurece e Setembro verdimece.
Outubro chuvoso, faz o lavrador venturoso.
Dos Santos ao Natal, Inverno natural.
Mal vai Portugal se não há duas cheias antes do Natal.
Ao Fevereiro e ao rapaz
Perdoa tudo quanto faz
Contando que o Fevereiro não seja secalhão
E o rapaz não seja ladrão.
Não vás ver a vinha ao desfolhar,
pão ao encanar
e a mulher ao levantar.
mandil -‐ avental
109
Lenda da Vila da Sertã
Há muitos, muitos anos, ainda nos tempos dos romanos houve um
ataque ao castelo, durante o qual o seu chefe morreu.
Então, sua mulher, Celinda , ao saber da notícia e percebendo que o
inimigo chegava às muralhas do seu castelo, subiu as ameias do castelo
com uma enorme sertã cheia de azeite a ferver lançando-‐a à cara do
inimigo, obrigando-‐o a recuar.
Foi assim que o nome de Sertã foi dado a este lugar.
110
As Aventuras do Espantalho Firmino
Firmino, o espantalho, ia no bico dos seus amigos pássaros. De lá de cima
via as casas muito pequeninas, as árvores e as pessoas que pareciam
formiguinhas. Viu paisagens que nunca tinha imaginado existirem,
montanhas, vales, planícies, rios, lagos, praias e o grande e imenso mar
azul. Levado pelos pássaros, lá ia o espantalho muito sorridente e feliz.
Firmino estava tão feliz que não pensava em voltar para a seara de onde
os pássaros o tinham tirado. Ao sabor do vento e muito devagarinho era o
espantalho levado no céu. E a aventura continuava...
De repente aconteceu uma tragédia.... os pássaros já cansados e exaustos
deixaram cair o Firmino numa floresta. O espantalho ficou tão assustado
que não percebia o que estava a acontecer. Viu-‐se caído no meio das
árvores da floresta, na erva fofa e macia, mas muito fria.
111
Levantou-‐se num brusco movimento e começou a gritar pelos seus amigos
pássaros. Mas onde estavam eles? Os pássaros tinham-‐se afastado e não
ouviam os gritos do Firmino que estava escondido entre as árvores. Só e
perdido, olhou em todas as direcções sem saber o que fazer.
Começou a caminhar e ao longe viu uma sombra entre as árvores. Correu
para ver o que era aquilo.
Ao chegar viu que era uma mulher. Ela cumprimentou-‐o e perguntou-‐lhe o
que andava ele ali a fazer naquele lugar. Firmino disse-‐lhe que estava
perdido e que era a primeira vez que estava ali, mas sentiu algum conforto
e já não se sentia tão triste, pois tinha alguém junto de si.
Então, meigamente, a mulher pediu-‐lhe que a acompanhasse ao seu
castelo. Mas Firmino não sabia que a senhora que lhe falava com tanto
carinho era uma bruxa má. Ela segurou-‐lhe na mão e Firmino ficou muito
contente e sentiu-‐se seguro com aquela senhora.
112
A bruxa levou o espantalho para o seu grande castelo assombrado... Será
que firmino sabia o que o esperava? Firmino estava tão feliz por ter
encontrado alguém no meio da floresta que não pensava no medo, nem
nos seus amigos pássaros.
Já no castelo e preso no cimo da torre, Firmino estava tão triste e
desiludido com tudo o que lhe tinha acontecido que só desejava voltar
para a sua seara onde tudo era igual, mas onde ele era feliz. Apesar de ter
visto coisas tão maravilhosas quando ia preso no bico dos pássaros,
naquele momento tudo era aterrorizador. Como poderia haver pessoas
tão cruéis! Ele não fazia mal a ninguém, somente desejava conhecer
outros lugares e ser amigo dos pássaros que sempre tiveram medo dele! A
bruxa colocou o espantalho no cimo da torre do seu castelo para assustar
os pássaros que ali pousavam.
Ele que tanto esforço fez para ser amigo dos pássaros, agora voltava a ter
que os assustar!
Preso no castelo da bruxa má, o espantalho só desejava sair dali o mais
rápido possível. Mas como poderia ele sair dali? Só um milagre o poderia
salvar. Eis que ele surge: ao longe um bando de pássaros, aproximava-‐se
dele sem receio e sem medo, Firmino estava a achar tudo muito estranho,
113
não sabia por que razão os passáros não tinham medo dele. Será que
finalmente eram os seus verdadeiros amigos? Quando os pássaros se
aproximaram cada vez mais, Firmino reconheceu os seus queridos amigos.
Mas como poderiam eles salvá-‐lo se ele estava preso a umas correntes de
ferro?
Firmino viu uns pozinhos cintilantes cairem nas correntes e de repente ele
sentiu-‐se solto. Foi então que os pássaros pegaram nele e o elevaram
novamente no ar.
A aventura do espantalho Firmino continuou no bico dos seus grandes
amigos pássaros...
114
Lenda das Pegadas de São Gonçalo de Amarante
-‐ Ora, ele (S. Gonçalo) vivia em Vizela e estava a pensar fazer lá um
mosteiro, mas achou o rio muito pequeno
aqui o meu mosteiro. Vou lançar a bengala e ver onde é que ela vai cair.
Lançou de lá, a bengala veio cair ali ao rio Sousa.
115
-‐ Ele veio ver, a bengala caiu em cima de um penedo. Ele chegou ali, subiu
ao penedo, andou a ver, está lá tudo marcadinho, a bengala, as pegadas
de ele andar ali, uma buraquinha de ele fazer chichi.
E põs-‐se a ver, subiu ao penedo ah não! Também não gosto deste rio, é
muito pequeno é realmente um rio pequeno. Vou voltar lançar a
bengala. Dali lançou a bengala , foi cair em Amarante, à beira do rio
Tâmega
Ele foi ver é aqui que eu quero o meu mosteiro.
-‐ Foi lá que fez o mosteiro, porque era um rio grande o Tâmega é um rio
grande então, fez lá o mosteiro dele e assim acabou a lenda.
116
A Lenda da Senhora da Aparecida
Era um pedinte que andava pelas portas a pedir com uma imagem de
Nossa Senhora e uma panela.
E depois aquele senhor que trazia aquela imagem e que adorava a
imagem que trazia e andava de porta em porta, de porta em porta, e ia
ficar numa mina (onde está hoje colocada a Nossa Senhora da Aparecida,
na dita ermida).
Chegou a uma altura o desapareceu. As pessoas perguntavam por ele e
Passou-‐se uns tempos e o homenzinho não aparecia e foram espreitar à
mina.
117
Quando foram espreitar à mina viram a panela, quer dizer descobriram
que a vida do senhor era na mina. E viram a panela e não viram o
homenzinho o pedinte desapareceu. Começaram a coscuvilhar e apareceu
a Nossa Senhora.
Deram com a Nossa Senhora Aparecida.
E depois, aí foi então que fizeram a Ermida e colocaram lá a Nossa
Senhora Aparecida.
E é isto o que eu sei da lenda.
118
119
Índice:
O Cont ..
A Lenda das Andorinhas 11
.
..
Oração a Santa Bárbara . 15
Talhar o Medo de Andar dos Bebés
Lenda de Santa Bárbara .
Oração ao Anjinho da Guarda 8
O Rei à Procura da Felicidade .
O Rei e os 21
Oração a São Bartolomeu . 22
São Pedro, O Senhor e a Ferradura
O Diabo e o . 24
A Velha Preguiçosa . 25
A Lenda Alusiva Fig
Responso a Santo António .
Talhar Esipela .. .
120
Medicina Doméstica
O Penedo da Moura
Oração a S
Oração a S 43
5
.... 48
49
Len 51
Encomendar as Almas : 52
Lenda de São Roq
.
.
.
A Lenda da Porca de
Joaquina Música Popul
Lenda dos Sete Cruzeir 73
Cantiga a Santa Helena 75
Cantiga das Segadas ( .
121
79
Cantiga da Juventude (Acção Católica 1950) 81
Dia de Reis em são Pedro dos Sarracenos 83
86
Orações
Romance 91
. 95
02
Criação do
História do Joãozinho, do Toninho e da Maria
109
As Aventuras do Espantalho Firmino . 10
114
..
122
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