O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Secretaria de Estado de Educação
Superintendência da Educação
Departamento de Políticas e Programas Educacionais
Coordenação Estadual do PDE
Marilza Ferreira Alciati
Material Didático Pedagógico
Unidade Didática
Conteúdo Estruturante: Estética
Tema: Filosofia e Dança
Curitiba/2009
Secretaria de Estado de Educação
Superintendência da Educação
Departamento de Políticas e Programas Educacionais
Coordenação Estadual do PDE
Marilza Ferreira Alciati
Filosofia e Dança
Curitiba/2009
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Dados de Identificação:
• Professora. PDE/2009: Marilza Ferreira Alciati
• Área PDE: Filosofia
• NRE: Curitiba
• IES vinculada: UFPR
• Professora Orientadora: Drª Claudia Madruga Cunha
• Produção Pedagógica: Unidade Didática
• Escola de Implementação: Colégio Estadual “Victor do Amaral” Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante.
• Público Alvo: Alunos do Ensino Profissional
• Área relacionada do Conteúdo Estruturante: Estética
• Tema: Filosofia e Dança
3
Figura 11
1. Visão geral da Unidade Didática:
Esta unidade temática tem por objetivo trabalhar conteúdos que figuram
numa estrutura onde a Estética é seu ponto de partida. Pretende trazer temas
1 Fig.1dance-funky http://www.google.com.br/images?hl=pt-
BR&source=imghp&q=dance-funky.jpg.
4
ligados à filosofia do Ensino Médio e Profissionalizante; especialmente, quer
desenvolver um Material Didático cuja proposta de implementação,
desenvolvimento e avaliação devem ser realizados em no mínimo mais de duas
aulas semanais. Pretende desenvolver uma nova forma de se trabalhar a filosofia
em sala de aula; para tanto convida os interessados na relação filosofia e dança a
dar credito esse desafio de unir essas duas diferentes ações numa proposta.
Nesse sentido, invoca agregar teorias filosóficas à dança, fazendo do
próprio ambiente de ensino da filosofia um espaço de forma e movimento. Mais
que provocar um encontro entre campos numa perspectiva didática, vislumbra e
dar uma contribuição e, quem sabe até mesmo inovar, compondo uma prática
pouco utilizada para no fazer filosófico.
Filosofar e dançar ou pensar e movimentar-se de modo ritmado são
elementos aparentemente dispares. Porém nada impede que o pensamento se
expresse e, numa perspectiva filosófica, se mostre numa composição rítmica. O
pensamento é movimento. Trabalhar possíveis diálogos entre filosofia e dança,
entre idéia e expressão, cogita uma união entre forma e movimento, dois
conceitos extremamente caros à estética e à experimentação artística. Por
conseqüência, objetiva-se aqui permitir operar uma filosofia que explora uma
aproximação entre estes campos.
A dança enquanto interpretação trabalha algo que já está presente nos
conceitos filosóficos, daí ser utilizada como forma de expressão. Num contexto
geral, pode chegar a abranger vários ritmos ou estilos musicais, tais como: a
dança folclórica, a dança clássica ou a dança moderna. Todas e ainda outras
mais podem ser envolvidas no cenário de uma visão filosófica. Entrelaçando
reflexão e ação em um dançar que passa a ser um instrumento metodológico
para o ensino da filosofia.
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O tempo previsto para a unidade e seqüência dos conteúdos e atividades
dependerá do tempo gasto para o seu desenvolvimento, mediante a
recomendação acima citada: mais de duas aulas semanais, de acordo com as
possibilidades e condições de cada momento.
2. O papel da Filosofia no 2º Grau
O ensino de filosofia tem por objetivo dar condições para que todos tenham a
oportunidade de desenvolver a capacidade humana de pensar, de pensar de
forma coerente e crítica. Desta forma a inclusão da disciplina de filosofia no
currículo das escolas de 2º Grau, se faz um bem necessário, uma vez que ela
oferece ao aluno condições de superação da consciência ingênua para uma
consciência crítica. Qualquer que seja a atividade profissional futura ou projeto
de vida, enquanto pessoa e cidadão, o aluno precisa da reflexão filosófica para o
alargamento da consciência crítica. Para o exercício da sua capacidade
humanizadora de interrogar-se sobre o mundo no qual vive. Isto lhe permite uma
participação mais ativa na comunidade em que habita (ARANHA e MARTINS,
1996).
Sendo a disciplina de filosofia e seu estudo de fundamental importância
para a formação do cidadão, muitas vezes passa a ser aplicada de maneira
tradicional e monótona, o que ocasiona certo desinteresse por parte dos alunos.
Desta forma, introduzir a dança nas aulas de filosofia, no processo de educação
desta disciplina, pode ser uma estratégia eficaz para a aprendizagem dos
conteúdos filosóficos pelo publico adolescentes.
Tal procedimento requer colocar a arte em evidencia como algo que é,
sem dúvida, um dos modos simbólicos de os homens expressarem-se e
pensarem-se no mundo. Assim, trabalhar a arte enquanto dança na sala de aula,
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visa contribuir para enriquecer a visão de mundo dos alunos. Já para o professor
de filosofia pode se constituir num desafio necessário para a renovação da sua
própria formação.
Concluindo esta breve apresentação desta unidade didática, lista-se abaixo
seus objetivos:
• Desenvolver a atenção, imaginação, concentração, raciocínio e
criatividade através da arte;
• Libertar a expressão e a comunicação, utilizando-se da linguagem
corporal;
• Pesquisar conteúdos filosóficos para a criação de coreografias e para
fundamentação das reflexões;
• Aprimorar a criatividade e a interpretação, favorecendo a expressão de
lúdico no retratar e canalizar o humor, o temperamento e outros, através
movimento rítmico e da livre expressão;
• Favorecer a adesão as duplas, aos trios ou aos grupos maiores e menores
para o enriquecimento das experiências coletivas, oportunizando a
integração entre alunos;
• Adequar o individual e o coletivo de maneira espontânea e prazerosa
através de uma atividade de qualidade.
3. A Filosofia e suas grandes áreas
A reflexão filosófica nasceu na Grécia por volta do século VI a.C. e V
a.C; com os filósofos chamados Pré-socráticos. São denominados assim por que
antecederam Sócrates e outros filósofos importantes como Platão e Aristóteles,
cujas teorias são ainda hoje a base da filosofia. Estudiosos daquele período
propuseram que o estudo da filosofia, por ser abrangente e de diferentes
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enfoques, deveria ser dividido em partes ou áreas. É interessante salientar que os
interesses investigativos dos filósofos clássicos foram vários. Desde aquele
tempo estes pensadores se perguntavam sobre o como se conhece as coisas? O
que é bom? O que é o bem? E o que é o belo? Tais questões historicamente
foram, depois de muito debate, se constituindo em diversos conteúdos que hoje
são a gênese do ensino da Filosofia.
Das diferentes áreas conceituais derivaram vários conteúdos, incluindo
alguns que podem ser interpretados através da dança. As grandes áreas da
filosofia são:
a) Teoria do Conhecimento - Parte da filosofia que investiga os problemas
decorrentes da relação entre sujeito e objeto do conhecimento, bem como as
condições do conhecimento verdadeiro. É a partir da Idade Moderna que a
Teoria do Conhecimento passa a ser uma disciplina autônoma, quando os
filósofos se ocupam de forma sistemática com as questões sobre a origem,
essência e certeza do conhecimento humano;
b) Filosofia Política é a parte da filosofia que trabalha as relações
humanas sob o ponto de vista coletivo. Tematiza o político sob uma visão
filosófica procurando distingui-lo da politicagem. Examina conceitos de poder e
de força; assim como, a importância da ação política para a equalização dos
direitos e deveres dos seres humanos que vivem em sociedade, em grupo, em
comunidade, etc. Procura na atualidade enfatizar a importância de uma educação
para a cidadania;
c) Filosofia Moral ou Ética essa se constitui como a parte que se ocupa
das noções e dos princípios que fundamentam a vida moral ou o agir humano.
As questões éticas indagam a respeito do que é o bem e o mal, sobre origem e
derivação dos valores morais; bem como investiga a natureza do dever ou no
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que consiste a autonomia e a finalidade da ação moral? Procura-se então
respostas a essas e outras questões que caracterizam as diversas concepções de
vida moral elaboradas pelos filósofos através dos tempos.
d) Filosofia da Arte ou Estética é o campo que estuda o belo,
conceitualmente. Nisso se inclui todo tipo de expressão artística, entre elas a
dança. Uma vez que estuda o pensamento ligado a arte e ao belo e suas formas
de expressão, é uma produção de conhecimento que se faz no campo filosófico e
não pretende envolver apenas a racionalidade, mas sim as emoções, os
sentimentos e o corpo – que aqui também são convocados a filosofar.
Desta forma, será através da estética e da dança esse trabalho didático
constrói seu vinculo com a filosofia. Fazendo da aesthesis o foco central da sua
atividade que se diga, fica voltada para as teorias da criação e percepção
artísticas.
4. Estética e dança
Filosofia da Arte estuda de forma racional o belo – ou aquilo que desperta a
emoção estética por meio da contemplação; ou seja, teoriza o sentimento sobre a
beleza que se evidencia nos homens. A “Estética” é uma disciplina filosófica e
seu termo vem do grego aesthesis, que significa conhecimento sensorial ou
sensibilidade. De acordo com o Vaccari (2010), ela tem como seu tutor o
filósofo alemão Alexander G. Baumgarten (1714-1762). Este pensador, no ano
de 1735 na Alemanha, adotou o vocábulo “estética” inicialmente nas suas
Reflexões filosóficas acerca da poesia. Foi somente no século XVIII que
Baumgarten inaugurou oficialmente a disciplina filosófica “estética”, com a
publicação do seu livro Estética ou Teoria das artes liberais, conceituando-a
como “ciência do belo e da arte”.
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Segundo Martins (2008) a expressão “estética” é de uso recente para
designar uma área filosófica, que desde os primórdios da antiguidade, já era
abordada sob outros nomes. Entre os gregos principalmente usava-se o termo
poético ou a poiesis, que significa criação, fabricação, e era aplicado
frequentemente à poesia e a outras artes. Gradativamente a estética passa então a
abranger toda uma reflexão filosófica que tem por objeto as artes em geral ou
uma arte específica. Englobando, portanto, o estudo dos objetos artísticos como
também os efeitos que estes provocam no observador, abrangendo
consequentemente os valores artísticos e a questão do gosto de forma geral.
5. Estética para alguns filósofos
Costuma se propor que o começo da cultura ocidental, cultura que as
Américas herdaram em função da colonização, tenha se dado nos primórdios da
cultura helênica oriunda nos seus elementos fundamentais da Grécia Antiga.
Herdeiros desta base cultural, diferentes povos contribuíram ao longo dos
séculos para uma transformação do conceito de belo, revalidando-o sob diversos
aspectos. Pintura, cultura, escultura, arquitetura, e uma diversidade de
expressões artísticas fotografia, cinema, vídeo, entre outros o teatro, a dança,
formam ou transformam nesses dias em que se vive o conceito de belo, tentando
fugir aos excessos materialistas desta época.
A estética representa uma área que evidencia diversas ações que se podem
conjugar como parte da filosofia e tradicionalmente aparece ligada às diversas
formas de se buscar a arte e a noção de beleza. Nela a arte ocupa um lugar
privilegiado como reflexão Estética, uma vez que durante muito tempo, essa foi
considerada como tendo por função primordial exprimir a beleza de modo
sensível.
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Com o passar do tempo diferentes filósofos se apropriaram do conceito de
estética e, em épocas diversas, pensaram e propuseram o estudo da arte. Na
primeira metade do século passado Heidegger
( algosobre.com.br/sociofilosofia/estética.html), afirmava que: “Desde o tempo
em que despontou uma reflexão expressa sobre a arte e os artistas, tal reflexão se
chamou Estética”. Como área da filosofia, ela busca pensar a condição de
possibilidade, a origem de toda manifestação artística.
Numa época anterior, o idealismo alemão de Schelling e de Hegel
(algosobre.com.br/sociofilosofia/estética.html), apontou a arte como à instância
em que o espírito, tornando-se consciente de seus próprios interesses, desperta
para a sua vontade de absoluto. Interessa compreender que estes filósofos
entendiam que a beleza muda de face e de aspecto através dos tempos. Essa
mudança chamada por alguns de “devir” ou “vir-a-ser” reflete aquilo que na arte
depende mais da cultura e da visão de mundo presentes em cada época, do que
venha a derivar de uma exigência interna exclusiva do belo. Este estado de
constante transformação inclui as expressões artísticas, entre elas a dança, uma
vez que esta também se modifica frente às transformações sociais e culturais de
cada época.
Kant (coladaweb.com/filosofia/estética -2009) por sua vez elabora o seu
sistema crítico através de três obras: a Crítica da Razão pura, que trata da
verdade; a Crítica da Razão prática, cuja questão é o bem, e a Crítica da
faculdade do juízo, que investiga a experiência Estética do belo como atitude
contemplativa, desinteressada das faculdades humanas. Na filosofia kantiana
que rondava o século XVIII o juízo estético é oriundo do sentimento, e funciona
no ser humano como intermediário entre a razão e o intelecto. Aqui se começa a
intuir que a dança é a própria expressão dos sentimentos e emoções enraizada no
sujeito.
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No século XIX, Nietzsche contrapondo em muitos aspectos a filosofia
kantiana não separa a dança da filosofia. Este filósofo pensa a arte como
estimulante vital contra todo o pessimismo da decadência platônico-cristã:
“Temos a arte para não perecermos da verdade”
(algosobre.com.br/sociofilosofia/estética.html -2009).
Para Nietzsche (por algosobre.com.br/sociofilosofia/estética.html -2009) o
homem de “espírito livre” se caracterizava como aquele que dança. Sua obra
Assim falou Zaratustra, produzido entre os anos de 1833 e 1885, é apontada
como um escrito fundamental de seus pensamentos. Nele se encontram os
referenciais fundamentais de sua filosofia e os conceitos tais como: a vontade de
poder como essência da vida, a crítica à racionalidade, o eterno-retorno, o super-
homem, o apolíneo e o dionisíaco. A música, como arte exerce, na filosofia de
Nietzsche, um papel fundamental.
Este filósofo vê na música uma função educativa muito mais ampla, que
tem a capacidade de conduzir a humanidade a uma esfera superior de sua
relação com a vida. Segundo Nietzsche
(algosobre.com.br/sociofilosofia/estética.html) a dança e a música formam uma
unidade. De modo alegórico, a dança aparece nas andanças do personagem
central da obra. Ela se mostra como um suporte para o desenvolvimento de certa
reflexão filosófica. Logo, a filosofia e a dança devem revelar traços comuns,
intersecções, formas similares de se situar perante a vida.
O criador do Zaratustra incentivava a dança como um brincar com a
realidade, um dizer sim à vida. Para Nietzsche (por
algosobre.com.br/sociofilosofia/estética.html-2009) dançar é mover-se como um
ser de vontade! Esses são os primeiros passos ou o pano de fundo para se
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compreender o porquê da escolha de Nietzsche pela metáfora da dança. Dançar
expressa um querer que exercita a leveza ou a ligeireza. A agilidade do
dançarino é o suporte da vida vivida com o espírito da criança. A dança que o
filósofo enxerga é aquela que não tem códigos determinados enquanto ação
individual ou coletiva; muito ao contrário, dançar ao modo nietzschiano
possibilita uma espécie de desintegrar códigos e lugares comuns, é um desfazer
de representações da normalidade. Dançar liberta as interpretações, aquelas que
comumente se enquadram um formato duro e rígido no qual se examina a
realidade, passa a ser suavizadas numa busca de trabalhar o real em outras
dimensões expressivas.
Quando Nietzsche (por algosobre.com.br/sociofilosofia/estética.html
-2009) se dedica a resgatar os valores pré-socráticos da cultura grega ligados ao
dionisismo o faz, permitindo à filosofia um encontro com arte que valoriza a
dança. Portanto, há de se compreender que essa dança que Nietzsche apresenta
como energia vital, transformadora, e, de certo modo, destruidora da apatia
normalizadora deve ser explorada e entendida como uma dança dionisíaca ou
uma expressão de êxtase na qual há um entusiasmo do corpo com a música, com
o divino e com o outro. Em outras palavras como pura expressão de pensamento
e de emoção que instigam um corpo materializado a se movimentar.
A dança é um “sim” à vida, mas só pode ser dançada por quem compartilhe
desse “sim”, por aqueles que queiram se embriagar de seu êxtase! Logo, dançar
é sempre homenagear Dionísio, o deus do vinho, dos sentimentos e do prazer; é
também um atributo à vida, pois ninguém suporta viver sem prazer! Quando
Nietzsche remete-se à dança é esse o panorama de sua referência. Tem nessa
atividade uma expressão divina, relação do homem com seus deuses por meio
do corpo. O corpo é objeto central na relação com o transcendente nas festas
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sagradas entre os gregos, e a dança é uma das formas de elevar as potências
corporais até o nível da harmonia divina.
Num retorno a Grécia clássica se encontra Platão
(conhecimentopratico.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/17/artigo134537-
1.asp.) que interpreta a arte de modo ambivalente. De um lado ele condena a
pintura e a escultura como arte ilusórias, uma vez que estas são formas que
podem falsificar a imagem das verdadeiras formas da natureza. De outro lado,
este mesmo filósofo elogia a música e a dança como exercícios de educação
para compreensão do bem e da verdade. Tendo sido discípulo de Platão,
Aristóteles2 foi o primeiro pensador a escrever uma obra acerca da questão da
arte, afirma em sua tese que ela, a arte imita a natureza, tornando-se um
paradigma para todo o pensamento estético ocidental.
Foi Aristóteles3 que identificou pela primeira vez os fenômenos que
tematizam os conceitos da verdade, do bem e do belo; transformou estas
questões em algo fundamental para o pensamento e para o estudo da filosofia.
Nisso se pode dizer, que um estudo significativo sobre as artes vem se
exercendo desde dos primórdios da Grécia Antiga. Da preocupação com a
origem do belo, veio toda uma investigação que colabora com uma educação
Estética e oportuniza “experiências” que visam desenvolver a consciência
Estética.
Já na educação grega o homem educado era aquele que sabia, além de
política e filosofia, cantar, tocar e dançar. Sócrates descreve em certa ocasião
que os melhores na guerra eram os hábeis na arte da dança. Platão4 descreve
ainda a dança e a música como essenciais ao aprimoramento do espírito e ao
2 3 (conhecimentopratico.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/17/artigo134537-1.asp.)
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equilíbrio da mente, sendo de grande valia o ensinamento da mesma às crianças.
Como exercícios de educação para a compreensão do bem e da verdade. Para
Platão5 o homem que não sabia dançar não era educado. Para ele, há um nexo
fundamental entre o belo, o bem e a verdade, sendo a experiência de um a
condução para o conhecimento do outro. Enfim, dança, para os filósofos gregos,
era o que cultivava a disciplina e a harmonia das formas com prática
fundamental da educação (CHAUÍ, 1994).
Por fim, do passado aos dias de hoje a arte se oferece ao sentimento e à
percepção para possibilitar a compreensão da Estética. Enquanto disciplina
filosófica, a estética visualiza o que deriva de um retorno às teorias da criação e
da percepção artísticas, unidas pela aestesia6 ou noções sobre o belo que
compõem a reflexão filosófica como produção de conhecimento.
É nesse sentido que se resgata a dança como atividade que se apresenta
como essência Estética da corporeidade. Como potencialidade de um agir que se
faz frente à relação ao sentimento do belo ou da aestesia, trabalhar o dançar
pode se constituir em um saber que mostra uma outra possibilidade pedagógica,
que de maneira desafiadora opera os conteúdos da filosofia. Um filosofar com o
corpo em toda sua totalidade através dos vários canais de percepção, na intenção
de dobrar a reflexão como expressão sobre si mesmo. É um sentir-se que
desperta potencialidades para o entendimento estético, como também para a
própria experimentação (LABAN, 1978).
4 (conhecimentopratico.uol.com.br/filosofia/ideologiasabedoria/17/artigo134537-1.asp.)5 ( conhecimentopratico.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/17/artigo134537 -1.asp.)
6 (www.algosobre.com.br/sociofilosofia/estética).
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Para além do que já foi dito a dança como atividade expressiva pode ser
usada de maneira à contribuir satisfatoriamente à prática pedagógica, fazendo
com que o indivíduo se expresse criativamente. Aponta para uma linguagem
corporal transformadora, uma ferramenta para o indivíduo lidar com suas
necessidades, desejos, expectativas; podendo vir a servir como instrumento
individual e social. Juntas a filosofia e a dança na escola, mostram-se uma forma
de incentivar uma linguagem, na qual o indivíduo dispõe para expressar e
comunicar seus sentimentos, emoções e valores, refletindo assim, as relações
sociais e culturais segundo Laban ( 1978).
6. A dança como expressão e linguagem corporal
O corpo do aluno se faz presente como um todo, no processo aprendizado,
tanto teórico como prático. Sua presença na escola faz dela um ambiente
adequado para a construção da imagem corporal do aluno, contribuindo assim
para o domínio da autonomia, da responsabilidade, da comunicação, da
criatividade, da sensibilidade e da interação dele.
A linguagem corporal é uma ferramenta forte de comunicação, se
conseguirmos entender o que o corpo tem a dizer, conseguiremos também
entender melhor o que os outros estão dizendo, e também transmitir melhor a
sua mensagem. Trazer a dança para as aulas de filosofia pode tornar o próprio
conteúdo de filosofia mais agradável para os alunos participantes nesta aula,
permitindo socializar este conhecimento de forma crítica, abrangente e
interativa, contribuindo ainda para a formação de seres humanos para que sejam
capazes de criar. A linguagem corporal intencional depende de uma consciência
sobre o corpo, consciência que pode ser ampliada e muito pela reflexão
filosófica.
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As diversas formas artísticas existem para responder as diferentes
necessidades de expressão do ser humano. A dança por sua vez vem
proporcionar uma formação necessária para o aperfeiçoamento dos processos
cognitivos, motor e sócio-afetivo, contribuindo para um despertar de interesse
por parte dos alunos no processo educacional (MARQUES, 2005).
A dança alicerçada à filosofia com certeza vem possibilitar aos alunos
conhecerem-se a si mesmo, em um trabalho que usa ação e reflexão. O trabalho
com o corpo gera a consciência corporal. O aluno questiona-se e começa a
compreender o que passa consigo e ao seu redor, tornando-se mais espontâneo
quando expressa ou comunica seus desejos. De acordo com Laban “a dança na
sala de aula pode partir da idéia de que o movimento é uma forma de expressão
e comunicação do aluno. Logo, permite tornar o cidadão crítico, participativo e
responsável, alguém capaz de expressar-se em variadas linguagens,
desenvolvendo a auto-expressão e aprendendo a pensar em termos de
movimento” (citado por MARQUES, 2005 p.147).
O pensamento filosófico de Laban (citado por Marques, 2005) encaixa-se
perfeitamente com os princípios de uma educação progressista que possibilita ao
aluno expor-se, por seus próprios movimentos. Sua compreensão, da dança
como instrumento para ensinar a filosofia indica em se considerar não apenas a
graciosidade, a beleza das linhas e a leveza dos movimentos, mas propõe que se
destaque a liberdade que possibilita ao homem se expor por seus movimentos e
encontrar a auto-suficiência no próprio corpo. Laban (1978) relata que são os
movimentos do corpo que traduzem as formas de pensar, agir e sentir.
Concluindo, dançar aqui fala de um movimento que deve ser
compreendido em outro nível de importância no desenvolvimento da pessoa e na
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construção de sua identidade. A dança aliada a filosofia além de uma ação
pedagógica, é também uma ação psicológica e filosófica com fins próprios.
Nesses fins, busca a normalização ou a melhoria do comportamento dos jovens
educando-os e, proporcionando ainda o resgate de valores culturais, o
aprimoramento do senso estético e o prazer da atividade lúdica para o
desenvolvimento físico, emocional e intelectual destes.
7. Atividades didáticas
Fig.2 7
Atividades 1: Os primeiros
passos....
Cria um contexto ou ambiente
entre musica e filosofia
• Junto com seus alunos o professor pode executar exercícios no chão para
exercitar a musculatura e para conhecimento e desenvolvimento das
articulações e flexibilidade e, procurar assim, exercitar a criatividade e
concentração durante os exercícios. Poderá, em seguida, promover
leituras de textos filosóficos para permitir uma maior interação com a
disciplina e, numa seqüência, conduzir os alunos a interpretar textos
selecionados por meio de movimentos do corpo.
7 www.google.com.br/imgres?imgurl=http://2.bp.blogspot.com/…bonequinhos+
dançando.bmp.
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• Cantar uma música programada e elaborada pelo próprio professor
envolvendo um conteúdo filosófico específico, para permitir o
desenvolvimento de determinados gestos envolvendo interação e
interdependência.
• Orientar os alunos para movimentos ao som de músicas rápidas,
moderadas e lentas. Deverá se fazer com que os alunos previamente
escolham uma musica entre as selecionadas pelo professor que conectam
um texto ou conteúdo específico de filosofia; permitindo uma
interpretação diferenciada que envolve o raciocínio através dos
movimentos do corpo.
• Em princípio o professor pode sugerir que façam os mesmos
movimentos que ele; num segundo momento, pode se deixar que os
alunos os criem, seus próprios movimentos, sempre sob a voz de
comando do professor ou professora.
Por exemplo:
• Dançar no ritmo da música nos níveis Baixo (B), Médio (M), e Alto
(A) somente com a cabeça/ombros/braços/pernas.
• Dançar no ritmo da música com todas as partes juntas: cabeça, ombros,
braços e pernas.
• Dançar no ritmo da música nos níveis B, M, A de mãos dadas com um
(a) colega, dois ou três.
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Atividade 2: Temas e ritmos
Encontro entre temas filosóficos e outros e letras de musica. Para ser realizada
esta ação será necessário um prazo de quinze dias para pesquisa de criação dos
movimentos e construção da apresentação final dos alunos; ou seja, inclui um
tempo para criação das coreografias:
• Grupos sob a orientação do professor(a), através de temas
filosóficos selecionados, devem pesquisar alguns dos temas propostos
para a criação de coreografias e fundamentação das reflexões. Ficará a
critério dos alunos a escolha dos ritmos ou estilos musicais a serem
desenvolvidos junto com as coreografias.
1º - O professor, sob o estímulo de um estilo musical, deverá conduzir
alguns exemplos de movimentos, de acordo com um tema proposto por ele.
2º - Em seguida pode dividir a classe em pequenos grupos, sugerindo temas
para cada grupo, onde deverão criar movimentos para que os demais grupos
possam reproduzi-los.
3º - Sugere-se utilizar coisas do cotidiano ou temas polêmicos mesclando
com os conteúdos específicos da filosofia; os já abordados em sala de aula ou os
que deverão ainda ser trabalhados e discutidos pelo professor.
Apontar o contexto envolvido nalgum Texto. Para exemplo, utiliza-se dois
textos abaixo:
Texto 1:Arte popular ou folclore
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Segundo Arnold Hauser, teórico e historiador da arte, a arte popular ou
foclórica compreende a produção poética, musical, plástica, teatral e de
dança de um setor da população que não é intelectualizada, nem urbana, nem
industrial.
Na verdade podemos encontrar arte popular, hoje nas cidades grandes,
industrializadas, para onde migraram os habitantes rurais, inclusive de outras
regiões do país, ou, ainda de outros países, como é o caso das colônias
italiana, japonesa e alemã no Brasil. È possível encontrá-la, ainda, em
algumas manifestações urbanas como a dança de salão, que preserva ritmos e
danças populares de várias regiões, ou em peças do vestuário e nos adereços.
O traço distintivo que realmente caracteriza uma produção artística
folclórica é o fato de ser produzida pelo grupo, estar enraizada na vivência do
grupo e por essa razão, ter o mesmo grupo como público. O adjetivo
“popular”, portanto, é usado porque o “ povo” é a origem e o fim da
produção.
Nesse sentido, a produção folclórica não é um espetáculo, uma
curiosidade para ser consumida pelos turistas de outras regiões.
Ela é a expressão mais genuína de um grupo de pessoas, é a representação
simbólica de seu modo de vida, de suas raízes, de suas crenças e aspirações.
É através dela que o grupo encontra o reflexo de sua identidade cultural.
Por essa razão, quando se busca a identidade de uma nação, seu folclore
é valorizado. No entanto, no momento em que o folclore deixa de estar
inserido na época e no lugar em que se originou, e é retirado das mãos
daqueles que o vinham recriando tradicionalmente, ele perde sua razão de
ser, esvazia-se de sentido. Tanto aqueles que o reproduzem quanto o próprio
público que com ele entra em contato deixa de estar vinculado
existencialmente àquilo que o folclore significa; ele se torna um mero
“espetáculo” que pode ser visto e esquecido; em uma palavra, consumido.
Como exemplo, podemos citar o Carnaval, em especial o do Rio de Janeiro,
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que deixou de ser a manifestação de alegria, às vezes crítica, de blocos de
fuliões, para se transformar na “passarela do samba”, na qual desfilam e
ganham publicidade artistas de TV, cantores, modelos, membros da “alta
sociedade”.
Atividade que poderá ser desenvolvida em dois meses, a critério do
professor:
1º- Individualmente os alunos deverão aprofundar o texto em forma de
pesquisa, procurando identificar as características da arte popular ou folclore;
2º- Os alunos em grupo devem realizar uma pesquisa de uma cultura
específica da Região sul do Brasil, analisando o modo de pensar e agir
daquela povo , produzindo um texto sobre o mesmo;
3º- Os alunos com o auxílio do professor, produzirão uma coreografia que
represente a região escolhida, com base no texto produzido.
4º- Ao final os alunos apresentarão o texto elaborado e a coreografia.
Texto2: A imaginação
O processo de trabalho do cientista aproxima-se do processo de trabalho do
artista. Ambos desenvolvem um tipo de comportamento denominado
“exploratório”, isto é, dedicam-se a “explorar” as possibilidades, “o que poderia
ser”, em vez de se deter no que realmente é. Para isso, necessitam da
imaginação. Assim, um dos sentidos de criar é imaginar. Imaginar é a
capacidade de ver além do imediato, do que é, de criar possibilidades novas. É
responder à pergunta: “Senão fosse assim, como poderia ser?”. Se dermos asas à
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imaginação, se deixarmos de lado o nosso senso crítico e o medo do ridículo, se
abandonarmos as amarras lógicas da realidade, veremos que somos capazes de
encontrar muitas respostas para a pergunta.
Este é o chamado pensamento divergente, que leva a muitas respostas
possíveis. É o contrário do pensamento convergente, que leva a uma única
resposta, considerada certa. Por exemplo, à pergunta “Quem descobriu o
Brasil?”, só há uma resposta certa: Pedro Álvares Cabral. Para a pergunta “Se os
portugueses não tivessem descoberto o Brasil, como estaríamos vivendo hoje?”,
há inúmeras respostas possíveis. A primeira envolve memória; a segunda,
imaginação.
Tanto o artista quanto o cientista têm de ser suficientemente flexíveis para
sair do seguro, do conhecido, do imediato, e assumir os riscos ao propor o novo,
o possível (ARANHA;MARTINS, 1998).
.
Esta atividade que pode ser desenvolvida em um mês, ficando a critério do
professor a disponibilidade das aulas para realização das tarefas:
1º- Leitura e reflexão sobre o texto com a turma;
2º- Individualmente o aluno pode descrever as idéias principais do texto,
explicando-as com suas palavras, buscando responder qual o papel da
imaginação no ato de criar?
3º- O professor em referência aos textos ou conteúdos específicos
trabalhados em sala de aula, deve solicitar aos alunos que, em pequenos grupos,
re-elaborem alguns dos textos ou conteúdos de forma criativa. Em seguida o
professor poderá selecionar os melhores textos produzidos para que se monte
uma coreografia, estimulando é claro a imaginação e a criatividade, para
adequar os movimentos ao texto e a um estilo musical proposto pelos próprios
alunos.
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Ao final, um dos alunos de cada grupo faz a leitura do texto e se apresenta a
coreografia por todos os integrantes do grupo.
8. Considerações finais
O professor deverá atuar como um Orientador dos trabalhos a serem
desenvolvidos, lançando situações problemas e observando a participação de
cada um no grupo e individualmente. Poderá também sugerir uma auto-
avaliação ou avaliação da atuação do grupo. Cabe ainda ao professor explorar o
potencial do aluno, possibilitando seu desenvolvimento natural e espontâneo,
favorecendo assim o despertar da criatividade.
Lembrando que, o professor não deve estar aqui para ensinar os seus alunos a
dançar, mas sim favorecer a aprendizagem utilizando-se da expressão corporal,
criando desta forma condições para que os alunos se movimentem e usem sua
criatividade, desenvolvendo ainda mais a atenção, imaginação, concentração e
raciocínio através da arte (ARANHA;MARTINS, 1993).
9. Fontes consultadas:
ARANHA, Maria Lucia de A; MARTINS, Maria Helena P. Temas de
Filosofia. São Paulo: Moderna,1998.
____. Filosofando. 2. ed .São Paulo: Moderna,1993.
BARRETO, Débora. Dança...: ensino, sentidos e possibilidades na escola. 2 ed.
Campinas: Autores Associados, 2005.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia. 1.ed. v.1. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. São Paulo: Summus, 1978.
____Dança educativa moderna. 2. ed. São Paulo: Ícone, 1990.
MARQUES, Isabel A. Dançando na Escola. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2005.
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http:// www.algosobre.com.br/sociofilosofia/estéticahtml
http://conhecimentopratico.uol.com.br/filosofia/ideologia-
sabedoria/17/artigo134537-1.asp.
http://www.coladaweb.com/filosofia/estética.
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