O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
MATERIAL DIDÁTICO
Ilustrações – Desenhos de Rafael Gandhi de Sarro Camilo de Godoi
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
PROGRAMA DE DESEVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
A CONTRIBUIÇÃO DO TEATRO PARA A FORMAÇÃO DE ALUNOS ESCRITORES
PROFESSORA PDE: EUZORAIDE CECATTO NOVAISLÍNGUA PORTUGUESA
Toledo – PR2009
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
NOME DO (A) PROFESSOR PDE: Euzoraide Cecatto Novais
ÁREA PDE: Língua Portuguesa
CONTEÚDO ESTRUTURANTE: O discurso enquanto prática social – Produção de texto
NRE: Toledo
NOME DO (A) ORIENTADOR (A): Clarice Cristina Corbari
IES VINCULADA: UNIOESTE.
COLÉGIO DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Jardim Europa
PÚBLICO OBJETO DE INTERVENÇÂO: 8ª série do Ensino Fundamental
2. TEMA DE ESTUDO: Prática de produção de textos
3. TÍTULO: A contribuição do teatro para a formação de alunos escritores
4.PRODUÇÃO PEDÁGOGICA: Unidade Didática
Vista do teatro de Toledo. Foto tirada por Euzoraide Cecatto Novais.
Aprender é descobrir aquilo que você já sabe. Fazer é demonstrar que você o sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você.
(Richard Bach)
Esta unidade atenta para a necessidade de desenvolver estratégias de
produção de textos, utilizando o teatro como meio facilitador, pois este, vinculado
à educação, pode proporcionar ao aluno um estímulo à prática da escrita pelo seu
aspecto lúdico, com vistas a torná-lo cada vez mais críticos e capazes de
perceber a escrita como um instrumento de interação. Entende-se que “ensinar”
português é dar aos alunos as condições necessárias para lidar com as diversas
linguagens, recuperando a historicidade e a função social da língua,
considerando-se que esta se realiza por meio de gêneros.
As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná
(PARANÁ, 2006, p. 20) instigam os educadores a uma reflexão sobre o ensinar e
o aprender, buscando uma perspectiva da linguagem como construção social, em
que sujeito e objeto estão situados em determinado contexto. O uso da linguagem
implica sempre uma atividade interativa e discursiva, e, para que o sujeito possa
engajar-se inteiramente nas práticas sociais em que está incluído, é necessário o
domínio da linguagem como atividade discursiva e cognitiva. No processo de
ensino-aprendizagem, é importante que o professor mostre ao aluno que quanto
maior o contato com a linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais
possibilidades se tem de entender o texto, de refletir e discutir seus sentidos, suas
intenções e seu modo de pensar e agir sobre o mundo. A possibilidade da criação,
no exercício desta prática, permite ao educando ampliar o próprio conceito do
gênero discursivo em questão.
Nesta perspectiva, o aluno é chamado a ter uma postura ativa diante do
conhecimento, manifestando-se, estabelecendo relações, realizando inferências,
ativando conhecimentos prévios, participando de discussões e posicionando-se.
Uma abordagem interacionista acredita e prevê que a construção do
conhecimento se dá por meio das trocas, seja entre os alunos, seja entre
professor e aluno. O professor, na condição de intercessor, não deve fornecer
respostas prontas e sim, confrontar perguntas com novas perguntas, oferecer
comparações, alternativas, sugerir hipóteses, negociar sentidos, enfim, desafiar o
aluno, na medida do possível, a acionar seus conhecimentos prévios e compará-
lo com aquilo que o professor lhe devolve.
Nesta unidade, os alunos deverão, a partir da leitura de um conto,
retextualizá-lo, fazendo os ajustes necessários para a transformação desse
gênero em gênero ‘peça teatral’, sem alterar a ideia principal do texto original, e
atentando para os aspectos da coesão, coerência, clareza e objetividade. Porém,
serão focalizados, em primeiro lugar, os propósitos comunicativos, e em seguida,
os aspectos linguísticos, com vistas a estimular os alunos a escreverem.
Quem quer história, eu vou contar, por que história não é segredo, é pra sorrir, é pra chorar, e pra sentir uma pontinha de medo, quem quer história, levante o dedo, depois que ouvir conte pro outro, por que história não é segredo.
(Adriano Silva)
Esta Unidade Didática está voltada para a prática de produção textual em
uma turma de 8ª série do Ensino Fundamental, a partir de atividades de escrita e
reescrita de textos, procurando estimular os alunos a colocarem-se como sujeitos
no processo de produção de peça teatral escrita. O objetivo é o de levar o aluno a
escrever de modo independente, focalizando, em primeiro lugar, os propósitos
comunicativos, seguidos pelo trabalho dos aspectos linguísticos. Inicialmente,
será proposto que o aluno, a partir da leitura de um texto (conto), faça a
retextualização, sendo indicado o gênero para o qual deverão ser realizadas as
atividades, ou seja, o aluno fará a reescrita de um conto para o gênero peça
teatral escrita, fazendo os ajustes necessários para a transformação de um
gênero em outro.
1. FALANDO SOBRE O CONTO
Conto é a forma narrativa, em prosa, que se organiza em torno de um
único problema. O conto precisa causar um efeito no leitor: é característico do
conto criar uma tensão que prende a atenção do leitor da primeira à última linha.
Ao escritor de contos dá-se o nome de contista. O conto é o gênero literário atual
e de grande essência, pelo simples fato de que as pessoas nunca irão deixar de
falar sobre o que aconteceu a alguém, nem de interessar-se pelo que lhes contam
bem contado.
O conto é usualmente uma história curta, que se apresenta em parágrafos,
com uma dimensão do tempo ampla, poucas personagens, cenário reduzido,
espaço restrito. No conto, há um só drama, um só conflito, uma única ação. Tudo
gira em torno do conflito dramático. O conto apresenta como sua maior qualidade
a concisão e a brevidade. Cada palavra se une para o desenlace, pois, a
habilidade com elas é muito importante, principalmente para se utilizar de alusões
ou sugestões, frequentemente presentes nesse tipo de texto e para causar no
leitor uma atmosfera de tensão e emotividade. A narrativa é objetiva. Assim, entre
suas principais características, estão: a concisão, a precisão, a densidade, a
unidade de efeito ou impressão total.
Várias classificações de conto são possíveis, mas destacamos aqui cinco
tipos:
• Contos: são estórias curtas, menores que novelas;
• Contos-de-fadas: são contos de fadas em que aparece o sobrenatural, o
maravilhoso;
• Contos-de-encantamento: são estórias que apresentam transformações,
por encantamento, a maioria;
• Contos maravilhosos: são estórias que oferece o elemento mágico,
sobrenatural, integrado naturalmente nas condições apresentadas;
• Contos de enigma ou mistério: são estórias que têm como eixo uma
incógnita a ser desvendado;
• Contos jocosos são estórias humorísticas ou divertidas.
Fonte: http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=221
QUESTIONAMENTOS ORAIS:
• Vocês já leram alguns contos? Onde? Na escola? Em casa? Na biblioteca
pública?
• Quem lhe indicou a leitura?
• O que caracteriza um conto?
• Como os elementos da narrativa são organizados para dar um clima de
suspense, mistério?
• A que público se destina o conto?
• Quais os locais de circulação dos contos?
• Quem produz textos desse gênero?
• Quem narra os fatos? Quem participa do conto?
Caro professor(a), este é o momento em que o aluno irá se familiarizar
com o gênero conto. Por isso, é fundamental fazer um trabalho de leitura que
possibilite a percepção tanto das características principais desse gênero, quanto
do seu contexto sócio-histórico-ideológico. Portanto, é importante que o seu aluno
faça leitura de mais de um conto. Apresente os contos aos alunos, procurando
incentivá-los à realização dessas leituras. Fale com eles sobre o gênero conto,
busque saber se conhecem alguns contos, se gostam ou não e por quê. Se notar
que há pouco interesse pelo tema, provoque-os, argumentando que é preciso
conhecer para gostar. Se perceber que eles já conhecem alguns contos, peça que
os traga para sala de aula. Diga que irão desenvolver uma série de atividades
muito interessantes e, principalmente, que irão produzir uma peça teatral a partir
dos contos escolhidos por eles e que será encenada na escola e para os pais.
Sugerimos a leitura e análise dos contos Conto se apresenta e A pequena
vendedora de fósforo, para aprofundar a compreensão do universo narrativo e
aprimorar a desempenho na produção de histórias (textos com enredamento),
objetivo maior desta Unidade Didática. Trabalhando com os contos, os alunos
constroem e reconstroem significados para as histórias e desenvolvem o prazer
pela escrita. A partir de um conto, podemos trabalhar com diferentes gêneros
textuais, recriar e modernizar histórias e estabelecer diferentes relações,
atendendo os objetivos desta unidade.
Conto 1
CONTO SE APRESENTA
Moacyr Scliar
Olá! Não, não adianta olhar ao redor: você não vai me enxergar. Não sou
uma pessoa como você. Sou, vamos dizer, uma voz. Uma voz que fala com você
ao vivo, como estou fazendo agora. Ou então que lhe fala dos livros que você lê.
Não fique tão surpreso assim: você me conhece. Na verdade, somos até
velhos amigos. Você me ouviu falando de Chapeuzinho Vermelho e do Príncipe
Encantado, de reis, de bruxas, do Saci-Pererê. Falo de muitas coisas, conto
muitas histórias, mas nunca falei de mim próprio. É o que eu vou fazer agora, em
homenagem a você. E começo me apresentando: eu sou o Conto. Sabe o conto
de fadas, o conto de mistério? Sou eu. O Conto.
Vejo que você ficou curioso. Quer saber coisas sobre mim. Por exemplo,
qual a minha idade.
Devo dizer que sou muito antigo. Porque contar histórias é uma coisa que
as pessoas fazem há muito, muito tempo. É uma coisa natural, que brota de
dentro da gente. Faça o seguinte: feche os olhos e imagine uma cena, uma cena
que se passou ha muitos milhares de anos. É de noite e uma tribo dos nossos
antepassados, aqueles que viviam nas cavernas, está sentada em redor da
fogueira. Eles têm medo do escuro, porque no escuro estão as feras que os
ameaçam, aqueles enormes tigres, e outras mais. Então alguém olha para a lua e
pergunta: por que e que às vezes a lua desaparece? Todos se voltam para um
homem velho, que é uma espécie de guru para eles. Esperam que o homem dê a
resposta. Mas ele não sabe o que responder. E então eu apareço. Eu, o Conto.
Surjo lá da escuridão e, sem que ninguém note, falo baixinho ao ouvido do velho:
- Conte uma história para eles.
E ele conta. É uma historia sobre um grande tigre que anda pelo céu e que
de vez em quando come a lua. E a lua some. Mas a lua não é uma coisa muito
boa para comer, de modo que lá pelas tantas o grande tigre bota a lua para fora
de novo. E ela aparece no céu, brilhante.
Todos escutam o conto. Todo mundo: homens, mulheres, crianças.Todos
estão encantados. E felizes: antes havia um mistério: por que a lua some? Agora,
aquele mistério não existe mais. Existe uma história que fala de coisas que eles
conhecem: tigre, lua, comer - mas fala como essas coisas poderiam ser, não
como elas são. Existe um conto. As pessoas vão lembrar esse conto par toda a
vida. E quando as crianças da tribo crescerem e tiverem seus próprios filhos, vão
contar a história para explicar a eles par que a lua some de vez em quando.
Aquele conto.
No começo, portanto, é assim que eu existo: quando as pessoas narram
histórias - sobre deuses, sobre monstros, sobre criaturas fantásticas. Histórias
que atravessam os tempos, que duram séculos. Como eu.
Aí surge a escrita. Uma grande invenção, a escrita, você concorda? Com a
escrita, eu não existo mais somente como voz. Agora estou ali, naqueles sinais
chamados letras, que permitem que pessoas se comuniquem, mesmo a distância.
E aquelas histórias sobre de uses, sobre monstros, sobre criaturas fantásticas vão
aparecer em forma de palavra escrita.
E é neste momento que eu tenho uma grande ideia. Uma inspiração,
vamos dizer assim. Você abe o que é inspiração? Inspiração é aquela descoberta
que a gente faz de repente, de repente tem uma ideia e muito boa. A inspiração
não vem de fora, não; não é uma coisa misteriosa que entra na nossa cabeça. A
boa ideia já estava dentro de nós; só que a gente não sabia. A gente tem muitas
boas ideias, pode crer.
E então, com aquela boa ideia, chego perto de um homem ainda jovem.
Ele não me vê. Como você não me vê. Eu me apresento, como me apresentei a
você, digo-lhe que estou ali com uma missão especial- com um pedido: - Escreva
uma história.
Num primeiro momento, ele fica surpreso, assim como você ficou. Na
verdade, ele já havia pensado nisso, em escrever uma história. Mas tinha
dúvidas: ele, escrever uma história? Como aquelas histórias que todas as
pessoas contavam e que vinham de um passado? Ele, escrever uma história? E
assinar seu próprio nome? Será que pode fazer isso? Dou força:
-Vá em frente, cara. Escreva uma história. Você vai gostar de escrever. E
as pessoas Vão gostar de ler.
Então ele senta, e escreve uma história. É uma historia sobre uma criança,
uma história muito bonita. Ele Iê o que escreveu. Nota que algumas coisas não
ficaram muito bem. Então escreve de novo. E de novo. E mais uma vez. E aí, sim,
ele gosta do que escreveu. Mostra para outras pessoas, para os amigos, para a
namorada. Todos gostam, todos se emocionam com a história.
E eu vou em frente. Procuro uma moça muito delicada, muito sensível.
Mesma coisa:
- Escreva uma história. Ela escreve. E assim vão. Surgindo escritores. Os
contos deles aparecem em jornais, em revistas, em livros.
Já não são histórias sobre deuses, sobre criaturas fantásticas. Não, são
historias sobre gente comum - porque as histórias sobre as pessoas comuns
muitas vezes são mais interessantes do que histórias sobre deuses e criaturas
fantásticas: até porque deuses e criaturas fantásticas podem ser inventados por
qualquer pessoa. O mundo da nossa imaginação é muito grande. Mas a nossa
vida, a vida cada dia, está cheia de emoções. E onde ha emoção, pode haver
conto. Onde há gente que sabe usar as palavras para emocionar pessoas, para
transmitir ideias, existem escritores.
(SCLIAR, M. Era uma vez um conto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002, p. 5-9.)
Conto 2
A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFOROS (1845)
Hans Christian Andersen
Era véspera de Natal. Fazia um frio intenso; já estava escurecendo e caía
neve. Mas a despeito de todo o frio, e da neve, e da noite, que caía rapidamente,
uma criança, uma menina descalça e de cabeça descoberta, vagava pelas ruas.
Ela estava calçada quando saiu de casa, mas os chinelos eram muito grandes,
pois eram os que a mãe usara, e escaparam-lhe dos pezinhos gelados quando
atravessava correndo uma rua para fugir de dois carros que vinham em
disparada. Não pôde achar um dos chinelos e o outro apanhou-o um rapazinho,
que saiu correndo, gritando que aquilo ia servir de berço aos seus filhos quando
os tivesse. A menina continuou a andar, agora com os pés nus e gelados. Levava
no avental velhinho uma porção de pacotes de fósforos. Tinha na mão uma
caixinha: não conseguira vender uma só em todo o dia, e ninguém lhe dera uma
esmola — nem um só cruzeiro.
Assim, morta de fome e de frio, ia se arrastando penosamente, vencida
pelo cansaço e desânimo — a imagem viva da miséria.
Os flocos de neve caíam, pesados, sobre os lindos cachos louros que lhe
emolduravam graciosamente o rosto; mas a menina nem dava por isso. Via, pelas
janelas das casas, as luzes que brilhavam lá dentro. Sentia-se na rua um cheiro
bom de pato assado — era a véspera de Natal —; isso sim, ela não esquecia.
Achou um canto, formado pela saliência de uma casa, e acocorou-se ali,
com os pés encolhidos, para abrigá-los ao calor do corpo; mas cada vez sentia
mais frio. Não se animava a voltar para casa, porque não tinha vendido uma única
caixinha de fósforos, e não ganhara um vintém. Era certo que levaria algumas
lambadas. Além disso, em sua casa fazia tanto frio como na rua, pois só havia o
abrigo do telhado, e por ele entrava uivando o vento, apesar dos trapos e das
palhas com que lhe tinham tapado as enormes frestas.
Tinha as mãozinhas tão geladas… estavam duras de frio. Quem sabe se
acendendo um daqueles fósforos pequeninos sentiria algum calor? Se se
animasse a tirar um ao menos da caixinha, e riscá-lo na parede para acendê-lo…
Ritch!. Como estalou, e faiscou, antes de pegar fogo!
Deu uma chama quente, bem clara, e parecia mesmo uma vela quando ela
o abrigou com a mão. E era uma vela esquisita aquela! Pareceu-lhe logo que
estava sentada diante de uma grande estufa, de pés e maçanetas de bronze
polido. Ardia nela um fogo magnífico, que espalhava suave calor. E a meninazinha
ia estendendo os pés enregelados, para aquecê-los, e… tss! Apagou-se o clarão!
Sumiu-se a estufa, tão quentinha, e ali ficou ela, no seu canto gelado, com um
fósforo apagado na mão. Só via a parede escura e fria.
Riscou outro. Onde batia a luz, a parede tornava-se transparente como um
véu, e ela via tudo lá dentro da sala. Estava posta a mesa. Sobre a toalha
alvíssima via-se, fumegando entre toda aquela porcelana tão fina, um belo pato
assado, recheado de maçãs e ameixas. Mas o melhor de tudo foi que o pato
saltou do prato, e, com a faca ainda cravada nas costas, foi indo pelo assoalho
direto à menina, que estava com tanta fome, e…
Mas — o que foi aquilo? No mesmo instante acabou-se o fósforo, e ela
tornou a ver somente a parede nua e fria na noite escura. Riscou outro fósforo, e
àquela luz resplandecente viu-se sentada debaixo de uma linda árvore de Natal!
Oh! Era muito maior e mais ricamente decorada do que aquela que vira, naquele
mesmo Natal, ao espiar pela porta de vidro da casa do negociante rico. Entre os
galhos, milhares de velinhas. Estampas coloridas, como as que via nas vitrinas
das lojas, olhavam para ela. A criança estendeu os braços diante de tantos
esplendores, e então, então… apagou-se o fósforo. Todas as luzinhas da árvore
de Natal foram subindo, subindo, mais alto, cada vez mais alto, e de repente ela
viu que eram estrelas, que cintilavam no céu. Mas uma caiu, lá de cima, deixando
uma esteira de poeira luminosa no caminho.
— Morreu alguém — disse a criança.
Porque sua avó, a única pessoa que a amara no mundo, e que já estava
morta, lhe dizia sempre que, quando uma estrela desce, é que uma alma subiu
para o céu.
Agora ela acendeu outro fósforo; e desta vez foi a avó quem lhe apareceu,
a sua boa avó, sorridente e luminosa, no esplendor da luz.
— Vovó! — gritou a pobre menina. Leva-me contigo… Já sei que, quando o
fósforo se apagar, tu vais desaparecer, como sumiram a estufa quente, o pato
assado e a linda árvore de Natal!
E a coitadinha pôs-se a riscar na parede todos os fósforos da caixa, para
que a avó não se desvanecesse. E eles ardiam com tamanho brilho, que parecia
dia, e nunca ela vira a vovó tão grandiosa, nem tão bela! E ela tomou a neta nos
braços, e voaram ambas, em um halo de luz e de alegria, mais alto, e mais alto, e
mais longe… longe da Terra, para um lugar, lá em cima, onde não há mais frio,
nem fome, nem sede, nem dor, nem medo, porque elas estavam, agora, no céu
com Deus.
A luz fria da madrugada achou a menina sentada no canto, entre as casas,
com as faces coradas e um sorriso de felicidade. Morta. Morta de frio, na noite de
Natal.
A luz do Natal iluminou o pequenino corpo, ainda sentado no canto, com a
mãozinha cheia de fósforos queimados.
— Sem dúvida, ela quis aquecer-se — diziam.
Mas… ninguém soube que lindas visões, que visões maravilhosas lhe
povoaram os últimos momentos, nem com que júbilo tinha entrado com a avó nas
glórias do Natal no Paraíso.
(ANDERSEN, H. C. A pequena vendedora de fósforos. São Paulo: Scipione, 1997.)
1.1 Que textos são estes?
Os textos Conto se apresenta e A pequena vendedora de fósforo são
contos. Você já leu algumas informações sobre esse gênero. Vale ressaltar que a
ação pode situar-se em qualquer época, até mesmo no futuro. O ambiente onde
se passa a história, no entanto, costuma ser restrito, isto é, pode haver mais de
um cenário, mas a ato principal geralmente transcorre em um só local.
Outro assunto que é essencial reforçar: nos contos, é o conflito que
organiza a ação. É em torno do conflito, geralmente colocado nos primeiros
parágrafos, que a ação será desenvolvida e finalizada.
1.2 Atividades para reconhecimento do gênero 'conto'
QUESTIONAMENTOS ORAIS:
• Observe os verbos empregados pelo narrador. Em que pessoa estão as
formas verbais?
• Como as personagens são caracterizadas?
• Onde e quando se passam os fatos? Que palavras o autor usa para
descrever o ambiente onde vai se desenrolar a narrativa?
• Que recursos ele usa para criar suspense/humor/drama, ou incutir um
clima de temor, alegria, tristeza ou compaixão no leitor?
• Há algum fato que causa maior tensão na história? Qual?
• Se você fosse o autor, como você escreveria esse momento de
complicação que provoca mudança no rumo do conto?
• Como é o desfecho? Traz solução ao conflito? Ou o final é aberto para que
o leitor faça a conclusão dele?
Caro professor(a), após os questionamentos, abra espaço para um bate-
papo descontraído, onde cada um possa expor o que está sentindo. Procure gerar
na sala de aula um clima de consideração da contribuição do outro, onde a
expressão de sentimento seja acolhida pelos alunos. Motive os mais tímidos a se
pronunciarem, lançando questões e expondo, você também, sua opinião sobre os
contos. Depois desse bate-papo, os alunos poderão ser levados à biblioteca para
terem contato com os livros de conto disponíveis e conversarem sobre o contexto
de produção (autor, data de publicação, local, editora, etc.).
2. FALANDO SOBRE O TEATRO
Ilustrações – Desenhos de Rafael Gandhi de Sarro Camilo de Godoi
Para iniciar o trabalho com gênero peça teatral, sugerimos que seja
proporcionado aos alunos um momento de reflexão, bem como de identificação
do gênero peça teatral, momento em que você, professor(a), perceberá se o
aluno possui ou não conhecimentos anteriores sobre o gênero. E, já que irão
imergir nesse mundo sedutor, nada melhor do que terem ciência de alguns
detalhes a respeito da origem e das características do teatro. Exponha-lhes que a
palavra ‘teatro’ pressupõe sempre, do enfoque artístico, um trabalho que se
começa na escritura de um texto com especificidades próprias e atinge seu
objetivo através da encenação teatral. Enquanto texto, pode ser lido sem
intermediações: através da leitura, autor e leitor constroem seu sentido. Enquanto
representação teatral, tem-se como intercessores de leitura: o diretor, o
cenógrafo, o figurinista, o iluminador, o sonoplasta, os atores, enfim, toda uma
equipe responsável pela encenação, isto é, pela transposição da obra escrita para
uma linguagem de gestos, movimentos, expressões, luzes, sons e cores.
2.1 Origem do teatro
A origem do teatro perde-se em tempos distantes, quando o ser humano
deu início aos primeiros movimentos buscando expressar e comunicar
sentimentos e sensação. Não havia então rígidos limites entre arte e religião: a
arte ainda era encantamento. A partir do instante em que foi capaz de se
manifestar através da linguagem oral e gestual, o homem tornou-se hábil a
dramatizar os acontecimento e fenômenos do dia-a-dia, apresentando-os a seu
grupo de forma mais intensa, envolvendo assim, sentimentalmente, seus
espectadores. Para nós, ocidentais, é na Grécia Antiga que o teatro alcança pela primeira
vez seu primor enquanto expressão e concretização. Originária dos rituais
dionisíacos, a tragédia grega surgiu da combinação de cantos corais e danças
rituais. Grandes autores como Ésquilo, Sófocles e Eurípedes implantam
transformações gradativas na tragédia e, junto com Aristófanes, gênio criador de
comédias, escreveram obras-primas ainda hoje encenadas e que continuam a
fundamentar a criação de novos textos.
É também a partir da Grécia que se edifica um vínculo entre o teatro e a
educação. Ao longo dos séculos, nos jogos de expressão ou jogos dramáticos,
filósofos, pedagogos e, posteriormente, psicólogos enxergaram uma maneira de
auxiliar o crescimento da criança e do jovem nos planos cognitivo, afetivo e
psicomotor.
Quando falamos de teatro precisamos conhecer:
• O teatro como o lugar onde se assiste a uma encenação, que se modificou
desde os anfiteatros gregos, ao ar livre, até as salas dos dias de hoje;
• O teatro representado, irrepetível e único; o teatro espetáculo, que existe
apenas no momento em que é representado. A combinação de sons,
imagens, palavras, movimentos e sentimentos existe somente no presente
e não pode ser captada por nenhum suporte – as fotografias ou os filmes
são apenas a lembranças desse momento e nem mesmo os textos de
teatro conseguem imaginar ou reportar o que acontece numa encenação.
• O teatro escrito / texto dramático, documento que defini as falas das
personagens e as indicações cênicas. É importante estar ciente que nem
sempre as encenações teatrais se baseiam num texto escrito e nem todos
os textos dramáticos são representados.
2.2 O texto dramático
O texto dramático é, então, um modo de fazer literatura, que apresenta as
falas das personagens em discurso direto (diálogo, monólogo e aparte) e fornece,
em muitos casos, informações que complementam a leitura e servem de suporte
a uma possível representação.
Estas informações, apresentadas em negrito, itálico ou entre parênteses,
chamam-se indicações cênicas ou rubricas e podem surgir antes, ou no meio, das
falas das personagens.
As rubricas contêm indicações sobre: cenário, adereços, figurinos, tempo,
movimentação, localização, gestos e atitudes das personagens, tom de voz,
características físicas e psicológicas das personagens, luz, som, etc.
O discurso dramático distingue-se pela vivacidade característica do
discurso direto, reproduzindo, muitas vezes, emoções, hesitações, repetições,
pausas, vocativos, interjeições, habituais na oralidade.
O texto dramático pode dividir-se em atos e em cenas (estrutura externa).
2.3 Palavras e expressões teatrais
• Ato: cada uma das partes principais de uma peça de teatro.
• Ator / atriz: aquele ou aquela que representa uma personagem.
• Adereços: objetos que fazem parte do cenário ou são usados pelas
personagens.
• Apartes: expressão, em voz alta, do pensamento da personagem, que é
ouvido apenas pelo público.
• Cena: parte da peça teatral em que estão presentes as mesmas
personagens; pode significar o mesmo que palco, ou seja, o local onde
decorre a representação (entrar em cena, sair de cena). Sempre que há
entrada ou saída de personagens, há mudança de cena.
• Cenário: elementos que decoram e delimitam o espaço cênico.
• Dramaturgo: escritor de um texto dramático.
• Encenador: pessoa que dirige a representação teatral.
• Figurinista: responsável pelo guarda-roupa usado pelas personagens.
• Luminotécnico: pessoa encarregue da iluminação do espetáculo.
• Sonoplasta: responsável pelos sons que acompanham o espetáculo.Fonte: CENPEC.
2.4 Atividades para reconhecimento do gênero 'peça teatral'
Caro professor(a), informe a seus alunos que agora irão mergulhar num
mundo de fantasia, e que, ao término desta viagem, a turma apresentará uma
criação deles, original, neste caso, atuando, criando histórias, personagens. Diga
também que utilizarão seus corpos como portadores dessas significações, ou
seja, com seus gestos, movimentos, expressões fisionômicas e corporais, estarão
produzindo sentidos. Na verdade, no teatro, o aluno estará adquirindo novas
experiências de vida, uma realidade diferente daquela sua, do dia-a-dia,
“cedendo” seu corpo para que algo ou alguém tenha vida através dele, utilizando-
se do pensamento “como se”. Assim, sua maneira de andar, de gesticular, de
falar, de agir etc., será sempre como se fosse os de um outro, daquele (ou
daquilo) que se representa.
QUESTIONAMENTOS ORAIS:
• Vocês já assistiram alguma peça teatral? Qual?
• Alguma vez fizeram parte de uma montagem cênica?
• Vocês já viram na televisão montagens de histórias curtas e completas
apresentadas num único dia, com duração de uma a duas horas?
• Agora vamos tentar produzir e encenar um texto dramático?
2.5 Conhecendo um texto dramático
O texto dramático ou teatral tem grande semelhança com o narrativo:
afinal, os dois contam uma história, embora as estratégias para fazê-lo sejam
diferentes. Rememore com os alunos os aspectos já estudados anteriormente
sobre a configuração do texto narrativo.
Como já vimos, o texto narrativo se constrói através da interrelação entre
dados como a ação, as personagens, o espaço e o tempo, mediado por um
narrador. Aliás, é o narrador que define de certa forma o traço mais acentuado
das narrativas: ele nos leva a aceitar os fatos segundo seu ponto de vista,
participa em maior ou menor grau da sina das personagens e está sempre
presente através do ato de narrar. Mesmo quando as personagens se externam
em discurso direto, é ainda ele que lhes dá a palavra, descreve seu caráter e
reações e indica quem fala.
Caro professor(a), apresente aos alunos o texto O pote rachado, um conto
popular hindu de autor desconhecido, para uma primeira leitura, individual e
silenciosa. Em seguida, abra um espaço para os comentários sobre o texto. Veja
se percebem que o conto fala de valores como companheirismo, respeito às
opiniões e formas de expressões, aceitação das diferenças e cooperação, e o
conflito entre gerações, que afetam profundamente as pessoas e a sua maneira
de compreender a vida, o mundo e a sua própria existência, sobretudo no que se
refere às suas motivações, aos seus critérios de escolha e de comportamento.
O POTE RACHADO (conto popular hindu, de autor desconhecido)
Ilustrações – Desenhos de Rafael Gandhi de Sarro Camilo de Godoi
PersonagensPote rachadoPote perfeitoCarregador de água
O carregador de água vem caminhando feliz com dois potes de água presos em
uma vara, cada um de um lado. Um dos potes, que está rachado, vem
derrubando água pelo caminho e está com uma cara muito triste.
POTE RACHADO – Senhor, estou muito envergonhado e queria me desculpar.
CARREGADOR DE ÁGUA – E por que é que você está envergonhado?
POTE PERFEITO – (Olhando para a água que cai do pote rachado.) Eu acho que
sei o porquê!
CARREGADOR DE ÁGUA – Deixe ele falar, menino!
POTE RACHADO – Eu estou me sentindo muito mal, pois eu sou um pote
defeituoso e não estou cumprindo direito a minha tarefa de carregar água.
CARREGADOR DE ÁGUA – E qual é o seu defeito?
POTE PERFEITO - Ele está rachado, ora bolas!
(Carregador olha para pote perfeito com cara feia.)
POTE RACHADO – Ele tem razão, estou rachado e a água sempre vaza pelo
caminho.
CARREGADOR DE ÁGUA - Ah! e vocês consideram isso algo ruim?
(Os dois potes balançam a cabeça afirmativamente.)
CARREGADOR DE ÁGUA – Então venham comigo que preciso mostrar uma
coisa.
(O carregador aponta para as flores do caminho e olha para o pote rachado.)
CARREGADOR DE ÁGUA — Você notou que no caminho só há flores por onde
você passa?
POTE RACHADO – (Sorrindo.) Nossa, é mesmo! Por quê?
CARREGADOR DE ÁGUA – Porque eu lancei sementes de flores no caminho e,
todos os dias, quando voltamos do poço, você as rega. Por dois anos eu pude
colher essas flores lindas. Se você não fosse exatamente do jeito que é, essa
beleza não existiria.
(O pote rachado fica muito feliz.)
POTE PERFEITO – Ah! eu também quero ser rachado! (faz um bico enorme)
(Todos dão risada e se abraçam.) Fonte:http;//piquiri.blogspot.com/2008/o-pote-
rachado.html
Caro professor(a), a seguir, recomende-lhes uma leitura dialogada: três
alunos lerão em voz alta, respectivamente, as falas das três personagens do
texto; um outro aluno lerá as indicações sobre as personagens e a primeira
rubrica que antecede o texto. As demais rubricas não necessitarão ser lidas em
voz alta, nem os nomes das personagens anunciados antes das falas.
Depois dessa segunda leitura, sugira-lhes que falem sobre o que
observaram nesse texto quanto à maneira de apresentação, o porquê da
preponderância de diálogos, o que esses desvendam a respeito das
personagens, o porquê das frases entre parênteses e dos nomes que antecedem
as falas das personagens.
Comente com seus os alunos que o texto dramático também se constrói
essencialmente sobre os mesmos elementos da narrativa, mas os diálogos e as
ações que deles transcorrem são seu ponto-chave: são eles os responsáveis
diretos pelo enredamento do leitor ou espectador. Através deles, revela-se o
caráter das personagens e o conflito dramático. Nesse tipo de texto, os
acontecimentos desenvolvem-se de forma autônoma, sem a influência de
qualquer mediador, pois o desenvolver das ações é confiado às personagens que
vivem determinadas circunstância. Prescinde-se, portanto, de um narrador: sua
função é exercida pelas rubricas (indicações de sentimentos, reações, ações e
movimentos das personagens) colocadas, na maioria das vezes entre parênteses,
no início, meio ou fim das falas das personagens e absorvidas no palco pelos
atores e cenários.
2.6 Falando sobre o texto
Caro professor(a), após o bate-papo com a turma, é hora de você
observado se os alunos estão dominando os elementos fundamentais que
caracterizam o texto dramático. Proponha a eles que complemente e organize
essas informações, respondendo aos questionamentos que se seguem.
2.7 Atividades para o aluno
1. O texto dramático frequentemente tem, logo no princípio, a indicação de suas
personagens. Isto se confirma em O pote rachado? Quantas e quem são as
personagens dessa peça?
_________________________________________________________________
_______
2. Numa narrativa, o narrador costuma fazer referências ao lugar onde ocorrem os
fatos (espaço). E no texto dramático, também há referências sobre o espaço?
Onde se desenrola a ação de O pote rachado? Com que nome se indica o espaço
do texto dramático? Onde se situa essa indicação?
_________________________________________________________________3. Você deve ter apreendido que o texto dramático é constituído de diálogos entre
as personagens. Esses diálogos ou falas vêm sempre antecedidos do nome das
personagens que estão falando. E a indicação de suas ações, sentimentos e
emoções, de que forma aparecem?
_________________________________________________________________
4. Essas indicações, chamadas de rubricas, podem aparecer junto à fala das
personagens, no início, no fim da peça ou mesmo no meio, para indicar a entrada
de personagens ou mudanças nas cenas. Em O pote rachado há várias rubricas.
Copie a inicial e a final.
_________________________________________________________________
5. Observando as falas das personagens, o que se pode afirmar sobre eles?
_________________________________________________________________
6. O que essas falas revelam sobre as personagens?
_________________________________________________________________
7. Imagine um cenário para essa peça e desenhe-o.
_________________________________________________________________
Proceda à discussão, correção e comentários das respostas dadas,
expondo os cenários para a classe poder admirá-los compará-los. Esta já é uma
oportunidade para você observar e registrar o desempenho dos alunos, no que se
refere à percepção dos elementos indispensáveis à configuração do texto
dramático.
Outra atividade que pode ser realizada com o objetivo de aprofundar a
compreensão dos alunos da organização de um texto dramático e alimentar o
interesse dos mesmos pela unidade é programar com eles uma ida ao teatro de
sua cidade, caso haja, para assistir a uma boa peça. Se isso for possível, planeje
cuidadosamente, converse sobre o que irão ver, a qual aspectos devem estar
mais atentos, e como as pessoas devem se portar durante o espetáculo (o
respeito ao trabalho dos atores etc.).
Após a ida ao teatro, será interessante organizar um debate na sala de
aula para que todos possam expor o que observaram com relação ao texto, ao
cenário, aos figurinos, à iluminação, sonoplastia, às personagens, etc. Encoraje-
os com perguntas.
3. COMPARAÇÃO ENTRE A CONFIGURAÇÃO DO TEXTO DRAMÁTICO E DO NARRATIVO
Pretendemos, com esta atividade, que os alunos reforcem os conteúdos
estudados até aqui e, dessa maneira, compreendam progressivamente a
configuração do texto dramático. Para tanto, propomos o trabalho com dois tipos
de texto: narrativo e dramático. O primeiro é Maria Angula, um conto folclórico,
resgatado da tradição oral, de origem equatoriana, e o segundo é uma adaptação
desse mesmo texto para o teatro.
3.1 Conversando sobre o conto Maria Angula
Antes de iniciar a leitura do texto, pergunte aos alunos se já ouviram falar
do conto que vai ser trabalhado. Caso conheçam o conto, será interessante que
um aluno reconstitua oralmente a história.
Após essas observações, peça-lhes que leiam o conto Maria Angula. Trata-
se de uma narrativa curta em que o autor conta a história de uma adolescente
que era muito fofoqueira e convencida, que vivia fazendo intriga entre os amigos
para jogá-los uns contra os outros. Por isso, tinha fama de leva-e-traz, de
linguaruda, sendo chamada de moleca fofoqueira.
Conto: Maria Angula
Maria Angula era uma menina alegre e viva, filha de um fazendeiro de
Cayambe. Era louca por uma fofoca e vivia fazendo intriga com os amigos para
jogá-los uns contra os outros. Por isso, tinha fama de leva-e-traz, linguaruda e era
chamada de moleca fofoqueira.
Assim viveu Maria Angula até os dezesseis anos, dedicada a armar
confusão entre os vizinhos, sem ter tempo para aprender a cuidar da casa e a
preparar pratos saborosos.
Quando Maria Angula se casou, começaram os seus problemas. No
primeiro dia, o marido pediu-lhe que fizesse uma sopa de pão com miúdos, mas
ela não tinha a menor ideia de como prepará-la.
Queimando as mãos com uma mecha embebida em gordura, acendeu o
carvão e levou ao fogo um caldeirão com água, sal e colorau, mas não conseguiu
sair disso: não fazia ideia de como continuar.
Maria lembrou-se, então, de que na casa vizinha morava Dona Mercedes,
cozinheira de mão cheia e, sem pensar duas vezes, correu para lá:
- Minha cara vizinha, por acaso a senhora sabe fazer sopa de pão de
miúdos?
- Claro, Dona Maria. É assim: primeiro, coloca-se o pão de molho em uma
xícara de leite, depois despeja-se este pão no caldo e, antes que ferva,
acrescentam-se os miúdos.
(...)
Fonte: http://leiturasehistorias.blogspot./2009/10/conto-de-assombracao.html
Caro professor(a), reforce aos alunos que o texto Maria Angula é um
conto. Converse com eles e procure fazer com que exponham suas observações
a respeito dos elementos dessa narrativa: narrador, personagens, tempo, espaço,
enredo, etc.
Questione os alunos sobre as possibilidades de transformar esse conto em
uma peça teatral. Pergunte-lhes se a história apresenta um conflito, se explora os
sentimentos das personagens, se situa o tempo e o lugar onde tudo acontece. A
seguir, peça a seus alunos para responderem às questões propostas a seguir.
3.2 Atividades para o aluno
1. Como o narrador se coloca nesta narrativa? Ele participa ou não da história?
_________________________________________________________________
2. O texto tem três personagens. Que características psicológicas você atribuiria a Angula? E a Dona Mercedes?
_________________________________________________________________
3. Em que lugar se passam os fatos narrados no conto Maria Angula? Como você
chegou a essa resposta?
_________________________________________________________________
4. Nesta narrativa o que se pode afirmar sobre o tempo, enquanto duração e
época?
_________________________________________________________________
3.3 Conversando sobre a peça Maria Angula
Caro professor(a), passe, em seguida, ao texto adaptado para teatro.
Como na primeira atividade, os alunos farão uma leitura silenciosa.
Posteriormente, podem fazer uma leitura dialogada, nos moldes já sugeridos.
Peça: Maria Angula
CENA 1
Dona Mercedes está fazendo café. Entra Neusinha, vizinha que mora ao lado.
Neusinha: Dona Mercedes!!!
Mercedes: Ah, É a Neusinha! Entra Neusinha!!!
Neusinha: Dia!
Mercedes: Dia vizinha. Qué um cafezinho?
Neusinha: Craro! Adoro café!!! E aí, tem novidades?
Mercedes: Sabe quem mudou pra casinha ali do lado?
Neusinha: Quem?
Mercedes: Aquela tar de Maria Angula, minina espivitada que veve falano mar da
vida dos outro.
Neusinha: Quero distança, senão já vai te confusão!!!
CENA 2
Maria Angula está tentando acender o fogão de lenha quando se queima. Ela
reclama mais para com a chegada do marido.
Paulo: Dormiu bem amorzinho?
Maria: Craro!
Paulo: Intão ocê vai me agradá... Muié prestimosa, capricha tudo pro marido. Eu
vô querê de armoço um cardinho de pão com miúdo. Ocê sabe fazê, né?
(...)
Fonte:http://jardimpaulistaonline.blogspot.com/2009/11/peca-de-teatro-maria-angula.html
Caro professor(a), após a leitura, peça para que os alunos façam
considerações a respeito do texto que acabaram de ler e verifique se
conseguiram perceber que, ao longo do mesmo, o autor conduz a história de
modo a criar uma expectativa crescente no público, alimentando o suspense até
o final. Em seguida, peça-lhes também que leiam atentamente as perguntas
sobre o texto e que as respondam. Proceda à discussão, correção e comentários
das respostas dadas, procurando garantir que percebam que, no texto dramático:
• as rubricas desempenham o lugar do narrador;
• a descrição do cenário, no início do texto, oferece um maior número de
indicações para auxiliar o cenógrafo em seu trabalho;
• o tempo-época, que se refere à época em que os fatos aconteceram, em
que se desenrola o conflito dramático, bem como o espaço, que
corresponde ao lugar, ambiente, meio social ou cultural onde se desenrola
a ação (momento histórico), vêm às vezes indicados no início do texto;
outras vezes, é perceptível através de diálogo e das indicações de cenário
e figurinos;
• bem ; o espaço que corresponde ao lugar, ambiente, meio social ou cultural
onde se desenrola a ação (momento histórico), vem às vezes indicado no
início do texto; outras vezes, é perceptível através de diálogo e das
indicações de cenário e figurinos;
• o tempo-duração, que se refere à duração das ações no palco (tempo do
começo ao fim da história narrada/interpretada), mostra-se nas rubricas,
nas mudanças de cenas e atos em que o texto dramático se subdivide no
desenvolver das ações do espetáculo;
• as personagens conservaram as mesmas características psicológicas do
texto narrativo, apenas reforçadas pelos diálogos e situações criados no
texto dramático.
3.4 Conversando sobre o texto dramáticoQUESTIONAMENTOS ORAIS:
• Você gostou do texto?
• Quais são as personagens que vivem a cena narrada pelo autor?
• Se você fosse o(a) autor(a) desse texto, modificaria alguma coisa? Daria
outro título a ele?
• Você conhece alguma Maria Angula? Como você se relaciona com essa
pessoa?
• Coloque sua opinião sobre esta adaptação, os aspectos que ficaram mais
interessantes, mais engraçados.
• Você deve ter percebido que o texto original foi mantido, porém, com vários
acréscimos. Quais foram os acréscimos?
• Como é o desfecho? Traz solução ao conflito? Ou o final é aberto para que
o leitor faça a conclusão dele?
3.5 Atividades para o aluno
1. O narrador não está mais presente no texto. Sua função (contar o que se
passa com as personagens, seus movimentos, sentimentos, reações, descrever
o ambiente, etc.) passa a ser desempenhada por que elementos?
_________________________________________________________________
2. O espaço, que vinha apenas indicado de maneira rápida e curta no final do
texto narrativo, no texto dramático é descrito com mais detalhes. Que nome se dá
a essa descrição do espaço cênico? Onde ela está colocada no texto? O texto
tem três personagens. Que características psicológicas você atribuiria a Angula e
a Angula e a Dona Mercedes?
_________________________________________________________________
3. De que maneira se percebe no texto teatral as indicações do tempo (época em
que acontecem os fatos e a duração dos mesmos), já que não há mais narrador
para fazê-lo?
_________________________________________________________________
4. As personagens estão diferentes do que eram no texto narrativo? Justifique.
_________________________________________________________________
5. Foram feitos alguns acréscimos no texto original, para realçar o texto
dramático. Cite algumas dessas alterações que, em sua opinião, tenham
conseguido reforçar o lado cômico da história.
_________________________________________________________________
4. ADAPTANDO TEXTOS NARRATIVOS PARA O TEATRO
Considerando que os alunos já adquiriram um bom conhecimento sobre os
gêneros contos e peça teatral, após todas as atividades propostas, já é possível
solicitar a produção de pequenos textos teatrais para atender à proposta inicial e
avaliar se os alunos entenderam as suas principais características. Agora, deixe o
seu aluno dar asas a sua imaginação, apresentar suas ideias, discutir com seus
colegas e reconheça as boas ideias deles. O trabalho coletivo exige o empenho e
a participação de todos.
Caro professor(a), inicie esta atividade propondo que, a partir da leitura de
um texto (conto), o aluno adapte o texto narrativo para um teatral, fazendo os
ajustes necessários para a transformação de um gênero em outro. Diga-lhes que
é o mesmo que recriá-lo, ou seja, conserva-se a essência do original, mas admite-
se ao escritor acrescentar ideias, situações e até personagens. Algumas
modificações são inerentes ao gênero: por exemplo, o narrador presente no texto
narrativo dilui-se nas rubricas, nas indicações de cenários ou mesmo nas falas
das personagens.
Apresente aos alunos vários contos com temas de interesse dos alunos, e
que possam ser adaptados. O essencial é que não sejam difíceis e extensos, nem
tragam muitas personagens, e, de preferência, tenham diálogos.
Antes de a turma começar a trabalhar sozinha a atividade de adaptar textos
narrativos para dramáticos, é essencial que você faça com eles uma preparação
prévia da atividade. Inicialmente, sugira que recriem coletivamente o conto A
pequena vendedora de fósforos, de Hans Christian Andersen, procedendo da
seguinte maneira: distribua o conto e leia-o com a turma. Abra espaço para que
os alunos façam seus comentários a respeito do texto, estimulando o debate com
perguntas que os levem a perceber a tragicidade que deriva do conto, em que
Andersen expõe sua personagem às situações mais duras de sofrimento: fome,
indiferença, solidão, rejeição, inveja e carência. Nessa história, o autor associa o
desamparo às origens do ser, ao nascimento e à morte. A personagem desse
conto nasce diferente, vive excluída do grupo social, sendo discriminada e posta à
deriva. Enfrenta sozinha situações difíceis para garantir sua sobrevivência. No
conto são delicados os limites entre a vida e a morte. O desamparo da
personagem leva-a a morte, como consequência da indiferença social. E não é
apenas o limite vida-morte que foi explorado pelo autor, mas o limite da
personagem como pessoa, que produz alucinações para se manter viva. Seus
sonhos e suas fantasias são mecanismos que podem salvá-la do sofrimento. E é
a transcendência para uma outra vida (a morte para se encontrar com a avó já
falecida) que lhe garante o desejo de transformação e de mudança.
Um ponto importante a se ressaltar com seu aluno é o de que ele deve
manter o clima de tragicidade, usar uma linguagem mais elaborada, apresentar a
personagem que, vítima do destino, cai em desgraça e têm sua razão de existir
destruída, enfim, criar uma tensão, uma expectativa, uma atmosfera adequada à
ação que se desenrola em determinado tempo e lugar, despertando o interesse
do público.
Como é um texto longo, faça a adaptação por partes. Esclareça à turma
que, ao adaptar um texto para teatro, é necessário levar em conta as pessoas a
quem ele se designa: se for um público infantil, é necessário usar uma linguagem
mais objetiva e direta, dinamizar os atos das personagens para chamar a sua
atenção; se o público for de faixa etária diferente, é necessário ter certeza que
todos sejam capazes de entender o objetivo do autor e, ao mesmo tempo,
interessar-se pelo desfecho.
Inicie o trabalho dividindo o quadro: de um lado, anote as sugestões que
forem sendo dadas pelos alunos para cada trecho da história e, no outro, vá
anotando a versão definitiva do texto.
Pergunte aos alunos se o diálogo das personagens consegue transmitir a
opinião do autor, ou se desejam colocar mais algumas falas, criando uma outra
cena, ou inserir rubricas que ressaltem a diversidade das personagens. Peça-lhes
que indiquem as mudanças pretendidas e registre-as no quadro.
Proponha-lhes que caracterizem as personagens, descrevam o cenário;
registre também na lousa essas informações. Solicite-Ihes que indiquem as
rubricas que servirão de orientação para o desempenho dos atores, tanto com
relação à movimentação no palco quanto com relação à entonação. Por
último, oriente-os para copiarem no caderno cada trecho adaptado, até completar
a história toda.
Depois disso, proponha que, em grupos, façam uma adaptação de outro
conto, sem sua ajuda direta. Para isso, poderão utilizar contos com temas de
interesse de sua faixa etária ou, se preferirem, indique-lhes outros, desde que
sejam de fácil adaptação. O importante é que não sejam complexos e longos,
nem tenham muitas personagens e, de preferência, contenham diálogos.
Escolhidos os contos a serem adaptados, supervisione as atividades dos
grupos, auxiliando-os em suas dúvidas. Uma vez finalizada a adaptação, cada
grupo deverá fazer uma leitura dramática, onde o texto é lido para um público
(colegas), porém, com dramaticidade, ou seja, interpretado através de inflexões
vocais, de expressões faciais e de gestos.
Assim como um espetáculo teatral, a leitura dramática necessita de
cuidados em sua apresentação, como o uso de trajes adequados e até mesmo de
cenário, iluminação e trilha sonora.
A seguir, selecione o texto adaptado de um dos grupos, analise e corrija no
quadro com a ajuda da turma, mostre a eles como se organiza um texto
dramático, chame também a atenção deles para as questões relacionadas à
coerência, ao tema, à adequação da linguagem e às questões de ordem
estrutural.
Depois, peça aos outros grupos que troquem seus textos para fazerem a
revisão dos mesmos. Você deve mediar sempre que necessário. Durante o
desenvolvimento dessa atividade, circule pela sala, acompanhe o trabalho e alerte
os alunos para que mudem o mínimo possível o texto original dos colegas,
lembrando-se sempre de sondar os colegas (autores) para que autorizem as
alterações sugeridas.
Depois de feita a revisão, cada grupo reescreve seu texto, em uma nova
folha, ajustando o que for necessário. Você faz, então, a sua correção,
observando se os grupos conseguiram superar o desafio de produção escrita de
um outro texto, em que foi necessária a transformação da forma e da função,
neste caso, de um texto narrativo, o conto, para um texto dramático, a peça teatral
escrita.
Após a sua correção, os alunos devem passar os textos a limpo, fazer uma
cópia para cada um dos integrantes dos outros grupos e uma segunda cópia deve
ser reservada para organizar uma coletânea de pequenas peças de teatro, que
será deixada na biblioteca do colégio.
Finalmente, todos da turma serão chamados a encenar a peça teatral
produzida para a comunidade escolar, com o intuito de socializar o conhecimento
construído. Esta apresentação visa também a despertar nos alunos o interesse
por clássicos da literatura.
REFERÊNCIAS
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<http://jardimpaulistaonline.blogspot.com/2009/11/peca-de-teatro-maria-
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LEITURAS e histórias: Maria Angula. Disponível em:
<http://leiturasehistorias.blogspot.com/2009/10/conto-de-assombracao.html>.
Acesso em: 16 mar. 2010.
O BLOG da Meire. Atividades com o conto. Disponível em:
<http://oblogdameire.blogspot.com/2010/02/atividades-com-o-conto.html>. Acesso
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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio do estado do Paraná: língua portuguesa. Curitiba: SEED, 2006. Disponível em:
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