UNIVERSIDADE DO PORTO
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física
Deficiência Mental e Coordenação Motora
Estudo Comparativo dos Níveis de Coordenação Motora entre
Indivíduos com Deficiência Mental Ligeira e Moderada
Marta Sofia Silva Freitas
Porto, Dezembro, 2005
UNIVERSIDADE DO PORTO
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física
Deficiência Mental e Coordenação Motora
Estudo Comparativo dos Níveis de Coordenação Motora entre
Indivíduos com Deficiência Mental Ligeira e Moderada
Monografia apresentada no âmbito da
disciplina de Seminário da opção de
Desporto de Reeducação e Reabilitação.
Orientadora: Prof. Dra. Maria Olga Vasconcelos
Co – Orientadora: Prof. Dra. Maria Adília Silva
Marta Sofia Silva Freitas
Porto, Dezembro, 2005
Agradecimentos
II
Agradecimentos
Com o colmatar desta longa caminhada que foi a minha formação
académica, chega também a hora de agradecer a todos aqueles que
caminharam a meu lado, me orientaram e me deram forças para chegar ao fim.
Torna-se difícil transmitir por palavras a gratidão que sinto por todos aqueles
que fazem parte da minha vida e que, de modo directo ou indirecto, me
ajudaram e apoiaram nesta caminhada. Sem menosprezar ninguém, e tendo
sempre em mente o valor de todos aqueles que me rodeiam, deixo aqui um
especial obrigado:
À Professora Doutora Maria Olga Vasconcelos e à Professora Doutora
Maria Adília Silva, por terem aceite o desafio de orientar este trabalho, pela
disponibilidade, paciência e estímulo sempre evidenciados e pela ajuda
prestada a ultrapassar dificuldades.
Ao Professor Abel e ao Professor António pelas horas dispendidas e a
constante disponibilidade e amabilidade. Sem eles este trabalho não teria sido
possível.
A todos os meus amigos e amigas, aos presentes e aos ausentes mas
sempre presentes, pelo carinho e amizade incondiconal que me proporcionam.
À Desportuna, pelos momentos únicos passados, pelas aventuras e
desventuras, pela força que me deram quando tudo parecia correr mal, mas
acima de tudo por darem um significado verdadeiro às palavras amizade e
união.
Por fim, quero deixar aqui o mais precioso e importante sentimento que se
pode ter perante as pessoas que tudo fizeram para me educar e formar. Eles
que sempre me apoiaram e acreditaram em mim, dando-me todo o amor e
compreensão, os meus pais.
Nunca é demais
Muito Obrigada
Indice Geral
III
Índice Geral
Pág.
Agradecimentos II
Índice Geral III
Índice de Quadros IV
Índice de Anexos V
Resumo VI
1. Introdução 1
2. Revisão da Literatura 5
2.1. Deficiência Mental 5
2.1.1. Definição e Classificação 5
2.1.2. Etiologia 12
2.1.3. Caracterização 15
2.2. Capacidades Motoras 17
2.2.1. Coordenação Motora e Capacidades Coordenativas 19
2.3. Coordenação Motora e Deficiência Mental 25
3. Objectivos e Hipóteses 33
4. Material e Métodos 34
4.1. Amostra 34
4.2. Procedimentos Metodológicos 35
4.2.1. Instrumentos 35
4.3. Procedimentos Estatísticos 40
5. Apresentação e Discussão dos Resultados 42
6. Conclusões e Sugestões 48
7. Referências Bibliográficas 49
8. Anexos VII
Indice de Quadros
IV
Índice de Quadros
Pág.
Quadro I – Distribuição da amostra por classificação e sexo. 34
Quadro II – Resultados dos testes Minnesota Manual Dexterity TC
(Teste de Colocação) e TV (Teste de Volta), Pursuit Rotor, Tapping
Pedal e Mira Stambak.Média, desvio padrão, valores de z e p.
42
Indice de Anexos
V
Índice de Anexos
Pág.
Anexo I – Ficha de Caracterização VIII
Anexo II – Teste Minnesota Manual Dexterity X
Anexo III – Teste Pursuit Rotor XII
Anexo IV – Teste Tapping Pedal XIV
Anexo V – Teste das Estruturas Rítmicas XVI
Resumo
VI
Resumo
Entender e analisar as características de cada um dos indivíduos com
deficiência mental (DM) é um ponto fulcral para o seu desenvolvimento. O facto
de conhecer as suas capacidades motoras, permite que os profissionais do
Desporto e Educação Física consigam realizar um planeamento ajustado da
sua actividade corporal, proporcionando-lhes os alicerces sensório-perceptivos-
motores que vão estar na base dos comportamentos exigidos pelo meio.
Este trabalho teve como objectivo comparar os níveis de coordenação
motora entre um grupo de Indivíduos com DM Ligeira e um grupo de Indivíduos
com DM Moderada, nomeadamente a capacidade de destreza manual,
coordenação óculo-manual, velocidade e coordenação dos membros inferiores
e capacidade de ritmo.
A amostra é constituída por um total de vinte indivíduos, dos quais dez
apresentam Deficiência Mental Ligeira e os outros dez Deficiência Mental
Moderada, segundo a classificação adoptada por Silva (1991), sendo todos
utentes de duas instituições que pertencem aos concelhos de Vila de Conde e
da Póvoa de Varzim, apresentando idades na faixa etária compreendida entre
os dezoito e os vinte e dois anos. Os testes aplicados neste estudo foram o
Minnesota Manual Dexterity (Desrosiers et al. 1997), Pursuit Rotor (Godinho et
al. 2000), Tapping Pedal (cit. Melo, 1998) e Teste das Estruturas Rítmicas de
Mira Stambak (Stambak, 1972).
Como principais conclusões, após a análise pormenorizada dos
resultados, constatamos que os Indivíduos com DM Ligeira evidenciam
melhores resultados em todas as capacidades avaliadas (destreza manual,
coordenação óculo-manual, velocidade e coordenação dos membros inferiores
e capacidade de ritmo) relativamente aos Indivíduos com DM Moderada.
Porém, as diferenças entre os grupos não são estatisticamente significativas, à
excepção da capacidade de ritmo (p=0,009).
PALAVRAS CHAVE: DEFICIÊNCIA MENTAL, CAPACIDADES MOTORAS, COORDENAÇÃO MOTORA.
Introdução
Marta Freitas 1
1. Introdução
O corpo e o movimento são as fontes mais básicas e essenciais que nos
proporcionam a diferenciação de experiências em vários âmbitos: espacial,
temporal, de desempenho, social, etc.. Assim, o nosso corpo e o movimento
dão-nos a possibilidade de, através da sua contracção, descontracção,
imobilidade, mobilidade, comunicação, silêncio, entre outras, expressar e
regular o nosso comportamento, o nosso ser (Rodrigues, 2002). Deste modo,
encaramos a expressão humana como relação recíproca e indissociável entre
o organismo e o meio envolvente. Daí a importância de o meio proporcionar ao
indivíduo as melhores experiências e oportunidades para o seu bom
desenvolvimento.
Actualmente, considera-se que os indivíduos com Deficiência Mental
(DM), para além do défice intelectual, apresentam perturbações que os
envolvem na sua totalidade, aceitando-se que, talvez, estas sejam tão
importantes quanto a deficiência em si mesma (Costa, 1995). Esta autora
refere ainda, que é necessário ter em conta tais perturbações, uma vez que a
sua compreensão é fundamental para (re)educar estas pessoas de modo a
torná-las capazes de desempenhar, pelo menos, minimamente, as actividades
quotidianas e, principalmente, dar-lhes uma maior satisfação pessoal, ou seja,
melhorar a sua qualidade de vida. Dahms et al. (1989, cit. Maia, 2002)
defendem que a participação em actividades físicas pode influenciar os seus
meios reabilitativos. Na perspectiva de Sherrill (1998), aproximadamente 90%
destes indivíduos apresentam ligeiras debilitações e necessitarão de alguma
adaptação e de algum apoio nas várias áreas educacionais, em particular na
área da Educação Física e Desporto. Esta, contribui para o desenvolvimento de
todas as áreas da personalidade, e o seu objectivo não deve resumir-se ao
desenvolvimento físico, mas contribuir igualmente para o desenvolvimento
cognitivo, emocional, social do indivíduo (Lucea, 1999). Portanto, torna-se
determinante que os profissionais desta área tentem entender e analisar as
características de cada um dos indivíduos com DM para poderem desenvolver
Introdução
Marta Freitas 2
cuidadosamente prescrições de exercícios adequadas às suas necessidades
individuais. Quanto maiores forem os seus níveis de conhecimento no que
concerne a este âmbito mais rica poderá ser a actividade proporcionada.
A classificação dos indivíduos com DM foi sofrendo alterações ao longo
dos tempos, acompanhando a evolução da definição de DM. Este facto reflecte
a preocupação em implementar sistemas de apoio mais precisos e mais
facilmente aplicáveis, passando de uma classificação onde apenas se tinha em
conta o quociente de inteligência (QI) avaliado através de testes psicométricos
(Grossman, 1983) para outra classificação. Esta, realizada por Luckasson et al.
(1992), defende uma classificação com critérios mais abrangentes,
considerando as relações que o indivíduo com DM estabelece com o
envolvimento e não apenas baseada numa característica (QI) expressa pelo
indivíduo.
Dez anos depois, em 2002, surge uma nova actualização do conceito de
DM – a décima noção adoptada pela Associação Americana de Deficiência
Mental (AAMR)-, definida como “uma incapacidade caracterizada por limitações
significativas no funcionamento intelectual e comportamento adaptativo,
expressa nas capacidades conceptuais, sociais e práticas adaptativas, e tem
origem antes dos 18 anos de idade” (AAMR, 2002, p.3). A mudança
fundamental reside no esforço que se tem verificado nesta área para que se
incremente o conhecimento e a compreensão acerca da Deficiência Mental,
permitindo implementar uma terminologia, classificação e sistemas de apoio
mais precisos e adequados. De acordo com Morato et al. (1996) acredita-se
que, através dos apoios necessários a cada um dos indivíduos com DM, se
possa efectivamente melhorar as suas capacidades funcionais. A actual
revisão da AAMR (2002) sublinha a importância de avaliar o indivíduo com
vista à planificação de estratégias, serviços e apoios, no sentido de optimizar
as suas competências. Além disso, tem em conta que as necessidades
individuais e as circunstâncias podem mudar com o tempo.
Introdução
Marta Freitas 3
É neste sentido que se dá maior relevância ao aperfeiçoamento das
capacidades coordenativas, uma vez que são parte vital na formação corporal
de base. Estas surgem como imprescindíveis para os indivíduos com DM,
porque contribuem para o desenvolvimento perceptivo-motor, facilitando desta
maneira o seu relacionamento com o meio ambiente. Também permitem que o
indivíduo adquira, através da actividade corporal, os alicerces sensório-
perceptivos-motores que vão estar na base dos comportamentos exigidos pelo
meio, abrindo-lhes novos horizontes (Pires, 1992).
Todos os profissionais que trabalham em Educação e Reeducação numa
perspectiva adequada, isto é, que procuram conhecer e atingir objectivos
significantes e pertinentes para os seus alunos, sabem que a caracterização e
avaliação dos casos com que trabalham é um passo indispensável e uma
etapa que não pode ser menosprezada. Surge então o porquê de realizarmos
avaliações. Esta questão deve ficar estabelecida à partida, pois, sem
avaliarmos, pensamos não ser possível conhecer objectivamente o ponto de
partida e o ponto de chegada dos nossos alunos. Isto é, todo o nosso trabalho
ficaria à mercê de condicionalismos mais ou menos espontâneos, sem que a
nossa acção de mediatizadores tivesse o significado que de facto procuramos.
É com base no exposto anteriormente, que surge este estudo. O nosso
objectivo é comparar os níveis de coordenação motora entre dois grupos de
indivíduos com DM Ligeira e Moderada, na faixa etária compreendida entre os
18 e os 22 anos. Todos frequentam duas instituições que pertencem aos
concelhos de Vila de Conde e da Póvoa de Varzim. Guiando-nos pela
classificação da DM proposta por Silva (1991), que distingue os indivíduos em
deficientes mentais Ligeiros, Moderados, Severos e Profundos, que se
encontra em vigor em ambas as instituições, pretendemos ter uma avaliação
concreta das capacidades coordenativas destes indivíduos, nomeadamente a
capacidade de destreza manual, coordenação óculo-manual, velocidade e
coordenação dos membros inferiores e capacidade de ritmo, podendo ter uma
base de informações fidedigna e individualizada. Esta base, dá-nos uma
descrição detalhada de todas as dificuldades e de todas as possibilidades que
Introdução
Marta Freitas 4
estes indivíduos apresentam a nível coordenativo, o que nos possibilita, de
futuro, a criação de grupos de trabalho o mais homogéneos possível
permitindo, deste modo, a aplicação de metodologias objectivas e apropriadas.
Este trabalho encontra-se estruturado em oito capítulos organizados da
seguinte forma:
Capítulo I (Introdução) – Apresenta o enquadramento teórico que levou à
realização deste trabalho, referindo a pertinência deste estudo, os objectivos e
ainda a sua estruturação.
Capítulo II (Revisão da Literatura) – Neste capítulo é realizada a
caracterização da Deficiência Mental e das Capacidades Motoras, em especial
destaque, a coordenação motora. É também feita uma breve incursão aos
trabalhos já realizados no âmbito deste tema.
Capítulo III (Objectivos e Hipóteses) – Enuncia os objectivos que
nortearam a nossa investigação, assim como, as hipóteses que nos propomos
averiguar.
Capítulo IV (Material e Métodos) – Demonstra a caracterização da
amostra, indicando os procedimentos metodológicos e estatísticos utilizados,
bem como os respectivos instrumentos de avaliação.
Capítulo V (Apresentação e Discussão dos Resultados) – Apresentam-se
os resultados obtidos em cada um dos instrumentos aplicados e realiza-se uma
breve discussão dos mesmos.
Capítulo VI (Conclusões e Sugestões) – Descrevem-se as principais
conclusões do estudo como resultado final da discussão desenvolvida no
capítulo anterior que se limitam ao âmbito da amostra utilizada não devendo,
por isso, ser generalizadas. Também se propõem algumas sugestões para a
concretização de novos trabalhos dentro desta temática.
Capítulo VII (Bibliografia) – Neste capítulo encontram-se as referências
bibliográficas correspondentes à pesquisa efectuada para a realização deste
trabalho.
Capítulo VIII (Anexos) – Aqui, serão disponibilizados os instrumentos
utilizados para consulta.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 5
2. Revisão da Literatura
2. 1. Deficiência Mental
2.1.1. Definição e Classificação
A Deficiência Mental é uma condição humana que tem sido
historicamente susceptível de desacordos e de uma série de mal entendidos.
Uma variedade de incertezas tem vindo a dominar o conceito de DM devido às
suas características, às suas necessidades e às capacidades das pessoas com
DM (Maia, 2002).
Em termos históricos, Santos e Morato (2002) referem que é possível
observar três períodos ao longo do estudo da DM. No primeiro, que se estende
até cerca de 1800, a DM não é considerada como um problema científico,
verificando-se algumas experiências pedagógico-terapêuticas que se revelaram
como referências objectivas à reabilitação da DM, chamando a nossa atenção
para a área da actividade sensorial. Nesta fase, criaram-se propostas de
identificação e classificação da DM, que lhe permitiram a distinção em relação
a outras deficiências, em particular, da doença mental (Rynders, 1987, cit.
Morato, 1993).
Seguidamente, e no período compreendido entre o fim do século XIX e a
Segunda Guerra Mundial, verifica-se uma preocupação na definição e
classificação (operacional) de DM relacionando-a com critérios académicos. O
apoio das primeiras perspectivas de definição e classificação da DM foram
então desenvolvidas em função da correlação, geralmente encontrada entre
uma medida baixa de capacidade, revelada pelo teste de inteligência, com a
dificuldade de aprender (Binet, 1908, cit. Morato et al., 1996). Surge então a
preocupação de criar melhores condições de vida para os indivíduos com DM
(Santa Clara, 1991).
Finalmente, no pós-guerra tenta-se uma alteração das atitudes face à
deficiência, incluindo o meio ecológico como sendo uma parte importante do
Revisão da Literatura
Marta Freitas 6
desenvolvimento. Esta fase é caracterizada por uma mudança na evolução
científica e pelo reforço do movimento humanitário em prol da defesa dos
grupos minoritários na sociedade, dos deficientes de guerra, e dos movimentos
associativos de pais, crianças e jovens com deficiência (Morato, 1993; Morato
et al., 1996). Todavia, subsistem as dificuldades na sua definição funcional e
operacional. As mudanças na sociedade e, também, a necessidade de
existência de um consenso geral no tocante a esta problemática, levaram a
uma multiplicidade terminológica relativamente àqueles que se desviam do que
se determina como “normais” (deficientes, inadaptados, diferentes,
excepcionais) (Maia, 2002).
O I Congresso Mundial sobre o Futuro da Educação Especial, em 1978,
aprovou a seguinte definição proposta pelo Comité para a Deficiência Mental:
“A Deficiência Mental refere-se a um funcionamento cognitivo geral inferior à
média, independentemente da etiologia, manifestando-se durante um período
de desenvolvimento, o qual é de uma severidade tal que marcadamente limita
a capacidade do indivíduo para aprender e, consequentemente, para tomar
decisões lógicas, fazer escolhas e julgamentos e limita também a sua
capacidade de auto-controle e de relação com o envolvimento” (cit. Vieira e
Pereira, 1996, p. 41).
Segundo Grossman (1983) o indivíduo com DM apresenta, durante o
período de desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem na classe regular,
revelando nos testes psicométricos valores de QI inferiores à média. Bagatini
(1987) completa esta definição caracterizando-a pela inadequação do
comportamento adaptativo (aprendizagem e socialização), sendo necessário
criar métodos e recursos didácticos especiais para a sua educação.
Como anteriormente referimos, o suporte das primeiras perspectivas de
definição e classificação da DM desenvolveram-se recorrendo à psicometria,
onde o conceito de inteligência seria o ponto de partida para definir e classificar
o indivíduo com DM. Assim, para calcular o grau de DM seria utilizada a
avaliação psicométrica, a qual contempla o rendimento intelectual (quociente
Revisão da Literatura
Marta Freitas 7
de inteligência – QI), segundo as escalas de avaliação da idade mental
vulgarmente utilizadas e a idade cronológica. A formulação para o cálculo da
DM seria então a seguinte: idade mental/idade cronológica x 100 = QI (Silva,
1991; Morato, 1995).
A definição de DM realizada por Luckasson et al. (1992) e adoptada pela
AAMR, no mesmo ano, apresenta como mudança fundamental a alteração ao
quadro de referência, ou seja, de uma classificação baseada somente numa
característica expressa pelo indivíduo, passa para uma nova concepção, que
considera primordial as relações que o indivíduo com DM estabelece com o
envolvimento, passando de uma perspectiva singular para uma perspectiva
plural. Deste modo, a definição de DM passou a depender de três critérios:
funcionamento intelectual, obtido através de avaliações realizadas com um ou
mais testes de inteligência, cujos valores se encontram abaixo da média,
definindo-se como um QI de 70–75 ou inferior; limitações significativas em duas
ou mais áreas do comportamento adaptativo e verificação destas
características desde a infância, manifestando-se antes dos 18 anos
(Luckasson et al., 1992). Com esta definição surge o conceito de
comportamento adaptativo, que se pode entender como uma mistura de um
conjunto de capacidades adaptativas que interagem entre si (comunicação,
autonomia pessoal, autonomia em casa, competências sociais, etc.) permitindo
ao indivíduo uma plena integração na comunidade (Nihira et al., 1993).
Para a AAMR (1992) existem quatro premissas essenciais à aplicação da
definição de DM: a avaliação pertinente que considere a diversidade linguístico-
cultural (e as diferenças comportamentais e da comunicação), a existência de
limitações nas habilidades adaptativas em relação aos seus pares, a
coexistência de áreas fortes e fracas e as melhorias no funcionamento dos
indivíduos decorrentes de um apoio adequado, pelo que se intentará na
elaboração de um modelo funcional.
Em 2002, a AAMR adopta a décima definição de Deficiência Mental. Esta
última definição, uma actualização da definição de 1992, preconiza que a DM é
Revisão da Literatura
Marta Freitas 8
caracterizada por limitações significativas ao nível do funcionamento intelectual
e comportamento adaptativo, expressando-se nas capacidades conceptuais,
sociais e práticas adaptativas e que tem a sua expressão antes dos 18 anos
(AAMR, 2002), apontando cinco assunções para a aplicação da definição:
1. As limitações do funcionamento têm que ser consideradas no
contexto da comunidade em que o indivíduo se insere (idade, pares e
cultura).
2. No processo de avaliação deve ser considerada a diversidade
cultural e linguística, assim como as diferenças ao nível dos factores de
comunicação, sensoriais, motores e comportamentais.
3. No indivíduo coexistem limitações com aspectos fortes.
4. A descrição das limitações têm o propósito de desenvolver o
perfil dos apoios necessários.
5. Com os apoios personalizados e apropriados, a funcionalidade
dos indivíduos com D.M. pode geralmente melhorar.
Apesar das definições de 1992 e de 2002 da AAMR colocarem ênfase
nos apoios e na sociedade, com vista à inclusão e bem-estar da pessoa com
deficiência mental, esta última não refere o QI do indivíduo e o número mínimo
de áreas do comportamento adaptativo em que tem que apresentar
incapacidade, para que possa ser considerado deficiente mental. Dito de outra
forma, as definições de 1992 e de 2002 da AAMR, distinguem-se pelo seguinte:
- Enquanto na definição de 1992 a D.M. é apresentada como um
funcionamento intelectual significativamente abaixo da média (o que
corresponde a um QI igual ou inferior a 70-75), na definição actual a D.M. é
descrita como uma incapacidade caracterizada por significantes limitações no
funcionamento intelectual. O valor do QI, quando igual ou inferior a 70-75,
passa a ser utilizado apenas como “um aspecto na determinação das pessoas
que têm deficiência mental” (AAMR, 2002 p.3), a par das significantes
limitações no comportamento adaptativo e da evidência de que a deficiência
tenha ocorrido até aos 18 anos de idade.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 9
- Relativamente ao comportamento adaptativo, na definição de 1992 é
referido que devem existir limitações em duas ou mais áreas do
comportamento adaptativo, e na definição de 2002 consta apenas que deve
haver limitações significativas no comportamento adaptativo expressas nas
capacidades sociais e práticas adaptativas.
A classificação da DM conheceu vários contornos ao longo dos tempos,
tendo sido utilizados vários sistemas de avaliação. Vários autores (Grossman,
1983; Fonseca, 1989) referem que a classificação dos diferentes níveis de
deficiência consideravam o comportamento adaptativo, apesar dos valores de
QI se manterem o critério dominante. Sendo assim, os mesmos autores
estabeleceram a seguinte classificação:
- Deficiência mental ligeira............................... QI entre 55 e 70;
- Deficiência mental moderada........................ QI entre 40 e 54;
- Deficiência mental grave............................... QI entre 25 e 39;
- Deficiência mental profunda.......................... QI inferior a 25.
Porém, na opinião de Morato (1995), uma definição de Deficiência Mental
baseada no QI (teoria psicométrica) revela falta de rigor com tendência para
homogeneizar o perfil cognitivo dos indivíduos, ocorrendo uma subvalorização
das diferenças qualitativas existentes.
No entanto, apesar da evolução positiva que se tem vindo a acentuar
sobre o conceito de Deficiência Mental, os critérios da sua definição
permanecem discutíveis pelas implicações determinantes do carácter
estigmatizante das classificações por níveis de dificuldade (Morato et al., 1996).
Apesar de a AAMR já não utilizar a classificação que em seguida
apresentamos, julgamos pertinente expô-la, pois, no caso concreto deste
estudo, ainda é esta a classificação utilizada. Sendo assim, segundo Silva
(1991), existem três graus de Deficiência Mental:
Deficiência Mental Ligeira: o indivíduo não apresenta capacidade para
acompanhar os programas de ensino regular mas é susceptível de aprender
conceitos ligados a algumas disciplinas académicas. Mediante um
Revisão da Literatura
Marta Freitas 10
acompanhamento especial pode vir a ser integrado, parcialmente, na escola
regular;
Deficiência Mental Média ou Moderada: o indivíduo é capaz de adquirir
noções simples de comunicação, hábitos elementares de higiene e
segurança, regras de comportamento mas não é educável no sentido vulgar
da palavra;
Deficiência Mental Severa e Profunda: o indivíduo é capaz apenas de
uma certa aprendizagem no que respeita à aquisição de alguns hábitos
(Deficiência Mental Severa) e utilização dos membros superiores e
inferiores e mastigação (Deficiência Mental Profunda); é dependente na sua
vida pessoal e social. Para além da limitação intelectual, apresenta
frequentemente outros problemas tais como a Paralisia Cerebral, Epilepsia
ou uma desordem similar, ou ainda problemas de visão ou de audição.
Em função das alterações na definição de DM, a avaliação deixou cair a
tradicional classificação de acordo com a capacidade intelectual, para incluir o
conceito de apoios, que considera o indivíduo e o meio ambiente (Nielson,
1999). Atribuir a um indivíduo um nível determinado segundo uma escala rígida
deixou de fazer sentido uma vez que a importância é dada à forma como cada
um se adapta às condições de vida e exigências do seu meio social. Mais do
que classificar pessoas, pretende-se identificar os apoios necessários ao
desenvolvimento consistente e duradouro dos comportamentos adaptativos
(Vieira e Pereira, 1996).
A implementação da classificação desta deficiência passa a ter então
como base o nível de apoios necessários a uma vida o mais independente
possível, visando assim a promoção do indivíduo com DM e não simplesmente
a classificação para hierarquizar dificuldades (Morato et al., 1996). No entanto,
os mesmos autores, alertam para a série de dúvidas que a mudança deste
paradigma levanta, o que torna necessária a clarificação das formas de
classificação e diagnóstico, assim como a projecção das dificuldades de
implementação do modelo de diagnóstico e atendimento. Uma vez
determinados os diagnósticos e a elegibilidade para os apoios, cada indivíduo
Revisão da Literatura
Marta Freitas 11
poderá necessitar de suporte em diferentes áreas, com níveis de intensidade
diferentes, que evoluem ao longo da vida de cada um, estando sempre em
constante evolução na sua relação com os envolvimentos.
Nesta perspectiva o indivíduo com DM difere na natureza, extensão e
severidade das suas limitações funcionais, dependendo das exigências e
constrangimentos do seu envolvimento e da presença ou ausência de ajudas.
Tendo em vista o modelo de atendimento mais eficaz, existe a necessidade
imperiosa de classificar e identificar de forma clara e precisa os níveis de
intensidade de apoio (Morato et al., 1996; AAMR, 2002):
� Intermitente – é um apoio descontínuo. O indivíduo é auto-
suficiente, necessitando de apoio, pontualmente, em períodos
específicos de transição (por exemplo, perda de emprego ou crise de
doença aguda, mas transitória). Este tipo de apoio também varia em
termos de intensidade.
� Limitado – é um apoio contínuo embora limitado no tempo. O
indivíduo necessita de apoio só em determinadas áreas como, gestão,
emprego, saúde, autonomia em casa. Exige um menor número de
pessoal de apoio, assim como um menor custo financeiro, do que os
níveis mais intensos.
� Extensivo – é um apoio regular (ex.: diário) em mais de uma
área (ex.: trabalho e casa) e sem limite temporal. O indivíduo necessita
de instruções, assistência ou supervisão em áreas específicas.
� Permanente – é um apoio constante ao longo das 24 horas
podendo assumir um caracter vital, daí se caracterizar por um elevado
nível de intensidade fornecido em todos os tipos de envolvimento. O
indivíduo necessita de apoio nos cuidados básicos como a alimentação.
Este tipo de apoio implica a existência de um maior nível de pessoal
interveniente e de um maior nível de intrusividade em relação aos
restantes níveis de apoio.
A descrição das limitações do indivíduo permite desenvolver estratégias
com o intuito de delinear o perfil de apoios e serviços necessários. Sublinha-se,
Revisão da Literatura
Marta Freitas 12
desta forma, a utilidade de avaliar o indivíduo no sentido de efectuar uma
planificação ajustada em termos de intervenção. Para Santos e Morato (2002)
são necessárias três fases para uma completa avaliação da DM:
• Diagnóstico baseado no nível de funcionamento intelectual, das
habilidades adaptativas e na idade cronológica do aparecimento
das perturbações.
• Classificação mediante as perturbações apresentadas pelos
indivíduos com DM, identificando áreas fortes e fracas e a
necessidade de apoios.
• Identificação de sistemas de apoio em que se determina um
perfil, as intensidades e as frequências de apoio necessários.
Este processo tripartido procura proporcionar uma avaliação detalhada do
indivíduo e dos apoios que necessita. Permite assim analisar separadamente
todas as áreas em que podem existir dificuldades e delinear uma intervenção,
uma vez reconhecida da sua interdependência (Verdugo, 1994).
A definição das necessidades e a opção por apoios personalizados e
apropriados contribui para a optimização das competências dos indivíduos com
DM, permitindo a sua integração na comunidade. Os recursos e as estratégias
individuais para promover o desenvolvimento, educação, interesses e bem-
estar pessoal do deficiente mental podem ser prestados por familiares, amigos
e técnicos, assim como professores, psicólogos e médicos (AAMR, 2002).
2.1.2. Etiologia
O estudo da etiologia da DM torna-se indispensável para uma melhor
compreensão desta deficiência. Através do conhecimento das suas causas,
poderemos perceber os seus efeitos, alcançando, assim, algum significado
para a sua definição. Através da aplicação de novos métodos de avaliação, de
diagnóstico e de elaboração de instrumentos para a população com DM, tenta-
se potencializar meios de prevenção e intervenção para estes indivíduos. São
Revisão da Literatura
Marta Freitas 13
muitas as causas e os factores de risco que podem provocar DM, por isso
torna-se fundamental uma avaliação correcta e pormenorizada dos aspectos do
desenvolvimento.
Nos finais do século XX (década de oitenta) a etiologia da DM incluía os
factores genéticos, factores estes que actuam antes da gestação; a origem da
deficiência está já determinada pelos genes ou herança genética; factores
progenéticos; estudo do fundo genético do património hereditário duma
população, das causas da sua evolução e das influências mutagénicas a que
está sujeito; e por fim, os factores extrínsecos, que compreendem todos os
acidentes que se produzem desde o momento da concepção, ao longo dos
vários estádios da vida intra-uterina, no parto e até ao final da primeira infância
(Sánchez e Alonso, 1986). Estes factores extrínsecos, e seguindo a ideia dos
mesmos autores, são constítuidos por: factores pré-natais (compreendem
todas as patologias da gravidez), factores peri-natais (incluem os incidentes
que preconizem o sofrimento do feto no momento do parto), factores pós-natais
(considerados todas as lesões do Sistema Nervoso, infecciosos, tóxicas,
traumáticas, directas ou indirectas que, apesar dos recursos terapêuticos,
conservem a sua importância quanto à precocidade, gravidade e localização
das lesões que provocam) e os factores psico-afectivos (que poderão aparecer
no desenrolar dos factores anteriormente descritos).
Outros autores baseados na AAMR em 1992 (Luckasson et al., 1992;
Santos e Morato, 2002) mencionam o facto da DM reflectir a acumulação de
factores múltiplos e interactivos.
De acordo com a AAMR (1992), não existe uma etiologia específica para
a DM, sendo esta ideia partilhada por Ribeiro (1996), que afirma que a
abordagem pluridisciplinar não permite ainda ter uma visão clara das causas da
deficiência, verificando-se uma acção conjugada e ou acumulada de diversos
factores (causas pré, peri e pós-natais) sem que se possa diagnosticar com
precisão uma lesão principal.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 14
Quando nos encontramos perante um indivíduo que aparenta ter DM é
necessário recorrer a uma avaliação correcta no contexto familiar, realizada por
uma equipa interdisciplinar, sócio-médico-psicopedagógica ou terapêutica,
com finalidade de detectar as causas possíveis, permitindo chegar a um
correcto diagnóstico, para o estabelecimento de um programa de estimulação
precoce e um programa de apoio familiar (Maia, 2002).
A abordagem multifactorial, utilizada actualmente, reporta-se à distinção
de quatro grupos de etiologias distintas. Eles são constituídos pelos factores
biomédicos, sociais, comportamentais e educacionais (Luckasson et al., 1992;
AAMR, 2002). Relativamente aos factores biomédicos os autores consideram
que estão relacionados com os processos biológicos como a nutrição e as
desordens genéticas. As causas sociais advertem para a interacção social e
familiar (responsabilidade e estimulação por parte dos adultos). Os factores
comportamentais dizem respeito a comportamentos assumidos pela mãe,
como o abuso de substâncias tóxicas durante a maternidade. O quarto factor,
factores educacionais, está relacionado com a viabilidade dos apoios
educativos que promovam o desenvolvimento dos comportamentos
adaptativos.
Reportando-nos à incidência e frequência da DM, tendo em consideração
a escassez de sistemas de definição rigorosos e práticos e o desenvolvimento
da sua etiologia, verificamos dificuldades na sua quantificação (Pelica, 1994,
cit. Santos e Morato, 2002). Segundo o mesmo autor, denota-se uma maior
incidência (cerca do dobro) no sexo masculino e um maior índice de ocorrência
em grupos com um baixo nível sócioeconómico.
Em suma, o conhecimento claro das causas múltiplas existentes e os
apoios necessários e apropriados podem contribuir para prevenir e até mesmo
reverter os efeitos dos factores referidos.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 15
2.1.3. Caracterização
Nos indivíduos com DM, tal como nos restantes indivíduos, o
comportamento pessoal e social é muito variável, não se podendo falar de
características iguais nesta população (Pacheco e Valencia, 1997). Todos os
indivíduos com DM reúnem em si diferentes características, o que os torna
únicos e às quais é necessário dar atenção.
Quiroga (1989) destaca algumas das características mais significativas
desta população. Em termos pessoais refere a ansiedade, falta de
autocontrolo, tendência para evitar situações de fracassos mais do que para
procurar os êxitos, possível existência de perturbações de personalidade, fraco
controlo interior, falta de motivação. A nível social salienta as dificuldades em
realizar funções sociais, em estabelecer vínculos afectivos, atraso evolutivo em
situações de jogo, lazer e actividade sexual. Estas limitações repercutem-se no
comportamento do indivíduo, provocando alterações, tais como, instabilidade
emocional, comportamento de grupo perturbado, falta de atenção, apatia e
medo da novidade. Apresentam também imaturidade do ponto de vista de
gostos e interesses, falta de imaginação e de iniciativa e dificuldades de
integração.Por fim, a nível motor enuncia a falta de equilíbrio e as dificuldades
de locomoção, coordenação e manipulação. Podem apresentar também
alterações morfológicas, como pés rasos e desvios na coluna, lesões
neurológicas associadas, alteração do tónus muscular que provocam um atraso
no desenvolvimento psicomotor (Silva, 1991).
Vaughn et al. (1989, cit. Santos e Morato, 2002) acrescentam ainda que
as principais dificuldades ao nível desta população se verificam em termos da
adequação da interacção com os outros. Este facto contribui, decisivamente, e
de modo menos positivo, para o critério de êxito e o sentimento de
competência noutras situações diárias.
Fonseca (1995) considera que os principais comportamentos observados
e generalizáveis para o indivíduo com DM consistem nas dificuldades em
termos da capacidade de atenção, concentração e memorização, bem como
um fraco limiar de resistência à frustração, associado a um baixo nível
Revisão da Literatura
Marta Freitas 16
motivacional, atrasos no desenvolvimento da linguagem, inadequação do seu
repertório social e dificuldades no processo de ensino-aprendizagem.
De acordo com Pacheco e Valencia (1997), o desenvolvimento de um
indivíduo com DM processa-se segundo as mesmas etapas consideradas
normais no desenvolvimento e evolução de qualquer outra pessoa
(sensoriomotora, operações concretas, operações formais). Porém, estes
autores referem que este desenvolvimento não se enquadra em períodos
concretos de aprendizagem, tendo em conta apenas as correntes
psicométricas. É necessário fazer uma avaliação, complexa e exaustiva, para o
podermos situar então no processo geral de desenvolvimento, assinalando os
aspectos positivos, ou seja, aquilo que, apesar de tudo, o indivíduo com DM é
capaz de fazer.
Segundo Fonseca (1989), é importante manipular variáveis, conhecer as
potencialidades dos sujeitos, fazendo-os passar por situações com significação
e intencionalidade onde se sintam competentes e ou sucedidos. Refere ainda
que é necessário elaborar programas de ensino-aprendizagem individualizados
e motivantes através de um conjunto de actividades de carácter lúdico e que
impliquem a vivência de experiências pelo corpo, para que se tente minimizar
as dificuldades e maximizar as potencialidades. O desenvolvimento não deverá
ser travado pelas actividades do mundo que rodeia as pessoas com
deficiência.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 17
2.2. Capacidades motoras
O movimento é uma das características fundamentais do ser humano e
está presente desde as primeiras semanas de vida intrauterina (Rodrigues,
1997). É este que possibilita que o indivíduo estabeleça um conjunto de
relações com o meio envolvente, que lhe são necessárias para o seu
desenvolvimento motor, ao aprender a perceber e a interagir com as suas
vivências (Matos, 1991).
No dizer de Lucea (1999), o indivíduo interage com o exterior através das
suas sensações e percepções, adquirindo deste modo, entre outras
aprendizagens, novas capacidades de movimento. Assim, através do
movimento voluntário originam-se processos cognitivos que contribuem para a
aprendizagem significativa da motricidade. Neste sentido, é necessário
desenvolver um trabalho de capacidades sensitivas e perceptivas para
construir uma base cultural e motora que permita edificar a motricidade do
indivíduo.
De acordo com Rodrigues (2000), as capacidades motoras encontram-se
na base da realização e da aprendizagem das acções motoras, apresentando-
se, não como qualidades do movimento, mas antes como pressupostos para
que ele exista. Sendo assim, o grau de desenvolvimento das capacidades
motoras influencia o êxito de qualquer actividade motora.
Estas capacidades dividem-se em dois domínios: o domínio condicional
(âmbito quantitativo) e o domínio coordenativo (âmbito qualitativo) (Carvalho,
1987).
Para Marques (1995), o nível motor do indivíduo é determinado pela
relação entre estes dois domínios das capacidades motoras, que se
desenvolvem através da interacção existente entre eles. O mesmo autor refere
que o desenvolvimento das capacidades coordenativas influencia o grau de
utilização dos potenciais funcionais energéticos em solicitações de resistência,
de velocidade, de flexibilidade ou de força, permitindo uma maior economia,
duração e eficácia na actividade. Pelo facto, de tanto a velocidade como a
Revisão da Literatura
Marta Freitas 18
flexibilidade e a destreza, serem tanto quantitativo energéticas como
qualitativas e dependentes dos processos de condução do Sistema Nervoso
Central (SNC), foram consideradas por Grosser (1981) um grupo à parte nas
capacidades motoras, classificando-as de capacidades coordenativo-
condicionais.
As capacidades motoras estão presentes, em maior ou menor grau, em
toda a actividade motora e a conjunção das mesmas propicia e permite a
realização de qualquer movimento.
Através do desenvolvimento das capacidades condicionais
(essencialmente determinadas pelas componentes energéticas do acto motor)
e coordenativas (determinadas pelos processos de condução nervosa) atinge-
se um estádio elevado no processo de desenvolvimento motor. Assim, torna-se
importante incrementar as funções e estruturas psicofísicas que garantam o
desenvolvimento da motricidade humana no sentido de proporcionar uma boa
capacidade para o rendimento e para a vida (Hirtz e Holtz, 1987).
Dentro desta perspectiva, a Educação Física assume um papel
fundamental, pois pretende que a criança conheça de uma forma global e
específica o seu próprio corpo, as suas possibilidades perceptivas e motoras e
identifique as sensações que experimenta servindo-se das possibilidades
expressivas do corpo para as transmitir (Hernandez, 2003). Na opinião de
Lucea (1999), a Educação Física não se deve resumir ao desenvolvimento
físico, mas deve contribuir igualmente para o desenvolvimento cognitivo,
emocional e social do indivíduo, proporcionando assim o desenvolvimento de
todas as áreas da personalidade. De acordo com esta autora, para a
aprendizagem das habilidades motoras é necessário realizar um trabalho
prévio no âmbito das coordenações motoras e do desenvolvimento das
habilidades motoras básicas, de modo que o indivíduo tenha oportunidade de
explorar o seu corpo e as suas possibilidades de movimento. Poderemos falar
então, de repercussões do movimento sobre a cognição e a afectividade, ou
Revisão da Literatura
Marta Freitas 19
domínio sócio-afectivo, assim como do papel de diversas tarefas motoras no
sentido de garantir o desenvolvimento das habilidades motoras básicas.
2.2.1. Coordenação Motora e Capacidades Coordenativas
A formação corporal de base contribui para o desenvolvimento global e
harmónico da personalidade. A coordenação motora apresenta-se como
aspecto significativo e determinante para esta formação corporal, tal como para
uma boa disponibilidade para o movimento (Holz, 1977 e Hirtz, 1981, ambos
cit. Vasconcelos, 1994b). Perante o exposto, seguindo ainda a linha de
pensamento destes autores, apercebemo-nos da importância pedagógica e
social que reveste o desenvolvimento das funções e estruturas orgânicas e
psico-físicas dos jovens, garantindo uma base motora adequada para o
rendimento desportivo e profissional, assim como para um eficaz desempenho
nas actividades de lazer e de vida diária.
Por esta razão, cada vez se dá maior relevância ao aperfeiçoamento das
capacidades coordenativas, sendo estas as componentes da coordenação
motora, como parte imprescindível para a formação corporal, apresentando um
papel preponderante nas crescentes exigências impostas pela actualidade.
Sendo assim, esta temática tem levado à realização de vários estudos neste
âmbito. Porém, não existe ainda unidade e coerência entre os autores acerca
do conceito e da natureza da coordenação motora. Newell (1985) afirma que já
várias terminologias foram utilizadas, confundindo-se, por vezes, o termo
“coordenação” com “agilidade”, “destreza”, “controlo motor” e mesmo
“habilidade”, terminologias estas resultantes da diversidade de âmbitos de
investigação (biomecânico, fisiológico e pedagógico), do posicionamento
epistemológico dos autores (neurofisiologistas, psicometristas, clínicos) e ainda
dos modelos de suporte à investigação (biomecânicos e psicanalíticos).
Revisão da Literatura
Marta Freitas 20
Verificam-se, portanto, algumas dificuldades em definir o termo
coordenação motora, mas tentaremos mostrar o significado deste conceito
segundo a perspectiva de vários autores que apresentam estudos realizados
nesta área.
Kiphard (1976), que realizou diversos trabalhos de coordenação motora
segundo uma perspectiva pedagógica e reabilitadora, refere que o conceito de
coordenação é uma interacção harmoniosa e, na medida do possível,
económica, dos músculos, nervos e orgãos dos sentidos, com o fim de produzir
acções cinéticas precisas e equilibradas (motricidade voluntária) e reacções
rápidas e adaptadas à situação (motricidade reflexa). Este autor assinala
algumas características que satisfazem uma boa coordenação motora: i)
adequada medida de força que estabelece a amplitude e a velocidade do
movimento; ii) adequada selecção dos músculos que influenciam a condução e
a orientação do movimento; iii) capacidade de intercalar rapidamente entre
tensão e relaxação musculares, premissas de toda a forma de adaptação
motora.
Por sua vez, Grosser (1981) defende que a coordenação é a capacidade
que permite executar movimentos de forma correcta e económica. Assim, o
indivíduo apresenta uma capacidade de reagir o mais rapidamente possível a
diversas situações ou manter-se em equilíbrio, ou ainda executar gestos de
acordo com ritmos pré-determinados.
Na perspectiva de Pimentel e Oliveira (1997) a coordenação motora é o
domínio seguro e económico das acções motoras nas situações previsíveis e
imprevisíveis, possibilitando aprender relativamente depressa as habilidades
motoras. Para Gallahue e Ozmun (2001) o conceito de coordenação é a
habilidade de integrar, em padrões eficazes de movimento, sistemas motores
distintos com modalidades sensoriais diversas.
A coordenação motora requer, com maior precisão, a capacidade de
controlar os grupos musculares, com o objectivo de realizar com êxito
determinada tarefa. Sendo assim, e no sentido lato da definição, a
coordenação, é o processo pelo qual é assegurada, nos centros nervosos, a
combinação de ordens a serem enviadas aos aparelhos efectores, que por
Revisão da Literatura
Marta Freitas 21
exercitação ou inibição fazem com que os diversos grupos musculares operem
com vista a um objectivo definido (Martinho, 2003). Quanto mais complicadas
as tarefas motoras, maior o nível de coordenação necessário para o
desempenho eficiente.
Dentro deste contexto, e reportando-nos às definições anteriores,
verificamos que a coordenação motora desempenha um papel de grande
importância na formação e desenvolvimento do indivíduo. Esta, ganha
primordial valor pela influência que tem sobre a aquisição e refinamento de
novas habilidades, permitindo assim que o indivíduo adquira a percepção dos
padrões do movimento, facilitando-lhe o acesso a novas aprendizagens.
As capacidades coordenativas surgem assim como componentes da
coordenação motora, apresentando-se como os pressupostos das acções
motoras e do rendimento para determinados tipos de actividade prática, tendo
um papel fundamental na condução e regulação da actividade motora (Hirtz,
1986).
O facto do número de estudos nesta área ser reduzido, na maioria com
carácter exploratório, centrados essencialmente em dados e sem enunciados
prévios, dificultam a conclusão dos trabalhos (Gomes, 1996), o que faz com
que até aos dias de hoje não seja possível conhecer, com exactidão, a
estrutura multidimensional das diversas componentes da coordenação motora
(Weineck, 1986). No dizer de Carvalho (1987), a natureza qualitativa destas
capacidades e o facto de serem fundamentalmente determinadas por
processos de condução nervosa, torna ainda mais complexa a sua
investigação. Porém, ressalta a noção de que a coordenação motora é um
traço ou atributo complexo, impossível de se definir por uma única componente
e ou avaliada por um só teste. Verificamos que qualquer tarefa motora, simples
ou complexa, solicitará sempre uma combinação particular de capacidades,
que será variável em função da tarefa (Hirtz, 1986).
Não existem estudos capazes de precisar o número, a exacta estrutura e
as correlações das diversas componentes básicas das capacidades
Revisão da Literatura
Marta Freitas 22
coordenativas. No entanto, deveremos considerar a sua divisão, servindo-nos
desta, não como uma compreensão científica definitiva destas qualidades
complexas, mas sim como uma simples orientação para efeitos didácticos.
Sendo assim, de seguida apresentaremos a divisão ou a catalogação das
diferentes componentes da coordenação exposta por alguns autores.
Segundo Hirtz (1972) e Frey (1977) (ambos cit. Weineck, 1986) as
componentes das capacidades de coordenação são as seguintes: faculdades
de adaptação, de reacção, de controlo, de combinação, de orientação, de
equilíbrio, de agilidade e de destreza.
De acordo com Fleishman (1972) verificamos a existência de onze
capacidades perceptivo-motoras, tais como, a coordenação multimembros, a
precisão de controlo, a orientação de resposta, o tempo de reacção, a
velocidade do movimento do braço, o controlo de graduação, a destreza
manual, a destreza dos dedos, a estabilidade braço-mão, a velocidade punho-
dedos e, por fim, a pontaria.
Schmidt (1991) e Vogel (1986) subdividem a coordenação motora em
coordenação óculo-manual, óculo-pedal e coordenação motora geral ou
corporal total.
Schnabel (1974, cit. Vasconcelos, 1994a) distingue três capacidades
básicas do processo de coordenação, encontrando-se entre elas uma relação
estreita de reciprocidade.
Assim, temos:
- Capacidade de Condução Motora: que se baseia nas componentes
de coordenação da capacidade de diferenciação cinestésica, da capacidade
de orientação espacial e da capacidade de equilíbrio;
- Capacidade de Aprendizagem Motora: depende da capacidade de
aprendizagem motora e ainda mais da capacidade do controlo motor;
- Capacidade de Adaptação e Readaptação Motoras: assenta nos
mecanismos da apreensão, do tratamento e da retenção da informação.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 23
Porém, Hirtz (1986) subordina às três capacidades básicas cinco
capacidades fundamentais de coordenação, que se apresentam de seguida
hierarquicamente:
- Capacidade de orientação espacial: corresponde às qualidades
necessárias para a determinação e modificação da posição do corpo como
um todo no espaço, as quais precedem a condução de orientação espacial
de acções motoras;
- Capacidade de diferenciação cinestésica: corresponde às qualidades
de comportamento relativamente estáveis e generalizáveis para a realização
de acções motoras e económicas com base numa recepção e assimilação
bem diferenciadas e precisas de informações cinestésicas;
- Capacidade de reacção: corresponde às qualidades necessárias a
uma rápida e oportuna preparação e execução, no mais curto espaço de
tempo, de acções desencadeadas por sinais mais ou menos complicados ou
por acções ou estímulos anteriores;
- Capacidade de ritmo: corresponde às qualidades necessárias à
compreensão, acumulação e interpretação de estruturas temporais e
dinâmicas pretendidas ou contidas na evolução do movimento;
- Capacidade de equilíbrio: corresponde às qualidades necessárias à
conservação ou recuperação do equilíbrio, pela modificação das condições
ambientais e para a convincente solução de tarefas motoras que exijam
pequenas alterações de plano ou situações de equilíbrio muito instáveis.
Esta é a classificação mais utilizada, mas não deve ser encarada nem
como única, nem como uma representação multidimensional definitiva destas
capacidades, pois apresentam uma grande complexidade, como já deu para
perceber.
O nível de desempenho motor que o indivíduo adquire quando alcança a
idade adulta apresenta uma relação directa com a exercitação, em tempo
oportuno, das capacidades coordenativas (Weineck, 1986). O mesmo autor
foca a importância da adaptação desta exercitação em relação ao perfil de
Revisão da Literatura
Marta Freitas 24
desenvolvimento, aproveitando as fases de desenvolvimento intensivo, na qual
cada capacidade coordenativa é trabalhada em cada um dos diferentes níveis
de idade. Segundo Hirtz (1986), o desenvolvimento das capacidades
coordenativas depende dos processos de maturação biológica, da quantidade
e da qualidade da actividade motora, das acções realizadas para a formação e
educação, tendo em conta ainda, os factores da actividade social.
Vasconcelos (1994a), constatou a existência de fases de
desenvolvimento dinâmico das capacidades coordenativas, que se verificam
nos primeiros anos da escolaridade básica, seguindo-se, posteriormente, um
período de desenvolvimento lento ou até mesmo de estagnação. A mesma
autora, citando Hirtz (1979), refere que, apesar das componentes das
capacidades coordenativas apresentarem o seu ponto óptimo de
desenvolvimento em momentos diferentes, geralmente, elas possuem o seu
impulso máximo de crescimento dos sete anos até ao começo da puberdade.
Paralelamente, regista-se, neste mesmo período, uma maturação mais rápida
do Sistema Nervoso Central e um aumento da função dos analisadores óptico
e acústico, assim como um aperfeiçoamento no tratamento da informação que
facilita a aprendizagem de habilidades mais complexas (Bringmann, 1973 cit.
Vasconcelos, 1994a). Contudo, Vasconcelos (1994b) chama a atenção para o
facto desta ser a fase sensível do ser humano para o desenvolvimento
coordenativo-motor, o que não significa porém que essas capacidades não
sejam susceptíveis de aperfeiçoamento noutros escalões etários.
Na fase em que se dá o término do desenvolvimento do SNC e dos
analisadores, após os onze ou doze anos, que implica a necessidade de uma
reorganização coordenativa, deparamo-nos com um abrandamento, e por
vezes até mesmo uma estagnação, no desenvolvimento das capacidades
coordenativas. Na idade compreendida entre os dezassete e os vinte e um
anos é atingido o ponto mais elevado do desenvolvimento em termos
coordenativos. Apesar do desenvolvimento das capacidades coordenativas ser
um processo unitário, este decorre de forma diferenciada de capacidade para
capacidade. A que apresenta um desenvolvimento mais precoce é a de
diferenciação cinestésica, seguindo-se as capacidades de reacção, ritmo e de
Revisão da Literatura
Marta Freitas 25
equilíbrio, enquanto a capacidade de orientação espacial só termina o seu
desenvolvimento no adulto jovem (Vasconcelos, 1994a).
Em termos muito gerais, as capacidades coordenativas são necessárias
para o domínio de situações que exigem uma acção rápida e racional
(Weineck, 1986), constituindo, também, a base de uma boa capacidade de
aprendizagem sensório-motora. Quanto mais elevado for o seu nível, mais
rápida e consolidadamente poderão ser aprendidos movimentos novos e ou
difíceis.
2.3. Coordenação Motora e Deficiência Mental
As desordens que encontramos no indivíduo com DM podem ser
consequência de atrasos de maturação, fixações ou regressões evolutivas,
lesionais ou funcionais que vão levar à desorganização da motricidade a vários
níveis, alternando a relação e a evolução de várias estruturas
comportamentais. Ou por deficiência da actividade, ou por desordem do
comportamento, a conduta motora encontra-se alterada, originando reacções
de imaturidade, de instabilidade e até mesmo de debilidade, que são
responsáveis pelo desajustamento motor ao nível das vivências corporais
(Fonseca, 1988).
Para Conceição (1984), o desenvolvimento motor da criança com
Deficiência Mental obedece à mesma sequência evolutiva das fases de
desenvolvimento da criança dita normal, porém de forma mais lenta.
Na opinião de Fonseca (1988), os diversos graus de DM correspondem,
no campo motor, a graduações que vão desde a debilidade motora leve, que se
traduz em torpor do comportamento geral, até aos transtornos importantes
ocasionados por lesões do sistema nervoso. Estas alterações profundas não
podem ser recuperadas totalmente por nenhum tratamento, seja médico ou
correctivo. Todavia, podem ser atenuadas com uma reeducação apropriada
Revisão da Literatura
Marta Freitas 26
que eduque os movimentos úteis ou desenvolva compensações que ajudem a
equilibrar o défice motor.
Contudo, verificamos através da pesquisa bibliográfica que a produção
científica neste domínio é escassa. Porém, podemos afirmar que tem vindo a
aumentar o interesse em investigar o desempenho motor desta população
especial nas últimas décadas. Deste modo, apresentamos de seguida alguns
exemplos de trabalhos práticos realizados neste âmbito e suas principais
conclusões.
Gomes (1992) realizou um estudo com o objectivo de verificar a influência
do treino de folclore na melhoria do ritmo dos Deficientes Mentais. Sendo
assim, recolheu uma amostra de 30 indivíduos portadores de Deficiência
Mental Ligeira, praticantes e não praticantes de Dança Folclórica, que dividiu
em dois grupos, o experimental (praticantes) e o de controlo (não praticantes).
O teste seleccionado para estudar a capacidade de ritmo nesta população foi o
Teste de Reprodução das Estruturas Rítmicas de Mira Stamback, de 1972, do
qual fazem parte vinte e uma percussões rítmicas com um grau crescente de
dificuldade. Este teste foi aplicado em ambos os grupos. Através dos
resultados obtidos o autor concluiu que os indivíduos que praticam dança
folclórica possuem uma noção rítmica superior aos que não praticam.
Pires (1992) propôs um programa de ensino para o desenvolvimento da
coordenação geral no âmbito da Deficiência Mental Profunda. O programa
proposto foi aplicado em quatro alunos deficientes mentais profundos com uma
média de idades de 23 anos durante três meses, tendo sido efectuada uma
avaliação inicial e uma final, para a validação do respectivo programa. Como
metodologia, foi aplicado o teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky
para avaliar o nível de coordenação geral e óculo-manual dos respectivos
indivíduos. Após a comparação dos resultados da aplicação inicial e da
aplicação final do teste, Pires conclui que a coordenação geral apresentou
percentagens estatisticamente significativas, que a coordenação óculo –
manual apresentou um aumento, apesar de não se ter mostrado
estatisticamente significativo, e que houve uma evolução significativa da
Revisão da Literatura
Marta Freitas 27
avaliação inicial para a avaliação final no desenvolvimento da coordenação
geral, revelando assim que o programa estava adequado às necessidades dos
alunos.
Teles (2004) elaborou um estudo sobre a influência de um programa de
actividades motoras orientadas na expressão da coordenação motora numa
população com deficiência mental. Assim sendo, o seu estudo apresentou
como objectivos: i) comparar os valores de coordenação motora antes e depois
do programa de intervenção, em função do sexo, do grau de deficiência, da
idade e da presença de síndrome de Down; ii) e em cada momento de
observação, comparar os níveis de coordenação motora em função do sexo, do
grau de deficiência, da idade e da presença de síndrome de Down. A sua
amostra é constituída por 30 indivíduos com idades compreendidas entre os 17
e os 39 anos de idade, dos quais 13 com deficiência mental ligeira (7 do sexo
masculino, 6 do sexo feminino), e 17 com deficiência mental grave (5 do sexo
feminino, 6 do sexo masculino sem síndrome de Down, 6 do sexo masculino
com síndrome de Down). Os instrumentos utilizados por Teles foram os
seguintes: Minnesota Manual Dexterity, Bassin Antecipation Timing, Pursuit
Rotor, Tapping Pedal, Mira Stambak, e Teste de Equilíbrio à Rectaguarda
(KTK). Estes testes foram aplicados antes e após o programa de actividade
física. Os elementos da amostra participaram num programa de actividade
física que decorreu ao longo de 12 semanas, num total de 24 sessões de
frequência bissemanal, com a duração de 60 minutos cada. As conclusões
obtidas por Teles neste estudo relativamente à coordenação motora
evidenciaram que em ambos os momentos de avaliação ocorreram diferenças
estatisticamente significativas em todas as variáveis independentes, à
excepção do sexo; quanto à avaliação entre os dois momentos, inicial e final,
os testes de Sapateado e de Equilíbrio revelaram, para todas as variáveis
independentes, diferenças estatísticas quanto à coordenação. Em suma, o
programa de actividade física realizado pela amostra melhorou o desempenho
ao nível da coordenação motora, sugerindo, deste modo, que a prática regular
de actividade física por indivíduos com DM pode contribuir para a melhoria dos
níveis da coordenação motora.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 28
Lopes e Santos (s/d, cit. Correia, 2005) ao analisar o nível de
desenvolvimento de indivíduos com DM ligeira, moderada e severa de ambos
os sexos, com idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos, nas
habilidades motoras básicas, concluíram que as crianças portadoras de DM,
apresentam um nível de desenvolvimento das habilidades motoras
fundamentais atrasado para a idade cronológica e que quanto mais elevado é o
grau de deficiência, maior é o atraso no desenvolvimento das habilidades.
Vários autores (Cratty, 1974; Rarick et al., 1976; Drew et al., 1990, todos
cit. em Maia, 2002) observaram que os indivíduos com DM são
significativamente inferiores a seus pares “normais” no que diz respeito aos
desempenhos na actividade física, isto é, o primeiro grupo tende a obter
resultados inferiores nas habilidades motoras, como o equilíbrio, a locomoção e
a destreza manual. No que respeita a estes estudos, podemos referir que
existe uma tendência para os indivíduos com DM, apresentarem valores
inferiores para as componentes da aptidão física (equilíbrio, locomoção,
coordenação e manipulação), quando comparados com indivíduos ditos
“normais”.
De acordo com Winnick (1995), as crianças com DM começam a andar e
a falar mais tarde, apresentam uma estatura mais pequena e, usualmente, são
mais susceptíveis a problemas físicos e a doenças do que as crianças ditas
“normais”. Apesar de, em estudos comparativos, as crianças com DM
apresentarem desempenhos inferiores às ditas “normais” nas seguintes
capacidades: força endurance, agilidade, corrida de velocidade e tempo de
reacção, o autor refere que, no entanto, alguns jovens com DM moderada
podem apresentar desempenhos semelhantes aos seus pares ditos “normais”.
Relativamente a testes de fitness e performance motora, o autor refere que os
jovens com deficiência severa tendem a apresentar desempenhos inferiores
aos seus pares ditos “normais” numa média inferior a quatro anos. Sugere
ainda que a performance do sexo masculino geralmente é superior ao do sexo
feminino, nesta população especial, à excepção da flexibilidade e do equilíbrio.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 29
Winnick (1995) acrescenta que as crianças com Síndrome de Down (SD)
apresentam uma melhor performance a nível da flexibilidade relativamente aos
seus pares com DM.
Frith e Frith (1974, cit. Teles, 2004) realizaram um estudo em que
compararam os valores de duas capacidades motoras básicas, através dos
testes de Pursuit Rotor e do Finger Tapping, em crianças com SD, em crianças
ditas “normais” e em crianças com autismo severo. Desta investigação
concluíram que o grupo com SD não apresentou melhorias quando comparado
com os outros dois grupos. Concluíram ainda que as crianças com SD são
muito mais lentas na realização das tarefas relativamente aos grupos de
comparação.
Segundo Eichstaedt et al. (1991, cit. Sherril, 1998), uma amostra de
estudantes com deficiência mental ligeira e moderada com SD revelou, no seu
estudo, que os indivíduos com SD demonstram um desempenho inferior em
todos os testes de aptidão física, excepto no teste de flexibilidade “sit and
reach”. Uma das habilidades menos desenvolvidas em indivíduos com SD é o
equilíbrio, que apresenta um desempenho de um a três anos abaixo das outras
pessoas consideradas “normais” (Sherril, 1998).
Outros trabalhos encontrados dentro da mesma temática, relacionam-se
com a psicomotricidade. Esta, apresenta-se como um meio inesgotável de
afinamento perceptivo motor (Fonseca, 1988), ou seja, de desenvolvimento
motor. Um trabalho psicomotor influenciará o nível de coordenação motora do
indivíduo, pois favorece o desenvolvimento das estruturas nervosas e sensório-
quinestésicas, que se tornam indespensáveis para satisfazer com êxito os
problemas postos pelas aprendizagens (Ferreira, 2000).
Deste modo, Ferreira (2000) estudou a influência da psicomotricidade no
desenvolvimento motor e psicológico do deficiente mental. Neste âmbito, o
trabalho baseou-se na aplicação da Bateria Psicomotora de Fonseca, a uma
amostra de quinze crianças, divididas em dois grupos (experimental e de
controlo), com idades compreendidas entre os dez e os catorze anos. Realizou-
Revisão da Literatura
Marta Freitas 30
se um pré e um pós-teste, entre um programa constituído por vinte e cinco
sessões de psicomotricidade, as quais focaram algumas componentes,
nomeadamente, a tonicidade, equilíbrio, lateralidade e noção do corpo. Os
resultados obtidos demonstram que, de uma forma geral, surgiram melhorias
do primeiro momento para o segundo momento nos dois grupos apesar das
diferenças não terem sido estatisticamente significativas.
Rozario (2004) elaborou um trabalho no âmbito da psicomotricidade em
jovens Normais (N) e com Dificuldades de Aprendizagem não Verbal (DANV),
pretendendo alcançar o seguinte objectivo: analisar os efeitos de dois
programas de psicomotricidade (um através da Educação Física Base e outro
através dos Movimentos e Actividades de Dança), verificando como influenciam
nas 1ª, 2ª e 3ª unidades de Luria e no perfil psicomotor em jovens N e com
DANV. A amostra abrangia 56 jovens entre os 10 e os 11 anos de idade,
divididos em dois grupos: o Grupo I de Movimentos e Actividades de Dança
com 28 alunos (23 alunos N e 5 alunos DANV) e o Grupo II de Educação Física
de Base também com 28 alunos (20 alunos N e 8 alunos DANV). Inicialmente
foi feito um teste diagnóstico (Bateria Psicomotora – Vitor da Fonseca, 1975) a
todos os jovens da amostra e, de seguida, aplicaram-se os dois programas. No
final, realizou-se um teste final (a mesma bateria) de modo a recolher os
resultados obtidos. Na primeira avaliação verificou-se que os alunos N
apresentam um perfil psicomotor (PPM) idêntico entre o Grupo I e II, e os
alunos DANV também, embora os últimos com valores inferiores aos primeiros,
podendo-se afirmar que os grupos são semelhantes. No pós teste constatou-se
que ambos os grupos tiveram progressos significativos, mas não se
diferenciaram entre si. Em conclusão, este estudo permitiu revelar que não
houve um programa melhor do que o outro, isto é, tantos os Movimentos e
Actividades de Dança quanto a Educação Física de Base influenciaram
positivamente os alunos N e DANV.
Noutros trabalhos de investigação como os de Beuter (1983), Salbenblant
(1987), e Bruininks (1989), todos citados por Silva (2000), foram observadas
Revisão da Literatura
Marta Freitas 31
prestações inferiores em crianças com dificuldades de aprendizagem em
comparação com crianças “normais” na velocidade e na coordenação dos
membros superiores. As diferenças na proficiência motora foram também
analisadas nas componentes da motricidade global, nomeadamente, na corrida
de agilidade, no equilíbrio e na força.
Seabra Júnior (1994) apresentou um estudo sobre os efeitos de um
programa de actividade física aplicado aos utentes de um hospital psiquiátrico
com variadas perturbações mentais. O programa estava adaptado às
características e limitações de cada indivíduo e incluía actividades como a
ginástica e a natação, tendo-se verificado melhorias na orientação espacial na
coordenação, na atenção e na motivação bem como mudanças nos aspectos
sociais.
Aos indivíduos com DM que de uma forma geral têm menos
oportunidades de vivenciar experiências, será importante proporcionar
actividades que lhes permitam estar e manter contacto com várias situações.
Estes indivíduos aprendem a uma velocidade inferior, quer devido às suas
características, quer por não lhes serem facultadas oportunidades de vivenciar
experiências diversas e variadas (Maia, 2002).
Alves (2000) refere que a prática de actividade física regular apresenta-se
como um instrumento de grande importância na reabilitação e integração do
indivíduo com deficiência, pois contribui para a aceitação das suas limitações,
valoriza e divulga as suas capacidades físicas, reforça a sua auto-estima,
dando-lhe alegria de viver e qualidade de vida, tal como a vontade para a
acção. O mesmo autor defende ainda que um programa de actividade física
regular aplicado nestes indivíduos combate eficazmente atitudes pessimistas
criando disponibilidade para se aproximarem dos outros, para comunicarem e
conviverem. Permite ainda a mediatização das suas possibilidades, incidindo
sobre as suas capacidades em desfavor das limitações.
Revisão da Literatura
Marta Freitas 32
Perante o exposto podemos afirmar que prática de exercício físico regular
deverá ser realçada, pois esta assume um papel de primordial importância no
incremento da qualidade de vida quando trabalhamos com populações com
DM. Quanto mais dinâmicas e adequadas forem as experiências dos indivíduos
com DM, partindo da possibilidade de sentirem e agirem com o meio, maiores
serão as possibilidades de enriquecimento motor, psicológico e social desta
população.
Objectivos e Hipóteses
Marta Freitas 33
3. Objectivos e Hipóteses
Perante a análise de todo o suporte teórico que fundamenta este trabalho,
surge este capítulo, no qual descrevemos os objectivos gerais e específicos e
formulamos as hipóteses deste estudo.
Sendo assim, como objectivo geral pretendemos comparar os níveis de
coordenação motora entre dois grupos de indivíduos com DM Ligeira e
Moderada. Mais especificamente, iremos comparar o grupo de indivíduos com
DM Ligeira com o grupo de indivíduos com DM Moderada nas seguintes
componentes:
- Capacidade de destreza manual;
- Coordenação óculo-manual;
- Velocidade e coordenação dos membros inferiores;
- Capacidade de ritmo.
Partindo destes objectivos formulamos as seguintes hipóteses:
H1: Os indivíduos com DM Ligeira apresentam níveis superiores de
destreza manual relativamente aos indivíduos com DM Moderada.
H2: Os indivíduos com DM Ligeira apresentam níveis superiores de
coordenação óculo-manual relativamente aos indivíduos com DM
Moderada.
H3: Os indivíduos com DM Ligeira apresentam níveis superiores de
velocidade e coordenação dos membros inferiores relativamente aos
indivíduos com DM Moderada.
H4: Os indivíduos com DM Ligeira apresentam níveis superiores de
capacidade de ritmo relativamente aos indivíduos com DM Moderada.
Material e Métodos
Marta Freitas 34
4. Material e Métodos
4.1. Amostra
A amostra é constituída por um total de vinte indivíduos, dos quais dez
apresentam Deficiência Mental Ligeira e os outros dez Deficiência Mental
Moderada, segundo a classificação adoptada por Silva (1991), que distingue os
indivíduos em deficientes mentais Ligeiros, Moderados, Severos e Profundos,
apresentando idades na faixa etária compreendida entre os dezoito e os vinte e
dois anos.
O seguinte quadro (Quadro I) mostra-nos, de modo mais específico, a
distribuição da nossa amostra. Assim, como podemos observar, na Instituição
A, dos alunos que têm Deficiência Mental Ligeira, três são do sexo masculino e
dois são do sexo feminino. Quanto à Instituição B e referente ao mesmo grau
de deficiência, quatro alunos são do sexo masculino e apenas um é do sexo
feminino. No que diz respeito à Deficiência Mental Moderada, na Instituição A
todos os alunos são do sexo masculino e na Instituição B, três são do sexo
masculino e dois são do sexo feminino.
Indivíduos com DM Ligeira (L)
Indivíduos com DM Moderada (M) Total
Instituição A 3 Sexo Masculino
2 Sexo Feminino
5 Sexo Masculino
0 Sexo Feminino
7 Sexo Masculino
3 Sexo Feminino
Instituição B 4 Sexo Masculino
1 Sexo Feminino
3 Sexo Masculino
2 Sexo Feminino
8 Sexo Masculino
2 Sexo Feminino
Total 10 10 20
Um dos aspectos que achamos importantes focar refere-se ao tipo e à
quantidade de actividade física a que estes indivíduos têm acesso. Sendo
assim, na Instituição A estes indivíduos praticam uma hora de Natação e duas
horas de Educação Física por semana. Na Instituição B praticam uma hora de
Quadro I – Distribuição da amostra por classifcicação e sexo.
Material e Métodos
Marta Freitas 35
Natação e uma hora de Educação Física, à excepção dos quatro indivíduos do
sexo masculino com DM Ligeira, que em vez de uma hora de Natação praticam
duas, pois encontram-se em pré-competição.
4.2. Procedimentos Metodológicos
Para concretizarmos este estudo foi necessário contactar uma instituição
que se encontrasse disponível a receber este tipo de trabalho. Por motivos de
aproximação geográfica e por já estar familiarizada com ela, a primeira escolha
recaiu numa instituição do concelho da Póvoa de Varzim. Assim, o primeiro
contacto foi estipulado e determinaram-se quais os indivíduos que iriam
participar na amostra desta investigação. Porém, não se encontrou um número
satisfatório de indivíduos. Tivemos então que recorrer a mais outra instituição
que se encontrasse disponível. Seguimo-nos, portanto, pelo critério da
aproximação geográfica e seleccionamos uma instituição de Vila do Conde.
Após completarmos a amostra, visitamos as instituições para
conhecermos melhor os indivíduos que iriam colaborar connosco e recolhemos
informações destes através de uma ficha de caracterização (Anexo I) que foi
entregue a cada um dos professores responsáveis. O passo seguinte foi
estipular quais os testes mais adequados ao objectivo do nosso estudo. Estes
apresentam-se descritos no ponto seguinte.
Por fim, deslocamo-nos algumas vezes a ambas as instituções para
administrá-los, pois nem sempre os indivíduos que faziam parte da amostra se
encontravam disponíveis.
4.2.1. Instrumentos
Como já referimos acima, e de modo a recolhermos os dados sobre a
amostra, aplicamos uma ficha de caracterização para cada indivíduo, que foi
preenchida pelos professores responsáveis. Através desta tivemos acesso à
Material e Métodos
Marta Freitas 36
idade, sexo, classificação da deficiência segundo a instituição e, também, o tipo
e a quantidade de actividade física praticada.
De seguida, descrevemos cada um dos testes que foram aplicados no
âmbito deste estudo.
Avaliação da destreza manual - Minnesota Manual Dexterity (Lafayett
Instruments) (Desrosiers et al., 1997)
Para a avaliação da destreza manual foi seleccionado o Minnesota
Manual Dexterity (Teste de Destreza Manual de Minnesota - TDMM).
Este teste é estandartizado e administrado frequentemente para avaliação
de:
� Habilidade do indivíduo para mover pequenos objectos
a variadas distâncias.
� Destreza manual dos indivíduos.
� Coordenação óculo-manual.
� Habilidades motoras globais.
� Evolução e ou desenvolvimento da destreza manual
em trabalhadores.
� Resultados de um processo de reaprendizagem.
� Diagnóstico de problemas de coordenação.
O TDMM é constituído por um tabuleiro com orifícios (matriz) e por um
conjunto de 60 discos (pretos de um dos lados, vermelhos do outro), que
encaixam perfeitamente na matriz. Este teste engloba duas baterias: o Teste
de Colocação e o Teste de Volta.
O Teste de Colocação consiste em colocar todos os discos no tabuleiro,
no menor tempo possível, utilizando apenas uma das mãos. Inicialmente, todos
os discos são colocados pelo avaliador na matriz, levanta-se a mesma,
deixando que os discos caiam dos orifícios, de forma a que se mantenham no
mesmo lugar, isto é em colunas e linhas rectas. A mesa onde o tabuleiro é
colocado deverá estar entre os 71,12 e os 81,28 cm de altura. O sujeito estará
Material e Métodos
Marta Freitas 37
de pé, em frente à mesa, durante a aplicação do teste. O tabuleiro deverá ficar
a 2,54 cm do bordo da mesa, perto do sujeito. O teste é iniciado pela coluna da
direita. Pega-se no disco que se encontra na primeira posição da coluna direita
e coloca-se no orifício do canto superior direito. De seguida, pega-se no
segundo disco da mesma coluna e coloca-se no orifício imediatamente abaixo
do anterior, e assim sucessivamente, de forma a preencher a primeira coluna
da matriz, e de modo a que ao colocar o último disco da coluna o participante
seja obrigado a passar por cima de todos os outros, colocando-o no canto
inferior direito. O teste é feito da direita para a esquerda sempre preenchendo
as colunas da mesma forma. Quando uma coluna é preenchida o participante
deverá passar à coluna seguinte iniciando sempre o preenchimento da matriz
pelo disco que se encontra mais longe até todo o tabuleiro estar
completamente preenchido. Todos os discos terão que estar completamente
encaixados para que o teste se dê por terminado. Se algum disco cair ao chão,
o participante deverá apanhá-lo e colocá-lo no seu lugar antes que o tempo
seja parado. Após terminar cada tentativa, o avaliador deverá registar o tempo
em segundos e colocar novamente o tabuleiro e os discos como atrás descrito
para se dar inicio a nova colocação. O participante deverá estar de frente para
a matriz na realização das tentativas. Deve encorajar-se o participante entre
cada tentativa.
O Teste de Volta tem por base a recolocação de todos os discos nos
orifícios do tabuleiro após voltar os mesmos. No Teste de Volta são utilizadas
ambas as mãos, e o trajecto de colocação é feito em S. O teste é iniciado com
a mão esquerda a segurar no disco do canto superior direito que se encontra
na primeira linha. O participante deverá então segurar o disco na mão
esquerda virá-lo e passa-lo para a mão direita e com esta coloca-lo no orifício
correspondente, já voltado com a face vermelha para cima. Segue-se no
sentido direita para esquerda na primeira linha até chegar ao fim desta. Na
segunda linha a posição das mãos inverte-se, sendo agora a mão direita a
segurar o disco e a virá-lo, e a mão esquerda a proceder à sua colocação.
Segue-se a direcção da esquerda para a direita até completar a linha. Na linha
seguinte sucede o contrário e na quarta linha invertem-se novamente as
Material e Métodos
Marta Freitas 38
posições e a direcção. Se um disco cair, deverá ser apanhado e colocado no
orifício correspondente antes da tentativa estar terminada. Quando é terminada
cada tentativa, os discos ficam já colocados de forma a dar inicio à segunda
tentativa, embora se encontrem todos com a face vermelha para cima. O
avaliador deverá registar o tempo em segundos no final de cada tentativa.
Deve encorajar-se o participante no início de cada tentativa.
Após o avaliador demonstrar os testes ao participante, este dispõe de
quatro tentativas, para cada teste, após a tentativa de experiência. Em ambos
os testes (de colocação e de volta) a pontuação refere-se ao total de segundos
necessários para completar o número escolhido de tentativas, exceptuando o
tempo da tentativa de experiência. Quanto mais baixa for a pontuação, melhor
terá sido a performance do participante.
Devemos referir que no nosso estudo apenas foram realizadas duas
tentativas para cada teste em cada participante, das quais foi elaborada a
média. Tal verificou-se devido à dificuldade de serem atingidos longos períodos
de atenção e concentração por parte dos participantes, visto esta ser uma
população especial. Cada participante executou o teste com a sua mão
preferida. Os resultados foram registados numa ficha que se encontra em
anexo (Anexo II).
Avaliação da coordenação óculo-manual - Pursuit Rotor (Lafayett
Instruments) (Godinho et al., 2000)
Para a avaliação da coordenação óculo-manual foi seleccionado o Pursuit
Rotor.
Este teste é administrado frequentemente para avaliação da coordenação
óculo-manual, para conhecer a diferença de capacidade coordenativa entre a
mão direita e a esquerda, ou mesmo para identificar indivíduos muito
habilidosos em certas tarefas profissionais.
O teste é constituído por um aparelho que consiste num disco rotativo que
contém um pequeno disco de cor contrastante na sua superfície. Um estilete
metálico permite estabelecer o contacto entre o sujeito e o pequeno disco de
Material e Métodos
Marta Freitas 39
cor mais clara. Este aparelho permite realizar tarefas de perseguição e registar
o nível de performance dos sujeitos. As tarefas de perseguição são realizadas
com velocidades diferentes determinadas previamente pelo avaliador. Neste
caso a velocidade determinada foi a de 15 rotações por minuto, uma vez que
se verificou que os participantes não conseguiam realizar a prova com uma
rotação superior. O tempo de prova para cada tentativa é de 20 segundos.
De início o participante coloca o estilete por cima do pequeno disco, e
quando a rotação se inicia ele deve tentar colocar o estilete em contacto com o
mesmo. No momento em que o disco pára, o participante deve levantar de
novo o estilete. São registados os tempos de contacto e não contacto. O score
mais elevado corresponde a uma maior percentagem de tempo em contacto.
Foram realizadas três tentativas para cada mão e registados os respectivos
scores. Foi efectuada uma tentativa de experiência para cada mão antes da
realização do teste propriamente dito. Os resultados foram registados numa
ficha que se encontra em anexo (Anexo III).
Avaliação da Velocidade e Coordenação dos Membros Inferiores –
Tapping Pedal (cit. Melo, 1998)
Para a avaliação da velocidade e coordenação dos membros inferiores foi
seleccionado o teste Tapping Pedal (Sapateado).
Para a aplicação deste teste é necessário uma cadeira, uma régua em
madeira com 1m de comprimento, 1cm de largura e 2mm de altura e um
cronómetro.
O participante deverá sentar-se na cadeira, com as pernas em ângulo
recto e ligeiramente afastadas, de forma a que cada calcanhar fique próximo de
cada uma das pernas anteriores da cadeira.
A régua deverá ser colocada a meia distância entre os dois pés no
sentido longitudinal, devendo ser fixada ao chão com fita adesiva.
O avaliador deverá colocar o cronómetro nos 10 segundos e em
contagem decrescente. Ao comando do avaliador “pronto…começa”, o
participante, com o pé preferido, executa, o mais rapidamente possível, um
Material e Métodos
Marta Freitas 40
sapateado, batendo alternadamente com o pé no solo de um e do outro lado da
régua. Este teste é repetido com o mesmo pé e, em seguida, realizado duas
vezes com o outro pé.
O registo dos resultados, que se fez numa ficha que se encontra em
anexo (Anexo IV), diz respeito ao número de batimentos efectuados para cada
pé em cada uma das quatro tentativas.
Avaliação do ritmo – Teste de Mira Stambak (Stambak, 1972)
O teste das Estruturas Rítmicas de Mira Stambak é constituído apenas
por uma ficha de observação, onde se encontra descrita através de símbolos a
sequência a seguir (Anexo V).
O avaliador e o participante encontram-se frente a frente. O avaliador
deverá incentivar o participante a escutar com atenção as estruturas rítmicas
que lhe vão ser transmitidas. O avaliador transmite ao participante a primeira
sequência (batendo com o lápis na mesa), e o participante deverá repeti-la, e
assim sucessivamente. Assim que o participante atinge o êxito, o avaliador
deverá passar à estrutura seguinte. Se o participante não consegue repetir a
sequência em duas tentativas, o avaliador deverá passar à estrutura seguinte
registando a falha. Se forem verificadas três falhas seguidas o avaliador deverá
dar por terminada a aplicação do teste. O participante executou o teste com a
sua mão preferida.
O registo dos resultados foi efectuado numa folha própria que se
encontra em anexo.
4.3. Procedimentos Estatísticos
Após a recolha de todos os dados procedemos à sua organização e
respectivo tratamento estatístico, sendo utilizado o programa SPSS, 12.0 para
WindowsXP.
Material e Métodos
Marta Freitas 41
A análise estatística dividiu-se em dois momentos.
Estatística Descritiva: Para todas as variáveis observadas foram
efectuadas os cálculos da média e desvio padrão.
Estatística Inferencial: Para comparar os dois grupos da amostra
utilizamos a estatística não paramétrica, em virtude da reduzida dimensão da
mesma. Desta forma, o teste utilizado foi o de Mann-Whitney.
O nível de significância adoptado foi de p≤0,05.
Apresentação e Discussão dos Resultados
Marta Freitas 42
5. Apresentação e Discussão dos Resultados
A partir dos objectivos e respectivas hipóteses que orientaram o nosso
estudo, foram analisados os valores da coordenação motora (destreza manual,
coordenação óculo-manual, velocidade e coordenação dos membros inferiores,
capacidade de ritmo) em função do grau de deficiência.
Antes de procedermos à apresentação e discussão dos resultados,
pretendendo facilitar a leitura do quadro, queremos referir que relativamente
aos testes de Minnesota Manual Dexterity TC (Teste de Colocação) e TV
(Teste de Volta) os valores superiores correspondem a um pior desempenho
por parte dos indivíduos, ao contrário dos outros testes (Pursuit Rotor, Tapping
Pedal, Mira Stambak), em que os valores superiores correspondem a um
melhor desempenho dos indivíduos nos mesmos.
De seguida, apresentaremos os resultados de forma conjunta, permitindo
uma leitura mais clara. O Quadro II, mostra a média, desvio padrão, valor z e
nível de significância (p) dos valores alcançados nos dois grupos da amostra
nos testes Minnesota Manual Dexterity TC (Teste de Colocação) e TV (Teste
de Volta), Pursuit Rotor, Tapping Pedal, Mira Stambak.
Indivíduos com DM Ligeira (L)
Indivíduos com DM Moderada (M) z p
Minnesota TC 107,25±21,49 166,60±117,45 -1,51 0,143 Minnesota TV 152,15±29,73 193,40±125,10 -0,15 0,912 Pursuit Rotor (mão direita) 13,36±6,32 8,55±7,97 -1,29 0,218 Pursuit Rotor
(mão esquerda) 13,32±6,01 8,20±7,90 -1,06 0,315 Tapping Pedal
(pé direito) 10,35±3,99 8,55±4,04 -0,91 0,393 Tapping Pedal (pé esquerdo) 9,40±3,76 8,70±4,12 -0,38 0,739
Mira Stambak 7,70±4,30 2,50±2,07 -2,54 0,009
Quadro II – Resultados dos testes Minnesota Manual Dexterity TC (Teste de Colocação) e TV (Teste de Volta),
Pursuit Rotor, Tapping Pedal, Mira Stambak. Média, desvio padrão, valores de z e p.
Apresentação e Discussão dos Resultados
Marta Freitas 43
Perante os resultados do Quadro II, podemos constatar que no Teste
Minnesota Manual Dexterity os Indivíduos com DM Ligeira apresentam uma
média de tempo inferior aos Indivíduos com DM Moderada em ambos os testes
(TC e TV). O mesmo se verifica relativamente ao desvio padrão. Deparamo-
nos com valores mais elevados no TV, em ambos os grupos (Indivíduos com
DM Ligeira e Indivíduos com DM Moderada), comparados com os valores
alcançados no TC, o que demonstra que existiram maiores dificuldades na sua
execução. A diferença das médias dos dois grupos observadas no TC é
superior (59,35) à diferença encontrada no TV (41,25). O mesmo acontece na
diferença encontrada no desvio padrão (TC: 95,96; e TV: 95,37), mostrando
que existe uma maior variabilidade de valores no TC. No que diz respeito aos
valores obtidos podemos estabelecer os seguintes intervalos de resultados
para o TC: os Indivíduos com DM Ligeira apresentam um intervalo de [85,74;
128,74] e os Indivíduos com DM Moderada um intervalo de [49,15; 284,05].
Perante estes intervalos verificamos que o dos Indivíduos com DM Moderada é
maior, o que demonstra uma maior variabilidade nos tempos obtidos. Apesar
de, no geral, os Indivíduos com DM Moderada apresentarem tempos piores, ou
seja, superiores aos Indivíduos com DM Ligeira, constatamos analisando estes
intervalos, que alguns alcançaram melhores resultados. O mesmo verificamos
no TV, onde o intervalo de resultados obtidos pelos Indivíduos com DM
Moderada [68,30; 318,50] apresenta também maior variabilidade comparado
com o intervalo dos Indivíduos com DM Ligeira [122,42; 181,88]. Em suma,
podemos constatar que no Teste Minnesota Manual Dexterity (TC e TV) os
Indivíduos com DM Ligeira apresentam níveis superiores de destreza manual
comparados com os Indivíduos com DM Moderada. Contudo, esta diferença
não é estatisticamente significativa (TC: p=0,143; TV: p=0,912).
Observando o Quadro II, verificamos que no Teste Pursuit Rotor (para
cada mão) a média de tempos alcançada pelos Indivíduos com DM Ligeira é
superior à média obtida pelos Indivíduos com DM Moderada. Porém,
constatamos o contrário em relação ao desvio padrão. Nos dois grupos
observamos valores superiores (média e desvio padrão) na mão direita
Apresentação e Discussão dos Resultados
Marta Freitas 44
comparada com a mão esquerda. A diferença das médias dos dois grupos na
mão direita é inferior (4,81) relativamente à mão esquerda (5,12). O mesmo se
verifica com o desvio padrão (mão direita: 1,65 e mão esquerda: 1,89). Perante
estes resultados concluimos que existe uma maior variabilidade na mão
esquerda comparada com a mão direita, o qual se pode comprovar com os
intervalos dos valores obtidos. Analisando estes intervalos para a mão direita:
Indivíduos com DM Ligeira [7,04; 19,68] e Indivíduos com DM Moderada [0,58;
16,52]; e para a mão esquerda: Indivíduos com DM Ligeira [7,31; 19,33] e
Indivíduos com DM Moderada [0,30; 16,10], constatamos que os Indivíduos
com DM Moderada possuem um intervalo maior em ambas as mãos em
relação aos Indivíduos com DM Ligeira, demonstrando assim maior
variabilidade. Por fim, referindo-nos ao teste Pursuit Rotor podemos afirmar
que os Indivíduos com DM Ligeira apresentam valores superiores de
coordenação óculo-manual comparados com os Indivíduos com DM Moderada,
embora as diferenças não sejam estatisticamente significativas (mão direita:
p=0,218; mão esquerda: p=0,315).
Guiando-nos pelo Quadro II, no Tapping Pedal, também conhecido como
o teste de Sapateado, verificamos, em cada pé, que os valores da média de
batimentos dos Indivíduos com DM Ligeira é superior aos valores dos
Indivíduos com DM Moderada. O contrário acontece em relação ao desvio
padrão. Observamos que os Indivíduos com DM Ligeira apresentam valores
(média e desvio padrão) superiores no pé direito. No entanto, é no pé esquerdo
que os Indivíduos com DM Moderada demonstram melhores resultados. A
diferença das médias dos dois grupos no pé direito é superior (1,8) à do pé
esquerdo (0,7). Porém, relativamente à diferença do desvio padrão,
encontramos valores superiores no pé esquerdo (0,36), onde se verifica maior
variabilidade, do que no pé direito (0,05). Confrontando os intervalos dos
valores alcançados no pé direito: Indivíduos com DM Ligeira [6,36; 14,34] e
Indivíduos com DM Moderada [4,51; 12,59]; e no pé esquerdo: Indivíduos com
DM Ligeira [5,64; 13,16] e Indivíduos com DM Moderada [4,58; 12,82],
constatamos que os Indivíduos com DM Moderada possuem um intervalo maior
Apresentação e Discussão dos Resultados
Marta Freitas 45
em ambos os pés em relação aos Indivíduos com DM Ligeira, demonstrando
assim maior variabilidade. Interpretando o que já foi referido acima, podemos
constatar que, no teste Tapping Pedal, os Indivíduos com DM Ligeira
apresentam melhores resultados de velocidade e coordenação dos membros
inferiores relativamente aos Indivíduos com DM Moderada, embora as
diferenças não sejam estatisticamente significativas (pé direito: p=0,393; pé
esquerdo: p=0,739).
No teste das Estruturas Rítmicas de Mira Stambak, reportando-nos ao
Quadro II, verificamos que os valores (média e desvio padrão) são superiores
nos Indivíduos com DM Ligeira em relação aos Indivíduos com DM Moderada.
Analisando os intervalos dos resultados alcançados: Indivíduos com DM Ligeira
[3,40; 12] e Indivíduos com DM Moderada [0,43; 4,57], constatamos que existe
maior variabilidade nos Indivíduos com DM Ligeira. Neste teste, podemos
afirmar que os Indivíduos com DM Ligeira apresentam melhor capacidade de
ritmo comparados com os Indivíduos com DM Moderada, sendo o único que
apresenta diferenças estatisticamente significativas (p=0,009).
De todos os testes realizados, o teste Minnesota Manual Dexterity
apresenta uma grande variabilidade de resultados, o que se justifica pelo facto
de ser o único teste sem limite de tempo para a sua realização. Observando os
resultados obtidos, os dois grupos apresentam melhores prestações, ou seja,
tempos inferiores, no TC do que no TV. Contudo, estes resultados já eram de
esperar pois, o TV apresenta um maior nível de exigência. Denotou-se que os
Indivíduos com DM Ligeira obtiveram um incremento no tempo médio de
execução do TC para o TV superior ao encontrado nos Indivíduos com DM
Moderada. Em ambos os testes (TC e TV) encontramos Indivíduos com DM
Moderada que apresentam resultados inferiores aos Indivíduos com DM
Ligeira. Este facto torna-se bastante relevante neste estudo, pois contraria o
ponto de partida estipulado de que os Indivíduos com DM Ligeira apresentam
níveis de coordenação motora superiores aos Indivíduos com DM Moderada,
demonstrando assim a importância da avaliação individualizada, por forma a
Apresentação e Discussão dos Resultados
Marta Freitas 46
criar grupos de trabalho homogéneos. Porém, no geral, e no âmbito desta
amostra, os Indivíduos com DM Ligeira, neste teste, apresentam níveis de
destreza manual superiores aos Indivíduos com DM Moderada.
Dos testes que apresentam um tempo limite de execução (Pursuit Rotor e
Tapping Pedal) é no teste de avaliação da coordenação óculo-manual que
existe uma maior diferença a nível de valores alcançados. Na nossa opinião,
estes resultados talvez se devam aos baixos índices de capacidade de atenção
que estes indivíduos apresentam. Segundo Fonseca (1995), o indivíduo com
DM apresenta como uma das suas principais características dificuldades em
termos da capacidade de atenção, concentração e memorização, bem como
um fraco limiar de resistência à frustração, associado a um baixo nível
motivacional, atrasos no desenvolvimento da linguagem, inadequação do seu
repertório social e dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Fazendo
ainda referência ao teste de coordenação óculo-manual, constatamos que,
apesar de ambos os grupos apresentarem valores superiores na mão direita,
sendo esta a mão preferida de todos os elementos da amostra, a diferença
entre os valores alcançados em cada uma das mãos é bastante próximo. Uma
vez mais referimos a capacidade de atenção, como factor interveniente nestes
resultados.
No teste Tapping Pedal a diferença encontrada entre cada pé nos
Indivíduos com DM Moderada é quase inexistente comparada com a diferença
existente nos Indivíduos com DM Ligeira. Denotou-se durante a aplicação
deste teste uma determinada dificuldade dos Indivíduos com DM Moderada em
definirem qual o seu pé preferido o que se transparece nos valores obtidos. Já
no grupo dos Indivíduos com DM Ligeira se nota a diferença existente entre o
pé preferido e o outro pé (neste caso o pé esquerdo).
Gomes (1992) conclui, numa amostra de indivíduos com DM ligeira, que
os indivíduos que praticam dança folclórica possuem uma noção rítmica
superior aos que não praticam. No nosso estudo, verificamos que os Indivíduos
com DM Ligeira apresentam uma capacidade de ritmo superior aos Indivíduos
com DM Moderada, sendo esta diferença estatisticamente significativa.
Apresentação e Discussão dos Resultados
Marta Freitas 47
No estudo elaborado por Teles (2004) constatamos que, em ambas as
avaliações realizadas (inicial e final), os indivíduos com DM Ligeira apresentam
valores de coordenação motora superiores aos indivíduos com DM grave. O
que vem suportar os resultados alcançados no nosso trabalho. Estes, contudo,
não foram estatisticamente significativos, quando comparados os dois grupos
em análise.
Conclusões e Sugestões
Marta Freitas 48
6. Conclusões e Sugestões
Considerando os objectivos do presente estudo e tendo como base a
análise e discussão dos resultados apresentados ao longo do capítulo anterior,
foram retiradas as seguintes conclusões. No entanto, estas, não devem
ultrapassar o âmbito desta amostra em virtude da reduzida dimensão da
mesma.
De um modo geral, a análise pormenorizada dos resultados permite-nos
afirmar que os Indivíduos com DM Ligeira evidenciam melhores resultados em
todas as capacidades avaliadas (destreza manual, coordenação óculo-manual,
velocidade e coordenação dos membros inferiores e capacidade de ritmo)
relativamente aos Indivíduos com DM Moderada. Porém, as diferenças entre os
grupos não são estatisticamente significativas, à excepção da capacidade de
ritmo (p=0,009). Pelo exposto, apenas a quarta hipótese (H4: Os indivíduos
com DM Ligeira apresentam níveis superiores de capacidade de ritmo
relativamente aos indivíduos com DM Moderada) foi confirmada. As outras não,
apesar de a tendência dos resultados ter demonstrado que efectivamente os
grupo com DM Ligeira apresenta um melhor desempenho relativamente ao
grupo com DM Moderada.
A experiência adquirida com a realização deste trabalho, bem como a
análise e discussão dos resultados obtidos, suscitam-nos algumas sugestões
para a elaboração de futuros trabalhos neste domínio. Deste modo, a primeira
sugestão que propomos é o alargamento da amostra, aumentando assim o
número de indivíduos participantes, tal como a realização deste estudo em
diferentes faixas etárias. Sugerimos também, de modo a elaborar um trabalho
mais completo, a aplicação de um programa de intervenção no domínio das
actividades físicas, analisando posteriormente os resultados adquiridos. Outra
pesquisa pertinente seria a comparação de duas instiuições com programas de
actividade física diferentes. Para finalizar, sugerimos a comparação dos valores
da coordenação motora entre a população com DM praticante de actividade
física sistemática com a população com DM não praticante.
Referências Bibliográficas
Marta Freitas 49
7. Referências Bibliográficas
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VII
7. Anexos
VIII
Ficha de Caracterização
Anexo I
IX
FICHA DE CARACTERIZAÇÃO
Nome da Instituição:_____________________________
Data de preenchimento:__________________________
Sexo Grau da Deficiência
Data de Nascimento
Quantas vezes por semana realiza Actividade Física
X
Teste Minnesota Manual Dexterity
Anexo II
XI
XII
Teste Pursuit Rotor
Anexo III
XIII
XIV
Teste Tapping Pedal
Anexo IV
XV
XVI
Teste Mira Stambak
Anexo V
XVII
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