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Page 1: Da saturação à negociação no urbano compartilhado

saturaçãoda

negociaçãoà

compartilhadourbanon

o

Page 2: Da saturação à negociação no urbano compartilhado

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOTrabalho Final de Graduação

Amanda de Almeida Carvalho

DA SATURAÇÃO À NEGOCIAÇÃO NO URBANO COMPARTILHADO

Ouro Preto2015

Page 3: Da saturação à negociação no urbano compartilhado

Ouro Preto2015

Amanda de Almeida Carvalho

DA SATURAÇÃO À NEGOCIAÇÃO NO URBANO COMPARTILHADO

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Cur-

so de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Federal de Ouro Preto, como requisito parcial

para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetu-

ra e Urbanismo.

Orientadora: Monique Sanches Marques

Coorientador: Marcelo Reis S. Maia

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, assim como toda minha gra-

duação, a aqueles que tanto fizeram para que eu

me tornasse uma profissional. A minha mãe Valéria

(in memorian) e ao meu avô João (in memorian),

vocês ainda são a minha força. O dia que vocês tanto

esperavam está chegando. Ao meu pai Vitor, mais

do que nunca, por ser o maior suporte que eu pre-

cisava. A minha irmã Aline , meu afilhado Matheus e

minha avó Nadir, eu continuo por vocês.

Page 4: Da saturação à negociação no urbano compartilhado

AGRADECIMENTOS

Agradeço às amigas Camila, Ana, Jucyara, Camilla,

Keila, Clara, aos professores Rafael (UFOP) e Mar-

celo (UFMG), ao Marcelo Lopes, a minha prima

Thaís, aos colocs de Assens e IAESTE Switzer-

land, em especial Tjasa, Mitko e Anli, à Guiomar

e minha psicóloga Cida pela ajuda essencial para o

desenvolvimento desse trabalho e pelo apoio nos

momentos mais difíceis. Especialmente agradeço

a minha orientadora Monique pelo aprendizado e

acompanhamento, por estar comigo durante todo

esse tempo.

“Imagine uma cidade viva onde você tem conhecimento em tempo real de tudo o que está acontecendo ao seu redor...”

SENSEABLE CITY LAB, MIT

Page 5: Da saturação à negociação no urbano compartilhado

RESUMO

Esse trabalho apresenta a experimentação de uma ferramenta de visualização e percepção das atividades urbanas que pode ser aplicada a qualquer ambiente urbano contemporâneo, complexo e dinâmico, chamado aqui de urbano compartilhado. Como estudo de caso foram escolhidas as cidades de Ouro Preto (Minas Gerais, Brasil) e Lausanne (Cantão de Vaud, Suíça) para a criação de diagra-mas topológicos de informações dinâmicas através de recursos tecnológicos do design paramétrico. Esses diagramas, sobrepostos, permitem a análise de processos congestionantes e picos de saturação com a combinação de diversas variáveis urbanas. Os diagramas topológicos constituem um meio de visualização da realidade, que necessitam ser atualizados uma vez que tais realidades se fazem por procedimentos dinâmicos que se modificam constantemente. A visualização de atividades urbanas permite trazer o chamado meta-espaço para a realidade visível, onde o construído não se altera, mas a percepção do real se expande. Novas formas de visualização da cidade dinâmica e interativa en-globam questões de acesso a informações úteis em tempo real que torna as pessoas capazes de tomar suas próprias decisões em sincronia com o urbano compartilhado. Essa é a chamada negociação que se dá através de compartilhamentos, os quais dependem de agenciamentos que agem na esfera macro e micro, como infraestrutura leve que redistribui os recursos urbanos e que podem ainda combinar dispositivos tecnológicos e estratégias tradicionais.

PALAVRAS-CHAVE: cidades contemporâneas, ferramentas de visualização, diagramas topológicos, design paramétrico, congestão, saturação, compartilhamentos urbanos.

ABSTRACT

This paper presents the experimentation of a visualization tool and perception of urban activities which can be applied to any complex and dynamic contemporary urban environment, called shared urban space. The cities of Ouro Preto (Minas Gerais, Brazil) and Lausanne (Vaud’s Canton, Swit-zerland) were taken as study cases for the development of topological diagrams of dynamic info throughout technological means of the parametric design. The superposition of these diagrams allows the analysis of congestion processes and identification of saturation peaks with the combination of di-verse urban variables. The topological diagrams consist in a visualization mean of the reality, which needs to be updated since those realities are made by dynamic procedures which are in constantly change. The urban activities visualization allows bringing the called meta-space to the visible reality, where the built environment doesn’t change, but the perception of what’s real expands. New visu-alization means of the dynamic and interactive city conglomerate access issues of useful real-time information which enable people to take their decisions in sync with the shared urban space. This is called negotiation which happens throughout sharing, what depends upon agency acting in the macro and micro sphere, such as a light infrastructure redistributing urban resources capable of combining technological devices and traditional strategies.

Keywords: contemporary cities, visualization tool, topological diagrams, parametric design, conges-tion, saturation, urban sharing.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Los Angeles - cidade contemporânea .................................................................................16

Figura 2- Los Angeles - cidade contemporânea...................................................................................17

Figura 3 - Superquadras de Brasília.....................................................................................................22

Figura 4 - Favela do Vietnã, zona sul de São Paulo..............................................................................23

Figura 5 - Fun Palace de Cedric Price..................................................................................................25

Figura 6 - Fun Palace de Cedric Price..................................................................................................25

Figura 7 - Potteries Thinkbelt de Cedric Price - área de intercâmbio Pitys Hill..................................26

Figura 8 - Captura de tela Amsterdam Real Time dos fluxos de um habitante....................................27

Figura 9 - Captura de tela Amsterdam Real Time de todos os fluxos sobrepostos..............................27

Figura 10 - Geographies of time, dias de semana................................................................................32

Figura 11 - Geographies of time, finais de semana..............................................................................32

Figura 12 - Geographies of time, semanas especiais. .........................................................................32

Figura 13 - Gecekondu em Ankara......................................................................................................33

Figura 14 - Instant City Airships.........................................................................................................36

Figura 15- Instant City: Highest Intensity............................................................................................37

Figura 16- Instant City: Infiltration......................................................................................................37

Figura 16- Instant City: Network takes over........................................................................................37

Figura 18 - Swarm Urbanism em Melbourne Docklands ...................................................................38

Figura 19 - Mercado aberto em Isale Eko............................................................................................40

Figura 20 - Moradia e espaços comuns em Isale Eko..........................................................................40

Figura 21 - Pessoas vivem em meio a valas abertas em Isale Eko......................................................41

Figura 22 - Favela de Mushin..............................................................................................................41

Figura 23 - Trânsito no primeiro dia de fechamento da Perimetral.....................................................42

Figura 24 - Trânsito na zona portuária do Rio de Janeiro devido às obras Porto Maravilha...............42

Figura 25 - Escritório de gestão compartilhada...................................................................................43

Figura 26 - Via Condotti, Roma..........................................................................................................44

Figura 27 - New Road em Brighton ...................................................................................................44

Figura 28 - New Road em Brighton ...................................................................................................44

Figura 29 - Captura de tela Isochronic France do sistema tradicional, segunda-feira às 0h...............46

Figura 30 - Captura de tela Isochronic France, segunda-feira às 0h, tendo como centro Paris...........47

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Figura 31 - Captura de tela Isochronic France, sexta-feira às 10h, tendo como centro Paris..............47

Figura 32- Mapa de localização dos estudos de caso..........................................................................49

Figura 33 - Ouro Preto.........................................................................................................................50

Figura 34 - Centro histórico de Ouro Preto.........................................................................................51

Figura 35- Praça Tiradentes.................................................................................................................53

Figura 36 - Praça Tiradentes................................................................................................................53

Figura 37- Mapa da área de estudo e expansão em Ouro Preto ..........................................................53

Figura 38 - Hospedagem dentro das repúblicas.................................................................................. 54

Figura 39- Rua Direita no Carnaval.....................................................................................................54

Figura 40 - Rua Direita durante o dia..................................................................................................55

Figura 41- Conflito entre pedestres e turistas no Largo do Cinema durante decoração natalina........56

Figura 42- Centro de Lausanne: Grand-Pont e ao fundo a Catedral Notre-Dame..............................58

Figura 43- Chegadas e partidas mensais em Lausanne.......................................................................59

Figura 44- Place de l’Europe.............................................................................................................. 60

Figura 45- Rue Centrale.......................................................................................................................60

Figura 46- Place de la Palude...............................................................................................................60

Figura 47- Mapa dos bairros de Lausanne e setores do Centro...........................................................60

Figura 48 - Pont Bessières e Catedral de Notre Dame.........................................................................61

Figura 49 - Linha m2 em horário de pico............................................................................................62

Figura 50 - Trânsito em frente à estação central de trem.....................................................................62

Figura 51 - Plano de zona de pedestres de Lausanne ..........................................................................63

Figura 52 - Car-sharing........................................................................................................................63

Figura 53 - Pontos de Wifi público em Lausanne................................................................................64

Figura 54 - London: Time series e Spatial Clusters.............................................................................64

Figura 55 - Captura de tela London in Motion....................................................................................68

Figura 56 - Captura de tela do vídeo Data Visualization - Rio de Janeiro: One Day on Waze............69

Figura 57 - Captura de tela do pulso da cidade de Istambul................................................................70

Figura 58 - Captura de tela do pulso da cidade de Istambul................................................................70

Figura 59 - Coleta de dados do Twitter durante manifestações do passe livre....................................71

Figura 60 - Uso de smartphones em Ouro Preto e Lausanne...............................................................71

Figura 61 - Mapeando o Comum BH...................................................................................................72

Figura 62 - Captura de tela de arranjos criativos locais.......................................................................73

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Figura 63 - Captura de tela do mapa crítico do Rio de Janeiro............................................................73

Figura 64 - Volume de votos na eleições presidenciais de 2014..........................................................74

Figura 65 - Wifi Geographies...............................................................................................................74

Figura 66 - Mobile Landscape Graz in Real Time.............................................................................. 74

Figura 67 - Mapeamento da densidade populacional na França..........................................................75

Figura 68 - Captura de tela do histórico de localização da autora.......................................................76

Figura 69 - Distribuição das zonas de pesquisa origem/destino..........................................................78

Figura 70 - Zoneamento de Ouro Preto e municípios limítrofes.........................................................79

Figura 71 - Fluxo de pedestres.............................................................................................................80

Figura 72 - Evolução do tráfego ciclista por dia..................................................................................80

Figura 73 - Volume de viajantes anual na linha m2.............................................................................81

Figura 74 - Volume de viajantes diários na linha LEB........................................................................81

Figura 75 - Evolução do tráfego motorizado em um dia.....................................................................81

Figura 76 - Enquete realizada sobre todos os modos...........................................................................81

Figura 77 - Vista de topo do diagrama de partidas de transporte coletivo em Ouro Preto exemplifi-

cando o conceito de voronói.................................................................................................................85

Figura 78 - Criação do algoritmo..........................................................................................................86

Figura 79 - Mapa de reconhecimento das áreas contidas nos diagramas de mobilidade......................87

Figura 80 - Diagrama de transporte individual motorizado em Ouro Preto: volume de partidas em

cada zona..............................................................................................................................................89

Figura 81 - Diagrama de transporte individual motorizado em Ouro Preto: volume de chegadas em

cada zona..............................................................................................................................................90

Figura 82 - Diagrama de transporte coletivo em Ouro Preto - volume de partidas em cada zona.......91

Figura 83 - Diagrama de transporte coletivo em Ouro Preto - volume de partidas em cada zona.......92

Figura 84 - Mapa de reconhecimento da área de estudo em Lausanne ...............................................94

Figura 85 - Diagrama de capacidade máxima de moradores nas repúblicas........................................95

Figura 86 - Diagrama de capacidade de hospedagem das repúblicas no carnaval...............................96

Figura 87 - Diagrama de capacidade de hotéis no carnaval.................................................................97

Figura 88 - Diagrama de festas de carnaval em repúblicas e micaretas na Praça da UFOP................98

Figura 89 - Diagrama de capacidade dos hotéis durante festival MIMO...........................................99

Figura 90 - Diagrama resumo dos 3 dias de evento Festival MIMO.................................................100

Figura 91 - Diagrama resumo do volume de público dos 3 dias de evento Festival MIMO na segunda

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base.....................................................................................................................................................103

Figura 92 - Diagrama de volume de público no CINEOP..................................................................104

Figura 93 - Diagrama de volume de público durante o primeiro dia representativo no Fórum das Le-

tras......................................................................................................................................................105

Figura 94 - Diagrama de volume de público durante o segundo dia representativo no Fórum das Le-

tras......................................................................................................................................................106

Figura 95 - Mapa de reconhecimento da área de estudo....................................................................107

Figura 96 - Diagrama de volume de veículos motorizados................................................................109

Figura 97 - Diagrama de volume de viajantes do metrô linha m2 e LEB..........................................110

Figura 98 - Diagrama de fluxo de pessoas em transporte coletivo (ônibus) nas maiores pontes do cen-

tro em horário de pico da manhã........................................................................................................111

Figura 99 - Diagrama de fluxo de pedestres em horário de pico (17h - 18h).....................................112

Figura 100 - Diagrama de fluxo diário de ciclistas.............................................................................113

Figura 101 - Diagrama de movimentação demográfica em volume de partidas.................................117

Figura 102 - Diagrama de movimentação demográfica em volume de chegadas...............................118

Figura 103 - Diagrama de ocupação de hotéis no primeiro trimestre do ano.....................................119

Figura 104 - Diagrama de ocupação de hotéis no segundo trimestre do ano.....................................120

Figura 105 - Diagrama de ocupação de hotéis no terceiro trimestre do ano......................................121

Figura 106 - Diagrama de ocupação de hotéis no quarto trimestre do ano........................................122

Figura 107 - Diagrama de volume de visitação no evento La Nuit des Musées................................124

Figura 108 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o primeiro trimestre do ano.....125

Figura 109 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o segundo trimestre do ano.....126

Figura 110 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o terceiro trimestre do ano......127

Figura 111 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o quarto trimestre do ano........128

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17

2 INTRODUÇÃO p.17

ACERCA DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS E FUTURAS: APROXIMAÇÕES ENTRE A TECNOLOGIA ONIPRESENTE, TEORIA DOS SISTEMAS E FILOSOFIA PÓS-ESTRUTU-RALISTA p.21

PROCESSOS EMERGENTES EM AMBIENTES COMPLEXOS E REATIVOS p.34

ENTROPIA, SATURAÇÃO E O URBANO COMPARTILHADO p.39

1

3DA ESCOLHA À VISUALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS p.664

2 .1

ESTUDOS DE CASO: OURO PRETO E LAUSANNE p.483.1

TRANSPONDO OS LIMITES TRADICIONAIS DA CARTOGRAFIA: VISUALIZAÇÃO E REALIMENTAÇÃO DE DADOS p.67

4.1

MÉTODO DE COLETA DE DADOS p.77

MÉTODO DE CONSTRUÇÃO E ANÁLISE DOS DIAGRAMAS: SOBREPOSIÇÃO E AGLOMERAÇÃO - OS PICOS DE SATURAÇÃO p.84

5SUM

ÁR

IO

Fig 1 - Los Angeles.Vincent Laforet, 2015.

CONCLUSÃO p.130

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS p.131

4 . 3

4 . 2

1INTRODUÇÃO

Esse trabalho propõe a criação de um algoritmo como ferramenta de visualização espacial de atividades urbanas que pode ser apli-cado a qualquer cidade contemporânea - centros urbanos dinâmicos que abrigam subjetividades diversas e acumulam diferentes funções. Dessa forma, o centro histórico de Ouro Preto (Minas Gerais, Brasil) e Lausanne (Cantão de Vaud, Suíça) foram escolhidos como estudos de caso. O algoritmo é experimentado na criação de diagramas topológicos que, sobrepostos, podem auxiliar na identificação de processos congestionantes e picos de saturação com a combinação de diversas variáveis urbanas.

Interessa observar o viés político e social de se atribuir visibilidade a situações urbanas onde o acesso às informações é restrito à população em comparação a realidades de vasto fornecimento de dados de interesse comum. Ainda assim, mesmo quando tais informações são acessíveis e públicas, a sua visibilidade, na maioria das vezes, constitui um dispositivo de empoderamento dos grupos sociais ou setoriais concernidos. A ferramenta gerada tem o papel de decodificadora do espaço urbano, trazendo à tona e aos olhos de todos as mais diversas intensidades, aglomerações, velocidades, superposições e conexões o que possibilita à população a tomada de decisões baseada no conhecimento do meio urbano então visível. Através da visualização torna-se possível escolher e não apenas agir condicionado ao que foi sutilmente imposto pela falta de informação, surgindo daí a capacidade da população de negociar através de agenciamentos diversos.

No capítulo 2 abordaremos a multiplicidade e dinâmica das cidades contemporâneas que se atualizam a todo o momento fazendo aproximações com: a computação ubíqua, aqui chamada de tecnologia onipresente por ressaltar a presença maçante da tecnologia da in-formação e comunicação compondo uma nova camada do ambiente urbano; a filosofia pós-estruturalista, que através da figura conceitual do rizoma possibilita compreender a contemporaneidade como uma rede de fluxos e devires que conecta, invade e contamina-se através da constante troca com o ambiente em geral e entre culturas; a teoria dos sistemas, a qual apresenta essas trocas ocorrendo num sistema aberto e complexo que se auto organiza, o que é explicado mais especificamente pelo estudo da cibernética que, por sua vez, abre campo para o entendimento das cidades emergentes, perceptível em assentamentos tradicionais, mas principalmente na atualidade em centros contem-porâneos.

Esse entendimento permite colocar o indivíduo como negociador no espaço dos acontecimentos, ativando processos auto-organi-záveis através de exemplos como City of Bits e Instant City, cibercidades fictícias criadas em diferentes épocas, mas que expressam a relevância da tecnologia como desencadeadora de processos emergentes na contemporaneidade. Por último, apresentamos uma proposta diferente da nossa quanto ao uso da tecnologia como infraestrutura leve e agenciadora do espaço. Trata-se da utilização de tecnologias digitais para modelar as cidades, já que cidades, assim como softwares, mostram uma lógica emergente similar. Isso se dá através de agen-

INTR

O

Fig 2 - Los Angeles.Vincent Laforet, 2015.

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tes que auto-organizam a matéria urbana e que criam redes de circulação e infraestrutura através da programação da chamada inteligência coletiva, ou swarm intelligence.

Os conceitos de congestão e saturação serão trabalhados no capítulo 3, assim como o de en-tropia e o urbano compartilhado. A noção de congestão é entendida, segundo Koolhas (2008), como conjunto de atividades urbanas de ocorrências simultâneas sobrepostas, já a saturação trata-se de um estado de paralisação que engloba não só as sobreposições de atividades no sentido de justaposição, empilhamento, concomitância, mas também os processos de aglomeração que acumulam situações de congestão no chamado urbano compartilhado. Este é definido pelo compartilhamento de recursos urbanos, estoque de espaços urbanos tais como praças, ruas, parques, rios e objetos, como ferramen-tas e infraestrutura, além de práticas cotidianas nesses mesmos espaços, como coloca Maia (2013).

Através de exemplos de escalas bem diferentes, podemos problematizar situações de saturação através do conceito de entropia. Por esse conceito entende-se que todo sistema sofre deterioração podendo chegar à entropia máxima, o que seria um estado de paralização do sistema, já que entropia mede o grau de desordem do mesmo, no sentido de movimento e constante interação (VON BER-TALANFFY, 1977). Seria essa a analogia com a saturação, um congestionamento máximo devido à movimentação intensa que ocasiona um estado de paralização das interações urbanas no urbano compartilhado. Em seguida apresentamos o compartilhamento urbano como possibilidade de plane-jamento, seja através de medidas do poder público (escala macro) ou da inteligência coletiva (escala micro).

Esse tipo de design toma partido da falta de linearidade do sistema aberto e suas rupturas atu-ando em situações de saturação urbana tão recorrentes nas cidades contemporâneas das mais diversas maneiras. A viabilidade desses compartilhamentos depende de agenciamentos que atuam na multipli-cidade e agem tanto na esfera de uma macropolítica quanto de uma micropolítica. Os agenciamentos, definidos por seus fluxos de desterritorialização1, podem ainda combinar dispositivos tecnológicos e estratégias tradicionais, sendo a base de uma infraestrutura leve que faz a distribuição dos recursos, o chamado urbanismo leve.

Uma vez que nosso interesse é trabalhar o estado saturado como situação programática a ser

1 Desterritorializar, segundo Delleuze e Guattari (1995) é o movimento pelo qual se abandona um território, é a operação da linha de fuga, do devir no sentido de se criar uma nova territorialidade, uma nova condição, outra situação.

agenciada através de compartilhamentos e dispositivos a fim de gerar negociações no urbano com-partilhado os estudos de caso são apresentados segundo essa perspectiva, ainda no capítulo 3. As cidades de Ouro Preto e Lausanne estão localizadas em regiões de topografia acidentada e elevada e possuem um patrimônio histórico e cultural preservado com tombamentos da UNESCO. Apresentam instituições de ensino fundamentais para a economia atual das mesmas que geram ainda uma popu-lação flutuante e dinamizam processos urbanos, como acesso à moradia. A efervescência cultural é observada nas duas, marcada por grandes eventos mesmo que de escalas e temas distintos. Seus centros históricos marcados pela existência de usos variados passam ainda por um processo similar de expansão.

Após apresentar e comparar as semelhanças e diferenças entre os dois estudos de caso, algumas variáveis destacam-se quanto às dinâmicas e aos processos que podem ocasionar situações de con-gestão e saturação. Essas variáveis são definidas no capítulo 4 como: mobilidade urbana, relativa à eficiência do sistema de circulação e meios de transporte individuais, coletivos, motorizados ou não; uso, com foco na capacidade de uso habitacional e hospedagem, assim como movimentos demográ-ficos que regem a dinâmica habitacional de uma população flutuante e; eventos de grande porte, que atraem a participação de público considerável e modificam a rotina urbana. As áreas centrais tanto de Ouro Preto como Lausanne foram escolhidas como recorte de estudo por atuarem como aglutina-doras de funções relativas a essas variáveis e por fornecerem informações mensuráveis para identifi-cação de possíveis picos de saturação.

Ainda no capítulo 4, apresentaremos inicialmente métodos dinâmicos e interativos de con-struções de mapas, transpondo os limites tradicionais de representação cartográfica através do mapeamento de atividades urbanas com uma base de dados em constante mutação e realimentação, trazendo a discussão da questão de obtenção de dados e suas fontes. Logo após expomos a metodolo-gia de coleta de dados que se deu inicialmente através da utilização de dados disponíveis em relatóri-os e pesquisas realizadas em ambas as cidades sobre as variáveis escolhidas, contudo a inexistência e/ou indisponibilidade dos mesmos em certos casos fez necessária a coleta de campo. O software escolhido para tornar os dados visíveis e espacializados no meio urbano, transformando números em

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diagramas topológicos foi o Grasshopper, plug-in do Rhinoceros, ferramenta de modelagem para de-signers e arquitetos. Essa ferramenta foi escolhida por possibilitar o desenvolvimento de algoritmos2 de design paramétrico3 que se refere à utilização de ferramentas de modelagem parametricamente flexíveis que permitem criar modelos dinâmicos e relacionados a parâmetros/informações que podem variar.

Importante ressaltar que a escrita desse trabalho constitui-se como parte da metodologia ado-tada. A organização do sumário se deu através de várias modificações até que os assuntos se encon-trassem dissolvidos, relacionando-se com um mesmo tema e fazendo várias conexões, ao invés da utilização de muitos subtópicos. Essa disposição é coerente com o próprio processo e temática do trabalho, contrapondo uma estruturação linear de tópicos e tornando mais fácil a assimilação de fer-ramentas conceituais mais complexas, assim como a aplicação das mesmas. Para auxiliar a leitura e visualização dos assuntos foram criados esquemas dos capítulos de referencial teórico (capítulo 2 e capítulo 3) que permitem compreender como os assuntos se conectam dentro do próprio capítulo e com os capítulos subsequentes. Esses esquemas encontram-se destacados na contracapa desse cader-no.

Através da criação de diagramas espaciais com a utilização dessa ferramenta pretende-se visu-alizar os desdobramentos das atividades urbanas no urbano compartilhado e identificar processos de aglomeração e picos de saturação nas topologias criadas. A visualização torna possível a avaliação dos picos em ambas as áreas de estudo, como pressuposto para tomada de decisões no âmbito dos compartilhamentos urbanos empreitados tanto pelas iniciativas autônomas, coletivas ou no campo das políticas públicas.

2Algoritmos representam um conjunto de regras que definem precisamente uma sequência de operações para gerar um resultado, como passos em uma receita culinária.

3 Nesse trabalho utilizamos o termo design paramétrico apenas como ferramenta dinâmica e não como estilo denominado Parametricismo por Patrick Schumacher, diretor de Zaha Hadid Architects.

ACERCA DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS E FUTURAS: aproximações entre a tecnologia onipresente, teoria dos sistemas e filosofia pós-estruturalista

As cidades contemporâneas e futuras4 são caracterizadas por multiplicidades, ambientes em constante mutação onde desejo individual e coletivo combinam-se e modificam-se simulta-neamente por estarem imersos em um ambiente dinâmico e complexo, fruto de agenciamentos, intensidades, episódios imprevisíveis, conexões e sobreposições das mais diferentes escalas e naturezas. São campos de travessia e de ocu-pação, campos de conflito e invenções que geram em suas pluralidades e combinações territórios múltiplos, heterogêneos. A multiplicidade ur-bana contemporânea exprime-se por ambiências planejadas e emergentes5, dispersas e concen-tradas que se transformam com facilidade, que se exprimem por imagens e que capturam e controlam informações, que são fragmentadas e conectadas, dentre outras situações que em tese são antagônicas, mas que não se negam nem são substituídas. Trata-se, como explica Mag-navita (2008) de uma relação de multiplicidade e elementos heterogêneos que mantêm entre si

zonas de vizinhança e temporalidades diferentes que coexistem no mesmo espaço urbano.

O planejamento e desenho urbano como desdobramentos da causa moderna6 a qual adota o modelo conceitual da “árvore/estrutura” difundida pelo pensamento estruturalista, pro-duziram espaços rígidos, padronizados, setori-zados em funções7, que evitavam a diversidade e sobreposições, limitando-se em suas bordas e fechando-se em si mesmo pelo o fato de seu sistema não considerar mudanças e contribuições posteriores, perspectiva totalmente oposta ao pensamento contemporâneo. (JACOBS, 2001).

O modelo arborescente está associado à ideia de raiz, fundação, imutabilidade, unidade, estrutura, de eixo central que se ramifica segundo uma lógica piramidal e hierárquica de reprodução e repetição do mesmo, de uma imagem de ordem. Contudo, esse modelo vas-tamente difundido no século XX, que optou por ignorar o aspecto dinâmico tanto da cidade quanto da tecnologia, ainda orienta as práticas urbanísticas seguindo uma metodologia de ma-nipulação do território através de uma vista su-perior por meio das plantas baixas. Para Ribeiro e Pratschke (2005) esse método reducionista coordenando o projeto como uma atividade “de

4 Adotamos aqui a mesma contextualização de Caio Vassão (2008), não se trata de uma visão utopista de cidades “do futuro”, mas de cidades que se atualizam a todo o momento, onde se torna impossível delimitar uma divisão entre o agora e o devir.

5 Emergente diz respeito a um sistema dinâmico e adaptativo auto-organizável, baseado na intera-ção entre vizinhos e controle indireto que será abordado no item 2.1. As favelas são um exem-plo, pois se desenvolvem como mato em terreno baldio, uma formação excêntrica que invade o terreno vago. Já as cidades planejadas possuem organização racionalizada e setorizada. As super-quadras de Brasília, cidade que se impôs como símbolo de uma proposta de nação, é composta dos eixos norte e sul do Plano Piloto, que seguem uma lógica de numeração em relação ao Eixo Monumental e ao Eixo Rodoviário.

6 A utilização do termo moderno nesse estudo relaciona-se aos movimentos de vanguarda do século XX. O emprego do termo modernismo implica uma questão estilística que foi replicada excessivamente pelo mundo, por esse motivo não adotamos o termo modernismo.

7 A organização funcionalista da cidade moderna é dada por diretrizes propostas na Carta de Ate-nas de 1933. Foi proposto, entre outros pontos, a separação das áreas residenciais, de lazer e de trabalho, através da setorização das áreas e de um planejamento do uso do solo.

CAP

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2322fig 3 - superquadras de brasília. bento viana, 2012. fig 4 - favela do vietnã, zona sul de são Paulo. filipe araujo/ estadão, 2012.

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cima para baixo” excluiu a complexidade em pensar e fazer espaços de quaisquer naturezas. O resultado desse pensamento binário e linear8 são projetos únicos e restritos, replicáveis e alheios às especificidades de cada área da cidade, as quais estão em constante atualização, repletas de vitalidade urbana, interação entre usos e ausência de limites que geram potencialidades múltiplas.

Dentre essas potencialidades encontram-se as situações de congestão e saturação9 , a primeira ocorre através da sobreposição de diver-sas atividades simultâneas que ao aglomerar-se podem levar à segunda, atingindo um estado de paralização do sistema após um alto nível de congestionamento. Nesses pedaços de cidade, tais situações relacionam-se com a capacidade de seus recursos urbanos e suas demandas. Por recursos urbanos, segundo Maia (2015), entende-se estoque de espaços urbanos tais como praças, ruas, parques, rios e objetos, como ferramentas e infraestrutura de drenagem, tráfego, redes de tratamento e distribuição de água e esgoto, ilumi-nação pública, além de práticas cotidianas nesses mesmos espaços. Mesmo que esses recursos sejam diversos podem se tornar ineficientes pelo uso excessivo de cada um deles.

O mesmo fenômeno, no entanto, ocorre

também em cidades com setores monofuncio-nais. A maior parte dos centros urbanos no Brasil foi planejada sob a égide moderna, setorizando-se principalmente em serviços e comércio, onde a utilização de recursos urbanos sofre desgaste em função do alto índice de uso dos mesmos recursos, atingindo diferentes graus de congestão e até mesmo a saturação no período diurno. Contudo, a subutilização no turno da noite, devido a fatores como a ausência de ativi-dades e habitações, acarreta situações de esvazia-mento e abandono.

Como a maioria dos territórios heterogê-neos ainda carrega marcas das práticas do movi-mento moderno ao mesmo tempo em que passa por processos de transformação, o processo cíclico de esvaziamento e abandono é viven-ciado, assim como a potencialização de situações de congestão e saturação urbana advinda da multiplicidade de tais ambientes. Esses proces-sos mostram uma atualização da cidade moderna de encontro às cidades contemporâneas e futuras abrigando características que se completam e se modificam constantemente e por isso o próprio futuro torna-se algo imediato e efêmero. Não se trata mais de um tempo linear, tanto passado quanto futuro são relativos ao presente

8 Lógica binária refere-se a pensar por partes, isso ou aquilo, pensar por exclusão e a lineari-dade ao pensamento sequencial, evitando-se assim as sobreposições. A binaridade ou duali-dade são termos que designam uma estrutura de classificação dividida exaustivamente em duas classes, conjuntos, grupos e as relações entre essas se marcam pela oposição, são estruturadas pelo conflito. Muitos mitos, filosofias, teorias sociais postulam a divisão do cosmo, da natureza ou da sociedade em partes antagônicas e com-plementares: bem/mal, espírito/matéria, classe dominante/proletários, formal/informal, identi-dade, alteridade, etc.

9 Veremos com mais detalhes sobre esses con-ceitos de congestão e saturação no capítulo 3, principalmente sob a perspectiva do arquiteto e urbanista Rem Koolhas quanto a estas situações potenciais.

que passa e os absorve, não existe sequer uma linha tênue que separa tais dimensões, elas tam-bém se sobrepõem, donde se percebe a importân-cia do tempo como variável a interpelar e trans-formar a noção de espaço.

Estamos em um período dinâmico no qual o corpo é instável, onde tempo e espaço não são percebidos como permanentes, mas como instantes eventos. Entramos na era nomádica na qual a descontinui-dade do espaço e fratura do tempo são a condição moderna.(DECQ; CORNETTE apud RIBEIRO; PRATSCHKE, 2005, p.2)

Algumas intervenções urbanísticas con-temporâneas vêm trabalhando nessa categoria espaço-temporal visto que uma mesma área degrada-se por causas que se acumulam: o exces-so e a falta de uso. As tentativas de intervenção resumem-se na concepção de uma multiplicidade de usos no espaço e no tempo, porém o que fazer quando tais propostas esgotam-se diante da satu-ração desses mesmos usos? O centro histórico e multifuncional de Ouro Preto é um exemplo, pois abriga usos diversos nos turnos diurno e no-turno, como atividades comerciais e de serviços, instituições, habitações públicas10 e privadas e ainda é o foco principal da atividade turística da cidade. Contudo, observa-se que os recursos

urbanos desse ambiente diverso e dinâmico não estão suprindo as múltiplas demandas que vão desde a população ouro-pretana, passam pela população flutuante composta principalmente por estudantes universitários e culmina com empresários da indústria cultural e turistas que pretendem usufruir o melhor que a cidade pode oferecer. Esse acúmulo de usos e usuários cor-robora para uma situação que se não for agen-ciada pode se tornar cada vez mais caótica.

Observa-se que intervenções espaço-temporais são uma evolução da prática arquite-tônica moderna, contudo acredita-se ainda na necessidade de uma transformação contínua e enxerga-se a transdisciplinaridade como caminho possível, sendo esta a transgressora das dualida-des binárias. No campo da arquitetura e do urba-nismo, no início dos anos 60, uma pequena vanguarda de arquitetos na Inglaterra, França e Estados Unidos propôs um intenso diálogo com a cibernética, donde tecnologias da informação começaram a ser exploradas de forma que pro-priedades invisíveis e formais equipararam-se ao mesmo nível de importância. Exemplo disso é o projeto Fun Palace, concebido pelo arquiteto britânico Cedric Price como um laboratório de diversões e uma universidade das ruas que não

10 Repúblicas federais que são propriedade da UFOP e outras também chamadas de federais, mas que são associações cujas sedes foram com-pradas para abrigar as repúblicas.

Fig 5 - Fun Palace de Cedric Price. CANADIAN CENTRE FOR ARCHITECTURE, 2015.

Fig 6 - Fun Palace de Cedric Price. CANADIAN CENTRE FOR ARCHITECTURE, 2015.

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eram governadas por uma agenda econômica. A partir daí começou-se a falar de uma arquitetura inteligente e responsiva a estímulos que interagia com seus usuários. (RIBEIRO; PRATSCHKE, 2005). Já entre 1963 e 1966 esse mesmo ar-quiteto propôs Potteries Thinkbelt, um projeto arquitetônico com uma espécie de movimento urbano, opondo-se à limitação inerente ao per-manentemente construído, sugerindo que a arquitetura fosse adaptável a usos futuros impre-vistos, e mais, que ela desaparecesse dentro de sistemas não convencionais. A proposta foi tão excepcional que não pôde ser realizada diante dos paradigmas daquele tempo. (GRAHAM, 2012). O urbanismo vive também essa crise, contudo podemos fazer a mesma analogia que Ribeiro e Pratschke (2005) fizeram quanto à arquitetura e a transdisciplinaridade. Sendo o sujeito da relação sujeito/objeto aquele que não é uno, mas aquele que envolve outros agentes em interação no processo/objeto, o com-partilhamento de recursos urbanos e o urbanismo leve aproximam-se desse sujeito transdisciplinar.

O compartilhamento urbano diz respeito a procedimentos contínuos de coleta de infor-mação retroativa que após ser distribuída retorna ao sistema depois de um processo de politização

coletiva. Contudo, a viabilidade desse compar-tilhamento depende do agenciamento de “indi-víduos e coisas: edifícios, infraestrutura pública, sistemas de transporte, informação, conheci-mento, cultura, saberes populares, consumo, conectando-os aos indivíduos numa relação sistêmica e dinâmica própria do ambiente urbano vivo. Este agenciamento é a base de uma infraes-trutura leve que faz a distribuição dos recursos.” (MAIA, 2015). Esse é o urbanismo leve que sobrepõe-se e alivia o peso das grandes obras, utilizando recursos tecnológicos de conexão para tratar das relações invisíveis, como a própria internet. Essas alternativas mostram-se coerentes com a realidade urbana atual e receberão maior destaque no decorrer do trabalho.

A disponibilidade de novas tecnologias está desta-cando novas possibilidades de interação como espaço e tempo e certamente os designers podem estar entre os primeiros a utilizá-las. [...] novos e diferentes métodos devem ser desenvolvidos, que se diferenciem das técnicas tradicionais e permitam o design interativo.(KURMANN apud RIBEIRO;

PRATSCHKE, 2005, p.4).

Se analisarmos um pouco mais a fundo a conjuntura na qual estamos inseridos veremos que as ações que permeiam soluções tangíveis às

Fig 7 - Potteries Thinkbelt de Cedric Price - área de intercâmbio Pitys Hill. GRAHAM, 2012.

práticas contemporâneas já vêm sendo dissemi-nadas sutilmente no nosso cotidiano. O trabalho em rede modifica a prática e o posto do arquiteto no topo de um sistema hierárquico para uma relação de horizontalidade que permite inter-ação entre os mais diversos atores envolvidos no processo de criação. (RIBEIRO; PRATSCHKE, 2005). A internet trata-se de um meio de comuni-cação onde a relação espaço-temporal na verdade não existe e com sua ascensão começou-se a se falar de uma “alocalidade” ou “desterritori-alização11” do espaço de trabalho, ou de uma “trans-localidade” ou “pluri-localidade”, como prefere Vassão (2008). Para ele, esse tipo de comunicação ocorre em algum local, do con-trário não faria sentido a existência de locais de atividades. Contudo, nos interessa falar de desterritorialização para abranger as questões dos territórios formados por cada indivíduo, articula-dos a fluxos e devires e as formas de apropriação e movimento desses territórios.

[...] Os seres existentes se organizam segundo ter-ritórios que os delimitam e os articulam aos outros existentes e aos fluxos, podendo ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio do qual um sujeito se sente em “casa”. O território é sinônimo de apropriação, de subjeti-vação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto

dos projetos e das representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos. [...] O território pode se desterritorializar, isto é, abrir-se, engajar-se em linhas de fuga e até sair de seu curso e se destruir. A espécie humana está mergulhada num imenso movimento de dester-ritorialização, no sentido de que seus territórios “originais” se desfazem ininterruptamente com a divisão social do trabalho, com a ação dos deuses universais que ultrapassam os quadros da tribo e da etnia, com os sistemas maquínicos que a levam a atravessar, cada vez mais rapidamente, as estratifi-cações materiais e mentais. ( GUATTARI; ROL-NIK apud MARQUES, 2010, p.8).

Para exemplificar melhor a questão de como territórios se configuram de forma diferente para cada indivíduo da cidade o projeto Amsterdam Real Time equipou cerca de 60 residentes da cidade com GPS’s que traçaram movimentos individuais de cada um em Amsterdam entre 3 de outubro à 10 de dezembro de 2002. Os dados foram enviados em tempo real para uma exibição onde foram visualizados como linhas que iam sendo traçadas de acordo com o movimento de cada um no tempo formando um novo mapa de fluxos sobrepostos da cidade relativo a cada usuário e a combinação de todos.

Essas novas noções de onipresença infor-

11 Aprofundaremos um pouco mais nesse con-ceito segundo os filósofos pós-estruturalistas Deleuze e Guattari ainda no decorrer deste capítulo.

Fig 9 - Captura de tela Amsterdam Real Time de todos os fluxos sobrepostos. POLAK; KEE; WAAG SOCIETY, 2002.

Fig 8 - Captura de tela Amsterdam Real Time dos fluxos de um habitante. POLAK; KEE; WAAG SOCIETY, 2002.

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macional modificam a concepção tradicional de território e de acordo com Vassão (2008) o com-putador engendra um meta-espaço que não se limita somente as atividades profissionais, como colocado incialmente, mas que comporta outras camadas desse ambiente urbano, intrinsicamente ligada à forma como interagimos e compomos o espaço urbano: os deslocamentos, as viagens e permanências.

Esse ambiente é composto por camadas, estratos que se acumulam, sedimentam, coagu-lam, se dobram, servem de substrato um ao outro e que se articulam de forma visível e invisível ao mesmo tempo, o que pressupõe meios codifi-cados e substâncias formadas. (MAGNAVITA, 2008). A visibilidade e invisibilidade são relati-vas às escalas macro e micro respectivamente. A primeira referente à delimitação de sujeitos, ob-jetos, representações e seus sistemas de referên-cia, como família, profissão, trabalho, escola. A segunda, ao contrário é a dos fluxos, dos devires, transições de fases, intensidades.

Os estratos são afetados por agenciamen-tos12 enquanto ações, paixões, fluxos, inten-sidades, desejos, que se caracterizam pela invisibilidade. Esses agenciamentos atuam nos estratos decodificando os meios subjetivados

pelos que dizem (expressão) ou constroem (conteúdo) a cidade, presumindo assim relações de poder, saber e subjetividades. O agencia-mento refere-se a uma combinação de elementos heterogêneos dando origem a algo novo e remete a uma noção mais ampla do que as de estrutura e forma. Um agenciamento comporta compo-nentes heterogêneos, tanto de ordem biológica, quanto social, tecnológica. No contexto do espaço urbano enquanto meta-espaço fruto das interações compreendido por um viés tecnológi-co, cultural e projetual, na concepção de Vassão (2008), a informática atua como agenciadora nas camadas de informação que compõem um “am-biente urbano aumentado13”.

Com a Interação Homem-Máquina14 à distância, como em serviços de monitoramento e a multiplicação de intermediadores de infor-mação15, a internet aproxima-se de uma in-fraestrutura descentralizada, de livre acesso e distribuída, a chamada “conexão permanente”, que entranha-se à infraestrutura urbana e ha-bitacional, integra-se à objetos de uso cotidiano, tornando-se mais um dado do ambiente urbano. A imensa variedade de dispositivos, de redes e de funções de tráfego16 , da micro a macro es-cala, estão tão disseminados no nosso meio que o

12 Deleuze e Guattari (1995) denominam “Agen-ciamentos coletivos de enunciação” (sistema semiótico, regime de Signos, representação) e “Agenciamentos maquínicos” (sistema pragmático de ações e paixões: o que se faz). O agenciamento é a atualização das relações de forças, de poder, de saber e de subjetividade que incidem sobre uma realidade.

13 A Realidade Aumentada (Augmented Reality) é a integração de informações virtuais a visuali-zações do mundo real, o que em grande escala tratar-se-ia de um “ambiente urbano aumentado” através de sistemas dinâmicos conectados em rede que acionam funções dos mais diversos dispositivos. (VASSÃO, 2008)

14 Ou Interação Homem-Computador, um dos campos mais complexos da computação na aurora da computação digital eletrônica binária. Com a evolução da linguagem de programação em fins da década de 1940, esse campo sofre também uma mudança de paradigma, não mais se trata apenas do esquema input/output, enviar perguntas e receber respostas, mas percebe-se que o usuário realmente começa a interagir com a máquina.

15 Canais mediadores de comunicação entre con-sumidores e empresas via Web. Denominações como P2P (peer-to-peer) e B2P(business-to-peer).

16 Que vão desde a rede doméstica e pessoal, de controladores de segurança e conforto, passando por laptops, celulares, contadores de nível de açúcar no sangue de diabéticos até a rede local , municipal, metropolitana até a global.

de transferência de usos e práticas urbanas tradi-cionais, entretanto, Lévy19 discorda dessa abor-dagem de transferência ou substituição devido à incompatibilidade do contexto da urbanidade an-terior à tecnologia digital e a posterior, e Vassão defende uma realidade urbana diferente, fruto do embate de vias de comunicação digital de alta velocidade. Gershenfeld20 imagina um ambiente imerso na tecnologia digital, porém a onipresença para ele não se trata nem de substi-tuição, nem de negação, mas da sobreposição de complexas estruturas (VASSÃO, 2008). O ponto de vista adotado nesse trabalho segue o pensamento de Gershenfeld, mostrando como conceitos e práticas de contextos diferentes, assim como as próprias atividades urbanas se sobrepõem.

Mesmo que o advento da tecnologia e do urbanismo moderno datem do início do século XX, a era digital deslanchou após a era indus-trial, essa última ligada ao modernismo, colo-cando em voga novas fontes do capitalismo (os serviços, comércio, turismo, produção de co-nhecimento) que não a indústria. Por esse mesmo motivo o urbanismo moderno, mesmo que ainda presente nos dias hoje se trata de uma urbanidade anterior, pois houve uma mudança de paradigma

computador vem tornando-se invisível na nossa cultura. Trata-se da computação onipresente17, na qual tais dispositivos atuam em constante nego-ciação de níveis de interação com seres humanos e entre si integrados à rede global, definindo redes dinâmicas e autoconfiguráveis. (VASSÃO, 2008). A interação com a máquina abriu campo para a chamada ciência da complexidade que surgiu após a Segunda Guerra Mundial incluindo Cibernética, Teoria da Informação, Teoria Geral dos Sistemas e Teoria dos Sistemas Auto-Organi-zados. (RIBEIRO; PRATSCHKE, 2005).

“O foco no estudo dos sistemas de alta complexidade, adaptáveis e autorreguláveis é chamado de cibernética” (HEYLIGHEN, F; JOSLYN, C; TURCHIN, V, apud MAIA, 2013, p.23). O sistema aberto é marcado pela interação dinâmica e a cibernética foi introduzida como uma nova disciplina pelo matemático Norbert Wiener para tratar do fenômeno da retroação muito comum a sistemas tecnológicos, organis-mos vivos e sistemas sociais. Muitos dos concei-tos utilizados por pesquisadores da ciência dos sistemas como informação, controle, feedback e comunicação, relacionam-se diretamente à cibernética. (BERTALANFFY, 1977).

Mitchell18 fala de uma urbanidade virtual

17 Optamos por utilizar o termo onipresente em relação as tecnologias de informação e comuni-cação assim como para a computação, do que o termo computação ubíqua (Ubicomp) por res-saltarmos a presença maçante da tecnologia na comtemporaneidade.

18 City of Bits, 1995

19 Lévy, 1998

20 Físico de formação o qual dedicou o início de sua carreira ao estudos das interações estri-tamente materiais dos meios de propagação de informação.

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de um sistema que ditava modos de vida para outro que incute seus interesses por meio da in-formação. É o novo tipo de capitalismo, onipre-sente como a própria tecnologia e a informação, que define os desejos da sociedade do consumo.

A subjetividade contemporânea designa ainda um campo de complexidade crescente que ao mesmo tempo em que abriga também observa a superação de conceitos dogmatizados advindos da concepção moderna de cidade como organis-mo fechado já citados. Da unidade, uniformidade e identidade limitadora de espaços monumentais assolados pela monotonia para a multiplicidade de usos e tipologias aptas a receberem os mais diversos usuários e culturas. Da totalidade e concentração para uma composição de micro poderes heterogêneos que coexistem e se so-brepõem. Da ordem e hierarquia impostas por autorias tuteladas para o compartilhamento de recursos e colaboração urbana. Da continuidade, repetição e supremacia de uma estrutura fixa para um crescimento da malha urbana marcado por rupturas e retomadas imprevistas que não são ditadas, mas são sim o próprio movimento das cidades dinâmicas.

Esse processo de crítica e mudança de pa-radigma da cidade moderna e planejada, chama-

da pelo arquiteto australiano Christopher Alexan-der de cidade artificial21 criou outras figuras conceituais no tempo que não a da árvore. Ale-xander defendia a cidade vernácula que se desen-volve espontaneamente, a cidade natural segundo o pensamento baseado em uma estrutura mais complexa, a semi-treliça. Para ele, os arquitetos e urbanistas planejam a cidade como uma árvore porque estão acostumados ao pensamento binário que é mais simples, incapacitando-os de pensar de uma forma mais complexa e múltipla, consi-derada por ele natural, o sistema arbusto radícula da semi-treliça. (JACQUES, 2001)

Contudo, as cidades contemporâneas caracterizam-se por um nível de complexidade que o sistema de pensamento da semi-treliça não comportava, pois estão sempre em constante processo de mutação, crescimento e desenvolvi-mento não podendo por isso serem pensadas sob uma lógica fixa, racional, cartesiana. Embora Alexander tenha introduzido um entendimento mais complexo da formação urbana ainda foi insuficiente para compreender a dinamicidade da mesma. O pensamento pós-estruturalista, por sua vez, abandona a imagem conceitual da árvore estruturalista, supera a semi-treliça de Alexan-der e transforma a metáfora vegetal do rizoma

21 City Is Not aTree (1965). com que seja cada vez mais raro encontrar culturas que não assimilaram saberes, modos de vida e poderes que emergiram da sociedade da informação. Isso pode ser percebido no caso dos índios brasileiros que viveram por muito tempo a dicotomia entre ser índio ou cidadão brasileiro, mas encontraram na contemporaneidade víncu-los que permitiram propagar sua cultura, como mostra Gonçalles (2012) pelo exemplo da tribo Guarani-Kaiowá através do Rap22 mesclando português com tupi-guarani. Para a autora a assimilação também ocorre para prevenir os próprios males contemporâneos que se alastram devido a ausência de limites, vazando de um sis-tema para outro através de linhas de articulação. Com a chegada de doenças advindas da cidade em comunidades indígenas, como a AIDS, a po-pulação se viu cada vez menos resistente e mais aberta à utilização de métodos contraceptivos.

Essas incorporações, ou miscigenações atuam como campos de força a modificarem o mesmo amálgama social e urbano do qual surgi-ram. Trata-se de uma cartografia de diferenças, ações que se repetem, mas que são diferentes a cada vez que acontecem, adquirindo sempre novos dados relativos a datas e velocidades muito diversas num processo interminável,

em conceito filosófico, em Rhizome, de 1976, retomado mais tarde em Mil Platôs, 1995. (Mille Plateaux, 1980).

O “sistema de pensamento” da erva/rizoma é o oposto do da árvore/raiz, enquanto o sistema ar-busto radícula, por conservar a estrutura arbores-cente, se caracteriza por uma falsa multiplicidade. O sistema erva/rizoma é o pensamento da multi-plicidade, em oposição ao pensamento binário; é uma cultura acentrada e instável, em oposição à cultura arborescente e enraizada. Por outro lado, o sistema erva/rizoma não tem modelo; e não se trata simplesmente de substituir a imagem da árvore pela imagem do mato no espírito das pessoas ou de su-bstituir a busca das raízes e das origens pela busca do rizoma e do meio. O rizoma não tem imagem precisa. O que importa é mais o processo que a imagem formal, é o próprio movimento, o germinar, o crescimento, o ímpeto. (JACQUES, 2001, p. 108).

Os conceitos apresentados até aqui nos auxiliam a compreender a contemporaneidade como uma realidade rizomática, pois, as cidades se autocondicionam e se autogerem através do contato com o que está à sua volta e por isso mesmo trata-se de um processo ecológico que associa heterogeneidades, como colocado pelos filósofos pós-estruturalistas Deleuze e Guat-tari (1995). As trocas com o ambiente em geral e entre culturas, por mais tradicionalistas que sejam, ocorrem num sistema aberto, uma rede que conecta, invade e contamina-se, o que faz

22 Sigla de “Rythm and Poetry”, estilo musical criado pelas comunidades negras estadunidenses

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por muitos laboratórios urbanos no mundo que se dedicam ao lado informacional da cidade capazes de identificar como vivem as pessoas juntamente às disciplinas espaciais e humanas. A visualização de dados vem tornando-se mate-rial estratégico para que as cidades possam tomar decisões melhores através de um entendimento mais abrangente de uma grande quantidade de dados que engloba comunicação e comparação de números mapeados e traduzidos em geome-trias, cores e formas. (TECNOLOGIAS..., 2014).

O projeto Urban Sensing identifica as ci-dades de hoje como sistemas complexos que não podem apenas ser reduzidos a representações e entendimento estáticos. As redes e pessoas são dinâmicas, em constante interação o que faz com que dados em tempo real venham se tornan-do cada vez mais populares. Contudo, percebe-se que a produção em tempo real ainda é muita restrita e que os governos ainda estão muito à margem dessas questões diante do metabolismo rápido da cidade contemporânea.

Geographies of time é o primeiro de uma série, do projeto Urban Sensing que proporciona a visualização da agregação espacial baseada em mídia digital através da definição e coloração de áreas de acordo com o período do dia em que

pois mesmo que haja uma ou várias rupturas no processo, o rizoma tem a capacidade de se reconstituir, retomando segundo uma ou outra de suas linhas de segmentaridade territorializadas e desterritorilizadas, sempre em fuga. (JACQUES, 2001)

Desterritorializar, segundo Delleuze e Guattari (1995) é o movimento pelo qual se abandona um território, é a operação da linha de fuga, do devir no sentido de se criar uma nova territorialidade, uma nova condição, outra situ-ação. Desterritorialização e reterritorialização são processos indissociáveis.

[…] De forma que não se deve confundir a reter-ritorialização com o retorno a uma territorialidade primitiva ou mais antiga: ela implica necessari-amente um conjunto de artifícios pelos quais um elemento, ele mesmo é desterritorializado, serve de territorialidade nova ao outro que também perdeu a sua.(GUATTARI; ROLNIK apud MARQUES, 2010, p.8).

Essas noções de “território” podem ser percebidas nas cidades atuais pela ausência dos limites tradicionais. “Enquanto os limites políti-cos e físicos fazem-se necessários à organização da cidade, os mesmos são incapazes de refletir como as pessoas vivem e entendem o espaço.” (LUPI, 2013, tradução nossa). Isso é explicado

Fig 10 - Geographies of time, dias de semana. LUPI, 2013

Fig 11 - Geographies of time, finais de semana. LUPI, 2013

Fig 12 - Geographies of time, semanas especiais. LUPI, 2013

essas mais pulsam. A visualização é construída através de mapas inovadores das bordas das áreas da cidade. O mapeamento de atividades em mídia social em áreas específicas destaca simi-laridades e estabelece novas bordas que crescem, cruzam-se e sobrepõe-se, territorializando-se, desterritorializando-se e reterritorializando-se.

Essa visualização auxilia a compreender como a cidade não está mais atrelada a um local específico nem limitada em área, como coloca Maia (2013). O autor fala ainda que nem a or-ganização política e econômica encontra-se bem definida e que a cidade contemporânea emerge de processos efervescentes de forma temporária. Vê-se aqui mais uma vez a questão das dimen-sões temporais que se sobrepõem diante da complexidade contemporânea. Aprofundando mais sobre essa complexidade tão intrincada a concepção atual de cidade, abordaremos com mais destaque a disciplina cibernética no campo do urbanismo.

A complexidade é inerente ao urbano que é formado por diversos elementos heterogêneos em interação. Podemos identificar no urbano uma mutualidade onde os vários componentes estão em interação paralelamente, cooperativamente e em tempo real, criando múltiplas e simultâneas interações. Múltiplos processos e estruturas

dos diversos componentes do urbano se comple-mentam. Por mais que as cidades tenham sido planejadas, o urbano é evolucionista e cresce de modo oportunista. A explosão das favelas no último século, assim como qualquer outra aglomeração humana não planejada de outras épocas e lugares explicitam esta característica23. O modo como a cidade se transforma é uma evidência do seu processo constante de mudança. Os tecidos urbanos são destruídos por desastres naturais, guerras ou simplesmente morrem por obsolescência para em seguida renascerem nas ocupações, intervenções e operações urbanas. Este processo evidencia também a característica construtivista, pois o urbano tende a crescer em tamanho e complexidade mantendo o lastro com os estados anteriores ao mesmo tempo em que novos e inéditos são desenvolvidos. O ambiente urbano é retroativo, rico em reações autoaplicáveis de modo a equilibrar as relações entre seus diver-sos elementos.(JOSLYN apud MAIA, 2013, p.24).

Gordon Pask, cibernético inglês e psicólo-go realizou a aproximação entre arquitetura, ur-banismo e cibernética ao enxergar os arquitetos como pioneiros em design de sistema da humani-dade sem necessitarem dessa autodenominação. Contudo, explicita a diferença crucial entre arquitetura pura e funcionalista de modo que a primeira aproxima-se da cibernética na medida em que “busca regular uma complexidade de códigos e traduzí-los em sistemas de comuni-cação e controle”. Já a arquitetura funcionalista retoma questões técnicas pressupondo uma

23 Gecekondus, por exemplo, são aglomerações informais que ocupam mais de 60% da superfície de Istambul, Turquia, uma das únicas cidades no mundo onde a cidade informal foi capaz de reen-trar a formal. Esses assentamentos constituem áreas residenciais e de serviços, todos construí-dos ilegalmente e alguns deles foram reconheci-dos como parte oficial da cidade devido a uma lei que permite a criação de novas municipalidades. Contudo, ilegalidade e informalidade nesse caso não são sinônimos de baixa renda, mas sim um mercado bastante difundido entre classe média também. (PANAHIKAZEMI; ROSSI, 2012)

Fig 13 - Gecekondu em Ankara. SMITH, 2007.

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2 .1 PROCESSOS EMERGENTES EM AMBIENTES COMPLEXOS E REATIVOS

As cidades contemporâneas são complexas por natureza, caracterizadas por fluxos e movi-mentos de um ambiente reativo que se modifica a todo o momento. Por isso interessa fazer um recorte e entender a lógica dos processos emer-gentes, como são ativados e suas implicações no urbano compartilhado.

A emergência começou a ser discutida a partir da ciência da auto-organização e da de-sistência do controle baseado em uma unidade centralizada, deixando o próprio sistema gover-nar a si mesmo através dos elementos mais sim-ples. Contudo, a inteligência coletiva humana, ativadora de processos emergentes na sociedade, difere das comunidades biológicas, segundo Lévy25 pois aumenta e modifica nossa própria inteligência, enquanto as formigas ajustam seu comportamento a uma situação devido aos seus feromônios e encontros aleatórios, sem obter desse processo algo que vá além do seu extinto natural. (MAIA, 2013)

O indivíduo é o componente base da multi-dão e ativador dos processos emergentes, carac-

estrutura fechada sem possibilidade de evolução. Como o ambiente urbano está continuamente evoluindo (seja em ordem crescente ou decres-cente), Pask sugere maior flexibilidade e abertura da arquitetura e do urbanismo tomando o urbano como um sistema auto-regulador. Na prática trata-se da decodificação de códigos sociais e estabelecimento de relações de comunicação e controle no ambiente construído. (PASK apud MAIA, 2013).

Controle na cibernética diz respeito à ob-servação de fenômenos de comunicação e ação relativos a um ambiente reativo que ao contato com seu entorno e habitantes seja auto-regulador. As interações e interferências nesse fenômeno caracteriza a emergência de um ambiente com-plexo que embora esteja no centro das discussões contemporâneas é identificado em colônias de formigas, rede de neurônios, economia global e assentamentos tradicionais e informais. Esses sistemas mostram inteligência coletiva bottom-up, de baixo para cima. Em suma, a cidade é compreendida segundo Leach (2009) como operadora da swarm intelligence24 que abre dis-cussões sobre o aspecto emergente das cidades contemporâneas e tecnologia, que será abordado a seguir.

24 Swarm é relativo ao comportamento de grupos como enxames, formigueiros, cardumes, bandos, entre outros coletivos de insetos e animais encontrados na natureza.(MAIA, 2013). No urbanismo, sistemas swarm envolvem interação local de agentes autônomos que desenvolvem o comportamento emergente e estruturas auto-organizadoras (KOKKUGIA, 2009).

25 O que é Virtual?, 1996

26 O ciberespaço é um espaço aberto de comu-nicação devido as conexões computadorizadas. O termo original “Cyberspace” foi criado em 1984 por William Gibson. (MAIA, 2013)

terizados pelo processo de baixo para cima:

formigas criam colônias; cidadãos criam comuni-dades; um software simples de reconhecimento de padrões aprende como recomendar novos livros. O movimento das regras de nível mais baixo para a sofisticação do nível mais alto é o que chamamos de emergência.(JOHNSON, apud MAIA , 2013, p.39)

Sendo a sociedade baseada nas relações de indivíduos, Maia (2013) cria o termo indi-vidualmente coletivo para designar indivíduos autônomos conectados entre si, que se unem em um equilíbrio dinâmico marcado por tensões, pressões, conflitos e mutações. Percebe-se que esse conceito aproxima-se de outro, o da entropia, pois essa mede o grau de desordem do sistema, no sentido de movimento, interação constante em busca de um equilíbrio não estável através da auto-regulação.

O indivíduo o qual precisa provar sua diferença agindo como negociador no microes-paço, perde sua autonomia quando é obrigado a agir condicionado a uma estrutura autoritária característica do macroespaço. Contudo, o pensar diferente de cada indivíduo e seus conflitos cara-cterizam a inteligência coletiva, em que cada um exerce seu papel pensando e agindo independen-

temente, assim a negociação das ações permite a responsabilização de todas as partes.

Ainda segundo Maia (2013), Lévy propõe a atuação focada no presente, que coloca o acontecimento, enquanto instante, um ponto no espaço e no tempo, como questão central no processo do design. Dessa possibilidade emerge o arquiteto como ativador de espaços que se auto-organizam, sem mais obter a pretensão de controlar o tempo. Tal mudança traz à tona a autonomia do indivíduo como negociador no espaço dos acontecimentos, no microespaço. Trata-se da mesma relação de horizontalidade entre arquitetos e os diversos atores sociais que já foi exposta nesse capítulo. Se o arquiteto ativa espaços auto-organizáveis, o instantâneo ativa os eventos condicionando o espaço.

Em City of Bits,1995, Mitchell propõe uma cidade cujas atividades urbanas são regidas num ciberespaço26, uma revolução do plane-jamento urbano, visto que não se projeta pré-dios e espaços construídos. O espaço urbano é condicionado pela tecnologia da informação e comunicação onipresente que tende a substituir pessoas e coisas que existem num determinado local segundo as noções de alocalidade e dester-ritorialidade. A tecnologia onipresente engen-

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drada no cotidiano existe por meio dos telefones celulares, das redes sociais, Skype, da internet no geral e dos sistemas de geolocalização, entre outros, que através de dispositivos tecnológicos produzem representações de seres e coisas em um meta-espaço no qual a presença física torna-se irrelevante. Esse meta-espaço é composto por uma infraestrutura leve que cria ambientes virtuais e possibilita as relações invisíveis, as conexões, os fluxos de territorialização e dester-ritorialização através de aplicativos, agencia-mentos diversos e até de eventos que não condi-cionam o espaço, como exemplo dos congressos online. Contudo Mitchell, não assumia a existência de um ambiente urbano aumentado, com camadas materiais e invisíveis que se so-mam. Ele acreditava numa mudança virtual da cidade, na substituição da cidade obsoleta por esse meta-espaço ou ciberespaço.

O grupo Archigram27 , formado em 1961 pelos arquitetos Peter Cook, David Greene, Mike Webb, Ron Herron, Warren Chalk e Dennis Crompton, influenciou-se pela aproximação feita por Pask entre cibernética e arquitetura inserindo o Hard-Soft em suas propostas a fim de ampliar a abordagem arquitetônica comum e limitada ao palpável, e assim também , o próprio papel do

arquiteto. O conceito de Soft utilizado sugeria uma relação de dependência do mundo físico às motivações invisíveis que organizam a posição e funcionamento dos objetos tangíveis.

O grupo criou a Plug-in City em 1964, uma cidade modular baseada em pods28 conecta-dos por demanda e flexíveis para alterar sua configuração com o tempo, adicionando (cresci-mento) ou reduzindo pods (migrações). Por propor agenciamentos muito complexos, foi apresentada mais tarde a Computer City, cidade como rede de fluxos (tráfego, pessoas, merca-doria, informação) composta por diodos e sub-estações elétricas que permitiam o acontecimento da Plug-in City.

A proposta da Instant City do Archi-gram, trata-se por sua vez de uma cidade que se desloca e chega em cidades periféricas trazendo a dinâmica temporária de grandes metrópoles através de eventos com suporte tecnológico. Um outro tempo é produzido, permitindo infil-tração de outras dinâmicas, estabelecendo novas conexões por onde passa e deixando rastros. Trata-se também de uma infraestrutura leve que promove interação entre indivíduos e de um espaço que emerge dos acontecimentos.

Esses exemplos embora desenvolvidos

27 Esse grupo se reuniu para produzir a revista Archigram que acabou dando nome a este grupo, o qual apresentava críticas e design de arquitetura e urbanismo condicionados pelas tecnologias que emergiam no século XX e envolviam o cotidiano das cidades.

28 Portable On Demand Device (Dispositivo Por-tátil sob Demanda). Microcomponentes agen-ciados para atender a necessidades imediatas de um indivíduo, os quais poderiam ser carregados, dando origem à chamada portabilidade.

Fig 14 - Instant City Airships. Archigram, 1968.

em épocas diferentes ajudam a compreender a relevância da tecnologia na contemporaneidade como desencadeadora de processos emergentes. Neil Leach (2009), parte para discussões que vão além do entendimento das relações desses processos no meio urbano. Leach não aborda a onipresença da tecnologia como mais uma cama-da do urbano compartilhado, uma infraestrutura leve e agenciadora do espaço, como é o nosso foco, contudo coloca em questão a utilização de tecnologias digitais para modelar as cidades, já que cidades, assim como softwares, mostram uma lógica emergente similar.

Importa-se discutir o processo metodológi-co computacional adotado segundo a lógica “swarm intelligence”. A lógica dos sistemas fractais, L-systems, célula autômata entre outros, são limitados em relação à simulação da dinâmica urbana e consequentemente para pro-duzir padrões de modelagem da mesma. As duas primeiras lógicas não conseguem adaptar-se a estímulos externos fora do que foram programa-das e a última, embora responda a seus vizinhos, são fixadas espacialmente. Portanto, o que Leach (2009) apresenta como lógica coerente é a do multi-agent system, que diz respeito a agentes interagindo entre si e movendo-se no espaço.

Kokkugia, uma rede de arquitetos australi-anos em Nova Yorque e Londres, usa a capaci-dade emergente da swarm intelligence como metodologia de planejamento urbano na escala macro através de um processo bottom-up ba-seado no comportamento de agentes (multi-agent system). Essa técnica foi utilizada na requalifi-cação das docas de Melbourne, na Austrália.

A aplicação de sistemas swarm que en-volvem a interação de agentes autônomos locais em processos emergentes e auto-organizáveis, possibilita a mudança de noção do planejamento master-plan (plano diretor) para master-algo-rithm, como uma ferramenta de design urbano. Tal mudança diz respeito a um processo simul-tâneo de decisões micropolíticas que interagem e geram um sistema urbano complexo, no qual as questões urbanas centrais são programadas dentro de um conjunto de agentes que se auto-organizam. O resultado são sistemas urbanos adaptáveis a mudanças políticas, econômicas e pressões sociais.(SMITH, 2009)

Nessa proposta os agenciamentos atuam em duas categorias principais que não pretendem mapear o comportamento dos agentes urbanos, mas criar um sistema gerador de inteligência coletiva em processos emergentes auto-organi-

Fig 15- Instant City: Highest Intensity. Peter Cook, 1969.

Fig 16- Instant City: Infiltration. Peter Cook, 1969.

Fig 17- Instant City: Network takes Over. Peter Cook, 1969.

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záveis que variam de estado entre equilíbrio dinâmico e quase desequilíbrio. Uma categoria se dá através de agentes que auto-organizam a matéria urbana num processo de crescimento no qual o rastro deixado estimula outra ação, pelo mesmo ou por outro agente. Esse comportamento coletivo é similar ao dos cupins para formar seus cupinzeiros. A outra, programando swarm intelli-gence em elementos urbanos e topologias, como a organização coletiva de formigas para criar pontes. Esses agentes são usados para criar redes de circulação e infraestrutura.

Podemos ainda compreender essa proposta segundo a perspectiva filosófica pós-estruturalis-ta, no que se refere a multiplicidades, lógica das multidões e inteligência coletiva que modifica o espaço e, da cidade como espaço de fluxos que se ajustam a diferentes estímulos num conjunto de processos autorreguláveis. No capítulo seguinte serão abordadas as cidades contem-porâneas e dois estudos de caso segundo a lógica de processos congestionantes que podem ocasio-nar situações de saturação nesse sistema urbano complexo e responsivo que se auto-organiza através de ações produzidas pela inteligência coletiva e de agenciamentos promovidos por dispositivos tecnológicos.

Fig 18 - Melbourne Docklands (Linhas:1-aglomeração de agentes;2-rede de agentes;3-vias de rastro de agentes). Smith, 2008. 3ENTROPIA, SATURAÇÃO E O URBANO COMPARTILHADO

A cultura da congestão, termo introduzido pelo arquiteto e urbanista Rem Koolhaas (2008), trata de uma das características marcantes da contemporaneidade: a sobreposição e relevân-cia de inúmeras atividades num mesmo local e ao mesmo tempo, em ambas as escalas ar-quitetônica e urbana. O presente trabalho não pretende mostrar essas relações nas metrópoles, como Koolhaas nos apresentou em Nova York Delirante , mas demonstrar que tais relações, no contexto da cidade contemporânea, são com-ponentes do quadro dinâmico do urbano com-partilhado. O urbano compartilhado é definido pelo comparti-lhamento de recursos urbanos, estoque de espaços urbanos tais como praças, ruas, parques, rios e objetos, como ferramentas e infraestrutura, além de práticas cotidianas nesses mesmos espaços.

A congestão é entendida por Koolhaas, como uma potencialidade, assim como a diver-sidade e a pluralidade para o desenvolvimento do urbano compartilhado como aglutinador de funções, gerando e potencializando diferentes formas de sociabilidade. As atividades com-

põem camadas independentes de uma situação totalmente imprevisível. O arquiteto urbanista propõe que a congestão também pode partir do vazio, a densidade sem arquitetura, a cultura do invisível. Trata-se do urbanismo leve que não ocupa espaço nem tem materialidade, mas gere e dinamiza o urbano condicionado pela tecnologia informacional num ciberespaço ou meta-espaço que constitui outro estrato do urbano comparti-lhado, intangível, porém agencia espaços, ativi-dades e coisas do espaço palpável.

Pode-se dizer que a congestão refere-se ao conjunto de ocorrências simultâneas sobrepostas, que atravessa as mais diversas escalas, todavia a saturação dá-se em um campo mais ampliado. A saturação engloba não só as sobreposições no sentido de justaposição, empilhamento, conco-mitância, de atividades, usos, ações na cidade, mas também os processos de aglomeração que acumulam situações de congestão. A saturação não é uma condição, mas a mudança de estado de intenso congestionamento para um estado estacionário onde as sobreposições encontram-se tão congestionadas que paralisam o sistema urbano, algo que está em constante mudança, transformação e movimento. A durabilidade do estado saturado, entretanto não é definida, CAP

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todavia os agenciamentos atuam desterritoriali-zando o urbano compartilhado saturado, criando linhas de fuga para essas situações e modificando consequentemente sua duração. Essas linhas de fuga estão associadas ao processo de auto-organ-ização que encontra novas soluções para manter o equilíbrio dinâmico do sistema urbano, ex-pressado muitas vezes pela negociação resultan-te da inteligência coletiva e pelos dispositivos tecnológicos. Outras rotas são encontradas como fuga ao congestionamento assim como outros meios de transporte, outras formas de enxergar e compartilhar o urbano compartilhado.

Lagos, na Nigéria, tornou-se o arquétipo da megacidade29. De menos de 300 mil habitantes em 1950, chegou em 2007 ao posto de sexta maior cidade do mundo com uma taxa de cresci-mento maior que 6%. Em 2015, estima-se uma população de 23 milhões de habitantes, tornan-do-se a terceira megacidade.

Em Isale Eko, mais antiga e densa área da ilha, cada metro quadrado tem um proprietário para os mais diversos fins: comércio, “higiene pessoal”, pernoite, onde a privacidade não tem vez. Muitos dormem ao ar livre em camas de concreto acima de valas que mais parecem prateleiras.

Em Mushin, favela recente na parte con-tinental, cada casa pode abrigar oitenta pessoas cujas crenças rivais dão origem a conflitos san-grentos. O compartilhamento neste nível em-bora possa ocorrer sobrepondo atividades, dá-se através da imposição das condições econômicas vigentes que não deixam outra opção aos seus moradores.

A maior parte das pessoas que migram para Lagos não conseguirá sair de lá. O cenário da prostituição, o “enigma do salário” insuficiente para as necessidades básicas, o lugar onde todos são trabalhadores, os negócios nunca param e a economia tem sua maior parte baseada em transações informais, compõem o quadro crítico da cidade. Contudo essa reputação assustadora está sendo substituída por uma nova imagem, desde que as megacidades do Terceiro Mundo tornaram-se foco acadêmico, no início deste século. A partir de então, esses migrantes que foram atraídos e ocuparam a cidade passaram a ser vistos como pioneiros na criação de comuni-dades consistentes à margem de qualquer acei-tação estatal ou mercadológica. Existem vários pontos de vistas antagônicos em relação à satu-ração em Lagos. Alguns a abordam como estado de caos e outros como auto-organização e por

29 Designação do Programa das Nações Unidas para assentamentos humanos que sejam aglo-merações urbanas com mais de 10 milhões de habitantes.

Fig 19 - Mercado aberto em Isale Eko. CON-TRIBUTORS, 2014

Fig 20 - Moradia e espaços comuns em Isale Eko. JUJUFILMS, 2015.

esse mesmo motivo nos interessa abrir discussão em ambas perspectivas.

Segundo Robert Neuwirth30, os migrantes precisam do direito de ficar onde estão, pois “sem leis para apoiá-los, eles estão fazendo as suas comunidades inadequadas e ilegais cresce-rem e prosperarem”. Eles estão criando seu próprio território e modo de morar como linha de fuga ao estado saturado em que se encontra a ci-dade. O ponto de vista muda o foco de um estado saturado aterrorizante para um estado potencial de crescimento explosivo capaz de gerar lucros. Segundo Stewart Brand “cada rua estreita é um longo mercado fervilhante”. Koolhaas, em seus estudos sobre o futuro das cidades fascinou-se com “a maneira como, a partir de certo nível de auto-organização, dá-se essa estranha combi-nação de subdesenvolvimento extremo e desen-volvimento” em Lagos, espantando-se em “como as infraestruturas de modernidade da cidade pro-vocam todos os tipos de condições improvisadas e imprevisíveis, de forma que passa a existir uma espécie de dependência mútua”. Para ele Lagos não representa “uma situação de atraso” e sim “um prenúncio do futuro”. (PACKER, 2007)

Contudo, para George Packer (2007), o que Koolhaas “chama de ‘auto-organização’ é uma

adaptação coletiva a condições extremamente difíceis” e “os nós no trânsito levam a ‘condições improvisadas’ porque vender algo nas ruas é a única maneira da maioria dos habitantes de Lagos obter um mínimo para viver”. Para Kool-haas o amontoado de lixo visto de cima revelou-se um fenômeno urbano com uma comunidade altamente organizada, já para Gbadebo-Smith, subprefeito de Lagos, a realidade resume-se a “um altíssimo crescimento populacional com uma economia estagnada ou em recessão” e que dali a cerca de 20 anos não se tratará de pobres urbanos, mas sim de novos destituídos urbanos totalmente à margem da sociedade.

Lagos trata-se de um caso extremo, não somente pelo seu estado de saturação excessivo, mas também porque envolve questões de direitos humanos. De todo modo, em meio a uma enorme precariedade vimos a falta de correlação entre demanda dos moradores, capacidade urbana instalada e recursos urbanos disponíveis gerando situações de saturação e paralização do sistema de modo geral. Partindo para uma escala de reconhecimento mais próxima tomaremos o trânsito no Rio de Janeiro como exemplo para problematizarmos as relações entre congestão, saturação e o compartilhamento na cidade.

30 Shadow Cities, 2004.

Fig 21 - Pessoas vivem em meio a valas abertas em Isale Eko. DOYLE, 2008.

Fig 22 - Favela de Mushin. OLUFOWOBI, 2013

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Durante a copa do mundo de 2014 a pre-feitura da cidade do Rio de Janeiro decretou feri-ado nos dias de jogos no Maracanã em busca de aliviar o trânsito. Essa medida afetou os comerci-antes com redução nos lucros, embora o prefeito Eduardo Paes houvesse previsto aquecimento econômico devido à atividade turística. Contudo, o tráfego encontra-se caótico mesmo fora do horário de pico e da época de megaeventos. O jornal britânico The Telegraph (2015) apontou a capital carioca como tendo o oitavo pior trânsito do mundo, já a empresa holandesa de tecnologia em trânsito Tomtom colocou a cidade em terceira posição no ranking de congestionamento dentre 146 grandes cidades mundiais.

A infraestrutura inadequada e ineficiente acrescida das várias interdições concentradas para realização de projetos de urbanização antes dos Jogos Olímpicos em 2016 , ainda contaram com o crescimento da frota de veículos. Isso ocorreu, pois se trata de uma metrópole, com sistema viário deficiente, repleta de congestiona-mentos em horários normais, na qual suas vias principais não permitem fluxo mínimo agravado pelos grandes eventos mundiais e paralisações devidas às obras no metrô, no porto e demolição da Perimetral , por exemplo. O tráfego na

Perimetral estava saturado em 119% , segundo relatório da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (BANDEIRA,2012). Tais obras e interdições agravaram o problema da falta de mobilidade urbana com aumento da circulação de veículos em áreas que não eram o foco do congestiona-mento anteriormente. As vias expressas e túneis em substituição à Perimetral serão concluídos apenas em 2016, portanto até lá o sistema viário tentará se auto-organizar através de medidas imediatistas.

Através desses exemplos compreende-se o conceito de entropia como importante ferramenta para a problematização das noções de saturação e congestão nas cidades. Por esse conceito entende-se que todo sistema sofre deterioração podendo chegar à entropia máxima, que seria um estado de paralização do sistema, já que entropia mede o grau de desordem do mesmo, no sentido de movimento e constante interação (VON BER-TALANFFY, 1977). Seria essa a analogia com a saturação, um congestionamento máximo devido à movimentação intensa que ocasiona um estado de paralização das interações urbanas no urbano compartilhado.

O compartilhamento urbano de espaços,

Fig 23 - Trânsito no primeiro dia de fechamento da Perimetral . Gabriel de Paiva, 2014.

Fig 24 - Trânsito na zona portuária do Rio de Janeiro. Pablo Jacob, 2013.

O BLIIVE33 é uma rede colaborativa de troca de tempo. Usuários oferecem uma ex-periência e pela hora oferecida recebem um TimeMoney que podem trocar pela experiência que quiserem, através de encontros presenciais ou via videoconferência.

Breather34 é uma rede de espaços dentro das cidades dos Estados Unidos (San Francisco, Boston, Montreal, New York, Ottawa) que podem ser destrancados a qualquer momento através de um código recebido no smartphone para os mais diversos usos: trabalho, encontro, estudo, descanso, ensino, ou simplesmente para sentir-se em casa.

Hans Monderman foi um engenheiro de tráfego holandês que modificou o planejamento de transportes com o conceito de “shared space” (espaço compartilhado), através da remoção de sinalização semafórica, placas, faixa de pedes-tres, marcadores de pista e meios-fios para que motoristas e pedestres pudessem negociar o es-paço de locomoção através da interação e reação. O resultado inesperado foi que as cidades que aplicaram o conceito tornaram-se mais seguras sem o controle de tráfego, pois motoristas pas-saram a ter mais atenção nas pessoas reduzindo acidentes e diminuindo a velocidade do tráfego

objetos, recursos tem aparecido com frequência no design e planejamento contemporâneos, no intuito de reduzir o consumo na medida em que equilibra ambas as fontes de recurso e consumo. Trata-se de uma

solução a nível de metadesign31 que agencia indi-víduos e coisas: edifícios, infraestrutura pública, sistemas de transporte, consumo, etc. conectan-do-os aos indivíduos numa relação sistêmica e dinâmica própria do ambiente urbano vivo. Este agenciamento é a base de uma infraestrutura leve que faz a distribuição dos recursos. Sem infraes-trutura e política de distribuição de recursos, não há otimização ou até mesmo uso do que é ou pode ser compartilhado. (MAIA, 2013).

Esse tipo de design toma partido da falta de linearidade do sistema aberto32 e suas rupturas atuando em situações de saturação urbana tão recorrentes nas cidades contemporâneas das mais diversas maneiras.

GOMA, por exemplo, é uma associação interdisciplinar de empreendedores que buscam fomentar as economias criativa e colaborativa, através do empreendedorismo em rede e negó-cios de impacto social, compartilhando o mesmo espaço de trabalho no Rio de Janeiro e transfor-mando-o em um grande laboratório de gestão compartilhada.

31 Metadesign “envolve uma coleção de procedi-mentos que possibilitem o lido com um conjunto complexo e extenso de componentes. Métodos de arquitetura gerativa e da ciência da computação procuram compreender o projetar como a com-posição de um processo, no lugar da composição de um produto finalizado.” (VASSÃO, 2007)

32 O sistema aberto realiza trocas de informação com o ambiente, através de entradas e saídas.

33 Ver mais em http://bliive.com

34 Ver mais em https://breather.com

Fig 25 - Escritório de gestão compartilhada. GOMA, 2015.

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(PROJECT FOR PUBLIC SPACES, 2015). Essa proposta foi difundida em diversos lugares no mundo e a Via Condotti, principal rua comercial de Roma, serve como exemplo de como esses espaços se auto organizam. A passagem de carros é permitida, contudo a rua fica tão repleta de pes-soas que quase não vemos os mesmos, os quais precisam reduzir muito a velocidade.

Gehl Architects em conjunto com Land-scape Projects e Martin Stockly Associates aplicou o conceito de espaço compartilhado no projeto da New Road, no coração de Brighton, Inglaterra. Essa rua havia se tornado um beco atrativo para comportamentos antissociais, motivo pelo qual não atraia empresários e visi-tantes. Contudo, ao invés de ser fechada, a New Road transformou-se em uma via prioritária para pedestres, na qual carros são permitidos mas seu deslocamento é negociado com os pedestres.

Pode-se mais uma vez identificar a relação entre entropia e o urbano compartilhado. Na física há a necessidade de desenvolver forças contrárias à entropia, a chamada entropia nega-tiva, para que o sistema continue existindo, onde o estado de equilíbrio é alcançado pela auto-regulação. Da mesma forma, os espaços compar-tilhados segundo o conceito de Hans Monderman

se auto organizam através da interação entre seus usuários e não mais pelo controle.

Voltando ao caso do Rio de Janeiro, o Cen-tro de Operações Rio (COR) através de infor-mações fornecidas pelo aplicativo Waze, plata-forma colaborativa de monitoramento utilizada por motoristas com smartphones conectados por GPS, visualiza o fluxo do tráfego em tempo real. Através dessa parceria do COR e da integração com o sistema de câmeras do Geoportal é pos-sível definir a área de atuação dos agentes de trânsito (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2014). Percebe-se a realização do agenciamento do tráfego a partir da combinação entre disposi-tivos tecnológicos e estratégias tradicionais, nos quais estes afetam e otimizam os objetivos. Esse agenciamento ocorre assim como na autorregu-lação através de entradas e saídas num processo de realimentação do sistema. Quando se percebe que há algo errado os receptores já enviam a informação buscando soluções, como a atuação dos agentes de trânsito. Assim também o ur-bano compartilhado é pensado quando saturado, enviando e recebendo informações em tempo real, buscando linhas de fuga para reequilibrar o sistema. Este é o ponto fundamental da analo-gia, equilíbrio aqui, tanto na entropia quanto no

Fig 26 - Via Condotti, Roma. John, 2008.

Fig 27 - New Road em Brighton. Gehl Architects, 2010.

Fig 28 - New Road em Brighton. Gehl Architects, 2010.

35 “Micro” refere-se à dimensão do processo de constituição das formas reais que se ter-ritorializam e se desfazem ao mesmo tempo, desterritorializando-se. Já “macro” refere-se às formas reais constituídas em termos de um todo, de polos conflitantes e/ou contradição revelando relações de dominação de diferentes contextos (estado x sociedade, casal). Ambas as escalas ocorrem tanto ao nível individual quanto grupal ou coletivo. Foucault propõe pensar o poder enquanto “técnica de subjetivação” permitindo assim aprender com a criatividade social contra uma imposição inconsciente dominante. (ROL-NIK apud MARQUES, 2010,p.30)

36 O que é o dispositivo, 1996.

37 DELEUZE, Gilles. Foucault, 2005.

tração, linhas do devir que não coincidem com os grandes cortes segmentários (crise econômica, quebra da bolsa, advento da arquitetura e do urbanismo modernos em ruptura com os pen-samentos predecessores, o sucesso do cinema que substitui o romance).

Contudo, no caso do Rio, a tentativa de agenciar adotando faixas seletivas nos horários de pico para escoar o trânsito criando linhas de fuga, novas territorialidades, ainda falha na medida que reduz tempo de espera em sinais culminando com o congestionamento em áreas não prioritárias, pois a situação limite da cidade requer agenciamentos em um contexto político e sistêmico mais amplo. Não só os setores indus-trial e de serviços são afetados pela mobilidade precária, mas a qualidade de vida do trabalhador é reduzida na medida em que passa cerca de 100 horas parado em função de sistemas de mobili-dade urbana ineficientes e com pouca conectivi-dade.

Segundo Deleuze36 nossas atividades co-tidianas se dão em dispositivos atravessados por linhas de diferentes naturezas que podem ser de natureza macro e/ou micro, constituindo siste-mas heterogêneos que traçam processos em dese-quilíbrio. Na concepção foucaultiana37, o disposi-

urbano compartilhado, não diz respeito a estabi-lidade mas sim a interação constante do sistema, à constante realimentação.

Os agenciamentos atuam na multiplicidade e agem tanto na esfera de uma macropolítica quanto de uma micropolítica35. Uma sociedade, mas também um agenciamento coletivo se define, antes de tudo, por seus fluxos de dester-ritorialização.

A questão geral dos processos da natureza e dos assentamentos humanos não é propriamente de or-ganização no universo macro, mas, de composição de movimentos velozes ou retardados do universo micro (molecular), o qual pressupõe multiplicidade de agenciamentos enquanto passagem de fluxos, intensidades, composição de micro poderes, e isso, numa formação social no universo de uma micro política. Pois, as cidades comportam coexistên-cias dinâmicas dessa multiplicidade e constroem complexas redes de conexões de elementos hetero-gêneos em permanente transformação e onde emergem acontecimentos de imprevisíveis destinos caracterizados por sobreposições, misturas, zonas de vizinhança, contaminações, temporalidades diferentes, entre outras modalidades de processos de composição, e isso, no sentido dinâmico de uma Totalidade segmentária. (MAGNAVITA 2008).

Se a esfera macro está relacionada ao pen-samento hegemônico, um estado que concerne a todos, em determinada data e lugar, já a esfera micro compreende linhas de fissura e de infil-

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tivo é definido como um sistema de relações que pode ser estabelecido entre diferentes elementos como leis, discursos, instituições, proposições filosóficas ou científicas. O termo “dispositivo” constitui um tipo de formação que tem como função principal em um dado momento histórico responder a uma necessidade urgente. O dis-positivo tem, portanto, uma função estratégica dominante. “Um dispositivo é sempre percorrido por curvas de visibilidade e por curvas de enun-ciação, como “máquinas de fazer ver e de fazer falar” e comporta também linhas de subjetivação, que através de agenciamentos podem criar o novo”. (MARQUES, 2010, p. 103)

Podemos entender que “urbanizar, legislar, compartilhar” no âmbito das ações e práticas ur-banísticas configuram agenciamentos. Já os “pla-nos, projetos, leis, aplicativos” são dispositivos. As cidades são construções políticas. Pensar ur-banisticamente é pensar politicamente, economi-camente, socialmente e não só funcionalmente e/ou esteticamente.

O projeto Isochronic France do Seanseable City Lab, trata-se da construção de um disposi-tivo de otimização devido às variações expres-sivas de tempo de viagem de um ponto a outro na França. Tal dispositivo cria agenciamentos

Fig 29 -Captura de tela Isochronic France do sistema tradicional, segunda-feira às 0h. Senseable City Lab, 2014. Fig 30 - Captura de tela Isochronic France,segunda-feira às 0h, tendo como centro Paris.Senseable City Lab, 2014

Fig 31 - Captura de tela Isochronic France, sexta-feira às 10h, tendo como centro Paris.Senseable City Lab, 2014

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3 .1

tro de um mesmo dia e entre diferentes dias da semana.

Tanto na abordagem de Rem Koolhaas como nesse trabalho não há noção de bom ou ruim, certo ou errado, apenas aspectos que de algum modo são potencializados e geram uma mudança de estado, uma mutação, um devir. O estado de saturação é essencial para a proposição de agenciamentos, assim como Koolhaas (2008) afirma que os problemas da ilha de Manhattan são necessários à cultura da congestão. A con-gestão pré-estabelecida, fruto dos problemas característicos da excentricidade da ilha, a qual está numa corrida sempre à frente, torna pos-sível as sobreposições (“supercasa”, “megavila”, “edifícios-montanha”). Estes são o verdadeiro interesse dos arquitetos de Manhattan e não a organização literal. O nosso interesse é trabalhar o estado saturado como situação programática a ser agenciada através de compartilhamentos e dispositivos a fim de gerar negociações no urbano compartilhado.

Nessa perspectiva, a seguir serão apresen-tados os estudos de caso deste trabalho.

ESTUDOS DE CASO: OURO PRETO E LAUSANNE

na medida em que promove a combinação de elementos heterogêneos: coleta em tempo real das alterações do quadro de horários do sistema de trem francês, monitoramento dos atrasos e recálculo das possíveis conexões de um determi-nado ponto a outro, atuando assim nos estratos. Com isso, decodifica os meios gerando uma desterritorialização: um diagrama de deformação do mapa da França onde a noção de espaço e tempo se torna mais ampla - as distâncias entre ponto de partida e qualquer outro destino no país é dada em horas e não quilômetros, sendo atu-alizado instantaneamente, o que permite com-preender que “o espaço e o tempo não são mais entidades absolutas e independentes.” (MORIN apud MAIA, 2013, p.23).

A primeira imagem na página anterior (Fig 29) mostra o sistema tradicional da rede ferroviária de alta velocidade como é conhecido mostrando o contorno físico da França e a locali-zação geográfica de suas cidades com distância entre elas medidas em quilômetros. Já as outras duas imagens (Fig 30 e 31) consideram o método distância-tempo tendo Paris como centro, assim como as variáveis de atraso possíveis e tempo de espera, deformando completamente o mapa. Percebe-se que o tempo de viagem varia den-

Fig 32- Mapa de localização dos estudos de caso. Produzido pela autora.

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cultural preservado com tombamento da UNESCO. Apresentam instituições de ensino fundamentais para a economia atual das mes-mas que geram ainda uma população flutuante e dinamizam processos urbanos, como acesso à moradia. A efervescência cultural é observada nas duas cidades, marcada por grandes eventos mesmo que de escalas e temas distintos. Seus centros históricos marcados pela existência de usos variados passam ainda por um processo similar de expansão. Esses aspectos serão identi-ficados no decorrer deste capítulo.

Ouro Preto, localizada no chamado Qua-drilátero Ferrífero, é conhecida como cidade turística, mineradora e universitária, com 70.281 habitantes em 2010 segundo censo do IBGE e área de 1.245,856km2. Sua ocupação inicial deu-se em razão das explorações do ouro formando arraiais que mais tarde foram unidos. Por ter sido reconhecida como Patrimônio Cultural da Hu-manidade pela UNESCO atrai um dos maiores volumes de turistas no Brasil, advindos do ter-ritório nacional e exterior. Contudo, as indústrias metalúrgicas e de mineração destacam-se junto ao turismo como principais atividades econômi-cas do município (INSTITUTO RUA VIVA, 2014).

Os estudos de caso serão apresentados com enfoque nas atividades urbanas sujeitas às dinâmicas de congestão e saturação, as quais se pretende dar visibilidade através da criação de diagramas nas duas cidades, não necessariamente como comparativo, mas a fim de entender suas semelhanças e diferenças. Após detectar proces-sos semelhantes em ambas as cidades, as vari-áveis urbanas serão selecionadas como parâmet-ros principais as quais se deseja identifi-car no urbano compartilhado através de diagramas topológicos gerados por um algoritmo do design paramétrico.

A partir das vivências na cidade brasileira de Ouro Preto, Minas Gerais, durante o período de graduação da autora e em Lausanne, cidade suíça, no Cantão de Vaud, durante um semestre de estágio, ambas as cidades foram escolhidas como estudo de caso. Embora a experiência em morar nesses locais tenha sido crucial para se trabalhar os mesmos, esse não foi o único mo-tivo da escolha. Ouro Preto e Lausanne embora inseridas em contextos distintos apresentam peculiaridades e similaridades quanto as suas dinâmicas urbanas. Ambas as cidades estão localizadas em regiões de topografia acidentada e elevada e possuem um patrimônio histórico e

Fig 33 - Ouro Preto. Grace Downey e Robert Ager, 2013

fig 34 - Centro histórico de Ouro Preto. Vinícius Terror, 2014.

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38 Esse programa tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior

39 Aluminium Limited do Canadá que criou a mar-ca Novelis, empresa responsável pelas operações de produção de alumínio primário no Brasil que mais tarde tornou-se subsidiária integral do Aditya Birla Grou. Em 2009 a Novelis encerrou a produção de alumina em Ouro Preto e encontra-se em processo de desativação.

tralidades em Ouro Preto. A primeira represen-tada pela Praça Tiradentes e seu entorno, a qual concentra atividades comerciais, de serviços e lazer voltado para turistas e população em geral, o que é reforçado pela presença de museus e igrejas que compõem o patrimônio arquitetônico do centro histórico. A segunda diz respeito aos bairros Morro do Cruzeiro e Vila Itacolomy, que são conhecidos como Bauxita, marcados pelo crescimento relacionado à ocupação de estudantes que buscam a proximidade ao IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais) e à universi-dade.

Além dessas duas centralidades, Salgado (2010) identifica na malha urbana os chama-dos fringe-belts, que se originam espontanea-mente em zonas periféricas devido à oscilação econômica e à demanda pelo grande parcela-mento do solo e são englobados ao contexto urbano pelos processos de expansão . Um exem-plo é a implantação da ALCAN39, equipamento industrial de baixa densidade, que modificou a infraestrutura urbana construindo para seus fun-cionários o Conjunto COJAN, na década de 80, na região hoje conhecida como Bauxita.

Essas áreas de expansão carregam uma in-fraestrutura que a área central e turística de Ouro

A cidade cenário da Inconfidência Mineira desde muito cedo recebeu estudantes de outras regiões devido à criação da Escola de Farmá-cia em 1839 e da Escola de Minas em 1876 (BOHRER, 2014). Atualmente, os estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) configuram-se como importante fonte de recur-sos econômicos para a cidade, principalmente após a implantação do REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais38 que refletiu na am-pliação da infraestrutura habitacional, comercial e de serviços.

A evolução do traçado urbano se deu ini-cialmente às margens dos rios em função da mi-neração do ouro e mais tarde se estendeu sobre as encostas, marcando a paisagem pelo encaixe de vales, cortados por córregos que atraíram os primeiros assentamentos urbanos. Somado aos fatores físicos, os fatores econômicos geraram o crescimento populacional e urbano relacionados às atividades mineradoras, industriais, turismo e vocação educacional firmando-se como uma importante cidade universitária. Esses vetores econômicos são responsáveis pela expansão urbana para além do centro histórico.

Salgado (2010) define duas grandes cen-Fig 37- Mapa da área de estudo e expansão em Ouro Preto. Produzido pela autora com base na Revisão do Zoneamento Urbano de Ouro Preto de 2008 e Google Maps.

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15.

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40 Nesse contexto república federal aplica-se somente às casas pertencentes à UFOP.

comum..Devido à hospedagem remunerada de tu-

ristas e realização de festas, o carnaval universi-tário ouro-pretano, que antigamente era limitado aos ex-alunos republicanos e poucos turistas, foi tomando grandes proporções. A arrecadação financeira feita no carnaval pelas repúblicas é aplicada na manutenção das casas, que, em sua grande maioria trata-se de casarões históricos que requerem constante manutenção. O Minis-tério Público mediante prestação de contas faz o acompanhamento da aplicação dos lucros.

Atualmente, embora o carnaval de Ouro Preto seja um dos principais carnavais de rua do estado, mantendo algumas antigas tradições, as festas estudantis vêm se destacando. Segundo pesquisa realizada pela Secretaria de Estudos e Pesquisas de Ouro Preto (SEPETUR) cerca de 32% dos turistas hospedaram-se em repúblicas durante o Carnaval de 2012 e somente 19% nos hotéis e pousadas. (PERFIL..., 2012). Essa dife-rença significativa chamou a atenção do ramo hoteleiro ouro-pretano que entrou com uma ação judicial em dezembro de 2013 através da Asso-ciação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) proibindo as repúblicas federais40 de oferecer hospedagem, assim como exercer qualquer outra

Preto não comporta, atuando como uma linha de fuga à congestão urbana, contudo essa mesma área central atua consideravelmente como agluti-nadora de funções, como é possível observar na pelo mapa de usos na imagem anterior (Fig 37).

O palco de grandes conflitos e fonte de riquezas minerais no passado é atualmente atração cultural, turística e na área da educação. O centro histórico mantém-se vivo com suas funções urbanas ativas, entretanto cada vez mais em estado de saturação. Esse estado é facilmente perceptível em eventos de grande porte que con-vergem grande parte dos recursos urbanos para um acontecimento específico, paralisando outras atividades, como por exemplo, o Carnaval uni-versitário, que atrai grande número de pessoas.

A cidade abriga cerca de 350 repúblicas estudantis, sendo 59 dessas de propriedade da UFOP. Durante o carnaval, a capacidade das repúblicas aumenta em até mais de seis vezes o número de pessoas que se acomodam durante o restante do ano. A sobreposição de atividades passa da congestão para um estado de saturação tornando-se necessária a acomodação de hós-pedes em casas de apoio, e não só, pois o número de turistas durante esse período dobra a quanti-dade da população, o que faz com que a falta seja

Fig 38- Hospedagem dentro das repúblicas. Facebook, 2013.

Fig 39- Rua Direita no Carnaval. Paulo Carvalho, 2014.

contexto do automóvel e o plano de circulação da área central adotado, que articula as partes baixa e alta da cidade, possui uma série de defi-ciências segundo o terceiro relatório do Diagnós-tico do Sistema de Mobilidade de Ouro Preto:

Inexistência de vias com continuidade para criar rotas alternativas; Inexistência de vias de ligação direta entre alguns bairros da cidade; Traçado ir-regular do sistema viário gerando descontinuidade entre bairros e loteamentos vizinhos; Capacidade limitada do viário principal existente; Deficiência no número de vagas ofertadas; Inexistência de calçadas ou calçadas estreitas na maioria das vias ou trechos de vias. (INSTITUTO RUA VIVA, 2014)

A construção de calçadas muito estreitas, quando existentes, realizou-se para possibilitar o fluxo de veículos, mesmo assim muitas ruas comportam apenas a passagem de um veículo por vez, em sua maioria de pequeno porte. Veículos de maior porte costumam não passar por essas ruas, embora não sejam proibidos na maior parte delas, todavia geralmente causam danos quando passam, como o incidente ocorrido durante o carnaval de 201341.

Existe uma lei que regulamenta as ope-rações de carga e descarga e estabelece horários e tipos de veículos na área central, contudo algu-

atividade remunerada, partindo do pressuposto de que patrimônio público não pode ser utilizado para arrecadação financeira.

A intenção que se evidencia neste cenário se aproxima de uma infraestrutura coletivamente imposta de hospedagem ao turista, mas não só, visto que a proibição de hospedagem nas repúblicas federais ainda é muito pontual diante do número de outras repúblicas que promovem o carnaval. O sistema de hospedagem republicano, como alternativa mais descontraída e acessível economicamente atua como uma infraestrutura coletivamente disponível na medida em que mul-tiplica o potencial do que é compartilhado. Nos últimos anos tem-se observado uma sequência de medidas que tentaram impedir e limitar o car-naval universitário, talvez numa tentativa nostál-gica de retomada do “carnaval das marchinhas”. Esse tipo de atitude dificulta o compartilhamento de recursos urbanos refletindo no sistema de autogestão das repúblicas.

Além do fato dos grandes eventos não se tratar de exceções, posto que o calendário anual ouro-pretano prevê tais acontecimentos em todos os meses, o estado saturado é observado em situ-ações cotidianas de menor escala.

O desenho urbano colonial não ocorreu no

41 Um caminhão-pipa atingiu uma corda utilizada para ornamentação carnavalesca puxando a pro-teção da sacada do Restaurante O Passo, na Rua São José, caindo sobre um turista na calçada.

Fig 40 - Rua Direita durante o dia. CLIPPING, 2014.

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os quais também são estreitos. Além de tudo, existem muitos empecilhos nessas calçadas, como postes e sinalização, quando se pensa em pessoas com dificuldade de locomoção é que a situação se torna mais preocupante. As calçadas em pedra sabão e tampões em ferro da fiação elé-trica subterrânea tornam-se muito escorregadios em períodos de chuva.

Os táxis-lotação, tipo de transporte co-letivo regularizado no município, e as caronas solidárias42configuram-se como meios alter-nativos integrados à cidade, os quais ajudam a desafogar o trânsito complicado através do compartilhamento.

Marcelo Lopes residente na Incultec43 e coordenador de Tecnologia da Informação da empresa de ônibus que opera na cidade de Ouro Preto44 é idealizador da StartUp LocateBus e pretende trazê-la para a cidade. Por acreditar que a falta de informações gera grande parte dos pro-blemas no serviço de transporte tanto para quem presta o serviço quanto para quem usa, propõe aumento da qualidade do transporte público transformando dados em informações para auxi-liar a tomada de decisões diárias dos passageiros e empresas do ramo. Dentre os problemas gera-dos pela falta de informação destaca a incerteza

42 Caronas oferecidas por pessoas que se direcio-nam para lugares próximos sem cobrança de tarifa

43 Centro de Referência em Incubação de Empre-sas de Ouro Preto

44 As empresas Turin e Transcota atuam como uma única empresa em Ouro Preto.

mas lojas utilizam indevidamente as áreas reser-vadas. Segundo o Diagnóstico de Mobilidade essas operações tiveram grande aumento devido ao crescimento da economia, o que requer outras medidas, como criação de área específica para tais operações. (INSTITUTO RUA VIVA, 2014). Entretanto, situações atípicas, como a colocação de enfeites de decoração natalina, impedem o trânsito na Rua Direita tangente à Rua São José e congestiona as principais ruas do centro históri-co.

As conexões entre um ponto e outro são dificultadas e muitas vezes limitadas ao acesso de veículos. Estacionar torna-se atividade com-plicada, ainda mais quando se deseja estacionar próximo ao local que realmente se quer chegar. O tempo para se conseguir retirar o carro do es-tacionamento, o longo percurso realizado para se chegar a outro ponto devido à falta de conexão e possibilidade mínima de conseguir retornar ao ponto em que se estava, demonstra o estado de congestionamento e paralisação em que se encontra essa área.

A mobilidade de pedestres no centro histórico é restrita e perigosa, pois as calçadas estreitas ou a inexistência delas faz com que pedestres se locomovam pelos leitos carroçáveis,

Fig 41- Conflito entre pedestres e turistas no Largo do Cinema durante decoração natalina. Foto da Autora, 2013.

45 Rede de mobilização social

46 Aplicativo de mobilizações que permite contato direto com governantes, gestores públicos, parla-mentares, concessionárias de serviços públicos, políticos em geral e outros tomadores de decisão da cidade.

com maior foco nas variações) e caronas internas sem competir com outros aplicativos existentes para cada meio de transporte e sim reunir todos eles.

Em 2015 a rede Minha Ouro Preto45 está sendo construída como parte da Rede Nossas Cidades que suporta mobilizações de pessoas en-gajadas e conectadas por cidades mais comparti-lhadas. As ferramentas criadas permitem contato direto entre cidadãos e poder público, como a Panela de Pressão46, onde qualquer cidadão pode criar uma mobilização sobre algo específico. A partir do mês de Maio de 2015 a primeira mo-bilização está sendo realizada na cidade com o movimento civil “Abre Casa da Ópera” pela reabertura do Teatro Municipal de Ouro Preto, que já tem repercussão no cenário mineiro.

Através da apresentação do contexto de Ouro Preto percebe-se a aglutinação e sobre-posição principalmente no que diz respeito ao compartilhamento de uma infraestrutura coleti-vamente disponível, entretanto que não demons-tra aplicação de agenciamentos eficazes no urbano compartilhado devido às situações que geram paralização do seu sistema. Os projetos e ações inovadoras que buscam melhorias como o plano de mobilidade, a LocateBus e a Rede

sobre horário do ônibus, longa espera em paradas e dificuldade para identificar as mesmas, assim como rotas e itinerários, no caso dos usuários. Já para os prestadores do serviço percebe-se a fiscalização ineficiente, falta de informação sobre viagens realizadas, assim como da velocidade dos motoristas. Com a implantação de GPS torna-se possível o controle da frota em tempo real e maior satisfação dos passageiros graças a uma gestão mais eficiente.

Devido às dificuldades de implantação de tecnologias em empresas privadas que oferecem serviço público o projeto LocateBus passa por um processo de reformulação e nesse momento agrega-se ao projeto AGEcoletivo, sociedade entre a autora deste trabalho e Marcelo Lopes. O AGEcoletivo pretender ser um aplicativo de agenciamento espacial colaborativo, comparti-lhado e coletivo que considera a mobilidade como um todo dentro das cidades, com foco naquelas as quais não possuem um sistema atualizável e integrado de transportes que man-tém usuários informados dos meios possíveis, horários, trajetos e mudanças. Esse aplicativo pretende unir os meios de transporte tradicionais e específicos de cada cidade, sendo eles ônibus, táxi e suas variações (táxi-lotação, moto-táxi,

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47 O setor censitário é a menor unidade territorial de coleta das operações censitárias, definido pelo IBGE, com limites físicos identificáveis em cam-po e respeitando a divisão político-administrativa do Brasil com dimensão adequada à operação de pesquisas e cujo conjunto esgota a totalidade do Território Nacional, o que permite assegurar a plena cobertura do País.

48 Université de Lausanne

48 École Polytechnique Fédérale de Lausanne

suíços. A população flutuante é uma caracterís-tica marcante na cidade, mais do que o fluxo de estudantes em Ouro Preto, pois a população estrangeira totaliza 42% do total, de 160 nacio-nalidades diferentes . Dos 15.200 estrangeiros que chegaram, apenas dois terços ficaram até 4 anos e 17% menos de um ano, o que mostra como Lausanne se identifica como um local de passagem para a maioria deles.

O processo de baixa na densidade popu-lacional enfrentada até os anos 90 inverteu-se e percebe-se que Lausanne busca capturar sua dinâmica interna como cidade não homogênea e “formada pela justaposição de diversos bair-ros com atmosferas muito diferentes” (STATIS-TIQUE LAUSANNE, 2015, tradução nossa). Isso se dá em razão do desenvolvimento e diver-sificação da cidade e sua região nos domínios econômico, educativo, pesquisa, esporte, cultura, transportes públicos, urbanismo e pelo próprio crescimento da população cosmopolita. (LAU-SANNE TOURISME, 2013)

O saldo migratório é responsável por 62% do crescimento da população e o pico de partidas é claramente identificado no mês de julho e o de chegadas em setembro, devido ao calendário acadêmico regido pela UNIL48 e EPFL49 . Nessa

Minha Ouro Preto ainda estão em processo de implantação, atuação ou reformulação, contudo mostram que a cidade busca soluções em direção a uma cidade mais conectada e colaborativa. É nesse contexto que a área central foi tomada como estudo de caso por apresentar um fluxo intenso de atividades urbanas e compartilhamen-tos variados como as repúblicas, caronas e táxi-lotação, ainda com a peculiaridade de se tratar de uma área de valor patrimonial que restringe a expansão e transformação física. A delimitação da área de estudo foi feita através das divisões censitárias47, definindo os bairros Centro Pilar.

Lausanne é capital política do Cantão de Vaud, na Suíça, é também centro cultural, universitário e capital olímpica mundial. A quarta maior cidade suíça continua em pleno desenvolvimento na área dos negócios, plane-jamento urbano, transporte público e mobilidade enquanto preserva seu patrimônio cultural e arquitetônico simultaneamente. Além de ser um destino turístico popular abriga várias compa-nhias multinacionais.

Segundo o correio estatístico (IMHOF, 2014) a cidade contava com 139 390 habitantes em 2013, sendo ainda uma população mais jovem e de estudantes, em contrapartida, menos

Fig 42- Centro de Lausanne: Grand-Pont e ao fundo a Catedral Notre-Dame. M. Richi, 2015.

50 Os setores estatísticos foram desenvolvidos pelo escritório de estudos socioeconômicos e estatísticos o qual dividiu a aglomeração de Lausanne em 81 setores considerando os diver-sos dados disponíveis. A leitura pode ser feita de duas formas: segundo uma lógica raio-concêntri-ca que engloba a parte construída, densidade po-pulacional, atividades econômicas e residenciais ou de acordo com a oposição Leste-Oeste que considera, sobretudo, as variáveis socioculturais (componentes étnicos e nível socioeconômico). (STATISTIQUE LAUSANNE, 2015)

marcado geralmente por períodos curtos, devido à característica flutuante da população migrante/imigrante em Lausanne.

Percebe-se através desses relatórios es-tatísticos a expansão da área central para as áreas periféricas e adjacentes, situação similar ao contexto expansionista em Ouro Preto. O cresci-mento do bairro centro, que foi tomado como área de estudo por se destacar como principal centralidade, tornou-se moderado devidos aos movimentos de expansão, enquanto que a região adjacente de Vinet/ Pontaisse destaca-se com a maior densidade populacional, seguido por Mau-pas/Valency. A expansão da área central também para a região de Sous-Gare/Ouchy revela o real ponto de entrada urbana em Lausanne.

Observou-se em 2013, um crescimento ainda maior em uma região mais distante, a Vers-chez-les-Blanc, dentro das “zones foraines” e dentro dos bairros periféricos Sallaz/Vennes/Séchaud e Montoie/Bourdonnette. Essas três regiões possuem o saldo migratório mais eleva-do, totalizando um acréscimo de 660 pessoas.

Os 17 bairros são divididos em setores es-tatísticos50, dos quais o bairro 1, Centro, divide-se em outros 10 setores.

época do ano torna-se extremamente difícil conseguir moradia na área central, verificando-se que a previsão de que em três anos a maior parte sairia da cidade para habitar na região adjacente já está ocorrendo, como linha de fuga à saturação habitacional.

Ainda sim, uma solução nesse caso é o compartilhamento de moradia, as chamadas “colocations”, onde pessoas dividem as áreas co-muns da casa ou apartamento mediante entrevis-ta de candidatos, por tempo indeterminado, mas

Fig 43- Chegadas (azul) e partidas (vermelho) mensais em Lausanne. IMHOF, 2013.

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Fig 47- Mapa dos bairros de Lausanne e setores do Centro. Produzido pela autora com base no mapa de delimitação de setores estatísticos de Lausanne, Guichet car-tographique cantonal e Google Maps.

Fig 44- Place de l’Europe. Schwizgebel, 2010.

Fig 45- Rue Centrale. Marie Jirousek, 2013.

Fig 46- Place de la Palude.RAZAVI, 2014.

fig 48 - Pont Bessières e Catedral de Notre Dame. RAZAVI, 2014.

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soas foram interrogadas. O primeiro fato que se percebe, devido à Suíça ser um país pequeno e bem conectado, é que os deslocamentos diários podem se dar em nível de território nacional, sendo que a média de percurso diário é de 33 km por dia, representando cerca de 90 minutos.

Durante a semana sabe-se que o tráfego pendular de casa para o trabalho/ educação e vice-versa constitui o primeiro motivo de deslo-camento. O horário de pico na parte da manhã fica entre 7h e 8h e na parte da tarde entre 17h e 18h, sendo este último com tráfego mais elevado, visto que os deslocamentos por motivos de com-pra e lazer agregam-se ao tráfego pendular.

Contudo, na somatória final de desloca-mentos nos dias de semana e fim de semana, o lazer destaca-se como principal motivo. Como Lausanne é um centro empresarial, os deslo-camentos com destino à cidade originam-se de dentro da mesma e de outros distritos e cidades, gerando certa aglomeração em frente à estação central e conflitos entre pedestres e motoristas, devido à duplicação do número de passageiros até 2010.

Três quartos das famílias da aglomeração de Lausanne possuem ao menos um veículo, porém apenas 54% das pessoas que moram soz-

A área é predominante mista de alta den-sidade com considerável zona histórica no setor 101 e 109. Além da Gare, estação central fer-roviária que é o ponto de chegada de milhares de viajantes por dia, que concentra atividade comer-cial, de serviços e hotelaria ao seu redor e forte densidade habitacional, o Flon, setor 103, desta-ca-se. Trata-se de um distrito privado construído para se tornar uma das áreas mais vibrantes de Lausanne. Flon era um vale que teve seu rio soterrado e mais tarde se tornou zona de depósito de mercadorias, da qual certas construções ainda são preservadas, segundo o plano de desenvolvi-mento distrital. Ao mesmo tempo é uma zona de uso misto que seguiu seu desenvolvimento estimulando a fixação de negócios variados com novas tecnologias, serviços públicos, escritórios, lojas, atividades comerciais, de lazer e culturais, educação e artes. Esta esplanada prioritária para pedestres matem-se dinâmica no período da noite com os restaurantes, bares, boliche, cinema, dis-coteca entre outras diversas atividades culturais temporárias.

Uma visão geral da mobilidade é forne-cida pelo o correio estatístico (IMHOF, 2013), através da enquete de micro recenseamento de mobilidade e transporte, na qual 2296 pes-

Fig 49- Linha m2 em horário de pico. Foto da autora, 2014.

Fig 50- Trânsito em frente à estação central de trem. Jean-Bernard Sieber, 2010.

ro, permitindo realizar deslocamentos maiores de trem e menores de carro, pois os mesmos ficam disponíveis nas proximidades de mais de 390 estações centrais. Já o BestMile é uma startup suíça criada em 2014 por 3 ex-alunos da EPFL que desenvolve soluções e serviços para mobili-dade urbana oferecendo um tipo de “transporte público” do planejamento à execução do serviço de mobilidade “última milha”. Este software opera frotas heterogêneas de veículos (car-shar-ing, bike-sharing, etc.) por operações em tempo real baseadas em localização e algoritmos otimi-zadores e inclui o projeto de trajetórias, horários e dimensionamento de abastecimento de acordo com o local.

Segundo Relatório Anual de 2013, o tu-rismo em Lausanne possibilita desde 2010 mais de um milhão de pernoites no setor de hotelaria, com uma baixa a partir de agosto de 2011 devido à crise europeia e ao fortalecimento da moeda, o franco suíço. Contudo houve um aumento de 22% em relação a 2012, resultando numa propor-ção de dois turistas para cada cinco suíços em Lausanne. Esse quadro favorável ao turismo em época de crise internacional, que representa ain-da 40% da atividade turística no cantão de Vaud, deve-se ao turismo de negócios e a organização

inhas possuem um. Dentro disso, o número de famílias sem veículos é mais elevado em Laus-anne enquanto grande centro urbano (44%). Du-rante a última década, os detentores de descontos e passes-livres de transporte público aumentaram significativamente, sendo que 51% das pessoas maiores de 15 anos possuem pelo menos algum tipo, mas ainda quase três quartos da distância percorrida é realizada por transportes individuais motorizados.

A área de estudo conta com uma extensa zona de pedestres, um espaço compartilhado em certos horários, que garante prioridade aos mesmos permitindo o deslocamento sem impedi-mento por veículos motorizados, reservando o espaço da rua à vida social e comercial. O mapa ao lado mostra os acessos e horários livres para circulação de veículos motorizados.

Além da infraestrutura urbana e rede de transporte público conectado que está constante-mente em modificação para suprir as necessi-dades do usuário e reduzir a necessidade de utilização de transporte individual, como o car-sharing, existem projetos paralelos que ajudam a melhorar ainda mais a qualidade da mobilidade.

O car-sharing combina a pontualidade do transporte ferroviário com a flexibilidade do car-

Fig 51- Plano de zona de pesdetres. LAUSANNE OFFICIELLE, 2009.

Fig 52- Car-sharing. CFF/SBB/FFS, 2015.

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só o itinerário, horário e realizar compra online de bilhetes ferroviários, mas também de ônibus e metrô dentro da cidade, entre outros meios inte-grados. O mesmo aplicativo fornece informações em tempo real de atrasos e imprevistos, lotação, assim como sugerem outros meios de se che-gar onde se deseja e pode ser acessado por uma rede wifi limitada aos serviços do mesmo nas estações de trem. Para complementar a eficácia da utilização desses aplicativos Lausanne oferece pontos de Wifi gratuito nos principais espaços públicos da cidade.

O aplicativo TL (Transporte Lausanne) voltado para o transporte público especifica-mente em Lausanne, além de fornecer infor-mações referentes à alterações no trânsito devido à obras de infraestrutura, manutenção ou reparo, assim como problemas técnicos e mudanças de rota devido aos mais diversos fatores, integra-se com facilidade aos eventos que ocorrem repro-gramando toda a rota com antecedência e envi-ando essas informações aos usuários.

Observa-se através da apresentação de ambos os estudos de caso configurações urba-nas muitos diferentes mesmo a partir das simi-laridades e peculiaridades que as aproximam. Percebe-se que a diferença encontra-se nas ações

de grandes eventos internacionais que são menos afetados pelas variações de câmbio e preço do que o turismo e lazer. O serviço de Congresso e Manifestações organizou 30 eventos em 2013. (LAUSANNE TOURISME, 2013)

O turismo é ainda favorecido além das numerosas atividades culturais, esportivas e de lazer, pelo desenvolvimento do comércio, res-tauração e da vida noturna que representa um turismo de lazer para curta estadia. Os hotéis da associação hoteleira de Lausanne beneficiaram-se em 2013 de uma taxa de ocupação de 65% dos quartos devido aos eventos ocorridos na cidade. Por isso, pode-se traçar uma relação entre os grandes eventos ocorridos e o ramo hoteleiro.

Existe ainda uma série de aplicativos dis-poníveis na cidade voltados para a mobilidade, turismo, hotelaria, comércio e outros que se encontram cada vez mais integrados ao estilo de vida da população. Os smartphones, desse modo, atuam como uma extensão do corpo que através desses dispositivos tecnológicos permitem modi-ficar a relação de espaço e território, assim como realizar agenciamentos e negociações no que diz respeito à tomada de decisões quanto às ativi-dades urbanas. O aplicativo da CFF/ SBB/ FFS (Ferrovia Federal Suíça) permite encontrar não Fig 53- Pontos de Wi-fi público em Lausanne.

Google Maps, 2015.

selecionadas nos estudos de caso e a metodolo-gia de coleta, apresentando ainda a evolução da cartografia de um modelo estático para formas de se visualizar espaços dinâmicos em constante realimentação de dados que nortearam a criação dos diagramas espaciais que refletem as ativi-dades urbanas de Ouro Preto e Lausanne.

que gerem as atividades urbanas, pois uma conta com agenciamentos integrados ao sistema urbano vindos da escala macro. Realizações do poder público, como a criação de espaços compartilha-dos com prioridade ao pedestre, sistemas de des-contos que promovem a utilização de transporte público, e que são assimilados pela escala micro, como a utilização de aplicativos do sistema de mobilidade e o car-sharing em Lausanne, con-figuram o urbano compartilhado marcado por trocas entre o ambiente e seus usuários. As me-didas são eficientes, pois englobam um contexto mais amplo de cidade: a mobilidade relacionada aos eventos, a criação de aplicativos e sua uti-lização possibilitada por redes WiFi públicas. A inteligência coletiva da escala micro, por sua vez, cria outros dispositivos que promovem agenciamentos capazes de correlacionar outros já existentes, como o BestMile. Já em Ouro Preto a redistribuição de recursos urbanos ainda é tratada de forma isolada, mesmo que sejam identificados compartilhamentos diversos, por esse mesmo motivo podemos identificar situações de satu-ração que ainda não conseguiram ser agenciadas e se auto-organizar no espaço compartilhado.

A partir dessas constatações apresentare-mos no próximo capítulo as variáveis comuns

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ambas as cidades sobre as variáveis escolhidas, contudo a inexistência e/ou indisponibilidade dos mesmos em certos casos fez necessária a coleta de campo. O software escolhido para tornar os dados visíveis e espacializados no meio urbano, transformando números em diagramas topológi-cos foi o Grasshopper, plug-in do Rhinoceros, ferramenta de modelagem para designers e arquitetos. Essa ferramenta foi escolhida por possibilitar o desenvolvimento de algoritmos de design paramétrico. Design paramétrico refere-se à utilização de ferramentas de modelagem parametricamente flexíveis que permitem criar modelos dinâmicos e relacionados a parâmetros/informações que podem variar.

Através da criação de diagramas espaciais com a utilização dessa ferramenta pretende-se visualizar os desdobramentos das atividades urbanas no urbano compartilhado e identificar processos de aglomeração e picos de saturação nas topologias criadas. A visualização torna pos-sível a avaliação dos picos em ambas as áreas de estudo, como pressuposto para tomada de de-cisões no âmbito dos compartilhamentos urbanos empreitados tanto pelas iniciativas autônomas, coletivas ou no campo das políticas públicas.

DA ESCOLHA À VISUALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Após apresentar os estudos de caso e comparar as semelhanças e diferenças entre os dois sistemas urbanos, algumas variáveis sobressaíram-se quanto às dinâmicas e aos pro-cessos que podem ocasionar situações de con-gestão e saturação. Essas variáveis são definidas como: mobilidade urbana, relativa à eficiência do sistema de circulação e meios de transporte individuais, coletivos, motorizados ou não; uso, com foco na capacidade de uso habitacional e hospedagem, assim como movimentos demográ-ficos que regem a dinâmica habitacional de uma população flutuante e; eventos de grande porte, que atraem a participação de público considerá-vel e modificam a rotina urbana. As áreas cen-trais tanto de Ouro Preto como Lausanne foram escolhidas como recorte de estudo por atuarem como aglutinadoras de funções relativas a essas variáveis e por fornecerem informações mensu-ráveis para identificação de possíveis picos de saturação.

A metodologia de coleta de dados se deu inicialmente através da utilização de dados dis-poníveis em relatórios e pesquisas realizadas em

4 4 .1 TRANSPONDO OS LIMITES TRADICIONAIS DA CARTOGRAFIA: visualização e realimentação de dados

Os mapas representam espaços, reais ou virtuais, e na maioria das vezes são represen-tações bidimensionais de ambientes tridimen-sionais. Os mapas de representação gráfica da superfície terrestre são produtos da cartografia, ciência que trata de tais representações. Os primeiros mapas surgiram no século VI a.C. e foram criados pelos gregos. Atualmente a car-tografia modernizou-se através de recursos como fotos aéreas e o sensoriamento remoto por sa-télite. Contudo, esse trabalho pretende apresentar métodos dinâmicos e interativos de construções de mapas, transpondo os limites tradicionais de representação cartográfica através do mapeamen-to de atividades urbanas com uma base de dados em constante mutação e realimentação.

O rastro de muitas cidades (The Tale of Many Cities) gera visualizações que utilizam gravação de tráfego celular, dados restritos às grandes operadoras de telefonia móvel mas que foram concedidos por se tratar de uma pesquisa que engloba grandes laboratórios no mundo: o Senseable City Laboratory (Massachusetts Insti-

tute of Technology em Cambridge, nos Estados Unidos), o Ericsson Research da Suécia e da Hungria. Contudo, a taxa de penetração dos da-dos não pode ser disponibilizada em seus artigos por se tratar de dados confidenciais. Através da coleta de dados gravados de número de ligações, envio de SMS e transferência de dados pelo 3G relacionados ao tempo e local das transações, permite-se a seleção e comparação de áreas da cidade e visualização do fluxo de transferência de dados no tempo, divididos em três tipos de visualização diferentes: séries de tempo, aglome-rações espaciais e mapas de densidade.

Comparando padrões típicos de cidades inteiras, provemos discernimento em como fatores culturais, tecnológicos e econômicos moldam dinâmicas hu-manas. Em uma escala mais local usamos análise de aglomerações para identificar locais com padrões similares dentro da cidade. Nossa pesquisa revela uma estrutura universal das cidades, com centros financeiros compartilhando padrões de atividades similares e áreas comerciais ou residen-ciais com padrões urbanos mais específicos. Esses achados sugerem que a economia se torna mais global, padrões comuns emergem em áreas em-presariais de diferentes cidades em torno do globo enquanto o impacto de condições locais continua reconhecível em nível de atividades rotineiras das pessoas. (GRAUWIN et al, 2014,p.1, tradução nossa)

Outros dados foram usados em adição ao

Fig 54- London: Time series e Spatial Clusters. Produzido pela autora com base na interface da apli-cação Tale of Many Cities, 2015.

CAP

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68

51 http://data.london.gov.uk

52 Application Program Interface, uma série de protocolos e ferramentas para a construção de aplicativos de software que especifica a inte-ração de seus componentes.

53 Grupo de pesquisa do Massachusetts Institute of Technology, atualmente chamado Transit Lab ttp://transitlab.mit.edu

54 Ver mais sobre em http://data-waze.com

sistema de trânsito). (GORDON, 2012).

Visualização similar foi realizada no Rio de Janeiro, porém a fonte de dados é o Waze, aplicativo de tráfego mais usado no mundo já citado nesse trabalho anteriormente. Os dados coletados54 durante 24 horas entre 3 e 4 de se-tembro de 2014 apresentam o comportamento do fluxo de veículos nesse período. O próprio traça-do das vias foi revelado pelos dados georreferen-ciados. As variáveis que constituem o mapa são: tráfego (em vermelho), polícia (em azul), perigo (em roxo), acidente (em amarelo) e outros (em laranja). As cores se intensificam de acordo com os acontecimentos e fotos enviadas em relação a determinada situação também aparecem.

tráfego de celular, sendo esses disponíveis, como os dados retirados do London DataStore51. A disponibilização à população londrina de novas ferramentas como pesquisas georreferenciadas, pré-visualizações de conjunto de dados e API’s52 de integração, pelas autoridades tem o objetivo de impulsionar a colaboração para potencializar o valor dos dados em Londres.

London in Motion é uma visualização em vídeo que mescla 16 milhões de transações diárias realizadas no cartão Oyster de Londres e informações de localização de 8.500 ônibus através de dados fornecidos pelo sistema de transportes londrino ao MIT Research Group53. Depois de inferir os horários e locais de em-barque e desembarque de todos os ônibus, transações ferroviárias e rodoviárias são combi-nadas para reconstruir a história diária de viagem de cada titular. O brilho de cada uma das três cores indica o número de titulares em uma de três categorias: verde - número de passageiros no sistema de transporte; azul - presença de titulares antes da sua primeira transação do dia ou depois de última, presumindo assim o local de residên-cia e; vermelho - indica titulares que estão entre viagens de trânsito (transferindo de modal, realizando alguma atividade ou viajando fora do

Fig 55- Captura de tela London in Motion. Jay Gordon, 2015.

Fig 56 - Captura de tela do vídeo Data Visualization - Rio de Janeiro: One Day on Waze. Waze, 2014.

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7170

55 Em 2014 foi criado o aplicativo Swarm es-pecificamente para os check-ins.

As atividades foram dividas em: residência (rosa), comida (verde), artes e entretenimento(azul claro), colégio e univer-sidade (amarelo), vida noturna (azul escuro), grandes espaços abertos (roxo), compra e serviço (vermelho), profissão e outros locais (também em amarelo) e viagem e transporte (verde água).

No Brasil, quando das manifestações mul-titudinárias sobre o passe livre e demais reivindi-cações, através do API de integração do Twitter durante um período de 24 horas, foram coletados

Através de dados coletados por outro aplicativo, o Foursquare que faz recomendações baseadas nos gostos e avaliações de lugares semelhantes dos seus usuários através de check-ins e compartilhamento de localização em tempo real55, foram criadas visualizações chamadas “O pulso das cidades”. O resultado em vídeo mostra o mapeamento e análise de check-ins durante um ano com a pulsação de atividades em um dia, onde pontos referem-se a um único check-in e linhas a check-ins sequenciais.

Fig 57 - Captura de tela do pulso da cidade de Istambul. Foursquare, 201 Fig 58 - Captura de tela do pulso da cidade de Istambul. Foursquare, 2015.

56 Grande provedora de dados sociais no mundo https://gnip.com

57 Plataforma de mapeamento para desenvolve-dores https://www.mapbox.com

o ponto de vista ativista. Já o ponto de vista petista, em vermelho, apareceu desconectado dos movimentos sociais. O ponto de vista tucano se mistura com o policial, em verde, vinculando a manifestação ao vandalismo. A aglomeração amarela assume papel de mediadora através de canais colaborativos sobre a situação do trânsito e do sistema de trens da cidade de São Paulo.

Ainda sobre dados gerados pelo uso do Twitter, três bilhões de tweets desde setembro de 2011 foram mapeados no mundo todo através de API’s de integração pela equipe Gnip56 e reorganizados em 280 milhões com a exclusão de sobreposições geográficas. A visualização desses dados através de interfaces interativas foi realizada pelo engenheiro Tom MacWright e o artista de dados Eric Fisher, da equipe Mapbox57, e revela padrões demográficos, culturais e sociais das cidades. A interface Mobile Devices+Twitter Use através dos tipos de smartphones usados revela estratificação econômica. Iphones (em vermelho) são predominantes em regiões mais ricas enquanto smartphones com plataforma Android (em verde) são predominantes em área mais pobres. Comparando os dois estudos de caso percebe-se que a quantidade de Iphones em Lausanne é muito maior que em Ouro Preto.

por um internauta os termos contra tarifa, mani-festação, consolação, passe livre e protesto totali-zando 29,7 mil tweets, sendo 10 mil retweets.

Esses dados geraram informações valiosas das quais foi possível criar uma análise. O MPL_SP, embora novo no Twitter, atraiu um grupo de usuários para sua mobilização virtual, reforçando

Fig 59 - Coleta de dados do Twitter durante manifestações do passe livre. Facebook, 2015.

Fig 60 - Uso de smartphones em Ouro Preto e Lausanne.Produzido pela autora com base na interface Mobile Devices+Twitter, 2015.

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7372

58 Esse projeto já ocorreu em várias cidades: Ate-nas, Istambul, Rio de Janeiro, São Paulo, Quito e Grande Vitória

59 O projeto de extensão Multitude do grupo Indisciplinar da Escola de Arquitetura da Uni-versidade Federal de Minas Gerais realizou uma parceria com o projeto internacional Mapping the Commons em que o projeto Mapeando o Comum em BH se deu em parte nos eventos do VAC 2014. A oficina foi divida em 4 setores/grupos dos quais a autora deste trabalho participou do Workshop Fazer - Trabalhar _ Centro coordenado por Gabriel Zea, Ana Isabel Anastasia de Sá e Marcelo Maia, co-orientador deste trabalho.

de ocupação de territórios; produção de cultura multitudinária e minoritária como a cultura negra, LGBT, trans, queer. Estes grupos e processos acon-tecem a partir das singularidades emergentes nos últimos anos e vêm ganhando dimensão por con-taminação constituindo o comum. Entende-se aqui o comum como processos e espaços autogestiona-dos, autônomos, coletivos, rizomáticos e horizon-tais, formados fora da lógica do Estado (público) ou do mercado (privado). (SOTO; RENA, 2015)

Mapas colaborativos têm se tornado comuns e permitem a contribuição online de informações de qualquer pessoa, contudo as in-

Mapeando o comum é um projeto que utiliza Mapas de Vista, plug-in para WordPress que permite a criação de mapas e colocação de conteúdo com alimentação de dados utilizando Google Maps , Open Street Maps ou imagens. Esse projeto foi replicado em Belo Horizonte58 com a oficina “Mapeando o Comum em BH” du-rante o evento Cartografias Biopotentes do Verão Arte Contemporânea (VAC) 201459. A metodo-logia usada parte da introdução teórica, seguido pela parametrização dos bens comuns definidos como: nome, atores, processo, conflito. Depois são realizados vídeos documentários curtos que enfim são adicionados ao mapa digital interativo. Através de mapeamentos coletivos abrangendo áreas atingidas pela Operação Urbana Consorci-ada Nova BH evidenciou-se processos de gentri-ficação e produções do comum na região central da cidade. O resultado foi um mapa que:

(...) faz parte dos processos de resistência à produção da cidade neoliberal em Belo Horizonte, desenvolvida em função da lógica cidade-empresa, que vem privatizando continuamente os espaços públicos. As práticas insurgentes mapeadas incluem ações como: apropriação de ruas e praças com fes-tas e manifestações performáticas; construção de redes de agricultura urbana; promoção de mobili-dade alternativa como ciclismo em diversas frentes; reivindicação do direito à moradia em proliferação

Fig 61 - Mapeando o Comum BH. Mapping the commons, 2015.

Os últimos exemplos dentro da proposi-ção de evolução não linear da cartografia são baseados em mapeamentos tridimensionais, transformando informações em volume espacial. Diagramas topológicos, segundo Vassão (2008) são utilizados na proposta de metadesign por constituir-se em elemento de elevado grau de abstração capaz de representar atividades no tempo e no espaço.

dicações são analisadas para aprovação. O mapa de arranjos criativos locais mostra os produtores criativos da Vila Madalena, em São Paulo.

Já o Mapa Crítico da Cidade do Rio de Janeiro, com a mesma base, apresenta a mesma iniciativa, porém partindo do poder público, uma vez que tal mapa é interligado ao mandato do vereador Eliomar Coelho do partido político PSOL. Esse mapa divide-se em três categorias (Privatização da Cidade, Remoções Forçadas e Mobilidade Urbana) intimamente ligadas com os preparativos para os megaeventos, Copa em 2014 e Olimpíadas em 2016.

Fig 62 - Captura de tela de arranjos criativos locais. Cria-tivos Locais, 2015. Fig 63 - Captura de tela do mapa crítico do Rio de Janeiro.

Mapa Crítico do RJ, 2015.

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7574

Wifi Geographies, trabalho desenvolvido por Paul Torrens (2014), constrói um novo volume da cidade antes imperceptível através da modelagem das redes de Wifi da área central de Salt Lake City. Através do desenvolvimento de um esquema de detecção de infraestruturas e transmissões wireless, assim como a análise das propriedades geográficas percebe-se a existência de densa rede de infraestrutura Wifi improvisada permeando o ambiente construído e a cobertura da área urbana por transmissões descentraliza-das. Essa visualização comprova a existência da camada tecnológica como mais um estrato do urbano compartilhado. Segundo Torrens (2014), as redes WiFi fortalecem a geografia urbana e alcançam áreas periféricas e as redes abertas reforçam a vitalidade de espaços públicos na cidade.

Outros trabalhos semelhantes que eviden-ciam a potencialidade da tecnologia de comu-nicação foram realizados, alguns já mostrados nesse capítulo, e o projeto Mobile Landscape Graz in Real Time, também do Senseable City Lab utilizou a mesma lógica de georreferencia-mento para modelar as conexões de telefonia móvel, partindo do pressuposto de que essa tec-nologia onipresente permite enxergar e sentir em

O mapa de volume de votos nas eleições presidenciais 2014 no Brasil foi realizado através de dados da Justiça Eleitoral e ajuda a desfazer o mito de que o estado do Nordeste elegeu a presi-denta Dilma Rousseff.

Fig 64 - Volume de votos na eleições presidenciais de 2014. Estadão, 2014.

Fig 65 - Wifi Geographies. Paul Torrens, 2014.

Fig 66 - Mobile Landscape Graz in Real Time. Senseable City Lab, 2014.

60 Conjunto de pessoas que agem como se fossem uma só, um só corpo, regidas por mesmas regras e/ou estatuto, que possuem os mesmos direitos que pessoas físicas. Segundo o documentário The Corporation (2003) a corporação moderna data da era industrial, quando em 1712, o inglês Tomas Nwcumen inventou a bomba à vapor para retirar água de mina. A predominância dessas instituições, contudo, deu-se no século passado, no início com poucos grupos licenciados pelo Estado para realizar determinada tarefa.

de se atualizar e variar no tempo. As grandes empresas, chamadas corporações60, possuem diversas ferramentas de processamento de dados através de algoritmos complexos que realizam buscas e encontram as principais tendências e produtos que se enquadram ao perfil de seus usuários, o que auxilia a tomada de decisões. As-sim como faz a Google e outros websites redi-recionando as pesquisas para anúncios, como os que aparecem no Facebook. Existem os chama-dos API’s de integração que permitem a utili-zação da base de dados de certas corporações, como é o caso do Google Maps, porém os dados fornecidos também são controlados e tornam-se disponíveis na medida em que sua utilização possibilita a realimentação do banco de dados da corporação fornecedora.

Isso significa que para adquirir infor-mações numerosas e compatíveis com as dinâmi-cas urbanas é imprescindível fazer acordos com as corporações. A Dr. Catherine Linard da Université Libre de Bruxelles, na Bélgica é uma das pesquisadoras que auxiliaram no processo de visualização dinâmica da densidade da média populacional na França (último exemplo mostra-do nesse capítulo) através de dados de telefones celulares. Segundo Linard os dados podem ser

tempo real entidades complexas e dinâmicas em cidades contemporâneas que se auto-organizam constantemente.

Envolvidos pela mesma lógica, um grupo de pesquisadores de diversas universidades no mundo criticam dados do censo, pois não mostram como a densidade populacional varia no tempo, e muito menos as dinâmicas urbanas da população. A partir disso criaram um método de mapeamento dinâmico populacional utilizan-do dados de telefones celulares que podem variar dentro de uma hora, um dia e assim em diante. Mais de um bilhão de dados de ligações em Por-tugal e França são visualizados espaço-tempora-riamente e comparados com dados recenseados, mostrando-se como ferramenta a ser incorporada à logística de censos e pesquisas. (DEVILLEA et al, 2014).

Além de mostrar a evolução de métodos de representação e visualização que têm se tornado cada vez mais dinâmicos, os exemplos expostos nesse capítulo pretendem também colocar em discussão a questão de obtenção de dados e suas fontes.

A primeira pergunta que surge ao analisar os exemplos anteriores é como ter acesso a essa multidão de dados que geram mapas capazes

Fig 67 - Mapeamento da densidade populacional na França. (Devillea et al., 2015)

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A partir dessas constatações será apresen-tado a seguir como os dados da presente pesquisa foram coletados.

obtidos nos artigos apresentados, porém somente para replicação. Para obter dados novos, assim como usá-los para qualquer outra proposição diferente deve-se contatar a Orange France (operadora de telefone móvel), a qual exigirá a assinatura de acordos.

As grandes corporações atualmente são instituições dominantes e assim como a tecnolo-gia, onipresentes, que controlam a maior parte do que consumimos e informações valiosas, visando obter um lucro cada vez mais crescente. O poder dessas instituições como a Google, a própria Orange citada anteriormente, Nestlé, P&G, entres outras, é tão grande que o poder público perde o controle sobre as mesmas. As corpo-rações usam do capitalismo informacional para proporem um estilo de vida, algo que vem sendo realizado há décadas, relacionado à forma de pensar da nossa sociedade e, portanto possuem a imagem da eficiência e indispensabilidade.

O mapa a seguir mostra o histórico de localização da autora de 15 de abril a 28 de Abril de 2015. Essa visualização é realizada através do monitoramento de localização do Google através do uso de smartphones e tablets e demonstra o controle de informações das corporações na vida das pessoas.

Fig 68 - Captura de tela do histórico de localização da autora. Google Location History, 2015.

as grandes corporações que detêm quantidade incalculável de informação sobre todos os hábi-tos e desejos das pessoas: onde moram, onde frequentam, quem conhecem, o que querem ou gostariam de ter.

Diante dessas condições fez-se uma se-leção inicial da informação disponível e uma visualização sistêmica da mesma para o levan-tamento de variáveis relevantes ao desenvolvi-mento do trabalho, como: valor de compra e venda de imóveis, mobilidade (fluxo de veículos, transporte público), risco geológico, capacidade das repúblicas e hotéis, usos (com foco no uso comercial), eventos de grande porte que modifi-cam a rotina urbana, patrimônio histórico (lu-gares de interesse turístico).

Com o desenvolvimento da pesquisa surgi-ram alguns empecilhos para obtenção dos dados. Quase todas as variáveis abordadas, com ex-ceção da mobilidade urbana, relativa à eficiência do sistema de circulação e meios de transporte individuais, coletivos, motorizados ou não e do patrimônio arquitetônico de interesse turístico necessitaram de pesquisa de campo para obten-ção dos dados. Ainda que dados relativos a tais variáveis estivessem disponíveis o processo para obtenção dos mesmos foi burocrático.

4 . 2 MÉTODO DE COLETA DE DADOS

A falta de acesso aos dados de forma inte-gral sobre Ouro Preto, uma das cidades definidas como estudo de caso desse trabalho, dificultou a coleta dos mesmos. Vale ressaltar que a primeira lei municipal de uso e ocupação do solo data de 2006, sendo que antes disso, dois incêndios no cartório de registro de imóveis culminaram com a perda de parte significativa dos processos de regularização de propriedades. Documentos cartográficos históricos são raros.

A maior parte dos dados coletados para o desenvolvimento desse estudo necessitou de pro-longada pesquisa de campo para ser obtida e uma série de burocracias. A inacessibilidade à infor-mação é incompatível com a dinâmica contem-porânea que deveria ser marcada por redes livres, compartilhamento cognitivo, social, econômico e tecnológico dando primazia a coletividade adap-tável a toda circunstância, o tal sistema aberto. Contudo, ao mesmo tempo, os jogos e estratégias políticas do poder público são mais presentes que a ineficiência do mesmo. Muitas informações escondem-se atrás de processos burocráticos para que de fato não se tornem públicas, uma vez que informação é poder. Do outro lado existem

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61 Instalada na cidade de Ouro Preto, tem como função auxiliar a formação profissional dos alunos da Escola de Minas/ UFOP e com o desenvolvimento científico e tecnológico na área mineral.

62 Este estudo foi coordenado pelo professor Gil-berto Fernandes, também coordenador do Labo-ratório de Ferrovias do DECIV(Departamento de Engenharia Civil)/UFOP e acompanhado por audiências públicas que abrangiam a mobilidade urbana como um todo.

63 Organização não governamental nacional, voltada para difusão da proposta da Mobilidade Sustentável, objetivando a restauração e demo-cratização da função social da rua.

64 http://www.ouropreto.mg.gov.br/consultas-publicas/elaboracao-do-plano-diretor-de-mobili-dade. Este diagnóstico engloba parte dos levanta-mentos realizados pela Fundação Gorceix.

19 áreas conforme distribuição territorial as-sim como características demográficas e sócio-econômicas, com objetivo de facilitar a identifi-cação das características das viagens.

No caso da mobilidade urbana a Fundação Gorceix61 foi contratada pela prefeitura de Ouro Preto para realizar estudo e a elaboração do projeto básico para a realização da Licitação do Transporte Público62 em Ouro Preto, tendo como objetivo a proposição de um meio alter-nativo de transporte público para a cidade. Esse levantamento de dados incluindo rota, número de passageiros por ponto, rampas, velocidade, ano de fabricação dos carros e pesquisa de opinião iniciou-se há cerca de um ano. Contudo, embora o relatório final já tenha sido entregue em março de 2015, ainda não foi aprovado em audiência pública.

Interligado às propostas de locomoção no município o Instituto de Mobilidade Sustentável Rua Viva63 foi contratado para realizar o diag-nóstico de mobilidade do Plano de Mobilidade Urbana, exigência da lei federal nº 12.587 que obriga municípios com mais de 20 mil habitantes a planejar e facilitar o deslocamento de veículos e pedestres. O último relatório disponível no site da prefeitura64 é o de Novembro de 2014 do qual pudemos extrair dados da pesquisa relativa à origem/ destino de transportes motorizados individuais e coletivos através do zoneamento de municípios limítrofes e bairros da sede em

Fig 69 - Distribuição das zonas de pesquisa origem/destino. INSTITUTO RUA VIVA, 2014.

Fig 70 - Zoneamento de Ouro Preto e municípios limítrofes. Produzido pela autora com base no zoneamento persente no Diagnóstico do Sistema de Mobilidade de Ouro Preto realizado pelo Instituto Rua Viva, 2014.

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Ouro Preto. O serviço de estradas e mobilidade de Lausanne através de relatórios anuais Obser-vatoire de la mobilité apresenta indicadores de monitoração da mobilidade na cidade. Dentre eles as contagens realizadas em 2013 do fluxo de pedestres em horário de pico (entre as 17h e 18h) na praça da estação (Place de la Gare) e Place de l’Europe.

Gravações de vídeo realizadas de 14h30 a 20h30 identificaram o fluxo de ciclistas diário de 2002 a 2013. Do gráfico abaixo é possível extrair o fluxo no ano de 2013 na Pont-Chauderon, Ter-reaux e Grand-Pont, área do nosso interesse.

A utilização de viajantes da linha de metrô m2 é medida por ano, sendo que 3 das 5 estações da área de estudo compreendidas na linha repre-sentam o maior fluxo de passageiros do m2. Somente duas delas são responsáveis por mais de 11 milhões de viajantes, sendo as estações compreendidas respectivamente ao maior fluxo de usuários: Gare, Lausanne-Flon, Riponne, Bessières e Ours. A linha LEB (Lausanne-Echa-llens-Bercher) conecta a cidade a distritos, totaliza 21.000 movimentos em dias úteis, em ambas as direções, dos quais as 8.355 somente nas estações Lausanne-Flon e Lausanne-Chau-deron compreendidas na área de estudo.

Algumas variáveis propostas na primeira fase do trabalho foram descartadas. Seja pelo fato de pesquisas na área estarem ainda em está-gio embrionário, como no caso do comércio, no qual o setor responsável havia apenas iniciado o processo de registro dos CNPJs e, portanto não havia previsão de conclusão ou expectativa de quando obteriam dados relativos ao fluxo comer-cial. Ou devido à irrelevância da variável para a área de estudo, como no caso do risco geológico que abrange áreas mais periféricas da cidade.

Com a inclusão de Lausanne como es-tudo de caso fez-se necessária a reavaliação das variáveis abordadas. Foram selecionadas aquelas não só coerentes e relevantes em ambos os con-textos, mas também possíveis de serem coletadas no período de desenvolvimento do trabalho. As variáveis que permaneceram então foram mobi-lidade urbana, uso habitacional e hospedagem, assim como movimentos demográficos capazes de mostrar a dinâmica da população flutuante e grandes eventos que convergem parte dos recur-sos urbanos para realização dos mesmos.

A mobilidade urbana é representativa dos grandes fluxos diários nas cidades contem-porâneas. Já foi relatado anteriormente como se obteve os dados relativos a essa variável em

Fig 71 - Fluxo de pedestres. Service des routes e de la mobilité, 2013.

Fig 72 - Evolução do tráfego ciclista por dia. Service des routes e de la mobilité, 2013.

Através da contagem automática do tráfego rodoviário por médias anuais do tráfego diário sabe-se pelos dados encontrados no setor de estatística a quantidade de veículos por dia em: Place de Chauderon, Rue du Grand-Pont, Rue Centrale, Rue Dr.César-Roux – Rue du Tunnel e Avenue du Léman. Dessas, o gráfico ao lado retirado do relatório de 2013 do Observatoire de la mobilité mostra somente duas.

Enquetes realizadas em 2012-2013 iden-tificaram um grande fluxo de pessoas em trans-portes públicos, que correspondem aos ônibus pela localização da enquete, no horário de pico nas pontes Pont Chauderon e Grand-Pont, assim como de pedestres também na Pont Bessières. Contudo, como não se sabe quantas pessoas realizaram a enquete, utilizamos um número fictício em relação às porcentagens para criar os diagramas.

A variável usos, com o intuito de mensurar a dinâmica da população flutuante, limitou-se à moradia e hotéis através de abordagens um pouco diferentes nos dois casos. Em Ouro Preto, focou-se nas repúblicas por constituírem um tipo de moradia que abriga estudantes temporaria-mente. Embora tenham uma capacidade de mora-dores estimada e renovada com a partida de uns

Fig 73 - Volume de viajantes anual na linha m2. Service des routes e de la mobilité, 2013.

Fig 74 - Volume de viajantes diários na linha LEB. Service des routes e de la mobilité, 2013.

Fig 75 - Evolução do tráfego motorizado em um dia.Service des routes e de la mobilité, 2013.

Fig 76 - Enquete realizada sobre todos os modos. Service des routes e de la mobilité, 2013.

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65 http://www.ouropreto.mg.gov.br/portal_do_tu-rismo_2014/eventos

66 Semana de eventos organizados pela prefeitura municipal em comemoração ao aniversário da cidade

no ano de 2014. Os mesmo dados levantados em Ouro Preto relativos aos hotéis foram tam-bém levantados em Lausanne. Nesta última tais dados estão disponíveis na rede através de um levantamento realizado pela associação hoteleira de Lausanne, sendo eles: endereço número de quartos, contato, preço detalhado além de outras informações.

Os grandes eventos foram identificados no portal de turismo da cidade de Ouro Preto. Contudo, para levantamento de dados existem algumas diferenças entre eles. Em eventos como Carnaval, Semana Santa, Corpus Christi, Festival de Inverno e Semana de Ouro Preto66 não há uma contagem de público por evento ou por área, uma vez que esses eventos são caracterizados por grande movimentação de pessoas nas ruas e praças da cidade. O Festival de Inverno, organi-zado pela UFOP com o apoio da Fundação Edu-cativa Ouro Preto e das prefeituras de Ouro Preto e Mariana, também não possui contagem de público. Embora a Semana de Ouro Preto tenha característica de festivais que ocorrem na cidade devido a uma programação de shows e atrações com montagem de palco em vários locais, não foi possível também traçar uma estimativa. Isso se deve ao fato de que os órgãos competentes -

e chegada de outros, essa capacidade varia por questões diversas e podem ser superestimadas havendo necessidade. No período de carnaval, por exemplo, a capacidade multiplica-se para abrigar foliões. Dessa forma podemos traçar uma relação da capacidade tanto de repúblicas quanto de hotéis por atingirem o auge nesse período, o que está intrinsicamente ligado a variável grandes eventos. Os dados relativos às repúblicas foram coletados mediante entrevista direta com moradores das mesmas, seja por telefone, e-mail, facebook ou pessoalmente. Para utilização dos dados, foi necessário um acordo de que números não seriam divulgados e apenas utilizados para realização dos diagramas. No caso dos hotéis também foram realizadas entrevistas pessoal-mente, por telefone ou e-mail, fazendo uma simulação de ocupação máxima dos mesmos.

Em Lausanne, sabe-se através dos relatóri-os estatísticos da cidade que as grandes movi-mentações demográficas ocorrem no mês de setembro, contudo não foi possível obter a movi-mentação mensal por setor estatístico da área de estudo. Por esse motivo utilizamos a movimen-tação demográfica através dos dados de chegada e saída da cidade nos setores relativos à área central, assim como as mudanças entre setores

67 http://www.lausanne-tourisme.ch/loisirs/incon-tournables/grands-evenements.html

venções da UFOP.Em Lausanne, os grandes eventos não

foram encontrados inicialmente pelo fato da agenda online do website da cidade mostrar todos os eventos possíveis, tornando mais difícil a seleção dos mesmos por serem inúmeros. O serviço de polícia comercial forneceu uma lista extensa com mais de 100 eventos importantes por ano na cidade e o setor de turismo e es-critório de congressos de Lausanne forneceu o link67 do website de turismo da cidade onde se encontram cerca de 40 grandes eventos de 2015, dentre os quais aproximadamente 20 não esta-vam incluídos na lista de eventos recebida. A gama de informações disponíveis na rede pelos diversos setores municipais contribui às vezes para certa dissipação e dificuldade em encontrar e selecionar os dados relevantes. Além disso, o curto período de estadia na cidade (6 meses) não possibilitou um conhecimento mais abrangente desses eventos como ocorreu em Ouro Preto. Por isso, procurou-se dados mais selecionados e a ajuda de habitantes da região. Por fim foram selecionados seis grandes eventos, dos quais apenas quatro obteve-se os dados. Dois deles possuem relatórios disponíveis na rede sobre o público, Des 20Km de Lausanne e La Nuit des

acesessoria de eventos, secretaria de patrimônio, prefeitura, corpo de bombeiros - não souberam estimar essas aglomerações e, portanto tais even-tos foram descartados da pesquisa.

O carnaval, entretanto, continua fazendo parte desse estudo pela relação que se estabelece com hotéis e principalmente repúblicas, que além de abrigarem turistas muitas delas oferecem pa-cotes e festas em suas propriedades. Os maiores blocos de carnaval ocorrem na Praça da UFOP, local de eventos sob responsabilidade do Centro de Artes e Convenções o qual forneceu a capaci-dade de todos seus espaços. Um dos organiza-dores do evento Bloco da Praia também estimou a lotação deste e dos outros blocos que ocorrem no local: Caixão, Cabrobró e Chapado.

Grandes eventos de organização externa à prefeitura possuem controle maior de público uma vez que são apresentados relatórios desses quantitativos para seus patrocinadores. Contudo, devido à privacidade desses relatórios houve certa dificuldade em conseguí-los, somente o Festival MIMO e Fórum das Letras forneceram informações. Conseguimos estimar o público do CINEOP através dos dados de capacidade dos locais fornecidos pela equipe organizadora do Fórum das Letras e pelo Centro de Artes e Con-

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4 . 3

68 Para fazer um comparativo o volume de visitação trimestral dos museus foi fornecido por alguns museus contido na área de estudo.

69 Os dados se referem às zonas e não deslo-camentos específicos na área central nos dois modos de transporte levantados, por isso a necessidade de expandir os diagramas para além da área de estudo.

70 Aqui referimos ao software Rhinoceros, con-tudo, além do Dynamo, novo plug-in do Revit que surgiu após o Grasshopper, não sabemos de outros plug-ins que usam programação visual.

onde o construído não se altera, mas a percepção do real se expande.

A base para construção dos diagramas foram as divisões censitárias e estatísticas da área central das duas cidades caso, segundo a delimitação da abrangência de estudo. Con-tudo para a análise da mobilidade urbana em Ouro Preto foi necessário utilizar a combinação com outra base, o zoneamento viário realizado pelo Instituto Rua Viva, por abrangir uma área maior69.

As bases foram utilizadas no software de modelagem Rhinoceros e os dados georreferenci-ados das variáveis constituíram-se em principais entradas (inputs) no algoritmo criado no Grass-hopper para gerar os diagramas. O Grasshopper é uma importante ferramenta de edição visual de algoritmos que permite integrar parâme-tros dinâmicos com a visualização em tempo real no Rhinoceros, assim como integrar com suas funções de modelagem. Antes da criação desse plug-in, a programação através de códi-gos escritos era quase que a única opção para se desenvolver algoritmos de design paramétrico70. Portanto, com a criação do Grasshopper isso se tornou possível através de uma interface visual intuitiva baseada na mesma lógica de linguagens

Musées e outros dois forneceram informações estimadas, Festival de La Terre e Carnaval de Lausanne. Desses apenas o evento La Nuit des Musées foi usado68 uma vez que Des 20Km de Lausanne trata-se de uma maratona com um volume de público final e não por pontos especí-ficos na cidade e os outros dois eventos fornece-ram informações totais de eventos que ocorrem em mais de um dia e em locais diferentes, no caso do carnaval, o que não possibilitou identifi-car volumes específicos nos locais onde ocorrem.

Através dessa coleta de dados foram cons-truídos os diagramas que serão apresentados a seguir.

MÉTODO DE CONSTRUÇÃO E ANÁLISE DOS DIAGRAMAS: sobreposição e aglomeração - os picos de saturação

Os diagramas topológicos propostos não se tratam do produto deste trabalho, mas sim de uma forma de visualizar a realidade do processo que não gera um produto definitivo, visto que as proposições estão regidas por procedimentos dinâmicos que se modificam constantemente. A visualização de atividades urbanas permite trazer o chamado meta-espaço para a realidade visível,

71 Espécie de Spline matemática na computação gráfica usada para modelagem e definida por um conjunto de pontos de controle. Assemelha-se à interpolação, porém não passa pelos pontos de controle centrais, sendo assim atraída na direção dos mesmos.

72 A escala de 0 a 100 em intensidade de cor representa a quantidade de deslocamentos. O diagrama está sobreposto ao zoneamento viário e ainda sobre ele, em linhas azuis mais espes-sas encontrasse à visualização das divisões em células do diagrama voronói.

vatura da superfície. Essa superfície é transfor-mada em malha e sequencialmente desconstruída em componentes para que o gradiente de cores possa ser aplicado à outra malha criada a partir dos vértices e faces dessa primeira. O gradien-te possui um limite mínimo e máximo e um parâmetro definido pela desconstrução dos vér-tices da primeira malha em coordenadas X,Y,Z. Como as coordenadas Z são as que interessam para a criação do gradiente de cores uma vez que se pretende diferenciar o topo das topologias das partes mais baixas, cria-se um domínio numé-rico com a lista de valores das coordenadas Z. Esse domínio é também desconstruído para que seja possível encontrar seu início e fim e, dessa forma estabelecer o limite mínimo e máximo do gradiente de cores. Por se tratar da criação de um algoritmo como ferramenta a ser aplicada para diferentes atividades urbanas, e assim, a outras variáveis, o processo não precisa ser repetido para todas elas.

Os diagramas de mobilidade urbana em Ouro Preto, no modo de veículos individuais motorizados, foram criados a partir dos dados de número de chegadas e partidas no maior horário de pico (entre 17h e 19h) das zonas contidas no distrito sede (1 a 14), sendo que a zona 15 foi

de programação, entendida como programação visual.

Os passos para implementação do algorit-mo, usando como exemplo a variável mobilidade urbana em Ouro Preto, são os seguintes:

Primeiro, os polígonos das zonas são se-lecionados em ordem de coleta de dados e seus centros geométricos são encontrados. Esses pon-tos são então movidos na coordenada Z, definida pelos valores coletados da variável resultando então em um dos inputs da superfície de bézier71 (comando patch). Os centros geométricos são também utilizados para criação do diagrama Vo-ronói, no qual o raio de abrangência foi definido de acordo com a espacialização de cada variável.

Diagrama de Voronói é um tipo especial de decomposição do espaço “considerando que em um plano, existem pontos que estão mais próximos de uma fonte geradora do que de outra fonte, o resultado é um polígono cujas distâncias entre a fonte e ponto são as menores possíveis.” (SILVEIRA apud MOURA, 2006).

As células de voronói formadas são outro input na superfície de bézier, da qual outras duas entradas são constantemente modificadas adaptando-se a cada variável, sendo elas flexibi-lidade e número de vãos, que controlam a cur-

Fig 77 - Vista de topo do diagrama de partidas de transporte coletivo em Ouro Preto exemplificando o conceito de voronói72. Produzido pela autora no Grasshopper.

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73 Os distritos (zonas limítrofes de 16 a 19) também não foram considerados no modo de transporte individual motorizado, mas apresen-tam resultado nulo na contagem de transporte motorizado coletivo.

São Sebastião73.Os diagramas de modo de transporte mo-

torizado coletivo geram topologias com curvatu-ras mais acentuadas que do transporte individual porque os dados do transporte coletivo repre-sentam um dia útil, enquanto que o individual apenas o maior horário de pico. Poderíamos uniformizar a pesquisa e utilizar dados referentes a um dia útil a título de comparação com o modo motorizado coletivo, contudo, como o foco está na saturação optamos por utilizar dados do maior horário de pico para o modo de transporte indi-vidual motorizado.

excluída por possuir número irrelevante de dados que dificultavam a formação dos diagramas.

Sabe-se pelo Diagnóstico de Mobilidade Urbana apresentado pelo Rua Viva que das 40.555 viagens realizadas nesse modo, 80% originam-se no distrito sede e apenas 17,6% originam-se ou destinam-se aos municípios limítrofes, enquanto 2,4% apenas atravessam o município. Devido à aglomeração de viagens no distrito sede e à limitação da área de estudo, as outras áreas (16 a 19) não foram incluídas napesquisa. O diagnóstico também fornece dados relativos ao principal motivo de viagem, onde se verifica que a atividade trabalho/casa representa 31,7%, seguido por trabalho/outros e escola, com 9,3%.

Os diagramas do modo de transporte mo-torizado coletivo foram realizados também se-gundo origem e destino, com base nas pesquisas de movimentação de passageiros pela Fundação Gorceix entre maio e agosto de 2014. Ouro Preto possui 13 linhas de transporte coletivo urbano e 12 linhas interdistritais, contudo a zona 8 não foi incluída por obter quantidade nula na contagem e englobada nas zonas adjacentes (7 e 9) pelo dia-grama voronói. Isso representa a falta de mobili-dade urbana para moradores do bairro Morro

Fig 78 - Criação do algoritmo. Produzido pela autora através do Grasshopper.

Fig 79 - Mapa de reconhecimento das áreas contidas nos diagramas de mobilidade. Produzido pela autora com base no Google Maps e no mapa da secretaria de patrimônio de Ouro Preto.

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Fig 80 - Diagrama de transporte individual motorizado em Ouro Preto: volume de partidas em cada zona. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 81 - Diagrama de transporte individual motorizado em Ouro Preto: volume de chegadas em cada zona. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 82 - Diagrama de transporte coletivo em Ouro Preto: volume de partidas em cada zona. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 83 - Diagrama de transporte coletivo em Ouro Preto: volume de chegadas em cada zona. Produzido pela autora através do Grasshopper.

fazendo conexões com as outras áreas da cidade. A multifuncionalidade do centro e a sua conec-tividade às demais áreas da cidade justificam o seu uso e procura por grande parte da população moradora e flutuante.

Através da visualização e sobreposição das topologias podemos sugerir que o maior número de passageiros da área central se deslocam dentro da mesma e os que partem se destinam em sua maioria à Bauxita, uma vez que os dados repre-sentam movimentações dentro da própria zona e entre zonas, não apenas deslocamentos totais. Os dados do relatório confirmam essa constatação apontando que os deslocamentos se dão em quantidade menor do centro para zonas periféri-cas e distritos limítrofes, sendo o centro o princi-pal destino de todas as outras zonas, inclusive da zona 13. Os deslocamentos nas zonas periféricas, no modo individual motorizado, mantêm-se estáveis e em menor número, o que identifica o baixo poder aquisitivo dessas zonas. Já no modo coletivo essas zonas se destacam com mais deslocamentos tanto no número de partidas quanto de chegadas, com exceção da zona 14 (Novelis, Vila Isabel, Vila dos Engenheiros, Sar-amenha, Tavares, Lagoa) que possui quantidade de partidas muito superior a de chegadas porque

A visualização dos diagramas do modo de transporte individual e coletivo motorizado gerada nos permite inferir que a zona 13 dentro da qual está a Bauxita, assume importante papel como área de expansão dotada de recursos e infraestrutura que a área central, embora respon-sável por grande parte dos deslocamentos, já não comporta. Isso se dá pela proximidade com os grandes equipamentos educacionais, a UFOP e IFMG que embora localizados na zona 12 con-tam com grande infraestrutura de serviços ao re-dor. Esta área é ainda a principal zona de acesso para a Santa Casa de Misericórdia e o Cooperou-ro, que era o maior supermercado da região até 2014, entre outros serviços como autoescolas e equipamentos como cursos de inglês e educação básica. Por isso gera grande fluxo de desloca-mentos tendo como objetivo as atividades tra-balho e/casa, estudo/casa e uso do equipamento de saúde.

Quanto ao número de chegadas a zona 1, na qual o bairro Centro está incluído, destaca-se mostrando que é ainda o principal destino de mo-radia, além de manter o alto número de partidas em ambos os modais contabilizados devido a to-das as outras funções que abriga (equipamentos culturais, comércio, pousadas/hotéis, serviços),

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74 Existem 64 repúblicas cadastradas na UFOP na região do estudo de caso, contudo apenas 48 forneceram todas as informações solicitadas. A variável capacidade confortável das repúblicas foi excluída visto que não apresenta diferença perceptível em relação à capacidade máxima e algumas repúblicas não possuem capacidade máxima diferente da confortável.

Isso ocorre porque, depois de realizada a divisão espacial, a célula de voronói correspondente à zona 1 (área central) torna-se muito pequena em relação ao volume de dados. Na prática isso nos mostra que realmente existe saturação nessa área central, pois se trata de uma área muito pequena recebendo pessoas de todas as áreas com um volume de deslocamentos extremamente maior que as outras zonas, enquanto que na Bauxita os deslocamentos, apesar de muitos, não se concen-tram exclusivamente no horário de pico.

Os diagramas de capacidade de moradia e hospedagem de 48 repúblicas federais e par-ticulares74 possibilitam uma análise mais pon-tual dentro da área de estudo em Ouro Preto. A primeira diferença perceptível entre os diagramas de mobilidade e estes é a escala, uma vez que a base dos diagramas de mobilidade engloba zonas adjacentes à área de análise, além de um volume de dados extremamente maior. As áreas descritas nos diagramas referem-se ao modo como essas regiões são comumente chamadas pelos es-tudantes que moram em repúblicas: Praia, Brejo, Paraná, Direita, Vila e Lages . Essas áreas são referentes aos bairros Centro e Pilar.

se tratam de bairros basicamente habitacionais de onde as pessoas se deslocam para trabalhar, uma vez que a indústria Novelis, em processo de desativação, nao atrai mais trabalhadores.

Mesmo que a contagem entre modo indi-vidual motorizado e modo coletivo motorizado sejam diferentes, podemos perceber propor-cionalmente que os deslocamentos nas áreas periféricas são muitos maiores através do trans-porte coletivo, o que auxilia na identificação de população com menor renda nessas regiões.

Embora a zona 13 englobe a maioria das viagens na contagem geral, por receber grande contingente de pessoas além dos próprios mora-dores como estudantes, professores, funcionários do IFMG e UFOP, uma vez que consideramos somente o maior horário de pico no modo indi-vidual motorizado, os deslocamentos a partir da área central são predominantes nas topologias. Tais deslocamentos são ainda maiores quanto ao número de chegadas, quase o dobro do número de chegadas à Bauxita no modo coletivo. O pico de chegadas à área central é tão grande que vaza para fora do diagrama e precisou ser corrigido manualmente uma vez que o algoritmo calcula o ponto mais alto do pico, mas a superfície de bézier não consegue ser formada nessa região.

Fig 84- Mapa de reconhecimento da área de es-tudo em Ouro Preto. Produzido pela autora com base no Google Maps.

Fig 85 - Diagrama de capacidade máxima de moradores nas repúblicas. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 86 - Diagrama de capacidade de hospedagem das repúblicas no carnaval. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 87 - Diagrama de capacidade de hotéis no carnaval. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 88 - Diagrama de festas de carnaval em repúblicas e micaretas na Praça da UFOP. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 89 - Diagrama de capacidade dos hotéis durante festival MIMO. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 90 - Diagrama resumo dos 3 dias de evento Festival MIMO. Produzido pela autora através do Grasshopper.

Em seguida foi apresentado o diagrama da capacidade dos hotéis no carnaval (fig 87). Percebe-se que nas regiões denominadas Praia, Brejo e Paraná as repúblicas são dominantes quanto ao volume de hospedagem, porém na região denominada Lages existe uma quantidade maior de hotéis que, abrangem, portanto, uma área maior. O caminho perceptível da Rua Direi-ta em direção à Vila é visivelmente marcado por grande capacidade de hospedagem dos hotéis, por serem duas regiões muito próximas da Praça Tiradentes, onde ocorre grande parte dos eventos do carnaval de rua.

Desse conjunto de diagramas, alguns estão diretamente ligados aos grandes eventos. A topologia que diz respeito ao Carnaval (fig 88) relaciona capacidade de público em festas que as repúblicas promovem durante o carnaval e também da área onde ocorrem as micaretas, os chamados blocos: Praia, Cabrobró, Caixão e Chapado. O volume de público nessas micaretas (em torno de 6000 pessoas) extrapola o dia-grama. Nesse caso foi necessário mudar a escala da legenda, já que mantemos a mesma escala da base para realizar a comparação com os outros diagramas desse conjunto.

A república que mais se destaca é a

Em ambos os diagramas de capacidade das repúblicas, tanto de moradia (fig 85) quanto de hospedagem (fig 86), a república que se destaca na região descrita como Paraná é a maior da América Latina (República Aquarius) e na Praia são, na verdade, duas repúblicas federais juntas, uma no primeiro andar e outra no segundo (Cas-sino e Casa Nova), por isso a capacidade maior.

O diagrama de capacidade no carnaval (fig 86) mostra como a capacidade de hospeda-gem é multiplicada. Muitas outras repúblicas se destacam, contudo o maior pico continua sendo da república Aquarius. A capacidade aumenta tanto que mais uma vez identificamos o mesmo comportamento da superfície de bézier em não conseguir formar-se devido à altura do pico muito maior que a área ocupada pela república na divisão espacial. Essa característica pode ser encarada como analogia ao processo de aglome-ração: o compartilhamento da infraestrutura coletivamente disponível é multiplicado poten-cialmente afetando outras atividades urbanas, como o abastecimento de água e mobilidade urbana. Dessa forma as repúblicas assumem uma abrangência muito maior que sua formação inicial por necessidade de usufruir multiplicada-mente dos recursos urbanos.

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ambos ocorrem em vários locais na área central da cidade.

745 Festival que une música instrumental, cinema, patrimônio e educação nos pátios das igrejas, teatros e praças públicas.

76 Mostra de Cinema de Ouro Preto que trata cinema como patrimônio realizando também oficinas e debates sobre preservação, memória, história e educação.

77 Realizado pela UFOP , o evento promove o diálogo entre autor e público participante valori-zando a identidade e diversidade da literatura dos países de língua portuguesa, através da cooper-ação mútua entre África, Brasil e Portugal e re-aliza intercâmbios com países de origem latina.

Quitandinha, por sua localização afastada de ou-tras repúblicas e por possuir área de festas duas vezes maior que a maior capacidade das outras e mais uma vez a república Aquarius possui uma curvatura muito acentuada por se encontrar rode-ada por outras repúblicas e ter uma das maiores capacidade de festa para uma área relativamente pequena.

O Festival MIMO75 forneceu informações referente à lotação dos hotéis que nos possibi-litou fazer um diagrama de capacidade de hotéis na época do festival (fig 89), comparando com o último diagrama sobreposto desse conjunto: diagrama resumo dos três dias do festival (fig 90). Os eventos ocorridos na Praça Tiradentes são caracterizados como eventos de grande porte como shows e concertos que reúnem um grande público, por isso extrapola as bordas do dia-grama.

Na sequência são apresentados os diagra-mas do último conjunto de diagramas de Ouro Preto, onde se encontra novamente o diagrama do Festival MIMO e de outros grandes eventos, CINEOP76 e Fórum das Letras77 respectivamente, para fazer um comparativo entre os três utilizan-do a mesma base. A característica comum entre tais eventos e que nos interessa abordar é que

Fig 91 - Diagrama resumo do volume de público dos 3 dias de evento Festival MIMO na segunda base. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 92 - Diagrama de volume de público no CINEOP. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 92 - Diagrama de volume de público durante o primeiro dia representativo no Fórum das Letras. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 94 - Diagrama de volume de público durante o segundo dia representativo no Fórum das Letras. Produzido pela autora através do Grasshopper.

turezas, donde se conclui uma grande demanda da sua infraestrutura, onde se observa, algumas vezes, a saturação desse sistema urbano.

Percebemos a necessidade de um melhor dimensionamento dos recursos urbanos tendo em vista o calendário de atividades culturais e turís-ticas que atraem turistas com desdobramentos na economia. O uso dos espaços públicos para outros fins, espaços que muitas vezes deixam de exercer sua função de uso comum para atender outras demandas, reflete na degradação urbana uma vez que funções necessárias à dinâmica co-tidiana da cidade são paralisadas. Quando essas atividades urbanas se sobrepõem as outras que, normalmente já encontram-se em estado satu-rado, como a sobrecarga de veículos motorizados no centro histórico que compromete a circulação de pedestres e o conjunto arquitetônico tombado, faz-se essencial agenciamentos mais eficazes.

Os diagramas a seguir referem-se à Lau-sanne. O primeiro conjunto diz respeito à var-iável mobilidade urbana e suas modalidades de transporte através de diversas contagens e en-quetes realizadas em locais específicos do centro. Esse tipo de contagem permite uma represen-tação mais focada na área de estudo e compreen-são das dinâmicas internas desse centro urbano.

78 O Parque Metalúrgico Augusto Barbosa - Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto, gerido pela Agência de Desenvolvimento Econômico e Social de Ouro Preto (ADOP) e UFOP, sedia eventos de natureza técnica, científica e cultural nacionais e interna-cionais, com uma expressiva fonte de recursos complementar ao tradicional turismo sazonal.

O Festival MIMO (fig 91) tem sua maior concentração na Praça Tiradentes devido aos shows e concertos, eventos que atraem grande público. O CINEOP (fig 92) fica mais concen-trado no Centro de Artes e Convenções78, pois lá ocorrem diferentes atividades: seminários, oficinas, sessões de filmes e ainda o bar durante a noite. Para o Fórum das Letras foram realiza-dos dois diagramas representando dois dias mais representativos do evento (fig 93 e 94).

Podemos observar grande diversidade de equipamentos culturais na região central que possibilitam os grandes eventos, atraindo ainda mais o público turístico. Sejam espaços públicos como a Praça Tiradentes, o Largo do Cinema e a Praça da UFOP que faz parte do Centro de Con-venções. Este último, assim como a Tenda Cul-tural da Vale, localizada na estação ferroviária, e o Espaço Cultural FIEMG na Praça Tiradentes são espaços alugados para eventos específicos. Já o Cinema, e as igrejas São Francisco e Pilar at-endem o público local e turístico cotidianamente, contudo cedem seus espaços para a realização desses eventos, assim como outros museus, bibli-otecas e espaços culturais contidos nessa área. Esses diagramas demonstram como o centro da cidade é ativo e recebe eventos de diferentes na-

Fig 95 - Mapa de reconhecimento da área de estudo de Lausanne. Produzido pela autora com base no Google Maps.

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Fig 96 - Diagrama de volume de veículos motorizados . Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 97 - Diagrama de volume de viajantes do metrô linha m2 e LEB. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 98 - Diagrama de fluxo de pessoas em transporte coletivo (ônibus) nas maiores pontes do centro em horário de pico da manhã. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 99 - Diagrama de fluxo de pedestres em horário de pico (17h - 18h) Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 100 - Diagrama de fluxo diário de ciclistas. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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79 Essa contagem não faz distinção entre trans-portes individuais e coletivos.

municípios do norte, aponta dois grandes picos: o da Gare e novamente o Flon, cujo volume é o mais elevado. Isso se dá porque além de fazer parte da trajetória da linha m2, a linha LEB en-globa apenas duas paradas na cidade, Lausanne-Chauderon e Lausanne-Flon, das quais o Flon é a estação de partida/chegada. Ainda, a linha m1 que não foi considerada nesse estudo por ausên-cia de informação, parte também da estação do Flon. Essa linha destina-se ao município de Renens, na zona oeste de Lausanne e sua tra-jetória compreende os principais equipamentos educacionais da região, a UNIL e a EPFL. Dessa forma o Flon destaca-se como principal ponto de conexão entre as zona oeste e os distritos do norte, além de ser uma centralidade consolidada. A Gare possui número elevado de passageiros principalmente por ser a estação ferroviária cen-tral que liga Lausanne a todas as outras regiões da Suíça.

O diagrama de fluxo de pessoas em trans-porte coletivo, tipo ônibus (fig 98), nas maiores pontes do centro em horário de pico da manhã é um pouco maior que o da noite, ou fim da tarde, por isso somente o pico da manhã foi utilizado. Isso ocorre provavelmente porque o maior mo-tivo de deslocamentos nos dias de semana em

A primeira topologia representa a conta-gem automática por dia de veículos motoriza-dos (fig 96) feita em paradas com sinalização semafórica79. O pico mais alto encontra-se na Avenue du Léman, via arterial que conecta o centro até a cidade de Pully, no subúrbio leste de Lausanne. Os outros dois pontos mais altos es-tão respectivamente na Rue Centrale que é uma via de distribuição localizada bem no centro da área de estudo e a Rue du Grand-Pont, via local com ciclovia.

Com exceção da Avenue du Léman e Rue Dr. César-Roux que são vias arteriais conectan-do a região central a municípios e distritos adjacentes, as ruas Grand-Pont e Centrale, que se ligam entre as regiões conhecidas como Flon e St.François, continuam sendo as mais movimen-tadas em todos os modais. Isso acontece porque essas duas regiões concentram grande quantidade de serviços como bancos, correio, escritórios em geral, dentre eles os de administração municipal, shoppings, restaurantes, comércio, além dos atra-tivos turísticos, como a igreja de Saint François e a torre Bel-Air.

O diagrama de viajantes diários da linha férrea urbana através da linha de metrô m2 e da linha LEB (fig 97) que conecta Lausanne aos

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últimos 12 anos. As distâncias percorridas em transportes

individuais motorizados são menos importantes em Lausanne do que no restante da aglomeração, visto que são cobertos por outros meios: trans-porte público e mobilidade moderada (pedestres e ciclistas).

O segundo conjunto de topologias a seguir é referente à movimentação demográfica entre os 10 setores contidos na área de estudo e a por-centagem de ocupação dos hóteis durante o ano.

Lausanne depois do trabalho é o lazer, seguido por outros, compras e só por último a educação, o que demonstra que as pessoas não se deslocam diretamente pra casa após o trabalho, pelo menos não aquelas que utilizam transporte público.

Esse diagrama por representar hora de pico e não média diária como os outros, não permite uma comparação direta entre os volumes ante-riores. Contudo, o relatório Observatoire de la mobilité 2013 indica que na Pont Bessières o volume de transporte individual motorizado é muito maior que de transporte público, enquanto que na Pont-Chauderon a diferença é menor e na Grand-Pont o modo coletivo supera o individual.

O fluxo de pedestres (fig 99) é também representado no horário de pico da parte da tarde e a topologia coloca em evidência a importân-cia das estações do Flon e Gare como interface de deslocamento de pedestres. Percebe-se que o volume de passageiros em transporte público em Chauderon é muito mais significativo que o deslocamento de pedestres, contudo apenas uma travessia específica foi utilizada para essa conta-gem e não todas as existentes nessa região.

O fluxo diário de ciclistas (fig 100) parece irrelevante em relação aos outros meios de trans-porte, contudo o número de ciclistas dobrou nos

Fig 101 - Diagrama de movimentação demográfica em volume de partidas. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 102 - Diagrama de movimentação demográfica em volume de chegadas. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 103 - Diagrama de ocupação de hóteis no primeiro trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 104 - Diagrama de ocupação de hóteis no segundo trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 105 - Diagrama de ocupação de hóteis no terceiro trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 106 - Diagrama de ocupação de hóteis no quarto trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper.

80 O evento reúne mais de 24 museus em Pully e Lausanne que oferecem visitação das 14h até às 2h do dia seguinte por uma tarifa única para adul-tos (10 francos) e gratuito para menor de 16 anos. Este evento reúne mais de 60.000 pessoas.

que as moradias são concedidas apenas após entrevista.

Dessa forma percebemos que a maior taxa de ocupação se dá no segundo (fig 104) e terceiro trimestre (fig 105) do ano, com predominância no terceiro. Essa dinâmica comprova as estatísti-cas levantas no capítulo 3 de que o maior número de chegadas se dá no mês de setembro, devido ao calendário acadêmico.

O último conjunto de diagramas refere-se ao número de visitação de dez museus e espaços de exposição na área central relacionados a even-tos que convergem público para as exposições, desses dez o Palais de Rumine agrupa cinco. Palais de Rumine e Espace Arlaud localiazam-se em Riponne, Musée Historique e Mudac entre La cité e Bessiéres, Cinémathèque Suisse em Montbenon e Fórum d’Architecture em Geor-gette. A primeira topologia mostra o volume de visitantes durante o evento La Nuit des Musées80, que ocorre em um dia do mês de setembro. Os seguintes mostram respectivamente o número de visitação no primeiro, segundo, terceiro e quarto trimestre do ano, mas de apenas oito desses museus.

Desses diagramas é possível notar que o setor onde se localiza a Rue Centrale (St. Fran-çois), possui número de movimentações muito superior aos outros setores, e número de che-gadas (fig 102) maior que de partidas (fig 101). No total, as movimentações demográficas nessa região são maiores que de todas as outras, o que mostra que mesmo que a população cresça devido ao maior número de chegadas nessa região, muitas pessoas se deslocam para outras áreas de Lausanne, enquanto mais pessoas e provavelmente estrangeiros, chegam, marcando a dinâmica da população flutuante nessa área. Por esse motivo essa área embora congestionada não se satura, por causa das movimentações entre setores. Interessa observar que a área em questão concentra maior parte do núcleo histórico da cidade, e que assim como em Ouro Preto, ocorre sobreposição de usos e infraestruturas que fazem deste setor o mais demandado.

Os diagramas de ocupação dos hotéis auxiliam a identificar em que parte do ano as movimentações são mais intensas. É possível fazer essa relação uma vez que grande parte da população de Lausanne é estrangeira, e essa mesma parcela, na maioria das vezes, precisa se hospedar em hotéis quando de sua chegada, visto

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Fig 107 - Diagrama de volume de visitação no evento La Nuit des Musées. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 108 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o primeiro trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 109 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o segundo trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper. Fig 110 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o terceiro trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper.

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Fig 111 - Diagrama de volume de visitação nos museus durante o quarto trimestre do ano. Produzido pela autora através do Grasshopper.

no Espace Arlaud, o que colabora para maior número de visitantes no total desse trimestre.

Através desses diagramas podemos per-ceber a influência que eventos relacionados às exposições nos museus aumentam consideravel-mente o público.

Nota-se através desses diagramas que a diferença de visitação entre um dia de grande evento (fig 107) e durante os trimestres (figuras 108 a 111) não é tão grande, o que prova que eventos como esse atraem quantidade expressiva de público que usualmente não frequenta museus e exposições. O pico mais alto sempre se refere ao Palais de Rumine pela fato de reunir cinco museus. Observa-se que nos dois primeiros tri-mestres (figuras 108 e 109) e no último (fig 111) os picos são menores, mas ainda sim o primeiro trimestre é maior que os outros dois, isso se deve ao fato de existirem outros eventos de menor porte, como o Ciné au Palais, no Palais de Rumine no mês de fevereiro e o Pakomuzé, em abril, que acontece em todos os outros museus e casas de exposição dessa área.

O terceiro trimestre (fig 110) possui os maiores picos, inclusive o referente ao Palais de Rumine apresentando o mesmo comportamento em relação à formação da superfície de bézier que não conseguiu ser formada e extrapola o diagrama. Isso acontece porque a contagem de público de La Nuit des Musées está contida e ain-da ocorre outro evento em setembro, a Journée du Patrimoine, que reúne vários museus. O Festival BD-Fil também em setembro acontece

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ciamentos integrados ao sistema urbano e que são assimilados e melhorados pela inteligência coletiva que age negociando no urbano com-partilhado através de outros agenciamentos e compartilhamentos que englobam os existentes, como supomos ainda no capítulo 3.

Esses agenciamentos relacionam projetos de melhorias e obras urbanas com o urbanismo leve, que agencia espaços e coisas por meio da tecnologia como mais uma camada do ambiente, isso se dá através dos aplicativos, do georrefe-renciamento que permite informações em tempo real e compartilhamentos diversos, como o car-sharing, e outros exemplos mostrados no capítulo dos estudos de caso. Já em Ouro Preto, como também suposto no capítulo 3, as práticas que visam agenciamentos espaciais ainda encon-tram-se muito isoladas refletindo no resultado dos diagramas que em sua maioria permitiram identificar processos congestionantes e de satu-ração.

A criação de diagramas topológicos com intuito de representar as atividades urbanas reme-te à deformação paramétrica de uma superfície através de ferramentas digitais que criam efeitos interessantes e nos auxiliam na interpretação dessas atividades, contudo essas representações

CONCLUSÃO

Ao se comparar as análises das topologias referentes à Lausanne percebemos que somente uma apresentou o mesmo comportamento que algumas topologias de usos e mobilidade apre-sentaram nos diagramas referentes à Ouro Preto, os quais auxiliaram na identificação de picos de saturação. Essa topologia em Lausanne, relaci-onada ao número de visitações no Palais de Rumine durante o terceiro trimestre do ano, não pode seguir o mesmo raciocínio e ser conside-rada como saturação, pois se tratam de cinco museus reunidos que dividem o público entre si e em horários distintos. Em outros exemplos, mes-mo quando as topologias geraram um pico muito grande, como nos diagramas de movimentação demográfica, ainda sim foram geradas automa-ticamente pelo algoritmo, o que permite afirmar que as atividades urbanas levantadas são mais distribuídas e melhor divididas espacialmente na cidade suíça. Isso não quer dizer que se trata de espaços monofuncionais, pelo contrário, essas áreas foram apresentadas como setores heterogê-neos que acumulam funções diversas. Podemos fazer uma correspondência com o planejamento urbano existente em Lausanne que prevê agen-

5 dados é algo fundamental para o design de situ-ações, elaboração e atualização constante de dia-gramas que possibilitam análises urbanas. Essas tem por objetivo contribuir com políticas públi-cas e projetos que repensem e redimensionem os recursos urbanos disponíveis em determinadas áreas das cidades buscando reverter quadros de saturação e paralisação desses mesmos sistemas e redes. Sabe-se que hoje grande parte desses dados são propriedade de corporações privadas. Concluímos que é necessária a publicação desses documentos, dados e informações para o aper-feiçoamento e ampliação das visualizações gera-das, contribuindo para análises mais eficientes das dinâmicas urbanas, surgindo desdobramentos para este trabalho e outros estudos nessa mesma direção.

ainda são limitadas topologicamente. Cidades contemporâneas são marcadas pela dinamicidade e precisam de técnicas tão dinâmicas quanto para serem capazes de representar sua constante mutação. Vários métodos foram mostrados, contudo os diagramas apresentados fazem parte de um processo que pode ser aperfeiçoado e se tornar mais dinâmico através de curvaturas que se modificam instantaneamente.

Para a realização de visualizações mais dinâmicas como ferramenta de negociação da inteligência coletiva ou até mesmo a ser incor-porada pelo poder público para uma gestão mais eficiente do urbano compartilhado é importante ressaltar que a fonte e volume de dados são es-senciais. Os grandes eventos de Ouro Preto, por exemplo, acontecem em mais de um dia, contudo não foi interessante mostrar todos os dias desses eventos por não possuir dados que pudessem relacioná-los diretamente a outras dinâmicas. Desse modo optamos por aglomerar os dias mais significativos que englobaram uma análise mais ampliada. Como os dados utilizados referem-se em sua maioria à pesquisas e relatórios, são marcados pela delimitação de interesses daqueles que os produziram, impedindo uma abordagem mais abrangente. O acesso às informações e aos CAP

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