E D I Ç Õ E S
A S A
OFICINASDE ESCRITAMODOS DE USAROu de como nem é difícil sentá-los,mantê-los sentados, interessadose participativosANTÓNIO JOSÉ LEITE VILAS-BOAS
CRIAP > 38CADERNOS DO CRIAP > 38
TÍTULO
OFICINAS DE ESCRITA: MODOS DE USAR
AUTOR
António José Leite Vilas-Boas
COLECÇÃO
Cadernos do CRIAP
CONTACTOS COM O AUTOR
963046602/229672060
DIRECÇÃO
José Matias Alves
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CAPA
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Setembro de 2003/2.a Edição/Depósito Legal n.° 199 559/03
O Centro de Recursos de Informação e Apoio Pedagógico de Edições ASA –CRIAP-ASA – é uma estrutura e uma dinâmica que produz e disponibiliza informação
aos educadores e professores, promove acções de formação em parceria comas escolas e os centros de formação, edita semanalmente o Correio da Educaçãoe publica textos de referência de natureza pedagógica promovendo e valorizando
os direitos de autoria dos professores.
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A p a r t a d o 1 0 3 5 / 4 1 0 1 - 0 0 1 P O R T O
P O R T U G A L
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I n t e r n e t : w w w . a s a . p t
D E L E G A Ç Ã O E M L I S B O AH o r t a d o s B a c e l o s , L o t e 1
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2 6 9 5 - 3 9 0 S A N TA I R I A D E A Z Ó I A
P O R T U G A L
Índice
1. Notas Prévias............................................................................................................................................................. 11
1.1. Origem ........................................................................................................................................................ 11
1.2. Natureza.................................................................................................................................................... 15
2. Introdução .......................................................................................................................................................... 17
3. Oficinas de Escrita .................................................................................................................................... 23
3.1. Opiniões dos Alunos .................................................................................................................... 23
3.2. Princípios Pedagógico-Didácticos Subjacentes ........................................... 25
3.3. Um Modelo de Oficina: Planificação, Concretização e Avaliação
de uma Oficina de Escrita do Sétimo Ano Unificado .............................. 35
3.4. Outras oficinas.................................................................................................................................... 49
3.4.1. Do terceiro ao oitavo ano ....................................................................................... 49
3.4.2. Ensino Secundário.......................................................................................................... 63
3.4.3. Ensino Recorrente ........................................................................................................ 70
3.4.4. Apoio Educativo .............................................................................................................. 72
Apêndices e comentários ......................................................................................................................... 75
Bibliografia .............................................................................................................................................................. 111
Aos formandos que mostraram como o ensino-aprendizagem daescrita pode ser feito de planificação, rigor, competência, profissionalismo,optimismo e alegria, para benefício de professores e alunos.
À professora que, numa sessão em que o autor explicava o quesão as oficinas de escrita concebidas numa perspectiva processual e de di-ferenciação pedagógica, afirmou, repetida e peremptoriamente, que elasnão se podiam levar à prática. Repetida e peremptoriamente... Também aela este trabalho é sinceramente dedicado.
E a todos os professores de Língua Portuguesa ou de outras discipli-nas que têm dito, no final das sessões: “Tudo isto nos obriga a repensar anossa prática”.
“É, pois, necessário promover, nas aulas de Língua Portuguesa, uma Oficina
de Escrita que integre a reflexão sobre a língua [...]. A prática da oficina de escri-
ta visa possibilitar a interacção e a interajuda, permitindo ao professor um
acompanhamento individualizado dos alunos, agindo sobre as suas difi-
culdades, assessorando o seu trabalho de um modo planificado e sistemático. A
oficina de escrita implica um papel activo por parte de professores e alu-
nos que, através do diálogo e da reflexão sobre o funcionamento da língua, se
empenham num processo de reescrita contínua, tendente ao aperfei-
çoamento textual e ao reforço da consciência crítica.”
ME/DES, Programa de Língua Portuguesa – Ensino Secundário – Cursos Ge-rais e Cursos Tecnológicos, p. 21. (A entrar em vigor em 2003/2004).
Por que é que os alunos não aprendem a escrever? Atrevo-me
a responder, sabendo embora que incorro no exagero inerente a
todas as generalizações: não aprendem a escrever pela razão simples
de que, na escola, não se ensina a escrever.
Fernanda Irene Fonseca1
Eu considero que há, na relação da escola com os alunos, um
processo de traição lamentável, quando os professores não têm
consciência de que a escola é fundamentalmente uma instituição
de escrita. [...] O mais importante é salientar que quase toda a ava-
liação que se faz hoje faz-se através da escrita. E, no entanto, nas
escolas portuguesas não se ensina os alunos a escrever.
Sérgio Niza2
(1) Fernanda Irene Fonseca, “A Urgência de uma Pedagogia da Escrita” – comunicação a II Jornadas de Formação de
Professores (Universidade Católica Portuguesa, Viseu, Maio de 1991); publicado em Gramática e Pragmática – Es-
tudos de Linguística Aplicada ao Ensino do Português, Porto, Porto Editora, 1994, p. 150.
(2) Entrevista a Sérgio Niza, in Noesis, 61, Lisboa, IIE, Janeiro/Março de 2002, p. 12.
11
Notas Prévias
1.1. Origem
O trabalho que o leitor tem em mãos é a continuação de um outro publi-
cado em 2001, Ensinar e Aprender a Escrever – Por Uma Prática Diferen-te, no qual se apresentava e defendia o ensino-aprendizagem da escrita numa
perspectiva processual. Na raiz do primeiro encontrava-se um Curso de Forma-
ção (PRODEP) designado “Pedagogia da Escrita” que decorreu em 2000 na Es-
cola Secundária de Ermesinde (Centro de Formação das Escolas do Concelho de Va-
longo); na origem do presente está a Oficina de Formação (PRODEP) “Escrevercom os Alunos na Aula e na Escola: o Modelo Processual” que decorreu
em 2002 no mesmo estabelecimento de ensino. Também o Curso de Formação
(PRODEP) “Pedagogia da Escrita” que em 2001 teve lugar na referida escola
contribuiu para esta publicação. Para além destas acções, o autor tem vindo a orien-
tar sessões de formação em várias escolas:
1
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
2003
Secundária Avelar Brotero – Coimbra:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de cinco horas com a
presença de quinze professores, em 26 de Março. Esta sessão dividiu-se em du-
as partes: a componente teórica durante a manhã; a parte prática de tarde: os
professores acompanharam uma turma no acto de escrever interagindo com os
alunos.
EB 2/3 de Fânzeres – Gondomar:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com
a presença de quinze professores, em 12 de Março (em colaboração com o CRI-
AP-ASA).
Secundária da Quinta das Flores – Coimbra:
“As oficinas de escrita e os novos programas de 10.o ano: perspectivas didácticas e pedagógicas”, sessão
de três horas com a presença de doze professores, em 27 de Fevereiro.
EB 2/3 de Perafita:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com a
presença de vinte professores, em 22 de Janeiro.
EB 2/3 D. António Ferreira Gomes – Ermesinde:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com
a presença de trinta e cinco professores, em 14 de Janeiro.
EB 2/3 Dr.ª Maria Alice Gouveia – Coimbra:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com a
presença de quarenta professores, em 13 de Janeiro (em colaboração com o CRI-
AP-ASA).
12
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
13
2002
EB 2/3 D. António Ferreira Gomes – Penafiel:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com
a presença de vinte professores, em 31 de Outubro.
Secundária de Gondomar:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com
a presença de vinte professores, em 28 de Outubro.
EB 2/3 de S. Lourenço – Ermesinde:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com
a presença de dez professores, em 23 de Outubro.
EB 2/3 de S. Lourenço – Ermesinde:
“Oficinas de escrita: o que são, como se organizam, como funcionam”, sessão de três horas com
a presença de quinze professores, em 11 de Junho.
EB 2/3 – Sec. João Garcia Bacelar – Tocha:
“O modelo processual de ensino-aprendizagem da escrita – as oficinas de escrita”, sessão de três horas
com a presença de quarenta professores, em 30 de Janeiro (em colaboração com o
CRIAP-ASA).
EB 2/3 de Pedrouços – Maia:
“O modelo processual de ensino-aprendizagem da escrita – as oficinas de escrita”, sessão de três ho-
ras com a presença de doze professores, em 14 de Janeiro.
2001
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
14
Secundária Filipa de Vilhena – Porto:
“O modelo processual de ensino-aprendizagem da escrita – as oficinas de escrita”, sessão de três horas com
a presença de quinze professores, em 14 de Novembro.
Colégio de Nossa Senhora de Lourdes – Porto:
“Oficinas de escrita”, sessão de quatro horas com a presença de vinte professores,
em 27 de Outubro.
EB 2/3 de Valadares:
“O ensino-aprendizagem da escrita – o modelo processual”, sessão de 6 horas com a presença de
vinte professores, em 27 de Junho.
Todas as sessões contribuíram para esta publicação. No entanto, o pre-
sente trabalho é essencialmente devedor das práticas lectivas le-
vadas a cabo pelos formandos da Oficina de Formação referida. O autor e for-
mador acompanhou-os não só na planificação, como durante a maior parte das
aulas.
Estiveram envolvidos nestas acções e sessões para cima de trezentos alunos
e mais de trezentos docentes, na sua quase totalidade, professores de Língua Por-
tuguesa. No entanto, tem sido grato ao formador encontrar também, principal-
mente nas últimas sessões, participativos professores de Matemática, Geografia,
História, Físico-Química, Estudo Acompanhado, interessados por um problema
que a todos afecta e a todos diz respeito.
1.2. Natureza
Enquanto o livro atrás referido deu conta da reflexão sobre o ensino-apren-
dizagem da escrita centrada na análise de materiais e propostas relativos à aborda-
gem processual daquele ensino-aprendizagem, este dá conta do trabalho prá-
tico realizado por dezanove professores de Português de todos os níveis de
ensino. Trabalho prático: apresentam-se as actividades realizadas nas aulas pe-
los professores de Português/formandos a partir de materiais por eles elaborados.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
15
O carácter prático é reforçado pelos rascunhos e textos finais da au-
toria dos alunos que constam em apêndice.
17
Introdução
A escrita esgotou-se durante anos e anos num ritual bem nosso conhecido e
que [...] consistia em fazer aos alunos propostas de escrita sobre determinados temas,
limitando-se o professor a avaliar (com mais ou menos anotações) o produto final. Os
professores de escrita [...] constatavam sintomas, mas não identificavam a doença, nem
prescreviam nenhum remédio específico. [A escrita] não estava sujeita a um trabalho
sistemático e instrumentado.
Maria Luísa Álvares Pereira3
Os professores reconhecem que o ensino-aprendizagem da escrita está desa-
justado. Admitem que ensinam como ensinam porque não sabem fazer de outro
modo: nem na formação inicial, nem na contínua, tomaram conhecimento com
modelos alternativos que lhes permitam perspectivar este ensino de outra manei-
ra. A análise dos conteúdos dos sumários revela a falta de rigor e de planificação
neste âmbito. O que aí se pode ver comprova que a escola, por regra, não ensina,
nem sabe ensinar a escrever. A aula de escrita, se assim lhe podemos chamar, ocor-
re esporadicamente, não planificada, sem sequência, de um modo pouco profissi-
onal. Os professores presentes nas sessões de formação reconhecem que assim é.
São momentos de reflexão colectiva em que os docentes se sentem mal, assumem
que não há de facto ensino programado... Numa sessão realizada na Escola EB 2/3
D. António Ferreira Gomes – Penafiel, uma professora de História, partindo da cons-
2
(3) “Viver a Escrita em Português”, in Noesis, 59, Lisboa, IIE, Julho/Setembro 2001, p. 41. Este “ritual” não desa-pareceu ainda.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
18
tatação de que muitos alunos chegam ao décimo ano apresentando imensas defi-
ciências, pôs à consideração dos colegas a seguinte questão: esta incapacidade tem
a ver principalmente com o facto de não existir até ao nono ano um ensino-aprendi-
zagem sistemático e planificado da competência referida, ou revela-se devido à
maior complexidade dos textos com que esses alunos têm de trabalhar em discipli-
nas como a sua ou como Filosofia? A resposta geral foi no primeiro sentido.
Para alterar esta situação seria necessário, antes de mais, acabar
com o individualismo didáctico reinante nas nossas escolas. São os
próprios professores participantes nas sessões que concluem neste sentido. Mas
levar a cabo essa transformação é muito difícil. Quando se fala na necessi-
dade de cada escola ter o seu projecto de ensino-aprendizagem da
escrita, com objectivos e estratégias bem definidos, possibilitando
um trabalho em conjunto que articulasse os diferentes anos e Ci-
clos, todos concordam que é assim que devia ser. Mas não é, nem se sa-
be se algum dia será.
Quem trabalha na formação está consciente de que este individualismo é o fac-
tor que, em primeiro lugar, impede a mudança. Veja-se: é mais fácil um professor orga-
nizar uma oficina em conjunto com outro ou outros, do que sozinho. O formador e
autor deste trabalho acompanhou os formandos na concepção das oficinas e na sua
concretização. Quando a Oficina de Formação que está na origem deste livro se ini-
ciou, calendarizou-se o trabalho tendo o cuidado de as três primeiras a realizar e
apresentar nas sessões presenciais conjuntas, serem levadas a cabo por professoras
que já tinham feito um Curso de Formação. Só depois, com os materiais elaborados
analisados por todos, com o visionamento dos filmes das aulas, com a leitura de opi-
niões dos alunos sobre o trabalho realizado, e principalmente com o entusiasmo
demonstrado pelas três formandas pioneiras que trouxeram, mostraram e analisa-
ram os muitos rascunhos e textos finais dos seus alunos, é que todos se foram entu-
siasmando4. Isto é, o projecto funcionou porque houve trabalho de equipa, pergun-
tas, muitas perguntas, dúvidas, respostas, precisamente o contrário do que é a apagada
prática de ensino-aprendizagem nas nossas escolas.
(4) As professoras Fátima Ramos (Primeiro Ciclo), Natália Martins e Lisete Matias Pinheiro (Terceiro Ciclo).
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
Abordemos agora com mais detalhe o trabalho e os resultados da Oficina
de Formação. Nela se empenharam dezasseis formandos dos seguintes estabele-
cimentos de ensino: Escola Secundária de Ermesinde, Escola Básica 2/3 de S. Lou-
renço – Ermesinde, Escola Secundária de Valongo, Colégio de Nossa Senhora de
Lourdes – Porto, Escola Básica 1/Igreja N.º 2 – Barreiro – Alfena, Escola Secundária de
Gondomar e Escola Básica 2/3 de Pedrouços – Maia. E muitos, muitos alunos, do
terceiro ao décimo segundo ano. Como resultado, uma apreciável quantidade
de textos planificados, escritos, reescritos, muitos momentos de alegria
por parte de quem já tinha desistido de escrever, muitos momentos de satisfação
não só dos professores, mas principalmente dos jovens que puderam ler os
seus textos aos colegas, escritos em colaboração com os amigos e em
estreita interacção com os professores, no decurso de sequências de
aulas em que o prazer da escrita, da reescrita, da partilha de problemas e também
de soluções, de trabalho cooperativo, foi uma constante. Escreveram-se di-
versos tipos de texto como o resumo, a entrevista, a descrição, a narração, a no-
tícia e a carta. Muitas destas aulas foram filmadas, e os filmes têm sido visionados
nas sessões realizadas em várias escolas. Neles vêem-se alunos entusiasmados a
escrever, ouve-se o ruído que fazem porque a oficina é uma aula viva, ob-
serva-se como a aula se descentra, comprova-se a alegria de quem conse-
gue resolver problemas de textualização, verifica-se que a diferen-
ciação pedagógica é possível dentro da turma, entre outros
aspectos. As respostas que os alunos deram a vários inquéritos no final das ofi-
cinas5 mostram como apreciaram este método de aprender a escrever com o
qual tomaram pela primeira vez contacto. Pela primeira vez. Porque a questão
agora é a seguinte: vai haver continuidade? Os alunos de sétimo ano da profes-
sora Natália Martins, da Escola Secundária de Valongo, perguntaram-lhe, termi-
nada a oficina, se ia ser professora deles no próximo ano. É que compreende-
ram o risco que correm: outra vez a estafada “Composição, oh,
não!” Nunca, nas oficinas, e este foi um facto sublinhado pela generalidade dos
formandos, os alunos se mostraram relutantes ou demonstraram enfado em es-
crever. Desde que a oficina seja preparada como deve ser, isto é, com
propostas de trabalho adequadas às dificuldades e necessidades
dos alunos, respeitando as suas diferenças, eles escreverão com ale-
gria, prazer e esforço. De tal modo assim é, que não poucos professores se
admiraram com o facto de ter havido alunos que tiveram de reescrever quatro,
cinco e mais vezes, textos ou partes de texto, e não se queixaram! Muitos rascu-
19
(5) Ver apêndice 1, pp. 76 e 77.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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nhos se produziram! Da análise destes textos intermédios, que tem vin-
do a ser realizada nas sessões, se conclui que a aprendizagem da es-
crita se processa escrevendo e reescrevendo as vezes que forem ne-
cessárias, em estreita interacção com o professor. Com tempo,
persistência e esforço.
O facto de estas oficinas terem sido as primeiras para a generalidade dos for-
mandos, aliado ao facto de que uma grande parte dos alunos, por vezes a turma
na quase totalidade, tem dificuldades e resiste a escrever, condicionou fortemen-
te os textos que se redigiram. As propostas de trabalho que se levaram a cabo,
muito centradas em algumas turmas na redacção de textos narrativos com com-
ponente lúdica, pouco viradas para exercícios específicos que permitissem, por
exemplo, um treino intensivo relativo à pontuação ou a mecanismos de coesão
textual, foram as possíveis dadas as condições e condicionalismos existentes. Se
os professores em formação continuassem com a mesma turma – parece que só
acontece com a professora que leccionou o terceiro ano!! –, esse tipo de traba-
lho poderia fazer-se. Se nas escolas houvesse um projecto relativo ao ensino-
aprendizagem da escrita, este ano os alunos poderiam dar continuidade às suas
aprendizagens. O que sucederia se os professores em geral soubessem o que é
ensinar a escrever numa perspectiva processual... Muitos alunos que em 2002
puderam usufruir de um ensino diferente que lhes permitiu alguma evolução, vão es-
te ano regressar aos velhos métodos.
Procura-se aqui dar conta do trabalho realizado de uma forma necessariamen-
te sintética. Não é possível publicar todos os materiais elaborados e, menos ainda,
os rascunhos e textos finais escritos pelos alunos. Eles têm vindo a ser analisados nas
sessões orientadas pelo autor.
Já a seguir podem ler-se opiniões de alunos dos segundo e terceiro Ciclos so-
bre as actividades em que participaram. Segue-se um capítulo no qual se elencam
os princípios pedagógicos e didácticos que estiveram por detrás da concepção
de todo este trabalho. Apresenta-se uma oficina de escrita realizada com alunos de
sétimo ano. Os capítulos seguintes descrevem outras oficinas. Em apêndice, re-
produzem-se textos escritos pelos alunos, com incidência nos intermédios, nos
quais é visível o processo de reescrita.
Como nota final: as oficinas de escrita estão, felizmente, indicadas no novo
programa de Língua Portuguesa para o Ensino Secundário. Algumas considera-
ções a este respeito: 1) para a grande maioria dos docentes constituirá uma novida-
de empenhar-se, juntamente com os alunos, numa ou várias oficinas de escrita. A ex-
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periência indica que os professores desconhecem, em geral, como elas se orga-
nizam, e nem sempre dominam os princípios didáctico-pedagógicos que as su-
portam. 2) O programa dispõe, e muito bem, que a actividade de escrever se deve
desenvolver em três fases: planificação, textualização e revisão/reparação dos textos.
Estas etapas não podem ocorrer numa aula, são necessárias várias. A experiên-
cia mostra que os professores são muito renitentes em organizar as aulas de
escrita em sequências. Basta olhar para os sumários. 3) O programa aponta, com
pertinência, para o facto de os professores assessorarem os alunos quando eles
estão a escrever, promovendo correcções imediatas e reescritas contínuas. A
experiência comprova que muitos docentes não têm o hábito de acompa-
nhar os alunos em interacção estreita; na aula de escrita eles redigem frequente-
mente sozinhos, e o professor leva o texto para “corrigir” em casa.
É de saudar o aparecimento do novo programa por tudo o que
traz, incluindo, principalmente, a previsível agitação e actualização
de práticas pedagógicas e didácticas nos docentes6.
(6) Para esta actualização dever-se-ão ter em conta principalmente os conteúdos que o programa designa co-
mo “processuais”.
23
Oficinas de Escrita
3.1. Opiniões dos Alunos7
1. Na oficina de escrita, ao escrever, por exemplo, uma carta, utilizamos os co-
nectores como “por isso”, “é evidente”, “claro que”, “Além disso”, etc. Utilizamos tam-
bém um vocabulário de adultos.
2. É um conjunto de aulas em que somos ajudados a escrever pelos profes-
sores. Na oficina de escrita fazemos vários rascunhos até que consigamos escre-
ver uma carta com pés e cabeça.
3. É um local, bastante divertido, onde podemos escrever, reescrever, e melho-
rar a nossa escrita com a colaboração da professora. E por isso é uma experiência
que eu não esquecerei.
4. A oficina de escrita é para melhorar a letra8, melhorar a escrita e os erros.
És ajudado por uma professora ou por um professor. Tens de estar com atenção,
se não fazes tudo mal. Ao fim lês a tua história. É uma coisa espectacular.
3
(7) Recolhidas por escrito em inquérito lançado no final das oficinas do quinto, sexto e sétimo anos – ver apêndice 1
(pp. 76 e 77), última pergunta. Além destes inquéritos, em algumas oficinas fizeram-se entrevistas filmadas. As res-
postas e as entrevistas têm vindo a ser lidas e visionadas nas sessões orientadas pelo autor.
(8) A maior parte dos alunos desta turma de quinto ano insiste na questão da caligrafia e da ortografia. Quase todos a
referem. Por vezes, dá a impressão que a ela reduzem a oficina. Ora estes aspectos quase não foram trabalhados.
Deu-se muito mais importância a aspectos como a planificação e a estruturação do texto. Portanto, isto vem de
trás... e revela muita coisa sobre o passado escolar. A ênfase colocada na caligrafia e na ortografia, mas principalmen-
te na primeira, não aparece nos outros inquéritos de turmas do Segundo Ciclo.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
24
5. É escrever em conjunto com colegas. Fazer um plano do texto antes de
o escrever. Enquanto fazemos os professores ajudam-nos. Não podemos levar os
materiais para casa. Discutimos com os colegas o que havemos de escrever.
6. Uma oficina de escrita é escrever um texto e o professor corrige logo.
7. Oficina de escrita é melhorar a nossa escrita, é melhorar o futuro.
8. A oficina de escrita é um trabalho que nos ajuda a melhorar a escrita, que
nos puxa pela imaginação, e em que é preciso ter atenção, paciência, esforço e or-
gulho pela apresentação.
9. Oficina de escrita é um conjunto de aulas em que os alunos produzem tex-
tos acompanhados por um ou mais colegas de turma. Na oficina de escrita aprende-
se a melhorar o nosso vocabulário e os nossos erros, aprende-se a escrever melhor.
Podemos também melhorar a nossa relação com o colega, mas também temos
que aceitar a opinião do colega, como ele também tem que aceitar a nossa.
10. Uma oficina de escrita é um conjunto de aulas onde trabalhamos com os
colegas (um ou mais) e fazemos actividades diferentes das aulas. É muito fixe traba-
lharmos em grupo e também é fixe o professor ajudar-nos. Xau! Até logo.
11. A oficina de escrita é um local de trabalho onde existem grupos, cada um
com o nível da sua dificuldade. Cada grupo está constituído por dois alunos e eles
têm que elaborar um texto. E assim, nós discutimos mas chegamos a um acordo.
É deste modo que melhoramos as nossas dúvidas.
12. Oficina de escrita é uma nova área em que os alunos escrevem e fazem
várias actividades sobre textos com ajuda de uma ou mais pessoas. Podemos es-
crever com colegas, corrigir erros, ler os nossos textos, aprender novo vocabulário
e trocar ideias.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
3.2. Princípios Pedagógico-Didácticos Subjacentes
Assim, uma verdadeira aprendizagem da escrita necessita, hoje, de ser assistida
por um professor que cumpra a função de mediador, entendendo essa mediação como
um dispositivo ao mesmo tempo pedagógico e didáctico.
Pedagógico, [...] na medida em que é importante que o professor estabeleça um
clima de confiança e de entreajuda na aula, o que passa nomeadamente, por:
– praticar ele próprio os escritos que propõe aos alunos;
– ter em conta as diferenças culturais entre os alunos;
– explicitar as suas normas e as suas exigências;
– proteger, encorajar e sancionar quando é preciso.
Didáctico, na medida em que é preciso que o professor:
– diversifique as situações de escrita (individual, grupo) e o tipo de escritos.
– socialize os escritos produzidos;
– articule a avaliação formativa e sumativa;
– trabalhe a reescrita e o aperfeiçoamento dos textos numa perspectiva de apren-
dizagem em colaboração.
Maria Luísa Álvares Pereira9
Neste capítulo encontra-se uma série de princípios pedagógicos e di-
dácticos que estiveram subjacentes na planificação, concretização e avaliação
das oficinas. Há princípios gerais, aplicáveis a qualquer outra disciplina, e prin-
cípios específicos de uma oficina de escrita de Língua Portuguesa. Ambos
relevam de uma concepção construtivista de ensino-aprendizagem.
Relativamente aos primeiros, aconselha-se ao leitor interessado o excelente texto
de Isabel Solé “Bases psicopedagógicas de la práctica educativa”, in AA. VV., El Cur-riculum en el Centro Educativo, Barcelona, ICE/HORSORI, 1993, pp. 51 a 90;
quanto aos segundos, é incontornável o livro de Daniel Cassany Reparar la Escri-tura – Didáctica de la Corrección de lo Escrito, Barcelona, Graó, 1996.
25
(9) Art. cit., p. 42.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
26
Como lembra Maria Luísa Álvares Pereira, as dimensões didáctica e pedagó-
gica devem misturar-se harmoniosamente de modo a propiciar a motivação dos
alunos10. A lista de princípios que se segue apresenta-os de modo a motivar o lei-
tor, o professor, procurando interessá-lo por levar a cabo novas práticas de ensino-
aprendizagem da escrita que passam pelas oficinas, pelo acompanhamento pro-
cessual do aluno no acto de escrever, garantindo-lhe a possibilidade de fazer as
reescritas necessárias, e pela diferenciação pedagógica.
Para muitos professores, estas são propostas completamente no-
vas. É o que se tem verificado quando apresentadas pelo formador. Al-
guns dizem que este tipo de trabalho não é exequível devido às dimen-
sões das turmas, à enorme falta de bases dos alunos, à falta de
hábitos de trabalho e estudo, ao desinteresse, etc., etc. Tudo isto é
possível: estas perspectivas nortearam as oficinas orientadas em
2002. Não são princípios abstractos, pelo contrário, tiveram aplicação
concreta no trabalho com os alunos.
Princípios gerais
1. Elaborar uma planificação aberta, numa perspectiva de flexibilidade
e de previsão das necessidades dos alunos, com materiais adequados e di-
versificados.
2. Promover o ensino-aprendizagem numa perspectiva de diferenciação
pedagógica. O Estatuto da Carreira Docente, relativamente aos deve-
res do professor, dispõe, no art. 10.º, e): “Gerir o processo de ensino-apren-
dizagem [...] procurando adoptar mecanismos de diferenciação pedagógi-
ca susceptíveis de responder às necessidades individuais dos alunos”.
A possibilidade de se levar à prática esta abordagem de ensino-aprendizagem depende, emprimeiríssimo lugar, do professor...
(10) Ibidem.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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3. Apresentar aos alunos, a cada aluno, actividades que eles sejam capazes
de levar a cabo. Diversificar pois essas tarefas, de acordo com o co-
nhecimento prévio das suas dificuldades e capacidades. Não
se trata de um trabalho diferente para cada um: como lembra Isabel Solé,
“Tão errado seria pensar numa tarefa diferente para cada criança como pen-
sar que todos deveriam fazer a mesma coisa”11.
4. Interagir continuamente com os alunos, observando o seu traba-
lho, apoiando-os nas suas dificuldades, conversando com eles, revelando ca-
pacidade de adaptação rápida às suas necessidades, enfim, assumindo um
papel activo que os motive e os entusiasme.
5. Organizar as aulas de modo a:
– articulá-las numa sequência adaptada às necessidades dos alunos12;
– promover situações de trabalho autónomo nos casos em que é
possível, de modo a libertar tempo para cooperar com os alunos com
mais necessidades13;
– possibilitar a interacção entre os alunos, aluno/turma, aluno/gru-
po, grupo/grupo.
6. Construir com os alunos situações de diálogo contínuo através do qual se
explicitem as regras do trabalho a realizar, levar os alunos a verba-
lizarem eles próprios as etapas do seu trabalho, a porem em co-
mum dificuldades e soluções com interesse geral, a apresentarem os seus
sucessos e insucessos, a explicarem como vão construindo os seus
conhecimentos.
(11) Art. cit., p. 82. A investigadora lembra ainda que mesmo que todos se envolvam numa só tarefa, esta pode ser
também diferenciada – ibidem.
(12) Está de tal modo enraizado entre os professores o hábito de aulas esporádicas para escrever, sem continua-
ção, que esta proposta é das que mais resistência oferece.
(13) Também aqui a experiência do formador pode dar testemunho da dificuldade que tantos professores apre-
sentam em admitir que durante uma aula podem deixar trabalhar autonomamente um grupo de alunos de
modo a poderem ocupar-se dos mais atrasados. Se planificarem uma sequência, a aula seguinte pode resol-
ver o problema, se é que existe.
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7. Avaliar numa perspectiva eminentemente formativa, a qual
passa pela observação contínua do trabalho em curso: “realiza-se ao mes-
mo tempo que se ensina”, “permite ir ajustando o ensino ao processo de
construção dos alunos”, ligando-se deste modo “à individualização do en-
sino”, pois permite que “o professor intervenha segundo as necessidades
do aluno”14.
Princípios específicos
1. Ter em conta a diversidade dos alunos. Há os que escrevem sem di-
ficuldades, há os que o fazem muito lentamente, os que se recusam, os
que dão imensos erros ortográficos, os que não sabem organizar um
texto coeso, os que só gostam de determinados temas, os traumatiza-
dos da escrita, enfim, é um mundo felizmente variado, que não se com-
padece com as propostas dos manuais, sempre homogéneas e vi-
radas para um público neutro.
1.1. Planificar tendo em consideração essa diversidade que é
factor de enriquecimento da turma. Nas oficinas esta foi uma preocu-
pação constante: como se verá desenvolvidamente mais à frente,
previram-se actividades específicas adaptadas às capacidades dos alu-
nos; algumas foram elaboradas com grau de dificuldade diverso, tra-
balho que depois deu frutos; pensaram-se propostas a serem realizadas
logo que um aluno, ou um grupo de alunos, tivesse terminado os pri-
meiros exercícios; teve-se previamente em consideração a possibilida-
de de determinados exercícios seleccionados especificamente para
um grupo de alunos, tendo em conta as suas dificuldades, não serem,
apesar de tudo, apropriados. E levaram-se alternativas que vieram a
justificar-se. Actualmente há no mercado alguns livros onde o professor
encontra muitas sugestões de trabalho. As que os manuais incluem po-
dem servir também, não para todos os alunos, mas para alguns. Na
Bibliografia indicam-se títulos nos quais o docente pode pesquisar.
(14) Solé, Isabel, Art. cit., p. 85.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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2. Interagir continuamente com os alunos. O professor que organi-
ze pela primeira vez uma oficina de escrita deve estar consciente de que
o seu papel vai mudar radicalmente. O trabalho é agora o de cooperar
com os alunos, com cada aluno, no acto de escrever. Observa os seus escri-
tos, responde às suas dúvidas e solicitações, indica-lhes frases mal constru-
ídas, ligação entre frases ou parágrafos inexistentes, erros ortográficos,
etc. Fala com eles sobre o processo de construção do texto, e dá-lhes indi-
cações de revisão, oralmente e por escrito.
Alguns exemplos mais específicos deste tipo de trabalho:
A experiência mostra que as observações orais não são, por
regra, suficientes: os alunos esquecem-nas e chamam de novo o
professor. Para que assim não suceda, recorre-se às indicações
escritas, necessariamente curtas, claras e objectivas.
Uma vez seleccionada a parte do texto a reparar, eis algumas
indicações de reescrita precisas que se podem escrever:
1. Insere duas vírgulas nesta frase.
2. Utiliza um articulador para ligar estes dois parágrafos.
3. Elimina um ponto final neste parágrafo.
4. Procura no dicionário como se escrevem as palavras sublinhadas.
5. Há uma palavra repetida. Encontra-a e substitui-a por um sinónimo.
6. Escolhe um articulador para iniciar a conclusão do texto.
Etc., etc.
São extremamente desaconselháveis indicações como as que
se seguem, tão frequentes:
1. Atenção à pontuação!
2. Cuidado com os parágrafos!
Etc., etc.
Mais tarde o professor verifica até que ponto foram cumpridas
as instruções e vê se é necessária nova reescrita.15
Aspecto muito importante a ter em conta relativamente às in-
dicações de reparação é o seguinte: não se caia no erro de man-
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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dar reescrever o texto todo. Se apresenta deficiências logo nas pri-
meiras linhas, podem dar-se instruções relativas a elas16. Uma vez re-
solvidas, pede-se ao aluno que sozinho ou em conjunto, no caso de
o texto estar a ser escrito por mais que um, encontre no texto ainda
não visto pelo professor erros idênticos e os corrija. Isto funciona
muito bem.
Se no início do texto se detectam vários tipos de erro relativos,
por exemplo, a ortografia, pontuação, articulação entre frases, etc., a
experiência mostra que não se devem dar logo indicações de reescrita
para todos estes aspectos, deve operar-se por etapas, principalmente
com os alunos mais renitentes em escrever17. Uma prática didáctica
inteligente e ponderada contribui para a motivação do aluno.
Uma boa estratégia para utilizar com alunos com mais dificulda-
des consiste em seleccionar pequenas secções do texto onde ocor-
re determinado erro. Selecciona-se, por exemplo, delimitando uma
parte com dois traços verticais ou parênteses rectos18. Pede-se ao
aluno que isole esse pequeno excerto copiando-o na folha de rascu-
nho. Depois discute-se com ele ou com o grupo os aspectos em causa,
e escrevem-se as indicações de reescrita. Dá-se-lhe tempo para
poder melhorar o seu texto e vem-se ao pé dele de novo observar o
que escreveu. É a altura de o encorajar... Frequentemente, estes alu-
nos, só por copiar o texto já fazem correcções com sentido por
conta própria! Se houver ainda imperfeições, recomeça-se o processo:
nova cópia, indicações de reescrita, reescrita.
Referiram-se até agora os casos de alunos que, quando o professor vai obser-
var o seu texto, já o levam relativamente avançado ou o deram por terminado. Mas
há também os que apresentam imensas dificuldades em começar: estes necessi-
tam, antes de mais, de escrever textos de cariz simples e com componente lúdica.
(15) O uso de um código de correcção é também possível, mas não basta. Conviria articulá-lo com o acompa-
nhamento pelo professor. Sobre a elaboração de um código de correcção e sua utilização, ver, do autor, En-
sinar e Aprender a Escrever – por uma Prática Diferente, Porto, Edições Asa, 2001, pp. 25 a 29.
(16) Ver apêndice 2, pp. 78, 79 e 104.
(17) Em vários apêndices podem-se ver casos de reescrita de um só aspecto.
(18) Ver apêndice 3, pp. 80 e 104.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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Vejam-se as actividades propostas no exemplo da oficina do capítulo seguinte, e o
comentário que aí é feito. Leia-se também a experiência relatada no capítulo refe-
rente ao Ensino Recorrente19: quando os alunos encontram sentido nas
propostas de escrita, escrevem com gosto. Se os professores aceitassem
esta verdade, e tirassem daí as conclusões necessárias, o ensino da escrita não esta-
ria como está. A dificuldade em aceitar e promover a diversificação é
sempre enorme na primeira abordagem.
3. Organizar as aulas da oficina numa sequência dedicada ex-
clusivamente ao ensino-aprendizagem da escrita. Outra proposta que
é sempre recebida com admiração por um número apreciável de professores.
Tantas aulas para escrever? E a gramática? E...?
As sequências são fulcrais para que os alunos tenham tempo
de praticar o aperfeiçoamento dos seus textos escrevendo-os e
rescrevendo-os, depois de os planificarem. Uma sequência tem número
variável de aulas e pode e deve ocorrer várias vezes ao longo do ano. O número de
aulas escolhido para uma oficina varia em função de vários factores. Tudo depen-
de dos alunos envolvidos, das suas dificuldades, do grau de diversificação, etc. Na
oficina apresentada no próximo capítulo, os alunos pediram mais aulas para
além das que estavam planificadas e a professora aceitou, tanto mais que o pedido
foi realizado por alguns que antes da oficina eram notórios adversários da escri-
ta.
Relativamente a este assunto, vale a pena referir o depoimento de uma pro-
fessora da EB 2/3 de Perafita que, numa sessão, dizia que todas as sextas-feiras pe-
dia aos alunos que fizessem uma composição. Entregava-a à terça, e assim suces-
sivamente. Foi-lhe lembrado que podia aproveitar as sextas-feiras para permitir a
reescrita da composição anterior, não iniciando uma nova. Concordou imediata-
mente: a sequência pode ser de aulas alternadas, o essencial é dar tempo para aper-
feiçoar a partir de indicações de aperfeiçoamento de reescrita.
(19) Ver pp. 70 e 71.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
Prende-se também com a noção de sequência o facto de nas oficinas não ser
conveniente que os materiais sejam levados para casa. Deste modo garante-se que
na aula seguinte todos os têm. Por outro lado, o professor pode, em casa, se assim
o entender, debruçar-se sobre os textos mais problemáticos para apontar erros e
dar indicações escritas de revisão para a aula seguinte da sequência. Ganha deste
modo tempo.
4. Promover a leitura na aula dos escritos dos alunos. Quem traba-
lhou com oficinas de escrita, já sabe; quem não trabalhou, vai aprender depressa: os
alunos adoram ler os seus textos. Por sua vez, a turma pára para os ouvir. É uma
actividade muito apreciada, com o seu ritual de aplausos no final de cada leitura… Es-
tas leituras, pelo clima de descontracção que criam, pela alegria e boa disposição que
implicam, permitem ao professor e a todos algum descanso, e contribuem for-
temente para a aceitação da escrita.
A leitura não deve ser passiva, isto é, não se trata somente de
ler os textos e nada mais. O professor deve encorajar os alunos a
explicarem que tipo de texto escreveram, a exibirem os rascunhos,
apontando os principais problemas de estruturação com que se
depararam. Este trabalho de análise dos textos intermédios é muito
importante, cria na turma a consciência de que todos passam pe-
lo mesmo tipo de dificuldades na construção do conhecimento20.
A leitura não tem de ocorrer necessariamente só quando se atinge a versão
final. No seu trabalho contínuo de observação, o docente pode detectar um texto
que apresenta um bom início, e colocá-lo à consideração da turma ou de um gru-
po de alunos. Ou outro que apresenta um erro específico de estruturação que,
por ser comum, convém que seja analisado para se encontrarem soluções de
continuação21.
Outro aspecto relacionado com a leitura dos textos produzidos é o seguinte:
na oficina de oitavo ano a professora avisou os alunos no início que os textos lidos
seriam alvo de avaliação pelos colegas para se escolherem os três melhores. Fez-se
um concurso e houve prémios. Os textos podem também ser levados ao conheci-
32
(20) Será escusado dizer que esta prática não tem de ser levada a cabo com carácter sistemático. O professor de-
cide para cada caso. Também convém acrescentar que, por vezes, principalmente porque é a primeira vez ou
porque se trata de alunos mais fracos, eles têm dificuldade em verbalizar o seu trabalho. Neste caso, o pro-
fessor pode ocupar-se dessa tarefa.
(21) Na oficina de quinto ano que se refere adiante, várias vezes foram lidas e analisadas as planificações das cartas
que iam ser redigidas.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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mento da comunidade escolar, ou através de um jornal de escola, ou de uma ex-
posição, como sucedeu com algumas cartas, incluindo os rascunhos, escritas por alu-
nos do quinto ano no Colégio de Nossa Senhora de Lurdes – Porto.
5. Explicitar com clareza as regras de trabalho. A oficina de escrita ga-
nha muito com o facto de, logo na primeira aula, o professor explicar o trabalho que
vai ser levado a cabo. Este é um aspecto fundamental que o exemplo do próximo
capítulo ilustra bem, pois a professora que organizou a oficina teve o cuidado de
elaborar uma ficha sobre o funcionamento da actividade que era nova. Quando nu-
ma oficina se opta pela diversificação de materiais e estratégias, então ainda é mais
premente a necessidade de fazer compreender aos alunos o porquê desta actu-
ação. Veja-se o que objectam alguns professores quando se fala em diversifica-
ção de materiais adaptados aos diferentes graus de conhecimento dos alunos: os
pais do Rui não vão gostar de saber que o filho está integrado no grupo dos fra-
cos. Ou: podemos traumatizar a Sofia se for colocada com os alunos ditos piores. A
experiência mostra que nada disto sucede. Se o professor fizer como deve ser o tra-
balho de casa, isto é, se planificar correctamente o início da sequência, poderá,
como aconteceu com os alunos da oficina de sétimo ano cujo modelo se apre-
senta adiante, fazer com que, através do diálogo, sejam os próprios alunos a conclu-
ir da necessidade de trabalharem com materiais apropriados ao seu nível. Tudo lhes
deve ser bem explicado, o trabalho planificado pelo professor deve surgir como
tendo sido elaborado a pensar neles, nos seus problemas concretos. É o primei-
ro passo em direcção a uma aprendizagem verdadeiramente signifi-
cativa.
Por uma questão de coesão da turma, todos conhecem as ac-
tividades em que os outros estão envolvidos. Por vezes, um aluno ou um
grupo de alunos que já terminou os seus exercícios, passa a realizar outros do nível
seguinte.
6. Facilitar a cooperação entre os alunos. Na oficina de escrita há
pouco lugar para a aprendizagem passiva. Assumir a diferenciação é o primeiro
passo para combater a passividade dos alunos desmotivados. Estratégias como
promover o trabalho em pequenos grupos, incentivar os alunos a discutir entre
eles, no grupo, determinadas dificuldades de construção textual antes mesmo de
chamar o professor, permitir que um grupo ou um aluno procure junto de outro
aluno de um grupo diferente ajuda para um problema de ortografia, instituindo
deste modo a aprendizagem em cooperação na turma, contribuem para um cli-
ma propício à escrita e à sua aceitação. E libertam tempo para o professor.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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7. Escrever também o seu texto. Em nenhuma das oficinas de 2002
os professores formandos escreveram com os alunos. O formador nem sequer
abordou esta possibilidade: apesar de já a ter experimentado com sucesso anterior-
mente, entendeu que a atenção que os professores teriam de dar aos alunos não
lhes permitiria escrever também. As oficinas eram novidade para todos, e não quis
sobrecarregá-los.
No entanto, no Curso de Formação orientado em 2001, houve uma sessão de
quatro horas inteiramente dedicada a acompanhar alunos de oitavo ano na cons-
trução dos seus textos. Alguns professores foram capazes de fazer o acompanha-
mento e escrever textos pessoais. Nessa sessão cada docente só se ocupava de um
ou dois alunos. No final, aquando das leituras, os professores leram também os seus.
Não houve tempo para se fazer o que se fará em futuras oficinas: o docente mos-
trará o seu texto, os seus rascunhos, falará das suas dificuldades. Se o professor op-
tar por escrever também, não tem que o fazer necessariamente sozinho: pode inte-
grar-se num grupo, pode escrever com um aluno, etc. O que importa é que a turma
sinta que o professor vive, ao escrever, hesitações, alterações, dúvidas, num trabalho
que é de todos.
8. Avaliar formativamente. Na oficina, o professor observa continua-
mente os escritos dos alunos, detectando as suas dificuldades, necessidades, va-
lorizando a sua evolução. Trata-se de uma avaliação que privilegia o aluno en-
quanto indivíduo, enquadrando-se deste modo numa perspectiva de
diferenciação pedagógica.
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3.3. Um Modelo de Oficina: Planificação, Concretização e Avaliação deuma Oficina de Escrita do Sétimo Ano Unificado
Escola Secundária de ValongoLíngua Portuguesa – 7.o B
Docente: Dr.ª Natália Martins
Caracterização da turma:
24 alunos � 12 meninos e 12 meninas
Apetência para a escrita:� Alunos com grandes dificuldades e/ou grande resistência: 12.
� Alunos com algumas dificuldades e/ou alguma resistência: 7.
� Alunos bastante predispostos: 5.
Objectivos:
• Conhecer as etapas a ter em conta no processo da escrita.
• Despertar o interesse pela escrita.
• Desenvolver o gosto pelo acto de escrever.
• Desenvolver a imaginação.
• Promover a criatividade.
• Experimentar percursos pedagógicos que proporcionam o prazer da escri-
ta.
• Individualizar a competência da expressão escrita.
• Proporcionar situações de auto e heterocorrecção.
• Possibilitar a leitura na aula dos textos escritos pelos alunos.
35
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Conteúdos:
• O texto narrativo: o conto – categorias da narrativa.
Esta Oficina de Escrita surge no seguimento do estudo da unidade progra-
mática “O texto narrativo”, na qual foram analisados três contos: O Cavaleiro daDinamarca de Sophia de Mello Breyner Andresen, “Vicente” de Miguel Torga e “Ar-
roz do Céu” de José Rodrigues Miguéis. Nesta oficina serão produzidos textos ten-
do em conta as categorias da narrativa estudadas.
Estratégias/actividades:
1. Diálogo com os alunos
Aspectos a serem focados:
– Definição de oficina de escrita.
– Reflexão sobre as dificuldades em relação à escrita e sobre a capacidade
em relação a esta competência.
– Reflexão sobre a necessidade de se realizarem actividades diferenci-
adas, dados os diferentes níveis de interesse e apetência relativamente à
expressão escrita.
2. Formação de grupos de trabalho
Serão constituídos três grupos, de dois, três ou cinco alunos, consoante as
dificuldades evidenciadas e a disponibilidade demonstrada em relação à expres-
são escrita. Realizarão actividades diferenciadas tendo em conta as suas caracte-
rísticas. Depois de um diálogo sobre as técnicas a praticar numa oficina de escri-
ta, será distribuída uma ficha informativa intitulada “As etapas do processo da
escrita” – ver adiante. Será lida por um aluno e comentada por todos.
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3. Planificação, elaboração e leitura dos textos
As actividades a realizar serão as seguintes:
� Grupo de alunos com grandes dificuldades e/ou grande resistência:
Realização de actividades lúdicas muito simples. É de salientar que,devido às inúmeras lacunas evidenciadas por estes alunos em
relação à escrita e ao facto de não gostarem de escrever, é pre-
ferível propor-lhes actividades deste tipo. Caso lhes fosse so-
licitado que realizassem as actividades que serão levadas a ca-
bo pelos outros grupos, correr-se-ia o risco de eles se mostrarem
completamente desmotivados e de não fazerem absolutamente
nada.
Realizarão estas propostas seis grupos constituídos, cada um deles, por dois
alunos.
As actividades são três: Palavras obrigatórias, Os números e Criando uma personagem. Todos
as farão na totalidade e pela ordem apresentada (ver mais adiante em que
consistem).
� Grupo de alunos com algumas dificuldades e/ou alguma resis-
tência:
Elaboração de uma narrativa a partir de imagens colocadas em
desordem dentro de um envelope. As figuras apresentam-se coladas cada
uma numa cartolina medindo aproximadamente 15 x 20 cm. Os alunos tentarão, nu-
ma primeira fase, ordená-las de modo a que haja uma sequência lógica entre elas.
Numa segunda fase, elaborarão uma narrativa num texto coeso e coerente, depois
de devidamente planificado.
Caso surjam dificuldades na concretização da actividade a partir unicamen-
te das imagens, o(a) docente fornecerá uma ficha de trabalho onde constarão as
imagens do conto colocadas pela ordem cronológica dos acontecimentos, bem
como frases do próprio conto para auxiliar os jovens na produção dos seus tex-
tos.
Realizarão esta actividade dois grupos de dois alunos e um grupo de três.
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� Alunos com poucas dificuldades e bastante predispostos para
a escrita:
Elaboração de um conto a partir de um guião.
Realizará esta actividade um grupo constituído por cinco alunos.
(Nota: Todos os alunos terão conhecimento prévio das tarefas a desenvolver pelos
restantes colegas.)
4. Conversas entre a professora e os alunos
A professora circulará por entre as carteiras de modo a poder observar o tra-
balho realizado e a acompanhar a escrita. Ao mesmo tempo que indica oralmente
aspectos a corrigir, dará indicações específicas de aperfeiçoamento por escri-
to.
5. Correcção de forma individualizada
Esta actividade realizar-se-á em simultâneo com a planificação e elabora-
ção de textos. Haverá reformulações contínuas dos escritos de forma a aperfei-
çoá-los.
6. Leitura e comentário dos textos produzidos
Os textos dos alunos serão lidos sempre que estejam terminados. A leitura
será acompanhada da análise de todo o material intermédio, os rascu-
nhos; o processo de escrita, de correcção e de reescrita será explicado, de prefe-
rência, pelos próprios alunos. Eles serão encorajados a analisar o modo como constroem os seus conheci-mentos.
Materiais
Ficha informativa: “As etapas do processo da escrita”.
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Fichas de trabalho:
– Palavras obrigatórias;
– Os números;
– Criando uma personagem;
– Imagens e passagens do conto “O pescador e a tartaruga”;
– Envelopes contendo pequenas cartolinas nas quais estão coladas imagens
do referido conto;
– Folha com estas imagens apresentadas pela ordem em que os aconteci-
mentos se deram, com legendas em cada imagem;
– Um guião de elaboração de um texto narrativo;
– Papel para escrever (folhas A4 brancas);
– Capas plásticas para colocar todo o material produzido (este material
nunca abandona a escola);
– Esferográfica;
– Dicionários: de Língua Portuguesa e de verbos;
– Máquina de filmar;
– Televisão;
– Vídeo.
Avaliação
Observação directa:
– do empenho dos alunos na realização das actividades propostas, da perti-
nência e qualidade das intervenções;
– da capacidade de aplicar conhecimentos adquiridos;
– da capacidade de autocorrecção;
– do poder de cooperação e entreajuda;
– da criatividade;
– da progressão na produção escrita.
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Observação indirecta:
Através da visualização de partes de aulas filmadas, a realizar nas aulas de
noventa minutos. Os filmes terão como função proporcionar a alunos, forman-
do(a) e formador(a) a possibilidade de se discutir o desenvolvimento da oficina, as-
pectos a melhorar na sua organização, comportamento dos alunos, etc.
Tempo
– Durante 10 tempos lectivos – de 9 a 23 de Abril.
(Na realidade, esta oficina prolongou-se a pedido dos alunos, alguns dos quais
eram, no início, dos mais renitentes em escrever...).
Materiais Distribuídos aos Alunos
I
Ficha Informativa
As etapas do Processo da Escrita
Nas dez aulas que se seguem vamos criar uma oficina de escrita onde pode-
rás praticar as técnicas apropriadas para construir/produzir textos.
1.ª etapa � Pré-escrita/Planificação
Nesta fase registarás, sem grandes preocupações, as tuas primeiras ideias, im-
pressões, intenções...
É neste momento que deves fazer um plano para a produção do teu texto,
ou seja, deves reflectir sobre o que irás escrever e sobre a maneira como irás es-
truturar a tua redacção.
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2.ª etapa � Escrita
Nesta fase darás forma às ideias que surgiram na etapa anterior. Organizá-
las-ás num todo coeso e coerente.
3.ª etapa � Partilha
Revisão/Correcção
O processo de revisão/correcção terá duas operações distintas:
• 1.ª – Procura de defeitos, erros ou imperfeições.
• 2.ª – Revisão ou reformulação.
Neste momento deverás tentar detectar, com a ajuda da professora
e/ou colegas, as imperfeições ou os erros e os defeitos do texto que elaboraste
ou estarás a elaborar e reformulá-los de modo a aperfeiçoar a tua produção es-
crita.
Esta etapa será o momento de entreajuda, de cooperação, de reescrita. Tem
como finalidade tornar o texto mais coerente e correcto. Será, então, uma tarefa de
auto e heterocorrecção.
Poderás, também, ler os teus textos para os teus colegas depois de comple-
tamente revistos.
4.ª etapa � Avaliação
Será a resposta qualitativa do professor ao trabalho realizado por ti e pelos
teus colegas.
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II
Actividades de escrita propostas aos alunos com mais dificuldades e, pornorma, renitentes em escrever
2.1. Palavras Obrigatórias23
� Palavras obrigatórias – Esta actividade consistirá em escrever uma história com vin-
te palavras obrigatórias e produzir um texto, coeso e coerente, em que essas pa-
lavras aparecerão por ordem alfabética. As palavras são escolhidas pelos alunos.
(Se surgirem dificuldades na concretização desta actividade, poder--se-ão fa-
zer as modificações que se considerem oportunas. Por exemplo, se algum aluno
não for capaz de elaborar um texto com as palavras que escolheu, por ordem alfa-
bética, ser-lhe-á dada a possibilidade de o escrever na ordem que ele considere ade-
quada, pois assim continuará motivado para a escrita; no caso de algum aluno não
conseguir escrever o texto com as vinte palavras, este número poderá ser reduzido).
Primeira Etapa
Escreve rapidamente vinte palavras que te vierem à cabeça:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Quando tiveres concluído esta actividade passa para a segunda etapa.
42
(23) Adaptado a partir de Balazard, Sophie e Gentet-Ravasco, Élisabeth, L’Atelier d’Expression et d’Écriture au Collège, Paris,
Armand Colin, 1998, p. 20.
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Segunda Etapa
Coloca as palavras referidas na primeira etapa por ordem alfabética:
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Quando tiveres terminado passa para a terceira etapa.
Terceira Etapa
Elabora um texto que contenha as palavras da segunda etapa na ordem
em que surgem.
2.2. Os Números24
� Os números – Com esta actividade, pretende-se que o aluno escreva um texto livre
que contenha a maior quantidade de números possível.
1. Completa o texto que te é apresentado com os números
seguintes:
sexto 60 dois Três quatro dois duas sexto
três dois Uma 1974 trinta e cinco dois um dois
quinze duas quatro dois quinto 25 quarta dois
Faltavam ________minutos para as ________e __________, nem há ________
segundos, talvez ________, que eu tinha entrado no meu T ________ com os meus
________ gatos, quando ouvi ________ barulhos provenientes do ________
andar. Eu moro no ________, portanto, por baixo. ________, não, ________ pes-
43
(24) Adaptado a partir de Balazard, Sophie e Gentet-Ravasco, Élisabeth, L’Atelier d’Expression et d’Écriture au Collège, Paris,
Armand Colin, 1998, p. 29. No apêndice 14, pp. 101-103 e 109-110, podem ver-se os rascunhos, as indicações de rees-
crita e o texto final relativo a esta actividade escrito por dois alunos.
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soas, desciam em ________ as escadas, saltando ________ degraus de cada vez.
________ dias antes, o meu vizinho do ________, que vive sozinho, tinha-me avi-
sado que ia de férias por ________ dias. Este barulho não era normal. Segui os
________ indivíduos depois de fechar em casa os meus ________ gatos. Moro no
número ________ da rua _______ de Abril de ______. O prédio está em frente a
______ grande jardim por onde os _______ patifes fugiram.
2. Depois de teres completado o texto anterior, destapa a parte se-
guinte:
�
Encontrarás aqui a versão original do texto em cima apresen-
tado; compara-a com a tua.
Faltavam dois minutos para as duas e trinta e cinco, nem há dois segun-
dos, talvez quatro, que eu tinha entrado no meu T três com os meus dois gatos,
quando ouvi dois barulhos provenientes do sexto andar. Eu moro no quinto, por-
tanto, por baixo. Uma, não, duas pessoas, desciam em quarta as escadas, saltan-
do quatro degraus de cada vez. Três dias antes, o meu vizinho do sexto, que vive
sozinho, tinha-me avisado que ia de férias por quinze dias. Este barulho não era nor-
mal. Segui os dois indivíduos depois de fechar em casa os meus dois gatos. Moro
no número 60 da rua 25 de Abril de 1974. O prédio está em frente a um grande jar-
dim por onde os dois patifes fugiram.
3. Escreve tu também um texto em que incluas a maior quan-
tidade de números possível.
Poderás utilizar, se quiseres, uma das seguintes sugestões:
– Um diálogo entre uma empregada de caixa e um cliente.
– Uma receita de cozinha.
– Um diálogo entre um pai e um filho/uma filha sobre as notas do segun-
do período.
– Uma aula de matemática.
– Um itinerário.
44
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
45
2.3. Criando uma Personagem25
� Criando uma personagem – Esta actividade consiste em escrever uma história algo in-
sólita.
1. Regista, numa folha à parte, uma resposta para cada uma das
seguintes perguntas. (Deverás numerá-las de 1 a 14. Escreve apenas asrespostas. Tenta ser criativo(a)!).
1. Escreve um nome de pessoa, homem ou mulher.
2. Escreve o nome de um lugar distante.
3. Escreve uma idade qualquer.
4. Anota um espaço de tempo: segundos, horas, meses, anos, décadas, sécu-
los, etc.
5. Escreve um número qualquer.
6. Escreve uma medida em metros de 1 a 5.
7. Escreve um desejo qualquer.
8. Escreve a palavra sim ou a palavra não.
9. Escreve uma cor.
10. Escreve outra cor.
11. Escreve um hábito que classificas como defeito.
12. Escreve um certo valor em dinheiro.
13. Escreve o nome de uma música ou de um grupo musical.
14. Escreve o nome de um lugar muito perto.
(25) Adaptado a partir de Miranda, Simão de, Escrever é Divertido – Atividades Lúdicas de Criação Literária, S. Pau-
lo, Papirus Editora, 1999, pp. 39 a 41.
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2. Transcreve para cada uma das seguintes perguntas as respos-
tas que deste no exercício anterior.
1. Qual é o nome do(a) teu(tua) noivo(a)? ___________________________________
2. Onde se encontraram pela primeira vez? _______________________
3. Que idade é que ele(a) tem? ___________________________________
4. Quanto tempo namoraram? ___________________________________
5. Qual o número dos sapatos dele(a)? ___________________________________
6. Qual é a altura dele(a)? ___________________________________
7. Qual é o maior desejo dele(a)? ___________________________________
8. É bonito(a) e inteligente? ___________________________________
9. Qual é a cor dos olhos dele(a)? ___________________________________
10. Qual é a cor dos cabelos dele(a)? ___________________________________
11. Qual é o pior defeito dele(a)? ___________________________________
12. Quanto dinheiro levarão para a lua-de-mel? ________________________
13. Qual é a canção que gostariam de ouvir no vosso casamento?
___________________________________________________________________________________________
______
14. Onde vai ser a lua-de-mel? ___________________________________________________
3. Baseando-te nas perguntas e nas respostas do exercício 2,
escreve agora um pequeno texto procurando que seja original e di-
vertido.
46
(26) Não se apresentam aqui as outras duas actividades. A primeira, para o grupo intermédio de alunos, está descri-
ta atrás. A segunda, para os alunos mais desenvolvidos, com base num guião, deu origem a um conto com
dezassete páginas manuscritas, quando passado a limpo.
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47
FIM26
Comentário
1. Aquando da planificação, a professora já conhecia os alunos há cerca de
quatro meses. Sabia que a diversificação de propostas era imprescindível para o
sucesso da oficina.
2. Teve o cuidado de explicar muito bem, através do diálogo, a natureza e
os objectivos da oficina, e conseguiu que eles compreendessem e aceitassem a
diferenciação de actividades.
3. Aspecto fulcral foi o da distribuição e análise da ficha informativa “As etapas
do processo da escrita”. Foi lida e comentada por toda a turma, que assim interiori-
zou as regras a serem seguidas.
4. De realçar também o cuidado colocado na selecção de propostas de escri-
ta para os alunos mais desinteressados. Por exemplo, no caso das actividades “Os
números”e “Criando uma Personagem”, depois do trabalho prévio de motivação que
elas implicam, os alunos iniciaram o processo de escrita imediatamente. Já com a pri-
meira proposta, “Palavras Obrigatórias”, houve necessidade de fazer alterações, ali-
ás previstas.
5. A actividade da docente no decorrer da oficina consistiu
principalmente em circular, observar, sentar-se junto dos alunos,
ler, reflectir em conjunto com eles sobre as dificuldades na cons-
trução dos textos, promover a correcção individual ou em grupo,
escrever indicações de reescrita, incentivá-los a lerem os seus tex-
tos, ajudá-los a explicitar para a turma as principais dificuldades
com que se depararam no decurso da textualização...
(27) Todas as oficinas foram filmadas, mas só nesta, por questões de tempo, os alunos viram os filmes.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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6. A avaliação processou-se formativa e continuamente, como previsto. A
avaliação indirecta deveu muito à utilização da máquina de filmar27. As aulas foram
filmadas na quase totalidade. A visualização de partes seleccionadas ocorreu
sempre durante as aulas de noventa minutos. Logo que terminava, a professora
promovia a discussão sobre aspectos focados, desde o empenhamento dos alu-
nos, às brincadeiras. Deste modo os filmes contribuíram para um melhor clima
nas aulas. E serviram, num caso, para que a turma sancionasse o mau comporta-
mento de um colega: envergonhado, pediu desculpa pelo que não podia negar...
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
49
3.4. Outras oficinas28
3.4.1. DO TERCEIRO AO OITAVO ANO
Terceiro ano
Escola básica 1/Igreja N.º 2 – Barreiro – Alfena
Docente: Professora Fátima Ramos
Esta foi a primeira oficina a ser planificada, concretizada e
apresentada aos colegas em formação29. É caso para se dizer que
se começou pelo princípio... Nas sessões tem sido muito criticado
pelos participantes o facto de o conceito de oficina de escrita apa-
recer pela primeira vez nos programas de décimo ano. É pela base
que se deve começar. Espera-se que quando surgirem programas
para os segundo e terceiro Ciclos, para não referir o primeiro, incluam
este tipo de abordagem.
A oficina foi, para o formador que a acompanhou, inesquecível por vários mo-
tivos. Desde logo, porque trabalhou com uma faixa etária que desconhecia. Depois,
porque ficou provado que quanto mais cedo se investir no acompanhamento per-
sonalizado, melhor30. Além disso, pela carga afectiva que trabalhar com meninas e
meninos de oito anos implica. O profissionalismo da docente concorreu para que
a oficina se desenrolasse de um modo muito agradável: pormenores como a música
clássica contribuíram para um clima de distensão e de calma na sala de aula.
A oficina desenvolveu-se ao longo de duas manhãs. Iniciou-se na sequên-
cia de uma unidade de Matemática na qual se tinha estudado o Euro acabado de
(28) Além destas que agora se descrevem, ocorreram mais algumas que aqui se não referem dado que seria in-
formação redundante.
(29) Todas as oficinas, desde a planificação à concretização, foram apresentadas nas sessões presenciais conjun-
tas da oficina de formação. Quase todas foram filmadas e os filmes foram vistos também nessas sessões.
(30) Ver apêndice 4, pp. 81, 82 e 105.
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chegar. A primeira parte, o “Hospital das Palavras”, ocupou-se com o ensino da orto-
grafia; a segunda, denominada “Ao Encontro da Fantasia”, implicou a escrita.
A professora distribuiu aos alunos um pequeno texto intitulado “O Amigo
Euro”, que estava no Hospital das Palavras e precisava de ser curado. Começava
assim: “Estaba o novo Euro a chegare a Portugal, quando o seu velho amigo Es-
cudo lhe pregunta: – Amigo Euro, bens para ficar?”. As crianças tinham de identifi-
car os erros. Fez-se no quadro uma correcção colectiva na sequência da qual co-
piaram o texto sem erros. A actividade seguinte consistiu em cada aluno
escrever sobre o euro31. Aqui ficam dois exemplos:
O Euro
Como sabem, o Euro vem aí!E o Escudo vai-se embora!São dois amigos bem divertidos, simpáticos e alegres!Mas, digam lá... É pena o Escudo ir-se embora.Mas, esperem lá, o Euro também é uma moeda importantíssima. O Euro despediu-se do Escudo que ia de avião até à terra dele!O Euro, que vinha aí, fez uma festa com a mãe Euro, com o pai Euro,
e com os irmãos Euros também. E assim aquela família foi feliz para sempre!
Maria João
(31) Todos escreveram de boa vontade, tanto este texto como o seguinte. A escrita não deve ser exigida: uma
boa motivação promove a sua aceitação.
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O Euro e o Escudo
Era uma vez o Escudo que foi ao Banco de Portugal para saber emque dia podia ir para lá descansar.
Quando ia a atravessar a passadeira encontrou o Euro e disse-lhe:– Olá, Sr. Euro, está bom?– Estou, e você? – perguntou o Euro ao Escudo.– Vai-se andando... Eu fui ao Banco de Portugal para saber em que
dia podia ir para lá descansar. Sabe quantos anos eu tenho?– Eu não sei, Sr. Escudo, mas cá para mim tem mais de sessenta anos.– Errado, eu tenho noventa e um anos!– Adeus, Sr. Escudo!– Adeus – disse o Escudo.
Cátia Sofia
A segunda parte iniciou-se com a audição pelos alunos de um pequeno
conto fantástico lido pela professora. Depois foram distribuídos aleatoriamente
inícios de textos que eles deveriam continuar, primeiro oralmente, e depois por
escrito, sendo assessorados durante a redacção32. No final leram-se os textos.
Um exemplo:
Início dado pela professora: “Grande discussão ia naquela sala. O que se esta-
ria a passar? Era a televisão que discutia com o rádio. Por que razão seria?”
Para a Soraia Carvalho, o que se passava era o seguinte:
A televisão discutia com o rádio porque queria ter sítio para pôr cas-setes, e o rádio queria ter imagens.
Um dia o rádio disse:– Quero ter imagem!
(32) A professora teve o cuidado de levar algumas actividades simples de escrita para serem feitas pelos que iam
acabando primeiro.
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– E eu quero ter sítio para cassetes – resmungou a televisão. E discutiam os dois muito zangados.Um dia, foi lá a casa um robô arranjar tudo, e logo começou a mexer
na televisão e, por milagre, ela depois de ser montada e desmontada, ficoucom sítio para cassetes! O rádio realizou também o seu sonho que era terimagem a cores.
A partir desse dia eles nunca mais discutiram.E viveram felizes para sempre na sua lindinha casinha, no campo
dos milagres!Grande parte dos textos escritos foram lidos na aula.
Havia na turma um grupo de cinco alunos com muitas dificuldades. Para es-
ses, a professora seleccionou um exercício adaptado às suas características: escrever
um pequeno texto a partir de uma série de imagens.
Quinto ano
Colégio de Nossa Senhora de Lurdes – Porto
Docente: Dr.ª Graça Martins
Nesta oficina trabalhou-se a carta pessoal. A turma integrava um projecto de
correspondência entre escolas. Inicialmente os alunos deveriam elaborar uma car-
ta colectiva para responder a outra do mesmo tipo. No entanto, decidiu-se que ca-
da um escreveria a sua. A oficina foi planificada pela formanda e pelo formador, e
deu-se especial importância à aquisição de mecanismos que permitissem tornar os
textos mais coesos através de um correcto uso dos articuladores discursivos33.
(33) O trabalho de aplicação dos articuladores exige mais que uma aula, como se vê pelo exemplo. Que dizer então de
um livro de ponto onde aparece um sumário, entre aulas relativas a outros conteúdos, onde se pode ler: “Os articu-
ladores do discurso”? Foram “dados”numa aula?! Que trabalho de aplicação se realizou? Por causa de práticas como
esta é que, ao mesmo tempo que decorria a oficina do quinto ano, nas oficinas de décimo e décimo segundo ano,
nas quais se trabalhava o resumo, era notório o desconhecimento dos alunos relativamente a estes marcadores de
coesão textual.
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Na primeira aula de uma série de oito, explicou-se o trabalho a realizar e os
objectivos a atingir. Os alunos nunca tinham passado por uma experiência des-
te tipo em que seriam acompanhados pela professora enquanto escreviam. Só
conheciam a “correcção” diferida no tempo. Forneceu-se a cada um o pla-
no34 de uma carta; algumas planificações foram apresentadas a toda a turma; uma
vez terminadas, as cartas foram lidas pelos seus autores.
Passou-se então a um trabalho de reescrita de modo a integrar determina-
dos articuladores do discurso35. Nesta segunda fase, os alunos trabalharam em
cooperação, uma vez que se formaram pares, e cada um trabalhou com a carta
de um dos elementos. Eliminaram-se metade das cartas: deste modo, a professo-
ra pode atender mais rapidamente as solicitações dos alunos36.
O trabalho de reescrita da carta, de modo a inserir os articuladores, proces-
sou-se assim:
1. Distribuíram-se aos alunos duas cartas pessoais, idênticas às que tinham
escrito, da autoria da professora formanda e do formador. Uma não tinha qual-
quer articulador. A outra apresentava vários. Era a única diferença.
2. Pediu-se aos alunos que descobrissem diferenças entre as cartas relativa-
mente ao vocabulário empregue.
3. Copiaram para uma folha branca as palavras que ocorriam numa carta e
não estavam na outra.
4. Seguidamente foi-lhes pedido que redigissem pequenas frases nas qua-
is aplicassem as palavras que tinham descoberto.
5. A partir da leitura das frases chegou-se à discussão sobre a função destas pa-
lavras e ao reconhecimento da importância da sua correcta aplicação nos textos.
6. Neste momento foi-lhes fornecida uma ficha com os articuladores discur-
sivos37.
(34) É fácil encontrar estes planos nos manuais.
(35) Ver apêndice 5, pp. 83-85 e 105. Pode ver-se parte do processo de escrita e reescrita de uma destas cartas.
(36) Posteriormente, os alunos cujas cartas não foram reescritas com os articuladores, fizeram esse trabalho em
casa.
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7. A etapa seguinte consistiu em reescrever a carta que cada grupo tinha
consigo de modo a introduzir nela correctamente pelo menos três articulado-
res38. Os alunos foram encorajados a discutir entre si os locais de inclusão dos co-
nectivos. Só chamariam a professora em caso de divergência absoluta39.
8. Finalmente, leram-se as cartas40.
No final da oficina fez-se uma entrevista filmada a vários alunos. Foram
questionados sobre aspectos do trabalho em que tinham estado empenhados:
acompanhamento pelo professor, elaboração de planificações, escrita em coope-
ração, leitura dos textos, etc. Recorrentemente referem, como as várias centenas
de professores que já viram o filme puderam constatar, que o aspecto que mais
lhes interessou foi terem aprendido a planificar e a utilizar os conectores. Neste
momento estão no sexto ano. Se continuarem com a mesma professora, é de
crer que este trabalho tenha prosseguido. Se mudarem, ou quando mudarem, é
de prever que estes conhecimentos que agora adquiriram, se venham a diluir e,
só quando necessitarem de elaborar textos como o resumo, tomem de novo con-
tacto com os mecanismos de coesão textual. Tudo isto sucede porque, nunca é de
mais lembrá-lo, as escolas não têm projectos sistemáticos de ensino-aprendiza-
gem da escrita.
(37) Encontra-se este tipo de fichas nos manuais; Ver p. 69.
(38) Um aluno chegou aos nove...
(39) Podiam-se encontrar outras soluções que passassem pela cooperação entre grupos.
(40) Estes materiais têm sido analisados pelos professores participantes nas sessões de formação.
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Escola básica 2/3 S. Lourenço – Ermesinde
Docente: Dr.a Ana Braga
Nesta oficina escreveram-se textos narrativos de dimensão variada. A turma
tinha muitos alunos com dificuldades apreciáveis a vários níveis. A professora op-
tou por apresentar três tipos de actividades adaptadas às suas características. A
primeira, para os alunos com mais renitência à escrita, intitulava-se “Uma história
de terror”. Os alunos podiam ler um pequeno texto desordenado, colocá-lo na or-
dem devida, e continuá-lo, concluindo-o. Ou então, escrever um texto de carac-
terísticas idênticas ao apresentado pela professora. Tanto num caso como no ou-
tro, todos fizeram um plano, e foram acompanhados durante a reescrita. Os
rascunhos ocuparam em média cinco páginas. Escreveram aos pares. Aos outros
alunos coube redigir textos narrativos também, mas de maior complexidade. As-
sim, ao grupo intermédio foi proposta a escrita de uma história seguindo um per-
curso figurativo: dado um conjunto de imagens, seleccionavam algumas e integra-
vam-nas na narrativa. O grupo com mais capacidade redigiu um pequeno conto a
partir de um “Mapa de histórias”41, tipo de grelha com as categorias da narrativa
subdivididas de vários modos.
(41) Todas estas propostas se encontram em Riche, Rosa Cuba e Souza, Denise M., Oficina de Textos – Leitura e Reda-
ção, S. Paulo, Saraiva, 1999, 4 volumes.
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Escola básica 2/3 S. Lourenço – Ermesinde
Docente: Dr. Vítor Neves
Esta oficina desenrolou-se, por questões de calendário, já muito perto do final do
ano, e decorreu durante três tempos lectivos aos quais se somou uma aula de no-
venta minutos de Estudo Acompanhado, uma vez que o formando leccionava tam-
bém esta disciplina. A turma apresentava um nível relativamente homogéneo, mas
não muito desenvolvido. Optou-se por propor alguma diversificação através de exer-
cícios de carácter lúdico que permitissem ao formando acompanhar processual-
mente os seus alunos, o que sucederia pela primeira vez. Seleccionaram-se activi-
dades que originaram a redacção de pequenos textos narrativos: “Palavras
obrigatórias”, destinada aos alunos com mais dificuldades, “Retalhos para tecer his-
tórias”42, para os outros. Os alunos trabalharam em pares e foram acompanhados
através de correcções imediatas com reescritas sucessivas; deu-se muita impor-
tância à planificação43, principalmente na segunda actividade; leram-se textos produ-
zidos.
Durante a planificação da oficina o formando alertou o formador para a existên-
cia de um aluno que apresentava grande dificuldade em escrever. Os seus textos
eram desordenados, sem pontuação, incoerentes, enfim, o costume nestes casos.
Assim sendo, decidiu-se que ele ficaria sozinho e pediu-se-lhe que fizesse o exercício
“Palavras obrigatórias”, o qual, pela sua simplicidade, não apresentaria grandes dificul-
dades. No entanto, quando ele deu o seu pequeno texto por terminado, confirmou-
se o retrato previamente traçado. Alguma coisa tinha de ser feita, e foi.
No apêndice 7, pp. 87-92 e 106, encontram-se os rascunhos e textos elabo-
rados pelo João Paulo. Só o primeiro foi por ele escrito sem qualquer acompa-
nhamento. Se ele o entregasse, seria devolvido “corrigido”, isto é, cheio de riscos e
anotações. E ali terminava tudo. O texto tem sido apresentado, juntamente com tu-
do o que o aluno escreveu depois, nas sessões, e, logo que os professores o lêem, e
sorriem ou abanam a cabeça negativamente, é-lhes pedido que passem imedia-
tamente ao último texto (p. 92). O espanto é sempre grande. Mas a verdade é
que o autor é o mesmo, e entre um e outro medeiam cerca de dois tempos lec-
(42) Retirada de Leão, Margarida e Filipe, Helena, 70 + 7 Propostas de Escrita Lúdica, Porto, Porto Editora, 2001, pp.
142 e 143. Fizeram-se algumas adaptações, e a actividade foi apresentada em ficha elaborada pelo forman-
do.
(43) Ver apêndice 6, pp. 86 e 106.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
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tivos. O Paulo nunca levou os materiais para casa, todo o trabalho de reescrita e
aperfeiçoamento se desenrolou na aula. O trabalho realizado foi o seguinte:
acompanhamento do aluno44 dando-lhe orientações concretas; reescritas sucessivas
do primeiro texto, tentando ordená-lo através do uso do ponto final (p. 88): foi
o momento em que ele apresentou mais dificuldades; comparação entre a primei-
ra versão e a versão com os pontos finais (p. 89 ao cimo); no segundo texto, o alu-
no fez um plano da história que ia contar (p. 90)45; o formador ajudou a comple-
tar o plano (p. 90); finalmente, escreve sozinho a sua história (p. 91) que depois é
passada a limpo (p. 92). O texto final foi lido aos colegas. A satisfação do João
Paulo era evidente.
Este aluno tem sido vítima do desinvestimento na escrita. Não sabendo ex-
primir-se com um mínimo de correcção, apresenta muitas dificuldades perante
uma avaliação eminentemente escrita. Se o João Paulo não tivesse sido acompa-
nhado enquanto escrevia, se não lhe tivesse sido dado tempo para reescrever,
não teria melhorado. Provavelmente acabaria a escolaridade obrigatória a redigir
do mesmo modo que o fazia no início da oficina. Ou nem chegaria a completá-
la: o abandono escolar também passa por aqui.
Uma vez mais, e para terminar, coloca-se a questão: que acompanhamen-
to está a ter o João Paulo este ano?
(44) Não mais de doze minutos no total.
(45) Trata-se agora da outra actividade referida para esta oficina.
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Sexto ano
Escola básica 2/3 S. Lourenço – Ermesinde
Oficina de Escrita
Docente: Dr.ª Ana Fernandes
Também nesta oficina a professora decidiu apresentar propostas diversifica-
das. Ao grupo dos alunos com mais facilidade para escrever, propôs a elaboração
de uma entrevista. Para isso, forneceu-lhes um modelo46. Os alunos analisaram esta
entrevista, seleccionaram as entrevistadas, uma funcionária e uma professora da
escola, e elaboraram um conjunto de perguntas. Posteriormente realizaram a en-
trevista e transcreveram-na, tendo sido apresentada aos colegas. Ao grupo com
mais dificuldades foi proposta a actividade “Palavras obrigatórias”. O grupo intermé-
dio realizou um exercício que consistia em redigir a introdução e a conclusão de
uma pequena narrativa, conhecendo-se o desenvolvimento47. Um aluno consi-
derado muito fraco, trabalhou sozinho com a actividade “Os números”48. A actua-
ção da professora processou-se nos moldes conhecidos, interagindo continua-
mente com os alunos.
A organização dos grupos nesta oficina, como noutras, não fugiu ao modelo
apresentado na de sétimo ano vista atrás. No entanto, podiam ter-se organizado
os grupos de modo diferente, procurando entre eles maior heterogeneidade, que
possibilitasse o trabalho em cooperação.
(46) Cf. Riche, Rosa Cuba e Souza, Denise M., Oficina de Textos – Leitura e Redação, S. Paulo, Saraiva, 1999, vol. I, pp. 120
e ss.
(47) Idem, pp. 118 e 119.
(48) Ver apêndice oito, pp. 93-95 e 106-107.
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Oitavo ano
Escola Secundária de Ermesinde
Docente: Dr.ª Lisete Matias Pinheiro
Esta oficina, que se desenvolveu ao longo de doze tempos lectivos, com as
férias da Páscoa de permeio, decorreu no seguimento do estudo do texto narrati-
vo. O conto estudado foi “Kachtanka” de Tchékhov49. A partir da estória desta ca-
delinha, os alunos empenharam-se na escrita de uma carta cujo autor seria uma
cadela perdida e triste por não saber regressar a casa. Forneceram-se aos alunos,
que escreveram dois a dois, várias fichas relativas à estrutura da carta pessoal 50. Ao
mesmo tempo, a formanda e o formador redigiram uma carta idêntica que dis-
tribuíram, e que serviu como motivação para desencadear a escrita. Foi ainda fa-
cultada uma ficha de correcção da “Carta de uma cadela perdida”, a qual apresen-
tava uma série de aspectos a serem analisados pelos alunos, como “Planifiquei o
texto”, “Fiz referência ao local e à data”, entre muitos outros.
Um dos momentos da carta era a descrição que a cadela fazia de si própria. A
leitura das descrições escritas pelos alunos foi o ponto de partida para um estudo mais
intensivo deste tipo de texto, e para a elaboração de textos descritivos: assim se ocu-
pou a segunda parte da oficina.
A formanda organizou um conjunto de pequenas descrições de autores co-
mo João de Araújo Correia, Francisco Coloane, Isaac Asimov, Robert L. Stevenson.
Foram lidas e analisadas exaustivamente pela professora e pelos alunos de mo-
do a detectar todas as marcas linguísticas específicas da descrição. Foi um tra-
balho muito bem feito, permitindo aulas participadas, e contribuiu fortemente
para o que se seguiu: o entusiasmo com que os alunos se lançaram à escrita.
Uma vez mais se prova que é errado exigir a escrita. Ela pressupõe um trabalho
de motivação que pode passar pela diferenciação, ou, como neste caso, em que
a turma era homogénea, pelo investimento feito pela docente na análise das
marcas próprias do texto a escrever. Actividade muito apreciada pelos alunos foi
a que se realizou tendo como objectivo reconhecer a importância do adjectivo na
descrição:
(49) Tchékhov, Anton, Contos, Lisboa, Presença, 2001, vol. I, pp. 221 a 244.
(50) Encontram-se facilmente nos manuais exemplos destas fichas.
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– Divide-se a turma em vários grupos, quantos se quiser.
– Escreve-se no quadro uma lista com cerca de dez palavras que possam
ser compreendidas como objectos adjectiváveis. Exemplos: árvore; mãos; ave;
sorriso; sono; calor; escola; rapariga; rapaz.
– De posse de canetas e papéis, estabelece-se um tempo para que os alu-
nos libertem a imaginação e busquem associar a cada palavra a maior quantida-
de de adjectivos, facultando-se o uso de uma lista muito variada de adjectivos.
– Ganha o grupo que conseguir aplicar com propriedade o maior núme-
ro possível de adjectivos da lista e outros.
Forneceram-se aos alunos várias fichas relativas à técnica da descrição, ini-
ciou-se o trabalho de escrita por exercícios simples em que, a partir de pequenas des-
crições, os alunos escreviam outras idênticas.
Depois deste trabalho, passou-se aos exercícios de produção.
Eis algumas das propostas apresentadas:
Actividade 151
Na aula, dois alunos vão à janela, um depois do outro, observam e escre-
vem dois textos independentes. Depois, trabalham em grupo para produzir
um texto único.
Observação: 1. Embora o objecto referencial descrito seja o mesmo, os
elementos descritivos retidos não são os mesmos e não aparecem pela mes-
ma ordem. 2. Este exercício permite ver como a descrição é uma actividade
selectiva e construtiva.
Empregam-se obrigatoriamente marcadores como: à esquerda, ao lon-ge, mais para o lado direito, por cima, em baixo, lá ao longe, etc.
Actividade 252
(51) Ver apêndice 9, pp. 96 e 107.
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Criação de um ser “fantástico”.
A partir de um texto-modelo construído com base em negações, os alunos
constroem outro com as mesmas características.
Texto de partida:
No decurso de uma expedição noutro planeta, os Terráqueos descobrem
uma paisagem cujo aspecto lhes é desconhecido, o que obriga o autor a descre-
ver “por defeito”em referência ao mundo conhecido:
O que eles tinham chamado uma cidade não se parecia na reali-dade nada com as cidades da Terra. Grandes montes sombrios, comaspecto de escovas, mergulhavam até uma profundidade desconhecidaem dunas movediças; tudo aquilo não se parecia com nada conhecidopelos olhos humanos. As suas formas indefinidas atingiam a altura devários andares. Aquela coisa não tinha nem janelas, nem portas, nemmesmo paredes.
Empregam-se obrigatoriamente expressões como: “não parecia nada”, “o as-
pecto era completamente desconhecido”, “não tinha forma humana”, “nenhum
animal conhecido tinha aquela forma”, etc.
(52) Estes dois exercícios foram adaptados pela formanda a partir de sugestões de Adam, J.-M. e Petitjean, A., Le
Texte Descriptif, Paris, Nathan, 1989, pp. 195 e ss.
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Actividade 353
Fala-me dele/dela.
Objectivo: ser capaz de redigir um retrato segundo duas perspectivas
opostas.
Desenvolvimento: O professor pede aos alunos para pensar numa pes-
soa que eles conhecem muito bem. Em seguida preparam dois textos que a
apresentem: no primeiro, é o seu melhor amigo que a descreve; no segun-
do, é alguém que não gosta nada dela.
Conselhos: é muito importante definir bem esta pessoa para poder
falar dela o melhor possível. Além da sua idade, do seu nome, da sua activida-
de ou profissão, é importante precisar bem os seus defeitos, as sua qualida-
des, as suas paixões, o seu modo de viver.
Variantes: a) descrição de uma cidade;
b) descrição de um animal.
Pediu-se aos alunos que trouxessem de casa recortes de revistas com paisa-
gens, figuras humanas, animais, etc., que poderiam servir para integrar as des-
crições.
Para todos os textos a elaborar foi exigido um plano cuja estrutura a
professora explicou através de esquemas feitos no quadro. O seu trabalho de-
senvolveu-se acompanhando os alunos enquanto escreviam, circulando pela
sala continuamente, observando os rascunhos, dando indicações precisas de
reescrita, promovendo a leitura dos textos.
(53) Adaptado a partir de Balazard, Sophie e Gentet-Ravasco, Élisabeth, ob. cit., pp. 31 e 32. Deste livro foram ainda apre-
sentadas as actividades “O manual escolar” (p. 38) e “História de Família” (p. 49). Ver no apêndice 10, pp. 97 e 108, o
plano de uma descrição deste tipo elaborado por duas alunas.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
63
3.4.2. ENSINO SECUNDÁRIO
Décimo primeiro ano54
Escola Secundária de Ermesinde
Docente: Dr. Joaquim Oliveira
Esta oficina padeceu do mesmo mal de todas as realizadas com alunos do
Ensino Secundário: a falta de tempo. De facto, os formandos que leccionavam
este nível não puderam disponibilizar mais do que três tempos lectivos em mé-
dia.
Pretendeu-se proporcionar aos alunos a possibilidade de se debruçarem
sobre respostas que tinham redigido nos testes, de modo a reescrevê-las, depois
de um trabalho prévio de detecção de erros de estruturação.
Descreve-se seguidamente o desenrolar da oficina:
1. O professor seleccionou um conjunto de testes onde se encontra-
vam respostas com vários tipos de erros.
2. Foi explicado aos alunos o objectivo do trabalho a realizar. Consta-
tou-se que para todos esta prática era novidade: a correcção era por eles en-
tendida principalmente ao nível dos conteúdos literários, e não das estruturas
linguísticas.
3. Os alunos foram agrupados em pares.
4. As respostas seleccionadas para serem reparadas foram distribuídas
aleatoriamente.
5. Os alunos leram as respostas.
6. Copiaram-nas para uma folha em branco.
(54) A oficina de Décimo ano apresenta-se adiante com outras que se debruçaram sobre o mesmo tipo de tex-
to: o resumo.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
64
7. Seguidamente seleccionaram as partes das respostas que entendi-
am estar mal estruturadas. De referir que a escolha foi feita, por regra, acertada-
mente, sem a participação dos professores.
8. Os alunos discutiram depois entre si as alternativas de revisão. Raras ve-
zes chamaram os professores.
9. Reescreveram em seguida as frases mal estruturadas ou articularam
frases e parágrafos.
10. Reescrita das respostas na totalidade.
11. Distribuição de uma folha com articuladores discursivos e explicação
da sua função.
12. Aplicação de alguns articuladores e nova reescrita.
São os alunos, aos pares, que dialogam sobre os erros de construção frásica ou
outros, e que propõem soluções55. Eles apresentam alguma competência nesta
área. Foram, por si sós, capazes de resolver problemas de textualização. De onde se
conclui que muitos erros se devem não ao desconhecimento do funcionamento da
língua, mas ao pouco tempo que o teste lhes deixa para rever e aperfeiçoar o tex-
to. Foi pena que o docente não tivesse podido disponibilizar mais aulas para con-
tinuar a oficina: teria sido interessante que os textos reparados tivessem sido apre-
sentados a todos e comparadas as versões iniciais com as finais.
(55) Ver no apêndice 11, pp. 98 e 108, uma resposta do teste e o mesmo texto depois de reparado por um par
de alunos.
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Escola Secundária Filipa de Vilhena – Porto
Décimo segundo ano
Docentes: Dr.a Maria Lúcia Faria, Dr.a Maria José Taborda,
Dr.a Margarida Maria Magalhães, Dr.a Glória Adelaide Castro
Escola Secundária de Ermesinde
Décimo ano
Docente: Dr. João Barbosa
Escola Secundária de Gondomar
Ensino recorrente nocturno – Secundário
Docente: Dr.a Maria Luísa Meireles
Oficinas de escrita: o resumo
I
O resumo foi um tipo de texto trabalhado com alunos do Ensino Secundá-
rio. Foram oficinas muito curtas, três tempos lectivos em média, pois não se pode
disponibilizar mais tempo devido aos muitos conteúdos a leccionar.
Na sequência de uma sessão de formação que realizou na Escola Secundá-
ria Filipa de Vilhena, em 14 de Novembro de 2001, o autor deste trabalho foi contac-
tado por um grupo de professoras de Décimo segundo ano interessado em levar
a cabo uma oficina de escrita na qual se trabalhasse o resumo, numa perspecti-
va de trabalho idêntica à apresentada pelos novos programas.
A preparação implicou várias reuniões. Nelas estiveram presentes professo-
res que, mais tarde, abandonaram o projecto porque acharam que não podiam
disponibilizar tempo, três, quatro aulas, para a oficina. A planificação foi realizada
pelo formador e por quatro professoras. Este trabalho, o contrário da prática
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
66
habitual de individualismo didáctico, consistiu no seguinte, no decorrer de
várias reuniões:
1. Selecção de textos para resumir e de outros materiais relevantes, co-
mo fichas de articuladores do discurso.
2. Elaboração individual de dois resumos.
3. Leitura.
4. Debate sobre aspectos vários em que havia discordância.
5. Apresentação, em comum, dos momentos em que os professores ti-
veram mais dificuldades.
6. Propostas variadas de soluções relativas à textualização dos resu-
mos.
7. Reescrita individual dos resumos.
8. Leitura.
9. Debate sobre as capacidades dos alunos e principais dificuldades.
10. Debate sobre a metodologia a seguir durante as aulas: promover o
hábito de planificar o resumo; acompanhamento no acto de escrever: interac-
ção entre professor e aluno oralmente e através de indicações escritas de re-
escrita claras e objectivas; interacção aluno/aluno (no trabalho em pares).
11. Promover nos alunos o hábito de comparar os textos a reparar com
as versões reescritas.
12. Possibilitar o intercâmbio dos resumos não só quando se dá o traba-
lho por terminado, mas também durante o mesmo.
13. Possibilitar o acompanhamento de alunos com muitas dificuldades
por colegas com o domínio da técnica do resumo.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
67
14. Promover a leitura dos resumos.
15. Calendarização das oficinas de modo a possibilitar a presença do
formador.
16. Necessidade de se avaliar o trabalho realizado no decorrer das ofi-
cinas e no final.
17. Possibilidade de se fazer uma exposição com os textos intermédios e
finais.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
68
II
Na oficina de Décimo ano, que decorreu durante quatro tempos lectivos, o
professor acompanhou os alunos numa perspectiva de interacção contínua, pro-
movendo práticas como: apresentar problemas de textualização gerais à turma;
colocar em comum soluções de continuação de texto interessantes encontradas
pelos alunos; reflectir em conjunto sobre as dificuldades de escrita ao nível da es-
truturação discursiva e sobre a utilidade dos articuladores neste domínio; promover
o trabalho por pares, de modo a possibilitar o intercâmbio de textos e a hetero-
correcção; promover a leitura dos resumos quando terminados. A oficina foi tam-
bém planificada dentro dos parâmetros vistos para a anterior. O formando deu
especial ênfase à estruturação dos resumos de um modo coeso. Para atingir este
objectivo, elaborou uma ficha com articuladores do discurso, idêntica à que se se-
gue56, que foi distribuída aos alunos e que os ajudou no processo de reescrita.
(56) Fornecida aos alunos pela Dr.ª Maria Luísa Meireles no âmbito da pequena oficina que realizou com alunos do
Ensino Recorrente nocturno na Escola Secundária de Gondomar e na qual se trabalhou o resumo.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
O Modelo Processual: Oficinas de Escrita
Articuladores do discurso
69
Ideia a exprimir
Articuladores que
não introduzem
orações
subordinadas
Ideia a exprimir
Articuladores
que introduzem
orações
subordinadas
Explicitar isto é, ou antes, nes-
te caso, por vezes,
etc.
Tempo quando, depois que,
antes que, em se-
guida...
Provar com efeito, sem dú-
vida, na
verdade, deste mo-
do, etc.
Causalidade porque, visto que,
dado que...
Exemplificar por exemplo,
assim, a salientar...
Fim para que, a fim de
que, para...
Reforçar ideias além disso, por esta
razão...
Condição se, a não ser que,
desde que,
supondo que...
Restringir ideias mas, no entanto, to-
davia,
sobretudo…
Consequência portanto, de
modo que, de
forma que...
Concluir finalmente, em con-
clusão,
consequentemente
Concessão embora, ainda que,
por mais que...
Comparação como, assim
como, segundo, tal
como...
N.B.: Além da adequação, sequencialização, pertinência, coesão e correcção, um re-
sumo deve apresentar as ideias logicamente articuladas, de modo a evitar contradições, re-
petições inúteis e saltos bruscos de conteúdo. Esta ligação é feita pelos articuladores do discur-so.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
O formando elaborou ainda outra ficha de trabalho que auxilia os alunos a dis-
tinguir as ideias principais das acessórias, a ser utilizada durante a planificação do re-
sumo, e ainda uma terceira relativa à autocorrecção57.
3.4.3. ENSINO RECORRENTE
Escola Secundária de Ermesinde
Docente: Dr.a Conceição Moscoso
As oficinas realizadas com alunos do Ensino Recorrente foram muito curtas:
preocupados em capitalizar unidades, não lhes é fácil aceitar a utilização de al-
gumas aulas para realizar uma actividade não prevista no programa.
A oficina que se descreve seguidamente teve como objectivo primeiro pro-
mover a aceitação da escrita nos cinco alunos envolvidos. Dois eram muito reni-
tentes em escrever, e foi pensando principalmente neles e no modo de os des-
bloquear, que a oficina foi – bem – pensada.
O formador participou numa dupla qualidade: por um lado, como “aluno”,
uma vez que escreveu o seu texto, já que os discentes foram agrupados por “ca-
sais” e só havia dois cavalheiros para três senhoras; por outro, como professor, ao
acompanhar o processo de reescrita de um aluno com muitas dificuldades.
Desenvolvimento da oficina:
1. A cada aluno foi entregue uma fotografia de um homem ou de uma mu-
lher: os homens receberam fotos de senhoras, e vice-versa.
2. No momento seguinte, cada aluno descreveu oralmente a pessoa retrata-
da. A fotografia era só do seu conhecimento. Indicava características físicas e psicoló-
gicas, atribuía-lhe uma identidade, uma profissão, gostos, etc.
2.1. Depois de descritas as seis pessoas, organizaram-se “casais” tendo em
conta as afinidades e os gostos de cada personalidade.
3. Distribuíram-se, depois, fotografias de monumentos de várias cidades
como Londres e Paris, outras de lugares turísticos famosos, paisagens tropicais,
70
(57) Ver no apêndice 12, rascunhos provenientes desta oficina – pp. 99 e 108-109.
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
outras de objectos como um cacho de uvas, uma garrafa de Porto vintage, uma
máquina fotográfica, uma mala, uma máquina de filmar, etc.
4. Cada aluno devia escrever ao par uma carta de amor na qual aludisse a um
monumento, um lugar e um objecto representado nas fotos.
5. Antes do início da escrita distribuiu-se pelos alunos uma carta de amor
de Fernando Pessoa que foi lida em conjunto; leu-se também o poema de Álva-
ro de Campos onde se afirma que “Todas as cartas de amor são/Ridículas” e dis-
cutiu-se se eram ou não...
6. Entregou-se também um plano da carta contendo os aspectos a serem
desenvolvidos: nome, características físicas, maneira de ser, maneira de viver, gos-
tos e expectativas amorosas, bem como outra ficha relativa à estrutura deste tipo
de texto.
7. A escrita desencadeou-se imediatamente num clima de descontracção:
todos os alunos aceitaram bem o trabalho e no final as cartas foram lidas.
Um dos problemas colocados por muitos professores nas sessões de forma-
ção diz respeito ao elevado número de alunos que não gosta de escrever e se re-
cusa a fazê-lo. Uma vez mais se comprova que a preparação rigorosa e adapta-
da às características dos alunos – neste caso, adultos na casa dos trinta anos –
contribui fortemente para que percam o receio em escrever e para que a apren-
dizagem tenha significado. A experiência mostra que, para os alunos que não que-
rem escrever, a criação de um clima propício ao desencadear da escrita e a interac-
ção com outros, contribuem para que passem a ver o trabalho nesta área de um
modo positivo. Numa oficina, o simples facto de observar a maioria empenhada em
escrever, promove a vontade de escrever também. Esta realidade constatou-se fre-
quentemente.
71
Cadernos do CRIAP | 38 | Oficinas de Escrita
3.4.4. APOIO EDUCATIVO
Escola Básica 2/3 de Pedrouços – Maia
Docente: Dr. Joaquim Sampaio
Esta oficina, a última a levar-se a cabo, realizou-se já no fecho do ano esco-
lar, por motivos de calendarização, de modo a que permitisse a presença do for-
mador.
Tratou-se de uma pequena oficina, pois decorreu ao longo de quatro tempos
lectivos, e nela trabalharam quatro alunos do terceiro ciclo com Apoio Educativo.
Os alunos apresentavam um historial de insucesso e muitas dificuldades ao
nível da expressão escrita: ortografia, mas principalmente motivação para escre-
ver, estruturação sintáctica, articulação discursiva. Como objectivos principais, a
oficina pretendeu motivar para a escrita e desenvolver esta competência. Como
estratégias, acompanharam-se os alunos no acto de escrever e promoveu-se a au-
to58 e a heterocorrecção. Esta última actividade foi muito apreciada. Deu-se impor-
tância à comparação que os alunos foram incentivados a fazer entre as versões ini-
ciais, intermédias e finais, de modo a poder constatar a sua evolução.
Como actividades de escrita optou-se pela elaboração de pequenos textos
narrativos e, num caso, pela redacção de notícias curtas. Relativamente a este aluno,
propôs-se a elaboração de duas com base na proposta designada “Casos do dia”59; os
outros escreveram a partir das sugestões indicadas atrás: “Palavras obrigatórias”e “Os
números”.
O exercício proposto ao primeiro aluno consistiu no seguinte:
72
(58) Ver apêndices 2 e 13, pp. 78, 79, 100, 104 e 109.
(59) Apresentada sob a designação Fait divers por Balazard, Sophie e Gentet-Ravasco, Élisabeth, ob. cit., p. 41.
(adaptada).
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Casos do Dia
Objectivo: Escrever um pequeno texto do tipo dos “casos do dia”.
Desenvolvimento: Na sequência da leitura de vários “casos do dia” tira-
dos de diferentes jornais60, os alunos tentam compreender os aspectos estilísti-
cos que caracterizam este género jornalístico particular (objectividade, descri-
ção do desenrolar do acontecimento, vocabulário). Cada aluno deve depois
redigir, individualmente, um caso do dia respeitando um tema indicado pelo
professor.
Exemplos:
1. Desaparecimento do cãozinho de uma estrela de cinema. Felizmen-
te, o animal é encontrado algumas horas mais tarde.
2. Acção heróica de um bombeiro que salva um bebé das chamas.
3. Cena de pancadaria na sequência de uma discussão entre vários vizinhos
de um bairro.
Conselho: O aluno deve descrever os factos tal e qual, sem acrescentar
qualquer juízo de valor.
O acompanhamento individualizado dos alunos permitiu constatar o que
tantas vezes se comprovou no decurso das oficinas: se tivessem usufruído da
atenção dos professores no acto de escrever, e não tivessem passado pela consabi-
da situação de escrever sistematicamente sozinhos, sem lhes ser possibilitada a re-
escrita, num processo de ensino-aprendizagem que tem de ter os dias contados,
não estariam por certo na situação em que se encontravam.
Esta foi a única oficina na qual foi permitido aos alunos levar os materiais pa-
ra casa. Procedeu-se assim porque o tempo para escrever e reescrever na escola
era escasso.
73
(60) Trazidos para a oficina pelo aluno.
Apêndices e comentários
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76
Apêndice 1
Inquérito aos Alunos
No final desta oficina vais responder a algumas questões sobre o seu fun-
cionamento com os seguintes objectivos:
– Compreender a especificidade de uma oficina de escrita.– Analisar o modo como decorreu.– Indicar os aspectos mais positivos.– Apontar aspectos a melhorar no futuro.– Perspectivar mudanças em futuras oficinas.
1. Nesta oficina tiveste, sempre que possível, o apoio do professor no mo-
mento em que escrevias. Ao longo da tua vida de estudante escreveste muitas
vezes sozinho. Preferes escrever acompanhado pelo professor ou sozinho?
Isto é, preferes ser corrigido quando escreves ou que a correcção seja feita mais
tarde? Justifica a tua opinião.
2. Durante esta oficina pudeste frequentemente discutir o texto que
estavas a escrever com um/a colega. Achas que esta possibilidade que ti-
veste contribuiu para que o acto de escrever fosse mais fácil e agradável para ti, ou,
pelo contrário, terias gostado mais de escrever sozinho? Justifica a tua
resposta.
3. Lê com atenção a lista que se segue relativa ao funcionamento da oficina
e, depois, indica os três que consideras mais positivos.
• Barulho/ruído.
• Escrever em conjunto com um colega.
• Leitura dos textos escritos na oficina.
• Planificação do texto antes de o escrever.
• Apoio individualizado do professor.
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77
• Importância dos rascunhos/reescritas.
• Precisar do professor e ele demorar muito porque está com outros cole-
gas.
• Não poder levar os materiais para casa.
4. Indica agora também os três aspectos que para ti foram mais
negativos.
5. Imagina a resposta à última pergunta deste diálogo entre dois
alunos desta escola do 6.o ano e de turmas diferentes:
João: – Olá, Pedro! Vou para a aula de Português.
Pedro: – Ainda é a oficina de escrita? Nunca mais acaba...
João: – Acaba amanhã.
Pedro: – Mas diz-me lá, o que é isso de oficina de escrita? O meu pro-
fessor nunca falou disso. Explica lá...
João: –
Obrigada pela tua colaboração!
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Apêndice 2
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Apêndice 3
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Apêndice 4
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Apêndice 5
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Apêndice 6
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Apêndice 10
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Apêndice 11
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Apêndice 12
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Apêndice 13
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Apêndice 14
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104
Apêndice 2
Comentário:
Versão A: início de texto sem qualquer ponto final. Seleccionou-se o pri-
meiro parágrafo para ser reescrito com a introdução de três pontos finais. Expli-
cou-se ao aluno a função deste sinal de pontuação e ele colocou-os correcta-
mente sem mais intervenção do docente – versão B. Versões A1 e B1: o
professor pediu-lhe que escrevesse uma vez mais as duas versões que foram por
ele comparadas. Em seguida, os restantes alunos tiveram acesso a fotocópias com
este trabalho de reescrita que foi por todos analisado.
De notar ainda a questão da ortografia: ela foi vista de início, mas es-
ta não foi a prática habitual nas oficinas. A ortografia não era o principal proble-
ma do escrito do aluno. Repare-se, também, que ele conseguiu escrever correc-
tamente três das quatro palavras sem qualquer auxílio.
(Aluno do 6.o ano – Escola Básica 2/3 de Pedrouços – Apoio Educativo).
Apêndice 3
Comentário:
Como seleccionar uma parte de texto para ser reparada: delimitação pelo pro-
fessor da parte a ser reescrita com [...]. Ao aluno pediu-se que copiasse o texto tal
e qual para depois o ler com atenção e inserir a pontuação indicada. Ao copiar o
primeiro texto, ele procedeu como muitos outros nas mesmas circunstâncias:
começou a fazer correcções com sentido por conta própria! No entanto, não
conseguiu, por si só, inserir dois pontos finais. O último texto, no qual eles apare-
cem, foi reescrito em cooperação com um colega. De notar que colocaram não
dois pontos finais, como lhes tinha sido pedido, mas três.
Nesta reescrita só se trabalhou este sinal de pontuação.
(Alunos do 5.o ano – Escola Básica 2/3 de S. Lourenço – Ermesinde).
Apêndice 4
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Comentário:
Versão A: escrita inicialmente sem qualquer pontuação. Explicou-se à me-
nina a função do ponto final e ensinou-se onde colocar o primeiro. Foi-lhe pedi-
do depois que tentasse aplicar correctamente os que entendesse. Quando o pro-
fessor viu de novo o texto, verificou que ela empregara os outros. Na versão A
podem ver-se ainda os pontos finais seguidos de minúscula. Em seguida, depois
de felicitada pelo que conseguira, a aluna copiou de novo o texto – versão B.
(Aluna do 3.o ano – Escola Básica 1/Igreja N.o 2 – Barreiro – Alfena).
Apêndice 5
Comentário:
Processo de reescrita de uma carta de modo a incluir vários articulado-
res.
Versão A: Carta escrita depois de elaborado um plano inicial.
De notar, no final, a indicação de reescrita da professora, após seleccionar
com [...] o texto a melhorar, “Refazer esta frase”, articulada com um sinal, uma se-
ta. Se não existisse a seta, de pouco valeria a indicação, pois seria muito vaga. Re-
pare-se que a aluna reescreveu correctamente, inserindo ainda uma vírgula.
Versão B: A mesma carta na sua versão final, ainda sem se terem introdu-
zido articuladores. A aluna procurou os locais para os colocar, depois do trabalho
explicado atrás.
Versão C: carta reescrita com os conectivos. A aluna esqueceu-se do últi-
mo...
(Aluna do 5.o ano – Colégio de Nossa Senhora de Lurdes – Porto).
Apêndice 6
Comentário:
106
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Planificação elaborada por duas alunas, trabalhando em cooperação, antes de
escreverem uma pequena narrativa com base na proposta de escrita lúdica “Re-
talhos para tecer histórias”.
A história a “tecer” tinha de incluir os elementos numerados em baixo de 1
a 5, pela ordem que elas entendessem.
O papel do docente, nesta fase do processo, é interagir com as alunas de mo-
do a tornar o plano o mais completo possível – cf. as duas setas relativas à “sala
de dança”.
(Alunas do 5.o ano da Escola Básica 2/3 de S. Lourenço – Ermesinde).
Apêndice 7
O comentário a este processo de reescrita encontra-se nas páginas 56 e 57.
Nos rascunhos 1 a 3, trata-se do exercício “Palavras obrigatórias”; nos rascunhos 4
a 6, trata-se da actividade “Retalhos para tecer histórias”. Relativamente a este exer-
cício, o professor só assessorou o aluno na elaboração do plano.
(Aluno do 5.o ano – Escola Básica 2/3 de S. Lourenço – Ermesinde).
Apêndice 8
Comentário:
Rapidamente se constata que o Pedro apresenta grandes dificuldades.
Rascunho 1: Trata-se da actividade “Os Números”. Selecção do início do
texto para ser reparado – linha 1. O aluno copia essa parte, ao fundo, e o profes-
sor escreve a indicação de reescrita muito geral “tenta melhorar”. A indicação é va-
ga propositadamente: trata-se antes de mais de promover a autoconfiança de um
aluno desmotivado para a escrita. Ele reescreve correctamente usando um pon-
to final. É encorajado com um “muito bem!”. Não acentuou “as” e, aparentemente,
começou com minúscula... Estes aspectos não foram abordados pelo professor,
eram de importância menor neste momento. Teriam sido tratados mais tarde, se ti-
vesse havido tempo.
107
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Rascunho 2: Indicações de reescrita objectivas: “Eliminar o que está repetido”
e “Escrever duas frases separadas por ponto final”. Repare-se que a palavra errada-
mente escrita com maiúscula “Bocado”não interessou ao professor neste momento,
nem “sonho” em vez de “sono”. A limpeza destas excrescências é realizada no mo-
mento final. Muito mais importante é ocupar-se com aspectos relativos à pontuação,
à coesão, ou à coerência61. O aluno executou a tarefa que lhe foi pedida, tendo opta-
do por uma reescrita pessoal que se revelou correcta. Foi outra vez encorajado... De-
pois, seleccionou-se uma parte maior do texto para ser pontuada.
Rascunho 3: O Pedro escreveu com propriedade uma série de frases cur-
tas separadas por ponto final.
A aprendizagem da escrita pelo Pedro talvez tenha “comesado” nesta ofici-
na. Não houve tempo para mais. Como estará o Pedro este ano? Algum professor
se vai sentar junto dele para o apoiar? A experiência faz recear que tudo continue
como antes.
(Aluno do 6.o ano – Escola Básica 2/3 de S. Lourenço – Ermesinde).
Apêndice 9
Comentário:
Trata-se da versão final da descrição elaborada em conjunto por duas meninas.
Primeiramente elaborou-se um plano; depois desenvolveram-se reescritas sucessivas
de acordo com instruções da professora. De notar a correcta utilização de marcado-
res discursivos próprios da descrição.
(Alunas do 8.o ano – Escola Secundária de Ermesinde).
(61) A este respeito ver, de Jolibert, Josette, Formando Crianças Produtoras de Textos, Porto Alegre, Artmed, 1994,
p. 39.
108
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Apêndice 10
Comentário:
Trata-se de um plano final, já muito enriquecido, que antecede a redacção
da descrição de dois animais, uma positiva, outra negativa. Não é exactamente o
que era indicado pelo exercício, que pedia duas perspectivas opostas do mesmo
animal. Este plano, realizado em cooperação, deu origem a descrições que depois
foram lidas num ambiente, como se pode calcular, de alegria e boa disposição...
(Alunas de 8.o ano – Escola Secundária de Ermesinde).
Apêndice 11
Comentário:
Na “versão do teste” encontra-se a resposta de um aluno à pergunta: “Podem
os outros ser entraves à nossa felicidade individual”? (Tratava-se de um teste sobre
o Frei Luís de Sousa).
O segundo texto apresenta melhoras. Não houve tempo para um maior
aperfeiçoamento.
(Alunos do 11.o ano – Escola Secundária de Ermesinde).
Apêndice 12
Comentário:
Texto 1: rascunho com indicação de aplicação de articuladores. O professor,
no seu trabalho contínuo de observação, detectou um rascunho no qual não exis-
tiam conectivos. Optou por assessorar a aluna orientando-a através da indicação es-
crita de três marcadores. Em alternativa, poderia ter pedido à aluna que utilizasse a
ficha com conectores que lhe fora distribuída e procurasse colocá-los ela. Não o fez:
o professor decide caso a caso, aluno a aluno.
Texto 2: rascunho de resumo em processo de reescrita/reparação: note-se,
na parte final, o último parágrafo seleccionado para ser reescrito. A indicação de
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reescrita, “reescrever”, acompanhada de uma seta, é vaga, mas o aluno conseguiu
melhorar.
(Alunos de 10.o ano – Escola Secundária de Ermesinde).
Apêndice 13
Comentário:
Rascunho com exemplos de autocorrecção:
1. Início: é pedido à aluna que insira duas vírgulas no texto. Fá-lo correcta-
mente.
2. No texto “Os meus amigos”, detectou-se um período no qual há uma pa-
lavra que perturba a coerência. Seleccionado o período, isolou-se, deu-se uma in-
dicação de reescrita e a aluna autocorrigiu-se. Há outros aspectos a melhorar, mas
neste caso optou-se por trabalhar um de cada vez, dado o passado escolar da alu-
na e as suas dificuldades.
(Aluna do 9.o ano – Apoio Educativo – Escola Básica 2/3 de Pedrouços).
Apêndice 14
Comentário:
Página 1:
1. Trata-se de uma actividade – “Os Números”, cf. p. 43, escolhida a pensar
em alunos muito desmotivados. A escrita, dado o trabalho preparatório que o
exercício implica, desencadeou-se sem qualquer problema, contrariamente ao
que sucedia com o Lino e o João quando as propostas eram homogéneas: refila-
vam sempre.
2. A análise da página 1 revela desde logo a dificuldade em textualizar.
3. A professora dá indicações de reescrita/reformulação e incentiva os alunos
com um “Mt. Bem”.
4. No segundo texto nota-se já maior facilidade em redigir. A professora dialo-
ga com os alunos procurando que se autocorrijam. “Será que esta passagem está bem
110
aqui”? Eles decidem passar a ideia para o fim do texto. Verificado um tempo verbal er-
rado, a professora tenta que sejam os alunos a descobri-lo. Como eles conseguiram,
encoraja-os novamente com um “Mt. Bem”. Com alunos que apresentam tantas difi-
culdades, estes incentivos são fundamentais. Valoriza o trabalho do Lino ao escrever:
“O Lino apercebeu-se de que faltava o acento”.
Página 2:
1. Na tentativa de pôr ordem no texto, a professora, continuando uma tarefa
que vinha da página anterior, pergunta aos alunos, procurando deste modo que eles
se impliquem na construção do conhecimento, “Como vamos resolver este proble-
ma?”
2. Da conversa entre os três, concluiu-se que seria necessário escrever fra-
ses mais curtas.
3. Em consequência, os alunos partem para a segunda reescrita.
4. Eliminam-se algumas repetições.
Página 3:
O texto final. Podia ser ainda melhorado, mas não houve mais tempo. De qual-
quer modo, a evolução é evidente. A aprendizagem realizou-se: a experiência
comprova que não tornarão a escrever como dantes; por outro lado, e não me-
nos importante, a relação com a escrita não mais será a mesma, apesar de tudo:
apesar de este ano, provavelmente, não terem quem se sente ao seu lado para
lhes perguntar como vai o texto...
(Alunos do 7.o ano – Escola Secundária de Valongo).
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Bibliografia
Nota: nos livros com ***** encontram-se propostas de exercícios a serem utilizados nas ofici-
nas, de preferência depois de um trabalho de adaptação.
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