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CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
ANA PAULA BARBOSA FREITAS
DESLOCAMENTO DE ABOMASO EM BOVINOS: RELATO DE CASO
Gama – DF 2019
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ANA PAULA BARBOSA FREITAS
DESLOCAMENTO DE ABOMASO EM BOVINOS: RELATO DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso para avaliação no componente curricular TCC II, Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, na área de Clínica Cirúrgica de Grandes Animais. Orientador: Profª MSc Carolina Mota Carvalho
Gama – DF 2019
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DEDICATÓRIA
A Deus em primeiro lugar, que sempre me mostrou o caminho que eu devia seguir, para chegar onde cheguei.
Aos meus pais que sempre me incentivaram, apoiaram e estiveram ao meu lado.
Aos meus irmãos, que sempre torceram por mim.
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AGRADECIMENTOS Ao meu primeiro orientador, prof. Léo Antonio Lucas, pela imprescindível orientação
acadêmica, o qual não pode estar presente nessa trajetória final do trabalho de conclusão do
curso, por não fazer mais parte da instituição acadêmica.
Á minha orientadora, prof. Carolina Mota de Carvalho, na qual me inspiro profissionalmente.
Ao médico veterinário Giovani Nochi Calça, que me auxiliou em tudo que precisei, o qual me
inspirou no tema abordado, pelo seu belo trabalho, parceria e dedicação.
Ao médico veterinário Paulo Otávio Medeiros de Deus Vieira, gerente da Fazenda Palma, que
me auxiliou no caso relatado.
A todos que contribuíram com carinho e atenção durante a construção deste trabalho.
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“Seu trabalho vai preencher boa parte da sua vida e a única maneira de ser verdadeiramente satisfeito, é fazer o que acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um ótimo trabalho, é amar o que faz“. (Steve Jobs)
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Compartimentos gástricos de ruminantes em sua posição original............... 1
Figura 2 - Animal caído, anoréxico e com salivação constante..................................... 6
Figura 3 - Remoção de pelo, após antissepsia................................................................. 6
Figura 4 - Esvaziamento do gás presente no abomaso.................................................... 7
Figura 5 - Sutura com ponto simples separado no músculo obliquo interno................... 8
Figura 6 - Sutura com ponto simples separado no músculo obliquo externo................... 8
Figura 7 - Sutura da pele com ponto do tipo interrompida, com fio de Nylon................. 9
Figura 8 - Ferida suturada, com spray de sulfadiazina de prata....................................... 9
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Índice de produção de leite por kg (quilo), em vacas sadias e vacas com
deslocamento de abomaso..........................................................................
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
bpm Batimentos por minuto
Cm Centímetros
DA Deslocamento de abomaso
DAD Deslocamento de abomaso à direita
DAE Deslocamento de abomaso à esquerda
Ed Edição
Kg Quilo
Ml Milímetro
nº Número
pH Potencial hidrogeniônico
SNE Sistema nervoso entérico
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................. 1
2. RELATO DE CASO ............................................................. 5
3. DISCUSSÃO ............................................................. 10
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 11
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 12
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RESUMO
O deslocamento de abomaso é uma das doenças que mais causam cirurgias abdominais
em bovinos e pode ocorrer para o lado direito ou esquerdo. Casos clínicos são divulgados,
fazendo com que as causas dessa patologia sejam conhecidas, porém a falta de observação no
rebanho, falta de profissional da área, torna falho o diagnóstico e um tratamento adequado. Essa
síndrome vem aumentando e influência na economia da produção leiteira, pois há uma queda
muito significativa na produção de leite de cada animal e para isso não ocorrer, é importante se
obter um diagnóstico precoce. Os sinais clínicos, como fraqueza, depressão, perda de peso,
entre outros aparecem com o decorrer do tempo. O prognóstico quando ocorre o deslocamento
do órgão para o lado esquerdo, é melhor do que quando ocorre no lado direito, devido
complicações como peritonite e infecções. O tratamento pode ser feito de maneira clínica que
consiste em melhorar a qualidade na alimentação do animal, medicações que ajudem no
equilíbrio eletrolítico, antiácidos, cálcio, potássio, assim como, técnicas cirúrgicas como a
abomasopexia e omentopexia, com o intuito de redirecionar o órgão ao seu local de origem.
Essa doença tem que ser acompanhada de um profissional, até que o animal tenha recuperado,
pois qualquer descuido pode causar outras doenças e até levá-lo a morte. Desta forma, este
trabalho tem como objetivo relatar um quadro cirúrgico de um animal de produção leiteira em
uma fazenda em Luziânia, com deslocamento de abomaso esquerdo, que apresentou poucas
sintomatologias clínicas e foi feita a cirurgia de abomasopexia, porém o bovino não resistiu e
veio a óbito dias depois. O tempo também é um fator fundamental para diagnóstico e tratamento
da síndrome, para que não ocorra demais complicações, assim como um acompanhamento de
veterinário, forragem de boa qualidade, manejo e demais cuidados que ajudam a precaver o
deslocamento.
Palavras-chaves: abomasopatias, economia, produção leiteira, técnica cirúrgica.
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1 INTRODUÇÃO
Os compartimentos gástricos dos bovinos se dividem em quatro partes: o retículo, o
rúmen, o omaso e o abomaso, sendo estes animais denominados ruminantes, (Figura 1). O
abomaso, é conhecido como o estômago verdadeiro do bovino, e sua mucosa é mais úmida. Se
divide através da região pilórica, que é uma constrição musculosa que regula a passagem do
quimo semidigerido para o duodeno. Ele fica ventralmente ao corpo, cerca de dois terços a
direita. É o último compartimento, onde se inicia o intestino delgado. Este é irrigado por meio
de artérias gástricas. Tem como função à digestão de substratos degradados que vieram dos
demais compartimentos gástricos do bovino, ele também produz ácido clorídrico, tendo ligação
com o pepsinogênio que é uma enzima digestiva inativa, que quando junta com o ácido, fica
ativa e atua nas proteínas. O seu pH (potencial hidrogênionico) fisiológico pode ser de número
três (RODRIGUES et al., 2013). O reticulo tem a aparência de colmeia, é unido ao rúmen e o
alimento que passa de um para o outro não é totalmente degradado, porém flui livremente entre
eles. Ele também é conectado ao omaso através de um túnel chamado orifício reticulo-omasal,
já nele o alimento passa fermentado. O omaso tem lâminas musculares, parecidas com o do
rúmen, absorve água, minerais e reduz partículas alimentares para o abomaso. O rúmen em seu
interior, é coberto com epitélios estratificados escamosos e tem numerosas papilas que variam
de tamanho e forma. Mistura o conteúdo líquido e sólido de forma rotatória, por fermentação e
sua movimentação é continua. O duodeno é a porção ativa de digestão e absorção (DYCE et
al., 2004).
Habilidade de movimento do abomaso, pode diminuir devido alguns fatores, como o
tamanho anormal do rúmen, baixo pH, gordura no líquido duodenal, concentrações de ácidos
graxos elevadas, hiperinsulinemia, estresse, acetonemia e falta de atividade física
(RODRIGUES et al., 2013). O deslocamento de abomaso (DA), está relacionado a falta de
manejo alimentar adequado, pois ocorre uma produção de gás, por causa da fermentação
microbiana, a uma distensão na cavidade abdominal, fazendo com que o órgão saia da sua
posição anatômica original, assim como parto, estresse e outros fatores, que causam essa
síndrome (SANTAROSA, 2010).
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Figura 1- compartimentos gástricos de ruminantes em sua posição original.
Fonte: SILVA et. al. (2002)
As raças leiteiras como a Holandesa, Pardo Suíça, Guernsey e Jersey são as mais
predispostas ao deslocamento de abomaso, apesar da Jersey ter estrutura pequena a maioria tem
a estrutura corporal grande e a parte abdominal mais profunda, assim como, ficarem sem fazer
tanto movimento físico, se alimentando o tempo todo para ter uma maior produção de leite, a
tornam mais suscetíveis (PANELLI et al., 2004).
Animais de produção leiteira tem como característica uma criação por confinamento ou
semi-confinamento, desta forma, acabam por se alimentarem praticamente o dia todo, sem
atividade física, tornando-os mais suscetíveis ao desenvolvimento de um quadro de
hipomotilidade e debilidade do abomaso (RADOSTITS et al., 2007)Vacas de corte andam
mais, não ficam se alimentando o dia inteiro e quanto ao parto, os bezerros nascem e logo são
desmamados, portanto não são usadas para ter uma boa produção leiteira, dessa maneira,
apresentam um risco bem menor para o DA (CAMARA et al., 2009). O deslocamento de
abomaso em relação ao parto, pode ocorrer na mesma hora ou até em 4 semanas após o bezerro
nascer. Isso ocorre quando o animal é submetido ao estresse e as mudanças hormonais, no
metabolismo e na dieta (SHAVER, 1997). Essa mudança na alimentação, ocorre quando a
ingestão de concentrado é aumentada, e com isso a motilidade abomasal se torna mais lenta,
causando um aumento na chance de acontecer um DA (VAN WINDEN e KUIPER, 2003). Nas
primeiras semanas de lactação a vaca precisa de energia, porém o seu estômago não está
adaptado para uma dieta que seja rica em energia, devido ao fato de que estava recebendo
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praticamente apenas concentrado, ocorre um aumento na pressão osmótica, tem diminuição de
pH e eletrólitos e fluidos ruminais não são absorvidos, dessa maneira, há formação de gás,
sendo este um fator de ocorrência do DA (CAMARA et al., 2009). Outro fator predisponente
da distensão do órgão por gás, é o acúmulo de grãos estagnados no lúmen do abomaso, fazendo
com que não haja uma digestão eficiente e assim ocasionando a formação de gás por
fermentação (CARDOSO et al., 2007).
Chamamos de deslocamento de abomaso a esquerda (DAE), quando o órgão sai da sua
posição de origem e se posiciona entre o rúmen e a parede abdominal, próximo ao fígado. O
aumento de ácidos graxos, aumento da fermentação decorrente de ração moída, podem ser um
dos fatores que causam esse DAE (RADOSTITS et al., 2007). Quando o abomaso passa a se
posicionar ao lado direito, chamamos de deslocamento de abomaso a direita (DAD), e em
alguns casos, pode ocorrer um vólvulo abomasal, caracterizada pela torção do órgão, isso torna
o quadro clínico mais complicado, assim como, também a maior ocorrência é quando o animal
está no período de lactação (BARROS FILHO e BORGES, 2007). A maioria dos casos
encontrados são os de DAE, ocorre em 85 a 95% do deslocamento do órgão (SATTLER et al.,
2000). Essa síndrome causa grandes perdas econômicas na produção de leite, isso devido à
vários pontos ocasionados pela síndrome, como, queda na produção de leite do animal, leite
descartado, custo com tratamento, medicamentos, tempo, aumento de intervalos entre os partos,
escore corporal da vaca e, às vezes, descarte do animal (GEISHAUER et al., 2000).
Estudos mostraram que doenças neuronais também tem ligação com o DA. O sistema
nervoso entérico (SNE), é uma rede autônoma de neurônios que se ligam direto com o sistema
digestivo. Nela tem os mecanismos simpáticos e parassimpáticos, estes têm a função de ativar
ações desse sistema com mais calma. A contração abomasal é controlada por
neurotransmissores colinérgicos, que são secretados por neurônios chamados de pós-
ganglionares ligados a esse sistema nervoso parassampático. Ele libera noradrenalina,
substância que responde a situações de estresse, ajudando a reduzi-lo. O manejo na alimentação,
instalações inadequadas no qual o animal não consiga se locomover direito, ambiente quente e
complicações no pós-parto, são umas dessas causas de estresse, porém a ocorrência maior, se
dá por gestações múltiplas, pois resulta em distorcia, retenção de membranas fetais ou metrite
(LEBLANC et al., 2005). A baixa atividade do abomaso, e a disfunção em seu esvaziamento,
podem inibir as atividades do SNE, cooperando para o deslocamento (STEINER, 2003).
Os sintomas que o animal apresenta, dependem da causa que levou a ter o deslocamento,
normalmente demora um pouco para aparecerem, tornando difícil um diagnóstico precoce.
Tem uma queda de 30 a 50% na produção de leite de cada animal (Gráfico 1), chegando a
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interromper em alguns casos. Eles apresentam anorexia, perda de peso, e a cavidade abdominal
apresenta um aumento do lado em que o órgão se encontra deslocado. Ocorre uma diminuição
da quantidade de fezes, ficam amolecidas, enegrecidas e de odor fétido e as contrações ruminais
diminuem (GUARD, 2006). Tem depressão, o animal fica apático e desidratado. As frequências
cardíaca e respiratória normalmente ficam dentro do padrão, mas na maioria dos casos, a
respiração é dificultosa. O animal tem perda de apetite, fica de cabeça baixa e produzindo muita
saliva. Na auscultação tem presença de som metálico no lado em que o órgão se encontra,
conhecido como som de “ping” ou fundo de panela (RADOSTITS et al., 2007).
Gráfico 1 - índice de produção de leite por kg (quilo), em vacas sadias e vacas com
deslocamento de abomaso.
Fonte: Faria (2009)
Quando o DAE é muito severo, as últimas costelas se encontram bem visíveis pelo fato
de o abomaso gerar uma pressão na cavidade abdominal. A fossa paralombar direita se encontra
bem funda, devido ao órgão está do outro lado da cavidade e há diminuição do conteúdo
alimentar dentro do rúmen (DIRKSEN, 2005). No DAD, o animal fica deprimido, desidratado
e as mucosas ficam congestas (DIRKSEN, 2005). O bovino apresenta cólica abdominal e olhar
para o flanco. Tem taquicardia até 120 bpm (batimentos por minuto). Na auscultação também
é observado som de líquido decorrente ao balotamento (NIEHAUS, 2008).
Nos exames laboratoriais, quando o animal está com alguma obstrução gastrintestinal,
observa-se hipocloremia, pela perda de sódio e cloro no sangue, causando uma alcalose
hipoclorêmica e metabólica, isso se dá pelo pH do sangue está aumentado e hipocalcemia
primária, pela baixa concentração de cálcio no sangue (BRAUN et al., 1990). Quando o cálcio
ionizado está baixo, há uma grande possibilidade de ocorrer o DA (GEISHAUER, et al., 2000).
Em casos mais graves, podem apresentar cetonúria, que é o aumento de ácidos graxos no
sangue, pH ácido, aumento de hematócrito e hemoglobina, pois o animal se encontra
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desidrarado e hipoproteinemia, devido à perda de proteína (CARDOSO et al., 2008). Apresenta
leucocitose por neutrofilia, correlaciona à presença de infecção bacteriana, linfopenia e/ou
eosinopenia, pela diminuição de glóbulos brancos no sangue (SAHINDURAN e ALBAY,
2006). Ocorre hiperglicemia, pois há uma diminuição da secreção gástrica e distúrbios de
esvaziamento dos órgãos (HOLTENIUS et al., 2000).
O diagnóstico é obtido através de sintomas clínicos que o animal apresenta, auscultação,
dados epidemiológicos, exames de sangue, de urina, em alguns casos por meio de laparotomia
exploratória, que possibilita a visualização direta do abomaso, assim como observar
comprometimento da parede abomasal e aderências, e a ultrassonografia (BARKINE et al.,
2006). O exame ultrassonográfico permite visualizar possíveis anormalidades na estrutura do
órgão, como o tamanho e o local onde ele se encontra, porém não é muito utilizado, apesar de
ser um método não invasivo da cavidade abdominal, possibilitando uma abordagem menos
agressiva (ANDRADE et al., 2017).
O tratamento pode ser dividido em dois tipos: tratamento clínico ou cirúrgico. O clínico
consiste em dar feno e forragem de boa qualidade e promover a retirada de grãos da dieta,
administrar cálcio intravenoso lentamente ou subcutânea, potássio, bicarbonato, restairando o
equilíbrio eletrolítico,Metoclopramida, um bloqueador dopaminérgico e antiemético, visando
o esvaziamento gástrico, o Betanecol, medicamento parassimpaticomimético, a Neostigmina,
inibidora de colinesterase, usada para miastenia grave e Hioscina, tratamento para cólicas
intestinais e estômago (STEINER, 2003). O tratamento cirúrgico tem como objetivo realocar o
abomaso ao seu lugar de origem, suturando o órgão à parede muscular obliqua transversa. Esse
procedimento é chamado de abomasopexia pelo flanco direito ou esquerdo. Outro
procedimento cirúrgico passível de realização, é a omentopexia pelo flanco direito. As
complicações são as recidivas do deslocamento de abomaso, infecção devido a cirurgia má
realizada e peritonite (NIEHAUS, 2008).
O prognóstico para DAE é favorável, pois em até 95% dos animais o órgão volta ao
normal, e não apresentando reincidiva, porém o DAD é reservado, porquanto 75,5% dos casos
retornam a sua posição de origem, os demais acabam calhando à um novo quadro de
deslocamento (SATTLER et al., 2000).
Para um bom prognóstico é necessário um controle, que se baseia nos cuidados com a
alimentação e manejo com o animal. Ter uma boa nutrição, dieta aniônica, bicarbonato,
laxantes, antiácidos, ração de boa qualidade, alimentos frescos, como o feno, quantidade de
fibras adequadas, tudo para evitar um descontrole no balanço energético, são medidas
essenciais para auxiliar nesse processo (RADOSTITS et al, 2007). No pós-parto, precisa ser
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ingerido concentrados lentamente, assim reduzindo as chances de desenvolvimento de um
quadro de atonia, bem como as forrageiras de boa qualidade e frescas, previnem hipocalcemia,
este um importante fator predisponente dessa síndrome (GUARD, 2006). Este trabalho tem
como objetivo relatar um quadro de DAE, seu tratamento, prognóstico e comparar o os dados
encontrados à literatura.
2 RELATO DE CASO
Acompanhou-se o quadro de DAE em uma vaca leiteira, com dois anos de idade,500
kg, da raça Holandesa, em propriedade referência nacional em produção leiteira, na região de
Luziânia, no estado de Goiás. O animal foi encontrado em um dos lotes da propriedade,
prostrada, com cabeça baixa e constante salivação.
O médico veterinário responsável pela propriedade, realizou a ausculta, do lado
esquerdo da região do flanco, no espaço intercostal, verificando a presença do som caraterístico
da presença do abomaso nesta região por meio do som característico de “ping”, tendo como
suspeita clínica a síndrome de DA devido sua característica clínica. Ainda, observou perda de
peso e a produção de leite do animal em questão, cessou. Com os sintomas observados e
achados clínicos, diagnosticou o animal com DAE, porém não foram feitos outros exames,
como os parâmetros de frequência cardíaca, respiratória, avaliação de mucosa, temperatura e
palpação retal. No dia seguinte, o animal foi encaminhado ao piquete, optando primeiramente
pelo tratamento conservatório, constatando a progressão a doença, na qual o animal se deitou e
não quis levantar-se, apresentava evidente fraqueza e respiração dificultosa (Figura 2).
Figura 2 – animal caído, anoréxico e com salivação constante.
Fonte: Arquivo pessoal
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Por meio da sintomatologia, optou pela realização da técnica cirúrgica de
abomasopexia, esta consiste na técnica de fixação do abomaso no músculo oblíquo transverso
por meio de sutura. Para promover a analgesia do animal durante o procedimento cirúrgico,
aplicou 5 ml de Lidocaína 2%, causando relaxamento e perda temporária de sensibilidade, com
o animal em estação, por meio da técnica de bloqueio epidural, no espaço sacro-coccígeo, entre
a primeira e segunda vértebra coccígea. Realizou a tricotomia seguida pela limpeza do local,
com água e sabão (Figura 3).
Figura 3 - remoção de pelo após antissepsia.
Fonte: Arquivo pessoal
A anestesia local foi realizada por meio da técnica de L invertido no flanco direito,
administrando 20 ml de lidocaína 2% e em seguida a antissepsia, esta realizada com iodo
degermante em toda a região de tricotomia, para só após iniciar o procedimento cirúrgico que
se deu por meio de incisão de pele realizada no flanco direito, de aproximadamente 20
centímetros, além da pele, foram incisionados gordura, músculo obliquo externo, interno,
transverso e peritônio, até acessar a cavidade abdominal. Após a abertura localizou o abomaso
do lado esquerdo, entre a caixa torácica e o fígado, este estava levemente distendido por gás,
dessa forma, preconizou a colocação de um equipo e agulha 40x12 acoplada, porém o
procedimento não se mostrou eficaz (Figura 4).
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Figura 4 – esvaziamento do gás presente no abomaso.
Fonte: Arquivo pessoal
Durante a realização da técnica cirúrgica, reposicionou o abomaso em sua anatomia
topográfica de origem, para fixação às cegas deste, no músculo obliquo transverso com padrão
de sutura ponto simples contínuo, utilizando fio sintético absorvível poliglactina nº 0.
Após a fixação, iniciou a síntese da cavidade, optando pelos padrões de sutura, ponto
simples separado na musculatura interna com fio absorvível poliglactina nº 0 (Figura 5), seguida
da rafia do músculo externo com o mesmo padrão (Figura 6) e por fim, utilizando fio de Nylon,
30 mm em padrão de sutura Sultan, para realização da aproximação dos bordos da pele (Figura
7).
Figura 5 – sutura com ponto simples separado no músculo obliquo.
Fonte: Arquivo pessoal
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Figura 6 – sutura com ponto simples separado no músculo obliquo externo.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 7 – sutura da pele com padrão de sutura Sultan, com fio de Nylon.
Fonte: Arquivo pessoal
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Para finalização do procedimento realizou a limpeza local com água corrente e
aplicação de spray de sulfadiazina, este sendo cicatrizante repelente, antisséptico e larvicida
(Figura 8).
Figura 8 - ferida suturada, com spray de sulfadiazina de prata.
Fonte: Arquivo pessoal
Após a cirurgia, administrou-se Penicilina G benzatina e procaína na dose de
20.000UI/Kg/SID/48 horas e meloxicam 2% na dose de 0,6mg/Kg/SID, sendo este o protocolo
medicamentoso instituído no pós-operatório por dois dias de tratamento, assim como a limpeza
diária da ferida e aplicação do spray de sulfadiazina de prata, porém o animal não apresentou
melhora clínica após a intervenção cirúrgica e veio a óbito dois dias depois. Não houve
necropsia, pois, o animal morreu pela manhã e o descartaram, e só após dois dias, que
informaram da morte do mesmo.
3. DISCUSSÃO
O acompanhamento do bovino, alimentação, manejo pós-parto, boa estrutura que não
cause estresse, dentre outros fatores, são importantes para evitar que o animal entre em balanço
energético negativo devido à queda cálcio, de sódio, de proteína, dentre outros, ocasionando
essa doença (RADOSTITS et al., 2007). A falta desses cuidados pode ter sido um dos fatores
que foram cruciais para o prognóstico desfavorável do animal. Segundo Chambela et al., 2014
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o gás formado por fermentação microbiana, pelo déficit manejo na dieta do bovino, é o principal
fator que causa o DA, assim como observado no caso relatado neste trabalho, pelo fato da
diminuição da motilidade do abomaso do animal, que gerou a migração do órgão para o lado
esquerdo. Outros fatores predisponentes causam a síndrome, como por exemplo estresse, pós-
parto, metrite, entre outros (LEBLANC et al., 2005). Contudo, em artigos e demais literaturas,
poucos casos são encontrados sem ser causas decorrentes de manejo alimentar ou pós-parto.
Assim como Geishauer et al., 2000 diz, ocorre uma perda econômica muito grande, devido o
animal ter uma redução na produção de leite e outros fatores. No caso relatado, o animal chegou
a cessar a produção de leite, a propriedade teve um custo com medicamentos após o tratamento
cirúrgico, dieta com diminuição de grãos na tentativa da melhora do funcionamento dos
compartimentos gástricos e recuperação do peso perdido pelo animal, corroborando com a
citação.
Alguns sinais clínicos descritos na literatura, como temperatura, frequência cardíaca e
respiratória, normalmente não são observadas, pelo fato de o animal apresentar outros sintomas
que são mais específicos, como o som de ping na ausculta, distensão da cavidade abdominal,
diminuição na produção de leite, entre outros. Quando demonstrados, quase que imediatamente,
consegue-se diagnosticar e com isso, é feito o tratamento adequado, com o uso de
medicamentos que ajudam no equilíbrio eletrolítico, como também para corrigir a acidose
metabólica, aumentar o cálcio, melhorar a hidratação com soro, fazer uma dieta retirandoos
grãos, que poderiam ficar alojados no abomaso piorando o quadro, ou em casos que não
conseguem ser tratados clinicamente, optar pela cirurgia de maior precisão, igual ao caso
relatado, alguns sinais clínicos foram claros, porém pela falta de exames complementares e a
demora em fazer o tratamento adequado imediatamente, pode ter ocasionado um piora no
quadro, levando ao tratamento cirúrgico, que não foi eficaz. O prognóstico depende de qual
lado que o órgão migrou. DAE tendo uma melhor chance de 95% dos casos darem certo e o
DAD, em 24,5 % dos casos, o abomaso voltando a se deslocar (SATTLER et al., 2000).
Confirmando a evolução do animal no presente relato, no qual o quadro diagnosticado
e tratado foi de um animal com DAE, este acabou por vir à óbito dois dias após a cirurgia. A
cirurgia foi considerada precisa, o animal estava recebendo as medicações diariamente e mesmo
assim não resistiu. Não sabe o motivo específico que ocasionou esse fato. Estima-se que, a
demora no diagnóstico da doença do animal, tenha sido a principal causa do óbito. O fato de
não ter feito demais exames que pudessem observar o quadro com mais precisão, mostrando se
seria mais fácil realizar uma eutanásia para diminuir o sofrimento do animal, ou não, assim
como a cirurgia não foi feita imediatamente, e esperou um dia para que fosse feito, e também
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as medicações que foram falhas, é um fator que ocasionou uma piora na situação do animal,
isto por causa de todas as alterações e debilidade do mesmo. Como não houve necropsia, não
se sabe o que realmente ocasionou, porém com base os conhecimentos e causas estudadas,
acredita-se que esses tenham sido a causa do óbito.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente relato pode-se observar que se faz de grande importância o
acompanhamento diário do animal, assim como uma dieta equilibrada, local mais arejado, no
qual os animais possam ter uma atividade física maior, entre outros, com o intuito de reduzir as
chances do desenvolvimento de DA que caracteriza-se por um caso clínico que necessita de um
bom profissional, que tenha um conhecimento da doença, pois dessa maneira se torna mais fácil
um diagnóstico precoce da doença, obtendo um sucesso no tratamento, ou até mesmo evita-la.
Ocorre uma queda na produção leiteira, o que gera uma grande perda econômica para a
propriedade. Identificar os fatores que causam o deslocamento de abomaso em bovinos, como
as condições climáticas, manejo alimentar, animais em período de gestação, estresse, entre
outros, são fatores que se tornam importantes para precaver essa doença, assim como para o
bem-estar do animal e um bom prognóstico.
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5 REFERÊNCIAS
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tratado por explosão à vapor em rações de bovinos em confinamento. Boletim de Indústria
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