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Conversando sobre a Comunicação Entre Pais e Filhos na Adolescência

Dra. Fatima C. S. Conte

Muitas vezes, as expressões adolescente, adolescência e pré-

adolescente são tidas quase como um sinônimo de fase de turbulência,

relações difíceis, instáveis e de ocorrência de pequenas ou grandes

catástrofes. E, a exemplo do que ocorre frente à possibilidade da chegada de

uma tormenta real, cujo desenrolar, duração e resultados seriam imprevisíveis,

é comum pais experimentarem já muito sofrimento aos primeiros sinais de sua

aproximação. Contudo, ao contrário do que se pensa, muitos pais atravessam

a adolescência de seus filhos sem ver esse pesadelo se tornar real. Outros,

frente a ocorrência de dificuldades maiores, certamente ouvem muitos

conselhos do tipo, “converse com ele”, “fale mais com ele, aproxime-se”, “vocês

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não estão conseguindo conversar direito”, “ uma boa conversar resolverá”,

entre outros similares.

De fato, a linguagem, o comportamento verbal, a comunicação são

ferramentas humanas muito poderosas e podem unir ou afastar, promover a

cooperação ou gerar a competição e por aí vai. Acredita-se mesmo que

permanência dos humanos sobre a face da Terra se deu, em grande parte, por

terem conseguido desenvolver uma comunicação que lhes permitiu a união e a

luta conjunta contra seus predadores, que eram fisicamente mais fortes.

Contudo, não gostaria de reforçar aqui qualquer percepção de que a “boa

comunicação”, sozinha, resolve tudo e nem que já temos a “formula perfeita”,

aplicável a todos os casos. Não, não a temos e nem seria possível! A ideia aqui

é ajudar os pais a terem mais elementos para analisar e escolher caminhos

para se comunicarem de uma forma mais promissora com seus filhos

adolescentes e quem sabe, viverem com eles essa “fase” de seu

desenvolvimento com mais tranquilidade!

E já que estamos falando nisso, “fica uma dica”: não acreditem no medo

que sentirem previamente, não reajam a tal sentimento ou outro similar ficando

acuados ou preparando-se (e potencializando ocorrência de confrontos) para

se defender de possíveis adversários! Não fiquem presos ao que lhe contaram

e sim, olhem, observem seu filho e seus comportamentos, relacionem-se com

este ser real que está em contato com vocês, momento a momento, com

consciência do caminho que estão percorrendo, do seu caminhar e do ponto de

chegada! Sim, isso é muito importante, saber quais são seus desejos,

expectativas, objetivos, metas e valores quanto ao desenvolvimento do seu

filho e se o que propõem é realmente bom para ele e de que maneira. É

importante que pensem em que tipo de homem/mulher querem ajudar a

“formar”. Por exemplo, podemos nos perguntar individualmente: “quero

favorecer o desenvolvimento de adultos que sejam capazes de agir no mundo

de forma a serem agentes de seu próprio desenvolvimento? E que também

favoreçam o mesmo aos seus iguais? Que possam promover as condições

para seu bem-estar e colaborar com o dos demais?”. Bem, então, nossas

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ações, nossa interação com nossos filhos, adolescentes ou não, deverão servir

a tal propósito. E se caminharmos atentos, observando as consequências de

cada passo, podemos corrigir a rota, evitar armadilhas e, se e quando cairmos

nelas, poderemos sair mais depressa.

Uma grande armadilha se monta quando nos esquecemos do nosso

ponto de chegada e ficamos presos em nossas emoções do momento,

reagindo em função de nossa própria raiva ou medo, por exemplo. Nesse caso,

podemos falar ou fazer algo que não desejamos, tentando interromper aquele

episódio ou nos livrarmos do nosso desconforto. Será fácil “partir pra guerra” e

ganhar o alívio, é verdade. Contudo, ao mesmo tempo, teremos potencializado

ocorrência de mais turbulências. Mas, se olharmos sempre para mais longe,

para além daquele momento e das nossas emoções, podemos escolher ações

mais promissoras. Ainda, se nos mantivermos sensíveis as consequências das

nossas ações, podemos manter nossa motivação em alta, mesmo frente a

pedaços difíceis do caminho, ao constatarmos que nele, nos aproximamos

cada vez mais do destino escolhido.

O caminhar se dá junto com o filho. Pais e filhos precisam caminhar lado

a lado, com o filho adquirindo cada vez mais autonomia e responsabilidades.

Comportamento autônomo e responsável se adquire e para isso, é importante,

mais do que falar, pedir, sugerir. É preciso que os pais criem as condições para

que gradualmente isso se dê, ou seja, oportunidades e consequências,

positivas para as ações dos filhos nessa direção e muitas vezes também

negativas, para as que vêm em direção contraria. E, evidentemente, isso pode

levar a embates entre pais e filhos, uma vez que os adolescentes tendem a

manter um olhar mais esticado na “autonomia”, enquanto os pais focalizam

mais a “responsabilidade”. E pode ficar difícil negociar! Sim, negociar e com os

cuidados necessários. Mas é mesmo negociação, pelo menos em grande

parte, para que o adolescente possa gradualmente ir tornando-se mais e mais

independente, autônomo e responsável. E em cada momento há que se

lembrar do que não é negociável por hora.

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Nesse processo, pais podem realmente precisar que os filhos escutem

aquilo que eles têm a dizer e estes podem não querer ouvi-los e ainda, pais

podem querer que os filhos adolescentes falem a eles aquilo que eles não

querem compartilhar. Então, a grande questão aqui é a seguinte: o que é

possível fazer para que o adolescente fale e ouça o que ele não deseja? Veja,

os pais podem realmente precisar saber mais do que aquilo que os

adolescentes querem dizer, como sobre o que lhes ocorre “internamente” (o

que sentem, pensam, valorizam, etc.), com quem se relacionam e como se

comportam em ambientes em que os pais não estão presentes. Pais podem

desejar que seus filhos não passem por determinados tipos de sofrimento ou

não passem sozinhos. Tentam então, ajudá-los a irem por caminhos mais

seguros, enquanto os adolescentes tendem a querer descobrir e escolher seus

próprios caminhos! Isso não é necessariamente ruim, como já vimos, mas

também não é bom sempre! E assim, muitas vezes, parece que pais e filhos

estão indo na contramão um do outro.

Ambos poderiam ter, nesse caso, necessidades e propósitos relevantes.

E mais, pais realmente podem ter muito a contribuir em função de suas

experiencias, ao mesmo tempo em que os filhos adolescentes podem incluir,

nos processos de tomada de decisão, solução de problemas, escolhas de

caminhos junto aos pais, uma outra perspectiva, novas possibilidades e querer

ter deles o respeito e a confiança quanto a isso. De novo, saia justa! E, a

despeito do fato de que os pais e os filhos gradualmente adquiram condições e

habilidades cognitivas similares, o que em tese, deveria gerar mais facilidade

de convergência de análises e propostas, por dificuldades em se ouvirem

reciproca e verdadeiramente, podem apenas desenvolver competições verbais

vazias e mais afastamento, o que é uma pena!

Cabe aqui, então, um lembrete importante: nada é mais necessário e

gratificante para quem fala do que ser ouvido, do que ter alguém que lhe dê a

devida atenção e mantenha seus ouvidos bem abertos para receber sua

mensagem! Então se queremos que os nossos filhos falem e que nos ouçam,

podemos começar escutando. Ouçam! É preciso ouvir atentamente, o que

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parecer relevante ou não, para que os filhos saibam e sintam que os pais estão

interessados nele como pessoa, no que ele tem a dizer e no que é relevante

para o adolescente. Prestando atenção desta maneira, pais podem ser

surpreendidos, pouco a pouco, por revelações importantes dos filhos sobre as

histórias que estão vivendo, os amigos, o seu jeito típico, seus valores e tudo o

mais. E elas podem vir em meio a falas sobre assuntos aparentemente sem

importância. São os pedaços que deixam escapar, muitas vezes sem se

aperceberem disso que, quando coletados com cuidado pelos pais, os ajudam

a compreendê-los, aproximarem-se deles e apoiá-los.

Muitos adolescentes se queixam de que os pais só se interessam em

saber se não estão fazendo “coisas erradas”. Por exemplo, quando vão a uma

festa, pais só querem saber se eles beberam ou fizeram alguma outra coisa

que reprovam. Esses adolescentes interpretam isso como desinteresse dos

pais por eles, tentativas de controle indesejável ou mesmo de preservarem a

sua imagem de pais perfeitos. Em decorrência, muitos passam a omitir

informações ou a fazer exatamente aquilo que os pais não gostariam que

fizessem, em sinal de protesto ao controle indesejado. Então ouçam! Escutem

muito e tudo, com atenção plena, mostrando aos seus filhos que valorizam

aquilo que é importante para eles. E, ao fazerem isso, também estarão lhe

dando um exemplo, um modelo de como deve ser a sua escuta, qual seria a

qualidade da atenção desejável, da necessidade de ouvir-se sem interrupção

imprópria ou concorrência com outras coisas. Evidentemente, os pais não têm

todo tempo do mundo para fazer isso, mas podem negociar, dizendo, por

exemplo, “é importante para mim o que você tem a dizer, mas nesse momento

eu não consigo ouvi-lo como eu gostaria! Então, assim que eu terminar isso

aqui, poderemos conversar. Tudo bem para você? Você pode esperar?”. E se

ele disser que não, revejam suas prioridades e sempre procurem ouvir. Ouçam,

ouçam, ouçam!

E ouviram o que não queriam? Seu filho revelou algo que vocês não

gostariam que ele tivesse feito? Respirem, acalmem-se e agradeçam aos céus

pela confiança com a qual seu filho está lhe presenteando! Lembrem-se dos

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seus valores, propósitos e metas com relação à educação dele e tentem ajudá-

lo a analisar o que aconteceu – com solidariedade, calma e empatia. Sim, eu

sei e concordo, é muito difícil! Mas podemos tentar! Procurem olhar a situação

da perspectiva dele e valorizar esse momento de revelação. Evitem lições de

moral, discursos, darem-se como exemplo, dizerem que não merecem isso,

comparar, etc. Claro que vocês podem expressar seus sentimentos, mas

cuidadosamente e se isso for ajudar! Aliás, quando acharem que uma conduta

ajudou, não acreditem simplesmente, desconfiem! Observem se ajudou

mesmo! E vocês só saberão que ajudou se observarem alguma mudança na

conduta dele que possa ser atribuída a isso. Ativem sua função detetive!

Observem, pois isso pode ajudá-los a aprender mais sobre como agir e falar

em determinadas situações.

Às vezes vemos um comportamento “inadequado” que não pode passar

em branco e temos que interferir. Tentem os mesmos ingredientes que usaram

acima. Por exemplo, você pode dizer algo como “Puxa, que pena, havíamos

combinado que você tentaria chegar no horário X ou ficaria difícil liberarmos

você para outras festinhas durante a semana, em véspera de aula! É uma pena

você não ter conseguido!”. E sem ironia, uma vez que vocês, certamente,

ficariam mais satisfeitos em vê-lo capaz de cumprir o combinado. Então é

preciso que ele os entenda dessa maneira ou poderá parecer que estavam

torcendo contra, apostando na falta de competência dele, interessados apenas

em provar que tinham razão! Isso não vai ajudá-los a construir uma boa relação

ou comunicação produtiva entre vocês. Ao analisar com ele, procurem ajudá-lo

a entender como isso seria útil para agir em situações ou frente a desafios

semelhantes, criando as condições necessárias para “ser forte e não se deixar

encantar pelas coisas do momento”. Provavelmente o adolescente não vai ter

muitas respostas para essas perguntas, mas estará aprendendo a olhar na

direção do que seria importante. Isso sem pressa, arroubos emocionais, mas

com paciência, calma e atenção. Nem extensamente ... não é hora também

para um sermão. Não transformem a sua fala na consequência negativa mais

importante para o ato! Muito cuidado com isso!

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No exemplo apresentado aqui, fica implícito que havia uma regra a ser

seguida ou um acordo estabelecido. Uma regra, lembramos aqui, deve,

sempre, conter a descrição de uma situação, indicação de um ação e previsão

de uma consequência para tal ação. Quando essa consequência decorre

automaticamente do comportamento, é mais fácil a adesão, porque é “Pá e

Puff”! Outras vezes não, elas podem aparecer somente ao final de uma

sequência ou repetição de ações em longo prazo, como é o caso de não

estudar e “ir levando” a escola e depois não passar no vestibular desejado!

Cabe aos pais, então, colocarem consequências para comportamentos de

estudar, de forma que artificialmente, ajudem os filhos a desenvolverem o

hábito e o prazer de estudar e de aprender, vivenciando consequências

positivas para os passos dados.

De preferência, então, as regras devem indicar o que fazer e

consequências positivas. Isso pode economizar muitas tentativas e erros até

achar uma alternativa! Mas, muitas vezes também é preciso indicar o que não

deve ser feito e as consequências. Evidentemente, seguir, respeitar

combinados e regras, de maneira geral, também se aprende e muito em função

das consequências! Se o garoto do exemplo acima já tivesse aprendido a

seguir regras e combinados, saberia que estava em suas mãos seguir ou não

essa regra, bem como a escolha de determinadas consequências. Saberia que

poderia ir à festa e voltar no horário, dando conta tranquilamente das aulas da

manhã seguinte e com isso ser liberado mais facilmente para ir a outras ou que

poderia permanecer nessa até o horário que bem entendesse e perder a

próxima festa. Quando há uma conversa prévia e um combinado, fica mais

confortável para os pais disporem a consequência, já que eles dividem com os

filhos a responsabilidade por sua ocorrência e, ainda, ficam mais protegidos de

agirem em função das emoções momentâneas.

Lembramos também que é importante que a indicação da ação seja

clara e que sejam propostas consequências positivas, sempre que possível.

Mas, se forem negativas, que sejam exequíveis e as menores, mais leves e

que durem o menor tempo possível, para que se evitem outros problemas. No

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exemplo citado, se ficasse combinado que a consequência para não chegar no

horário ou vagamente, “cometer qualquer outro deslize” seria não ir à festinhas

durante um semestre, os pais poderiam estar aumentando o risco do

adolescente se recusar a voltar no horário, tentando aproveitar ao máximo

essa oportunidade. De outro lado, se fizessem valer tal consequência, os pais

também poderiam estar diminuindo as oportunidades do filho experimentar-se

em condutas mais apropriadas. Ainda, poderiam gerar muita raiva no filho, uma

vez que este poderia achar que a punição é injusta, considerando a relação

entre o “erro” e a consequência, o que poderia aumentar seus comportamentos

opositores. Nesse caso, os pais estariam conseguindo o resultado totalmente

contrário ao que desejaram!

Voltando ao conteúdo do que se escuta, é possível também que os pais

ouçam, da parte dos filhos, que amigos e colegas apresentam comportamentos

que eles reprovam. Ao ouvirem, de novo, que os pais agradeçam aos céus e

não aproveitem para tornar os amigos “exemplos de maus exemplos”, para

criticar, dar lição de moral, conselhos ou coisas do tipo. De novo, que fiquem

calmos e ajudem o filho a observar as relações entre tal comportamento e as

consequências para próprio amigo e os demais, levantar alternativas, sempre

num tom descritivo e não acusatório. Cuidem-se para não fazer observações

preconceituosas ou moralistas, pois isso só impulsiona o silêncio numa próxima

vez. Cuidem-se também para não fazerem reflexões intermináveis. Elas já não

costumam ser genuinamente agradáveis, então é prudente não aumentar sua

aversividade, correndo o risco de até transformar o próprio “conversar” em algo

desagradável. Enfim ouçam, ouçam muito e falem pouco e com cuidado!

Façam perguntas, demonstrem que entenderam a mensagem e assim por

diante. Falem pouco. Valorizem suas palavras, olhem sempre com empatia e

na perspectiva do seu adolescente. Evitem a repetição e procurem a variação

ao abordar temas semelhantes, tendo o máximo cuidado com julgamentos

morais, sobre o amigo ou seus comportamentos.

Por vezes, algumas reações dos filhos aos pais podem sem verbalmente

mais agressivas, conterem palavras, expressões, considerações e tons

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ofensivos. Esses comportamentos, muitas vezes, são tentativas dos

adolescentes de conseguirem o que desejam. Procurem então, não entrar em

disputa ou aumentarem o volume! Não há como negociar e conversar nesse

momento e é preciso também prevenir que a alteração seja incontrolável. Uma

conversa com ambas as partes dispostas e em condições para uma interação

melhor, certamente seria muito mais produtiva. Quando os pais se calam,

param, demonstrando assim sua total desaprovação com essa atitude,

colocando a questão principal em suspenso, sem ceder ou sem se prenderem

ao conteúdo agressivas das falas, estão tendo uma (difícil) atitude sensata e

não submissa, como muitos pensam. Reafirmo, não é nem um pouco fácil, mas

provavelmente essa é uma ação mais valiosa, se queremos construir

comunicações e interações saudáveis em família!

Agora, uma última consideração. Falamos aqui de interações e

comunicação em contextos complicados (e não esgotamos de forma alguma o

assunto), mas elas não devem se tornar preferencial no relacionamento entre

pais e filhos ou em família. Pais e filhos não devem aprender a olhar para o

outro e pensar “lá vem problemas” ou “lá vem conversas difíceis” ou “conversar

de novo? Não”! Esses episódios devem estar imersos em um conjunto muito

maior, onde assuntos interessantes, divertidos, que não sejam relacionados a

compromissos, problemas, coisas chatas e tarefas ocorram. Procurem

conversar muito sobre ocorrências positivas, fatos leves, agradáveis, fáceis e

assim por diante! Cultivem o bom humor, riam muito em família. Dividam cenas

engraçadas, conhecimento sobre o mundo, o que leram, os filmes vistos,

experiências e questões pessoais, tomadas de decisão, sentimentos, afetos e

dúvidas, informalmente. Falem sobre vocês, contem coisas do dia-a-dia,

compartilhem mesmo as vulnerabilidades que forem possíveis. Geralmente nos

sentimos felizes quando percebemos que somos dignos de confiança daqueles

que valorizamos, que gostamos, nos sentimos próximos, “íntimos” e tendemos

a retribuir! Evidentemente não se trata de transformar o adolescente em

confidente dos pais, mas sim de criar um clima leve, gostoso, seguro, íntimo,

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amoroso, que ajude as relações e a vida em família se constituírem num

contexto agradável e de crescimento conjunto.

Há um investimento bem alto, mas que realmente vale a pena e é muito

preventivo! Ah, mais um aviso: adolescentes geralmente são pouco lineares,

vem e vão... afastam-se e aproximam-se... Quando isso acontecer, aceitem.

Não se sintam rejeitados. Apenas estejam por perto, abertos e disponíveis,

para um abraço, um acolhimento ou uma boa conversa!

Sobre a autora:

Fátima Cristina de Souza Conte

Formação Profissional: Psicóloga (CRP 08 /0258), Doutora em Psicologia

Clínica pela Universidade de São Paulo-USP-(1996); Mestrado em Psicologia

pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas –PUC- (1983) e

Especialização em Analise do Comportamento pela UFSCar- Universidade

Federal de São Carlos-SP.

Histórico Profissional; Professora Associada aposentada pela Universidade

Estadual de Londrina-UEL /Departamento de Psicologia Geral e Analise do

Comportamento. Atuou desde 1979 como psicoterapeuta, atendendo crianças,

adolescentes e adultos. Foi professora colaboradora em varias universidades

e dentre elas USP – SP e Universidade Federal do Paraná. Atuou como

professora convidada em vários cursos de Especialização. Participou de várias

bancas examinadoras de Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. Foi

vice-presidente da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina

Comportamental (ABPMC). Organizou vários livros técnicos, produziu capítulos

de livros e artigos para revistas cientificas. Fez várias apresentações em

congressos e encontros científicos, como membro de mesas redondas,

simpósios e professora de cursos. Assessorou a Secretaria Social da cidade de

Londrina, na implantação de programas de desenvolvimento de habilidades

parentais. Atuou como supervisora da equipe do Programa Sentinela (de

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atendimento a crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual). Realizou

varias perícias forenses.

Atividades Atuais: É sócia fundadora e psicoterapeuta de adultos, crianças e

adolescentes junto ao CINP- Centro Integrado de Neuropsiquiatria e Psicologia

Comportamental. Coordenadora do curso (on line) de Atualização em

Psicoterapia Analítico Funcional e Terapia de Aceitação e Compromisso/ ACT e

FAP, do Instituto Continuum / Londrina-Pr, do qual é sócia. Consultora de várias

revistas cientificas.